Fernanda Botta: Portfólio: Jornal do Comércio: 2008-2009

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Textos publicados no Jornal do Comércio (RS).

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Jornal do Comércio - Porto Alegre 5ViverViverViverViver Edição de 10, 11 e 12 de outubro de 2008

EntrevistaEntrevista

Jornal do Comércio - Com o que brincavas quando criança?

Ziraldo - Quando começava a oencher muito o saco da mãe den-tro de casa, ela dizia �Vai brincar na rua�. A rua era lugar seguro. Eu morava numa rua de cidade de interior, sem calçamento, com cachorro no meio da rua, gato, criança. Era um parque. Quer dizer, um parque pobre. Em vez de grama tinha mato, em vez de flor tinha capim. Mas era uma liberdade muito grande. Então a gente brincava até altas horas da noite. Quer dizer, nove, nove e meia. Quando a mãe dizia �Vem lavar os pés para dormir�, a gen-te lavava os pés e ia dormir.

JC - Foi uma infância bem solta.

Ziraldo - Bem solta. Não quero dizer que é melhor que a de hoje. Troco o dia mais feliz da minha vida pelo dia mais chato dos meus netos, porque o que o mundo oferece à criança de hoje é uma loucura. Mas a gente se divertia, porque criança se diverte sempre. Não tem com-promisso com nada, só brincar, e, quando chega uma hora, a gente aprende rapidamente, muito rapidamente que tem que estudar. Criança sabe que tem que estudar.

JC - As crianças de hoje são mais felizes?

Ziraldo - Não. Não são mais felizes, mas não são menos feli-zes. Agora se diz �Ah, as crianças ficam brincando no shopping, não sei o quê, tadinhas�. Ta-dinhas nada. Não tem isso de que era melhor naquele tempo do que agora. É sempre bom q q p

viver. Viver é um oráculo, é umadádiva. Você tem que aproveitara dádiva que é a vida, em vezde ficar se queixando. A ClariceLispector dizia que �a vida atéque é bastante suportável�. Essaconversa é chata. A vida é umadádiva mesmo, então vamos usá-la da melhor maneira possível.

JC - Cada época com assuas peculiaridades.

Ziraldo - É. Cada época comas suas peculiaridades, comas suas circunstâncias. Querdizer, não tem essa coisa de di-zer �Ah, os bons tempos nuncavoltarão�. Que bons tempos? Fizumas quatro ou cinco operaçõesque, se não fossem os temposatuais, teria morrido. Os bonstempos são uma invenção dacabeça da gente. A gente podeser feliz sempre, sempre. Maisfeliz ontem do que hoje, maisfeliz hoje do que ontem, não temessa coisa de �ah, aproveita asua infância�. Lembro que, naminha formatura, o professorfalou �aproveitem a juventudede vocês, é a fase mais feliz davida da gente�. Eu falei �Entãovou me suicidar, professor. Voume suicidar, porque se é issoque o senhor acha que é a maiorfelicidade da minha vida, o restovai ser uma tristeza�.

JC - A linguagem mudacom o tempo?

Ziraldo - A linguagem muda,as circunstâncias mudam. Asatrações mudam, os perigosmudam, mas a reação humanapermanece imutável. Você sofrepelas mesmas razões, você ficafeliz pelas mesmas razões.

JC - E essa mudança delinguagem, como foi no teutrabalho?

Ziraldo - O que eu acho quemuda são os suportes. Continuo

contando histórias como acho que contaria no começo da mi-nha vida. Não mudei meu modo de contar. E outra coisa: você não tem que ficar procurando atualizar a sua maneira de se ex-pressar. Você tem que acreditar no seu jeito de dizer as coisas.

JC - Quando escreves para as crianças, há alguma lição por trás das histórias?

Ziraldo - Nem pensar. Deus me livre! Não quero dar lição, falo do que sinto. Tudo o que transparece no meu texto é por-que é o meu modo de encarar o mundo.

JC - Escrever uma história de amor para crianças exige algum cuidado?

Ziraldo - Nenhum. Certa-mente você não vai fazer uma história erótica. Mas a idéia de arranjar um namoradinho para a fada... O trabalho todo é a descrição da fada, do conceito de fada para as crianças e, de re-pente, a humanização dela é que ela se apaixona pelo menino. Ele é bem etéreo, porque as pessoas nascidas sob o signo de Urano são meio sonhadoras. Urano é um planeta gasoso, não tem sol. Os astrólogos descobriram que o cara de Urano não tem os pés no chão. Vive voando. Achei que esse era um bom menino para namorar a fada. Escrevi a história dele, não a história da fada. Estou fazendo uma série de meninos de planetas, de Ura-no, de Júpiter, de Marte...

JC - Disseste que os me-ninos desta série estão vivos na tua imaginação. Então qual é a tua inspiração para eles?

Ziraldo - Já criei a carinha de todos. Baseado em pesquisa astrológica, não astronômica.

Fernanda Botta,Especial para o JC

As crianças foram o foco da visita que Ziraldo fez a

Porto Alegre nesta semana. Na Livraria Saraiva, ele

autografou seu livro mais recente, O Namorado da

Fada ou o Menino do Planeta Urano, como parte da programação do projeto

Conversas no Praia. O escritor mineiro recusa o

tratamento de �senhor� e afirma que se vê como

�cúmplice� de seus leitores infantis, �porque não me

esqueci do menino que fui�.

Um cúmplice das crianças

Lendo tudo sobre como é o me-nino nascido sob cada influência.Na hora de escrever, me baseavano tipo de temperamento. Assimcomo o menino de Urano é so-nhador, quando fizer a históriado menino de Marte ele vai sermeio guerreiro, brigão, ousado.Quando fizer o menino de Vênus,ele vai ser doce, angelical, porqueVênus é o cupido. Quando fizero de Júpiter, ele vai ser enorme,espaçoso, grande, como está de-senhado na contracapa do livro.O menino de Netuno tem carade peixe. Mas estou pensandoporque o menino de Netuno tema ver com o mar. Ainda não pes-quisei esse planeta. Para a Terra,vou fazer um menino chinês.

JC - Ele se chama Nan,não?

Ziraldo - É. Nan quer dizermenino em chinês. Por causadas Olimpíadas, eu estava vendoesse negócio daqueles meninoschineses. A China progrediu demaneira brutal, mas a poluiçãoestá acabando com o país. Aca-baram com o rio Amarelo, estápoluidíssimo. Não tem maispeixe. Você vê a preocupaçãocom a poluição nas Olimpíadas,inventaram mil coisas. Entãoo livro vai se chamar O ÚltimoMenino. É o Nan, porque, se umpesquisador do universo viesseà Terra e se lhe perguntassemcomo é o menino desse planetaele diria: �São todos amarelos�.Tem alguns morenos, algunsbrancos, mas tem 600 milhões demeninos amarelos no mundo. Omenino da Terra é amarelo.

GILMAR LUÍS/JC

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Jornal do Comércio - Porto Alegre

FOTOGRAFIA

5ViverViver Edição de 24, 25 e 26 de outubro de 2008

A sala espaçosa quase parece vazia. Com suasparedes muito brancas e piso de madeira, sobre oqual há nada além de duas pequenas bancadas,pareceria solitária - não fossem as fotografiasexpostas. Protegidas por molduras de madeiraclara, elas revelam um período importante dahistória da fotografia e da arte. fotografia subjetiva- a contribuição alemã - 1948-1963 está aberta àvisitação desde 14 de outubro, na Casa de CulturaMario Quintana, e tem como foco a produção domovimento iniciado pelo fotógrafo Otto Steinert.São 162 obras em preto e branco que buscam a artena fotografia através da subjetividade.

fotografia subjetiva foi o termo que o fotógrafoencontrou para nomear as exposições organizadaspor ele durante a década de 1950. Embora fosseminternacionais, o movimento começou com osalemães, que nele mantiveram um papel central- daí a motivação para que seus trabalhos sejamexpostos em separado. Através da �fotografiasubjetiva�, os fotógrafos pretendiam romper laçoscom a objetividade. Seu desejo era não apenasreproduzir, mas interpretar a realidade, elevandoa fotografia à obra de arte.

Na exposição é possível observar o trabalho dosprecursores que inspiraram e acompanharam omovimento, como Adolf Lazi, Carl Strüwe e MartaHoepffner. Também estão presentes as fotografiasdo grupo vanguardista fotoform, de extrema im-portância tanto para a fotografia subjetiva quanto

para a fotografia alemã pós-guerra de maneira geral. A associação era formada por Wolfgang Reisewitz, Peter Keetman, Sigfried Lauterwasser, Toni Schneiders e Ludwig Windstosser, incluin-do o próprio Otto Steinert. Por último, pode-se ver também uma seleção da obra dos alunos de Steinert e o trabalho dos fotógrafos Robert Häus-ser e Stefan Moses, que, por não pertencerem à escola, oferecem um contraponto e uma idéia do que acontecia paralelamente ao movimento na fotografia alemã.

A mostra fotografia subjetiva - a contribuição alemã - 1948-1963 é um conjunto realmente insti-gante. Através de técnicas estritamente fotográfi-cas relativamente simples, como o uso de reflexos (em espelhos ou poças d�água), junção de duas fotos e iluminação diferenciada, os participantes do movimento criaram uma arte única. Algumas obras beiram o inexplicável, como as abstrações de Peter Keetman. Parecem feitas por computador e cutucam a imaginação com suas formas perfeitas, suscitando um questionamento que pode perfei-tamente definir a exposição - como isso foi feito apenas com uma câmera fotográfica?

Estadunidenses, italianos, argentinos e uru-guaios, como indica o livro de visitantes, já viram a mostra, que ficará aberta no Museu de Arte Contemporânea da Casa de Cultura Mario Quin-tana (Andradas, 736) até 16 de novembro. Pode ser visitada de terças a sextas-feiras, das 10h às 21h. Nos sábados e domingos, das 12h até as 21h. Entrada franca.

Além da realidade

De Heinz Hajek-Halke

De Peter Keetman

De Helmut Lederer

Fernanda Bo! a, especial para o JC

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L/JC

Elevar a foto à obra de arte através da subje" vidade foi o obje" vo dos fotógrafos

alemães cujos trabalhos estão expostos na Casa de Cultura Mario Quintana, com

apoio do Ins" tuto Goethe

De Siegfried Lauterwasser

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Jornal do Comércio - Porto Alegre 3

LANÇAMENTOS

! Mi Sueño, último disco do grande vocalista cubano Ibrahim Ferrer, reúne doze boleros. Uma das estrelasdo grupo Buena Vista Social Club,Ferrer morreu em 2005, aos 78 anos, enquanto o disco estava em fase depós-produção. Gravado no Teatro Nacional de Cuba, Mi Sueño tem canções como Perfídia, de Alberto Dominguez, e Uno, de Enrique Discépolo. Destaque para Quizás, Quizás, cantada em dueto com OmaraPortuondo. MCD Music.

! Encontrabanda, o elogiado projeto desenvolvido pela Banda Municipal de Porto Alegre nos anos de 2006 e

2007, chegou ao CD. O registro traz os melhores momentos dos shows

em que a banda dividiu o palco com artistas da música instrumental gaúcha, como Renato Borghetti, James Liberato,

Olinda Alessandrini e Plauto Cruz. O saxofonista Derico, do Programa do Jô,

também esteve entre os convidados. Lançamento da Secretaria da Cultura de

Porto Alegre.

! Maus Hábitos, filme do mexicanoSimon Bross, é uma história curiosa demulheres com problemas alimentares,todas da mesma família. Matilde é freira e começa um jejum místico paraimpedir uma inundação que ela acredita estar por vir. Elena é uma mulhermagra que tem vergonha do peso de sua filha e faz de tudo para que elaemagreça. Gustavo, marido de Elena, se apaixona por uma estudante de apelidoGordinha. Com Ximena Ayala e Elenade Haro. Paris Filmes.

! Pecados Inocentes, que recém estreou nos cinemas brasileiros, gira

em torno de Bárbara, uma mulher acostumada com os luxos de um bom

casamento e da alta sociedade. Depois do divórcio, totalmente desequilibrada,

ela aprofunda sua relação com filho até o envolvimento físico. O filme

é baseado em uma história real que envolveu incesto e acabou num

assassinato, em Londres, no ano de 1972. Com Julianne Moore. Califórnia

Filmes.

DVD

CD

ACONTECE

Terça-feira, 28 de outubro de 2008

Um ano e meio de trabalhoduro resultou em esculturasque traem uma sensibilidadeà flor da pele. São as obras queMarília Fayh expõe a partirde hoje, na Galeria Casa Arte.As 23 peças em bronze foramcriadas entre 2007 e 2008, comdedicação intensa - a artistadedica seis horas diárias à cria-ção. �São muito significativaspara mim essas esculturas eesses dois anos. Vê-las exibidasé o final de um ciclo pessoal.Quando saem para a rua, elasse libertam�, conta a artista.

As figuras que esculpe embronze pertencem ao universofeminino, com presença recor-rente de estrelas, bicicletas epianos. Marília busca inspira-ção no cotidiano, sem ligaçãocom uma tendência ou estiloespecífico. Possui apenas forteinfluência da arte clássica eum tanto do movimento ArtNouveau, que ela define comoinconsciente. �Reconheço, masnão escolhi. Eu não sabia. Maistarde vi que lembrava�, diz.

Em meio à forte tendênciaavant-garde, ao culto da ins-talação que se estabeleceu nasbienais, a artista se destacapor fazer uma arte intelectual,

porém não intelectualizada. �Sou muito intuitiva, não penso muito sobre a arte. As minhas mãos fazem, e vou atrás. As mãos acompanham o trabalho do coração. Faço de cor, de coração. Respeito muito arte conceitual, mas não faço. Busco simplificar ao máximo a comu-nicação entre o observador e a minha obra�, explica Marília Fayh.

Ela é publicitária de for-mação. Mas encontrou seu caminho nas artes plásticas. Desde o início, no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, onde teve suas primeiras au-las, à premiação com medalha de ouro do Comite D�honneur Du Mérite ET Dévoument Français, pela escultura em bronze A décima Lua Cheia,já se passaram mais de duas décadas. Marília tem 25 anos de trajetória artística.

A escultora, que também pinta e faz gravuras, atribui a mudança à maternidade. Por ter casado cedo e logo dado à luz aos seus três filhos, ficou impossibilitada de trabalhar fora de casa. Foi então, quando as crianças ainda eram muito pequenas, que ela foi desen-volvendo seu talento para as artes. �Eu desenhava perto do bercinho, entre as papinhas e

as mamadeiras. Mostrava aquie ali, e foi acontecendo�, conta.Também atribui aos filhosalguns de seus ícones maisfreqüentes, como as estrelase as bicicletas: �A bicicleta re-presenta peraltice, equilíbrio,movimento. Também simbolizamudança. As estrelas tambémtêm disso. Na bicicleta, se tunão te mexes, vais cair. A rodatambém é uma coisa muitosimbólica, ora está em cima,ora está embaixo. Está sempreevoluindo�.

À flor da pele

Fernanda Bo! a, especial para o JC

Marília Fayh mostra, a par! r de hoje, as esculturas que criou em um ano e meio de trabalho

A exposição estará aberta à visitação na galeria Casa Arte (Cel. Bordini, 920), apartir do dia 29 de outubro, desegunda a sexta-feira das 9h às 19h e aos sábados atéas 13h. Entradafranca.

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2� Restos (Bertrand Brasil, 188 páginas, R$ 29,00), de Mário Araújo, é o segundo livro de narrativas curtas do autor paranaense, que recebeu em 2006 o Jabuti na mesmacategoria, por A Hora Extrema. Na história que abre a coletânea, um homem acompanha oremanejamento dos restos mortais de seus parentes, para abrir espaço no jazigo da famíliaao corpo do pai recém-falecido. As demais narrativas - que foram elogiadas por gente como Millôr Fernandes - são marcadas por observações sobre a morte e a solidão do ser humano.

Entr

evis

taEdição de 6 de novembro de 2008

Machado de Assis em almanaque Das pipocas às letrasAlmanaque Machado de As-

sis - Vida, Obra, Curiosidades e Bruxarias Literárias (Record, 312 páginas, R$ 50,00), de Luiz Antonio Aguiar, foi concebido para funcionar como um guia que com-pila �matéria recreativa� sobre o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Se não substitui a leitura de alguns dos clássicos do mestre carioca cujo centenário de falecimento completou cem anos em 2008, é provável que estimule o desejo de desbravar um território complexo e cheio de nuances, que chega ao ápice nos contos e romances. Foi a respeito do lançamento e da ad-miração entusiasmada que nutre pelo �Bruxo do Cosme Velho� que Aguiar - escritor de dezenas de títulos no currículo, resenhista de cadernos literários e ministrante de oficinas de redação - falou em entrevista.

Jornal do Comércio - Quan-to tempo levou para reunir o que está em Almanaque Ma-chado de Assis?

Luiz Antonio Aguiar - A minha vivência de leitura de Ma-chado vem da adolescência. Em termos de pesquisa, tem aí mais de vinte anos - cada vez mais me encantando com esse autor que desafia explicações e respostas. Machado é sempre surpreen-dente.

JC - O que mais o fascina no autor de Dom Cas-murro?

Aguiar - As possibilida-rdes múltiplas de interpre-tação, dependendo do pontode vista com que se enfoca

Luiz Antonio Aguiar autografa guia a respeito do criador carioca às 20h30min desta quinta-feira

a obra; as estruturas ilusionis-tas como a de Dom Casmurro; a agudeza crítica de um conto como Idéias de Canário; a sutil ironia das crônicas; o texto envenenado, os personagens repletos de reen-trâncias... Tanta coisa!

JC - Você dá palestras sobre o �Bruxo do Cosme Velho� em todo o País. Como percebe a reação do público diante de um escritor cuja obra não é fácil e que não se presta a uma leitura superficial (penso, por exemplo, nos adolescentes, que muitas vezes não têm ainda capacidade de aproveitar a literatura refinada que ele faz)?

Aguiar - A primeira reação é de surpresa. Dou muitas ofi-cinas de leitura de Machado, e de repente esse público sem experiência de leitura em Ma-chado se vê lendo o Bruxo edescobre que não é tão difícil as-sim, que é divertido, às vezes, en-cantador, instigante. Faz bem pra gente ler Machado, e noto cada vez mais gente descobrindo isso.

JC - Qual seu machado pre-ferido? Por quê?

Aguiar - É o de algumas crô-qq

rnicas, o de contos como Idéias de Canário e Umas Férias, o de Dom Casmurro, por toda a polêmica que sustenta ate hoje e o de Esaú e Jacó, por guardar segredos que ainda não foram desvendados; e é

enfim o autor do ensaio Instinto de Naciona-lidade, fundamental momento de criação de uma nova inteligência para se entender o Bra-sil do seu tempo e o de ainda hoje.

JC - Que dúvida sobre o escritor você se sentiu frustrado por não conseguir responder no Alma-naque?

Aguiar - Não se pode rfalar em frustração, mas em reconhecimento de um jeito de ser desse autor que jamais quis comentar sua própria obra e quase nunca res-pondeu às críticas querecebeu - quando o fez, foi com economia, ra-pidamente. Seria inte-ressante saber o que ele pensava sobre algumas de suas obras. Mas isso não existe e o jeito é respeitar as reservas do Bruxo.

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Fernanda Botta,especial para o JC

Dos seus 59 anos de vida, 40 elejá dedicou à Feira do Livro. JoséAlves Valêncio, ou Zé da Pipoca,acompanha o evento desde quechegou à Capital, em 1958. Naépoca tinha apenas nove anos,trabalhava como engraxate evendia balas. Hoje, é o dono dapipoca mais famosa da Feira e jáserviu até o presidente Luiz InácioLula da Silva.

Essas e outras histórias, alémda receita que lhe deu fama, estãoem Zé da Pipoca - 50 Anos naFeira do Livro, que foi lançadoontem. �O livro em si começacom a história da minha vida,depois ele vem se aprofundandosobre a Feira, o passar do tempo,mudanças de trabalho. Muda deuma história para outra, sai de um mundo novo para outro desconhecido. Agora estamos entrando em outro mundo desconhecido, que é o livro�, conta o pipoqueiro.

Nascido em Lajeado, ele chegou a Porto Alegre quan-do ainda era pequeno. Além do trabalho em frente ao colégio La Salle Dores, desde 1975, firmou-se na Feira do livro, acompanhando todas as suas mudanças. �Eu co-nhecia essa praça, era muito linda. A Feira também mu-dou, está muito moderna e está para se tornar uma das melhores que existem. Cada ano vai aumentando o nú-mero de leitores, tem coisas

José Alves Valêncioautografou o livro em que

conta suas vivências naFeira do Livro

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A história da petroquímica no Brasil�A indústria petroquímica é muito segmentada e, conhecendo

melhor os seus processos, pude perceber a lógica de seu crescimen-to�. Esta afirmação foi feita pelo jornalista Sérgio Lagranha. Ele e o também jornalista Elmar Bonesestão lançando o livro A Petroquími-ca faz História (Já Editores) na 54ªFeira do Livro. Bones disse que hojea petroquímica é uma das áreas deponta das quais o Rio Grande do Sulpode se orgulhar.

O livro de 160 páginas é um relatojornalístico do Pólo Petroquímicogaúcho desde sua criação na décadade 1970. Passa pela privatização atéos dias de hoje, momento em que oPólo se integra a um projeto de âm-bito nacional e trata com destaque amobilização dos gaúchos em defesado terceiro pólo petroquímico em1975. RS 25,00.

novas também�, comenta. O livro tinha que ser o próximo

passo na história de José Alves Va-lêncio, que no ano passado ganhou o troféu na categoria Homenagem Especial no Prêmio Cultura Eco-nômica, do Jornal do Comércio, com apoio da CaixaRS. Ele já participou também de dois lon-gas-metragens � Houve Uma Vez Dois Verões, de Jorge Furtado, e Sal de Prata, de Carlos Gerbase. No entanto, esse novo caminho gera ansiedade. Na terça-feira, ele previa �uma emoção muito gran-de, a expectativa é muito grande, porque não importa a quantidade de pessoas, a gente não sabe o que vai vir�. Ele acreditava que a emoção seria �muito maior do que estar atendendo a um cliente aqui�. E assim foi.

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mundo é o inglês. Os americanos escrevemde um jeito; os ingleses, de outro. Estados Unidos e Inglaterra jamais fizeram um acordo ortográfico�. Mas ele trata as dife-renças do português com bom humor. �Nãotem jeito. Camisa em Portugal é camisola,fila é bicha e menino é puto�, divertiu-se. Também brincou com a inclusão das letrasK, W e Y no alfabeto brasileiro, prevista na nova reforma da língua: �Não tem um brasileiro não-escolarizado, um brasileirooperário que não ame a letraY�.

Ainda no campo das letras,Ziraldo recomenda aos peque-nos leitores - quando tiveremum pouco mais de idade - queleiam a segunda metade deOs Sertões, de Euclides daCunha. �É a mais fantástica

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narrativa. Euclides da Cunhaé o maior narrador da litera-tura mundial. Nem Homeroganha dele. É fascinante, você não pára�, afirma. Ele define o problema da leitura noPaís como uma questão emergencial, que deve ser resolvida rapidamente. �Os nos-sos estudantes, menos aqui no Sul, mas em geral, estão chegando à universidadepraticamente analfabetos funcionais, inca-pazes de entender o que lêem plenamente,incapazes de expressar-se pela escrita e incapazes de tirar prazer da leitura�. Parao escritor, é urgente que o Brasil se torneum país de leitores. Ele busca exemplo na Coréia do Sul, onde o índice de analfabe-tismo é 2,2%. �As possibilidades do Brasil são muito grandes. Acho que ele acaba esseséculo como uma das maiores nações do mundo, mas tem que apres-sar o processo da educação, e é através da leitura�.

Sobre a sua obra, Ziraldo conta como surgiram Flicts (1969), O Menino Maluqui-nho (1980), Uma Professora Muito Maluquinha (1995)e Vovó Delícia (1997). Flicts nasceu da necessidade de apresentar ao seu editor um livro infantil. Com pouco tem-po para desenvolver a obra e suas ilustrações, o escritor decidiu utilizar apenas cores. Inspirado por um outdoor da extinta revista Man-chete, que exibia uma foto da Lua, crioua história de �uma cor triste, cor de barro, que é a cor da Lua�.

O Menino Maluquinho resultou de uma das suas palestras durante o regime militar para as senhoras cariocas que �não sabiam o que estava acontecendo no mundo�. Ziraldo ensinava às mães como criar seus filhos. Provavelmente movida pela máxima de que �criar o filho dos ou-tros é muito fácil�, uma delas lhe sugeriu que escrevesse um livro sobre o assunto.Então se deu a criação de um dos maiores

êxitos da literatura infantil brasileira, comnoventa edições.

Uma Professora Muito Maluquinha eVovó Delícia foram inspiradas em persona-gens da vida real. A primeira era Catarina.�Meio pirada�, ela dava aulas ao escritorno Ensino Fundamental. Dona Cati, comoera chamada pelos alunos, tinha 16 anose adorava ler. �Gibi era pecado, o padreproibia. Mas ela tinha uma coleção de gi-bis, distribuía para nós e fechava a porta.

A gente ficava lendo gibi; ela,o romance dela. Aí resolveuler o romance para nós. O pri-meiro ano virou uma novela,todo dia tinha um capítulo.No melhor da novela, a sirenetocava. As outras professorasnão sabiam por que, antes deo recreio acabar, os meninosvoltavam para a sala. Entãoquando chegou o final do ano,todo mundo tomou bomba.

Ninguém passou. Mas todos sabiam egostavam de ler�. Vovó Delícia surgiu deum encontro em uma escola em Jaraguádo Sul (SC). Ziraldo estava autografandono pátio do colégio quando chegou uma avóde moto para entregar um exemplar à suaneta. �Então comecei a prestar atenção nasavós. Elas não ficam mais fazendo crochêna cadeira de balanço�.

Ziraldo nem sempre escreveu paracrianças. Antes de Flicts, o primeirolivro direcionado ao leitor infantil, eleescrevia para os adultos e seu trabalhomais notável foi em O Pasquim, durantea ditadura militar. O jornal, para ele ogrande celeiro de humoristas brasileiros

pós-1968, contava com nomescomo Jaguar, Paulo Francis eMillôr Fernandes. Apesar dapolêmica em que se envolveurecentemente, por receberda Comissão de Anistia doMinistério da Justiça umaindenização de R$ 1 milhãopor perseguição política no re-gime militar, mais pensão vi-talícia de R$ 4,3 mil por mês,o escritor afirma que o méritoda resistência pertence a todoo grupo de O Pasquime a toda

a sociedade brasileira: �Você repara, houveuma compreensão e uma participação detodo mundo no Brasil�.

Ele descreve o período como uma épocaimportante na história do País. �Para aminha geração, para os meus amigos, foio privilégio de não ficar quieto, não aceitaro que estava acontecendo�, explica Ziraldo,que diz estar se preparando para a velhice.�A única pena que eu não tenho de enve-lhecer é que eu sei que vou ter o que fazer- ler os livros que faltam�, confidencia. Namente das crianças, dos leitores adultos ealém, o escritor já está imortalizado atra-vés de seus personagens.

Porto Alegre, segunda-feira, 10 de novembro de 2008

jcjcFernanda Botta,

especial para o JC

Um jeito de vencer a morte. É assim que o cartunista e escritor Ziraldo Alves Pinto, 76 anos, define o projeto que ini-ciou em 2006, com O Menino da Lua. É uma série de livros que contam a história de um grupo de garotos, habitantes dos nove planetas do Sistema Solar. Dentro desta proposta, sua obra mais recente é O Namorado da Fada ou O Menino de Urano. Ela conta as aventuras de Théo, o menino do planeta azul, que se apaixona

pela fada Anagrom. �Vou fazer um livro por ano, de cada menino. Assim estou comprometido, não posso morrer�, diz o escritor, que também falou sobre sua car-reira, suas vivências durante a ditadura militar (participou do jornal O Pasquim, que fazia resistência ao regime através do humor), a educação no Brasil e o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, cujo decreto de implantação foi assinado em setembro pelo presidente do País, Luiz Inácio Lula da Silva.

Sobre o Acordo, Ziraldo é enfático: �Acho um absurdo. A língua mais importante do

Conversa com Ziraldo

Hoje o autor recebe seus leitores, grandes e pequenos, no Pavilhão dos Autógrafos

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Jornal do Comércio - Porto Alegre 3

LANÇAMENTOS

! A Múmia: Tumba do Imperador Dragão, de Rob Cohen, traz o aventurei-ro Rick O�Connell desvendando mais ummistério. Dessa vez ele está em viagem à China, acompanhado do filho Alex, quando eles despertam a múmia de Han, o primeiro imperador do reino de Quin. Trata-se de uma entidade que foi amal-diçoada pela bruxa Zijuan, há milharesde anos, e agora ameaça transformar omundo em abismo. O longa completa a trilogia A Múmia. Com Brendan Fraser eJet Li. Distribuição Universal.

! A Caçada, de Richard Shepard, acom-panha a trajetória de Simon, um jornalis-ta de guerra que, ao lado do cameraman Duck, realizou grandes coberturas. Após

testemunhar um massacre na Bósnia, Simon sofre um colapso que coloca fim

à sua carreira. Anos mais tarde, Duck retorna à Bósnia e é procurado por

Simon, que tem pistas sobre a localização do pior criminoso da guerra local. Agindo

contra ordens da ONU, eles partem em sua busca. Baseado em história real. Com Richard Gere. Distribuição Europa Filmes.

! A Primavera do Gato Amarelo, novo CD do roqueiro gaúcho JúlioReny, chega às lojas nesta semana. Em 14 faixas, o disco visita estilos e temas que sempre marcaram a trajetória docompositor, principalmente o folk ea visão cinematográfica do romance. Na gravação, Júlio reuniu mais de 20músicos, incluindo Humberto Gessinger, que canta e toca harmônica, o sax deKing Jim e o acordeon de Arthur de Faria. O site novo de Reny já está no ar:www.julioreny.com.br

! Água de Fonte é o primeiro CD do duo erudito formado pela soprano Claúdia Ricitelli e pelo pianista Nahim

Marum. O registro é dedicado ao compositor Heitor Villa-Lobos e reúne três ciclos de canções para a formação

de voz e piano. O CD abre com as quase desconhecidas canções Manhã na Praia e Tarde na Glória, sobre poemas de Carlos Sá. O duo também gravou as sete com-posições do ciclo Modinhas e Canções,

feitas entre 1933 e 1940. O maestro Gil Jardim assina o encarte. Selo Clássicos.

DVD

CD

ACONTECE

Quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Na manhã do dia 29 de ou-tubro, algo inesperado ocorreu ao fotógrafo Leopoldo Plentz. Ao entrar na galeria Bolsa de Arte, que atualmente expõe a sua mostra Coisas Inúteis, ele se deparou com uma garrafa de cer-veja espatifada no centro do salão principal, junto a algumas baga-nas de cigarro. Um buraco nas telhas da galeria indicava que a garrafa havia sido arremessada de algum prédio vizinho, atin-gindo com seu conteúdo algumas das 25 obras que produziu nos últimos dois anos. �Isso é a bar-bárie. O único antídoto contra a barbárie é a arte, por mais inútil e inócua que ela seja. Isso é muito triste�, lamentou Plentz.

Curiosamente, as fotografias da mostra retratam o lixo urba-no, o mesmo lixo que invadiu a galeria naquela manhã. Andan-do pela cidade, o fotógrafo coletou o material, levou ao seu estúdio,

escaneou e fez as adaptaçõesque desejava, como alterações notamanho e na saturação das ima-gens. Então o lixo ganhou arespublicitários. Parece um ciclo. �Oobjeto de consumo é anunciadovia publicidade, que normalmen-te tem uma imagem sofisticada.Esse objeto é consumido, jogadofora, aí eu cato o detrito e o trans-formo em uma imagem que temelementos publicitários - a corsaturada, o contraste�, explicaPlentz. O artista também deupreferência às imagens que pos-suem forma similar à do corpohumano, partindo da premissade que somos a única espécie aproduzir lixo.

Isso se nota no resultado,visualmente interessante. E éna estética que Plentz se foca.Apesar de reconhecer as diver-sas relações com o lixo, não temuma posição sobre elas. Acreditaapenas que o lixo diz muito sobreas pessoas e serve como memó-ria - o chamado �memento�. Omemento é todo tipo de souvenirque guardamos, de flores secas

a carteiras de cigarro de um momento especial.

Se, por seus trabalhos pas-sados, poderia ser facilmente relacionado à arte ecológica (no início da década, ele expôs fotos de árvores cortadas), agora o fotógrafo não deseja defender uma causa. �Acho que a arte não se relaciona com panfleto, coisas panfletárias. A minha preocu-pação é com o cidadão, com os aspectos urbanos, com o lixo que vejo na rua, com a educação da população�, explica.

Coisas Inúteis está aberta até dia 22 de novembro, na galeria Bolsa de Arte (Quintino Bocai-úva, 1115). Pode ser visitada de segunda à sexta-feira, das 10h30min às 19h, e aos sábados, das 10h às 13h30min. Entrada franca.

Uma ajuda bem-vinda

Fernanda Bo! a,especial para o JC

Com ares publicitários

O músico gaúcho Felipe Azevedo foi o vencedordo Prêmio Bolsa de Criação Artística da Funarte� Rio de Janeiro. No valor de R$ 30 mil, o prêmiovai ajudá-lo na gravação de seu próximo disco,Tamburilando Canções - Felipe Azevedo Violãocom Voz. �Foi uma surpresa boa. De certa formaeu já estava esperando, torcendo para que acon-tecesse. Esse novo prêmio dá a possibilidade defazer algo mais autoral�, conta o músico. Ele jáfoi vencedor do prêmio Petrobras Cultural, queresultou no seu terceiro disco, Percussìvé ou APrece do Louva-Deus. O próximo trabalho devedar continuidade a este último, com foco na duplaviolão e voz. �Na verdade, o que caracteriza, o quediferencia esse disco, é a possibilidade agora deum foco maior. Estou trabalhando com canções em

A Fundação Vera Chaves Bar-cellos (FVCB) realiza, entre hojee 9 de dezembro, o ciclo de deba-tes Olhos Vendados, na progra-mação paralela da mostra quepode ser visitada no Espaço 0da instituição - Andradas, 1444/ sala 29 - até 19 de dezembro. Doscinco encontros programados,quatro têm foco em depoimentosde artistas plásticos que usama linguagem de vídeo em seustrabalhos.

A abertura acontece às18h30min desta quinta, na Pi-nacoteca do Instituto de Artes daUfrgs (Senhor dos Passos, 248/1°

andar), com Neiva Bohns, AnaAlbani de Carvalho, Glaucis deMorais, Mariana Silva da Silvae Marco Arruda, sob o temaVideoarte no Acervo da FVCB.Às 18h30min de sexta, já noCentro Cultural CEEE EricoVerissimo (Andradas, 1223),onde transcorrem as demaisatividades, é a vez de RicardoCarioba falar, seguido, às 11hde sábado, por Elaine Tedesco.Os outros encontros são comLenora de Barros, às 18h30mindo dia 27 de novembro, e LucasBambozzi, às 18h30min do dia 9de dezembro. Entrada franca.

Videoarte e depoimentos

que se estabelece um diálogo do violão com a voz�, afirma. O repertório já está sendo produzido por Azevedo, que prevê o lançamento para o segundo semestre de 2009.

Felipe Azevedo começa Prêmio Bolsa da Funarte

Leopoldo Plentzencontra no lixo amatéria-prima e ainspiração para a

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Jornal do Comércio - Porto Alegre4 ViverViver22, 23 e 24 de janeiro de 2010

COMPORTAMENTO

Peças de personalidade

Sandro Dreher tem 300 ônibus em miniatura

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Fernanda Bo! a, especial JC

Todo mundo coleciona, ou pelo menos já colecionou algu-ma coisa. Se a afirmação parece apressada, o hábito de colecionar é comum em todo o mundo. Na infância, faz parte do cotidiano de meninos e meninas. Figuri-nhas e miniaturas colecionáveis são lançadas por diversas mar-cas para chamar a atenção desse público para os seus produtos - geralmente com sucesso estron-doso. Na adolescência é comum que o jovem guarde todo tipo de produto relacionado ao seu artista favorito, às vezes levando esse costume para a maturidade. Já na idade adulta, as coleções de todo o tipo são cultivadas, de tampas de garrafas a obras de arte, passando por objetos mais comuns, como selos e moedas.

�No Brasil existem muitos co-lecionadores, mas faltam ainda instituições agregadoras. Nos Estados Unidos há organizações para todo tipo de colecionável�, afirma Renata Lima, fundado-ra do Instituto de Pesquisa do Colecionismo. A pesquisadora, que estuda itens colecionáveis há mais de 30 anos, aponta ainda a diferença da nossa concepção do assunto para a que têm os norte-americanos e europeus. �Nos Estados Unidos, álbuns de figurinhas são um investimento. Muitos pais sabem que, se todo mês comprarem um álbum para o seu filho na banca, quando ele chegar aos 18 anos possivelmen-te poderá pagar a sua faculdade com a coleção�, explica.

Renata também ressalta que,embora o colecionismo aindaengatinhe como atividade orga-nizada no Brasil, suas origenssão mais antigas do que se ima-gina. �Na Pré-História, quando ohomem juntava lascas de pedra,já fazia uma espécie de coleção�,afirma a pesquisadora. Mas rei-tera a importância de diferenciaro ajuntamento do colecionismoordenado, cujas primeiras mani-festações ocorreram no Oriente.Os livros sagrados da Índia, os

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conhecidos vedas, são coleciona-dos desde sua composição, quedata de 2.000 a 1.000 aC.

Renata afirma ainda que, noBrasil em particular, a ativida-de ganhou impulso apenas noséculo XIX, por influência deDom Pedro II. O grande acervode objetos do imperador, que reu-nia de cartões postais a estátuasegípcias, posteriormente doadoao Museu Nacional, teria am-pliado a gama de colecionáveisno País. �Já era comum juntarselos, moedas, caixas de fósforos,figurinhas. Mas outros objetos,só depois de Dom Pedro�, conclui.Na Europa, as grandes coleçõesremetem à Idade Média.

Essa metodologia é o quedistingue um ajuntador de umcolecionador, como explica opsiquiatra Aristides Cordioli.Dentro da Medicina, o termocolecionismo faz referência a umsintoma do Transtorno Obsses-sivo Compulsivo (TOC). Apesarde as características mais co-nhecidas do transtorno seremas atividades repetitivas, a ob-sessão por limpeza, a constante

higiene das mãos e a frequentechecagem de portas e janelas,entre outras, recentemente o co-lecionismo tem se mostrado bas-tante comum. �Ele se manifestano acúmulo de objetos inúteis,que podem ocupar muito espaçofísico e inclusive causar conflitoentre o paciente e a família�,afirma o psiquiatra.

Cordioli, que trata pacientescom a patologia há mais de duasdécadas, ressalta que manteruma coleção pode ser um hobbysaudável. A atividade recreativapouco se assemelha ao colecio-nismo associado ao transtorno,marcado por um apego irracio-nal a itens sem valor estéticoou prático. Os exemplos vão deeletrônicos em desuso, jornaisvelhos e roupas que já não ser-vem a notas fiscais e cartões decrédito fora da validade. Há atémesmo quem estoque comida.�É um dos sintomas mais difí-

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ceis de tratar. O ajuntador nãoconsegue se desfazer dessesobjetos e, quando é obrigado,o faz com muito sofrimento�,esclarece. As motivações tam-bém são distintas: enquanto oajuntador se baseia numa espé-cie de prevenção para o futuro,quando aquele item poderá sernecessário - uma roupa quevolta à moda, uma notícia quepode ser do seu interesse, umapossível escassez de alimentos- a motivação do colecionadoré emocional. O produtor San-dro Dreher, por exemplo, é umaficcionado por miniaturas deônibus. Ele já tem cerca de 300exemplares em casa.

A alegria dos saposPara a

cardiologista Bernadete MedeirosBoff, o que importaé a alegria dossapos. Há uma década ela decora a sua casa com réplicas dos anfíbios, feitas dos maisdiversos tamanhos e materiais. �Eupassei a colecionar sapos porque eles são muito divertidos.A cor deles é alegre,o verde é uma cor antiestresse. Ossapos também têm aquele jeitolúdico, brincalhão. A presença deleslevanta o astral. Só de olhar para o jeitão deles tu já ficas alegre, e é bom secercar de coisas quedeem alegria�, conta.

A coleção não é

grande. Ela calcula que tenha cerca de dez exemplares. Mas logo explica:�O sapo precisa me encantar. Ele precisame passar alguma coisa�. A coleção,mantida de forma casual - Bernadetenunca sai paraprocurar novaspeças, sempre as compra de passagempor algum lugar - começou com umaaquisição curiosa:dois sapos, sentados em cadeiras de vime,que nas palavras da cardiologistalembram �espéciesde versões anfíbias de O Pensador de Auguste Rodin�.Ainda assim, o preferido é umgrande e sorridentesapo verde oliva. F

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Raspas de tinta não costumamser item de colecionador, mas a coleção exposta no apartamentodo artista plástico Frantz nãosurpreende. Não apenas pela suaprofissão: desde os anos 1980, ele abandonou a técnica para abraçaro olhar. A partir da observação do forro de seu atelier, onde dá aulas de pintura, passou a enxergar suas obras. Portanto, nada mais naturalque o tubo em vidro que tem na sala de estar, repleto de raspasdo seu trabalho. Ao lado delas,também estão livros repletos de bordas de telas, cores e texturas que normalmente seriam destinadas aolixo.

Frantz não se considera um colecionador. Mas, mesmo assim, não pode negar que o tubo ao lado da lareira é uma espécie decoleção. Há cerca de quinze anos, é para o objeto que vai o que ele não aproveita em sua obra. Mesmo assim, ele parece nunca encher. �A tinta pesa ali dentro, e vai comprimindo o que está embaixo�, explica o artista. E se a tinta chegar até a borda, haverá uma exposição? �Se o tubo encher, quando ele encher eu já vou estar em outra�, ri.

Jornal do Comércio - Porto Alegre

ARTES VISUAIS

5ViverViver 22, 23 e 24 de janeiro de 2010

O desejo de infância Parada inusitada

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Quem visitar São Paulo apartir de hoje terá uma gratasurpresa: em seus 456 anos, acidade será presenteada com amaior exposição a céu abertodo mundo. Pela segunda vez,entre esta sexta-feira e o dia21 de março, a CowParadealegrará as ruas com uminusitado rebanho coloridoe irreverente com cerca de90 vacas em tamanho natu-ral, feitas em fibra de vidro,criadas especialmente parao evento e assinadas por ar-tistas plásticos, designers,grafiteiros e arquitetos quevivem na cidade.

Nesta edição, a CowParademostrará obras assinadas porInez Saragoza, Sônia MennaBarreto, Maramgoní, MarceloFaisal, Marcello Serpa, HansHossi, Morandini, ReynaldoBerto, Luciana Mariano, C. Si-doti, Antonio de Olinda, Glau-co Diógenes, Lucas Pennachi,Toligadoboe, entre outros. Norebanho, uma vaca ciclista,uma grafitada, uma leitora eaté uma vaca-escada ocuparãoespaços da zona Norte à zonaSul. As vaquinhas estarão es-palhadas em pontos de grandefluxo de público, como as ave-nidas Paulista, Oscar Freire,Cidade Jardim e tambémem estações do Metrô, rodo-viárias, museus, shoppings,parques e praças.

Os nomes e temas criativosdas obras, em alguns casos,

brincam com o termo �cow�gerando divertidos títulos queremetem à fantasia, chamamatenção para os problemase para as belezas da cidade,homenageiam figuras pop,discutem assuntos atuais dodia-a-dia de uma das maioresmetrópoles do mundo. Cow-gestionamento, atenta para ocalvário que é nosso trânsito;Cowçada, Vaca de Sampa,Pujança, Urbana, Vaca daGaroa estão entre as quehomenageiam a cidade; VacaTattoo, Do Pasto à Passarelalembram as diferentes tribosque circulam incansáveis;Cicowvia, 100% Brasileira,Vá Carbono, Cowleta Seletivafalam de sustentabilidade, fa-zem lembrar que precisamospoluir menos e cuidar mais dacidade e do mundo; Micowja-ckson, Cowlorida, Cowfeína,Wooooodstock, confirmam queo bom humor persiste, mesmodentro do caos. E é essa aproposta da CowParade, levarpor onde passa a arte, beleza,integração, cultura e muitaalegria.

As obras em exposiçãoforam patrocinadas por 27empresas privadas, além dasproduzidas pela TopTrends,detentora dos direitos de pro-dução do evento no Brasil, eno final da exposição, serãoleiloadas. O resultado obtidovai para entidades beneficen-tes e ONGs.

De acordo com o produtor de televisão Sandro Dreher, o que motivou a sua coleçãofoi um desejo de infância.�Eu sempre quis ter um ônibus e nunca consegui. Issoaté eu ganhar um, e depoisdisso abriram as fronteirasdo Paraguai. Começaram a chegar muitas coisas daChina, e aí a coleção foi se ampliando�, conta. Hoje donode cerca de 300 miniaturas em ferro do veículo - e em minoria

também de outros veículoscoletivos, como bondes, vans e micro-ônibus - ele pode sedizer satisfeito. Ou quase:Dreher está constantementeem busca de novas peças.

Muitas delas ele consegue pela internet, através de lojas virtuais ou de outros colecionadores. Os preços variam. Enquanto algumas custaram menos de R$ 10,00,outras chegam perto deR$ 1.000,00.

Hoje expostos em umarmário de vidro na casado produtor, os ônibus de Dreher não devem sair de látão cedo para uma exposição. Pelo menos não sem um boa proposta. �Para levareu preciso passar um dia embalando as peças, na voltamais um dia guardando. Enão adianta, por mais que se cuide sempre se arranhaalguma coisa. De graça não dá�, afirma.

A sobra como arte

A coleção do estudante Guilherme Narcizo se asse-melha à de Bernadete pelo foco nos animais. Mas se a cardiologista coleciona estritamente sapos, a diversidade é o que o encanta. �O quanto mais diferente, melhor. Não adianta ter vários bichos iguais. Bichos exóticos, bichos que eu ainda não tenho são o que os que eu procuro.� Aos dez anos, quando os colegas colecionavam cards e figurinhas, ele começou sua coleção de animais. �Sempre gostei de colecionar animais. Perto da minha casa havia uma loja de antiguidades, comecei olhando lá. Depois sempre aparecia uma tia que doava alguma coisa, e assim a coleção foi crescendo�, conta o estudante.

Hoje com 20 anos, Guilherme já acumula mais de cem reproduções em porcelana das mais diversas espécies, de pinguins a galos. O seu favorito, não surpreendentemente, é um animal que ele nem ao menos sabe o nome.

Paixão pela diversidade

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con!ira+! Moto Cinema: bate-papo sobre o motociclismo no Cinema. Na Fnac (Diário de Notícias, 300), às 19h30min. Entrada franca. ! Dizplay e Caixa Acústica: pop rock nacional e inter-nacional dos anos 1980. No John Bull Pub (Cristóvão Colombo, 545), às 22h. Ingresso Fem.: R$ 12,00. Ingresso Masc.: R$ 18,00. ! Oitentalha: pop rock nacional e internacional dos anos 1980. No Revolution Music Pub (Plínio Brasil Milano, 75), às 21h. Ingresso: R$ 15,00.! Chairs Summer Lounge: festa house com os DJsDiogo Lopes e Rodrigo M. No Chairs Resto Lounge (Dr. Barcelos, 431), às 22h. Ingressos entre R$ 15,00 e R$ 45,00. ! Jueves Pa�bailar: show com a banda flamenca Tirititrá. No Tablado Andaluz (Osvaldo Aranha, 476), às 22h.

Ingresso: R$ 8,00. ! Lila e Skin: show de jazz, pop e blues. No Cult Pub (Co-mendador Caminha, 348), às 18h. Ingresso: R$ 10,00.! DJ Express Vibe Mix: festa de e-music em quequalquer um dos clientes pode ser o DJ. No La Bode-guita (Lima e Silva, 426), às 22h. Para participar, enviee-mail para [email protected] e receba oregulamento.! Make Up: festa de rock. No Cabaret do Beco (Inde-pendência, 590), às 23h. Ingresso: R$ 10, 00, ou R$6,00 com nome na lista do site (http://www.beco203.com.br).! MODern Times: festa estilo mod com discotecagemdo trio Bande à Part e dos DJs convidados Cabelo e B.Rock. No Películas Café (Santana, 632), às 23h. Ingresso:R$ 7,00.

COMPORTAMENTO

Quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Fernanda Bo! a,especial para o JC

E-mails de assessores de imprensa sugerindo nomespara serem entrevistados sobre o universo feminino e suasdificuldades localizadas e pla-netárias não param de chegar. Faz sentido: o dia 8 de março,internacionalmente dedicado à mulher, está próximo, o que praticamente impõe a aborda-gem de temas como participa-ção no mercado de trabalho,divisão das tarefas domésticascom os parceiros e, principal-mente, a violência que aindapermeia as relações - maisem algumas regiões do País e menos em outras; mais em algumas regiões do planeta emenos em outras -, comprovan-do que a emancipação feminina ainda não se completou. Aliás, observando muito criticamente a caminhada feita até nossos dias - a partir de meados do século XX -, há quem acrediteque, na realidade, o processo de libertação está vivendo um retrocesso e que um sintoma disso estaria nos jornais: o número de mulheres que são mortas por ex-companheirosinconformados com a separa-ção. O ator Daniel Craig está entre os que afirmam que a emancipação da mulher jáperdeu força.

Sobre o assunto conversa-mos com a jornalista ClaudiaAldana. Ela é autora da versão chilena de Carrie Bradshaw,personagem do seriado norte-americano Sex and the City, e seu livro 31 Profissão Solteira(Primavera Editorial, 295páginas, RS$ 29,50) pode ser

comprado nas livrarias do Bra-sil. Sucesso de vendas no Chile,a obra traz uma coletânea dosprincipais artigos publicadosna coluna semanal da escrito-ra. Intitulada Treinta y uno, acoluna é publicada desde 2002no jornal El Mercúrio e relata os encontros e desencontros da personagem Consuelo Alduna-te, moderna, culta, com vidasocial intensa, um trabalhointeressante, apartamento confortável e um guarda-roupade sonho. Tudo parece perfeito, exceto pela falta do par ideal - que ela procura incessante-

mente nos bares de Santiago do Chile.

A mulher moderna, inde-pendente e inserida no merca-do de trabalho, não tem comoprioridade buscar um compa-nheiro e constituir família. É p p

nisso que muitos acreditam.Mas Consuelo, Carrie e Brid-get Jones, personagem da escritora inglesa Helen Fiel-ding cujo diário foi um grande

êxito editorial e chegou às telas com Renée Zellweger no papelprincipal, parecem provar o contrário. O grande sucesso depúblico delas também sugere uma forte identificação das mulheres na faixa dos 30 anos, que é a média de idade das três personagens.

Para Claudia Aldana, as manifestações das mulheressobre o tema são dúbias. �Essaposição de independência emocional, essa arrogância do �eu não preciso de um homem� é um discurso quefomos construindo para nos mantermos na defensiva dosfracassos amorosos. Acho queas mulheres são exageradas; setemos que ser independentes vamos ao extremo absoluto dedeclarar que não precisamos de um homem�. Para ela, a busca pelo parceiro é natural e não define uma dependência. Nadatem a ver com a busca obses-siva, transformada em projetode vida. �Quando conheço um homem não imagino como vãoser os nossos filhos. Uma coisa é ser solteira. Outra, muitodiferente, é o estado civil dedesesperada�, acredita a jorna-lista.

No Chile, afirma ClaudiaAldana, essa obsessão pareceuma constante. Lá, as mu-lheres são muito diferentes,segundo ela, da brasileira, que �atrai (e nos intimida), porquesabe quem é - e o que tem aoseu favor. Nós, chilenas, somosmais inseguras; tentamos maisagradar do que ser agradadas.Talvez porque a nossa socieda-de é mais rígida e nos ensina oque devemos ser - uma gueixapara que os homens queiram

Modernas eemaranhadas

A jornalista chilena Claudia

Aldana fala sobre as diÞ culdades da

mulher de hoje em seu país

você. Não valorizam o quedesejamos ser�, explica a es-critora. Na verdade, ela acre-dita que as chilenas são �mais complicadas do que a maioriadas mulheres. Há um monte de neuroses sobre os homens eé por isso que estamos em umestado de solteirice terminal quando completamos 25 anos�.O problema estaria na socieda-de, ainda machista e conserva-dora. �Quem chega a essa ida-de solteira transforma-se em�assunto� recorrente. Acho que, no Chile, a igualdade entre os sexos está avançando no campo sociopolítico, pois temos umamulher na presidência (Michel-le Bachelet), mas no terrenosentimental segue sendo um mundo de homens�.

Sobre Consuelo Aldunate em relação às outras persona-gens, Claudia faz uma ressal-va: não vê tanta semelhança entre sua criação e a colunistade Sex & The City: �Se você as-sistir à série perceberá que elaé muito mais aberta para as questões da sexualidade femi-nina. As colunas de Consuelo Aldunate, por seu lado, tratam da afetividade, da questão emocional, dos emaranhados que cada mulher constrói. Ela valoriza mais esses aspectos do que os pormenores da cama�. A jornalista acredita que sua per-sonagem é mais parecida comBridget Jones. �São mulheres mais racionais do que de ação.Ficam no planejamento e na teoria. E se perdem na ação�.

Unesco lança livro paraincentivar leitura e alfabetização

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou ontem o livro

Alfabeto da Esperança: Escritores pela Alfabetização, pelo Incentivo à Leitura. A publicação reúne textos

de 15 escritores de várias nacionalidades, entre elesos brasileiros João Ubaldo Ribeiro, Paulo Coelho e Cristovam Buarque. Ela faz parte da iniciativa

Escritores pela Alfabetização, promovida pela Unescono âmbito da Década das Nações Unidas para a

Alfabetização (2003 - 2012). Durante a cerimônia,um grupo de estudantes fez uma leitura dramatizada

de textos do livro que relatam experiências bem-sucedidas de alfabetização.

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Jornal do Comércio - Porto Alegre4PORTO ALEGRE

Terça-feira, 7 de abril de 2009

anoramaP Publicação do Jornal do Comércio de Porto Alegre

! Editor-Chefe: Pedro Maciel PP ! Editora de Cultura: Maria Wagner ! Editora de Imagem: Beth Bottini ! Projeto gráfico: Aluísio Pinheiro ! e-mail: [email protected] ! Av. João Pessoa, nº 1282 ! Fone: 3213-1367

Fernanda Bo! a, especial JC

Em abril de 1982, ele surgiu peque-no. Com outro nome e sem apoio da prefeitura, reunia apenas 40 artesãos, duas cooperativas, duas escolas especia-lizadas e um grupo do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Após quase três décadas,cresceu exponencialmente. O Brique daRedenção, antiga Feira do Bom Fim,hoje reúne 182 artesãos, 40 artistas plásticos e mais outros 80 expositores,dos quais 70 pertencem ao setor de antiguidades e 10 ao de alimentos. Não mais evento, tornou-se, ao longo dos anos, tradição para os porto-alegrensese parada obrigatória de visitantes.

Mas o que leva o porto-alegrense a visitar a feira, domingo após domingo? Será apenas o passeio? Para o artista plástico Osvaldo D. Tórtora, esse é umponto alto. �É a liberdade de caminhar p ,

em um parque, trazer os amigos e verantiguidades, arte e artesanato.� Mas e as vendas? Como os expositores, muitodeles de longa data, fazem para se reno-var e chamar a atenção dos passantes? O artesão Evilázio Domingos, que há23 anos expõe e participa da Comissão Deliberativa da feira, explica que uma triagem de expositores é realizada pe-riodicamente. O objetivo é a manuten-ção da qualidade. Ele acrescenta que, nos últimos seis anos, 40% do artesana-to foram renovados.

No entanto, isso não é suficiente para chamar a atenção dos visitantes. Parece haver consenso, entre os expositores,que oferecer novidades é essencial.Evilázio, como muitos de seus colegasde feira, dedica-se exclusivamente aoartesanato e diz que produz de duas a três peças por semana. �A renovação énecessária, o público é muito frequen-te�, afirma. Já Osvaldo, famoso por seuscartões artesanais, ampliou sua pro-dução nos últimos anos. Hoje também vende quadros e dioramas, miniaturasde ambientes tão distintos quanto palcos musicais e oficinas mecânicas - todos feitos com materiais recicláveis.

Na mesma linha, passou a criar recen-temente porta-lápis, �até para ver areação do público�.

A busca pelo novo se estende aosetor de antiguidades e alimentos. A baiana Maria Célia Santos Ribeiro é um exemplo disso. Apesar de a banca Pedacinho da Bahia, que coordena há sete anos, já ter destaque próprio - ven-de comidas típicas de outro estado - ela sempre busca oferecer novos quitutes. �Justamente por ser diferente, não dá para introduzir tudo de uma vez. Co-meçamos com acarajé e cocadas, depois passamos a oferecer cuscuz, pamonhae sucos diferenciados, como os de caju, cajá, açaí, graviola e cupuaçu. Tem queser aos poucos; e não dá para ficar narotina�, conta.

E, se alguém disser que novidade não combina com antiguidade, certa-mente o expositor Juan Daniel Estevezirá discordar. O antiquário dedica-sesempre a buscar itens autênticos e dife-rentes, em leilões e viagens ao redor domundo. Mas já constatou que, �apesar de haver muito público, os compradoresvêm mais a passeio�. Além disso, preci-samente por causa de seu empenho pes-soal, revolta-se por causa do que chama de política de gato por lebre e conta que,no Brique da Redenção, é frequenteque se venda cópia como antiguidade. �Nada contra a reprodução, desde quese esclareça que é reprodução�, explica.

E como o público percebe a feira e as novidades? As opiniões são contraditó-rias. Há quem a visite com assiduidadee perceba mudanças. Este é o caso deJonathan Cavalheiro, paulista radicado em Porto Alegre. �É uma coisa cons-

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tante, mas dependendo da época, ou da estação, você vê alguns produtos e coresdiferentes�, afirma. Já a porto-alegren-se Meri Luzia Boettger diz que não nota inovação. Também acha que não há variedade na oferta de produtos: �Muitaporcelana, muito trabalho em arame. Tem muita coisa repetida�.

Mas todos hão de concordar em um ponto. Os postos de atendimento insta-lados ao longo da avenida, para quem

+

Tórtora gosta da harmonia entre oanti go e o moderno, que podem ser

comprados através do cartão de crédito

Tudo isso acontece no Brique da Redenção

usa cartão de crédito e débito da ban-deira Visa, ensaiam ares de shopping a céu aberto para a feira. De acordo com Evilázio Domingos, a implementa-ção dos cartões fez com que as vendassubissem em 20%. Em média, o grupo de expositores tem um retorno de cerca de R$ 15 mil por domingo. Mas faz uma ressalva: �Em um domingo normal, semchuva e fora do período de férias�. O usodo cartão é uma mudança condizente com os tempos atuais, em que andar com dinheiro vivo se tornou arrisca-do. É também uma demonstração damaturidade do Brique da Redenção, hoje marca gerenciada por seus maiores interessados - os comerciantes.

As canções têm a sonoridade andina, mas o Þ gurino é dos

índios norte-americanos

Evilázio Domingos, preocupado coma qualidade e adiversidade

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Jornal do Comércio - Porto Alegre

MERCADO DE TRABALHO

5ViverViver 29, 30 e 31 de maio de 2009

Fernanda Bo! a,especial para o JC

Seja você mesmo. Esse é o conselho para quem, na busca de uma vaga no mercado, pas-sa por exames grafológicos, de estudo da letra manuscrita, e psicológicos. De acordo com psicólogos e grafólogos, se o candidato ousa manipular os resultados, a tentativa será no-tada. �Traços de insinceridade são revelados dentro do estudo�, afirma a grafóloga Rosemary Gonçalves, que pesquisa, presta consultoria e ministra cursos na área. Vogais abertas para baixo ou para cima, e a escrita feita em arcos ou sinuosa, com inclinação para a esquerda, ou lenta, podem indicar falsidade. Mas Rosemary acrescenta que mais evidências são necessárias.

Na psicologia, esses traços são notados tanto nos testes quanto nas entrevistas. Embora

diga que não pode revelar comoisso ocorre nos exames, excetoapontar que possuem escalasde validade que apontam a ma-nipulação, a psicóloga RobertaLopes do Nascimento afirmaque durante a conversa algumasrespostas são padrão entre oscandidatos. Membro do corpoclínico do Núcleo Médico Psicoló-gico, que atende a empresas emfase de recrutamento, avaliaçãoe treinamento de funcionários,ela diz que aumentar qualida-des para que pareçam defeitos,na hora de apontar as própriasfalhas, é uma prática frequente.A artimanha, já manjada para osrecrutadores, mais prejudica doque ajuda o candidato. �É melhor

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dizer �sou ansioso�, do que dizer�sou perfeccionista�. Sempre ouvi-mos isso, os defeitos são sempreos mesmos�, diz Roberta.

E quando a espontaneidadepode implicar perda de vaga? Ese aquela particularidade, queparecia irrelevante, for decisivapara uma possível desclassifi-cação? Para Regina M. Lopes,também psicóloga do NúcleoMédico Psicológico, os testesbeneficiam ao apontar o que é

melhor não só para a empresa, mas também ao candidato. Isso inclui a possibilidade de orien-tação, caso algum desequilíbrio seja detectado. �Para o bem do candidato, que com um mês ou dois de tratamento já pode estar mais estruturado. Até para que não se prejudique no mercado ficando pouco tempo na empresa por não aguentar a pressão.�

Rosemary afirma que é dever da grafologia indicar ao candi-dato a vaga que ele deve ocupar. Ela acrescenta que caracterís-ticas normalmente vistas como negativas, como o nervosismo, podem ser positivas para alguns cargos. Tudo depende do tipo de atividade que o candidato deverá desempenhar.

Nem todos concordam. Na verdade, tanto a testagem gra-fológica quanto a psicológica é motivo de controvérsia - por diferentes motivos. A grafologia ainda divide opiniões. Pelos grafólogos, é definida como ci-ência. �A grafologia revela a personalidade. Traços íntimos, atitudes, tudo o que a pessoa está buscando. Não tem a ver com o futuro. Não é adivinhação. É uma ciência e bem respeitada�, assegura Rosemary.

A ferramenta é bem-vista também por profissionais de re-cursos humanos, por sua eficácia nas seleções de candidatos. De acordo com a União de Recursos Humanos do Brasil (UniRHBR), empresas que a usam registra-ram diminuição de mais de 35% na rotatividade de pessoas, mas a comunidade científica ainda a classifica como pseudociência. O psicólogo e pesquisador ca-nadense Barry Beyerstein, um de seus maiores críticos, atribui aos grafólogos ideias que vão pouco além da magia simpáti-ca. �Acho escandaloso que um

A letra diz quem somos?

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As avaliações psicológicas se dividem emtrês categorias: expressivas, psicométricas e depersonalidade ou projetivas. Especialmente asprojetivas preocupam Coelho, também bacharel em Psicologia e autor do livro Responsabilidadepré-contratual em Direito do Trabalho, porqueentram na intimidade do candidato. �Nesse caso, o cuidado deve ser extremo. Não defendoa proibição de testes, sei que são importantes.Todavia, o cuidado ao aplicar e a necessidade de se dar um retorno ao candidato sobre o assunto,esclarecendo mesmo, não são observados�,aponta. Embora afirme que a devolução comos devidos esclarecimentos acerca do resultadoseja procedimento padrão no Núcleo Médico Psicológico, Roberta observa que a conduta adotada pela clínica não chega a ser regra:�Tem empresas que, às vezes, pelo grandefluxo de testagens, não dão retorno em nível de competência. Apenas dão o retorno se o candidatopassou ou não. As pessoas são curiosas, e isso

cria uma fantasia em torno da própria avaliaçãopsicológica�.

Para Coelho, o candidato se sujeita à exposição em função da alta competitividade domercado e dificilmente recorre à Justiça quandotem seus direitos violados. �O candidato aemprego normalmente não aciona a empresa, até porque tem receio de ser prejudicado em outroprocesso seletivo. Em regra, a discussão envolve a validade do teste, geralmente em empresaspúblicas é mais comum aparecer tal demanda�, revela. É uma das diversas polêmicas acercap p

do tema. Coelho se diz aberto para discussão. Mas faz uma ressalva: �Divulguei meu trabalho,através do livro, para os psicólogos, o pessoal deRH, mas nunca fui chamado para um debate e também nunca fui contestado. De certa forma, a meu ver, no fundo os profissionais derecrutamento e seleção têm receio de discutiresse assunto, porque tem muita coisa errada nessa área�. Esse pode ser um começo.

método pseudocientífico como agrafologia seja usado para tomardecisões que podem afetar seria-mente a perspectiva de vida ereputação das pessoas�, disse ementrevista ao programa de tevêScientific American Frontiers.

Já os testes psicológicos, nor-malmente associados à obtençãoda Carteira Nacional de Habili-tação (CNH) ou a triagens paraconcursos públicos, também vêmganhando espaço no recruta-mento de empresas privadas. Noentanto, geralmente são usadosnão apenas para detectar falhasque impeçam a ocupação do car-go, mas também para selecionarum perfil específico, que reúna

as características desejadas nofuturo ocupante do cargo.

A polêmica já começa nesseperfil. Luciano Augusto de ToledoCoelho, juiz federal do Trabalhodo Paraná, que analisa casos detestes psicológicos e chama aatenção para possíveis critériosdiscriminatórios. Um caso conhe-cido é o de um delegado da PolíciaFederal. Embora aprovado emconcurso público em 1993, elesó conseguiu assumir o postoem 2007, porque foi reprovadona segunda etapa de um testepsicotécnico, em que não atingiu�determinado grau de heteros-sexualidade�. O teste aplicado naépoca foi descontinuado.

Uma questão delicada que gera polêmica

Roberta do Nascimento e Regina Lopes, psicólogas

Rosemary GonçalvesaÞ rma que a grafologia é uma ciência e deve ser encarada como ferramenta que ajuda ocandidato e a empresa

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Jornal do Comércio - Porto Alegre4CINEMA

Quinta-feira, 16 de julho de 2009

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O gênero fantástico

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João Pedro Fleck é um dos idelizadores e produtores do Fantaspoa

O Þ lme Os Visitantes da Noite, de Marcel Carné, é um dos clássicos franceses em exbição

anoramaP Publicação do Jornal do Comércio de Porto Alegre

!Editor-Chefe: Pedro MacielPP ! Editora-Assistente: Mônica Kanitz !Editora de Imagem: Beth Bottini !Projeto gráfico: Aluísio Pinheiro !e-mail: [email protected] !Av. João Pessoa, nº 1282 ! Fone: 3213-1367

Um ponto importante é o renome inter-nacional que o festival vem conquistando. Entre outros feitos, a organização do Fan-taspoa participou ativamente da criação de uma liga latino-americana de festivais de cinema fantástico, a Fantafestivales. Através da Fantafestivales, conseguiu parceria com a Méliès, federação europeia de festivais de filmes fantásticos, conside-rada a maior vitrine do gênero no mundo todo. Na edição deste ano, entre outros cineastas, o festival recebeu o argentino Hernan Findling e neo-zeolandês David Blyth, que além de apresentar quatro lon-gas-metragens, entre eles o documentário Amarrados por Prazer, sobre o mundo do sadomasoquismo, e o cult oitentista Guer-ra Para a Morte, ministrou um workshop de roteiro, direção e produção. Ele orientou

os alunos na produção de três curtas-me-tragens, que serão exibidos ao final do festival, na sala CineBancários.

Receber um diretor estrangeiro é a consolidação de um processo iniciado ainda no terceiro ano do festival, quando os organizadores decidiram incluir na programação uma mostra competitiva de curtas-metragens em nível internacional. �Foi aí que nós vimos que tínhamos uma possibilidade. Foi neste ponto que eu cheguei e falei para o Nicolas: agora, ou a gente para com isso ou tenta seguir�, afir-ma João Pedro. Os problemas enfrentados na edição de 2008 parecem, no máximo, proporcionais ao salto dado pelo festival, que então realizou pela primeira vez uma mostra competitiva internacional de lon-gas-metragens - a maior em um festival de

gênero na América Latina, com um total de 42 filmes concorrentes.

Se depender de paixão e força de von-tade, o Fantaspoa só tem a crescer. �Essas coisas todas quem faz somos nós mesmos, e a gente faz isso porque ama o cinema, ama com toda a força que temos, e possibilita-mos que outras pessoas tenham contato com filmes que até o ano passado elas não imaginavam que poderiam existir�, diz João Pedro, que ao lado de Nicolas não só assume a direção, mas realiza uma série de atividades, como legendar os filmes ou distribuir chocolates na porta do cinema. Tudo isso sem mencionar o investimento financeiro. No ano passado, a dupla chegou a conseguir o apoio da Lei Rouanet para capturar R$ 260 mil, mas nenhuma em-presa manifestou interesse em patrocinar

o festival. Os R$ 18 mil gastos na ediçãodesse ano saíram de seus próprios bolsos.O organizador não titubeia quando entraem questão todo o esforço para realizaro festival. �A gente se desgasta, a gentese mata, eu estou quase sem dormir, oNicolas está quase sem dormir... Mas vejao que acontece: nesse momento, nesseexato momento, a gente está fazendo comque 80 pessoas vejam um filme que elasprovavelmente nunca iriam ver. Não estoudizendo que elas dificilmente iriam ver,porque muitos dos filmes do festival nãoestão nem disponíveis na internet. Elesnão seriam vistos nunca no Brasil se nãofosse pela gente�, finaliza.

ConÞ ra as atrações do Fantaspoa no siteoÞ cial www.fantaspoa.com

Consolidação no cenário internacionalThe Machine

Girl é umaprodução de

terror japonesada mostra

competi ti va

Fernanda Bo" a, especial para o JC

Maturidade. Esta é uma boa palavra para defi-nir o V Fantaspoa (Fes-

tival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre), que encerra sua programação nesse domingo. As salas P.F. Gastal, Norberto Lubisco, CineBancá-rios e Santander Cultural, que estão exibindo as atrações do festival, têm recebido um público considerável � o que gera certo contraste com a edição ante-rior, que teve algumas sessões canceladas por falta de público. Apesar da estranheza que o gênero fantástico possa causar por conta de tramas macabras, bizarras e até mesmo sangui-

nolentas, o mais comum é ver opúblico enchendo as salas do queabandonando o filme na metadepor falta de estômago ou merodesaviso. Durante as exibições,também é possível observar umpúblico heterogêneo, que reúnede estudantes universitários,habituais nesse tipo de evento, aaposentados, com presença tantoinusitada quanto expressiva.

As razões para essa mudançasão várias. A primeira provavel-mente reside na redução de cincopara quatro salas de cinema,sem cortes na programação. A quinta sala, antes dedicada aoscurtas-metragens, foi excluída,e esses filmes foram exibidostodos juntos no final de semanade abertura. �Foi uma ideia queeu tive logo que o festival do

ano passado acabou. Uma parte grande do nosso público gosta de ver todos os filmes�, revela João Pedro Fleck, de 26 anos, que organiza o festival desde sua primeira edição em parceria com Nicolas Tonsho, de 23. O segundo motivo está na divul-gação, que nesta edição contou com um jornal próprio, com todo o programa do festival, além do bom apoio da imprensa em geral. �É uma maravilha para a gente

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poder escolher os filmes. No ou-tro ano, era uma confusão para conseguir se organizar�, elogia a professora aposentada Aida Wailer Ferrás, 76 anos, frequen-tadora assídua do Fantaspoa. Mas faz uma ressalva: sugere a distribuição de panfletos nas ruas, para que o festival se po-pularize, amplie seu alcance. �Se não, quem é que vai? Sempre as mesmas pessoas�, afirma.

A formação de um público cativo também é considerada um dos ingredientes para o sucesso do festival. �Tem uma molecada que cresceu com o Fantaspoa. Começaram a vir aos quinze anos, e hoje estão na faculdade. Alguns que curtiam só os filmes de terror americano, no estilo Sexta-Feira Treze, hoje falam comigo sobre Mario Bava, um

mestre do terror italiano�, con-ta Cristian Verardi, 34 anos,curador dos curtas ao lado deVasco Siegman. Mas isso nãosignifica que o Fantaspoa nãoconquiste novos frequentadores,por diferentes motivos. Um bomexemplo é o da estudante La-rissa Souza Gasparin, 18, e dojornalista Rodrigo Juste Duarte,33. Enquanto Larissa se iniciano meio cinematográfico � ex-estudante de psicologia, cogitaagora cursar cinema � Rodrigojá tem contato de longa datacom ele, por trabalhar no meiocultural. �Eu me interesso muitopor curtas-metragens�, revelouLarissa na saída de Decidida-mente Animados: Não SomosMáquinas. Já Rodrigo, que

veio de Curitiba para passar asférias, aproveitou para cobrir ofestival de forma independentee acabou sendo chamado para ojúri da mostra competitiva. �Umdos jurados me convidou, e eugostei muito da seleção. O ma-terial está muito bom. Inclusiveestamos com dificuldade paraescolher�, conta. Neste ano, ofestival foi dividido em seis mos-tras: curtas-metragens, FrançaFantástica (em homenagem aoAno da França no Brasil), KitParker (com filmes de um distri-buidor especializado no gênero),competição internacional (com33 longas), Buenos Aires RojoSangre (com filmes do festivalargentino) e uma seleção de do-cumentários de vários países.

Page 14: Fernanda Botta: Portfólio: Jornal do Comércio: 2008-2009

anoramaPNO PALCO

Porto Alegre, quarta-feira, 19 de agosto de 2009 - Nº 47

Alguns acreditam que Elvis não morreu, mas todos têm certeza de Chuck Berry está bem vivo.

Se a eterna discussão acerca do título de rei do rock ainda divide os fãs do gênero � os defensores de Berry, apontado por muitos como o inventor do ritmo, alegam que Presley foi eleito por ser branco �, o roqueiro demonstra estar muito bem aos 82 anos. De volta a Porto Alegre, ele traz consigo a promessa de mais um show contagiante. Em junho do ano passado, ele apresentou com ânimo invejável clássicos como Memphis, Roll Over Bee-thoven, Havana Moon, Wee Wee Hours, Maybellene, Route 66 e Sweet Little Sixteen em um Pepsi On Stage lotado. Embora a crítica tenha reclamado de alguns erros em notas, solos e até mesmo letras, o público de quase três mil pessoas parecia não dar qualquer importância a estes detalhes. No máximo, reclamou a falta do duck walk, provavelmente deixa-do de lado em função da idade avançada. O movimento, no qual ele empunhava a guitarra pulando em uma das pernas, movendo a outra para frente e para trás, tornou-se a marca registrada de Berry.

Nesta quinta-feira, ele se apresenta no Teatro do Bourbon Country ao lado dos filhos Chuck Berry Jr. (guitarra) e Ingrid Berry Clay (gaita e vocal). Na banda também estão James �Jim� Bassala (baixo), Bob Lohr (piano) e o brasileiro Maguinho Alcantara (bateria), que faz participação especial. Apesar de Berry ter excursionado largamente pela Europa em 2008, neste ano as viagens internacionais só incluem o Brasil. De-pois de uma apresentação particular em Mônaco, fora dos Estados Unidos sua agenda vai se restringir a São Paulo, onde se apresenta hoje, Porto Alegre (amanhã), Belo Horizonte (sexta-feira) e Fortaleza (sábado).

Ele ainda toca regularmente no Blue-

Uma lenda viva do rock

berry Hill, clube de St Louis, Missouri, sua cidade natal, reunindo fãs de todo o mundo. Apesar de não produzir material inédito há mais de 20 anos - seu último lançamento foi o disco ao vivo In Concert, em 2002 - Berry ainda atrai um grande público pelo seu caráter mitológico. Na década de 1950, ele fez negros e bran-cos dançarem. Em uma época em que os conflitos raciais ainda assolavam os Estados Unidos, o mestiço de negro e índio levou para o resto do país um rit-mo considerado imoral. Com riffs mais rápidos que o blues caipira tocado por seus conterrâneos, criou algo novo � logo batizado de rock and roll, gíria negra para a dança e o sexo. Contemporâneo de Etta James, Muddy Waters e Little Richard, influenciou nomes como os Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan e o próprio Elvis.

E embora a polêmica ainda cerque o trono do rock, duas frases de John Len-non são esclarecedoras. Ao passo que o líder dos Beatles tenha dito �Antes de Elvis, não existia nada�, ele também declarou que �se o rock and roll tivesse outro nome, esse nome seria Chuck Ber-ry�. Apesar do debate, o certo é que Elvis ditou o estilo roqueiro. Garoto branco de voz negra, ele popularizou o rock�n�roll para a classe média americana nos anos 1950. Mas se fez isso, foi porque Berry reuniu seus elementos primordiais. Ao alcançar as paradas de sucesso cantando e tocando guitarra, o que até então era uma fórmula desconhecida, o hoje octa-genário mudou a história da música e da cultura popular para sempre.

Chuck Berry � No Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80), quinta-feira, às 21h. Os

ingressos, entre R$ 90,00 e R$ 300,00, estão à venda na bilheteria do teatro (de segunda

a sábado das 14h às 22h) e pela tele-entrega 8401-0555 ou 3299-0800.

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anoramaPJERRY LEE LEWIS

Porto Alegre, quarta-feira, 16 de setembro de 2009 - Nº 62

Fernanda Bo! a,especial para o JC

Agora só falta Little Richard. Porto Alegre, que há menos de um mês recebeu Chuck Berry, agora tem a chance de ver Jerry Lee Lewis de perto. O Matador, como é conhecido, ao lado de Berry e Richard compõe a santa trindade dos fundadores do rock and roll ainda vivos. E ele sabe disso. O título de seu último disco inédito, Last Man Standing (2006), é uma clara greferência à geração dos anos 1950 da Sun Studios. De Johnny Cash a Elvis Presley, todos os seus colegas de gravadora já mor-reram. Coube a ele ser �o último homem em pé�.

Do alto de seus 73 anos, Lewis encara a tarefa com tranquilidade. O último traba-lho, aclamado por público e crítica, reúne clássicos do rock em duetos do músico com outros gigantes. No time estelar que reuniu, figuram nomes como Jimmy Page, Buddy

Guy, Eric Clapton, Neil Young e o próprio Little Richard, em uma versão de ISaw Her IStanding There, dos Beatles, que faria os fab four � crias do rockabilly e fãs assumi-rdos � chorarem copiosamente. Aliás, RingoStarr assume a bateria em uma versão do clássico Sweet Little Sixteen, de Berry.

No entanto, para alguns o sossego pode ser traduzido como cansaço quando se fala de sua performance ao vivo. Cansa-ço justificado, com a idade e o tempo de trabalho que carrega, sem nunca deixar de excursionar. Mas ainda assim imper-doável para quem imagina ver um Lewis incendiário chutar o banquinho e martelar o piano de pé. Embora sua habilidade no instrumento permaneça inconteste, hoje ele toca sentado. O corpo não mais acom-panha o movimento frenético das mãos, e o olhar por vezes vagueia. As músicas são executadas de forma exata, com início, meio e fim. O músico perdeu o costume de acelerar, diminuir o ritmo ou mesmo

interromper por completo suas canções.E esse é o show que a Capital gaúcha

deve assistir hoje, no Pepsi on Stage. Sem expectativas, mas também sem esquecer a importância de Lewis. Embora não rea-firme mais no palco, o compositor é maior que a canção. Autor de sucessos como Great Balls of Fire, Breathless e Whole Lotta Shakin� Goin� On, o roqueiro estadu-nidense marcou um capítulo importante do gênero e da história. Sua trajetória, retratada no filme Great Balls of Fire!, (A ((Fera do Rock, no Brasil) foi marcada pela quebra de tabus.

Nascido em Ferriday, no conservador estado de Lousiana, ele chocou o país não só por estar na linha de frente de um movimento tido como imoral. Em 1958, a imprensa descobriu seu casamento com Myra Gale Brown, sua prima de segundo grau, na época com apenas 13 anos. A re-lação ganhou ares de escândalo público, e ele teve uma turnê cancelada.

Lewis foi praticamente banido do cenáriomusical, onde já colecionava impedimentos.Muitas rádios já o boicotavam pelo forteapelo sexual de suas canções. Como Cash e,mais tarde, Richard, todos profundamentereligiosos, ele mesmo desconfiou do poderpossivelmente satânico do rock�n�roll. Ver-dade ou mito, ele não tardou a retornar aotopo das paradas e hoje reafirma seu postocomo figura seminal do gênero. Afinal, ape-sar de ter na guitarra o seu maior símbolo,o rock não seria o mesmo sem o tresloucadopiano de Lewis.

Jerry Lee Lewis: hoje, às 22h, no Pepsion Stage (avenida Severo Dullius, 1995).Ingressos: plateia A (1º lote): R$ 200,00;

plateia B (1º lote): R$ 150,00; pista (1ºlote) R$ 80,00, mezanino (1º lote): R$120,00; camarote para 6 pessoas: R$

1500,00. Pontos de venda: Spazio Diadora(Padre Chagas, 306) e Opinião (www.

opiniaoingressos.com.br).

Sua habilidade ao piano permanece incontestável

Fera do rock mostra seus clássicos

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OPINIÃO PRODUTORA/DIVULGAÇÃO/JC

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Adriana Lampert

Sucesso entre a criançada, Léia Cassol lançou o 5º título da coleção Beto e Fê, pela editora Cassol. As Aventuras de Beto e Fê � O Último Guardião é seu 15º livro. Paranaense de São Miguel do Iguaçu, Léia escolheu morar em Porto Alegre há 19 anos e aqui iniciou sua carreira de contadora de histórias, em 1996. Em entrevista ao JC Feira do Livro, ela fala sobre seu traba-lho e antecipa o que os leitores irão encontrar nas 119 páginas de seu mais recente título.

JC Feira do Livro - Teu trabalho como contadora de histórias influencia teu estilo de escrever para as crianças?

Léia Cassol - Com certeza. Meu trabalho vem bastante da oralidade, talvez seja isso que faça com que meus livros tenham uma linguagem um pouco dife-rente. As crianças me comentam que quando leem meus livros parece que estão me ouvindo falar, porque tem o mesmo ritmo da contação.

JC Feira do Livro - Tu pas-sas mais tempo escrevendo outrabalhando com contaçãode histórias?

Léia - Escrevo por prazer,mas meu trabalho é contação dehistórias - mais em escolas do queem feiras de livro de municípios.Em um ano faço em média 700oficinas de contação de históriaspara crianças e 100 oficinas paraprofessores.

JC Feira do Livro - De ondevem a inspiração para escre-ver para o público infantil?

Léia - Muitas ideias que colo-co no papel têm origem na ima-ginação das crianças que convivodurante as oficinas. Às vezes elasg ç ç q

me dizem uma coisa �nada a ver�no meio da contação de históriasque posteriormente me dá umaideia para inserir nos livros.

JC Feira do Livro - O Úl-p

timo Guardião tem comocenário as Missões. No textoencontra-se um pouco de His-tória do Rio Grande do Sul?

Léia - Exatamente, mas deHistória mesmo, são só pincela-das para estimular o interessedas crianças. O Rio Grande doSul nasceu nas Missões, quando

os padres jesuítas chegaram, em torno de 1620. O gado, que até hoje serve de base econômica para o Estado, foi introduzido nas Missões. E é muito difícil con-tar isso para as crianças quando elas estão na 4ª série. Percebi que cada vez que eu ia em uma escola contar história para as quartas séries, essa era uma parte bas-tante difícil para eles. Então é exatamente sobre isso que eu acabo fazendo uma abordagem no livro, sobre as duas épocas da redução e sobre a redução de São Miguel Arcângelo - que foi a principal. Este é um pouquinho da História que se passa no livro, o nome do capítulo é �Muito além do livro do colégio�.

JC Feira do Livro - Qual é a aventura que os protagonis-tas vivem por lá?

Léia - A Fê vai passar o ano- novo nas Missões, porque ela não quer ficar com o pai, que arrumou uma namorada nova. Então acontece uma porção de coisas por lá e eles protagonizam uma aventura que se passa em uma determinada época de um período reducional.

JC Feira do Livro - Pode-se

dizer que inserir estas infor-mações é um dos critérios?

Léia - Sim, sempre gostei de História. O barato de escrever é saber que depois de elas lerem o livro elas vão ir além do que

está escrito ali. Em O segredo daMoeda eu cito uns túneis subter-râneos em Porto Alegre - entãoeles ficam curiosos, querem saberonde estão estes túneis... É muito

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gratificante.

Fernanda Bott a,especial para o JC

Está na hora de a arte sequen-cial ser vista como linguagem própria e reconhecida, muito além da classificação de gênero menor que lhe é historicamente atribuída. Essa foi a conclusão do bate-papo com Sérgio Alves, editor da série Literatura Brasi-leira em Quadrinhos da Editora Escala. No evento, misturavam-se entusiastas e curiosos. No primeiro grupo estava Carlos Francisco Morais, de Cachoeira do Sul. Historiador de formação, é roteirista da revista de quadri-nhos independente Alexandria. Apesar de ter nutrido desde a infância um amor pelo desenho, nunca chegou a desenvolvê-lo. �Com a História acabei ficando nas letras�. Ele também consome e produz a literatura que muitas vezes revela preconceito com os quadrinhos.

A série da Escala, lançada

em 2007, abriu portas paralançamentos. Agora já é possívelencontrar títulos da literatu-ra internacional e adaptaçõesde momentos históricos paraesse formato, como Contos deTchekhov, e A Primeira Guerra

Mundial em Quadrinhos. De acordo com Alves, a iniciativa é um sucesso editorial graças ao que chama de �boom dos quadri-nhos�. O crescimento desse nicho do mercado editorial possibilitou uma mudança de perspectiva em

relação ao gênero. Mas não ape-nas no que se refere ao seu uso em sala de aula, ou numa possí-vel substituição do texto integral pela adaptação em quadrinhos pelas crianças, ainda temida por alguns educadores. Até mesmo porque o Ministério da Educação tem participação importante nesse cenário no Brasil. De 600 títulos distribuídos para o ensino público, 23 eram histórias em quadrinhos.

Além de chamar a atenção para o fato de que a série publica adaptações e não reproduções � como acontece no cinema e na televisão � Alves aponta para o reconhecimento dos quadrinhos como gênero independente, dis-sociado da arte e da literatura. Apesar de utilizar-se de ambos, o faz com técnicas e méritos pró-prios. �O quadrinho trabalha com a imagem e o texto, articula os dois. E assim oferece um aspecto visual muito interessante. Um objeto não é descrito, ele está ali.

Não há uma versão minha ou suadele�, enfatiza.

Morais, por sua vez, ressalta oreconhecimento que Neil Gaimanvem conquistando junto à críticainternacional. Gaiman, autor deromances como Coraline, DeusesAmericanos, Os Filhos de Anan-si, em 1991 venceu o prêmioWorld Fantasy Award com umahistória da série de quadrinhosque o fez famoso, Sandman. Foia primeira e única vez que umquadrinho ganhou a premiação.O historiador também relembraMaus: A História de um Sobre-vivente, sobre o holocausto judeuque rendeu um Pulitzer ao autor,o sueco Art Spiegelman. �Depoisdisso, os intelectuais ficaram as-sustados. Estão receosos de falarmal dos quadrinhos porque já éterreno comum que eles tambémsão arte�. Será esse o momento dea arte sequencial conquistar emdefinitivo sua posição logo atrásda fotografia, consolidada comonona arte? Tudo indica que sim.

4 Segunda-feira, 16 de novembro de 2009

ENTREVISTA

Feira do LivroFeira do LivroJC

Léia diz que muitas ideias vêm da imaginação das crianças

Despertando o imaginário infantil

FOTOS PEDRO REVILLION/JC

LANÇAMENTO

Clássicos da literatura adaptados para as histórias em quadrinhos

Alves ressalta reconhecimento do gênero como forma de arte

fernandabotta
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