Fichamento: Mato Grosso/Mato Grosso do Sul: Divisionismo e Identidades (Um Breve Ensaio).
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QUEIROZ, Paulo Roberto C. Mato Grosso/Mato Grosso do Sul: Divisionismo e Identidades (Um
Breve Ensaio). Diálogos, Maringá, v. 10, n. 2, p. 149-184, 2006. Disponível em:
<http://www.dialogos.uem.br/include/getdoc.php?id=798&article=287&mode=pdf >. Acesso em:
10 mar. 2010.
FICHA DE LEITURA
ABSTRACT
A questão da identidade e divisionismo em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A construção da
identidade em sul-mato-grossense em resposta a identidade mato-grossense tendo como pano de
fundo luta pelo poder. Para analisar essa questão algumas questões pontuais como 1) a identidade
mato-grossense construída pela elite e intelectuais do “norte”, 2) a negação da identidade mato -
grossense pelo “sul” e a construção da identidade “sulista” e; 3) luta pela hegemonia política. A tese
principal do autor é de que a oposição ao domínio político e a identidade mato-grossense foram o
estopim para o divisionismo e construção da identidade sul-mato-grossense.
Palavras-chave: Divisionismo – identidade – Mato Grosso.
COMENTÁRIOS PESSOAIS
O conteúdo do texto é bastante conhecido, pois é também pertinente a pesquisa em que estamos
realizando, já que o nosso local de pesquisa é o município de Coxim no estado de Mato Grosso do
Sul, mas o recorte temporal se estende de 1970 a 1990, período esse em que Mato Grosso está
passando pelo processo de divisão.
O texto em alguns aspectos pode associá-los com outros textos que estamos trabalhando como de
Rocha (2006) e o de Ferreira e Corso (2008), principalmente no quesito de construção da
identidade, já que os textos referidos tratam da construção da identidade gaúcha no Rio Grande doSul e em outros estados como Paraná e Mato Grosso, já com textos como o de Haesbaert (2002) e
Fazito (2002), não há grandes semelhanças, pois Queiroz (2006) não usa conceitos de redes
regionais ou sociais para discutir a identidade sul-mato-grossense.
Acredito que o texto enriquece bastante a pesquisa em que estamos realizando já que o nosso objeto
situa-se dentro desse contexto histórico, pois a pesquisa em questão inicia-se com Coxim sendo um
município de Mato Grosso e após a divisão em 1977 passa a ser Mato Grosso do Sul, e claro que
questões como a luta para formação da identidade da nova unidade federativa podem ser elementos
fundamentais nos estudos que estamos realizando, pois o trabalho de Queiroz (2006) tem como
mola mestra a construção da identidade e a relação de poder entre o sul e o norte de Mato Grosso
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até 1977 e é um pouco disso que buscamos na pesquisa que estamos realizando que a construção da
identidade gaúcha em Coxim, e é evidente que está identidade passa ser também elementos
constituidores da identidade de Mato Grosso do Sul.
Queiroz discorre de maneira clara os assuntos que propõem discutir, acredito que é um texto claro e
objetivo.
O texto enfoca bastante a questão da construção da identidade sul-mato-grossense, tendo como
principal referencial a identidade mato-grossense, apesar de mencionar os migrantes como
elementos constituidores da identidade não os dão as devidas relevâncias nesse processo de
construção da identidade e a relação de poder que foram estabelecidas entres eles, sendo mais
relevante a relação de poder estabelecida entre o sul e o norte.
RESUMO DO TEXTO
O autor propõe analisar nesse texto documentos do divisionismo em Mato Grosso do Sul na década
de 1930 e a construção da identidade sul-mato-grossense, como oposição a identidade mato-
grossense.
O texto tem como objetivo principal mostrar como foi construída a identidade sul-mato-grossense e
o movimento divisionista e para isso o autor divide o texto em três etapas sendo: 1) a identidade
mato-grossense, 2) o divisionismo e o esboço da identidade sulista, sendo esse dividem em três
subitens: 2.1) Lançando a batata quente sobre os “cuiabanos”, 2.2) A apropriação e transformação
de velhos elementos identitários, e 2.3) um estigma ad hoc: a opressão do sul pelo norte. O item 3)
refere-se as transformações políticas depois de 1934 e novas táticas sulistas.
Inicialmente o texto trás o processo de construção da identidade mato-grossense, no qual mostra a
união de grupos locais para manter a primazia mesmo que fossem de oposição, mas que fossem
filhos da terra. Essa construção da identidade mato-grossense está muito ligada ao exercício do
poder local, pois a elite mato-grossense, ou melhor, cuiabana buscou construir uma identidade em
contraposição a visão dos viajantes que apresentavam um Mato Grosso atrasado, selvagem, de
pessoas ignorantes, vingativas e preguiçosas em oposição a essa idéia os intelectuais buscaram
construir a imagem de civilização do sertão, de homens destemidos e patriotas que se adaptaram ao
meio hostil e que são cultuadores das artes, religião e ciência. (ZORZATO, 1998:16 apud
QUEIROZ, 2006:153).
Os intelectuais construíram a identidade mato-grossense a partir da “miscigenação” entre europeus
e indígenas exaltando principalmente as iniciativas dos bandeirantes como desbravadores dossertões, há também outros elementos os conflitos militares na região, o pioneirismo e algumas
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instituições que auxiliaram a construir a identidade mato-grossense. Os elementos apresentados nos
aproximam daquilo que foi a construção identidade gaúcha (FERREIRA e CORSO, 2008) e
(ROCHA, 2006), porém a identidade gaúcha extrapolou as fronteiras do Rio Grande do Sul.
Ainda no primeiro item o autor aponta que a identidade mato-grossense foi construída pela elite
cuiabana pensando em se perpetuar no poder, pois havia alguns fatores preocupantes como os
conflitos armados, a intervenção federal em 1917 e o crescimento econômico do sul em relação ao
norte. Enquanto isso os sulistas exploravam os estigmas da identidade mato-grossense ao seu favor
e exaltava a identidade que estavas sendo construída no sul, sobretudo dando ênfase aos fluxos
migratórios para a região.
O segundo item do texto aponta os efeitos da construção da NOB (Ferrovia Noroeste do Brasil) e a
consolidação de Campo Grande como o centro comercial do estado suplantando Corumbá, nesse
período (1920) Mato Grosso passa das navegações para as ferrovias, há também o surgimento deuma elite intelectualizada no sul ligada as áreas do Direito e Medicina. (QUEIROZ, 2006:158).
As conjunturas políticas do Brasil também favoreceram de certa maneira o movimento divisionista
em Mato Grosso, como a Revolução de 1930 e Revolução Constitucionalista (1932). Na Revolução
de 1930 o sul apóia Vargas enquanto o norte mantém a posição oficial, mas logo muda sua posição
após a vitória varguista, já na Revolução Constitucionalista o sul rompe com Vargas e alia-se aos
paulistas, e nesse momento é vivenciado o episódio da primeira divisão do estado; inicialmente é
nomeado um governador para o estado que exercia suas funções em Campo Grande e em seguida a
constituição do estado de Maracaju no sul com sede em Campo Grande.
Assim como algumas instituições buscaram consolidar a identidade mato-grossense, houve também
entidades ou movimentos no sul que fizeram o mesmo e na perspectiva do esboço da identidade sul-
mato-grossense e a direção do divisionismo foram centrados nos subitens: 1) “lançando a bata
quente sobre os “cuiabanos” que explicita a desorganização econômica no norte, enfatizando o
atraso econômico, alega que o Centro/Norte nada fez pelo o sul e também rejeitava Cuiabá como
cidade mãe dos mato-grossenses. 2) “Apropriação e transformação de velhos elementos
identitários” os sulistas apropriam de elementos centrais da identidade construída pela elite nortista,
retiram o índio como parte da sua identidade, exalta a construção de uma civilização no deserto
contando os fluxos migratórios, que eles são os verdadeiros guardiões da fronteira e são amantes da
liberdade; e rechaça qualquer tipo de barbárie. Outro ponto importante é a universalidade, pois todo
sulista independente da classe social estava em prol da divisão. 3) “O estigma e a opressão do sul
pelo norte”, pois for am sentimentos de dominação política e abandono que descadeiram o
divisionismo.
A terceira parte do texto trata das transformações e táticas políticas do sul pós 1934, nos mostra que
a derrota da Revolução Constitucionalista esfria o movimento de divisão, pelo menos por hora, mas
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o movimento volta à tona em 1959 quando Jânio Quadros é um forte candidato a presidência da
república.
O que o texto aponta é que a elite do sul estava de certa forma preocupada mais com o poder do que
com possível divisão, pois nas entre linhas do texto é perceptível que o sul queria a capital sob os
domínios bem como maior espaço na política, não sei se é possível dizer que talvez o objeto de
desejo principal do sul era dominar todo estado, tanto que as principais reivindicações eram de
equacionar as representações políticos entre o sul e o norte e os investimentos econômicos, já que o
sul era o responsável por maior parte da produção de riquezas do estado.
Também nessa terceira etapa do texto o autor aponta que as desproporções foram corrigidas desde o
Estado Novo, mas não por completo, pois
[...] o “projeto sulista” continuava a ser o de “conquistar a hegemonia” – mas agora pela via
do “processo partidário-eleitoral” e “sem rupturas dramáticas”: tratava-se de “mudar o eixo
do comando político-econômico do estado sem confronto entre as facções regionais, o que
poderia ter resultados imprevisíveis” (NEVES, 1988:212-213 apud QUEIROZ 2006:175).
O autor aponta ainda que o movimento de divisão do estado era um movimento sem partido, onde
muitas vezes os políticos ficaram esperando o que iria acontecer para se posicionar (QUEIROZ,
2006:177). De certa maneira havia uma conformação por parte das elites do sul, e então quando o
Governo Federal decide a revelia a divisão do estado em 1977, os sulistas são pegos de surpresa de
certa maneira, então é preciso criar ou buscar construir uma identidade às pressas para o então Mato
Grosso do Sul, e segundo Queiroz (2006:179) surge movimentos neodivisionista para afirmar a
identidade sul-mato-grossense.
Nas suas considerações o autor aponta algumas questões que são elementos a serem estudados e
debatidos como: o olhar das populações seja do norte ou do sul, pois a historiografia trás
majoritariamente a visão da elite, as obras públicas com recursos federais para facilitar a
comunicação de Cuiabá a outros centros na tentativa atenuar as desvantagem do norte em relação ao
sul, a chegada da NOB ao sul e a pressão do Norte para equiparar a sua infra-estrutura e por último
“as eventuais relações do regionalismo sulista da década de 30 com os movimentos intelectuaisentão em curso no país”, (QUEIROZ, 2006: 182), sobretudo o modernismo.