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FLAUTA DOCE EM PROJETO SOCIAL: A EXPERINCIA DO PROJETO
MSICA NO BAIRRO
Profa. Dra. Renate Lizana Weiland UNESPAR/EMBAP
Resumo: O Projeto Msica no Bairro ocorre na regio metropolitana de Curitiba, que apresenta baixo IDH (ndice de Desenvolvimento Humano). Trata-se de um projeto de extenso da UNESPAR/EMBAP (Universidade do Estado do Paran, Campus Escola de Msica e Belas Artes do Paran), vinculado ao Programa de Extenso Universitria Universidade Sem Fronteiras. A equipe deste projeto composta por trs graduandas do Curso de Licenciatura em Msica, duas profissionais recm-formadas, duas professoras orientadoras da referida instituio e voluntrias(os). O pblico alvo so cerca de 100 crianas e adolescentes que participam de aulas de Flauta Doce e canto coral. O texto aborda questes metodolgicas do ensino de flauta doce. Tambm discute desafios sobre a atuao dos professores de flauta doce neste contexto, enfatizando a necessidade da excelncia do material didtico utilizado e do preparo dos professores, bem como da qualidade das flautas doces, o que se reflete diretamente nos resultados obtidos.
Palavras-chave: projeto social, ensino de flauta doce, licenciatura em msica
1. O projeto Msica no Bairro: professores e alunos
Trata-se de um projeto de extenso da UNESPAR/EMBAP (Universidade do
Estado do Paran,Campus Escola de Msica e Belas Artes do Paran), vinculado ao
Programa de Extenso Universitria Universidade Sem Fronteiras, subsidiado pela
Secretaria de Estado da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior do Paran (SETI),
dentro do Sub-Programa Apoio s Licenciaturas.
O municpio no qual o projeto ocorre est localizado na regio
metropolitana de Curitiba e apresenta o IDH (ndice de Desenvolvimento Humano)
de 0.728, e tambm apresenta ndices alarmantes de uso de drogas e violncia
(conforme relato de rgos pblicos locais).
As crianas e adolescentes que participam do Projeto Msica no Bairro
provm de situaes de vulnerabilidade social, o que pode ser verificado no
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cotidiano das aulas. Muitas vezes crianas chegam com roupas inadequadas para o
frio que faz na regio, outras vezes seu estado demonstra falta de cuidados,
algumas vezes esto com dores abdominais ou dores de cabea decorrentes da
falta de alimentao.
Atuar nessa realidade tem sido um grande desafio para os professores de
flauta e sabe-se que nestes cenrios complexos a soluo no poder vir somente
das aulas de msica. Os problemas que se enfrentam desmistificam a ideia de uma
viso salvacionista da msica diante de realidades. (WEILAND, 2010, p. 73).
Autores como Oliveira (2003), Mller (2004 e 2005) tm escrito sobre a
necessidade de rever a formao dos graduandos nas universidades preparando-
os para atuao nestes cenrios.
2. As aulas de Flauta doce
As aulas so realizadas em grupos pequenos, de no mximo 12 alunos.
Assim o ensino coletivo ajuda a desenvolver muitos aspectos musicais e extra-
musicais, como aprender com as dificuldades e erros do colega; o autocontrole
para aguardar e ouvir o colega tocar; o som produzido pelo grupo e a variao de
momentos solistas, enfim, a aprendizagem coletiva traz inmeras vantagens ao
aprendizado musical neste caso.
Os alunos aprendem a tocar o instrumento desde as primeiras aulas com a
tcnica devida- postura corporal, articulao, etc, e so alfabetizadas
musicalmente, isto , aprendem a leitura e escrita musical por meio de partituras.
Por vezes tambm tocam por imitao, mas isso ocorre para buscar fluncia
musical sem se prender a leitura. Enfatizamos que fazemos questo de ensinar a
notao tradicional, bem como a notao contempornea, para que os alunos
efetivamente saibam ler partituras. Tambm se busca aprimorar a percepo
rtmica e meldica com exerccios especficos. Utiliza-e muito a apreciao musical,
desde grupos que visitam o projeto ou alunos mais adiantados que se
apresentam,com tambm atravs de gravaes e vdeos especialmente
selecionados. Como cantam no coro e utilizam a Manossolfa para tal, isso
aproveitado nas aulas de flauta tambm. Nas aulas os professores procuram variar
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bastante as atividades, para torn-las bem dinmicas e participativas aos alunos. E
interessante perceber o quanto eles gostam de tocar o instrumento.
O repertorio especialmente programado pelos professores para estes
alunos. O material didtico desenvolvido de forma a contemplar as dificuldades
de forma bem gradativa e tornar o ensino atraente atravs de motivaes variadas.
Os alunos mais adiantados j tocam as flautas contralto, tenor e baixo.
As crianas so incentivadas a estudarem a flauta doce em casa, para tal,
recebem uma flauta de qualidade, bem como uma material didtico e enfatizado
o cuidado e a responsabilidade que devem ter com esse material. Em relao aos
instrumentos musicais, um aspecto importantssimo a ser abordado a qualidade
dos mesmos. As crianas e adolescentes recebem a flauta doce soprano, de
afinao e digitao barroca, como instrumento pessoal. Como estamos em um
simpsio de flauta doce, queremos defender veemente a utilizao de flautas de
qualidade reconhecida em projetos sociais, e no de brinquedinhos musicais. As
crianas em situao de vulnerabilidade na grande maioria das vezes j passaram
por experincias de material educacional de m qualidade, o que pode inclusive ter
deixado lacunas em sua formao. Assim no abrimos mo de material musical de
excelncia - tanto as flautas quanto o restante do material para estudo musical.
Uma das dificuldades recorrentes o esquecimento do material em casa
pelos alunos ou ainda a falta a ensaios e apresentaes, muitas vezes, agravado por
total descompromisso das famlias das crianas. Assim, procura-se enfatizar muita
a questo da responsabilidade e do compromisso de cada aluno, respondendo pelo
cuidado do seu material e por suas aes de acordo com toda a dedicao que lhes
oferecida.
3. Os professores de Flauta Doce
Todos os profissionais atuantes no projeto Msica no Bairro tem formao
acadmica, sendo que ou concluram ou esto cursando o curso de Licenciatura em
Msica ou outro curso superior na rea de msica. Este aspecto importante para
que haja profissionais com reconhecida competncia, pois em muitos projetos
sociais, se percebe que pessoas que no estudaram Flauta Doce se prope a dar
aulas deste instrumento - e assim sem conhecimento adequado ensinam de forma
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totalmente inadequada. Isso traz consequncias desastrosas para os participantes,
que depois gastaro horas para corrigirem erros de tcnica ensinados por
profissionais no capacitados. Frisa-se ento, que os professores de flauta doce
precisam ter formao no instrumento para atuarem no projeto. Neste caso, vrios
professores ainda tem conhecimento de teclado, violo, violino e instrumentos de
percusso, o que bastante motivador para os alunos.
So realizadas duas reunies semanais entre os professores e coordenao
do projeto, nas quais discute-se como confrontar e integrar o conhecimento
cientifico, produzido na universidade, com a realidade encontrada, e nestas
reunies so abordados os problemas que surgem no cotidiano do projeto.
Os professores tem se dedicado com muito afinco, participando de muitas
atividades extras em apresentaes nos finais de semana, com muito empenho
podendo-se dizer que se dedicam de forma apaixonada pelo trabalho. E como j
descrito por Weiland (2010), percebe-se nos professores um deslumbramento
com o resultado do trabalho:
Este deslumbramento com a msica por parte dos profissionais que atuam em projetos comunitrios est ligado intimamente aos aspectos intrnsecos do fazer musical. Manifesta-se na forma como o profissional valoriza, se importa e considera como experincia mxima o acontecimento musical, a experincia esttica, e neste caso o fazer msica com os participantes do projeto. Para Swanwick esta forte valorizao de significado pessoal, que ele chama de passagem pelo terceiro nvel metafrico (2003, p. 36, p.56) ocorre com freqncia suficiente para motivar pessoas no mundo inteiro buscarem experincias musicais e inclusive assegura a comercializao da msica em todos os mercados do mundo. Este deslumbramento que d sentido e justifica todo o trabalho, a dedicao, por vezes o sofrimento fsico enfrentado pelos msicos para terem estes momentos (WEILAND, 2010, p.71).
No entanto, este deslumbramento no deveria afastar a preocupao com os
outros aspectos que envolvem trabalhos na rea social, como j abordado antes,
desmistificando uma viso salvacionista atravs da msica.
Assim como na pesquisa de Weiland, os professores tambm revelam uma
forte convico com trabalhos comunitrios, querem continuar atuando nestes
espaos, e relatam ainda uma identificao com o pblico alvo destes projetos.
Mesmo assim, enfrentam o grave problema que a falta de continuidade dos
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projetos, isto , o projeto tem de ser renovado em prazos estabelecidos pelas
mantenedoras. (WEILAND, 2010, p.66.)
Isso desemboca na falta de estabilidade profissional vivenciada por esses
professores, (Weiland, 2010, p. 66), pois ficam dependendo de editais e da
renovao destes. Uma das possveis razes por estarem mesmo assim
participando deste trabalho, que alm da forte convico pessoal, atualmente no
Brasil os pro