Folha da Rua Larga 30

16
Duas exposições revelam abordagens diversas acerca da região: Um século de vivências num porto moderno e Morro da Conceição pelas lentes de Marcelo Frazão e Luis Christello. O curador Fernando Dumas fala sobre a importância social da mostra e Frazão versa sobre a arte de registrar o tempo. Redescoberta do Cais do Valongo vira filme Teresa Speridião apresenta mais um perfil de parceiros profissionais que têm ateliês no Morro da Conceição. Desta vez, a escolhida é a artista plástica Adrianna eu. Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 30 ANO IV RIO DE JANEIRO | NOVEMBRO – DEZEMBRO DE 2011 Porto e Morro da Conceição no Centro Cultural Correios páginas 8 e 9 Docudrama de Wavá de Carvalho, historiador e diretor de audiovisual do Instituto Pretos Novos, mostra encenações e depoimentos de estudiosos a respeito do passado negro na região. Hora de desdobrar os fios de Adrianna O antropólogo e residente do Morro da Conceição Tomas Martin Ossowicki discorre sobre os trabalhos acadêmicos de duas etnógrafas, que inspiraram um seminário organizado por ele para debater o bairro. página 6 página 13 Página 5 O que se escreve sobre os moradores da região página 14 Festas regadas a bebida gelada e borbulhante Nei Passos estreia coluna sobre vinhos na editoria Boa Vida, em que aborda peculiaridades, mistérios e dicas sobre a festejada bebida. Nesta edição, o sommelier revela nuances entre os diversos espumantes e fala da expressividade dos nacionais. opinião Lielzo Azambuja páginas 12 e 13 Cinema e botequim em um só espaço gastronomia cultura O subsecretário de patrimônio, Washington Fajardo, apresenta o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana. Lideranças culturais e relacionadas ao movimento negro foram convidadas para compor um comitê do percurso, que inclui seis pontos históricos. Eduardo Rudge página 11 Carolina Monteiro boa vida Rio ganhará circuito de visitação para memória contínua da cultura africana folha da rua larga

description

A Folha da Rua Larga foi criada em 2008 para dialogar sobre o processo de revitalização no Centro do Rio e Zona Portuária.

Transcript of Folha da Rua Larga 30

Page 1: Folha da Rua Larga 30

folha da rua larga

Duas exposições revelam abordagens diversas acerca da região: Um século de vivências num porto moderno e Morro da Conceição pelas lentes de Marcelo Frazão e Luis Christello. O curador Fernando Dumas fala sobre a importância social da mostra e Frazão versa sobre a arte de registrar o tempo.

Redescoberta do Cais do Valongo vira fi lmeTeresa Speridião apresenta mais um perfi l de parceiros profi ssionais que têm ateliês no Morro da Conceição. Desta vez, a escolhida é a artista plástica Adrianna eu.

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 30 ANO IVRIO DE JANEIRO | NOVEMBRO – DEZEMBRO DE 2011

Porto e Morro da Conceição no Centro Cultural Correios

páginas 8 e 9

Docudrama de Wavá de Carvalho, historiador e diretor de audiovisual do Instituto Pretos Novos, mostra encenações e depoimentos de estudiosos a respeito do passado negro na região.

Hora de desdobrar os fi os de Adrianna

O antropólogo e residente do Morro da Conceição Tomas Martin Ossowicki discorre sobre os trabalhos acadêmicos de duas etnógrafas, que inspiraram um seminário organizado por ele para debater o bairro.

página 6

página 13 Página 5

O que se escreve sobre os moradores da região

página 14

Festas regadas a bebida gelada e borbulhante

Nei Passos estreia coluna sobre vinhos na editoria Boa Vida, em que aborda peculiaridades, mistérios e dicas sobre a festejada bebida. Nesta edição, o sommelier revela nuances entre os diversos espumantes e fala da expressividade dos nacionais.

opinião

Lielzo Azambuja

páginas 12 e 13

Cinema e botequim em um só espaço

gastronomia

cultura

O subsecretário de patrimônio, Washington Fajardo, apresenta o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana. Lideranças culturais e relacionadas ao movimento negro foram convidadas para compor um comitê do percurso, que inclui seis pontos históricos.

Eduardo Rudge

página 11

Carolina Monteiro

boa vida

Rio ganhará circuito de visitação para memória contínua da cultura africana

folha da rua larga

Page 2: Folha da Rua Larga 30

novembro – dezembro de 2011

nossa rua

O que não pode faltar na nova região portuária?

Cristian Alves, gerente de projetos

“Eles deveriam criar um corredor exclusivo para os ônibus e táxis, assim como foi feito em Copacabana, além de criar um sistema de rodízio de carros. Isso porque esta região é histórica e merecia maior funcionalidade nesse aspecto.”

Luiz Antônio Barbosa, zelador

“Imagino que o bairro ficará muito melhor do que está, mas espero que, depois que terminarem todas as obras, eles tenham a consciência de manter uma fiscalização e manutenção do que foi feito, como a lim-peza das praças.”

“Deveriam construir mais ciclovias para in-centivar os moradores e frequentadores da região a utilizarem bicicletas como meio de transporte alternativo, inclusive para o lazer, como está sendo feito em outros bairros da cidade.”

Michele Martins de Souza, consultora de vendas

Fabiola Buzim

Fabiola Buzim

Fabiola Buzim

folha da rua larga

espaço dos leitores

2folha da rua larga

Redação do jornalRua São Bento, 9 - 1º andar - Centro

Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690

www.folhadarualarga.com.br [email protected]

A Folha da Rua Larga recebe opiniões sobre todos os temas. Reserva-se, no entanto, o direito de rejeitar acusações insultuosas ou desacompanhadas de docu-mentação. Devido às limitações de espaço, será feita uma seleção das cartas e, quando não forem concisas, serão publicados os trechos mais relevantes. As cartas devem ser enviadas para a Rua São Bento, 9 sala 101 CEP: 20090-010, pelo fax (21) 2233-3690 ou através do endereço eletrônico [email protected].

Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa,

Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário

Margutti, Mozart Vitor Serra

Direção Executiva - Fernando Portella

Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite

Colaboradores - Ana Carolina Portella, André Calazans,

Carolina Monteiro, Danielle Silveira, Eduardo Rudge,

Fabiola Buzim, Fernando Portella, Izabella Jacobina,

Lielzo Azambuja, Mário Margutti, Teresa Speridião,

Tomas Martin Ossowicki

Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins

Diagramação - Suzy Terra

Revisão Tipográfica - Raquel Terra

Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos

Impressão - Maví Artes Gráficas Ltda.

www.maviartesgraficas.com.br

Contato comercial - Teresa Speridião

Tiragem desta edição: 6.000 exemplares

Prevenção de incêndios no Morro da Conceição

Acabo de vender meu apartamento na Rua do Jogo da Bola, onde morei desde que nasci, há 82 anos. Acompanho os projetos de obras no Morro da Con-ceição e compareci a diversas reuniões do projeto Porto Maravilha. Há muito tempo os moradores do Morro estão preocupados com o fato de que há so-mente um hidrante no local. Já presenciei três si-tuações em que os bombeiros tiveram dificuldades. Isso precisa mudar. O incêndio não avisa quando vai chegar.

Moacyr Rodrigues

Segurança para quem trabalha na região portuária

Uma cracolândia se instalou na Av. Barão de Tefé, ao lado do sítio arqueológico descoberto durante as obras, bem em frente ao armazém onde trabalho. Hoje saí escoltada por um segurança até a Av. Ve-nezuela, porque a área estava bem perigosa, pes-soas discutindo, gritando, agressivas, visivelmente drogadas. Ontem uma mulher invadiu o armazém gritando, porque um homem, com uma pedra na mão, corria atrás dela dizendo que ia matá-la. Fo-ram contidos por um segurança, isso ainda à luz do dia. Legal fazer a obra, revitalizar a área do porto, etc., mas seria legal também garantir a segurança de quem trabalha ou mora por lá, com um policiamento mais ostensivo à noite.

Andrea Barreto

A passagem para carros na Sacadura Cabral, em obras, está mais restrita e com enormes buracos.

(enviado por leitor)

Page 3: Folha da Rua Larga 30

novembro – dezembro de 2011 folha da rua larga

nossa rua

da redaçã[email protected]

Providência receberá espaço de leitura

3

Maurício Hora

Para estabelecer uma me-diação entre os jovens da comunidade e o universo li-terário, o Sarau Providencial, realizado há dois anos no Morro da Providência, de-senvolve atividades lúdicas de incentivo à leitura. Pois o projeto acaba de receber apoio do governo federal, através do edital Micropro-jetos para territórios de paz, o que possibilitará a estrutu-ração de um espaço físico de leitura. A proposta apresen-tada pelo núcleo voluntário do Sarau amplia as ações do grupo iniciadas anteriormen-te à instalação da UPP na co-munidade.

Assim que erguido, o local será batizado “Espaço de Lei-turas Ana Maria Machado”. O motivo da homenagem é que, em 2010, a acadêmica doou exemplares de todo o seu catálogo infanto-juvenil para o acervo do Sarau Pro-videncial.

O Sarau promove atividades de estímulo à leitura com crianças no Morro da Providência

Realizado na Casa Ama-rela, espaço cultural dirigi-do pelo fotógrafo Maurício Hora, da ONG FavelArt, o Sarau Providencial é viabi-lizado por voluntários que dedicam parte do seu tempo, um sábado por mês, para a facilitação e o estímulo da leitura.

A dinâmica do Sarau é a seguinte: um tapete de plás-tico de quatro metros qua-drados é estendido pelos próprios jovens, no chão da praça. Em seguida, os livros de poesia são espalhados pelo tapete, e cada criança ou jovem escolhe a sua poesia a ser lida. Atualmente, quatro voluntários colaboram com o projeto: Gabriella Russa-no, João Guerreiro, Maurício Hora e Nivea Andrade. Eles estimulam e ajudam as crian-ças e os jovens a ensaiarem a sua apresentação de poesia.

Os participantes são cha-mados ao microfone para

mostrar o que foi ensaiado. A regra é a seguinte: toda criança ou jovem que ler um trecho de poesia ganha um livro de presente. “Com o desenvolvimento do projeto, pretendemos, além das de-clamações de poesia, orga-

nizar contações de histórias para as crianças e rodas de leituras com os adolescentes, e ampliarmos as atividades para os dias de semana”, con-ta Nivea Andrade, coordena-dora pedagógica da proposta.

Segundo o coordenador

de projetos culturais João Guerreiro, o Sarau acontece de acordo com alguns princí-pios: para a leitura não existe lugar adequado ou melhor postura. Todos os que quise-rem podem ler uma ou mais frases de poesia. Os jovens

que não sabem ler são incen-tivados a memorizar poesias. “Lemos no Largo da Igreja, no alto do Morro da Provi-dência. Em pé, sentados ou deitados, não existe postura ou pessoa ideal para ser lei-tora. Procuramos dessacrali-zar a atividade, torná-la coti-diana”, garante.

Em janeiro, o núcleo do Sarau Providencial deverá se reunir com os jovens partici-pantes para organização do espaço de leituras. “Faremos mutirão, solicitaremos ajuda (como sempre) e definiremos os livros a serem comprados. Agora que fomos certifica-dos pelo MinC, quem sabe não surgem parceiros públi-cos e privados interessados em incentivar o Sarau?”, tor-ce João Guerreiro.

Page 4: Folha da Rua Larga 30

Cliques Rua Larga boca no trombone

fernando portella

[email protected]

O Moinho Marilu, na Gamboa, em frente à Rua Pedro Ernesto, está sendo revitalizado. O destino da antiga e monumental construção ainda não foi divulgado.

Placa da Rua Sacadural Cabral, no Largo de São Francisco da Prainha. O lugar entrou em reforma e o bloco Escravos da Mauá irá definir outro local para os ensaios.

4folha da rua larga

nossa rua

Sacha Leite

Brilha no céu do Rio um ovo estrelado

novembro – dezembro de 2011

Sacha Leite

A imagem do nosso Rio de Janeiro nunca esteve tão saborosa, bem feijoada, gingada de sol e samba, bron-zeada, antes mesmo do verão. É claro que há muito que fazer, mas a diferença é que agora temos mais esperan-ças de que (a gente) pode mudar. Precisamos adqui-rir novos hábitos, deixar certas manias de falar mal de tudo e de gostar de sangue nas manchetes dos jornais.

Eram 9 horas da noite. Um amigo meu, desses que vi-ram a noite bebendo, pediu licença, deixou sua parte da conta e disse que tinha que ir cedo para casa. Ninguém entendeu! “Algum problema?”. “Não, pelo contrário, quero acordar às 4 horas da manhã, pegar um lugar em cima do túnel da Rocinha para assistir a ocupação.”

Dois dias antes, quatro rodas de um carro elegante rolaram descida, buraco abaixo, favela cercada. Uma mão de guarda se estendeu, rodas pararam, gravatas saltaram, documentos daqui e dali... “Abram o porta--malas!”. Não abriram, foram conduzidos entre eu-ros e dólares para a Federal. Nova parada no cami-nho, mais oferta de grana, agora em reais. A carteira do guarda excitou, pensou na família, em Deus e não cedeu – milagre! – veio a confissão... Numa posição fetal, prenderam o bandido mais procurado do Rio de Janeiro, o traficante “Neném”. NEM uma arma, chu-peta, canivete, fralda, AR-15, mamadeira. NEM uma reação, a criança é algemada: “Mãe, não deixe os me-ninos faltarem à escola!” foram suas últimas palavras em liberdade.

Dias depois, reencontrei o meu amigo e perguntei: “Como foi a ocupação?”. “Sem graça, acabei dormin-do, quase caí lá de cima do túnel. No início, até que foi emocionante: tanques, blindados, helicópteros, muitos soldados. Tudo indicava que seria uma bela operação de guerra, mas não houve tiros, mortes, prisões, ne-nhuma bala perdida, nada. Acho que tem alguma coisa errada.”

Antes: pés descalços, 12 anos, corre, sobe o muro, cai do outro lado. Botas atrás pulam o muro, perse-guem... Pés descalços viram esquina, derrubam latas, foge o gato pelo esgoto a céu aberto, portas trancadas, sem saída. Revólver aponta, tiro certeiro, morre João, filho da cachaça desempregada, da mãe que não se sabe aonde, perdido de nós. Agora, quem sabe Roci-nha, Vidigal, Chácara do Céu e tantas outras pacifica-das... Agora, quem sabe a pipa possa voltar a subir e a bola possa rolar entre sorrisos de ingenuidade.

Page 5: Folha da Rua Larga 30

folha da rua larga

entrevista

5

Carolina Monteiro

Cais sobre caisDocudrama traz encenações e falas de pesquisadores sobre a redescoberta do Valongo

novembro – dezembro de 2011

Wavá de Carvalho, diante de material arqueológico, no IPN sacha [email protected]

O historiador Wavá de Carvalho recebeu a reporta-gem da Folha da Rua Lar-ga no Instituto Pretos Novos, na Gamboa, onde trabalha como diretor de audiovisual. Também diretor de teatro e vídeo, ele acaba de lançar o filme Cais do Valongo, san-gra da terra, exibido no 5º Encontro de Cinema Negro: Brasil, África e Caribe, no Centro Cultural Justiça Fe-deral, em novembro.

O longa-metragem narra o processo de redescoberta de um capítulo da histó-ria da cidade que está sen-do registrado apenas neste momento. O Cais por onde entraram milhares de escra-vos trazidos da África desde 1811 foi coberto pelo Cais da Imperatriz, em 1843. A redescoberta, 200 anos após sua construção, mobiliza a comunidade negra carioca e exige uma espécie de repara-ção simbólica da população.

Como surgiu a ideia do filme?

Fui convidado pelo Zózi-mo Bulbul para o 5º Encon-tro de Cinema Negro: Brasil, África e Caribe realizado no Centro do Rio, em novem-bro. A partir desse convite e dos achados arqueológicos emergentes com as obras de revitalização na região, de-cidi me debruçar sobre esse tema, porque isso não é algo que se aprende nas escolas, ainda.

O material bibliográfico e científico sobre o Cais do Valongo está sendo gerado agora, nunca se falou sobre o assunto no Brasil. Esse foi um episódio que ficou 200 anos silencioso e somente em 2011, ressurgiu e não de-verá ser esquecido jamais. O cemitério de Pretos Novos, vizinho ao Valongo, é o que chamamos de holocausto negro.

Qual foi o gênero selecio-nado?

Escolhi o docudrama por-que sou diretor de teatro, então para mim é natural a abordagem da ficção. Mas não abri mão das entrevistas porque é um tema que mere-ce respaldo científico para as pessoas conhecerem a serie-dade das informações. Tra-zemos depoimentos de pro-fessores, doutores, PHDs, mas exibimos no Complexo do Alemão, em Realengo e aqui na Zona Portuária.

Queremos democratizar essa informação. A constru-ção do Valongo, há dois sé-culos, foi uma solução para “limpar” a Praça XV. Aqui ficava concentrada a parte pobre do Rio. Minha linha-gem afrodescendente pede para que eu divulgue esse tema, aqui também está mi-nha raiz.

O que mais o impressio-nou ao longo da pesquisa?

A prefeitura liberou agora três funcionários para fazer a demarcação e mapear até onde há material arqueoló-gico. Mais de uma tonelada de contas, anéis, pedras, bú-zios, cachimbos foram en-contrados.

A arqueóloga Tânia An-drade Lima precisou convi-

dar babalorixás para inter-pretar o significado desses achados. Eles esclareceram: ‘isso é um orixá, você tem que colocar na água. Ele gosta de água, é vivo’. Tem esse lado lúdico e cultural que, mesmo a pessoa não acreditando, deve respeitar.

Quem faz parte do elenco?

Dez atores da Cia Bem Brasil, o jornalista Mauro Vianna, o músico Luiz Me-lodia, a arqueóloga e profes-sora Tânia Andrade Lima e o professor Carlos Eugênio Líbano, cuja tese de douto-rado foi sobre a capoeira. Ele foi responsável pela parte de pesquisa do filme. Muitos dados do Valongo estão sendo acessados nes-te momento. Só agora essas informações estão indo para os livros.

Por que convidar Melo-dia?

Pensei em Jorge Ben Jor, Gilberto Gil e Luiz Melodia. Escolhi o Melodia porque é um artista que admiro muito, nasceu aqui na região – no Estácio – é carioca, negro, e tem vida pública. Gostaria de transmitir a visão de uma pessoa pública sobre o tema.

Como tem sido a reação do público?

Fica um silêncio absolu-to na hora em que são mos-tradas as ossadas. Queriam esconder essa mancha da história do Brasil, por isso construíram o Cais da Im-peratriz sobre o Valongo. Existia uma pressão polí-tica para a abolição da es-cravatura. Vários estados aboliram antes do Rio de Janeiro.

Planeja algum filme para o futuro?

Um documentário so-bre a Pequena África, em fase de roteirização. André

greiro, as africanas davam sete voltas em torno de uma árvore e os africanos, oito, para se esquecer de onde vieram. Ou então comiam terra para lembrar sua ori-gem. Havia também aque-les que se matavam com as correntes antes mesmo de sair da África.

Darwin colocou a evolu-ção negra à parte da evo-lução humana. Com isso, ele justificou a escravidão e o silêncio da comunidade diante desse fato.

Rebouças se formou enge-nheiro e fez coisas incrí-veis, como o armazém que hoje abriga o galpão da Ci-dadania. Machado de Assis nasceu no Livramento. É uma região muito rica.

Quero começar essa fil-magem nos portos de Gore, no Senegal e Uidá, em Mo-çambique. Será interes-sante começar pela porta de saída. O griô será o fio condutor que vai revelar essa história para o mundo.

Quais aspectos da vinda dos escravos pretende de-talhar?

Algumas curiosidades: antes de entrar no navio ne-

Page 6: Folha da Rua Larga 30

Tomas Martin [email protected]

6folha da rua larga

O que se escreve sobre ‘nós’Que venha 2012

sacha [email protected]

opinião

Sacha Leite

novembro – dezembro de 2011

Em tempos de prepa-ração para megaeventos mundiais, reordenamento das formas de administrar as populações, pacifica-ções, controles urbanos, revitalizações e tantos ou-tros projetos de transfor-mação social e urbana, o Rio de Janeiro passa por época também de grande produção de conhecimen-tos.

Trata-se de um con-junto imenso de saberes díspares que vão desde inventários, mapeamen-tos, estudos técnicos e de viabilidade financeira, até pesquisas acadêmicas motivadas por políticas públicas pouco transpa-rentes, interesses diversos do setor privado e pelos conflitos e impactos so-cioespaciais gerados.

Na contramão dos sa-beres destinados ao con-trole das populações, e no avesso dos renovados interesses pelo passado, pode-se encontrar tam-bém a produção de conhe-cimentos de outro tipo.

Assim, quem andava pe-las ruas do Morro da Con-ceição entre 2007 e 2009 não só encontrava mora-dores, mas também po-dia esbarrar com uma ou duas etnógrafas fazendo suas pesquisas de campo. Flávia Carolina da Cos-ta, autora da dissertação de mestrado Morro da Conceição: uma etnogra-fia da sociabilidade e do conflito numa metrópole brasileira, apresentada na Universidade Federal de São Carlos, em 2010, e Roberta Sampaio Gui-marães, autora da tese de doutorado A Utopia da Pequena África: os es-paços do patrimônio na Zona Portuária carioca, defendida na Universida-de Federal do Rio de Ja-neiro, em 2011.

Esses estudos se dife-renciam de outros saberes produzidos sobre a região onde vivemos. Se a ex-periência etnográfica de Costa a permitiu entender de que maneira os discur-sos sobre a revitalização

da Zona Portuária proble-matizavam o território do Morro, também nos mos-tra de que forma os con-flitos apareceram como constitutivos das sociabi-lidades locais e como es-tes conflitos se encontra-vam misturados nas mais “triviais” relações. A et-nografia de Guimarães, ao evidenciar conflitos entre concepções sobre o mes-mo espaço, direcionou sua pesquisa a grupos que se contraposicionavam às propostas e classificações da prefeitura, se autoiden-tificando herdeiros de um patrimônio “negro” (e) operando uma cosmolo-gia e imaginário próprios.

Trata-se de pesquisas baseadas numa aproxi-mação cotidiana com moradores de diversos segmentos do bairro e entorno, possibilitada pelo trabalho etnográfico e o estabelecimento de relações mais ou menos íntimas de convivência. Nesse sentido, também se trata, literalmente, O que

se escreve sobre “nós”, o nome de um seminário organizado por mim, an-tropólogo e morador do Morro da Conceição, que aconteceu na edição 2011 do Projeto Mauá, no dia 3 de dezembro.

A proposta, por um lado, está em criar um debate público, incluindo as pesquisadoras, os mo-radores e outros convi-dados, sobre saberes que dificilmente escapam dos muros da academia. Por outro e mais especifica-mente, procura-se per-guntar quais as dimensões éticas e políticas dos tex-tos e sua circulação. Afi-nal, estamos vivendo um período que, para muitos de “nós” (os sujeitos--objeto das etnografias), envolve grandes mudan-ças e, às vezes, lutas po-líticas.

Fechamos o ano de 2011 com as artes plásticas em alta na região. Além do Dia da Conceição, comemora-do em dezembro, quando os artistas residentes no Morro da Conceição abrem seus ateliês, há duas expo-sições convidativas sobre aspectos sociais locais, des-critas em matéria das pági-nas centrais dessa edição. Uma expõe fotos do Morro da Conceição e a outra con-ta a história da Zona Portu-ária, fazendo uma compa-ração entre o tempo atual e o antigo.

A coluna de Teresa Speridião traz o perfi l de Adrianna eu, artista visual que também tem ateliê no Morro da Conceição. O texto carinhoso revela a afi -nidade entre as duas artistas que se debulham em costu-rar, tecer e bordar corações.

Como se não bastasse, André Calazans dá o seu toque pictórico ao jornal com a sua Poesia Pintada, em que compõe poemas inspirados em pinturas e fo-tografi as, o que nos ajuda a sair um pouco da rotina do dia a dia e refl etir de forma mais livre.

A tirinha de Daniel Gna-talli vem para trazer um olhar ao mesmo tempo crítico e lúdico para este periódico, que se propõe a acompanhar os diversos aspectos relacionados ao atual processo de revitali-zação na região portuária. O artista visual estudou as principais difi culdades citadas em fóruns sobre o tema e apresentou um olhar sobre a difi culdade de se estimular a participação. A charge de Lielzo Azambu-ja, publicada na capa desta edição, faz analogia com as alterações urbanas de for-ma bem-humorada.

Nesta edição de fi m de ano, o antropólogo Tomas Martin relata, aqui ao lado, sua experiência de trazer ao Morro da Conceição e adjacências, intelectuais

que produziram estudos sobre a região nos últimos dois anos. O objetivo dele é romper o robusto muro da comunidade acadêmica e permitir que os indicado-res produzidos a partir das pesquisas sejam usufruídos e debatidos também pelos próprios moradores.

Fernando Portella, em sua coluna Boca no Trom-bone, fala sobre o processo de pacifi cação na Rocinha. Ele cita o fato de a ocupa-ção ter ocorrido sem se dis-parar um tiro sequer. Esse tema vem se mostrando completamente atual, já que se refl ete nas ruas repletas de turistas. Seja lá por que motivo for, as pessoas têm sentido mais confi ança em andar tranquilamente pela cidade. Isto prova o poder dos meios de comunicação, que transmitiram todo o passo a passo.

Outra questão de desta-que, também tratada nesta edição, é a busca por valori-zar o patrimônio cultural ao longo das obras de revitali-zação. A criação do Circui-to Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana é um exemplo nesse sentido. No dia 29 de novembro, essa criação foi publicada no Diário Ofi cial, delimitando tanto o espaço físico que abrangerá quanto o grupo de trabalho que se estabelecerá para conceitu-ar e estruturar as atividades, composto por convidados fi xos e variáveis. Uma preo-cupação pertinente para ga-rantir que se acesse, de for-ma mais ampla, os inúme-ros bens culturais locais. O fi lme de Wavá de Carvalho também aborda a importân-cia do resgate da cultura ne-gra, sob a ótica emocionada de um afrodescendente, em leitura original.

Page 7: Folha da Rua Larga 30
Page 8: Folha da Rua Larga 30

cultura

Morro da Conceição e região portuária: costumes e imagens através do tempoFotografias antigas se unem a cliques digitais contemporâneos em duas mostras nos Correios

8folha da rua larga

Marcelo Frazão

novembro – dezembro de 2011

Comece o seu dia com um delicioso café da manhã a kilo, na medida certa! Servimos café, chocolate, sucos, salgados, pães e guloseimas para deixar a sua vida mais gostosa.

Trabalhamos com o Café Orfeu, um dos mais puros grãos do Brasil.

UMA DELÍCIA

DE CAFÉ DA MANHÃ!

Rua da Quitanda, 187 loja A • Centro da Cidade • RJ

Tel.: 2253-5810 • www.baroa.com.br

Aprecie também o nosso almoço.Gastronomia internacional com um toque caseiro.

A diversidade huma-na, cultural e arquitetô-nica da Zona Portuária é o grande atrativo de duas exposições que es-tão em cartaz no Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20, Centro). Uma delas enfoca apenas uma par-te da região: o Morro da Conceição, mostrado ao público através de foto-grafias de Marcelo Fra-zão e desenhos digitais de Luis Christello. Já a outra, mais abrangente, exibirá cerca de 200 fo-tografias, mapas, cená-rios interativos, vídeos, projetos urbanísticos, maquetes e objetos ar-queológicos. O historia-dor e pesquisador Fer-nando Dumas (Fiocruz), curador da mostra, e Ce-zar Honorato (UFF), es-pecialista em políticas públicas, organizam, ainda, um seminário e uma oficina para discutir o tema com o público.

Marcelo Frazão mora no Morro da Conceição há 14 anos e é um dos fundadores do Projeto Mauá, evento marca-do pelos ateliês de por-tas abertas dos artistas plásticos que habitam a região. “Esse é o lugar onde eu moro e quero passar o resto dos meus

ro e não dava um risco sequer no papel. Preciso que o desenho me convi-de. Quando isso aconte-ce, fico ansioso, até peço canetas emprestadas...”

Ele parte do desenho para em seguida esca-near e transformar as imagens no computa-dor. Usando programas como Photoshop e Pain-ter, trabalha contrastes, luminosidades e textu-ras. É uma espécie de gravador da era digital: “Meu trabalho se reali-za no ato da impressão, como nas gravuras. Não há obras únicas, faço de três a cinco exemplares de cada, para democrati-zar a arte. São desenhos digitais que ‘respiram’ gravura: a força do de-senho e a materialidade da tinta como meio de expressão”.

As muitas

histórias do Porto

A segunda exposição em cartaz no Centro Cultural Correios é Um século de vivências num porto moderno. Com curadoria do historiador Fernando Dumas, narra através de fotos antigas e atuais a transformação da região, dos antigos cais em que chegavam

dias. É como uma cidade do interior no Centro do Rio, onde sou muito fe-liz”, diz. Nessa perspec-tiva, algumas de suas fo-tos transbordam afetos, projetados em pequenos detalhes do cotidiano: o interior do seu ateliê, o desfile da Banda da Conceição, as visões de passeios noturnos pelas ladeiras centenárias.

O superintendente do Iphan, Carlos Fernando de Andrade, realça no texto de apresentação da mostra que o Morro

da Conceição é especial porque é o único rema-nescente dos quatro mor-ros que demarcavam o pequeno quadrilátero da cidade no início do sécu-lo XIX.

Frazão conta que do-cumentou em fotos todas as etapas da demolição de um prédio do Banco do Brasil na vizinhança, e também todo o proces-so de construção do pré-dio que foi erguido em seu lugar: “Eu registro o espaço/tempo, os ele-mentos da paisagem que,

um belo dia, podem não estar mais ali...”. Assim ele faz da imagem foto-gráfica uma arma contra a corrosão do tempo.

Gravuras com tecnologia digital

O pintor e desenhis-ta Luis Christello co-nheceu Marcelo Frazão numa exposição na Aca-demia Brasileira de Le-tras, intitulada Sístole, em novembro de 2010. Christello estava recém--chegado de Lisboa e,

por causa dos casarios portugueses que pin-tou, Frazão convidou-o ao Morro da Conceição. Conta o desenhista: “Na mostra Sístole, eu mos-trei um processo expres-sionista, de dentro para fora. Esta mostra sobre o Morro da Conceição ba-tizei como Diástole, por ser mais contemplativa, de fora para dentro”.

Christello não produ-ziu nada por encomenda: “Não consigo marcar um encontro com o desenho. Às vezes eu ia ao Mor-

Casario na Ladeira João Homem, Morro da Conceição

Page 9: Folha da Rua Larga 30

9

Thony Serdoura

folha da rua larga

culturanovembro – dezembro de 2011

mário [email protected]

os escravos até as obras atuais do Porto Maravi-lha, passando pelo ater-ramento feito reforma urbana encetada por Ro-drigues Alves.

Nas fotos amarelecidas pesquisadas em arquivos públicos, o espectador aprende que o Moinho Fluminense possuía seu próprio cais, que a Igreja Madre de Deus do Mor-ro do Livramento foi demolida e que nas do-cas do Lloyd Brasileiro começou a ser gestado um novo território cul-tural na cidade. Com o modelo inglês, os mora-dores do Porto passaram a habitar trapiches e so-brados, para dar lugar a armazéns e prédios mo-dernos. Nesse contexto, aprende-se que a Rua Sacadura Cabral passou a ser uma ‘fronteira’ que separa o casario antigo do moderno.

Tiago Vinicius, es-tudante de História da

UFF, que participou do processo de pesquisa das fotos, declarou: “uma história não soterra a ou-tra. Na região há grande mistura de tempos histó-ricos”. Ele diz que é im-portante mostrar que o Porto tem uma vida que independe do trabalho, na qual reina o lazer, ex-pressões culturais fortes e toda uma religiosidade.

Na legenda de uma foto da Avenida Rodrigues Al-ves, lê- se: “A população acostumou-se a passar pela cultura dos morado-res da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, sem vê-la”. Oportunamente, a expo-sição mostra essa cultura popular esquecida, em ce-nas como as festas e bai-les da Sociedade Dramá-tica Particular Filhos de Talma, fundada em 1879, na Saúde, a primeira es-cola de arte dramática do país. E onde nasceu, em 1964, o bloco carnavales-co Coração das Meninas,

que hoje rivaliza com grupos consagrados como Bafo da Onça e Cacique de Ramos.

Além de fotos, a expo-sição reúne material iné-dito: mapas, cenários e vídeos com várias histó-rias de vida, tendo como base pesquisas de Fer-nando Dumas (Fiocruz) e do historiador Cezar Ho-norato (UFF). Em depoi-mento para a Folha da Rua Larga, Dumas aler-ta: “Procuramos mostrar que existe vida cotidiana, com tradições consolida-das, para além dos proje-tos do poder público. Por trás do anel rodoviário há 34 gerações de famílias. Isso imprime à exposição todo um sentido de resis-tência cultural”.

As duas mostras ficam em cartaz até 8 de janeiro.

Conferências Um século de vivências num porto moderno

25/11: Palestra de Carlos Lessa – Centro Cultural dos Correios – 17h

29/11: Mesa-redonda O futuro resgatando o passado – Auditório do Instituto Nacio-nal de Tecnologia (Avenida Venezuela, 82 – Pça Mauá) – 18h30

02/12: Palestra de Ricardo Holanda - Centro Cultural Correios – 17h

06/12: Mesa-redonda Cidadania e assistência social na região portuária – Fundação Darcy Vargas (Rua Sousa e Silva, 112 – Saúde) – 18h30

09/12: Palestra de Cezar T. Honorato – Centro Cultural dos Correios – 17h

13/12: Mesa-redonda Responsabilidade social – Auditório do Instituto Nacional de Tecnologia (Avenida Venezuela, 82 – Pça. Mauá) – 18h30

16/12: Palestra de Antonio Edmilson Rodrigues – Centro Cultural dos Correios – 17h

Parte da Igreja de Santa Rita e Beco das Sardinhas, na antiga Rua Larga

Page 10: Folha da Rua Larga 30
Page 11: Folha da Rua Larga 30

Sacha Leite

11novembro – dezembro de 2011

nei [email protected]

11folha da rua larga

A bebida ideal para saudar o ano novo

boa vida

O brilho e as borbulhas de champanhes, espu-mantes e prossecos tem tudo a ver com a ale-gria do brasileiro. É nas comemorações de Ano Novo que eles ganham uma importância especial nas reuniões de família e amigos. Harmonizar um champanhe ou espumante é bem fácil, já que a be-bida combina com qua-se todo tipo de entradas, pratos e sobremesas, além de encaixar bem com o verão típico dessa época. O que tive a oportunida-de de descobrir nesses 16 anos como sommelier é que muita gente não sabe,

mas os espumantes brasi-leiros não deixam nada a dever para os estrangei-ros, mesmo os italianos e franceses.

Primeiramente, é in-teressante esclarecer que podemos chamar de champanhes os vinhos produzidos na região francesa de Champag-ne, com as uvas pinot noir, pinot meunier e chadornnay, pelo méto-do clássico (fermentação dentro da garrafa). Já os espumantes são vinhos feitos também pelo mé-todo clássico ou charmat (fermentação em cuba de inox), porém produ-

zidos em outras regiões do mundo. Então cham-panhes são espumantes, mas não necessariamente espumantes são champa-nhes, já que estes, como dito antes, precisam ser necessariamente produ-zidos na região de Cham-pagne, norte da França.

Algumas palavras são de difícil identificação para quem não está acos-tumado a ouvir sobre vinho. Alguns exemplos são as denominações: brut, que remete a peque-na quantidade de açúcar na bebida, variando de 5g a 15g por litro. Já os extra-dry recebem entre

Fábio Soares, Nei Passos e Cláudio Faria na Inauguração da Enoteca DOC, nova casa de vinhos da região

15g e 25g de elementos doces, os demi-sec, de 25g a 35g, e acima dessa quantidade, passam a ser chamados de vinho doce ou moscatel.

No entanto, como disse acima, para quem pro-cura um bom preço sem abrir mão da qualidade, os espumantes nacionais são uma excelente opção. Poucos têm o conheci-mento de que a categoria é considerada a melhor do mundo em degusta-ções cegas internacio-nais. Entre eles, destaco Casa Valduga 130 anos (R$ 60), Don Giovanni Anquier (R$ 50), Cave Geisse (R$ 45), Salton Volpi (R$ 35), Casa Peri-ni (R$ 30) e Don Guerino

(R$ 27).Todos esses vinhos são

uma verdadeira pintura. Trata-se de espumantes brasileiros singulares e acessíveis. Poucos co-nhecem, até pela falta de informações a respei-to e pela tradicional ode aos produtos importados. No entanto, vale a pena degustar, de preferência de 5ºC a 8ºC, para sen-tir melhor a presença dos aromas.

Sobre mim: especia-lizei-me em vinhos na Associação Brasileira de Sommeliers, bem como segui cursos na Chandon, treinamentos de imersão na Casa Valduga, Casa Perini, Vinícula Aurora e Barão de Lantier. Minis-

trei cursos na Universi-dade Veiga de Almeida, SindRio, Castelo dos Vinhos, além de prestar consultoria, como som-melier, para 20 restauran-tes e diversas importado-ras. O que me encanta no vinho são suas múltiplas possibilidades, já que conseguimos produzir, na mesma região e com a mesma uva, bebidas muito distintas. Existem mistérios instigantes em cada taça, que desvenda-remos de forma saborosa nas próximas edições. Bom proveito!

Nei Passos explica que alguns espumantes nacionais são a melhor opção para os festejos

Page 12: Folha da Rua Larga 30

cidade

Lembrança permanente da influência negra na região portuáriaComeça construção do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana

12folha da rua larganovembro – dezembro de 2011

Eduardo Rudge

O subsecretário do Patrimônio Histórico municipal, Washington Fajardo, no antigo Largo do Depósito

A descoberta de vestí-gios arqueológicos durante as obras do Porto Maravi-lha, na região portuária do Rio, em março, mudou o rumo das intervenções ur-banas programadas. Com vistas a sinalizar e valori-zar a contribuição negra na região, onde aportaram cerca de um milhão de ne-gros escravos ao longo do século XIX, a prefeitura inaugurou, no dia 16 de novembro, as obras de res-tauro do Centro Cultural José Bonifácio e deu início à construção do Circuito Histórico e Arqueológico da Herança Africana.

De acordo com Washing-

ton Fajardo, subsecretário municipal de Patrimônio, a partir dessa descoberta, a prefeitura interrompeu as obras a fim de estudar a melhor solução para os achados: “Fazia-se cidade em cima de cidade. Ago-ra essa dinâmica mudou. Hoje a gente resgata o pas-sado”. Observando as esca-vações, pode-se identificar três períodos históricos di-ferenciados, separados por um século cada. O Brasil Colônia, representado pe-los pés de moleque, Impé-rio, pelos paralelepípedos, e República. Ele explica que a ideia é que a Avenida

continua na página 13

Page 13: Folha da Rua Larga 30

folha da rua larga

13cidadenovembro – dezembro de 2011

morro da conceição

sacha [email protected]

teresa speridiã[email protected]

Há um fio do céu descido em seu coração

Reprodução

Adrianna eu é artista plás-tica e mora no Morro da Conceição. Nasceu em Vila Isabel e com muito orgulho fala de sua infância no bairro de Noel. Viveu entre a Vila e Petrópolis. Mais tarde, mudou-se para a Urca e só saiu de lá quando conheceu o Morro da Conceição.

Ela define o que sentiu quando conheceu o Morro: “Como assim? Eu sou ca-rioca e não conhecia esse lugar?” E ri, dizendo que não conhecer o Morro da Conceição é falta gravíssi-ma. Em compensação, para se redimir da culpa, pouco tempo depois deixou a Urca, vindo morar no número 102 da Rua Jogo da Bola.

A origem do “eu” minús-

culo em seu nome vem do desejo de compartilhar o seu eu com o outro, uma forma de doação afetiva.

Sua formação, além de cursos livres de filosofia, foi no Parque Lage, onde teve o incentivo da professora Malu Fatorelli. Adrianna não deixou por menos. Sua primeira exposição foi uma individual no Paço Imperial (uau!). Uma marca do seu trabalho é o Coração Puro. Essa obra não pode ser ven-dida, apenas doada por afeto. Ela fala que é uma brinca-deira com uma subversão do mercado. Caso esses co-rações façam parte de uma instalação, aí sim podem ser comercializados e então a instalação passa a se chamar Mil Corações.

A ideia Coração Puro já lhe rendeu uma residência de três meses em Amã, na Jor-dânia. Para confeccionar os

corações, Adrianna utilizou a lã feita pelas jordanianas. Hoje sua obra Mil Corações encontra-se num museu em Amã, ocupando lugar de destaque. Ela conta que vá-rios artistas do mundo par-ticiparam dessa residência, mas ela foi não só a única brasileira como também a única mulher do grupo.

O bate-papo continua e Adrianna eu fala de um momento muito especial em sua vida: foi aos EUA conhecer Louise Bourgeois. A emoção foi tanta que eu e Adrianna choramos (sem-pre gostei de Louise tam-bém). Louise a recebeu e se encantou pela sua obra de tal forma que a convi-dou para voltar na semana

seguinte. Houve um grande transtorno para permanecer mais uma semana nos EUA, porém não teve arrependi-mento algum.

Adrianna já fez várias exposições e instalações, vídeos, e, inclusive, esteve presente na ArtRio em se-tembro. Atualmente seus trabalhos estão na Galeria Inox.

Sua obra é impactante, bela e consistente. Ela sabe tocar a emoção e os cora-ções das pessoas. Confesso que estou fascinada pela obra dela. Tu, Ele, Nós, Vós, Eles também sentirão o mesmo que eu. Como disse Louise Bourgeois, “Não há costura sem corte”. O meu é obvio.

O circuito de visitação inclui seis pontos da Zona Portuária que remetem à cultura afro-brasileira

Barão de Tefé se torne um grande largo de pedestres onde se iniciará o tour his-tórico e arqueológico.

O circuito será forma-do pelo Cais do Valongo, Jardins do Valongo, Largo do Depósito (atual Praça dos Estivadores), Pedra do Sal, Instituto Pretos Novos e pelo próprio Centro Cul-tural José Bonifácio. Para o subsecretário, a menção à presença da cultura ne-gra deve ser feita de forma permanente, e não somente uma vez ao ano: “Vamos identificar esses espaços para que pessoas de todas as etnias, brasileiros ou estrangeiros, reconheçam essa importante influência”.

Fajardo explica que todo o trajeto será identificado com placas circulares de linguagem acessível, de forma que alunos de esco-las municipais e turistas tenham fácil compreensão. Segundo ele, Brasil e Esta-dos Unidos teriam avanços a apresentar com relação às ações afirmativas para inclusão de afrodescen-dentes, como as cotas para negros. No entanto, o con-graçamento no Brasil seria maior: “Aqui somos todos juntos e misturados”.

O subsecretário informou que está sendo montado um grupo de trabalho com lide-ranças atuantes na região li-gadas ao movimento negro, para que todos os cuidados que garantam respeito à cultura afrodescendente se-jam tomados. Diretor--executivo da Incubadora Afro Brasileira, Giovanni Harvey é um dos nomes confirmados no comitê: “O circuito deve resgatar a contribuição africana na cidade, reposicionar o Rio com relação a ¼ da popula-ção africana no mundo que aqui desembarcou e foi ex-plorada”.

Harvey declara que parti-cipou de algumas reuniões com a Secretaria Municipal de Patrimônio e percebeu uma preocupação com o tí-tulo do circuito: “A expres-são precisava ser positiva, mas que não fosse exclu-dente no sentimento de dor. A ‘celebração’ tem tanto o sentido de homenagem quanto a lembrança da dor, por isso é adequada”. Ele

ressalta que o tour não es-tava incluído inicialmente no projeto Porto Maravilha, mas foi abarcado a partir dos achados arqueológicos do Valongo.

Ele citou, ainda, que teve a oportunidade de viajar para Cabo Verde e para o Senegal, na Ilha de Goré, quando observou dois en-trepostos de escravos afri-canos das Américas reco-nhecidos como patrimônio histórico da humanidade. Daí, questionou: “Por que o Rio também não poderia se tornar uma referência nesse sentido?”. E concluiu: “Es-pero que esse circuito seja mais um elemento constitu-tivo da identidade da cidade do Rio de Janeiro, que tam-bém é negra e perdure para além das Olimpíadas”.

Segundo Washington Fa-jardo, a exploração da mão de obra negra também será lembrada ao longo do cir-cuito: “Não vamos tapar o sol com a peneira, entretan-to os coordenadores busca-rão revelar as referências positivas trazidas pela in-fluência da cultura africa-na”.

Fajardo citou também a preocupação com a noção negativa de utilização do espaço público que pre-cisa ser modificada: “O chafariz do Valentim, na Praça XV, é tratado como se fosse um fosso, onde as pessoas jogam butuca de cigarro”. De acordo com

Corações de linhas, obra de Adriana eu

Divulgação

ele, o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebra-ção da Herança Africana está sendo projetado de forma a criar outro tipo de relação com o público.

O circuito celebra a herança africana presente na região

Page 14: Folha da Rua Larga 30

gastronomia

receitas carolBoteco com jeito de cinema

danielle [email protected]

ana carolina [email protected]

Confira outras receitas da Carol no blog nacozinhacomcarol.

blogspot.com

14folha da rua larga

Em ambiente acolhedor, antigos equipamentos de cinema compõem cenário original

A coxinha Cidade de Deus, com molho picante, é um dos petiscos mais pedidos da casa

novembro – dezembro de 2011

Salada completa de quinoaACP

Modo de preparo:

Ingredientes:

O Cine Botequim se inspira na sétima arte para trazer mais charme ao Centro

Localizado à Rua Conse-lheiro Saraiva, 39, o Cine Botequim apresenta uma original mistura de cinema, drinks e boa mesa, harmo-nizados da decoração ao cardápio. O casarão antigo, com piso original e pare-des descascadas, constitui um ambiente íntimo e aco-lhedor. Pôsteres de filmes, como Tudo sobre minha mãe, Pulp fiction, O pode-roso chefão e Casa Blanca, dividem espaço com bo-necos de personagens fa-mosos nas telonas – Darth Vader, Super Homem e ET. Um toque charmoso fica por conta das poltronas de cinema, que criam um as-pecto curioso em contraste com as típicas mesas de bar.

Nem os garçons esca-param da invasão cinema-tográfica: seus uniformes lembram os lanterninhas, antigos funcionários das salas de cinema. “Nós que-remos sempre surpreender os fregueses. Até mesmo clientes fiéis, quando estão parados na fila do caixa, por exemplo, acabam notando um novo detalhe na deco-ração. Isso é muito legal”, conta o sócio-gerente Feli-pe Trotta.

O telão é a parte mais importante da decoração da casa, e não costuma exibir jogos de futebol ou clipes de música, mas filmes es-colhidos a dedo por Felipe, com a ajuda dos clientes, que sempre enviam suges-tões. As sessões acontecem ao meio-dia, 18h e 20h.

O cardápio do Cine Bo-tequim é um espetáculo à parte. Além de bar e happy hour, a casa funciona na hora do almoço, adotando um serviço diferente para cada horário. Há um menu com sugestões fixas encon-tradas todos os dias, os cha-mados Clássicos, em que o cliente escolhe uma carne acompanhada de arroz, fei-jão, fritas e farofa.

Para deixar os pratos ain-

da mais atraentes, eles fo-ram batizados em homena-gem a grandes atores e atri-zes do cinema. Risoto de Camarão Marieta Severo, Parmegiana Marilyn Mon-roe e Escondidinho Lázaro Ramos são alguns exem-plos. O Picadinho do Cine, o Estrogonofe de Niro e a Feijoada Grande Otelo es-tão na lista dos pratos que fazem mais sucesso.

Também entre os mais pedidos estão os petiscos Cidade de Deus, uma co-xinha servida com molho picante, item incluído há pouco tempo no cardápio, e Oito e Meio, um sonho sal-

gado recheado com cama-rão, catupiry e alho-poró, inspirado no filme de Fede-rico Fellini.

A carta de cervejas arte-sanais é bastante diversi-ficada. Para os amantes da caipirinha, há cinco opções clássicas e outras opções sugestivas como o Amnésia (vodca, gim, rum, tequila, triple sec, suco de limão e Coca-Cola) e A Malvada (batida com cachaça, suco de maracujá e leite conden-sado).

Inaugurado há pouco mais de um ano, o Cine Bo-tequim ganhou recentemen-te sua primeira expansão:

um segundo andar novinho em folha! Bem parecido com o térreo, o novo piso também conta com um te-lão no qual são exibidos os filmes, porém funciona apenas no horário do almo-ço. O espaço é ideal para a realização de eventos, apro-veitando o ambiente infor-mal e despojado para dar um clima especial a festas de final de ano, treinamen-tos ou bonificações. O salão comporta confortavelmente até 80 pessoas.

Divulgação

Cozinhe a quinoa em 2 2/3 xícaras de água fria. Quando secar, está pron-ta. Misture os ingredien-tes do molho e junte a quinoa cozida. Una os le-gumes e as ervas. Conser-ve na geladeira até a hora de servir.

Acompanha muito bem

Mais um ano chegando ao fim! Agora é hora de avaliar como foram os meses que se passaram, pesar o que foi bom, o que podemos fazer diferente e nos organizar para o próximo ciclo que vai começar. É um momento de reflexão, promessas e festas. A agenda anda lotada, toda semana tem um evento, os shoppings já estão decora-dos de vermelho e verde, a cada ano parece que o Natal chega mais cedo.

Na cozinha é a mesma

coisa. Todo dia é dia de as-sados e sobremesas. Tento ficar de bem com a balança e usar a criatividade para fazer pratos saudáveis e que impressionem, afinal são jantares, almoços, mais jantares e muita comida. Neste calor nada melhor do que uma salada, adoro! Quinoa está na moda há alguns anos, e eu sou fã! Mais uma receita de baixa caloria que pode nos ajudar a manter a boa forma e não fazer feio com os amigos!

1 ½ xícara de quinoa1 xícara de milho cozido debulhado½ xícara de cebola roxa picadinha1 xícara de feijão preto cozido2 xícaras de tomatinho

um prato de carne ou ave assada. Bon appétit!

partido na metade½ xícara de salsa picada½ xícara de aipo picado1 colher de chá de sal3 colheres de sopa de vi-nagre balsâmico6 colheres de sopa de azeite

Divulgação

Daud Pacha

Page 15: Folha da Rua Larga 30

novembro – dezembro de 2011 folha da rua larga

lazer

15

Poesia Pintada

Fotografia: Leticia Hasselmann / André Calazans

Saudade – Almeida Júnior

A Refeição do Cego – Picasso

Tarde ensolaradaEla sorri a paisagemSenhora do tempo

andré calazans [email protected]

Reprodução Reprodução

Reprodução

De manhã

AusênciaSem título

Tão longe, tão perto,tão dentro de mim.Sou norte, sou forte,mas não faz assim.Pois quando despertonasce mais um corte.Eu luto de lutonum mundo tão bruto.

Até mesmo o sofrimentoum dia deixa de sê-lo,tornando-se só um sonho. Lembrarei desse lamentocomo fosse um pesadelo:de manhã me recomponho.

Livro Poesia Pintada no Movere

Fica a dica para os que acompanham esta seção: André Calazans está divulgan-do o livro Poesia Pintada até o dia 4 de janeiro, no site www.movere.me. É uma boa oportunidade para quem se encanta com o casamento pintura e poesia ter na estante esse lançamento da Torre Editorial. A promoção do Movere possibilita que os leitores recebam o livro autografado, camisetas, almoços, passeios-surpre-sa e até análise de seu próprio texto pela Torre Editorial. Participe!

Paisagem

LIGUE. ACESSE.ANUNCIE.

(21) 2233 3690www.folhadarualarga.com.br

folha da rua larga

Page 16: Folha da Rua Larga 30

dicas da cidade Solte suas imagens na rede e seja curtido

16folha da rua larga

lazer

da redaçã[email protected]

novembro – dezembro de 2011

Celebração dos cem anos da sede da Light inclui concurso de fotografiaIzabella Jacobina

Os interessados devem postar suas fotos no Facebook

da redaçã[email protected]

Presépio gigante e esculturas díspares

O carioca Roberto de Oliveira Costa apelidou Anima (alma, em italiano) a mostra que exibe suas esculturas no Centro Cultural Correios. A exposição chama a aten-ção pelo contraste de materiais díspares e reúne, além de 13 obras, um presépio em grande dimensão. Uma quase versão visual das teorias do escritor italiano Luigi Pirandello, segundo as quais “assim é, se lhe parece”. Até 8 de janeiro, entrada gratuita. Rua Visconde de Ita-boraí, 20.

Sanduíches de primeira na Rua Acre

Surgiu um novo bistrô em frente ao Tribunal Regional Federal. Com mais de vinte opções de sanduíches inspi-rados na Itáia, saladas variadas e antepastos, o Focaccia entra no hall das opções ágeis da região. Com grande vitral e fachada tipo antiga, o restaurante também ofere-ce quatro opções de refeição por dia, sendo duas massas e carnes tipo vermelha ou branca, que variam de R$ 26 a 35. Há também bons vinhos e espumantes para acom-panhar, em taça ou garrafa.

A Light abre as come-morações do centenário de sua sede com o lançamento do concurso cultural Ins-taLight. Os interessados, usando como plataforma o aplicativo Instagram, po-dem fazer fotos criativas com o tema “eletricidade”, que retratem a presença da companhia no estado do Rio de Janeiro.

Além disso, precisam publicar as imagens em seu perfil do Facebook e incluir nos títulos das fo-tos a hashtag #instalight. A imagem será automati-camente direcionada para a galeria do concurso na fan page do Conexão Li-ght na rede social.

A escolha das melhores fotos será feita por júri popular, dentro da própria página, e por júri Light, em que uma banca de ava-liação selecionará a me-

lhor imagem entre as 30 mais curtidas na votação popular. Os vencedores das duas categorias rece-berão Ipads.

As 30 fotografias eleitas pela votação popular ga-nharão uma exposição nas vitrines do Centro Cultu-ral Light, a partir do dia 21 de dezembro. Será feito

também um concurso para funcionários da empresa, com o tema “A Rua Larga de nossos tempos”.

A mostra será projetada em forma de videoinstala-ção, proporcionando uma experiência sensorial e moderna. As fotos tam-bém ficarão expostas em uma galeria criada espe-

cialmente para o concurso no site www.conexaolight.com.br.

Nos dias 21 e 22 de de-zembro, a nova fachada do prédio da Light será iluminada com uma pro-jeção mapeada de Natal. A exemplo do que acon-teceu em maio deste ano na Igreja de Santa Rita, o prédio será usado como superfície para a projeção tridimensional de imagens que ajudarão a mostrar a beleza e a arquitetura do prédio histórico da com-panhia.

As comemorações pelo centenário continuam em 2012, com o projeto Ani-mando a Rua Larga, que trará diversas atrações cul-turais para a região.