FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de...

12
FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM DOURADOS E REGIÃO (1940-1990): MAPEAMENTO E INVENTÁRIO Alessandra Cristina Furtado Universidade Federal da Grande Dourados - MS [email protected] Inês Velter Marques Universidade Federal da Grande Dourados - MS [email protected] Palavras-chave: Fontes, documentos, mapeamento; inventário Introdução O texto ora proposto emerge de pesquisas em andamento, que buscam realizar discussões sobre a elaboração e organização de um instrumento de pesquisa, e tomam como base as fontes documentais referentes à educação no Município de Dourados e região, entre as décadas de 1940 e 1990. Fontes estas encontradas em arquivos públicos, arquivos escolares, acervos pessoais, centros de documentação, museus, entre outros. Pretende-se, também, dar a conhecer possibilidades interpretativas preliminares do conjunto de fontes mapeadas até o momento, para pesquisa e escrita da História da Educação da localidade estudada. A delimitação temporal entre as décadas de 1940 e 1990 justifica-se, inicialmente, por sinalizar um período de desenvolvimento econômico do município de Dourados, desencadeado, sobretudo, pela instalação da Colônia Agrícola de Dourados, mais especificamente em 1946, devido ao projeto de Getúlio Vargas de Marcha para o Oeste. Tal desenvolvimento intensificou a expansão da educação escolar no município, com a instalação e regulamentação de escolas primárias, de instituições de ensino secundário, de formação de professores e até mesmo de ensino superior, no final da década de 1960. A área da Colônia Agrícola de Dourados era de 409.000 hectares (com um excedente de 109.000 ha referente à área pelo decreto que a criou) e possuía aproximadamente 10 mil famílias. A distribuição e titulação dos lotes foram feitas de uma forma que evitasse que os mesmos fossem vendidos antes de doze meses. A Colônia Agrícola Nacional de Dourados atraiu para a região muitas levas de imigrantes e brasileiros que cultivavam café. Com a criação da CAND vieram companhias de colonização privadas que acabaram adquirindo extensas áreas e as loteavam com inspiração nos modelos de colonização paulista e

Transcript of FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de...

Page 1: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM

DOURADOS E REGIÃO (1940-1990): MAPEAMENTO E INVENTÁRIO

Alessandra Cristina Furtado

Universidade Federal da Grande Dourados - MS

[email protected]

Inês Velter Marques

Universidade Federal da Grande Dourados - MS

[email protected]

Palavras-chave: Fontes, documentos, mapeamento; inventário

Introdução

O texto ora proposto emerge de pesquisas em andamento, que buscam realizar

discussões sobre a elaboração e organização de um instrumento de pesquisa, e tomam como

base as fontes documentais referentes à educação no Município de Dourados e região, entre as

décadas de 1940 e 1990. Fontes estas encontradas em arquivos públicos, arquivos escolares,

acervos pessoais, centros de documentação, museus, entre outros. Pretende-se, também, dar a

conhecer possibilidades interpretativas preliminares do conjunto de fontes mapeadas até o

momento, para pesquisa e escrita da História da Educação da localidade estudada. A

delimitação temporal entre as décadas de 1940 e 1990 justifica-se, inicialmente, por sinalizar

um período de desenvolvimento econômico do município de Dourados, desencadeado,

sobretudo, pela instalação da Colônia Agrícola de Dourados, mais especificamente em 1946,

devido ao projeto de Getúlio Vargas de Marcha para o Oeste. Tal desenvolvimento

intensificou a expansão da educação escolar no município, com a instalação e regulamentação

de escolas primárias, de instituições de ensino secundário, de formação de professores e até

mesmo de ensino superior, no final da década de 1960.

A área da Colônia Agrícola de Dourados era de 409.000 hectares (com um excedente

de 109.000 ha referente à área pelo decreto que a criou) e possuía aproximadamente 10 mil

famílias. A distribuição e titulação dos lotes foram feitas de uma forma que evitasse que os

mesmos fossem vendidos antes de doze meses. A Colônia Agrícola Nacional de Dourados

atraiu para a região muitas levas de imigrantes e brasileiros que cultivavam café. Com a

criação da CAND vieram companhias de colonização privadas que acabaram adquirindo

extensas áreas e as loteavam com inspiração nos modelos de colonização paulista e

Page 2: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

paranaense. A Colônia Municipal de Dourados se originou de uma área de 50 mil hectares

criada em 1923 no município de Ponta Porã. E foi neste período que a cidade começou a se

desenvolver, apesar de ser em passos lentos, mas foi um momento decisivo para a

consolidação e crescimento da mesma, principalmente no que tange a educação, foco desta

pesquisa.

No município de Dourados, o desenvolvimento da educação não foi diferente do

restante do Antigo Sul de Mato Grosso. Nesta parte do Estado, a educação desenvolveu-se

lentamente, por vários motivos, dentre os quais se podem destacar a expansão territorial do

estado, a distância da capital Cuiabá, a precariedade dos meios de locomoção.

A elaboração de instrumentos de pesquisa no período ao qual este estudo se insere

justifica-se na ausência de estudos que se dediquem a mapear, inventariar e analisar a

documentação originada neste período. Este trabalho tem como propósito, sobretudo,

contribuir para ampliar o campo de estudo da História da Educação sobre o Antigo Sul de

Mato Grosso. Nesse sentido, pesquisas que possam vir a contribuir para localizar e

sistematizar dados e informações sobre determinados objetos de estudo vêm constituindo uma

tarefa fundamental para a superação de limitações com que lidamos no Brasil, no tocante ao

acesso e à conservação de fontes (CATANI; SOUSA, 1999). A História da Educação, no

Brasil ressente-se, ainda, de esforços no sentido de levantar, organizar, catalogar e levar ao

conhecimento da comunidade acadêmica repertórios de fontes ligadas ao campo educacional.

Os Lugares da Memória e suas fontes documentais para a geração de instrumentos de

pesquisa

Pesquisas que tem como foco o levantamento, a catalogação, a descrição de

documentos, que permite culminar, posteriormente, em produções por meio de instrumentos

de pesquisas, como guias, inventários, catálogos e também banco de dados, tem se tornado

comum em investigações no campo da história e da história da educação. Como aponta

Belotto, os instrumentos de pesquisa são:

...vitais para o processo historiográfico. Escolhido um tema e aventadas as

hipóteses de trabalho, o historiador passa para o como e o onde. Diante de

um sem-número de fontes utilizáveis, a primeira providência, pela própria

essência do método histórico, é a localização dos testemunhos. (2006, p.104)

Page 3: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

De acordo com o Dicionário de Terminologia Arquivística, os instrumentos de

pesquisa são definidos como:

Obra de referência, publicada ou não, que identifica, localiza, resume ou

transcreve, em diferentes graus e amplitudes, fundos, grupos, séries e peças

documentais existentes num arquivo permanente, com a finalidade de

controle e de acesso ao acervo (1996, p.45)

Desse modo, catálogos, guias, inventários, listagens, repertórios que permitem a

identificação, localização ou consulta a documentos ou a informações neles contidas, tornam-

se importantes instrumentos de pesquisa. No que concerne à pesquisa em História da

Educação, estes instrumentos de pesquisa acabam por facilitar o acesso aos documentos por

parte dos historiadores e outros pesquisadores, o que vem ampliar as possibilidades de

compreensão da realidade histórica da educação brasileira.

Se, como bem analisa Belotto, “arquivos, bibliotecas, centros de documentação e

museus têm co-responsabilidade no processo de recuperação da informação, em benefício da

divulgação cientifica, tecnológica, cultural e social, bem como do testemunho jurídico e

histórico” (2006, p. 35), cabe aos pesquisadores que se valem desta documentação fazer a sua

parte, no que se refere ao mapeamento.

Os primeiros trabalhos de coleta de dados ocorreram no Cento de Documentação

Regional (CDR) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFGD), em dois jornais

locais da época “O Douradense”, extinto; “O Progresso”, que ainda hoje circula na cidade e

no estado, e no museu de Dourados. Apesar da riqueza dos materiais coletados acredita-se

que há muito ainda para se pesquisar a respeito do funcionamento das instituições de ensino e

de sua cultura escolar, mas estes apontamentos iniciais poderão nortear outros pesquisadores.

Neste trabalho, a busca pela documentação foi realizada diretamente pelas

pesquisadoras nos arquivos das escolas, no Museu Histórico Municipal de Dourados e nos

acervos do Centro de Documentação Regional da Universidade Federal da Grande Dourados.

O processo foi iniciado por meio de um levantamento da documentação existente.

Posteriormente, os documentos serão catalogados, separados e classificados segundo sua

natureza, e organizados de acordo com suas respectivas temáticas e ordem cronológica. As

fontes estão na origem, de fato elas, constituem “no ponto de partida, a base, o ponto de apoio

da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto

histórico estudado. [Ou seja], nelas que se apoiam o conhecimento que produzimos a respeito

da história” (SAVIANI, 2004, p. 05).

Page 4: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

As escolas apresentam-se como espaços portadores de fontes de informações

fundamentais para a formulação de pesquisas, interpretações e análises sobre elas próprias, as

quais permitem a compreensão do processo de ensino, da cultura escolar e,

consequentemente, da História da Educação.

Nas instituições educativas, os arquivos escolares se constituem no repositório dos

documentos de informação, que estão diretamente relacionados com o seu funcionamento.

Para Bonato (2002), os arquivos escolares constituem acervos arquivísticos, contendo

diversas espécies documentais que são fontes de pesquisa: "São espaços de memória,

depositários de fontes produzidas e acumuladas na trajetória do fazer pensar o pedagógico no

cotidiano das escolas" (p.3).

Nos arquivos escolares encontram-se registros de diferentes naturezas e espécies, que,

muitas vezes, já fazem parte de uma memória “perdida”, esquecida, porém uma memória que

representa um passado de escolarização, com características próprias das instituições

escolares as quais pertencem e identificadas com a sua época. Esses registros de diferentes

naturezas e espécies documentais tornam-se, diante do olhar pesquisadores em História da

Educação, fontes fundamentais para o estudo dos processos de escolarização, da história das

instituições escolares, da cultura escolar, entre outros aspectos.

As investigações empreendidas até o momento nos arquivos do Centro de

Documentação Regional permitiram registrar e catalogar documentos/fontes como:

reportagens sobre o ensino, cartas de governadores, decretos, regulamentações, currículos de

professores, nomeações de professores substitutos, ofícios de exoneração, contratos de

professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos.

Neste trabalho, os esforços direcionaram-se para a apresentação da documentação que

vem sendo levantada e catalogada, com vistas à elaboração de instrumentos de pesquisas, nas

investigações acerca dos arquivos escolares, Centro de Documentação Regional e Museu

Histórico Municipal de Dourados. Embora incidindo em fontes bastante distintas, os esforços

convergem para as investigações que tenham como foco o levantamento, a catalogação, a

descrição de documentos. Isto permite culminar, posteriormente, em produções por meio de

instrumentos de pesquisas, como guias, inventários, catálogos e banco de dados.

Para dar forma às discussões deste texto, foram selecionados alguns documentos dos

lugares da memória pesquisados, como poderá ser observado nos quadros, mensagens e

reportagem jornalística, relacionadas sobre as fontes acerca dos arquivos escolares e das

instituições de ensino.

Page 5: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

As Fontes sobre as Instituições de Ensino dos Arquivos Escolares de Dourados:

sistematização de um instrumento de pesquisa

Em Dourados e região, a situação dos arquivos escolares não é nada diferente da

realidade que se configura no Estado de Mato Grosso de Sul, pois são poucas as instituições

escolares que possuem um arquivo organizado. Em algumas escolas, por exemplo, os

arquivos não passam de um amontoado de papéis guardados, sem nenhuma forma de

organização em espécie, natureza, cronologia e ou preservação.

O processo de levantamento da documentação acerca dos arquivos escolares iniciou-se

a partir da seleção de algumas instituições de ensino que atuaram com o ensino secundário e a

formação de professores no município de Dourados e região. Para esclarecer melhor sobre a

documentação desses arquivos, devem-se registrar duas amostras de documentos levantados

em arquivos de instituições públicas de ensino de Dourados e região. O arquivo da Escola

Estadual Presidente Vargas de Dourados é um bom exemplo, pois foi a primeira instituição a

oferecer o ensino secundário público, em Dourados e região, em um período que nesta cidade

somente era oferecido esta modalidade de ensino em instituições escolares privadas. No

quadro seguinte é possível verificar o que foi encontrado no Arquivo desta Escola.

Documentos Período

Atas dos resultados finais. (1958 a 1970)

Exoneração de professor (1968)

Livros das matriculas (1958 a 1960)

Nomeações para ser professor substituto. (1968 a 1974)

Questionário informativo de professor (1970 a 1974)

Portarias (1970 a 1971)

Curriculum vitae de professores (1970 a 1976)

Solicitação para ordem de pagamento (1974)

Ofícios (1974 a 1976)

Resolução nº 11 (1974)

Decreto n.º 2036 (1974)

Noticiários de jornais (1960 a 1976) Quadro 1 – Relação dos documentos encontrados até o momento no Arquivo da Escola Estadual Presidente

Vargas de Dourados.

Fonte: Arquivo da Escola Presidente Vargas

O quadro acima permite observar que no período compreendido entre 1958 e 1974, o

Arquivo da Escola Estadual Presidente Vargas apresenta um número significativo de

documentos de diferentes natureza e espécie, de caráter histórico, administrativo, pedagógico

Page 6: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

e iconográfico. Trata-se de uma documentação que traz informações sobre a doação do

terreno, a instalação da escola, sobre as disciplinas ministradas, possíveis averiguações sobre

os discentes, o perfil dos docentes entre as décadas 1958 a 1960, o currículo escolar, a relação

da instituição com o poder público, e as reivindicações dos alunos, que entre os anos de 1963

a 1965 mantinham um jornal da própria escola chamado “O Grito”.

Outro exemplo de arquivo escolar é o da Escola Estadual Menodora Fialho de

Figueiredo. Convém registrar aqui que a referida Escola constituiu-se na primeira instituição

da cidade de Dourados e região, a ofertar um curso público de formação de professores,

período em que nesta localidade somente se ofereciam cursos de formação em instituições de

ensino privadas. No quadro seguinte é possível verificar o que foi encontrado:

Documentos Período

Currículo de Professores

(1974-1996)

Decretos (1970, 1974, 1976, 1978, entre outros)

Diário Oficial (1970-1996)

(1970-1996)

Deliberações

(1976, 1983, entre outros)

Fotografias

(1970-1996)

Lista de matrículas do corpo discente

(1970-1996)

Livros de pontos dos professores

(1970-1996)

Livro Histórico do Estabelecimento (1990)

Pastas de alunos (1970-1996)

Portarias (1977, 1978, entre outras)

Programas de ensino das disciplinas

(1970-1996)

Livros com recorte de noticiários de

Jornais

(1974, 1977, 1980, entre outros)

Relatórios de visitas dos responsáveis pela

administração do ensino

(1970-1996)

Quadro 3 – Relação dos documentos encontrados até o momento no Arquivo da Escola Menodora Fialho

de Figueiredo (1970-1996)

Fonte: Arquivo da Escola Menodora Fialho de Figueiredo

O quadro permite observar que no período compreendido entre 1970 e 1996, o

Arquivo da Escola Menodora Fialho de Figueiredo apresenta um número significativo de

documentos de diferentes natureza e espécie, de caráter histórico, administrativo, pedagógico

Page 7: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

e iconográfico. Trata-se de uma documentação que traz informações sobre a instalação da

escola, sobre o perfil do corpo docente e discente, o currículo escolar, a relação da instituição

com o poder público, entre outros aspectos. Neste aspecto, pode-se dizer que no arquivo desta

instituição de ensino, como aponta Mogarro (2005), em seus estudos sobre arquivos escolares,

esse acervo é constituído por fundos de documentos, geralmente em suporte de papel,

organizados em livros, dossiê e avulsos, produzidos pelos atores educativos e pela própria

instituição, no que tange às atividades cotidianas.

De um modo geral, pode-se dizer que os quadros elaborados oferecem exemplos dos

documentos que foram levantados nesses dois arquivos escolares situados na cidade de

Dourados, e que irão compor, posteriormente, o instrumento de pesquisa.

O Centro de Documentação Regional e suas fontes para sistematização de um

instrumento de pesquisa

O Centro de Documentação Regional (CDR) é um laboratório pertecente à Faculdade

de Ciências Humanas (FCH) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que se

orieginou de um projeto elaborado pot docentes da Universidade Federal de Mato Grosso/

Campus de Dourados, no iníico da década de 1980. A partir desse período, o CDR, vem

colecionando material documental e bibliográfico referente, especificamente, aos estudos

regionais. Tendo em vista essas atividades, o CDR destina-se, prioritariamente, a apoiar os

trabalhos de ensino e pesquisa, em nível de graduação e pós-graduação, dos diversos crusos

da FCH. Alé, disso, atende também a pesquisadreos docentes e discuents de outras faculdades

da UFGD, de outras instituições , e o público, de modo gerla. O acervo documental do CDR

está organizado em coleções e abrange textos iumpressos, material icnongráfico, mapas,

documenyação audiovisual, microfilmenes, etc.

O estudo e a utilização das fontes, como por exemplo, fotografias, registros, atas,

decretos e jornais poderão servir como apoio para o confrontamento das mesmas. E assim

será possível também verificar os jornais, já que estes irão auxiliar a e complementar a

pesquisa. Em Dourados, no antigo sul de Mato Grosso o jornal impresso “O Douradense” teve

destaque para impulsionar a educação, pois como se poderá verificar nos noticiários

apresentadas na capa do referido jornal publicado em 24 de julho de 1948, o quanto a

população almejava escolas e ou ensino, mesmo que para a época o impresso fosse

direcionado, provavelmente, para as classes mais priveligiadas, e ou elitizadas.

Page 8: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

Imagem 1- Jornal “O Douradense”

Fonte: Centro Documentação Regional (CDR)

Como se verifica nesta reportagem da capa do jornal “O Douradense”, a mesma esta

direcionada a questões relacionadas a educação. Este noticiário do Jornal permite perceber o

anseio de um grupo elitizado da comunidade Douradense, na busca pela implantação das

instituições escolares, que viesse contribuir para a colonização e implantação de escolas no

Mato Grosso (UNO). Como aponta Le Goff (1994, p.545), “o documento não é qualquer

coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as

relações de forças que aí detinham o poder (...)” Desse modo, os documentos enquanto

produções humanas podem expressar interesses pessoais, muito mais do que a realidade

concreta, e, nesse caso, o pesquisador corre o risco de tomar uma realidade desejada como

algo realizado. Afinal, cabe ao pesquisador o trabalho de conferir validade, coerência, lógica e

unidade, nos documentos pesquisados, estabelecendo relações com outros documentos e

acervos, para compreender os limites destas fontes.

Além dos jornais, outras fonte/documentos como se poderá verificar abaixo em uma

Mensagem do Governador do Mato Grosso – UNO Dr. João Ponce de Arruda, na abertura da

sessão Legislativa em 1955, em que ele apresenta um “aspecto educacional matogrossense”,

iniciando pelo grau de ensino existente (imagem 2); em seguida os grupos escolares e em

quais municípios os mesmos estão constituídos e por fim (imagem 5) um explanação das

escolas rurais existentes e as localidades.

Page 9: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

Imagens de 2 a 5: Mensagem do Governador do Mato Grosso – UNO Dr. João Ponce de Arruda, na abertura

da sessão Legislativa em 1955

Fonte: Centro de Documentação Regional - CDR

Imagem 2 Imagem 3

Imagem 4 Imagem 5

Page 10: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

As Mensagens dos Governadores de Estado se constitui em uma importante fonte de

pesquisa para a História da Educação, pois elas trazem o discurso oficial em relação à

educação. Assim, pode-se dizer que a legislação relacionada à educação se constitui como

fonte histórica documental da mais alta importância para se produzir conhecimento histórico

educativo. Todavia, não basta analisar a legislação de forma mecânica, ou seja, a lei pela lei,

sem (ou só) estabelecer ligações entre o poder político hegemônico, sem fazer. No nosso caso,

as Mensagens dos Governadores do Estado de Mato Grosso apresentou-se como uma rica

possibilidade de pesquisa em história da educação, para o conhecimento do discurso oficial da

educação mato-grossense.

Antes de finalizar o texto, é importante deixar registrado, ainda, que as fontes

existentes no museu no município de Dourados, são ínfimas, pois foram localizadas imagens

da vista panorâmica das escolas, algumas ruas da cidade, fotos de pioneiros, objetos e

artefatos relacionados à cultura do povo local, dentre outros, que aqui não serão abordados,

apesar de fazer parte do interesse de pesquisa na geração do instrumento na forma de um

inventário.

Considerações Finais

Ao longo deste texto, foi possível constatar, que os documentos depositados

selecionados e reunidos dos arquivos escolares e do Centro de Documentação Regional se

constituem em fontes importantes para se compreender a História da Educação de Dourados e

Região, uma vez que trazem informações sobre a educação escolar, no que tange a

organização da instrução pública no município e em seu entorno, ao funcionamento e a

organização das instituições de ensino. Além disso, tal exercício tem contribuído para o

andamento das pesquisas das autoras, na medida em que direcionam um olhar sobre as

informações ainda dispersas, como um subsídio para a construção dos objetos de investigação

e ainda de futuras pesquisas que irão compartilhar de temáticas próximas a essas, pois as

informações geradas poderão estimular não só historiadores da educação, mas também

pesquisadores de todas as áreas de Ciências Humanas e Socais e, bem como, aos interessados

pela História da Educação de Dourados e região. Afinal, a elaboração de um instrumento de

pesquisa tem o propósito de transformar os dados em conhecimento.

Page 11: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

Referências

ARQUIVO NACIONAL, Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. 2004.

BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. 4ª. Ed. Rio de

Janeiro: Editora FGV, 2006.

BRASIL, MEC. PARECER CNE/CEB Nº: 5/2011. Diretrizes Curriculares Nacionais para

o Ensino Médio. Aprovado em 04/05/2011. Brasília: MEC, 2011

BONATO, Nailda Marinho da Costa. Os arquivos escolares como fonte a história da

educação. Revista Brasileira de História da Educação, n.10, p. 193-220, jul./dez. 2005.

______. Arquivos escolares: limites e possibilidades para a pesquisa. In: REUNIÃO ANUAL

DA ANPED, 25, 2002, Caxambu - MG. Anais... Educação: manifestos, lutas e utopias. Rio

de Janeiro: Anped, 2002, p. 97-109, v. 1.

CATANI, Denice Barbara. SOUSA, Cynthia Pereira de. A Geração de Instrumentos de

Pesquisa em História da Educação: Estudos sobre Revistas de Ensino. VIDAL, Diana

Gonçalves; HILSDORF, Maria Lucia Spedo. Brasil 500 anos: tópicas em História da

Educação. São Paulo: EDUSP, 2001.

CHARTIER, R. A história cultural. Lisboa: Difel, 1990.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes e de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes,

1994.

FREITAS, Marcos Cezar de. Educação Brasileira: dilemas republicanos nas entrelinhas de

seus manifestos. In: Maria Stephanou; Maria Helena Camara Bastos (Orgs.). Histórias e

memórias da educação no Brasil. Vol. III: Século XX. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

GUSMÃO, E. M. Arquivos escolares, memória e cultura. Patrimônio e Memória.

UNESP/Assis – FCLAS – CEDAP, V.1, n.1, 2005, p. 1-10.

HILSDORF, M. L. S.; VIDAL, D. O centro de memória da educação USP: acervo

documental e pesquisas em história da educação. In: MENEZES, M. C. (Org.). Educação,

Memória, História. Campinas: Mercado de Letras, 2004.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução Bernardo Leitão...[et al.] - Campinas, SP

Editora da UNICAMP, 1994. (Coleção Repertórios).

MENEZES, Maria Cristina. O arquivo escolar: lugar da memória, lugar da história.

Horizontes, v.23, n.1, p.67-76, jan./jun. 2005.

MOGARRO, M. J. Arquivos e educação. Revista Brasileira de História da Educação, n.10,

p. 75-99, jul./dez, 2005a.

Page 12: FONTES PARA PESQUISA E ESCRITA DA HISTÓRIA DA … FONTES E METODOS EM... · professores, lista de professores, folha de pagamentos, solicitação de ordem de pagamentos. Neste trabalho,

______. Os arquivos escolares nas instituições educativas portuguesas. Preservar a

informação, construir a memória, Pro-posições, Campinas, v. 16, n. 46, p: 103-116,

jan./abr.2005b.

______. Arquivos e educação. Revista Brasileira de História da Educação, n.10, p. 75-99,

jul./dez, 2005c.

NOSELLA, Paolo & BUFFA, Ester. Instituições escolares: porque e como estudar.

Campinas, SP: Editora, Alinea, 2009.

NUNES, Clarice; SÁ, Nicanor Palhares (Orgs.). Instituições Educativas na Sociedade

Disciplinar Brasileira. Cuiabá: EdUFMT, 2006.

RIBEIRO, S. de A.; RIEDNER, D. D. T. Apontamentos sobre o Ensino Secundário no Sul

de Mato Grosso: em foco o Colégio Maria Constança Barros Machado. Disponível

em: http://www.anpedco2012.ufms.br/trabalhos/GT2/ARTIGO/A-021.pdf Acesso em: 02 de

out. de 2012.

ROCHA, M. P.; OLIVEIRA, R. T. C. de. O processo de Implantação do Ensino

Secundário no Sul do Estado de Mato Grosso: iniciativa particular (1920-1940).

SAVIANI, Dermeval. Breves considerações sobre fontes para a história da educação. In:

LOMBARDI, José Claudinei; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (Orgs). Fontes, história

e historiografia da educação. Campinas: Autores Associados / HISTEDBR; Curitiba:

PUCPR; Palmas, PR: UNICS; Ponta Grossa: UEPG, 2004. p. 3-12.

SILVA, Eva Cristina Leite da. Os registros da Escola Normal, Brasil, Portugal: histórias,

memórias e práticas de escrituração no início do século XX . Campinas, SP: [s.n.], 2010.

SOUZA, Rosa Fátima de. A Renovação do Currículo do Ensino Secundário no Brasil: as

últimas batalhas pelo humanismo (1920-1960). Currículo Sem Fronteiras, v, 9, n. 1, pp. 72-

90, jan./jun.2009.

______. História da Organização do Trabalho escolar e do Currículo no século XX:

(ensino primário e secundário no Brasil).V. 2. São Paulo: Cortez, 2008.

SOUZA, Izabel Cristina Silva. Colégio Estadual, a Professora Maria Constança e o Curso

Colegial na década de 50, em Campo Grande. Dissertação (Mestrado em Educação),

UCDB, Campo Grande, 1998.

STEPHANOU, Maria. & BASTOS, Maria Helena Câmara Histórias e Memórias da

Educação no Brasil. (Vol. I, II e III). Petrópolis: Vozes, 2005.

VIDAL, Diana Gonçalves. Apresentação do dossiê arquivos escolares: desafios à prática e à

pesquisa em História da Educação. Revista Brasileira de História da Educação, n. 10, p.

71-73, jul./dez, 2005.