Formação policial militar
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
JOÃO ADEMAR BASTOS DA SILVA MOTA
A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR NO CEARÁ
FORTALEZA – CEARÁ2012

JOÃO ADEMAR BASTOS DA SILVA MOTA
A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR NO CEARÁ
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Administração de empresa do centro de estudos sociais aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Administração de empresas.
Orientador: Ms. Cesar Wagner Marques Barreto.
FORTALEZA – CEARÁ
2012

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Estadual do Ceará
Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho
Bibliotecário (a) Responsável – CRB-3 / 544
M917f Mota, João Ademar Bastos da Silva Formação policial militar no Ceará / João Ademar Bastos
da Silva Mota. — 2012.CD-ROM : il. (algumas color.) ; 4 ¾ pol.
“CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slin (19 x 14 cm x 7 mm)”.
Monografia (graduação) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Curso de Administração de Empresas, Fortaleza, 2012.
Orientação: Prof. Ms. Cesar Barreto.
1. Formação. 2. Policia. 3. Militar. 4. Ceará. I. Título.CDD: 658

JOÃO ADEMAR BASTOS DA SILVA MOTA
A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR NO CEARÁ
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Administração de empresa do cento de estudos sociais aplicados (CESA) da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Administração de empresas.
Aprovada em: 01 /11 / 2012.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________Professor Cesar Wagner Marques Barreto (Orientador)
Universidade Estadual do Ceará – UECE

AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser meu porto seguro sempre que tive a necessidade de motivação para seguir na caminhada da vida. A ele meus eternos agradecimentos!
A minha avó Neném (in memória), aos meus pais (Janete e Cesar) as minhas irmãs (Viviane, Ingrid e Yasmin) e aos meus familiares, por sempre estarem ao meu lado apoiando em todos os momentos que precisei!
A minha namorada (Madalena) e seus familiares por sempre me apoiarem nos momentos difíceis e me incentivar para continuar na busca pelos meus objetivos!
Ao meu professor orientador, Ms. Cesar Barreto, pela orientação e paciência durante a construção desse trabalho!
Aos meus colegas de trabalho e graduação que também fazem parte dessa conquista!
Enfim, a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram essa realização. Muito obrigado!

RESUMO
A boa formação policial é requisito essencial para o combate a crescente
criminalidade no Estado do Ceará. Nesta filosofia o Governo do Estado procurou
modificar a formação dos policias militares, tentando suprir a deficiência das velhas
formações em valores humanista. Essa nova formação é baseada na valorização da
comunicação entre as disciplinas técnico-operativas e uma educação humanista,
com enfoque em disciplinas das ciências sociais, especialmente aquelas voltadas
aos direitos humanos, à mediação de conflitos e ao desenvolvimento da ética e da
cidadania. Com disciplinas orientadas pela Secretária Nacional de Segurança
Pública (SENASP) foram feitas parcerias entre a Secretária de Segurança Publica e
Defesa Social (SSPDS) com a Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Centro de
Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe - UNB) no
intuito de aperfeiçoar essa formação mantendo sempre os princípios básicos das
instituições militares que consiste no respeito à hierarquia e a disciplina. Com essa
nova formação dos policias surgiu à filosofia de Policia comunitária (Ronda do
Quarteirão), baseado no modelo da Policia Montada do Canadá, que consiste em
uma tentativa de criar uma polícia técnica mais próxima da sociedade, fazendo dos
agentes de segurança pública, agentes transformadores da pacificação social. O
programa se tornou o maior batalhão de segurança pública da América Latina,
sendo uma das maiores experiências de policia comunitária do País, servindo de
exemplo para os outros estados, como é o caso da Bahia. O programa lançou suas
prioridades que consiste em a utilização do uso legal e proporcional da força, por
meio do irrestrito respeito aos direitos humanos, a qualificação em consonância com
a utilização de tecnologia avançada e a interação com a comunidade. Nesse
contexto, nos interessa compreender como vem ocorrendo a formação dos policiais
militares que estão sendo formados nos últimos anos e que passaram a integrar o
programa Ronda do Quarteirão.
Palavras-Chave: Formação, Policia, Militar, Ceará
.

ABSTRACT
The good police training is an essential requirement to combat rising crime in the
state of Ceará. In this philosophy the State Government sought to modify the training
of military police, trying to remedy the shortcoming of the old training in humanistic
values. This new training is based on the value of communication between the
technical and operational disciplines and humanistic education, focusing on social
science disciplines, especially those concerning human rights, mediation of conflicts
and the development of ethics and citizenship. With disciplines guided by the
National Secretary of Public Safety (SENASP) partnerships were made between the
Secretary of Public Security and Social Defense (PDSS) with the State University of
Ceará (UECE) and Center for Selection and Promotion Events at the University of
Brasilia (Cespe - UNB) in order to improve such training while maintaining the basic
principles of the military that is the respect for hierarchy and discipline.
With this new formation of the policemen came to the philosophy of Community
Police (Quarter Round), based on the model of the Canadian Mounted Police, which
is an attempt to create a technical police closer to the society, making the public
security officers, agents transformers of social pacification.
The program became the largest battalion of public security in Latin America, one of
the greatest experiences of community police in the country, setting an example for
other states, such as Bahia. The program launched its priorities which consists in the
use of proportionate and legal use of force, through a strict respect for human rights,
the qualification in line with the use of advanced technology and interaction with the
community.In this context, we are interested in understanding how there has been
the training of police officers being trained in recent years and became part of the
program Round Quarter.
Keywords: Military Police of the State of Ceará (PMCE), police training, the state
government of Ceará

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
PMCE - Policia Militar do Ceará
SENASP - Secretária Nacional de Segurança Pública
SSPDS - Secretária de Segurança Pública e Defesa Social
UECE - Universidade Estadual do Ceará
CESPE - Centro de Seleção e de Promoção de Eventos
UNB - Universidade de Brasília
EM - Estado Maior
QCG - Quartel do Comando Geral
SARS - Serviço de Assistência Religiosa e Social.
DP - Diretoria de Pessoal
CPC - Comando de Policiamento da Capital
CPI - Comando de Policiamento do Interior
BPM - Batalhão da Policia Militar
PRE - Polícia Rodoviária Estadual
BPTUR - Batalhão de Policiamento Turístico
EPMont - Esquadrão de Polícia Montada
CPMA - Companhia Independente de Polícia de Meio Ambiente
CIPE - Companhia Integrada de Pronto-Emprego
CDC - Controle de Distúrbios Civis
COTAR - Comando Tático Rural
COTAM - Comando Tático Motorizado
GATE - Grupo de Ações Táticas Especiais
ROCA - Rondas Ostensivas com Cães
CFP - Curso de Formação Profissional
CFSDF - Curso de Formação de Soldado de Fileira
UPP - Unidade de Policia Pacificadora
FNSP - Força Nacional de Segurança Pública
MCN - Matriz Curricular Nacional

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10
1.1 O SURGIMENTO DA POLICIA MILITAR............................................................. 10
1.2 O SURGIMENTO DA POLICIA MILITAR DO CEARÁ......................................... 14
1.3 DIVISÃO ADMINISTRATIVA DA PMCE.............................................................. 16
1.3.1 Organograma da Policia Militar e do Bombeiro Militar............................... 18
1.3.2 O ingresso na PMCE...................................................................................... 18
1.3.3 Descrição do cargo........................................................................................ 18
1.3.4 Ascensão profissional................................................................................... 18
2. POLÍCIA COMUNITÁRIA..................................................................................... 19
2.1 O MODELO CANADENSE DE POLICIA COMUNITÁRIA................................... 20
2.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL................................................................ 22
2.3 MODELOS QUE MERECEM DESTAQUE.......................................................... 23
2.3.1 Unidade de policia Pacificadora do Rio de Janeiro.......................................... 23
2.3.2 “Ronda do Quarteirão” no Ceará...................................................................... 24
2.3.3 O “Ronda do Quarteirão” e a greve da PMCE................................................. 25
2.3.3.1 Entendendo a greve...................................................................................... 26
2.3.3.2 Fundamentação jurídica................................................................................ 26
3. A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR NO BRASIL................................................ 28
3.1. A FORMAÇÃO DOS POLICIAS MILITARES DO CEARÁ.................................. 31
3.2. CURSOS DE QUALIFICAÇÃO APÓS DE FORMADOS.................................... 34
4. CONCLUSÃO....................................................................................................... 38
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................40
6. ANEXO.................................................................................................................. .41

1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é destacar a importância da formação policial na
consecução da Segurança Pública, frente a crescente onda de violência em nosso
Estado e ao fracasso da formação policial tradicional, devendo considerar a como
missão da Policia Militar do Ceará a proteção às pessoas e manutenção da paz
social.
O Governo do Estado observou essa carência e tem incentivado a criação
de um novo modelo de pensar e fazer polícia mais identificado com ações proativas
e preventivas do que repressivas e reativas. Nesse intuito realizou uma sensível
mudança na qualificação profissional dos agentes de segurança pública e
implementou o policiamento comunitário nos Estado, servindo como exemplo para
os demais estados da federação.
Outra característica marcante que deve ser observada é a parceria da
Secretária de Segurança Pública com as Universidades no intuito de dirimir as
possíveis falhas na formação desses agentes, pois a universidade é um lugar
eminentemente civil, transmissor por excelência de um pensamento humanista,
sendo contraria, em grande parte, de uma formação militarista, resquício de um
regime de exceção.
A relevância dessa temática se mostra quando se noticia, quase que
diariamente, ações desastrosas pelo excessivo, desnecessário ou equivocado uso
da força e da arma de fogo, condutas abusivas ou truculentas contra as pessoas e
pela escassez de produção de estudos sobre temas que abordam polícia e
Segurança Pública.
1.1O SURGIMENTO DA POLICIA MILITAR NO BRASIL
As Polícias Militares brasileiras têm sua origem nas Forças Policiais, que
foram criadas quando o Brasil era Império. Com a chegada, em 1808, e a
consequente permanência da Corte Portuguesa de D. João VI na cidade do Rio de
Janeiro transformou-a no centro econômico e político do país, aumentando
10

consideravelmente a população local, o que gerou a necessidade da criação das
primeiras organizações policiais. Portanto, em 13 de Maio de 1809, Dom João VI
cria a Guarda Real de Polícia, embrionária Polícia Militar do Rio de Janeiro. Vale
ressaltar que esse modelo de policia foi criado com base na polícia existente em
Lisboa, que por sua vez segue o modelo francês. Diversas foram às atribuições
desta guarda real, entre elas encontrando-se: reprimir os crimes, evitar o
contrabando, extinguir incêndios, captura escravos fugitivos, destruição de
quilombos e pela prisão de capoeiras.
Contudo, a criação dessas e de outras instituições, para Faoro (2001)
pouco significou em ações concretas para o Brasil. Isso porque a criação de tais
instituições se tratava, mais uma vez, de reproduzir no País as mesmas repartições
e ministérios que existiam em Portugal, situando no mundo político e administrativo
brasileiro “os fugitivos desempregados, colocando-lhes na boca uma teta do
Tesouro” (ob.cit., p. 297).
Em 1830, o Império passa por uma serie de mudanças políticas. Com a
saída do Imperador Dom Pedro I, aquele passou a ser dirigido por Regentes, que
não foram muito bem aceitos pelo povo que os consideravam sem legitimidade para
governar. Com isso, inúmeros movimentos insurgentes surgiram, tais como a Guerra
dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, a Balaiada, no Maranhão e a Sabinada, na
Bahia. Desse modo, o novo governo autorizou as províncias brasileiras a criarem
suas guardas, ou seja, as suas próprias polícias, com o intuito de evitar que esses
movimentos ganhassem força.
A militarização das organizações policiais foi à solução encontrada para a
formação da instituição no Brasil. A ideologia, sob esse aspecto, tornou-se
fundamental para a manutenção de um pensamento que, por sua vez, respaldou a
atuação bélica contra a população (TONRY e MORRIS, 2003).
Os castigos disciplinares tornam-se por demais rígidos frente às
vantagens do policial na corporação. Um exemplo pode ser dado ao observarmos as
funções atribuídas à polícia local, encarregada de prender e capturar escravos. Esse
corpo policial era composto por voluntários. Muitos deles, por não terem outra
oportunidade de trabalho, optavam pela carreira policial. Em muitas ocasiões essa
11

corporação era acusada de indisciplina e falta de instrução técnica, o que acarretava
um patrulhamento deficiente ale do número de alistados serem insuficiente para as
missões a ela atribuídas. Quanto à situação da tropa, esta não tinha possibilidade de
mobilidade social, devido aos baixos soldos recebidos e, assim, o prestígio social
também era baixo, já que a profissão de policial era menosprezada como fator de
ascensão social (PEDROSO, 2005, p. 78).
De acordo com Costa (2004), as polícias ocupavam-se apenas de uma
pequena parte do controle social. Dirigiam suas atenções para a vigilância das
classes perigosas, isto é, dos escravos, dos libertos e dos pobres livres. Na prática,
suas atribuições concentravam-se na captura de escravos fugitivos, na repressão
aos tumultos de rua, aos pequenos roubos e furtos e a outras condutas sociais
indesejadas, como capoeira.
A disciplina e militarização das forças policiais esboçadas desde as
primeiras corporações do século XVII aprimoraram-se com a vigência do novo
regime político instaurado no final do século XIX e aprimorado no período
republicano com a vinda da Missão Francesa, missão estrangeira a fim de
modernizar a estrutura e treinamento da polícia militar de São Paulo. A ordem da
tropa passará a ser vista como garantidora da segurança pública (PEDROSO,
2005).
O controle das policiais estaduais pelos Governadores deve-se ao fato da
constante instabilidade política entre a Capital e o interior. De acordo com Costa
(2004), essa tensão entre os governos central e estadual acentuaram o caráter
militar das organizações policiais.
A partir da Missão Francesa (1906-1914), a rigidez na condução da tropa
tornou-se um ponto fundamental para a organização disciplinar, incorporada como
premissa básica do papel desempenhado pelo policial militar. A assimilação da
disciplina passou a fazer parte dos atributos ligados ao aprendizado da profissão e,
além disso, o arcabouço de conhecimentos adquiridos no interior da instituição
subsidia a doutrina de como socializar um civil em soldado. Sob essa ótica
socializadora, o processo de transformação do aparato policial tornou-se constitutivo
de um saber próprio e institucionalizado, compondo um universo ideológico de
12

produção de conhecimento aliado às práticas de novas técnicas. Mas, mais do que
isso, o policial (ou soldado) deveria ser, acima de tudo, um militar e agir como tal.
Assim, a hegemonia da corporação policial militar acabou por moldar um ideário de
como deve ser o policial: militar, por excelência (PEDROSO, 2004).
Com o intuito de manter as bases das policias militares atrelada ao
Exercito Brasileiro a Constituição de 1934 reafirmou em seu artigo 167 que as
Polícias Militares eram consideradas reservas do Exército, gozando das mesmas
vantagens atribuídas a este.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1946, as Corporações
dos Estados passaram a ser denominada Polícia Militar, com, exceção do Estado do
Rio Grande do Sul que preferiu manter o nome de Brigada Militar.
O período mais tenso e que deixou profundas marcas na relação entre as
policias militares e a sociedade decorre do período da Ditadura Militar, pois essa foi
um dispositivo do Governo Ditatorial para controle dos opositores do regime, quase
sempre marcado por ações violentas das policias.
Hoje, as policias militares são reguladas pelo artigo 144 da Constituição
Federal de 1988, a qual lhes atribuiu a atividade de policiamento ostensivo e a
preservação da ordem pública. Vale salientar que pouca coisa mudou, pois
juntamente com o Corpo de Bombeiro Militar, as Polícias Militares são consideradas
forças auxiliares do Exército Brasileiro, mantendo, assim, o mesmo modelo
hierárquico, conservador e disciplinador desse.
Em recente entrevista ao jornal Folha de São Paulo, (18 de outubro de
2010) Maria Luisa Mendonça, Codiretora da Rede Social de Justiça e Direitos
Humanos, foi indagada sobre o papel da PM. Veja-se parte dessa entrevista:
1 Qual sua avaliação sobre a atuação da Rota em São Paulo? A Rota não é diferente do que vemos da atuação da PM no restante do país. Não é uma característica só de São Paulo. O que presenciamos, ao longo dos anos, é uma série de situações de violações dos direitos humanos, com um número muito grande de assassinatos de supostos suspeitos de crime. Aquela velha política de primeiro atirar e depois perguntar permanece. Na nossa opinião, ainda há no Brasil um resquício dos grupos de extermínio, de tortura, das execuções sumárias, de uma política da época da ditadura militar.
13

2. O que precisa ser feito para alterar esse cenário?Deve haver um treinamento adequado para esses policiais, com táticas mais eficientes. Uma questão fundamental também é a impunidade. Quando os crimes permanecem impunes, favorece a continuidade dessa prática. É importante que haja um esclarecimento à sociedade de que os direitos humanos também valem para indivíduo que comete crimes, senão viveremos numa situação de barbárie.3. Há representantes de movimentos sociais que defendem a extinção dos grupos de elite. O que a senhora acha disso? Acho muito difícil reformar uma instituição que tem uma característica muito forte de violência arraigada. É quase uma questão interna e cultural. Tem que haver uma transformação profunda para que essa prática de violência não aconteça. Se essa transformação levasse à extinção da Rota, essa é uma opção que deveria ser considerada. A questão central é mudar a prática de violência.
1.2 O SURGIMENTO DA POLICIA MILITAR NO CEARÁ
Em maio de 1835, Um ano após a autorização do Governo Federal para
as províncias criarem suas forças de segurança o então Presidente da Província do
Ceará, José Martiniano de Alencar, assinou a Resolução Provincial n. 13, criando a
Força Pública do Ceará, embrião da Polícia Militar do Ceará. O alistamento se daria
de forma voluntaria, todavia, caso o efetivo de 100 Praças não fosse atingido o
recrutamento seria forçado:
José Martiniano Pereira de Alencar nasceu no Crato - CE, em 1794 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1860. Foi um padre, jornalista e político brasileiro. É o pai do escritor José de Alencar e do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar. Foi senador pela província do Ceará de 2 de maio de 1832 até sua morte e, durante seu mandato vitalício de senador, foi presidente da província do Ceará por duas vezes, de 6 de outubro de 1834 a 25 de novembro de 1837 e de 20 de outubro de 1840 a 6 de abril de 1841 (blog coisadecearenseblogspost.com. acessado em 08/07/2012).
Um ano mais tarde, em discurso na Assembleia Legislativa, Martiniano de
Alencar informou que não fora possível completar o total de 100 praças como
previsto pela Lei, sendo composta a Força por apenas 74 praças e destes 43 haviam
sido enviados para combater uma agitação no Pará, no caso a Cabanagem,
enquanto outros 13 haviam saído por terem completado o tempo de serviço,
restando na Província o número de 16 praças, o que dificilmente conseguiria fazer o
policiamento noturno da cidade (HOLANDA, 1987). Com o passar dos anos a força
policial foi se desenvolvendo e pelo Decreto 188, de 21 de maio de 1891,
promulgado pelo Governador do Estado Gal. José Clarindo de Queiroz, o Corpo
ganhou uma nova organização, sendo agora composto por 17 oficiais, 1 médico e
14

300 praças, incluindo um Piquete de Cavalaria com 3 cabos, 12 soldados e 12
cavalos, sendo comandado por um oficial do Exército.
Ao longo de sua existência, a PM cearense trocou quatorze vezes de
nome, finalmente, no ano de 1947, a corporação militar recebe o nome que lhe
pertence até os dias atuais, Polícia Militar do Ceará (PMCE).
Como é possível perceber, a história da Polícia Militar no Ceará é
apropriada pela transitoriedade dos processos políticos e de certa maneira pelas
mudanças sociais, as quais passaram o Brasil e o Ceará. Essa esteve presente em
diversos momentos da historia, entre eles estão: Guerra do Paraguai, a Sedição de
Juazeiro, Revolução de 1930 no Ceará, Combate ao Cangaço, Caldeirão,
Revoluções constitucionalista de São Paulo, 1932, Cabanagem (PA), 1936 e Golpe
Militar de 1964. Vale destacar que muitas dessas mudanças foram motivadas pelos
interesses de grupos políticos que detinham o poder na época.
É importante observar que a Polícia Militar no Ceará tem definidos seus
princípios e missão, bem como sua organização e funcionamento nos artigos 187 e
188 da Constituição do Estado do Ceará, promulgada em 1989:
Art. 187. A Polícia Militar do Ceará é instituição permanente, orientada com base nos princípios da legalidade, hierarquia e disciplina, constituindo-se força auxiliar e reserva do Exército, subordinada ao Governador do Estado, tendo por missão fundamental exercer a polícia ostensiva, preservar a ordem pública e garantir os poderes constituídos no regular desempenho de suas competências, cumprindo as requisições emanadas de qualquer destes.
Art. 188. Incumbe à Polícia Militar a atividade da preservação da ordem pública em todas as suas modalidades e proteção individual, com desempenhos ostensivos para inibir os atos atentatórios a pessoas e bens.
Nesse cenário podemos observar que polícia militar se caracteriza como
a instituição responsável por manter a ordem pública, sendo inserida na
Administração Pública do Estado como um órgão subordinado ao Governo Estadual
e vinculado, operacionalmente, à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS).
Desse modo, pode-se observar a policia como o braço armado do Estado
para conter a intranquilidade da população, proporcionando, assim, sensação de
15

segurança. Vale salientar que a força policia é autorizadas a usar a força física, letal
ou não, quando necessária, em nome do Estado, para afetar o comportamento
humano.
1.3 DIVISÃO ADMINISTRATIVA DA POLICIA MILITAR DO CEARÁ
Os órgãos de Direção Superior compreendem: o Comando Geral,
constituído pelo Comandante-Geral, Chefe do Estado-Maior, Gabinete e
Assessorias. O Comandante-Geral é de livre escolha do Governador do Estado,
dentre os coronéis do serviço ativo da Corporação e que preencham os requisitos
constantes em leis.
O Colegiado compõe-se de seis Seções:
● 1ª Seção do EM: responsável pela elaboração de políticas e
acompanhamento de pessoal;
● 2ª Seção do EM: cuida das questões atinentes a informações e
inteligência da Corporação;
● 3ª Seção do EM: responsável pela política operacional;
● 4ª Seção do EM: coordena a política logística e faz o controle e
acompanhamento de material;
● 5ª Seção do EM: trata de assuntos civis: comunicação, ações
comunitárias e relações públicas;
● 6ª Seção do EM: encarregada da elaboração do planejamento
orçamentário.
● A Ajudância Geral: órgão de direção intermediária que coordena os
órgãos de apoio do Quartel do Comando Geral (QCG).
Classificadas como órgãos de apoio, as Diretorias se dividem em :
● Colégio da Polícia Militar: destinado ao ensino fundamental e médio dos
dependentes de policiais militares e demais segmentos sociais.
● Diretoria de Saúde e Assistência Social: responsável pela coordenação
da área de saúde da PMCE, que abrange o Hospital, Centro de Fisioterapia e
16

Reabilitação Motora e o Centro Odontológico. Vinculado também a esta Diretoria
está o SARS - Serviço de Assistência Religiosa e Social.
● Diretoria de Pessoal: administra os recursos humanos da Instituição,
sejam militares estaduais ou servidores públicos. A DP é divida em seções que
cuidam de áreas específicas como cadastro e avaliação, promoção, justiça e
disciplina, seção de inativos, além de outros assuntos concernentes à política de
pessoal.
● Diretoria de Finanças: responde pela execução da política econômico-
financeira da PMCE
● Diretoria de Apoio Logístico: dirige e supervisiona a política de material
da PMCE. Dessa forma, é responsável pelo controle de armamento, munição,
viatura, bens e instalações físicas (aquartelamentos), como também, pela parte
logística concernente a fardamento e alimentação do efetivo.
Na parte operacional a Corporação conta com dois Grandes Comandos:
CPC (Comando de Policiamento da Capital) e CPI (Comando de Policiamento do
Interior). O CPC, que coordena o 5°, 6° e 8° Batalhões Policiais Militares, em
Fortaleza e Maracanaú, respectivamente, é responsável pela segurança da Capital e
Região Metropolitana de Fortaleza. Já o CPI, como o nome indica, responde pela
segurança do Interior do Estado, atuando nas áreas de oito Batalhões: 1° BPM, em
Russas, 2° BPM, em Juazeiro do Norte, 3° BPM, em Sobral, 4° BPM, em Canindé,
7° BPM, em Crateús, 9° BPM em Itapipoca, 10° BPM em Iguatu e 11° BPM em
Quixadá. Cada Batalhão é dividido em Companhias e Pelotões, com áreas
circunscricionais definidas ou para o exercício de policiamento específico.
Vale salientar que a organização conta ainda com um Batalhão de
Segurança Patrimonial, quatro companhias de policiamento de guarda, um Batalhão
de Polícia Comunitária, a qual dirige o Programa Ronda do Quarteirão, um batalhão
de policiamento turístico (BPTUR), um Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual
(PRE) um Esquadrão de Polícia Montada (EPMont), Companhia Independente de
Polícia de Meio Ambiente (CPMA), Companhia de motos, Companhia Integrada de
Pronto-Emprego (CIPE), além das cinco companhias que formam o Batalhão de
Polícia de Choque (BPChoque): Controle de Distúrbios Civis (CDC), Canil, Comando
17

Tático Rural (COTAR), Comando Tático Motorizado (COTAM) e Grupo de Ações
Táticas Especiais (GATE).
1.3.1 Organograma da Policia Militar e do Bombeiro Militar (Hierarquia)
OficiaisOficial Superior Coronel;
Tenente Coronel;Major.
Oficial Intermediário Capitão.Oficial Subalterno Tenente.
Praças EspeciaisAspirantes a OficialCadetes do Curso de formação de oficiais
PraçasSubtenente;Sargento;Cabo; Soldado.
1.3.2 O ingresso na PMCE
O ingresso na corporação se dá mediante de concurso público, sendo de
escolaridade exigido o nível médio, antigo segundo grau, idade máxima 30 anos. O
certame é divido em quatro fases de caráter eliminatório e classificatório: 1ª fase -
prova objetiva de conhecimentos básico (português, matemática, história e
geografia) e específico (Estatuto dos BM e PM do Ceará); 2ª fase - exames médico e
toxicológico; 3ª fase - teste físico (corrida, barra e abdominal); e 4ª fase - prova
objetiva (conhecimentos adquiridos durante o CFP).
1.3.3 Descrição do cargo
De acordo com o estatuto dos militares, em seu artigo 37, o Soldado é o
elemento de execução. Portanto, cabe executar ordens emanadas de seus
superiores hierárquicos bem como realizar o patrulhamento ostensivo geral e suas
diversas modalidades e todo o Estado do Ceará, de acordo com a necessidade da
corporação.
18

1.3.4 Ascensão profissional
De acordo com o Estatuto dos BM e PM os critérios de promoção são
definidos nos artigos abaixo:
Art. 78 (e 139). A promoção é ato administrativo complexo e tem como finalidade básica o preenchimento seletivo das vagas existentes pertinentes ao grau hierárquico superior.Art. 81 (e 142). As promoções são efetuadas pelos critérios de:I - antiguidade; II - merecimento; III - bravura; IV - post mortem.Art. 85 (e 143). Promoção por antiguidade é aquela que se baseia na precedência hierárquica de um Oficial ou praça sobre os demais de igual posto ou graduação.Art. 86 (e 144). Promoção por merecimento é aquela que se baseia no conjunto de atributos e qualidades que distinguem e realçam o valor do Oficial e da Praça entre seus pares, avaliados no decurso da carreira e no desempenho de cargos e comissões exercidas, em particular no posto que ocupe ou graduação, ao ser cogitado para a promoção.Art. 88 (e 145). A promoção por bravura é aquela que resulta de ato ou atos não comuns de coragem e audácia, que, ultrapassando os limites normais do cumprimento do dever, representem feitos de notório mérito, em Operação ou Ação inerente à missão institucional da Corporação Militar.Art. 89 (e 146). A promoção post mortem, de caráter excepcional, independe de vaga e visa a expressar o reconhecimento do Estado e da sociedade ao oficial falecido no cumprimento do dever ou em consequência disto, ou a reconhecer o direito do oficial, a quem cabia promoção não efetivada por motivo de óbito.Art. 95( e 149).(...)
a) de Soldado a Cabo: mínimo de 7 (sete) anos na graduação de Soldado e no máximo 8 (oito) anos;b) de Cabo a Primeiro-Sargento: mínimo de 5 (cinco) anos na graduação de Cabo e no máximo 6 (seis) anos;c) de Primeiro-Sargento a Subtenente: mínimo de 2 (dois) anos na graduação de Primeiro-Sargento.para promoção ao posto de Capitão - 7 (sete) anos no posto de 1.º Tenente;d) Promoção ao posto de Major – 5 (cinco) anos no posto de Capitão;e) Promoção ao posto de Tenente-Coronel – 4 (quatro) anos no posto de Major;f) Promoção ao posto de Coronel - 3 (três) anos no posto de Tenente-Coronel.
2 POLÍCIA COMUNITÁRIA
A Polícia Comunitária consiste em uma filosofia que proporciona uma
parceria entre a população e a polícia, baseada na premissa de que tanto a polícia
quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver
19

problemas contemporâneos, como crimes, drogas, medos, desordens físicas e
morais, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida na área.
O policiamento comunitário baseia-se na crença de que os problemas
sociais terão soluções cada vez mais efetivas na medida em que haja a participação
de todos na sua identificação, análise e discussão, tendo como caracteristicas
marcantes: ações pró-ativas, que consistem atencipar-se aos acontecimentos; ações
preventivas, que consistem em estabelecer um clima de confiança com a sociedade;
transparencia, que consiste em ter suas atividades desempenhadas expostas; e
ações educativas, com o intuito de retirar as pessoas do mundo do crime.
Desse modo, fica fácil observar que a polícia comunitária é, sem sombras
de dúvidas, a melhor forma de interatividade, amizade e reciprocidade de ações da
comunidade com a Polícia cidadã, ou seja, comunga em número e grau. Polícia
cidadã é uma Polícia forte, destemida, honrada, justa, capaz de realizar qualquer ato
legal possível para defender os direitos ultrajados do cidadão cumpridor dos seus
deveres e obrigações. Vale salientar que o estrito cumprimento do dever legal, a
legítima defesa de terceiros ou a sua própria defesa devem caminhar sempre juntos
com a Polícia cidadã. Quando confronto houver com marginais em atos contrários a
estes três itens, deve sair sempre vitoriosa a Polícia cidadã.
2.1 O MODELO CANADENSE DE POLICIA COMUNITÁRIA
O exemplo de policia canadense é seguido por alguns Estados no Brasil
que aderiram a filosofia de policia comunitária, como é o caso do Ceará, com o
Programa Ronda do Quarteirão. O Policiamento Comunitário canadense é definido
pela chefe de policia local, Calgary, da seguinte forma:
É uma filosofia de ação, que tem como ponto de partida a convicção d que o cidadão integra o trabalho da polícia. A população tem o dever e o direito de participar do processo decisório policial. A polícia não ensina a população; aprende com ela novas formas de prevenir o crime. Além de seguir regras e ordens, os policiais devem ter a capacidade de pensar comunitariamente. Se a população não confia na polícia, não há policiamento comunitário. O gerenciamento do sistema pode ser feito em parceria permanente com a população. As operações táticas e estratégicas é que ficam com a polícia; afinal, somos pagos para isto (Folha de São Paulo, 25/12/1998)
20

Para atingir patamar tão elevado nesse modelo de policia algumas
ações foram tomadas, podendo ser citadas:
● redução das desigualdades dentro das instituições, não havendo
grande diferença entre o menor e o maior salário na polícia do Canadá (o comissário
- geral recebe U$$ 9.000; o oficial de rua, U$$ 3.000). No Brasil, essa diferença é de
pelo menos dez vezes; e
● grande redução dos níveis hierárquicos, os inspetores que comandam
as unidades operacionais estão mais próximos dos policiais de rua, e estes sentem
que são fundamentais nas decisões dos superiores. No Brasil em alguns estados a
Policia Militar chegar até 13 níveis hierárquicos e a mobilidade é muito baixa.
De acordo com o jornal Folha de São Paulo (edição de 25.12.1998), as
ações dos policiais foram mais conscientes e pautadas na legalidade, e, em nove
cidades canadenses, num período de dez anos, 50 civis foram mortos pela polícia, e
o número de feridos é bem superior ao de vítimas fatais (em São Paulo, em menos
de nove anos, 5.628 civis foram mortos pela PM, é o número de feridos é menor que
o de mortos. De 1983 a 1992, para cada dois civis mortos, um era ferido), o que
confirma a tese de que a eficiência da polícia não se mede pelo número de civis
mortos.
Vale destacar também, que em todas as cidades canadenses, se um
policial saca sua arma em público, mesmo sem atirar, é obrigado a fazer um relatório
sobre os motivos do ato. Nos casos em que o policial atira num cidadão e o fere, é
automaticamente retirado da atividade-fim e investigado pela Divisão de Assuntos
Internos e pela Comissão Civil de Reclamação.
É feita uma rígida pesquisa social quando um cidadão é aprovado no
recrutamento da polícia, que dura cerca de dois anos. Reciclagem e cursos de
aperfeiçoamento técnico-científico são obrigatórios. Todas as polícias do Canadá
são de caráter civil, com um setor majoritário uniformizado e outro para investigação.
Há um plano único de carreira, e as polícias não são judiciárias (não cabe a elas a
instauração de inquéritos policiais; os crimes são sempre apurados pela Promotoria).
21

A polícia do Canadá não trabalha só com os efeitos da violência, mas
também com as causas, graças à interação com a população. O resultado é a
diminuição da criminalidade.
De acordo com Dupont, em sua apresentação no Seminário Pan-
Americano de Polícia Comunitária e Segurança Cidadã, realizado de 13 a 15 de
junho no Hotel Intercontinental, no Rio, e promovido pela Secretaria Nacional de
Segurança Pública, representante da policia montada canadense, a polícia
comunitária é um modelo para prestação de serviços. Para obter sucesso, é preciso
realinhar as estruturas e sistemas organizacionais para sustentar a filosofia. Depois,
vem treinamento, treinamento e mais treinamento, mais voltado para o modelo
preventivo que para o militar. “É preciso ter muita coragem para ser um agente da
mudança, mas vale a pena”, enfatizou. Ela destacou ainda que o papel de cada um
tem que estar claro neste modelo de liderança compartilhada, e que é essencial
receber instruções precisas da chefia da organização.
Nesse seminário, Dupont afirmou ainda que, no combate ao crime, a
polícia comunitária não é “boazinha”, mas procura as raízes do problema para
resolvê-lo. “É preciso antever os problemas para evitá-los”, disse. Ela descreveu o
modelo de resolução de problemas implantado nas delegacias, denominado pela
sigla CAPRA: Clientes, Análise, Parcerias, Resposta e Avaliação. O sistema,
multidisciplinar e interagencial, confere poder aos membros da polícia e busca
administrar as expectativas da comunidade. “Não se deve fazer promessas que não
se pode cumprir. Prometa menos e faça mais”.
2.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL
Nos anos 50 e 60, pensava-se que o contato da polícia com a população
deveria ser evitado por ser considerada uma fonte perigosa de corrupção. Aos
policiais que patrulham as ruas, os Cosme e Damião (dupla de policiamento a pé),
se recomendava distância dos moradores, dos comerciantes e dos pedestres. Esses
policiais deveriam inibir o crime por sua mera presença e manter-se alerta para
responder a alguma ocorrência.
A primeira experiência que se tem referência de policia comunitária no
Brasil foi denominada de polícia interativa e foi desenvolvida nas cidades de Guaçui 22

e Alegre, no Espírito Santo em 1994, quando os policiais daquelas localidades
exercitaram medidas de preservação da ordem pública condizentes com a filosofia
de policia comunitária.
Com o decorrer dos anos foram gradativamente surgindo em vários
estados outros exemplos de iniciativas de instituições policiais com o intento de fazer
o trabalho dos seus membros mais condizente com a realidade e respectivas
necessidades da sociedade moderna. Nessa esteira de acontecimentos, foram se
multiplicando programas e projetos que estavam em sintonia com os princípios e
preceitos da filosofia da polícia comunitária. Esse quadro de pioneirismo disseminou
a filosofia de trabalho do policial, bem como, contribuiu decisivamente para a sua
evolução profissional. Admite-se, inclusive, que a maioria das experiências
realizadas nesse sentido teve como ponto de partida a percepção de falhas
existentes no modelo tradicional de atuação da polícia, criando a partir daí, uma
busca de parceria no relacionamento entre policiais e os cidadãos da comunidade
local.
2.3 MODELOS QUE MERECEM DESTAQUE
2.3.1 Unidade de Policia Pacificadora do Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro com suas Unidades de Polícias Pacificadoras,
conhecida também pela sigla UPP’s, é um projeto da Secretaria Estadual de
Segurança Pública do Rio de Janeiro que pretende instituir polícias comunitárias em
favelas principalmente na capital do Estado, como forma de desarticular quadrilhas
que antes controlavam estes territórios como estados paralelos. Esse projeto visa
promove a aproximação entre a população e a polícia, aliada ao fortalecimento de
políticas sociais nas comunidades. Ao recuperar territórios ocupados há décadas por
traficantes e, recentemente, por milicianos.
De acordo com o jornal O Globo, em sua edição online do dia 12/05/2009,
com a ocupação da favela e a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora
(UPP) no lugar, a violência saiu da rotina dos moradores – e os índices de
criminalidade na área comprovam isso. Só no caso dos homicídios, houve uma
queda de mais de 82% e durante o período de 10 de novembro de 2007 a 10 de
23

novembro de 2008, a Polícia Civil registrou na Cidade de Deus 34 assassinatos. Já
de 11 de novembro de 2008 a 11 de novembro deste ano, foram seis casos. Quanto
a roubos de carros, houve, no mesmo período, uma redução de 83% – de 68
registros para 11. Os assaltos em coletivos também despencaram de 141 para 41
casos, ou seja, 70,9%.
O projeto é tão bem sucedido que o governo baiano criou as Bases
Comunitárias de Segurança (BCSs) para atender as comunidades de Salvador e o
governo paranaense criaram as Unidades Paraná Segura (UPSs) para atender as
comunidades de Curitiba ambas inspiradas nas Unidades de Policia Pacificadoras.
2.3.2 O Programa Ronda do Quarteirão no Ceará
A Policia Militar do Ceará é divida em Batalhões e entre esses está
inserido o Batalhão de Policia Comunitário. Foi uma promessa de campanha
eleitoral do então governador do Estado, Cid Ferreira Gomes, que prometia criar um
programa que mudaria a forma da policia militar e que estaria ao lado da população.
Nesse cenário surge o Ronda do Quarteirão com uma filosofia de policia voltada
para a parceira com a população e o diferencial de sempre está perto de quem
precisa.
O Programa Ronda do Quarteirão pode ser definido como uma nova
estratégia de fazer polícia. Nele, os esforços estão concentrados na filosofia de
polícia comunitária que consiste em uma tentativa de criar uma polícia técnica mais
próxima da sociedade, fazendo dos agentes de segurança pública, agentes
transformadores da pacificação social.
O Ronda do Quarteirão teve seu início em 21 de novembro de 2007, e é o
principal programa da área de Segurança Pública do Ceará, iniciou-se com 05
(cinco) áreas-piloto e atualmente possui 252 (duzentos e cinquenta e duas) áreas
cobertas, em 42 (quarenta e dois) municípios, tendo toda a Capital e Região
Metropolitana com 100% de cobertura, e em 2010, passou a contemplar todas as
cidades com mais 50.000 habitantes, sendo também o maior Batalhão de Segurança
Pública da América Latina. Vale destacar que para o programa foram estabelecidas
24

prioridades como: a criação de polícia de proximidade, a utilização do uso legal e
proporcional da força, por meio do irrestrito respeito aos direitos humanos, a
qualificação em consonância com a utilização de tecnologia avançada e a interação
com a comunidade.
Vale salienta que além do serviço operacional, os Policiais do Ronda do
Quarteirão realizam atividades sociais em parceria com as lideranças comunitárias.
Projetos que capacitam crianças e adolescentes, tirando-os da ociosidade e das
ruas.
Dentre as atividades a serem desenvolvidas pelos policiais do Ronda,
está a realização de patrulhamento e de prisões, ações de polícia comunitária e a
prestação de socorro. As ações de polícia comunitária estão associadas à realização
de “visitas e contatos frequentes junto aos moradores das áreas para obter
informações e sugestões sobre segurança nas bases territoriais” (LOPES, 2008, p.
75).
De acordo com dados da SSPDS ocorreu aumento em quase 1.000% de
apreensão de maconha. Em 2010, de acordo com o estudo, foram apreendidos 297
quilos de maconha; já em 2011 foram três toneladas. A apreensão de crack
aumentou em 56% e a cocaína, em 255%, a taxa de homicídio doloso (quando há
intenção de matar) no Ceará reduziu 1,2% em 2011 em relação a 2010, de acordo
com dados da Secretaria de Segurança e Defesa Social do Ceará (SSPDS),
divulgados nesta terça-feira (17). Segundo a Secretaria, em 2010 foram 2.700
homicídios no Ceará; em 2011, o índice reduziu para 2.667 e o numero de
apreensões de armas quase cinco mil armas (4.995) foram tiradas das mãos de
criminosos no estado pela polícia. O número é 32% maior que no ano anterior, em
2010, quando foram apreendidas 3.760 armas.
2.3.2.1 O Ronda do Quarteirão e a greve da PMCE
O Governo estadual criou o Ronda do Quarteirão para ser uma tropa de
pronto emprego, subordinada diretamente ao seu comando e livre dos vícios do
policiamento comum. Todavia, o crescente nível de instrução dos novos policiais e a
25

formação policial diferenciada criaram um clima de revolta decorrente das difíceis
condições de trabalho e dos baixos salários, culminando com a greve dos militares
cearenses.
2.3.2.2 Entendendo a greve
No fim do ano de 2011 e inicio de 2012 os policiais militares do Ceará,
liderado pelos milicianos do Ronda do Quarteirão se mobilizaram com o intuito de
alcançar melhorias, entre elas estão: reajuste salarial, redução da jornada de
trabalho e criação do código de ética. Todavia, as reivindicações não foram aceitas
pelo Governo e a categoria decidiu pela paralisação, comprometendo, assim, a
realização do réveillon.
Os policiais e bombeiros militares se concentraram em uma Companhia
da PM, no bairro Antônio Bezerra. Cerca de 180 viaturas e 80% do efetivo da PM
estavam paralisados em Fortaleza. Nessa conjuntura, o governador Cid Gomes
(PSB) foi obrigado a decretar situação de emergência no Ceará e pediu auxilio ao
Ministério da Justiça e membros da e Exército realizaram a segurança da capital
cearense durante a paralisação. Todavia, mesmo com ajuda federal, o clima de
intranquilidade se alastrou pela cidade e a população pressionou o Governo para
atender as reivindicações da categoria.
Membros da sociedade civil, entre eles presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil, o Arcebispo de Fortaleza e políticos intermediaram a
negociação entre as partes e a greve foi encerrada com as reivindicações atendidas,
além da anistia.
2.3.2.3 Fundamentação jurídica
A Constituição Federal em seu artigo 142, § 3º, inciso IV, diz que "ao
militar são proibidas a sindicalização e a greve". Portanto, aos militares, por
disposição expressa da atual Constituição, é vedada a greve, sendo considerado
crime.
26

De acordo com artigo 149, caput, e incisos I, II, III e IV, do Código Penal
Militar, o crime de motim configura-se nas seguintes circunstâncias:
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:I- agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la; II- recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência; III- assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência, em comum, contra superior; IV- ocupando quartel, fortaleza, arsenal. Fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de qualquer deles, hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios de transporte, para ação militar, ou prática de violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento da ordem ou da disciplina militar: Pena – reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para os cabeças.
A doutrina majoritária entende que não há que se cogitar o exercício do
direito de greve pelos militares, tendo em vista que eles atuam na manutenção da
ordem pública e na defesa dos interesses do Estado, entretanto alguns
doutrinadores consideram os militares como qualquer outro trabalhador e
referendam o direito de greve por esse.
27

3 A FORMAÇÃO POLICIAL MILITAR NO BRASIL
A formação policial no Brasil é doutrinada meio do Ministério da Justiça
através da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Esta lançou as
Bases Curriculares para o ensino policial com o objetivo de padronizar o ensino
policial nas polícias militares de todos os estados do País. Este projeto visa
equiparar os currículos das policias visando a garantir o princípio de equidade dos
conhecimentos e a modernização do ensino policial.
A Matriz Curricular Nacional (MCN) apresentada pela SENASP é um
instrumento importante para modificação dos programas de treinamento policiais,
pois possui uma grade curricular composta de disciplinas inerentes à atividade em
uma sociedade democrática. Os programas de treinamento devem instruir os
policiais a respeito dos conhecimentos necessários para o desempenho de suas
funções no dia-a-dia.
Vale salientar que esse currículo não é inflexível, as disciplinas podem e
devem ser implementadas de acordo com as características organizacionais e
regionais das policias, pois foram idealizadas tendo como pressupostos a
heterogeneidade das organizações policiais, das realidades regionais enfrentadas
pelas organizações policiais e das carreiras profissionais dentro dessas
organizações. Cabe aos centros de ensino avaliar e promover as atualizações
necessárias garantindo uma correlação entre componente curricular, tópicos de
estudo a ser abordada, metodologia adequada para as atividades de ensino -
aprendizagem e técnicas, instrumentos de avaliação coerentes com os objetivos das
disciplinas que compõem a base comum e as suas reais necessidades.
Na MCN o conjunto dos conteúdos formativos para a implementação e
avaliação das atividades de formação e ensino em Segurança Pública encontra-se
definido mediante quatro eixos articuladores, os quais são:
● Sujeito e as interações no contexto da segurança pública;
● Sociedade, Poder, Estado e Espaço Público e Segurança Pública;
● Ética, Cidadania, Direitos Humanos e Segurança Pública;
● Diversidade, Conflitos e Segurança Pública.28

A MCN norteia seus princípios em preceitos que fundamentam a
concepção das Ações Formativas para os profissionais da área de Segurança
Pública. Para efeito didático, eles estão classificados em três grandes grupos:
● Ético: os princípios contidos neste grupo enfatizam a relação existente
entre as Ações Formativas e a transversalidade dos Direitos Humanos, contribuindo
para orientar as ações dos profissionais da área de Segurança Pública num Estado
Democrático de Direito.
● Educacional: os princípios contidos neste grupo apresentam as linhas
gerais sobre as quais estarão fundamentadas as Ações Formativas dos Profissionais
da Área de Segurança Pública.
● Didático-pedagógico: os princípios deste grupo orientam as ações e
atividades referentes aos processos de planejamento, execução e avaliação
utilizados nas Ações Formativas dos Profissionais da Área de Segurança Pública.
São indicadas pela MCN algumas ações com o intuito de potencializar o
aprendizado dos alunos ao fazer com que eles enfrentem novas situações, dotando-
os de capacidade para resolver problemas que ultrapassam os limites de uma única
disciplina e possibilitando-os detectar, analisar e solucionar problemas sob novos
enfoques:
● Simulação (Role Playing): a simulação é uma técnica em que se
constrói um cenário para os estudantes vivenciarem papeis a partir de uma
experiência, com o objetivo de conseguir uma aproximação consistente entre a
teoria e a prática, aperfeiçoar as habilidades e atitudes e construir referências que
ajudem a tomar decisões e a agir em situações similares.
● Estudo de Casos: esta técnica compreende a discussão em pequenos
grupos de casos verídicos ou baseados em fatos reais relacionados a situações que
farão parte do cotidiano da área de Segurança Pública. Os casos deverão vir
acompanhados do máximo de informações pertinentes para que o estudante possa
analisá-los (caso análise) ou apresentar possíveis soluções (caso problema). Esta
técnica permite que os estudantes analisem a situação apresentada e apliquem os
conhecimentos aprendidos.
29

● Lista de Tarefas (Job Aids): as listas de tarefas devem ser utilizadas
quando se tem por objetivo que os estudantes sigam passos na realização de
procedimentos.
● Painel de Discussão: caracteriza-se pela apresentação de especialistas
que expõem a sua visão sobre determinado tema a ser debatido. Pode ser
coordenado por um moderador que controlará o tempo de exposição e de debate e
organizará a síntese dos pontos abordados no painel.
● Discussões em Grupos: apresentação de um tema a ser discutido a
cada grupo. Ao final do tempo estipulado, os grupos apresentam a síntese da
discussão.
● Discussão Dirigida: técnica de ensino em que os participantes
expressam suas ideias após analisarem criticamente um assunto de interesse
relacionado com o tema. Ao final da atividade, é feita uma avaliação, quando se
ressalta o valor das contribuições feitas pelos participantes, bem como a importância
das conclusões.
● Debate Cruzado: organizado em dois grupos, em que cada grupo terá
de debater uma tese contrária à do outro grupo, invertendo-se os papeis ao final.
● Grupo de Vivência ou Verbalização e Grupo de Observação (GV/ GO):
os participantes são divididos em dois grupos, em que o primeiro terá a função de
vivência ou verbalização de determinada situação e o segundo desempenhará a
função de observador. Ao final, invertem-se os papeis.
- Brainstorming e Brainwriting: utilizados para gerar novas ideias, buscar
soluções para um determinado problema. Todas as ideias surgidas devem ser
registradas, a seguir categorizadas e analisadas com o auxilio de um coordenador.
Ao final, o grupo toma as decisões para a resolução do problema.
● Demonstração ou Aula Prática: explicação por meio da demonstração
de técnicas e procedimentos, oportunizando aos estudantes: a exercitação, o
feedback, a automação e a aplicação. As atividades de demonstração devem
proporcionar aos estudantes possibilidades de refletir sobre a demonstração do
instrutor, questionando o “por quê” de determinada ação ou técnica.
30

Desse modo, fica fácil observar que a Matriz Curricular do SENASP visa
adequar a formação ao real contexto dos estados e reforçar que o treinamento serve
para controlar reações espontâneas do profissional de segurança, com vistas a
maximizar os resultados e reduzir os erros.
É importante observar que a mudança de foco na atuação dos
organismos policiais depende, em boa medida, de um treinamento eficaz. O
processo de formação também é importante, pois visa a transmitir informação,
desenvolver habilidades, atitudes e conceitos.
3.1 A FORMAÇÃO DOS POLICIAIS MILITARES DO CEARÁ
A atual formação dos Policiais Militares do Ceará visa capacitar os
policias para conter o crescimento acelerado da violência na região. Com o
desenvolvimento da economia local, o aumento do poder aquisitivo da população e a
maior repressão das forças policiais na região Sudeste, principalmente nos estados
do Rio de Janeiro e de São Paulo, ocorreu uma migração desses grupos para os
estados do Nordeste, entre eles, o Ceará.
Esse novo modelo de formação promoveu mudanças bruscas na
instituição, haja vista, o modelo tradicional ser bastante pautado no assédio moral,
que consiste em toda e qualquer expressão (atitude) de superior hierárquico, contra
subordinado, que venha a ferir sua integridade moral, e na pouca valorização do
profissional.
Essa nova formação é baseada na valorização da comunicação entre as
disciplinas técnico-operativas e uma educação humanista, com enfoque em
disciplinas das ciências sociais, especialmente aquelas voltadas aos direitos
humanos, à mediação de conflitos e ao desenvolvimento da ética e da cidadania.
Vale destacar as parcerias entre a Secretária de Segurança Publica e Defesa Social
(SSPDS) com a Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Centro de Seleção e de
Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE/UNB) no intuito de
aperfeiçoar essa formação. É importante destacar que os princípios básicos das
31

instituições militares foram mantidos que consiste no respeito e a hierarquia e a
disciplina.
Seguindo orientação do Ministério da Justiça, veja-se a seguir as
disciplinas do Curso de Formação Profissional (CFP) de 2008 promovido pela
CESPE/UNB e um quadro comparativo com os dois Cursos de Formação de
Soldados de Fileiras (CFSDF) anteriores 2003 e 2007 respectivamente, ambos
promovidos pela UECE:
DisciplinaCarga horáriaCFSDF 2003
Carga horáriaCFSDF 2007
Carga horáriaCFP 2008
Seminário Introdutório 20h/a 10h/a 8h/aComunicação e expressão - - 20h/aSociedade, Ética e Cidadania 30/a 20h/a 20h/aFundamentos Psicossociais do Fenômeno da Violência
20h/a 20h/a 20h/a
Introdução ao Estudo do Direito 20h/a 20h/a 20h/aFundamentos de Direito Constitucional 20h/a 20h/a 20h/aFundamentos de Direito Administrativo 20h/a 20h/a 20h/aFundamentos de Direito Penal 20h/a 20h/a 20h/aFundamentos de Direito Civil 20h/a 20h/a 20h/aFundamentos de Direito Ambiental 20h/a 20h/a 20h/aFundamentos de Direito Processual Penal
20h/a 20h/a 20h/a
Direitos Humanos 30h/a 30h/a 30h/aFundamentos de Direito Penal Militar - 7h/a 20h/aFundamentos de Direito Processual Penal
- 8h/a 20h/a
Saúde e segurança aplicado ao trabalho 20h/a 20h/a 20h/aIntrodução à Informática 30h/a - -Fundamentos Psicossociais da Atividade Policial
30h/a 20h/a 20h/a
Fundamentos Psicossociais do fenômeno violência
- - 20h/a
Fundamentos da Atividade dos Profissionais de segurança publica
30h/a 20h/a 20h/a
Sistema de Segurança Pública no Brasil 20h/a 20h/a 20h/aEducação física 60h/a 30h/a 60h/aLegislação da Polícia Militar 30h/a 30h/a 30h/aAtendimento em Emergências Médicas (Pronto-Socorro)
30h/a 20h/a 20h/a
Eficácia Pessoal* 45h/a 20h/a -Telemática 20h/a 20h/a 20h/aInstrução Geral 40h/a 30h/a 40h/aTécnica Policial Militar 120h/a 80h/a 90h/a
32

Gestão de conflitos e eventos críticos - - 40h/aDoutrina de policia comunitária - 20h/a 40h/aArmamento e Equipamento* 90h/a 60h/a 30h/aDefesa Pessoal 60h/a 50h/a 60h/aOrdem Unida 45h/a 30h/a 40h/aInteligência policial - - 20h/aTiro policial defensivo - - 60h/aDireção veicular aplicada a atividade policial
- - 28h/a
Seminário temático I (Prevenção ao uso da Droga)
10h/a - 8h/a
Seminário temático II (Sistema de segurança publica)
4h/a - 8h/a
Seminário temático III (Qualidade de vida)
10h/a - 8h/a
Ação policial supervisionada - - 50h/aTotal 914h/a 715h/a 1.020h/a
*Nos CFSDF de 2003 e 2007 a disciplina de armamento e equipamento englobava a disciplina de tiro policial defensivo. Observe-se também que algumas disciplinas possuem nomenclaturas diferentes entre os anos de formação, todavia o conteúdo é similar.
De acordo com o quadro apresentado o ano de 2007 em comparação
com 2003 teve uma acentuada queda, algo em torno de 21,5%. Isso se deu pelo fato
do governo querer formar os policias com urgência para integrarem os quadros do
Ronda do Quarteirão.
Como uma resposta a sociedade ocorreu toda uma mudança na formação
dos militares estaduais e no ano de 2009, os alunos do curso de formação
profissional tiveram uma quantidade de 1020h/a, 42% a mais que o curso anterior.
Vale destacar que disciplinas como Armamento Letal e Não Letal, Tiro Policial
Defensivo, Técnica Policial Militar e Defesa Pessoal tiveram suas cargas horárias
aumentadas e disciplinas como Condução de Veículo de Emergência, Inteligência
Policial e Gestão de Conflitos e Eventos Críticos foram integradas à grade curricular.
Vale salientar que mesmo após essa ampliação da carga horária dos
militares do Ceará, o Estado se encontra na penúltima posição comparado com os
outros Estados do nordeste. Segundo pesquisa realizada pelo jornal O Povo na
edição de 19/10/2009, p. 08, a classificação era a seguinte: 1.200h/a Sergipe e
Paraíba, 1.116h/a Bahia, 1.110h/a Pernambuco, 1.050h/a Rio Grande do Norte,
1.036h/a Piauí, 1.020h/a Ceará e 840h/a Maranhão.
33

Outra característica da formação dos policiais militares do Ceará é o fato
que cada unidade da corporação recebia uma quantidade de alunos e cada qual
moldava a grade de acordo com suas convicções, fato esse, bastante prejudicial aos
alunos. Visando encerrar com esse problema o governo do Estado criou a
Academia Estadual de Segurança Pública (AESP), sendo uma proposta inovadora
para o a formação dos agentes de segurança publica do país, pois vai permitir a
formação, aperfeiçoamento e profissionalização em segurança pública, porque, em
seus mais de 60 mil metros quadrados, pretendem capacitar todos os agentes de
Segurança Pública (policiais civis, militares, bombeiros e peritos), integrando-os em
uma única coordenação de ensino.
A mencionada Academia entrou em funcionamento em 2011 e já vem
sendo utilizada para habilitação dos policiais e bombeiros militares a graduações
superiores. Ela conta com uma superestrutura com ginásio poliesportivo; campo de
futebol com pista de atletismo; dois estandes de tiro, um para 50 metros e outro para
100; estande de tiro virtual; piscina olímpica; duas salas para defesa pessoal; sala
de musculação; vinte salas de aula para 40 alunos; laboratórios de informática,
física, química, biologia e de primeiros socorros; alojamento para 256 alunos; além
de uma cidade cenográfica para que alunos e instrutores possam simular operações.
3.2 CURSOS DE QUALIFICAÇÃO APÓS DE FORMADOS
Após o curso de formação poucas oportunidades são dadas aos
milicianos de se especializarem. Segue abaixo uma lista de alguns cursos que esses
podem fazer, todavia, muitas vezes, as vagas são destinadas aos policiais de grupos
de elite, o que prejudica o restante da tropa, que é a maioria. Vale destacar que
esses cursos exigem do policial um excelente preparo físico, o que muitas vezes não
condiz com a realidade do militar, pois esse não tem tempo de praticar uma
atividade física em virtude da quantidade de horas trabalhada e dos baixos salários,
que obriga o policial a realizarem o “bico” (trabalho extra fora do expediente de
trabalho). É importante lembrar também que muitos desses cursos são
caracterizados pelo assédio moral e pela tortura dos alunos o que inibe, ainda mais,
a procura por eles:
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● Patrulhamento Urbano: criado com o objetivo de preencher uma lacuna
no processo de treinamento e manutenção da polícia militar do ceará, no que se
refere à padronização de procedimentos operacionais no desenvolvimento do
policiamento motorizado urbano. O curso fornece ao policial militar capacidade
técnicas para poder atuar nas mais diversas situações de policiamento, estando apto
a enfrentar ocorrências de confronto direto, como também executar de modo seguro
e eficiente o policiamento motorizado ostensivo e preventivo nas áreas urbanas,
destinado ao aprimoramento dos conhecimentos técnico-profissionais de policiais
que exercem suas funções no serviço de rádio - patrulhamento e em operações de
alto risco.
● Patrulhamento Rural: Curso similar ao de patrulhamento urbano com o
diferencial de preparar os policiais para o controle do crime organizado em áreas de
difícil acesso no sertão do Estado.
● Controle de Distúrbios Civis: Forma os policiais a atuarem em eventos
críticos, onde haja a presença de grande público, através da utilização de técnicas
específicas de controle de multidões e de armamentos e munições de potencial
menos letal. Treinar os milicianos para eventos que seja necessária a restauração
da Ordem Pública nos casos em que houver a grave perturbação da ordem, bem
como realizar o policiamento ostensivo em eventos esportivos, religiosos, culturais e
nas missões que necessitem de uma tropa adestrada para tal mister.
● Rondas Ostensivas com Cães (ROCA): Treinamento especializado que
procura treinar o policial para ter total controle do animal, bem como padronizar
técnicas de tiro policial e imobilização de indivíduos com apoio do cão.
● RAIO: treinamento especializado em policiamento com motocicletas
para situações de média e alta complexidade, em locais de difícil acesso e na
abordagem de indivíduos suspeitos caminhando em locais inóspitos ou conduzindo
bicicletas, mobiletes e motos.
● GATE: visa treinar os policias para ocorrências de alta complexidade
tais como: ocorrências com reféns localizados, ocorrências em estabelecimentos
penais, assaltos a bancos ou a grandes estabelecimentos comerciais, sequestros,
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escolta a presos de alta periculosidade, segurança de dignitários, combate ao crime
organizado, combate a criminosos armados em locais de difícil acesso, operações
de busca e perseguição a fugitivos perigosos em regiões inóspitas, apoio ao
policiamento padrão em ações policiais de grande vulto, atendimento de ocorrências
envolvendo artefatos explosivos e outras missões.
● Curso de Operações de Choque Montado: visa preparar os policias
para o controle de distúrbios civis em áreas de difícil acesso com apoio de cavalos,
primando pela utilização de armamento não letal, bem como o combate ao crime e
apreensão de armas em áreas de praia e periferia.
● Estágio Operacional: visa capacitar os integrantes do Batalhão de
Policiamento Comunitário (BPCom) nas táticas de abordagem usadas pelos policiais
do Batalhão de Choque. Preparar os policiais para atuarem na segurança durante a
Copa das Confederações e Copa de 2014. Esses são alguns dos principais objetivos
do curso.
No plano teórico o Governo Federal por intermédio do Ministério da
Justiça criou o Programa Nacional Segurança Pública Cidadania (PRONASCI) com
o intuito de desenvolver ações, programas e projetos de segurança pública, voltados
à prevenção, controle e repressão da criminalidade, bem como a proteção às
vítimas, através da integração entre União, estados e municípios, obedecendo às
diretrizes propostas pelo Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).
Para incentivar a qualificação e valorização do profissional de segurança
pública, o PRONASCI criou um sistema de Bolsa-Formação, regulamentado através
dos Decretos ns. 6.490 de 19 de junho de 2008, e 6.609, de 22 de outubro de 2008.
Através do projeto Bolsa-Formação, agentes de segurança pública recebem uma
bolsa de quatrocentos e quarenta e três reais para fins de qualificação em cursos
oferecidos por órgãos reconhecidos pelo Ministério da Justiça ou credenciados na
Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública. É importante frisar que para
o recebimento dessa bolsa existem algumas condicionantes para o agente de
segurança pública, quais sejam possuir uma remuneração mensal bruta de até mil e
setecentos reais, não estar respondendo processo em nenhuma esfera
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administrativa, e, a cada 12 meses concluir um curso oferecido. Vale destacar que a
PMCE perdeu a bolsa em janeiro de 2012 em decorrência do aumento salarial.
Outro curso ofertado para os policiais e que merece destaque é o de
inglês com o objetivo de recepcionar os turistas que visitam o Estado do Ceará.
Essa iniciativa já visa preparar os policiais para a Copa do Mundo de 2014. Estão
sendo preparados pela Ally Internacional, que tem sua metodologia de ensino de
inglês funcional desenvolvida nos EUA, a partir de aulas práticas com ênfase em
vocabulários relevantes para o setor de atividades profissionais. Por ser um curso
rápido e voltado para área de segurança pública, os policiais que estão participando
dessa primeira turma já se sentem envolvidos e dispostos a aplicar os seus
conhecimentos com turistas estrangeiros.
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4 CONCLUSÃO
As políticas públicas e o modelo de atuação dos dias de hoje, impostos às
organizações policiais, têm por base pôr em atividade o maior número disponível de
agentes no menor tempo possível, muitas vezes, esquecendo-se de treinar os
profissionais de segurança de maneira correta.
As forças polícia devem ser orientadas para solução dos problemas, dos
conflitos e do controle social, habilitando os agentes de forma que, coordenando
esforços, encontrem soluções baseada em princípios legais, com procedimentos que
demonstrem o aumento do profissionalismo dos órgãos policiais e a preocupação
com sua função de proteção dos cidadãos. Vale salientar que essa
profissionalização é entendida como sendo a capacitação dos agentes voltada para
a prevenção das infrações, através do respeito às leis, eliminando comportamentos
inadequados, desnecessários e desproporcionais.
A Matriz Curricular proposta pela SENASP visa reduzir essa problemática
e nivelar o ensino policial em todo o país com uma grade de disciplinas que engloba
os conhecimentos necessários para a ação policial direcionada para uma sociedade
democrática.
No Estado do Ceará a doutrina de Policia Comunitária foi imposta pelo
governo para que os militares tivessem suas posturas alteradas em relação à
população com o intuito de minimizar a atuação do policiamento tradicional, que
sempre foi enraizado em moldes autoritários, conservadores e militarizados que vem
se realizando a formação do policial militar desde a sua criação, todavia o mesmo
procedimento não foi usado dentro da instituição com os policias, fato esse que
neutralizou a internalização da doutrina de policia comunitária e criou barreiras ao
avanço.
Pode-se, afirmar ainda que a primeira turma do Ronda do Quarteirão teve
sua formação prejudicada em virtude da necessidade do Governo Estadual lançar
de maneira abrupta um projeto de campanha, sem preparar de forma adequada
seus policiais, fato que ficou bastante claro com a insatisfação popular em curto
espaço de tempo e diversos casos de violência desnecessária, desproporcional e
arbitraria.
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Outro fato que deve ser destacado é a ausência de requalificação e
reciclagem dos policiais que são utilizados no primeiro confronto, poucas vagas
surgem para cursos de qualificação, que são todas ocupadas pelos policias de
grupamentos especializados, chegando ao absurdo de policias, em fim de carreira,
nunca terem treinado tiro defensivo e não saberem utilizar os equipamentos não
letais e letais colocados a sua disposição. Favorecendo, assim, ao uso indevido e
desnecessário desses equipamentos.
O processo deformação visa preparar o policial para lidar com situações
nas quais se agiria impulsivamente e o que diferencia policiais dos indivíduos que
vivem a margem da lei é o treinamento que esse deve receber e não o seu poder de
fogo. Vale salientar que o treinamento constante promove a internalização do
conhecimento, preparando o policial para agir nos momentos que todos tendem a
fugir.
Nesse contexto são esquecidos de explorar as potencialidades dos
policias militares e de propaga boas qualidades desses, tais como: a capacidade
para resolver problemas complexos através de um julgamento efetivo e com
imaginação; demonstrar bom senso e responsabilidade nas decisões; tolerar o
estresse de inúmeras formas; manter uma perspectiva equilibrada, em face da
exposição constante ao pior lado da natureza humana.
Vale salientar que o aumento do número de policiais não reduz,
necessariamente, as taxas de criminalidade; o patrulhamento ao acaso, motorizado,
não reduz as práticas delituosas. É importante destacar que é papel da sociedade
civil cobrar de seus governantes uma melhor formação aos agentes de segurança
do Estado e cabe ao Ministério Público, de acordo com a Constituição Federal de
1988, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis, sendo o órgão responsável por cobrar a adequada
formação policial.
Desse modo, é possível concluir que a formação policial no Brasil e mais
precisamente no Ceará ainda está muito arraigada na formação tradicional,
verticalizada onde os conhecimentos técnicos e humanísticos são deixados de lado
em virtude de uma formação militarizada e arcaica, visando manter a estrutura da
instituição por meros robôs que estão aptos a cumprirem qualquer ordem.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, A. T. M. Entre a Lei e a Ordem: violência e reforma nas polícias do Rio deJaneiro e Nova York. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
FAORO. A Polícia carioca no Império, Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 12, n. 22, 2001, p. 297.
HOLANDA, J. X. de. Polícia Militar do Ceará: origem, memória e projeção. Vol. 1.Fortaleza: IOCE, 1987.
PEDROSO, Regina Célia. Violência e Cidadania no Brasil. São Paulo, editora Atica.
TONRY, Michael; MORRIS, Norval. Policiamento Moderno. SP: Editora da Universidade de São Paulo, 2003.
COISA DE CEARENSE– www.coisadecearense.blogspost.com.br/. Acesso em: 08/07/2012
PMCE –Policia Militar do Ceará - www.pm.ce.gov.br/. Acesso em 02/07/2012
SENASP – Secretária Nacional de Segurança Publica - http://ead.senasp.gov.br. Acesso em 01/07/2012
SSPDS – Secretária de Segurança Publica e Defesa Social - www.sspds.ce.gov.br/. Acesso em 02/07/2012
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6. ANEXOS
Matriz Curricular Nacional da SENASP para as Ações Formativas de Segurança Pública
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Anexo 2
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