Fernanda Paula Zardo

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES FERNANDA PAULA ZARDO ANÁLISES LABORATORIAIS PARA O CONTROLE DE QUALIDADE DA FARINHA DE TRIGO Bento Gonçalves 2010

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES

FERNANDA PAULA ZARDO

ANÁLISES LABORATORIAIS PARA O

CONTROLE DE QUALIDADE DA FARINHA DE TRIGO

Bento Gonçalves

2010

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA RIO GRANDE DO SUL - CAMPUS BENTO GONÇALVES

FERNANDA PAULA ZARDO

ANÁLISES LABORATORIAIS PARA O

CONTROLE DE QUALIDADE DA FARINHA DE TRIGO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Superior de Tecnologia em Alimentos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves, como parte dos requisitos para conclusão do curso.

Prof ª Orientador (a): Dra. Cristina Simões da Costa

Bento Gonçalves

2010

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FERNANDA PAULA ZARDO

CONTROLE DEQUALIDADE DA FARINHA DE TRIGO: ANÁLISES

LABORATORIAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Superior de Tecnologia em Alimentos do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves, como parte dos requisitos para conclusão do curso.

Aprovado em:...../..../....

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________

Prof. André Mezzomo

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Rio Grande do Sul (IFRS-BG).

_______________________________________________________________

Prof. Dra Lúcia de Moraes Batista

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Rio Grande do Sul (IFRS-BG).

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente aos meus pais, Adelino Zardo e Iracema Mercedes Zardo, que

estiveram sempre presentes nesta caminhada de três anos, me apoiando e acreditando no meu

potencial de seguir em frente almejando atingir meus ideais. A estes que me deram força para

enfrentar os obstáculos que a vida nos apresenta estando sempre de cabeça erguida.

Aos meus irmãos Odivan Leandro Zardo e Silvana Cristina Zardo que me deram apoio

e que mesmo longe sempre se fizeram presente em minha vida.

Aos professores do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Bento Gonçalves que

sempre se dedicaram para a formação de seus acadêmicos, em especial, à Professora Cristina

Simões da Costa.

Aos colegas de trabalho que colaboraram para minha formação, me ensinando e

incentivando, sempre com muito carinho e dedicação.

E a todos os amigos que se fizeram presentes nesta etapa importante da minha vida.

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RESUMO

A farinha de trigo apresenta variadas aplicações na indústria de alimentos, desempenhando um importante papel no aspecto econômico e nutricional da alimentação humana. O trigo é o fator de maior relevância para a qualidade da farinha. Para a manutenção dos padrões de qualidade da farinha dentro de um moinho, se faz necessário o acompanhamento, através de análises em laboratório, da matéria-prima, bem como da farinha durante os diferentes estágios de produção. O objetivo deste trabalho é apresentar as principais análises empregadas na determinação do controle de qualidade da farinha e ressaltar sua importância na definição do destino da farinha obtida. As principais análises que permitem verificar se a farinha encontra-se dentro das especificações que o cliente exige são: análise do teor de glúten, umidade, número de queda, cor, cinzas, alveografia. A necessidade de um controle rigoroso da qualidade da farinha decorre do crescente nível de exigência dos compradores, pois suas propriedades serão determinantes na qualidade do produto em que serão utilizadas como matéria-prima. Para que esse controle seja efetivo as análises laboratoriais são fundamentais, pois permitem a tomada das medidas necessárias para que eventuais não conformidades sejam corrigidas. Palavras-chaves: glúten, umidade, número de queda, cinzas, cor e alveografia.

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ABSTRACT

Wheat flour has many employs in food industry, playing an great role on economic and human nutritional aspects. Wheat is the main factor responsible for flour quality. In a mill, it iss necessary to monitor wheat and flour quality to maintain quality flour standards during the different stages of flour production. This work aims to present the most important analyses employed to determinate flour quality and to stress its importance on the definition of flour employ. The main analyses in flour quality control are: gluten index, moisture, falling number, color, minerals and alveography. The need of rigorous quality control of the flour is due to a growing exigency of the buyers, since its proprieties are responsible for quality of the product in which acts as main ingredient. Laboratorial analyses are fundamental to the effectiveness of flour quality control, since they make possible to determinate the correctives acts to possible non conformities. Keywords: glúten, moisture, falling number, minerals, color, alveography.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estrutura do grão de trigo .........................................................................................17

Figura 2. Fluxograma do Processamento dos Grãos de Trigo..................................................18

Figura 3: Inseto que pode ser encontrado no trigo ...................................................................22

Figura 4: Rede de glúten...........................................................................................................26

Figura 5: Proteínas do glúten, gliadina, glutenina e glúten ......................................................27

Figura 6: Extensibilidade, elasticidade e relação de força........................................................29

Figura 7: Glutomatic.................................................................................................................30

Figura 8: Gluten Index Centrifuge............................................................................................30

Figura 9: Glutork ......................................................................................................................31

Figura 10: Procedimento de realização da análise do teor de glúten........................................31

Figura 11: Alveógrafo Chopin..................................................................................................32

Figura 12: Curva do Alveógrafo...............................................................................................33

Figura 13: Alveograma de uma farinha de glúten forte............................................................33

Figura 14: Alveograma de uma farinha de glúten fraco...........................................................34

Figura 15: Amassadeira ............................................................................................................34

Figura 16: Bolinhas de massa...................................................................................................35

Figura 17: Estufa de descanso 25ºC .........................................................................................35

Figura 18: Alveolink (Curva dos resultados) ...........................................................................35

Figura 19: Aparelho Falling Number.......................................................................................37

Figura 20: Figura explicativa Falling Number.........................................................................38

Figura 21: Mufla.......................................................................................................................39

Figura 22: Estufa ......................................................................................................................39

Figura 23: Dessecador ..............................................................................................................40

Figura 24: Colorímetro .............................................................................................................41

Figura 25: Balança Eletrônica OHAUS....................................................................................42

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Produção mundial de grãos - Safra 2008/09 (milhões T)........................................12

Tabela 2: classificação dos trigos em classes ...........................................................................21

Tabela 3: Classificação dos Trigos em Tipos...........................................................................21

Tabela 4: Composição da farinha de trigo com 72% de extração ............................................24

Tabela 5: Limites de tolerância para farinhas de trigo .............................................................40

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS...............................................................................................................4

RESUMO ...................................................................................................................................5

ABSTRACT ...............................................................................................................................6

INTRODUÇÃO........................................................................................................................10

1. DESENVOLVIMENTO.......................................................................................................11

1. 1Trigo ...................................................................................................................................11

1.1.1 Histórico...................................................................................................................11

1.1.2 Importância Econômica do Trigo.............................................................................13

1.1.3 Constituintes e Química do Trigo.............................................................................13

1.1.4 Proteínas do Trigo....................................................................................................14

1.1.5 Carboidratos do Trigo.............................................................................................15

1.1.6 Lipídeos, Vitaminas e Minerais do Trigo.................................................................15

1.1.7 Processo industrial de Moagem do trigo.................................................................16

1.1.8 Condicionamento dos Grãos à Moagem..................................................................18

1.1.9 Moagem....................................................................................................................19

1.1.10 Classificação do trigo...............................................................................................21

1.2 Farinha................................................................................................................................23

1.2.1 Tipos de farinha de trigo:................................................................................................23

1.2.2 Classificação das farinhas..............................................................................................24

1.2.3 Q ualidade da farinha de Trigo.......................................................................................25

2 ANÁLISES DE CONTROLE DE QUALIDADE DA FARINHA DE TRIGO ...................26

2.1 Teor de Glúten ....................................................................................................................26

2.2 Análise de Alveografia .......................................................................................................31

2.3 Número de Queda (Falling Number) .................................................................................36

2.4 Análise de Cinzas ...............................................................................................................38

2.5 Análise de Cor ....................................................................................................................41

2.6 Análise de Umidade............................................................................................................42

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................................45

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INTRODUÇÃO

A farinha de trigo é definida como um produto obtido da moagem do grão de trigo

Triticum aestivun, ou de outras espécies do gênero Triticum (exceto Triticum durum)

(OSÓRIO; WENDT, 1995; PIROZI; GERMANI, 1998). O trigo, como matéria-prima, pode

ser considerado como grande responsável pela qualidade da sua farinha, considerando-se a

diversidade das variedades de grãos existentes, bem como as condições de clima e solo de

cada região (FERREIRA, 2003; GIECO; DUBKOVSKY; CAMARGO, 2004).

A qualidade da farinha obtida após o processo de moagem do trigo influencia

diretamente na qualidade dos produtos alimentícios em que participa como principal

ingrediente, de forma que verifica-se um aumento crescente do nível de exigência dos clientes

dos moinhos com relação à qualidade da farinha produzida.

A farinha de trigo possui variadas aplicações na indústria de alimentos, apresentando

um importante papel no aspecto econômico e nutricional da alimentação humana. Sabe-se,

que as características nutricionais e tecnológicas da farinha de trigo sofrem interferência

direta das condições de cultivo, colheita, secagem e armazenamento dos grãos de trigo

utilizados como matéria-prima, bem como do processo de obtenção, transporte e

armazenamento do produto acabado.

As alterações a que está susceptível a farinha de trigo afetam suas características e

propriedades tecnológicas sendo fundamental a realização de testes laboratoriais que

possibilitem determinar essas propriedades.

O objetivo deste trabalho é apresentar as principais análises empregadas no controle

de qualidade da farinha e ressaltar sua importância na definição do destino da farinha obtida.

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1. DESENVOLVIMENTO

1. 1Trigo

1.1.1 Histórico

Historicamente o trigo é um dos cereais mais importantes, senão o mais importante,

para o cotidiano humano. Sua história inicia-se a cerca de 10 ou 12 mil anos, contribuindo de

maneira vital à fixação do homem, à terra.

É símbolo das mais diversas culturas, religiões e está presente no dia-a-dia da maior

parte da população mundial.

Hoje é responsável por aproximadamente 30% da produção mundial de grãos, como

pode ser visto na tabela 1. É associado à soberania das nações e segurança alimentar de suas

populações. Mesmo antes da globalização interfere nas balanças comerciais dos países

importadores e exportadores.

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Tabela 1 - Produção mundial de grãos - Safra 2008/09 (milhões T)

País Arroz Milho Soja Trigo Total

Estados Unidos 6,5 307,4 80,5 68,0 462,4

Argentina 16,5 49,5 9,5 75,5

Austrália 20,0 20,0

África do Sul 10,5 10,5

Canadá 10,6 28,6 39,2

União Européia 61,2 0,7 150,5 212,4

China 135,1 165,5 16,8 113,0 430,4

FSU-12 20,1 114,7 134,8

Ucrânia 10,0 25,5 35,5

Federação Russa 63,0 63,0

México 25,0 0,2 25,2

Brasil 8,3 51,5 59,0 5,8 124,6

Índia 97,5 78,4 175,9

Paquistão 6,3 21,5 27,8

Tailândia 19,5 19,5

Indonésia 36,2 36,2

Vietnam 23,5 23,5

Total 439,1 791,0 233,2 682,9 2.146,2

Total safra 07/08 431,3 791,5 220,9 610,2 2.053,9

Evolução 08/09-07/08 1,8 (0,1) 5,6 11,9 4,5

Fonte: Usda (Levantamento de janeiro de 2009)

Além do cultivo principal para a alimentação humana, também é importante fonte de

alimentação animal, pela produção de grãos para ração, pela subutilização de lotes

imprestáveis para o consumo humano e através do aproveitamento de subprodutos da

moagem do trigo.

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1.1.2 Importância Econômica do Trigo

A importância econômica do trigo deriva da capacidade do glúten formar filmes

elástico-extensíveis, com elevado poder de absorção de água. Isto naturalmente impõe o uso

do trigo em massas, pães, biscoitos e bolos.

Desde o final da década de 1990 a produção mundial de trigo situa-se em torno de 600

milhões de tonelada/ano. Aproximadamente metade da produção mundial está concentrada na

União Européia, China e Índia. A Argentina, o principal fornecedor de trigo para o Brasil, está

entre os 15 maiores produtores. (FERREIRA, R. A. 2003)

O Brasil destaca-se por ser um dos maiores importadores mundiais, mesmo tendo

condições agronômicas de ser auto-suficiente e até mesmo exportar as mais diversas

variedades de trigo.

Mais de 50% do trigo usado no Brasil é importado. Nos últimos anos, o Brasil produz

trigo quase que exclusivamente na Região sul e mesmo sendo um dos maiores importadores

mundiais de trigo, o consumo per capita do brasileiro aponta para menos de 60Kg de

trigo/habitante/ano (FAPRI, 2006), com consumo anual na ordem de 10 a 11 milhões de

toneladas. (FERREIRA, R. A. 2003)

O cultivo no Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Bahia, com manejo

adequado mostra que o trigo pode ser produzido com sucesso, em termos de qualidade e

produtividade, mesmo em regiões mais quentes.

1.1.3 Constituintes e Química do Trigo

O trigo é o único cereal do qual podem ser extraídas farinhas com plena capacidade

de formar massas coesas, consistentes, elásticas e extensíveis. Isto se deve ao trigo ser o único

cereal dotado de glúten, rede protéica formada por glutenina e gliadina, em quantidade e

qualidade adequadas para a obtenção de massas elástico-extensíveis.

Há de se destacar que existem inúmeras variedades de trigo que diferem entre si

especialmente pela tenacidade do grão, potencial de extração de farinhas, pelo teor de

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proteínas, pelas características do glúten, pela capacidade de absorção de água e pela

atividade enzimática. Estas diferenças apontam para a melhor utilização do trigo e de suas

farinhas. Massas, pães, biscoitos e bolos requerem distintos padrões de farinhas (SENAI

2009)

1.1.4 Proteínas do Trigo

As proteínas são compostos moleculares de elevado peso molecular, constituídos de

aminoácidos ligados entre si. Albuminas, globulinas, gliadinas gluteninas são as proteínas

encontradas no trigo. As duas primeiras são solúveis em água e representam, em média menos

de 1/6 das proteínas totais. Gliadina e glutenina, porção protéica majoritária, são insolúveis e

quando hidratadas e submetidas a esforços mecânicos de mistura e amasse, formam o glúten.

A elasticidade e extensibilidade inerentes ao glúten são características oriundas dos

aminoácidos sulfurados, como cistina, que compõem a glutenina e a gliadina.

Extensibilidade, elasticidade, força geral, resistência, tenacidade e tolerância são

alguns dos termos usados para definir a reologia de massas formadas por farinha de trigo.

A reologia de uma massa de farinha de trigo é comumente determinada por métodos

analíticos específicos como a alveografia, consistografia, farinografia e extensografia. Tais

métodos registram o comportamento da massa em gráficos, quando submetida a certos

esforços padronizados.

Além do glúten, o trigo contém outros constituintes de extrema importância para a

produção e qualidade dos alimentos derivados deste cereal (SENAI 2009)

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1.1.5 Carboidratos do Trigo

Há que se destacar a importância do amido e das hemicelulases, polissacarídeos

fundamentais ao comportamento reológico das massas formadas pela farinha de trigo, com

influência sobre os processos e qualidade dos produtos finais

O grão de trigo tem no amido o seu polissacarídeo mais importante. A periferia do

grão de trigo é rica em celulose, também são encontrados em abundancia açúcares livres

(mono e dissacarídeos, como maltose, frutose e sacarose) e hemiceluloses (pentosanas,

pentoses, rafinose, xilose e arabinose)(SENAI 2009).

O amido corresponde a aproximadamente 64% do grão de trigo, ou 70% de seu

endosperma. Estes números por si só apontam para a importância deste carboidrato para a

produção dos derivados do trigo. No preparo da massa absorve e retém água, nos processos

fermentativos, sofre hidrólise (quebra da ligação na molécula com liberação de água) e

disponibiliza açúcares fermentescíveis para a alimentação das leveduras, sofre gelatinização

que dá plasticidade à massa nos processos térmicos, sofre retrogradação, ou recristalização ao

perder água após o resfriamento do gel, aumentando a firmeza dos produtos finais.

1.1.6 Lipídeos, Vitaminas e Minerais do Trigo

No trigo, os lipídeos estão presentes em uma taxa de 1,0 à 3,0%, e são encontrados

como em outros cereais, o ácido palmítico, o ácido oléico e o acido linoléico como os mais

abundantes. Também são observados consideráveis teores de fosfolipídios, como a lecitina,

um emulsificante natural.

Os lipídeos do trigo estão dispersos por toda a sua estrutura. Constituem grande parte

do gérmen, mas também estão presentes no pericarpo, semente. Na semente, encontram-se

especialmente na aleurona, agrupados às proteínas e polissacarídeos.

As vitaminas representam um complexo de substância, agrupadas não pela

similaridade química, mas porque detém funções biológicas importantes para o metabolismo e

manutenção dos organismos vivos. O trigo possui considerável número de vitaminas, em

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especial as do complexo B, que estão dispostas principalmente no gérmen e na camada da

aleurona.

As principais vitaminas encontradas no trigo são B1, B2 e B6, PP, A e E. Quanto aos

minerais, sais de potássio, fósforo, enxofre e magnésio são os mais abundantes. Sais de cálcio

também se encontram entre os mais importantes do trigo. Zinco, cobre, ferro e manganês,

minerais de importante função biológica para a saúde humana, também fazem parte do cereal.

A matéria mineral tem maior concentração na periferia do grão, diminuindo

consideravelmente seu teor nas regiões centrais do cereal. Para ressaltar este fato, observamos

que o grão de trigo tem cinzas em torno de 1,5 – 2,1%, enquanto seu pericarpo, que representa

apenas 14 – 18% do total, possui de 5,5 – 6,5% de cinzas. (SENAI 2009)

Este fato indica que as farinhas de trigo integrais, compostas por todas as frações

moídas do cereal, são mais ricas em vitaminas e minerais, pois o processo de moagem do

trigo, com separação e pulverização do endosperma amiláceo, segregando-o do gérmen e da

casca, determina importante exclusão das vitaminas e minerais nas farinhas de trigo.

1.1.7 Processo industrial de Moagem do trigo

Os processos industriais de moagem do trigo mais comuns são os chamados de

processos de redução sucessiva ou de redução gradual, que consistem em gradativas

fragmentações e separações, através de moinhos de rolos e peneirações a fim de separar as

macro-regiões do trigo para transformar o endosperma amiláceo em farinha. As três macro-

regiões que compõem o trigo são: gérmen, pericarpo (casca) e semente (cobertura e

endosperma)(Figura 1).

As macro-regiões servem como parâmetro que delimitam os produtos obtídos da

moagem do cereal. A casca é o principal constituinte do farelo, o gérmen é segregado ou

incorporado ao farelo, a farinha consiste do endosperma moído, rico em amido e proteínas.

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Figura 1: Estrutura do grão de trigo

Fonte: Fundamentos de Química e Controle de Qualidade dos Cereais

Além de observar as macro-regiões, os processos de moagem são delineados em

função da variedade de trigo a ser moída, que se diferenciam por suas características físicas

(tenacidade, peso específico, forma, tamanho do grão), por suas composições químicas e pelas

aptidões de suas farinhas à produção de massas, pães, biscoitos e bolos.

A seqüência industrial de moagem do trigo inicia-se pela recepção dos grãos, seguida

de pré-limpeza e estocagem. Antes da moagem propriamente dita, o trigo é submetido à etapa

de condicionamento, que consiste na limpeza e umidificação dos grãos. Após repouso que

possibilita distribuição uniforme da umidade, o trigo passa por uma segunda limpeza,

polimento e segue para a moagem, subdividida nas fases de trituração ou ruptura, redução e

compressão. Assim de forma resumida, os processos de moagem do trigo são apresentados na

figura 2.

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Figura 2. Fluxograma do Processamento dos Grãos de Trigo

1.1.8 Condicionamento dos Grãos à Moagem

O condicionamento à moagem divide-se em duas etapas: a limpeza, onde são retiradas

desde sujidades leves como pó e palha, até grandes corpos estranhos, e a umidificação que

confere ao trigo, após devido repouso, a umidade adequada para melhor extração de farinha,

em termos qualitativos e quantitativos.

A limpeza do trigo pode ser chamada de seleção dos grãos à moagem. Esta fase

completa a limpeza menos criteriosa promovida antes do armazenamento do trigo na unidade

moageira. Separa os grãos sadios dos corpos estranhos, das impurezas e dos grãos defeituosos

por processos baseados no tamanho, na forma, na densidade do grão de trigo e em suas

propriedades físicas.

Para otimizar a extração de farinha não é suficiente separar apenas as matérias

estranhas e impurezas, faz-se necessário também a segregação dos grãos quebrados, não

desenvolvidos e murchos, pois lotes uniformes constituídos por grãos sadios inteiros

apresentam, proporcionalmente, maior potencial de extração de farinhas e menor

susceptibilidade a contaminações físicas, químicas e microbianas.

A umidificação do trigo tem como principal objetivo facilitar a separação casca –

endosperma. De forma extremamente controlada, adiciona-se água ao trigo limpo a fim de

Recepção

Armazenamento

Moagem

Condicionamento

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elevar sua umidade à faixa de 15 à 16%. Após a adição da água, o trigo fica armazenado em

silos por um período entre 16 e 24 horas, tempo necessário para que a água fique uniforme e

equilibradamente distribuída no grão.

Períodos curtos de repouso prejudicam a separação da casca do endosperma, enquanto

períodos muito longos podem desencadear a germinação da semente e o desenvolvimento de

microrganismos. Níveis corretos de umidade do trigo tornam a casca menos quebradiça e

deixam a região amilácea mais macia.

1.1.9 Moagem

A moagem do trigo efetua-se de dentro para fora do grão, ocorrendo a partir de sua

quebra e exposição de sua porção interna, que é raspada e separada sucessivamente.

A moagem inicia-se pela trituração, segue pela redução e finaliza com a compressão,

sempre intercaladas por peneirações com o auxílio dos equipamentos como plansifter e o

sassor. O primeiro é um grande corpo vibratório formado por camadas paralelas de peneiras

sobrepostas. Já os sassores, também chamados de purificadores, trabalham com peneiras em

plano inclinado e fluxo de ar contrário, separando por tamanho e peso específico.

Os equipamentos de separação e purificação segregam diversas frações de farinha,

farelo e gérmen. As frações de farinha obtidas ao longo da moagem são chamadas de

“farinhas de passagem” que compõem as farinhas comerciais, sendo agrupadas de acordo com

suas características físicas, químicas e reológicas.

Os moinhos de rolos, também chamados de banco de cilindros, são os principais

equipamentos da moagem e são constituídos por grandes cilindros metálicos emparelhados

horizontalmente, distanciados milimetricamente, que quando acionados, apresentam rotações

em sentidos antagônicos entre si, no sentido do fluxo do trigo.

A trituração ou ruptura é a primeira fase da moagem e consiste, basicamente, na

quebra dos grãos através da ação de moinhos de rolos raiados.

O trigo condicionado à moagem segue para o banco de cilindros raiados onde é

literalmente quebrado. Da quebra dos grãos originam-se pelo menos três grupos de produtos,

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diferentes entre si pela proporção de casca, gérmen e endosperma, pela granulometria e pelo

peso específico.

Cada um dos produtos obtidos na primeira trituração é separado por peneiração e

recebe tratamento específico. O produto mais grosseiro segue para uma nova trituração, os

grânulos de endosperma, ou sêmola, seguem para bancos de cilindros lisos, onde serão

reduzidos e a farinha de passagem é encaminhada à constituição de uma farinha final.

A nova trituração, à qual será submetida determinada porção dos produtos da moagem,

também resultará em novos grupos de partículas, que receberão tratamento semelhante aos

promovidos nos primeiros produtos, e assim por diante, até a última trituração.

Normalmente são executadas de quatro à seis triturações, este número é determinado

pela capacidade de moagem da unidade, pela variedade de trigo moído e pelo tipo de produto

desejado.

A seguir realiza-se a redução que tem o objetivo de purificar e minimizar as partículas

do endosperma ainda grosso e impuro. São utilizados nesta etapa moinhos de rolos lisos e os

pequenos fragmentos de casca são separados granulometricamente e por peso específico.

Após é dada a compressão, na qual também são usados rolos lisos. Nesta etapa, a semolina é

convertida em farinha. A primeira farinha obtida nas fases de trituração, redução ou

compressão são comumente chamadas de farinhas de cabeça ou de ponta, enquanto as

últimas, impregnadas na camada da aleurona e de partículas da casca, são conhecidas por

farinhas de cauda ou simplesmente cauda, que apesar do evidente valor nutricional, são

separadas como subprodutos da moagem, geralmente destinados às indústrias de cola ou à

nutrição animal.

Em geral, as extrações de farinha somam 75 a 80% do trigo moído. Cada variedade e

até mesmo cada lote de trigo apresenta determinado potencial de rendimento de extração de

farinha e a otimização deste valor depende em muito do processo de moagem empregado, das

máquinas, equipamentos e dos conhecimentos técnicos dos que dirigem a moagem.

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1.1.10 Classificação do trigo

Segundo a Normativa nº 1 de 27 de janeiro de 1999 o trigo é classificado em cinco

classes que são definidas em função das determinações analíticas de alveografia e número de

queda conforme a tabela 2, e em três tipos definidos em função do limite mínimo de peso do

hectolitro e dos limites máximos dos percentuais de umidade, de matérias estranhas e

impurezas e de grãos avariados conforme a tabela 3.

Tabela 2: classificação dos trigos em classes

CLASSE Força do Glúten (10 J) mínimo Número de queda (Segundos) mínimo

Trigo brando 50 200 Trigo pão 180 200

Trigo melhorador 300 250 Trigo para outros

usos Qualquer < 200

Trigo Durum - 250 Fonte: (GERMANI, 2007)

Tabela 3: Classificação dos Trigos em Tipos

Grãos avariados (% máximo)

Tipo Peso do Hectolitro (kg/hl) Mínimo

Umidade (%) máximo)

Matérias Estranhas e Impurezas (% máximo)

Danificados por insetos

Danificados pelo calor, mofados e ardidos

Chochos, Triguilho e quebrado

1 78 13 1,00 0,50 0,50 1,50 2 75 13 1,50 1,00 1,00 2,50 3 70 13 2,00 1,50 2,00 5,00

Fonte: www.moagemdotrigo,com.br

O trigo pode ser classificado como fora de tipo, que é aquele que não atende às

especificações previstas para o tipo 3 da tabela acima. O produto classificado como fora de

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tipo, poderá ser comercializado como tal ou então rebeneficiado, desdobrado, ou recomposto

para efeito de enquadramento em tipo.

Pode haver também a desclassificação temporária e a proibição da comercialização do

trigo, isto acontecerá se o mesmo apresentar insetos vivos (figura 3), apresentar aspecto

generalizado de mofo ou fermentação, mau estado de conservação, acentuado odor estranho

de qualquer natureza imprópria ao produto, teor de micotoxina ou de outro contaminante e de

resíduos de produtos fitossanitários acima dos limites estabelecidos pela legislação específica

em vigor e sementes tóxicas que impeçam a sua utilização normal.

Figura 3: Inseto que pode ser encontrado no trigo

Fonte: www.moagemdotrigo,com.br

A destinação e o acompanhamento do produto desclassificado será de competência do

órgão técnico do Ministério da Agricultura e Abastecimento.

A qualidade de uso de uma farinha de trigo depende principalmente de duas

características inter-relacionadas do grão do trigo: conteúdo protéico e dureza. O conteúdo

protéico é pouco influenciado pela hereditariedade do grão e fortemente dependente de fatores

ambientais, como conteúdo de nitrogênio disponível no solo e umidade durante a fase de

crescimento da planta. A dureza é um fator genético, mas pode ser afetada por condições de

tempos anormais, como chuvas excessivas na época da colheita.

Quanto à consistência dos grãos (empregados na moagem), os trigos podem ser

classificados em extraduros, duros, semiduros e brandos.

• Extraduros: são usados principalmente para a fabricação de sêmola (grandes grãos de

farinha), empregadas na fabricação de massas. Estes trigos apresentam elevado teor de

maltose e podem ser misturados em pequenas proporções com outros, para aumentar a

fermentação na panificação.

Page 23: Fernanda Paula Zardo

23

• Trigos duros: em geral, estes trigos possuem elevada percentagem e qualidade de

glúten.

• Trigos semiduros: estes trigos com características de força intermediária entre os duros

e os moles, podem ser mesclados com outros, dependendo das necessidades para

melhorara a cor, sabor e rendimento das farinhas.

1.2 Farinha

Farinha de trigo é o produto obtido a partir de espécies do gênero Triticum, exceto

Triticum Durum, através do processo de moagem do grão de trigo beneficiado. Apresenta-se

como um pó desidratado, rico em amido.

A farinha de trigo deve ser obtida a partir de grãos de trigo sãos e limpos, isentos de

matéria terrosa e em perfeito estado de conservação. Não pode estar úmida, fermentada, nem

rançosa.

1.2.1 Tipos de farinha de trigo:

• Farinha integral: proveniente da moagem do grão de trigo inteiro, possui alto

teor de fibras

• Farinha Especial ou de Primeira: extraída da parte central do endosperma,

apresenta tonalidade mais clara, granulometria mais fina e uma quantidade de

glúten mais elevada.

• Farinha Comum ou de Segunda: é obtida da parte mais externa do endosperma,

próxima da casca, apresenta tonalidade mais escura, granulometria mais grossa

e um teor de glúten menor, é mais utilizada na fabricação de bolos, doces e

outros alimentos.

A diferença básica entre as farinhas integral, especial e comum é o grau de extração e

o teor de cinzas. Dentre todas, a integral apresenta um teor de cinzas mais elevado.

Page 24: Fernanda Paula Zardo

24

A farinha de trigo comum é composta de três partes principais, o endosperma, a casca

e o gérmen que corresponde a cerca de 83%, 14,5% e 2,5% do grão respectivamente.

A farinha de trigo comum é obtida a partir de, em média, 72% da extração do grão de

trigo (tabela 4). Uma extração maior levaria a uma incorporação de casca na farinha, pela

impossibilidade de os rolos separarem endosperma e casca.

Tabela 4: Composição da farinha de trigo com 72% de extração

Componente % Umidade 11-14 Proteína 8-15 Lipídios 0,8-1,1 Cinzas 0,44

Carboidratos Amido Açúcar Fibras

72-78 74 – 76 1,3 – 2,1 0,3 – 0,4

Fonte: Ciacco e Chang,1986.

1.2.2 Classificação das farinhas

A farinha de trigo pode ser classificada em:

• Farinha Forte: rica em proteínas de ótima qualidade, produz massas bastante

consistentes.

• Farinha Fraca: possui proteínas de qualidade inferior e quantidade menos acentuada.

Produz massas pegajosas, sujeitas a abaixar ora ou dentro do forno.

Page 25: Fernanda Paula Zardo

25

1.2.3 Q ualidade da farinha de Trigo

A definição de qualidade da farinha é a capacidade desta em produzir uniformemente

um produto final atrativo com um custo competitivo, após condições impostas pelas unidades

manufatoras do produto final.

Entre os principais componentes de qualidade da farinha, podem ser citados a

umidade, as cinzas, a quantidade e qualidade do glúten, o número de queda e a cor, estas

características são dependentes do grão de trigo utilizado, bem como da qualidade geral do

processo industrial de sua obtenção.

De modo geral, a força da farinha tem sido sinônimo de sua qualidade. A presença ou

ausência do fator de força destina a farinha para um fim específico. Força é usualmente

associada com proteína da farinha de trigo e abrange ambas medições de qualidade e

quantidade.

As caraterísticas da porção do glúten nas proteínas é determinada por meio da medição

de fatores como: extensibilidade e resistência para extensão da massa, tempo de hidratação,

tempo de máximo desenvolvimento e resistência para extensão da massa, tempo de

hidratação, tempo de máximo desenvolvimento e resistência à ruptura durante a mistura

mecânica.

As cinzas, por serem um fator importante de qualidade, devem apresentar-se com

baixos teores, pois quanto maior o teor destas, menor a qualidade do produto final. Altos

teores de cinzas indicam inclusão de farelo na farinha, fator indesejável pois o produto

apresentará cor escura além de propiciar qualidade de cocção inferior.

Caso a farinha não se apresente dentro dos parâmetros de qualidade acima citados,

alguns ingredientes podem ser adicionados durante a moagem. Estas técnicas foram criadas

visando o melhoramento e à padronização da farinha. Emulsificantes, branqueadores,

oxidantes, reforçadores ou enzimas são alguns destes ingredientes que auxiliam na obtenção

de maior qualidade das farinhas. Dentre os ingredientes acima citados, os antioxidantes são os

de maior importância na tecnologia de panificação, pois atuam diretamente sobre a estrutura

das proteínas do glúten reforçando a rede através da formação de ligações dissulfídricas.

A fim de se avaliar a qualidade da farinha de trigo, várias análises laboratoriais são

realizadas.

Page 26: Fernanda Paula Zardo

26

2 ANÁLISES DE CONTROLE DE QUALIDADE DA FARINHA DE

TRIGO

2.1 Teor de Glúten

O glúten é o componente mais importante da farinha de trigo (figura 4). Apresenta-se

como uma substância fibrosa, elástica, formada por proteínas existentes na farinha. O mesmo

é responsável pela capacidade que a massa tem de se estender e voltar ao normal. O princípio

básico da panificação é a combinação de resistência e elasticidade das proteínas do glúten,

pois é deste equilíbrio que depende o volume e a qualidade dos produtos.

O glúten é uma proteína amorfa que se encontra em alguns cereais combinada com o

amido. Representa 80% das proteínas do trigo e é composta de gliadina e glutenina. Quando

úmido, apresenta peso 3 vezes maior que o glúten seco, pois retém grande quantidade de

água. O glúten é responsável pela elasticidade da massa da farinha o que permite sua

fermentação.

Este componente apresenta características instáveis devido a fatores como a

estocagem, procedência do trigo, entre outros, e sua qualidade geralmente está diretamente

relacionada com a sua capacidade de hidratação.

Figura 4: Rede de glúten

Fonte:BOBBIO, P.A; BOBBIO, F.O, Química do Processamento de Alimentos

Page 27: Fernanda Paula Zardo

27

O glúten não é um componente que faz parte diretamente da formulação de produtos

de panificação. É formado no momento em que a farinha de trigo é misturada com a água

sofrendo a ação de um trabalho mecânico. À medida que a água começa a interagir com as

proteínas insolúveis da farinha, glutenina e gliadina (figura 5), começa a formação da rede de

glúten. Sendo assim, o glúten é formado no momento em que ocorre a hidratação das

moléculas de gliadina e glutenina.

O interesse do glúten no processo de panificação está ligado, basicamente, à sua

capacidade de dar extensibilidade e consistência à massa, além de reter gás carbônico

proveniente da fermentação, promovendo o aumento de volume desejado.

Estas propriedades de extensibilidade e consistência se dão através de duas proteínas,

a gliadina e a glutenina.

Figura 5: Proteínas do glúten, gliadina, glutenina e glúten

Fonte:BOBBIO, P.A; BOBBIO, F.O, Química do Processamento de Alimentos

As gliadinas são proteínas de cadeia simples, e têm característica pegajosa, são

responsáveis pela consistência e viscosidade da massa. Apresentam pouca extensibilidade. As

gluteninas apresentam cadeias ramificadas, estas por sua vez, são responsáveis pela

extensibilidade da massa.

A quantidade destas duas proteínas nos trigos é um fator de extrema importância e

determinante também para a qualidade da rede formada no processo de panificação (NUNES

et al, 2006). Muitas vezes são encontradas farinhas com baixo teor de proteínas, fazendo-se

necessário enriquecê-las com glúten para que se possa assegurar a qualidade do produto final.

Page 28: Fernanda Paula Zardo

28

Um dos fatores importantes é a hidratação destas duas proteínas – gliadina e glutenina

– pois a água, durante a ação mecânica, permite que ocorra a mobilidade das moléculas e

agregação das mesmas. Fornece íons que são fundamentais nas ligações iônicas, ligações de

hidrogênio e ligações dissulfeto entre as proteínas.

A associação das proteínas se dá através de interações: forças de Van der Walls,

ligações de hidrogênio e ligações dissulfeto.

Durante a ação mecânica, o oxigênio incorporado à massa ajuda a oxidar os grupos –

SH, favorecendo assim a formação das ligações –S-S-, e são estas ligações químicas que

podem alterar as propriedades do glúten.

Se ocorrerem alterações que prejudiquem ou diminuam as propriedades do glúten,

alguns agentes oxidantes tais como o bromato de potássio e o ácido ascórbico, podem ser

adicionados, facilitando assim a formação de ligações dissulfeto, melhorando as propriedades

de resistência e ruptura.

Dentre os fatores não-fisiológicos que podem afetar a formação e as características do

glúten, destacam-se:

- teor de água, que pode ser insuficiente;

- excesso de manuseio mecânico que, para o trigo mole principalmente, diminui sua

resistência

- excesso de oxidação, reduzindo drasticamente a extensibilidade;

- enzimas proteolíticas que destroem a cadeia peptídica, reduzindo ou destruindo a

resistência do glúten

- falta de lipídios, afetando as propriedades mecânicas, principalmente extensibilidade.

Os atributos de qualidade das farinhas de trigo podem ser divididos em dois grupos

básicos: aqueles inerentes ao trigo e que resultam da composição genética e das condições de

crescimento da planta, e aqueles que resultam do processo de armazenamento e moagem do

trigo em farinha. Porém, o teor e a qualidade das proteínas formadoras do glúten da farinha

são os principais fatores responsáveis pelo potencial de panificação.

A qualidade da farinha pode ser expressa pela capacidade desta de produzir produtos

uniformes, de modo geral, a força da farinha é sinônimo de qualidade, pois a força é um fator

que irá decidir o destino da farinha. Esta força é associada com as proteínas existentes na

farinha. As farinhas fortes são indicadas para a produção de pães, já as fracas são mais

indicadas para a produção de massas em geral.

Page 29: Fernanda Paula Zardo

29

Na farinha de trigo existem dois tipos de proteínas: as não formadoras de glúten e as

formadoras de glúten, as primeiras não são interessantes do ponto de vista tecnológico já que

não contribuem para as características importantes que afetam a qualidade do produto final.

A caracterização da porção de glúten na proteína é feita através das medições de

fatores como extensibilidade e resistência (Figura 6), tempo de hidratação, tempo de máximo

desenvolvimento e resistência à ruptura durante a mistura mecânica.

As farinhas com alto teor de glúten produzem massas mais fortes e elásticas,

apresentando um volume adequado após a cocção, não deixando muitos resíduos na água. Já

as farinhas com baixo teor de glúten produzem massas deficientes em algumas destas

características. Porém, teores muito elevados de glúten também podem causar problemas,

pelo fato de provocar descoloração e superfície áspera no produto final, pelo fato de estas

serem processadas a baixa absorção.

A qualidade do glúten normalmente está relacionada com sua capacidade de

hidratação, pois a presença do glúten úmido indica a qualidade da farinha.

Figura 6: Extensibilidade, elasticidade e relação de força

Fonte:BOBBIO, P.A; BOBBIO, F.O, Química do Processamento de Alimentos

A avaliação do teor de glúten permite obter uma estimativa da qualidade e quantidade

de proteína de uma dada farinha (GERMANI, 2007). Para realizar a determinação do teor de

glúten é utilizado um aparelho chamado glutomatic (Figura 7). Para a realização desta análise,

primeiramente são pesadas 10g da amostra (farinha ou trigo) as quais são colocados dentro de

um copo. A seguir, são adicionados 4ml de solução salina 2%. Após a adição da solução, o

copo é acoplado ao aparelho onde é realizada uma ação mecânica começando, então, a

lavagem do amido para que ocorra a formação do glúten (figura 7).

Page 30: Fernanda Paula Zardo

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Figura 7: Glutomatic

Fonte: Perten Instruments

Terminada esta lavagem, o glúten terá uma textura pegajosa e fibrosa, parecida com a

do chiclete e seus derivados. Este é dividido em duas partes, as mesmas são colocadas dentro

de duas “peneiras” em uma centrífuga (figura 8), durante a centrifugação do glúten, ocorrerá a

separação do glúten úmido e do retido. Estas duas partes são retiradas do aparelho e pesadas.

Primeiramente, é pesado o glúten retido, após, o glúten úmido. Tendo estes em mãos, obtém-

se o índice de glúten utilizando-se a equação:

índice de glúten = glúten retido X 100 / glúten úmido.

Figura 8: Gluten Index Centrifuge

Fonte: Perten Instruments

As porções de glúten retiradas da centrífuga vão para o Glutork (figura 9), espécie de

torradeira acoplada ao glutomatic. Passados alguns segundos, o mesmo é retirado da

torradeira e pesado, obtendo-se assim, o resultado do glúten seco. Na figura 10 é apresentado

um esquema explicativo de como é realizada a análise de glúten.

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Figura 9: Glutork

Fonte: Perten Instruments

Figura 10: Procedimento de realização da análise do teor de glúten

Fonte: Perten Instruments

2.2 Análise de Alveografia

A análise de alveografia simula o comportamento da massa na fermentação. É

realizada em uma aparelho chamado Alveógrafo (figura 11). As características viscoelásticas

da farinha de trigo podem ser avaliadas por diferentes parâmetros de alveografia. A energia de

deformação da massa ou a força do glúten (W) representa o trabalho de deformação da massa

Page 32: Fernanda Paula Zardo

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e indica a qualidade da farinha para panificação. Este teste corresponde ao trabalho mecânico

necessário para expandir a bolha até a ruptura, expressa em 10-4J.

Figura 11: Alveógrafo Chopin

Fonte: Moinhos Tondo S/A

A expressão “força de uma farinha” normalmente é utilizada para designar a maior ou

menor capacidade de uma farinha sofrer um tratamento mecânico ao ser misturada com água.

Também é associada à maior ou menor capacidade de absorção de água pelas proteínas

formadoras do glúten, combinadas à capacidade de retenção de gás carbônico, resultando em

um bom produto final de panificação (GUTKOSKI; NETO, 2002).

A tenacidade (P) mede a sobrepressão máxima exercida na expansão da massa,

expressa em mm, e corresponde à uma medida da capacidade de absorção de água da farinha.

A extensibilidade (L) é usada para verificar o volume do pão, juntamente com o teor de

proteína e representa a capacidade de extensão da massa, sem que ela se rompa. Um alto grau

de extensibilidade está associado a um baixo crescimento do pão. A relação

tenacidade/extensibilidade (P/L) expressa o equilíbrio da massa. Na figura 12, é apresentado

um modelo de gráfico obtido em uma análise de alveografia.

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Figura 12: Curva do Alveógrafo

Fonte:BOBBIO, P.A; BOBBIO, F.O, Química do Processamento de Alimentos

Uma forte massa exige mais força para encher e romper a bolha (valor mais elevado de

P). O valor de P é indicado pela altura da curva e é expresso em milímetros. Quanto maior a

bolha, maior a extensibilidade, ou seja, maior é sua capacidade de alongamento antes da

ruptura (valor mais elevado de L). O valor L é indicado pelo comprimento da curva. A maior

bolha terá mais força e terá uma maior área sob a curva (maior valor de W). O parâmetro W é

uma combinação de força da massa P e extensibilidade L, e é expresso em joules(J). O

quociente P/L é o equilíbrio entre força e extensibilidade.

A partir dos resultados de alveografia pode-se saber qual o destino da farinha que está

sendo analisada, se a mesma será destinada à produção de pães (glúten forte) (figura 13) ou à

produção de bolos e outros produtos de confeitaria (glúten fraco) ( figura 14).

Figura 13: Alveograma de uma farinha de glúten forte

Fonte:BOBBIO, P.A; BOBBIO, F.O, Química do Processamento de Alimentos

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Figura 14: Alveograma de uma farinha de glúten fraco

Fonte:BOBBIO, P.A; BOBBIO, F.O, Química do Processamento de Alimentos

A realização da análise de alveografia é realizada pesando-se 250g da amostra de

farinha e misturando-se com solução salina, cuja quantidade é determinada segundo a

umidade da farinha. A massa fica misturando por 8 minutos na amassadeira (figura 15),

iniciando-se logo após, a modelagem da massa em 5 esferas de 4,5 centímetros (figura 16), as

quais em repouso no alveógrafo à uma temperatura de 25ºC durante 20 minutos (figura 17).

Cada esfera de massa é testada individualmente. No alveógrafo, é soprado ar em cada uma das

esferas de massa que se expande em uma bolha. A pressão dentro da bolha é registrada como

uma curva indicando os valores de P, L, W e P/L (figura 18).

Figura 15: Amassadeira

Fonte: Moinhos Tondo S/A

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Figura 16: Bolinhas de massa

Fonte: Fonte: Moinhos Tondo S/A

Figura 17: Estufa de descanso 25ºC Fonte: Fonte: Moinhos Tondo S/A

Figura 18: Alveolink (Curva dos resultados)

Fonte: Fonte: Moinhos Tondo S/A

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36

2.3 Número de Queda (Falling Number)

As enzimas são proteínas biocatalizadoras das reações orgânicas, que atuam sobre um

substrato específico, aumentando a velocidade e minimizando a energia necessária para a

ocorrência da reação.

As principais enzimas presentes na farinha são a alfa-amilase e a beta-amilase que são

produzidas pelo próprio vegetal. Sua quantidade varia em função da variedade do trigo, da

fase de colheita, das condições climáticas e, é especialmente acrescida durante o processo de

germinação do grão.

Observa-se maior aumento da atividade da alfa-amilase porque esta potencializa o

efeito da beta-amilase que é uma enzima de ação mais limitada. A alfa-amilase hidrolisa o

amido presente na farinha de trigo, transformando assim a amilose e a amilopectina em

dextrinas que serão posteriormente hidrolisadas pela beta-amilase, resultando em moléculas

de maltose.

A maltose é o açúcar utilizado pelos microrganismos responsáveis pela fermentação

do pão, por isso as amilases melhoram as características do pão.

Normalmente a farinha apresenta quantidade adequada da beta-amilase, porém o teor

de alfa-amilase pode variar. Esta pode ser acrescida pela adição da alfa-amilase exógena. Este

ajuste é realizado nos tratamentos de farinhas ou nas formulações dos alimentos que requerem

fermentação, ou cuja maciez e a coloração são requisitos de qualidade.

O excesso de alfa-amilase pode levar à produção de pães avermelhados e murchos. A

falta desta enzima, porém, pode acarretar na cor pálida de pães e com pouco volume, levando

a uma deficiência na fermentação, ao intumescimento do amido e a uma umidade não

desejada na massa.

O nível de atividade enzimática afeta a qualidade final do produto. As leveduras

responsáveis pela fermentação da massa do pão necessitam de açúcar para desenvolver-se

adequadamente e, portanto precisam de algum nível de atividade enzimática na massa. A

elevada atividade enzimática, porém, significa que muito açúcar e pouco amido estão

presentes. Os resultados de atividade em demasia tornam a massa pegajosa durante o

processamento e definem uma textura pobre no produto acabado. Se o número de queda for

muito alto, as enzimas podem ser adicionadas à farinha como relatado anteriormente. Se o

número de queda é muito baixo, as enzimas não podem ser retiradas, o que resulta em um

problema grave que torna inutilizável a farinha.

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O método para mensuração da atividade enzimática é através do método viscométrico

de Número de queda (Falling Number) (figura 19), que determina o tempo de queda, expresso

em segundos, de uma haste metálica no gel formado por farinha de trigo e água.

Figura 19: Aparelho Falling Number Fonte: Fonte: Moinhos Tondo S/A

Para determinação do número de queda, verifica-se a umidade da farinha para

determinar a quantidade de amostra que será empregada no teste, o que é realizado com o

auxílio de uma tabela que faz a correção da umidade fornecendo a massa a ser pesada. Como

exemplo, de acordo com a tabela, deve-se tomar como amostra 7g de uma farinha que

apresente 14% de umidade. Estas 7 gramas são colocadas em um tubo de vidro e adicionados

25 ml de água destilada, agitando até que se forme uma pasta. A haste é colocada dentro do

tubo de vidro e o mesmo é mergulhado no banho de água fervente, sendo constantemente

agitado. Inicia-se a contagem do tempo (segundos) que o amido leva para gelatinizar

formando uma pasta grossa (figura 20). Terminado o processo, aparece em um display o

tempo, em segundos, que foi necessário para que a haste fosse solta. Utiliza-se então, uma

tabela de conversão do Falling Number de farinhas em função da altitude, encontrando-se o

valor do número de queda. Por exemplo: 368 segundos corresponde a 310 resultado do

número de queda, de acordo com a tabela.

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Figura 20: Figura explicativa Falling Number

Fonte: Perten Instruments

A velocidade de queda é diretamente relacionada à atividade enzimática, ou seja, um

elevado número de queda (por exemplo 300 segundos) indica baixa atividade enzimática, um

baixo numero de queda (por exemplo 250 segundos) indica elevada atividade enzimática,

provavelmente devida à germinação do grão previamente à obtenção da farinha.

Este método baseia-se no fato de géis formados por polissacarídeos menores (sacarose,

por exemplo) serem menos viscosos que os formados por polissacarídeos mais complexos

como o amido.

2.4 Análise de Cinzas

O teor de cinzas representa o percentual de matéria mineral presente no produto. Estes

minerais encontrados nas farinhas são os óxidos, sulfatos, fosfatos, silicatos e cloretos.

Na determinação das cinzas da farinha, são pesados aproximadamente 5g da farinha

em cadinho de porcelana, o qual deve estar previamente limpo, seco e tarado. Os cadinhos são

levados à mufla (figura 21) onde passarão por um processo de combustão da amostra à uma

temperatura de aproximadamente 900ºC. Passados aproximadamente 10 minutos, ou após

Page 39: Fernanda Paula Zardo

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apagada a chama, a mufla é fechada, com a finalidade de incinerar o conteúdo. O tempo de

incineração da farinha é de 3h 30min. Após a incineração total, ou seja, quando não houver

mais nenhum resíduo orgânicos (preto) dentro dos cadinhos, estes são retirados da mufla e

deixados por 15 – 20 minutos em estufa (figura 22) à 180ºC para que sua temperatura baixe.

Logo após, são colocados em dessecador (figura 23) até atingirem a temperatura ambiente. E

efetua-se a pesagem na seqüência, obtendo-se os resultados em porcentagem de cinzas.

Figura 21: Mufla

Fonte: Moinhos Tondo S/A

A limpeza dos cadinhos é feita de maneira em que os mesmos sejam mergulhados

em solução de ácido nítrico, onde ficarão por 12 à 18h, após é feito o enxágüe com posterior

aquecimento em estufa à 180ºC até o momento do uso.

Figura 22: Estufa

Fonte: Moinhos Tondo S/A

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Figura 23: Dessecador

Fonte: Moinhos Tondo S/A

Quando uma amostra é incinerada, ocorre a queima de todos os materiais orgânicos

(amido, proteína e óleo) se transformando em CO2, H2O e NO2, deixando apenas as cinzas.

Estas cinzas são compostas de não-combustíveis, minerais inorgânicos. Os minerais se

concentram principalmente nas camadas mais externas do grão e, portanto, quanto maior for a

concentração de cinzas em uma farinha, maior terá sido seu grau de extração, ou seja, maior

quantidade de farelo foi incorporado à farinha, o que consequentemente acarreta uma

diminuição em sua qualidade.

Na constituição das cinzas resultantes da incineração da farinha se encontram grandes

quantidades de potássio, sódio, cálcio e magnésio, pequenas quantidades de alumínio, ferro,

cobre, manganês e zinco e alguns traços de argônio e iodo entre outros elementos.

O teor de cinzas de uma farinha vai depender do seu grau de extração. Farinhas com

alta extração apresentam maiores teores de matéria mineral (cinzas), quando comparadas

àquelas de baixa extração. Assim, o teor de cinzas é utilizado como parâmetro de avaliação do

tipo de farinha de trigo ou grau de extração. Além disso, a quantidade matéria mineral, muitas

vezes poderá interferir na cor do produto final.

Segundo o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade da Farinha de Trigo, a

mesma deve apresentar um teor de cinzas máximo como apresentado na tabela a seguir.

Tabela 5: Limites de tolerância para farinhas de trigo

Limites de tolerância para farinhas de trigo Tipos Teor de cinzas (% máxima)

Especial ou Tipo 1 0,8% Comum ou Tipo 2 1,4%

Integral 2,5% Fonte: Regulamento técnico de Identidade e Qualidade da Farinha de Trigo

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No momento em que se destina a farinha para a produção de algum de seus derivados,

deve-se ter cuidado com o teor de cinzas, pois existem alguns produtos especiais que

requerem farinhas claras para a sua produção, sendo assim, o teor de cinzas também deve ser

baixo.

2.5 Análise de Cor

A cor da farinha é um aspecto ao qual o consumidor da bastante importância,

preferindo as farinhas mais brancas, embora nem sempre a mais branca seja a de melhor

qualidade. A cor depende de vários fatores, alguns são intrínsecos ao tipo de trigo e se

transmite a farinha como o teor de pigmentos. Um fator que influência a coloração da farinha

é o seu teor de farelo.

A cor da farinha muitas vezes afeta a cor do produto acabado e, portanto, é uma das

muitas especificações exigidas pelos clientes, de modo que a análise de cor é uma das

exigências das empresas para a liberação de cargas.

A farinha deve apresentar uma cor branca, com tons amarelados, marrom ou cinza,

isso vai depender do tipo de farinha que está sendo analisada.

A análise de cor pode ser realizada pesando-se 30g de farinha previamente

homogeneizada em um copo de béquer. A seguir são adicionados 50ml de água à uma

temperatura de 18 à 20ºC, agitando-se a amostra por 45 segundos. Logo após, a massa

formada é colocada em uma cubeta e posteriormente dentro do colorímetro (figura 24) para

que ocorra a leitura da cor.

Figura 24: Colorímetro

Fonte: Moinhos Tondo S/A

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2.6 Análise de Umidade

O teor de umidade da farinha significa o percentual de água contido em uma amostra.

Este deve ser controlado não só por motivos econômicos, uma vez que as farinhas são

comercializadas na base úmida, mas também por sua importância no processamento.

A umidade da farinha deve estar em torno de 13%. Farinhas com umidade acima de

14% têm tendência de formar grumos. A umidade do produto deve ser regulada pelas Boas

Práticas de Fabricação não podendo exceder à 15%. No momento da moagem ou mesmo no

processamento, é essencial que a proporção entre farinha e água seja constante para que não

ocorram problemas como a formação de grumos que prejudicam no momento da moagem ou

problemas no momento da extrusão e secagem de massas, por exemplo.

A umidade das farinhas varia de acordo com o preparo do trigo para a moagem. As

condições de estocagem e climáticas também são fatores que interferem e modificam o teor

de umidade. Em locais úmidos, a farinha tende a absorver a umidade, quando armazenada por

longo período.

A determinação da umidade pode ser realizada de diversas maneiras como através da

balança eletrônica OHAUS (figura 25). Este método é rápido e automático através de uma

fonte de radiação halógena.

O processo ocorre da seguinte forma: pesam-se 5g de amostra na bandeja da balança, e

ajusta-se a temperatura de aquecimento em 136ºC e o tempo em 6 minutos. A balança é

fechada e inicia-se o aquecimento da amostra. A umidade começa a evaporar e o peso da

amostra é indicado no display minuto por minuto até que ocorra a evaporação total da

umidade. O resultado é obtido em porcentagem (%).

Figura 25: Balança Eletrônica OHAUS

Fonte: Moinhos Tondo S/A

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O princípio do método de determinação de umidade pela balança OHAUS, é o mesmo

do método realizado em estufa, porém através do OHAUS o resultado é obtido mais

rapidamente.

Este aparelho oferece algumas vantagens como a rapidez, a temperatura do forno e o

tempo são programáveis, a facilidade para a calibração e o sinal de que finalizou o processo

sem precisar de controlo do analisador ou laboratorista.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de um controle rigoroso da qualidade da farinha decorre do crescente

nível de exigência dos compradores, pois suas propriedades serão determinantes na

qualidade do produto em que serão utilizadas como matéria-prima. Para que esse controle

seja efetivo as análises laboratoriais são fundamentais, pois permitem a tomada das medidas

necessárias para que eventuais não conformidades sejam corrigidas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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