FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 21_Livro... · originais é feita até 31 de Maio ou 30 de...

137

Transcript of FICHA TÉCNICA - pacadnetwork.com 21_Livro... · originais é feita até 31 de Maio ou 30 de...

FICHA TÉCNICA

Territórios da Pré-História em PortugalInterior Centro / Central inlandVol. 3

Autor: António Carlos Valera*

Tradução para a versão inglesa:Maria Empis

Revisão da Tradução: Álvaro Figueiredo

Propriedade: CEIPHAR – Centro Europeu de Investigaçãoda Pré-História do Alto Ribatejo

Direcção da Colecção: “Territórios da Pré-História em Portugal”:Luiz OosterbeekARKEOS – perspectivas em diálogo, nº 21

Coordenação da série ARKEOS:Ana Cruz e Luiz Oosterbeek© 2006, CEIPHAR e autores

Foto na capa: “Estátua-Menir” de Monte de S. Martinho“Statue-Menir” from Monte de S. Martinho(Foto/Photo: Raquel Vilaça)

Composição: CEIPHAR

Fotorreprodução, fotomontagem,CANDEIAS ARTES GRÁFICASimpressão e acabamento:Rua Conselheiro Lobato, 179 · 4705-089 Braga

Tel. 253 272 967 · Fax 253 612 [email protected] · www.litografiaac.pt

O presente volume é editado no âmbito doXV Congresso da União Internacionaldas Ciências Pré-Históricas e Proto-Históricas.

Publicação aceite para integração na plataforma SciELO(Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior)

* Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres;Director do Departamento Técnico da ERA Arqueologia S. A.([email protected])

Tiragem: 500 exemplares

Depósito legal: 108 463 / 97

ISSN: 0873-593X

Tomar, Setembro de 2006

ARKEOS é uma série monográfica, com edição de pelo menosum volume por ano, editada pelo Centro Europeu de Investi-gação da Pré-História do Alto Ribatejo, que visa a divulgaçãode trabalhos de investigação em curso ou finalizados, em Pré--História, Arqueologia e Gestão do Património. A recepção deoriginais é feita até 31 de Maio ou 30 de Novembro de cadaano, devendo os textos ser enviados em suporte digital, inclu-indo título, resumo e palavras-chave no idioma do texto doartigo, em inglês e em português. Os trabalhos deverão estarintegrados na temática do volume em preparação e serão sub-metidos ao conselho de leitores. A aprovação ou rejeição decontribuições será comunicada no prazo de 90 dias.

Solicitamos permutaOn prie l’échangeExchange wantedTauschverkehr erwunschtSollicitiamo scambio

Contactar: CEIPHARCentro de Pré-História do Instituto Politécnico de TomarEstrada da Serra, 2300 TOMAR, Portugal

Territórios da Pré-História em PortugalDir. Luiz Oosterbeek

3Do Neolítico Inicial ao Final da

Idade do Bronze no Interior Centrode Portugal

From the Early Neolithic to the lateBronze Age in inner Central Portugal

António Carlos Valera

Edição apoiada pelaComissão Europeia

Tomar2006

5

Plano da colecção / Plan of the collection

VOL. 1 | Território, territórios e perspectivas // Territory, territories and perspectives

L. Oosterbeek

VOL. 2 | Norte / NorthFrancisco Sande Lemos, col. Ana Bettencourt,

José Meireles Baptista, Maria de Jesus Sanches

VOL. 3 | Interior Centro / Central inland (ARKEOS 21)António Valera

VOL. 4 | Beira litoralRaquel Vilaça, João Pedro Ribeiro

VOL. 5 | Alto Ribatejo e Vale do Tejo // Northern Ribatejo and Tagus valley

L. Oosterbeek

VOL. 6 | Lisboa e Estremadura / Lisbon and Estremadura (ARKEOS 20)João Luís Cardoso, Luís Raposo

VOL. 7 | Setúbal e Alentejo Litoral / Setúbal and coastal Alentejo(ARKEOS 19)

Carlos Tavares da Silva, Joaquina Soares

VOL. 8 | Alentejo (ARKEOS 18)Manuel Calado

VOL. 9 | Algarve (ARKEOS 17)Nuno Bicho

6

Nota prévia

A investigação pré-histórica e proto-histórica em Portugal, nos últimos30 anos, alterou profundamente o quadro com que podia ser então percepcionada.O número e a qualidade dos projectos e equipas reforçou-se de forma signifi-cativa, e hoje o território português é palco de muitas, e não totalmente coin-cidentes, leituras do passado. Por ocasião do XV Congresso da UISPP, oCEIPHAR decidiu promover a edição de um conjunto de pequenos livros sobrea Pré-História e a Proto-História do território Português. Pretende-se, com estaedição, divulgar a investigação mais recente, oferecendo um conjunto de qua-dros interpretativos. A colecção assume que a Pré-História é uma construçãoque, unida pela convergência metodológica, se faz com diversos sentidosinterpretativos. Assim, os diversos volumes são obras de autores, com perspec-tivas teóricas distintas, o que ilustra a pluralidade do pensamento arqueológicoem Portugal.

Os textos focam as principais temáticas, do Paleolítico à Idade do Ferro,destacando sítios visitáveis e/ou essenciais para a compreensão das ocupações.São textos acessíveis a um público não especializado, mas apoiado em remis-sivas bibliográficas, que contextualizam os locais e problemáticas. Procurou-seevitar o modelo de “manual de Pré-História”, mas também a simples colecta deartigos de reflexão. As abundantes ilustrações, fotografias, desenhos e mapas,apoiam o leitor no acesso a este conjunto de perspectivas de leitura. Acompa-nhando os textos de síntese sobre cada região, os volumes incluem diversas“fichas de sítio” (exclusivamente de sítios visitáveis, salvo raras excepçõesincontornáveis pela sua relevância).

A colecção inclui nove volumes: Introdução geral aos territórios e proble-máticas, Norte, Centro Interior, Beira Litoral, Alto Ribatejo e Vale do Tejo,Lisboa e Estremadura, Setúbal e Alentejo Litoral, Alentejo interior, Algarve.Os territórios abrangidos pelos diversos volumes sobrepõem-se parcialmente,necessidade inevitável no processo de adequação de interpretações dos territó-rios da Pré-História a fronteiras actuais. A delimitação dos volumes obedeceua critérios geográficos, associados à estrutura da investigação.

Luiz Oosterbeek, Julho de 2006

7

Foreword

Prehistoric and Protohistoric research in Portugal, in the last 30 years,hás deeply changed the framework from which it could, by then, be perceived.The number and quality of the projects and research teams has been significantlyreinforced, and the Portuguese territory is, currently, the stage for various, nottotally coinciding, readings of the past. In the occasion of the XV IUPPSCongress, CEIPHAR decided to promote the publication of a collection ofsmall books on the Prehistory and Protohistory of the Portuguese territory. Oneaims, withthis publication, to make the most recent research available, offeringa set of interpreting frameworks. The collection builds from the opinion thatPrehistory is a construct which, united through methodological convergence, isbuilt with different interpretation orientations. Hence, the various volumes arethe work of authors, with different theorectical perspectives, this contributingto illustrate the plurality of archaeological thought in Portugal.

The texts focus on the main thematics, from Palaeolithic to the Iron age,with particular attention to visitable or key sites for the interpretation of thehuman occupations. The texts are meant to be accessible for a non specialisedaudience, but endorsed by bibliographic references that contextualise placesand problems. One has tried to avoid the model of “Prehistory manual” or ofmere collection of papers. The abundant illustrations, photos, drawings andmaps, help the reader in the access to this ensemble of reading perspectives.Along with the synthesis on each region, the volumes include “site files”(visitable sites alone, except for rare most relevant although inaccessibleexceptions).

The collection includes nine volumes: General introduction to the territoriesand problems, North, Central inland, Beira litoral, Northern Ribatejo and Tagusvalley, Lisbon and Estremadura, Setúbal and coastal Alentejo, Alentejo, Algarve.The territories covered by the various volumes partially overlap, an unavoidableneed once adequating the interpretation of Prehistoric territories to presentfrontiers. The limits of each volume have been established according togeographic criteria, associated to the structure of research.

Luiz Oosterbeek, July 2006

8

ÍNDICE

1. O território: caracterização genérica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2. Breve história da investigação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

3. A Neolitização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

4. Origem e apogeu do megalitismo(finais do 5º – inícios do 3º milénio AC). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

5. O Povoamento Calcolítico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

6. Idade do Bronze(último quartel do 3º – 2º quartel do 1º milénio AC). . . . . . . . . . . . . 27

7. Fichas de sítios

- Buraco da Moura de S. Romão (Seia). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

- Dólmen de Areita (S. João da Pesqueira). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

- Dólmen de Antelas (Oliveira de Frades). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

- Dólmen de Cortiçô (Fornos de Algodres). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

- Ameal-VI (Carregal do Sal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

- Castro de Santiago (Fornos de Algodres). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

- Fraga da Pena (Fornos de Algodres). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

- Monte de S. Martinho (Castelo Branco). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

- Nossa Senhora da Guia (Baiões). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

- Sabugal Velho (Sabugal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

- Arte Rupestre da Serra do Açor/Serra da Estrela. . . . . . . . . . . . . . . 128

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

9

INDEX

1. The territory: general characterisation. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

2. A Brief history of research. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

3. The Neolithisation. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

4. Origins and Apogee of megalithism(late 5th – early 3rd millennium BC). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

5. The Chalcolithic settlement. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

6. The Bronze Age (late quarter of the 3rd – second quaterof the 1st millennium BC). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

7. Sites files

- Buraco da Moura de S. Romão (Seia). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

- Dólmen de Areita (S. João da Pesqueira). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

- Dólmen de Antelas (Oliveira de Frades). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

- Dólmen de Cortiçô (Fornos de Algodres). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

- Ameal-VI (Carregal do Sal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

- Castro de Santiago (Fornos de Algodres). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

- Fraga da Pena (Fornos de Algodres). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

- Monte de S. Martinho (Castelo Branco). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

- Nossa Senhora da Guia (Baiões). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

- Sabugal Velho (Sabugal). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122

- Rock Art of Serra do Açor/Serra da Estrela. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

Bibliography . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

11

1. O TERRITÓRIO: CARACTERIZAÇÃO GENÉRICA

O território a que se reporta este volume abrange genericamente asregiões do centro interior de Portugal, concretamente a Beira Alta eBeira Interior, de onde se exclui, por razões de organização da colecção,a bacia do médio e baixo Côa, a Norte, e as áreas do vale do médio Tejo(Tejo Internacional), a Sul (Fig. 1).

No que respeita à Beira Alta, e do ponto de vista geomorfológico,a região corresponde a um compartimento em forma de trapézio, balan-ceado para Sudoeste, delimitado a Leste pelo eixo montanhoso das serrasde Pisco, Lapa e Leomil (ou, em alternativa, pelo vale do rio Távora), aSul / Sudeste pela Cordilheira Central (sequência das serras da Lousã,Açor e Estrela), a Sudoeste pelo Luso-Buçaco e a Oeste pelas designadasMontanhas Ocidentais (Maciço Marginal), constituídas, de Sul para Nor-te, pelas serras do Caramulo, Maciço da Gralheira (serras de Arestal,Freita e Arada) e Montemuro, que separam a região da plataforma litoral.

A uma escala generalizante, é constituída por duas grandes unida-des geomorfológicas: os Planaltos Centrais da Nave, a Norte, e a Pla-taforma abatida do Mondego a Sul, cuja história geomorfológica émarcada pelos dois grandes acidentes tectónicos de orientação NNE –SSO, que condicionaram toda a evolução da região.

Neste espaço, a rede hidrográfica de drenagem, que se apresentabastante densa, revela uma adaptação à rede de fracturas tectónicas, quea condiciona de forma particularmente nítida. Esta situação é denuncia-da na Plataforma do Mondego pelo vigoroso encaixe de rios e ribeirase pela rigidez e paralelismo, quer dos principais cursos de água(Mondego, Dão), quer dos seus afluentes. Seguindo a orientação impos-ta pela rede de fracturas e pelo balanceamento das superfícies deaplanamento, a rede hidrográfica apresenta a orientação preferencialNNE-SSO, reunindo-se os principais rios junto ao ponto de culminaçãoprincipal, imediatamente antes de atravessar o estreito entre as serras doBuçaco e Bidoeiro (não longe de Coimbra), que, a Sudoeste, abre pas-sagem para a plataforma litoral.

12

Escapando a esta orientação geral que caracteriza a bacia hidro-gráfica da Plataforma do Mondego, os principais rios do Planalto daNave (Vouga e Paiva) correm no sentido geral E-W, contrariando ainclinação daquela superfície, para se encaixarem nas montanhas ociden-tais de topografia mais elevada. Esta dissonância parece corresponder,uma vez mais, a uma adaptação a especificidades da rede de fracturas,neste caso a depressões de ângulos de falha.

Geologicamente, a região é dominada por substratos graníticos epor formações do complexo xisto-grauváquico. Estas últimas predomi-nam sobretudo nos limites Sul e Sudoeste da região, respectivamente noencadeamento montanhoso do Açor – Lousã e no Maciço Marginal doBuçaco ao Caramulo. A norte de Viseu, contudo, os granitos são entre-cortados por manchas do complexo xisto-grauváquico que se vão esba-tendo para Este, originando pequenas “ilhas”. As únicas formaçõessedimentares, miocénicas e plioplistocénicas, situam-se sobretudo a suldo Mondego, em particular na extremidade Sudoeste da região. Nosvales dos principais cursos de água das redes de drenagem do Mondego,Vouga e Paiva existem aluviões quaternários, nunca de grandes dimen-sões devido ao encaixe relativamente abrupto dessas mesmas redes dedrenagem.

Trata-se, pois de uma vasta região, onde se estabelecem significa-tivos contrastes geográficos entre norte e sul e que se apresenta bemdelimitada por formações montanhosas de relevo importante à escalaregional.

Quanto à região da Beira Interior, a zona aqui abrangida e que,genericamente abarca parte dos distritos da Guarda e Castelo Branco,corresponde à faixa oriental do Centro de Portugal (fronteiriça comEspanha) entre os rios Tejo e Douro. É dividida a meio pela CordilheiraCentral, o que faz com que a área de Castelo Branco se integre noprolongamento da Submeseta Sul e a da Guarda no prolongamento daSubmeseta Norte.

A Plataforma de Castelo Branco margina a Cordilheira Central aSul e é drenada pelo rio Tejo. Trata-se de uma área aplanada, cujos

13

principais acidentes topográficos correspondem a relevos residuais cons-tituídos por cristas alongadas quartzíticas e por formas arredondadas(“Incelbergs”). Geologicamente, é uma região dominada por intrusõesgraníticas e formações do complexo xisto-grauváquico.

A norte, entre esta área e os limites ocidentais da Submeseta Norte,integrando a divisória da Cordilheira Central, entre as Serras da Estrelae Gardunha a Ocidente e a Serra da Malcata mais a Oriente, está a áreadeprimida e aplanada da Cova da Beira, onde podem ser encontradosigualmente relevos residuais de tipo “Incelberg”. Nesta zona forma-seum corredor (com cerca de 10 Km de largura) onde a Cordilheira Cen-tral se reduz a um relevo relativamente baixo e residual, dando origema uma passagem natural que historicamente teve um papel preponderan-te na ligação entre a submeseta sul e áreas mais meridionais do Ociden-te Peninsular e a Submeseta Norte.

Os limites ocidentais desta última, abrangidos pelo distrito daGuarda, correspondem a uma superfície aplanada a cotas mais elevadas,geologicamente dominada por granitos, sendo drenada para Norte, parao Douro, através do rio Côa, que provoca um profundo entalhe nessasuperfície de relevo suave.

2. BREVE HISTÓRIA DA INVESTIGAÇÃO

A história da investigação arqueológica da Pré-História Recente eProto-História inicial no interior centro até aos inícios da década deoitenta foi caracterizada por acções pontuais e pela ausência de projec-tos específicos e continuados. Tal como em muitas outras regiões dopaís, os primeiros passos foram dados pela acção polivalente de homensde cultura abrangente, a qual se fez sentir desde os finais do séculoXIX. Na Beira Interior há a destacar o trabalho de Tavares Proença e naBeira Alta as primeiras investidas realizadas por Leite de Vasconcelosa partir dos finais do século XIX, os esforços de José Coelho em mea-dos do século XX e, na década de sessenta, os trabalhos de Castro

14

Nunes e o inventário de monumentos megalíticos, com escavação devários deles, realizado por Vera Leisner. A investigação arqueológicamoderna, alicerçada em projectos de investigação ou de valorizaçãopatrimonial regionais, despontaria no início da década de oitenta doséculo XX, coincidindo com o desenvolvimento da institucionalizaçãoda Arqueologia na administração pública e com o seu desenvolvimentonas universidades.

A região foi também pioneira nos estudos paleoambientais emPortugal e continua hoje a ser um dos territórios onde se tem feitogrande investimento nessa área de investigação. É bem conhecida asequência de estudos polínicos realizados a partir das turfeiras da Serrada Estrela, iniciados na década de oitenta do século passado, a que seviriam a juntar os realizados no maciço marginal, na Serra da Freita.Mais recentemente, estes estudos passaram a ser realizados em contex-tos arqueológicos, quer na área de Fornos de Algodres, quer sobretudonum programa sistemático desenvolvido em contextos megalíticos e doBronze Final na zona dos Planaltos Centrais.

Mais recentemente, a expansão da actividade empresarial na Ar-queologia portuguesa, associada dominantemente à minimização deimpactes, ao salvamento e à valorização patrimonial, fez com que nestaárea, como noutras do resto do país, nova informação se multiplicassenos últimos anos (veja-se os exemplos apresentados nas fichas relativa-mente ao dólmen de Areita e à Arte Rupestre da Serra da Estrela).

3. A NEOLITIZAÇÃO

Na área do território nacional a que reporta este texto, os estudosrelativos aos processos de neolitização resumem-se à bacia interior dorio Mondego. A sua referenciação como um fenómeno anterior ao arran-que do megalitismo regional remonta aos finais da década de 80 doséculo passado, mas o seu estudo foi desenvolvido sobretudo ao longoda última dezena de anos. Contudo, a sua abordagem tem sido pautada

15

por insuficiências de investigação, que se têm traduzido, fundamental-mente, numa ausência de projectos especificamente direccionados paraesta problemática.

Os contextos conhecidos atribuíveis ao Neolítico Inicial são, con-tudo, já alguns. Correspondem a um núcleo situado na plataforma mé-dia do Mondego, composto por quatro sítios (Penedo da Penha,Carriceiras, Quinta do Soito e Outeiro dos Castelos), um sítio isoladolocalizado nos contrafortes da Serra da Estrela (Buraco da Moura de S.Romão) e dois sítios a Nordeste, já na zona de transição para o cursodo alto Mondego (Quinta da Assentada e Quinta das Rosas). Apesar doseu número ainda reduzido, evidenciam uma significativa diversidade,quer nos padrões de implantação, quer na cultura material, corres-pondendo a sítios de habitat ou locais de actividades específicas, des-conhecendo-se, contudo, qualquer contexto funerário.

O Penedo da Penha (PP) e o Buraco da Moura de S. Romão (BMSR)correspondem a ocupações de abrigos entre penedos graníticos, apre-sentando alguns dos espaços ocupados características de gruta. Comuma indústria lítica microlaminar com paralelos noutras áreas peninsu-lares neste período, a sua cerâmica, quer na morfologia quer na deco-ração, apresenta uma forte filiação meridional e mesetenha.

Na área de Fornos de Algodres são conhecidos dois contextos: aQuinta das Rosas e Quinta da Assentada. O primeiro está ainda malcaracterizado, enquanto o segundo corresponde a um habitat aberto ameia vertente, onde foram identificadas estruturas como lareiras e for-nos em argila, estando datado pelo radiocarbono da primeira metade do5º milénio AC. A sua indústria lítica é microlaminar (sobre lamela elasca) e essencialmente sobre quartzo (o sílex está praticamente ausentena região) e as suas cerâmicas predominantemente lisas, embora este-jam presentes decorações incisas, impressas e pintadas.

No troço do médio Mondego, e para além do Penedo da Penha, sãoconhecidos mais alguns contextos, ainda que pior caracterizados. Situa-do na metade inferior da vertente norte do Vale do Mondego, o sítio daQuinta do Soito corresponde a um conjunto de grandes penedos

16

graníticos, alguns dos quais formam um pequeno abrigo que poderá tersido utilizado. Contudo, foi no exterior que se detectou uma área detalhe de quartzo. O sítio das Carriceiras situa-se numa área aberta eaplanada do interflúvio Dão/Mondego. As sondagens realizadas permi-tiram a identificação de algumas estruturas negativas e a recolha de umconjunto artefactual, relativamente homogéneo, composto por escassacerâmica e uma indústria lítica talhada micro laminar, dominada porutensilagem sobre lamela. No Outeiro dos Castelos de Beijós, os dadosconhecidos são ainda escassos, correspondendo a um conjunto de ma-teriais cerâmicos de superfície cuja atribuição cronológica se baseia nospadrões e nas técnicas decorativas evidenciados. Por último, refira-seainda a presença de alguns materiais cerâmicos e líticos provenientesdas terras de duas mamoas de monumentos megalíticos (Orca do Ameal2 e monumento 2 de Oliveira do Conde). Estes conjuntos afastam-setipologicamente dos materiais correspondentes aos contextos de utiliza-ção dos respectivos espaços funerários, configurando uma situação emque materiais de ocupações anteriores à construção destes monumentossão incorporados nas terras utilizadas na edificação da estrutura tumular.

A identificação e estudo destes contextos permitiu desligar defi-nitivamente a problemática da neolitização do interior peninsular dofenómeno do megalitismo funerário, apresentando os seguintes contor-nos e problemas em aberto:

• Nada sabermos sobre os antecedentes. A ausência de dados re-lativos a um povoamento da região em períodos anteriores ao 5ºmilénio AC tem levado a que se colocasse a hipótese de umterritório despovoado. Todavia, dados recentes que chegam deregiões periféricas, como a do Alto Douro português, vêm for-talecendo as suspeitas de que essas “ausências” se ficarão adever sobretudo a insuficiências do registo e da pesquisa.

• A consideração de um povoamento prévio obriga a introduzir,na dinâmica da neolitização, o papel desempenhado pelas popu-lações mesolíticas locais, as quais terão ajudado a modelar a

17

forma que o processo terá assumido regionalmente. Os modelosque se assumem sublinham a necessidade de considerar afiltragem e a aceitação selectiva nas relações intercomunitárias,onde as transformações e adaptações operadas sobre o que (equem) vem de fora originam assimilações e retransmissões comalterações, por vezes muito significativas, relativamente ao focode origem, ou ainda que ponderem as possibilidades de rejeição,de contorno e de percolação

• As datações existentes para várias regiões do interior peninsularsugerem que, ao contrário do que há algumas décadas se pen-sava, a expansão da neolitização para o centro da Península foirelativamente rápida.

• Quanto à subsistência, a informação directa é, na bacia do Mon-dego, praticamente nula. O discurso, aqui como noutras áreaspeninsulares, tem residido em inferências feitas a partir de lei-turas da implantação e características dos sítios, da funcionali-dade espectável dos conjuntos artefactuais ou de dados sobre apaleovegetação e da sua comparação com períodos posteriores.O quadro mais divulgado, e comum a outras regiões, é o de umaeconomia ainda fortemente dependente da recolecção (vegetal eanimal), com as actividades produtivas (pastorícia e agricultura)a terem um papel mais acessório, integrando modelos de explo-ração dos ecossistemas ainda relativamente próximos das comu-nidades recolectoras. Nas áreas periféricas, como no Norte dePortugal, são conhecidas evidências directas de produçãocerealífera, nomeadamente do trigo e parcas evidências da ex-ploração de ovicaprinos. No leste da Meseta Norte, estudospolínicos revelaram o aproveitamento de leguminosas, eventual-mente relacionável com os primeiros cultivos de regadio apro-veitando solos de aluvião em áreas de inundação fluvial. É poisespectável que, também nesta região, evidências directas de umacomponente produtiva venham futuramente a ser registadas, mas

18

com um peso não preponderante na subsistência. Note-se quedados provenientes dos estudos polínicos da área dos PlanaltosCentrais apontam nesse sentido.

• Os parcos dados existentes permitem uma caracterização aindaincipiente dos padrões de povoamento. Contudo, os modeloseconómicos propostos, associados à ausência de evidências declara sedentarização, sugerem sistemas ainda de grande mobili-dade, caracterizados por estratégias de exploração territorialextensivas, onde o movimento regular é condição estruturantedo sistema.

• Os sítios já identificados revelam uma grande diversidade, querao nível dos seus locais de implantação (abrigos entre penedoscom ambiente de gruta; habitats abertos em rechãs localizadasem vertentes de acentuado declive e amplo campo de visão ouem vales bem encaixados ou ainda em zonas aplanadas de baixaaltitude), quer no que respeita à intensidade/duração das suasocupações, sugerindo que não existirá um único padrão especí-fico para a implantação dos habitats destas comunidades, varie-dade que se associa à diversidade evidenciada pelos respectivosrepertórios artefactuais.

Tem-se sublinhado, contudo, a necessidade de não resumir a neo-litização à aquisição de uma economia produtora, a crescimentosdemográficos e a um conjunto de inovações tecnológicas, mas a trans-formações que se operam nas várias vertentes do todo social, configu-rando um novo espaço de inteligibilidade histórica.

A análise do processo de neolitização deverá focalizar-se tambémnas relações sociais, nas percepções e representações simbólicas doespaço e da paisagem (a noção de transformabilidade do espaço), nasrelações com o território, na gestão da morte, na expressão artística ereligiosa (representações artísticas e simbólicas), etc. A uma escala deanálise lacta, a expansão da economia produtora deve ser vista como

19

um processo diversificado e arritmado, em que o subsistema económicose encontra em constante interacção com outros subsistemas do todosocial que, em situações e espaços diferentes, poderão desempenhar umpapel tão ou mais importante na dinamização dessa transformação cul-tural global e na própria expansão ou adopção da economia produtora.Deste modo, a abordagem do fenómeno da neolítização do interiorpeninsular necessita hoje, a par de um trabalho sistemático orientadopara um alargamento consistente dos dados empíricos, de um alarga-mento das perspectivas teóricas de abordagem, à imagem do que temsido feito para outros períodos da Pré-História Recente.

4. ORIGEM E APOGEU DO MEGALITISMO(FINAIS DO 5º – INÍCIOS DO 3º MILÉNIO AC)

Os estudos do megalitismo têm-se concentrado essencialmente nodistrito de Viseu, o qual corresponde sensivelmente à metade Ocidentalda Beira Alta, onde se localiza um dos maiores núcleos do megalitismoportuguês. A sua dispersão abrange, genericamente, as duas grandes uni-dades geomorfológicas desta área: os Planaltos Centrais entalhados pelasbacias dos rios Paiva e Vouga, a norte, e a Plataforma do Mondego, a sul.

Após os trabalhos dos pioneiros e dos inventários e intervenções demeados do século passado, a investigação do megalitismo regional sofreuum importante incremento nas três últimas décadas, graças a projectos deinvestigação centrados no médio Mondego e nos Planaltos Centrais, as-sim como a um conjunto de iniciativas de valorização patrimonial promo-vidas por organismos da administração central e local.

As orientações que presidiram a estas investigações foram, contu-do, diferentes, resultando em discursos e propostas de síntese igualmen-te diferenciadas. Assim, a investigação realizada na Plataforma doMondego assentou em fundamentos teóricos histórico-culturalistas, no-meadamente na seriação tipológica e no conceito de Horizonte, procu-rando organizar os diferentes contextos funerários e habitats associados

20

numa sequência cronológica de “culturas arqueológicas” (no sentidochildeano do termo).

A génese do megalitismo está associada ao Horizonte Carapito//Pramelas, situado entre os finais do 5º e primeiro quartel do 4º milénioAC com base nas cronologias absolutas de alguns monumentos (Carapito1, Orca de Seixas e Dólmen de Areita). O horizonte é definido a partirdo espólio recorrente de alguns monumentos megalíticos (Carapito I,Orca de Pramelas, Orca 1 do Ameal e Anta da Mondegã): presença degeométricos sobre lâmina, lâminas dominantemente sem retoque, escas-sos artefactos de pedra polida, elementos de adorno à base de contas(normalmente pequenas contas de xisto); ausência de cerâmicas e depontas de seta dos espólios votivos.

Segue-se uma “etapa de transição” onde são colocados os monu-mentos megalíticos em cujos espólios a cerâmica se mantém ausente,mas nos quais surgem pontas de seta (monumentos da Mondegã e Orcade Santo Tisco).

Por fim, forma-se o designado Horizonte Moinhos de Vento/Ameal.Ao contrário dos horizontes anteriores, definidos a partir de espólios dealguns monumentos megalíticos, o Moinhos de Vento/Ameal é definidoa partir de espólios de contextos funerários, mas também de algunshabitats que lhe foram associados. Nos contextos funerários, a novidadeé a presença de cerâmica, associada a um instrumental lítico mais rico,tipologicamente evoluído e variado.

Já os estudos dedicados ao megalitismo dos Planaltos Centrais têmenveredado por uma abordagem que perspectiva a sua integração naspráticas funerárias de longa duração, até à Idade do Bronze, privilegian-do a componente arquitectónica, a obtenção de cronologias absolutas euma forte articulação com os estudos paleoecológicos.

Os dados que permitam abordar a organização socioeconómicadestas comunidades são escassos. Para os Planaltos Centrais, e essencial-mente recorrendo às inferências estabelecidas a partir dos dadospaleoecológicos, assume-se que a intervenção antrópica na paisagemnão é muito profunda, deduzindo-se daí um impacto pouco intenso das

21

actividades económicas produtivas, populações de reduzida dimensão euma organização dispersa e sazonal do povoamento. A ligação entre osgrandes sepulcros megalíticos colectivos e uma economia agrícola de-senvolvida não apresenta uma associação directa e imediata nesta re-gião. A economia seria de largo espectro, onde a par de uma exploraçãopouco intensiva da pastorícia e da agricultura cerealífera (actividadesdeduzidas dos estudos polínicos), teriam ainda peso significativo a ex-ploração dos recursos cinegéticos, aquáticos e florestais. O modelo deagricultura sobre queimada não sustentaria uma forte vinculaçãoresidencial nem o desenvolvimento de uma densidade populacional acimade níveis relativamente baixos.

Para a plataforma do Mondego, o quadro é semelhante, valorizan-do-se sobretudo o papel que a pastorícia transumante (com base, umavez mais, nos estudos polínicos regionais) e a recolecção de frutos deInverno desempenhariam na economia das comunidades de construtorese utilizadores de sepulcros megalíticos do 4º milénio AC, os quais se-riam edificados na base de uma colaboração inter-comunitária, inerenteàs “sociedades de pequena escala”, pouco diferenciadas, segmentárias ede estrutura parental. Não estaremos, assim, no final do 4º milénio AC,perante paisagens agrárias; pelo menos com configurações semelhantesàs que se assumem para regiões mais meridionais.

Contudo, o trend estrutural reconhecido transregionalmente man-tém-se: o primeiro grande investimento arquitectónico duradouro,relacionável com uma apropriação e gestão simbólica do espaço, pareceacontecer, também nesta área, na esfera do funerário. Neste contexto, osmonumentos megalíticos parecem adicionar o estatuto de lugares depo-sitários de experiências e memória, ancorando identidades e relaçõessociais variadas ao culto dos antepassados, à função de pólos agluti-nadores e estruturantes das comunidades, assumindo-se como autênti-cos centros físicos e simbólicos dos territórios e marcos das suas viasde trânsito, implicando direitos sobre os mesmos. E se mais tarde oinvestimento arquitectónico se vai transferir para locais “de vida”, se-jam de carácter mais residencial ou de natureza eminentemente cerimo-

22

nial, não temos que ver necessariamente nessa transferência uma ruptu-ra. Em termos de apropriação e organização do espaço através da Arqui-tectura (no sentido de construção, edificação), o megalitismo não é umfenómeno oposto ao que se vai observar no 3º milénio, mas um fenómenoque vai nesse sentido e que o potencia, constituindo-se como um “qua-dro de experiência” adquirida, de tradição técnica e organizadora dosespaços que se estabelece como “pré-conceito” da arquitectura do mi-lénio seguinte.

Estes quadros referidos são construídos para os momentos da génesee apogeu do fenómeno, balizado entre o último quartel do 5º milénio AC,altura em que se começam a construir os primeiros monumentosmegalíticos, e os finais do 4º/inícios do 3º milénio AC. Contudo, ostrabalhos desenvolvidos em monumentos megalíticos do Norte da BeiraAlta, nomeadamente no que concerne a programas sistemáticos de dataçãoabsoluta de momentos construtivos e de condenação, têm vindo a de-monstrar o carácter relativamente curto da utilização de um número con-siderável de sepulcros de grandes e médias dimensões. A construção destesmonumentos poderá ter mesmo terminado em meados do 4º milénio AC.,tendo alguns sido encerrados pouco tempo depois de serem construídos,enquanto outros terão continuado em utilização até mais tarde.

Já no 4º milénio AC se podem observar algumas alterações rela-tivamente às práticas funerárias que anunciam e potenciam situaçõesque se afirmarão ao longo do milénio seguinte. Uma dessas situaçõescorresponderá a uma certa diversificação destas práticas funerárias: apar da continuidade da construção e de utilização de grandes monumen-tos, surgem indícios de diversificação do ritual, expressos por reutiliza-ções de monumentos encerrados sem desobstrução das entradas e porpráticas funerárias de tendência individualizadora (como a sepulturasecundária do dólmen dos Moinhos de Vento, onde se reutiliza um monu-mento já encerrado sem o desobstruir, parece sugerir).

Durante o 3º milénio AC e prolongando-se pelo início do 2º, reali-zam-se reutilizações dos grandes monumentos, mas aparentemente semse proceder a desobstruções de antigos encerramentos. A par, surgem

23

pequenas construções, pouco ou nada visíveis na paisagem, indiciandoinumações de carácter muito restrito ou mesmo individual. Estas últimasencontram-se mesmo atestadas em estruturas de tipo cista datadas da 1ªmetade do 3º milénio AC no sepulcro tipo “cista grande” de Vale deCerva. Embora algumas construções mantenham uma arquitectura quepoderá ser considerada na tradição megalítica, na globalidade parecemexpressar uma realidade funerária distinta e mais diversificada, que nofinal do 3º milénio AC poderá já ter incorporado práticas de incineração.

Apesar dessas alterações, poderemos assumir que, embora na se-gunda metade do 4º milénio AC a região não presencie a constituiçãode verdadeiras paisagens agrícolas, se regista a formação do quadromental, ideológico, cosmológico e identitário que vai contextualizar eestimular o desenvolvimento dessas práticas a partir do início do milé-nio seguinte em algumas áreas como a de Fornos de Algodres, locali-zada no alto Mondego, na transição entre as duas unidades geomor-fológicas básicas. As vias de trânsito que se estabelecem, as ligaçõesprévias (ainda que mais fluídas) ao território, a sua gestão simbólicaatravés da ideologia dos “antepassados” e a sua organização cosmológicacíclica, fazem germinar processos de territorialização que, na primeirametade do 3º milénio, cimentarão identidades vinculadas a esse paren-tesco e a paisagens mais circunscritas, mas onde as cosmologias neolíticascontinuam particularmente activas.

5. O POVOAMENTO CALCOLÍTICO

Os estudos dedicados ao povoamento Calcolítico têm sido desen-volvidos de forma sistemática e enquadrados por projectos especifica-mente orientados para esta problemática apenas na área de Fornos deAlgodres, distrito da Guarda. Aí, tem vindo a ser estudada uma redelocal de povoamento ao longo do 3º milénio AC sem paralelo na restan-te área da Beira Alta e Beira Interior, onde apenas se têm investigadopontualmente alguns contextos habitacionais deste período e de uma

24

forma não sistemática. A diferença reside, essencialmente, num inves-timento continuado na investigação de uma área relativamente pequena.Por outras palavras, o conhecimento hoje disponível para este espaçolocal não pode ser extensivo à região em que este território se integra,na qual existe todo um trabalho de base a realizar para que as questõesali tratadas possam ver a sua escala espacial de análise alargada.

Esta rede local de povoamento enquadra-se, em termos das gran-des dinâmicas sociais peninsulares, no processo de consolidação dassociedades produtoras, das suas formas de territorialização e no arran-que e desenvolvimento dos processos de hierarquização social. A ex-pressão local desta dinâmica global revela, contudo, uma trajectóriapersonalizada que a individualiza como espaço de tradição relativamen-te a outras áreas locais e regionais.

Este espaço de tradição local constituiu-se essencialmente durantea primeira metade do 3º milénio e parece caracterizado por uma signi-ficativa autarcia de um território relativamente pequeno, estabelecendoum grande contraste com situações coevas que se vão desenvolvendo nosul peninsular (onde processos de agregação territorial estão bem docu-mentados). Uma nova territorialidade, a consolidação moderada de umaeconomia produtora e uma nova dinâmica identitária conjugam-se naestruturação de uma rede de povoamento que se organiza de acordo comtrajectórias de circulação e com uma representação da paisagemalicerçada na cosmologia dual e cíclica enraizada na tradição neolítica.Neste sentido, as transformações económicas e tecnológicas em curso,assim como a expressão territorial que estabelecem, são ainda enqua-dradas e conformadas por esquemas mentais que se encontram em con-tinuidade com o passado neolítico.

As novas aportações exógenas, sobretudo no domínio das arquitec-turas (recintos amuralhados), assim como determinadas decorações ce-râmicas emblemáticas, são colocadas ao serviço dessa nova expressãoterritorial e identitária. O esquema comunicacional utilizado no iníciodo 3º milénio mantém a matriz neolítica, mas recorre a novos elemen-tos: um modelo arquitectónico exógeno (mas compatibilizado com a

25

tradição tecnológica e com a paisagem local) e a eleição de um espaçoresidencial sedentário como polo agregador das comunidaddes locais, oqual é, no desempenho desse papel, situado num ponto destacado dapaisagem: o Castro de Santiago (ver ficha).

Neste sentido, a dinâmica de territorialização que localmente sedesenvolve a partir do 3º milénio é, no seu início, um processo que nãose enquadra nos modelos mais generalistas que colocam no final doNeolítico / início do Calcolítico a ocorrência de rupturas económicas esociais significativas, gerando a emergência de marcada desigualdadesocial no contexto de sociedades agrárias. Pelo contrário, vai no sentidode que muitas sociedades dos finais do Neolítico / início do Calcolíticonão terão gerado, de forma endógena, sistemas sociais de desigualdade,prolongando o papel organizador das estruturas parentais da matriz socialneolítica. Trata-se de uma situação que sublinha as assimetrias regionaisde um trend de longa duração e que obriga a moderar as afirmações decarácter mais genérico e, sobretudo, as suas aplicações imediatistas adiferentes áreas regionais.

Em meados do 3º milénio, uma tradição local, uma dinâmicaidentitária e uma organização do território parecem consolidadas. O seu“centro” agregador (Castro de Santiago) deixa de estar ocupado, masnão terá perdido o seu papel simbólico de organização da paisagem edos processos de identificação (de agregação relativamente às comuni-dades do vale e de diferenciação relativamente às áreas vizinhas). Umpovoado aberto (sítio da Malhada), localizado numa zona central e deencruzilhada de rotas de circulação, é agora uma das áreas residenciaisde maior dimensão e intensidade de ocupação e os elementosemblemáticos reforçam a imagem de uma tradição estabelecida. Contu-do, alguns sinais de mudança começam a vislumbrar-se nas fases maisrecentes de ocupação deste sítio, em meados do 3º milénio AC.

Estes sinais estão sobretudo relacionados com novidades estilísticasao nível da morfologia e decoração das cerâmicas, as quais revelam aabsorção de padrões que circulam por áreas periféricas. Possivelmentejá dentro do 3º quartel, surgem as primeiras evidências de metalurgia,

26

ainda que aparentemente com uma expressão reduzida. A partir dosfinais do 3º quartel, os sinais de mudança começam a acentuar-se. Aestruturação do povoamento no território mantém a sua organização enada sugere significativas alterações nas percepções e representações doespaço local. Contudo, assiste-se à drástica redução das expressõesestilísticas emblemáticas e à sua substituição por novos modelos querevelam uma clara influência setentrional, a partir da vizinha região dabacia do Alto Douro e da Meseta. O espaço local parece agora maisaberto e começa a sofrer o impacto das dinâmicas de áreas vizinhas.

A sua integração numa dinâmica de expressão espacial maisabrangente consolida-se no último quartel do milénio, associada a alte-rações na organização social interna que começam, neste momento, apoder ser pela primeira vez vislumbradas na área. A tradicional expres-são estilística emblemática local é agora residual e é substituída pornovas organizações decorativas associadas a novas formas cerâmicas emodelos metálicos de expressão transregional. A presença de elementosinterpretáveis como objectos de prestígios indica alterações na tradicio-nal organização social, sugerindo a emergência de elites que se procu-ram diferenciar e expressar o seu poder através desses bens. Estasmudanças serão correlativas de alterações ao nível das identidades,nomeadamente com o reforço da autonomia dos processos de indivi-duação progressivamente expressos por uma individualização das práti-cas funerárias (ainda que com recurso a reutilizações dos tradicionaissepulcros colectivos megalíticos).

A edificação de um centro cerimonial na Fraga da Pena (ver ficha)neste novo momento de transição (para a Idade do Bronze), assume umpapel de gestão da mudança, procurando, através da evocação da tradi-ção local a vários níveis, promover as alterações sociais em curso. Amanipulação de novas materialidades emblemáticas de expressãotransregional (como os recipientes campaniformes e artefactos metáli-cos), num contexto ritual e num cenário que parece estabelecer homo-logias com o passado local (e que poderia ser ele próprio um lugar comprofundidade histórica), regularia e viabilizaria, no campo do sagrado,

27

as tenções provocadas pela mudança na ordem que termina, facilitandoe conformando a ascensão das novas formas de poder e das novas re-lações sociais.

Fora desta área, apenas se conhecem precariamente alguns contex-tos habitacionais na zona do médio Mondego e outros contextos isola-dos no alto Mondego. Na região da Beira Interior, este panorama man-tem-se, com alguns sítios sondados, escavados em contexto de emer-gência ou simplesmente prospectados, mas de forma isolada e semenquadramento de projectos de investigação sistemática especificamen-te orientados para o estudo das redes de povoamento em que certamenteestão inseridos.

6. IDADE DO BRONZE (ÚLTIMO QUARTEL DO 3º– 2º QUARTEL DO 1º MILÉNIO AC)

O conhecimento existente relativamente à Idade do Bronze revelaum nível de informação muito diferente entre os seus momentos iniciaise plenos (para os quais a informação disponível é ainda reduzida, emespecial na Beira Interior) e a sua fase final (mais bem documentada etrabalhada nas duas regiões aqui abordadas).

Na Beira Alta, a transição para este período (3º quartel do 3º//inícios do 2º milénio AC) é marcada pela integração da região em redesde circulação de protótipos artefactuais de circulação transregional(campaniformes e artefactos metálicos em cobre e ouro, nomeadamentearmas e jóias respectivamente), os quais são entendidos como elemen-tos de prestígio manipulados no contexto da emergência e desenvolvi-mento das primeiras elites locais.

Os contextos conhecidos são ainda poucos, mas diversificados,sendo a informação disponível escassa, originando imagens ainda difusassobre as dinâmicas sociais da primeira metade do 2º milénio AC. Entreos dados publicados, os contextos residenciais são escassos, resumindo--se a um habitat aberto e temporário (Linhares, Stª Comba Dão) e a

28

uma possível ocupação residencial em gruta (Buraco da Moura de SãoRomão (Seia), a qual proporcionou o único conjunto faunístico dispo-nível para a região. Não existem outros dados directos sobre a econo-mia de subsistência destas populações, o que tem incentivado asinferências a partir dos estudos paleoambientais e as analogias com asregiões periféricas.

Para além destes dois sítios, destaca-se a Fraga da Pena (ver fi-cha), sítio composto por dois recintos definidos por potentes muralhasadoçados a uma imponente formação natural e que foi interpretado comoum centro cerimonial que terá funcionado durante a transição para anova realidade social.

Em termos funerários, destacam-se as reutilizações de numerososmonumentos megalíticos de construção neolítica, mas determinadassoluções de tipo “cista grande”, menos monumentais (mas enraizadasna tradição megalítica), que haviam emergido nos finais do Calcolítico(2ª metade do 3ª milénio), têm continuidade, e outras opções, como adiaclase aproveitada sob pequeno cairn no sepulcro de Muna 2 (Viseu),sugerem a diversidade das soluções funerárias. Estas parecem, todavia,orientar-se para a individualização do ritual e, dominando aparentemen-te a inumação, surgem os primeiros indícios de que a incineração po-derá estar presente.

Ao contrário do Bronze Pleno, o final da Idade do Bronze tem sidoum dos períodos onde a investigação tem progredido nas últimas déca-das e de uma forma mais homogénea na área aqui considerada.

Nas bacias do Mondego e Vouga, o período assiste à formação doque regionalmente poderemos considerar o primeiro momento em quese identificam estratégias de controlo territorial de larga escala. De facto,a partir da segunda metade do 2º milénio AC (a partir de cerca de 1400AC), pode observar-se uma dinâmica territorial que se expressa emestratégias de povoamento que procuram sítios de grande altura, comacentuado destaque e, sobretudo, controlo visual sobre extensas paisa-gens, frequentemente com níveis de intervisibilidade, e que dominamtradicionais vias de trânsito na região.

29

Esta dinâmica social tem sido identificada com a emergência deuma “unidade cultural” designada por “Grupo Baiões/Santa Luzia”,expressa por um conjunto de povoados de altura e de maiores dimen-sões considerados como lugares centrais e por um outro grupo de sítiosde dimensões mais reduzidas e características mais diversificadas, quelhes seriam subsidiários. Entre os primeiros contam-se o Castro da Srªda Guia (Baiões), o Castro de Stª Luzia (Viseu), o Castro de São Romão(Seia) ou o Castro da Srª do Bom Sucesso (Mangualde), enquanto entreos segundos se contariam sítios como o Castro de São Cosme (Ervedalda Beira), Outeiro do Castelo de Beijós, Malcata, Cabeço do Cucão(Carregal do Sal), Buraco da Moura de São Romão (Seia) ou Quinta dasRosas (Fornos de Algodres).

A expressão funerária destas comunidades apresenta tendênciasgenericamente homogéneas, que se traduzem numa tendência para aindividualização, para a escassez das deposições votivas, para a inci-neração e para uma acentuada redução da monumentalidade arquitec-tónica das sepulturas. A arquitectura, contudo, dentro de soluçõesaparentadas, apresenta alguma diversidade, surgindo pequenos cairnsque podem integrar uma fossa simples (Monumento 3 da Lomba doCanho, Arganil ou Casinha Derribada, Viseu), pequenas caixas/cistasintegradas em pequenos cairns (Casinha Derribada e Fonte da Malga,Viseu) ou em conjunto envolvido por estrutura circular (Paranho,Tondela), pequenos cairns sem outro tipo de estruturas e sem deposi-ções votivas (Srª da Ouvida, Castro Daire ou Víbora, Carregal do Sal)ou reutilizações de monumentos de épocas anteriores, como a cista deRapadouro 1.

As evidências apontam para uma estrutura económica de subsis-tência pouco desenvolvida, essencialmente orientada para auto-consu-mo, que não proporcionaria a acumulação de excedentes. Contudo, combase nos perfis polínicos obtidos para as turfeiras da Serra da Estrela,considera-se que durante o período se teria assistido a uma certa inten-sificação da actividade pastoril. Desta forma, não se regista um desen-volvimento das bases produtivas capaz de sustentar uma dinâmica de

30

diferenciação social, a qual encontraria na interacção transregional, esegundo um modelo de Wealth Finance, o suporte para o desenvolvi-mento e consolidação de elites e de organizações políticas de tipochefatura, ainda que com uma fraca amplitude.

Esta interacção transregional seria estabelecida com regiões inte-riores, como a Submeseta Norte (atestada através da presença de mate-riais de Cogotas I na região) e com regiões da Andaluzia e baixo Tejo(expressa na presença de cerâmicas decoradas com ornatos brunidos naBeira Alta e de decorações incisas pós-cozedura, características destaregião, em contextos destas regiões meridionais), mas estaria essencial-mente orientada para as relações atlânticas e teria por base a mineraçãoe produção metalúrgica do bronze e do ouro.

A metalurgia atinge uma expressão até então inédita na região. Osmateriais metálicos preponderantes apontam para uma integração nocírculo de tradição atlântica, mas algumas peças reflectem igualmente aabertura a relações e influências de raiz mediterrânica. Neste âmbito, odestaque recai claramente sobre os depósitos do Castro da Srª da Guia(ver ficha), onde foi registado um “tesouro” composto por dois torquesornamentados e uma bracelete lisa em ouro e um “depósito” de bronzes,composto por um carro votivo (mais rodas de outros), taças, braceletes,elementos de fúrculas, peças de arreios, pontas de lança, espeto, frag-mentos de caldeiros e de outros artefactos metálicos.

Esta preponderância metalúrgica, nomeadamente a “riqueza” evi-denciada pela Srª da Guia, tem sido relacionada com a dinâmica deinteracção transregional que assentaria na produção regional de estanhoe ouro de aluvião e na sua procura no âmbito da expansão para a costaatlântica das redes comerciais mediterrânicas de origem fenícia. A pre-sença do entreposto comercial de Santa Olaia na foz da ria flandrianaainda não assoreada do Mondego tem sido interpretada como um pontode escoamento dos metais provenientes da região interior beirã, propon-do-se mesmo a sua articulação com o Castro da Srª da Guia, localizadonuma das vias de comunicação, através do vale do Vouga, entre o inte-rior e a plataforma litoral.

31

A dependência que a dinâmica social das comunidades do BronzeFinal das bacias interiores do Mondego e Vouga manteriam, para a suaafirmação e gestão do seu poder, relativamente a esta interacção, éentendida como uma fragilidade que estaria na base do seu colapso,quando se observam alterações de vulto nas dinâmicas externas que asustentavam, nomeadamente com a crise que se opera nas redes comer-ciais fenícias a partir do século VI AC. A falta de investigação relativaà Idade do Ferro na região, contudo, faz com que a evolução socialdestas comunidades locais seja ainda muito mal conhecida até ao inícioda conquista romana.

Na Beira Interior, a investigação do final da Idade do Bronze foidesenvolvida essencialmente na área mais a sul, na Plataforma de Cas-telo Branco e na zona de transição para os planaltos da SubmesetaNorte. Aí, a juntar a sítios intervencionados pelos pioneiros da Arqueo-logia portuguesa que trabalharam na região (de que se destaca o Montede S. Martinho – ver ficha), foram investigados nas últimas duas déca-das vários povoados (Alegrios e Moreirinha em Idanha-a-Nova, Montedo Frade em Penamacor ou Castelejo no Sabugal).

A implantação dos povoados conhecidos revela a tendência gené-rica do período para a ocupação de lugares alcantilados, aproveitandoos relevos residuais que proporcionam destaque e controlo visual sobrevastas paisagens e territórios. Trata-se de áreas residenciais criadasmaioritariamente de raiz, remontando ao século XII AC.

As suas dimensões são sempre modestas, o que não permitiu de-finir redes de hierarquização, configurando uma situação de grandeequivalência de territórios e espaços habitacionais. As estruturas são, talcomo na Beira Alta, frágeis e de carácter essencialmente doméstico,traduzindo um investimento arquitectónico reduzido. Considera-se queas forças produtivas seriam pouco desenvolvidas, enquadradas por eco-nomias de auto-suficiência.

Todavia, a presença abundante de estelas (inventariadas para cimadas seis dezenas) com representações de armas e guerreiros, para alémde revelar uma abertura ao mundo da Extremadura Espanhola, parece

32

traduzir uma sociedade hierarquizada de tipo chefatura, a qual afirmariao seu poder através da manipulação de determinados produtos e artefac-tos. Neste contexto, também aqui a metalurgia do bronze (bronzes bi-nários) parece assumir um papel preponderante. Apresentando umavariedade considerável e uma produção em ambiente doméstico, é umaactividade artesanal que se integra nas redes de circulação que se desen-volvem no período, revelando que a região se integra nas redes decirculação transregional, a que não será estranho situar-se numa dasprincipais vias de trânsito que ligam a zona meridional da península àsua metade setentrional. A própria estratégia alcantilada de povoamentoé relacionada com o controlo e marcação desses circuitos. As estelas ea presença abundante de decorações com ornatos brunidos nas cerâmi-cas revelam uma natural preponderância de relações com o sul, mas adocumentação de decorações típicas do mundo de Baiões/Santa Luzia,ainda que com menor expressão, revelam essa ligação a Norte de umaregião onde se faz sentir a confluência de tradições atlânticas emediterrânicas e até continentais, as quais serão responsáveis pela intro-dução precoce dos primeiros artefactos em ferro.

33FIG. 1 – O Centro interior.

FIG. 1 – The Central inland.

01 - Buraco da Moura

02 - Dólmen de Areita

03 - Dólmen de Antelas

04 - Dólmen de Cortiçô

05 - Habitat do Ameal

06 - Castro de Santiago

07 - Fraga da Pena

08 - S. Martinho

09 - Sra. da Guia (Baiões)

10 - Sabugal Velho

11 - Arte rupestre Açor/Estrela

34

1. THE TERRITORY: GENERAL CHARACTERISATION

This volume addresses the archaeology of the regions of central inlandPortugal, namely the Beira Alta and Beira Interior regions. The Middle andLower Côa River Basins, to the north, and the Middle Tagus Valley (InternationalTagus) area to the south, were not included in this volume due to the organisationof this series (Fig. 1).

In terms of its geomorphology, the Beira Alta region is a trapezium-shaped area that is tilted towards the Southwest. This area is delimited to theeast by the mountain axis of the Pisco, Lapa and Leomil mountain ranges (or,alternatively, by the Távora River Valley); to the south/southeast by the CentralMountain Range (the Cordilheira Central, which includes the Lousã, Açor andEstrela mountain ranges); to the southwest by the Luso-Buçaco Mountain Rangeand to the west by the so-called Western Mountains (Maciço Marginal),comprising, from south to north, the mountain ranges of Caramulo, Maciço daGralheira (mountain ranges of Arestal, Freita and Arada), and Montemuro,which separate this region from the coastal platform.

Broadly speaking, this region comprises two major geomorphologicalunits: the Central Plateaux of Nave, located in the north, and the low-lyingMondego River Platform to the south, whose geomorphological history isinfluenced by two large tectonic faults with a NNE – SSW orientation, whichconditioned the entire development of this region.

This area possesses a relatively dense hydrographic drainage networkthat has adapted to the tectonic fault network, which clearly conditions it.This situation is attested in the Mondego River Platform by the deeply-cutrivers and streams, and by the rigid and parallel flowing of both the mainwatercourses (Mondego and Dão rivers) and their tributaries. The hydrographicnetwork displays a preferential NNE-SSW orientation, flowing in the directionimposed by the fault network and by the tilt of the planation surfaces. Themajor rivers meet next to the main crest, immediately before crossing thenarrow passage between the mountain ranges of Buçaco and Bidoeiro (not farfrom Coimbra), which provides access to the coastal platform towards thesouthwest.

Rather than flowing in the general direction that is characteristic of thehydrographic basin of the Mondego River Platform, the major rivers of theNave Plateau (Vouga and Paiva rivers) generally flow in an E-W direction,contrary to the angle of inclination of this landform, cutting into the taller

35

western mountains. Once again, this dissonance seems to be due to an adjustmentto the specific characteristics of the fault network, in this case to fault-angledepressions.

Geologically, this region consists largely of granitic substrates andformations of the schist-greywacke complex. The latter prevail mainly in thesouthern and southwestern fringes of this region, respectively in the Açor-Lousã mountain chain and in the Maçico Marginal from Buçaco to Caramulo.North of Viseu, however, granites are intersected by patches of the schist-greywacke complex, which fade in an eastwards direction, forming small “isles”.The only sedimentary formations, from the Miocene and Plio-Pleistocene, aremainly located south of the Mondego River, in particular in the southwesternedge of this region. Quaternary alluvial deposits can be found in the valleys ofthe main streams of the drainage networks of the Mondego, Vouga and Paivarivers. However, these are never extensive deposits due to relatively suddenchanges in the direction of this drainage system.

This is, therefore, a vast region characterised by significant geographicalcontrasts between north and south, which is clearly demarcated by mountainswith a significant topographic relief of regional importance.

As regards the Beira Interior region, this volume covers an area thatgenerally includes part of the Guarda and Castelo Branco districts, namely theeastern strip of the Centre of Portugal (sharing a land border with Spain)between the Tagus and Douro Rivers. This area is divided in half by the Cen-tral Mountain Range, so that the Castelo Branco area is included within thelimits of the Southern Submeseta and that of Guarda within the limits of theNorthern Submeseta.

The Castelo Branco Platform is located along the southern edge of theCentral Mountain Range and it is drained by the Tagus River. This is a planatedarea in which the major topographic accidents are residual relief featuresconsisting of elongated quartzitic ridges and rounded features (“Inselbergs”).Geologically, granitic intrusions and formations of the schist-greywacke complexprevail in this region.

To the north, between this area and the western limit of the NorthernSubmeseta, included in the dividing line formed by the Central Mountain Range,between the mountain ranges of Serra da Estrela and Gardunha to the west andthe Malcata Mountain Range located further to the east, lies the sunken andplanated area of Cova da Beira, which also possesses “Inselberg” type residualrelief features. A corridor (measuring about 10 Km wide) is formed in this area,

36

namely where the Central Mountain Range has a relatively low and residualrelief, providing a natural passage. Historically, this passageway has played apredominant role in establishing contacts between the Southern Submeseta andmore southerly parts of the Western Iberian Peninsula and the NorthernSubmeseta.

The western limits of the Northern Submeseta, which cover the districtof Guarda, correspond to a planated surface located at a higher altitude,characterised geologically by the prevalence of granites. This area drainsnorthwards into the Douro River through the Côa River, which has cut deeplyinto this gently sloping land surface.

2. A BRIEF HISTORY OF RESEARCH

Until the beginning of the 1980s, the history of archaeological researchon the Recent Prehistory and Early Protohistory of inland central Portugal wascharacterised by sporadic interventions and a lack of specific and long-termprojects. As in many other regions of Portugal, the first steps in this directionwere taken by men with a broad cultural background, who conducted polyvalentwork in this area from the end of the nineteenth century onwards. As far as theBeira Interior region is concerned, the work of Tavares Proença is particularlyimportant. Research conducted in the Beira Alta region, includes, among others,early work carried out by Leite de Vasconcelos from the end of the nineteenthcentury, the efforts of José Coelho in the middle of the twentieth century and,in the 1960s, the work of Castro Nunes and the inventory of megalithicmonuments (several of these having been excavated) conducted by Vera Leisner.Modern archaeological research, based on regional-scale research or heritagevalorisation projects, developed in the early 1980s, at a time when Archaeologywas becoming an established department in public administration and began todevelop at Universities.

This region has also led the way in paleoenvironmental studies in Portu-gal and, at present, a strong investment is still being made in this field ofresearch. The pollen sequences of the peat bogs of Serra da Estrela, which havebeen studied since the 1980s, are well-known, and other pollen studies havesubsequently been conducted in the Maciço Marginal, in Serra da Freita. Morerecently, such studies have been conducted in archaeological contexts locatedin the Fornos de Algodres area and, in particular, under the scope of a systematic

37

programme for the study of megalithic and Late Bronze Age sites located in theCentral Plateaux area.

More recently, as a result of an increase in the number of privatearchaeological companies operating in Portugal (which are mainly involved inconducting archaeological impact assessment studies, salvage work and heritagevalorisation projects), much new information has come to light over the pastfew years, both in this area and in other parts of the country (see the examplesprovided in the site files of Areita Dolmen and the Rock Art of Serra daEstrela).

3. THE NEOLITHISATION

In this area of Portugal, the study of Neolithisation processes is confinedto the inland basin of the Mondego River. Although Neolithisation was identifiedin the late 1980s as an event that preceded the onset of regional megalithism,studies of this process have mainly developed over the last twelve years or so.However, existing approaches have relied on insufficient research, as suggestedby the lack of projects addressing this issue specifically.

Nevertheless, quite a few Early Neolithic contexts have already beendiscovered. These include a group of sites located in the middle platform of theMondego River, consisting of four sites (Penedo da Penha, Carriceiras, Quintado Soito and Outeiro dos Castelos), an isolated site located in the foothills ofSerra da Estrela (Buraco da Moura de S. Romão) and two sites to the northeast,located in the transition area to the course of the Upper Mondego (Quinta daAssentada and Quinta das Rosas). Although only a small number of sites havebeen identified so far, these provide evidence for the considerable diversity ofsettlement patterns and material culture. These sites include domestic settlementsor specific activity areas, although there is no evidence of funerary contexts.

The sites of Penedo da Penha (PP) and Buraco da Moura de S. Romão(BMSR) correspond to occupations of rock shelters formed between graniteboulders, some of the occupied areas displaying cave-like characteristics. Whileparallels for the microblade industry from these sites can be found in other partsof the Iberian Peninsula during this period, the pottery shows a strong affiliationwith the South and the Meseta, both in terms of its morphology and decoration.

Two sites have been found in the Fornos de Algodres area: Quinta dasRosas and Quinta da Assentada. Although the former is still poorly characterised,

38

the latter corresponds to an open-air settlement located halfway up a slope thatincludes features such as hearths and clay kilns, which has been radiocarbondated to the first half of the 5th millennium BC. The lithic industry from thissite consists of microblades (bladelets and flakes) mainly made of quartz (flintrarely occurs in this region) and the pottery is mostly plain, although there isevidence for incised, impressed and painted decorations.

Besides Penedo da Penha, a few other sites have been discovered alongthe middle course of the Mondego River, although they have provided evenless data. The site of Quinta do Soito, located on the lower half of the northernslope of the Mondego River Valley, comprises a series of large granite boulders,some of these forming a small shelter that may have been occupied. However,a quartz knapping area was actually identified outside this shelter. The site ofCarriceiras is located in an open levelled area in the interfluve between the Dãoand Mondego rivers. When test trenches were examined at this site, a numberof negative features were identified and a relatively homogenous artefactassemblage was recovered, consisting of few pottery sherds and a lithic industryof knapped microblades, among which bladelet tools prevailed. The site ofOuteiro dos Castelos de Beijós has provided a small amount of evidence so far,which includes an assemblage consisting of surface pottery that was datedaccording to the decorative patterns and techniques employed. Lastly, referencemust also be made to some pottery and lithics recovered from the soil of thebarrows of two megalithic monuments (Orca do Ameal 2 and monument 2 ofOliveira do Conde). These artefact assemblages are typologically different frommaterials found in the occupation contexts of their respective funerary spaces,thereby suggesting that materials from occupations that preceded the buildingof these monuments were included in the soils used in the construction of theirtomb structures.

The identification and study of these sites has provided secure evidencefor the fact that the issue of the Neolithisation of the interior of the IberianPeninsula was not associated with the phenomenon of funerary megalithism,while the following points and issues are still open to discussion:

• Nothing is known about the preceding period. The lack of data regardingthe settlement of this region before the 5th millennium BC raised thehypothesis of an uninhabited territory. However, data that was recentlyrecovered from peripheral areas, such as the Portuguese Upper Douro,seems to support the theory that such a “void” was mainly due toinsufficient recording and research.

39

• The existence of a previous human settlement would imply thatindigenous Mesolithic populations would have played a role in thedynamics of Neolithisation, since they would have helped to shapethis process at regional level. Adopted models stress the need to considerfiltering and selective acceptance in intercommunity relations, wherebythe transformation and adaptation of external influences (whethermaterials or people) gave rise to assimilations and retransmissions,resulting in changes that would occasionally have been extremelysignificant in relation to the source of origin, or that might even considerthe possibility of rejection, circumvention and infiltration.

• Dating evidence available for various regions of the interior of theIberian Peninsula suggests that, contrary to what was thought until afew decades ago, the process of Neolithisation would have spreadrelatively fast towards the centre of Iberia.

• There is little direct evidence of subsistence in the Mondego RiverBasin. The discussion, here as in other parts of the Iberian Peninsula,has relied on inferences based on the interpretation of the location andcharacteristics of archaeological sites, the likely function of artefactualassemblages or on palaeovegetation data and its comparison withsubsequent periods. As in other regions, the prevailing perspective isthat of an economy that was still strongly dependent on foraging (floraand fauna), productive activities (mixed farming) playing a subsidiaryrole, incorporating ecosystem exploitation models that were still similarto those observed among foraging communities. In peripheral areas,such as the North of Portugal, there is direct evidence for crop growing,namely wheat, and limited evidence for the exploitation of sheep/goat.Pollen studies conducted in the eastern part of the Northern Mesetarevealed the use of leguminosae, which were possibly associated withan early irrigated agriculture that made use of alluvial soils in areas thatwere susceptible to river flooding. It is therefore expected that, in thefuture, this region should also provide direct evidence for food production,although the latter would not have played a determining role in thesubsistence strategy. Data derived from pollen studies of the CentralPlateaux area seem to suggest that this would have been the case.

• The study of settlement patterns is still in its infancy due to the existenceof a limited amount of data. However, proposed economic models, in

40

addition to the lack of clear evidence for full sedentarisation, suggestthat the settlement system was still highly mobile and that it wascharacterised by extensive territorial exploitation strategies, wherebythe system was defined by regular movement.

• Sites that have been identified to date display a great diversity, bothin terms of their location (rock shelters with a cave-like environment;open-air sites established on flat platforms on top of steeply slopinghillsides that afforded good visibility, or in enclosed valleys or even inlevelled lowlands) and in regard to the intensity/duration of theiroccupation, suggesting the lack of a single specific settlement patternfor these communities. This variety is associated with the diversityattested by their respective artefactual assemblages.

Emphasis has, nevertheless, been placed on the fact that the process ofNeolithisation should not be summarised simply as the acquisition of aproductive economy, demographic growth and a package of technologicalinnovations, but rather as transformations that took place in the various spheresof the social domain, resulting in a new historically definable space.

The analysis of the Neolithisation process should also focus on socialrelations, on symbolic perceptions and representations of space and the landscape(the concept of the transformation of space), relations with the territory, themanagement of death, artistic and religious expression (artistic and symbolicrepresentations), etc. In a broad scale approach, the expansion of the productiveeconomy must be regarded as a diversified and irregular process, whereby theeconomic subsystem would have constantly interacted with other socialsubsystems. Under different circumstances and in different areas, the lattermay have played a similarly or even more important role in stimulating thatglobal cultural transformation and in the actual expansion or adoption of aproductive economy itself. Thus, current studies concerning the Neolithisationprocess in the interior of the Iberian Peninsula need to consider the adoptionof broader theoretical perspectives, alongside the undertaking of systematicwork with a view to providing a consistent increase in empirical data, in linewith what has been done in research on other periods of Recent Prehistory.

41

4. ORIGINS AND APOGEE OF MEGALITHISM (LATE 5TH – EARLY3RD MILLENNIUM BC)

Megalithic studies have focused mainly on the district of Viseu, whichcorresponds approximately to the western half of the Beira Alta region, whereone of the largest concentrations of megalithic monuments in Portugal can befound. The distribution of these monuments generally covers the two majorgeomorphological units of this region: to the north, the Central Plateaux cut bythe basins of the Paiva and Vouga rivers, and the Mondego Platform to the south.

Following the early work of the pioneers and the inventories andinterventions of the middle of the twentieth century, research into regionalmegalithism increased significantly during the last three decades, due to researchprojects centred on the Middle Mondego and the Central Plateaux, as well asheritage valorisation work sponsored by local and central government agencies.

However, these research projects followed different approaches, conse-quently leading to equally different perspectives and overall conclusions. Hence,research conducted in the Mondego River Platform was based on the adoptionof a cultural-historical approach, namely on typological seriation and the Horizonconcept, for organising different funerary contexts and associated settlementsinto a chronological sequence of “archaeological cultures” (according to theChildean meaning of the term).

The emergence of megalithism is associated with the Carapito/PramelasHorizon, which has been dated to between the end of the 5th millennium andthe first quarter of the 4th millennium BC, based on the absolute chronologiesof some of the monuments (Carapito 1, Orca de Seixas and Areita Dolmen).This horizon is characterised by recurring assemblages of artefacts found incertain megalithic monuments (Carapito 1, Orca de Pramelas, Orca 1 do Amealand Anta da Mondegã): the presence of geometric microliths made from blades,blades mostly without retouch, a few polished stone artefacts, objects ofadornment consisting of beads (usually small schist beads); the absence ofpottery and arrowheads amongst votive assemblages.

This was followed by a “transition phase”, during which assemblagesfound in megalithic monuments lacked ceramics, yet they included arrowheads(monuments of Mondegã and Orca de Santo Tisco).

Lastly, the so-called Moinhos de Vento/Ameal Horizon was formed.Contrary to preceding horizons, which were defined by the assemblages ofcertain megalithic monuments, the Moinhos de Vento/Ameal Horizon is

42

characterised according to archaeological material from funerary contexts, aswell as a number of settlements that were associated with it. In funerary contexts,the novelty was the occurrence of pottery, in association with richer, typologicallymore evolved and more varied lithic tools.

Megalithic studies of the Central Plateaux have adopted an approach thatsuggests that these megaliths can be included among long-term funerarypractices, lasting until the Bronze Age, which pays particular attention to thearchitectural component, obtaining absolute chronologies and a strongarticulation with palaeoecological studies.

There is a limited amount of evidence concerning the socio-economicorganisation of these communities. For the Central Plateaux, and mainly withrecourse to inferences from palaeoecological data, it is assumed that anthropicintervention didn’t have a strong influence on the landscape, which suggeststhat productive economic activities would have had a limited impact, theexistence of small populations and a seasonal and dispersed settlement pattern.The large collective megalithic tombs of this region were neither directly norclosely associated with a developed agricultural economy. These communitieswould have practiced a broad spectrum economy, in which hunting, gatheringand the exploitation of water resources would still have played a significantrole alongside the exploitation of low-intensity herding and crop growing(activities inferred from pollen analyses). Slash-and-burn agriculture wouldhave supported neither strong residential ties nor the development of anythingother than a relatively low demographic density.

A similar scenario may be envisaged for the Mondego Platform, wheretranshumance (again based on data derived from regional pollen studies) andthe gathering of winter fruits would have played a central role in the economyof the communities of builders and users of the megalithic tombs of the 4thmillennium BC. The latter were built with the effort of intercommunitycollaboration, characteristic of “small-scale societies”, which were moreegalitarian, segmentary and kin-based. Thus, at the end of the 4th millenniumBC, these would not have been true agricultural landscapes; at least not withsimilar characteristics to those presumed for more southerly regions.

Nevertheless, the structural trend identified at transregional level remainsthe same: in this region, the first great long-lasting effort expended inarchitecture, in connection with the symbolic appropriation and management ofspace, also seems to have been invested in the funerary sphere. In this context,as well as functioning as places for the gathering and structuring of communities,

43

megalithic monuments also seemed to have been repositories for experiencesand memory, anchoring varied social identities and varied relationships to theancestor cult. Megalithic monuments were therefore true physical and symboliccentres of territories and served as communication route markers, implyingrights over these. Even if this architectural investment was subsequentlytransferred to places “of life”, whether they had a more residential character oran eminently ceremonial nature, this transfer didn’t necessarily imply a rupture.In terms of the appropriation and organisation of space through Architecture (inthe sense of construction, building), the phenomenon of megalithism does notcounteract architectural strategies adopted in the 3rd millennium BC; rather itis a phenomenon that points that way and these strategies more likely,establishing itself as a “framework of acquired experience”, following a technicaltradition for the organisation of space, which was established as a “pre-concept”of the architecture of the following millennium.

The abovementioned scenarios apply only to the genesis and apogee ofthe phenomenon of megalithism, dated to between the last quarter of the 5thmillennium BC, when the first megalithic monuments were built, and the endof the 4th/beginning of the 3rd millennium BC. However, work conducted inmegalithic monuments in the north of Beira Alta, namely in the context ofsystematic programmes for the absolute dating of construction and abandonmentphases, has revealed that several of the large and medium-sized monumentswere in use for a relatively short period of time. The construction of thesemonuments may actually have come to an end in the middle of the 4thmillennium BC, some of these having been sealed shortly after their constructionwhile others remained in use until later.

During the 4th millennium BC, a few changes occurred in burial practices,which both foretold and enabled trends that would have become establishedduring the course of the following millennium. One of these trends correspondsto a certain diversification of burial practices: while the construction and useof large monuments continued, evidence for the diversification of ritual practicesbegan to appear, as reflected in the reuse of sealed monuments with no indicationof unblocking their respective entrances and in a tendency towards individualburials (as seems to be suggested in the case of the secondary burial at theMoinhos de Vento Dolmen, where a monument that had already been sealedwas reused without opening up the entrance).

Large monuments were reused during the 3rd millennium BC and intothe early part of the 2nd millennium BC, yet apparently without removing the

44

original blocking of their respective entrances. At the same time, small structuresthat were relatively inconspicuous in the landscape began to appear; these wereinhumations that contained a limited number of individuals or even individualburials. The latter have actually been found in cist-type burial tombs of the firsthalf of the 3rd millennium BC, namely in the “large cyst” type burial tomb ofVale de Cerva. Although the architecture of some of these structures seems tofollow the megalithic tradition, on the whole they now seemed to reflect theexistence of distinctive and more diverse burial practices, which, at the end ofthe 3rd millennium BC, may already have included the practice of incineration.

In spite of such changes, it may be contended that, even though thisregion didn’t possess true agricultural landscapes during the second half of the4th millennium BC, this period saw the shaping of the mental, ideological,cosmological and identity framework that was to contextualise and stimulatethe development of such burial practices from the beginning of the followingmillennium in certain areas. This was the case, for example, in the Fornos deAlgodres area, located in the Upper Mondego, in the transition area betweenthe two basic geomorphological units. The establishment of communicationroutes, previous territorial associations (even if more fluid), their symbolicmanagement through the cult of the “ancestors” and their cyclical cosmologicalsystems, all stimulated the development of territorialisation processes, whichwould have cemented identities during the first half of the 3rd millennium BC.Such processes were associated with existing kinship relations and with morecircumscribed landscapes, yet where Neolithic cosmologies still remainedparticularly important.

5. THE CHALCOLITHIC SETTLEMENT

Studies concerning the Chalcolithic settlement have only beensystematically conducted in the context of projects that are specifically orientedtowards this subject matter in the area of Fornos de Algodres, in the district ofGuarda. In this area, research has focused on the development of the localsettlement system throughout the 3rd millennium BC. This settlement systemis unparalleled in other parts of the Beira Alta and Beira Interior regions, wheredomestic settlements of this period have simply been sporadically and non-systematically studied. The difference lies, essentially, in a continued investmentin the research of a relatively small area. In other words, current knowledge

45

about this local area cannot be automatically extrapolated to the entire regionto which this territory belongs. Thorough groundwork must be conducted inthis region so as to broaden the spatial scale of analysis for addressing suchissues.

In terms of the major social dynamics of the Iberian Peninsula, this localsettlement system developed within a framework that included the process ofconsolidation of agricultural societies, their forms of territorialisation and theonset and development of social hierarchisation processes. However, the localexpression of this global dynamic followed its own course, so that this may bedistinguished as a traditional area by comparison to other local and regionalareas.

This local traditional area was established essentially during the first halfof the 3rd millennium BC and seems to have been characterised by a significantautarchy (closed economy) of a relatively small territory, in stark contrast withcontemporary situations developing in the south of the Iberian Peninsula (whereprocesses of territorial aggregation are well documented). The interplay betweena new territoriality, the moderate consolidation of an agricultural economy anda new dynamics of identity was responsible for structuring the settlement system,which was organised in accordance with communication routes and arepresentation of the landscape based on a dual and cyclical cosmology that wasrooted in the Neolithic period. Hence, the economic and technologicaltransformations under way, as well as the territorial traits they established, werestill framed by and subject to beliefs that persisted from the Neolithic past.

New exogenous influences, particularly in the field of architecture(enclosed settlements), as well as certain symbolic pottery decorations, wereemployed in this new expression of territoriality and identity. The communicationsystem employed at the beginning of the 3rd millennium BC maintained theNeolithic matrix, although it also adopted new features: an exogenousarchitectural model (albeit in conformity with the technological tradition andthe local landscape) and the selection of a sedentary residential site as the focusfor local communities, which was established in a prominent location in thelandscape so as to fulfil that role: the hillfort site of Castro de Santiago (seesite file).

In this context, the dynamics of territorialisation that developed locallyfrom the 3rd millennium BC onwards was, initially, a process that didn’t complywith more conventional models, which claim that significant economic andsocial ruptures would have occurred at the end of the Neolithic/beginning of

46

the Chalcolithic, giving rise to the emergence of a marked social inequality inagrarian societies. On the contrary, it seems to suggest that many of the LateNeolithic/ Early Chalcolithic societies wouldn’t have generated social systemsof inequality endogenously, so that the organisational role of kinship structuresof the Neolithic social matrix would have been extended. This situation highlightsthe regional asymmetries of a long-term trend, forcing one to be cautious whenmaking more general statements and, in particular, when applying theseautomatically to different areas within the region.

In the middle of the 3rd millennium BC, a local tradition, an identitydynamic and the organisation of the territory all seem to have been firmlyestablished in this area. Its ”focus” (Castro de Santiago) was abandoned, althoughit would have maintained its symbolic role in the management of the landscapeand identity processes (one of aggregation in relation to communities establishedin the valley and one of differentiation in relation to neighbouring communities).An open-air settlement (the site of Malhada), located in a central area whereseveral communication routes converged, then became one of the largest andmost densely populated domestic sites, and symbolic elements once morereinforced the existence of an established tradition. However, certain indicationsof change began to emerge in later phases of occupation of this site.

These indications mainly concerned stylistic innovations in potterymorphology and decoration, which show the assimilation of motifs that circulatedin peripheral areas. The earliest evidence for metallurgy in this area possiblydates to the third quarter of the 3rd millennium BC, although evidence for thiscraft is sparse. Indications of change become more accentuated from the endof the third quarter of the millennium onwards. The organisation of settlementpatterns remained the same and there is no evidence of significant changes inperceptions and representations of local space. However, there was a drasticreduction in the use of symbolic stylistic motifs, which were replaced by newmotifs displaying a clear northern influence, originating from the neighbouringregion of the Upper Douro Basin and from the Meseta. The local area nowappeared to be more open to external influences and began to experience theimpact of dynamics from neighbouring areas.

The incorporation of this local area in a broader spatial dynamicscrystallised in the last quarter of the 3rd millennium BC, in connection withchanges in the internal social organisation which began to emerge in this areaat the time. The traditional local symbolic stylistic motifs then became residualand these were replaced by new decorative schemes associated with new pottery

47

forms and metal artefacts with a transregional distribution. The occurrence ofobjects that may be interpreted as prestige items indicates changes in thetraditional social organisation, suggesting the emergence of élites that soughtto differentiate amongst themselves and to express their power through thepossession of such goods. These transformations were correlated with changesin the concept of identity, namely with the reinforcement of the autonomy ofindividuation processes, as progressively reflected in the individualisation ofburial practices (even if resorting to the reuse of traditional megalithic collectivetombs).

The erection of a ceremonial centre at Fraga da Pena (see site file) duringthis new transition phase (to the Bronze Age) takes on a role in the managementof change, since it sought to encourage ongoing social changes by evokinglocal tradition at various levels. Control exercised over new symbolic artefactswith a transregional distribution (as in the case of Beaker vessels and metalartefacts) in a ritual context and in a setting that seems to have establishedaffinities with the local past (which may have been a place imbued with historicalsignificance), would have regulated and enabled tensions occurring in the sacredsphere as a result of changes to the established order, thereby facilitating andshaping the emergence of new forms of power and new social relations.

Outside of this area, there is only sparse evidence for domestic sites inthe Middle Mondego area and other isolated sites have been found in the UpperMondego area. The same scenario may be observed in the Beira Interior region;test trenches were dug at some sites, others were excavated in the context ofemergency excavations, while others have simply been surveyed, yet always inisolation and outside the scope of systematic research projects specificallyoriented towards the study of the settlement systems to which they surelybelong.

6. THE BRONZE AGE (LAST QUARTER OF THE 3RD – SECONDQUARTER OF THE 1ST MILLENNIUM BC)

Current knowledge of the Bronze Age in this area consists of very differentlevels of information for the Early and Full phases of the Bronze Age (whichare still poorly documented, in particular in the Beira Interior region) and theLate Bronze Age (which is better documented and researched in both regionsunder consideration).

48

In the Beira Alta region, this region started to participate in transregionaltrade networks for the circulation of artefacts (Bell Beaker material and metalartefacts, including copper weapons and gold jewellery) during the transitionto this period (third quarter of the 3rd /beginning of the 2nd millennium BC).These artefacts are considered prestige items, which were controlled in thecontext of the emergence and development of the first local élites.

Few, yet diversified, sites have been identified to date, and a limitedamount of information is currently available, so that perspectives on the socialdynamics of the first half of the 2nd millennium BC are still rather unclear.Only a small number of domestic sites can be found among published data,namely a single open-air temporary settlement (Linhares, Stª Comba Dão) andevidence of a possible residential occupation in a cave (Buraco da Moura deSão Romão, Seia), which yielded the only faunal assemblage available for thisregion. The fact that this is the only direct evidence of the subsistence economyof these populations has encouraged inferences derived from paleoenvironmentalstudies and analogies with peripheral regions.

Besides these two sites, that of Fraga da Pena (see site file) is worthmentioning. This site consists of two areas enclosed by strong walls appendedto an impressive natural rock formation. It has been interpreted as a ceremonialcentre that would have functioned during the transition to the new social reality.

In the funerary sphere, attention is drawn to the reuse of several megalithicmonuments built during the Neolithic period. Nevertheless, certain “large cist-type” burials, which were less monumental (albeit rooted in the megalithictradition), that had emerged at the end of the Chalcolithic (second half of the 3rdmillennium) continued to be used. Other burial practices, such as the use madeof the fissure located under a small cairn in the Muna 2 (Viseu) tomb, areindicative of the diversity of burial structures. The latter seem, however, todisplay a tendency towards the practice of individual burials, and the first tracesof incineration began to appear, even though inhumation apparently prevailed.

In contrast to the Full Bronze Age, research on the Late Bronze Age hasprogressed considerably over the last few decades and in a more uniform mannerin the region under consideration.

In the Mondego and Vouga river basins, this period witnessed the shapingof what might be considered regionally as the initial stage of strategies forlarge scale territorial control. In actual fact, from the second half of the 2ndmillennium BC onwards (from about 1400 BC), the territorial dynamics isreflected in a settlement pattern consisting of hilltop sites established in

49

extremely prominent locations that, above all, afforded visual control overextensive landscapes, often with high intervisibility levels and controllingtraditional communication routes in this region.

This social dynamics seems to have been associated with the emergence ofa “cultural unit” labelled “Baiões/Santa Luzia Group” which comprised a groupof larger hilltop settlements considered to be central places and another group ofsmaller sites with more varied characteristics that would have been subsidiary tothese. While the former include the hillfort sites of Castro de Srª da Guia (Baiões),Castro de Stª Luzia (Viseu), Castro de São Romão (Seia) or Castro de Srª doBom Sucesso (Mangualde), the following sites would be included among thelatter group: Castro de São Cosme (Ervedal da Beira), Outeiro do Castelo deBeijós, Malcata, Cabeço do Cucão (Carregal do Sal), Buraco da Moura de SãoRomão (Seia) or Quinta das Rosas (Fornos de Algodres).

The burial practices adopted by these communities tended to be fairlystandardised, as reflected in a tendency towards individual burials, the scarcityof votive deposits, incineration and a marked decrease in the architecturalmonumentality of tombs. The architecture was, nevertheless, somewhatdiversified, within related burial types, even thought they possessed similarcharacteristics, as suggested by the existence of small cairns that could includea simple pit (Monument 3 of Lomba do Canho, Arganil or Casinha Derribada,Viseu); small boxes/cists included in small cairns (Casinha Derribada and Fonteda Malga, Viseu) or occurring as a group surrounded by a circular structure(Paranho, Tondela); small cairns occurring in isolation and without votivedeposits (Srª da Ouvida, Castro Daire or Víbora, Carregal do Sal); or the reuseof monuments from previous periods, such as the cist of Rapadouro 1.

Existing evidence points towards a poorly-developed subsistence economy,essentially geared towards self-sufficiency, which would not have allowed theaccumulation of a surplus. Nevertheless, pollen profiles obtained from the peatbogs of Serra da Estrela seem to suggest a certain level of intensification ofherding activities during this period. Thus there is no evidence to support thedevelopment of a productive base that might have sustained a dynamics ofsocial differentiation, which, according to a Wealth Finance model, would haverelied on transregional interaction for the development and consolidation ofélites and political organizations of the chiefdom type, albeit to a limited extent.

This transregional interaction would have been established with inlandregions, such as the Northern Submeseta (as attested by the occurrence ofmaterials from Cogotas I in this region) and with the Andaluzia and Lower

50

Tagus regions (as suggested by the occurrence of burnished pottery in BeiraAlta and the occurrence of post-firing incised decorations, which arecharacteristic of this region, at sites in these southern regions), although itwould essentially have been oriented towards Atlantic trade contacts and itrevolved around the mining and metallurgical production of bronze and gold.

Metallurgy attained an unprecedented significance in this region. Themost commonly occurring metal objects seem to suggest that this region wouldhave been included in the Atlantic trade circuit, although some artefacts alsoreflect an opening up to Mediterranean contacts and influences. In this context,emphasis falls on the deposits from Castro da Srª da Guia (see site file), whichinclude a “hoard” consisting of two decorated torcs and a plain gold braceletand a “deposit” of bronze artefacts, comprising a votive car (and the wheels ofothers), bowls, bracelets, parts of three-pronged forks, horse-trappings,spearheads, a spit hook, and fragments of cauldrons and other metal artefacts.

This preponderance of metalwork, namely the “wealth” attested by Srª daGuia, has been linked to the dynamics of transregional interaction. The latterwould have depended on the regional production of tin and alluvial gold and onits quest in the context of the expansion of Mediterranean trade networks ofPhoenician origin towards the Atlantic coast. The commercial entrepot of SantaOlaia, established on the mouth of the Flandrian period estuary of the MondegoRiver, which would not yet have been silted up at the time, has been interpretedas a center for the flow of metals originating from the Beira interior region. Ithas even been suggested that this site would have been articulated with that ofCastro da Srª da Guia, which was located along one of the communication routes,through the Vouga River Valley, between the interior and the coastal platform.

In terms of their social dynamics, the Late Bronze Age communities ofthe inland basins of the Mondego and Vouga rivers seem to have depended onthis interaction for their establishment and their management of power. Thisdependence is regarded as a limitation that was ultimately responsible for thecollapse of this social dynamics when large scale changes took place in theexternal dynamics that sustained it, namely due to the crisis that affectedPhoenician trade networks from the 6th century BC onwards. However, the lackof research on the Iron Age in this region has meant that very little is as yetknown about the social development of these local communities until thebeginning of the Roman conquest.

In the Beira Interior region, research on the Late Bronze Age has beenconducted essentially in the southernmost area, namely in the Castelo Branco

51

platform and in the transition area to the plateaux of the Northern Submeseta.In this area, in addition to sites excavated by the pioneers of Portuguesearchaeology who worked in this region (among which the site of Monte de S.Martinho is particularly important – see site file), several settlements have alsobeen investigated over the past two decades (Alegrios and Moreirinha in Idanha-a-Nova, Monte do Frade in Penamacor or Castelejo in Sabugal).

The location of known settlements in this area suggests that there was atendency towards the occupation of hilltop locations during this period, takingadvantage of the residual relief, which provided prominence and visual controlover vast landscapes and territories. These were domestic settlements that wereessentially created ex nihilo in the 12th century BC.

Since the latter were always small settlements, hierarchical settlementsystems could not be identified, thereby suggesting a strong correspondencebetween territories and domestic settlements. As in the Beira Alta region, existingstructures were fragile and essentially domestic in character, betraying a reducedarchitectural investment. It is contended that productive forces would havebeen poorly developed, operating in the framework of self-sufficient economies.

Nevertheless, the occurrence of several stelae (more than sixty have beeninventoried) that include representations of weapons and warriors, as well assuggesting an opening up to the world of Spanish Extremadura, also seems toreflect the existence of a hierarchical chiefdom type society, which would haveestablished its power by exercising control over certain goods and artefacts.Bronze metallurgy (binary bronzes) also seems to have played a major role inthis context. This craft activity, which was characterised by a considerablediversity and a domestic production, was incorporated into the trade networksthat emerged during this period. This seems to suggest that this region wouldhave participated in transregional trade networks, as would seem reasonableconsidering its location along one of the main communication routes thatconnected the southern part of the Iberian Peninsula to its northern half. Thehilltop settlement strategy itself was associated with the control and markingof such routes. The stelae and the abundance of burnished pottery both indicatea natural prevalence of contacts with the south. Nevertheless, the occurrence oftypical decorative motifs of the Baiões/Santa Luzia sphere, although fewer innumber, also points towards the existence of contacts to the North of a regionthat was influenced by the confluence of Atlantic, Mediterranean and evencontinental traditions, which would have been responsible for the earlyappearance of the first iron artefacts.

Fichas de Sítios | Site Files

55

Buraco da Moura de S. Romão (Seia)

António Valera

Localização: Distrito de Guarda, concelho de Seia.Acesso: Caminho de terra batida que sai da povoação da Lapa dos Dinheiros,freguesia de S. Romão, em direcção a uma ponte (medieval) sobre a ribeira daCaniça. Após a ponte, tomar um trilho à direita.Descrição: O Buraco da Moura de S. Romão corresponde a uma sequência decavidades entre penedos graníticos que formam um ambiente de gruta no fundodo vale encaixado da Ribeira da Caniça, nos contrafortes ocidentais da Serrada Estrela. A sua formação relaciona-se com a implantação no fundo da ver-tente encaixada, com declives muito acentuados, o que proporcionou a acumu-lação de penedos que formaram o complexo de cavidades. O seu interior épercorrido por linhas de água, que se acumulam em algumas áreas, formandopequenas piscinas.

Reconhecido o seu interesse arqueológico apenas em 1986, foi intervencio-nado entre 1987 e 1993. As prospecções e escavações realizadas permitiramidentificar vários núcleos de cavidades com ocupações humanas, que eviden-ciaram uma longa utilização durante a Pré- e Proto-História, desde o NeolíticoInicial até ao Bronze Final, com uma posterior ocupação datável da BaixaIdade Média. Referiremos aqui apenas os dados relativos à ocupação maisantiga, datável do início do Neolítico.

Esta ocupação processou-se em ambiente de abrigo e de gruta entre penedosgraníticos. Os contextos atribuíveis ao Neolítico Inicial são caracterizados pelaabundância de cerâmica, dominada por recipientes de morfologias fechadas, deestilística de inequívoca influência meridional e também mesetenha. Neste sentido,destaque para as formas com asas de dupla perfuração e para os fundos cónicos.

A decoração cerâmica está presente sempre em percentagens elevadas. Astécnicas utilizadas são a impressão (destacando-se a ocorrência frequente datécnica de boquique), a incisão e a conjugação destas duas técnicas no mesmorecipiente. O almagre surge em vários recipientes e com carácter excepcionalocorre a técnica da excisão assim como o preenchimento a pasta vermelha. Éainda de salientar a forte presença de decorações penteadas, que ressurgiriammais tarde, já no Calcolítico, nesta região e sobretudo no vale do Rio Douro.

56

A indústria lítica é microlaminar sobre lamela, dominantemente em sílex(ausente na zona), não existindo evidências de produção local. A pedra polidaé escassa, sendo destacar a presença de quatro mini enxós de fibrolite compolimento integral. Relativamente aos elementos de moagem, a situação deescassez é idêntica, estando registados alguns moventes e escassos dormentes.

Trata-se de um contexto que revela uma clara influência meridional naneolitização da região (onde encontra como grande paralelo o complexo decavidades do Penedo da Penha 1, no vale do médio Mondego). A sua locali-zação nos contrafortes da Serra da Estrela poderá relacionar-se com a explo-ração dos seus patamares mais altos durante o Verão, hipótese que seria supor-tada por alguns sinais de interferência antrópica sugeridos pelos diagramaspolínicos das turfeiras desta formação montanhosa.

BIBLIOGRAFIA

VALERA, ANTÓNIO CARLOS (1998). “A neolitização da bacia interior do Mondego”,Actas do colóquio A Pré-História na Beira Interior, Estudos Pré-Históricos, 6,Viseu, p. 131-148.

57

Buraco da Moura de S. Romão (Seia)

António Valera

Location : District of Guarda, municipality of Seia.Access: Dirt track road from the village of Lapa dos Dinheiros, parish of S.Romão, towards a bridge (Medieval) over the Caniça Stream. After the bridge,follow a path to the right.Description: Buraco da Moura de S. Romão is a cave-like rock shelter consistingof a series of cavities formed between granite boulder piles, which is locatedat the bottom of the U-shaped valley of Caniça Stream, in the western foothillsof the Serra da Estrela mountain range. This complex of cavities was formedwhere talus has accumulated at the base of a very steeply sloping cliff. Activestreams run through the interior of this site and this water collects in certainareas, forming small pools.

The archaeological interest of this site was only recognised in 1986, andit was excavated between 1987 and 1993. A series of cavities displaying evidencefor human occupation were identified during surveys and excavations conductedat this site. These seem to have been occupied for a long period during Prehistoryand Protohistory, from the Early Neolithic to the Late Bronze Age, and therewas a later occupation dating to the Late Middle Ages. This site file simplyincludes data concerning the earliest occupation, which dates to the EarlyNeolithic.

This occupation developed in a shelter and cave environment amonggranite boulders. Early Neolithic contexts are characterised by an abundance ofpottery, predominantly vessels with closed forms, displaying a clear stylisticinfluence from the south and also from the Meseta region. Among these, attentionshould be drawn to vessels with double perforated lug handles and vessels withconical bases.

A large percentage of the pottery recovered at this site was decorated.The techniques employed included impression (in particular the boquiquedecorative technique), incision and a combination of both these techniques onthe same vessel. Red ochre was used to decorate several vessels and there issome, yet limited, evidence for the technique of excision and for the filling ofcuts with red paste. The abundance of potsherds with combed decorations

58

should also be mentioned; these were to reappear later, during the Chalcolithic,in this region and, in particular, in the Douro River Valley.

The lithic industry is characterised by microliths made on bladelets,predominantly made of flint (which does not occur naturally in this area), andthere is no evidence for a local production. Although polished stone is scarce,four fully polished fibrolite small adze blades were found at this site. There isalso little evidence for quern stones, since only a few rubbing stones and asmall number of querns have been found.

This site points towards the existence of a marked southern influence inthe Neolithization of this region (a good parallel for this site being the cavecomplex of Penedo da Penha 1, in the Middle Mondego River Valley). Itslocation in the foothills of Serra da Estrela mountain range may be associatedwith the exploitation of the highlands during the summer. This hypothesis issupported by some evidence of anthropogenic interference, as reflected in thepollen diagrams from the peat bogs of this mountain range.

BIBLIOGRAPHY

VALERA, ANTÓNIO CARLOS (1998). “A neolitização da bacia interior do Mondego”,Actas do colóquio A Pré-História na Beira Interior, Estudos Pré-Históricos, 6,Viseu, p. 131-148.

59

FIG. 1 – Vista do aglomerado de blocos graníticos onde se localiza o Buraco daMoura e secção da Sala 2, onde se detectaram os principais contextos Neolíticos

preservados (estratos 5 11).

FIG. 1 – View of the granite boulders where Buraco da Moura is located and section ofRoom 2, where the main surviving Neolithic contexts were found (layers 5-11).

60

FIG. 2 – Materiais da ocupação do Neolítico Inicial do Buraco da Moura de SãoRomão (cerâmicas decoradas, enxós de fibrolite e indústria lítica talhada.

FIG. 2 – Finds from the Early Neolithic occupation level of Buraco da Moura de SãoRomão (decorated pottery, fibrolite adzes and knapped lithic industry).

61

Dólmen de Areita (S. João da Pesqueira)

Pedro Sobral

Localização: Distrito de Viseu, concelho de S. João da Pesqueira.Acesso: A partir da povoação de Paredes da Beira.Descrição: O Dólmen de Areita é um dos mais imponentes monumentosmegalíticos do Centro de Portugal, tendo sido intervencionado entre 1997 e1998 pela empresa de arqueologia Arqueohoje, lda.

Encontra-se localizado a cerca de 2 Km a sul da sede de freguesia, Pa-redes da Beira, no concelho de S. João da Pesqueira, distrito de Viseu, muitopróximo do rio Távora e insere-se numa necrópole de mais cinco monumentos,um dos quais totalmente destruído. Está igualmente próximo do abrigo rochosocom pinturas da “Fraga D’Aia”, um dos mais emblemáticos sítios pré-históri-cos do Noroeste peninsular.

Trata-se de um monumento típico do megalitismo do Centro de Portugalcom câmara poligonal alargada, de sete esteios e corredor orientado a nascente.De realçar a imponência do conjunto interno megalítico, atingindo no interiorda câmara cerca de 3,70 m de altura, 3,80 m de comprimento e 4,40 m delargura. O corredor, com cerca de 2,00 m de altura máxima destaca-se pela sualargura, medindo 2,00 m à entrada e 3,14 m junto à câmara.

Os trabalhos arqueológicos permitiram identificar o primitivo pisodeposicional da câmara que preservava ainda intacto um único nível primáriode utilização deste espaço. Tratava-se de uma camada arenosa polvilhada deocre e sobre a qual se conservavam ainda restos ósseos humanos associados auma variada panóplia de artefactos ainda nas posições originais.

Outro dado muito importante obtido com a intervenção efectuada, foi aidentificação de vários troncos carbonizados que jaziam sob o piso de utiliza-ção. Tratavam-se certamente de restos dos troncos utilizados durante a constru-ção do monumento funerário que, depois de serem necessários, foram queima-dos em acto ritual no próprio local.

Verdadeiramente inédita foi a identificação de uma estrutura tipo ”caixa”colocada a descoberto no interior da câmara. Utilizando um dos esteios lateraiscomo face de fundo, esta estrutura era composta por duas delgadas lajes ver-ticais apoiadas na face maior e encostadas a uma outra disposta horizontalmen-

62

te na base. Aberta e ligeiramente inclinada para o centro da câmara, definia umespaço interno de configuração trapezoidal apresentando uma altura máxima de0,61 m. Encontrava-se vazia de espólio mas não de sentido. Este prende-sedecerto com um espaço onde se depositariam oferendas ou ossos.

O acesso ao interior do sepulcro far-se-ia através de dois espaços diferen-ciados, quer em planta, quer pela disposição central de três lajes horizontais:“átrio” e “corredor intratumular”.

Os restos ósseos não se apresentavam em conexão anatómica, o que podetraduzir que os esqueletos seriam “arredados” para espaços concretos no inte-rior da câmara, indiciando o uso deste monumento como ossário. A análise dosfragmentos ósseos permitiu a identificação de um número mínimo de seis in-divíduos.

Do ponto de vista artefactual, merece destaque para o conjunto deoferendas preservadas no interior da câmara e dispostas ao nível de topo dacamada arenosa polvilhada de ocre (primitivo piso deposicional). Deste faziamparte 23 micrólitos geométricos, em sílex e cristal de rocha, uma lâmina emsílex, uma goiva e dois machados de reduzidas dimensões, em silimanite, umpercutor em quartzito e ainda cerca de 3000 contas discoidais em xisto, trezeem variscite e uma em fluorite. Repare-se na inexistência de recipientescerâmicos e de pontas de seta.

Do ponto de vista cronológico, pode-se admitir que este monumentotenha sido construído, utilizado e encerrado num curto espaço de tempo cor-respondente talvez a duas ou três gerações.

As datações radiocarbónicas obtidas, bastante antigas no contexto regio-nal, apontam os meados do Vº milénio para a edificação deste megálito.

Nos esteios 4 e 7 da câmara foram identificados diversos motivos grava-dos, merecendo especial destaque o conjunto patente na laje central. Generica-mente, trata-se de um painel ostentando quatro motivos sub-rectangulares seg-mentados enquadrados por linhas em ziguezague.

63

Dólmen de Areita (S. João da Pesqueira)

Pedro Sobral

Location : District of Viseu, municipality of S. João da Pesqueira.Access: From the village of Paredes da Beira.Description: The Areita Dolmen Burial Chamber is one of the most impressivemegalithic monuments in Central Portugal. It was excavated between 1997 and1998 by an archaeological company called Arqueohoje, Lda.

This monument is located about 2 Km south of the parish seat of Paredesda Beira, in the municipality of S. João da Pesqueira, district of Viseu, veryclose to the Távora River. It is part of a necropolis that includes five othermonuments, one of which has been completely destroyed. It is also locatedclose to the “Fraga D’Aia” rock shelter containing paintings, one of the mostemblematic Prehistoric sites in northwestern Iberia.

This monument is characteristic of megalithism in Central Portugal, witha wide polygonal chamber lined with seven orthostats and an east-facing corridor.The interior of this megalithic monument is particularly impressive, as it reachesa height of about 3. 70 m inside the chamber and measures 3. 80m long by 4.40 m wide. The corridor, which reaches a maximum height of about 2 m, isparticularly impressive due to its width, measuring 2 m at the entrance and 3.14 m next to the chamber.

The original depositional floor of the chamber, which consisted of a fullypreserved single primary floor surface, was identified during archaeologicalexcavations. This was a sandy layer sprinkled with red ochre, above whichhuman remains were found in association with a panoply of artefacts that werestill in their original positions.

Another extremely important piece of information obtained during thisintervention was the identification of the charred remains of several logs, whichwere buried under the floor surface. These were surely the remains of logs usedduring the construction of the funerary monument, which would have beenburnt in a ritual act when they were no longer necessary.

The identification of a “box” type structure found inside the chamber wastruly unique. This structure made use of one of the side slabs as a headstoneand it consisted of two thin vertical slabs placed on their longest side, propped

64

on either side of another slab that was placed horizontally at the bottom of thestructure. This was an open structure that was slightly tilted towards the centreof the chamber, its interior consisting of a trapezoidal-shaped area that reacheda maximum height of 0. 61 m. Although this structure was devoid of artefacts,it seemed to make sense, surely as an area for the deposition of votive offeringsor bones.

The interior of the burial chamber was reached along two areas that weredifferentiated both in plan and due to the central positioning of three horizontalslabs: “forecourt” and “passageway”.

The human remains from this site did not display an anatomical connection,possibly indicating that the skeletons would have been “moved” to specificareas inside the chamber, suggesting that this monument would have been usedas an ossuary. The analysis of bone fragments has revealed that a minimumnumber of six individuals is represented in this assemblage.

As far as artefacts are concerned, the assemblage of offerings foundinside the chamber, on the uppermost part of the sandy layer sprinkled with redochre (original depositional floor), is particularly interesting. This assemblageincluded 23 geometric microliths made of flint and rock crystal, a flint blade,a gouge and two small sillimanite axes, a quartzite hammerstone and about3000 discoidal schist beads, thirteen of these made of variscite and one offluorite. It is also worth noting that both pottery vessels and arrowheads wereabsent.

From a chronological perspective, this monument may have been built,used and sealed over a relatively short period of time, possibly correspondingto two or three generations.

Radiocarbon dates obtained from this monument, which appears to bequite old in terms of the regional context, seem to suggest that it was built inthe middle of the 5th millennium BC.

Several motifs were carved on orthostats 4 and 7 of the chamber and theseries of carvings displayed on the backstone are particularly interesting. Ingeneral, this is a panel decorated with four separate subrectangular motifsframed by zigzag lines.

65FIG. 1 – Vistas gerais do monumento.

FIG. 1 – General view of the monument.

66FIG. 2 – Planta, com dispersão de achados.

FIG. 2 – Plan, with finds dispersal.

67

Dólmen de Antelas (Oliveira de Frades)

António Carlos Valera

Localização: Distrito de Viseu, concelho de Oliveira de Frades.Acesso: Na freguesia de Pinheiro de Lafões, tomar a estrada municipal entreSobreiro e Santa Cruz. À entrada de Antelas virar à direita.Descrição: Trata-se de um monumento megalítico de câmara poligonal de oitoesteios, com cerca de 2,5 metros de altura, corredor ortostático bem diferenci-ado, prolongado por um corredor intratumular e um átrio. Apresenta um tumulusbem conservado, constituído por um contraforte pétreo e mamoa de terrarevestida por uma carapaça pétrea.

A sua construção remontará, com base em datações de radiocarbono, aoprimeiro quartel do 4º milénio AC.

No interior, este monumento apresenta um notável conjunto de pinturasrealizadas a negro e a gradações de vermelho, abrangendo a totalidade dos oitoesteios da câmara, que, assim, se comportam como uma sequência de painéis.Os motivos e as organizações decorativas enquadram-se na arte esquemáticamegalítica que tem outros exemplos em monumentos da região. Em Antelasdominam as composições esquemáticas geométricas, mas também estão pre-sentes as seminaturalistas de natureza figurativa. Estas pinturas foram datadaspelo radiocabono (pigmentos negros) entre 3625-3140 cal AC (Cruz, 1995).Alguns dos esteios apresentam igualmente insculturas.

A preservação da estrutura tumular que envolve a câmara e o corredorortostáticos é igualmente assinalável, proporcionando a percepção e a vivênciado contraste entre os espaços internos e reservados e os espaços externos emais públicos, onde ocorreria parte do cerimonial. A sua arquitectura e a rique-za da sua iconografia nos esteios da câmara têm levado a que este monumentoseja interpretado como um sepulcro-templo.

Está classificado como Monumento Nacional.

68

BIBLIOGRAFIA

CASTRO, L. DE ALBUQUERQUE, FERREIRA, O. DA VEIGA E VIANA, A. (1957). “Odolmén pintado de Antelas (Oliveira de Frades)”, Comunicações dos ServiçosGeológicos de Portugal, Lisboa, p. 325-346.

CRUZ, D. (1995). “Dólmen de Antelas (Pinheiro de Lafões, Oliveira de Frades, Viseu).Um sepulcro-templo do Neolítico Final”, Estudos Pré-Históricos, 3, Viseu, CEPBA,p. 263-264.

TWOHIG, E. S. (1981). The Megalithic Art of Western Europe, Oxford, Clarendon Press.

69

Dólmen de Antelas (Oliveira de Frades)

António Carlos Valera

Location : District of Viseu, municipality of Oliveira de Frades.Access: At the parish of Pinheiro de Lafões, follow the municipal road betweenSobreiro and Santa Cruz. Turn right upon entering Antelas.Description: This megalithic monument has a polygonal chamber lined witheight orthostats, which rises to a height of about 2. 5 metres, a well-differentiatedcorridor consisting of upright slabs that extends into a passageway, and aforecourt. This monument has a well-preserved tumulus, consisting of a stonecairn and an earthen barrow that is revetted with a stone kerb.

Radiocarbon dating evidence indicates that this monument was built inthe first quarter of the 4th millennium BC.

The interior of this monument is decorated with a remarkable group ofpaintings executed in black and different shades of red, which cover thechamber’s eight orthostats as a sequence of panels. The motifs and decorativeschemes employed belong to the repertoire of megalithic schematic rock art,which can also be found in other monuments in this region. Although geometricschematic motifs prevail at Antelas, figurative, semi-naturalistic motifs canalso be found. These paintings were radiocarbon dated (black pigments) tobetween 3625-3140 cal BC (Cruz, 1995). Engravings can also be found onsome of the orthostats.

The state of preservation of the tomb structure covering the orthostat-lined burial chamber and corridor is also remarkable, as it allows one to perceiveand experience the contrast between interior and private spaces and the morepublic exterior spaces, where part of the ritual would have taken place. Thismonument has been interpreted as a tomb-temple in light of its architecture andthe rich iconography displayed on the chamber’s orthostats.

It has been classified as a National Monument.

70

BIBLIOGRAPHY

CASTRO, L. DE ALBUQUERQUE, FERREIRA, O. DA VEIGA E VIANA, A. (1957). “Odolmén pintado de Antelas (Oliveira de Frades)”, Comunicações dos ServiçosGeológicos de Portugal, Lisboa, p. 325-346.

CRUZ, D. (1995). “Dólmen de Antelas (Pinheiro de Lafões, Oliveira de Frades, Viseu).Um sepulcro-templo do Neolítico Final”, Estudos Pré-Históricos, 3, Viseu, CEPBA,p. 263-264.

TWOHIG, E. S. (1981). The Megalithic Art of Western Europe, Oxford, Clarendon Press.

71

FIG. 1 – Vista da entrada do Dólmen de Antelas e das pinturas existentes noesteios da câmara, com destaque para o esteio de cabeceira (fotos Câmara

Municipal de Oliveira de Frades).

FIG. 1 – View of the entrance of Antelas Passage Grave and photograph of painteddecoration on the orthostats of the chamber, showing the backstone, which is particularly

striking (photos courtesy of the Municipality of Oliveira de Frades).

72FIG. 2 – Planta do Dólmen de Antelas e pinturas de alguns

dos esteios da câmara (Segundo Leisner, 1998).

FIG. 2 – Plan of Antelas Passage Grave and paintings found on someof the orthostats of the chamber (after Leisner, 1998).

73

Dólmen de Cortiçô (Fornos de Algodres)

António Carlos Valera

Localização: Distrito da Guarda, concelho de Fornos de Algodres.Acesso: A partir do Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornosde Algodres.Descrição: Trata-se de um dólmen com uma câmara funerária formada pornove esteios e um corredor. Conserva ainda parte da mamoa (montículo depedra e terra que envolvia o corredor e a câmara, dando ao monumento umaspecto de pequena colina). Alguns dos esteios da câmara apresentam aindaténues vestígios de pintura a ocre vermelho.

Foi intervencionado no final do século XIX por Leite de Vasconcelos.Recentemente, já na década de noventa dos éculo passado, sofreu uma inter-venção de restauro por iniciativa dos Serviços da Região Centro do IPPAR emcolaboração com a colaboração da Câmara Municipal de Fornos de Algodres.

A sua construção data do período Neolítico, durante o 4º milénio antes deCristo, mas foi reutilizado no período Calcolítico, durante o 3º milénio aC.

Nele foram recolhidas pontas de seta, machados de pedra polida, geomé-tricos e alguns fragmentos cerâmicos (alguns decorados).

Encontra-se integrado no roteiro arqueológico do concelho de Fornos deAlgodres, estando alguns dos seus materiais expostos no Centro de Interpreta-ção Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres.

BIBLIOGRAFIA

LEISNER, V. (1998). Die megalithgräber der Iberischen Halbinsel. Der Westen, Berlin,Walter de Gruyter & CO.

VALERA, A. C. (2006). Calcolítico e Transição para a Idade do Bronze na Bacia do AltoMondego: estruturação e dinâmica de uma rede local de povoamento, Disserta-ção de doutoramento em Pré-História e Arqueologia, Porto, Policopiado.

TWOHIG, E. S. (1981). The Megalithic Art of Western Europe, Oxford, Clarendon Press.

74

Dólmen de Cortiçô (Fornos de Algodres)

António Carlos Valera

Location : District of Guarda, municipality of Fornos de Algodres.Access: From the Historical and Archaeological Interpretive Centre of Fornosde Algodres.Description: This dolmen has a funerary chamber lined with nine orthostatsand a corridor. Part of its barrow (a mound of stones and earth covering thecorridor and the chamber, so that the monument looked like a hillock) has beenpreserved. Slight traces of red ochre can still be found on some of the chamber’sorthostats.

Leite de Vasconcelos excavated this monument at the end of the 19th

century. Recently, in the 1990s, restoration work was carried out at this siteunder the auspices of the Serviços da Região Centro do IPPAR in collaborationwith the Municipality of Fornos de Algodres.

Cortiçô dolmen was built during the Neolithic period, in the 4th millenniumBC, but it was reused in the Chalcolithic period, during the 3rd millennium BC.

Arrowheads, polished stone axes, geometric microliths and some ceramicfragments (some of these were decorated) were recovered at this site.

This monument is included in the archaeological itinerary of themunicipality of Fornos de Algodres. Some of the materials found at this site areon display at the Centre for Historical and Archaeological Interpretation ofFornos de Algodres.

BIBLIOGRAPHY

LEISNER, V. (1998). Die megalithgräber der Iberischen Halbinsel. Der Westen, Berlin,Walter de Gruyter & CO.

VALERA, A. C. (2006). Calcolítico e Transição para a Idade do Bronze na Bacia do AltoMondego: estruturação e dinâmica de uma rede local de povoamento, Disserta-ção de doutoramento em Pré-História e Arqueologia, Porto, Policopiado.

TWOHIG, E. S. (1981). The Megalithic Art of Western Europe, Oxford, Clarendon Press.

75FIG. 1 – Anta de Cortiçô antes do restauro (1987) e depois do restauro (1990).

FIG. 1 – Cortiçô Dolmen before (1987) and after (1990) restoration work.

76FIG. 2 – Anta de Cortiçô: planta e alçado (segundo Leisner, 1998) e vistas da

sua integração no Roteiro Arqueológico de Fornos de Algodres.

FIG. 2 – Cortiçô Dolmen: plan and section (after Leisner, 1998) and photographs showingthat this monument is included in the Archaeological route of Fornos de Algodres.

77

Ameal-VI (Carregal do Sal)

João Carlos Senna-Martinez

Localização: Distrito de Viseu; concelho de Carregal do Sal.Acesso: Não visitável. Informação disponível numa sala-museu dos BombeirosVoluntários de Canas de Senhorim.Descrição: O Habitat do Ameal-VI situa-se no pequeno planalto, parte dointerflúvio entre o Mondego e o Dão, limitado a sudoeste pelo vale do primeirodaqueles rios e a noroeste pela ribeira de Cabanas ou do Boi. A sua metade sulé recortada por uma série de linhas de água, pequenas ribeiras que afluem aoMondego e das quais algumas contribuem para a existência de alguns dosregadios da zona.

Dominando cada uma das principais baixas de regadio, localizam-se monu-mentos megalíticos de dimensões significativas. O Habitat do Ameal VI fica acerca de 600m a ocidente da Orca dos Fiais da Telha, na vertente suave que ésobranceira à baixa, modernamente ocupada com regadios, onde se situam asOrcas 1 e 2 de Oliveira do Conde, da primeira das quais dista cerca de 1300m.No topo do interflúvio, entre o habitat e a Orca dos Fiais e, respectivamente,a cerca de 125m e 150m deste, ficam dois pequenos monumentos megalíticos,as Orcas 1 e 2 do Ameal (Fig. 1).

O Sector A – Os trabalhos iniciados em 1987 e continuados em 1988,1989, e 1991 incidiram, na sua maior parte, sobre a faixa ocupada pelo estradão(Sector A), única área poupada pelas garras das máquinas utilizadas na prepa-ração do terreno para o plantio do pinhal nos talhões que a enquadram (Senna-Martinez, 1996/1996.). A intervenção abrangeu um total de 165m2 ao longo de41m do estradão, tendo revelado os pisos de três habitações – Cabanas 1 a 3– das quais apenas a primeira e a última se apresentavam bem conservadas.

As Cabanas 1 e 3 (Fig. 2) ocupam áreas, de contorno grosseiramenteoval, com cerca de 6m ¥ 5m, orientadas com o eixo maior de su-sueste a nor-noroeste. Definem-nas manchas de terras, bastante argilosas, castanhas muitoclaras, assentando no areão dos granitos alterados que formam o subsolo, en-quadradas por terras mais escuras, a que se apoiam. Diversos buracos de postena sua periferia e outros interiores representam os elementos de sustentaçãodas paredes e do tecto de que, contudo, desconhecemos aqui a estrutura.

78

Aproximadamente no centro das áreas ocupadas pelos fundos de cabanaficam “lareiras estruturadas”. A escavação das lareiras revelou que as mesmaseram constituídas por fossas que atravessam o fundo das cabanas e o granitoalterado, continuando-se por “silos” abertos nos granitos de base, cujos fundossão preenchidos por terras escuras e com abundantes carvões e sementescarbonizadas, identificadas como “bolota” (Quercus sp. ). Carvões e bolotascarbonizadas permitiram obter para estas estruturas as datas: Cabana 1 (ICEN-345 3980 ± 110 BP – 2881-2146 cal AC a 2s; OxA-5436 4155 ± 55 BP – 2890-2500 cal AC a 2s); Cabana 3 (ICEN-908 4590 ± 45 BP – 3501-3108 cal ACa 2s; ICEN-909 4545 ± 45 BP – 3373-3048 cal AC a 2s).

Preenchendo o resto dos “silos” e as fossas por que se continuam, exis-tem “caixas térmicas” constituídas por elementos fracturados de mós manuaisem granito, percutores de quartzo e pedras de pequenas e médias dimensões,numa matriz de terras argilosas, na sua maior parte “cozidas” pelo calor daslareiras, contendo olaria fragmentada e alguns carvões.

A oriente da Cabana 1 , a 1m do extremo do seu “piso”, fica uma “fossa/silo”. Estes “silos” parecem ter servido para torrar e armazenar bolotadescascada, a qual posteriormente seria moída e utilizada na alimentação, cons-tituindo, junto com uma provável pastorícia de ovi-caprinos, os principais re-cursos alimentares disponíveis para estas gentes.

As datagens disponíveis, aliadas à torrefacção de bolota e ao cuidado postona elaboração das estruturas de aquecimento, permitem afirmar, por um lado, queestas habitações não são contemporâneas e, por outro, que este sítio reflecte umpovoamento aberto, disperso e provavelmente de pequenas dimensões, para oqual parece possível propor um carácter sazonal de Outono/Inverno.

Os materiais associados às ocupações das três cabanas escavadas apresentamgrande semelhança formal com aqueles que atribuímos à principal fase de desen-volvimento do megalitismo regional (Neolítico Final – c. 3600-2500 cal AC) ecorrelacionam-se bem com uma parte significativa dos encontrados na vizinhaOrca dos Fiais da Telha (um monumento funerário megalítico de grandes dimen-sões, com câmara poligonal de 9 esteios e corredor longo), monumento que bempode ter constituído a necrópole utilizada pelos moradores das cabanas do Ameal.

O Sector B – Uma segunda série de intervenções ocorreu em 1999, 2000e 2001 incidindo sobre um segundo sector (Sector B) localizado aproximada-mente 60m a sul da Cabana 1 do Sector A.

Neste sector e de modo semelhante ao verificado no Sector A pudemosescavar uma área total de 83 m2 correspondendo a três pisos de cabanas, cortados

79

pelas garras da máquina que preparou o plantio de pinheiros mas reconhecíveispelos respectivos pisos de argila atravessados por buracos de poste. Dois foramintegralmente expostos – as Cabanas 1 e 2 – e um terceiro – Cabana 3 – apenasparcialmente. As Cabanas 1 e 2 do Sector B apresentam plantas grosseiramenteelipsoidais, algo mais regulares que as suas congéneres do Sector A com, respec-tivamente, 6m x 3m e 4,5m x 2,5m. A primeira é limitada por 13 buracos deposte e possui outros três no seu interior dispostos aproximadamente de nor-noroeste para su-sueste. A segunda é limitada apenas por dez e não identificámosnenhum interior. Lareiras em fossa simples, preenchidas por “caixas térmicas”pétreas, incluindo restos de moventes e dormentes em granito e percutores emquartzo, ocupam um dos focos de cada uma das elipses.

Podemos afirmar que os dados obtidos pela escavação das estruturas doSector B (Fig. 3), não obstante não tenha sido possível, até ao momento, aírecolher qualquer amostra passível de datagem radiocarbónica, confirmaram deum modo geral os resultados obtidos com a escavação do Sector A.

O sítio de Habitat do Ameal-VI constitui o primeiro sítio deste tipo a seridentificado a norte do Maciço Central Português correlacionável com as necró-poles megalíticas locais. A sua relação com a etapa de apogeu da construção e/ou utilização regionais de necrópoles megalíticas torna-o particularmente im-portante para a modelização do modo de vida das populações do Neolítico Finalregional. Os dados que proporcionou foram posteriormente confirmados e com-pletados pelos obtidos com a escavação de outros sítios semelhantes, com des-taque para os da Quinta Nova (Carregal do Sal) e Murganho 2 (Nelas) onde,nomeadamente no segundo, a estrutura de uma habitação semelhante às cabanasdo Ameal foi datada, a partir igualmente de bolotas carbonizadas, de um momen-to intermédio entre os registados para as cabanas do Ameal (ICEN-905 – 4330± 45 BP = 3084-2889 cal AC – cf. Senna-Martinez & Ventura, 2000.).

Propusemos já, como hipótese explicativa para as dinâmicas subjacentesà implantação destes sítios de habitat, que à recolecção, torrefacção e moagemde bolota se juntaria uma pastorícia transumante de ovi-caprinos tendo comodestino os pastos altos do Maciço Central. Tal seria perfeitamente consentâneocom uma ocupação sazonal, no Outono/Inverno, dos sítios de habitat situadosna plataforma do Mondego, como a precariedade e curta utilização das estru-turas habitacionais encontradas e a recolecção e utilização intensiva da bolotaparecem poder indicar. Durante este período ocorreria a construção das necró-poles, conforme decorre dos resultados do estudo das orientações astronómicasdos respectivos monumentos (Senna-Martinez, López Plaza & Hoskin, 1997.).

80

BIBLIOGRAFIA

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1995/1996). “Pastores, recolectores e construtores de megálitosna Plataforma do Mondego no IV e III milénios AC: (1) O sítio de Habitat doAmeal-VI”, Trabalhos de Arqueologia da EAM, 3/4, Lisboa, Colibri, pp. 83-122.

SENNA-MARTINEZ, J. C.; LÓPEZ PLAZA, M. S. & HOSKIN, M. (1997). “Territorio, ideologíay cultura material en el megalitismo de la plataforma del Mondego (Centro dePortugal)”, O Neolítico Atlántico e as Orixes do Megalitismo, «Cursos e Congresosda Universidad de Santiago de Compostela», 101, pp. 657-676.

SENNA-MARTINEZ, J. C. & VENTURA, J. M. Q. (2000). “Pastores, recolectores e cons-trutores de megálitos: O Neolítico Final”, (J. C. Senna-Martinez & I. Pedro, Eds.)Por Terras de Viriato: Arqueologia da Região de Viseu, Viseu, Governo Civil doDistrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia, pp. 53-62.

81

Ameal-VI (Carregal do Sal)

João Carlos Senna-Martinez

Location : District of Viseu; municipality of Carregal do Sal.Access: This site cannot be visited. Information is available at the room-museumof the Volunteer Firefighters (Bombeiros Voluntários) of Canas de Senhorim.Description: The Ameal-VI Settlement is located on a small plateau, which ispart of the interfluve between the Mondego and Dão rivers, limited to thesouthwest by the Mondego River Valley and to the northwest by the Cabanasor Boi Stream. A series of watercourses run through its southern half, namelysmall streams that flow into the Mondego River, some of them providing waterfor the irrigation of lands in this area.

Large megalithic monuments were established in locations that overlookedall the main irrigation lowlands. The Ameal VI Settlement is located about 600m to the west of Orca dos Fiais da Telha, on a gentle slope overlooking thelowlands, which have been used as irrigation lands in modern times, whereOrcas 1 and 2 of Oliveira do Conde can be found, the former lying at adistance of about 1300 m from Ameal-VI. Two small megalithic monuments,Orcas 1 and 2 of Ameal (Fig. 1), are located at the top of the interfluve,between Ameal-VI and Orca dos Fiais, lying, respectively, about 125 m and150 m away from the former.

Sector A – The excavations began in 1987 and continued in 1988, 1989 and1991 mostly concentrated on the strip that was occupied by a dirt track (SectorA). This was the only area spared from destruction by the machines used toprepare the ground for planting a pine tree forest in the surrounding plots of land(Senna-Martinez, 1996/1996). This intervention covered a total of 165 m2 along41 m of the dirt track, and the floors of three dwellings were uncovered – Huts1 to 3 – although only the first and last of these were well preserved.

Huts 1 and 3 (Fig. 2) cover roughly oval areas measuring about 6 m by5 m, their larger axis oriented from south-southeast to north-northwest. Theyare characterised by rather clayey, very light brown soil patches, that overlaidthe sandy gravel of the altered granites that make up the bedrock, surroundedby darker soils, which support them. Posts for supporting the walls and roof ofthese huts would have been set in numerous post-holes found on the periphery

82

and in the interior of these hut floors, although the exact characteristics of suchstructures are unknown.

“Structured hearths” were found approximately at the centre of the areasoccupied by the hut floors. The excavation of these hearths revealed that theyconsisted of pits that cut across the huts’ floors and the altered granite, extendinginto “storage pits” that were cut into the granite bedrock. The floors of thelatter were filled with dark soils and large quantities of charcoal and charredseeds, which were identified as “acorns” (Quercus sp.). The dating of charcoaland charred acorns provided the following dates for these structures: Hut 1(ICEN-345 3980 ± 110 BP – 2881-2146 cal BC at 2s; OxA-5436 4155 ± 55BP – 2890-2500 cal BC at 2s); Hut 3 (ICEN-908 4590 ± 45 BP – 3501-3108cal BC at 2s; ICEN-909 4545 ± 45 BP – 3373-3048 cal BC at 2s).

The remainder of the “storage pits” and the pits into which they extended,was filled with “fireboxes” consisting of fragments of granite quern stones,quartz hammerstones and small and medium-sized stones set in a matrix ofclayey soils that were mostly “baked” due to the heat produced by the hearths,which contained potsherds and some charcoal.

A “pit/storage pit” was uncovered to the east of Hut 1, lying 1m awayfrom the edge of its “floor”. These “storage pits” seem to have been used forroasting and storing peeled acorns, which would subsequently have been groundup and used as food. This would have been the main food resource accessibleto these peoples, alongside the likely practice of sheep/goat herding.

Available dating evidence, as well as the roasting of acorns and the effortexpended in the elaboration of the heating structures, seem to support thecontention that, on the one hand, these dwellings were not contemporary and,on the other, that this was an open, dispersed and probably small settlement,which may have been seasonally occupied during autumn/winter.

Materials associated with the occupation of the three excavated huts havesome formal affinity with objects attributed to the main phase of development ofregional megalithism (Late Neolithic – c. 3600-2500 cal BC). They also appearto be correlated with a significant number of finds from the neighbouring site ofOrca dos Fiais da Telha (a large megalithic funerary monument with a polygonalchamber consisting of 9 orthostats and a long corridor), a monument that maywell have been the necropolis used by the inhabitants of the Ameal huts.

Sector B – A second series of excavations conducted in 1999, 2000 and2001 concentrated on a second sector (Sector B), which is located approximately60 m to the south of Hut 1 of Sector A.

83

In this sector and similarly to what was observed in Sector A, a total areaof 83 m2 was excavated, which corresponded to three hut floors that had beencut by a machine used to prepare the ground for planting pine trees. Thesestructures were, nevertheless, identified due to their respective clay floors,which were cut by post-holes. Two of these floors were fully uncovered – Huts1 and 2 – and a third one – Hut 3 – only partially so. Huts 1 and 2 of SectorB display roughly ellipsoidal plans, which are somewhat more regular thatthose of identical structures in Sector A, measuring respectively 6 m by 3 mand 4. 5 m by 2. 5 m. Hut 1 is delimited by 13 post-holes and three post-holeshave been found in its interior, placed approximately from north-northwest tosouth-southeast. Hut 2 is delimited simply by ten post-holes and none werefound in its interior. At the centre of each of these ellipses there was a hearthwith a simple pit, filled with a “firebox” made of stone, which consisted of theremains of granite rubbing stones and querns and quartz hammerstones.

It may be contended that the data obtained during the excavation of thestructures in Sector B (Fig. 3) generally corroborate the results obtained duringthe excavation of Sector A, despite the fact that no sample that might besusceptible to radiocarbon dating has been recovered.

The Settlement Site of Ameal-VI is the first site of this type identified tothe north of the Central Portuguese Massif, which may be associated with thelocal megalithic necropoleis. This site is particularly important for modellingthe way of life of Late Neolithic regional populations due to the fact that it isassociated with the peak stage of the regional construction and/or use ofmegalithic necropoleis. Information recovered at this site has subsequentlybeen confirmed and completed by data obtained during the excavation of othersimilar sites, in particular those of Quinta Nova (Carregal do Sal) and Murganho2 (Nelas). Charred acorns found at Murganho 2 were used for dating the structureof a dwelling that resembled the Ameal huts to a phase that falls between thedates provided for the latter (ICEN-905 – 4330 ± 45 BP = 3084-2889 cal BC– cf. Senna-Martinez & Ventura, 2000.).

It has already been suggested as an explanatory hypothesis for thedynamics underlying the establishment of these settlement sites that thegathering, roasting and grinding of acorns would have been conducted alongsidea transhumant sheep/goat pastoralism between the lowlands and the highlandpastures of the Central Massif. This would be in perfect agreement with theseasonal occupation, during autumn/winter, of settlement sites located alongthe Mondego River platform, as seems to be suggested by the precarious nature

84

and short-lived occupation of domestic structures and the intensive exploitationof acorns. The necropoleis would have been built during this period, as suggestedby the outcome of the study of astronomical alignments of these monuments(Senna-Martinez, López Plaza & Hoskin, 1997).

BIBLIOGRAPHY

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1995/1996). “Pastores, recolectores e construtores de megálitosna Plataforma do Mondego no IV e III milénios AC: (1) O sítio de Habitat doAmeal-VI”, Trabalhos de Arqueologia da EAM, 3/4, Lisboa, Colibri, pp. 83-122.

SENNA-MARTINEZ, J. C.; LÓPEZ PLAZA, M. S. & HOSKIN, M. (1997). “Territorio, ideologíay cultura material en el megalitismo de la plataforma del Mondego (Centro dePortugal)”, O Neolítico Atlántico e as Orixes do Megalitismo, «Cursos e Congresosda Universidad de Santiago de Compostela», 101, pp. 657-676.

SENNA-MARTINEZ, J. C. & VENTURA, J. M. Q. (2000). “Pastores, recolectores e cons-trutores de megálitos: O Neolítico Final”, (J. C. Senna-Martinez & I. Pedro, Eds.)Por Terras de Viriato: Arqueologia da Região de Viseu, Viseu, Governo Civil doDistrito de Viseu e Museu Nacional de Arqueologia, pp. 53-62.

85

FIG. 1 – (Em cima) Localização do Sítio de Habitat do Ameal-VI (AM6H) e dosmonumentos funerários megalíticos vizinhos nas folhas 210 e 211 da Carta Militar dePortugal na escala 1/25000: 1. Orca dos Fiais da Telha; 2. Orca 1 do Ameal; 3. Orca 2do Ameal. (Em baixo) O silo da Cabana 3 do Sector A em escavação. Das três lâminas

de enxó em anfibolite polida provenientes desta cabana e primeira e terceira foramdepositadas, “consagrando” dois momentos de utilização do respectivo silo: no fundodeste, enquanto utilizado na torrefacção e armazenagem de bolota; na base da “caixa

térmica” de pedra que o transformou em lareira de aquecimento.

FIG. 1 – (Above) Location of the Habitat Site of Ameal-VI (AM6H) and megalithic funerarymonuments in the vicinity, on sheets 210 and 211 of the Military Map of Portugal at a scale of1:25000: 1. Orca dos Fiais da Telha; 2. Orca 1 do Ameal; 3. Orca 2 do Ameal. (Below) The storagepit of Hut 3 in Sector A during excavation. The first and third of three polished amphibolite adzeblades found in this hut were deposited, representin two distinctive phases of use of its respectivestorage pit: at the bottom of the latter, while it was used for roasting and storing acorns; in the

foundation of the “firebox“made of stone, which transformed this feature into a hearth.

86

FIG. 2 – Planta topográfica do Sítio de Habitat do Ameal-VI e plantasdas estruturas habitacionais escavadas nos Sectores A e B.

FIG. 2 – Topographic plan of the Habitat Site of Ameal-VI and plansof the domestic structures excavated in Sectors A and B.

87

Castro de Santiago (Fornos de Algodres)

António Carlos Valera

Localização: Distrito da Guarda, concelho de Fornos de Algodres.Acesso: A partir do Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornosde Algodres.Descrição: O Castro de Santiago localiza-se na freguesia de Figueiró da Gran-ja, concelho de Fornos de Algodres, distrito da Guarda. O povoado situa-se notopo Norte de uma elevação entre dois acidentes tectónicos parcialmente apro-veitados pelos leitos das ribeiras de Vila Chã, a Oeste, e Muxagata, a Este.Implantado a 612 m de altitude, o sítio desfruta de grande domínio visual sobrea paisagem envolvente, que se estende até ao sopé da Serra da Estrela. Bene-ficiando de vertentes de declives bastante acentuados a Norte, Oeste e Este, osítio apresentava, à partida, boas condições naturais de defesa. Aproveitando osgrandes penedos graníticos do topo, que naturalmente proporcionavam umaárea protegida, foram edificados troços de muralhas, formando dois recintos.

O Castro de Santiago foi o primeiro povoado fortificado calcolítico aser identificado na Beira Alta. A sua escavação deu início a um projecto deinvestigação sistemática de uma rede local de povoamento durante o 3º mi-lénio, integrando um conjunto alargado de povoados na área de Fornos deAlgodres.

Os trabalhos arqueológicos realizados ao longo de oito anos (1988-1995)incidiram, sobretudo, no recinto norte e espaço exterior junto às estruturas defortificação que o delimitam, abrangendo uma área de cerca de 500 m2, tendoo estudo monográfico do sítio sido publicado em 1997, integrando uma primei-ra síntese sobre o processo de calcolitização na região (Valera, 1997).

Para além das estruturas de fortificação, foram identificadas no interiorestruturas de carácter habitacional com lareira central (cabanas) e outras de usoindeterminado (empedrados). A estratigrafia observada permitiu identificar doismomentos de ocupação plena do povoado durante a Pré-História.

Essas duas fases não apresentam significativas diferenças entre si aonível da cultura material, que se caracteriza por um domínio dos recipientescerâmicos, frequentemente decorados (decorações incisas, impressas e,vestigialmente, pintadas), onde se destacam os motivos em espinha. Ainda em

88

cerâmica, a presença de pesos de tear paralelepipédicos com quatro perfuraçõesdocumentam a tecelagem.

Na utensilagem lítica é de destacar a presença de uma cadeia operatóriapara a produção e utilização de artefactos polidos, estando documentadas todasas etapas, desde o bloco/lingote ao utensílio utilizado e respectivos restos deprodução e reaproveitamentos. Na indústria lítica talhada, a produção sobrematérias-primas locais (quartzo) é dominante, estando sobretudo orientada paraa obtenção de lascas e artefactos sobre lasca. O sílex é minoritário, revelandouma indústria sobre suporte laminar, sendo as lâminas importadas. Os elemen-tos de moagem estão igualmente bem representados. A metalurgia e os metaisestão ausentes.

A primeira fase de ocupação foi datada, pelo radiocarbono, do primeiroquartel do 3º milénio AC, correspondendo ao arranque do processo decalcolitização na região.

Nas camada superficiais foram registados vestígios de reutilizações pou-co intensas daquele espaço durante a Idade Média.

Em termos genéricos, a leitura que se faz do Castro de Santiago é a deum sítio residencial, mas cuja situação específica (implantação e estruturas)revela preocupações inéditas até então naquela região, entre as quais a adesãoa novas e exógenas formas de comunicação através da arquitectura. Relaciona-se com o início de uma nova dinâmica de mudança que se desencadeia nesteterritório na transição do 4º para o 3º milénio, geradora de uma reorganizaçãoterritorial e de dinâmicas identitárias específicas, mudanças que “necessitam”de novos mecanismos simbólicos de gestão das identidades emergentes e dassuas relações com o “seu” território e com os territórios e comunidades peri-féricas.

BIBLIOGRAFIA

VALERA, A. C. (1992). Castro de Santiago (Figueiró da Granja). As campanhas de1990 e 1991, GAFAL, Fornos de Algodres.

VALERA, A. C. (1993c). Património arqueológico do concelho de Fornos de Algodres,Lisboa, APSCDFA.

VALERA, A. C. (1994a). “Diversidade e Relações Inter-Regionais no PovoamentoCalcolítico da Bacia do Médio e Alto Mondego”, Actas do I Congresso de Arque-ologia Peninsular, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol. XXXIV (1-2),Porto, SPAE, p. 153-171.

89

VALERA, A. C. (1994b). “Duas datações de C14 para o Castro de Santiago (Fornos deAlgodres), Actas das V Jornadas Arqueológicas da AAP, Vol. 2, p. 133-136.

VALERA, A. C. (1994d). “Pré-História Recente do concelho de Fornos de Algodres(Guarda): resultados das escavações e prospecções de 1992/93”, Trabalhos deArqueologia da EAM, 2, Lisboa, Colibri, p. 145-172.

VALERA, A. C. (1997). O Castro de Santiago (Fornos de Algodres, Guarda): aspectosda calcolitização da bacia do Alto Mondego, Textos Monográficos, 1, Fornos deAlgodres.

VALERA, A. C. & ESTEVINHA, I. A. (1989). O Castro de Santiago (Figueiró da Granja)Fornos de Algodres -Contribuições para o estudo da Pré-histiória recente da

Bacia do Médio e Alto Mondego, GAFAL, Fornos de Algodres.

90

Castro de Santiago (Fornos de Algodres)

António Carlos Valera

Location : District of Guarda, municipality of Fornos de Algodres.Access: From the Historical and Archaeological Interpretative Centre of Fornosde Algodres.Description: The hillfort site of Castro de Santiago is located in the parish ofFigueiró da Granja, municipality of Fornos de Algodres, in the district of Guarda.The settlement is located on the Northern summit of a hill formed between twotectonic faults that are used, in part, as the streambeds of the Vila Chã Stream,to the West, and Muxagata Stream, to the East. This site was established at analtitude of 612 m, and therefore affords a vast visual control over the surroundinglandscape, which stretches until the foot of the Serra da Estrela mountainrange. This castro was established on a hilltop with good natural defensibility,since it has rather steeply sloping sides to the North, West and East. Stretchesof fortification walls forming two enclosures were taking advantage of thelarge granite boulders of the rocky outcrop found at the top of the hill, whichprovided a naturally defended area.

The Castro of Santiago was the first Chalcolithic fortified settlementidentified in the Beira Alta region. The excavation of this site gave rise to aproject that involved the systematic research of the local settlement network ofthe 3rd millennium BC, which included a large number of settlements in theFornos de Algodres area.

Archaeological fieldwork conducted over a period of eight years (1988-1995) focused, mainly, on the northern enclosure and the area outside of it,adjacent to the enclosure’s fortification walls, covering an area of about 500m2. The monographic study of this site, which was published in 1997, includeda first synthesis of the Chalcolithisation process in this region (Valera, 1997).

In addition to the fortification walls, domestic structures with a central hearth(huts) as well as other structures of unknown function indeterminate use (pavedareas) were identified within this enclosure. Two phases of full-fledged occupationof this settlement during Prehistory were identified in the observed stratigraphy.

There are no significant differences between the material culture fromthese two phases, which is characterised by the prevalence of ceramic vessels

91

that are often decorated (incised, impressed and exhibiting traces of painteddecoration), particularly with herringbone motifs. Weaving is also attested bythe occurrence of rectangular or cubic clay loom-weights with four perforations.

In regard to lithic tools, there is evidence for the existence of a chaineoperatoire for the production and use of polished artefacts, all stages beingdocumented, from the ingot to the used tool and their respective productiondebitage and reuse. Most of the knapped lithic industry was made of localraw materials (namely quartz), which was essentially geared towardsproducing flakes and artefacts made on flakes. Flint is poorly represented,revealing the existence of a blade industry, although the blades would havebeen imported. Quern stones are well represented. Metallurgy and metalsare absent altogether.

The first phase of occupation of this site was radiocarbon dated to thefirst quarter of the 3rd millennium BC, which corresponds to the onset of theChalcolithic period in this region.

Traces for the limited reuse of this area during the Middle Ages werefound in the upper layers.

In a general sense, the Castro of Santiago may be interpreted as a domesticsite, although its specific location (both siting and structures) points towardsthe existence of unprecedented concerns in this region, which include theadoption of new and exogenous means of communication through architecture.Such an occurrence is associated with the beginning of a new dynamics ofchange that emerged in this territory during the transition from the 4th to the 3rd

millennium BC, which generated a territorial reorganization and specific identitydynamics. Such changes “required” new symbolic mechanisms for themanagement of emerging identities and their relationships with “their” territoryand with peripheral territories and communities.

BIBLIOGRAPHY

VALERA, A. C. (1992). Castro de Santiago (Figueiró da Granja). As campanhas de1990 e 1991, GAFAL, Fornos de Algodres.

VALERA, A. C. (1993c). Património arqueológico do concelho de Fornos de Algodres,Lisboa, APSCDFA.

VALERA, A. C. (1994a). “Diversidade e Relações Inter-Regionais no PovoamentoCalcolítico da Bacia do Médio e Alto Mondego”, Actas do I Congresso de Arque-ologia Peninsular, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol. XXXIV (1-2),Porto, SPAE, p. 153-171.

92

VALERA, A. C. (1994b). “Duas datações de C14 para o Castro de Santiago (Fornos deAlgodres), Actas das V Jornadas Arqueológicas da AAP, Vol. 2, p. 133-136.

VALERA, A. C. (1994d). “Pré-História Recente do concelho de Fornos de Algodres(Guarda): resultados das escavações e prospecções de 1992/93”, Trabalhos deArqueologia da EAM, 2, Lisboa, Colibri, p. 145-172.

VALERA, A. C. (1997). O Castro de Santiago (Fornos de Algodres, Guarda): aspectosda calcolitização da bacia do Alto Mondego, Textos Monográficos, 1, Fornos deAlgodres.

VALERA, A. C. & ESTEVINHA, I. A. (1989). O Castro de Santiago (Figueiró da Granja)Fornos de Algodres -Contribuições para o estudo da Pré-histiória recente daBacia do Médio e Alto Mondego, GAFAL, Fornos de Algodres.

93

FIG. 1 – Castro de Santiago: vista geral, aspectos das muralhas que delimitam orecinto interior e reconstituição dessas estruturas e de uma das cabanas identificadas.

FIG. 1 – The Hillfort of Castro de Santiago: general view, view of the inner enclosurewall and computer reconstruction of this structure and of one of the huts identified.

94FIG. 2 – Castro de Santiago: planta geral dos dois recintos, aspecto de uma

das cabanas e pormenor do sistema de acesso ao recinto interior.

FIG. 2 – The Hillfort of Castro de Santiago: general plan of both enclosures,view of one of the huts and detail of the entrance to the inner enclosure.

95

Fraga da Pena (Fornos de Algodres)

António Carlos Valera

Localização: Distrito da Guarda, concelho de Fornos de Algodres.Acesso: A partir do Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornosde Algodres.Descrição: Trata-se de um gigantesco tor granítico que se eleva, de formaespectacular, junto ao topo da vertente de um vale muito encaixado (cerca de750 m de altitude). O carácter fortemente escarpado de toda a Fraga e o acen-tuado declive da vertente proporcionam-lhe um excepcional destaque e contro-lo sobre o vale e sobre a paisagem que se estende até à Serra da Estrela.Aproveitando estas características naturais do local, foram construídas estrutu-ras de fortificação formando dois pequenos recintos contíguos. No topo davertente, a cerca de 80m da Fraga e a uma altitude superior, foram identifica-dos vestígios de ocupação exterior aos recintos fortificados.

O sítio foi sistematicamente escavado desde 1991, no âmbito de umprojecto de investigação de uma rede local de povoamento. Os trabalhos reve-laram uma ocupação do final do Calcolítico / início da Idade do Bronze, situávelno último quartel do 3º / inícios do 2º milénio AC. Na cultura material, des-taca-se o maior conjunto de recipientes campaniformes conhecido na região daBeira Alta.

Devido às suas características geomorfológicas, a Fraga da Pena terásido, desde os primeiros tempos em que o Homem com ela contactou, umelemento estruturante nas sucessivas leituras da paisagem local. A sua ocupa-ção no final do 3º milénio revela uma estratégia que procura aproveitar a cargasimbólica e o potencial comunicativo que esta formação natural sempre evi-denciou (sendo ainda hoje um marco de fronteira administrativa).

A ausência de evidências de ocupação doméstica e a presença de mate-riais de excepção (campaniformes, adorno, sagrado, pinturas nos penedos),indiciam um local não residencial, que terá funcionado como centro cerimoni-al. O Tor granítico da Fraga da Pena e as estruturas amuralhadas que lhe foramencostadas não resultam numa simples adição, mas num edifício onde todos osvolumes, artificiais e naturais, se interligam de forma absolutamenteinterdependente e articulada, ao serviço de uma estratégia comunicacional. A

96

sua edificação é realizada num momento de transição, onde se assiste a trans-formações sociais relacionadas com a emergência de elites locais e onde umatradição local, desenvolvida ao longo do 3º milénio, está em processo dedesestruturação e o território se abre à circulação de elementos estilísticos decirculação transregional. Neste contexto de mudança, este sítio terá funcionadocomo um lugar activo na gestão dos conflitos relacionados com a emergênciade uma nova ordem social e uma nova articulação regional.

Trata-se de um magnífico exemplar da arquitectura do período e da suamanipulação enquanto estratégia comunicativa, de construção das paisagens ede gestão identitária.

Este sítio, de características únicas na região, encontra-se visitável, inte-grando o Roteiro Arqueológico de Fornos de Algodres. Materiais e informaçãosão apresentados numa exposição permanente que está disponível no Centro deInterpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres.

BIBLIOGRAFIA

DIAS, I., PRUDÊNCIO, I.; PRATES, S.; GOUVEIA, A. & VALERA, A. C. (2000). “Tecnologiasde produção e proveniência de matéria-prima das cerâmicas campaniformes daFraga da Pena (Fornos de Algodres – Portugal)”, Pré-História Recente na Penín-sula Ibérica (Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular – 1999), Porto,ADECAP, p. 253-268.

DIAS, I.; VALERA, A. C. & PRUDÊNCIO, M. I. (2005). “Pottery production technologythroughout the third millennium BC on a local settlement network in Fornos deAlgodres, central Portugal”, Understanding people through their pottery.Proceedings of the 7th European Meeting on Ancient Ceramics (EMAC 03),Trabalhos de Arqueologia, 42, IPA, Lisboa, p. 41-48.

VALERA, A. C. (1997). “Fraga da Pena (Sobral Pichorro, Fornos de Algodres): umaprimeira caracterização no contexto da rede local de povoamento”, Estudos Pré-Históricos, Vol. V, Viseu p. 55-84.

VALERA, A. C. (1999). “The re-creation of territorialities and identities in the IIImillennium BC: research problems in Central Portugal”, Journal of IberianArchaeology, Vol 1, Porto ADECAP, p. 109-115.

VALERA, A. C. (2000). “O fenómeno campaniforme no interior centro de Portugal: ocontexto da Fraga da Pena”, Pré-História Recente na Península Ibérica (Actas do3º Congresso de Arqueologia Peninsular – 1999), Porto, ADECAP, p. 269-290.

97

Fraga da Pena (Fornos de Algodres)

António Carlos Valera

Location : District of Guarda, municipality of Fornos de Algodres.Access: From the Centre for Historical and Archaeological Interpretation ofFornos de Algodres.Description: This is an enormous granite tor that rises, rather strikingly, to aconsiderable height, near the summit of a hill with a very steep-sided valley(about 750 m above sea level). The entire crag (“Fraga”) is characterised bysteep scarps and it has a near-vertical cliff face hillside, so that this is a highlyprominent location, commanding views over the valley and the surroundinglandscape which extends all the way until the Serra da Estrela mountain range.Fortification walls forming two small contiguous enclosures were built againstthis natural rock outcrop. Traces of human occupation were found outside ofthe fortified enclosures, on the summit of the hill and, therefore, at a greateraltitude, at a distance of about 80 m from the Fraga.

This site has been systematically excavated since 1991, in the context ofa research project focusing on the local settlement pattern. The fieldworkrevealed a Late Chalcolithic/Early Bronze Age occupation dating to the lastquarter of the 3rd millennium/early 2nd millennium BC. The material culture ofthis site included the largest assemblage of Beaker vessels ever found in theBeira Alta region.

Due to its geomorphological characteristics, Fraga da Pena would haveplayed a significant role in the organisation of the local landscape over severalsuccessive periods from the first moment that humans interacted with thisrocky outcrop. The occupation of this site at the end of the 3rd millennium BCreflects a strategy that sought to exploit both the symbolic power-charge andcommunication potential that have always characterised this natural rockyoutcrop (at present, it is still an administrative boundary marker).

The absence of evidence for a domestic occupation and the existence ofan exceptional finds assemblage (Bell Beaker material, objects of adornment,cult objects, rock paintings) suggest that this would have been a non-residentialsite, which would have functioned as a ceremonial centre. The granite tor ofFraga da Pena and the walled enclosures built against should not be regarded

98

simply as the appending of a structure to this natural rock, but rather as aunified building, whereby all features, both artificial and natural, wereinterconnected in a completely interdependent and articulated manner, as amedium of communication. This site was built during a period of transitionwhich saw social transformations associated with the emergence of local elites,the fragmentation of a local tradition that had developed throughout the 3rd

millennium BC and the opening up of this territory to transregional contacts forthe circulation of stylistic elements. In this context of change, this site wouldhave played an active role in the management of conflicts associated with theemergence of a new social order and a new regional articulation.

This is a magnificent example of the architecture of this period and of itsuse as a medium of communication in the construction of landscapes and themanagement of identities.

The characteristics of this site are unique in this region. The site may bevisited and is included in the Archaeological Itinerary of Fornos de Algodres.Archaeological materials and information are presented in a permanentexhibition, which is on display at the Historical and Archaeological InterpretationCentre of Fornos de Algodres.

BIBLIOGRAPHY

DIAS, I., PRUDÊNCIO, I.; PRATES, S.; GOUVEIA, A. & VALERA, A. C. (2000). “Tecnologiasde produção e proveniência de matéria-prima das cerâmicas campaniformes daFraga da Pena (Fornos de Algodres – Portugal)”, Pré-História Recente na Penín-sula Ibérica (Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular – 1999), Porto,ADECAP, p. 253-268.

DIAS, I.; VALERA, A. C. & PRUDÊNCIO, M. I. (2005). “Pottery production technologythroughout the third millennium BC on a local settlement network in Fornos deAlgodres, central Portugal”, Understanding people through their pottery.Proceedings of the 7th European Meeting on Ancient Ceramics (EMAC 03),Trabalhos de Arqueologia, 42, IPA, Lisboa, p. 41-48.

VALERA, A. C. (1997). “Fraga da Pena (Sobral Pichorro, Fornos de Algodres): umaprimeira caracterização no contexto da rede local de povoamento”, Estudos Pré-Históricos, Vol. V, Viseu p. 55-84.

VALERA, A. C. (1999). “The re-creation of territorialities and identities in the IIImillennium BC: research problems in Central Portugal”, Journal of IberianArchaeology, Vol 1, Porto ADECAP, p. 109-115.

VALERA, A. C. (2000). “O fenómeno campaniforme no interior centro de Portugal: ocontexto da Fraga da Pena”, Pré-História Recente na Península Ibérica (Actas do3º Congresso de Arqueologia Peninsular – 1999), Porto, ADECAP, p. 269-290.

99

FIG. 1 – Fraga da Pena: vista do vale da Ribeira da Muxagata e vista do topoda vertente, com reconstituição das estruturas de delimitam os dois recintos.

FIG. 1 – Fraga da Pena: view of the valley of Muxagata Stream and view ofthe top of the hill, including a computer reconstruction of the structures

that delimit the two enclosed areas.

100FIG. 2 – Fraga da Pena: pormenores das estruturas dos dois recintos.

FIG. 2 – Fraga da Pena: details of the structures of the two enclosed areas.

101

Monte de S. Martinho (Castelo Branco)

Raquel Vilaça*

Localização: Distrito de Castelo Branco, concelho de Castelo Branco.Acesso: A partir de Castelo Branco.Descrição: O Monte de S. Martinho corresponde a uma elevação de formacónica que se destaca na paisagem, a cerca de 3,5 km a sudeste de CasteloBranco (Fig. 1). Pertence à freguesia e concelho de Castelo Branco. As suascoordenadas geográficas, segundo a “Carta Militar de Portugal”, esc. 1/25.000, fl. 292, são: Latitude – 39º 48’ 04,860” N; Longitude – 1º 40’ 09,549” ELx.; a sua cota máxima é de 435 m (Fig. 1).

Em 1903, Francisco Tavares Proença iniciou escavações no Monte de S.Martinho, bem como na planície adjacente, onde assinalou múltiplos vestígiosde época romana; toda essa área ficou conhecida como “triângulo de Sr.ª deMércules, S. Martinho e Sant’Ana”.

No topo do monte são identificados dois “monumentos”, um à superfíciedo solo, o outro a 60 cm de profundidade, deitados horizontalmente. Tratava-se do achado de duas das “estelas” de S. Martinho, conforme ficaram conhe-cidas na bibliografia. A sua rápida divulgação, nomeadamente em 1905, no“Congrés Préhistorique de France” (Périgueux), tornaria célebre a estação. Oterceiro “monumento” terá sido encontrado mais tarde, não se sabendo bemquando, nem em que circunstâncias. Em 1906 são identificados e escavados ofosso e a muralha, mas não se conhecem quaisquer notas de campo, plantas oumateriais que terão sido exumados.

Em 1917, a “Sociedade dos Amigos do Museu” realizou escavações, masnão temos notícia dos resultados. Muito mais tarde, já nos anos oitenta doséculo passado, são feitas sondagens, de que se sabe igualmente muito pouco.Alguns achados ocasionais de superfície, recolhidos em distintas situações aolongo dos anos, foram depositados no Museu de Francisco Tavares ProençaJunior; outros, encontram-se em mãos particulares. Os dados disponíveis per-mitem-nos afirmar que o Monte de S. Martinho conheceu uma longa diacroniade ocupação desde os finais do II milénio a. C. até ao período romano. É

* Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Portugal rvilaca@ci. uc. pt

102

admissível que a sua ocupação remonte ao Calcolítico, mas são parcos ostestemunhos atribuíveis a esse período (machados de pedra polida, lascas resi-duais de sílex). A comprovada ocupação do Bronze Final manifesta-se nosmateriais cerâmicos, metálicos e líticos, além das “estelas”. Entre aqueles, sãode destacar pequenas taças, carenadas, com decoração brunida, cerâmicas comfinas incisões, impressões a pente, puncionamentos, etc. A produção local dametalurgia do bronze expressa-se num molde de argila e nos fragmentos depeças de bronze (lâmina de espada, punção, molas de fíbulas, chapas rebitadasde possíveis caldeiros, etc.). Merece especial referência um artefacto em formade pega, com decoração em “espinha” de óbvia inspiração oriental sardo-cipri-ota (Fig. 2).

Quase todos estes elementos são banais noutros povoados de altura con-temporâneos da região, como os Alegrios, a Moreirinha, o Monte do Trigo(Idanha-a-Nova), o Monte do Frade (Penamacor), etc.

A originalidade do Monte de São Martinho reside na existência dos trêsmonólitos de granito recolhidos por Tavares Proença — duas “estátua-menir”e um menir fálico (Fig. 3 a, b e c). Embora muito distintos entre si, exibemdiversos motivos figurativos1, inclusive de carácter antropomórfico, que evo-cam chefias personalizadas, cujo poder assentaria na manipulação e exibiçãode determinados bens de prestígio. São monumentos que glorificam determina-dos personagens, acompanhados dos seus atributos distintivos. Gravados napedra, de forma perene, revelam a faceta memoralista das comunidades quehabitaram (ou frequentaram?) o Monte de S. Martinho na charneira do II parao I milénio a. C.

A este período, ou já ao seguinte, pertencerá a pequena colecção defusaiolas, reunindo tipos diversos e decorações várias, que atesta a importânciada tecelagem. A uma fase já adiantada da Idade do Ferro pertencerão aindaalguns materiais cerâmicos inéditos, bem como uma fíbula de “tipo Schüle 4h/Ponte 32”, cuja cronologia oscilará entre o séc. IV a. C. e o séc. I d. C.

Nos finais do I milénio a. C., os Tapori, um dos vários populi lusitanosdo actual território português, ocupam a região de que o Monte de S. Martinhoseria ponto cimeiro.

1 Para uma descrição pormenorizada e confronto de diversas hipóteses interpretativas, veja-seVilaça, R.; Santos, A. Tomás; Marques, J. N. (2004), “O monte de S. Martinho na Idade do Bronze:Estátua-menir-76”; Estátua-menir-77”; Menir-78”, in Arqueologia: colecções de Francisco Tavares Pro-ença Júnior, Castelo Branco, 159; 162-165.

103

O Monte de São Martinho é, por conseguinte, um exemplo paradigmáticode uma estação arqueológica com nome, não obstante quase desconhecida nasua essência, porque nunca escavada nem estudada sistematicamente.

BIBLIOGRAFIA

VILAÇA, RAQUEL (2004). “O monte de S. Martinho, Castelo Branco, na Idade doBronze”, Arqueologia: colecções de Francisco Tavares Proença Júnior, CasteloBranco, p. 54-61.

104

Monte de S. Martinho (Castelo Branco)

Raquel Vilaça*

Location : District of Castelo Branco, municipality of Castelo Branco.Access: From Castelo Branco.Description: Monte de S. Martinho is a conical hill that is prominent in thelandscape, located about 3. 5 km southeast of Castelo Branco (Fig. 1). It belongsto the parish and municipality of Castelo Branco. This site’s geographiccoordinates are, according to the Military Map of Portugal (Carta Militar dePortugal), scale 1:25000, map sheet 292: Latitude – 39º 48’ 04. 860” N; Lon-gitude – 1º 40’ 09. 549” E Lx.; this hill rises to a maximum height of 435 mabove sea level (Fig. 1).

In 1903, Francisco Tavares Proença conducted excavations at Monte deS. Martinho and in the adjacent plains, where he found several archaeologicalremains from the Roman period; this entire area became known as the “triangleof Sr.ª de Mércules, S. Martinho and Sant’Ana”.

Two “monuments” lying horizontally were found on the summit of thishill, one of these lying on the ground surface and the other at a depth of 60 cmbelow the surface. These were in fact two of the “stelae” of S. Martinho, as theybecame known in the archaeological literature. This site rapidly became famouswhen a presentation on these stones was delivered at the “Congrés Préhistoriquede France” (Périgueux) in 1905. The third “monument” was to be found somewhatlater, although the precise date and circumstances under which it was found areunknown. A ditch and wall were identified and excavated in 1906, but there isno record of fieldnotes, plans, or materials recovered during this intervention.

The “Society of Friends of the Museum” (Sociedade dos Amigos do Museu)conducted excavations at this site in 1917, although the results were neverpublished. Test pits were excavated at a much later date, in the 1980s, aboutwhich very little is also known. Some chance surface finds recovered by differentpeople over the years were deposited in the Francisco Tavares Proença JúniorMuseum; others are currently privately owned.

* Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Portugal rvilaca@ci. uc. pt

105

Existing evidence seems to suggest that Monte de S. Martinho wasoccupied during different historical periods over a long period of time from theend of the 2nd millennium BC until the Roman period. This site may have beenoccupied during the Chalcolithic, although there is a limited amount of evidencedating from this period (polished stone axes, residual flint flakes).

Evidence for the Late Bronze Age occupation includes pottery, metalsand lithics, as well as “stelae”. This finds assemblage consisted of, amongothers, objects such as small carinated bowls with burnished decoration, potterydecorated with fine incisions, combed impressions, punched decoration, etc.The local manufacture of bronze metalwork is attested by a clay mould and byfragments of bronze objects (a sword blade, a awl, fibula springs, riveted platesthat possibly belonged to cauldrons, etc.). One of the most interesting objectsfound at this site was a handle-shaped artefact with “herringbone” decorationthat reflects a clear oriental Sardinian-Cypriot influence (Fig. 2).

Almost all these finds commonly occur at other contemporary hilltopsettlements in this region, such as Alegrios, Moreirinha, Monte do Trigo (Idanha-a-Nova), Monte do Frade (Penamacor), etc.

Monte de São Martinho is unique due to the existence of three granitemonoliths, which were recovered by Tavares Proença — two “statue-menhirs”and a phallic standing stone (Fig. 3 a, b and c). These monoliths, which arequite distinct from each other, are decorated with several figurative motifs2,including anthropomorphic motifs that evoke individual chiefdoms, whose powerwas based on the control and display of certain prestige goods. These monumentsglorify certain individuals, represented with their distinctive attributes.Immortalised in stone, these monoliths demonstrate that individuals werehonoured by the communities that inhabited (or frequented?) Monte de S.Martinho at the turn of the 2nd millennium BC.

The importance of weaving is attested by a small collection consisting ofdifferent types of spindle whorls with different decorations, which belongs tothis period or possibly to the subsequent period. Late Iron Age finds includeunique clay objects as well as a “Schüle 4 h/Ponte 32 type” fibula, whosechronology spans the 4th century BC to the 1st century AD.

2 For a detailed description and interpretative hypothesis confrontation, see Vilaça, R.; Santos, A.Tomás; Marques, J. N. (2004), “O monte de S. Martinho na Idade do Bronze: Estátua-menir-76”;Estátua-menir-77”; Menir-78”, in Arqueologia: colecções de Francisco Tavares Proença Júnior, CasteloBranco, 159; 162-165.

106

At the end of the 1st millennium BC, the Tapori, one of the many Lusitanianpopuli who inhabited the current Portuguese territory, occupied the regionoverlooked by Monte de S. Martinho.

Monte de São Martinho is, therefore, a paradigmatic example of arenowned archaeological site, despite the fact that it is still very poorlycharacterised, since it has never been systematically studied or excavated.

BIBLIOGRAPHY

VILAÇA, RAQUEL (2004). “O monte de S. Martinho, Castelo Branco, na Idade doBronze”, Arqueologia: colecções de Francisco Tavares Proença Júnior, CasteloBranco, p. 54-61.

107

FIG. 1 – (Em cima) O Monte de S. Martinho (1) e Castelo Banco (2)em vista tirada de sul. (Em baixo) Artefacto em forma de “pega”

recolhido à superfície no Monte de S. Martinho.FIG. 1 – (Above) Monte de S. Martinho (1) and Castelo Branco (2) viewed

from the south. (Below) “Handle” shaped artefact recovered as a surfacefind at Monte de S. Martinho.

108

FIG. 2 – Os monólitos do Monte de S. Martinho (José Pessoa – InstitutoPortuguês de Museus, in Arqueologia: colecções de Francisco Tavares

Proença Júnior, Castelo Branco, 2004, 161, 163 e 165).FIG. 2 – The monoliths of Monte de S. Martinho (José Pessoa – Instituto Português

de Museus, in Arqueologia: colecções de Francisco Tavares Proença Júnior,Castelo Branco, 2004, 161, 163 & 165).

109

Nossa Senhora da Guia (Baiões)

Alexandre Canha

Localização: Distrito de Viseu, concelho de S. Pedro do Sul.Acesso: A partir da povoação de Baiões, em direcção ao santuário que actual-mente se situa no topo do monte onde se localiza o sítio arqueológico.Descrição: Na Beira Alta conhecem-se vários habitats atribuíveis à Idade doBronze, sobretudo de altura, mas são raros os sítios que foram alvo de esca-vações arqueológicas.

O primeiro destes locais alvo da atenção da investigação moderna, foi osítio da Senhora da Guia, mercê dos ricos vestígios surgidos ao longo do séculoXX, nomeadamente um depósito metálico e um tesouro, e que incentivaram arealização de um conjunto de escavações efectuadas na década de 70. Estestrabalhos, ainda que tenham assumido um carácter isolado, cuja continuaçãoainda se aguarda, vieram demonstrar a importância deste sítio arqueológico,assumindo-se como uma estação de referência para o Bronze Europeu e parao conceito de Bronze Atlântico, já amplamente discutido.

Em termos administrativos, a estação de Nª Sr.ª da Guia situa-se nodistrito de Viseu, concelho de S. Pedro do Sul e freguesia de Baiões, cujotopónimo é recorrentemente utilizado na designação da estação arqueológica.

Geograficamente, implanta-se num cabeço sobranceiro ao rio Vouga,integrável nos contrafortes da serra da Gralheira. O sítio, à semelhança degrande parte dos habitats da Bronze Final conhecidos na Beira Alta, implanta-se num ponto alto dominante, bem destacado na paisagem e com uma área útilde ocupação consideravelmente reduzida.

Actualmente pouco resta visível da ocupação pré-histórica deste local,em redor da capela entretanto aí construída – em substituição de uma antigaermida do século XVIII, apenas surgem à superfície alguns fragmentoscerâmicos e, ocasionalmente, pequenos fragmentos de bronze. A única estru-tura aparentemente chegada ao presente foi um troço de grandes pedras ru-demente aparelhadas a que se atribui, ainda que muito reticentemente, umafunção defensiva.

Em 1947, ou 1948, aquando da realização de trabalhos de terraplanagempara a construção da actual capela, deu-se o aparecimento de dois torques de

110

ouro com decoração geométrica incisa a buril e um bracelete liso, igualmenteem ouro (Kalb, 1991, 1997, Silva, 1979; Armbruster & Parreira, 1993).

No ano de 1971, quando se efectuava a abertura de novos acessos aosantuário, surgiram abundantes fragmentos cerâmicos pré-históricos e umagrande diversidade de objectos de bronze. Em 1973, enquanto se procedia aalgumas obras de remodelação nas proximidades da capela, foi identificado uminteressante conjunto de artefactos metálicos. Imediatamente se efectuaramescavações com vista a definir com exactidão o local do depósito. Posterior-mente (1977) decorreram sondagens dirigidas por Philline Kalb com vista àdefinição de uma sucessão ocupacional rigorosa da estação (Kalb, 1978). Em1983, aquando de trabalhos junto da capela, surgiu um outro conjunto de peçasde bronze de grande relevância (Kalb, 1995; Silva et alii, 1984).

Dos vários trabalhos de escavação obteve-se apenas uma datação: GrN-7484 2650±130 (Kalb, 1980), cuja calibração a 2 sigma é de 1113 – 409 A. C.Esta data apresenta um valor quase irrelevante devido ao seu grande desviopadrão. É lamentável que um sítio arqueológico com a importância deste nãotenha mais datas disponíveis, não só de forma a esclarecer as dúvidas sobre oinício e o final da sua ocupação, mas também para contextualizar os materiaisrecolhidos, alguns deles bastante raros em estações peninsulares. Situaçãoagravada pelo facto de existirem inúmeras amostras carpológicas, ideais paraa obtenção de cronologias finas.

Assim, continua-se a atribuir uma cronologia para este sítio com base emcomparações tipológicas com outros habitats da região que apresentam dataçõesradiocarbónicas fiáveis (como Canedotes, Buraco da Moura de S. Romão,Cabeço do Crasto de S. Romão, Outeiro dos Castelos de Beijós e Santa Luzia).Com base no cruzamento das cronologias absolutas e relativas consideramosque não se afigura despropositado apontar uma cronologia de ocupação entreo séc. XII A. C. e o séc. IX A. C.

Do conjunto de objectos metálicos encontrados, destacam-se as peçascomo: armas, elementos de adorno, foices de alvado, utensílios vários, diversosmoldes em cerâmica e um em bronze; algumas peças de excepção das quais sesalientam uma fúrcula, “tranchets”, taças em bronze, espetos articulados, umcarro votivo e parte de outro. Não se pode deixar de referir ainda uma faca comgume de ferro e cabo de bronze, peça rara devido à presença de ferro, metalainda não vulgarizado na época. A existência de moldes, bem como de peçasem bronze com rebarbas de fundição, indiciam uma produção local, pelo menosde algumas peças.

111

A grande variedade de peças encontradas no depósito da Sr.ª da Guiaapresenta paralelos com outros importantes depósitos europeus tão distantes edistintos como o de Vénat (França) e o de Monte-Sa-Idda (Sardenha), demons-trando contactos, directos ou indirectos, com essas áreas. Facto que levantougrandes dúvidas sobre a filiação atlântica ou mediterrânica do mesmo.

O sítio da Sr.ª da Guia, além de se afirmar bastante importante nocontexto europeu devido ao seu importante depósito, afigura-se igualmenteinteressante a um nível regional, devido a uma produção cerâmica, aindaque este tipo seja relativamente escasso mesmo em contextos de habitatpróximos, embora apresente uma interessante expansão por todo o centro emesmo norte de Portugal. Trata-se de cerâmicas essencialmente de fabricosfinos e acabamentos cuidados (polidos e brunidos) que ostentam uma deco-ração incisa pós-cozedura ou pontilhado, denominada Baiões/Santa Luzia(Silva, 1977).

Para além da divulgada ocupação do Bronze Final, terá existido umaocupação da Idade do Ferro e Romanização que se encontra documentada napresença de cerâmica estampilhada e moedas (Aa. Vv., 2000), mas sem qual-quer comprovação estratigráfica.

Muitas questões sobre esta estação ainda não foram totalmente esclarecidas,nomeadamente a sua funcionalidade, pelo que, apesar do grande grau de inter-venção antrópica sofrida por esta estação ao longo do passado recente, justifi-ca-se plenamente uma intervenção arqueológica sistemática. Se por um lado oabandono e desinteresse a que se encontra votada a estação da Sr.ª da Guia, sãoa maior das suas protecções, são igualmente a maior das suas ameaças.

BIBLIOGRAFIA

AA. VV. (2000). “O castro da Senhora da Guia (S. Pedro do Sul, Viseu)”, Por Terras deViriato – Arqueologia da Região de Viseu, Livro da Exposição, Governo Civil deViseu, Museu Nacional de Arqueologia, Viseu, pp. 132-135.

ARMBRUSTER, B. & PARREIRA, R. (1993). “O “Tesouro” da Senhora da Guia, Baiões”,Inventário do Museu Nacional de Arqueologia – Colecção de Ourivesaria, 1ºvolume, Do Calcolítico à Idade do Bronze, Secretaria de Estado da Cultura,Instituto Português de Museus, Inventário do Património Cultural, Lisboa, p. 64.

KALB, P. (1978). “Senhora da Guia (Baiões)” Madrieder Mitteilungen, Madrid,Heidelberg, pp. 112-137.

KALB, P. (1980). “O Bronze Atlântico em Portugal”, Actas do Seminário de Arqueologiado Noroeste Peninsular I, Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, pp. 113-120.

112

KALB, P. (1991). “Die goldringe vom Castro da Senhora da Guia, Baiões (concelho deS. Pedro do Sul) Portugal, Internationale Archäologie 1. Festschrift für WilhelmSchüle zum 60, Marburg, Geburtstag, p. 85-100.

KALB, P. (1995). “O povoado da Nossa Senhora da Guia, Baiões” A Idade do Bronzeem Portugal, discursos de poder, Livro da Exposição, Secretaria de Estado daCultura, Instituto Português de Museus, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa,p. 68.

KALB, P. (1997). “As xorcas de ouro do castro de Sra. da Guia (Baiões). Aspectoscronológicos”, Actas do 2º Colóquio de Viseu, Viseu, pp. 17-26.

SENNA-MARTINEZ, J. C. & PEDRO I. (2000). “Between myth and reality: the foundryarea of Senhora da Guia de Baiões and Baiões/Santa Luzia metallurgy”. Traba-lhos de Arqueologia da EAM. Lisboa Colibri. 6, p. 61-77. Silva, A. C. F.; Silva,C. T.; Lopes, A. B. (1984), “Depósito de fundidor do final da Idade do Bronzedo castro da Sr.ª da Guia (Baiões, S. Pedro do Sul)”, Lucerna, Porto, pp. 73-95.

SILVA, C. T. (1977). “Cerâmica típica da Beira Alta”, Actas das III Jornadas de Arque-ologia, Lisboa, pp. 187-195.

SILVA, C. T. (1979). ”O castro de Baiões (S. Pedro do Sul)”, Beira Alta, 38 (3), Viseu,pp. 509-531.

VALÉRIO, P.; ARAÚJO, M. F.; SENNA-MARTINEZ, J. C. & INES VAZ, J. L. (2005). “Non-invasive EDXRF analysis of artefacts from Baiões/Santa Luzia Late Bronze AgeMetallurgy”, Metallurgy – a Touchstone for Cross-Cultural Interaction. London:British Museum, p. 124.

113

Nossa Senhora da Guia (Baiões)

Alexandre Canha

Location : District of Viseu, municipality of S. Pedro do Sul.Access: From the village of Baiões, head towards the sanctuary that stands onthe summit of the hill, as this is where the archaeological site is located.Description: A large number of Bronze Age settlements have been found in theBeira Alta region, in particular hilltop settlements, yet few of these sites haveactually been subjected to archaeological excavation.

Among these, Senhora da Guia was the first site that was subjected tomodern research, due to the rich evidence recovered throughout the twentiethcentury, namely a hoard of metal objects and a treasure, which prompted aseries of excavations undertaken in the 1970s. Although the latter were simplyisolated archaeological interventions, which should be continued, they haveshown that Senhora da Guia is an important archaeological site. In fact, it hasbecome a key site for understanding the European Bronze Age and for theconcept of an Atlantic Bronze Age, which has already been amply discussed.

In administrative terms, the site of Nª Sr.ª da Guia is located in thedistrict of Viseu, municipality of S. Pedro do Sul and in the parish of Baiões,whose placename is used recurrently to designate the archaeological site.

Geographically, this site was established on the summit of a hill thatoverlooks the Vouga River, which forms part of the foothills of the Serra daGralheira mountain range. Like the majority of Late Bronze Age settlementsfound in the Beira Alta region, this site was established on a prominent hilltopwith a relatively small area for occupation.

At present, there is very little visible evidence for the Prehistoric occu-pation of this location, namely in the area surrounding the chapel which hasbeen erected here – which replaced an old 18th century chapel – since only afew potsherds and, occasionally, small bronze fragments have been collected assurface finds. The only structure that seems to have survived to the present daywas a stretch of wall built of large, rough-faced stones, which has beeninterpreted, albeit rather cautiously, as a defensive structure.

Two gold torcs with geometric decoration incised with a burin and a plaingold bracelet were found when the ground was levelled in 1947 or 1948 prior

114

to the construction of the current chapel (Kalb, 1991, 1997; Silva, 1979;Armbruster & Parreira, 1993).

Several fragments of Prehistoric pottery, as well as a wide range of bron-ze objects, were found in 1971 when new roads were built to provide accessto the sanctuary. An interesting hoard of metal artefacts was discovered duringrenovation work undertaken in 1973, in the vicinity of the chapel. Excavationswere immediately undertaken with a view to defining the exact spot where thehoard was deposited. Subsequently (1977), test pits were excavated under thesupervision of Philline Kalb with a view to establishing a rigorous chronologyfor the occupation of this site (Kalb, 1978). Another extremely important hoardof bronze objects was discovered in 1983, during repair works undertaken nearthe chapel (Kalb, 1995; Silva et alii, 1984).

These series of excavations have yielded a single radiocarbon date: GrN-7484 2650±130 (Kalb, 1980) or 1113 – 409 BC when calibrated at 2 sigma.The relatively large standard deviation of this date means that it is almostirrelevant. Regrettably, this is the only date available for such an importantarchaeological site, as radiocarbon dates are essential for resolving existingdoubts regarding the settling and abandonment of this site. They would also beuseful for contextualising the materials recovered at this site, since some ofthese objects are not commonly found in sites in the Iberian Peninsula. Thissituation is made worse by the fact that several carpological samples, which areideal for obtaining fine chronologies, have been collected from this site.

Thus, the chronology attributed to this site is still based on a typologicalcomparison with other settlements in this region that have yielded reliableradiocarbon dates (such as Canedotes, Buraco da Moura de S. Romão, Cabeçodo Crasto de S. Romão, Outeiro dos Castelos de Beijós and Santa Luzia). Basedon the crosschecking of absolute and relative chronologies it seems reasonableto suggest that this site was occupied between the 12th and 9th centuries BC.

The hoard of metal objects included artefacts such as: weapons, objectsof adornment, socketed sickles, various tools, several clay moulds and a bronzemould; some exceptional finds, including, among other objects, a fork,“tranchets”, bronze bowls, articulated spits, a votive car and part of another. Aknife with a cutting edge made of iron and a bronze handle should also bementioned, as it is a rare object because it was made of iron, at a time whenthis metal had yet not come into widespread use. The occurrence of moulds,as well as bronze objects with casting sprues, suggest that at least some ofthese objects would have been locally produced.

115

Parallels for the wide range of objects included in the Sr.ª da Guia hoardcan be found in other important European hoards as far apart and different asthose of Vénat (France) and Monte-Sa-Idda (Sardinia), demonstrating theexistence of direct or indirect contacts with those areas. This fact raised seriousdoubts concerning whether this hoard displayed Atlantic or Mediterraneaninfluences.

The site of Sr.ª da Guia plays a significant role in the European contextdue to the importance of the hoard found at this site. Sra. da Guia is equallyimportant at regional level due to the occurrence of a pottery type which isdistributed throughout the centre and even the north of Portugal, althoughrelatively few finds of this type of pottery have been recovered in neighbouringsettlements. This pottery consists essentially of fine wares with careful finish(polished and burnished), with decorations incised after baking or dotteddecoration, named Baiões/Santa Luzia (Silva, 1977).

Besides the published Late Bronze Age occupation, this site would havebeen occupied during the Iron Age and it shows evidence of Romanisaton, asdocumented by the occurrence of stamped wares and coins (Aa. Vv., 2000),although no stratigraphic evidence has been recovered.

Several issues concerning this site, namely its function, have not yet beenfully addressed, so that a systematic archaeological intervention is fullyjustifiable, even though this site has been subjected to a high degree ofanthropogenic disturbance in recent years. If, on the one hand, the abandonmentof and lack of interest in the site of Sr.ª da Guia are the main factors safeguardingits protection, on the other, they are also its biggest threat.

BIBLIOGRAPHY

AA. VV. (2000). “O castro da Senhora da Guia (S. Pedro do Sul, Viseu)”, Por Terras deViriato – Arqueologia da Região de Viseu, Livro da Exposição, Governo Civil deViseu, Museu Nacional de Arqueologia, Viseu, pp. 132-135.

ARMBRUSTER, B. & PARREIRA, R. (1993). “O “Tesouro” da Senhora da Guia, Baiões”,Inventário do Museu Nacional de Arqueologia – Colecção de Ourivesaria, 1ºvolume, Do Calcolítico à Idade do Bronze, Secretaria de Estado da Cultura,Instituto Português de Museus, Inventário do Património Cultural, Lisboa, p. 64.

KALB, P. (1978). “Senhora da Guia (Baiões)” Madrieder Mitteilungen, Madrid,Heidelberg, pp. 112-137.

KALB, P. (1980). “O Bronze Atlântico em Portugal”, Actas do Seminário de Arqueologiado Noroeste Peninsular I, Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, pp. 113-120.

116

KALB, P. (1991). “Die goldringe vom Castro da Senhora da Guia, Baiões (concelho deS. Pedro do Sul) Portugal, Internationale Archäologie 1. Festschrift für WilhelmSchüle zum 60, Marburg, Geburtstag, p. 85-100.

KALB, P. (1995). “O povoado da Nossa Senhora da Guia, Baiões” A Idade do Bronzeem Portugal, discursos de poder, Livro da Exposição, Secretaria de Estado daCultura, Instituto Português de Museus, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa,p. 68.

KALB, P. (1997). “As xorcas de ouro do castro de Sra. da Guia (Baiões). Aspectoscronológicos”, Actas do 2º Colóquio de Viseu, Viseu, pp. 17-26.

SENNA-MARTINEZ, J. C. & PEDRO I. (2000). “Between myth and reality: the foundryarea of Senhora da Guia de Baiões and Baiões/Santa Luzia metallurgy”. Traba-lhos de Arqueologia da EAM. Lisboa Colibri. 6, p. 61-77. Silva, A. C. F.; Silva,C. T.; Lopes, A. B. (1984), “Depósito de fundidor do final da Idade do Bronzedo castro da Sr.ª da Guia (Baiões, S. Pedro do Sul)”, Lucerna, Porto, pp. 73-95.

SILVA, C. T. (1977). “Cerâmica típica da Beira Alta”, Actas das III Jornadas de Arque-ologia, Lisboa, pp. 187-195.

SILVA, C. T. (1979). ”O castro de Baiões (S. Pedro do Sul)”, Beira Alta, 38 (3), Viseu,pp. 509-531.

VALÉRIO, P.; ARAÚJO, M. F.; SENNA-MARTINEZ, J. C. & INES VAZ, J. L. (2005). “Non-invasive EDXRF analysis of artefacts from Baiões/Santa Luzia Late Bronze AgeMetallurgy”, Metallurgy – a Touchstone for Cross-Cultural Interaction. London:British Museum, p. 124.

117

FIG. 1 – Materiais metálicos provenientes da Sr.ª da Guia: 1 – Carro votivo(bronze); 2 – Fúrcula (bronze); 3 – Machado (bronze) e molde;

4 – Braceletes de ouro.

FIG. 1 – Metal objects found at Sr.ª da Guia: 1. Votive car (bronze); 2. Three-prongedfork (bronze); 3. Axe (bronze) and mould; 4. Gold bracelets.

118

Sabugal Velho (Sabugal)

Marcos Osório

Localização: Distrito da Guarda, concelho do Sabugal.Acesso: A partir da povoação de Aldeia Velha.Descrição: O Sabugal Velho é já um dos locais mais importantes para o estudo daocupação humana durante o I milénio a. C. na Beira Interior, especialmente no valesuperior do rio Côa. Localizado na freguesia de Aldeia Velha (Sabugal, Guarda),fica apenas a 8 km da fronteira com Espanha. Situa-se no topo de um bastião davertente setentrional da serra de Aldeia Velha (1019 m), destacado da superfícieplanáltica, o que lhe possibilita um amplo domínio visual de toda a plataforma daGuarda/Sabugal, a norte. Para além da abundância hídrica e da fertilidade dosterrenos envolventes, o local é particularmente rico do ponto de vista mineiro, porse situar na intersecção do xisto com o granito, estando confirmada a exploraçãolocal de ferro e estanho desde a antiguidade (SILVA, 2002: 794).

Neste lugar eram conhecidas diversas construções arruinadas distribuídaspelo topo do relevo, totalmente envolvidas por um anel de derrube de pedras,delimitando as suas íngremes encostas, e por uma segunda construção exteriorde terra batida, apenas na encosta poente.

No entanto, apesar de alguns autores interpretarem o sítio como um cas-tro (CORREIA, 1905: 200; ALMEIDA, 1945: 316-316) e outros como umacampamento romano (CURADO, 1987: 4), desconhecia-se a exacta cronolo-gia dos vestígios. O nosso projecto de Estudo e Valorização do Povoado doSabugal Velho (1999-2002) permitiu apurar que as ruínas visíveis correspondiama uma aldeia medieval fortificada. Mas, sob esta presença dos séculos XII-XIII,detectaram-se estruturas e materiais que permitiram recuar a ocupação inicialdo relevo ao I milénio a. C.

A reduzida área escavada e os revolvimentos provocados pela posteriorocupação medieval impediram a percepção da extensão e da disposição urbanado aglomerado castrejo. No entanto, há evidências que demonstram que ocasario não se estende para a parte setentrional do relevo, concentrando-sesobretudo a sul, na área menos exposta e mais protegida dos ventos, onde foipossível identificar ainda os restos de duas edificações relativas à fase maisantiga de ocupação.

119

Os testemunhos habitacionais detectados resumem-se a um muro de al-venaria de xisto de um provável edifício de planta quadrangular, adossado àface interior da cerca – prática frequente em muitos povoados contemporâneosda meseta espanhola; e outro muro de xisto e granito, de traçado curvilíneo, deuma construção circular com 6 metros de diâmetro, associado a outra estruturasemi-paralela e exterior ao primeiro, que poderia delimitar o átrio da entradavirada a poente. Esta edificação, identificada na parte central da estação arque-ológica sob os alicerces de um grande edifício medieval, corresponderá a umatípica casa castreja redonda. Estas construções adivinham um urbanismo mistono povoado, com plantas circulares a par de rectangulares. As restantes ruínasvisíveis dificilmente pertencerão ao período proto-histórico, mas é possível quese venham a descobrir mais restos construtivos sob o urbanismo medieval, como alargamento da área escavada.

A intervenção arqueológica permitiu também datar a arruinada muralha dealvenaria da Proto-História. Constatou-se que era uma construção maciça comcerca de 4 metros de largura, feita de xisto e granito, com uma técnica constru-tiva semelhante às fortificações mesetenhas. Apresenta configuração elíptica,circundando os cerca de 4,5 hectares de espaço habitacional e artesanal, e apenasse detectou uma entrada na encosta ocidental do relevo, de acesso indirecto,guarnecida com prováveis torreões, socalcos e contrafortes de reforço defensivo.

O espólio que caracteriza a cultura material da 1ª fase de ocupação doSabugal Velho, e permite aferir a respectiva cronologia, foi recolhido sobretudonos vastos entulhamentos e revolvimentos medievais registados junto às mura-lhas. Tal como nos outros povoados coevos do Alto Côa, foi evidente a escas-sez de materiais de qualidade e a pobreza decorativa da cerâmica. Entre osmilhares de fragmentos de cerâmica de fabrico manual exumados, apenas al-guns ostentam traços morfológicos e decorativos específicos e cronologica-mente precisos: incisões no lábio e cepilhados superficiais típicos do períododo Bronze Final; decoração impressa, incisões penteadas, onduladas eentrecruzadas, comuns na I Idade do Ferro; e, por fim, decoração estampilhadacom semi-círculos concêntricos dos meados do I milénio a. C. Distingue-setambém um conjunto de cerâmicas torneadas, de cozedura oxidante, com pas-tas finas e depuradas, maioritariamente lisas ou com motivos pintados embandas de cor vínica, procedentes das oficinas meridionais da península e cujadatação está referenciada entre o séc. V – III a. C.

Entre o espólio metálico destacamos um escopro de bronze de secçãoquadrangular, uma fíbula de bronze de tipo Acebuchal (séculos VI-V a. C.) e

120

outra fíbula de tipo anular em ómega (séculos III-II a. C). No Museu Nacionalde Arqueologia estão ainda referenciados como originários de Aldeia Velha(Vilaça, 1995: 85), mas devendo provir daqui, uns machados planos e ‘palstaves’com duas aletas de bronze, bem como um machado de pedra polida. Em resu-mo, os materiais arqueológicos apontam para uma ocupação desde o BronzeFinal até à II Idade do Ferro, altura em que o povoado terá sido abandonado,com a romanização do território.

A forte ligação à mineração e à metalurgia, atestada no povoamento proto-histórico do Alto Côa, é também aqui visível, não só pela presença de filões,como pelo achado de vestígios da prática metalúrgica no próprio povoado –cadinhos, pingos de fundição e um lingote. Não seria de estranhar que a acti-vidade mineira desta região tivesse estimulado os contactos com os assenta-mentos da meseta espanhola, através dos quais se procederia ao escoamento damatéria-prima e dos respectivos artefactos manufacturados, por troca com pro-dutos importados. Conhecem-se até os prováveis eixos de comunicação desteperíodo, que mais tarde foram empregues pelos romanos. O Sabugal Velho eraservido por um desses caminhos ancestrais que estabelecia a ligação com ou-tros povoados a poente, como o Sabugal e os Castelos de Ozendo, onde serecolheram produtos exógenos comuns.

A sua importância estratégica, o valor dos testemunhos materiais e o graude conservação dos vestígios construtivos parecem evidenciar a hipótese doSabugal Velho ser um núcleo importante no vale superior do rio Côa, mas a suaproximidade a outros sítios importantes como o próprio Sabugal e Irueña (CiudadRodrigo, Espanha), levam-nos a considerar que talvez não fosse, nahierarquização territorial da Idade do Ferro, o assentamento central.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, J. DE (1945), Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: [s. n.]. Vol. 1.

CORREIA, J. M. (1905), “Antiguidades do Concelho do Sabugal”, O Archeologo Portu-guês, vol. X (1ª. serie), n. º 6-9, Lisboa, p. 200-202.

CORREIA, J. M. (1946), Terras de Riba-Côa. Memórias sobre o Concelho do Sabugal,ed. Câmara Municipal do Sabugal, p. 88 e 89, 141-144.

CURADO, F. P. (1987), “Património Cultural”, Boletim Municipal de Sabugal, ano I, n.º3, p. 4.

RODRIGUES, A. V. (1961), “Contributo para o estudo da Idade do Bronze em Portugal:Prospecção na região de Ribacoa”, ‘Beira Alta’, XX, nº 1 (2ª série), Viseu, p. 9-11.

121

SILVA, M. D. O. (1998), “Sabugal Velho”, Terras do Côa / Malcata ao Reboredo. OsValores do Côa, Maia, p. 174-176.

SILVA, M. D. O. (2000), “O Sabugal Velho – primeiras achegas para o estudo de umaestação arqueológica”, Beira Interior. História e Património, Guarda, p. 201-214.

SILVA, M. D. O. (2002), “Metalurgia no povoado fortificado Alto-Medieval do SabugalVelho (Sabugal, Guarda)”, Mil Anos de Fortificações na Península Ibérica e noMagreb (500-1500), (coord. Isabel Cristina Fernandes), Palmela, p. 791-794.

SILVA, M. D. O. (no prelo), “Tipologias de aparelho construtivo do Sabugal Velho.Contributos para o estudo dos sistemas defensivos proto-históricos e medievais”,in Actas do I Congresso de Arqueologia de Trás-os-Montes, Alto Douro e BeiraInterior.

SILVA, M. D. O. (no prelo), “Tipologias de aparelho construtivo do Sabugal”, in Actasdas II Jornadas de Património da Beira Interior.

VAZ, J. L. I. (1979), Sabugal, esboço de uma monografia, Viseu, p. 9-10.

VILAÇA, R. (1995), Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finais

da Idade do Bronze, vol. I e II, (Trabalhos de Arqueologia: 9), Lisboa.

122

Sabugal Velho (Sabugal)

Marcos Osório

Location : District of Guarda, municipality of Sabugal.Access: From the village of Aldeia Velha.Description: Sabugal Velho is perhaps one of the most important sites for thestudy of the human occupation of the Beira Interior region, especially in theUpper Côa River Valley, during the 1st millennium BC. Located in the parish ofAldeia Velha (Sabugal, Guarda), this site lies only 8 km away from the Portugueseborder with Spain. Sabugal Velho was established at the top of a bastion on thenorthern side of the Aldeia Velha Mountain Range (1019 m), which is an outlierof the plateau landform, so that it commands a wide view over the entire Guarda/Sabugal platform, to the north. Besides the abundance of water and the fertilityof surrounding soils, this site is particularly rich in mineral resources, due to itslocation at the intersection of schist with granite. There is evidence for the localexploitation of iron and tin since antiquity (SILVA, 2002: 794).

It has long been known that this site contains the ruins of several buildings,distributed along the summit of the bastion. These were completely surroundedby a ring of stone rubble, which enclosed the steeply sloping sides of thisnatural feature, and by a second outer structure, a rampart made of earth, whichwas only built on the western slope.

However, although some scholars have interpreted this site as a hillfort(CORREIA, 1905: 200; ALMEIDA, 1945: 316-316) and others as a romancamp (CURADO, 1987: 4), the precise chronology of existing evidence wasunknown. Our project entitled Study and Valorization of the Settlement ofSabugal Velho (1999-2002) has established that the visible ruins correspond toa fortified Medieval village dating to the 12th-13th century AD. Nevertheless,structures and materials found underneath this evidence push back the date forthe initial occupation of this hill to the 1st millennium BC.

The full extension and layout of the castro settlement could not bedetermined due to the small size of the excavated area and the disturbancecaused by the later Medieval occupation. However, existing evidence showsthat dwellings did not extend into the northern part of this hill, as they weremainly concentrated in the southern part, in an area that would have been most

123

sheltered from the prevailing winds, where the ruins of two buildings belongingto the earliest occupation phase were identified.

Evidence of domestic buildings consisted of a schist masonry wall, whichprobably belongs to a rectangular building, appended to inner face of theenclosure – a common feature in many contemporary settlements in the SpanishMeseta – and a curvilinear wall made of schist and granite, which belonged toa circular building measuring 6 metres in diameter. The latter was associatedwith another structure that was semi-parallel to and located outside the schistmasonry wall, which may have delimited the forecourt of the west-facingentrance. This building, which was uncovered in the middle of the archaeologicalsite, under the foundations of a large medieval building, corresponds to atypical castro roundhouse. These buildings hint at the existence of a mixedconstruction, which included both circular and rectangular buildings. Theremaining visible ruins are unlikely to belong to the Protohistoric period,although the ruins of more buildings may eventually be found under the Me-dieval settlement, as the excavated area increases.

The archaeological intervention also permitted the dating of the ruins ofthe Protohistoric masonry wall. This was a solid structure made of schist andgranite, measuring about 4 metres wide, which was built using a similarconstruction technique to the one employed in the fortifications of the Meseta.It has an elliptical shape and encloses about 4. 5 hectares of domestic andindustrial /craft working areas. Only one entrance has been detected on thewestern side of this hill, which provided indirect access and was furnished withprobable turrets, artificial terraces and defensive reinforcement buttresses.

The finds assemblage that characterises the material culture of the firstoccupation phase of Sabugal Velho and provides an estimate of its respectivechronology, was recovered mostly from the extensive Medieval rubble fill anddisturbances found next to the walls. As in other contemporary settlementslocated in the Upper Côa River region, good quality materials were clearlyscarce and the pottery was poorly decorated. Among the thousands of handmadepotsherds recovered, only a few display specific and chronologically sensitivemorphological and decorative traits: incisions on the rim and shallow grooves,which are typical of the Late Bronze Age; impressed decoration, combed,undulating and criss-cross incised patterns, which are commonly found incontexts of the first Iron Age; and, lastly, stamped concentric semi-circles ofthe middle of the 1st millennium BC. Attention is also drawn to an assemblageconsisting of wheel-turned pottery made of fine and purified pastes fired in an

124

oxidising atmosphere, which was mainly plain or decorated with painted motifsconsisting of wine-coloured bands. This pottery originated from the workshopsof southern Iberia and is dated to between the 5th and 3rd century BC.

The metal assemblage includes, among other objects, a bronze styluswith a quadrangular cross-section, a bronze Acebuchal type fibula (6th-5th centuryBC) and an omega-shaped annular brooch (3rd – 2nd centuries BC). Theprovenance of a series of objects – namely a few flat axes and ‘palstaves’ withtwo bronze lugs, as well as a polished stone axe – is still recorded as “AldeiaVelha” in existing records held at the National Museum of Archaeology (Vilaça,1995: 85), although these probably originate from Sabugal Velho. In brief, thearchaeological materials found at this site suggest that it was occupied from theLate Bronze Age until the second Iron Age, when this settlement would havebeen abandoned, during the Romanisation of this territory.

The strong connection with mining and metallurgy, which is attested atthe Protohistoric settlement of the Upper Côa River, can also be witnessedhere, not only due to the existence of veins, but also in light of evidence forsmelting activities found at the actual settlement – crucibles, metal dropletsand an ingot. Mining activities in this region may well have stimulated contactswith settlements in the Spanish Meseta, through which raw materials and therespective manufactured artefacts would have flowed, in exchange for importedgoods. There is some evidence for the likely communication routes of thisperiod, which were subsequently used by the Romans. Sabugal Velho wasserved by one of these ancestral routes, which provided a connection withother settlements lying to the west, such as Sabugal and the Castles of Ozendo,where common exogenous products were found.

The strategic importance of this site, the importance of the materialevidence and the state of preservation of the structural evidence all seem tosupport the hypothesis that Sabugal Velho was an important settlement in theUpper Côa River Valley. Nevertheless, its proximity to other important sitessuch as Sabugal itself and Irena (Ciudad Rodrigo, Spain) suggests that it cannotbe considered as a central place in the territorial hierarchy of the Iron Age.

BIBLIOGRAPHY

ALMEIDA, J. DE (1945), Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses. Lisboa: [s. n.]. Vol. 1.

CORREIA, J. M. (1905), “Antiguidades do Concelho do Sabugal”, O Archeologo Portu-guês, vol. X (1ª. serie), n. º 6-9, Lisboa, p. 200-202.

125

CORREIA, J. M. (1946), Terras de Riba-Côa. Memórias sobre o Concelho do Sabugal,ed. Câmara Municipal do Sabugal, p. 88 e 89, 141-144.

CURADO, F. P. (1987), “Património Cultural”, Boletim Municipal de Sabugal, ano I, n.º3, p. 4.

RODRIGUES, A. V. (1961), “Contributo para o estudo da Idade do Bronze em Portugal:Prospecção na região de Ribacoa”, ‘Beira Alta’, XX, nº 1 (2ª série), Viseu, p. 9-11.

SILVA, M. D. O. (1998), “Sabugal Velho”, Terras do Côa / Malcata ao Reboredo. OsValores do Côa, Maia, p. 174-176.

SILVA, M. D. O. (2000), “O Sabugal Velho – primeiras achegas para o estudo de umaestação arqueológica”, Beira Interior. História e Património, Guarda, p. 201-214.

SILVA, M. D. O. (2002), “Metalurgia no povoado fortificado Alto-Medieval do SabugalVelho (Sabugal, Guarda)”, Mil Anos de Fortificações na Península Ibérica e noMagreb (500-1500), (coord. Isabel Cristina Fernandes), Palmela, p. 791-794.

SILVA, M. D. O. (no prelo), “Tipologias de aparelho construtivo do Sabugal Velho.Contributos para o estudo dos sistemas defensivos proto-históricos e medievais”,in Actas do I Congresso de Arqueologia de Trás-os-Montes, Alto Douro e BeiraInterior.

SILVA, M. D. O. (no prelo), “Tipologias de aparelho construtivo do Sabugal”, in Actasdas II Jornadas de Património da Beira Interior.

VAZ, J. L. I. (1979), Sabugal, esboço de uma monografia, Viseu, p. 9-10.

VILAÇA, R. (1995), Aspectos do povoamento da Beira Interior (Centro e Sul) nos finaisda Idade do Bronze, vol. I e II, (Trabalhos de Arqueologia: 9), Lisboa.

126

FIG. 1 – Fotografia aérea do Sabugal Velho, visualizando-se a planta integraldas estruturas arruinadas (Instituto Geográfico e Cadastral, 1950) e levantamento

topográfico do povoado localizando as áreas onde se detectaram construçõesproto-históricas.

FIG. 1 – Aerial photograph of Sabugal Velho, showing a plan of the ruined structures ofthis site (Instituto Geográfico e Cadastral, 1950) and topographic survey of this settlement,

with an indication of the locations where Protohistoric structures were found.

127

FIG. 2 – A muralha do Sabugal Velho, com um pormenor do aparelhoconstrutivo do paramento exterior, restaurado durante a intervenção;

e um aspecto dos restos do edifício castrejo de planta circular.

FIG. 2 – The wall of Sabugal Velho, showing a detail of the outer face of themasonry wall, which was restored during the intervention; and a view of

the remains of the round house of the Castro culture.

128

Arte Rupestre da Serra do Açor/Serra da Estrela

Maria João Jacinto

Localização: Distritos da Guarda, Castelo Branco e Coimbra, concelhos deSeia, Covilhã e ArganilAcesso: Não visitável.Descrição: Os núcleos de arte rupestre Malhadinho 1, Ceira 1, Castelo, PedrasLavradas 1, Fonte de Espinho 2, Figueiras e Bulde foram recentemente identifica-dos no decorrer dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos no âmbito do processode Avaliação de Impacte do projecto “Parques Eólicos da Beira Interior”.

Para a elaboração dos cerca de 186 motivos identificados foram utiliza-das as técnicas do picotado, abrasão e incisão filiforme. Em todos os núcleosa técnica predominante é a da picotagem. O suporte das gravuras é sempre umalaje de xisto disposta horizontal ou obliquamente.

Os motivos geométricos encontrados são variados, destacando-se os ovais(10%), os motivos sub-ovalados, sub-rectagulares (4%) e os geométricos seg-mentados (3%), alguns deles possíveis idoliformes. Os podomorfos (15% daamostra) são dos elementos mais comuns nos vários núcleos. São figuras deforma elipsoidal atravessadas por um traço (a cerca de 1/3), gravadas com atécnica da picotagem. Alguns destes motivos apresentam vários pontos picota-dos no seu interior. Aparentemente, estão associados a conceitos de “passa-gem” ou de “presença” de indivíduos, nomeadamente de pastores, de largoespectro cronológico (da Pré-História à época contemporânea).

Um dos motivos mais comuns da Arte rupestre pós-paleolítica é o motivodos círculos concêntricos que está presente nos núcleos de Bulde e Malhadinho1, enquadráveis na Pré-História Recente. São conhecidos na arte do Vale do Tejo(Baptista, 1981), do Guadiana (Baptista, 2001), em Salamanca (Bécares Pérez,1991) e, próximo da região em estudo, na Lajeira, Serra do Cabeço da Rainha(Batata & Gaspar, 2000). Muito semelhante aos reticulados presentes na “PedraPartida” de Ardegães de Águas Santas, Maia e a “Pedra Escrita” de Serrazes, SãoPedro do Sul (Twohig, 1971), foi identificado no núcleo do Malhadinho 1 umreticulado, com três pequenos círculos concêntricos no canto superior direito.

De salientar a presença de motivos serpentiformes em duas rochas donúcleo de Ceira – motivos compostos por linhas ziguezagueantes, um com a

129

representação de uma cabeça em forma de triângulo. Numa outra rocha domesmo núcleo foram gravados vários motivos, dos quais se destacam duasfiguras antropomórficas, um possível quadrúpede, seis cruciformes e váriosoutros motivos, todos elaborados num período recente. Estão, ainda, presentesrepresentações de cruzes, traços curvos, rectos e ondulados, hemI-círculos,cruzes, “M” e “U” invertidos ou ferraduras.

Os motivos e as técnicas identificados encontram paralelos muito próxi-mos na denominada “arte do Vale do Tejo” – este conjunto de gravuras foiexaustivamente estudado e publicado por M. Varela Gomes (1983) e A. MartinhoBaptista (1981), na “Arte do Nordeste” (Baptista, 1983/84) e nas estelasextremenhas (Almagro-Gorbea, 1977). Foi possível reconhecer, ainda, algumassemelhanças com a “arte rupestre do Guadiana”, ainda em estudo por A.Martinho Baptista (2001).

Numa primeira análise, os elementos presentes na Arte Rupestre da Serrada Estrela/Açor podem ser enquadrados em duas fases distintas: I – Neo-Calcolítico/Idade do Bronze (por exemplo, os círculos concêntricos e oreticulado), II –Idade do Ferro até à Época Contemporânea (alguns podomorfose os antropomorfos).

BIBLIOGRAFIA

ALMAGRO GORBEA, M. (1977), El Bronce Final y el periodo Orientalizante enExtremadura, Biblioteca Praehistorica Hispana, 14, Madrid.

BAPTISTA, A. M. (1981), A Rocha F-155 e a origem da arte do Vale do Tejo, Monografiasarqueológicas – GEAP, Porto, 1981.

BAPTISTA, A. M. (1983/84), “A arte rupestre do Norte de Portugal: uma perspectiva”,Portugália, “Actas do Colóquio Inter-Universitário de Arqueologia do Noroes-te” , Nova Série, vol. IV/V, Porto.

BAPTISTA, A. M. (2001), “Relatório dos Trabalhos de Arte Rupestre na Área do Alqueva.1ª Campanha (14 de Maio – 15 de Agosto de 2001)”, relatório policopiado.

BATATA, C. & GASPAR, F. (2000), “Arte rupestre da Bacia Hidrográfica do rio Zêzere”,Pré-História Recente da Península Ibérica, Actas do 3º Congresso de Arqueolo-gia Peninsular, vol. IV, Porto, ADECAP, pp. 575-585.

BÉCARES PÉREZ, J. (1991), “La pintura rupestre esquemática en la provincia de Salamanca”,Del Paleolítico a la Historia, Museu de Salamanca, Salamanca, pp. 61-79.

GOMES, M. V. (1983), “Arte esquemática do Vale do Tejo”, Zephyrvs, vol. XXXVI, pp.43-51.

SHEE [TWOHIG], E. (1981), “A pedra decorada de Ardegães de Águas Santas (Concelhode Maia)”, Arqueologia, nº 3, pp. 49-55.

130

Rock Art of Serra do Açor/Serra da Estrela

Maria João Jacinto

Location : Districts of Guarda, Castelo Branco and Coimbra, municipalities ofSeia, Covilhã and Arganil.Access: These sites cannot be visited.Description: Several clusters of rock art sites, namely Malhadinho 1, Ceira 1,Castelo, Pedras Lavradas 1, Fonte de Espinho 2, Figueiras and Bulde, wereidentified recently during archaeological work undertaken as part of the ImpactAssessment process of the “Wind Farms of Beira Interior” project.

Approximately 186 motifs were identified, which were executed using thetechniques of pecking, abrasion and fine line incision. Most of the rock carvingsfound in these clusters of sites were executed by pecking. These carvings arealways made on schist slabs that are either placed horizontally or at an angle.

Several geometric motifs have been found, including, among others, oval(10%), sub-oval, sub-rectangular (4%) and segmented geometric motifs (3%); someof these may have been idoliform motifs. Footprints (15% of the total sample) areone of the most commonly occurring motifs in these clusters of sites. These areellipsoidal motifs crossed by a line (at about 1/3), carved by pecking. Some ofthese footprint motifs include several cup-marks. Apparently, these are associatedwith perceptions of the “journeys” or “presence” of individuals, namely shepherds,and they span a broad chronological period (from Prehistory to modern times).

One of the most frequently occurring motifs in Post-Palaeolithic Rock Artis a motif consisting of concentric circles, which can be found in the clusters ofBulde and Malhadinho 1 of the Late Prehistoric period. These motifs can also befound in the rock art of the Tagus Valley (Baptista, 1981), of the Guadiana River(Baptista, 2001), in Salamanca (Bécares Pérez, 1991) and in the vicinity of thestudy region, at Lajeira, in the Serra do Cabeço da Rainha mountain range(Batata & Gaspar, 2000). A reticulate pattern with three small concentric circlesin the upper right corner, which was found in the Malhadinho 1 cluster, is verysimilar to those carved on the “Broken Stone” of Ardegães de Águas Santas,Maia and the “Written Stone” of Serrazes, São Pedro do Sul (Twohig, 1971).

Serpentiform motifs were found on two of the rocks in the Ceira cluster –these motifs include zigzag lines and one the serpentiforms has a triangular head.

131

Several motifs were carved on another rock in this same cluster. Amongthese, two anthropomorphic figures can be distinguished, as well as a possiblequadruped, six cross-shaped motifs and several other motifs, which were allcarved in a late period.

Representations of crosses, curved, straight and undulating lines, hemi-circles, inverted “M” and “U” or horseshoes have also been found.

Close parallels for the motifs and techniques identified at these sites canbe found in the so-called “Tagus Valley Rock Art” – this set of rock carvingswas exhaustively studied and published by M. Varela Gomes (1983) and A.Martinho Baptista (1981), in “Arte do Nordeste” (Baptista, 1983/84) and in thestelae of Extremadura (Almagro-Gorbea, 1977). There are also some similaritiesbetween these sites and the “Rock Art of the Guadiana”, which is still beingstudied by A. Martinho Baptista (2001).

In an initial assessment, the motifs represented in the Rock Art of theSerra da Estrela/Açor mountain ranges may be attributed to two distinctivephases: I – Neo-Chalcolithic/Bronze Age (for example, the concentric circlesand the reticulate pattern), II – Iron Age until modern times (some footprintsand the anthropomorphs).

BIBLIOGRAPHY

ALMAGRO GORBEA, M. (1977). El Bronce Final y el periodo Orientalizante enExtremadura, Biblioteca Praehistorica Hispana, 14, Madrid.

BAPTISTA, A. M. (1981). A Rocha F-155 e a origem da arte do Vale do Tejo, Monografiasarqueológicas – GEAP, Porto, 1981.

BAPTISTA, A. M. (1983/84). “A arte rupestre do Norte de Portugal: uma perspectiva”,Portugália, “Actas do Colóquio Inter-Universitário de Arqueologia do Noroes-te” , Nova Série, vol. IV/V, Porto.

BAPTISTA, A. M. (2001). “Relatório dos Trabalhos de Arte Rupestre na Área do Alqueva.1ª Campanha (14 de Maio – 15 de Agosto de 2001)”, relatório policopiado.

BATATA, C. & GASPAR, F. (2000). “Arte rupestre da Bacia Hidrográfica do rio Zêzere”,Pré-História Recente da Península Ibérica, Actas do 3º Congresso de Arqueolo-gia Peninsular, vol. IV, Porto, ADECAP, pp. 575-585.

BÉCARES PÉREZ, J. (1991). “La pintura rupestre esquemática en la provincia de Salamanca”,Del Paleolítico a la Historia, Museu de Salamanca, Salamanca, pp. 61-79.

GOMES, M. V. (1983). “Arte esquemática do Vale do Tejo”, Zephyrvs, vol. XXXVI, pp.43-51.

SHEE [TWOHIG], E. (1981). “A pedra decorada de Ardegães de Águas Santas (Concelhode Maia)”, Arqueologia, nº 3, pp. 49-55.

132

FIG. 1 – (Em cima) Vista geral da zona de implantação do parque deaerogeradores de Castelo e Souto. (Ao centro) Motivo geométrico de

Malhadinho 1 e motivos antropomórficos de Ceira 1. (Em baixo) Motivoreticulado de Malhadinho 1 e motivo serpentiforme de Ceira 1.

FIG. 1 – (Above) General view of the area where the Wind Farm of Castelo and Souto wasestablished. (Centre) Geometric motif from Malhadinho 1 and the anthropomorphic motifs of

Ceira 1. (Below) Geometric motif of Malhadinho 1 and serpentiform from Ceira 1.

133FIG. 2 – (Em cima) Motivos podomorfos de Balde;

(Em baixo) Círculos concêntricos de Balde.

FIG. 2 – (Above) Podomorphic motifs from Balde;(Below) Concentric circles carved on a rock at Balde

134

BIBLIOGRAFIA / BIBLIOGRAPHY

Neolítico Inicial / Early Neolithic

VALERA, A. C. (1998). “A neolitização da bacia interior do Mondego”, Actas do colóquioA Pré-História na Beira Interior, Estudos Pré-Históricos, 6, Viseu, p. 131-148.

VALERA, A. C. (2003). “Problemas da neolitização na bacia interior do Mondego apropósito de um novo contexto: a Quinta da Assentada (Fornos de Algodres,Guarda)”, Estudos Pré-Históricos, Vol. X, Viseu.

Megalitismo / Megalithism

CRUZ, D. J. (1995). “Cronologia dos monumentos com tumulus do Noroeste Peninsulare da Beira Alta”, Estudos Pré-Históricos, 3, Viseu, p. 81-119.

CRUZ, D. J. (1998). “Expressões funerárias e culturais no Norte da Beira Alta (V-IImilénios a. C.)”, Actas do Colóquio “A Pré-História na Beira Interior”, EstudosPré-Históricos, 6, Viseu, p. 149-166.

CRUZ, D. J. (2001). O Alto Paiva. Megalitismo, diversidade tumular e práticas rituaisdurante a Pré-História Recente, Dissertação de doutoramento em Pré-História eArqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,Coimbra, Policopiado.

LEISNER, V. (1998). Die megalithgräber der Iberischen Halbinsel. Der Westen, Berlin,Walter de Gruyter & CO.

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1989). Pré-História recente da bacia do medio e alto Mondego.Algumas contribuições para um modelo sociocultural, Dissertação de doutoramentoapresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Lisboa,Policopiado.

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1995/96). “Pastores, recolectores e construtores de megálitosna plataforma do Mondego no IV e III milénios AC: (1) O sítio de habitat doAmeal VI”, Trabalhos de Arqueologia da EAM, 3, Lisboa, Colibri, p. 83-122.

SENNA-MARTINEZ, J. C. & VENTURA, J. M. (2000). “Pastores, recolectores e construto-res de megálitos: O neolítico Final”, Por Terras de Viriato. Arqueologia da Re-gião de Viseu, Viseu, p. 53-62.

Calcolítico / Chalcolithic

VALERA, A. C. (1997). O Castro de Santiago (Fornos de Algodres, Guarda). Aspectosda calcolitização da bacia do alto Mondego, Textos Monográficos 1, Lisboa,Câmara Municipal de Fornos de Algodres.

VALERA, A. C. (2006). Calcolítico e Transição para a Idade do Bronze na Bacia do AltoMondego: estruturação e dinâmica de uma rede local de povoamento, Disserta-ção de doutoramento em Pré-História e Arqueologia, Porto, Policopiado.

135

Idade do Bronze inicial e pleno / Early and Middle Bronze age

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1994b). “Notas para o estudo da génese da Idade do Bronzena Beira Alta: o fenómeno campaniforme”, Trabalhos de Arqueologia da EAM,2, Lisboa, Colibri, p. 173-200.

SENNA-MARTINEZ, J. C. (2000). “O Bronze Pleno. Uma transformação na continuida-de?”, Por Terras de Viriato. Arqueologia da Região de Viseu, Viseu, p. 105-116.

VALERA, A. C. (1995/96). “A génese da Idade do Bronze no Mondego interior: análisede alguns aspectos das suas construções arqueográficas e historiográficas”, Tra-balhos de Arqueologia da EAM,3, Lisboa, Colibri.

VALERA, A. C. (2000). “O fenómeno campaniforme no interior centro de Portugal: ocontexto da Fraga da Pena”, Pré-História Recente na Península Ibérica (Actas do3º Congresso de Arqueologia Peninsular – 1999), Porto, ADECAP, p. 269-290.

Bronze Final / Late Bronze age

CRUZ, D. J. & VILAÇA, R. (1999). “O grupo de tumuli da “Senhora da Ouvida” (Monteiras/ Moura Morta, Castro Daire, Viseu)”, Estudos Pré-Históricos, Viseu, CEPBA, p.129-161.

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1994). “Entre Atlântico e Mediterrâneo: algumas reflexõessobre o grupo Baiões/Santa luzia e o desenvolvimento do Bronze Final Peninsu-lar”, Trabalhos de Arqueologia da EAM, 2, Lisboa, Colibri, p. 215-232.

SENNA-MARTINEZ, J. C. (2000), “O “Grupo Baiões/Santa Luzia” no quadro do BronzeFinal do Centro de Portugal”, Por Terras de Viriato. Arqueologia da Região deViseu, Viseu, p. 119-131.

SENNA-MARTINEZ, J. C. & PEDRO, I. (2000). “Between myth and reality: the foundryarea of Senhora da Guia de Baiões and Baiões/Santa Luzia metallurgy”, Traba-lhos de Arqueologia da EAM, 6, Lisboa, Colibri, p. 61-77.

VILAÇA, R. (1995a). Aspectos do Povoamento da Beira Interior (Centro Sul) nos finaisda Idade do Bronze, Trabalhos de Arqueologia, IPPAR, Lisboa.

VILAÇA, R. (1995b). “A Idade do Bronze na Beira Baixa”, (AAVV) A Idade do Bronzeem Portugal. Discursos de Poder, Lisboa, IPM/MNA, p. 127-129.

Sequências Regionais / Regional sequences

SENNA-MARTINEZ, J. C. (1995). “The Late Prehistory of Central Portugal: a firstdiachronic view”, (K. Lillios ed.), The origins of complex societies in LatePrehistoric Iberia, Michigan, p. 64-94.

VALERA, A. C. (2000). “Pensar o tempo: critérios para uma periodização da Pré-HistóriaRecente da bacia interior do Mondego”, Pré-História Recente na Península Ibé-rica (Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular – 1999), Porto, ADECAP,p. 147-160.

136

VILAÇA, R. (2000). “Registos e leituras da Pré-História Recente e da Proto-HistóriaAntiga da Beira Interior”, Pré-História Recente da Península Ibérica. Actas do3º Congresso de Arqueologia Peninsular, 4, Porto, ADECAP, p. 161-182.

Estudos Paleoambientais / Environmental studies

JANSSEN, C. R. (1985). “História da vegetação”, (S. Daveau ed.), Livro-guia da Pré-Reunião. Glaciação da Serra da Estrela – Aspectos do Quaternário da OrlaAtlântica, G. T. P. E. Q. -G. E. T. Q., p. 66-72.

LÓPEZ SÁEZ, J. A. & CRUZ, D. J. (2002-2003). “Análises polínicas da Orca das Castonairas(Vila Nova de Paiva, Viseu). Evolução ambiental durante a Pré-História Recenteda região do Alto Paiva (Beira Alta)”, Estudos Pré-Históricos, Vol. X-XI, Viseu,p. 55-86. López Sáez, J. A., López García, Cruz, D. J. e Canha, A. J. (2000),“Paleovegetação e impacto humano durante a Pré-História Recente na Região doAlto Paiva: Palinologia do povoado do Bronze Final de Canedotes (Vila Nova dePaiva, Viseu)”, Estudos Pré-Históricos, Vol. VIII, Viseu, p. 161-185.

ROCHETTE CORDEIRO, A. M. (1990). “Paleo-ambientes holocénicos e erosão: interface,clima, vegetação, Homem. O exemplo do centro-litoral português”, Cadernos deGeografia, nº 9, IEG, Coimbra, p. 61-79.

ROCHETTE CORDEIRO, A. M. (1992). “O Homem e o meio no holocénico português.Paleo-ambientes e erosão”, Mediterrâneo, 1, p. 89-109.

VAN DER KNAAP, W. O. & VAN LEEUWEN, J. F. N. (1994). “Holocene vegetation, humanimpact, and climatic change in the Serra da Estrela, Portugal”, DissertationesBotanicae, 234, p. 497-535.

VAN DER KNAAP, W. O. & VAN LEEUWEN, J. F. N. (1995). “Holocene vegetation anddegradation as responses to climatic change and human activity in the Serra daEstrela, Portugal”, Review of Paleobotany and Palynology, 89, p. 153-211.

VAN LEEUWAARDEN, W. & QUEIRÓZ, P. F. (2000). Estudo arqueobotânico do sítio daMalhada (Fornos de Algodres / Guarda), Lisboa, CIPA/IPA.

137

Publicações regionais / Regional publications

Para além de monografias, artigos em revistas generalistas regionais e em revistasda especialidade de âmbito nacional e internacional, a Arqueologia da região conta comduas revistas de vocação regional criadas na década de noventa do século passado:

Apart from monographies, papers in regional generic magazines and nationaland international magazines, the regional archaeology counts on two regionalpublications created in the 1990’s:

Estudos Pré-Históricos– publicação editada pelo Centro de Estudos Pré-Históricos da Beira Alta

(CEPBA), com 11 números publicados entre 1993 e 2003. Tem textosmaioritariamente escritos em Potuguês e, por vezes, em Castelhano (Resumosem Inglês, Francês ou Castelhano).

– publication edited by the Centro de Estudos Pré-Históricos da Beira Alta (CEPBA),with 11 issues published between 1993 and 2003. It has most papers in Portugueseand, sometimes, in Spanish (Abstracts in English, French or Spanish).

Trabalhos de Arqueologia da EAM– publicação editada pela Associação para o Estudo Arqueológico da Bacia do

Mondego (EAM), com 6 números publicados entre 1993 e 2000. Tem textosmaioritariamente em Português, por vezes em Inglês e Castelhano (Resumosem Inglês).

– publication edited by the Associação para o Estudo Arqueológico da Bacia doMondego (EAM), with 6 issues published between 1993 and 2000. It hás mostpapers in Portuguese and, sometimes, in English and Spanish (Abstracts inEnglish).

Roteiros Arqueológicos e Museus Regionais e Municipais / Archaeological Itinerariesand Local and Regional Museums

Concelho / Municipality: Castelo BrancoMuseu Tavares Proença Júnior

Concelho / Municipality: Fornos de AlgodresCentro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres (CIHAFA)

(Edifício do Tribunal no centro de Fornos de Algodres). Neste centro existe uma expo-sição permanente dedicada ao povoamento do concelho desde o Neolítico Antigo àIdade Média. Os contextos da Pré-História Recente estão particularmente bem represen-tados: Quinta da Assentada (Neolítico Antigo), Antas da Matança e Cortiçô, Castro deSantiago, habitat da Malhada e Fraga da Pena.

Roteiro Arqueológico de Fornos de Algodres (realizado a partir do CIHAFA oulivre, uma vez que os acessos aos principais sítios arqueológicos estão sinalizados em

138

todo o município). Neste roteiro são visitáveis os principais sítios pré-históricos doconcelho, assim como elementos patrimoniais da ocupação romana e elementos dopatrimónio construído medieval e moderno. Valera, A. C. (1993), Património arque-ológico do concelho de Fornos de Algodres, Lisboa, APSCDFA. (Apenas em Portu-guês)

Interpretation Centre for the History and Archaeology of Fornos de Algodres(CIHAFA) (building of the Court in the centre of de Fornos de Algodres). In this centrea permanent exhibition is devoted to the region settlement from the Neolithic to theMiddle ages. The late Prehistoric contexts are well represented: Quinta da Assentada(early Neolithic), Antas da Matança e Cortiçô, Castro de Santiago, habitat da Malhadae Fraga da Pena.

Fornos de Algodres Archaeological Itinerary (done from CIHAFA or free, sincethe accesses to the main archaeological sites are signalised all across). In this itinerarythe main prehistoric sites are visitable, as well as roman heritage elements and maedievaland modern heritage. Valera, A. C. (1993), Património arqueológico do concelho deFornos de Algodres, Lisboa, APSCDFA. (Only in Portuguese).

Concelho / Municipality: GuardaMuseu da Guarda – museu generalista com colecções de arqueologia / generalist

museum with archaeological collections.

Concelho / Municipality: MangualdeRoteiro Arqueológico – poderá ser realizado partindo da publicação:Archaeological itinerary – to be done following the ublication: Gomes, L. P. e

Carvalho, P. S. (1992), O Património Arqueológico do Concelho de Mangualde, Viseu,C. M. M. (Apenas em Português / Only in Portuguese)

Concelho / Municipality: Moimenta da BeiraRoteiro Arqueológico – poderá ser realizado partindo da publicação:Archaeological itinerary – to be done following the publication: Roteiro Arque-

ológico de Moimenta da Beira. Circuito pré-histórico da Nave, CMMB. (Apenas emPortuguês / Only in Portuguese).

Concelho / Municipality: NelasSala Museu de Canas de Senhorim. Expostos materiais provenientes de contextos

neolíticos, megalíticos, calcolíticos e da Idade do Bronze da Plataforma do Mondego.Room at the Museum of Canas de Senhorim. Display of Neolithic, Megalithic,

Chalcolithic and Bronze age from the Mondego platform.

Concelho / Municipality: PenedonoExposição Identidade e Memória (capela de S. João Baptista contígua ao solar

dos Freixos, actuais Paços do Concelho). Aí estão patentes os conjuntos artefactuais dealguns dólmens do concelho de Penedono, assim como informação sobre os períodos

139

proto-histórico, romano e medieval. A visita dos principais sítios arqueológicos doconcelho poderá ser realizado seguindo a publicação do roteiro: Carvalho, Pedro M. S.(1989), Roteiro Arqueológico do Concelho de Penedono, Viseu, CMP (Apenas emPortuguês).

Exhibition Identity and Memory (S. João Baptista chapel, next to the Freixosmanour house, currently the town hall). Display of a series of artefacts from dolmensof the municipality of Penedono, as well as information on the protohistoric, romanand maedieval periods. The visit to the main archaeological sites in the municipalitymay be done following the publication of the itinerary: Carvalho, Pedro M. S.(1989), Roteiro Arqueológico do Concelho de Penedono, Viseu, CMP (Only inPortuguese).

Concelho / Municipality: S. João da PesqueiraMuseu Eduardo Tavares (localizado em pleno centro histórico da vila de S. João

da Pesqueira). Na Sala de Arqueologia estão expostos alguns conjuntos artefactuaisprovenientes de diversas estações arqueológicas do concelho percorrendo períodos com-preendidos desde o Neolítico à Idade Moderna. Podem-se observar os espólios recolhi-dos no abrigo com pinturas da Fraga D’Aia e no Dólmen de Areita, assim como umconjunto de cerâmicas pré-históricas recolhidas em prospecções de superfície em povo-ados do concelho (S. Salvador do Mundo, Nossa Senhora de Lurdes, Castelos Velhosde Trevões, Castelinhos, entre outros).

Museum Eduardo Tavares (located in the historical centre of the village of S.João da Pesqueira). In the Archaeology Room are displayed some artefactual assemblagesfrom various archaeological sites in the region, covering periods from the Neolithic toModern times. The artefacts from the painted shelter of Fraga D’Aia and from theAreita dolmen may be observed, as well as an assemblage of prehistoric pottery fromsurface collections in settlements of the region (S. Salvador do Mundo, Nossa Senhorade Lurdes, Castelos Velhos de Trevões, Castelinhos, among others).

Concelho / Municipality: SabugalMuseu Municipal

Concelho / Municipality: SátãoRoteiro Arqueológico – poderá ser realizado partindo da publicação:Archaeological itinerary – may be done following the publication: Vaz, J. L. Inês

(1991), Carta Arqueológica do Concelho de Sátão,, Viseu, C. M. S. (Apenas em Por-tuguês / Only in Portuguese)

Concelho / Municipality: Vila Nova de PaivaRoteiro Arqueológico – poderá ser realizado partindo da publicação:Archaeological itinerary – may be done following the publication: Cruz, D. J.

(coord.) (2000), Roteiro Arqueológico de Vila Nova de Paiva, V. N. de Paiva, CMVNP.(Apenas em Português / Only in Portuguese)

140

Concelho / Municipality: ViseuRoteiro Arqueológico – poderá ser realizado partindo da publicação:Archaeological itinerary – may be done following the publication: Vaz, J. L. Inês

(1987), Roteiro Arqueológico do Concelho de Viseu,, Viseu, C. M. V. (Apenas em Por-tuguês / Only in Portuguese)

Museu Grão Vasco – museu generalista com colecções de arqueologia.Roteiro Arqueológico da Serra da Estrela / Serra da Estrela Archaeological ItineraryRoteiro Arqueológico – poderá ser realizado partindo da publicação:Archaeological itinerary – may be done following the publication: Alarcão, J. de

(1993), Arqueologia da Serra da Estrela, PNSE, Lisboa. (Apenas em Português / Onlyin Portuguese)