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33 2009

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Nº 33 2009

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 1-89 2010

C A D E R N O S D I S C E N T E S C O P P E A D

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

EDITORIAL

Entendendo o paradigma eclético de Dunning

Fernanda Borelli

As dificuldades do processo de internacionalização

de pequenas e médias empresas

Luciana Velloso de Souza Araujo

Internacionalização do artesanato brasileiro.

Estudo de caso do Ateliê Oficina de Agosto

Raquel Silveira Scrivano

Estudo do processo de internacionalização e o impacto de

políticas públicas sobre duas empresas privatizadas brasileiras

Ricardo Costa Vieira da Silva

O fenômeno das Born Globals

Marcio Stern da Fonseca

Seria a Aracruz Celulose uma Born Global?

Caio Bianco Peres

N° 33 2010

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45

61

71

Cadernos discentes COPPEAD/UFRJ/ Instituto COPPEAD de

Administração.

– n. 1, (2000) -- Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000 -

Irregular

ISSN 1983-3377

1. Administração – Periódicos. I. Universidade Federal do Rio

de

Janeiro.

Instituto COPPEAD de Administração.

SUMÁRIO

Editor

Mauricio Mittelman

Assistente do Editor

Lucilia Silva

Projeto Gráfico e Capa

Raquele Mendes Coelho

Revisão de português

Argemiro Figueiredo

Correspondências devem ser enviadas para:

COPPEAD/UFRJ

Cadernos Discentes COPPEAD

Caixa Postal 68514

21941-972 – Rio de Janeiro – RJ

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Fax: (21) 2598-9817

E-mail: [email protected]

Direitos e Permissão de Utilização

As matérias assinadas são de total e exclusiva responsabilidade dos autores.

Todos os direitos reservados ao COPPEAD/UFRJ. É permitida a publicação de

trechos e de artigos, com autorização prévia e identificação.

APRESENTAÇÃO

Os CADERNOS DISCENTES COPPEAD têm por objetivo divulgar a produção de

alunos e ex-alunos latu sensu, de Mestrado e de Doutorado. Dentro de uma

filosofia de integrar teoria e prática, é comum que os alunos sejam solicitados

a realizar pesquisa e a escrever casos relativos aos conteúdos abordados nas

diversas disciplinas. Produzem, assim, um material que, apesar de ter por

objetivo primário a avaliação de desempenho, constitui, também, um esforço

de investigação de alta qualidade.

No entanto, nem todos os trabalhos e pesquisas apresentados nas disciplinas

estão de acordo com as regras básicas e usuais de publicação de trabalho

científico. A preocupação com essa questão fez com que o processo de

seleção dos mesmos seguisse uma rígida metodologia.

Em primeiro lugar, o professor de cada disciplina seleciona e indica aqueles

trabalhos que considera terem sido os melhores da turma. O editor, por sua

vez, analisa a adequação da inclusão em determinado volume.

Embora não seja esse o objetivo principal dos Cadernos, alguns aprendizados

adicionais estão presentes no processo. Primeiro, a compreensão, por parte

dos alunos, de que a qualidade do trabalho por eles desenvolvido pode

render frutos não pensados inicialmente. Segundo, o entendimento de que o

mérito de ter o artigo publicado não se faz sem ônus, uma vez que podem ser

necessárias algumas modificações, ou seja, faz parte do processo de

aprendizado do aluno não apenas a geração de um trabalho de pesquisa em

si mesmo, mas também a compreensão de que o reconhecimento decorre de

um comprometimento com a excelência, necessariamente presente em todos

os passos do caminho.

Por fim, mas não com menor ênfase, entendemos que os artigos aqui

publicados são de utilidade para as comunidades acadêmica e empresarial

brasileiras. A maior parte dos trabalhos publicados diz respeito a situações de

negócios relevantes para quem discute ou para quem aplica os conceitos de

Administração.

O Editor

EDITORIAL

Nesta edição dos Cadernos Discentes COPPEAD foram reunidos seis trabalhos

que gravitam em torno de um único tema: o fenômeno da

internacionalização das empresas.

Três desses trabalhos fazem uma extensa revisão de literatura sobre aspectos

bastante importantes e que têm recebido atenção expressiva de

pesquisadores no mundo inteiro. Um deles, “Entendendo o Paradigma Eclético

de Dunning”, examina os fundamentos do modelo e analisa o seu poder

explanatório no momento atual da economia mundial, dado que o mesmo

tem suas origens na década de 1950. O outro trabalho, “As Dificuldades do

Processo de Internacionalização de Pequenas e Médias Empresas”, examina o

estado da arte da literatura que trata, especificamente, da relação entre o

porte das firmas e as particularidades de seus processos de

internacionalização, apontando lacunas de conhecimento que podem ser

exploradas pelos estudiosos em pesquisas futuras. Já o terceiro trabalho, “O

Fenômeno das Born Globals”, constata que, por ser esse um tema

relativamente novo, ainda não encontra um arcabouço teórico definitivo que

suporte o comportamento das empresas que apresentam um processo de

internacionalização acelerado.

Os demais três trabalhos são estudos de casos de internacionalização de

empresas brasileiras, que são examinados à luz de diferentes correntes

teóricas, tanto comportamentais quanto econômicas: “Internacionalização do

Artesanato Brasileiro: Estudo de Caso do Ateliê Oficina de Agosto”, “Estudo do

Processo de Internacionalização e o Impacto de Políticas Públicas Sobre Duas

Empresas Privatizadas Brasileiras” e “Seria a Aracruz Celulose uma Born

Global?”. Tais estudos permitem ao leitor melhor compor o cenário brasileiro

das empresas brasileiras internacionalizadas e as particularidades que essas

agregam aos modelos explanatórios propostos por teóricos que examinam o

fenômeno da internacionalização de empresas no contexto de outras

realidades econômicas e sociais.

Renato Cotta de Mello

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 7

ENTENDENDO O PARADIGMA ECLÉTICO DE DUNNING

Fernanda Borelli

RESUMO

Apesar de apresentado integralmente

apenas em 1976, o paradigma eclético

de Dunning tem sua origem em um

estudo do autor sobre o investimento

direto norte-americano na indústria

manufatureira britânica, feito na década

de 1950. Desenvolvido a partir de dois

princípios de análise econômica – a

teoria neoclássica de dotação de

recursos e a teoria de imperfeições de

mercado – o paradigma eclético é

proposto como um framework para

explicar a extensão e os padrões de

produção internacional de empresas

multinacionais (MNEs), os quais seriam

determinados pela configuração de três

grupos de vantagens: as vantagens de

propriedade (ownership), de interna-

lização e de localização. O presente

artigo é proposto como um primeiro

contato com o paradigma eclético de

Dunning, discutindo suas origens,

proposições, críticas e desenvolvimentos

posteriores, mas sem a pretensão de ser

exaustivo.

Palavras-chave: paradigma eclético,

investimento direto no exterior, empresas

multinacionais, produção internacional

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 8

Meu primeiro contato com o paradigma eclético foi através de Ietto-

Gillies (2005). Grande parte de seu capítulo sobre o assunto é dedicada a

críticas ao framework proposto por Dunning. Tais críticas suscitaram uma

necessidade pessoal de buscar o trabalho do próprio Dunning para entender

melhor o assunto. Assim, o objetivo deste artigo é oferecer um contato inicial

com o paradigma eclético, passando por suas origens, proposições, críticas e

extensões, mas sem a pretensão de ser exaustivo.

1. ORIGENS

O paradigma eclético foi apresentado inicialmente por Dunning em

19761. Porém, sua origem remonta a meados de 1950, no trabalho seminal em

que o autor investigou o investimento direto norte-americano na indústria

manufatureira britânica.

Estudos anteriores indicavam que a produtividade do trabalho na

indústria manufatureira americana era substancialmente maior que na

indústria manufatureira britânica. Com base nisso, Dunning investigou se a

melhor performance da indústria americana devia-se a uma superioridade

gerencial. Assim, pesquisou subsidiárias americanas no Reino Unido,

comparando suas performances com a de suas matrizes nos Estados Unidos e

de seus competidores domésticos. Sua hipótese era de que, se a performance

das subsidiárias fosse semelhante à de suas matrizes e superior a de

competidores locais, isto seria identificado como um efeito específico de

propriedade, pois as diferenças de produtividade estariam fundamentadas

em ativos intangíveis espacialmente transferíveis da empresa matriz. Caso

contrário, isto seria ocasionado por características não transferíveis da

economia americana – o que ele chamou de componente específico de

localização.

O resultado deste trabalho identificou que as subsidiárias americanas

não eram tão produtivas quanto as suas matrizes, mas apresentavam

produtividade mais elevada que os competidores domésticos, sugerindo que

as diferenças de produtividade eram explicadas parte por características

específicas de localização (L), parte por características de propriedade (O).

Surgiam, então, as vantagens de localização e de propriedade.

1 Artigo apresentado no Simpósio Nobel sobre Localização Internacional da Atividade

Econômica (International Location of Economic Activity).

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 9

Em seu artigo de 1976, que buscava explicar a extensão e o padrão das

atividades das firmas no exterior, Dunning incluiu um terceiro grupo de forças

àquelas já identificadas. Influenciado pelos trabalhos de McManus, Buckley e

Casson e Lundgren, o autor atentou para o fato de que, para explicar a

atividade das firmas fora de suas fronteiras nacionais, era importante entender

por que estas optam por criar ou explorar suas vantagens específicas de

propriedade internamente, ao invés de adquiri-las ou vendê-las através do

mercado aberto. Em outras palavras, investigar porque a firma escolhe o uso

da própria hierarquia ao invés do mercado. O autor chamou isto de

vantagens de internalização (I), que junto às vantagens de propriedade (O) e

localização (L) constituíram a base do paradigma eclético (Dunning, 2001).

Dessa forma, o paradigma eclético faz uso de dois princípios de análise

econômica. O primeiro, caracterizado em seu trabalho seminal, é a teoria

neoclássica de dotação de recursos, expandida para englobar produtos

intermediários (como trabalho, tecnologia, capacidade gerencial) e

reconhecer a mobilidade de algumas dotações entre fronteiras nacionais. O

segundo princípio é a teoria de imperfeições do mercado, que ajuda a

explicar, além da localização de certas formas de atividade econômica

através de fronteiras nacionais, a divisão desta atividade entre firmas

multinacionais e uninacionais, pois maiores custos de transação na captação

de recursos no mercado e maior eficiência da multinacional na coordenação

de atividades geograficamente dispersas tendem a favorecer a produção

internacional (Dunning, 1988).

2. O QUE É O PARADIGMA ECLÉTICO E A QUE SE PROPÕE

A proposta do paradigma eclético é oferecer um framework para

explicar a extensão e os padrões de produção internacional de empresas

multinacionais (MNEs) (Dunning, 2001). O paradigma foi denominado

“eclético” pelo autor por conta de sua crença de que uma explicação

completa das atividades transnacionais das empresas deve estar suportada

por diversos princípios da teoria econômica, conforme vimos acima, e de que

o investimento direto no exterior (FDI) é somente um dos canais de

envolvimento econômico internacional possível (Dunning, 1988).

O paradigma afirma que, em qualquer dado momento do tempo, a

configuração de três grupos de vantagens irá determinar a extensão e o

padrão da produção internacional:

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 10

(1) Vantagens de propriedade são aquelas que firmas de uma

nacionalidade possuem sobre as de outra nacionalidade no suprimento de um

mercado específico. Estas vantagens podem resultar da propriedade tanto de

acesso privilegiados a certo grupo de ativos que não estejam disponíveis para

concorrentes locais, quanto de habilidade de coordenar tais ativos com outros

ativos através de fronteiras nacionais, beneficiando-se em relação a seus

competidores. Além disso, podem originar-se tanto do desenvolvimento

interno quanto da aquisição de outras firmas.

(2) Vantagens de internalização são aquelas pelas quais as firmas

percebem ser mais conveniente internalizar os mercados para a geração ou

uso dos ativos, ao invés de contratar agentes econômicos em mercados

externos. Estas vantagens são resultado principalmente de imperfeições de

mercado.

(3) As vantagens de localização estão relacionadas com a escolha

das firmas em localizar atividades criadoras de valor em determinado

mercado.

A importância de cada uma destas vantagens e a configuração delas

podem e devem variar entre indústrias (ou tipos de atividades), regiões e

países e entre firmas. Como exemplifica bem Dunning (2001), é provável que

existam diferenças específicas de país nas vantagens de propriedade de

firmas coreanas comparadas a firmas canadenses; assim como a extensão

com que as imperfeições de mercado influenciam a internalização do

mercado de tecnologia é provavelmente diferente na indústria de madeira e

celulose e na indústria de semicondutores; enquanto, ainda, as vantagens de

localização comparativas entre Tailândia e Taiwan como uma base para a

manufatura de veículos podem ser vistas de formas diferentes pela Toyota e

pela Honda.

3. CRÍTICAS EM DEBATE

Nesta sessão são apresentadas as principais críticas ao paradigma

eclético, bem como as respostas aos críticos.

3.1 A quantidade de variáveis explicativas é tão grande que faz com que o

valor preditivo do paradigma seja quase zero.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 11

Por ter caráter genérico, o próprio autor assume o limitado poder do

paradigma eclético em explicar ou prever tipos particulares de produção

internacional ou o comportamento de empresas específicas (Dunning, 1988),

parecendo, assim, ser mais adequado para analisar os determinantes da

produção internacional do que para ser utilizado como uma teoria preditiva

da atuação de multinacionais (Dunning, 2001). Segundo o autor, a dificuldade

em englobar satisfatoriamente todos os tipos de atividades e modos de

atuação no exterior está no fato de motivações e expectativas relacionadas a

esta atuação poderem variar muito.

Em sua defesa, trazemos duas principais linhas seguidas pelo autor.

Primeiramente, este levanta a questão de que cada uma das variáveis OLI

identificadas pelo paradigma fundamenta-se em teoria econômica ou

organizacional. Um exemplo está nas variáveis relacionadas à vantagem de

internalização, baseadas em teorias da firma (e do crescimento da firma) de

Coase, Williamson e Penrose. Tal como estas teorias, o paradigma eclético

também argumenta que quanto maior os custos de inovação, produção e

transação na utilização de mercados externos, maior serão os incentivos para

as firmas envolverem-se em investimento direto no exterior.

A segunda linha relaciona-se ao propósito em si do paradigma.

Segundo o autor, não é o objetivo final oferecer uma explicação completa

para todos os tipos de produção internacional, mas apontar uma metodologia

de análise e um grupo genérico de variáveis que contenham os componentes

necessários para uma explicação satisfatória de tipos particulares de atividade

de valor adicionado no exterior.

Adicionalmente, Brouthers, Brouthers e Werner (1999) trazem outras

perspectivas para esta discussão. Em uma pesquisa com empresas alemãs e

holandesas que mantinham investimentos diretos em países da Europa Central

e Oriental, os autores mostram evidências que suportam a utilização do

paradigma eclético tanto como ferramenta preditiva da escolha de forma de

padrão (modo) de entrada da firma em determinado país, quanto como

framework normativo.

3.2 É enganoso sugerir que os três grupos de variáveis que formam o

paradigma eclético são independentes uns dos outros.

Segundo Dunning, também há algum sentido nesta argumentação,

mas há uma razão para separar os motivos para a atividade multinacional

atribuídos a recursos e capacidades possuídos ou acessados por

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 12

determinadas firmas (e que formam suas vantagens de propriedade) daqueles

motivos associados a recursos e mercados relacionados à localização dos

países nos quais operam. O autor exemplifica: as implicações de um declínio

no FDI resultante de uma redução na atratividade das políticas de

determinado país (variável de localização) são bem diferentes daquelas que

refletem o fortalecimento da posição competitiva de firmas nacionais em

detrimento de firmas estrangeiras (variável de propriedade).

Um ponto importante é que Dunning ressalta compreender que as

variáveis OLI determinando a produção internacional das firmas e países estão

interligadas umas às outras – afetam-se mutuamente ao longo do tempo, o

que não quer dizer que não devam ser examinadas separadamente.

3.3 O paradigma não permite diferenças suficientes na reação estratégica das

firmas a uma determinada configuração de variáveis OLI. O paradigma

repousa em termos estáticos e oferece pouca direção para a dinâmica do

processo de internacionalização das firmas (ou de países).

O argumento de Dunning é de que a trajetória da multinacional em

direção à internacionalização é formada por diferentes pontos que

representam a extensão e a forma de atividade multinacional em

determinado momento. Esta trajetória é construída, em momentos

subsequentes, através de uma interação contínua entre a configuração OLI e

a estratégia da firma em resposta a esta configuração. A estratégia da firma,

por sua vez, irá influenciar a configuração OLI no momento subsequente.

O autor considera que esta interação e influência mútua também

ocorrem com outras variáveis endógenas à firma (como inovação

tecnológica ou organizacional, mudança no corpo de gerentes seniores,

incrementos da produtividade do trabalho, fusões e aquisições etc.) e

variáveis exógenas (como mudanças no preço de matéria-prima, nas taxas de

câmbio, políticas governamentais etc.).

Além disso, assume que a forma como a interação entre estas variáveis

afetará a produção internacional e a estratégia da firma é bastante difícil de

prever. Porém, argumenta que a estratégia seguida pela firma em resposta a

uma dada configuração OLI no tempo t0 é determinada pelo seu desejo de

proteger ou influenciar a configuração OLI em t1.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 13

3.4 Crítica de Kojima2 ao Paradigma Eclético (1988): uso muito limitado para a

formulação de políticas por países

Dunning (1988) rebate esta crítica redirecionando-a para a própria

teoria de FDI de Kojima, que se deriva da teoria de comércio neoclássica,

porém, englobando transações de produtos intermediários (tecnologia,

capacidades gerenciais etc.) entre fronteiras. Por esta herança neoclássica,

Kojima está preso ao paradigma neoclássico da concorrência perfeita, o que

nega a possibilidade de imperfeição de mercado. Assim, de acordo com sua

teoria, a empresa multinacional (MNE) nunca será o agente mais eficiente

para transferir recursos através de fronteiras nacionais. O mercado sempre será

mais eficiente. Por não levar em conta a principal característica da MNE – a

internalização de mercados de produtos intermediários –, sua teoria não

parece de grande valor para governos na formulação de políticas relativas a

atuação de MNEs.

4. EXTENSÕES DO PARADIGMA ECLÉTICO

Ao longo dos anos, Dunning apresentou diversas possibilidades de

extensão para o paradigma eclético. Estas possibilidades passaram pela

dinamização do framework através da inclusão de variáveis endógenas e

exógenas citadas na terceira sessão de críticas; pela sua utilização na análise

de desinvestimento ou tomada de decisão pela MNE (Dunning, 1988), na

explicação padrões de comércio3, no entendimento dos determinantes do

portfolio de investimento no exterior4; pela sua aplicação para entender a

trajetória de desenvolvimento do país; pela inclusão de fusões, aquisições e

alianças cooperativas, e-commerce e ativos relacionais5.

Porém, aqui, iremos nos ater apenas às extensões relativas à trajetória

de desenvolvimento e às estratégias de acesso a ativos não existentes (fusões,

aquisições e alianças cooperativas).

2 Em Direct foreing investment (Londres, 1978) e Macroeconomic versus international business

approach to foreign direct investment (Hitosubashi Journal of Economics, 1982). 3 What‟s wrong and right with trade theory (Dunning, 1995). 4 Towards a General Paradigm of Foreign Direct and Foreign Portfolio Investment (Dunning e

ilyard,1999). 5 Conforme colocado por Dunning (2001), tais ativos relacionam-se à disposição e à

capacidade da firma para conduzir relações benéficas, tanto para outras pessoas dentro da

firma quanto entre estas e pessoas em outras instituições.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 14

4.1 A trajetória de desenvolvimento do investimento (IDP – Investment

development path)

Dunning utiliza o paradigma eclético para explicar as alterações da

posição competitiva internacional de países conforme estes atravessavam

diferentes estágios de desenvolvimento. Um exemplo disso está presente no

estudo de caso de Dunning, Kim e Lin (2001) sobre Coreia e Taiwan.

O IDP sugere que, conforme um país se desenvolve, tanto a

configuração das vantagens OLI que afeta as firmas estrangeiras que

investiriam naquele país quanto a que afeta as firmas nacionais que investiriam

no exterior sofrem mudanças. Através do paradigma eclético, seria possível

identificar as condições para esta mudança e seus efeitos na trajetória de

desenvolvimento do país.

O autor identifica, assim, os estágios de desenvolvimento que um país

pode atravessar. No estágio I, de pré-industrialização, os países engajam-se

basicamente em importações e exportações em setores de baixa e média

intensidade de ativos. Não há entrada ou saída de investimento direto devido

à insuficiente atratividade de localização e à pouca ou nenhuma vantagem

de propriedade das firmas nacionais. Conforme o país começa a se

industrializar, a qualidade de seus recursos e capacidades intransferíveis –

incluindo suas capacidades institucionais e infraestrutura social – aumenta,

assim como o poder de compra doméstico.

No estágio II, através de políticas governamentais e/ou da organização

da atividade e da estratégia das firmas, a configuração OLI pode se alterar e,

assim, os países começam a atrair entradas de investimento direto,

principalmente em setores baseados em recursos, setores tradicionais e

intensivos em trabalho, e de infraestrutura. Porém, as saídas ainda são mínimas.

Estes investimentos, somados a uma política favorável à entrada de

investimentos, irão fomentar sua atratividade de localização, aumentando o

FDI, alterando oferta e demanda de bens.

No estágio III, a configuração OLI continua a se alterar e as firmas

domésticas começam a criar suas próprias vantagens de propriedade,

explorando-as inicialmente através de exportações. Então, conforme o

mercado externo se expande e/ou o custo da produção doméstica aumenta,

elas partem para o investimento direto no exterior. Neste estágio, para

tornarem-se global players, as firmas de países industrializados começam a

buscar tecnologia, habilidades gerenciais e expertise organizacional no

exterior através de fusões e aquisições ou alianças estratégicas.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 15

O último estágio ocorre quando há um balanço flutuante entre

entradas e saídas de investimento direto. Isto surge quando há um certo grau

de convergência entre o nível de desenvolvimento e a estrutura econômica

dos países, e também quando firmas engajam-se em FDI não apenas para

explorar suas vantagens de propriedade em localidades estrangeiras como

também para aumentar estas vantagens através da aquisição de ativos

complementares ou novos mercados.

4.2 Busca de vantagem competitiva através de fusões e aquisições e alianças

estratégicas

Desde meados da década de 1980 até recente trabalho em 2001,

Dunning (1988, 1995, 2001) busca incorporar os fenômenos de fusões,

aquisições e alianças estratégicas no paradigma eclético.

O autor nota que, nas últimas décadas, tanto o investimento direto no

exterior quanto o crescimento das alianças estratégicas interfirmas com o

objetivo de aumentar as vantagens de propriedade existentes têm se tornado

uma forma cada vez mais importante de atividade econômica. Isto reflete a

percepção por parte das firmas da necessidade de capturar as sinergias

tecnológicas e de marketing oferecidas por firmas de outros países e obter

acesso aos ativos criados por elas.

Aqui, Dunning parece readequar seu framework às mudanças ocorridas

num ambiente onde avanços tecnológicos, intensificação da competição

entre firmas, abertura de novos mercados e crescimento da mobilidade de

certos ativos específicos de firmas trazem novos motivos para produção no

exterior. Não apenas como forma de explorar as vantagens de propriedade

existentes nas firmas objeto do investimento, mas também como uma forma

de aumentar tais vantagens.

Isso quer dizer que as vantagens de propriedade das MNEs passam a

depender não apenas daquelas geradas internamente, mas também de sua

competência para buscar, controlar e influenciar a inovação, preço e

qualidade dos ativos de outras instituições com as quais elas tenham um

relacionamento cooperativo contínuo.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 16

5. CONCLUSÕES

Este artigo buscou trazer uma visão geral do paradigma eclético,

demonstrando, através de suas extensões, uma flexibilidade para adequar-se

a mudanças no ambiente. Apesar de suas origens remontarem a mais de meio

século, ele ainda parece um framework importante e atual de análise dos

padrões e trajetórias de produção internacional.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BROUTHERS, L. E.; BROUTHERS, K. D.; WERNER, S. Is Dunning‟s eclectic framework

descriptive or normative? Journal of International Business Studies, v. 30, n. 4, p.

831-844, 1999.

DUNNING, J. H. The eclectic paradigm of internacional production: a

restatement and some possible extensions. Journal of International Business

Studies, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring 1988.

________. Reappraising the eclectic paradigm in an age of alliance capitalism.

Journal of International Business Studies, v. 26, n. 3, p. 461-493, 1995.

________. The eclectic (OLI) paradigm of internacional production: past, present

and future. International Journal of the Economics of Business, v. 8, n. 2, p. 173-

190, 2001.

________; Kim, C.; Lin, J. Incorporating trade into the investment development

path: a case study of Korea and Taiwan. Oxford Development Studies, v. 29, n.

2, p. 145-154, 2001.

IETTO-GILLIES, G. Transnational corporations and international production.

Cheltenham, Edward Elgar, 2005. chapter 9 – Internalization and the

transnational corporation.

ROCHA, A.; ALMEIDA, V. Estratégias de entrada e de operação em mercados

internacionais. In: Tanure, B.; Duarte, R. G. (org) Gestão internacional. Rio de

Janeiro: Saraiva, 2006, p. 7-37.

ABSTRACT

Although only fully presented in 1976, the

eclectic paradigm of Dunning has its

origin in a study by the author on US direct

investment in British manufacturing

industry, made in the 1950s. Developed

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 7-17 2010 17

from two principles of economic analysis -

the neoclassical theory of resource

allocation and the theory of market

imperfections - the eclectic paradigm is

proposed as a framework for analyzing

the extent and patterns of international

production of multinational enterprises

(MNEs), which are determined by three

groups of advantages: the ownership, the

internalization and the locational

advantages. This article is proposed as a

first glance at Dunning‟s eclectic

paradigm, discussing its origins,

propositions, reviews and subsequent

developments, although without the

pretension of being exhaustive.

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Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 19-29 2010 19

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AS DIFICULDADES DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

Luciana Velloso

RESUMO

Este trabalho busca realizar uma breve

revisão de literatura acerca das

particularidades do processo de

internacionalização de pequenas e

médias empresas. Em especial, são

discutidas as possíveis implicações do

tamanho da firma sobre o

comportamento desta em mercados

externos. Embora comumente sejam

apontadas dificuldades advindas do

tamanho da empresa, diversos estudiosos

chegaram a constatações contrárias,

evidenciando a falta de consenso sobre

o assunto.

Palavras-chave: internacionalização,

pequenas e médias empresas

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 19-29 2010 20

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O presente trabalho propõe-se a realizar uma breve revisão da literatura

acerca da internacionalização de pequenas e médias empresas (PMEs),

discutindo as principais dificuldades envolvidas nesse processo apontadas

pelos autores consultados.

As PMEs cada vez mais participam ativamente do mercado

internacional de bens e serviços (COVIELLO; MCAULEY, 1999; MANOLOVA et

al., 2002; GEMSER; BRAND; SORGE, 2004; LI; LI; DALGIC, 2004). Como explicam

Etemad e Wright (1999), Gemser, Brand e Sorge (2004) e Kalantaridis (2004), o

fenômeno da globalização, configurado pela queda de proteções

governamentais e pelos avanços tecnológicos em áreas como transportes,

telecomunicações e processos produtivos, pressiona as PMEs a tornarem-se

internacionalmente competitivas para sobreviver no longo prazo. Afinal,

mesmo se voltadas à atuação local, estão sujeitas à competição estrangeira.

Por outro lado, o mercado externo também se tornou mais acessível,

permitindo que as PMEs explorem mais facilmente oportunidades além das

fronteiras nacionais. Por conseguinte, Bonaccorsi (1992), Fillis (2001) e Manolova

et al. (2002) ressaltam que não se pode mais tomar as PMEs como meras

participantes marginais do comércio internacional.

Por isso, do ponto de vista de alguns pesquisadores, como Coviello e

McAuley (1999), Fillis (2001), Manolova et al. (2002) e Kalantaridis (2004), o

movimento de internacionalização de PMEs, embora consistentemente seja

mais recente do que o de grandes empresas, não é menos relevante. Pelo

contrário, as peculiaridades de seu comportamento, muitas vezes distinto dos

padrões das grandes empresas, têm atraído crescente interesse de estudiosos

das mais diversas áreas, tais como Negócios Internacionais,

Empreendedorismo, Economia e Marketing, que antes voltavam sua atenção

primordialmente para as grandes empresas. Coviello e McAuley (1999) ainda

destacam que, desde o início da década de 1990, as pesquisas têm deixado

de abordar somente o comportamento exportador das PMEs para incluírem

atuações de maior envolvimento com o mercado externo. Todavia, revisando

a literatura acerca do processo de internacionalização de PMEs, os autores

concluem que ainda inexiste consolidação sobre o assunto, havendo opiniões

bastante divergentes, sobretudo, em relação aos efeitos do tamanho das

firmas sobre seu comportamento e performance.

Coviello e McAuley (1999), Etemad e Wright (1999) e Fillis (2001)

assinalam que uma linha teórica defende que um menor tamanho, apesar de

não necessariamente impedir a atuação internacional, pode impingir às PMEs

sérias dificuldades que as grandes empresas não enfrentam ou enfrentam em

menor proporção. O argumento subjacente a essa lógica é que as PMEs se

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diferenciam das grandes empresas em termos de estilo, estrutura, processos e

recursos gerenciais, independência, propriedade, escala das operações,

capital, experiência em operações internacionais, fontes de informação,

capital humano, entre outros, o que acarreta diferentes processos de

internacionalização. Como bem expressam Shuman e Seeger (1986, p. 8 apud

COVIELLO; MCAULEY, 1999, p. 228, tradução nossa), “negócios menores não

são versões menores dos grandes negócios”. Consequentemente, as PMEs

apresentam desvantagens na competitividade e continuidade das suas

atividades internacionais inerentes ao seu tamanho (BONACCORSI, 1992).

Entretanto, outra corrente questiona o pressuposto de que o tamanho da firma

influencia seu processo de internacionalização, defendendo que as

dificuldades apontadas como advindas do tamanho das PMEs inexistem ou

podem ser superadas (BONACCORSI, 1992; COVIELLO; MCAULEY, 1999). Por

isso, a seguir são discutidos alguns dos principais pontos de discordância

encontrados na literatura.

Tamanho e início das exportações

Bonaccorsi (1992) afirma que há um certo consenso na literatura acerca

de a propensão a iniciar atividades de exportação estar diretamente

relacionada ao tamanho da firma. Seu estudo sobre o comportamento

internacional de firmas italianas também corrobora essa proposição, ao

averiguar que existe uma maior proporção de exportadores entre as médias e

grandes empresas do que entre as pequenas. O argumento subjacente a essa

visão é que atender o mercado doméstico é suficiente para as PMEs, que só se

lançam às exportações se o mercado local se retrai, mas as grandes empresas

precisam exportar, se quiserem continuar crescendo.

Contudo, o próprio Bonaccorsi (1992) comenta que nem sempre essa

suposição é válida, uma vez que o mercado local pode não oferecer

oportunidades de crescimento satisfatórias para as PMEs. Segundo o autor, é

este o caso de algumas firmas de alta-tecnologia e de empresas que atuam

em nichos restritos em cada mercado nacional, mas com ampla demanda

global, para as quais a exportação se torna condição necessária para

continuar crescendo. Por conseguinte, nesses segmentos a proporção de

exportadores pode ser consideravelmente alta mesmo entre as menores

empresas.

Vale ainda mencionar que, de acordo com Ellis e Pecotich (2001),

muitas vezes a literatura aponta o início das exportações das PMEs como

pouco lógico, comparativamente aos movimentos mais ordenados e racionais

de empresas maiores. Porém, os autores chegam à conclusão, pela análise de

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 19-29 2010 22

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múltiplos casos, de que a aparente irracionalidade, na verdade, decorre de as

exportações das PMEs serem tipicamente iniciadas por causa de

relacionamentos pessoais ou profissionais anteriores, que acabam colocando

exportador e importador em contato. Tais relacionamentos podem ser

acionados pelo exportador, pelo importador, por um terceiro que age como

intermediador - tais como agências governamentais - ou como resultado de

uma feira de negócios. Todavia, segundo as análises de Ellis e Pecotich (2001),

os pedidos não solicitados de clientes são a forma predominante de início das

exportações. A maior parte das conexões é possibilitada pelas redes de

relacionamento (networks) de clientes ou de fornecedores já existentes. Os

autores ainda supõem que as PMEs tendem a explorar mais contatos sociais

do que as grandes empresas, que focam nos laços de negócios. Os autores

também perceberam que é comum as PMEs identificarem oportunidades de

negócios através de afiliações profissionais e de contatos de empregos

anteriores ou a partir da internacionalização de um cliente do mercado

doméstico. Na maioria dos casos investigados, a descoberta de uma

oportunidade através dos relacionamentos foi o deflagrador das exportações,

estimulando o surgimento de um motivo para exportar e o desenvolvimento

das capacidades para explorar a oportunidade.

Tamanho e intensidade das exportações

Bonaccorsi (1992) ainda discute que grande parte da literatura defende

a existência de uma influência do tamanho da firma sobre a intensidade de

suas exportações. Ou seja, as grandes empresas tenderiam a apresentar maior

facilidade em aumentar o volume de seus negócios internacionais, enquanto

as empresas menores enfrentariam sérias desvantagens nos mercados

externos. A ideia subjacente a essa proposição é que as grandes empresas,

por seu tamanho, desfrutam de vantagens para engajarem-se nas

exportações em termos de recursos, escala e atitude frente ao risco. Esses três

argumentos são apresentados em maior detalhe mais adiante, assim como

seus respectivos contra-argumentos.

Em contraste, Bonaccorsi (1992) também revela que certos resultados

empíricos colocam a relação entre tamanho da firma e intensidade das

exportações em dúvida. As próprias análises do autor sobre o comportamento

internacional de empresas italianas expõem que não há evidências

conclusivas de uma relação positiva entre as duas variáveis. Pelo contrário, na

indústria manufatureira italiana como um todo, empresas muito pequenas

apresentam uma intensidade de exportações acima da média. Por isso, o

autor supõe que apenas em alguns setores a intensidade das exportações

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 19-29 2010 23

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deve ser afetada pelo tamanho da empresa. Dentre as explicações para esse

efeito mediador do setor, podem ser citados: a restrita demanda doméstica

em alguns setores gerar a necessidade de exportar, conforme anteriormente

discutido; a escala mínima necessária para operar variar de um setor para

outro, podendo em alguns casos superar a capacidade de absorção do

mercado doméstico; e fatores ambientais, como custos de transporte, políticas

governamentais e barreiras comerciais, inibirem as exportações em um setor,

mas não em outro.

Além disso, Bonaccorsi (1992) ainda levanta a questão de que, na

verdade, a relação de causalidade entre essas duas características pode ser

inversa. Ao invés de o tamanho da firma determinar a intensidade de

exportações possível, a intensidade de exportações praticada pode oferecer

oportunidades ao crescimento das empresas.

Tamanho e recursos disponíveis

De acordo com Bonaccorsi (1992) e Coviello e McAuley (1999), é

comum na literatura de internacionalização de PMEs considerar-se que o

tamanho da firma reflete os recursos – financeiros, gerenciais, de tempo, de

fontes de informação e de experiência – de que ela dispõe. O raciocínio é

que, dado o seu menor tamanho, as PMEs têm seu crescimento no mercado

externo dificultado pela sua restrita disponibilidade de recursos, o que é menos

provável de acontecer com as grandes empresas. As consequências dessa

escassez de recursos são assinaladas por diversos pesquisadores. Por exemplo,

Li, Li e Dalgic (2004) e Kalantaridis (2004) comentam que a restrição de

recursos, sobretudo, em termos de capital, de tempo e de qualificação

gerencial, pode comprometer a aquisição de dados sobre os mercados

estrangeiros e a elaboração de um planejamento sistemático para a atuação

internacional, como fazem as grandes empresas. Kalantaridis (2004) ainda

ressalta que a quantidade de recursos disponíveis pode atrapalhar tanto a

exploração de oportunidades no exterior quanto à própria capacidade de

identificar oportunidades. Gemser, Brand e Sorge (2004), por sua vez, chegam

à conclusão de que a disponibilidade de recursos afeta o modo de entrada

escolhido pelas pequenas empresas, assim como o número de países em que

estas conseguem atuar simultaneamente. Como adverte Manolova et al.

(2002), as escolhas de investimentos em países estrangeiros devem ser

cuidadosas para não dispersar demais os recursos da firma.

Todavia, Bonaccorsi (1992) defende que não existe uma relação direta

entre disponibilidade de recursos e comportamento internacional das PMEs.

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Para o autor, essa relação é mediada pela estratégia que a firma traça, uma

vez que desta dependem a quantidade e a qualidade de recursos

necessários para competir no mercado externo. Dessa forma, não

necessariamente os processos de internacionalização das PMEs são

comprometidos pela escassez de recursos.

Bonaccorsi (1992) ainda aponta que uma possível forma de contornar a

falta de recursos é terceirizar, pelo menos, algumas das atividades

internacionais da empresa. É claro que tal decisão de delegar, em vez de

verticalizar todas as operações, traz implicações de controle que devem ser

levadas em consideração. Porém, sempre há a possibilidade de não

internalizar todas as tarefas necessárias à atuação no exterior.

Adicionalmente, Bonaccorsi (1992) e Coviello e McAuley (1999) expõem

que os defensores de que a limitação de recursos das PMEs restringe sua

atuação internacional só levam em consideração os recursos internos à firma.

No entanto, os autores argumentam que também devem ser considerados os

recursos externos a ela passíveis de serem acessados. Por exemplo,

relacionamentos estabelecidos com outras empresas ou instituições podem

ampliar significativamente a quantidade e/ou a qualidade dos recursos de

que as PMEs podem fazer uso, moderando a necessidade de recursos internos.

Inclusive Gemser, Brand e Sorge (2004) perceberam que a maior parte das

PMEs holandesas que pesquisaram, independentemente da indústria em que

se inserem, prefere internacionalizar-se por meio de uma estratégia de

cooperação com outras empresas, estejam estas acima, abaixo ou no mesmo

nível da cadeia de valor, em vez de optar por uma estratégia autônoma. Isso

porque a cooperação lhes permite explorar forças complementares de atores

externos para superar suas limitações de recursos internos. Assim, para dar

conta de todos os recursos disponíveis a uma firma é preciso considerar toda a

network em que ela se insere.

Tamanho e economias de escala possíveis

Bonaccorsi (1992) e Coviello e McAuley (1999) observam que uma

corrente de autores afirma que as PMEs enfrentam a desvantagem, inerente

ao seu tamanho, de terem dificuldades em explorar economias de escala,

tanto na produção quanto na gerência das operações internacionais de

marketing e de vendas. As grandes empresas, por sua vez, têm suas atividades

internacionais facilitadas por não precisarem lidar com tamanhas barreiras a

economias de escala. Por exemplo, alcançam uma produção suficiente para

atender o mercado doméstico e exportar. Na verdade, conforme já discutido,

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 19-29 2010 25

91

elas precisam exportar para continuar crescendo. Já as PMEs só teriam

condições de exportar menores volumes. No caso da gerência das operações

de marketing e de vendas no exterior, supõe-se que as grandes empresas

conseguem impacto suficiente nessas atividades, enquanto as PMEs não

dispõem de escala para atingir a visibilidade necessária.

No entanto, Bonaccorsi (1992) critica essa linha de argumentação por

duas razões. Em primeiro lugar, o autor defende que o tamanho só impinge

barreiras a economias de escala na produção em certas conjunturas setoriais

e de demanda doméstica. Dentro de uma indústria, as PMEs só ficam em

desvantagem em relação às grandes empresas se o mercado doméstico for

pequeno, mas, se ele for grande, mesmo as maiores empresas podem ter

dificuldade em obter economias de escala. Já comparando os setores, deve-

se levar em consideração as diferenças em potencial de exportação.

Segundo o estudo do autor acerca do comportamento das PMEs italianas, nas

indústrias com maior potencial de exportação o efeito de economias de

escala na produção foi tido como insignificante. Em segundo lugar, Bonaccorsi

(1992) defende que a falta de escala suficiente em termos de marketing e

vendas não constitui uma barreira de entrada importante em mercados

estrangeiros. Isso porque sua análise do caso italiano demonstrou que as PMEs

facilmente se engajam em atividades de exportação, se desejarem. Na

verdade, o autor ressalta que outros pesquisadores identificaram que a maior

motivação para empresas não exportadoras permanecerem não

exportadoras é o fato de o mercado doméstico absorver toda a sua

produção. Por outro lado, outras empresas, como as de alta tecnologia e as

que atuam em nichos, como anteriormente discutido, podem acabar

privilegiando mercados estrangeiros ao nacional por ser uma forma mais viável

e fácil de crescimento. Podem ainda acabar movimentando um volume de

exportações maior do que empresas que atuam em mais regiões do mercado

doméstico.

Tamanho e risco

A percepção de risco pelo tomador de decisão e sua atitude frente ao

risco identificado comumente aparecem na literatura como possíveis

explicações para o comportamento internacional das empresas. De acordo

com Bonaccorsi (1992) e Manolova et al. (2002), muitas pesquisas chegaram à

conclusão de que empresas exportadoras percebem menos risco nas

exportações e são mais propensas a assumir riscos. Nessa perspectiva, a

pesquisa realizada por Manolova et al. (2002) encontrou uma relação positiva

e significante entre a percepção de risco do tomador de decisão e o processo

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91

de internacionalização de pequenas empresas. Ou seja, gestores com

percepções mais positivas do risco ambiental têm maior probabilidade de

internacionalizar seus negócios. Porém, Bonaccorsi (1992) coloca que uma

série de estudos supõe que, comparativamente às grandes empresas, os

tomadores de decisão das PMEs percebem mais risco nas atividades

internacionais. Isso porque as PMEs dispõem de menos informações de

mercado em decorrência do seu menor tamanho. Segundo Kalantaridis

(2004), a falta de poder de barganha junto a clientes e órgãos reguladores dos

países estrangeiros também aumenta a percepção de risco, principalmente se

comparada com a percepção ambiental das multinacionais. Bonaccorsi

(1992) ainda acrescenta que alguns pesquisadores defendem que os

tomadores de decisão das PMEs são mais avessos ao risco, uma vez que os

investimentos realizados por PMEs no exterior tendem a comprometer uma

maior proporção do seu patrimônio total e uma vez que as PMEs, em geral,

não dispõem de um portfólio diversificado de negócios. Por todas essas razões,

é razoável imaginar que os gestores das PMEs ficam mais receosos em investir

em mercados externos do que os das grandes empresas, dificultando o

processo de internacionalização das PMEs.

Contudo, uma diferente corrente da literatura argumenta que outros

fatores podem reduzir o risco percebido nas atividades internacionais e

minimizar a aversão ao risco dos tomadores de decisão das PMEs. Por

exemplo, Bonaccorsi (1992), Etemad e Wright (1999), Ellis e Pecotich (2001) e

Gemser, Brand e Sorge (2004) apontam que o pertencimento a uma network é

um desses fatores. Afinal, conforme explicam Bonaccorsi (1992) e Gemser,

Brand e Sorge (2004), os relacionamentos de uma firma a permitem aprender

com as experiências internacionais de outras empresas. Tal aprendizado pode

se dar de duas formas distintas. A primeira consiste na troca interpessoal direta

de informações sobre oportunidades em mercados estrangeiros, tendências

de consumo, barreiras à exportação etc. com outras empresas competidoras,

compradoras ou fornecedoras ou até mesmo com instituições, tais como

universidades. A segunda forma de aprendizado possível, observada por

Bonaccorsi (1992) em seus estudos sobre os distritos industriais italianos, consiste

em imitar o comportamento internacional bem-sucedido de competidores

similares. Desses dois modos, as PMEs conseguem superar o risco dos

investimentos no exterior e moldam suas expectativas e aspirações acerca das

atividades internacionais (BONACCORSI, 1992).

Adicionalmente, Bonaccorsi (1992) notou que as PMEs frequentemente

conseguem mitigar sua percepção de risco e sua aversão a ele por meio de

mecanismos que lhes assegurem abandonar a incursão internacional com

menores prejuízos caso esta não saia conforme o esperado. Por exemplo, essa

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 19-29 2010 27

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flexibilidade pode ser obtida por meio de modos de entrada com custos fixos

mínimos ou com a não implementação de políticas de marca. Por

conseguinte, o autor constatou que é comum as PMEs apresentarem dois tipos

de comportamento várias vezes durante sua vida: começar e parar de

exportar; e deixar de exportar para um país e passar a exportar para outro. Na

visão do autor, essa pouca estabilidade das exportações e essa alta

mobilidade dos países de destino dos produtos, em vez de anomalias, são

formas encontradas pelas PMEs para, ao mesmo tempo, explorar rapidamente

oportunidades de negócios e garantir sua saída relativamente fácil de cada

mercado internacional, assim superando o risco envolvido no processo de

internacionalização. Todavia, o autor adverte que há quem condene essa alta

dependência do ambiente externo por ser muito arriscada no longo prazo,

defendendo que a mais eficiente política de promoção à internacionalização

seria estimular a regularidade das exportações.

Tamanho e orientação para as exportações

De acordo com Bonaccorsi (1992), alguns pesquisadores indicam que

existe uma relação entre o tamanho da firma e a sua orientação para as

exportações. Em outras palavras, grandes empresas tenderiam a apresentar

uma percepção ou expectativa dos efeitos da exportação sobre o negócio

mais positiva do que as PMEs, impulsionando seu processo de

internacionalização. Entretanto, o autor afirma que outros resultados empíricos

revelam que tal argumento não é válido.

Tamanho e estratégia internacional

Li, Li e Dalgic (2004) e Kalantaridis (2004) comentam que diversos

estudos afirmam que as pequenas empresas tendem a não desenvolver uma

estratégia para suas operações internacionais, enquanto as grandes empresas

elaboram um planejamento estratégico formal. Haveria, então, uma relação

positiva entre tamanho da firma e o uso de estratégia. Contudo, os resultados

empíricos de Kalantaridis (2004) demonstraram apenas uma fraca relação

entre essas duas varáveis, verificando que muitas pequenas empresas adotam

uma abordagem estratégica. O autor também constatou que existe apenas

uma pequena diferença na quantidade de ações colocadas em prática para

implementar a estratégia entre empresas de diferentes tamanhos. Assim, a

pesquisa de Kalantaridis (2004) concluiu que as pequenas empresas não só

fazem uso de estratégia, como também são apenas marginalmente menos

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ativas em sua execução do que as grandes empresas. Todavia, a pesquisa

identificou uma relação entre tamanho da firma e uso de estratégia quando

varia a complexidade das atividades internacionais. Isso porque as médias e

grandes empresas aumentaram o uso de estratégia quando a complexidade

de suas operações no exterior aumentou, mas não houve diferenças

significativas na incidência do comportamento estratégico entre as pequenas

empresas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se vê, a literatura acerca do processo de internacionalização de

pequenas e médias empresas ainda não está consolidada. Uma série de

questões relativas aos efeitos do tamanho da firma sobre o comportamento

desta em mercados externos permanece não resolvida. Portanto, existem

diversas lacunas de conhecimento que podem ser exploradas por estudos

futuros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MANOLOVA, Tatiana S. et al. Internationalization of small firms: personal factors

revisited. International Small Business Journal, Londres, v. 20, n. 1, p. 9-31, feb.

2002.

ABSTRACT

The present study aims to briefly review

the literature on the particularities of the

internationalization process of small and

medium enterprises. Specifically, it

discusses the possible implications of

size on the behavior of firms in foreign

markets. Though difficulties impinged by

the size of the company are commonly

held, several researchers have come to

opposite evidence, demonstrating the

lack of consensus on the topic.

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INTERNACIONALIZAÇÃO DO ARTESANATO BRASILEIRO.

ESTUDO DE CASO DO ATELIÊ OFICINA DE AGOSTO

Raquel Silveira Scrivano

RESUMO

Ao longo do curso de Teoria da

Internacionalização, discutimos casos de

empresas, brasileiras ou não, que se

internacionalizaram de diversas maneiras

possíveis, de forma que diferentes teorias

foram aplicadas para explicar cada caso. Um

aspecto que sobressaiu nas discussões foi a

ausência de um made in Brazil, uma marca

do país de origem que diferenciasse variados

produtos de empresas brasileiras dos produtos

concorrentes dos demais países. A partir

desta observação, procurou-se neste

trabalho pensar na internacionalização de

um produto que efetivamente carrega em si

uma brasilidade genuína, o artesanato.

Estudou-se a internacionalização da empresa

Oficina de Agosto, ateliê e loja de

artesanato, através da revisão de dois

estudos de caso sobre internacionalização,

da moda praia brasileira (Rubim, 2004) e dos

cachimbos artesanais La Nuvole (Cocciola et

al., 2007). Ambos foram escolhidos por

tratarem, em algum aspecto, de questões

subjacentes à internacionalização da Oficina

de Agosto. O primeiro (estudo sobre moda

praia) ao levantar o efeito da imagem do

país na percepção dos consumidores, e o

segundo por examinar a internacionalização

de uma pequena empresa italiana de

produção artesanal e o impacto que a

internet teve neste sentido. As teorias

comportamentais de internacionalização

foram examinadas para estudar o caso da

Oficina de Agosto, pois são os modelos mais

adequados aos fatos levantados.

Palavras-chave: internacionalização, artesa-

nato, marca Brasil

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1. ANTECEDENTES

Em 1989, o artista plástico Antônio Carlos Bech, mais conhecido como

Toti, abriu com sua irmã, Sônia Bech, a Oficina de Agosto, em Embu (SP),

produzindo e comercializando peças de artesanato criadas por ele. Em 1991,

Toti mudou-se para um vilarejo no interior de Minas Gerais, popularmente

conhecido como Bichinho, onde começou a produzir objetos de decoração

em larga escala, com a ajuda de uma equipe formada por artesãos locais.

Fora os 45 artesãos empregados diretamente, a oficina conta com o trabalho

de mais 50 pessoas, que produzem em suas casas.

A principal matéria-prima das peças produzidas pela Oficina são

materiais recicláveis, como madeira de demolição, retalhos, latas de

conserva, garrafas PET, palha etc. O aspecto fundamental do artesanato

produzido pela Oficina de Agosto são os símbolos brasileiros (frutas, bichos,

galinha d‟angola) e imagens religiosas. O artista Toti considera que seu

trabalho mostra a exuberância tropical. Algumas peças são consideradas for

export, como por exemplo, o “Divino”, e algumas têm um teor “erótico-

nacional-ingênuo”, segundo o próprio artista. Nota-se que o volume de

exportação cresce a cada dia.

O negócio cresceu principalmente com a popularização do artesanato

brasileiro como objeto de decoração dos lares de famílias de classe A. Em

2004 e 2005, a Oficina de Agosto teve um crescimento anual de 20%. Porém,

em 2006 as vendas no mercado doméstico frearam, segundo os donos, devido

ao fato da renda da classe média alta ter caído.

Atualmente o ateliê emprega 50 pessoas e dá trabalho para cerca de

outras cem, exporta para 13 países e tem lojas em Bichinho e São Paulo (2).

Atende também revendedores no Rio de Janeiro, Bahia e estados no sul do

Brasil. A Oficina faz hoje um trabalho direto para hotéis e Resorts,

desenvolvendo produtos de decoração personalizados.

A originalidade do artesanato da Oficina de Agosto, apesar da grande

produção, é dada pelo regime de diversificação dos trabalhos. Para terminar

um único painel vazado de frutas, até 15 artesãos diferentes metem as mãos.

“Por isso as peças são únicas, irreplicáveis”, explica Denis.

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2. SETOR BRASILEIRO DE ARTESANATO

No Brasil existem aproximadamente 8,5 milhões de artesãos (segundo

dados do IBGE em 1998). Em Minas gerais, estima-se que existam, pelo menos,

500 mil pessoas trabalhando neste segmento. Na zona rural a renda do artesão

pode chegar a dois salários mínimos por mês, enquanto que, nos grandes

centros, esse rendimento ultrapassa três salários.

O setor brasileiro de artesanato vem se profissionalizando cada vez mais,

desde meados dos anos 1990. Órgãos do governo contribuem para esta

profissionalização, com ações específicas como o Programa Sebrae de

Artesanato e o prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, criado com o objetivo

de estimular as unidades produtivas a desenvolverem processos de trabalho

com foco no mercado, adequando produtos aos públicos-alvo e contribuindo

para maiores esforços em prol da qualidade. Já a Agência de Promoção de

Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) possui um programa especial de

incentivo à exportação de artesanato.

O volume de exportações cresce a cada ano. Em 2002, o montante de

exportações ficou em US$ 10 mil. Em 2003, alcançou a cifra de US$ 203 mil

dólares. Em 2004, contabilizou aumento novamente gerando US$ 400.000,00.

Em 2005, o montante de exportações alcançou a cifra de US$ 2.121.063,00,

sendo US$ 621.063,00 de produções de Minas Gerais e US$ 1,5 milhão do resto

do Brasil (Fonte: site da APEX Brasil).

3. REVISÃO DE LITERATURA

Tradicionalmente, pequenas empresas restringiam suas atividades à

região onde se localizavam, mantendo-se dentro das fronteiras nacionais de

seu país de origem. Hoje em dia, contudo, muitas pequenas empresas são

players internacionais, internacionalizando suas operações, influenciadas pela

globalização que provê a conectividade de pessoas e mercados e a

interdependência de economias nacionais (Antoncic, et al., 2006).

A literatura sobre o tema privilegia as teorias comportamentais de

internacionalização quando se trata de analisar os movimentos de pequenas

e médias empresas em direção aos mercados internacionais, uma vez que é

observada uma tendência entre as pequenas empresas pesquisadas de se

comprometerem gradualmente com atividades internacionais, em um

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 31-44 2010 34

91

processo sequencial, conforme proposto pela escola de Uppsala (Antoncic et

al., 2006).

Procurou-se apontar na revisão de literatura que se segue os principais

aspectos das teorias comportamentais, conceitos de marca e estudos de caso

que possam ajudar a explicar a trajetória da Oficina de Agosto em direção

aos mercados internacionais.

3.1 Modelo de Internacionalização de Uppsala

A Escola de Uppsala é a denominação dada a um conjunto de teóricos

e pesquisadores que estudaram a internacionalização das empresas,

influenciados pela teoria de comportamento da empresa e pela teoria de

Penrose sobre conhecimento e crescimento das organizações, e propuseram

modelos que explicam o comportamento dessas empresas no tocante à

internacionalização. A teoria de Uppsala aplica-se melhor a pequenas e

médias empresas, explicando um típico comportamento inicial, dos primeiros

passos em direção aos mercados internacionais.

De acordo com pesquisadores como Johanson e Valhne (1977), a falta

de conhecimento sobre mercados estrangeiros atua como obstáculo para a

internacionalização das empresas e este tipo de conhecimento é experiencial,

isto é, aprendido pela experiência, adquirido principalmente por meio de

operações internacionais. A partir deste ponto, os autores desenvolvem a

teoria de que a internacionalização da empresa é um processo incremental

em termos de comprometimento de recursos com o mercado internacional

em que se está entrando e em conformidade com o aprendizado adquirido

em cada etapa do processo. Desta forma, as decisões de começar a exportar

para um determinado país, de estabelecer canais de exportação, de

começar a vender por intermédio de uma subsidiária, e assim por diante, são

sequenciais e diretamente associadas ao conhecimento adquirido em cada

etapa. Contudo, nota-se que, após um processo de internacionalização

sequencial em determinado mercado internacional, o aprendizado adquirido

pode ser suficiente para a empresa partir para o investimento direto, pulando

etapas do processo, em mercados semelhantes àqueles em que já entrou e,

portanto, conhece.

Um dos pressupostos desta teoria é a distância psíquica, um conceito

subjetivo definido como a soma de fatores como as diferenças de linguagem,

educação, práticas comerciais, cultura e desenvolvimento industrial entre o

país de origem e o mercado internacional. Segundo a teoria de Uppsala, a

seleção de mercados internacionais onde atuar seria feita pela empresa

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91

começando por países com menor distância psíquica, indo gradualmente até

países psiquicamente mais distantes.

Importante notar que o processo descrito acima, de aprendizado e

comprometimento de recursos incremental, diminui a incerteza, mas não o

risco. Desta forma, o processo só se desenrola caso o risco real do mercado

internacional seja menor que o risco máximo tolerado pela empresa, ou seja,

depende de quanto risco a empresa está disposta a enfrentar. Destaca-se

ainda a questão da imitação levantada por Forsgren (2001), que defende

que, imitando empresas de seu setor em seus movimentos de

internacionalização, a empresa pode diminuir seus riscos sem passar pelo

processo de aprendizado.

O modelo de Uppsala não explora as relações entre firmas e o impacto

disso na internacionalização. Considerando algumas características do caso

Oficina de Agosto, faz-se necessário a revisão da teoria de Networks, que trata

exatamente deste aspecto.

3.2 Modelo de Internacionalização de Networks

Teoria segundo a qual a internacionalização das empresas é um

processo dependente da construção gradual de uma rede de

relacionamento, que favorece a obtenção de informações e recursos

financeiros necessários para exploração de mercados internacionais (Chetty e

Holm, 2000). Segundo Johanson e Mattson (1993), o processo de

internacionalização das empresas passa por uma adaptação de suas

operações (estratégia, estrutura, recursos etc.) para atendimento do ambiente

internacional. Outra visão desta teoria, que se aplica às pequenas empresas, é

dada por Johanson e Vahlne (1990), para quem a internacionalização é o

processo de desenvolver redes de relacionamento de negócios em outros

países através de extensão, penetração e integração. Tais relacionamentos

são continuamente estabelecidos, desenvolvidos e dissolvidos em prol dos

objetivos da empresa (Johanson e Vahlne, 1990), sendo mantidos por agentes

atuantes no mercado, como fornecedores, distribuidores, concorrentes,

clientes industriais etc., o que se traduz em uma relação de interdependência

entre as empresas que atuam dentro do mesmo setor. A participação da

empresa em uma rede de relacionamentos faculta-lhe acesso a recursos que

pertencem a outros agentes do mercado, o que só é possível quando a

empresa e o agente têm um vínculo de longo prazo. Desta forma, a posição

da empresa na rede determina o acesso aos recursos existentes nessa rede

(Rocha, Almeida, 2006).

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 31-44 2010 36

91

Segundo a teoria de Networks, este processo de internacionalização

por intermédio de redes de relacionamento é cumulativo, uma vez que as

relações entre as empresas podem cada vez mais gerar oportunidades

futuras.

A teoria aborda ainda a análise do grau de internacionalização da

empresa, comparado ao grau de internacionalização do mercado,

construindo uma matriz, matriz de Johanson, para explicar as características

de quatro possibilidades de grau de internacionalização: Early Starter, Lonely

International, Late Starter e International Among Others.

Diversos aspectos levantados pela teoria de Networks são relevantes

para o estudo do presente caso, como, por exemplo, as redes de

relacionamento atuando como facilitadoras de entrada em mercado de

maior distância psíquica, permitindo o alcance de clientes potenciais, antes

inacessíveis (Rocha e Almeida, 2006).

3.3 Internacionalização da Moda Praia Brasileira

A internacionalização das empresas de moda praia brasileira seguiu, de

maneira geral, o processo sugerido pelas teorias comportamentais da escola

de Uppsala (Rubim, 2004), começando por pedidos inesperados provenientes

do exterior, passando pelas etapas de esforços deliberados de exportação,

até a abertura de lojas e escritório comercial em mercados internacionais. O

estudo de casos consultado (Rubim, 2004) identifica relação entre tais

experiências e o maior comprometimento com os mercados estrangeiros em

cada etapa, gradualmente. Entretanto, a seleção de mercados não seguiu o

previsto pela teoria de entradas iniciais em mercados com menor distância

psíquica ao do país de origem. Segundo o estudo, algumas escolhas poderiam

ser descritas como oportunistas, no sentido em que foram oportunidades que

se apresentaram para cada empresa.

Foi identificada também a aplicação das teorias de Networks à

internacionalização das empresas brasileiras de moda praia, principalmente o

papel dos contatos pessoais dos dirigentes na fase inicial de exportações.

Outro aspecto importante foi a necessidade de adaptação do produto

ao gosto dos consumidores estrangeiros e o impacto do Made in Brazil no

consumo especificamente de biquínis, com consumidoras estrangeiras

preferindo a modelagem original, conforme os hábitos de consumo das

brasileiras. Quando se trata de biquínis, a imagem de produto brasileiro

influencia uma percepção favorável do consumidor, devido à identidade que

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o Brasil assume no exterior, como a tropicalidade do país e a sensualidade da

mulher brasileira (Rubim, 2004). Desta forma, diferentemente de outros

produtos de empresas brasileiras que tentam sem sucesso competir por baixo

custo no exterior, os biquínis adotam um posicionamento de diferenciação,

com a vantagem de se encaixarem em um segmento em que o Made in Brazil

faz diferença positiva.

3.4 Marca-país

Segundo Liu e Johnson (2005), em citação em artigo da Revista

Eletrônica de Negócios Internacionais da ESPM (2007), os estereótipos

específicos de cada país são ativados involuntariamente pelo consumidor na

simples presença de pistas sobre o país de origem do produto, influenciando

seu julgamento ainda que racionalmente não fosse esta a intenção (de

considerar o país de origem na avaliação do produto). Além de estereótipos

culturais, os efeitos do país de origem estão relacionados ainda com as

crenças pessoais do consumidor.

Outra questão relevante apresentada no artigo é a defesa da

construção de uma imagem positiva do país a partir de seus atributos reais,

importante não só para atração de investimentos, como também para

exportação de seus produtos. Esta imagem deve refletir os valores nacionais e

ser alinhada com a identidade cultural do país, caso contrário toda a

comunicação soa falsa (Hall, 2004, citado por Khauaja e Hemzo em 2007).

3.5 Tribos, Internet e Internacionalização – O caso La Nuvolle

O livro Consumer Tribes, organizado por Bernard Cova, Robert Kozinets e

Avi Shankar, é uma coletânea de artigos sobre tribos de consumo. Entre eles,

há um estudo de caso sobre a internacionalização de uma empresa italiana

produtora de cachimbos artesanais, a La Nuvole, via internet, mais

precisamente por uma tribo virtual. A argumentação dos autores é focada em

mostrar como o marketing de tribos pode ser um novo meio de

internacionalização para empresas de artesanato e pequenas empresas em

geral, provendo-as de vantagem competitiva sobre grandes empresas, no

momento em que permite que a rede de membros da comunidade atue em

prol desta internacionalização.

Cocciola, Fratocchi e Pace, autores do estudo, inicialmente revisam o

conceito de tribo e de marketing tribal para comprovar que a comunidade

virtual de fumantes de cachimbo a ser estudada é uma verdadeira tribo. Em

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91

seguida, apontam os fatores que facilitam a internacionalização de pequenas

empresas via internet, como, por exemplo, o papel da interatividade na

comunicação e no processo de distribuição, a diminuição da importância dos

intermediários na estratégia de internacionalização (desintermediação) e o

enfraquecimento do papel da economia de escala. Em resumo, segundo o

estudo, a internet permite que as pequenas empresas expandam seus nichos

de mercado, aumentando sua massa crítica de potenciais compradores a um

nível internacional, mas isso só é possível quando a internet é usada como

meio de agregar indivíduos dispersos geograficamente, mas reunidos no

espaço virtual em torno de um interesse comum.

Nesse contexto, comunidades virtuais podem multiplicar os efeitos das

networks na internacionalização de empresas de artesanato, enquanto que

características típicas de comunidades, como senso de reciprocidade,

solidariedade e conexão emocional entre os membros, acabam por

direcionar este processo de internacionalização.

No caso da empresa La Nuvole, o artesão dos cachimbos e proprietário

da empresa, Mauricio Tombari, é membro de uma comunidade de fumantes

de cachimbo, tendo desta forma um papel primordial no processo de

internacionalização estimulado pela comunidade. O respeito conquistado

pelo artesão dentro da comunidade deu legitimidade à empresa, de maneira

que os membros da comunidade, que são das mais variadas partes do

mundo, não percebem qualquer publicidade da La Nuvole como intrusiva e

até atuam em benefício de seus negócios. Segundo os autores, a teoria

Networks explica a internacionalização da La Nuvole, mas destacam que no

caso de empresas de artesanato, redes de relacionamento pessoais se

confundem com relacionamentos profissionais.

4. INTERNACIONALIZAÇÃO DA OFICINA DE AGOSTO

A Oficina de Agosto iniciou suas exportações em 1998. As peças de

artesanato da Oficina de Agosto chegam aos mercados internacionais de

duas formas: por exportação indireta, pelo distribuidor Pirangua, localizado na

Bélgica, e por exportação direta para lojas revendedoras. O distribuidor atua

distribuindo os produtos da Oficina na Holanda, Bélgica, Luxemburgo,

Alemanha, França, Espanha, Itália, Inglaterra e Líbano. Já as lojas

revendedoras localizam-se na Suécia (Terra Brasilis), Miami (Project Earth

Design), Nova York (Ipê Brasil) e Virginia (Jacarandá Furniture) nos EUA e ainda

Colômbia (Savile Arte Para Usar) e Panamá (Rodmen Suplllies). Devido às

características do processo de criação e produção das peças de artesanato

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 31-44 2010 39

91

e objetos de decoração da Oficina de Agosto, como, por exemplo, as

matérias-primas utilizadas e a mão de obra especializada da comunidade

onde está localizada (equipes de artesãos), a instalação de unidades

produtivas no exterior não faz sentido para a empresa.

Philippe Descamps, sócio da empresa de distribuição Pirangua, morou

por 10 anos no Brasil, tempo em que descobriu os objetos de decoração

produzidos pela Oficina de Agosto. Desta mesma forma, Christer Söderberg,

proprietário da Terra Brasilis, morou no Brasil trabalhando em uma empresa

multinacional e, ao voltar para Suécia, sua terra natal, abriu a loja

revendedora de artesanato e mobiliário brasileiro. Os proprietários da Project

Earth, Fernando Dias, e da Ipê Brasil, Karina Ruiz, são brasileiros residentes no

exterior.

Outro aspecto digno de nota é o fato de que tanto o distribuidor

quanto a maioria das lojas revendedoras são associados claramente à cultura

brasileira, posicionando suas marcas como decoração “étnica-chique”.

A percepção dos estrangeiros em relação à cultura brasileira e a

escolha do artesanato da Oficina de Agosto para distribuição na Europa são

questões retratadas por Philippe Descamps:

... eu comecei a buscar objetos no Brasil que pudessem ser

comercializados na Europa. Achei coisas muito boas e coisas

muito ruins em comparação com os nossos critérios em matéria

de decoração. Em compensação, se você se dá ao trabalho de

procurar, você encontra coisas de primeira classe da cultura

brasileira. Não tínhamos a vontade de retornar com peças

baratas, não tínhamos a vontade de explorar a miséria humana.

Nós vimos essa Oficina de Agosto e ficamos seduzidos, porque era

realmente diferente... se ignora que o senso estético brasileiro

pode ser vendido no nosso país de origem e se pensa que a arte

brasileira é necessariamente barata, enquanto o Brasil é regido

pelas mesmas leis econômicas que o nosso país de origem.

Atualmente, cerca de 20% do faturamento vem da exportação. A

aceitação pelos compradores estrangeiros é positiva, o que pode estar

relacionado com a preocupação da empresa em mostrar um produto

diferenciado, com uma qualidade que siga os parâmetros de posicionamento

no mercado nacional e internacional. A aceitação também pode estar

associada à consciência ecológica em voga na atualidade, uma vez que as

peças criadas pela Oficina de Agosto só usam materiais reciclados. Muitas das

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 31-44 2010 40

91

reportagens em imprensa estrangeira que citam a Oficina de Agosto

destacam este fato, apontando uma valorização de produtos que respeitam

o meio ambiente nos mercados internacionais.

A seleção de mercados internacionais, em que está presente, foi

aparentemente feita de maneira oportunista (Bradley, 2005), a partir de

contatos e pedidos não programados e participação em feiras de

decoração, como a Salon Maison & Objets à Paris.

5. CONCLUSÃO

Empresas de artesanato tipicamente têm um comportamento peculiar

no que se refere à internacionalização. Expandem-se para mercados

internacionais, desenvolvendo e explorando redes de relacionamento, e,

muitas vezes, sem ligação com um planejamento estratégico formal, mas sim

estimuladas pela própria rede (Cocciola et al. 2007). A Oficina de Agosto não

foge à regra, com uma rede formada basicamente de contatos pessoais e

relacionamentos dos proprietários.

Conforme preconizado pela teoria de Networks, a rede de

relacionamento da qual a Oficina faz parte, permitiu sua entrada em países

de grande distância psíquica, como Bélgica e Suécia, tornando acessíveis

clientes antes distantes de seu universo, como por exemplo, consumidores de

classe A europeus, frequentadores de feiras de decoração (da qual participou

por intermédio de seu distribuidor).

Aplicando a matriz apresentada pela teoria de Networks, é provável

que a Oficina de Agosto seja uma Lonely International, dadas as seguintes

características de seu processo de internacionalização:

Já adquiriu considerável experiência, exportando desde 1998

Os contatos pessoais e a rede de relacionamento dos proprietários

têm grande importância, permitindo uma combinação de recursos

como a qualidade e criatividade das peças que produz e os

contatos fornecidos por seus revendedores e, principalmente, por

seu distribuidor

Customiza produtos como por, exemplo, as peças consideradas for

export pelo próprio artista

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Alcançou um estágio no processo de expansão menos dependente

da similaridade dos mercados, tendo em vista a exportação para

países de maior distância psíquica, como a Suécia.

Assim como o caso da moda praia brasileira, a internacionalização da

Oficina de Agosto foi despertada pelos eventuais pedidos do exterior, além

das crescentes vendas para estrangeiros no Brasil. Entretanto, diferente dos

casos de moda praia, no caso da Oficina de Agosto o modelo de Uppsala

não se aplica para explicar seu processo de internacionalização.

A chamada pelo proprietário “irreplicabilidade” das peças e o processo

inovador de criação desenvolvido com materiais recicláveis, atuam como

vantagens competitivas, fortalecidos pelo fato de que, assim como na moda

praia, o Brasil tem um impacto positivo no que se refere à decoração “étnica-

chique”. A identidade cultural brasileira e os estereótipos do país criam uma

percepção nos consumidores estrangeiros em concordância com alguns

atributos do artesanato produzido.

A escolha de revendedores brasileiros ou com grande envolvimento

com o Brasil expõe certas barreiras psicológicas, possivelmente um

etnocentrismo dos dirigentes da Oficina de Agosto. A seleção de mercados

atendidos por revendedores concentrada nas Américas, com a escolha de

modo de entrada por distribuidor na Europa, revela-se regiocêntrica (Rocha et

al. 2007), embora a confiança depositada no distribuidor europeu não seja

típica de países com cultura relacional como o Brasil, onde não se aprecia

dividir poder e controle com estranhos.

Os motivos que levaram a Oficina de Agosto a se internacionalizar

basearam-se nas oportunidades que se apresentaram, mais do que na simples

vontade dos dirigentes.

Brasileiros e “simpatizantes” do Brasil residentes no exterior formam uma

comunidade com conexão emocional, em torno da saudade do país e

consumidora de produtos que cultivam uma identidade cultural brasileira

como, por exemplo, o artesanato, estimulando a internacionalização da

empresa como forma de ter o “Brasil mais perto” dos residentes no exterior (ver

trecho de reportagem de jornal de comunidade brasileira nos EUA abaixo).

Karina Ruiz, proprietária da galeria, paulistana e advogada de

formação, reside nos EUA há quatro anos. Apaixonada pela arte

folclórica brasileira, Karina queria “trazer o Brasil para mais perto”,

quando então, nos fins de 2005, iniciou a importação das peças

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que deram origem à Ipê Brasil (revendedora da Oficina de

Agosto).

(Fonte: site do Jornal da Colônia Brasileira nos EUA –

http://www.brazilianvoice.com/mostranews.php?id=2014#)

Embora o site da Oficina de Agosto trabalhe com e-mail marketing e a

maioria dos revendedores e o distribuidor tenham sites ativos com meios de

contato, não foram encontradas pistas sobre como a internet influenciou o

processo de internacionalização da Oficina de Agosto.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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nov.2007.

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present, and future. Journal of Small Business and Enterprise Development, v.13,

n.4, p.476-497, 2006.

ABSTRACT

The case studies of several companies –

some of them Brazilian - that were

internationalized using a variety of systems

were discussed throughout the course

Theory of Internationalization, using

different approaches to explain each

case. One of the aspects highlighted

during the discussions was the absence of

the „made in Brazil‟ logo, that should have

identified Brazil as the country of origin,

where products were manufactured by

companies to compete with others on the

global market. On the basis of this finding,

the study tried to outline the

internationalization of a product that

would genuinely represent Brazil: local

artcraft. We examined the

internationalization of Oficina de Agosto,

an atelier and artcraft store, reviewing

two other articles: Brazilian beach wear

(Rubim, 2004), as well as La Nuvola hand-

made tobacco pipes (Cocciola et al.,

2007). Both case studies were chosen to

pinpoint underlying internationalization

issues related to the Oficina de Agosto

company. The first one (the study on

beach wear), because it attempted to

enhance Brazil‟s image in the mind of

consumers, and the second, because it

examined the internationalization of a

small Italian handcraft production

company and how it was impacted by

the Internet. Furthermore, the in-depth

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analysis of the Oficina de Agosto case led

us to examine the internationalization

behavioral theories, as these are the best

models to draw up a pattern for this type

of case study.

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ESTUDO DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E O IMPACTO

DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DUAS EMPRESAS PRIVATIZADAS BRASILEIRAS

Ricardo Costa Vieira da Silva

RESUMO

Este artigo buscou investigar o

processo de internacionalização de

duas empresas públicas brasileiras

privatizadas no Programa Nacional de

Desestatização (PND, tendo como

base o referencial teórico: das teorias

da escola comportamental da

Universidade de Uppsala, das teorias

econômicas na linha do Paradigma

Eclético de Dunning e do diamante da

vantagem nacional de Porter. Avaliou-

se ainda as principais políticas públicas

disponíveis para impulsionar este

processo no país.

A investigação foi feita a partir dos

históricos das empresas Embraer e Vale

do Rio Doce obtidos em artigos em

jornais e nos sítios das referidas

organizações e procedeu-se sua

análise a luz do referencial proposto.

Ao avaliar o processo de

internacionalização das empresas face

as teorias propostas foi possível

identificar características idiossin-

cráticas neste processo para as antigas

empresas estatais.

Palavras-chave: negócios internacio-

nais, modelo comportamental de

Uppsala, paradigma eclético de

Dunning, diamante da vantagem

competitiva, políticas públicas,

estratégias de internacionalização,

empresas privatizadas

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1. INTRODUÇÃO

Até o início do século XX, o Brasil era um país basicamente agrário.

Anteriormente ao governo de Getúlio Vargas, existiram algumas iniciativas de

industrialização do país, mas de forma desordenada e incipiente. Talvez Irineu

Evangelista de Souza, mais conhecido como Barão de Mauá, tenha sido o

grande expoente desse movimento e também os imigrantes italianos que

chegaram ao Brasil em um momento posterior.

Após a década de 1930, o Brasil viveu um acentuado processo de

desenvolvimento econômico, com a criação de indústrias nos mais variados

segmentos. Foram três os períodos de maior pico: o primeiro governo de

Getúlio Vargas (de 1930 a 1945), os anos JK (de 1956 a 1960) e os anos da

ditadura militar (de 1964 a 1985). Durante esses momentos de auge da

indústria nacional, o Estado Brasileiro atuou de forma intensa planejando a

economia, criando empresas estatais em setores inexistentes ou incipientes.

Os primeiros movimentos relevantes de internacionalização de

empresas brasileiras, para os quais existem registros, foram feitos pela Petrobras

a partir da década de 1970, na busca de novas fontes de prospecção de

petróleo ao redor do mundo para suprir as necessidades brasileiras da

ocasião. Naquele momento produzia-se menos de 10% da quantidade

requerida pelo mercado interno.

Criou-se, em todo esse processo de industrialização e

internacionalização tardia das empresas nacionais, a Companhia Vale do Rio

Doce (CVRD) em 1962 e posteriormente a Empresa Brasileira de Aeronáutica

(Embraer) em 1969. Desde seus primórdios, essas empresas tiveram uma forte

orientação para o mercado exterior, sendo esse caráter acentuado após as

reformas liberais implementadas no Brasil a partir da década de 1990.

2. OBJETIVO DO TRABALHO

Sopram os ventos da liberalização econômica de Margareth Thatcher

na Inglaterra, ocorrem a retomada do crescimento econômico norte-

americano sob um prisma liberal implementado por Ronald Reagan, a

Perestroika de Mikhail Gorbachev, a queda do Muro de Berlim, a reunificação

das Alemanhas, a derrocada quase completa dos regimes comunistas no

mundo, o massacre da Praça da Paz Celestial na China, e o fim da história é

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 47

anunciado por Francis Fukuyama com o triunfo das democracias liberais no

mundo.

Ao final de 1989, o país elege Fernando Collor de Melo. Segundo

Guedes (2006), até o início de 1990, o Brasil era um dos países com menor grau

de abertura dentre seus congêneres ocidentais. Muitas empresas brasileiras e

estrangeiras beneficiaram-se de medidas protecionistas, até à implantação

das políticas de liberalização comercial adotadas pelo novo presidente. No

bojo dessas políticas é implementada uma abertura gradual para a

concorrência com produtos estrangeiros e inicia-se um grande processo de

privatização das empresas estatais. Fernando Henrique Cardoso dá

continuidade a esse processo e privatiza a Embraer e a Vale do Rio Doce.

Com toda a mudança cultural e liberal que foi introduzida na

mentalidade coletiva a partir da década de 1990, o Estado passa a ser visto

como um elemento que somente atua de forma perniciosa na economia.

Tendo em conta esse viés cognitivo nacional, este trabalho busca verificar os

aspectos de internacionalização de duas empresas que surgiram e cresceram

como estatais e se tornaram fortes após suas respectivas privatizações, e

identificar de que forma as políticas públicas do governo brasileiro podem ter

influenciado ou não esse processo.

3. REVISÃO DE LITERATURA

Para a composição desse trabalho serão utilizados alguns dos conceitos

de internacionalização de empresas, a teoria de vantagens competitivas da

nação de Porter e também serão avaliados alguns aspectos de políticas

públicas para internacionalização de empresas. Na seção seguinte serão

analisados os históricos de ambas as empresas à luz dessas teorias. Por fim, será

feita uma conclusão acerca de todo esse processo vivenciado por tais

organizações.

3.1 Teorias de Internacionalização de Empresas

O processo de internacionalização das empresas envolve duas

instâncias principais:

1. Atendimento de mercados externos via exportações

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 48

2. Investimento direto no exterior, seja para a instalação de

representações comerciais, seja para a implantação de unidades

produtivas.

Segundo a abordagem eclética de Dunning (1988), para se

internacionalizar as empresas devem possuir certos tipos de vantagens sobre

os seus competidores que justifiquem o investimento direto no exterior. Uma

empresa pode contar com três tipos de vantagens diferenciais: as de

localização, que são as oferecidas por um determinado país ou região; as de

propriedade ou de capacidades próprias desenvolvidas pela organização,

que são as que lhe permitem se posicionar relativamente melhor no mercado

estrangeiro quando comparada com os produtos locais ou outros produtores

estrangeiros; e as de internalização, que indicam que, se os custos de

incorporação e organização produtiva são menores que os custos de

transação associados à transferência dessas capacidades a um produtor

local, a firma investirá na produção nesse mercado.

Dunning (1988) classifica o investimento estrangeiro em quatro grandes

tipos, de acordo com o seu objetivo principal: baseado em recursos, baseado

em mercados, especialização racionalizada, trocas e distribuição.

O que diferencia as empresas multinacionais de países desenvolvidos

daquelas de países em desenvolvimento, é justamente a composição das

vantagens de propriedade, que envolvem, em grande parte, diferentes tipos

de recursos naturais e qualificação de sua mão de obra, diferentes níveis de

capacitação tecnológica e políticas de governo.

Há outra corrente que procura explicar os movimentos de

internacionalização por meio de uma abordagem comportamentalista. Uma

hipótese-chave desses modelos é que a internacionalização da firma é um

processo gradual, que implica um envolvimento crescente da firma com os

mercados externos e que pode tomar, primeiro, a forma de exportação via

agentes, depois passar à exportação via subsidiárias e, por fim, chegar à

fabricação local no mercado externo. As distintas fases, pelas quais passa o

relacionamento com o mercado externo, indicam um crescente

comprometimento de recursos da firma com aquele mercado.

Uma das principais linhas dentre os modelos comportamentalistas é a

escola de Uppsala, representada principalmente por Johanson e Vahlne

(1977). Para essa escola, o processo de internacionalização tem duas

características básicas: conhecimento do mercado e comprometimento de

recursos. Para avançar nesse processo, a firma deve envolver-se em atividades

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 49

comerciais (que lhe permitem conhecer) e tomar decisões de

comprometimento de recursos. Os escritórios comerciais, as subsidiárias

comerciais e fabris indicam uma sequência de maior comprometimento de

recursos, como resultado do maior conhecimento.

AGUIAR M., BHATTACHARYA A., BRADTKE T., COTTE P., DERTNIG S., MEYER

M, MICHAEL D. C., SIRKIN H. L. (2006) definem os seus seis modelos estratégicos

para globalização:

1. Transformação das marcas das economias de rápido

desenvolvimento (RDE em inglês) em globais

2. Conversão da engenharia dessas economias em inovações globais

3. Assunção da liderança da categoria globalmente

4. Monetização dos recursos naturais nessas economias

5. Lançamento de novos modelos de negócios para múltiplos

mercados, e

6. Aquisição de recursos naturais.

Segundo esse estudo do relatório BCG, dentre as 100 maiores empresas

das economias de rápido desenvolvimento, o Brasil possui 12 representantes,

dentre eles a Embraer e a CVRD.

Porter (1993), em seu estudo sobre a vantagem competitiva das

nações, cria a figura do diamante da vantagem nacional, composto por

quatro vértices que modelam o ambiente no qual as empresas competem e

que promovem (ou impedem) a criação da vantagem competitiva.

Os vértices do diamante são representados por:

1. Condições dos fatores. A posição do país nos fatores de produção,

como trabalho especializado ou infraestrutura, necessários à

competição em determinada indústria.

2. Condições de demanda. A natureza da demanda interna para os

produtos ou serviços da indústria.

3. Indústrias correlatas e de apoio. A presença ou ausência, no país, de

indústrias abastecedoras e indústrias correlatas que sejam

internacionalmente competitivas.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 50

4. Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. As condições que, no

país, governam a maneira pela qual as empresas são criadas,

organizadas e dirigidas, mais a natureza da rivalidade interna.

3.2 Políticas Públicas para Internacionalização de Empresas

Segundo Alem e Cavalcanti (2005), há três aspectos que definem as

principais motivações para a criação de empresas multinacionais brasileiras:

1. No início dos anos 1990, somente as 420 principais empresas

multinacionais foram responsáveis por mais da metade da produção

mundial.

2. O grande crescimento da participação das exportações das

empresas transnacionais no total exportado no mundo (no início dos

anos 1990, as multinacionais eram responsáveis por volta de 75% do

comércio mundial).

3. As firmas multinacionais têm sido a principal fonte não

governamental de financiamento à pesquisa e desenvolvimento,

dominando suas transações com tecnologia.

Esses autores acreditam que a internacionalização deve ser vista como

um meio essencial para o aumento da competitividade internacional das

empresas, promovendo o desenvolvimento dos países, facilitando:

o acesso a recursos e a mercados

a reestruturação econômica.

Em resumo, a internacionalização das empresas seria importante para

assegurar e expandir mercados para os seus bens e serviços. O acesso a

mercados maiores fortaleceria a competitividade das empresas multinacionais

pelas economias de escala, efeitos de especialização e de aprendizado e

pelo fornecimento de uma maior base financeira para reinvestimentos e

desenvolvimento tecnológico.

Iglesias e Veiga (2006) indicam que as dificuldades relacionadas com a

obtenção de informação são mais generalizadas e representativas dos

problemas enfrentados pelas firmas investidoras. As dificuldades relacionadas

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 51

com o financiamento também são representativas para outro conjunto de

empresas.

Segundo esses autores, financiamento e seguro contra riscos do

investimento podem ser políticas necessárias para a internacionalização

produtiva das firmas. Para essa atividade é necessário contar com:

o desenvolvimento de ativos específicos ou proprietários, o que

implica um grau importante de desenvolvimento tecnológico

a construção de capacidades para diferenciar em termos de

produtos e serviços associados ao fornecimento desses produtos; e

um forte contexto competitivo no mercado doméstico, que obrigue

as corporações nacionais a aumentar sua eficiência e a buscar

novos mercados.

Portanto, políticas horizontais de desenvolvimento tecnológico, que

propiciem a melhor adaptação de tecnologias existentes e permitam a

criação de novos produtos e processos, com políticas regulatórias que

aumentem o grau de concorrência nos mercados domésticos, parecem ser

mais adequadas para facilitar a internacionalização das empresas de um país.

Iglesias e Veiga (2006) mencionam que há vários exemplos

internacionais de governos que apoiaram, e ainda apóiam, a expansão

internacional de suas empresas. No caso norte-americano, seu governo criou

uma agência denominada Overseas Private Investiment Corporation (OPIC),

que financia operações de investimento no exterior e oferece também

garantias e seguro contra risco político, fornecendo adicionalmente um

conjunto de serviços de apoio ao investidor americano no exterior.

Os requerimentos que deve cumprir uma operação financiada pela

OPIC são:

Rentabilidade econômica e financeira

Impactos neutros ou positivos no emprego nos Estados Unidos

Impactos neutros ou positivos no desenvolvimento americano e do

país receptor; e

Respeito ao meio ambiente e às normas trabalhistas.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 52

Os investimentos financiados pela OPIC em um determinado país não

devem substituir exportações americanas em terceiros mercados nem podem

aceitar incentivos do país receptor relacionados com o comércio que

poderiam danificar o comércio exterior americano.

4. BREVE HISTÓRICO DE INTERNACIONALIZAÇÃO E ANÁLISE

Nesta seção será apresentado um breve histórico dos momentos mais

relevantes no processo de internacionalização das empresas Embraer e

Companhia Vale do Rio Doce e mais adiante será feita uma análise desse

processo à luz das teorias de internacionalização e da influência das políticas

públicas do governo brasileiro nesse histórico.

4.1 Histórico de Internacionalização – Embraer

Em 20 de janeiro de 1941, o Governo Federal decide criar o Ministério da

Aeronáutica. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) é criado em 16 de

janeiro de 1950 oferecendo o curso de engenharia aeronáutica,

anteriormente oferecido na Escola Técnica do Exército. Tais iniciativas visam à

criação de uma indústria aeronáutica no Brasil.

Nasce a Embraer em 19 de agosto de 1969.

A Embraer exporta os primeiros “EMB 110 Bandeirante” para a Força

Aérea Uruguaia em 7 de agosto de 1975. Ainda em 1975, a Embraer exporta o

primeiro EMB 200 Ipanema para o Ministério da Agricultura do Uruguai. A partir

de 1977, a Embraer inicia a exportação do Bandeirante para a Air Littoral na

França.

A Força Aérea Brasileira (FAB), em 1978, especifica e contrata a Embraer

para desenvolver uma aeronave de treinamento avançado.

Em 7 de outubro de 1979, é estabelecida a subsidiária Embraer Aircraft

Company (EAC), em Fort Lauderdale, Flórida, EUA, com o objetivo de

concentrar atividades de vendas na América do Norte e prover adequado

apoio técnico aos novos clientes.

Em 1981, a Embraer estabelece acordo com as empresas italianas

Aeritalia (hoje Alenia) e Aermacchi para o desenvolvimento e fabricação do

AMX.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 53

Em 1 de fevereiro de 1983, a Embraer estabelece a Embraer Aviation

International (EAI), sediada em Paris, França, com o objetivo de concentrar

atividades de vendas em território europeu, e prover adequado apoio técnico

aos novos clientes da Embraer na Europa, Oriente Médio e África.

Em 21 de fevereiro de 1984, é criada a Embraer Divisão de

Equipamentos dentro do programa de industrialização complementar

associado ao desenvolvimento do AMX visando à capacitação da indústria

nacional e fabricação de componentes aeronáuticos.

Em 7 de dezembro de 1994, a Embraer é privatizada e as instituições

financeiras Cia Bozano Simonsen, Wasserstein e Perella adquirem a

participação majoritária.

Em 1997, a FAB contrata a Embraer para o desenvolvimento das

aeronaves de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento para o Programa de

Vigilância da Amazônia (SIVAM) do governo brasileiro.

Em 1998, o governo da Grécia encomenda quatro EMB-145 AEW&C

para operação dentro dos padrões da OTAN.

Em 30 de maio de 2000, a Embraer inaugura um escritório comercial e

depósito de peças localizados em Beijing, na China, além de comercializar e

prover suporte pós-venda para aeronaves. Em dezembro de 2000, a Embraer

inaugura seu escritório comercial em Cingapura. Em 3 de março de 2002,

ocorre a inauguração da unidade de manutenção em Nashville, Tennessee,

nos Estados Unidos, Embraer Aircraft Maintenance Services – EAMS. Em 16 de

dezembro de 2003, a Embraer apresenta o primeiro ERJ 145 produzido pela

Harbin Embraer Aircraft Industry (HEAI), na China.

Em 23 de dezembro de 2004, a Embraer e a European Aeronautic

Defense and Space Company (EADS) ganham consórcio para a compra da

OGMA – Indústria de Aeronáutica de Portugal S.A. (OGMA). Através desta

compra, a Embraer expande a sua presença na Europa por meio de uma

marca reconhecida como líder mundial em uma variedade de operações

aeroespaciais, inclusive manutenção e produção.

4.2 Análise do processo de Internacionalização – Embraer

Do ponto de vista da taxonomia utilizada por AGUIAR M.,

BHATTACHARYA A., BRADTKE T., COTTE P., DERTNIG S., MEYER M, MICHAEL D. C.,

SIRKIN H. L. (2006), em seu relatório, a Embraer teria adotado uma estratégia

de conversão de sua engenharia em inovações globais. Desde o primeiro

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 54

protótipo lançado de seu modelo Bandeirante, a empresa teve a

preocupação de criar aeronaves que pudessem atender as necessidades do

mercado privado e que também pudessem ser exportadas.

O processo de internacionalização da Embraer atende a lógica da

escola de Uppsala, pois foi marcado por iniciar suas exportações para

mercados cuja distância psíquica era menor no início. Isso ocorreu com o

atendimento das encomendas da Força Aérea Uruguaia e o Ministério da

Agricultura deste mesmo país. As exportações seguintes foram para a empresa

francesa Air Littoral. Como passo seguinte do comprometimento com o

mercado exterior, a Embraer estabelece subsidiárias em Paris, França e Fort

Lauderdale, EUA. Nesse mesmo período, é estabelecida uma parceira de

licenciamento e produção conjunta de tecnologia com a empresa italiana

Aeritalia (hoje Alenia) e Aermacchi.

Em 1998, a Embraer já faz exportações para um país cuja distância

psíquica era bem maior: a Grécia. Nesse processo, a Embraer desenvolve

capacitação para adaptar seus aviões aos padrões da OTAN. Em 2000, ela dá

seu passo mais longo do ponto de vista de distância psíquica, inaugurando um

escritório comercial e um depósito de peças localizados em Pequim, na China,

e um escritório comercial em Cingapura. Em 2003, apresenta o primeiro avião

produzido pela Harbin Embraer Aircraft Industry na China.

Se analisarmos a Embraer do ponto de vista da abordagem eclética de

Dunning (1998), verifica-se que essa empresa possui principalmente vantagens

de propriedade. Desde seu início, a Embraer, na figura de Ozires Silva,

procurou desenvolver uma aeronave para um mercado não atendido, o

mercado de voos mais curtos, regionais, ligando pequenas e médias cidades.

É possível dizer ainda que a empresa obteve alguma vantagem de

internalização, uma vez que seus maiores concorrentes estão todos localizados

em países de Primeiro Mundo, onde os custos de mão de obra qualificada são

mais elevados.

Para os investimentos feitos pela Embraer ao redor do mundo, segundo

a classificação de Dunning (1998), é possível afirmar que eles atendem a mais

de um tipo nessa taxonomia. No caso das subsidiárias norte-americana e

francesa e do escritório comercial de Cingurapura, a classificação seria do

tipo trade and distribution, pois foram montados com o propósito de apoiar e

aumentar as vendas nos mercados dessas regiões. Já no caso da fábrica da

China, em Harbin, a classificação mais adequada seria market based, pois o

objetivo dessa fábrica é o de explorar o mercado chinês de aviação regional.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 55

Desde a década de 1950, quando o governo brasileiro decide criar:

CTA, ITA e IPD, ele tem como objetivo claro formar massa crítica de mão de

obra qualificada para desenvolver a indústria aeronáutica brasileira como

parte de uma política pública. É possível dizer que as aquisições feitas pela FAB

tanto em 1978 quanto em 1997 para o projeto SIVAM buscavam desenvolver a

empresa e fortalecer esse setor industrial. A privatização realizada em 1994 foi

também uma forma identificada pelo Governo Federal para aumentar a

competitividade da empresa, permitindo-lhe concorrer em pé de igualdade

com suas congêneres do Primeiro Mundo.

Porter (1993) indica que dentre as políticas governamentais disponíveis

para o incremento da vantagem competitiva nacional está o estímulo à

internacionalização das empresas, pois a globalização da estratégia da

empresa e a venda de componentes menos sofisticados permitem um grande

desenvolvimento interno das vantagens competitivas das organizações

partícipes desse processo. Desse ponto de vista, a internacionalização da

Embraer, por meio de exportações e investimento direto, permitiu o

desenvolvimento das condições dos fatores na indústria aeronáutica, buscou

a demanda por seus produtos em todo o mundo, possibilitou a constituição de

indústria correlata nacional de apoio e fez com que logo a Embraer passasse

a concorrer com suas competidoras mundiais.

4.3 Histórico de Internacionalização – Vale do Rio Doce (CVRD)

A Companhia Vale do Rio Doce foi criada pelo Governo Federal em 1º

de junho de 1942 e privatizada em 7 de maio de 1997, quando o Consórcio

Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), venceu o leilão

realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Atualmente a Vale está

presente em 13 estados brasileiros e em cinco continentes: Américas, Europa,

África, Ásia e Oceania.

Em 1949, a Vale já era responsável por cerca de 80% das exportações

brasileiras de minério de ferro. Em 1954, a empresa revê suas práticas

comerciais no exterior e passa a fazer contatos diretos com as siderúrgicas,

sem a intermediação dos traders. Em 1953, ela faz o primeiro embarque de

minério de ferro para o Japão.

Em 1961, o novo presidente, Eliezer Batista, percebendo a necessidade

dos japoneses de expandirem seu parque siderúrgico, cria o conceito de

distância econômica, que permitiu ao Brasil entregar minério de ferro ao

Japão, a preços que competiam com aqueles das minas da Austrália, pelo

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 56

Porto de Tubarão. O conceito de distância econômica transformava a

distância física da rota Brasil-Japão-Brasil em uma distância na qual o valor

para se colocar o minério nas usinas japonesas era competitivo.

Em 1972, a Vale firma convênio com a Alcan Aluminium Ltd., do

Canadá, para um projeto de exploração de bauxita na região do rio

Trombetas. Em 1974, a Vale torna-se a maior exportadora de minério de ferro

do mundo, detentora de 16% do mercado transoceânico do minério. Em 1989,

a empresa elabora um Plano Estratégico 1989-2000, com foco em sua

internacionalização.

Em março de 1994, a Vale lança seu programa de American Depositary

Receipts (ADR), negociáveis no mercado de balcão dos Estados Unidos. Em

1998, é lançado o programa “De Volta para o Futuro”, de apoio à educação

formal, para propiciar o primeiro grau completo a todos os empregados da

Vale.

Quando foi privatizada, em 1997, a Vale produzia 114 milhões de

toneladas/ano. Houve um grande acréscimo nesse valor a partir de 2000,

quando a Vale adquiriu as empresas Samitri, Socoimex e participação na

GICC. Desde que foi privatizada, a CVRD adquiriu 19 concorrentes, um

investimento de quase 50 bilhões de reais, em valores atualizados.

Em 31 de março de 2003, a Vale compra 50% das ações da Caemi

Mineração e Metalurgia S/A. Nesse mesmo ano, a empresa consolida sua

posição internacional e contabiliza um total aproximado de US$ 4 bilhões em

vendas externas. A receita acumulada nos noves primeiros meses de 2004 é

igual a US$ 6,051 bilhões, 57% superior à obtida no mesmo período de 2003.

Nesse mesmo período, a Vale embarcou para a China 28,4 milhões de

toneladas contra 19,3 milhões de 2003 e movimentou 21,8 bilhões de tkus ante

19,9 bilhões do ano anterior.

Em 11 de agosto de 2006, a CVRD anuncia a oferta de compra da

INCO. Em 24 de outubro do mesmo ano, a Vale anuncia a compra da

mineradora INCO, uma das principais produtoras de níquel do mundo. Essa foi

a maior aquisição já realizada por uma empresa brasileira. Em fevereiro de

2007, a Vale comprou a mineradora de carvão australiana AMCI Holdings, por

835 milhões de dólares australianos (1,38 bilhão de reais).

Segundo matéria da revista Exame, com essas últimas aquisições o

faturamento da empresa passou de R$ 18 bilhões em 1/9/2006 para 35 bilhões

em 1/9/2007 e se tornou a 16ª maior do mundo em valor de mercado, à frente

de Apple e Coca-Cola. Os valores foram de R$ 140 bilhões em 24/10/2006

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 57

para R$ 320 bilhões em 29/10/2007. A empresa saltou da quarta para a

segunda posição entre as maiores mineradoras do mundo, atrás da

australiana BHP Billiton.

4.4 Análise do processo de Internacionalização – CVRD

Do ponto de vista da taxonomia utilizada por AGUIAR M.,

BHATTACHARYA A., BRADTKE T., COTTE P., DERTNIG S., MEYER M, MICHAEL D. C.,

SIRKIN H. L. (2006), em seu relatório, a CVRD teria adotado uma estratégia de

monetização dos recursos naturais. Desde seus primórdios até a sua mais

recente aquisição, a Vale tem se concentrado em explorar recursos naturais e

exportá-los para outros países do mundo.

O processo de internacionalização da CVRD, ao contrário daquele

descrito para a Embraer, não atende exatamente ao conceito da distância

psíquica. Seus primeiros passos internacionais estiveram relacionados com o

conceito de distância econômica, criado para atender as necessidades

japonesas de minério de ferro. Analisando o processo como um todo, a

expansão para a Austrália e a aquisição mais recente da Inco, levam à

conclusão de que os modelos comportamentais não são os melhores para

descrever o processo de internacionalização da CVRD.

Contudo, é possível analisar a empresa sob a ótica da abordagem

eclética de Dunning (1988). A principal vantagem observada no caso da

CVRD seria aquela de localização. O Brasil é um país rico em reservas de

minério de ferro, fator esse que constituiu uma grande vantagem para a

empresa. Para os investimentos feitos pela empresa ao redor do mundo,

segundo a classificação de Dunning, é possível afirmar que eles atendem o

tipo baseado em recursos, ainda que se leve em conta as aquisições mais

recentes de empresas australianas e canadenses.

Mesmo quando a Vale do Rio Doce ainda estava sob controle do

Governo Federal, ela possuía altos índices de rentabilidade e eficiência. Dessa

forma, considerando que a empresa vende um produto que está ligado à

pauta de exportação mais tradicional brasileira, as commodities, os esforços

de políticas públicas em seu caso foram menores do que aqueles necessários

para o sucesso da Embraer. Talvez ao longo de sua história, a principal medida

de política pública adotada tenha sido sua privatização, que lhe permitiu

competir em pé de igualdade com seus maiores competidores mundiais.

Analisando a trajetória da CVRD, sob o prisma do diamante das

vantagens competitivas nacionais de Porter (1993), identifica-se que o país

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 58

logrou sucesso em desenvolver as competências de sua empresa no sentido

de prospectar uma riqueza natural abundante no país; sendo o minério de

ferro insumo essencial para a produção do aço, a empresa esteve, desde o

início, integrada na cadeia produtiva das grandes empresas estatais

produtoras de aço no Brasil, tais como CSN, Companhia Siderúrgica Tubarão,

entre outras; como o minério de ferro está posicionado no início da cadeia

produtiva, o desenvolvimento de indústrias correlatas e de apoio foi mais

facilitado dado o seu baixo grau de complexidade e necessidade de

tecnologias; por fim, apesar de estar operando num país, que na maior parte

do tempo da história da empresa possuía uma economia fechada para o

mundo, o caráter internacional da empresa fez com que ela estivesse

submetida à competição dos grandes players mundiais.

5. CONCLUSÕES

Ao longo desse trabalho, procurou-se investigar a história recente de

duas das mais importantes empresas do capitalismo brasileiro atual. A Embraer

e a CVRD têm representado algumas das principais fontes geradoras de caixa

em moeda forte para o governo brasileiro e, com vertentes tecnológicas

distintas, a capacidade empresarial brasileira pelo mundo.

Com a mudança do papel do Estado na economia brasileira, após o

fim dos regimes comunistas no mundo, o fim do planejamento central

proposto e conduzido pelo Estado e o término da utilização das políticas

keynesianas de desenvolvimento, o governo brasileiro perdeu seu importante

papel de indução do progresso nacional.

Esse trabalho teve por objetivo estudar algumas das teorias de

internacionalização que pareciam mais adequadas para explicar o processo

de expansão mundial dessas empresas, investigar algumas políticas públicas

utilizadas com tal propósito e verificar se, de alguma forma, o governo central

atuou como indutor no desenvolvimento e internacionalização da Embraer e

da CVRD.

Ao analisar a trajetória da Embraer foi possível constatar que o Estado

teve um papel relevante na criação da indústria aeronáutica no Brasil, na

internacionalização dessa empresa e no aumento de suas condições de

competitividade com sua recente privatização. Esse processo atendeu em

linhas gerais aos modelos comportamentais da escola de Uppsala e também

ao paradigma eclético de Dunning.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 59

Por outro lado, ao se investigar a história pregressa da CVRD, constatou-

se que, uma vez que essa empresa sempre esteve ligada à comercialização

de uma commodity no mercado internacional, a necessidade de indução do

Governo Federal, no sentido de desenvolver e internacionalizar essa

organização, foi menor. As principais ações do governo central nesse sentido

foram a constituição da empresa e a realização de sua privatização num

passado recente. O processo de internacionalização da CVRD não parece

atender aos preceitos descritos pela escola de Uppsala, mas encontra-se

bastante aderente ao modelo do paradigma eclético proposto por Dunning.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEM A. C.; CAVALCANTI C. E. O BNDES e o apoio à internacionalização das

empresas brasileiras: algumas reflexões. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 12,

n. 24, p. 43-76, dezembro de 2005.

AGUIAR M. et al. The new global challengers: how 100 top companies from

rapidly developing economies are changing the world. BCG Report, May 2006.

IGLESIAS R. M.; VEIGA P. M. Promoção de exportações via internacionalização

das firmas de capital brasileiro. BNDES, Rio de Janeiro. Disponível em:

<www.bndes.gov.br>

DUNNING, J. H. Toward an eclectic theory of international production: some

empirical tests. Journal of International Marketing Business Studies, v. 11, n. 1, p.

9-31, 1980.

DUNNING, J. H. The ecletic paradigm of international production: a

reestatement and some possible extensions. Journal of International Marketing

Business Studies, v. 19, n. 1, p. 1-31, Spring, 1988.

Revista Exame a entrada correta é: (deletar este recado)

EXAME. São Paulo: Abril, Edição 905, n.21, Nov. 2007.

GUEDES, A. L. Internacionalização de empresas como política de

desenvolvimento: uma abordagem de diplomacia triangular. Revista de

Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 3, p. 335-56, Maio/Junho, 2006.

JOHANSON, J.; VAHLNE, J. E. The internationalization process of the firm : a

model of knowledge development and increasing foreign market

commitments. Journal of International Business Studies, v. 8, n. 1, p. 23-32, 1977.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 45-60 2010 60

PORTER, Michael E. A vantagem competitiva das nações. Rio de Janeiro:

Campus, 1993.

SILVA, Ozires. A decolagem de um sonho: a história da criação da Embraer. 5.

ed, Lemos, 2005.

www.embraer.com.br, 01/11/2007

www.cvrd.com.br, 01/11/2007

ABSTRACT

The article aims at researching the

internationalization process of two former

state-owned Brazilian companies privatized in

the National Program for Privatization (PND in

Portuguese), using as theoretical reference:

Uppsala University behavioral theories,

Dunning‟s eclectic paradigm representing

economical theories used and Porter‟s

diamond of national advantage. The article

analyzes the major public policies used to

leverage internationalization process

nationally as well.

The research used the history from Embraer

and Vale do Rio Doce obtained from

newspaper articles and company websites.

With such information, the article analyzes this

internationalization process using the

theoretical reference.

By analyzing the internationalization process

for those companies the article identifies

idiosyncratic features in this process for those former stated-owned companies.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 61

O FENÔMENO DAS BORN GLOBALS

Marcio Stern da Fonseca

RESUMO

As Born Globals são aquelas empresas

que já nascem voltadas para as

operações internacionais. Normalmente,

são firmas que vendem produtos e

serviços diferentes dos já existentes,

referentes a setores intensivos em

conhecimento. A rede por meio da qual

este tipo de empresa se conecta com o

mercado é de fundamental importância,

assim como o tipo de conexão que

estabelece com outras firmas. As Born

Globals estão intimamente relacionadas

com empreendedorismo e requerem

líderes ágeis, atentos, astutos e

ambiciosos. O estoque de conhecimento

contido nas Born Globals influencia sua

escolha sobre quais mercados

internacionais entrar e de que modo fazê-

lo. Trata-se de um tema relativamente

novo e com amplo campo de pesquisas

passível de exploração.

Palavras-chave: Born Globals; internacio-

nalização; empreendedorismo; mercados

internacionais; conexões mercadológicas

1. INTRODUÇÃO

As Born Globals parecem desafiar a reconhecida lógica de

internacionalização das empresas, as quais, quando partem em busca de

mercados internacionais, usualmente o fazem segundo uma progressão de

atividades, acumulando conhecimentos em mercados e instituições

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 62

estrangeiras. Um número cada vez maior de firmas – Born Globals – está se

voltando para operações internacionais desde o primeiro dia de fundação

(Sharma e Blomstermo, 2003).

É importante traçar um limitador que defina o que são as Born Globals,

ou melhor, quais seriam as características de uma empresa que a fariam

figurar nesta classificação. São consideradas Born Globals empresas que

possuem no mínimo 25% do seu faturamento provenientes de vendas fora de

seu país-sede dentro de três anos depois da sua criação, e que possuem

vantagem competitiva no uso de recursos e vendas de produtos em vários

países (Andersson e Wictor, 2001).

As Born Globals são firmas intensivas em conhecimento, que empregam

indivíduos com alto nível de conhecimento científico. Elas vendem produtos e

serviços que ou são “totalmente novos” ou “radicalmente” diferentes dos

produtos existentes (Sharma e Blomstermo, 2003). Entretanto, este padrão de

internacionalização pode não ser exclusivo de setores intensivos em

conhecimento. Enquanto o interesse nas Born Globals é muito recente, pode

ser que o fenômeno em si não seja tão novo assim (Knight, Bell e McNaughton,

2001).

Ultrapassada, ainda que de forma breve, a questão da definição do

tipo de empresa aqui analisada, passamos às próximas etapas. Este trabalho

percorrerá primeiramente o tipo de ligação existente entre as Born Globals e

outras empresas que atuam no mercado e tangenciará a questão do

empreendedorismo, apresentando a importância do papel do líder. Depois,

passará pela forma de entrada das Born Globals nos mercados internacionais,

abordará a temática da estratégia utilizada por essas empresas visando

alcançar seus objetivos, ponto em que é trazido um modelo teórico

desenvolvido por três autores. Finalmente, o último ponto deste trabalho

apresenta seu desfecho e conclusão.

2. AS CONEXÕES DAS BORN GLOBALS

Uma característica constatada por Sharma e Blomstermo que parece

ser de fundamental importância é a forma como as Born Globals se envolvem

com outras empresas do mercado. Um tipo de conexão comumente

observado no mercado é aquele que se dá sob a forma de rede. As conexões

em uma rede proporcionam canais para troca de conhecimento e servem

como motivação. As firmas localizadas no centro das redes recebem mais e

melhores informações e obtêm conhecimento antes de seus concorrentes. Isso

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 63

pode influenciar os seus respectivos processos de internacionalização (Sharma

e Blomstermo, 2003).

As conexões ou ligações existentes entre duas ou mais empresas nas

redes podem ser fortes ou fracas. Encontram-se em melhor situação aquelas

empresas que mantêm várias conexões fracas, pois elas são menos custosas

que as fortes e possibilitam maior aprendizado, mais autonomia e maior

capacidade de adaptação. Quando há ligações muito fortes, as empresas

acabam tornando-se similares (Sharma e Blomstermo, 2003).

As Born Globals usualmente têm conexões mercadológicas fracas. Esse

tipo de conexão faz com que essas empresas obtenham um conhecimento

heterogêneo e as permite ter um processo de avaliação baseado na

improvisação. São adaptáveis por não estarem fortemente ligadas a

conhecimentos específicos e experiências passadas bem-sucedidas (Sharma e

Blomstermo, 2003).

Justamente pela falta de um passado de sucesso, as Born Globals são

criativas, inovam e avaliam continuamente novas oportunidades de negócios,

combinando os seus recursos com aqueles de parceiros (Sharma e

Blomstermo, 2003). Os contatos efetivados com membros de outras

organizações a elas conectados são importantes para as Born Globals, pois

por essa rede de conhecimento circula grande volume de informações.

À medida que se colocam em diferentes mercados, as Born Globals vão

se tornando mais conhecidas. Como essas empresas vendem normalmente

produtos e serviços baseados em princípios científicos, a proliferação de seus

produtos no mercado as legitimam, tornando-as confiáveis (Sharma e

Blomstermo, 2003).

Portanto, as empresas do tipo aqui estudado geralmente possuem

várias conexões fracas, que são mais dinâmicas e mais baratas de serem

mantidas. Por meio delas, as Born Globals desenvolvem conhecimento

internacional e capacidade de absorção, construindo espécies de tentáculos

nos mercados externos (Sharma e Blomstermo, 2003).

3. BORN GLOBALS E EMPREENDEDORISMO

As Born Globals estão intimamente relacionadas com

empreendedorismo. A literatura apresenta quatro principais atributos presentes

nos empreendedores. São eles: capacidade de inovar, que diz respeito à

criatividade e atuação em todos os setores; capacidade de controlar, o que

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 64

requer autoconfiança; propensão a assumir riscos e nível de energia

(Gabrielsson e Kirpalani, 2004).

Quase todos os empreendedores podem ser enquadrados no espectro

Schumpeteriano. Além disso, todos os empreendedores possuem capacidade

de inovação. Os líderes das Born Globals se enquadram nesse conjunto de

características (Gabrielsson e Kirpalani, 2004).

É importante notar que há diferentes perfis de líderes e/ou gerentes,

com variados níveis de interação com o ambiente organizacional. Após

entrevistas e questionários, Pitcher (1997) identificou três arquétipos distintos, os

quais definem o caráter fundamental da pessoa: artistas, artesãos e

tecnocratas.

O artista é um líder visionário. Em termos de comportamento, pode-se

dizer que age de forma empreendedora e destemida. Seu carisma é excitante

e usualmente envolve as pessoas ao seu redor. É também imprevisível e isto

reflete bastante sua forma de pensar, pois é sempre aberto a novas ideias e

possibilidades. É imaginativo, sonhador e intuitivo. O artista possui um alto grau

de criatividade. Ele precisa quebrar com os padrões convencionais de

sabedoria. Além disso, ele tem perspectiva de longo-prazo, uma visão que

muitas vezes é indefinida e só se torna clara após a ação (Pitcher, 1997).

Quanto ao artesão, para ele existe uma maneira de lidar com cada

tipo de problema, de acordo com cada pessoa. Deve-se avaliar o tipo de

problema e selecionar a melhor maneira de agir. Caso algo dê errado, a falha

está no julgamento errado do problema. Não existe uma única ferramenta

universal para todos os tipos de pessoas e problemas (Pitcher, 1997).

Sem que entremos no arquétipo que Pitcher definiu como tecnocrata, é

possível inferir que os líderes de Born Globals, pelas características peculiares

inerentes a esse tipo de empresa, tendem a apresentar traços que mesclam

parte do perfil artista e parte do artesão. É de se imaginar que a balança se

incline mais para o lado do arquétipo de artista.

As Born Globals, por não terem uma estrutura formada, uma retaguarda

administrativa consistente, conforme grande parte das empresas que se

internacionalizam de forma progressiva e gradual, requerem líderes ágeis,

atentos, astutos, ambiciosos, apenas para listar algumas das virtudes deles

demandadas. Lançar-se no mercado global, empreender, sem que isso se dê

de forma paulatina, é algo que requer múltiplas habilidades.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 65

4. FORMA DE ENTRADA NOS MERCADOS INTERNACIONAIS

Considerando que as Born Globals normalmente possuem poucos

recursos para investir, é interessante fazer uma análise a respeito de como

essas empresas conseguem atingir, com seus produtos e serviços, mercados de

diferentes países em curto espaço de tempo. Vale salientar que comumente

as Born Globals não fazem pesquisas de mercado formais, pois não têm rotinas

de análise dessas informações (Sharma e Blomstermo, 2003).

Os gestores das Born Globals, ao selecionar mercados potenciais para a

entrada e atuação de suas empresas, bem como a forma que se dará essa

entrada, o fazem com base em conhecimentos adquiridos e acumulados,

quer internamente na própria empresa, quer por consequência de know-how

de seus parceiros. O estoque de conhecimento contido nas Born Globals

influencia sua escolha sobre quais mercados internacionais entrar e de que

modo fazê-lo (Sharma e Blomstermo, 2003).

Neste ponto é importante retomar a questão das conexões existentes

entre as Born Globals e seus parceiros, pois este parece ser realmente um fator

decisivo para o bom andamento desse tipo de empresa: suas parcerias,

quantidade e qualidade. É por meio de suas conexões que as Born Globals

obtêm informações a respeito dos clientes e ficam sabendo se qualidade,

confiança ou outros são os atributos mais importantes, caso a caso (Sharma e

Blomstermo, 2003).

Portanto, as Born Globals parecem não ter rotinas fixas a respeito de

como selecionar e entrar em mercados internacionais. Ao se depararem com

as oportunidades que surgem, elas avaliam caso a caso e procuram firmar

alianças.

Esta forma de atuação e expansão das Born Globals é possível devido

às mudanças verificadas no mundo dos anos 1970 até os dias de hoje. A

liberalização de mercados, a verdadeira revolução dos meios de

comunicação, fazendo com que as distâncias mundiais se encurtassem

sobremaneira, são aspectos que, de certa forma, podem até ter conduzido

empresas que nem visavam se enquadrar neste modelo de

internacionalização, a tornarem-se Born Globals. Não se pode ignorar o

contexto em que as Born Globals surgiram (Andersson e Wictor, 2001).

Em primeiro lugar, deve-se atentar para a liberalização das regulações

no mundo dos negócios, para os investimentos internacionais e para as

movimentações de capitais ocorridas nos últimos 15 anos, o que reduziu os

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 66

obstáculos para que as empresas se lançassem internacionalmente. Em

segundo, houve avanços significativos em tecnologias de informação e

comunicação. A redução dos custos de comunicação, a maior facilidade de

transmitir dados e acessar informação globalmente “encolheram” o mundo e

“aceleraram” o tempo. Um terceiro aspecto vem do papel crucial exercido

pela inovação tecnológica e fusões de tecnologias. Finalmente, há maior

facilidade de as companhias acessarem informações sobre mercados

externos. Nos dias de hoje, a internet e agências governamentais

disponibilizam as informações básicas de que as empresas necessitam para

conseguir os seus primeiros contatos no exterior. Além disso, há um grande

número de pessoas com qualificações internacionais, o que ajuda na

aquisição de conhecimento internacional, suplementando a fraqueza quanto

ao conhecimento advindo da experiência (Simões e Dominguinhos, 2001).

É interessante apresentar, ainda, algumas características que Sharma e

Blomstermo apontam, no que diz respeito à forma de internacionalização das

Born Globals. Segundo os autores:

Elas não têm como hábito iniciar seu movimento internacional rumo a

mercados líderes;

Improvisam, adaptam-se, demonstram grande disposição para

aprender a respeito das necessidades dos clientes, consumidores e dos

canais de distribuição locais; e

Não há uma maneira estabelecida segundo a qual as Born Globals

selecionam clientes estrangeiros; trata-se de um processo de

improvisação, de tentativa e erro.

5. ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELAS BORN GLOBALS

Merece ser destacada no estudo das Born Globals a questão da

estratégia adotada por essas empresas, cuja principal característica é

crescimento internacional rápido, verificado logo no início de suas vidas.

Nas pesquisas de diferentes publicações acerca das Born Globals,

alguns autores colocam-se no sentido de que essas empresas não seguem

nenhuma forma preestabelecida de operação, havendo grande variação nas

atuações de diferentes Born Globals, e afirmam que elas não se enquadram

nos modelos já existentes de internacionalização.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 67

Entretanto, Autio, Arenius e Lummaa (2002), os dois primeiros da

Universidade de Helsinque, na Finlândia, e o último, da McKinsey & Company,

desenvolveram um modelo teórico que foca nas empresas que se

internacionalizam cedo em sua existência, e de forma acelerada. O modelo

por eles desenvolvido distingue entre profundidade, distância e diversidade

das atividades internacionais dessas firmas, além da velocidade com que seus

processos de internacionalização ocorrem em relação a essas três dimensões.

De forma sucinta, a profundidade diz respeito ao número de funções de

canais de valor estabelecidos pela companhia que está se

internacionalizando em cada um dos seus mercados-alvo. A dimensão

distância refere-se à distância psicológica ou geográfica em relação aos

mercados que a firma que se internacionaliza consegue alcançar. E a

diversidade trata do número de modos de entrada empregados pela firma

que está se internacionalizando de forma rápida.

O esqueleto do modelo teórico desenvolvido pelos autores contempla

uma combinação entre as dimensões profundidade, distância e diversidade,

conforme esquema a seguir:

Embora tenham elaborado o modelo teórico acima apresentado,

Autio, Arenius e Lummaa reconhecem a dificuldade de generalizar suas

conclusões. Eles comentam a existência de diferentes tipos de Born Globals,

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 68

afirmando haver empresas com processos de internacionalização bastante

rápidos, mas com diferentes objetivos e dimensões. Porém, não resta dúvida

de que é bastante positiva a contribuição de seu trabalho, ao explicar que

ponderando os recursos das empresas pelas diferentes dimensões propostas

formam-se as mais variadas estratégias de atuação.

Uma outra abordagem quanto à estratégia utilizada pelas Born Globals

para atingirem seus objetivos diz respeito aos canais por meio dos quais elas

atingirão seus mercados-alvo. Gabrielsson e Kirpalani (2004) sugerem que as

empresas multinacionais, ou transnacionais, podem atuar tanto como

integradoras, quanto como distribuidoras dos produtos e serviços fornecidos

pelas Born Globals. Evidentemente essas relações entre as multinacionais e as

Born Globals teriam que atender aos interesses de ambas e serem

consideradas estratégicas por ambas, cada uma por seus motivos.

Além disso, outros canais vistos como necessários para que as Born

Globals cresçam e adquiram espaço no mercado são os proveniente das

redes de parceiros e a internet (Gabrielsson e Kirpalani, 2004). Os autores

afirmam que diferentes estratégias podem ser construídas por meio da

combinação de dois ou mais desses canais pelas Born Globals.

6. CONCLUSÃO

As empresas que já nascem voltadas para mercados internacionais,

independentemente de distâncias geográficas ou psicológicas, e apresentam

rápido crescimento no que diz respeito à internacionalização, são um rico foco

de estudos. Ao não se enquadrarem nos modelos de internacionalização

reconhecidos, essas empresas despertam curiosidade e percebe-se um

movimento no sentido de tentar compreender o que as torna tão singulares.

Dos estudos já existentes, pode-se concluir que as Born Globals

normalmente apresentam processos de internacionalização baseados no

conhecimento e no aprendizado por meio de redes, onde se ligam a outras

empresas por meio de conexões fracas (não rígidas), e conseguem adaptar

suas estratégias de internacionalização às necessidades do mercado. Para

elas é importante que os relacionamentos com firmas internacionais, no

mercado doméstico ou fora, se iniciem o quanto antes.

Por fim, sem dúvida trata-se de um tema bastante interessante,

relativamente novo, para o qual não se encontra um arcabouço teórico

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 69

definitivo e consolidado que explique as generalidades desse tipo de

empresa. É um tema merecedor de aprofundamentos e maior exploração.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSSON, Svante; WICTOR, Ingemar. Innovative international strategies in

new firms born globals. Nordic Workshop in International Business, Idoborg,

Suécia, 2001.

AUTIO, Erkko; LUMMAA, Heikki; ARENIUS Pia. Emergent "born globals": crafting

early and rapid internationalization strategies in technology-based new firms. In:

Annual International Conference of the Strategic Management Society, 22.,

França, 2002.

GABRIELSSON, Mika; KIRPALANI, V.H. Manek. Born globals: how to reach new

business space rapidly. International Business Review, v. 13, n. 5, p. 555-571,

2004.

KNIGHT, John; BELL, Jim; McNAUGHTON, Rod. “Born globals”: old wine in new

bottles? Australian and New Zealand Marketing Academy Conference,

Auckland, New Zealand, 2001.

PITCHER, Patricia. Artists, craftsmen and technocrats: the dreams, realities and

illusions of leadership. 2nd ed. Toronto: Stoddart, 1997.

SIMÕES, Vítor Corado; DOMINGUINHOS, Pedro Miguel. Portuguese born globals:

an exploratory study. In: EIBA Conference at ESCP-EAP, 27., Paris: EIBA, 2001.

SHARMA, D. Deo; BLOMSTERMO, Anders. The internationalization process of

born globals: a network view. International Business Review, v. 12, n. 6, p. 739-

753, 2003.

ABSTRACT

The Born Globals are those companies

that are born focused on international

operations. Are usually firms that sell

products and services other than those

already existing, related to knowledge-

intensive sectors. The network through

which this type of business connects with

the market is of fundamental importance,

as well as the type of connection it

establishes with other firms. The Born

Globals are closely related to

entrepreneurship and they require agile,

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 61-70 2010 70

alert, astute and ambitious leaders. The

stock of knowledge contained in the Born

Globals influence their choice about

which markets to enter and how to do it.

This is a relatively new and wide field of

research.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 71

SERIA A ARACRUZ CELULOSE UMA BORN GLOBAL?

Caio Bianco Peres

RESUMO

O fenômeno da internacionalização

precoce das empresas (International New

Ventures ou Born Globals) parece ser o

resultado de um conjunto de mudanças

recentes no contexto global. Entretanto,

antes mesmo deste ciclo recente de

empresas que se internacionalizam

rapidamente, outras empresas também o

fizeram com sucesso, como é o caso da

Aracruz Celulose. Neste trabalho buscou-

se identificar na literatura as

características e fatores relacionados à

internacionalização precoce das

empresas e avaliar se os mesmos

explicariam o processo de interna-

cionalização da Aracruz Celulose.

Palavras-chave: Aracruz Celulose,

processo de internacionalização, Born

Globals

1. INTRODUÇÃO

O fenômeno da internacionalização precoce das empresas

(International New Ventures ou Born Globals) parece ser o resultado de um

conjunto de mudanças recentes no contexto global. Entretanto, antes

mesmo deste ciclo recente de empresas que se internacionalizam

rapidamente, já existiram empresas que também o fizeram com sucesso,

como é o caso da Aracruz Celulose.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 72

Este trabalho tem como objetivo identificar na literatura os fatores

relacionados à internacionalização precoce das empresas e avaliar se

explicariam o processo de internacionalização da Aracruz Celulose.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Uppsala, International New Ventures e Empreendedorismo

Considerada uma das principais correntes teóricas da pesquisa em

internacionalização de empresas, o modelo de internacionalização de

Uppsala (JOHANSON e VAHLNE, 1977) busca explicar o processo pelo qual as

empresas partem para o mercado internacional. Tal modelo assume, como

premissa básica, que o principal obstáculo para a internacionalização é a

falta de conhecimento, sendo que este é adquirido sobretudo por meio da

experiência das operações no exterior. Além disso, considera que a firma

busca primeiramente adquirir uma posição doméstica estável antes de iniciar

suas atividades internacionais.

A falta de conhecimento inicial e a busca por minimizar os riscos

levariam as empresas a apresentar um processo de internacionalização que se

desenvolve em estágios graduais e sequenciais, seguindo uma série de

decisões de comprometimento incremental, ou seja, a experiência

internacional leva a um aumento gradual na escala das operações e na

integração com o ambiente de mercado. Os seguintes estágios graduais de

comprometimento internacional são esperados (JOHANSON e VAHLNE, 1977):

1. Nenhuma atividade exportadora regular;

2. Exportação via representantes independentes;

3. Estabelecimento de subsidiária de vendas;

4. Estabelecimento de subsidiária de produção.

Segundo este modelo, uma firma realizaria comprometimentos

adicionais feitos em concordância com estes estágios incrementais propostos,

a menos que tenha uma grande quantidade de recursos e/ou as condições

de mercado sejam estáveis e homogêneas, ou a firma tenha muita

experiência de outros mercados com condições similares (JOHANSON e

VAHLNE, 1977).

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 73

Em contraposição à teoria de internacionalização de Uppsala, de

acordo com Oviatt e McDougall (1994) ao final dos anos 1980 começou a ser

notado um novo e crescente fenômeno: o estabelecimento de novos

empreendimentos desde o princípio focados no mercado internacional. Tais

autores chamam estes empreendimentos de International New Ventures,

definindo-os como empresas que buscam desde o começo derivar suas

vantagens competitivas da utilização de recursos de diversos países e da

venda de produtos para diversos países. Adicionalmente, consideram que

estas firmas se iniciam com uma estratégia internacional proativa, em

contraste com a teoria de processo de internacionalização de Uppsala

(JOHANSON e VAHLNE, 1977, 1990), que considera que as firmas se

internacionalizam somente após um período de maturação doméstica, num

processo incremental e avesso ao risco de ajustes a mudanças na firma e no

ambiente.

O surgimento destas empresas focadas, desde o princípio, no mercado

internacional, parece ter sua origem em mudanças ambientais ocorridas nas

últimas duas décadas. Embora o tamanho continue a ser uma importante

fonte de vantagem competitiva para muitas empresas multinacionais,

recentes alterações econômicas (aumento no fluxo de capitais financeiros),

tecnológicas (aumento da qualidade, velocidade e eficiência da

comunicação e transporte entre países) e nas condições sociais (crescente

número de executivos internacionais e maior mobilidade de capital humano),

tornaram possível o estabelecimento de novas fontes de vantagens

competitivas (OVIATT e MCDOUGALL, 1994). Segundo estes mesmos autores,

tais mudanças permitiriam que mesmo firmas novas e com recursos escassos,

mas possuidoras de recursos singulares e valiosos, focassem desde o início no

mercado internacional.

Segundo Oviatt e McDougall (1994), o modelo de internacionalização

de Uppsala (JOHANSON e VAHLNE, 1977, 1990) não conseguiria explicar a

internacionalização não incremental das International New Ventures porque

estas firmas, em primeiro lugar, possuiriam poucos recursos. Em segundo lugar,

seus mercados estariam entre os mais voláteis. Finalmente, novos

empreendimentos têm, por definição, pouca ou nenhuma experiência no

mercado. Dessa forma, estas firmas não se encaixariam nas exceções

estabelecidas pelo modelo de Uppsala, o qual requereria, assim, mais do que

apenas pequenos ajustes para conseguir explicar o processo de

internacionalização das International New Ventures.

Tal visão não é compartilhada por Autio (2005), que considera que o

trabalho de Oviatt e McDougall (1994; 1995) não é contraditório ao modelo de

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 74

Uppsala (JOHANSON e VAHLNE, 1977, 1990), correspondendo, de fato, a um

importante complemento a este modelo. Segundo ele, o modelo de Uppsala

focaria no próprio processo de internacionalização depois de começado, não

elaborando como seria o início deste processo, enquanto que o modelo das

International New Ventures buscaria explicar como o processo precoce de

internacionalização destas firmas seria possível, ou seja, o que possibilitaria o

início da internacionalização das mesmas. Assim, apesar de questionar

diversas das premissas originais do modelo de Uppsala, principalmente a

postura de aversão ao risco, Autio (2005) argumenta que ambos os modelos

poderiam ser combinados para criar um modelo de internacionalização mais

completo, sendo que o modelo das International New Ventures estaria

principalmente focado no início do processo de internacionalização.

De fato, Oviatt e McDougall (2005) consideram que o modelo de

Uppsala é focado num comportamento entre-fronteiras tradicional, não num

comportamento empreendedor, o qual tem se mostrado cada vez mais

comum nos últimos anos, principalmente com o advento de avanços

tecnológicos nos transportes, comunicação e informática e de mudanças

econômicas relacionadas com a globalização dos mercados, as quais agem

como redutores da aversão ao risco, na medida em que reduzem as

especificidades dos mercados, possibilitando a formação de novos

empreendimentos que se internacionalizam rapidamente.

Madsen (1997) identifica que uma precondição para o surgimento das

International New Ventures (ou Born Globals, em sua terminologia) é a

crescente capacidade dos recursos humanos em explorar as mudanças nos

mercados internacionais devido ao dramático aumento da experiência

internacional das pessoas, principalmente dos empreendedores. Segundo ele,

para entender o fenômeno das International New Ventures é fundamental

entender o histórico dos empreendedores, pois as experiências passadas dos

tomadores de decisões (empreendedores) possuem uma grande influência no

caminho de internacionalização seguido pelas empresas. Fatores como

educação, experiência vivida no exterior e experiência em outros empregos

voltados ao exterior, moldam a mentalidade do empreendedor e reduzem as

distâncias psíquicas. Isto implica que possivelmente o empreendedor não veja

as fronteiras nacionais como obstáculos e que considere os mercados

internacionais cheios de oportunidades a serem exploradas.

Com base neste novo cenário ambiental, Madsen (1997) argumenta

que o trade-off existente no modelo de Uppsala entre crescimento e lucro no

longo prazo, e a busca por manter um baixo nível de risco continua válido,

entretanto, para uma International New Venture, tanto a percepção de risco

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 75

como o grau de especificidade de conhecimento do mercado internacional

são provavelmente menores. Adicionando a isso uma possível experiência

internacional prévia do empreendedor, tem-se que a decisão de novos

comprometimentos internacionais não necessariamente tem que ser lenta e

incremental.

Fundamentado num estudo de caso de três empresas suecas,

Andersson (2000) verificou que a diferença de comportamento entre duas das

empresas somente podia ser explicada através da incorporação dos

empreendedores e da teoria de empreendedorismo na análise.

Adicionalmente, verificou que o papel dos empreendedores, frequentemente

associado a empresas pequenas, também parece ter grande importância

para empresas maiores.

Finalmente, Luostarinen e Gabrielsson (2002) realizaram um estudo em

20 empresas, cujo resultado claramente indicou que as conversas a respeito

da morte da abordagem tradicional de estágios de internacionalização

(JOHANSON e VAHLNE, 1977, 1990) na pesquisa, ensino e prática são

altamente exageradas. Muitas das International New Ventures acabam sendo

forçadas a seguir alguns (ou muitos) destes estágios, porque muitos dos riscos e

incertezas ainda existem. Em adição à falta de conhecimento, a falta de

recursos aparenta ser uma realidade nos negócios, pelo menos durante as

recessões, as quais continuarão a existir para contrabalancear o poder dos

momentos de boom.

De fato, algumas das International New Ventures mais maduras

realmente procederam de forma acelerada, saltando estágios ou até mesmo

progredindo de forma reversa à das empresas tradicionais, mas em

compensação muitas outras seguiram alguns dos estágios tradicionais de

internacionalização. Assim, é importante reconhecer que o modelo de

Uppsala ainda possui um grande poder explanatório (LUOSTARINEN e

GABRIELSSON, 2002).

2.2 Fatores Associados à Internacionalização Precoce

Com base em estudos empíricos, Madsen (1997) estabelece uma série

de proposições associadas ao fenômeno das Born Globals (International New

Ventures) e que ele considera que deveriam ser examinadas em estudos

futuros, para melhor compreender os fatores originadores e as características

deste fenômeno:

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 76

1. O antecedente de uma Born Global está em um ou mais

empreendedores com forte experiência internacional, e talvez

também num forte produto.

2. A extensão do fenômeno das Born Globals está positivamente

associada com o grau de internacionalização do mercado.

3. Em comparação com outras firmas exportadoras, as Born Globals

são mais especializadas e orientadas a nicho, com produtos que são

ou mais personalizáveis ou mais padronizáveis.

4. As localizações geográficas das atividades de uma Born Global são

determinadas pela experiência passada dos fundadores e parceiros,

bem como por fatores econômicos ou relacionados aos clientes.

5. Em comparação com outras firmas exportadoras, as Born Globals se

utilizam mais frequentemente de competências complementares

buscadas em outras firmas; com relação a seus canais de

distribuição, elas mais frequentemente se utilizam de estruturas

híbridas (relacionamentos próximos, rede de parceiros, joint ventures

etc.)

6. O crescimento de uma Born Global está positivamente associado a

fortes habilidades de inovação, incluindo a habilidade de obter P&D

efetivo, bem como acesso a canais de distribuição, frequentemente

em parcerias com colaboração em relações internacionais que

envolvem esforços reiterados, intensos e integrados em nações.

7. Firmas em nações com mercados domésticos pequenos têm maior

propensão a se tornar Born Globals do que firmas de nações com

mercados dométicos grandes. Assim, Born Globals de nações

pequenas podem depender de muitos diferentes produtos,

enquanto Born Globals de grandes nações podem estar limitadas a

indústrias de alta tecnologia. Além disso, nações com alto número

de imigrantes podem ter uma proporção mais alta de Born Globals.

Oviatt e McDougall (1995) identificam um conjunto de seis perguntas

que empreendedores, investidores e executivos explorando oportunidades

deveriam fazer para determinar se o negócio sendo considerado deveria ser

um empreendimento global ou doméstico:

1. Os melhores recursos humanos estão dispersos entre diversos países?

2. Financiamento estrangeiro seria mais fácil ou mais indicado?

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 77

3. Os clientes-alvo requerem que o empreendimento seja

internacional?

4. A rápida comunicação global leverá a uma rápida resposta dos

competidores?

5. Vendas globais são necessárias para comportar o

empreendimento?

6. A inércia doméstica será danosa se a internacionalização for

postergada?

Por sua vez, Rialp et al. (2005) identificam na literatura um conjunto de

10 fatores internos ou externos à firma que parecem criar ou facilitar o

fenômeno de internacionalização precoce:

1. Visão gerencial global desde a concepção.

2. Alto grau de experiência internacional prévia dos administradores.

3. Comprometimento da administração com a internacionalização.

4. Forte uso de redes pessoais e de negócio (networking).

5. Conhecimento do mercado e compromisso com o mercado.

6. Ativos intangíveis únicos baseados no gerenciamento do

conhecimento.

7. Forte criação de valor através da diferenciação do produto,

tecnologia de ponta, inovação tecnológica (usualmente associado

com um maior uso de TI) e liderança em qualidade.

8. Foco em nicho, estratégia internacional proativa em mercados

geograficamente espalhados no mundo desde o início.

9. Forte orientação ao cliente e relacionamento próximos com um

grupo de clientes estreitamente definido.

10. Flexibilidade para adaptar-se a mudanças rápidas nas condições e

circunstâncias externas.

Finalmente, Zucchella et al. (2007) determinaram, através de uma

pesquisa de campo com uma amostra de 144 empresas, que a

internacionalização precoce é resultado de um complexo mix de fatores:

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 78

1. Visão dos fundadores, a qual depende da educação e experiência

prévia.

2. Comprometimento, o qual depende dos recursos humanos e

financeiros alocados ao processo de internacionalização desde a

concepção da firma.

3. Capacidade, a qual depende da qualidade das experiências

prévias dos fundadores. Acesso a competências externas (gerentes,

consultores, associações, conhecimento coletivo do cluster local)

podem ser necessários.

4. Relacionamentos, os quais dependem principalmente do sistema de

vínculos desenvolvidos pelos fundadores e equipe gerencial, sendo

significativamente relacionado ao item anterior (capacidade).

2.3 Perfil de uma International New Venture

O perfil de empresa Born Global ou International New Venture tem sido

frequentemente associado a empresas pequenas e de alta tecnologia. De

acordo com Rasmussen and Madsen (2002), as Born Globals tipicamente são

firmas que produzem produtos de nicho de alta tecnologia, os quais as levam

a se internacionalizar para obter o benefício da vantagem de ser first-mover.

Já Luostarinen e Gabrielsson (2002) identificam cinco tipos de negócio

que estariam mais frequentemente associados às International New Ventures:

1. Negócios de alta tecnologia.

2. Negócios de design avançado.

3. Negócios de serviço de alta qualidade.

4. Negócios de know-how único.

5. Negócios de sistemas altamente sofisticados.

Entretanto, Rialp et al. (2005) verificaram na literatura que, apesar de a

internacionalização precoce estar fortemente relacionada com a emergência

de novas tecnologias, cada vez mais este comportamento parece estar

acontecendo num número de setores industriais e de serviço, mesmo naqueles

não considerados altamente tecnológicos.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 79

3. HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DA ARACRUZ CELULOSE

3.1 Da Guerra aos Negócios: A história do Fundador

Erling Lorentzen, nascido na Noruega em 1923, é o sexto filho de uma

família extensa, que ele mesmo classifica como uma família normal que

procurou levar uma vida como tal. Com o início da Segunda Guerra Mundial,

Erling alista-se como voluntário, mas devido à pouca idade (17 anos) vai atuar

em uma força militar clandestina de combate aos nazistas. Depois de fugir dos

alemães, Erling é treinado na Inglaterra e retorna para a Noruega para liderar

uma comunidade isolada no interior do país como exército clandestino. Com

o fim da ocupação, o jovem líder foi considerado herói nacional por ter

comandado a legião de 800 combatentes e desativado uma instalação

nazista sob suspeita de desenvolver uma bomba nuclear.

Após a Guerra, Lorentzen, com 22 anos, sente vontade de buscar mais

conhecimento e, em função das suas realizações durante a guerra, é aceito

no MBA de Harvard, mesmo sem ter cursado uma faculdade. Após os estudos,

Erling Lorentzen retorna ao seu país para trabalhar na empresa de navegação

de sua família e, devido à rede de relacionamentos, acaba por adquirir a

operação de distribuição de gás de cozinha da Esso no Brasil. Com o novo

empreedimento, Erling Lorenzen e a princesa da Noruega, com quem

acabara de se casar, mudam-se para o Brasil em 1954.

Lorentzen afirma que teve de aprender a fazer negócios no Brasil. Para

isso, destaca a necessidade de ser muito observador, de entender o que

realmente está por trás das mudanças políticas e econômicas e de nunca

aderir às ondas de otimismo ou pessimismo dos brasileiros. O sucesso nos

negócios abriu portas para novos empreendimentos. Numa dessas

oportunidades, dois amigos que exportavam minério de ferro para o Japão

ofereceram a Lorentzen a oportunidade de combinar o frete com alguma

carga mais leve, no caso, madeira para as fábricas de celulose japonesas.

Logo quando começou a estudar a indústria de celulose, Lorentzen

descobriu que a madeira, em contato com a poeira de ferro, não servia para

a produção da fibra. Mas o conhecimento adquirido sobre o processo

produtivo o convenceu de que a produção no Brasil, a partir do eucalipto,

teria grande vantagem sobre os demais concorrentes mundiais. Lorentzen

constatou também que para ter viabilidade econômica uma fábrica

necessitava de altíssima escala. Então, com um projeto de uma planta para

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 80

400 mil toneladas por ano (a maior do mundo à época), saiu em busca de

parceiros.

3.2 Formação e Fase Inicial de Crescimento (1967–1985)

Para construir a Aracruz Celulose eram necessários US$ 650 milhões.

Com um grupo de empresários brasileiros Erling Lorentzen conseguiu capitalizar

a formação das primeiras reservas florestais e em 1967 fundou a Aracruz

Florestal. A futura fábrica ainda precisava de mais capital e Lorentzen obteve

incentivos fiscais para o empreendimento, bem como outra contribuição do

governo veio por meio do BNDES. Apesar do apoio governamental, o

empresário preferia trabalhar com capitais privados e saiu pelo mundo a fim

de angariar investidores. Finalmente, encontrou algum apoio financeiro na

American Tobacco, que no Brasil atuava sob a bandeira da Souza Cruz.

Com o sucesso nos primeiros cortes de eucalipto, em 1972, é fundada a

Aracruz Celulose com o capital formado por 40% do BNDES, 25% da Souza Cruz

e o restante de outros investidores nacionais comandados por Lorentzen. A

empresa começa a formar a plantação de eucalipto para abastecer a futura

planta e já em 1973 a empresa inicia um programa de pesquisa para

desenvolver variedades de eucalipto melhor adaptadas às condições

brasileiras. A Aracruz não só desenvolveu um eucalipto mais resistente a

pragas e que crescia mais rapidamente, como também inovou em técnicas

de cultivo que aumentavam significativamente a produtividade de suas

florestas.

Em setembro de 1978, é inaugurada a fábrica de celulose em Barra do

Riacho e em 1979, a produção é de 73% da capacidade nominal. O

investimento em tecnologia de produção de eucalipto continua sendo

prioridade na Aracruz. A empresa seleciona engenheiros e patrocina o

doutorado nos Estados Unidos para, em seu retorno, desenvolverem pesquisas

em suas florestas. Com isso, as sementes produzidas pela Aracruz começam a

ser procuradas por outras empresas.

Não completamente satisfeita com o sucesso de suas sementes, a

Aracruz passa a investir na tecnologia de clonagem de mudas. Nos primeiros

anos da década de 1980, a empresa segue ampliando a ocupação da

capacidade instalada e, a despeito do controle de preços para o mercado

interno exercido pelo governo, as exportações passam a ser a base das

vendas da empresa. A Aracruz desde o início preocupou-se com a base de

sustentação de seu crescimento. A localização da fábrica, ao lado da floresta

e a 1,5 km do porto, a abertura da Aracruz Trading, no Panamá, e da Santa

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 81

Cruz Urbanizadora, para a construção de uma cidade para alojar seus

empregados, permitem um rápido crescimento que culmina, em 1984, com o

início de um projeto de expansão da capacidade.

O crescimento da estrutura, apesar de rápido, não foi realizado de

forma desordenada. A Aracruz também se preocupava com a preparação

de seu quadro gerencial, investindo em processos de recrutamento,

treinamento e retenção. A empresa, por exemplo, aproveitava-se de

programas de estágios para a identificação e retenção de potenciais talentos,

fatos que são relatados em relatórios anuais da década de 1980.

A Aracruz crescia e também apresentava lucros, o lucro líquido sobre

vendas médio entre 1981 e 1985 foi de 26%. A empresa passou por duas

ampliações de capacidade nos anos de 1984 e 1985, chegando a 470 mil

toneladas de celulose produzidas. Nesses anos uma nova estrutura de gestão

é formalizada. A criação de um fundo de previdência para todos os

funcionários do grupo e de novos cargos e estrutura gerencial, utilizando-se

também de serviços de consultores externos, ajudou a preparação para a

expansão das vendas. Estas vendas eram fortemente baseadas em

exportações (74% da produção), usando incentivos do governo na forma de

benefícios fiscais e financiamentos à exportação. Além disso, a Aracruz criou

em 1985 a Portocel, em parceria com a concorrente Cenibra (nipo-brasileira),

adquirindo a concessão de uso privativo do porto especializado em celulose,

anteriormente operado pela Codesa. À época, desde 1979, havia dois

principais contratos de longo prazo de venda de celulose, modalidade de

venda preferida pela empresa, com a Procter and Gamble (Estados Unidos),

com a Wiggins Teape (Europa) e com a Pirahy (Brasil), pois este formato

garantia estabilidade de preços e de fluxos de entrega, escapando do

mercado spot.

4. ANÁLISE DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA ARACRUZ

Apesar de a Aracruz Celulose não ser uma empresa de um setor

tipicamente associado ao fenômeno das International New Ventures

(Rasmussen e Madsen, 2002; Luostarinen e Gabrielsson, 2002), é possível

verificar em sua trajetória elementos fortemente relacionados com este

fenômeno corroborando o ponto de vista de Rialp et al. (2005), que

verificaram a existência de International New Ventures em setores econômicos

menos associados com a alta tecnologia.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 82

Analisando pelo ponto de vista dos fatores determinantes da

internacionalização precoce que Zucchella et al. (2007) encontraram em sua

pesquisa, é possível verificar que a Aracruz Celulose apresenta todos estes

fatores:

1. Visão dos fundadores: é fortemente presente na história da Aracruz o

papel de seu fundador, Erling Lorentzen, o qual possuía uma baixa

aversão ao risco e uma visão voltada ao mercado exterior dada a

sua origem norueguesa, sua experiência com transporte marítimo e

à educação na Harvard Business School.

2. Comprometimento: desde a sua fundação a Aracruz se planejou e

se comprometeu a ser uma empresa exportadora, alocando a

maior parte de seus recursos humanos e financeiros neste sentido.

3. Capacidade: a experiência prévia do fundador da Aracruz (guerra,

transporte marítimo internacional, MBA em Harvard e imigração para

o Brasil) mostrou-se de extrema importância para o estabelecimento

da empresa. Além disso, a Aracruz frequentemente ao longo de sua

história buscou o acesso a competências externas pela contratação

de gerentes com experiência internacional e utilização de

consultores.

4. Relacionamentos: os vínculos formados pelo fundador da Aracruz,

ao longo de sua história, mostraram-se de extrema valia para a

fundação da Aracruz através da busca de financiamento no Brasil e

no exterior. Além disso, foram os seus contatos no Japão e na Europa

que possibilitaram grande parte do sucesso exportador inicial da

empresa.

Também é verificável na história da Aracruz a existência de muitos

dos fatores identificados na literatura por Rialp et al. (2005):

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 83

Fatores Presente na Aracruz

1. Visão gerencial global desde a

concepção. Sim

2. Alto grau de experiência internacional

prévia dos administradores. Sim

3. Comprometimento da administração com

a internacionalização. Sim

4. Forte uso de redes pessoais e de negócio

(networking). Sim

5. Conhecimento do mercado e

compromisso com o mercado. Sim

6. Ativos intangíveis únicos baseados no

gerenciamento do conhecimento.

Em parte, já que grande parte

da vantagem competitiva da

Aracruz advém de fortes estudos

no desenvolvimento de

tecnologia florestal.

7. Forte criação de valor através da

diferenciação do produto, tecnologia de

ponta, inovação tecnológica (usualmente

associado com um maior uso de TI) e

liderança em qualidade.

Em parte, já que grande parte

da vantagem competitiva da

Aracruz advém de fortes estudos

no desenvolvimento de

tecnologia florestal.

8. Foco em nicho, estratégia internacional

proativa em mercados geograficamente

espalhados no mundo desde o início.

Sim

9. Forte orientação ao cliente e

relacionamento próximos com um grupo

de clientes estreitamente definido.

Sim

10. Flexibilidade para adaptar-se a mudanças

rápidas nas condições e circunstâncias

externas.

Sim

5. CONCLUSÃO

Embora a Aracruz não seja uma empresa com o perfil de tamanho e

setor típicos de uma Born Global, e por ter se internacionalizado ainda na

década de 1970, portanto alguns anos antes de o fenômeno das Born Globals

começar a ser mais notado, a análise realizada por este trabalho parece

indicar que diversas das características e fatores que explicam a existência

das Born Globals, também parecem explicar o processo de interna-

cionalização de empresas mais antigas e de diferentes setores.

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 71-85 2010 84

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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perspective. Journal of International Studies of Management and Organization,

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AUTIO, Erkko. Creative tension: the significance of Ben Oviatt‟s and Patricia

McDougall‟s article “toward a theory of international new ventures”. Journal of

International Business Studies, v. 36, p. 9-19, 2005.

FUNDING UNIVERSE. Histórico da Aracruz Celulose S.A, Disponível em :

< http://www.fundinguniverse.com/company-histories/Aracruz-Celulose-SA-

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HARVARD BUSINESS SCHOOL (2000), Erling Lorentzen, Harvard Business School,

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HILGEMBERG, E. M.; BACHA C. J. A evolução da indústria brasileira de celulose

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LUOSTARINEN, Reijo; GABRIELSSON, Mika. Globalization and global marketing

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Management Executive, v. 9, n. 2, p. 30-43, 1995.

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internationalization of the firm. Journal of World Business, v. 42, n. 3, p. 268–280,

2007.

ABSTRACT

The phenomenon of early

internationalizing firms (International New

Ventures or Born Globals) seems to be the

result of a number of recent changes in

the global context. However, even before

this recent cycle of firms that rapidly

internationalize, other companies have

also internationalized with success, as is

the case of Aracruz Celulose. In this study,

the literature has been reviewed to

identify the characteristics and factors

related to the early internationalization of

firms and evaluate if they can explain the

internationalization process of Aracruz

Celulose.

AUTORES

Fernanda Chagas Borelli

Doutoranda em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ - Turma 2009

Mestre em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2007

Graduação: Economia (UFRJ)

E-mail: [email protected]

Luciana Velloso de Souza Araujo

Mestre em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2007

Graduação: Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (ECO/UFRJ)

E-mail: [email protected], [email protected]

Raquel Scrivano

Mestre em Administração de Empresas, COPPEAD / UFRJ - Turma 2007

Graduação: Comunicação Social (Publicidade e Propaganda)

E-mail: [email protected]

Ricardo Costa Vieira da Silva

Certificado em Gerenciamento de Projetos (PMP), PMI – 2009

Mestre em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ - Turma 2007, com

extensão na UCLA, EUA – 2008

Especialista em Administração de Empresas (FGVSP/EAESP) – 2006

Graduação: Engenharia de Computação (UNICAMP)

E-mail: [email protected]

Marcio Stern da Fonseca

Mestre em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma 2007

Graduação: Engenharia Metalúrgica (UFRJ e Administração (UERJ)

E-mail: [email protected]

Caio Bianco Peres

Ex-aluno do Mestrado em Administração de Empresas, COPPEAD/UFRJ – Turma

2007

Graduação: Engenharia de Computação (UNICAMP)

E-mail: [email protected]

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 1-89 2010 87

NORMAS PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS

1. OBJETIVO

Estimular e divulgar a produção acadêmica do corpo discente do COPPEAD,

constituída pelos alunos dos cursos latu sensu, mestrado e doutorado.

2. CARACTERÍSTICAS DOS TRABALHOS

Os trabalhos publicados nos Cadernos Discentes COPPEAD deverão ser

sempre inéditos, subdividindo-se em duas classes: original, quando apresenta

temas ou abordagens próprias e de revisão, quando resume, analisa e discute

informações já publicadas. Cada Caderno terá, em média, quatro artigos e

será publicado assim que quatro artigos sejam aprovados (não existirá

periodicidade).

Os trabalhos deverão cobrir os tópicos e práticas de Administração,

relacionados com os seguintes grandes temas:

a) Economia e Finanças;

b) Empreendedorismo;

c) Estratégia, Sistemas de Informação e Organizações;

d) Marketing;

e) Negócios Internacionais;

f) Operações, Logística e Tecnologia;

g) Planejamento e Controle.

3. SUGESTÕES DE TRABALHOS

a) Trabalhos de final de curso que tiveram, de preferência, conceito A ou

equivalente;

b) Revisões de literatura;

c) Teses e dissertações que não viraram artigo ou livro.

3.1 Exclusões

Não serão aceitos os trabalhos que forem análise de um caso didático.

4. NORMAS EDITORIAIS

O conteúdo deve ser semelhante, em forma, ao de um artigo a ser submetido

a qualquer revista ou congresso, não se exigindo, no entanto, a mesma

profundidade teórica ou empírica.

a) Os trabalhos deverão ser submetidos no formato pré-estabelecido no

parágrafo 4.1;

b) Os trabalhos poderão ser submetidos por um professor ou pelo próprio

aluno;

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 1-89 2010 88

c) Trabalhos submetidos pelo professor já deverão vir acompanhados do

formulário de avaliação proposto;

d) Trabalhos submetidos diretamente pelo aluno, serão posteriormente

avaliados pelo professor responsável pela disciplina ou então por um

professor indicado pelo Editor;

e) O Editor poderá solicitar a avaliação de um segundo docente (do Instituto

ou externo);

f) O Editor será escolhido pela Diretoria do Instituto, dentre os membros do

seu corpo docente;

g) Toda vez que o trabalho citar nomes de empresas os seguintes

procedimentos serão adotados:

• O Aluno deve indicar se a coleta de dados foi feita na empresa e, nesse

caso, solicitar a autorização da empresa para a publicação;

• O Professor que avalia o trabalho deve verificar se alguma empresa foi

citada ou se sua identificação é óbvia (nas duas situações, somente para

casos com dados primários);

• O Editor é responsável por verificar se a autorização foi dada (nos casos em

que o professor avaliador verificar que alguma empresa foi citada a partir

de dados primários);

• O Editor é responsável, com o auxílio do professor, de resolver os casos em

que o nome da empresa não tenha sido citado, mas a identificação seja

óbvia.

4.1 Estrutura dos trabalhos

Sugere-se que a estrutura do trabalho siga as seguintes recomendações:

a) Os trabalhos deverão ter a extensão máxima de 20 páginas incluindo notas

e referências bibliográficas;

b) Deverão estar em formato Microsoft Word for Windows;

c) O texto deverá ser apresentado em papel A4, margens a 3,0 cm, utilizando

caracteres em Futura LT BT, corpo 11, com, espaçamento múltiplo de 1,2

cm;

d) Apresentar em página separada: título do trabalho, nome completo do(s)

autor(es) acompanhado de breve curriculum mencionando profissão,

titulação acadêmica, vinculação institucional com endereço completo,

telefone, fax e e-mail;

e) Título: deverá ser breve e descritivo contendo palavras que representem o

conteúdo do texto;

f) Deverão conter um resumo em português, de aproximadamente 100

palavras, acompanhado da versão em inglês (abstract), ressaltando

objetivo, método, resultados e conclusões do trabalho;

g) Palavras-chave: três a cinco termos que expressem o conteúdo do texto,

com a devida versão em inglês;

h) Texto: deverá apresentar introdução expondo objetivos e metodologia,

desenvolvimento tratando da matéria de forma clara e objetiva e

conclusões, destacando os resultados obtidos. As seções e sub-seções

Cadernos Discentes COPPEAD, Rio de Janeiro, n° 33, p. 1-89 2010 89

deverão ser numeradas com títulos próprios evitando-se símbolos e demais

caracteres que não denotam estrutura hierárquica do texto;

i) Deverão conter referências bibliográficas relacionadas com o assunto,

seguindo as regras da ABNT;

j) As citações ao longo do texto deverão conter a fonte e serem

apresentadas seguindo o padrão sobrenome do autor, ano de publicação

e página. Exemplo: (BETHLEM, 1999, p. 3);

k) Apêndice: texto autônomo que complementa a argumentação principal;

l) Anexo: texto que serve de fundamentação, comprovação ou ilustração;

m) Notas deverão ser apresentadas em ordem progressiva ao longo do texto

com sua respectiva lista ao final do texto, localizadas depois das

referências bibliográficas.

Rua Pascoal Lemme, 355 - Ilha do Fundão CEP: 21941-918 - Rio de Janeiro - RJ Caixa Postal 68514

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