FORMAÇÃO INICIAL E O EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA NA...
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ISSN 2176-1396
FORMAO INICIAL E O EXERCCIO DA DOCNCIA NA
EDUCAO INFANTIL - EXPECTATIVAS E PERCEPES DE
ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA DA FCT/UNESP
Claudia Cristina Garcia Piffer1 - Supervisora de Ensino da SEDUC-PP
Silvia Adriana Rodrigues2 - UFMS-CPAN
Clia Maria Guimares3 - FCT/UNESP
Grupo de Trabalho Formao de Professores e Profissionalizao Docente
Agncia Financiadora: no contou com financiamento
Resumo
Neste texto, apresenta-se um recorte da pesquisa longitudinal, realizada entre os anos letivos
de 2009 e 2012, junto a estudantes do curso de Pedagogia de duas instituies de ensino
superior brasileiras. Os dados ora abordados se referem a uma das instituies, esta localizada
na regio oeste do estado de So Paulo, e dizem respeito s razes para a escolha do curso,
motivaes e expectativas com relao ao exerccio da profisso docente e acerca da
percepo sobre o exerccio da docncia, especificamente no contexto da Educao Infantil. A
concepo de Educao Infantil requerida no pode se constituir sem o investimento na
formao inicial para a docncia junto s crianas desta etapa de ensino. Docncia esta que se
distingue por caractersticas particulares e pela reviso de crenas que historicamente
condicionam o trabalho pedaggico na creche e pr-escola. Os dados em discusso foram
obtidos por meio de questionrios mistos, coletados no inicio do primeiro e no final do ultimo
ano do curso, e tratados com auxlio do software estatstico (SPSS) e o uso da tcnica de
anlise categorial de contedo. Os resultados apontam, dentre outros aspectos, a evoluo no
entendimento do funcionamento da creche e das funes profissionais na rea da educao
infantil; reduo na nfase dada s tarefas escolarizantes junto as crianas e a gradativa
superao da viso de que ter experincia materna faz parte das caractersticas almejadas de
um professor de Educao Infantil. A razo pela escolha pelo Curso de Pedagogia
permaneceu motivada, principalmente, pelo desejo de trabalhar com crianas. Contudo, a
anlise dos dados aponta uma preferncia pelas crianas dos outros anos da Educao Bsica.
O desafio da formao inicial para a docncia na educao infantil permanece o da opo por
essa etapa da educao no Brasil.
1 Doutoranda em Educao pela FCT/UNESP-PP. Supervisora de Ensino da SEDUC-PP. Membro do Grupo de
Pesquisa GPDFIRS-FCT/UNESP. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Educao. Professora Assistente da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Campus do
Pantanal (UFMS/CPAN). Membro do Grupo de Pesquisa GPDFIRS-FCT/UNESP. E-mail:
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Palavras-chave: Curso de Pedagogia. Formao inicial. Educao Infantil. Profisso
Docente.
Introduo
A condio a que a Educao Infantil ainda relegada remonta sua prpria histria
de origem.
Desse modo, historicamente falando, de um lado, situavam-se as creches, tendo como
foco a assistncia social s crianas de famlias necessitadas, sem preocupao de teor
educativo no atendimento. De outro lado, com prticas de cunho escolarizante tnhamos os
jardins de infncia, destinados s crianas de classes abastadas. Tais tendncias
assistencialista ou escolarizante, hoje buscam ser superadas atravs do binmio cuidar e
educar.
Apesar das mudanas trazidas pela atual Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Nacional, Lei n. 9.394/96 (LDB), a Educao Infantil ainda sofre com os ranos do passado.
A Educao Infantil no pode ser caracterizada a partir do estigma de um lugar para a
criana pobre, enquanto substituio do espao familiar ou de preparao para a
aprendizagem escolar, mas sim de uma instituio cuja especificidade precisa ser
considerada.
Nesta perspectiva, a concepo de Educao Infantil que pleiteamos no pode se
constituir sem o investimento na formao, sobretudo inicial, para a docncia junto s
crianas desta etapa de ensino. Docncia esta que se distingue por caractersticas particulares.
Imbudas dessa convico, o presente artigo discute parte dos dados obtidos numa
investigao4 qualitativa, de carter longitudinal, desenvolvida entre os anos de 2009 e 2012
junto a estudantes do curso de Pedagogia da FCT/UNESP5 e UFMS/CPAN
6. Entre outras
questes, o estudo investigou a interferncia dos processos de formao inicial nas
concepes que futuras profissionais7 tinham, e que eventualmente construram a partir da
influncia do curso, sobre o trabalho pedaggico a ser desenvolvido na Educao Infantil.
4 Pesquisa ligada ctedra da UNESCO sediada no CIERS-ED (Centro Internacional de Estudos em
Representao Social e Educao; Fundao Carlos Chagas-SP). 5 A FCT/UNESP - Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, um dos 23 campi da
UNESP, localizado em Presidente Prudente, regio oeste do estado de So Paulo. 6 O Campus do Pantanal da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul CPAN/UFMS Brasil, est
localizado na cidade de Corumb-Ms, regio fronteiria com a Bolvia. 7 Faremos referncia aos participantes da pesquisa usando o gnero feminino tendo em vista que 92% deles so
mulheres, o que corrobora os resultados recorrentes nas pesquisas da rea, indicando a crescente feminizao do
magistrio, nesse nvel de ensino e na Educao Bsica brasileira de forma geral (CAMPOS; FLLGRAF;
WIGGERS, 2006).
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No recorte apresentado, nos limites deste texto, discutiremos os resultados, obtidos
junto ao grupo de estudantes da FCT/UNESP-PP com uso de questionrios mistos, das
questes que inquiriram os acadmicos sobre as razes para a escolha do curso de Pedagogia,
suas motivaes e expectativas com relao profisso docente, bem como sobre o exerccio
da docncia no contexto da Educao Infantil.
Outro texto, sob o ttulo de Olhares de estudantes do curso de pedagogia da
UFMS/CPAN sobre o exerccio da docncia na Educao Infantil, apresentar discusso
acerca dos dados obtidos junto s estudantes da referida universidade (UFMS/CPAN).
Bases tericas da discusso
O artigo 21, inciso I da LDB define a Educao Infantil como primeira etapa da
educao bsica. No artigo 29 aborda a finalidade da Educao Infantil: O
desenvolvimento integral da criana at cinco anos de idade, em seus aspectos fsico,
psicolgico, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade.
Alm disso, a lei exige que as creches e pr-escola devam integrar-se aos sistemas de
ensino. A partir de ento, evidencia-se o carter educativo a ser assumido pelas instituies
destinadas primeira infncia.
A declarao do binmio educar e cuidar como funes indissociveis no atendimento
da criana pequena na Educao Infantil tambm foram incorporados legislao brasileira a
partir da LDB, o que confirma a funo educativa desse atendimento e regulamenta seu
funcionamento (MAZZILLI et al., 2001).
Sob a gide da funo educativa estabelecida pela atual LDB, a exigncia de formao
dos profissionais que atuam na Educao Infantil, representou um avano em termos de
contribuio trazida pela citada lei. Contudo, acerca da formao inicial bastante atual o
apontamento de Pimenta (2002), de que os cursos pouco tm contribudo para a formao de
uma nova identidade do profissional docente que atenda as novas demandas da prtica
docente e pedaggica escolar em seus recentes contornos. Gomes (2012) assevera que uma
educao qualitativamente positiva para as crianas pequenas, passa, necessariamente, num
primeiro momento, pela formao adequada dos profissionais que nela atuaro num
determinado tempo histrico.
Especificamente sobre a docncia na Educao Infantil, Guimares, Rodrigues e Piffer
(2013, p. 8.216) apontam a dificuldade que o curso de Pedagogia enfrenta para formar o
professor para atuar neste espao:
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Observamos que ainda prevalecem concepes equivocadas acerca do trabalho realizado no mbito da creche e da pr-escola, oriundas do pensamento
caracterstico da prpria histria da constituio destas instituies e da identidade
dos profissionais que nela atuam e que povoam o imaginrio social brasileiro.
As autoras analisam que esta dificuldade est amplamente relacionada estrutura
curricular dos cursos que no garantem o mnimo de saberes necessrios aos futuros
profissionais, nomeadamente aqueles ligados as particularidades das crianas da educao
infantil.
Isto porque ser impossvel atender as demandas contemporneas das crianas, das suas famlias e da etapa da Educao Infantil no que se refere ao seu papel social,
poltico e pedaggico com algumas disciplinas pulverizadas na estrutura curricular
da referida licenciatura. Alm de raras no decorrer do curso, continuam sendo
poucas as disciplinas responsveis pelo intento de promover a profissionalidade da
professora da creche/pr-escola (GUIMARES; RODRIGUES; PIFFER, 2013, p.
8.216).
Para atender s singularidades dessa primeira etapa da Educao Bsica, a
intencionalidade da ao docente no pode se pautar em modelos prprios do Ensino
Fundamental, sendo necessria a construo de referncias acerca de prticas que considerem
as necessidades, os interesses e as caractersticas das crianas da Educao Infantil, bem como
as diferenas no trabalho com crianas de zero a trs anos e de quatro e cinco anos.
Em complemento, Gomes (2012, p. 159) clarifica sobre qual Educao Infantil
estamos falando:
Valorizamos a educao infantil em sua dimenso de educao integral (e integrada), uma viso holstica (e sistmica) pelo trato integral com a totalidade
humana envolve o reconhecimento das singularidades e especificidades da infncia
pela compreenso de que o ser humano se forma desde o momento de sua
concepo, se realiza ao longo da vida e que a infncia tem um valor em si mesma,
considerando as diversidades tnicas, culturais, de gnero, geogrficas e as vrias
formas de viver a infncia [...]
Sobre esta questo, estudos anteriores j evidenciaram a sua importncia, sendo
considerada esta como um dos fatores de maior impacto sobre a qualidade da Educao
Infantil (BARRETO, 1998; ROSEMBERG; CAMPOS; VIANNA, 1992, entre outros).
Neste sentido relevante identificar a motivao dos sujeitos para escolher a profisso
docente, ou ainda o curso de Pedagogia. Em recente pesquisa, Oliveira, Braz e Piffer (2013)
identificaram trs principais razes que se apresentam como motivao dos alunos para o
ingresso no Curso de Pedagogia, a saber: a identificao com o curso, a vontade dar
aulas/ensinar e o gosto por atuar com crianas. As autoras julgam no ser possvel afirmar que
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os alunos entram no curso em busca do exerccio da docncia, considerando a identificao
com a profisso como resultado de um processo formativo construdo ao longo do curso.
A presente discusso pretende, assim, identificar os fatores que influenciam na opo
pelo curso de Pedagogia, as motivaes para a escolha da carreira docente, bem como as
expectativas e os modos como se percebe o exerccio da docncia, especialmente na Educao
Infantil.
Tais questes nos permitem avaliar o impacto do curso na possvel modificao ou
manuteno das vises das estudantes e nas concepes que historicamente tem condicionado
a atuao do adulto na rea da educao infantil no Brasil.
Dados, anlise e discusso
A partir do uso de questionrios mistos em dois momentos distintos, em 2009 e 2012,
os dados ora apresentados foram recolhidos junto s estudantes do curso de Pedagogia da
FCT/UNESP (campus de Presidente Prudente). O questionrio inicial foi composto de duas
partes; a primeira com questes que procuravam traar o perfil scio-econmico-cultural dos
sujeitos. A segunda parte colhia informaes que denotavam o entendimento sobre a
especificidade da profisso, totalizando 28 questes. No final do ano letivo de 2012 (4 ano do
curso) foi aplicado questionrio anlogo ao questionrio-carta utilizado em 2009, composto
por 35 questes. O tratamento dos dados se deu com auxlio do software estatstico (SPSS)
para os obtidos com as questes fechadas e o uso da tcnica de anlise categorial de contedo
(BARDIN, 1979) para as respostas dadas s questes abertas.
Nos limites deste texto apresentaremos alguns dados do perfil, alm das respostas
oferecidas a oito questes selecionadas para discutir as razes para a escolha do curso de
Pedagogia, motivaes e expectativas com relao ao exerccio da profisso docente, e, alm
disso, acerca da percepo sobre como exercer a docncia especificamente no contexto da
Educao Infantil.
No que diz respeito ao perfil das estudantes no incio do curso, a grande maioria do
sexo feminino; a maioria iniciou a formao entre 17 e 20 anos Sobre a situao civil, a
maioria era solteira, sem filhos; a grande maioria dedicava-se somente a fazer o curso de
graduao. Por fim, a maior parte das estudantes no tinha experincia de trabalho com
crianas pequenas, seja na educao formal ou informal.
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No final do curso, atravs das respostas do questionrio, foi possvel identificar que
algumas estudantes adquiriram experincia profissional em atividades relacionadas
docncia, porm, em nmero bastante reduzido.
Para apreender o entendimento dos acadmicos do curso de Pedagogia sobre como
exercer a docncia no contexto da Educao Infantil e se houve mudanas neste entendimento
ao longo do curso, lanamos, entre outros, trs questionamentos, em formato de questo de
mltipla escolha, nas quais os sujeitos poderiam marcar quantas opes julgassem corretas,
que sero discutidos a seguir; so eles: Pensando na atuao do(a) professor(a) de creche,
considero que ele(a) deveria assumir as seguintes tarefas; Pensando na atuao do(a)
professor(a) de pr-escola, considero que ele(a) deveria assumir as seguintes tarefas:;
Espera-se que as (os) professoras(es) de Educao Infantil:.
No que diz respeito primeira questo, acerca das tarefas a serem assumidas pelos
profissionais da creche, no ano de 2009, foram oferecidas 25 opes de escolha, com a
possibilidade de o sujeito marcar todas as que julgasse relevante, bem como indicar uma
alternativa que no estivesse no rol de opes. Cabe destacar que todas as alternativas foram
indicadas pelos sujeitos, nenhuma ficou sem, pelo menos, quatro indicaes (menor
frequncia), sendo que nos deteremos naquelas que se destacaram pela maior freqncia e
sentido.
Desta forma, as tarefas: dar carinho, organizar brincadeiras e brincar foram as mais
indicadas pelas estudantes, assinaladas por 88% deles; com indicao de cerca de 76% dos
sujeitos, foram citados atender as crianas com necessidades especiais e manter contato com
as famlias; o terceiro grupo de respostas mais indicadas (por cerca de 65% das estudantes) foi
alimentar, zelar pela integridade fsica das crianas, transmitir valores, passear com as
crianas, observar e avaliar as crianas, organizar reunies de pais e observar e avaliar as
crianas. Ainda foram indicados por cerca de 44% dos sujeitos, trocar fraldas, banhar,
elaborar planos de atividades, escrever relatrios; temos tambm como nmero significativo a
indicao de dar remdio e fazer curativos e preparar o ambiente fsico por cerca de 30%.
Chamou-nos a ateno o fato de 48% dos sujeitos indicar ensinar contedos escolares, 33%
elaborar e corrigir tarefas didticas e 28% apontar ensinar a ler e escrever e organizar
atividades de recuperao e reforo como tarefas do professor (a) da creche.
Nota-se que ao ingressar no curso de Pedagogia, as estudantes percebem, de certa
maneira, a amplitude do trabalho do profissional que atua na creche, mas tambm entendem
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de forma equivocada o rol de suas tarefas, bem como da finalidade deste espao ao apontar
tarefas que esto relacionadas escolarizao.
Acerca das respostas mesma questo, obtidas no ano de 2012, houve pequenas
alteraes. Estas mudanas dizem respeito primeiro diminuio do ndice de escolha das
tarefas que indicam o entendimento da creche como espao de escolarizao: 31% para
ensinar contedos escolares e menos de 10% para ler e escrever e organizar atividades de
recuperao e reforo. Neste grupo tambm chama a ateno o fato de que a opo manter
contato com as famlias no foi indicada por nenhum sujeito.
Em nossa anlise, parece haver certa evoluo no entendimento sobre a dinmica de
funcionamento da creche e as funes atribudas ao profissional que nela atua, embora
insuficiente as demandas do cuidado e educao de crianas institucionalizadas.
Outra questo lanada aos sujeitos foi acerca das tarefas de competncia dos
professores da pr-escola, no sentido de identificar se as estudantes percebiam as
singularidades e diferenas destes dois nveis da Educao Infantil.
No ano de 2009, organizar reunies de pais e observar e avaliar as crianas, foram
apontadas por 90% deles; com indicao de cerca de 80% dos sujeitos, foram citados
organizar brincadeiras, ensinar contedos escolares, participar de reunies pedaggicas e
elaborar planos de atividades; o terceiro grupo de respostas mais indicadas, por cerca de 75%
das estudantes, foi transmitir valores, ensinar ler e escrever e elaborar e corrigir tarefas
didticas. Ainda foram indicados por cerca de 60% dos sujeitos, dar carinho, manter contato
com as famlias, escrever relatrios, passear com as crianas e zelar pela integridade fsica
delas; temos tambm como nmero significativo a indicao de brincar, preparar o ambiente
fsico, fazer pesquisas e organizar atividades de recuperao e reforo por cerca de 40% dos
estudantes.
Diante dos dados apresentados, inferimos que ao ingressar no curso de formao
inicial, as estudantes entendem a diversidade de tarefas da pr-escola, com especial destaque
para aquelas relacionadas educao formal que por sua vez, traduzem entendimentos do
senso comum.
A mesma questo, respondida pelas estudantes no ano de 2012, nos trouxe os
seguintes dados: a opo mais indicada, por 100% deles, foi elaborar planos de atividades; em
seguida, com frequncia entre 90 e 97% tivemos: organizar brincadeiras, preparar o ambiente
fsico, manter contato com as famlias, observar e avaliar as crianas, participar de reunies
pedaggicas, zelar pela integridade fsica das crianas, brincar e transmitir valores. Com
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ndice em torno de 80% foram indicados: dar carinho, ensinar contedos escolares, atender
crianas com necessidades especiais, organizar reunies de pais, escrever relatrios, passear
com as crianas, elaborar e corrigir tarefas didticas e fazer pesquisas. Ainda com ndice
significativo, 51% das estudantes citou ensinar ler e escrever.
Percebemos nas escolhas oferecidas a esta questo, assim como para a anterior,
pequenas mudanas na percepo dos sujeitos, pois as tarefas indicadas so praticamente as
mesmas, havendo apenas pequenas alteraes na frequncia das indicaes. Cabe ressaltar a
pequena oscilao na valorizao dada s tarefas consideradas escolarizantes, tais como
ensinar a ler e escrever, contedos escolares e elaborar atividades de recuperao e reforo,
que apesar de ainda serem citadas por um ndice significativo de sujeitos, estes nmeros
foram reduzidos, em mdia 20%.
Acerca da questo que solicitava s estudantes assinalar as caractersticas esperadas de
um professor de Educao Infantil, no ano de 2009, a maior frequncia (97%) foi para a
opo tratar todas as crianas da mesma forma; a segunda maior frequncia (88%) englobou
as tarefas ter pacincia, ser carinhosa, ter conhecimento sobre desenvolvimento infantil,
respeitar as diferenas, ser compreensiva e respeitosa com os pais e saber alfabetizar; a
terceira maior frequncia (entre 80 e 85%) foi apurada nas alternativas ser organizada, saber
elaborar tarefas didticas para crianas pequenas, saber estabelecer rotinas, saber lidar com
conflitos infantis e gostar de crianas. Com ndices entre 70 e 75% foram escolhidas as
opes: ser dinmica, saber manejar um grupo de crianas, ser exemplo de valores, ensinar as
crianas a se comportarem em sala, ensinar hbitos de higiene, incentivar a criatividade, ser
compreensiva e respeitosa com as famlias, saber organizar o espao para interaes e saber
avaliar as crianas; ainda como nmeros significativos, temos 60% dos sujeitos que indicou
trabalhar em equipe e 44% ensinar as crianas a obedecerem aos adultos.
No que diz respeito aos dados de 2012, 90 e 97% do ndice de escolha se d para as
opes ser dinmica, organizada, ter conhecimento sobre desenvolvimento infantil, saber
organizar rotinas, saber lidar com conflitos infantis, promover autonomia das crianas,
incentivar a criatividade, desenvolver nas crianas habilidades sociais, respeitar diferenas
individuais, no demonstrar preferncia ou rejeio por alguma criana e manter os pais
informados e ser compreensiva e respeitosa com os pais; o segundo maior ndice de
frequncia (entre 80 e 87%) engloba as respostas saber manejar um grupo de crianas,
trabalhar em equipe, saber elaborar tarefas didticas especficas para a criana, ter pacincia,
ser carinhosa e ser exemplo de valores. Outros 60% de sujeitos indicou tratar as crianas da
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mesma forma, 53% ensinar as crianas a se comportarem em sala de aula e 36% saber
alfabetizar e ensinar as crianas a obedecerem aos adultos.
A anlise comparativa dos dados permite destacar que entre as estudantes, ao final do
curso, h indicao de mais caractersticas voltadas ao aspecto profissional do que no incio
do curso. O pequeno ndice de indicaes da opo ter experincia como mes (11%) no ano
de 2009, foi ainda menor no ano de 2012 (5%).
Com o objetivo de compreender as razes para a escolha do curso de Pedagogia,
motivaes e expectativas com relao ao exerccio da profisso docente entre os acadmicos
e identificar se houve mudanas quanto a estes aspectos ao longo do curso, foram lanadas s
estudantes cinco questes, sendo algumas em formato de mltipla escolha e outras em
formato de questes abertas, conforme seguem: Optei pelo curso de Pedagogia
principalmente porque/ Agora que estou me formando, recordo-me que optei pelo curso de
Pedagogia principalmente porque; Se eu puder escolher, minha preferncia de campo de
trabalho, quando terminar o curso, ser atuar como professor(a) em, No pretendo ser
professor, prefiro atuar em; Com relao possibilidade de ser um(a) professor(a) de
Educao Infantil, sinto-me muito motivado(a), sinto-me pouco motivado(a); Imagino que,
no meu trabalho como professor(a) de Educao Infantil, os aspectos que me causaro maior
satisfao sero e Imagino que, se eu assumir o trabalho de professor(a) de Educao
Infantil, no terei dificuldades/terei algumas dificuldades/terei muitas dificuldades. As
principais dificuldades sero.
Devido ao nmero de questes e aos limites deste texto, optamos por fazer a
apresentao dos dados a partir dos percentuais mais significativos e que, por esta razo,
merecem destaque.
Quanto aos motivos para a escolha do curso Pedagogia, no ano de 2009, ocasio do
ingresso no referido curso, o desejo de trabalhar com crianas surge como o segmento de
respostas com maior frequncia, com 21,5% das respostas. Outros motivos apresentados com
maior frequncia foram conhecia e gostava dos contedos que seriam trabalhados no curso,
com 14,5%; e esse era o curso que me possibilitaria realizar meu sonho enquanto
profissional, com 13%.
No ano de 2012, ocasio da concluso do curso, novamente o querer trabalhar com
crianas se faz presente como o segmento de respostas com maior frequncia, 20,3%. Na
sequncia, aparecem como motivos: teria possibilidade de interveno no mbito social,
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com 16,8% e j conhecia e gostava do trabalho realizado pelo professor, com 15,9% das
respostas.
Ao compararmos os dados obtidos no momento de ingresso e no momento de
concluso do curso, observamos em comum a permanncia do desejo de trabalhar com
crianas como uma das principais motivaes para a escolha do Curso de Pedagogia.
Tal constatao se aproxima dos resultados encontrados em estudo realizado por
Oliveira, Piffer e Guimares (2013), no qual um dos principais motivos para a escolha do
curso de Pedagogia consiste no gostar de crianas. Em ambos os casos a criana
compareceu como fonte de motivao declarada para a escolha realizada.
Comparando-se os outros dois principais motivos para a escolha do curso, observa-se
que estes se modificaram.
Com relao questo: Se eu puder escolher, minha preferncia de campo de
trabalho, quando terminar o curso, ser:, no ano de 2009, 72,5% declarou interesse em atuar
como professor (a), outros 27,5% se enquadrou na categoria no pretendo ser professor(a).
Dentre os que declararam interesse em atuar como professor (a), 28% afirmou ter preferncia
por atuar na pr-escola, 24% no Ensino Fundamental sries iniciais e 22% apresentou como
opo continuar estudando para ser professor (a) do Ensino Superior.
Dentre os que afirmaram que no pretendem ser professor (a), 47,4% destes declarou
preferncia pela atuao no campo da Pedagogia hospitalar, 17,8% pelo campo da Pedagogia
empresarial e 10,5% por Superviso ou Orientao.
No ano de concluso do curso, 78% manifestou interesse em atuar como professor (a),
outros 22% afirmou que no pretende ser professor (a). Dentre os que manifestaram interesse
em atuar como professor, 28,2% afirmou preferir trabalhar com creche e pr-escola. A
preferncia pela atuao no Ensino Fundamental sries iniciais aparece com 23% e
continuar estudando para ser professor do Ensino Superior com 20%.
Os dados revelam que a maior parte das estudantes ingressou no curso de Pedagogia
com interesse em ser professor. Observa-se que o percentual de interessados em atuar como
professor teve uma ascenso entre o incio e o final do curso, o que sinaliza a influncia dos
processos formativos sobre as identificaes com a profisso docente.
Observa-se ainda o aparecimento do interesse entre os formandos pela atuao
profissional junto modalidade creche, o que no foi constatado no incio do curso, embora
esse interesse no seja exclusivo, pois se referem creche e pr-escola, sendo que apenas
2,6% aludem exclusivamente a atuao na creche. Neste caso da preferncia exclusiva pela
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creche, esta parece se relacionar mais experincia profissional, como se pode constatar
atravs desta justificativa: J atuo h seis anos; gosto muito do trabalho que realizo, pois
satisfatrio ver uma criana desenvolvendo-se em seus aspectos motores, cognitivos, afetivos
e lingusticos ou seja, globalmente traz uma sensao de dever cumprido com
responsabilidade (Suj. 27).
Apesar da possibilidade de interferncia do curso na opo pelo trabalho com crianas
pequenas, podemos apontar a experincia na rea como sendo outra varivel, alm da
formao recebida no curso, conforme j constatado no caso da categoria creche, como
pode ser percebido nas seguintes justificativas apresentadas: Tenho mais experincia (Suj.
15); Porque j obtive alguma experincia com essa faixa etria e me apaixonei pelo
trabalho desenvolvido com a pr-escola (Suj. 31); Tenho mais facilidade em atuar nessa
rea, como j trabalho de estagiria em uma pr-escola (Suj. 35).
No que diz respeito questo Com relao possibilidade de ser um (a) professor (a)
de educao infantil, no ano de 2009, 83,6% declarou que se sentia muito motivado e 16,4%
pouco motivado.
Dentre os que se assumiram muito motivados, 33,9% justificou a motivao pelo fato
de gostar de crianas, 17,9% pela importncia da fase para o desenvolvimento e 10,7% devido
facilidade/jeito para lidar com crianas, dentre outras justificativas. Entre os que afirmaram
pouca motivao, as justificativas foram bastante diversificadas, incluindo desde a atual
situao da profisso, o desinteresse por esta, falta de pacincia, a falta de reconhecimento,
at no se considerar apto para tal, dentre outras justificativas.
No ano de 2012, 70,7% declarou que se sentia muito motivado e 29,27% pouco
motivado. Dentre os que se declararam muito motivados, as justificativas mais frequentes
consistiram em: gostar/identificar-se com a faixa etria, com 24,1%, a boa formao na rea,
com 29,7% e a experincia na rea, com 13,8%, dentre outras. No grupo dos que se
declararam pouco motivados, as justificativas mais recorrentes foram: falta de
habilidades/jeito; dificuldades em lidar com as crianas e as condies de trabalho, todas com
25% cada.
Observa-se ainda uma queda no percentual da motivao junto s estudantes quanto
possibilidade de ser um professor de educao infantil, o que pode ter relao com a
experincia proporcionada pelos estgios, considerando o que Silva, Paschoal e Oliveira
(2013, p. 28) afirmam:
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No podemos nos furtar de pensar que este perodo guarda para o estudante, momentos de visvel angstia, incerteza, questionamento e insegurana, j que ele
ter a responsabilidade de lidar diretamente com crianas pequenas, sem ter
convico se os conhecimentos adquiridos ao longo do Curso lhe ofereceram
suporte terico e metodolgico para dar conta da tarefa.
Comparando os resultados das duas coletas, observa-se que h em comum o indicativo
de gostar de crianas/da faixa etria entre as justificativas oferecidas no incio do curso em
relao as do final, entre o grupo dos que se declararam muito motivados. Contudo, a criana
como fonte de motivao explicativa da escolha pelo curso referida acima parece se deslocar
para o gosto por ser professor de crianas dos anos posteriores a etapa da educao infantil.
Consideraes Finais
Conforme afirma Oliveira (2008, p.38), creches e pr-escolas no devem nem
substituir a famlia nem antecipar prticas tradicionais de escolarizao e avana ao concluir
que essa situao requer repensar certas concepes, como o conceito de infncia e assinala
ainda a necessidade de integrao do cuidar e educar, dentre outras questes.
Historicamente presenciamos o fato de quanto menor a criana, menor o
reconhecimento e a valorizao profissional, o que remete concepo de criana, que
durante muito tempo foi considerada como um vir a ser, que somente se tornaria uma cidad
no futuro, quando adulta, desconsiderando e desvalorizando a condio e especificidade da
infncia.
Barbosa (2005, p. 62) amplia a reflexo ao afianar que:
[...] as crianas devem ser preparadas para tomar parte ativa e construtiva no
desenvolvimento e mutao da sociedade. Pedagogia na sociedade complexa e
invisvel de hoje deve considerar a ideia de tornar visvel o invisvel para as crianas
e jovens. Numa sociedade moderna onde o conhecimento e a informao esto
ligados no apenas produo de bens, mas tambm comunicao, smbolos e relacionamentos, tornar-se- crescentemente importante desenvolver no apenas
habilidades bsicas tradicionais, mas tambm criatividade, competncia
comunicativa e capacidade de solucionar problemas.
A superao de concepes que atravancam o processo de constituio da Educao
Infantil enquanto etapa que promove a aprendizagem e o desenvolvimento das crianas,
considerando suas especificidades, consiste num dos desafios que se colocam aos cursos de
Pedagogia.
Retomando os dados da pesquisa, podemos observar resultados que sinalizam a
contribuio do curso de Pedagogia na formao das estudantes:
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- Certa evoluo no entendimento sobre a dinmica de funcionamento da creche e as
funes atribudas ao profissional que nela atua;
- reduo da nfase s tarefas escolarizantes, tais como ensinar a ler e escrever,
contedos escolares e elaborar atividades de recuperao e reforo;
- superao da viso de que ter experincia materna faz parte das caractersticas
esperadas de um professor de Educao Infantil;
- elevao dos ndices de interesse pela atuao como professor e ainda como
profissional junto creche e pr-escola;
No entanto, apesar da evidncia de que os cursos de Pedagogia tm contribudo a
formao de profissionais mais qualificados para atuar na Educao Infantil, h ainda muitos
desafios a serem superados.
A motivao para a escolha do curso fundamentada no querer trabalhar com crianas
se mostrou como uma tendncia muito presente entre as estudantes, em detrimento de
motivaes mais relacionadas a outros aspectos da profissionalidade docente. H que se
questionar sobre quais concepes de infncia e de crianas as estudantes possuem e que os
impulsionam ao desejo de trabalhar com estas, sero concepes idealizadas ou no?
Com estas indicaes no estamos atribuindo valor exclusivo da qualidade da atuao
docente formao inicial, pois como afirma Oliveira (2008, p. 30):
A profissionalizao do educador infantil, todavia, no est ligada simplesmente formao, mas ocorre tambm com a experincia, com a aprendizagem cotidiana,
com as interaes construdas com diferentes atores e que conduzem a formas de
interveno em situaes especficas. No um caminho a ser trilhado
individualmente, mas um processo grupal de aperfeioamento que continua por todo
o perodo de atuao profissional.
No entanto, um grande passo dado no momento da formao inicial uma vez que
este o espao em que os sujeitos so apresentados as reais dimenses que configuram a
profisso docente e ainda aos meandros da Educao Infantil. Desta forma, retornamos a
proposta de cuidar e educar de forma agregada a partir da viso de criana integral para
encerrarmos tomando emprestadas as palavras de Sanches (2003, p. 14) para afirmar que:
Qualificar os profissionais implica instig-los a conhecerem e a se aprofundarem num
movimento permanente e sistemtico de construo do conhecimento.
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