Folha Popular Lauro de Freitas- BA edição 22 - Fevereiro / 2012

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FOLHA POPULAR FOLHA POPULAR Lauro de Freitas - BA Edição 22 - Fevereiro / 12 e-mail: [email protected] www.jornalfolhapopular.blogspot.com Governo municipal fará consulta ao movimento hip hop para discutir propostas contra violência na periferia. Cultura x violência Em Lauro de Freitas urge a necessidade de um diálogo mais intenso entre a juventude negra e a Administração Pública local. A violência, somada ao aumento do consumo de drogas e outros entorpecentes tem sido um desafio cotidiano para organizações sociais e o governo. A Posse de Conscientização e Expressão (PCE) Movimento Hip Hop, Campanha Reaja, Quilombo Xis e o CEN (Coletivo de Entidades Negras), terão no mês de março uma audiência com a prefeita Moema Gramacho, para apontar possíveis estratégias de combate à violência nas áreas de grande incidência. Para a juventude negra de Lauro de Freitas a ferramenta social mais eficaz contra as drogas e todas as outras formas de violência é a cultura. 'A cultura é libertária e transformadora'. Quando falamos de cultura hip hop mergulhamos ainda mais profundamente nesse universo de jovens em situação de risco, jovens estes que são “alvo” prioritário dos programas institucionais de combate à violência, como por exemplo o Programa Pacto pela Vida, do Governo Estadual. Pacto Pela Vida Nossos questionamentos à cerca do Pacto pela Vida são sim, dignos de análise e debates. E porque não? Quando vejo a propaganda institucional apresentar artistas na condição de viciados pelos seus talentos, reporto-me, imediatamente, à realidade de nossas periferias. Para um viciado em crack, fica fácil alimentar seu vicio, já que a droga pode ser encontrada em qualquer esquina do seu bairro ao valor de R5,00 (cinco reais). No contra ponto, é extremamente difícil manter o vício em música e esporte tendo em vista que as ferramentas que viabilizam a produção dessas atividades não são tão populares e acessíveis como o crack. Assim sendo, o que nós propomos é apresentar um programa que tenha, em seu eixo central, a disponibilização dessas tecnologias sociais nos locais de maior índice de vulnerabilidade juvenil. Temos a inserção, vivemos no cotidiano e na condição de igual, temos crédito em nossa comunidade e, portanto, estamos aptos e legitimados a atuar. Em 2011 durante visita da ONU a Lauro de Freitas, apontamos a necessidade de potencializar as periferias a partir da cultura e suas diversidades. Lauro de Freitas pode ser uma referencia para o Brasil Nas minhas andanças pelo Brasil, observo e vejo o quanto é sólido o projeto político da juventude negra de Lauro de Freitas. Os dez anos de organização social da Posse PCE dão a esse grupo uma propriedade e acúmulo político, capazes de proporcionar esse tão esperado momento de se fazer representar politicamente. Lauro de Freitas pode ser um exemplo para a juventude do país. Sou testemunha do quanto esta juventude tem potencial cultural e político. Potencial esse que, inclusive, ajudou na eleição da prefeita Moema em 2004. O Hip Hop foi a primeira organização cultural a aderir ao projeto político do PT na cidade. A quantidade de grupos que se organizam nas comunidades é enorme, e comprova a capacidade de expansão da PCE que pode chegar, sim, ao parlamento municipal. A PCE participou ativamente na elaboração e formulação de propostas de políticas públicas no estado da Bahia, mostrando uma extraordinária capacidade critica e de construção. Um fato que também caracteriza a PCE é a abertura que essa organização tem, para se relacionar com outros movimentos sociais/culturais, outros ritmos e expressões. Hamilton Oliveira Dj Branco Comunicador Social Coordenador CMA Hip Hop algumas reflexões sobre cultura hip hop, UPPs e o programa Pacto pela Vida Ricardo Andrade Articulador do Mov. Hip Hop Lauro de Freitas

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Nesta edição trazemos uma discussão a respeito da política pública de segurança e a relação que o movimento social negro estabele com a cultura e o papel que esta exerce nas comunidades perifericas de nossa cidade.

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FOLHA POPULARFOLHA POPULARLauro de Freitas - BA Edição 22 - Fevereiro / 12 e-mail: [email protected]

www.jornalfolhapopular.blogspot.com

Governo municipal fará consulta ao movimento hip hoppara discutir propostas contra violência na periferia.

Cultura x violência

Em Lauro de Freitas urge a necessidade de um

diálogo mais intenso entre a juventude negra e a

Administração Pública local. A violência,

somada ao aumento do consumo de drogas e

outros entorpecentes tem sido um desafio

cotidiano para organizações sociais e o governo.

A Posse de Conscientização e Expressão (PCE)

Movimento Hip Hop, Campanha Reaja,

Quilombo Xis e o CEN (Coletivo de Entidades

Negras), terão no mês de março uma audiência

com a prefeita Moema Gramacho, para apontar

possíveis estratégias de combate à violência nas

áreas de grande incidência.

Para a juventude negra de Lauro de Freitas a

ferramenta social mais eficaz contra as drogas e

todas as outras formas de violência é a cultura.

'Acultura é libertária e transformadora'.

Quando falamos de cultura hip hop

mergulhamos ainda mais profundamente nesse

universo de jovens em situação de risco, jovens

estes que são “alvo” prioritário dos programas

institucionais de combate à violência, como por

exemplo o Programa Pacto pela Vida, do

Governo Estadual.

Pacto Pela Vida

Nossos questionamentos à cerca do Pacto pela

Vida são sim, dignos de análise e debates. E

porque não?

Quando vejo a propaganda institucional

apresentar artistas na condição de viciados

p e l o s s e u s t a l e n t o s , r e p o r t o - m e ,

imediatamente, à realidade de nossas

periferias.

Para um viciado em crack, fica fácil alimentar

seu vicio, já que a droga pode ser encontrada

em qualquer esquina do seu bairro ao valor de

R5,00 (cinco reais).

No contra ponto, é extremamente difícil

manter o vício em música e esporte tendo em

vista que as ferramentas que viabilizam a

produção dessas atividades não são tão

populares e acessíveis como o crack.

Assim sendo, o que nós propomos é

apresentar um programa que tenha, em seu

eixo central, a disponibilização dessas

tecnologias sociais nos locais de maior índice

de vulnerabilidade juvenil.

Temos a inserção, vivemos no

cotidiano e na condição de

igual, temos crédito em nossa

comunidade e, portanto,

estamos aptos e legitimados a

atuar.

Em 2011 durante visita da

ONU a Lauro de Freitas,

apontamos a necessidade de

potencializar as periferias a

partir da cultura e suas

diversidades.

Lauro de Freitas pode ser uma referencia para o BrasilNas minhas andanças pelo Brasil, observo e vejo o quanto é

sólido o projeto político da juventude negra de Lauro de

Freitas. Os dez anos de organização social da Posse PCE

dão a esse grupo uma propriedade e acúmulo político,

capazes de proporcionar esse tão esperado momento de se

fazer representar politicamente.

Lauro de Freitas pode ser um exemplo para a juventude do

país. Sou testemunha do quanto esta juventude tem

potencial cultural e político. Potencial esse que, inclusive,

ajudou na eleição da prefeita Moema em 2004. O Hip Hop

foi a primeira organização cultural a aderir ao projeto

político do PT na cidade.

Aquantidade de grupos que se organizam nas comunidades

é enorme, e comprova a capacidade de expansão da PCE

que pode chegar, sim, ao parlamento municipal.

A PCE participou ativamente na elaboração e formulação

de propostas de políticas públicas no estado da Bahia,

mostrando uma extraordinária capacidade critica e de

construção.

Um fato que também caracteriza a PCE é a abertura que

essa organização tem, para se relacionar com outros

movimentos sociais/culturais, outros ritmos e expressões.

Hamilton OliveiraDj Branco

Comunicador SocialCoordenador CMA Hip Hop

algumas reflexões sobre cultura hip hop, UPPs e o programa Pacto pela Vida

Ricardo AndradeArticulador doMov. Hip HopLauro de Freitas

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Itinga é hoje o maior núcleo urbano

populacional do município de Lauro de

Freitas, consequentemente demandaria

atenções especiais dos poderes públicos.

Entretanto e sobretudo, nos últimos anos,

assim como em Salvador e Região

Metropolitana, a única representação que

mais tem atuado no referido bairro é o

aparelho repressor do Estado. Este que,

por sua vez, desprovido de uma formação

pautada na questão racial como algo

preponderante aos direitos humanos “ao

vestir a farda, o policial negro se identifica

com o poder” ou seja, sai da condição de

oprimido e se transforma em opressor.

Espetáculos de barbárie tem levado o

terror pra dentro dessa comunidade por

meio de atos truculentos que se sucedem

diuturnamente em suas mais variadas

formas, seja por meio de violência:

simbólica, física ou psicológica. Essas

ações tem gerado todo um mal estar para

o população que já não sabe mais em

quem confiar.

O fato é que sob o pretexto de estar

combatendo o tráfico de drogas e a

vio lênc ia , vár ios jovens dessa

comunidade já tiveram os seus projetos

de vidas interrompidos por esse tipo de

incursões e morreram, vítimas do assédio

das forças de segurança e de Justiça. E é

muito importante dizer, ainda, que a

truculência da polícia não tem

conseguido reduzir a violência no bairro,

ao contrário. Estatísticas apontam para

um crescimento no número de

homicídios em toda a cidade. Sobretudo

nos fins de semana.

A ênfase na repressão é sem duvida uma

visão conservadora da Segurança

Publica, apoiada sobretudo pelas

corporações policiais, que insistem em

defender mais policiamento, mais

armamento, rigor e repressão, enquanto

que em contrapartida a isso, a sociedade

civil organizada, membros das religiões

de matriz africana, o movimento negro,

intelectuais e simpatizantes da causa

como um todo, acreditam em medidas

voltadas para problemas sociais tais

como: capacitação profissional, geração

de emprego e, sobretudo, mais educação,

cultura e esporte.

O momento é de mantermo-nos

mobilizados, para defendermos o

interesse coletivo no sentido de nos

colocarmos frente aos atos arbitrários de

RACISMO que vem ceifando vidas, de

modo particular dos “nossos jovens” que,

em como todo o Brasil, tem quase sempre

as mesmas características: são Pobres,

Negros e moradores da Periferia.

Nosso papel é recomendar e monitorar as

políticas públicas de enfrentamento ao

racismo, que são empreendidas pelo

Opressor. REAJA!

Tom França -Historiador / P.C.E /Instituto Búzios.

Pág - 02 FOLHA POPULAR Março - 12

FOLHA POPULARLauro de Freitas - Bahia

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Tels: (71) 8725-2639

ResponsávelRicardo AndradeYogi Nkrumah

ColunistasEdson CostaAilton França

Mara AzantewaHamilton Oliveira

FotografiaRodrigo Tavares

DiretoresLeidiane Alves

Ray CazalesRosana GaloSaory Brito

DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA

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Posse de Conscientização e ExpressãoMovimento Hip hop

Para além de UPPs, propomos UCPs

Segurança pública

Mara Azantewa - Rapper / Vivian A Olhasse - Produtora Cultural / Simone Gonçalves - Dançarina / Nany Nascimento - Poetiza / Rebeca Tárique - Cantora / Viviane Akuabá - Rapper /LeidianeAlves - Comunicadora / Rafael e Negro Ney - B Boy / Bamzay e Ju Cobra - Rappers / Yogi Nkrumah - Rapper / Kiko - Dj / Zidane - MC / Duendi 1º- Rapper / Jeferson Patrik - Grafiteiro /Rilk e Junior - Rapers / Chiclete - Dançarino / Marquinhos - Dançarino /Ananias - B Boy / Renato Lima -Ator / Rodrigo Tavares - Músico /AlexAndrade - Família Mazzoni

de unidades de polícia pacificadora para unidades de cultura da periferia

Parece que vivemos numa guerra emnossas comunidades. Toda semanatemos a informação que um morreu,outro tomou tiro ou que teve chacina narua do lado. Esse clima de guerra einsegurança nos obriga a manter aestratégia da unidade.Nos agentes culturais de nossascomunidades, precisamos entender que,nesse momento, não existe culturamelhor ou mais importante que outra.Todas as tribos, ritmologias e expressõesculturais, são aliadas dessa luta contra otráfico e a violência.Imagine uma guerra no meio do deserto,

sol escaldante e alguém traz água. Quemvai perguntar se a água é da marca Indaiáou Cristal? Nesse momento isso é o quemenos importa.É assim, também, em nosso cotidiano.Quando os homens encapuzados efortemente armados entram em nossascomunidades, para matar, eles nãoselecionam quem curte pagode, hip hop,rock, capoeira, etc...Somos todos jovens negros e as nossasparticularidades culturais não podem serum impedimento à nossa organizaçãosocial.Por isso vamos juntar nossos talentos em

prol da vida. Vamos propor ao governouma modelo de segurança pautado napreservação da vida. Um modelo onde orecurso público seja utilizado na comprade tecnologias que viabilizem aprodução cultural.Um modelo onde o valor gasto nacompra de um fuzil pra PM sejarevertido na compra de spray para osgrafiteiros, pick´ups para os Djs, sompara so ensaios dos pagodes ,maquiagem paro o ator e instrumentospara os músicos.Vamos propor um modelo de culturaonde, um cachê de 100 mil para um

artista renomado, possa ser canalizadoem forma de 100 reais para 100 artistaslocais, para que a cultura se difunda eganhe força nas regiões onde a violênciaé constante. Vamos propor a troca depolícia armada com revólver, paraagentes culturais munidos de violão eguitarra. Vamos trocar as UPPs porUCPs.

Ricardo AndradeArticulador Cultural