FORMAÇÃO E INTERVENÇÃO ÉTICA DO PROFESSOR DE …re.granbery.edu.br/artigos/NTI3.pdf ·...

16
Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377 Curso de Educação Física - N. 17, JUL/DEZ 2014 FORMAÇÃO E INTERVENÇÃO ÉTICA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR DANIELLY CARNEIRO SANCHES SAMIRA REIS CANCELA ROBERTO CARLOS LACÓRDIA RESUMO Atualmente muito são os estudos sobre a ética na formação do professor de Educação Física Escolar bem como sua intervenção. Nesta modalidade apesar de suas abordagens e seus métodos citados pela história, muito ainda se questiona sobre a ética do professor de educação física escolar e sua intervenção. Desta forma, este estudo busca breve aprofundamento sobre a ética e sobre a sua influência na transmissão deste conhecimento para os alunos. A metodologia deste estudo foi teórica, descritiva, de abordagem qualiquantitativa, sendo aplicados questionários a dez professores de rede púbica e privada. Os resultados apontam que a maioria dos professores entende que uma intervenção ética, consiste em apenas ensinar os conteúdos da desta área. Os resultados não convergem na mesma direção da literatura atual, que manifesta a intervenção ética como sendo uma intervenção para a formação de cidadão global, crítico, reflexivo. Palavras-chave: Educação Física. Ética. Intervenção ética. ABSTRACT The studies about ethics and intervention on school in the graduation of Physical Education Teacher are many. The Physical Education class has methods and approaches cited by history books, but there is still questioning about ethics of teaching. So much, this study intend a short deepening about ethics in the process of education on physical area and the influence of the teacher on the knowledge transmission to students. This study is a review, descriptive and with a quali- quantitative approach. It was applied questionnaires for ten Physical Education teachers of public and private schools. The result shows that most of these teachers understand the ethical intervention as only the knowledge transmission about the Physical Education. These results do not aim the direction of actual literature, that shows the ethical intervention as being a tool for a global, citizen, critical and reflexive formation. Key words: Physical Education. Ethics. Ethical intervention.

Transcript of FORMAÇÃO E INTERVENÇÃO ÉTICA DO PROFESSOR DE …re.granbery.edu.br/artigos/NTI3.pdf ·...

Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery

http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377

Curso de Educação Física - N. 17, JUL/DEZ 2014

FORMAÇÃO E INTERVENÇÃO ÉTICA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

DANIELLY CARNEIRO SANCHES

SAMIRA REIS CANCELA ROBERTO CARLOS LACÓRDIA

RESUMO

Atualmente muito são os estudos sobre a ética na formação do professor de Educação Física Escolar bem como sua intervenção. Nesta modalidade apesar de suas abordagens e seus métodos citados pela história, muito ainda se questiona sobre a ética do professor de educação física escolar e sua intervenção. Desta forma, este estudo busca breve aprofundamento sobre a ética e sobre a sua influência na transmissão deste conhecimento para os alunos. A metodologia deste estudo foi teórica, descritiva, de abordagem qualiquantitativa, sendo aplicados questionários a dez professores de rede púbica e privada. Os resultados apontam que a maioria dos professores entende que uma intervenção ética, consiste em apenas ensinar os conteúdos da desta área. Os resultados não convergem na mesma direção da literatura atual, que manifesta a intervenção ética como sendo uma intervenção para a formação de cidadão global, crítico, reflexivo.

Palavras-chave: Educação Física. Ética. Intervenção ética. ABSTRACT The studies about ethics and intervention on school in the graduation of Physical Education Teacher are many. The Physical Education class has methods and approaches cited by history books, but there is still questioning about ethics of teaching. So much, this study intend a short deepening about ethics in the process of education on physical area and the influence of the teacher on the knowledge transmission to students. This study is a review, descriptive and with a quali-quantitative approach. It was applied questionnaires for ten Physical Education teachers of public and private schools. The result shows that most of these teachers understand the ethical intervention as only the knowledge transmission about the Physical Education. These results do not aim the direction of actual literature, that shows the ethical intervention as being a tool for a global, citizen, critical and reflexive formation. Key words: Physical Education. Ethics. Ethical intervention.

INTRODUÇÃO

A Educação Física vem se desenvolvendo ao longo dos anos, e a

formação do profissional tem passado por alguns conteúdos como os métodos,

militarista, higienista e esportivista durante a trajetória de sua história até chegar às

abordagens pedagógicas.

De tal modo, faz- se necessário a formação específica e Ética do

profissional para que a sua intervenção seja mais competente.

Desde a existência humana, a ética se faz presente para a manutenção

de um bom convívio entre os indivíduos em sociedade. É a Ética, a responsável pelo

estudo do comportamento do corpo social, seus grupos e de princípios e valores

morais, sendo estes, o que regula sua conduta.

Há ainda, áreas básicas de conhecimento da Ética como a Axiologia que

implica a escolha dos indivíduos por valores e a Deontologia que regula o exercício

de cada profissão. Estes são imprescindíveis para a formação do profissional da

educação e sua intervenção.

Compete ao professor em suas aulas não utilizar somente a intervenção

tecnicista e transferência de conteúdos a seus alunos, deve também intervir de

maneira ética, empregando princípios e valores, considerando a formação do

cidadão integral.

Este estudo tem por objetivo descrever sobre a formação, o compromisso

ético, a intervenção e o conhecimento do professor de Educação Física Escolar

perante a sua influência na formação de cidadãos em suas aulas e sua preocupação

em educar para a ética.

A formação do professor pode ser cada vez mais aprofundada, não

somente nas questões de conteúdo das disciplinas de conhecimentos específicos da

Educação Física, mas também na qualidade de uma formação para intervenção

ética e moral.

HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

“O sucesso é acordar de manhã, sair da cama, porque existem coisas importantes que você adora fazer, nas quais você acredita, e em que você é bom.” (Whits Hobbs).

Ao longo das últimas décadas as propostas pedagógicas da Educação

Física vêm se transformando, tendo influência até os dias de hoje na formação e

atuação do professor.

Ao referir-se à educação, destacam-se as atividades pedagógicas e o

processo de ensino-aprendizagem, logo a Educação Física possui suas áreas de

estudo voltadas para a formação e o desenvolvimento humano. (SANTIN, 1995)

Ao longo da história é possível observar a evolução da Educação Física

através dos métodos higienista, militarista, esportivista até o surgimento das

abordagens pedagógicas atuais.

Assim, observa-se na Europa no final do século XVIII e inicio do século

XIX, o estabelecimento da sociedade capitalista que marca a comercialização de

mão de obra, da força e energia física, com isso destaca-se a prática de exercícios

físicos na construção do homem mais forte, mais ágil e mais empreendedor. Na

época a força física resultava em lucro, cuidar do corpo tornou-se então uma

necessidade.

No Brasil, a Educação Física Escolar consolidou-se no século XIX, em

1851 com a Reforma Couto Ferraz, tornando-a obrigatória a Educação Física nas

escolas.Três anos depois em 1854 a ginástica tornou-se uma disciplina obrigatória

no primário e a dança no secundário. (BRASIL, 2000; DARIDO, 2003).

Segundo Darido e Brasil, em 1882, Rui Barbosa realizou a Reforma

Leôncio de Carvalho, que determinava obrigatoriamente a ginástica para ambos os

sexos e que fosse oferecida para as Escolas Normais.

No início do século XX surgiram os principais métodos ginásticos

sugeridos pelo francês Amoros, pelo sueco P.H. Ling e pelo alemão Spiess. Darido

afirma que, “Estes autores apresentaram propostas que procuravam valorizar a

imagem da ginástica na escola e, assim, acabaram por fornecer elementos para o

aprimoramento físico dos indivíduos.”

Somente a partir da década de 1920 que vários estados iniciaram suas

reformas educacionais e incluíram a Educação Física com o nome de ginástica.

(BETTI, 1991 apud DARIDO, 2003). Em meados da década de 1930 a Educação

Física baseava-se na perspectiva higienista, que se preocupava com os hábitos de

higiene e saúde, valorizando o desenvolvimento do físico e da moral, a partir do

exercício.

Segundo Coletivo de Autores (1992), no método ginástico militarista, a

educação física na escola era ministrada por militares com objetivo de torná-los

homens disciplinados, obedientes e submissos.

Este método não priorizava os valores educacionais pedagógicos, mas

sim os valores da instituição militar, a fim de transformar o homem num indivíduo

forte e preparado para lidar com a guerra. Desta forma, torna-se uma educação

física excludente, onde eram selecionados indivíduos ditos “perfeitos”. (DARIDO,

2003).

Ainda na década de 1930 foram criados cursos de formação de

professores de Educação Física. Através do sistema de ensino superior, no Brasil,

foram criados cursos em São Paulo, Vitória e Rio de Janeiro. (Tojal, 2006).

Logo após a Segunda Guerra, igualmente após a ditadura militar no Brasil

ocorreram algumas mudanças na sua forma de ensino, do método militarista e

higienista para a pedagogia esportivista, deixando de lado a relação professor-

instrutor e aluno-recruta para a relação professor-treinador e aluno-atleta.

Essa influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos, então, não o esporte da escola mas sim o esporte na escola. Isso indica a subordinação da educação física aos códigos/sentido da instituição esportiva, caracterizando-se o esporte na escola com o prolongamento da instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional. (COLETIVO DE AUTORES, 1992 p.54)

Na década de 1970, surge no Brasil a pedagogia tecnicista de forma a

reforçar os princípios da pedagogia esportivista tornando- a mais objetiva, no campo

escolar.

É assim que, por possuírem idênticos pressupostos como, por exemplo, a racionalização de meios em busca de eficiência e eficácia, a identidade esportiva da Educação Física escolar é fortalecida pela pedagogia tecnicista. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 54)

No final das décadas de 70 e 80 surgiram as abordagens pedagógicas da

Educação Física. “Essas abordagens resultam da articulação de diferentes teorias

psicológicas, sociológicas e concepções filosóficas. Todas essas correntes têm

ampliado os campos de ação e reflexão para a área e a aproximado das ciências

humanas.” (DARIDO, 2003, p. 22)

As Abordagens Pedagógicas fazem parte do histórico da Educação Física

Escolar contidas na formação acadêmica sendo componente da grade curricular do

curso de Licenciatura em Educação Física. Tais abordagens incidem à base do

trabalho do professor. Dentre elas podemos citar:

Abordagem da Psicomotricidade

Em desacordo com métodos anteriores, surge a psicomotricidade, o

primeiro movimento mais organizado da Educação Física. “Nele o envolvimento da

Educação Física é com o desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com

os processos cognitivos e psicomotores, ou seja, buscava garantir a formação

integral do aluno.” (SOARES, 1996 apud. DARIDO, 2003, p.13).

Nessa nova etapa, a Educação Física começa a se moldar como uma

disciplina voltada para a cultura corporal de movimento.

Abordagem Desenvolvimentista

De acordo com Darido (2003), esta abordagem possui duas

preocupações principais: que a Educação Física garanta sua especificidade e que

conheça a valorização das necessidades e expectativas dos alunos em distintas

faixas etárias, até 14 anos.

Sua finalidade é a adaptação aos valores presentes na sociedade, para isso fazem uso da equifinalidade, variabilidade, solução de problemas. A temática principal fica por conta das habilidades, aprendizagem e desenvolvimento motor. (NETTO, 2006, p.3).

Abordagem Construtivista

Esta abordagem se preocupa com a construção do conhecimento,

visando alcançar o desenvolvimento cognitivo, utilizando o movimento como

facilitador da aprendizagem.

A principal vantagem desta abordagem é a de que ela possibilita uma

maior integração com uma proposta pedagógica ampla e integrada

da Educação Física nos primeiros anos de educação formal.

(DARIDO, 2003, p.7)

Abordagem Crítico-Superadora

Conforme Darido (2003), a pedagogia crítico superadora alerta aos

professores a importância de mudanças durante as aulas para que possa acontecer

menos desigualdade social e injustiças. Esta abordagem apresenta a necessidade

de transmitir aos alunos a conscientização das transformações sociais através das

aulas.

A pedagogia crítico-superadora tem características específicas. Ela é diagnóstica porque pretende ler os dados da realidade, interpreta-los e emitir um juízo de valor. Este juízo é dependente da perspectiva de quem julga. É judicativa porque julga os elementos da sociedade a partir de uma ética que representa os interesses de uma determinada classe social. Esta pedagogia é também considerada teleológica, pois busca uma direção, dependendo da perspectiva de classe de quem reflete. (DARIDO, 2003, p. 8).

Abordagem Critico-Emancipatória

Darido (2003) apresenta esta abordagem como um ensino libertador, ou

seja, o aluno precisará aprender durante as aulas ter capacidade de interpretar e

analisar de maneira crítica o mundo em que vive. Esta pedagogia possui foco na

formação de valores como: diálogo, cooperação e autonomia, tornando-os alunos-

cidadãos.

Abordagem Saúde Renovada

Nesta abordagem Darido afirma que a vivência de atividade física na

infância e adolescência é importante no desenvolvimento de atitudes, habilidades e

hábitos contribuindo para um estilo de vida ativo quando adulto. “E como proposta

sugerem a redefinição do papel dos programas de Educação Física na escola, agora

como meio de promoção a saúde, ou a indicação para um estilo de vida ativa.”

(NAHAS, 1997 apud DARIDO, 2003, p. 18)

Parâmetros Curriculares Nacionais

Os PCNs possuem diversas possibilidades de trabalho para o profissional

de Educação Física escolar, trazendo a interdisciplinaridade e os temas

transversais, divididos em: ética, saúde, pluralidade cultural, meio ambiente,

orientação sexual, trabalho e consumo. Estes temas servem como subsídios

norteadores para os professores. (BRASIL,1997)

A inclusão destas dimensões significa que as aulas de Educação Física deixam de ter um enfoque apenas ligado ao aprender a fazer, mas incluem uma intervenção planejada do professor quanto ao conhecimento que esta por trás do fazer, além dos valores e atitudes envolvidos nas práticas da cultura corporal de movimento (DARIDO, 2003, p.23).

Nos sistemas, militarista, higienista e esportivista a Educação Física era

apenas prática e voltada para interesses políticos. Após o surgimento das

abordagens com enfoques psicológicos, sociológicos e de concepções filosóficas a

Educação Física se tornou mais educativa, sendo pedagógica e prática, com

interesses no desenvolvimento motor, psicológico, cognitivo, social, cultural e

filosófico do homem, transmitindo princípios e valores morais que antes eram

indiferentes.

Desta forma, é necessário que na formação dos professores de Educação

Física, conteúdos como ética, moral, entre outros correlacionados, sejam discutidos

e abordados em toda sua significância.

ÉTICA

Na visão da filosofia, a ética consiste no estudo do comportamento da

sociedade e seus grupos, em especial os princípios e valores morais, sendo a moral,

indicativo dos costumes do meio em que está inserida. Contudo podem ser

associados para construção de bases com o objetivo de conduzir as virtudes e o

caráter do homem em sociedade.

“Ser ético é repensar os valores, a moralidade que pauta as suas ações,

constituindo-se como humano.” (VILELA; MORAIS, 2012, p. 6)

Segundo o dicionário Aurélio, Ética é o “Estudo dos juízos de apreciação

referentes à conduta humana. Suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e

do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de um modo absoluto.” (p.

848-849). Ética, então, pode ser entendida como o caráter de cada indivíduo e a

reflexão da moral.

Ser ético é, primeiro, cuidar de si, para promover uma existência digna; depois, cuidar dos outros, por meio de uma convivência solidária, exercendo a liberdade como um direito fundamental e a responsabilidade como consciência dos atos praticados, conhecendo e reconhecendo os limites da própria liberdade. Assim, o ser humano ético permanecerá leal a si mesmo, ou seja, coerente e merecedor da dignidade de sua própria vida. (DRUMOND, 2004, p. 57)

A Ética pode ser também considerada “A ciência da conduta humana

perante o Ser e seus semelhantes.” (CONFEF/CREFs, 2005).

Ética: é a ciência da moral. É justamente através de algum princípio ético que podemos analisar se a conduta ou comportamento social de algum indivíduo ou de um determinado grupo de indivíduos deve ser considerado como, moral, imoral ou como more. (DIAS Jr, Enio; BORJA, Alexandre; BERESFORD, Heron; p.139 apud BERESFORD 2004, p. 55)

Etimologicamente ética vem do grego ethos e tem semelhança no latim

morale tendo como significado de conduta ou relativo aos costumes. Deste modo,

ética e moral são palavras sinônimas de acordo com a etimologia. Entretanto,

mesmo relacionadas não se pode confundir ética e moral. A ética não cria a moral,

toda moral determina princípios, normas ou regras de comportamento, a ética

estabelece normas de conduta para o melhor convívio em sociedade, se

apresentando em uma comunidade social com uma serie de práticas morais já

existentes. (SOARES E SANTOS)

Nos séculos XIX e XX ocorreram as revoluções industrial e tecnológica de

forma rápida e vertiginosa para um mundo humano ainda lento e perplexo. O

homem era visto como meio de produção para gerar lucros, acentuando a

competitividade de forma a desenvolver uma sociedade de consumo, na qual as

coisas valem cada vez mais e as pessoas cada vez menos.

Após a Segunda Guerra Mundial sobreveio à bipolarização de poder entre

União Soviética e Estados Unidos da América. O Brasil por sua vez ficou sobre a

influência dos EUA, exportando matéria prima e importando produtos fabricados da

cultura americana. Portanto, após estes acontecimentos iniciou-se então o

tecnicismo afetando várias profissões dentre elas a Educação Física.

Em seguida, a sociedade deixa de ser agrária e artesanal tornando-se

cada vez mais capitalista nas buscas do lucro através de uma sociedade

maquinofatureira e manufatureiras, consequentemente carecendo de uma formação

profissional especializada para ter maior domínio de um conhecimento e de sua

prática. (MORAIS, 2006).

De acordo com Cazelato (2006), com o reconhecimento da necessidade

da profissão, os profissionais precisam possuir curso superior para estarem

capacitados a desenvolver uma atuação qualificada competente e com

comprometimento ético em suas intervenções profissionais.

A mesma autora afirma que, “a ética precisa ser entendida como um

caminho possível e seguro para uma vida melhor e mais humana. [...] A ética é

indispensável ao profissional porque o fazer e o agir estão interligados.” (p. 31)

Ao abordar este tema, faz-se necessário o estudo sobre o conhecimento

da Axiologia e a Deontologia para o professor de Educação Física quanto a sua

formação e intervenção ética.

A Axiologia consiste em valores dominantes em uma sociedade,

particularmente os valores morais. Implica a noção de escolha do ser humano pelos

valores morais, éticos, estéticos e espirituais. “Cada sociedade possui seu ethos, ou

se compõe de um conjunto de ethos, jeito de ser, que conferem um caráter àquela

organização social.” (RIOS, 2000, p.21)

A Deontologia aborda a ética de um determinado profissional, assim cada

profissão possui suas regras de conduta e deveres. Desta forma, cada profissão

estabelece seu próprio Código de Ética. Neste caso, em 2003 o Código de Ética do

Profissional de Educação Física foi elaborado e aprovado pelo CONFEF - Conselho

Federal de Educação Física.

Este código de ética propõe normatizar a articulação das dimensões

técnica e social com a dimensão ética, de forma a garantir, no desempenho do profissional de educação física, a união de conhecimento cientifico e atitude, referendando a necessidade de um

saber e de um saber fazer que venham a efetivar-se com um saber bem e um saber fazer bem. (CONFEF/CREF, 2003)

Faz parte do Código de Ética da Educação Física alguns princípios

fundamentais a qualquer profissão;

o amor à profissão; o respeito à vida; à igualdade, à integridade e aos direitos do indivíduo; Responsabilidade social; A ausência de discriminação ou preconceito da qualquer natureza; Respeito à ética nas diversas atividades de aprendizagem acadêmico-profissional; Valorização do significado e da identidade profissional no campo da atividade física; diligência com os que participam de seus momentos de aprendizado acadêmico profissional; envolvimento nas diferentes especificidades da área do conhecimento e do seu futuro campo de atuação, no sentido de adequação de suas capacidades às necessidades de desenvolvimento das potencialidades humanas, daqueles aos quais deverá prestar serviços. (CONFEF/CREF, 2005).

Assim, tendo toda profissão seu Código de Ética específico, cada código

indicará seu destinatário e beneficiário segundo Beresford (2004), regulamentando

seus deveres e direitos dentro dos princípios e valores morais.

Na Educação Física o beneficiário é o aluno e o destinatário o professor,

o que regula a relação entre o beneficiário e destinatário é o SISTEMA

CONFEF/CREF enquanto instituição e o Código de Ética como código e instrumento

norteador.

ÉTICA, FORMAÇÃO E INTERVENÇÃO DO PROFESSOR.

Analisando a ética como um tema necessário a ser abordado em todo o

sistema educacional, faz-se necessário a preocupação pela preparação de

professores éticos na formação de cidadãos que se responsabilizem pelo

desenvolvimento ético na sua atuação, utilizando o melhor e mais atualizado

conhecimento.

Conforme Morais (2006), a formação profissional exige formação humana

e tem como pressuposto um desenvolvimento ético no sentido de contribuir para o

avanço axiológico nos semelhantes.

O exercício de uma profissão exige uma determinada predisposição de caráter, um pendor ou uma vocação que não se restringe apenas a possíveis qualidades técnicas, mas, também, a uma convicção pessoal e social de quem vai atuar nela. (DRUMOND, 2004, p. 56)

Segundo Morais (2006) a formação profissional que se enriquece, para

além dos tecnicismos, com objetivos de uma intervenção ética, é algo que possibilita

a vida, o conhecimento, levando a muitos outros semelhantes a viverem da mesma

forma. Sentido maior que um simples cumprimento de um dever prático.

Além de colocar em prática os estudos dos conteúdos próprios das aulas

de Educação Física, há uma necessidade da busca pela formação do cidadão

integral, ou seja, com princípios e valores morais para um bom convívio na vida em

sociedade, aprendendo a lidar com regras, deveres e direitos do cidadão.

É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar. (FREIRE, 2006, p. 33)

Assim, cabe ao professor uma intervenção pautada nos conteúdos da

Educação Física, na Ética e no Código de Ética do Profissional. Seguindo estas

considerações, um professor com esta conduta fará uma intervenção com estes

princípios.

Portanto, saber fazer bem é prestar o melhor serviço, dominando os

conteúdos e refletindo criticamente e sistematicamente sobre os valores da ação

humana para o desempenho do seu papel de educador e formador de cidadãos.

(RIOS, 2000)

O artigo 4º Capítulo II Dos Princípios e Diretrizes do Regulamento do

CONFEF nº 056/2003 diz que “a prestação, sempre, do melhor serviço, a um

número cada vez maior de pessoas, com competência, responsabilidade e

honestidade”, afirma o raciocínio de um saber fazer bem.

Para uma atuação educacional na formação integral, há a necessidade de

refletir sobre a ética na formação do professor para o enriquecimento da sua

intervenção. Para isso, compete às Instituições de Ensino Superior rever as grades

curriculares do curso de Educação Física.

“[...] é por meio da relação professor-aluno que o objeto que é o mundo é

apreendido, compreendido e alterado, numa relação que é fundamental – a relação

aluno-mundo –, propiciada pela relação professor-mundo.” (RIOS, 2000, p. 70).

Essa relação entre professor-aluno se dá através da atitude ética do

professor perante a realidade em que está inserido, sendo o professor o elemento

transformador da sociedade.

É possível admitir que a educação de nossos tempos é idêntica a escolarização, a qual se transfere para a escola e para os professores, que ali atuam para a formação do cidadão, formação ética e política. No decorrer dessa formação coloca-se em evidencia a postura ética do professor sendo ele responsável pela educação, será modelo de conduta, espelho de caráter, defensor de valores. Por isso se faz tão necessário transferir aos professores a virtude, a justiça e a responsabilidade como base no processo de formação dos cidadãos. (SOARES; SANTOS)

RESULTADO E DISCUSSÃO

Ao observar a rotina das escolas, é possível verificar com frequência o

que acontece. Nas aulas de Educação Física é o “rola bola”, deixando os alunos

soltos, não ensinando ao menos os conteúdos da disciplina. Desta forma, surge o

questionamento a respeito do aprendizado ocorrido durante a formação acadêmica e

na realidade o que se verifica na prática. É notória a falta de compromisso ético de

alguns professores com a profissão e com os alunos.

Este estudo está caracterizado como uma pesquisa de campo e teórica e

descritiva, de abordagem qualiquantitativa. Como instrumento de coleta de dados

foram aplicados questionários a dez professores da rede pública e privada do

município de Juiz de Fora no mês de outubro/novembro, os quais continham quatro

questões objetivas e uma discursiva. O suporte teórico foi levantado através da

leitura dos autores, Darido (2003), Coletivo de Autores (1992), Tojal (2006) entre

outros.

Os conceitos de Ética e Ética na Formação e Intervenção do professor de

Educação Física Escolar apresentam pontos para discussão sobre como deveria ser

a contribuição do professor para o desenvolvimento de princípios e valores morais

de seus alunos.

Na tentativa de esclarecer sobre esta questão, são descritos os

resultados deste estudo:

Quando questionados (questão 1) sobre o que os professores entendiam

ser uma intervenção ética em suas aulas, a maioria dos professionais tende a achar

que uma intervenção ética é apenas desenvolver os conteúdos da Educação Física.

O professor 4 por exemplo, respondeu: “Mostrar para o aluno a importância do

esporte, mostrando os valores do esporte. Fazer com que o aluno entenda os

princípios da competição.” e o professor 8, considera que intervenção ética: “É

passar atividades que busquem desenvolver os alunos, através de brincadeiras

lúdicas e que despertem o interesse deles.”

Entretanto, pensando de acordo com Freire (2006), o tecnicismo puro

diminui o que há de humano na educação, e seu caráter formador. Portanto, a

intervenção do professor precisa ir além do ensino dos conteúdos da Educação

Física, faz-se necessário pensar na formação total do ser humano e não na técnica

especificamente.

Dentre os profissionais questionados, apenas três responderam de

acordo com o que seria uma intervenção ética, pensando na formação completa do

aluno. O professor 3 respondeu da seguinte forma: “Uma intervenção pautada no

corpo e conhecimento específico da Educação Física na qual o objetivo principal é

auxiliar na formação global ampla e crítica do aluno.”, já o professor 6 respondeu:

“Uma intervenção que respeite a realidade do aluno e que contribua para a formação

de um cidadão critico e transformador”, e por fim o professor 7 considera:

“Administrar minhas aulas de acordo com princípios e normas de boa conduta.”

Estes demonstraram conhecer o Código de Ética do professor de

Educação Física, mostrando através de suas respostas uma intervenção de forma

ética, pensando na formação completa do aluno.

Quando questionados na questão 2 sobre o conhecimento do Código de

Ética do professor de Educação Física, 100% dos profissionais responderam

conhecê-lo, porém de forma superficial. No entanto, na questão 4, 70% disseram

atuar muito de acordo com ele e, 30% moderadamente.

No entanto, quando comparadas as questões 1, 2 e 4, sobre o que os

professores entendem ser uma intervenção ética, se eles conhecem o Código de

Ética do professor de Educação Física e se em suas aulas procuravam atuar de

acordo com o Código de Ética, observa-se que há controvérsias nas respostas

obtidas, em que a minoria respondeu intervir de maneira integral e a maioria

demonstrou intervir de forma tecnicista. Na questão discursiva, e na questão objetiva

nº 4 mais da metade diz atuar muito de forma ética.

Desta forma percebe-se uma deficiência no conhecimento de alguns

profissionais sobre uma intervenção ética na formação integral do cidadão, para o

convívio em sociedade. Isso talvez ocorra pela falta de interesse em maiores

conhecimentos e busca da formação continuada após a graduação.

Na questão 3, questionados sobre algumas áreas que complementam os

estudos sobre Ética, entre eles Filosofia, Sociologia, Teologia, Axiologia,

Deontologia, Epistemologia e Ontologia, os professores afirmam conhecer Filosofia,

Sociologia, Teologia, Epistemologia. Como demonstra o Gráfico 1.

30%

29%

26%

0%

0% 15% 0%Filosofia

Sociologia

Teologia

Axiologia

Deontologia

Epistemologia

Ontologia

Gráfico 1 – Áreas de conhecimento ligadas à Ética

Todos os professores responderam não conhecer sobre Ontologia e

sobre áreas básicas de estudo relacionadas com a ética, como a Axiologia e

Deontologia.

Quando relacionada à questão 3 com a questão 5 (Na sua formação

acadêmica houve alguma disciplina voltada para ética profissional?) a maioria

respondeu que não teve a disciplina em sua formação. Assim é possível entender o

motivo destes profissionais não conhecerem estas áreas de estudo por serem

específicas da disciplina Ética, que neste caso parece não estar presente na grade

curricular de um número considerável de Instituições de Ensino Superior do

município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desta pesquisa, foi possível analisar que em sua maioria, (cerca de

70%) os professores de Educação Física Escolar consideram como uma intervenção

Ética somente o ensino dos conteúdos da disciplina. Talvez, se dê pela falta de

conhecimento e estudos mais aprofundados sobre as bases da Ética e da Moral e

do Código de Ética do Profissional de Educação Física, pois todos os professores

questionados o conhecem superficialmente.

Ao longo deste estudo foi possível perceber a importância do caráter

formador do professor de Educação Física, e a carência da disciplina Ética em

cursos que formam profissionais da educação e da Educação Física

especificamente. Apesar de este estudo conter uma amostra considerada pequena.

O professor precisa intervir com normas ensinando os conteúdos próprios

da Educação Física e transmitindo princípios e valores morais para a ética, para o

aprendizado e para a formação visando um melhor convívio em sociedade. Sabe-se

que os princípios morais também são passados pelo convívio familiar, entretanto, há

um pequeno grupo de alunos que não tem contato com esses ensinamentos dentro

de casa, daí a importância do papel do professor ético, que é formar um cidadão,

humano, crítico, pensador e com capacidade de formar opinião.

O professor que pauta suas intervenções na busca da formação de um

cidadão integral, fundamenta-se nos conteúdos da Educação Física e na Ética do

Profissional de Educação Física.

Nos últimos anos o tema apresentado vem sendo muito estudado por

profissionais desta área, porém, ainda há grande carência nas pesquisas voltada

para a prática utilizando uma maior amostra nos estudos.

REFERÊNCIAS

BERESFORD, Heron. Valores Éticos e Morais no Sistema CONFEF/CREFs: Contextualização, Conceituação e Implicação Científica. In: TOJAL JB, organizador. Ética profissional na Educação Física. Rio de Janeiro: Shape, 2004. p. 37 - 52. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília, MEC/SEF, v. 8, 1997. CAZELATO, Jeane Arlete Marques. Preparação Profissional para uma intervenção Ética. In: TOJAL, João Batista; BARBOSA, Alberto Puga (Orgs.). A Ética e a Bioética: na preparação e na intervenção do profissional de Educação Física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2006. p. 27- 33. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. Cap 2, p. 50-56. CONFEF/CREF. RESOLUÇÃO CONFEF nº 056/2003: Código De Ética Dos Profissionais De Educação Física. 2003. Disponível em: http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_resol=103 Acesso em: 08 nov. 2013.

CONFEF/CREF. Guia de Princípios de Conduta e Ética do Estudante de Educação Física: Disposição é o que não falta para praticá-lo. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/guias/a_pdf/guia_etico_estudante_educ_fisica.pdf Acesso em: 08 nov. 2013. DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola: Questões e Reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2003. Cap. 1. DIAS JR, Enio; BORJA, Alexandre; BERESFORD, Heron. Ética: A disciplina verdadeira da correta In: TOJAL, João Batista; BARBOSA, Alberto Puga (Orgs.). A Ética e a Bioética: na preparação e na intervenção do profissional de Educação Física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2006. p. 138 - 149. DRUMOND, José Geraldo de Freitas. A Ética do profissional de Saúde e a Educação Física. In: TOJAL JB, organizador. Ética profissional na Educação Física. Rio de Janeiro: Shape, 2004. p. 55 - 65. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 34ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006. Cap. 1, p. 32-34. MORAIS, João Francisco Regis de. Formação Profissional para uma intervenção ética. In: TOJAL, João Batista; BARBOSA, Alberto Puga (Orgs.). A Ética e a Bioética: na preparação e na intervenção do profissional de Educação Física. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2006. p. 35 - 43. RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e Competência. 9º Ed. São Paulo: Cortez, v. 16, 2000. SANTIN, Silvino. Educação Física: Ética, Estética, Saúde. Porto Alegre: EST, 1995.

SOARES, Nívia Vieira Coutinho; SANTOS, Déborah dos. O PRINCÍPIO ÉTICO NA FORMAÇÃO DOCENTE: conhecimentos e práxis. Disponível em: http://midia.unit.br/enfope/2013/GT8/O_PRINCIPIO_ETICO_NA_FORMACAO_DOCENTE_CONHECIMENTOS_E_PRAXIS.pdf Acesso em: 10. nov. 2013 TOJAL, João Batista Andreotti Gomes. Cenário da formação profissional em Educação Física, esportes e atividades físicas no Brasil. 2006. Disponível em: http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/259.pdf Acesso em: 08. nov. 2013 VILELA, Maria Aparecida Augusto Satto; MEDEIROS, Lúcia Helena Moreira de. ÉTICA: Impactos na formação e atuação do professor na contemporaneidade. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus de Jataí – UFG, Goiás, v.1, n.12, 2012.