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FORMANDO NOVAS LIDERANÇAS: A EXPERIÊNCIA DE M INAS GERAIS NA IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE TUTORIA ROBERTA KELLY FIGUEIREDO FERNANDA DE SIQUEIRA NEVES

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FORMANDO NOVAS LIDERANÇAS: A EXPERIÊNCIA DE MINAS GERAIS NA

IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE TUTORIA

ROBERTA KELLY FIGUEIREDO FERNANDA DE SIQUEIRA NEVES

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Painel 07/022 Experiências de desenvolvimento de lideranças e avaliação de desempenho na gestão pública

FORMANDO NOVAS LIDERANÇAS: A EXPERIÊNCIA DE MINAS GERAIS NA IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE TUTORIA

Roberta Kelly Figueiredo

Fernanda de Siqueira Neves

RESUMO

A profissionalização dos gestores tem se evidenciado como peça fundamental para

a gestão pública. São os gestores que conduzem as equipes ao alcance dos resultados esperados atuando como elo entre os servidores e a estratégia governamental. Esse artigo tem como objetivo apresentar a experiência de Minas

com a adoção do modelo de tutoria para promover o desenvolvimento gerencial e a formação de novas lideranças, por meio do Programa Lideranças Especialistas para

o Futuro. Esse programa consiste em um processo de tutoria no qual lideranças, referências de boa gestão e possuidoras de grande expertise, acompanham servidores com vistas a propiciar desenvolvimento de competências gerenciais, troca

de experiências como líder, ampliação da rede de relacionamentos e aprimoramento técnico. Além do desenvolvimento dos tutorados e da formação de um banco de

potenciais sucessores, outro objetivo do programa é construir memória organizacional e garantir que o conhecimento de servidores experientes se dissemine no governo do Estado. A metodologia utilizada é baseada no mentoring,

no coaching e na aprendizagem vivencial. Em seu primeiro ciclo, o programa contou com 47 tutores e 99 tutorados.

Palavras-chave: tutoria, desenvolvimento gerencial, gestão de pessoas.

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INTRODUÇÃO

O governo do Estado de Minas Gerais passou por profundas

transformações no seu modelo de gestão no período de 2003 a 2014, com vistas a

superar as barreiras constituídas pelos antigos comportamentos organizacionais e

reverter o modelo burocrático, centralizado e moroso da administração pública em

uma nova modalidade de gerenciamento focado nos resultados para atender as

demandas da sociedade.

Para o alcance desses objetivos era primordial a busca por novas

maneiras de gerir, a reformulação da estratégia, a redefinição de estruturas e

sistemas, o estabelecimento de novas práticas de gestão e a transformação da

cultura organizacional. Nesse sentido, o conceito de inovação e modernização

passou a ser o eixo fundamental para a execução da estratégia govername ntal.

Deve-se destacar que o sucesso da gestão governamental depende

fundamentalmente da mobilização e envolvimento dos servidores com os objetivos e

com a estratégia governamental. Assim, os gestores públicos passam a ter um papel

de grande relevância, uma vez que constituem o elo entre a estratégia e os

servidores. Também são primordiais para garantir a consolidação e a continuidade

das boas práticas implementadas. O papel da liderança é decisivo para a

implementação dos planos de governo e nas iniciativas de reforma e modernização

da gestão pública. Assim, o desafio a ser enfrentado pelo líder contemporâneo

passa a ser de duas naturezas: mobilizar suas equipes internas e promover

articulações com outras equipes (e lideranças) para o alcance de seus próprios

objetivos. Esta nova concepção de liderança é fundamental para a criação de valor

público em todas as dimensões, mas especialmente na da gestão pública.

Nesse sentido, o governo de Minas adotou uma série de medidas visando

o fortalecimento da profissionalização e valorização dos gestores públicos. Destaca-

se dentre elas o programa de tutoria chamado Lideranças Especialistas para o

Futuro, implantado em 2014. Este programa tem como objetivo principal desenvolver

novos talentos para a gestão pública e trazer benefícios para o Estado no contexto

atual, e principalmente para os desafios futuros.

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Esse artigo tem como objetivo apresentar a experiência de Minas com a

adoção do modelo de tutoria para promover o desenvolvimento gerencial e a

formação de novas lideranças, por meio do Programa Lideranças Especialistas para

o Futuro.

Nesse Programa, os tutores, lideranças, referências de boa gestão e

possuidoras de grande expertise, a partir das suas experiências, orientam e

aconselham seus tutorados a fim de propiciar seu desenvolvimento, através de

oportunidades de relacionamento, sempre com foco no desenvolvimento do tutorado

através das experiências do tutor. O tutorado é treinado para aproveitar ao máximo o

processo de tutoria por meio de ferramentas de coaching autoaplicadas.

OBJETIVOS DO PROGRAMA

O Programa Lideranças Especialistas para o Futuro consiste em um

processo de tutoria, com vistas a propiciar aos tutorados desenvolvimento de

competências gerenciais, troca de experiências como líder, ampliação da rede de

relacionamentos e aprimoramento técnico.

O programa tem como objetivos específicos:

Incentivar, potencializar e desenvolver talentos de gestores, utilizando

a experiência gerencial e a expertise de lideranças ícones;

Desenvolver competências gerenciais e essenciais;

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Construir memória organizacional e garantir que o conhecimento de

servidores experientes se dissemine no Governo do Estado de Minas

Gerais;

Proporcionar redes de relacionamento capazes de alavancar o

conhecimento e desenvolvimento de competências dos tutorados.

A instituição de programas dessa natureza apresentam vantagens para a

organização, como a formação de novos líderes, transmissão da cultura e

construção de uma memória organizacional, desenvolvimento de competências

gerenciais e essenciais e aumento da produtividade. Para o tutor, desponta o

aprimoramento de competências como gestor de pessoas, seu reconhecimento

como líder-gestor, revitalização de interesses relacionados ao trabalho e ampliação

dos conhecimentos e habilidades por meio da troca de experiências com o tutorado.

Para o tutorado, destacam-se o desenvolvimento de competências gerenciais e

essenciais, melhor desempenho no trabalho, incremento da rede de

relacionamentos, desenvolvimento da expertise na área de conhecimento do tutor,

aumento do nível de satisfação com o trabalho e valorização profissional.

MODELO ADOTADO

A implementação de um programa de tutoria com foco no

desenvolvimento gerencial foi uma iniciativa inédita na administração pública

brasileira e sua estruturação apresentou-se como um grande desafio, dado o

contexto peculiar de sua aplicação.

A partir de uma série de estudos sobre o tema, foi desenhado um modelo

híbrido, que associa mentoring e coaching, tendo a aprendizagem vivencial como

elemento direcionador do programa, promovendo o autodesenvolvimento do

tutorado.

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O mentoring é uma forma de gestão onde um profissional mais experiente

orienta e compartilha com profissionais mais jovens, experiências e conhecimentos

no sentido de dar-lhes orientações e conselhos para o desenvolvimento de suas

carreiras. E o coaching consiste em uma metodologia de aceleração de resultados

que visa o desenvolvimento de competências e habilidades para o alcance de

resultados planejados em determinado período de tempo.

No programa foram selecionados como tutores profissionais mais

experientes, com o propósito de compartilhar suas vivências e conhecimentos com

os tutorados, orientando-os para o desenvolvimento de suas carreiras. Associado a

esses elementos do mentoring, o programa foi formatado em sessões nas quais

tutores e tutorados, por meio da utilização de ferramentas do coaching, poderiam

definir os resultados esperados com o processo, acompanhar o alcance dessas

metas definidas e avaliar o desenvolvimento dos tutorados. Além da sugestão aos

tutores de roteiros para o alinhamento das expectativas e para o acompanhamento

do desenvolvimento, algumas dinâmicas para definição dos objetivos foram

trabalhadas com os tutorados e também foram repassadas ferramentas de coaching,

como diário de bordo, planos de ação e instrumentos de autoavaliação.

O Ciclo de Aprendizagem Vivencial (CAV) foi apresentado a tutores e

tutorados, enfatizando, com cada um, técnicas com o propósito de otimizar sua

atuação nesse processo de aprendizagem. Adaptada ao contexto e estrutura do

Programa Lideranças Especialistas para o Futuro, a aprendizagem vivencial

fundamentou-se em três fases:

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1) Relato de vivência por meio da história de vida e experiência do tutor.

Para que essa fase pudesse ser explorada da melhor forma possível

pelos tutores, esses foram orientados sobre técnicas de contação de

estórias. Considerando a interação entre tutor e tutorado em

encontros programados, as “estórias” tornam-se o meio para

transmissão de experiências vividas pelos tutores, com o propósito de

ajudar o tutorado a se desenvolver e atingir os objetivos acordados. A

estrutura da contação de estórias objetiva dar suporte aos tutores para

a seleção e transmissão das suas experiências que corroboram para o

desenvolvimento do tutorado.

As experiências também poderiam ser vivenciadas pelos tutorados por

meio de diferentes oportunidades de aprendizagem disponibilizadas

pelos tutores que extrapolavam as sessões, como participações em

reuniões ou aulas conduzidas pelos tutores, almoços, eventos, etc.

2) Processamento e generalização, consistindo em autoavaliação,

extrapolação, generalização por meio de analogias, avaliações,

insights, realizados pelos tutorados com o auxílio do tutor.

Nessa fase, o tutorado reflete e se expressa sobre a experiência

relatada pelo tutor ou vivida juntamente com ele. Esse processamento

pelo tutorado pode ser facilitado pela atuação do tutor, por meio de

questões que o façam refletir sobre a situação e expressá-la,

aplicando-a ao seu contexto e a suas necessidades de

desenvolvimento. Para melhor resultado nessa fase, tutores e

tutorados foram orientados sobre o processo de comunicação,

recebendo dicas para a condução das conversas e técnicas de

feedback.

3) Aplicação; que consistem no compromisso pessoal com as mudanças

de comportamento, atitudes ou ações percebidas como necessárias.

Essa é a fase mais importante da aprendizagem vivencial, quando o

aprendizado evidenciado pelo processamento e pelas generalizações

é posto em prática. É nessa etapa que o Programa Liderança

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Especialistas para o Futuro é ratificado como um processo de

autodesenvolvimento. Essa característica do programa é ressaltada

com os tutorados, visto que cabe a esses traçar metas de

desenvolvimento e se comprometer ao alcançar suas expectativas. O

tutor é um dos elementos facilitadores para seu processo de

desenvolvimento e a ele cabe o papel de comparti lhar suas

experiências profissionais, seus conhecimentos práticos e suas

vivências com o seu tutorado. Utilizando seus feedbacks, encorajando

e aconselhando, os tutores podem auxiliar na trajetória e nas escolhas

profissionais dos tutorados. O processo de tutoria é um momento no

qual o tutorado deve buscar o desenvolvimento e sucesso em

alcança-lo depende de seu empenho e comprometimento.

A fim de facilitar a atuação do tutorado, foi sugerida aos tutores uma

abordagem objetiva da aplicação do aprendizado, como orientar e solicitar que o

tutorado estabeleça metas de autodesenvolvimento para serem testadas em sua

rotina normal; apresentar modelos ou exemplos de aplicações possíveis; e oferecer

desafios para seu tutorado.

Por meio do CAV, os tutorados foram orientados sobre como deveriam

vivenciar as situações de sua rotina, atentando para fornecer respostas diferentes

que revelem ter agregado ao seu saber as experiências e lições que lhe foram

transmitidas pelo tutor durante o processo de tutoria. Para apoiar esse processo,

eles poderiam fazer uso de ferramentas como o diário de bordo.

METODOLOGIA E ETAPAS DO PROGRAMA

A partir da necessidade de construção de uma memória organizacional

por meio da retenção e transmissão de conhecimentos relevantes para a

Administração pública e da necessidade de incentivar, potencializar e desenvolver

talentos dos servidores utilizando a expertise e o conhecimento de gestores com

maior experiência, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão elaborou o

Programa Lideranças Especialistas para o Futuro. Essa iniciativa, além de atender à

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necessidade de desenvolvimento e profissionalização dos gestores públicos, é

consonante com sua competência de estabelecer normas, ações e políticas de

recursos humanos direcionadas ao desenvolvimento, à qualificação e à valorização

do servidor público; assim como orientar, coordenar, acompanhar e supervisionar

sua implementação, disposta no artigo 211 da Lei Delegada 180 de 2011.

Em 2014 foi implantado um piloto do programa com duração de seis

meses, a fim de testar a metodologia adotada e identificar os pontos a serem

apurados para os próximos ciclos. A coordenação do Programa reco mendou a

realização de pelo menos um encontro mensal entre tutor e tutorado, podendo ser

utilizadas outras formas de interação, a critério dos mesmos. Explicitando que

apesar das ferramentas sugeridas não haveria um formato pré-definido para

condução dos encontros, optou-se por fomentar processos de tutoria distintos e que

atendessem às necessidades de tutores e tutorados, principalmente por se tratar de

um projeto piloto.

I – Seleção de tutores

Para implantação do Programa, a primeira atividade foi identificar os

possíveis tutores, que deveriam ser servidores experientes, símbolos de boa gestão

e liderança, além de reconhecidos por sua expertise. Essa identificação deveria

levar em conta a necessidade de retenção do conhecimento e transmissão de

experiências favoráveis à Administração Pública.

Cinquenta tutores foram convidados pela alta administração do Governo

de Minas Gerais para participar do processo de tutoria, sendo estes secretários e

subsecretários de Estado, presidentes e gestores de empresas públicas, assessores

ou gestores reconhecidos de órgãos e entidades do Poder Executivo mineiro.

O Programa foi realizado com 47 tutores, devido ao desligamento de três deles,

que assumiram outros compromissos, incompatíveis com a agenda do processo

de tutoria.

A aceitação por parte dos tutores foi muito positiva, o que foi favorecido

pelo envolvimento e repercussão dada ao Programa pela alta gestão do governo.

Ademais, outro fator primordial para a receptividade dos convidados a tutores para

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participar do Programa deveu-se ao fato de sua indicação estar atrelada a um

reconhecimento profissional, como símbolo de boa gestão, possuidor de grande

expertise e modelo de liderança.

II – Lançamento do programa e inscrições de candidatos a tutorados

Em 28 de março de 2014, o Governador do Estado lançou o Programa

Lideranças Especialistas para o Futuro, regido pelo Edital SEPLAG/SCPRH

Nº02/2014, que instituiu e regulamentou as inscrições para o Programa e especificou

requisitos para a participação dos tutorados.

Para participar do Programa como tutorado, os candidatos deveriam

atender aos seguintes critérios:

Ser servidor efetivo em exercício e já ter concluído o estágio probatório;

Possuir experiência gerencial no serviço público estadual;

Ter nota igual ou superior a 85% na última avaliação de desempenho;

Estar em exercício ou residir em Belo Horizonte 1.

Os servidores interessados em participar do programa puderam se

inscrever durante o mês de abril de 2014, por meio do preenchimento de um

formulário de inscrição, disponível em meio eletrônico. Ao preencher o formulário, o

candidato a tutorado:

Apresentou dados pessoais e breves currículos - acadêmico e

profissional;

Descreveu as intenções de participação no programa;

Sugeriu um tutor obrigatoriamente e, opcionalmente, sugeriu outros

dois nomes para atuarem como seu tutor, justificando as escolhas;

Indiciou três dentre as sete competências gerências adotadas em

Minas Gerais que gostaria de desenvolver no processo de tutoria 2;

1 Considerando a totalidade dos tutores atuava em Belo Horizonte, esse critério foi adotado para

garantir que o processo de tutoria fosse realizado de modo presencial, visto que em benchmarking realizado em outras organizações foram apresentadas dificuldades provenientes de interação à distância entre tutores e tutorados.

2 A tipologia de competências definidas para o Estado de Minas Gerais é constituída por competências essências, competências técnicas e competências gerenciais. Atualmente, têm -se definido o perfil de competências essências, comum a todos os servidores públicos estaduais, e o

perfil de competências dos gestores públicos. As competências gerenciais são: visão sistêmica,

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Confirmou sua disponibilidade em participar do programa por um

período de seis meses.

Para promover e facilitar a indicação dos tutores, a Coordenação do

Programa solicitou que cada tutor selecionado enviasse um breve currículo, que

ficou disponível no site da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão

(SEPLAG) para consulta dos possíveis candidatos a tutorados durante o período de

inscrições.

A indicação das intenções, bem como das competências a serem

desenvolvidas com o programa facilitou o alinhamento das expectativas no primeiro

encontro entre tutor e tutorado, além de ajudar na seleção das experiências a serem

relatadas pelos tutores e oportunidades de aprendizagem a serem disponibilizadas

aos tutorados durante o processo de tutoria.

III – Seleção de tutorados

Com um total de 287 inscrições, foi realizada uma pré-seleção dos

candidatos, levando em consideração os critérios definidos em edital. Os inscritos

foram fi ltrados pela comissão de seleção e suas informações foram entregues ao

tutor, sem identificação nominal, a fim de que a seleção fosse realizada com base

nas intenções do candidato, nas competências indicadas para o desenvolvimento e

na justificativa da escolha do tutor. Após a filtragem dos dados pelo tutor, esse

enviou à Coordenação do Programa o resultado de sua triagem e esta, por sua vez,

revelou os nomes dos selecionados ao tutor, para conhecimento.

A sugestão do tutor pelo tutorado, bem como a seleção dos tutorados por

meio de suas experiências, intenções de desenvolvimento e justificativas pela

escolha do tutor favorecem uma relação profícua entre as partes envolvidas na

tutoria. Por ser um processo de mão dupla, em que de um lado está o tutor, que

pretende ajudar e compartilhar o seu conhecimento, e, de outro lado, o tutorado, que

está disponível ao aprendizado e aberto à escuta, é fundamental que essa relação

seja de ajuda mútua, de compartilhamento e de consideração. Muitas vezes, tutor e

compartilhamento de informações e conhecimentos, liderança de equipes, comportamento inovador,

gestão de pessoas, competência técnica e orientação para os resultados.

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tutorado não se conheciam previamente. O fato de cada um ter indicado (ou

escolhido) o outro gerou segurança para as partes, especialmente para a realização

do primeiro encontro, que tinha o propósito de alinhar as expectativas do tutor e do

tutorado com o programa.

No dia 08 de maio de 2014 foi divulgada a lista contendo os nomes de 97

servidores tutorados no Programa Lideranças Especialistas para o Futuro:

Desenvolvendo Novos Talentos para a Gestão por Resultados. No dia 29 de maio a

Coordenação do Programa Lideranças Especialistas para o Futuro divulgou lista

complementar de candidatos. Ao final do processo de seleção, os 47 tutores

selecionaram 99 candidatos de 27 órgãos e entidades do Governo de Minas.

IV – Workshops de tutores e de tutorados

Antes do início do processo de tutoria, a Coordenação realizou workshop

com os tutores e outro com os tutorados, para alinhar as ações do Programa e o

papel que cada um dos atores, além de apresentar a metodologia, ferramentas a

serem utilizadas e estratégias para a sua melhor condução e aproveitamento.

O workshop dos tutores ocorreu nos dias 14, 24 e 25 de abril de 2014 e

teve como objetivo alinhar as ações do programa e o papel do tutor, além de

apresentar estratégias para o desenvolvimento do processo de tutoria. Esse

workshop contou com a participação de especialistas em coaching e em contação

de estórias da equipe da Diretoria de Gestão do Desempenho e Desenvolvimento de

Pessoas da Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais, que orientaram os

tutores sobre a metodologia adotada no programa.

Para que o piloto do programa não limitasse as oportunidades de

aprendizagem disponibilizadas aos tutorados, foram também apresentadas aos

tutores oportunidades de desenvolvimento alternativas aos encontros formais para a

troca de experiências com o tutorado, tais como reuniões, almoços, seminários,

apresentações, entre outros. Nesse encontro, ressaltou-se que o processo de tutoria

poderia ir além das sessões sugeridas pela Coordenação, podendo-se promover o

desenvolvimento do tutorado por meio dessas oportunidades de aprendizagem

informais.

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O workshop dos tutorados ocorreu nos dias 22, 23 e 26 de maio de 2014

e teve como objetivo alinhar as ações do programa e o papel do tutorado, além de

apresentar estratégias para o aproveitamento do processo de tutoria a partir de um

planejamento para autodesenvolvimento. Nesse encontro, os tutorados puderam

definir melhor as competências a serem desenvolvidas e refinar sua intenção com o

programa a por meio de dinâmicas de autoconhecimento e de diretriz pessoal e

profissional. Tais dinâmicas foram conduzidas pela coordenação do programa com o

objetivo de preparar os tutorados para o alinhamento das expectativas com o

programa juntamente ao tutor, no primeiro encontro.

V – Processo de tutoria e acompanhamentos

O processo de tutoria, com duração de seis meses, foi realizado entre os

meses de junho e novembro de 2014. Ao longo do pi loto do Programa Lideranças

Especialistas para o Futuro a Coordenação buscou deixar o processo de tutoria o

mais flexível possível, de modo que, ao seu término, se tivesse uma ampla gama de

experiências e de oportunidades de desenvolvimento disponibilizadas. Pré-

estabelecer formas de interação e moldar acompanhamentos rígidos poderia limitar

as oportunidades de desenvolvimento disponibilizadas ou mesmo relações

estabelecidas.

Ressalta-se que, apesar dessa opção, os tutores foram orientados sobre

a condução do Programa, foram instruídos de acordo com a metodologia proposta e

poderiam, inclusive, utilizar um roteiro sugerido para a condução dos encontros caso

se sentissem mais à vontade dessa maneira. Além da orientação aos tutores, os

tutorados também receberam um treinamento sobre o programa e sua metodologia,

no qual puderam detalhar sua intenção com o processo de tutoria e ter

conhecimento de instrumentos para seu acompanhamento, a fim de otimizar os

resultados alcançados com o programa.

Durante o processo de tutoria, foram realizados 4 (quatro)

acompanhamentos para conhecer a percepção dos atores envolvidos em relação ao

processo de tutoria, bem como os pontos positivos e os que necessitavam de

melhorias.

Os resultados dessas avaliações serão tratados no próximo tópico.

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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA PILOTO

Conforme já abordado, o programa foi implementado em 2014 com a

natureza de um projeto piloto. Assim, o público de tutores e tutorados foi mais

restrito para que após o primeiro ciclo fosse possível avaliar os pontos fortes e as

necessidades de ajustes para posterior ampliação da abrangência do projeto. Nesse

sentido, foram realizadas avaliações das percepções dos tutores e tutorados, com o

objetivo de detectar avanços e possibilidades de aprimoramento na metodologia.

Em geral, o Programa foi avaliado como uma iniciativa de sucesso, 81%

dos participantes, entre tutores e tutorados, consideraram que o Programa atendeu

ou superou as expectativas.

A seleção de tutores com reconhecida expertise, experiência e abertos a

compartilhar o conhecimento adquirido ao longo de toda sua experiência profissional

foi apontada como fator chave para esse resultado.

Em avaliação realizada com os tutorados ao final do programa, esses

avaliaram seu desenvolvimento em relação a cada um dos pilares do programa:

desenvolvimento nas competências gerenciais, aprimoramento técnico e ampliação

da rede de relacionamentos. Mais de 90% dos respondentes apontou que conseguiu

desenvolver cada um desses eixos. Destaca-se que 50% dos respondentes apontou

um alto nível de desenvolvimento de suas competências gerenciais.

Um outro fator positivo foi o alto interesse e comprometimento dos

tutorados. Para 90% dos tutores que responderam ao questionário, o interesse e/ou

comprometimento dos tutorados foi avaliado como bom ou ótimo. O Programa foi

visto por tutores e tutorados como um espaço para compartilhamento de desafios de

gestão e troca de conhecimentos e experiências.

Além disso, o formato flexível de realização da “tutoria” propiciou

liberdade para que tutor e tutorado pudessem moldar sua relação. Além disso,

proporcionou apoio ao desenvolvimento formal a partir de vivências e experiências

(e não apenas desenvolvimento técnico), criando também a possiblidade dos

tutorados se relacionarem com um gestor referência. Outro aspecto apontado como

positivo foi a ampliação significativa na rede de relacionamentos de tutores e

tutorados.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na administração pública contemporânea, o gestor tem um papel

fundamental na disseminação da cultura organizacional e da estratégia

governamental, conduzindo as equipes ao alcance dos resultados esperados. Por

essa razão, torna-se imperativa a implementação de ações que visem o

fortalecimento da profissionalização e valorização dos gestores públicos, visando

tanto o desenvolvimento daqueles já atuantes como a formação de novas

lideranças.

A implantação do Programa Lideranças Especialistas para o Futuro vem

ao encontro dessa necessidade, objetivando o desenvolvimento de competências

gerenciais, troca de experiências como líder, ampliação da rede de relacionamentos

e aprimoramento técnico.

Um grande ponto de destaque dessa iniciativa é justamente seu foco no

desenvolvimento gerencial. Criar estratégias sustentáveis que possibilitem a

profissionalização dos gestores, e a formação de novas lideranças, tem se mostrado

um grande desafio para o setor público. Para promover a formação de novas

lideranças, indica-se ampliar o escopo de seleção de tutorados para aqueles que

possuem potencial gerencial, mapeado por meio de instrumentos específicos para

esse fim. Com essa alteração, tanto servidores com experiência gerencial como

aqueles que possuem perfil para ocuparem cargos de gestores , e ainda não o

fizeram, teriam oportunidade de participar dessa iniciativa de desenvolvimento.

Destaca-se que o modelo de tutoria também pode ser adaptado para o

desenvolvimento de competências essenciais a todos os servidores, bem como para

o desenvolvimento focado em competências técnicas, com pactuação de produtos

do processo que sejam de interesse da Administração Pública.

O modelo do programa, que associa elementos de mentoring, coaching e

aprendizagem vivencial, é outro ponto forte para seu sucesso. Além de manter essa

perspectiva metodológica, considera-se positivo reforçar a disponibilização de

instrumentos de apoio ao desenvolvimento, como o roteiro para a cond ução do

processo de tutoria em caráter sugestivo, diários de bordo, dinâmicas, planos de

ação, entre outros.

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Ressalta-se também a relevância da efetividade no serviço público como

critério de elegibilidade para o programa, tendo em vista que seu objetivo é

desenvolver lideranças que atuem no âmbito do Governo do Estado. Por meio desse

critério é que se torna mais provável, também, a criação de uma memória

organizacional.

Para promover a adesão a esse programa de desenvolvimento gerencial,

a seleção de tutores reconhecidos como lideranças, símbolos de boa gestão e/ou

dotados de grande expertise foi fundamental. Para que nomes de grande porte,

como os tutores do piloto do Programa, aceitassem a missão, o patrocínio da alta

gestão foi essencial.

Outro ponto de destaque refere-se à sugestão prévia do tutor pelo

tutorado, aliada à seleção do tutorado pelos próprios tutores por meio de perfil e

intenções, sem identificação nominal. A escolha mútua facilita muito o

estabelecimento de uma relação positiva entre o tutor e o tutorado. A proximidade

física oportunizada pelo critério de residência, ou exercício profissional na mesma

localidade, também favoreceu o estabelecimento dessa relação, visto que

possibilitou uma maior interação entre tutor e tutorado.

A flexibilidade no formato foi um grande diferencial do Programa, e

permitiu aos tutorados vivenciarem oportunidades de desenvolvimento muito ricas,

que variaram em cada processo de tutoria. Um formato mais rígido limitaria essas

experiências. O ponto negativo dessa flexibilidade deve-se à dificuldade de intervir

em situações nas quais a relação entre tutor e tutorado não se estabeleceu de modo

positivo, ou quando as horas de tutoria não foram cumpridas conforme orientado.

Para resolver isso, sugere-se manter o formato flexível e ampliar o

acompanhamento, solicitando retorno periódico do andamento do processo.

A implantação do projeto piloto possibilitou a identificação de pontos

fortes, bem como de pontos a serem aprimorados. Como recomendações de

melhoria aponta-se a ampliação da duração do programa para 10 meses a um ano,

visto que em seis meses alguns objetivos traçados nos processos de tutoria não

foram alcançados devido ao tempo. Essa ampliação do tempo foi sugerida também

pelos tutorados durante os acompanhamentos.

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Outras sugestões para enriquecimento do Programa são a criação de um

grupo de discussão virtual mediado pela Coordenação do Programa e a criação de

um banco de dados. Ambos com o objetivo de compartilhar oportunidades de

desenvolvimento vivenciadas por tutores e tutorados e trocar experiências

relacionadas ao processo de tutoria. Outra sugestão seria a realização de

workshops intermediários entre os tutorados e entre os tutores, para que possam

criar redes de relacionamentos e trocar experiências e conhecimento. Vislumbra-se

ainda a criação de redes por competências entre os tutorados que desejam

desenvolver competências semelhantes, com a promoção de encontros e canais de

comunicação entre eles.

Por fim, mediante as avaliações do piloto foi possível identificar a

efetividade desse modelo, com o alcance dos objetivos propostos de

desenvolvimento de pessoas nos três eixos estruturantes do Programa, quais sejam:

desenvolvimento gerencial, ampliação de rede de relacionamentos e aprimoramento

técnico. Além da avaliação positiva de sua efetividade, sua implantação demonstrou

algumas potencialidades desse modelo. Mais que sugestões de aprimoramento, em

conjunto com tutores e tutorados, foram levantadas novas oportunidades de

desenvolvimento aplicáveis ao serviço público, especialmente a uma área sensível

como o desenvolvimento gerencial. Dessa maneira, recomenda-se a manutenção

dessa iniciativa, com a incorporação das lições aprendidas com o piloto para os

próximos ciclos no Programa Lideranças Especialistas para o Futuro, bem como sua

ampliação para a formação de novas lideranças.

REFERÊNCIAS

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AUTORIA

Roberta Kelly Figueiredo – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Governo de Minas Gerais.

Endereço eletrônico: roberta. [email protected]

Fernanda de Siqueira Neves – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do Governo de Minas Gerais.

Endereço eletrônico: [email protected]