Ferrovias brasileiras
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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI ENGENHARIA CIVIL TRANSPORTES E LOGÍSTICA – SÉRIE 10 - NOITE PROF. RICARDO BARBOSA DE FREITAS
FERROVIAS BRASILEIRAS
JOÃO BATISTA SILVA RIOS FILHO
11123004
TERESINA, NOVEMBRO DE 2015
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1. INTRODUÇÃO
Em 1952, o economista americano Walt Rostow, em seu trabalho sobre os estágios
de desenvolvimento econômico, atribuiu às ferrovias o papel de catalisador da
transformação econômica vivenciada pelo Ocidente desde meados do século XIX. A
Revolução Industrial (século XVIII e XIX) desencadeou profundas mudanças estruturais
que demandaram, mais do que em qualquer outro momento da história, a capacidade
de se transportar um grande volume de passageiros e cargas. Essas alterações na
estrutura econômica permitiram o desenvolvimento do transporte ferroviário em
diversos países, que se manteve como o mais importante meio de transporte terrestre
até a década de 1930.
O transporte de passageiros por via férrea é bastante comum na Europa, nos Estados
Unidos e no Japão; seja em ambiente urbano, seja nas ligações interurbanas. No Brasil,
o transporte de passageiros pelo modo ferroviário é realizado quase exclusivamente no
interior das áreas urbanas e metropolitanas; já o transporte de carga por via ferroviária
é mais difundido. O transporte ferroviário apresenta como característica econômica alto
custo fixo representado pelo arrendamento da malha e dos terminais – quando eles são
operados pelo setor privado, como no Brasil – e elevado volume de capital imobilizado,
com a compra de material rodante. Por outro lado, os custos variáveis (mão de obra,
combustível e energia) são relativamente baixos, tornando-o adequado para o
transporte de mercadorias de baixo valor agregado e com grande peso e volume
específico. Assim, a escala no transporte ferroviário é fundamental para a diluição dos
custos fixos e o aumento da margem de lucro das ferrovias, uma vez que os retornos
são crescentes até que se atinja a capacidade máxima de operação (REIS, 2007).
2. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO
A estrutura de custos da infraestrutura ferroviária apresenta períodos de renovação
relativamente longos, que se estendem por volta de 40 anos, já que trabalhos com
terraplenagem e fundação são investimentos não recuperáveis e que não são
considerados como elementos de custo depois de concluídos.
Gastos em vagões e locomotivas também implicam em investimentos em bens com
vida útil longa, de 10 e 18 anos, respectivamente. A Figura 1, a seguir ilustra a estrutura
de custos ferroviários ao longo do tempo, explicitando quantos anos cada componente
leva até que seja necessária sua reposição. A principal vantagem que o modal ferroviário
oferece se refere à capacidade de carregamento do modal. Cargas de alta tonelagem
são preferencialmente transportadas por ferrovias, em especial quando é necessário
percorrer longas distâncias.
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Figura 1: Tempo de reposição dos componentes. Fonte: Button (2010).
É possível perceber pelo Figura 2 que quanto menor a distância e a tonelagem da
carga, mais vantajoso é o modal rodoviário. Um cenário de competição ocorre para
cargas entre 27 e 40 toneladas, sendo que quanto maior a distância, menos vantajosa é
a utilização de caminhões para o transporte terrestre. Cargas acima de 40 toneladas
tornam o modal ferroviário o mais vantajoso, independente da distância percorrida.
Figura 2: Competição modal no transporte de carga segundo a distância percorrida e peso de carga. Fonte: CNT (2011)
Em 2009, segundo a Confederação Nacional de Transportes (CNT), 61,1% de toda a
carga transportada no Brasil usou o sistema modal rodoviário; 21,0% passaram por
ferrovias, 14% pelas hidrovias e terminais portuários fluviais e marítimos e apenas 0,4%
por via aérea. Apensar de o modo rodoviário ser o modal de transportes mais utilizados
no Brasil, o estudo comparativo de custos entre rodovia e ferrovia, mostra que o custo
total de uma ferrovia chega a ser menos da metade do valor de uma rodovia, como
mostra na Tabela 1.
Tabela 1: Custos comparados dos modais rodoviário e ferroviário no Brasil, por tonelada-quilômetro útil, em 2009. Fonte: Eller (2011).
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3. SISTEMA FERROVIÁRIO BRASILEIRO
3.1. CARACTERIZAÇÃO
O desenvolvimento ferroviário brasileiro sempre esteve intimamente ligado a
políticas de governo, que, por seu turno, variaram grandemente ao longo da história.
Segundo estudos do eng. José Eduardo Castello Branco, a evolução ferroviária no país
observa o seguinte faseamento:
Fase I (1835 - 1873): durante a Regência e o Segundo Reinado, sendo
observado o início da implantação de ferrovias no Brasil e o desenvolvimento
desse sistema de transporte de forma lenta, através de empresas
essencialmente privadas;
Fase II (1873 - 1889): abrangendo o Segundo Reinado e caracterizada por
uma expansão acelerada da malha ferroviária, através de empreendedores
privados, estimulados pelo instituto da garantia de juros;
Fase III (1889 – 1930): englobando a República Velha, ainda sendo observada
uma expansão acelerada da malha, porém com o estado sendo obrigado a
assumir o controle de várias empresas em dificuldades financeiras;
Fase IV (1930 - 1960): compreendendo a era Vargas e o pós-guerra, com o
ritmo de expansão diminuindo e um amplo controle estatal das empresas
antes privadas;
Fase V (1960 - 1990): situada quase que inteiramente ao longo do período
em que a nação foi governada por um regime militar, estando a malha
consolidada em poucas empresas públicas, ocorrendo erradicação de ramais
antieconômicos e implantação de projetos seletivos de caráter estratégico;
Fase VI (1990 – dias atuais): período da Nova República, marcado pela
privatização de todo o sistema ferroviário nacional.
Se ao longo da história essa malha ferroviária foi construída para atender ao
modelo econômico agroexportador vigente e mutável ao longo do tempo em seu
conteúdo, mas não em sua essência, ainda hoje é possível perceber que as ferrovias do
Brasil guardam pouca relação com a criação de novos polos de desenvolvimento
socioeconômico. Estas são apenas um meio de transporte eficiente para as commodities
agrícolas e minerais negociadas pelo país, produzidas ou extraídas em áreas tradicionais
ou em novas fronteiras de monocultura.
Dessa forma, a localização das ferrovias brasileiras acompanha a distribuição dos
fluxos econômicos, isto é, liga os centros economicamente dinâmicos do país às suas
portas de entrada e saída, em especial os portos. Pelo mesmo motivo, há uma maior
concentração da malha ferroviária no centro-sul do Brasil, como pode ser verificado na
Figura 3.
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Figura 3: Distribuição espacial das principais ferrovias do Brasil – 2007. Fonte e elaboração: Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT, 2009a).
As concessões de ferrovias à iniciativa privada apresentaram resultados positivos em
termos de investimentos e produção ferroviária. Os investimentos realizados pelas
concessionárias somaram R$ 14,6 bilhões entre os anos de 2000 e 2008. Contudo, as
aplicações de recursos privados e públicos em ferrovias apresentaram leve crescimento
quando comparadas às suas participações no produto interno bruto (PIB), passando de
um patamar de 0,05% para 0,1%, entre 1999 e 2008. A produção ferroviária cresceu
92,7%, passando de 138,9 bilhões de tonelada-quilômetro-útil (TKU) para 267,7 bilhões
de TKU, nesse mesmo período. O volume transportado teve um incremento de 79,6%:
em 1999 foram transportadas 256,0 milhões de toneladas úteis (TU) e em 2008 este
volume atingiu 459,7 milhões de TU.
A Figura 4 apresenta os dados de produção ferroviária, separando os produtos
transportados em minério de ferro e carvão, em um grupo, e carga geral (produtos cujo
proprietário da carga não é controlador das concessionárias ferroviárias).
Figura 4: Evolução da produção ferroviária, por tipo de produto (em bilhões de TKU). Fonte: ANTF(2010).
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3.2. GESTÃO
Atualmente, no Brasil, a regulamentação do transporte ferroviário é feita pela
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que tem responsabilidade sob a
gestão dos serviços de transporte ferroviário em malha ferroviária concedida, entre
portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou
Território.
Em 1957, a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), a qual unificou 42 ferrovias (DNIT,
2009). Já as estradas de ferro estatizadas no estado de São Paulo não foram
incorporadas à RFFSA, mas sim à estadual Ferrovia Paulista S/A (Fepasa). Ambas as
empresas tinham como objetivo eliminar trechos deficitários e focavam no transporte
de cargas, em detrimento do transporte de passageiros.
Com a crise do petróleo na década de 1970 e as sucessivas crises econômicas vividas
pelo Brasil na década posterior, a situação da RFFSA e da Fepasa tornou-se
insustentável. O investimento na malha ferroviária caiu, houve o sucateamento de
algumas infraestruturas e as dívidas cresceram rapidamente. Assim, seguindo caminho
contrário ao percorrido na metade do século XX, houve a privatização das ferrovias sob
controle das estatais. O marco deste processo foi a inclusão da RFFSA no Programa
Nacional de Desestatização (PND), por meio do Decreto no 473/1992.
Dessa forma, a RFFSA entrou em liquidação no ano de 1992 e os leilões de seus ativos
ocorreram em 1996. Em 1998, a malha da Fepasa foi incorporada à da RFFSA –
extinguindo automaticamente a estatal paulista – e posteriormente foi concedida a
administradores privados. A RFFSA foi extinta em 2007 (ANTT, 2009a). Atualmente, as
principais ferrovias nacionais encontram-se sob a gestão de grandes operadores
privados, os quais realizam exclusivamente transporte de cargas, enquanto apenas
parte residual da malha brasileira encontra-se em poder estatal.
4. CONCLUSÃO
O sistema de ferrovias do Brasil teve seu início baseado na necessidade e, aos poucos
foi evoluindo. No entanto, esta evolução não foi coerente com a velocidade que o
desenvolvimento que o país precisava e continua precisando. Com a privatização houve
uma melhora, mas o investimento estatal ainda se faz necessário para que o modal
ferroviário seja utilizado de maneira mais eficiente no território brasileiro.
Por seu tamanho continental, grande variedade de cargas e necessidade de
escoamento para exportação, fica claro que o Brasil perde em agilidade e, notoriamente,
em economia de gastos, por investir mais no modal rodoviário que no ferroviário. A falta
de investimento transforma o modal ferroviário em um transporte lento, inseguro, mais
caro que deveria ser e aumenta o valor do frete dos produtos, tornando o país menos
competitivo no mercado exterior.
Assim, fica claro que o modal ferroviário tem muito que evoluir no Brasil e que este
meio deve ser o mais utilizado no país, pois ajudará enormemente no seu crescimento.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTT. Agencia Nacional dos Transportes Terrestres. 2012. Setor de publicações.
Disponível em: <http://www.antt.or.br/index.php/informacoes-do-
setor/publicacoes.html>. Acesso em: 08 de novembro de 2015.
Balanço do transporte ferroviário de cargas no Brasil de 2013. Associação Nacional dos
Transportadores Ferroviários. Rodrigo Vilaça, Presidente-Executivo da ANTF. Brasília,
Maio de 2014.
CNT, Confederação Nacional do Transporte. O sistema ferroviário brasileiro. – Brasília:
CNT, 2013. Disponível em: <http://cnt.org.br/pesquisaferroviasphp.html>. Acesso em:
08 de novembro de 2015.
Eller, R. A. G., Sousa Junior, W. C. and Curi, M. L. C. (2011) Custos do transporte de carga
no Brasil: rodoviário versus ferroviário. Journal of Transport Literature, vol. 5, n. 1, pp.
50-64.
IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Transporte ferroviário de cargas no
Brasil - 2010: gargalos e perspectivas para o desenvolvimento econômico e regional.
Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/imagens/setories/pfds/100319_comunic50.pdf>.
Acesso em: 08 de novembro de 2015.