Ficha Informativa 4 Sociedade

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MATERIAL DIDÁCTICO – FOLHA DE ROSTO VIVENDO JUNTOS: A SOCIEDADE O QUE A SOCIEDADE NOS OFERECE Para além do biológico e do cultural, outro factor que importa referir na constituição da personalidade humana é a sociedade onde se está inserido, como explicou Thomas Stearn Eliot: O termo cultura tem associações diferentes conforme temos em mente o desenvolvimento de um indivíduo, de um grupo ou classe ou de toda uma sociedade. É parte da minha tese que a cultura do indivíduo está dependente da cultura de um grupo ou classe, e que a cultura do grupo ou classe está dependente da cultura de toda a sociedade a que esse grupo ou classe pertence. Por isso, é a cultura da sociedade que é fundamental, e é o significado do termo «cultura» em relação a toda a sociedade que se devia examinar primeiro. Quando o termo «cultura» se aplica à manipulação de organismos inferiores - ao trabalho do bacteriologista ou do agricultor - o significado é bastante claro porque podemos obter unanimidade a respeito dos fins a serem atingidos, e podemos concordar quanto a tê-los atingidos ou não. Quando se aplica ao aperfeiçoamento do intelecto e espírito humanos, é menos provável que concordemos em relação ao que a cultura é. O termo em si, significando alguma coisa a que se deve conscientemente aspirar em assuntos humanos, não tem uma história longa. Como alguma coisa a ser alcançada com esforço deliberado, a «cultura» é relativamente inteligível quando nos preocupamos com o acto do indivíduo se autocultivar, indivíduo cuja cultura é vista contra o pano de fundo da cultura do grupo e da sociedade. A cultura do grupo tem Igualmente um significado definido em contraste com a cultura menos desenvolvida da massa da sociedade. A diferença entre as três aplicações do termo pode apreender-se melhor perguntando em relação ao indivíduo, ao grupo e à sociedade como um todo, em que medida o objectivo consciente de alcançar

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Sociedade;Grupos Sociais e Opinião Pública

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MATERIAL DIDÁCTICO – FOLHA DE ROSTO

VIVENDO JUNTOS: A SOCIEDADE

O QUE A SOCIEDADE NOS OFERECE

Para além do biológico e do cultural, outro factor que importa referir na constituição da personalidade humana é a sociedade onde se está inserido, como explicou Thomas Stearn Eliot:

O termo cultura tem associações diferentes conforme temos em mente o desenvolvimento de um indivíduo, de um grupo ou classe ou de toda uma sociedade. É parte da minha tese que a cultura do indivíduo está dependente da cultura de um grupo ou classe, e que a cultura do grupo ou classe está dependente da cultura de toda a sociedade a que esse grupo ou classe pertence. Por isso, é a cultura da sociedade que é fundamental, e é o significado do termo «cultura» em relação a toda a sociedade que se devia examinar primeiro. Quando o termo «cultura» se aplica à manipulação de organismos inferiores - ao trabalho do bacteriologista ou do agricultor - o significado é bastante claro porque podemos obter unanimidade a respeito dos fins a serem atingidos, e podemos concordar quanto a tê-los atingidos ou não. Quando se aplica ao aperfeiçoamento do intelecto e espírito humanos, é menos provável que concordemos em relação ao que a cultura é. O termo em si, significando alguma coisa a que se deve conscientemente aspirar em assuntos humanos, não tem uma história longa.

Como alguma coisa a ser alcançada com esforço deliberado, a «cultura» é relativamente inteligível quando nos preocupamos com o acto do indivíduo se autocultivar, indivíduo cuja cultura é vista contra o pano de fundo da cultura do grupo e da sociedade. A cultura do grupo tem Igualmente um significado definido em contraste com a cultura menos desenvolvida da massa da sociedade. A diferença entre as três aplicações do termo pode apreender-se melhor perguntando em relação ao indivíduo, ao grupo e à sociedade como um todo, em que medida o objectivo consciente de alcançar cultura tem algum significado. Podia evitar-se muita confusão se nos abstivéssemos de pôr diante do grupo o que pode ser objectivo apenas do indivíduo; e diante da sociedade como um todo o que pode ser objectivo apenas de um grupo.

O termo latino societas significa "associação amistosa com outros" e deriva de socius, "companheiro".No campo da Biologia, sociedade é um grupo de animais que vivem em conjunto, com algum tipo de

organização e divisão de tarefas. Em Economia, sociedade, ou associação, é um agrupamento de pessoas que realizam actividades privadas, sendo os seus membros denominados sócios.

Num sentido mais geral e aplicado aos grupos humanos, sociedade pode ser definida como um conjunto de pessoas que partilham propósitos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. Ou seja, sociedade é uma rede organizada de relacionamentos entre pessoas, quer seja uma família nuclear, quer seja a Organização das Nações Unidas.

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A única realidade social é um indivíduo, por Isso mesmo que ele é a única realidade. O conceito de sociedade é um puro conceito; o de humanidade uma simples ideia. Só o indivíduo vive, só o indivíduo pensa e sente. Só por metáfora ou em linguagem translata se pode aludir ao pensamento ou ao sentimento de uma colectividade. Dizer que Portugal pensa, ou que a humanidade sente é tão razoável como dizer que Portugal se penteia ou que a humanidade se assoa.

Ao longo da nossa vida, vamos pertencendo a diferentes grupos sociais, tais como a família, o clube de futebol, a escola, etc. São características definidoras de um grupo:

Interacção frequente O facto dos membros de um grupo interagirem com regularidade pode aumentar a atracção mútua, mas também pode ter o efeito contrário. Isoladamente, não chega a ser uma condição suficiente para a existência de um grupo.

Interdependência Num grupo existem pessoas muito diferentes entre si mas que dependem umas das outras.

Um objectivo comum O grupo congrega um conjunto de indivíduos que se junta para satisfazer um determinado objectivo, individual ou comum, que considera importante.

Consciência de grupo Só pode ser considerado grupo o conjunto de pessoas que tenha consciência de grupo.

Padrões ou normas de ou normas conduta

Num grupo, é necessário que existam certos padrões de conduta a que os membros obedecem.

Entre as funções do grupo podemos citar:Pertença Possibilitam a inclusão numa rede interpessoal, permitindo o contacto

entre os seus membros e proporcionando, de forma regulada, diferentes tipos de relações: amizade, apoio, amorosa, económica,

Produtividade No interior de um grupo a produtividade aumenta, sendo possível atingir mais facilmente objectivos comuns e pessoais.

Suporte Perante períodos de crise, individual ou colectiva, os grupos ajudam a ultrapassá-las, partilhando recursos materiais ou emocionais.

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Influência Através do grupo, um indivíduo pode influenciar um grande número de pessoas.

Informação Através do grupo os indivíduos obtêm informações, experiências e novas ideias, sendo um espaço propício à aprendizagem.

Existem várias maneiras de classificar os grupos

Formas de organização das relações:Grupo Informal Quando as relações entre os membros não estão regulamentadas por

regras de carácter obrigatório.Grupo formal Quando as relações são definidas por regras, muitas vezes reforçadas por

sanções.

Diferenças entre os grupos a que pertencemos e os outros:Grupos de Referência Grupos exteriores ao nosso e que nos ajudam a orientar a nossa

conduta, que nos servem como referência.Grupos de Pertença Grupo ao qual os elementos sentem pertencer, comprometidos que

estão com os valores e metas do próprio grupo.

Dimensão:Restritos Grupos primários, centrados nas motivações afectivas, comunicação

directa e relações frequentes, informais e espontâneas.Alargados Grupos secundários, comunicação e interacções indirectas, relações

formais e pautadas pelos papéis desempenhados.

Distinção entre massa e grupo:Massa Os seus elementos juntam-se porque querem satisfazer

simultaneamente uma necessidade individual que surge em todos eles ao mesmo tempo; É muito individualista; Costuma existir muito pouca relação pessoal entre os vários elementos.

Grupo Quase sempre formado por pessoas semelhantes que se juntam pelo prazer de estarem juntas; Proporcionam uma sensacão de identidade social; Podem desenvolver condutas que os distingam dos outros grupos, como a quebra dos valores sociais.

Faça uma Lista dos diferentes grupos sociais a que pertence.

Sendo o grupo social composto por pessoas associadas em torno de um projecto comum, não raramente o termo é utilizado para significar o conjunto dos cidadãos de um país: a sociedade portuguesa, por exemplo. Mas pode igualmente abarcar indivíduos de diferentes nações, unidos por ideias, religião, valores ou objectivos comuns: sociedade cristã, democrática, ...Os portugueses e os outros

Numa escola básica de Lisboa pretendeu-se constituir uma escolinha de futebol, para canalizar energias, motivações e talentos de um grupo de alunos, entre os 8 e os 10 anos. Porém, várias dessas crianças foram excluídas da equipa, pelo simples e inabalável facto de não serem portuguesas - muito embora tenham nascido em Portugal e não conheçam outro país a que possam chamar seu. Agora,

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enquanto os colegas têm lições de futebol, estes meninos ficam de parte, a olhar - ou seja, a criar inveja, frustração, ressentimento. Não têm o direito de fazer parte do jogo. Será de estranhar que, daqui a uns anos - poucos, provavelmente - estes excluídos engrossem as estatísticas da delinquência?

Na mesma semana em que o Presidente Jorge Sampaio andou a auscultar o envelhecimento do país, encontrei dezenas de crianças e jovens que Portugal se recusa a reconhecer como portugueses. Mas a força desta realidade, tão escandalosa como promissora, e afogada pelo tom invariavelmente soturno e alarmista das múltiplas reportagens e notícias sobre o aumento dos velhos em Portugal - multas delas, feitas certamente por Jovens, chegam a considerar «trágica» a progressão de idade das pessoas. Interroguemo-nos, por um instante, com clareza: não será o aumento exponencial da esperança de vida um indicador de progresso e de melhoria na qualidade de vida?

Há poucas décadas as pessoas morriam com sessenta e poucos anos, agora sobrevivem, em média, até aos oitenta - e isso e trágico? A resposta imediata é que não tem havido renovação de gerações; por causa desse mau hábito que as mulheres adquiriram de privilegiar o seu projecto pessoal de vida em vez de parirem e pastorearem, a tempo-inteiro, rebanhos de bebés gordinhos. Claro que não é assim que se diz, hoje em dia repetem-se, até com maior desvergonha de alma, os preconceitos de há 50 anos - mas repetem-se com o papel de embrulho dos gráficos de crescimento, o papel-Bíblia da Nova Religião, que é a Economia. As mulheres têm que ter mais crianças, diz-se, para que a Segurança Social se aguente mais uns anitos e também [mas Isto já não se diz) para aliviarem os números crescentes do desemprego. Dos padrastos Estados Unidos ao orfãozinho Portugalinho, tem sido um fartar vilanagem de capas de revistas cantando loas aos paraísos da domesticidade infantil e exortando o mulherio a largar o agressivo mundo da competitividade masculina para regressar aos encantos gatinhados das fraldas, a bem do futuro radioso da humanidade. Pasmo que estes contos de fadas com cheiro a papa estragada - e sem qualquer suporte histórico ou sociológico - tenham tal impacto junto de mentes contemporâneas.

Oiço cada vez mais mulheres sussurrando que se sentem culpadas por não estarem tanto tempo quanto deviam com os queridos filhos ou os exaustos maridos. Oiço-as suspirarem contra os seus próprios sonhos, apertando, palavra a palavra, a mordaça floral, chilreante, beata, desistente, resignada, enfim - ai, o que isto me custa a escrever -, feminina. Por que é que ninguém lhes diz: abram os olhos, raparigas? Porque serão sempre domésticas as mães das pequenas Joanas ou as mães que um dia, num acesso de loucura, afogam um rancho de filhos?

Não há falta de crianças, não, nem excesso de velhos - esse é apenas a situação da parte mais confortável do mundo, aquela em que vivemos. Uma parte do mundo que estiola por causa do seu cobarde egoísmo como este, primário, de recusar a nacionalidade [Isto é, o sentimento de pertença) às crianças nascidas no seu solo. Da Lei da Nacionalidade que foi recentemente aprovada (e atravessa agora o período de definição final em comissão especializada) poderia diz-se que é um prodígio de hipocrisia se não fosse, antes disso, uma fórmula suicida – porque continua a alimentar gerações de excluídos. Segundo esta “nova” lei, apenas têm direito à nacionalidade portuguesa aqueles que se encontrem numa das três seguintes condições: a) nascidos em Portugal filhos de um progenitor que tenha já também nascido em Portugal - ou seja, netos dos que imigraram para Portugal; b] os filhos de pais estrangeiros que tiverem pelo menos seis anos de residência legal no pais; c] quando completarem os tais seis anos de legalização, os pais estrangeiros podem pedir a nacionalidade para um filho que tenha entretanto nascido. Argumentar-se-á que esta lei melhora em muito a anterior, já que acaba com a cláusula que afirmava ser necessário que o requerente comprovasse a sua ligação efectiva a sociedade portuguesa, o que favorecia todas as arbitrariedades. Mas melhorar timidamente é pouco, neste pais trôpego que se aflige com os velhos ao mesmo tempo que empurra para guetos o sangue novo que vem de outros continentes.

É tempo de percebermos que o discurso da "diferença" e de multiculturalidade não é mais do que um palavreado paternalista infinitamente demagógico que retira às pessoas esse direito fundamental,

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que é o da igualdade. É tempo de abandonarmos o discurso protector das “minorias étnicas” e entendermos que um cientista, um artista ou um filósofo negro devem ser ouvidos sobre as suas áreas de interesse e especialização e não só sobre o facto de... serem negros. Há pelo menos uma geração inteira de portugueses negros que são tratados como estrangeiros. Se sobreviverem à marginalidade e quiserem ir para a universidade, não têm bolsas nem apoios de ninguém: para Portugal, são estrangeiros, para os países dos seus pais são emigrantes sem retorno.As crianças que falam crioulo em casa têm direito a aprender o mesmo português, e com as mesmas exigências e expectativas, do que todas as outras - e têm o direito a preservar a sua língua parental, como qualquer norueguês. E se uma criança prefere aprender inglês e informática em vez de crioulo ou gastronomia africana, deve ter esse direito - porém, em certas escolas, pressionam-se os meninos, em nome da "preservação das raízes. Creio que nem todos os portugueses gostam de ser definidos como uma minoria étnica que come bacalhau, ouve fado, usa bigode ou sal à rua de xaile.

Ao longo da vida, cada um de nós aprende e interioriza os elementos socioculturais do meio em que nasce e cresce, integrando-os na estrutura da sua personalidade. A este processo chamamos socialização, onde o indivíduo, como membro de um determinado grupo social, aprende os seus códigos, normas e regras de relacionamento, apropriando-se de um conjunto de conhecimentos já anteriormente acumulado e sistematizado. Existem normas culturais, ou seja, o que foi transmitido e estabelecido, que obrigam os membros da sociedade a comportarem-se de uma determinada maneira. Elas limitam a liberdade de escolha levando o indivíduo a conformar-se ou revoltar-se.

O comportamento em sociedade pode ser dividido em três níveis:

Comportamento Ideal Aquele que se tem quando sabemos que alguém nos está a observar - por exemplo, quando um grupo de alunos está a ser vigiado por um professor.

Comportamento Real O comportamento que as pessoas efectivamente têm – por exemplo, o mesmo grupo de alunos é deixado sem a presença de um professor.

Comportamento Reconhecido O comportamento que as pessoas acreditam de facto ter, mesmo que ta[ não se verifique na realidade.

Quando uma determinada norma torna-se estável e constante, assumindo-se como parte importante das relações sociais, temos uma instituição. Assim, um comportamento ideal deve estar em conformidade com as normas e com as instituições.

A combinação de todas as instituições forma a organização social, ou seja, a forma como o sistema e os valores culturais das instituições se encontram unidos. Esta é a ordem social.

Ao falarmos em normas fica-nos a ideia de algo imposto, que exige vigilância para ser cumprida, como o código de estrada ou o regulamento interno da escola. Ao contrário, a maior parte das regras existentes numa sociedade são obedecidas sem nos darmos conta delas, como se fosse algo natural e não um produto da acção humana. Basta, por exemplo, observarmos um livro antigo sobre boas maneiras para percebermos que muito do que hoje fazemos quase sem pensar exigiu um longo processo de adaptação e aprendizagem social.

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No século XVI, Erasmo de Roterdão publicou um tratado intitulado De civilitate morum puerilium, onde descrevia as regras do viver em sociedade, tais como:

Mergulhar os dedos no molho é coisa de camponês. Pegue-se aquilo que se quer com faca e garfo e não se escolha no prato todo, como costumam fazer os glutões, antes se tome aquilo que acontece estar diante de cada um.

Reter a urina é prejudicial à saúde, retirar-se para a expelir é sinal de discrição. Há alguns que recomendam que o rapaz deve reter os gases, comprimindo o ventre. Mas não é curial contrair uma doença pretendendo parecer-se urbano. Se for possível à pessoa retirar-se, faca isso estando-se só. Se não, proceda-se de acordo com o vestutíssimo provérbio: dissimule-se o ruído com uma tossidela.

Assoar-se ao barrete ou às vestes é rústico, fazê-lo com o braço ou o cotovelo é próprio dos mercadores de peixe e também não é muito mais civil fazê-lo com a mão, se logo a seguir a esfregares nas vestes para limpar o muco. 0 que é decente é limpar o nariz com uma fita, virando-se um pouco para o lado, se estiverem presentes pessoas de mais dignidade.

Cospe para o lado, para não atingires ninguém. Se for lançado para o chão algo de mais purulento, esmaga-o com o pé, para que não provoque nojo a ninguém. Se tal não te é permitido, cospe para o lenço. Não é urbano reabsorver a saliva, como o não é aquilo que vemos em alguns, que cospem a cada três palavras, não por necessidade, mas por hábito.

Quando te despires, quando te levantares, lembra-te do recato e toma cuidado em não expor aos olhos dos outros aquilo que a moralidade e a Natureza exigem que esteja coberto.

O respeitar ou não às normas resulta em sanção social. Uma sanção pode ser positiva ou negativa. A sociedade tanto pode considerar um comportamento prestigioso como ridículo, conceder uma medalha ou proferir uma ordem de prisão.

Mulher fatal

Ana Augusta Plácido é a «amante querida» de Camilo a sua mulher fatal, a quem este atribui o criptónimo de Raquel. Nasceu em 1831 e, apenas com dezanove anos de idade, consorciou-se com o capitalista Manuel Pinheiro Alves, de quarenta e três anos. Filha de António José Plácido Braga e de Ana Augusta Vieira, em 1856 enamorou-se de Camilo Castelo Branco. Uma paixão que lhe trouxe problemas a tal ponto que o marido enganado a colocou no Convento da Conceição, de Braga. Consta-se que Manuel Plácido, filho de Ana e - legalmente - do capitalista, tenha Camilo como progenitor Manuel Plácido nasceu em 1858, altura em que Ana Plácido afirmava ao marido amar Camilo e ser este o único homem capaz de fazê-la feliz. Desesperado com a insistência de Ana em permanecer na companhia do amante, Pinheiro Alves instaurou um processo de adultério em 1860.

Como resultado, Ana foi presa a 6 de Junho na Cadela da Relação do Porto, entregando-se o amante a 1 de Outubro. A absolvição dos réus data de 16 de Outubro de 1861. O casal Instala-se em Lisboa, mas separasse por razoes financeiras. Em 1863 estão juntos de novo, nascendo o filho de ambos Jorge Camilo Castelo Branco. Com a morte de Manuel Pinheiro Alves é Ana quem administra a fortuna que o seu filho Manuel herdou do pai legal. Assim, a família muda-se, primeiro, para o Porto - depois, para a quinta de São Miguel de Ceide, pertença do falecido. onde nasce o último filho do casal, Nuno Plácido Castelo Branco. Na relação de Camilo e Ana foi esta a que se empenhou mais. Ana Plácido dedicou-se à literatura, influenciada por Camilo. Colaborou em

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diversas publicações, fez traduções, ajudou Camilo em alguns textos e dedicou-se, também, à poesia. No decurso da sua carreira literária assinou algumas vezes com pseudónimos. Ana ainda assistiu à morte de Camilo, morrendo depois, em 1895.

Depois da fase mística, regressei à desobediência crónica. Recusava-me a fazer ginástica com a indumentária que o colégio arranjara, recusava-me a ir à capela, recusava--me a responder a qualquer tipo de perguntas. Não contente com isto, escondia-me no vestiário durante os tempos lectivos, não fazia trabalhos de casa, fingia adormecer em cima das carteiras e, mais grave, não respondia à Madre Superiora quando, tendo esta mandado chamar-me, me interrogava sobre a causa de tais comportamentos. Pouco me 'importavam as condecorações, prometidas a quem, além de catorze valores nas disciplinas académicas, tivesse «bom» em «Comportamento». Considerava todas as matérias abjectas e todas as professoras ignorantes. Sabia que podia ser expulsa - já fora suspensa por mais de uma vez, mas suspeitava, com razão, que a influência da minha mãe junto dos meios eclesiásticos era mais do que suficiente para que as freiras vergassem. Um dia, depositei as armas. Outros dias virão, pensei.

Fazer qualquer coisa ao contrário do que todos fazem é quase tão mau como fazer qualquer coisa porque todos a fazem. Mostra uma igual preocupação com os outros, uma igual consulta da opinião deles - característica certa da inferioridade absoluta. Abomino por isso a gente como Oscar Wilde e outros que se preocupam com seres imorais ou infames, e com o impingir paradoxos e opiniões delirantes. Nenhum homem superior desce até dar à opinião alheia tal Importância que se preocupe em contradizê-la.

Para o homem superior não há outros. Ele é o outro de si próprio. Se quer imitar alguém, é a si próprio que procura imitar. Se quer contradizer alguém, é a si mesmo que busca contradizer Procura ferir-se, a si próprio, no que de mais íntimo tem... faz partidas às suas próprias opiniões, tem longas conversas cheias de desprezo e com as sensações que sente. Todo o homem que há sou Eu. Toda a sociedade está dentro de mim. Eu sou os meus melhores amigos e os meus verdadeiros inimigos. O resto - o que está lá fora - desde as planícies e os montes até às gentes - tudo isso não é senão paisagem...

Pesquise exemplos, na comunicação social, de sanções positivas ou negativas.

Ao conjunto de influências exercidas sobre os indivíduos ou grupos com o propósito de seguir uma determinada conduta chamamos pressão social.

Pressão social afecta casais inférteis na cidade-berço da Nação

Como é viver a infertilidade num meio em que a pressão social é grande para o casamento e para o primeiro filho? Guimarães foi escolhido como um "tubo de ensaio" para caracterizar um problema médico que afecta cada vez mais as sociedades ocidentais, mas que é influenciado por factores socioculturais. E o projecto cuja ideia era ir além da componente clínica - identificou Já uma grande falta de apoio psicológico.

Porquê Guimarães? É um concelho, localizado no Norte de Portugal, com algumas particularidades, explicam as investigadoras da Universidade do Minho, a geógrafa Paula Remoaldo (responsável pelo projecto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia) e a socióloga Helena Machado. "Tem um crescimento populacional elevado, o dobro do que foi o crescimento da população do País entre os censos de 1991 e 2001. Tem também uma População jovem, com um

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dos índices de envelhecimento mais baixos do País", adiantam ainda. A taxa de natalidade é, por isso, também maior nesta zona.

Guimarães é ainda um concelho altamente industrializado e tem, a nível do tecido económico, algumas empresas cuja área de actividade está associada a uma maior expressão de infertilidade por causas ambientais. Ou seja, os profissionais das indústrias aí localizadas enfrentam maior risco devido à exposição a produtos tóxicos, como, por exemplo, os tintureiros.

Por outro lado, explica Helena Machado, "pensámos que a pressão social sobre um Jovem casal para engravidar seria muito grande aqui, porque a estrutura familiar tradicional está muito presente". Em meios mais urbanos, o fenómeno da pressão social ou da família estará mais diluído, mas no concelho a realidade está presente, o que foi confirmado posteriormente pelos casais nas entrevistas efectuadas.

Num caso em que o factor da infertilidade era exactamente masculino, uma mulher contou que ouviu, por exemplo, a sogra dizer ao filho para "tratar de arranjar outra mulher", porque ela queria ser avó.

As investigadoras identificaram nos casais uma grande dificuldade em partilhar a infertilidade. Muitos preferiam dizer que não tinham filhos por vontade própria, o que originava alguma discriminação por parte de amigos ou colegas profissionais. Mas, curiosamente, quem assumia o problema recebia apoio familiar. Uma das maiores surpresas da investigação foi ainda "o sofrimento do casal, que é muito mais forte do que pensávamos", diz Paula Remoaldo. Datas como o Natal, o Dia do Pai ou o Dia da Mãe foram identificadas pelos casais inférteis como sendo momentos particularmente difíceis, porque " não têm ninguém para contribuir para a alegria geral da família".

Outra questão levantada pela investigação diz respeito ao impacto da infertilidade sobre a vida do casal. E na maioria dos casos "reforçou a união, sendo que foram muito poucos os que pensaram separar-se ". Uma grande maioria encarava a hipótese de se conformar com a impossibilidade de ter filhos, mas dez casais admitiam a hipótese da adopção.

A maior dificuldade que as pessoas inférteis apresentaram durante a investigação diz respeito à falta de apoio psicológico. "Os casais sentiram-se desamparados. O contacto com a equipa clínica termina, muitas das vezes, no aborto ou na ausência de gravidez" e o apoio por parte do hospital é insuficiente, explica Helena Machado. Outro problema diz respeito aos elevados encargos financeiros necessários para tratar a infertilidade, nomeadamente com a medicação, apesar de parte do processo ser desenvolvida num hospital público.

Procure, na sua vida quotidiana, outras formas de pressão social a que esteja sujeito.

OPINIÃO PÚBLICA

Neste jogo de recompensa e punição, a opinião pública acaba por exercer uma forte influência no controlo dos comportamentos individuais,

Embora a frase "voz populi, vox Dei" seja do final da idade Média, foi só nos séculos XVII e XVIII que a expressão opinião pública passou a fazer parte da análise dos pensadores da época. Hobbes descreveu o mundo como sendo governado pela opinião, enquanto Locke abordou esta mesma opinião como uma das três categorias do direito. Blaise Pascal baptizou-a de "Rainha do Mundo", ao que Voltaire respondeu: "se a opinião é Rainha do Mundo, os filósofos governam a Rainha". Para Hume "é somente na opinião que o governo se fundamenta; e esta máxima estende-se aos governos mais despóticos e militaristas, tanto quanto aos mais livres e populares".

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Jean-Jacques Rousseau, no século XVIII, analisou o conceito de opinião pública - provavelmente foi o primeiro a usar a expressão l'opinion publique -, chamando ando a atenção para as suas virtudes mas igualmente para os seus perigos, principalmente quando esta mesma opinião virou-se contra a sua obra:

Quando me manifestei com tanto ardor contra a opinião, estava ainda sob o seu jugo, sem me aperceber. Queremos ser estimados pelas pessoas que estimamos e, enquanto pude julgar favoravelmente os homens, ou pelo menos certos homens, os Juízos que eles faziam a meu respeito não me podiam ser indiferentes. Via que os Juízos do público são multas vezes justos; mas não via que essa justiça resultava do acaso, que as regras sobre as quais os homens fundamentam as suas opiniões são extraídas apenas das suas paixões ou dos seus preconceitos, que provêm deles, e que, mesmo quando ajuízam bem, é frequente que esses bons juízos nasçam de um mau princípio, como acontece quando fingem honrar, a propósito de algum sucesso, o mérito de um homem, não por espírito de justiça, mas para se dar ares de imparcialidade, ao mesmo tempo que caluniam à vontade esse homem relativamente a outros pontos.

Quando, porém, após longas e vãs pesquisas, vi que todos eles, sem excepção, se mantinham dentro do sistema mais iníquo e absurdo que um espírito infernal pode inventar; quando vi que, a meu respeito, a razão fora banida de todas as cabeças e a justiça de todos os corações; quando vi uma geração frenética entregar-se totalmente à fúria cega dos seus guias contra um Infortunado que nunca fez, nem quis, causar mal a ninguém; quando, após ter em vão procurado um homem, fui obrigado a apagar a minha lanterna e a exclamar: já não os há; comecei então a ver-me sozinho na terra e compreendi que os meus contemporâneos eram, em relação a mim, nada mais do que seres mecânicos que não agiam senão levados pelo impulso e cuja acção eu só podia calcular pelas leis do movimento. Fosse qual fosse a intenção, a paixão que eu tivesse admitido existir nas suas almas, jamais teriam explicado a sua conduta para comigo, de forma que eu pudesse entender Foi por isso que as suas disposições interiores passaram a não significar nada para mim; passei a não ver neles mais do que massas que se movimentam de diferentes maneiras, desprovidas, a meu respeito, de qualquer moralidade.

Hegel e Schopenhauer, dois pensadores alemães contemporâneos, trataram a opinião pública da seguinte forma:

Ser independente da opinião pública é a primeira condição formal para realizar qualquer coisa grandiosa ou racional, tanto na vida como na ciência. Com o tempo este feito será seguramente reconhecido pela opinião pública, que na altura conveniente o transformará em mais um dos seus preconceitos.

Na realidade, o valor e a preocupação constante que atribuímos à opinião alheia ultrapassam, em regra, quase todo o objectivo ponderado, de modo que ela pode ser vista como uma espécie de mania generalizada ou, antes, 'inata.

Em tudo o que fazemos ou deixamos de fazer, levamos em consideração a opinião alheia quase antes de qualquer outra coisa, e se fizermos uma análise precisa veremos que dessa preocupação nasce praticamente a metade de todas as aflições e de todos os temores sentidos por nós. Pois a opinião alheia é a origem de todo o nosso amor próprio - muitas vezes magoado por ter uma sensibilidade doentia -, de todas as nossas vaidades e pretensões, bem como de nosso fausto e de nossa presunção.

Dessas discussões surgiram definições mais precisas dos termos, bem como tentativas de determinar o correcto papel da opinião pública na vida pública e privada.

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A última cimeira da União Europeia não só adiou o início do século constitucional para o ano de Cristo de 2009 como revelou uma subtil guerra conceptual entre cidadania e opinião pública. De novo apenas um texto co-assinado por alguns países recém-chegados ao clube, como a República Checa e a Polónia, que assim assinalam uma via de subalianças na União Europeia.

O adiamento de um novo tratado para as calendas francesas é uma delicada atenção para com o calendário eleitoral de Paris. Há um ano que a falsa constituição europeia está morta, embora só agora se cheire melhor a decomposição com a viragem do vento na Alemanha. Quem não se lembra da triste figura que alguns protagonistas políticos fizeram nessa altura pretendendo continuar com o progresso de ratificação de um diploma afogado no berço pela própria mãe convencional? Seguidores da estratégia de cerco a Paris através de novas ratificações, esses protagonistas pareciam apostar na bondade de um Tratado Constitucional feito à medida de outros. Mas esses outros também recuaram.

O Tratado Constitucional não resolvia um só dos problemas de cerca de vinte países europeus baralhados na aritmética da ponderação dos votos no Conselho de Ministros [um método legislativo realmente arqueológico, provindo da era glacial da Comunidade Económica Europeia), não atribuía nenhum poder substancial ao Parlamento Europeu e criava algumas figuras excêntricas num diploma daquela natureza [mesmo híbrida], como a de um ministro dos Negócios Estrangeiros da UE, enquanto a Política Externa e de Segurança Comum PESC) continuava a ser naturalmente matéria intergovernamental! Intitulava-se, abusivamente, de Constituição quando era um verdadeiro diploma de direito internacional e por aí se finou no processo de ratificação com os referendos em França e na Holanda, pois esses diplomas requerem a ratificação unânime dos Estados signatários.

As causas do fracasso do Tratado Constitucional foram logo escondidas. A questão do alargamento imperativo a dez países de uma assentada foi certamente a principal. O processo decisional desse alargamento foi uma verdadeira imposição externa que a opinião pública dos estados-membros ressentiu como tal e penalizou na primeira ocasião. Como o Tratado Constitucional era um "nada sonoro" semelhante ao da Santa Aliança, serviu às mil maravilhas para esse efeito. Os cidadãos franceses e holandeses mostraram-se a opinião pública.

Na cimeira franco-germânica de 6 de Junho, em Rheinsberg, Chirac e Merkel acordaram num calendário para a retoma de um projecto de novo tratado: tudo se iniciará com a presidência alemã no primeiro semestre de 2007, Portugal e a Eslovénia ajudam ao trabalho de casa, enquanto a França elege um novo presidente. Na véspera das eleições para o Parlamento Europeu, em 2009, alguma coisa se há-de apresentar às opiniões públicas dos países da UE. Foi este calendário que dez dias depois foi ratificado na cimeira dos 25. Os britânicos, por uma vez semânticos, intervieram sobre as condições prévias aos novos alargamentos.

Enquanto os franceses defendem agora que se deve fazer uma avaliação financeira e institucional e consultas à opinião pública antes dos novos alargamentos, Londres preferiu que constasse nas conclusões consultas sim, mas sobre a avaliação que os cidadãos façam. Nem Rousseau alguma vez imaginou que seriam os súbditos de Sua Majestade Britânica a invocar o conceito de cidadania para preencher o défice democrático na construção europeia!

É óbvio que estas decisões da Cimeira da UE são débeis e apenas demonstram a incapacidade, ou a falta de visão de futuro, dos actuais líderes europeus. Sem menosprezar as dificuldades reais desta fase política.

Desde logo porque os reais problemas não se resolvem por uma revisão retocada do defunto Tratado Constitucional. A haver novo tratado, este terá de encarar de frente a criação de uma nova

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Câmara que represente os Estados no processo legislativo da União, separando-o do Conselho de Ministros e alargando então as matérias aprovadas por maioria qualificada.

Até lá há que rever o papel do orçamento comunitário, a articulação entre o Ecofin e o Banco Central Europeu, a implementação da estratégia de Lisboa, a retomada de projectos e políticas comuns que restituem aos cidadãos e à opinião pública da Europa a confiança numa maior integração do continente. Dir-me-ão mas estes projectos não estão na ordem do dia! E eu respondo: mas hoje não há ordem do dia nas questões europeias. Como a última Cimeira demonstrou.

Após ter Lido este artigo, enumere as implicações da opinião pública na vida política nele apresentadas.

Toda a gente sabe o que significa a palavra «sociedade», ou pelo menos pensa sabê-lo. Uma geração passa esta palavra à próxima como se fosse uma moeda cujo valor se conhece e cujo conteúdo não é necessário verificar. Quando alguém diz «sociedade» e outra pessoa o ouve ambos se entendem sem qualquer problema.Mas será que nos entendemos mesmo?A «sociedade» - como toda a gente sabe - somos nós todos em conjunto, são muitos seres humanos juntos. Todavia, muitos homens juntos formam na índia e na China um outro tipo de sociedade que na Alemanha ou na Inglaterra; a sociedade formada por muitos seres humanos singulares na Europa do século XII era diferente da do século XVI ou do século XX. E embora todas essas sociedades não se componham e compõem de nada mais senão de muitos indivíduos, esta mudança de um modo de convivência para outro não terá sido obviamente planeada por nenhum destes indivíduos. Pelo menos não se consegue descobrir nenhum indício de que os homens do século XII ou mesmo do século XVI tivessem trabalhado consciente e planeadamente no sentido das sociedades dos nossos dias que se apresentam sob a forma de estados nacionais com muitos centros urbanos e altamente industrializados. Que configuração é esta, a «sociedade», que todos nós, conjuntamente, compomos e que, no entanto, nenhum de nós, nem mesmo todos em conjunto, a quisemos ou planeamos na forma sob a qual hoje existe, que só existe se houver muitos indivíduos e que só funciona se muitos seres humanos singulares quiserem e fizerem algo, e cuja estrutura, cujas grandes mudanças históricas não dependem, pelos vistos, da vontade de muitos indivíduos?

Discuta as alternativas de resposta à questão colocada pelo autor.

Para onde quer que se olhe, depara-se quase sempre com as mesmas antinomias: temos uma ideia de certo modo tradicional daquilo que nós próprios somos como indivíduos singulares. E temos igualmente uma ideia mais ou menos determinada daquilo a que nos referimos quando dizemos «sociedade». No entanto, estas duas ideias, a consciência que temos de nós enquanto sociedade e a outra enquanto indivíduos, nunca encaixam perfeitamente uma na outra. Ao mesmo tempo tomamos indubitavelmente mais ou menos consciência de que na realidade não existe tal fosso entre os indivíduos e a sociedade. Toda e qualquer sociedade humana se constitui de indivíduos singulares, assim como todo e qualquer indivíduo humano apenas se torna humano quando aprende a agir, a falar e a sentir em companhia de outros. A sociedade sem os indivíduos, o indivíduo sem a sociedade é um absurdo. Mas quando tentamos reconstruir mentalmente o que na realidade todos os dias vivemos apresentam-se-nos sempre, em analogia com um puzzle cujas peças não parecem querer juntar-se para formar um todo, ou dum lado ou do outro, rupturas e

lacunas nas nossas cadelas de pensamento.

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Aquilo de que carecemos - e é bom que disso tomemos consciência - são modelos de pensamento e, além disso, uma visão global com cuja ajuda as nossas ideias dos seres humanos enquanto indivíduos e dos seres humanos enquanto sociedades possam encontrar uma melhor harmonia. Não somos, ao que parece, capazes de nos explicarmos a nós próprios como é possível que cada ser humano seja algo de singular, diferente de todos os outros, um ser que sente de determinada maneira o que para além dele mais ninguém sente, que vive o que nenhum outro ser humano vive, que faz o que nenhum outro ser humano faz, um ser por si mesmo e, em simultâneo, igualmente um ser para os outros e entre outros com quem em conjunto forma sociedades de estruturas mutáveis cuja história não depende nem de nenhum dos seres humanos que a formam nem de todos em conjunto, e que, sob a forma como de facto decorre ao longo dos séculos, não fora nem Intencionada, nem tida como fim nem tão-pouco causada com vista a atingir um determinado objectivo e sem a qual o ser humano singular não seria capaz de sobreviver enquanto criança, nem de falar, de pensar, de amar, nem de aprender a comportar-se como um ser humano.

Explique, por palavras suas, a forma como o autor aborda a diferença entre indivíduos e sociedade.