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    CADERNOS

    JUNHO/JULHO 2013 | ANO 8 | Nº22 | ISSN 19844883

    FUTEBOL EDESENVOLVIMENTO

    SOCIOECONÔMICO

    PELO JOGO, PELO MUNDO

    JOSEPH BLATTER

    PREFÁCIO DO ATLETA DO SÉCULO XXPELÉ

    ENTREVISTAS COM

    ALDO REBELOCARLOS ALBERTO PARREIRA

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    DiretorCesar Cunha Campos

    Diretor TécnicoRicardo Simonsen

    Diretor de ControleAntônio Carlos Kfouri Aidar

    Diretor de QualidadeFrancisco Eduardo Torres de Sá

    Diretor de MercadoSidnei Gonzalez

    Diretores-Adjuntos de MercadoCarlos Augusto Lopes da CostaJosé Bento Carlos Amaral

    EDITORIAL

    Editor-ChefeSidnei Gonzalez

    Orientação EditorialAntônio Carlos Kfouri AidarCelso Grellet

    Coordenação EditorialMelina Bandeira

    Produção EditorialJuliana GagliardiManuela Fantinato

    Projeto GráficoPatricia WernerCamila SennaMaria João Pessoa Macedo

    ColaboraçãoBárbara Shultz FernandesClaudia FariaDelia FisherMárcio GuimarãesPaulo RossiPatrícia FrancoRafael FreireRogério CabocloRubens FigueiredoSoraia Fernandes PereiraWalter de Gregório

    RevisãoMirna SoaresBeatriz Figueiredo

    FotosBanco de Imagens do Ministério dos EsportesBanco de Imagens Fernandes ArquiteturaFIFA/foto-netAgência O Globowww.corbis.comwww.shutterstock.comwww.gettyimages.com

    PUBLICAÇÃO PERIÓDICA DAFGV PROJETOS

    Os depoimentos e artigos são deresponsabilidade dos autores e não refletem,

    necessariamente, a opinião da FGV

    Esta edição está disponível paradownload no site da FGV Projetos:www.fgv.br/fgvprojetos

    Primeiro Presidente FundadorLuiz Simões Lopes

    PresidenteCarlos Ivan Simonsen Leal

    Vice-PresidentesSergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornelles eMarcos Cintra Cavalcante de Albuquerque

    CONSELHO DIRETOR

    PresidenteCarlos Ivan Simonsen Leal

    Vice-PresidentesSergio Franklin Quintella, Francisco Oswaldo Neves Dornelles eMarcos Cintra Cavalcante de Albuquerque

    VogaisArmando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalho e Albuquerque, Ernane Galvêas,José Luiz Miranda, Lindolpho de Carvalho Dias, Manoel Pio Corrêa Júnior,Marcílio Marques Moreira e Roberto Paulo Cezar de Andrade

    SuplentesAntonio Monteiro de Castro Filho, Cristiano Buarque Franco Neto,Eduardo Baptista Vianna, Gilberto Duarte Prado, Jacob Palis Júnior,José Ermírio de Moraes Neto, José Julio de Almeida Senna eMarcelo José Basílio de Souza Marinho.

    CONSELHO CURADOR

    PresidenteCarlos Alberto Lenz César Protásio

    Vice-PresidenteJoão Alfredo Dias Lins (Klabin Irmãos e Cia)

    Vogais

    Alexandre Koch Torres de Assis, Angélica Moreira da Silva (Federação Brasileira deBancos), Carlos Moacyr Gomes de Almeida, Dante Letti (Souza Cruz S.A.),Edmundo Penna Barbosa da Silva, Heitor Chagas de Oliveira, Jaques Wagner (Estadoda Bahia), Luiz Chor (Chozil Engenharia Ltda.), Marcelo Serfaty, Marcio João de AndradeFortes, Maurício Matos Peixoto, Orlando dos Santos Marques (Publicis Brasil ComunicaçãoLtda.), Pedro Henrique Mariani Bittencourt (Banco BBM S.A.), Raul Calfat (VotorantimParticipações S.A.), Rodrigo Vaunizio Pires de Azevedo (IRB - Brasil Resseguros S.A.),Ronaldo Mendonça Vilela (Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Capitalizaçãoe de Resseguros no Estado do Rio de Janeiro e do Espírito Santo), Sérgio Ribeiro daCosta Werlang e Tarso Genro (Estado do Rio Grande do Sul).

    SuplentesAldo Floris, José Carlos Schmidt Murta Ribeiro, Luiz Ildefonso Simões Lopes (BrookfieldBrasil Ltda.), Luiz Roberto Nascimento Silva, Manoel Fernando Thompson Motta Filho,Murilo Pinto de Oliveira Ferreira (Vale S.A.), Nilson Teixeira (Banco de InvestimentosCrédit Suisse S.A.), Olavo Monteiro de Carvalho (Monteiro Aranha Participações S.A.),

    Patrick de Larragoiti Lucas (Sul América Companhia Nacional de Seguros),Rui Barreto (Café Solúvel Brasília S.A.) e Sérgio Lins Andrade (Andrade Gutierrez S.A.).

    SedePraia de Botafogo, 190, Rio de Janeiro – RJ, CEP 22250-900 ou Caixa Postal 62.591CEP 22257-970, Tel: (21) 3799-5498, www.fgv.br

    Instituição de caráter técnico-científico, educativo e filantrópico, criada em 20 de dezembro de1944 como pessoa jurídica de direito privado, tem por finalidade atuar, de forma ampla, emtodas as matérias de caráter científico, com ênfase no campo das ciências sociais: administração,direito e economia, contribuindo para o desenvolvimento econômico-social do país.

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    CADERNOS

    JUNHO/JULHO 2013 | ANO 8 | Nº 22 | ISSN 19844883

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    EDITORIAL

    06 Cesar Cunha Campos

    PREFÁCIO

    08 Pelé

    Neste prefácio, o “atleta doséculo XX” dá sua visão sobreas transformações no futebol ena economia.

    10  Joseph Blatter

    O Brasil, como uma força crescenteeconômica e politicamente, é oanfitrião ideal para a Copa FIFA2014. É uma grande oportunidadepara o Brasil em muitos níveis.Há um debate sobre quanto um

    evento desse porte contribuipara a economia, mas complanejamento cuidadoso é umlegado a se alcançar.

    30 Carlos Alberto Parreira

    Nessa entrevista, Parreira refletesobre os fatores de sucesso naformação de times e nas estruturasadministrativas de clubes pelosquais passou. Ressalta, ainda, as

    mudanças táticas ocorridas nofutebol desde a Copa de 1958.

    16 Celso Grellet

    Nesse depoimento, Celso Grelletenfatiza as mudanças queocorreram na história do marketingesportivo e as fontes de renda dostimes de futebol. Indica, como

    grandes legados, os novos estádiose o melhor tratamento dadoaos torcedores – agora vistoscomo clientes.

    22  Aldo Rebelo

    O Brasil vai sediar a Copa FIFA2014 e os Jogos Olímpicos eParaolímpicos de 2016. Nessaentrevista para a FGV Projetos, oministro Aldo Rebelo apresentaos desafios enfrentados pelo

    Ministério do Esporte no momento,explica seu papel, o alcance dosinvestimentos feitos até agora eaqueles a serem empreendidos.

    DEPOIMENTOS ENTREVISTAS

    SUMÁRIO

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    5/104CADERNOS FGV PROJETOS | FUTEBOL E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO

    ARTIGOS

    38 Carlos Geraldo Langoni

    Combinando o talento dentro e fora do campo:transformações econômicas e mudanças estruturais no futebol

    46 Antônio Carlos Kfouri Aidar e Evandro Jacóia Faulin

    O negócio do futebol

    62 Daniel Hopf FernandesA nova infraestrutura de arenas e a Copa de 2014:impulsionando a cadeia de entretenimento no Brasil

    70 Marco Polo Del Nero

    A infraestrutura brasileira e a Copa de 2014

    78 Fernando Blumenschein

    A cadeia produtiva do futebol no Brasil

    86 Pedro Rubim Borges Fortes

    Guerra e paz entre torcidas organizadas:o desafio da segurança nos estádios

    96 Bernardo Buarque de Hollanda

    Gilberto Freyre e a invenção do futebol-arte

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    Cesar Cunha Campos

    Ofutebol é o esporte mais difundido noBrasil e um dos esportes mais popularesdo mundo, capaz de atrair amplas

    audiências de vários países com culturas muitodiversas. Ao mesmo tempo em que é uma inegávelpaixão, chega à contemporaneidade como umaatividade de forte impacto econômico-social.

    Em 2010, três anos após o Brasil ter sido

    homologado como país-sede da Copa FIFAde 2014, realizamos a primeira edição dosCadernos FGV Projetos com o tema Futebol eDesenvolvimento Econômico-Social. Naquelemomento ainda se especulava acerca do melhormodelo de organização do evento.

    Agora, com a proximidade da realizaçãodo mundial no Brasil estamos no auge dospreparativos e da implementação dos modelosescolhidos, especialmente em infraestrutura,logística, arenas, segurança, entre outras áreas. As

    rápidas mudanças econômicas, sociais e culturaispelas quais nosso país tem passado, somadasàs transformações tecnológicas mais amplas nocenário internacional, têm influências não só noplanejamento do campeonato mundial, mas sobreo próprio esporte.

    Importantes testemunhos de quem acompanhouessas mudanças profissionalmente nos sãodados nesta edição por Pelé, Joseph Blattere Celso Grellet, que nos concederam seus

    depoimentos. Trazemos a entrevista comAldo Rebelo, ministro do Esporte do Brasil,que nos apresenta alguns dos esforços que têmsido realizados no sentido da integração entreinstituições e entidades federativas, ressaltandoa importância de nacionalizar a Copa, de formaa garantir que seja de fato uma oportunidadede inclusão social e cultural. Já Carlos AlbertoParreira, coordenador técnico da seleçãobrasileira, reforça a importância do planejamentona busca pelo sucesso de uma equipe e noslembra que a preparação de um grupo demanda

    dedicação e trabalho em antecedência.

    Cesar Cunha Campos é diretor da FGV Projetos

    Abordando o futebol como negócio, oartigo de Antônio Carlos Kfouri Aidar eEvandro Faulin discute a geração de rendae a profissionalização dos clubes, enquantoCarlos Geraldo Langoni analisa os impactoscausados no futebol brasileiro pelastransformações socioeconômicas recentes eos desafios enfrentados pela modernização dagestão. O artigo de Fernando Blumenschein

    esclarece o funcionamento da cadeia produtivado futebol, ressaltando a compreensão de suadinâmica como fator imprescindível para obom funcionamento do setor.

    No campo da infraestrutura, Marco PoloDel Nero reflete sobre os desafios que oBrasil vem enfrentando com a realizaçãoda Copa, principalmente com relação atransportes, que constituem, no entanto,uma oportunidade para o crescimento.Daniel Fernandes aborda a influência da

    nova infraestrutura de arenas na cadeiaprodutiva do futebol, abrindo espaço paranovos empreendimentos e para impulsionaro entretenimento no país.

    Tão importante quanto discutir a realização daCopa é discutir o próprio futebol como esportee atividade que envolve clubes, torcedores e asociedade em geral. Nesse contexto, o artigo dePedro Rubim Borges Fortes levanta iniciativaspara minimizar a violência entre as torcidas

    organizadas nos estádios ou fora deles. BernardoBuarque de Hollanda encerra esta ediçãocontando a história do termo futebol-arte, queviria a culminar na definição do Brasil como o“país do futebol”.

    A partir dessa abordagem ampla, proporcionadapor um time de especialistas no assunto, esta ediçãopõe em foco a discussão das questões relacionadasao futebol como atividade que ultrapassa oesporte e o lugar que ocupa no desenvolvimentosocioeconômico do país. A FGV Projetos espera

    com isso contribuir para esse momento tãoimportante que o Brasil está vivenciando.

    Boa leitura!

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    PREFÁCIO

    Aos 15 anos de idade deixei a cidadeem que cresci, Bauru (SP), onde tinhauma vida muito simples. Comecei a

    jogar futebol no Santos, em 1956, indo, emseguida, para os Estados Unidos. Naqueletempo, ouvia-se rádio e a transmissão dosjogos ainda era instável. Para falar comminha família, que permaneceu no interior deSão Paulo, levava dois dias só para completaruma ligação.

    Participei pela primeira vez de uma Copado Mundo em 1958, na Suécia, e, a partirde então, a camisa nº 10 virou referência,

    depois de ter sido usada pelo Pelé. Com otempo, passei a viajar o mundo todo e tenhotido condições de acompanhar a enormemudança pela qual o futebol e a economiatêm passado. Como atleta do século XX,venho acompanhando e vivendo toda essatransformação na pele.

    Principalmente a partir dos anos 1980 e 1990,essa transformação foi muito significativana estrutura administrativa dos clubes,especialmente com relação aos recursos que

    passaram a ser destinados ao futebol em umvolume muito maior do que havia na minhaépoca. Esses recursos têm gerado uma grande

    riqueza que deve ser muito bem aproveitadapara que não gere apenas uma inflação nomundo do futebol. Meu sonho é ver todosesses recursos – materiais, financeiros,econômicos – aproveitados e produzindomelhorias na qualidade do futebol comoum todo, e espero que vá muito além dosequipamentos caros e dos salários altos.

    A Copa FIFA 2014 no Brasil traz umaoportunidade para que as novas e boas

    práticas de gestão do futebol possam sersedimentadas. Neste sentido, esta publicaçãoda FGV Projetos, que, aliás, sempre esteve àfrente das tentativas de modernizar também agestão do futebol brasileiro, é parte integrantee instigante dessas mudanças.

    Meu sonho de ver o futebol brasileiro tãogrande fora de campo como já é dentropode se materializar com a realização daCopa do Mundo e de todas as obrigações eresponsabilidades que ela nos traz.

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     Joseph S. Blatter nasceu em 1936 na região de Valais, na Suíça, e jogou

    futebol amador durante mais de 30 anos. É economista e profissionalhabilitado em relações públicas, tendo obtido o título de bacharel emadministração de empresas e economia pela Universidade de Lausanne.Iniciou sua carreira profissional na área de relações públicas e, emseguida, começou a trabalhar com administração esportiva em hóqueino gelo e futebol. Também trabalhou no setor privado na Longinesantes de entrar para a FIFA em fevereiro de 1975. Na entidade queadministra o futebol mundialmente, Blatter ocupou os cargos dediretor de Programas de Desenvolvimento Técnico, secretário gerale diretor executivo antes de ser eleito presidente. Atualmente está emseu quarto mandato como presidente da FIFA.

    O Brasil, como uma força política e econômica cada vez mais potente,é um anfitrião ideal para a Copa do Mundo da FIFA de 2014, cujarealização é uma grande oportunidade para o Brasil, sob muitosaspectos. Há uma discussão em torno do quanto um evento como esseimpulsiona a economia anfitriã, mas com planejamento cuidadoso épossível construir um legado duradouro. Melhorias na infraestruturae nas instalações turísticas em várias cidades oferecem a promessade desenvolvimento em todo o Brasil. Há sinais de que podemoscontar com um impacto positivo na marca e imagem do Brasil. O

    fluxo de visitantes trará dinheiro. Mas não devemos ver o impacto daCopa FIFA 2014 somente sob uma ótica econômica. A FIFA está seesforçando para garantir um legado de desenvolvimento do futebol,assim como sustentabilidade econômica e ambiental. Acima de tudo,a Copa do Mundo da FIFA é um festival de futebol que une as naçõese que muitos brasileiros jamais esquecerão.

    Joseph Blatter

    Presidente da FIFA

    Resumo

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    DEPOIMENTO

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    OBrasil é uma nação encantadora e diversa,que já pode se orgulhar de estar entre aspotências econômicas mais vigorosas

    do mundo. O país possui influência cada vezmais ampla no cenário global e certamente podevislumbrar um futuro ainda mais promissor deprosperidade.

    É natural que uma nação tão dinâmica seja apróxima a receber um dos maiores espetáculosesportivos do planeta: a Copa FIFA 2014.

    A FIFA tem como compromisso levar a Copa doMundo e a mágica do futebol aos quatro cantosdo nosso planeta. Em 2010, calamos todos oscéticos com um torneio altamente bem-sucedidona África do Sul, o que mostrou que economiasemergentes são tão capazes de receber um evento

    esportivo mundial quanto qualquer outra.Como veremos depois, a África do Sul colheu osfrutos de várias maneiras.

    Após o Brasil no ano que vem, teremos a Rússiaem 2018, outra economia forte e influente.

    A Copa do Mundo da FIFA colocará o Brasil nocentro das atenções. É a chance do Brasil e detodos brasileiros brilharem.

    O torneio não trará somente as estrelasmundiais desse belo jogo, torcedores de todosos continentes e a promessa de quatro semanasde emoções, entretenimento e habilidade. Eletambém trará oportunidades: a oportunidadede investir e atrair investimentos na economiabrasileira; a oportunidade de transformaçãosocial; a oportunidade de dar o exemploao mundo em termos de desenvolvimentosustentável e do meio ambiente; e a oportunidadede redefinir as impressões sobre o Brasil.

    Se trabalhada corretamente, a organização daCopa do Mundo da FIFA pode proporcionarbenefícios econômicos duradouros para o Brasil.

    É claro que os benefícios econômicos são somenteum aspecto das possíveis recompensas por receberum evento esportivo global. Explorarei alguns dosoutros benefícios mais adiante neste depoimento.

    Há muita discussão em torno de qual é exatamenteo impacto econômico de tais eventos no país-sede e nas cidades-sede – se trazem benefíciosduradouros ou se podem sugar recursos e acabarse tornando uma decepção.

    Apesar desse debate, muitas oportunidadeseconômicas podem ser vistas claramente portodos. É apenas uma questão de aproveitá-las.

    O investimento interno exigido para receber aCopa do Mundo da FIFA é considerável: estádiosnovos com a mais alta tecnologia e reformas

    de arenas existentes a fim de proporcionar amelhor partida possível; melhorias nos sistemasde transporte para atender à demanda crescente;e investimentos em instalações turísticas paraacomodar torcedores de futebol dos quatrocantos do mundo.

    De acordo com um relatório1 da Ernst & Young,receber a Copa do Mundo pode injetar R$ 142bilhões a mais na economia brasileira entre 2010e 2014, gerando 3,63 milhões de empregos porano e mais de R$ 60 bilhões em renda para apopulação. Mais de R$ 20 bilhões serão investidosem infraestrutura e aproximadamente 3 milhõesa mais de visitantes proporcionarão uma rendaadicional de quase R$ 6 bilhões para empresasbrasileiras.

    Esse investimento e o aumento de gastos em váriascidades em todo o Brasil dificilmente aconteceriamsem a Copa do Mundo da FIFA. A Copa deixaráum legado que, se bem administrado como partede um plano nacional cauteloso, proporcionará

    uma plataforma sólida para futuras oportunidadeseconômicas. Sei que essa é a ambição do governofederal do Brasil.

    1 Brasil Sustentável: Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014. Disponível em: .

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    A Copa do Mundo deve aumentar a capacidadedo Brasil de receber outros eventos esportivosou culturais, como as Olimpíadas em 2016. Háevidências que sugerem que o Brasil se tornarámais atraente para os turistas. Oito em cada dezvisitantes estrangeiros que estiverem na África doSul durante a Copa do Mundo de 2010 disseramque pretendiam voltar ao país.

    Além disso, tudo indica que podemos esperarque a Copa do Mundo tenha um impactoextremamente positivo na população do Brasil.Nove entre dez alemães acreditavam que o paísdeveria receber a Copa do Mundo de 2006. Umnúmero semelhante na África do Sul passou a darmais valor a seu país após a Copa do Mundo.

    Esse incentivo ao sentimento nacional não deve

    ser subestimado em termos de valor econômico.A Copa do Mundo da FIFA no Brasil, uma naçãoem que transborda o amor pelo futebol, prometeimpulsionar de forma significativa a confiançapública e a do consumidor, especialmente nas12 cidades-sede de Belo Horizonte, Brasília,Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal,Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador eSão Paulo.

    O prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, declarouque a Copa do Mundo da FIFA de 2010“melhorou a imagem da cidade de Berlim deuma forma que nenhuma quantia em dinheiroou de publicidade poderia conseguir”.

    O próximo desafio para os gestores e para asempresas é como sustentar esse fator de bem-estarde forma que se ele traduza em algo mais tangível.

    Milhares de visitantes irão a partes do Brasil,sobre as quais jamais ouviram falar antes, somentepara viver a mágica da Copa do Mundo da FIFA,

    injetando capital estrangeiro nas economias locais.

    A África do Sul viu um aumento de 82% nasdespesas com cartões estrangeiros Visa emcomparação ao ano anterior à Copa do Mundoda FIFA de 2010.

    A marca do Brasil terá a sorte de ter publicidadegratuita mundial. O nome do Brasil estaráespalhado em todos os lugares, bem como osnomes de suas cidades. Investidores da Ásiaà América do Norte verão uma nação cheiade potencial. Um estudo conduzido pela TNSResearch Surveys avaliou que a marca da Áfricado Sul se beneficiou de quase US$ 300 milhõesem publicidade adicional gratuita pelo fato dereceber a Copa do Mundo, além da própriapromoção e investimento feitos pelo país.

    O futebol, um esporte que os brasileiros jogam

    com tanta poesia e paixão, colocará o Brasilnuma posição única para atrair futuros visitantes,investimentos estrangeiros diretos e eventos.

    A empresa alemã Rako Labels, que investiumilhões de dólares em novas instalações naCidade do Cabo, declarou que a Copa do

    A COPA DO MUNDO DA FIFA É

    UMA OPORTUNIDADE DE AVAN-

    ÇAR NO DESENVOLVIMENTO DO

    FUTEBOL, DE FAZER COM QUE

    AS PESSOAS SE INTERESSEM

    PELO ESPORTE E PARA ELEVAR

    OS PADRÕES.

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    Mundo ajudou a melhorar a imagem da Áfricado Sul aos olhos dos investidores estrangeiros.

    Essas são as implicações de curto, médio e longoprazo de se receber a Copa do Mundo da FIFA,de uma perspectiva econômica.

    Entretanto, nunca deveríamos tentar exageraressas implicações. A Copa do Mundo deve serreconhecida como algo muito maior do que umaoportunidade de se gastar dinheiro em grandesprojetos de infraestrutura, de atrair turistas e deconstruir uma marca global.

    A Copa do Mundo da FIFA não pode tratar

    de problemas subjacentes, nem deve ser vistacomo cura milagrosa para nenhuma economia.Apesar disso, como parte de uma visão pelodesenvolvimento sustentável, há vários motivospara acreditar que um evento esportivo globalpode inspirar melhorias significativas e duradourasna confiança pública e de investidores.

    Para a FIFA, a Copa do Mundo é algo muitomaior do que a soma de suas partes econômicas.O impacto positivo que a Copa do Mundo

    pode ter sobre a nação-sede e o resto do planetanunca deve ser medido simplesmente em termosfinanceiros.

    A Copa do Mundo da FIFA une pessoas devários segmentos da sociedade através do podersimples, porém duradouro, do futebol.

    Por um mês pessoas de diferentes países deixamsuas diferenças de lado e se unem para celebraro belo jogo. Por um mês, os maiores jogadoresdo mundo se juntam para mostrar o melhor

    do futebol e para inspirar uma nova geração detalento. Por um mês, a nação-sede experimentaum festival esportivo que só se vê uma vez na vida.

    Podemos construir memórias. Podemos esqueceras preocupações. O futebol nos ajuda. Duranteum mês o mundo estará todo “no mesmo ritmo”.

    Para a entidade que administra o esportemundialmente, tão importante quanto tudo issoé o fato de que a Copa do Mundo da FIFA é umaoportunidade de avançar no desenvolvimento dofutebol, de fazer com que as pessoas se interessempelo esporte e para elevar os padrões.

    Falamos sobre a importância da infraestruturaeconômica para incentivar o crescimento. Oinvestimento em infraestrutura para o futebol éfundamental para o desenvolvimento do jogo.Isso deve ser um legado duradouro da Copa FIFA2014.

    As cidades-sede no Brasil se orgulharão defantásticas novas instalações que irão inspirarseus jogadores e seus torcedores. Esperamos queo torneio incentive mais jovens a se associarem a

    clubes locais e que o esporte profissional nacionalbrasileiro encontre uma posição mais notável nasgrandes ligas mundiais.

    A FIFA também está trabalhando ativamentepara que a Copa do Mundo deixe um legadoduradouro de desenvolvimento social,sustentabilidade ambiental e de uma plataformaaprimorada para o futebol em todo o Brasil e nocontinente sul-americano.

    A Copa do Mundo trará muitas oportunidades,mas nenhuma mais valiosa do que a oportunidadeque pessoas de culturas diferentes terão de estaremjuntas desfrutando de um dos maiores festivais doesporte que o mundo tem a oferecer.

    Para o futebol, a Copa FIFA 2014 no Brasilpromete ser um torneio de enorme sucesso. Paraos torcedores do esporte, é uma chance de visitarum dos berços espirituais do belo jogo. Para osbrasileiros, será uma experiência única para serapreciada com orgulho. Para o Brasil, é uma

    oportunidade de ouro de ascender ainda mais aosolhos do mundo.

    Pelo jogo. Pelo mundo.

    PELO

    JOGO.

    PELO

    MUNDO.

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    Celso Grellet é graduado e pós-graduado em administração deempresas pela Fundação Getulio Vargas e formado em direito pelaUniversidade Mackenzie. Foi conselheiro e diretor de marketing doSão Paulo F.C. e primeiro diretor de marketing do Clube dos 13na ocasião de sua fundação, em 1987. Atualmente, é sócio de Peléno projeto Campus Pelé e membro do conselho e representante noBrasil do Sport 10, empresa internacional que detém todos os direitoscomerciais do Pelé.

    Depois de 64 anos, a Copa do Mundo acontecerá novamenteno Brasil e desde 2007, quando a escolha do país como sede foihomologada, as preparações estão em curso. Neste depoimento,Celso Grellet reflete sobre os efeitos duradouros que a realização domundial no país poderá significar para o futebol. Grellet enfatiza asmudanças que têm historicamente ocorrido no marketing esportivoe na fonte de receita dos clubes, destacando as novas arenasesportivas e o novo tratamento dado ao torcedor – entendido comoconsumidor – como principais legados.

    Celso Grellet

    Sócio de Pelé no Projeto Campus Pelé eMembro do Conselho e Representante no Brasil do Sport 10

    Resumo

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    17/104CADERNOS FGV PROJETOS | FUTEBOL E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO

    DEPOIMENTO

    Primeiro evento teste no Maracanã em 27 de abril de 2013

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    Em outubro de 2007 o Comitê Executivo

    da FIFA homologou o Brasil como sededa Copa do Mundo de 2014. Sete anos,portanto, antes do evento.

    Nenhum outro país teve tanto tempo à suadisposição para se preparar. Houve críticasà decisão de organizar um torneio dessamagnitude, além dos Jogos Olímpicos de 2016,notadamente pelos custos envolvidos. O país secomprometia a dotar as sedes de equipamentosmodernos para atender os cadernos de encargosdas entidades governantes – a FIFA, no casodo futebol – com custos altíssimos, suportadosem sua totalidade pelo dinheiro público.

    Somam-se a essas críticas os atrasos nas obrase as promessas de melhorias de infraestruturasque não serão cumpridas. Essa discussão agoranão tem mais sentido. A Copa do Mundo de2014 será realizada no Brasil depois de 64anos. O que a realização do mundial no paíspoderá significar para o futebol brasileiro alémdo torneio esportivo que se esgota em menos

    de um mês?O futebol brasileiro fez sua fama e se tornouadmirado no mundo inteiro pela qualidade deseus atletas, ou seja, dentro do campo de jogo.Fora de campo, a administração nunca foi seuforte. Esse fato não tinha muita importância atéos anos 1970, quando a atividade do futebolsignificava apenas uma disputa esportivasem muita sofisticação administrativa. Masas mudanças provocadas principalmente porfatores tecnológicos fora do futebol, como

    o advento da televisão e principalmenteda televisão paga a cabo ou via satélite,transformaram radicalmente essa atividade.Na sua esteira surgiram o marketing esportivo,com todos os seus instrumentos, avanços namedicina esportiva e métodos de preparaçãofísica diferentes dos existentes. Foi umarevolução que fez da atividade do futebol maisdo que apenas uma disputa esportiva em umaindústria que se denomina do entretenimento.

    O torcedor passa a ser um consumidor doproduto futebol e como tal deve ser tratado seo futebol quiser prevalecer sobre outras formas

    de entretenimento. O campo de jogo passa a ser

    denominado arena e sua frequência cada vezmais se elitiza, invertendo a relação tradicionalde poder aquisitivo. Anteriormente o estádioera frequentado por pessoas de menor poderaquisitivo e o jogo de futebol era assistidona televisão por pessoas de maior poderaquisitivo, que eram aquelas que possuíamcapital disponível para comprar aparelhosde TV. Em seguida esse quadro se inverte;as arenas se tornam teatros confortáveis esofisticados e a televisão, cujo custo diminuiu,passa a estar ao alcance da maioria.

    Essas transformações, que ocorreramprimeiramente na Europa, acabaram chegandoà América do Sul sem que a correspondentecontrapartida fosse adotada. Nossos calendários,de um modo geral, eram mal formulados, osestádios eram antigos e não estavam preparadospara atender ao consumidor. A administração denossos clubes e federações não acompanhava amudança que ocorria no mundo do futebol.

    Em 1987 fui o primeiro diretor de marketingdo recém-criado Clube dos 13, entidade quese propunha a modernizar a administraçãodo futebol brasileiro e que, de certa forma,foi pioneira, antecipando o que viria a serrealizado pelas principais ligas europeias. Nomesmo ano foi realizada a Copa União, cujoregulamento, patrocínio, contrato de televisãoe etc. foram tratados pelos próprios clubessem interferência da Confederação Brasileirade Futebol. Paralela e gradativamente, asferramentas de marketing começaram, ainda

    que lentamente, a ser utilizadas pelos clubesde futebol. Mas a distância entre o que sepraticava no Brasil e o que viria a ser praticadonas principais ligas europeias ainda era enorme.As diferenças econômicas do futebol brasileiroem relação ao futebol europeu se refletiamprincipalmente na ausência das estrelas. Osprincipais atletas não atuavam mais no Brasil,pois os salários eram muito maiores no exterior,e suas transferências eram a principal fonte derenda dos clubes brasileiros. Criava-se, assim,

    um círculo vicioso onde se fazia dinheirovendendo a estrela e não o espetáculo. Eraalgo como se a Disney vendesse o direito de

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    seus personagens, ao invés de ganhar dinheiro

    com eles vendendo o espetáculo.

    Recentemente, devido em especial à conjunturaeconômica, essa distância viria a diminuir aospoucos. Os valores dos patrocínios de camisas,merchandising  e contratos de televisão foramcrescendo quase que exponencialmente nofutebol brasileiro. Mas em um item a diferençacontinua excepcionalmente grande: as receitasde bilheteria.

    Há três principais fontes de receitas dos clubes:televisão,merchandising  e bilheteria. No Brasil,esta última tem sido a menos importante.Diferentemente das principais ligas europeias,as receitas de bilheteria no Brasil não sãosignificativas de um modo geral. A média deespectadores do campeonato brasileiro, queé a principal competição do país, raramentefoi maior do que 20 mil, número menor, porexemplo, do que o da Major League Soccer,liga profissional do futebol norte-americano. 

    São inúmeros os motivos para a baixa médiade bilheteria, como a falta de conforto, desegurança, os horário de jogos, os calendáriosmal formulados, as principais estrelas atuandofora do país, entre outros. Parece que a Copado Mundo pode significar alteração apenas noitem conforto. Doze novas arenas estão sendofeitas para a Copa 2014 e outras, construídase reformadas, como as do Palmeiras, doGrêmio e o Morumbi. O conceito de confortoproporcionado ao torcedor/consumidor será,enfim, adotado por uma exigência da FIFA.

    Não importa agora o quanto custou e quanto dedinheiro público foi colocado. Uma vez feito, ofutebol tem que aproveitar essa oportunidade.Finalmente o torcedor começará a ser tratadocomo consumidor no que diz respeito ao itemconforto no local do jogo.

    Esse novo tratamento com os novos estádiosarenas são uma grande mudança e talvez omaior legado da Copa FIFA de 2014 para onosso futebol. Todavia, as arenas são, na sua

    essência, o hardware do futebol. É necessáriocuidar também do software. As arenas porsi só são necessárias, mas não suficientes.

    Seu conteúdo tem que ser aprimorado com

    serviços internos de melhor qualidade. Oscalendários devem ser melhor organizados,os contratos de televisão devem ser maisbem feitos, privilegiando horários dos jogos,manutenção das estrelas atuando no Brasiletc., e, finalmente, deve-se atentar para otransporte e para o entorno das arenas. Umbom exemplo de um hardware  positivo comum péssimo software é o Engenhão, onde sãodisputados campeonatos mal organizadose com entorno e acesso péssimos. Comoconsequência disso, a bilheteria do Engenhãoé muito baixa.

    A oportunidade que se oferece para a melhoriado futebol brasileiro a partir da realização daCopa de 2014 se encontra, por enquanto,na construção dos novos equipamentosesportivos. É preciso, no entanto, aprimorartambém a gestão administrativa do nossofutebol para completar esse processo, noqual as novas arenas esportivas e o novotratamento dado aos torcedores já constituem

    um primeiro passo.

    AS ARENAS SÃO, NA SUAESSÊNCIA, O HARDWARE  

    DO FUTEBOL. É NECESSÁ-

    RIO CUIDAR TAMBÉM DO

    SOFTWARE .

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    ENTREVISTA

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    Aldo Rebelo nasceu em Viçosa, no estado de Alagoas. Foi deputadofederal por São Paulo, por seis mandados. Em mais de 30 anos detrajetória política, presidiu a Câmara dos Deputados e a CPI da CBF/ Nike, além de ter sido relator da Comissão Especial do Código FlorestalBrasileiro e da Lei de Biossegurança. Foi, ainda, ministro de Estadoda Secretaria de Coordenação Política e Relações Institucionais. Éministro do Esporte desde 31 de outubro de 2011.

    O Brasil receberá nos próximos anos a Copa FIFA 2014, asOlimpíadas e as Paraolimpíadas de 2016. Para que o paísesteja preparado para eventos desse porte, muitas intervençõesestruturais têm sido realizadas. Nesta entrevista à FGV Projetos,Aldo Rebelo comenta o desafio de ser ministro do esporte nestemomento, destacando o papel desempenhado pelo Ministério e opanorama dos investimentos realizados e programados. Com umavisão humanista, reforça, ainda, a necessidade de nacionalizaçãoda Copa e das Olimpíadas, que deve caminhar lado a lado com ainclusão social para que o legado da Copa FIFA 2014 possa ser,de fato, estendido a todo o país. Em suas palavras, o torneio deveser uma oportunidade para “mostrar ao mundo que você podeconstruir um projeto civilizatório reunindo pessoas de origensnacional, étnica, racial e religiosa diferentes, mas com um elevadonível de tolerância”.

    Aldo Rebelo

    Ministro do Esporte

    Resumo

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    FGV PROJETOS: APÓS 64 ANOS, OBRASIL SERÁ ANFITRIÃO DA COPAFIFA 2014 E, DESDE A 1ª EDIÇÃONO PAÍS, MUITAS MUDANÇASOCORRERAM. COMENTE O DESAFIOPESSOAL DE SER MINISTRO DOESPORTE NESTE MOMENTO.

    MINISTRO ALDO REBELO: Eu entendocomo uma missão e também como umdesafio. O futebol é muito importante parao Brasil, é muito mais do que um esporte. Ofutebol ganhou raízes, tem o carinho do povobrasileiro, porque foi também uma plataformade lutas sociais e de ideias no Brasil, umaplataforma de inclusão social. Chegou aoBrasil como um esporte praticado pela elite dasnossas principais cidades, vedado aos pobres eaos negros, cuja participação nesse mundo do

    futebol foi uma batalha. Há casos conhecidosno Rio de Janeiro, como o do Vasco da Gama,que chegou a ser excluído da Liga, e o doFluminense, por terem aceitado negros noseu time. Em São Paulo, o Palestra Itália, hojePalmeiras, também foi discriminado porqueera um clube dos italianos, que constituíam amaioria dos pobres da cidade nos anos 1920e 1930. O futebol deu aos pobres e aos negrosdo Brasil as suas primeiras celebridades.Os pobres viram um dos seus reconhecido,admirado, festejado pelo seu talento, atravésde um jovem maranhense da cidade deCodó, chamado Fausto. Ee chegou à Copado Mundo no Uruguai e foi tratado comouma reconhecida autoridade pela imprensauruguaia, como a “maravilha negra”, pelotalento e pela forma como promoveu o futebol.

    Então, o Brasil acolher a Copa do Mundoé como a Copa do Mundo acontecer nopaís onde o futebol teve maior destaque.Provavelmente, o futebol não seria o que é

    hoje sem a participação do Brasil, que ajudoua projetá-lo. Talvez fosse mais um dessesesportes anglo-saxônicos praticados empoucos países, mas sem a universalidade que

    tem hoje. O chamado futebol americano é umesporte muito popular nos Estados Unidos,mas não no mundo. O rugby também é umesporte muito popular em outros países, masnão é um esporte popular em todo o mundo.O futebol é universal e talvez o Brasil tenhatido uma participação importante nessauniversalização, uma vez que, a partir do

    momento em que se tornou muito popularnum país não europeu, foi mais fácil setornar também popular em todo o planeta.Devemos acolher a Copa com esse espíritode responsabilidade, de orgulho. As pessoasesperam isso do Brasil e ninguém deve tratar ofutebol com mais atenção do que nós, já que,embora o futebol tenha nascido na Inglaterra,encontrou aqui o seu ambiente mais natural.

    QUAL É A SUA VISÃO A RESPEITO DA

    GOVERNANÇA ATUAL DOS CLUBESBRASILEIROS, DAS MUDANÇAS PELASQUAIS TÊM PASSADO, E DO PAPEL DOMINISTÉRIO COM RELAÇÃO A ESSESCLUBES?

    >> A relação do Estado brasileiro com o futebolteve origem ainda no período Vargas, quando,para gerar algumas obrigações das federaçõesestaduais de futebol com a seleção brasileira,estabeleceu-se a obrigatoriedade da cessãode jogadores para convocação da seleçãonacional. Na primeira Copa do Mundo, nósquase não tivemos a presença de jogadoresde São Paulo. Só jogadores do Rio de Janeiroatenderam à convocação para formação daseleção. Depois da redemocratização do país,as entidades ligadas a esportes ganharamcompleta autonomia. O Estado, então, perdea capacidade, o poder de interferência. Isso foifeito em razão da redemocratização do país:afastar o Estado de qualquer intervenção nasentidades.

    Os clubes, que são instituições centenáriasimportantes, permanecem sob gestãoamadora, quando o futebol é, hoje, altamente

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    profissional, e não mais a atividade semi-artesanal dos anos 1950, 1960 e 1970. Osclubes lidam com ritos do mercado, fazemcontratos de patrocínio, contratos com atletas,com detentores de direito de imagens detransmissão. São contratos complexos e commétodos, com um aparato muito precário,amador. Acho que para os clubes e para o

    próprio futebol é quase um escândalo que umpaís que cria o maior número de astros defutebol, que ganhou cinco vezes o campeonatomundial de futebol e que tem o maior goleadore o maior artilheiro dos campeonatos de futebolda FIFA, tenha uma participação pequena noPIB mundial do futebol em relação aos paíseseuropeus. Eu acho essa situação inaceitável.Muitos dos desafios que existem são exatamenterelacionados a modernizar a gestão dos clubes;aproveitar melhor a potencialidade dos grandes

    clubes de massa do Brasil – que se equivalemaos mais importantes do mundo – dotar osclubes e as entidades ligadas ao esporte de umainstitucionalidade que tenha sentido duradouro,previsível. Muitas vezes se elege a diretoria deum clube de forma decidida, não se alteramos estatutos para que essa diretoria continue.É preciso limitar o tempo do mandato dedirigentes, limitar o número de mandatos. Achoque isso dará ao futebol maior credibilidade, vaivalorizar mais a marca do futebol, a marca dosnossos clubes e da própria seleção brasileira.

    Deveríamos aproveitar o ensejo da Copa doMundo no Brasil para dar passos nesse sentido.

    COMO PODE SER APROVEITADA ESSAGRANDE VISIBILIDADE QUE O PAÍSTERÁ DURANTE OS JOGOS?

    >> O fato de a Copa do Mundo ser realizadano Brasil gera no mundo uma curiosidademaior, uma expectativa maior. É um eventoimportante para qualquer país em que seja

    realizado, mas, ao ser no Brasil, cria umaexpectativa maior para as pessoas, não sópelo futebol que é jogado aqui, mas porqueo país também exerce certo fascínio pelasua dimensão, pelos seus biomas, pela suanatureza. Por exemplo, de todos os grandesprêmios da Fórmula 1, o mais visto é o doBrasil. A Copa do Mundo tem uma dimensãomaior por ser realizada no Brasil, e nós devemosaproveitar isso para estimular a prática daatividade física, educar mais a população naprática do esporte, criar uma infraestruturadesportiva e divulgar uma mensagem para omundo a partir do nosso país – que é um paísotimista que se esforça pra construir o seufuturo e o equilíbrio social com tolerância. Omundo vive momentos difíceis de intolerânciareligiosa, nacional, racial, étnica, que no Brasilou não se conhecem ou não têm a gravidadeque têm no resto do mundo. É importantemostrar ao mundo que se pode construirum projeto civilizatório reunindo pessoasde origens nacional, étnica, racial e religiosa

    diferentes, com um elevado nível de tolerância,o que é o caso do Brasil. Aqui há europeus quepodem muito bem receber o passaporte dequalquer país nobre, há brasileiros que podemreceber passaporte de qualquer país africano,de qualquer país asiático, há a mistura comsangue indígena. Nós achamos que isso éuma coisa boa, não temos uma visão negativadessa miscigenação, dessa mistura – que não éapenas de sangue, mas de cultura. Nem sempreo mundo compreende isso bem. O Brasilprecisa mostrar que isso é uma coisa boa e quenós vivemos bem com isso.

    ESSES DOIS EVENTOS,

    NA VERDADE, DÃO PARA

    O BRASIL DUAS OPOR-

    TUNIDADES. A PRIMEIRA

    É MELHORAR ÁREAS EM

    QUE O PAÍS JÁ TEM DE-

    SEMPENHO BOM E PODE

    MELHORAR. A SEGUNDA

    POSSIBILIDADE É A DE SU-

    PERAR DEFICIÊNCIAS.

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    ESTAMOS PREPARADOS PARA ISSO,CONSIDERANDO-SE A EDUCAÇÃODA TORCIDA? COMO ESTÁSENDO TRATADA A QUESTÃO DECAPACITAÇÃO E TREINAMENTO DOSPARTICIPANTES E COLABORADORESPARA A REALIZAÇÃO DA COPA?

    >> Nós temos tido problemas com algunssetores das chamadas torcidas organizadas. Eunão sou contra torcida organizada, não soucontra nenhuma forma de organização, mas, apartir do momento em que setores apelam paraa violência, eles negam o futebol, a convivência,a sociabilidade. As pessoas jogam futebol paraconviver, não para fazer confrontos. Acreditoque na Copa do Mundo não haverá espaço paraisso, mas nós vamos tomar cuidado para coibir

    a ação dessas pessoas. O mesmo com relação atorcidas violentas de outros países.

    O Brasil também deve aproveitar esse momentoda Copa para acolher bem os visitantes. Nossopaís sempre acolheu bem e com o espírito abertoos estrangeiros, porque, de certa forma, todos nóssomos meio estrangeiros – aqui estavam os índios,nós chegamos depois e, provavelmente, quandoos índios chegaram por aqui, outros já haviamchegado antes. Nós temos uma atitude muitoaberta, celebramos a presença de estrangeiros, eacho que nem sempre o estrangeiro espera issodo outro, pois, às vezes, eles chegam a um paísachando que o fato de ser estrangeiro já criaalgum tipo de resistência.

    Certas coisas não são materiais, são intangíveis. Éclaro que o turista, o visitante, procura um bomhotel, serviços, conforto, segurança e higiene.Mas ele procura também o acolhimento, procuraser bem tratado, com um sorriso, um gesto deboa vontade. Isso também tem grande relevância.

    Com relação à capacitação de colaboradores paraa realização da Copa, há um amplo programado Ministério do Trabalho (Fundo de Amparoao Trabalhador – FAT Turismo), do Ministériodo Turismo (Pronatec Copa), dos estados e dascidades-sede. Há um esforço de preparação,de qualificação da mão de obra já existenteno setor hoteleiro, em bares, restaurantes, noserviço de transporte. Há diversos programas depreparação e há também um esforço de formaçãode nova mão de obra, porque haverá aumento da

    demanda para esses serviços, principalmente nascidades-sede. A preparação dessa mão de obratambém é importante e provoca, além disso, abusca por qualificação maior, mesmo por partede profissionais que não estejam diretamente

    envolvidos nos serviços da Copa. As pessoassentem que precisam aprender um novo idioma,melhorá-lo quando já têm conhecimento básico,aperfeiçoar qualificações. Temos também,do governo federal, dos governos estaduais einstituições que se preocupam com essa formação,um amplo projeto visando a Copa FIFA 2014 e as

    Olimpíadas de 2016.

    QUAL É O STATUS DA PREPARAÇÃO,COM RELAÇÃO À INFRAESTRUTURA,NO CUMPRIMENTO DE PRAZOS DASOBRAS?

    >> A Copa FIFA 2014 e as Olimpíadas 2016são eventos que ocorrem já há muito tempo.Essa Copa é a 20ª Copa, que acontece desde1930, com exceção do período logo depois da

    2ª Guerra Mundial. As Olimpíadas acontecemdesde 1896. Ou seja, não há segredo, não hámistério. É claro que cada evento sofre umprocesso de alteração resultante das mudançasdas condições em que é realizado, mas há ummodelo, há um padrão. Há nesses eventos muitotrabalho e o que falta não é mistério, nemsegredo.

    Para a Copa do Mundo, há a questão dainfraestrutura esportiva propriamente dita: osestádios, que não são construções das mais

    complexas. As nossas construtoras são muitoexperientes e os estádios não são sequer asobras mais importantes que elas têm sob suaresponsabilidade. Podem ser as obras de maiorvisibilidade, de maior repercussão, mas nãosão as maiores obras e nem as mais complexas.Trata-se, contudo, de urbanizações com um nívelmuito elevado de excelência em engenharia civile ambiental, por isso estão sob incumbênciadas principais construtoras do Brasil. Os nossosestádios ganham prêmios de sustentabilidade

    porque adotam modelos avançados, não apenasde aproveitamento de energia renovável, mastambém de modelo de gestão e de negócio parao aproveitamento dessa energia. Apesar de seruma energia mais cara, há vantagens como noParaná, por exemplo, onde a energia solar vaiser fornecida gratuitamente para o estádio e oexcedente será comercializado pela Companhiade Energia do Estado do Paraná (Copel). Ouseja, o estádio terá uma vantagem muito grande,porque não pagará energia. A empresa públicatambém, porque comercializará o excedente.

    Há também as obras de mobilidade urbana,que são as obras essenciais de acesso ao estádio,à rede hoteleira, ao aeroporto, de estruturasque precisam de mobilidade garantida, fácil,

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    acessível. Mas, além disso, há, ainda, na Matrizde Responsabilidades do governo federal,das prefeituras e dos estados várias obras doPrograma de Aceleração do Crescimento (PAC)que nós antecipamos e incluímos, porque, seficarem prontas, facilitarão a realização da Copanas 12 cidades-sede. Quase todas estão dentro

    do prazo. Quando há uma exceção, o estadoou o município pede que a obra seja retiradada Matriz de Responsabilidades e continuarátrabalhando para que seja entregue depois daCopa do Mundo. Tenho visitado a cada trêsmeses todas as cidades-sede, conferido com ogrupo de engenharia e gestão que acompanhaos dados da evolução, e nós temos segurança deque essas obras serão entregues dentro do prazo.

    A REALIZAÇÃO DE UMA COPA IMPLICAEM INÚMERAS RESPONSABILIDADESQUE ESTÃO SENDO REPARTIDASENTRE OS VÁRIOS MINISTÉRIOSDO GOVERNO FEDERAL. COMOESTÁ O PROCESSO DE GESTÃOPARA REALIZAÇÃO DA COPADENTRO E FORA DO GOVERNO?COMENTE COMO SE DÁ ESSAINTEGRAÇÃO DO MINISTÉRIO COMOS ENTES FEDERATIVOS, O COMITÊORGANIZADOR LOCAL DA COPA E A

    FIFA PARA ESSA PREPARAÇÃO.

    >> É um relacionamento de cooperação. A Copado Mundo exige um esforço multilateral. Oórgão idealizador, detentor de direitos, a FIFA, éuma instituição com grande representatividade,com mais países membros do que a ONU ecom eficiência no enfrentamento de desafiosgeopolíticos. É uma organização eficiente, capaz,e a nossa cooperação é no sentido de fazer a Copado Mundo da melhor maneira possível. Quandosurgem diferenças, elas são discutidas sempreem função do interesse maior, que é a Copa. Éclaro que a FIFA é uma entidade privada, lidadiretamente com os patrocinadores, cuida dosinteresses deles, o que é legítimo e compreensível.Nós aqui no ministério cuidamos do interessepúblico, do interesse nacional. Quando háqualquer conflito entre esses interesses, nósbuscamos uma solução adequada, e o papeldo governo é defender o interesse público e ointeresse nacional. Estamos trabalhando bem. AFIFA tem aqui uma representação que é o Comitê

    Organizador Local da Copa. Trabalhamostambém com os governos estaduais, que têm umelevado plano de responsabilidade na preparaçãoda Copa. Trabalhamos com as prefeituras, quetambém têm uma grande responsabilidade.

    Temos, ainda, uma relação com os patrocinadores,com os quais nos reunimos para discutir emostrar o que os governos desejam, prevalecendoo trabalho e o esforço no sentido de manteruma relação de cooperação, mesmo quando hádiferenças de opiniões ou de objetivos.

    O MINISTÉRIO DO ESPORTEESTÁ COORDENANDO O PLANOESTRATÉGICO DAS AÇÕES DOGOVERNO PARA A REALIZAÇÃO DACOPA (CGCOPA 2014). COM RELAÇÃOA ISSO, O QUE FOI RESOLVIDO PARA ACOPA DAS CONFEDERAÇÕES E O QUEFALTA REALIZAR ATÉ A COPA 2014?

    >> Com relação à Copa das Confederações,estamos na última etapa, que é a da execução

    dos planos operacionais e a da integração noPlano Operacional de todos os entes que têmresponsabilidade na realização da Copa 2014.São os entes da União, do governo federal. Aresponsabilidade pela ação e pela operaçãoaeroportuária – essas são as dificuldades – e dassuas agências, do ministério, da Secretaria deAviação Civil, da Infraero – tem a Infraero nacionale tem a local, a que opera localmente em cada umadas cidades –, da Agência nacional de aviaçãocivil (Anac). A área de segurança, por exemplo,

    é uma responsabilidade compartilhada: há aresponsabilidade da Polícia Federal, do Ministérioda Defesa, das polícias estaduais, das políciascivis, e nós estamos integrando os responsáveispor essas operações em reuniões que estamosfazendo neste momento. Já fizemos reuniões emBrasília, no Rio, em Fortaleza, Recife, Salvador eBelo Horizonte, ocasiões em que foram repassadastodas as ações e informações sobre a preparaçãopara a operação do aeroporto durante a Copadas Confederações. Nessas reuniões também sãodefinidas as responsabilidades e providências que

    precisam ser tomadas nas áreas de segurança,de telecomunicações, de mobilidade urbanae de transporte, que é uma responsabilidadeessencialmente do município, mas que apoiamosjunto com os governos estaduais.

    Esse plano está sendo repassado e, para a Copado Mundo, permanece ainda a construção dosestádios que ainda não foram entregues e que nãoserão entregues para a Copa das Confederações– são apenas seis, os outros seis têm previsão deentrega para dezembro. Também permanecemas obras de ampliação dos aeroportos, porquehá uma ampliação que é de infraestruturaaeroportuária e há outro esforço, que é oaperfeiçoamento da operação do aeroporto. Não

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    basta alterar a capacidade do aeroporto parareceber mais ou menos passageiros se o aeroportonão consegue operar satisfatoriamente, havendofilas, demora na entrega das bagagens ou nodespacho, banheiros incompatíveis com o queos passageiros esperam. Mudanças na operaçãodos aeroportos – em infraestrutura na capacidade

    – são pontos importantes que também estãoinclusos no plano de segurança.

    QUAL É O PANORAMA DEINVESTIMENTOS DIRETOS PARAORGANIZAÇÃO DA COPA 2014? OQUE O MINISTÉRIO DO ESPORTE ESTÁFAZENDO PARA GARANTIR QUE AAPLICAÇÃO DESSES INVESTIMENTOSSEJA FEITA EFICIENTEMENTE?

    >> A Copa e as Olimpíadas são grandesoportunidades de investimentos para o país. Háum estudo1  que projeta números relacionadoscom essas potencialidades. Há quem diga que opaís pode gerar até 3 milhões e 600 mil empregoscom esses dois eventos, que para cada dólarinvestido pelo poder público US$ 3,4 serãoinvestidos pelo setor privado e que haverá umacréscimo de 0,4% ao PIB brasileiro até 20192,só por conta da Copa do Mundo. Tenho recebidovisitas de delegações de vários países interessadosnas oportunidades de negócios que a Copa eas Olimpíadas oferecem. O turismo já antecipapossibilidades e investimentos, que provavelmentenão teríamos sem a realização desses eventos, nãoapenas para os destinos tradicionais como SãoPaulo e Rio de Janeiro, mas para outros destinosque as pessoas têm curiosidade de visitar, comoManaus e Cuiabá. O Brasil investiria em aeroportosindependentemente de receber a Copa. Nósmelhoraríamos as vias urbanas para o tráfego

    nas cidades e nas metrópoles e ampliaríamos ometrô independentemente da Copa. Isso não éinvestimento para a Copa, é investimento para odesenvolvimento do país. Mesmo o investimentoem hotelaria que o setor privado faz tambémnão está, principalmente, vinculado à Copa –ninguém constrói um hotel só por causa da Copado Mundo, que dura um mês ou um pouco maisdo que isso. O hotel não é um carro alegórico quevocê usa durante a festa e depois recolhe numgalpão, ele permanece e tem que se viabilizarem médio prazo. O destino de R$ 1,9 bilhão de

    dinheiro público sobre esse investimento não é porcausa da Copa, é porque o país tem crescido e temse ampliado seu papel como destino para turismode negócio e eventos, congressos, feiras. A redehoteleira aumenta também por isso e não apenaspela realização da Copa ou das Olimpíadas.

    Com relação às telecomunicações, o Brasiltambém precisa se modernizar. O país precisadisso porque a população, os negócios, ocomércio e a indústria precisam disso. Assim,a Copa do Mundo e as Olimpíadas induzem,aceleram, antecipam soluções e problemas comos quais poderíamos nos deparar daqui a maistempo, e que trazem o desafio de resolvê-los.Esses dois eventos, na verdade, dão para o Brasilduas oportunidades. A primeira é melhorar áreasem que o país já tem desempenho bom e podemelhorar. A segunda possibilidade é a de superardeficiências. Como se fosse um concurso: paraser aprovado é preciso melhorar aquilo em quese é bom e tratar de superar aquilo em que seestá mal. Como qualquer país, temos pontos emque somos bons e temos pontos em que somosevidentemente deficientes e vamos enfrentar essesdois lados na Copa do Mundo e nas Olimpíadas.

    APÓS OS GRANDES EVENTOSESPORTIVOS, COMO O SR. VÊ OCENÁRIO ESPORTIVO NO BRASIL? QUAL

    O LEGADO ESTRUTURAL E O IMPACTOSOCIOCULTURAL QUE A REALIZAÇÃODESSES EVENTOS PODE DEIXAR PARAALÉM DAS CIDADES-SEDE?

    >> A ideia é fazer com que esses dois eventosvalorizem a prática do esporte educacional. Não sóo esporte de alto rendimento, não só o esporte comonegócio, que também é muito importante, mas oesporte como educação, entretenimento, lazer, comoinclusão social. Isso depende de uma infraestrutura

    que é ainda muito precária no país e precisa sermelhorada. Atualmente há poucos equipamentosesportivos nas nossas escolas e o governo tem umprograma para cobrir cinco mil quadras em escolaspúblicas, construir quadras onde elas não existem.Nós temos deficiência no esporte de alto rendimentoem uma cidade que é uma metrópole grande erespeitada como Salvador, por exemplo. A maiorparte dos estádios brasileiros não tem uma piscinaou uma pista oficial de atletismo, o que precisamosenfrentar e superar.

    1 Estudo produzido por Ernst & Young e FGV Projetos, intitulado “Brasil Sustentável: Impactos socioeconômicos da Copa do Mundo 2014”.Disponível em: .

    2 De acordo com estudos da Ernst & Young/FGV, da Value Partners Brasil e do Itaú.

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    Nós adotamos um programa de nacionalizaçãoda Copa e das Olimpíadas. Com relação aosesportes olímpicos, foi lançado em fevereiro oprograma dos Centros de Iniciação ao Esporte(CIE). Inserido no PAC 2, contempla, em umaprimeira etapa, municípios de mais de 100 milhabitantes nas regiões Sul e Sudeste e de mais

    de 70 mil habitantes nas outras três regiões. Jáo Plano Brasil Medalhas, lançado em setembrodo ano passado e direcionado ao esporte de altorendimento, prevê investimento na construção oureforma de 22 centros de treinamento.

    Nacionalizar a Copa do Mundo significa que deveacontecer nas outras cidades o que acontece emSão Paulo, a nossa metrópole mais cosmopolita,mais integrada ao mundo, que tem três grandesestádios – o do Palmeiras, o do Corinthians e o doSão Paulo –, e que também vai realizar obras paracobrir o estádio do Morumbi – belo monumentoprojetado por Vilanova Artigas –, além deconstruir um centro de convenções e um hotel.Da mesma forma, o Palmeiras terá uma arenamultiuso e o Corinthians terá uma em Itaquera,ou seja, numa área de 4 milhões de habitantes como menor Índice de Desenvolvimento Humano(IDH) da cidade de São Paulo, haverá um poloque não será apenas para o esporte, mas abrigaráuma universidade, um instituto técnico federal.Isso quer dizer que nós teremos em torno da arena

    do Corinthians equipamentos sociais esportivos eeducacionais importantes. Mas não pode ser sóSão Paulo. Nós queremos também que Boa Vista,em Roraima, tenha um equipamento esportivoimportante. Estamos ajudando a financiar ascondições para a construção de um estádio lá. NoAmapá, queremos abrir dois centros de canoagemolímpica indígena, mais dois em Roraima e doisno Amazonas, para começar. Estamos fazendolevantamentos com a universidade, com asForças Armadas e com as secretarias de Educaçãopara saber onde estão as aldeias indígenas com

    maior tradição de canoagem, porque queremosque a técnica indígena da canoagem, umatécnica sofisticada, seja aplicada à canoagem decompetição de alto rendimento. Antes, não haviaatletas do Acre, por exemplo, no Programa Bolsa-Atleta,3  então fizemos um esforço e resolvemosessa ausência.

    O Brasil é um país muito rico, com muitas virtudese qualidades civilizatórias e espirituais, mas étambém um país muito desigual, deformado e

    desequilibrado. Se o Estado não age para reduziresses desequilíbrios, eles tendem a se agravare esse abismo tende a se aprofundar. É precisoaproveitar todas as grandes potencialidades doRio de Janeiro e de São Paulo, mas é precisoconsiderar o Brasil como um todo. Não podemosem um momento como este deixar de lembrar que

    a Amazônia representa 60% do nosso territórioe que aquela região, mais do que o território, éuma parte da civilização brasileira, onde tambémestá o nosso imaginário, a nossa cultura, o nossocosmopolitismo, a nossa identidade como povo.

    Deve-se lembrar, ao olhar para o país, que temosa Amazônia, com todas essas florestas, esses riose essas populações indígenas. Por isso eu dissepara a FIFA que não poderíamos conceber fazeruma Copa do Mundo em Manaus, olhar paraa arquibancada e não ver um índio – isso seriainaceitável. Temos que olhar para a arquibancadae os nossos índios devem estar lá representadostambém. Então, a nossa responsabilidade éajudar e apoiar isso. É preciso considerar arepresentação também da população mais pobrena Copa do Mundo.

    E quando terminarem a Copa do Mundo e asOlimpíadas? São Paulo ficará com belos estádios;o Rio de Janeiro ficará com um Parque Olímpico euma Vila Olímpica. E Roraima, Acre, Amazonas,

    Amapá e Tocantins ficarão com o quê? Nóstemos que pensar em tudo isso.

    3 Mantido desde 2005 pelo governo brasileiro, o Bolsa-Atleta é um programa de patrocínio individual de atletas que compreende,atualmente, cinco categorias de bolsas oferecidas pelo Ministério dos esportes. Têm prioridade os atletas de esportes que compõem osprogramas dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paraolímpicos e, em seguida, atletas de modalidades não olímpicas, que tenham obtido bonsresultados. Os beneficiados pelo programa recebem o auxílio durante um ano. Ver: . Acesso em 02/04/2013.

    É PRECISO APROVEITAR TO-

    DAS AS GRANDES POTENCIA-

    LIDADES DO RIO DE JANEIRO

    E DE SÃO PAULO, MAS É PRE-

    CISO CONSIDERAR O BRASIL

    COMO UM TODO.

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    ENTREVISTA

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    Carlos Alberto Parreira é formado pela Escola Nacional de EducaçãoFísica e Desportos. No Brasil, foi treinador técnico de clubes defutebol (São Paulo, Internacional, Santos, Fluminense e AtléticoMineiro) e da seleção. Também treinou as seleções da Arábia Saudita,Emirados Árabes, Kuwait, África do Sul e Gana. Sob sua liderança, oBrasil venceu a Copa do Mundo de 1994. Atualmente é coordenadortécnico da seleção brasileira.

    Nesta entrevista, Carlos Alberto Parreira fala sobre os fatores quelevam ao sucesso na formação de equipes e sobre as estruturasadministrativas que encontrou durante sua trajetória passando porcinco clubes brasileiros e seis seleções. Fala também sobre as mudançastáticas que ocorreram no futebol desde a Copa do Mundo de 1958 esobre os profissionais que o inspiraram ao longo de sua carreira nofutebol, do Brasil e de outros países.

    Carlos Alberto Parreira

    Coordenador Técnico da Seleção Brasileira

    Resumo

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    FGV PROJETOS: A PARTIR DESUA EXPERIÊNCIA EM COPAS DOMUNDO, COMO A PREPARAÇÃOINFLUENCIA O SUCESSO DEUM GRUPO E QUE TIPO DEPREPARAÇÃO? SE FOSSE POSSÍVEL

    CITAR UM ITEM MAIS IMPORTANTE,QUAL CITARIA?

    CARLOS ALBERTO PARREIRA: Eunão vejo outra solução que não seja umplanejamento estratégico, um planejamentomuito bem elaborado para a Copa, com seis, seteou até oito meses de antecedência, se possível.O trabalho para uma Copa do Mundo é umtrabalho de quatro anos, que tem início quandotermina a edição anterior. Neste momento aequipe já começa a se preparar para a próximaCopa. Esse planejamento é fundamental naconcepção do trabalho e até no resultado final,ou seja, no sucesso. Eu trabalhei com a seleçãobrasileira em quatro Copas do Mundo e, naverdade, as que foram bem planejadas, forambem-sucedidas. Não que as que perdemosnão tenham sido bem planejadas, mas houvealgumas interferências que não permitiramque o trabalho fosse feito da mesma maneiracomo nos dois sucessos. Não foi por acaso queo Brasil venceu em 1970 e não foi por acaso

    também que ganhou em 1994. Do mesmomodo, não foi nenhuma surpresa perder em1974 e depois em 2006.

    O fator de sucesso é, portanto, o planejamento,que visa primeiro ganhar fora do campo eque abrange tudo o que se possa imaginarcom relação à preparação de um time. Sãoos recursos financeiros e os administrativos,a montagem da comissão técnica e dos times,os amistosos, a preparação, os jogos. Englobatambém a existência de uma filosofia de jogodefinida, com objetivos, que permita planejartudo. Ganhar fora do campo é fundamental enós já sabemos que para isso é preciso planejar.

     Já sabemos o que faremos daqui a um ano

    com relação ao planejamento: onde será ahospedagem, os hotéis, os locais do treinamento;a composição da comissão técnica, do staff ; oque esperamos de cada membro da comissãotécnica; os locais de trabalho; os equipamentosque vamos usar; os deslocamentos; os fretes deaviões; a alimentação; a motivação que faz comque o grupo esteja focado.

    O planejamento e a formação de equipes sãotemas inesgotáveis. Há muitos congressossobre team building , mas cada treinadortem um enfoque pra isso, considerando-seas particularidades dos recursos humanos,financeiros e administrativos. Com a seleçãotambém ocorre dessa forma. Pode-se ter osmelhores treinadores, o melhor preparadorfísico, o melhor preparador de goleiro, o

    melhor médico, os melhores jogadores, osmelhores recursos financeiros – a ConfederaçãoBrasileira de Futebol (CBF) tem recursos, nóspodemos escolher onde treinar –, mas é muitoimportante afinar todos esses aspectos.

    Tudo isso compõe o ganhar fora do campo.Qualidade nunca faltou à seleção brasileira,mas é importante que essa qualidade esteja emfunção do time. Porque, mais do que montarum grupo, trata-se de montar uma equipe,um time, ou seja, unir talentos diferenciadosimbuídos dos mesmos propósitos e objetivos.O jogador individualmente decide uma partida,mas uma competição se ganha com uma equipe.Nosso objetivo é exatamente este: formar umtime que tenha um propósito bem definido,focado num único objetivo, que é ganhar aCopa. Desde o início sabemos: não há plano B,temos que ganhar a Copa.

    Somos o único time do mundo das grandesequipes que nunca ganhou uma Copa em casa.

    A Itália e a Alemanha jogaram duas Copas emcasa. As duas ganharam uma e perderam outra.Nós jogamos uma e perdemos, então está nahora de ganhar.

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    COMO SE DÁ O ACOMPANHAMENTOPSICOLÓGICO DA EQUIPE? HÁPSICÓLOGOS NO GRUPO?

    >> Fazer o perfil psicológico dos jogadoresajuda muito, mas não teremos psicólogosacompanhando a equipe. Em minha opinião, otime de futebol é um grupo muito heterogêneo,composto por individualidades muitocomplexas. No processo de acompanhamento

    psicológico, é preciso penetrar no âmago dapessoa, e isso leva tempo e dedicação da partedaquele que está sob acompanhamento também.E nesse caso, não se trata de um casamentoem crise, mas de pessoas com histórias e vidasbem diferentes. Acredito que, no caso de umtime, seja melhor ter um motivador e o melhormotivador é o técnico. Em 1994 tivemos umaboa experiência com o Evandro Motta, que fezalgumas palestras de motivação com algumasmensagens importantes. Isso efetivamente

    ajudou.ALÉM DO BRASIL, O SR. TREINOUOUTRAS QUATRO SELEÇÕES(ÁFRICA DO SUL, KUWAIT, ARÁBIASAUDITA E EMIRADOS ÁRABES)EM COPAS DO MUNDO. QUEDIFERENÇAS EXISTEM EM TREINARUMA E OUTRA SELEÇÃO?

    >> Darei um exemplo. Treinei a seleção

    da África do Sul por quase quatro anos.quando eu cheguei a Johanesburgo, eu fizuma pirâmide de quatro anos com relação àseleção, um relatório. O primeiro e o segundo

    ano eram para observar os jogadores, era umperíodo de estudo para conhecer o futebol delá. O ápice da pirâmide era a Copa do Mundo.Esses anos seriam para montar a base daseleção – conhecer a questão técnica, comoo estilo, a maneira de jogar, a estrutura dosclubes, como treinavam –, visitar locais nosquais treinaríamos.

    Na África do Sul, todo mundo tem um centrode treinamento. Aos poucos fomos montandoa base da seleção, começando a escolher osjogadores e a jogar. Ao mesmo tempo, criamoscompetições e torneios para não dependersimplesmente do calendário da FIFA. Uma vezpor mês, eu reunia os jogadores locais pra fazerum jogo contra um time da segunda divisão.

    Lá, fiz jogos amistosos em que os jogadoresvinham na segunda-feira de manhã, jogavam detarde e voltavam à noite – o que não atrapalhavaa sua atuação nos clubes. Aumentamos essabase e depois, em um momento já próximoà Copa, disputamos a eliminatória da CopaAfricana de seleções. Disputamos a parte finale não ganhamos, fomos com um time jovempara ganharmos experiência, já pensandona Copa. Depois, no último ano antes docampeonato mundial, fizemos dois campings importantes. Um de 35 dias no Brasil, emSão Paulo, no qual jogamos oito partidas enão perdemos nenhuma. Em seguida fomospara o Paraguai e, depois, voltamos ao Riopara jogar contra o Botafogo com um timemisto. Nesta partida jogaram o Loco Abreu,o Alexsandro, e ganhamos de 1 a 0. Seguimospara a Alemanha, onde ficamos 20 dias nocentro de treinamento da Adidas e jogamosduas partidas, voltando para a África na etapafinal. Aí jogamos contra a Colômbia, contraa Bulgária e contra a Dinamarca, ganhamos

    duas partidas e empatamos uma. Isso criouum clima muito bom e ficamos 18 jogos semperder até a Copa. Em mais de 20 jogos, oúnico que perdemos foi contra o Uruguai. A

    PODE-SE TER OS MELHORES

    TREINADORES, O MELHOR

    PREPARADOR FÍSICO, O ME-

    LHOR PREPARADOR DE GO-

    LEIRO, O MELHOR MÉDICO,

    OS MELHORES JOGADORES,

    OS MELHORES RECURSOS

    FINANCEIROS (...), MAS É

    MUITO IMPORTANTE AFINAR

    TODOS ESSES ASPECTOS.

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    preparação foi legal, a pirâmide terminandolá em cima, e o planejamento foi cumprido àrisca. Mas para montar uma seleção forte, épreciso trazer os melhores jogadores mesmo.

    ENTRE OS CLUBES QUE PASSOUEM SUA CARREIRA QUAL

    FOI A MELHOR ESTRUTURAADMINISTRATIVA QUE JÁENCONTROU E POR QUÊ?

    >> Passei por São Paulo, Internacional, Santos,Fluminense e Atlético Mineiro. Com relaçãoàs seleções, foram a África do Sul, o Kuwait, aArábia Saudita, os Emirados Árabes, o Brasile Gana.

    A melhor estrutura de clube que encontrei no

    Brasil foi o São Paulo, pela parte administrativae burocrática. Eles criaram o Cotia 2, quedizem que é ótimo, e também têm o Centro deTreinamento. Ninguém tem isso no Brasil. Emseguida, eu citaria o Internacional, o AtléticoParanaense, que tem uma estrutura muito boa, oCruzeiro e o Atlético Mineiro, que tem um centrode treinamento maravilhoso. No Rio de Janeiro,há muito tempo que já deveríamos ter um centrode treinamento, mas nenhum clube tem.

    Falando-se em seleção, a brasileira sempre foimuito boa, porque tem a Granja Comary. Dasque eu trabalhei, também posso mencionara da África do Sul, onde há estádios bons,centros de treinamentos ótimos. O Kuwait nãotinha estrutura, mas nós usávamos os clubes,usávamos o estádio nacional para jogar.

    QUAL É O SEU TÉCNICO DEREFERÊNCIA NO BRASIL E NOEXTERIOR E QUAIS SELEÇÕES JULGA

    SEREM AS MAIS FORTES PARA ACOPA?

    >> Em minha opinião, um dos melhorestécnicos do mundo é o Zagalo. Eu conhecitodos os técnicos de seleções. Há bons técnicosna Europa e o Mourinho, por quem tenhogrande admiração, é um deles. Ele foi campeãonos quatro países em que trabalhou na Europa.O Fabio Capello é outro. O Josep Guardiolafez um trabalho excepcional no Barcelona,

    aproveitando toda a estrutura, sedimentada porum belíssimo treinador, que fez um trabalho

    excepcional. Há pouco tempo teve um torneiosub15 em que o Barcelona foi campeão contraum time do Brasil por 8 a 0.

    As seleções mais fortes na Copa são a Espanhae a Argentina, que têm bons jogadores. Se oMessi estiver em forma, é de tirar o chapéu.

    Nós vimos isso. Perdemos um jogo no Catarcom gol do Messi. Perdemos de 4 a 3 nosEstados Unidos, com três gols do Messi.

    A Itália está melhor. O Cesare Prandelli estáfazendo um trabalho muito bom de renovação.É um time mais leve, mais solto, mais técnico;um time que tem vocação e sabe se defender. Issoeles não vão perder nunca: essa característicadefensiva. Na hora em que perdem a bola, vãonove atrás dela. Na hora em que saem, saemcom mais qualidade, saem no toque, não saemsó com “chutão”. Na Inglaterra também temuma coisa que não é novidade para a genteaqui: na hora que perdem a posse da bola,são dez jogadores brigando por ela – um nafrente e, às vezes, voltam os dez. Todo mundoapertando e marcando, ou seja, sabem sedefender muito bem e, na hora de jogar, nota-se que aprenderam realmente a jogar.

    Sepp Herberger, técnico da seleção daAlemanha na Copa de 1954, é considerado

    o criador da escola alemã de formação detreinadores. Lembro-me de alguns artigos queele escreveu. O primeiro deles dizia que se deveatacar e defender com a máxima eficiência.Quando você lembra que isso foi escritohá 60 anos! E é um conceito visionário queprovavelmente não mudará pelos próximos100 anos. Isso independe de primeira divisão,segunda, terceira, masculino, feminino, África,Europa, Ásia, América do Sul... É a essência dofutebol e independe do sistema – se é o 3x5x2,se é o 4x2x3x1, se é o 4x4x2, se é o 4x5x1,

    independe. É uma filosofia, um conceito, eé o que todo mundo faz hoje: defende com omáximo e ataca com o máximo. Não tem timeganhador se não fizer isso. Se só defender, nãovai ganhar nada; se só atacar, também não vaiganhar. É necessário procurar um equilíbrioentre a ação de defender e a de atacar. Essaé a essência do futebol, tem quem se adaptare se amoldar. O Brasil só foi campeão domundo quando aprendeu a defender. O mesmoaconteceu no voleibol; o Brasil só melhorou

    quando passou a bloquear.

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    DESDE A SUA PRIMEIRAEXPERIÊNCIA COM A SELEÇÃO,COMO PREPARADOR FÍSICO EM1970, O PREPARO FÍSICO TALVEZSEJA A COISA QUE MAIS TENHAMUDADO AO LONGO DO TEMPO, OUNÃO?

    >> Com o preparo físico melhorando, osjogadores passaram a correr mais. Então, nãosei se foi a exigência de se correr mais quemelhorou o preparo físico, ou se o preparofísico melhor fez com que eles corressem mais.A mudança tática do futebol ocorreu na Copade 1966. Porque até 1962 o futebol era jogadonuma cadência muito lenta, prevalecia aqualidade individual, prevalecia a técnica – osdefensores só defendiam, os meios de campo

    só organizavam e os atacantes só atacavam.

    Essa integração de todo mundo defendere atacar, essa polivalência e versatilidadecomeçou na Copa de 1966, que mudou ofutebol. É um marco histórico: podemos falarem antes de 1966 e em depois de 1966. Foio jogar e o não deixar jogar,  play and do notlet play. O que houve então? Aumento davelocidade de jogo e diminuição dos espaços,e isso é o que está prevalecendo até hoje, cadavez mais e com mais intensidade. A velocidadedo jogo aumentou muito e os espaçosdiminuíram, então, ficou mais difícil de jogarfutebol. Antes da Copa de 1966, o Brasil foijogar com a Itália e fez três ou quatro jogosna Europa. Um jogador disse para o professorErnesto Santos, que era o nosso catedrático daescola de educação física e nosso supervisor,algo que foi emblemático: “professor, euquero jogar e eles não deixam”. Veja só,isso é sensacional! Quem está acostumadoaqui no Brasil pega a bola, levanta a cabeça,

    ninguém o incomoda. Em 1962 a coisa eraassim. Mudaríamos apenas para a Copa de1970, tanto é que perdemos a Copa de 1966,quando saímos na primeira fase. Saíram ossul-americanos todos e os quatro finalistasforam europeus.

    COM RELAÇÃO À MUDANÇA TÁTICA,QUAIS DIFERENÇAS VÊ ENTRE ASCOPAS DO MUNDO?

    >> O técnico da Espanha usa uma frase queeu também uso e gosto: futebol é um esportede momentos. E, de fato, a vida é assim. Eu fui

    convidado para ser técnico da seleção em trêsoportunidades e nas três eu estava em projeção.Em 1958 houve a consolidação do 4x2x4. Emtermos de evolução tática, no Brasil prevalecia aqualidade individual. Foi o início do futebol-arte.Esse termo começou a ser aplicado ao futebolem 1958, algo que pouca gente sabe. Começou

    com o L’Équipe, um jornal famosíssimo,então acostumado com aquelas equipes russase inglesas, pesadas e robotizadas. Quandoapareceu o Brasil com o Garrincha jogando,com o Pelé dando balãozinho, jogando bola nopeito, driblando... Aquilo era arte pura; e eles,que não conseguiam definir aquilo, disseram:isso é arte.

    Em 1962, foi a consolidação do 4x2x4, quevirou um 4x3x3, e o Zagalo explica muito bemisso. O Nilton Santos tinha 37 ou 38 anos e,evidentemente, não aguentava correr. O Zagalovoltava pra ajudar o Nilton Santos no meiodo campo, coisa que ele já fazia também, maisou menos, na Copa de 1958. Não era bem um4x2x4. Então, foi a consolidação de um 4x2x4,reforçado por um 4x3x3, e, sobretudo, daexperiência. Não houve inovações táticas.

    Em 1966 que houve a mudança, quandoapareceu o jogar e o não deixar jogar. Oseuropeus, conscientes de que não poderiam

    superar a qualidade individual dos sul-americanos, arranjaram uma maneira de parar,que foi essa pressão. Daí veio essa pressão nocampo todo – perde-se a bola e já se pressiona;joga-se e não se deixa jogar. Jogue quando tema bola e, sem a bola, não deixe jogar. Foi umfutebol duro, a Inglaterra marcava duro. Foia criação de um sistema que é o mais longevoda história do futebol, o 4x4x2, que está emvigência até hoje. O 4x1x4x1, o 4x3x2x1 ou o4x4x1x1, que vemos por aí, são todos variaçõesdo 4x4x2.

    Em 1970, vem o Brasil, com um trabalho deequipe, uma preparação excepcional, cincomeses de treinamento. É até difícil definir oesquema do Brasil nessa Copa, só ficava o Tostãona frente, com mais o Pelé, o Gerson, o Tostão,o Jairzinho, fazíamos um 4x5x1, praticamente.

    Em 1974, foi a revolução holandesa, que perdeupara um time pragmático da Alemanha, masque era bom. Tinha Hölzenbein, Beckenbauer,

    Müller e Maier no gol, jogando em casa. Foium time muito bom da Alemanha que impediua consagração holandesa. Realmente eles

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    criaram o chamado carrossel, a rotação debola, a versatilidade. Tinha muita qualidade, oque define aquela seleção holandesa como umageração privilegiada. Oito jogadores do Ajaxforam tricampeões europeus – foi um time quechegou quase pronto à Copa. Depois os própriosholandeses nunca mais repetiram isso e ninguémconseguiu imitá-los.

    Em 1978, a Argentina foi campeã, o que nãoteve nada de novidade. Veio com um futebolofensivo do Menotti, um 4x3x3 com trêsatacantes, jogando em casa, com o apoio datorcida. Um apoio ensandecido da torcida – euestive nesta Copa, nossa! Aquele jogo do Perudava medo mesmo. Muita gente disse que eles sevenderam, mas foi medo mesmo de não morrerlá. Imagina, o jogo foi em Rosário, a gente ficouem Rosário. Ouvia-se aquele povo enfurecido:Argentina, Argentina! Dava medo mesmo, euficava arrepiado. Era época da ditadura militare eles não tinham como se extravasar, então, eraatravés do futebol, e era ponto de honra para o

    governo argentino que eles ganhassem a Copa,que ganharam com o 4x3x3. Era um time bom.

    Em 1982, o Brasil foi realmente o grande time daCopa, e saiu por causa de um time pragmáticotambém. A Itália ganhou da Alemanha na finale foi campeã. O Brasil tinha um time baseadonas individualidades, não era um time baseadono conjunto. O que encantou o mundo foram asindividualidades: o Sócrates, o Falcão, o Zico eo Cerezo. Mas o time não tinha a consistênciade um time e na hora de defender não era

    tão eficiente. Encantava, evidentemente, pelaqualidade individual desses jogadores e foi umtime que marcou a Copa. Mas a Itália fez umjogo impecável contra nós. Eu vi este jogo, euestava lá. Foi uma pena, porque o nosso timeera o melhor da Copa, era o que jogava maisbonito. Mas nesse jogo nós pecamos, e em Copado Mundo você não pode errar.

    Em 1994, qual foi o grande mérito daquelaseleção? Nós não ganhávamos há 24 anos, havia

    uma pressão muito grande, então, começamosa nos questionar: o melhor futebol do mundonão ganha há 24 anos, não chega nem à final?Chegamos à conclusão que tinha de ser erro zero

    e eficiência máxima e botamos isso na cabeçados jogadores. Aquelas palestras de motivaçãovisavam exatamente isso: Copa do Mundo não éum campeonato, é uma competição curta; quemerrar, volta para casa. Você só pode perder na1ª fase. A partir da 8ª são quatro jogos de risco;quem perde, vai embora.

    Nessa Copa, alguns jogadores sobressaíram deuma maneira incrível. O Aldair fez uma Copado Mundo perfeita. Como o Taffarel e o MárcioSantos, que não era nem titular e jogou bemtodos os jogos. Também o Mauro Silva. Eramtalentos e funções diferenciadas, mas com umobjetivo comum. O Mauro só defendia; o Dungadefendia e organizava; o Zinho organizava edefendia; o Romário e o Bebeto faziam gols. Épreciso abordar isso tudo, é a química. Isso servepara tudo na vida – no namoro, no casamento,no trabalho, se não tiver a tal da química... E essaquímica não se explica, é um olhar, é um gesto.Futebol é a mesma coisa, tem lá 11 jogadores,se tirar um, destrói-se tudo. É incrível! Muda-se

    uma coisinha, um jogador de lado, uma tática, ese destrói tudo. Difícil você atingir essa química;quando se atinge, é o momento da realização.

    O trabalho do treinador da seleção é fazer essamoldagem, pegar esses talentos diferenciadose fazer com que eles atuem como uma equipe,esse é o grande desafio. E do técnico da seleção,principalmente, no Brasil, é fazer com que ojogador jogue sem a bola. A hora que a genteaprende a jogar sem a bola, a gente está com amão na taça. Não é só defender e ser defensivo,

    é aprender a se defender também. Porque atacara gente sabe e fazer gol, a gente vai fazer sempre.

    COMO VÊ O ESTADO DAINFRAESTRUTURA BRASILEIRA NOCONTEXTO DA COPA?

    >> Nessa parte de infraestrutura do futebol,nós sempre perderemos para os paísesdesenvolvidos, porque a nossa é muito precária.Mesmo com essa reforma. Atualmente,

    faltando um ano para a Copa, o Rio de Janeiro não tem centro de treinamento paraatender às equipes que vêm de fora. Na Áfricado Sul e na Alemanha, há oito, dez centros

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    de treinamento em cada cidade, centros detreinamento específicos para treinamento defutebol. Aqui vão preparar o São Januário, oEngenhão, os estádios de futebol. Isso por quenão há centros de treinamento. É uma pena,porque isso seria um legado que ficaria parao futuro.

    Os estádios ficarão prontos, mas a Copa nãoé só estádio. A Copa é também mobilidadeurbana, são os aeroportos. Quando aconteceude o Brasil ter sido indicado, fiquei feliz porqueteríamos aeroportos modernizados, melhores,novos, mais mobilidade urbana e melhoraresestradas. O Carlos Heitor Cony escreveu umartigo maravilhoso na revista Veja há algumtempo atrás. Digamos que os aeroportosfiquem prontos, reestruturados, reformados,novos. Mas, quando se sai do aeroporto, ondese está? Em Londres ou Paris, se você quer irpara o centro, você escolhe se vai de metrô, deônibus, de táxi, de carro ou de trem. Aqui nãohá opção. Ao sair do Galeão, há aquele táxi

    velho, que para no trânsito. Digamos que seresolva o problema do transporte a partir dosaeroportos, mas haverá ainda essas estradas...Há um encadeamento complicado.

    Quanto à mobilidade urbana, eu já perdi aesperança, porque não foi construído nenhumaeroporto novo, não começaram a reformade nenhum até agora. Nós fomos indicadoshá sete anos. Quando eu cheguei à África doSul, no final de 2006, já estavam reformandoo aeroporto de Johanesburgo, que era um

    aeroporto bom, mas que ficou muito melhor.O que teremos de bom serão os estádios, masCopa não é só estádio, é o entorno do estádio,a chegada, a mobilidade urbana. Estamosperdendo uma oportunidade única, menos maupara o Rio de Janeiro, considerando-se o restodo Brasil, porque para o Rio de Janeiro vêmas Olimpíadas em seguida, e a cidade vai sebeneficiar um pouco desse outro evento. Agora,fico pensando em qual vai ser o legado da Copapara as outras cidades-sede – e eu estive em

    algumas –, e vai ser praticamente nenhum.

    NOSSO OBJETIVO É EXA-

    TAMENTE ESTE: FORMAR

    UM TIME QUE TENHA

    UM PROPÓSITO BEM DE-

    FINIDO, FOCADO NUM

    ÚNICO OBJETIVO, QUE É

    GANHAR A COPA. DESDE

    O INÍCIO SABEMOS: NÃO

    HÁ PLANO B, TEMOS QUE

    GANHAR A COPA.

    O FATO DE SEDIAR A COPA FIFA 2014PODE DEIXAR QUAL LEGADO PARA OBRASIL E PARA O NOSSO FUTEBOL?

    >> É uma oportunidade única que se tem demostrar o seu país para o mundo. Não existeoutra maior; todo mundo vai estar aqui,a imprensa mundial vai estar toda aqui.Temos que mostrar o que temos de bom.

    O lado social, o lado cultural, as artes, amúsica, o artesanato, a culinária, tudo o quehouver para mostrar. É uma oportunidadeúnica! Então, o governo deve atentar paraisso. E essa propaganda corre praticamentede graça, é espontânea. Não podemosperder essa oportunidade. Espero que seesteja pensando nisso para criar festivais,shows, exposições sobre o Brasil. Acho queé necessário organizar tudo isso.

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    COMBINANDO O

    TALENTO DENTROE FORA DO CAMPO:TRANSFORMAÇÕES

    ECONÔMICAS E MUDANÇASESTRUTURAIS NO FUTEBOL

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    Carlos Geraldo Langoni é doutor em economia pela Universidade deChicago. Foi o presidente mais jovem da história do Banco Central.Atualmente é diretor do Centro de Economia Mundial da FGV epresidente da Projeta Consultoria Econômica, que fornece consultoriaestratégica para grandes corporações e publica o semanário semanalAide Memoire/Brazil Memo sobre aspectos centrais da economiabrasileira. É, ainda, presidente do Comitê Financeiro do Flamengo.

    Neste artigo, Carlos Langoni reflete sobre os impactos no futebolbrasileiro causados pelas transformações socioeconômicas recentes.Paralelamente, discute como a realização da Copa FIFA 2014 poderácontribuir para acelerar mudanças estruturais e n