Flor Bela
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Transcript of Flor Bela
Árvores do Alentejo
Horas mortas... curvadas aos pés do MonteA planície é um brasido... e, torturadas,As árvores sangrentas, revoltadas,Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol postonteA oiro a giesta, a arder, pelas estradas,Esfíngicas, recortam desgrenhadasOs trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,Almas iguais à minha, almas que imploramEm vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:-Também ando a gritar, morta de sede,Pedindo a Deus a minha gota de água!
Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), Cleópatra ante César
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Izacyl Guimarães Ferreira
Frederic Leighton (British, 1830-1896), Antigona,detail
Florbela Espanca
Vaidade
A um grande poeta de Portugal
Sonho que sou a Poetisa eleita, Aquela que diz tudo e tudo sabe,Que tem a inspiração pura e perfeita,Que reúne num verso a imensidade !
Sonho que um verso meu tem claridadePara encher todo o mundo ! E que deleitaMesmo aqueles que morrem de saudade !Mesmo os de alma profunda e insatisfeita !
Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...Aquela de saber vasto e profundo,Aos pés de quem a Terra anda curvada !
E quando mais no céu eu vou sonhando,E quando mais no alto ando voando,Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...