Formule 1 Vergueiro - Turismo Em Análise

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    GUERRA, Gleice R. 2004. Sistemas de informaes para anlise estratgica de custos de concorrentes: um casode hotel econmico na cidade de So Paulo. Turismo em Anlise, maio de 2004, v. 15, n.1. So Paulo:Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo (ECA, USP). p. 42-72.

    SISTEMAS DE INFORMAES PARA ANLISE ESTRATGICA DE CUSTOS DE

    CONCORRENTES: UM CASO DE HOTEL ECONMICO NA CIDADE DE SOPAULO1GLEICE R.GUERRA2

    RESUMO

    O presente trabalho aponta a importncia da anlise dos custos da concorrncia para a indstria hoteleira.Apresenta o caso de um hotel econmico, com um padro de prestao de servios mnimo, cuja principalestratgia a liderana de preos. Indica como as informaes obtidas atravs da mdia e as resultantes daavaliao minuciosa do produto do concorrente uma tcnica conhecida por engenharia reversa podem serutilizadas por um subsistema de informaes de anlise de custos para gesto estratgica. Demonstra como possvel fazer inferncias a respeito da estrutura de custos da concorrncia e a relevncia disso quando se trata dedisputar um mercado altamente competitivo, como o caso atual da cidade de So Paulo.

    ABSTRACT

    This paper shows why analyzing the competitors cost in the hospitality industry can be so important. Itshows a case study of a budget hotel whose core strategy is price leadership. It indicates how informationgathered in media and in competitors product ("reverse engineering") can be useful for a cost analysisinformation subsystem for strategic management. This work also demonstrates how to make inferences aboutthe cost structure of the competitors and its relevance when fighting over a highly competitive market, as thecurrent case in So Paulo.

    PALAVRAS-CHAVE

    Hotelaria. Contabilidade de Custos. Sistemas de Informao. Concorrentes.

    KEY WORDS

    Hospitality Industry. Cost Accounting. Information systems. Competitive intelligence.

    SUMRIO

    IntroduoConcorrncia Hoteleira na cidade de So Paulo

    Flats, apart-hotis ou condo-hotisEntrada de novo concorrente

    Concorrentes e contabilidadeQuem so os concorrentes?

    Liderana de preos e diferenciao de produtoSegmentao e posicionamentoSistema de informaes de custos de concorrentes (SICC)

    Informao e fontesEngenharia reversa: o produtoContabilidade: os custos

    Consideraes finais: Para quem importante um sistema de informaes?Referncias

    1Colaboraram: Patrcia S. Varella, Renato H. Ikeda.2Tcnica em Administrao Hoteleira pelo SENAC- SP. Bacharel em Economia pela FMU e em Turismo pela

    ECA/USP. Pesquisadora e professora de cursos de graduao e ps-graduao em Turismo e Hotelaria desde1994. Docente da Universidade Metodista de Piracicaba UNIMEP. Mestranda em Contabilidade eControladoria pela FEA-USP. E-mail: [email protected].

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    INTRODUO

    Este trabalho prope-se a realizar um exerccio de inferncia de dados contbeis de um hotel

    econmico recm-inaugurado na cidade de So Paulo. Objetiva, com isso, demonstrar que a

    inferncia de receitas e despesas de um concorrente possvel na indstria hoteleira a partir

    do conhecimento do produto concorrente. Justifica-se em funo da importncia que o

    desenvolvimento de sistemas de informaes estratgicos vem ganhando em um quadro de

    oferta crescente e necessidade de sobrevivncia.

    A estimativa dos dados contbeis do hotel Formule 1-Paraso foi elaborada a partir de dados

    publicados e da anlise de seu produto hoteleiro. Neste texto, o Formule 1-Paraso ser

    chamado de Novo Empreendimento Hoteleiro (NEH), to somente para caracterizar que o

    objetivo o exerccio de elaborao da contabilidade de um concorrente: a escolha deste

    hotel, em particular, deve-se ao impacto que causa no mercado, apresentando taxas de

    ocupao bastante acima da mdia da cidade.

    Este trabalho foi dividido em cinco sees principais, alm da introduo e das consideraes

    finais. Na primeira traado um panorama da concorrncia hoteleira na cidade de So Paulo

    para, em seguida, na segunda seo, avaliar os impactos da entrada de um novo concorrente

    no mercado. A terceira e a quarta seo dedicam-se a analisar as quatro principais linhas

    estratgicas que podem ser seguidas por uma empresa, avaliando-as para o caso especfico do

    NEH. A quinta seo, por fim, apresenta estimativas contbeis do empreendimento hoteleiro

    utilizado para este estudo de caso.

    CONCORRNCIAHOTELEIRA NA CIDADE DESOPAULO

    No so necessrias muitas pesquisas e dados estatsticos confiveis para verificar o que vem

    ocorrendo com a oferta hoteleira de So Paulo. Basta dar uma volta pela cidade, e notar um

    novo empreendimento a cada quarteiro nos bairros com maior demanda, a grande maioriaostentando bandeiras com marcas de nomes estrangeiros, dirigida ao visitante a negcios.

    Em 1997, h apenas cinco anos, a autora era Gerente Geral de um empreendimento com 112

    unidades habitacionais (UH) na regio da Av. Engo. Luiz Carlos Berrini, ento novo plo

    empresarial da cidade, que de segunda a sexta-feira mantinha a inacreditvel marca de cem

    por cento de taxa de ocupao, com flutuaes sazonais insignificantes. A preocupao, na

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    empreendimento no longo prazo, quando chegasse a concorrncia, uma vez que aumentos de

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    preos no se refletiam em queda de ocupao. Outra preocupao era a de seleo do cliente

    sim, seleo do cliente, repita-se: a partir de quais critrios selecionar a quem a reserva seria

    confirmada e a quem seria negada, j que a disputa pelo espao de hospedagem era feroz, por

    mais que se colocassem exigncias de garantia de no showpara a confirmao da reserva.

    No boletim de maio/2002 da Associao Brasileira da Indstria Hoteleira (ABIH), apenas

    cinco anos depois, seu presidente relata um cenrio de desolao, causado pelos

    alarmantes ndices das taxas de ocupao. Em So Paulo foi registrado, no ms de maio,

    mdia de 45% de ocupao, que [...] o pior ndice j verificado, j que tradicionalmente a

    mdia de ocupao no perodo de 80%.

    A crise no mercado paulista , em parte, conseqncia da recesso norte-americana ps-

    atentados de 11 de setembro/2001, que reduziu o nmero de visitantes estrangeiros,responsveis por grande parte da ocupao de leitos da cidade. Mas tambm fruto da

    expanso desenfreada da concorrncia que, conforme o mesmo boletim da ABIH, chega a 15

    mil quartos de hotel e 35 mil em flats.

    Nas pesquisas realizadas por Spolon (2001:9), constatou-se que, apenas no perodo de 1994 a

    1999, foram implantadas em So Paulo, segundo informaes prestadas pela Embraesp e

    Gazeta Mercantil, 19.604 unidades deflatsna cidade, a grande maioria em regies da zona

    sul.

    FLATS,APART-HOTIS OU CONDO-HOTIS

    Para entender o que ocorre em So Paulo, capital, necessrio verificar o processo do

    desenvolvimento de flats, ou apart/condo-hotis, usados neste trabalho como sinnimos.

    Considera-se, aqui, que a diferena entre flats e hotis a forma jurdica de constituio: os

    flats so, legalmente, condomnios.

    O surgimento dos primeiros flatsocorreu em meados da dcada de 80, sendo a rede francesaAccor, atualmente administradora de 109 hotis e flatsem 42 cidades brasileiras e detentora

    da marca Parthenon, a grande pioneira. Naquela poca, os empreendimentos eram voltados

    para um pblico-alvo distinto do de hotis: o hspede de longa permanncia (long stay). O

    produto era diferenciado para atender a esse pblico, especialmente no que diz respeito s

    instalaes fsicas: unidades habitacionais maiores, em geral sutes com salas separadas dos

    quartos, com cozinha equipada, e reas sociais diminutas, para atender apenas s necessidades

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    bsicas dos moradores3. Desde princpios da dcada de 90, os flats tm segmentao to

    diversa quanto a de hotis, se especializando e atingindo nichos de mercado os mais variados.

    O contexto que incentivou a busca de uma nova forma de venda de hospedagem era de uma

    poca (1) com uma lei do inquilinato em vigor rgida com proprietrios, que gerava um climade desconfiana para a compra de imveis pelos pequenos investidores; (2) com uma situao

    de oferta menor que de demanda hoteleira a ltima crescente com a maior abertura da

    economia ao exterior, em um perodo em que So Paulo tinha dez hotis cinco estrelas, e

    abaixo deles havia somente os outros; (3) de falta de linhas de financiamento de fcil acesso

    para ampliao da oferta hoteleira; e (4) em que foi descoberta uma brecha legal4 para

    inventar os condo-hotis.

    Os condomnios, juridicamente entidades sem fins lucrativos, desobrigados inclusive deapresentar registros contbeis, ainda tinham a vantagem de isenes ou redues de tributos e

    taxas pblicas (energia eltrica e gua residenciais, por exemplo), alm de funcionrios

    vinculados a um sindicato de menor fora em relao ao hoteleiro. E comearam a se

    disseminar os condo-hotis.

    Os problemas iniciais enfrentados passaram (1) pela necessidade de desenvolvimento de know

    howdas cadeias hoteleiras para lidar com pequenos investidores (proprietrios de unidades

    habitacionais) e com a nova forma de operao; (2) pelos projetos de engenharia e arquiteturainadequados para uma operao hoteleira com nvel de prestao de servios razovel; e (3)

    pela presso de investidores por rendimentos no curto prazo, o que levava muitas

    administradoras hoteleiras a relegar a manuteno do imvel a segundo plano.

    Como um condomnio qualquer, um flat tem sndico eleito, assemblias gerais ordinrias e

    extraordinrias, conveno de condomnio e assim por diante. Cada apartamento possui um

    proprietrio, que pode ressalvadas condies especficas no contrato de compra de imvel

    morar no apartamento, alug-lo ou integrar opoolde locao.

    A comercializao de dirias hoteleiras em um condomnio atravs de um pool hoteleiro,

    que utiliza o formato jurdico de filial de uma administradora hoteleira ou, mais raramente

    hoje em dia, de uma sociedade em conta de participao (SCP). A distribuio de rendimentos

    feita sob a forma de aluguel varivel, distribuindo-se o resultado operacional na proporo

    da frao ideal de terreno de cada unidade habitacional. O resultado composto

    3Sobre esse assunto, ver MARTINS, 2001.

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    principalmente pela receita de dirias e pela despesa com a taxa de condomnio, lquido da

    taxa de administrao cobrada pelas grandes cadeias.

    Atualmente, a falta de aes preventivas do poder pblico levou a um crescimento

    descontrolado da oferta, obrigando os empreendimentos no competitivos a se reposicionaremou a sarem do mercado. Os estabelecimentos hoteleiros, acuados com os baixos resultados

    oriundos da retrao da demanda e da oferta excessiva, acusam os condo-hotis de

    concorrncia desleal, enquanto pressionam a ABIH para tomar medidas. No sero as

    administradoras hoteleiras nacionais ou internacionais que iro impedir o aumento da oferta,

    principalmente considerando que seus contratos de administrao com flats no envolvem

    absolutamente nenhum risco: so feitos com base em participao da receita e do resultado 5.

    O poder pblico municipal no prioriza o caso se que o conhece a ponto de,recentemente, ter aprovado a lei 13.250/2001, que isenta de IPTU imveis da cidade com rea

    inferior a 100m2, o que privilegia no s a populao de baixa renda, mas tambm flats. A

    ao pblica deveria, claro, ter sido anterior situao atual. A modificao s se dar quando

    os investidores comearem a perceber o que est ocorrendo, exigirem modificaes

    contratuais e/ou retirarem suas propriedades do pool, o que fatalmente acabar acontecendo

    em vrios empreendimentos que no conseguiro se manter competitivos e com a taxa de

    retorno esperada.

    ENTRADA DE NOVO CONCORRENTE

    Alheio concorrncia acirrada, est um novo empreendimento, localizado no bairro do

    Paraso6, chamado neste texto de Novo Empreendimento Hoteleiro (NEH). Apresentando

    ndices de ocupao invejveis (mais de 80% acumulado desde a inaugurao, e 100% j nos

    vinte primeiros dias de operao7), o NEH entrou no mercado com um produto diferenciado,

    uma estratgia de segmentao e posicionamento voltada ao hspede budget8, e com liderana

    de preos. O NEH ser utilizado neste trabalho como estudo de caso para discutir aimportncia de analisar os custos dos concorrentes na indstria hoteleira.

    4No objetivo deste trabalho detalhar a legislao pertinente. Para detalhamento, ver SPOLON, 2001.5Isso o que explica haver, em dois quarteires do Jardim Europa, nada menos que cinco edificaes hoteleirasda mesma administradora competindo entre si.6Hotel Formule 1 (F1), marca da cadeia francesa Accor.7Valor Econmico, 22/08/2001.8

    Aqui utilizado como sinnimo de econmico, hspede budget o pblico de propriedades com diriaspublicadas abaixo do 40o. percentil em seu mercado geogrfico, conforme nomenclatura proposta pela SmithTravel Research, apud Chon e Sparrowe, 2000:120.

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    CONCORRENTES E CONTABILIDADE

    Ningum contestaria que monitorar as atividades dos concorrentes necessrio para o sucesso

    de um negcio. Entretanto, uma afirmao simples como essa encerra questes que podem

    exigir reflexes mais profundas antes de dar uma resposta: o que, ou quem, so osconcorrentes? monitorar como? quais atividades? o que sucesso?

    Talvez, se fossem reunidos em uma sala os diversos gerentes de uma grande organizao,

    seriam ouvidas tantas respostas quantos fossem os gerentes, cada qual entendendo atividades,

    sucesso, monitoramento e concorrncia sob a tica de seu departamento: a de operaes, a de

    recursos humanos, a de compras e a de vendas, por exemplo. Aqui, vai interessar a abordagem

    contbil, e mais especificamente a da contabilidade de custos. Entretanto, a Contabilidade

    uma rea de conhecimento e um departamento dostaff organizacional que tem a missode sintetizar as ocorrncias de todas as outras reas, de tal forma que o produto sejam

    informaes que possam subsidiar o processo decisrio do mais baixo ao mais alto nvel

    administrativo. A Contabilidade, assim entendida em seus sentidos amplo e restrito (cincia e

    departamento) rene as melhores condies para compreender adequadamente o sistema

    empresa9, j que interage com todos os outros subsistemas que se poderia identificar em uma

    empresa.

    Se objetivo da contabilidade, enquanto sistema, gerar informaes que subsidiem o processodecisrio, enxergar alm dos muros departamentais a nica forma alcan-lo.

    E o que os custos tm a ver com decises em um negcio? Wilson (1994:24) considera como

    os principais pontos de estudo em cada concorrente: objetivos, recursos, postura competitiva e

    elementos individuais de sua estratgia. Cada um desses pontos est refletido na estrutura de

    custos do NEH: os objetivos da concepo do produto, as instalaes, mveis, equipamentos e

    utenslios planejados para um determinado nvel de despesas, a postura competitiva de dirias

    mais baixas e a estratgia de liderana de preos presente em todo o sistema de produo.

    Dentre todas as decises tomadas por um negcio, as estratgicas so as mais importantes. O

    sucesso de um negcio est relacionado com a definio de estratgias que beneficiem a

    empresa como um todo, visando obter e manter vantagem competitiva. A definio (ou

    redefinio) de estratgias de um estabelecimento de hospedagem (seja hotel ou flat)

    9O conjunto de componentes que atuam juntos na execuo do objetivo global do todo da empresa, em umenfoque que privilegia pensar a respeito dos sistemas totais e seus componentes, como prope Riccio (1989).

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    operando em um mercado como o da cidade de So Paulo depende de informaes

    estratgicas, que s podem ser geradas por um sistema contbil que possua esse foco.

    O uso da palavra estratgia se difundiu com as guerras, contrapondo-se ao esquema ttico das

    tropas para vencer o inimigo: os primeiros registros do termo estratgia datam de mais dedois mil anos, e a estratgia era vista como obteno de posies especficas no contexto de

    batalhas militares (Gohr, Moreto Neto e Santana, 2002:3). Sendo assim, desde o princpio a

    estratgia era definida em um contexto de existncia de concorrentes. Para Wilson (1994:24),

    qualquer falha em levar detalhadamente em conta [a concorrncia] conduz ao desempenho

    subtimo, [...] incluindo uma crescente tendncia da companhia ser pega de surpresa, ser

    relegada posio de seguidora ao invs de lder ou focar questes de curto prazo em vez

    questes mais fundamentais de longo prazo.O sistema contbil tradicional tem se dedicado anlise de informaes com nfase no curto

    prazo, na viso interna e financeira (em oposio externa e econmica). Esse sistema

    tradicional, concentrado em avaliar como a estrutura de custos interna atual pode se modificar

    no futuro, atravs da confeco de budgets e planejamentos anuais, e tomando por base

    medidas exclusivamente monetrias, no encara algumas das maiores questes com que a

    organizao se depara quando tenta desenvolver uma estratgia competitiva (Ward,

    1993:87), apesar de possuir suas vantagens. duvidvel que as controladorias hoteleiras dos grandes hotis de So Paulo que se supe

    sejam as melhor estruturadas sejam capazes de avaliar o impacto da entrada do NEH no

    mercado. Mais duvidvel ainda que tenham previsto o surgimento de um empreendimento

    com essas caractersticas10ou que tenham analisado os possveis cursos de ao a tomar para

    beneficiarem-se estrategicamente dos pontos fracos do concorrente. O produto hoteleiro,

    apesar de segmentado, tem como um de seus principais atrativos a localizao dos

    empreendimentos, e de imaginar que o grupo concorrencial da regio, ainda que com outrotipo de produto ou outro tipo de diferencial, tenha sentido impactos em sua taxa de ocupao

    uma medida no-monetria de quantidade vendida. Um sistema contbil estratgico deve

    enfocar o ambiente externo da empresa, orientando-se para decises de longo prazo e gerando

    informaes no-monetrias, que auxilie no planejamento de cursos de ao.

    Mais uma vez, se o sucesso estratgico de um negcio definido em termos de vantagens

    competitivas, essas vantagens s podem, por definio, existir em relao aos concorrentes

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    (Ward, 1993:235). A comparao com os concorrentes, portanto, imprescindvel para o

    processo de tomada de decises. E, em se tratando de comparao, o que importa so as

    diferenas relativas que o concorrente apresenta face empresa, e no seu desempenho

    absoluto. Assim sendo, analisar custos do concorrente no uma tarefa impossvel como

    poderia, a princpio, parecer.

    QUEM SO OS CONCORRENTES?

    Para Kotler (1994:289), os concorrentes da empresa so aqueles que procuram satisfazer os

    mesmos consumidores e as mesmas necessidades do consumidor, fazendo ofertas

    semelhantes. Kotler distingue quatro tipos de concorrncia:

    Concorrncia de marca: produtos e preos similares; Concorrncia industrial: mesmo produto ou classe de produtos; Concorrncia de forma: produtos que prestam o mesmo servio; Concorrncia genrica: renda dos consumidores.

    No estudo de caso proposto, a concorrncia de marca com o NEH seria a estabelecida por

    outros hotis ou flats de padro econmico. O NEH, em um sentido mais amplo,

    concorrente de toda a indstria hoteleira da cidade de So Paulo, em sua condio de hotel de

    negcios. A concorrncia industrial pelo produto hoteleiro. Do ponto de vista de forma, o

    grupo concorrencial poderia ser visto como tambm composto por penses, asilos, ou

    qualquer outra empresa que preste o servio de hospedar. Em se tratando de concorrncia

    genrica, os hotis de So Paulo concorrem com as companhias areas, por exemplo, uma vez

    que os horrios e preos de ponte area so determinantes para um executivo decidir dormir

    em So Paulo ou retornar sua origem ao trmino de uma reunio.

    A demanda de lazer do NEH, por sua vez, decide se gasta sua renda com viagem de lazer ou

    com qualquer outra coisa que supra a mesma necessidade. A necessidade individual que est

    em jogo. Por exemplo, se para determinada pessoa viajar determinante para obter status e

    reconhecimento junto ao seu grupo social, trocar de carro pode ter o mesmo efeito e concorrer

    com a hospedagem. Nesse sentido, Ward (1993:235) alerta que a diferenciao entre

    motivaes funcionais ou simblicas de consumo pode ser fundamental na definio dos

    concorrentes. Ou seja, enquanto alguns produtos podem ser comprados pelos seus atributos,

    outros podem ser comprados pelos benefcios percebidos ou pelo bem que fazem auto-

    imagem do consumidor. Nesse ltimo caso, o concorrente pode ser um produto muito

    diferente.

    10Apesar da marca Formule 1 existir na Frana desde 1984, tendo 352 endereos na Europa, frica e Oceania.

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    Tambm no sentido de perceber a concorrncia em diversos nveis, poder-se-ia falar de

    concorrncia entre produtos, entre linhas de produtos, entre empresas, entre cadeias de valor:

    o produto NEH do Paraso, o produto NEH no mundo, a empresa detentora da marca NEH, a

    indstria hoteleira.

    Esse trabalho prope-se a discutir a importncia da anlise de custos da concorrncia em seu

    sentido estrito: a concorrncia de produtos.

    No sentido estrito, o concorrente deve ser identificado e conhecido. Caso no seja

    identificado, h um problema de definio de misso, de produto ou de mercado. Conhecer

    quem so os concorrentes implica em encontrar empresas que forneam (concorrncia atual)

    ou podem oferecer (concorrncia potencial ou futura) produtos alternativos ao mesmo

    mercado. Se o nmero de concorrentes muito extenso, a anlise beneficiada com aidentificao de um nmero limitado de concorrentes crticos.

    Idealmente, a situao da concorrncia no futuro deve ser prevista o quanto antes. As

    modificaes que podem ocorrer na oferta afetam profundamente o desempenho da empresa,

    como se viu com a anlise do mercado hoteleiro da cidade de So Paulo. Ward (1993) aponta

    a importncia de analisar os concorrentes futuros sob o ponto de vista de que podem ocorrer

    entradas e sadas de novas empresas no mercado. Nesse sentido, as barreiras de entrada e as

    barreiras de sadas de empreendimentos devem ser levadas em considerao para poderprospectar cenrios vindouros. A figura 1 mostra o que Ward considera as principais

    barreiras.

    Figura 1. Barreiras de entrada e sada de concorrentes no mercado

    BARREIRAS DE ENTRADA BARREIRAS DE SADA

    escala de investimento ativos de longa vida

    barreiras de marca altos custos para fechar e sair

    altos custos unitrios ativos dedicados sem alternativa

    canais de distribuio contratos com fornecedores de longo prazo

    restries legais reposio de ativospiece-meal

    curva de aprendizado custos comuns com pouca possibilidade de evitar

    proteo por patente ou licena processos integrados; ativos compartilhados

    economias de escala altos custos fixos

    barreiras tecnolgicas

    fonte: Ward (1993)

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    Analisando os desincentivos econmicos significativos para a entrada de concorrentes e, por

    outro lado, as percepes de custo associadas sada do mercado, a empresa pode ter um

    panorama de seus concorrentes futuros, com a finalidade de realizar anlises estratgicas. Por

    outro lado, um sistema de contabilidade estratgica deve fornecer informaes que permitam

    analisar o investimento necessrio para deter um concorrente face aos benefcios que isso

    pode trazer. Para Ward (1993), essa no uma anlise fcil, mas equivalente anlise de

    risco de longo prazo feita por qualquer empresa ao decidir contratar um seguro: comparar o

    valor presente do impacto de um evento potencial (atravs de fluxo de caixa futuro

    descontado) com o custo para preveni-lo. A diferena que a tentativa de prevenir a entrada

    de um concorrente no garante que isso ser conseguido11.

    Entretanto, a empresa no s deve se preocupar com seus concorrentes potenciais, que renemcondies de disputar mercado com ela no futuro, identificando-os e monitorando-os, como

    tambm deve obter informaes para prever a posio que o concorrente atual ter

    posteriormente. Essa posio pode mudar, alterando a significncia do concorrente para a

    empresa, por diversos fatores: legislao ou ambiente, mudana de propriedade e

    conseqentemente de estratgia, mudana da importncia do produto concorrente noportfolio

    da empresa etc. O reposicionamento que j comea a ocorrer com muitos empreendimentos

    de So Paulo12 um exemplo claro de alterao do quadro competitivo.

    A anlise da concorrncia, conforme o IMA (1996:2-3), pode ser feita considerando trs

    nveis de abrangncia ou aprofundamento:

    Anlise do concorrente: foco estrito no perfil de um concorrente especfico em um momentoespecfico. Inclui viso geral do concorrente, seus principais executivos, linhas de produtos emercados importantes, tecnologia e operaes bsicas, desempenho financeiro. Capacidade de acompanhia interpretar os pontos fortes e fracos dos concorrentes, disponibilidade de recursos edireo estratgica que poderia afet-los.

    Inteligncia competitiva: abordagem mais ampla, assimila todos os concorrentes. Inteligncia de negcios: inteligncia competitiva inserida no estudo do ambiente (condies

    econmicas, mudanas sociais, desenvolvimento tecnolgico, eventos regulatrios e polticos), comanlise e pesquisa de marketing.

    No estudo de caso proposto, analisaremos um nico concorrente: o NEH.

    11

    Para Ward, as principais premissas para esse estudo referem-se ao tamanho futuro potencial do mercado, omarket share e as margens de lucro com e sem o concorrente.12Por exemplo, os hotis Normandie e Pergamon.

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    preos similares (normalmente penses) ao oferecer um produto de melhor qualidade. O

    Material Bsico de Informaes para as Equipes Comerciais (Accor, 2001:3) define:

    Atualmente, os concorrentes mais prximos da rede Formule 1 so hotis independentes, na maioria dasvezes familiares, de um nico dono, localizados no centro da cidade, considerados hotis categoria 2

    estrelas, com tarifas que variam de R$ 40,00 a R$ 60,00. Esses hotis no apresentam uma preocupaoem oferecer um padro mnimo de conforto aos hspedes e nem se preocupam em fideliz-los. So hotisantigos, sem manuteno, pequenos (mdia de 40 apartamentos), com apartamentos com TV 14 semassinatura, telefone, frigobar, ventilador ou ar-condicionado de parede e caf-da-manh incluso na diria.A maioria dos hotis no possui estacionamento, e quando o possui no est incluso na diria, chegando acustar em mdia R$ 10,00. Os grandes diferenciais desse produto [Formule 1] perante a concorrncia soos itens:

    - existncia de servios de convenincia;- tecnologia, modernidade e funcionalidade;- limpeza, conforto e acabamento dos apartamentos.

    assim que o NEH pretende criar valor para os consumidores, harmonizando preo,

    qualidade do produto e qualidade do servio para superar a expectativa do cliente.

    SEGMENTAO E POSICIONAMENTO

    O nvel e a natureza das despesas de marketing do concorrente so indicadores de uma

    estratgia de segmentao ou de posicionamento, mais relacionadas com a imagem do

    produto. A opo pela segmentao a opo pelo atendimento de determinado nicho de

    mercado, sem a necessidade obrigatria de um produto com diferenas funcionais para

    atender a esse nicho. Tanto para o consumo de bens como para o consumo de produtos a

    segmentao pode existir sem haver diferenas de produto, mas com servios isso maisdifcil de distinguir, uma vez que o produto no totalmente fsico: na prestao de servios,

    muitas vezes o ambiente subjetivo dirigido a um ou outro grupo de consumidores composto

    por uma diferenciao do produto (decorao, tipo de atendimento, etc.). Ao tomar-se como

    exemplo um restaurante dirigido a casais heterossexuais que passe a se dirigir ao segmento

    homossexual, a diferena de produto pode no ser necessria. Entretanto, haver uma

    reorientao das despesas de marketing.

    Da mesma forma, a busca de determinado posicionamento no mercado implica na busca dapercepo por parte dos consumidores de uma imagem que lhe trar determinados benefcios

    e pode, ou no, envolver diferenciao do produto. Reflete-se nas despesas de marketing dos

    concorrentes, no nvel e natureza dos gastos.

    As estratgias atual e alternativa da empresa devem ditar a nfase do sistema de informaes

    de custos dos concorrentes (SICC), tanto no que diz respeito a quem so os concorrentes

    diretos do produto, como quais informaes que se quer deles. O SICC deve servir tambm

    para identificar as diferentes estratgias que podem ser implementadas pelos concorrentes, de

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    forma a possibilitar o planejamento de respostas. Para isso, um SICC no precisa trabalhar

    com valores absolutos: interessam os custos relativos, relevantes so as diferenas.

    SISTEMA DEINFORMAES DE CUSTOS DE CONCORRENTES (SICC)

    De uma certa forma, todas as empresas acompanham a atuao dos concorrentes. Um sistema

    de informaes de concorrentes significa transformar um sistema informal e intuitivo em uma

    preocupao sistemtica, disciplinada e pr-ativa (IMA, 1996:1) para facilitar a formulao

    de estratgias. Isso deve ser feito atravs da elaborao de processos de identificao,

    mensurao e gerao de informaes sobre a estrutura de custos dos concorrentes atuais e

    potenciais de um determinado produto, de forma peridica e estruturada, com o intuito de

    formular estratgias para obteno e manuteno de vantagem competitiva. O SICC pode ser

    considerado como parte de um sistema mais amplo, de anlise de concorrentes de forma geral.

    Para Goold, um modelo para a anlise de custos da concorrncia deveria ter, como estrutura

    principal, os estgios produtivos de adio de valor: a separao de custos de produo,

    distribuio, venda ou de outros processos em grandes grupos de categorias seria a nica

    forma possvel de comparar os custos de outras empresas com os prprios. Afirma, a esse

    respeito, que a administrao geral tem que [...] ver os custos divididos em categorias a partir

    das quais eles possam de fato tomar decises, ou que faam algum sentido quando

    comparados com os nveis de custo da concorrncia (1986:184). A partir dessa estrutura

    principal, Goold prope a construo de um modelo de comportamento dos custos em relao

    a variveis-chaves, reunindo toda a informao possvel sobre a concorrncia em termos

    dessas variveis e, ento, colocando-as no modelo simplificado.

    Na prestao de servios, muitas vezes os processos de produo, distribuio e venda so

    simultneos. A grande hotelaria, no entanto, trabalha com um sistema de contabilidade

    gerencial uniforme (Uniform System of Accounting for the Lodging Industry, 1996), que

    permite a comparao entre empresas com facilidade. Tampouco difcil identificar

    variveis-chaves na hotelaria: as relacionadas mo-de-obra e aos ativos.

    A grande contribuio da reflexo de Goold, no entanto, est expressa no seguinte trecho:

    Ao forar algum a tentar quantificar diferenciais de custos e preos entre diferentes concorrentes ediferentes posies estratgicas, um senso muito mais claro de prioridades e resultados provveis entre asdiferentes opes emerge (Goold, 1986:186).

    Em outras palavras, Goold prope que o exerccio, por si s, capaz de gerar conhecimento

    para a empresa. E ainda alerta:

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    esse mtodo no [...] dar uma avaliao acurada de posies relativas de custos mas, dependendo docuidado com que feito e da disponibilidade de informaes, produzir estimativas de maior ou menorsofisticao (Goold, 1986:186).

    Nessa linha, Ward (1993) prope que um SICC um processo constante de aprendizagem

    sobre a concorrncia. E Wilson (1994:26) declara: no fundamentalmente um exerccio de

    coleta de dados, mas um processo pelo qual os concorrentes devem ser compreendidos.

    Dessa forma, no h como estabelecer uma receita para a criao de tal sistema. Um sistema

    de informaes de custos de concorrentes deve levar em considerao os objetivos

    empresariais e a cultura organizacional inseridos no contexto de uma indstria e de um

    mercado com caractersticas especficas.

    Os objetivos empresariais devem determinar se o sistema deve ter a finalidade informativa,

    agressiva ou defensiva. De acordo com o IMA (1996:5), a maioria das empresas tem umamistura dos trs: compreenso geral dos concorrentes e de determinado ramo de atividade;

    identificao das vulnerabilidades dos concorrentes para surpreend-los; e auto-proteo

    contra estratgias agressivas, respectivamente.

    A cultura organizacional deve ser considerada: um sistema de informaes desenhado para

    suprir as necessidades da empresa tem que estar bem alinhado com os outros subsistemas da

    empresa (Wilkinson, 2000). Se o sistema no for desenhado levando em considerao a

    motivao e a competncia dos funcionrios, o que pressupe um profundo entendimento doambiente organizacional e das relaes formais e informais estabelecidas na empresa, bem

    como dos objetivos de negcios e da estratgia global da companhia, pode estar fadado ao

    fracasso.

    A cultura da organizao, suas polticas e filosofias explcitas ou no devem estar alinhadas

    com o sistema de informaes a ser desenvolvido. O desempenho do sistema envolve o

    comprometimento de funcionrios de diversos departamentos da empresa que, uma vez

    participantes do processo, devem estar convencidos da melhoria que poder ocasionar.

    Por outro lado, nos dias atuais, o desenho de um sistema de informaes de custos de

    concorrentes pode utilizar recursos mais avanados da informtica(Laudon e Laudon, 2000).

    Sistemas de suporte deciso executiva so projetados explicitamente para melhorar a

    tomada de deciso gerencial em problemas semi-estruturados e no-estruturados (Riccio,

    1989), e pode ser guiado por modelos tal qual sugerido por Goold, descobrindo, por exemplo,

    relacionamentos de causa e efeito nas reaes dos concorrentes, auxiliando o monitoramento

    das atividades e identificando oportunidades.

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    INFORMAO E FONTES

    Identificados os concorrentes relevantes, a informao necessria sobre eles depende do tipo

    de deciso em causa, ou seja, de quem utilizar a informao, quando e com qu finalidade

    em ltima anlise, as informaes necessrias esto subordinadas s prprias possibilidadesestratgicas da empresa.

    Os dados so obtidos de diversas fontes, organizados e acumulados para gerar informaes

    que sero divulgadas para os tomadores de deciso. Isso inclui informaes monetrias e no-

    monetrias que sirvam s questes e interesses do negcio.

    Como grande parte das informaes sobre concorrentes no so precisas tampouco objetivas,

    elas devem ser testadas para aceitar ou rejeitar sua utilizao no processo decisrio. O IMA

    (1996:12-13) prope as seguintes anlises a respeito da inteligncia gerada:

    As concluses foram contestadas e testadas? As limitaes, incertezas e premissas foram identificadas? As implicaes foram desenvolvidas? Os dados esto adequados para o planejamento? Os dados atendem s necessidades dos usurios? As solues e vises alternativas foram identificadas? Os dados so tempestivos?

    Confiando-se na informao, relatrios podem ser produzidos, salientando os aspectos

    importantes para cada grupo de usurios com capacidades, competncias, autoridade e

    responsabilidade semelhantes, em conformidade com cada nvel de planejamento estratgico.

    Por fim, o mecanismo defeedbackdo sistema ajuda a clarificar as necessidades dos usurios,

    identificar outras informaes necessrias e sugerir novas reas de investigao (IMA,

    1996:15). o learning processa que muitos autores se referem (Ward, 1993; Goold, 1986).

    Os dados para gerar essas informaes podem ser obtidos de diversas formas. Frente ao

    desafio que obter informaes sobre concorrentes, muitos profissionais podem sequer

    considerar vlida a tentativa. Os contadores, em especial, podem ser resistentes, pois esto

    condicionados busca da objetividade e da preciso para a confeco dos demonstrativos

    financeiros tradicionais, atuando em ambientes organizacionais onde, via de regra, possuem

    pouco tempo disponvel ou poucos funcionrios, e com a natural tendncia de se proteger

    no arriscando o cargo com informaes que podem no estar cem por cento corretas. Por

    outro lado, a prpria cultura gerencial faz com que os administradores se confundam com

    muita informao. Outras vezes, ainda, o administrador condicionado a julgar e a decidir

    atravs de sua prpria intuio, menosprezando informaes que, no sendo cem por cento

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    objetivas e confiveis, possam apenas servir para criar conflito ou abalar suas convices j

    formadas(Goold, 1986).

    Outro problema, ao trabalhar com dados sobre o concorrente, conseguir delimitar at onde

    vo as fronteiras da tica, e onde comea a espionagem, a sabotagem, ou o ato ilegal. Umafonte de informaes que no levanta essa questo so os dados publicados. A se incluem as

    demonstraes financeiras publicadas, as matrias na imprensa, anncios classificados,

    propagandas, material promocional, dados e reunies de entidades de classes, sites dos

    concorrentes,sitesda indstria, censos industriais, bolsas de valores. Ward (1993) menciona

    tambm as anlises comparativas da indstria, as estatsticas governamentais epress releases.

    Dados no-publicados obtidos atravs de entrevistas com terceiros (funcionrios e ex-

    funcionrios ou outros membros do grupo concorrente, clientes e fornecedores comuns,consumidores; analistas financeiros, consultores da indstria) ou as informaes coletadas

    com o pessoal interno merecem cuidado para no extrapolar os limites da tica.

    Alguns dados importantes tambm podem ser obtidos atravs da observao do concorrente:

    observao fsica do local de produo interna ou atravs da anlise fsica de seus produtos.

    Na hotelaria, observar o produto ou o local da produo sinnimo, e a observao

    acessvel o que no ocorre em outras indstrias. A observao detalhada do produto a fim de

    verificar como composto chamada de engenharia reversa.

    ENGENHARIA REVERSA:O PRODUTO

    A tcnica de engenharia reversa envolve a aquisio de unidades do produto concorrente para

    desmont-las, buscando levantar dados a respeito de seu processo de fabricao, matria-

    prima, fornecedores etc. A engenharia reversa permite inferncias sobre o processo de

    pesquisa e desenvolvimento, a produo, o custo direto e indireto, os fornecedores, o sistema

    de distribuio e vendas e a nfase da estratgia (IMA, 1996:25). Em se tratando da indstria

    hoteleira, basta hospedar-se, com olhos atentos e treinados, para perceber os processos e o

    produto do concorrente13.

    13Volta-se assim questo tica: permitida essa hospedagem? O tradeturstico mantm a prtica de oferecerdescontos para hoteleiros quando alojados em hotis de redes concorrentes por necessidade de viagem. Mas nose trata disso. tica a hospedagem para observar o concorrente? uma questo complexa. Se algum pensarem buscar a resposta no Cdigo de tica da ABIH (1992), adianta-se que no vai encontr-la. Talvez possa serrazovel pensar que a identificao do motivo da hospedagem frente administrao do hotel a ser pesquisado

    faa diferena, mas depende das circunstncias. Ao transportar o exemplo para outro tipo de indstria, ficariaridculo pensar que o presidente de uma indstria de macarro deveria avisar seu concorrente que vaiexperiment-lo. A indstria de macarro concorrente no vai saber. O hotel concorrente deveria saber? A grande

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    A concepo do NEH deixa clara a estratgia de liderana de preos com diferenciao em

    relao aos produtos hoteleiros econmicos previamente existentes no mercado paulistano.

    Em um terreno de 1.880 m2, com rea construda de 10.999 m2na rua Vergueiro, 1.57114, a

    construo do edifcio foi planejada para ser econmica.

    A construtora15e investidora, Setin Empreendimentos Imobilirios, uma das seis maiores de

    So Paulo, ganhou o Prmio Master Imobilirio 2001, concedido pelo Sindicato da Habitao

    de So Paulo (SECOVI/SP) a empresas que se destacaram. O jri do prmio justificou: uma

    hospedagem de qualidade, com tarifa extremamente baixa, cuja realizao s foi possvel pela

    excelncia do projeto[...]. O edifcio foi construdo em apenas onze meses, utilizando

    modernas tcnicas construtivas, sendo inaugurado em 03 de agosto de 2001. A construo foi

    totalmente industrializada, com laje plana sem vigas de borda, fachada pr-moldada, esquadrias ebanheiros prontos [...]. As paredes externas so pr-fabricadas, as internas e o forro utilizaram gessoacartonado. [...] O gesso proporciona uma obra seca, limpa, d mais qualidade no servio, garantia dasmedidas, conforto trmico e acstico e dimenses reduzidas das espessuras das paredes. Os banheirosprontos, da Rivoli do Brasil Spa, so executados na prpria fbrica, transportados e instalados na obra. Okit composto de dois banheiros geminados, prontos para atender dois apartamentos (Placo, 2002).

    A localizao, estrategicamente ao lado do Metr Paraso, visa no onerar o pblico-alvo da

    categoria econmica com gastos de transporte16. O prdio conta com 300 unidades

    habitacionais, recepo e lobbycom sala de descanso, salo para o caf-da-manh, garagem

    terceirizada para 140 carros e um business corner, com computadores para acesso Internet.

    Todos os quinze andares do hotel possuem vending machinese telefones pblicos.

    As unidades habitacionais, de 12 metros quadrados17, so simples e prticas, acomodando at

    trs pessoas (uma cama de casal e um leito beliche) sem grande investimento. Esto equipadas

    com espelho, toalete e ducha em ambientes separados, ar condicionado, TV a cabo, relgio

    despertador, cabideiro, bancada de trabalho com cadeira e fechadura com carto eletrnico. A

    diferena reside em que, nos hotis, a observao se d dentro das instalaes do concorrente. necessrio ir

    casa dele.Essa discusso no faz parte deste trabalho, mas no se pde deixar de levant-la: algumas informaes para essetrabalho sobre o produto F1 so resultado de uma visita realizada, na condio de professora e pesquisadora.Partiu-se, aqui, do princpio que em um site inspection no seria divulgado nada que fosse julgado comoconfidencial pela empresa. por esse motivo que se est vontade para utilizar o Formule 1-Paraso comoestudo de caso neste trabalho. Todas as estimativas contbeis aqui contidas, entretanto, so de responsabilidadeda autora.14Outras unidades Formule 1 esto previstas ou em construo, inclusive na prpria cidade de So Paulo.15 Os construtores e fornecedores do Formule 1 fazem parte da cadeia de valor da indstria. A anlise ecomparao dos custos da cadeia de valor podem ser utilizadas para desenvolver um entendimento da origem dasvantagens competitivas em uma indstria, bem como para avaliar a posio competitiva singular da empresapara criar valor para o consumidor. A esse respeito ver, por exemplo, SHANK, John K. e GOVINDARAJAN,Vijay. 1997.A revoluo dos custos. Rio de Janeiro: Campus, Captulo 7.16 Para entender o efeito de outros fatores externos ao produto na escolha do consumidor (total cost ofownership), ver, por exemplo, SAKURAI, Michiharu. 1996.Integrated cost management. Portland.

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    fechadura eletrnica bloqueia a entrada ao apartamento depois de vencido o perodo de

    hospedagem, alm de exigir o carto do lado de dentro para que haja eletricidade. A ausncia

    de telefone ou minibar no apartamento menos pelo investimento nos equipamentos que pela

    inteno de que o hspede no tenha nenhum gasto extra a saldar antes da sada.

    O caf-da-manh self service, com quatro tipos de pes, manteiga, gelia, ch, caf, leite e

    chocolate quente, e no est includo na diria: custa R$ 3,00 por pessoa. O hotel no possui

    nenhum outro servio de alimentos e bebidas que no o caf e as vending machines, onde os

    hspedes podem comprar desde bebidas geladas, lanches frios, salgadinhos at artigos de

    primeira necessidade.

    Algumas adaptaes do conceito original francs foram feitas para a cultura brasileira. L, a

    recepo de um hotel da mesma marca funciona em horrios pr-determinados (06:30 s10:00 e 17:00 s 22:00 horas), porque levantamentos indicaram que 90% dos hspedes

    chegam nesses horrios. Fora desses perodos, o hspede faz o check in automtico, em uma

    mquina que libera os cartes que do acesso s unidades habitacionais. Aqui, a recepo 24

    horas. Mesmo as duchas nos banheiros no existiam no projeto original, apenas banheiros

    coletivos nos corredores.

    CONTABILIDADE18:OS CUSTOS

    A engenharia reversa e o conceito de costs drivers(Porter, 1992)19foram utilizados para uma

    aproximao dos resultados do NEH, estimando sua estrutura de custos.

    O valor total do investimento da Setin foi divulgado pela mdia, e foi da ordem de 15 milhes.

    A aproximao utilizada pela indstria para a composio desse valor, para empreendimentos

    desse tipo, e que deve estar bastante prxima da mdia do mercado, de: 15% para o terreno,

    60% para a edificao, 20% para acabamentos, mveis e equipamentos20e 5% de despesas

    pr-operacionais a serem amortizadas. Dessa forma, a figura 3 estima o valor de depreciao e

    de ativo pr-operacional diferido para o NEH.

    17Valor Econmico, 31/08/2001.18Apesar de ser utilizado o termo contabilidade reversa em ocasies em que se estima a estrutura de custos daconcorrncia, optou-se por no utiliz-lo aqui, uma vez que o termo empregado principalmente quando estaestrutura inferida a partir da anlise do produto e de demonstraes contbeis publicadas.19Porter define como os dez principais direcionadores de custos: economias de escala, aprendizagem, padro deutilizao da capacidade, relacionamentos, inter-relaes, integrao, timing, polticas discricionrias,

    localizao e fatores institucionais. Esses direcionadores de custos so perfeitamente aplicveis atividadehoteleira, mas uma reflexo a esse respeito ficar para um outro trabalho.20Conhecido como FFE, do inglsfurniture, fixture and equipment.

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    Figura 3. Estimativa de investimento, depreciao e diferido do NEH

    Investimento Total: R$ 15.000.000

    Valor a ser depreciado por tipo de ativo Tempo de depreciao

    R$ 9.000.000 60% edificao 25 anos

    R$ 3.000.000 20%furniture, fixtures and equipment 10 anosR$ 1.500.000 5% pr-operacional 10 anos

    0 15% terreno -

    R$ 810.000 DEPRECIAO E AMORTIZAO TOTAL POR ANO

    Na indstria hoteleira, a quantidade vendida pode ser traduzida por unidades habitacionais

    (UH) ocupadas ou pelo nmero de pessoas hospedadas (pernoites gerados). No NEH, a receita

    de dirias proporcional ao nmero de unidades habitacionais ocupadas, j que o valor da

    diria o mesmo (R$ 39,00 na fase de soft opening, R$ 49,00 agora), quer seja para uma,

    duas ou trs pessoas ocupando a UH, embora alguns custos variveis possam ser

    proporcionais ao nmero de pernoites.

    A taxa de ocupao resultante de um movimento estimado de lotao mxima em dias teis, e

    50% em dias no-teis, de uma mdia de 81%21. A poltica tarifria do NEH no prev a

    concesso de descontos em nenhuma hiptese, trabalhando exclusivamente com a tarifa

    balco. A receita de dirias resultante desta estimativa de R$ 4.346.055,00 (figura 4).

    Figura 4. Estimativa da receita anual de dirias do NEH

    Receita de Hospedagem

    Node unidades habitacionais (UH) 300

    Taxa de ocupao 81%

    UH disponveis/ano 109.500

    NoUH vendidas (pernoites) 88.695

    Diria mdia R$ 49,00

    Receita de Hospedagem R$ 4.346.055,00

    Outro tipo de receita relevante do NEH a de alimentos e bebidas (caf-da-manh). Para

    estim-la, necessrio fazer suposies a respeito do nmero mdio de hspedes por UH, e oporcentual de hspedes que efetivamente tomam o caf-da-manh, j que o preo de venda

    conhecido e a taxa de ocupao anual j foi estimada.

    O nmero mdio de hspedes por UH (ou dupla ocupao, ou ocupao mltipla) na cidade

    de So Paulo varia entre 1,1 e 1,3, j que a cidade atende especialmente o turismo executivo,

    21Se so 52 semanas por ano, so 104 dias em finais de semana. O ano tem 23 feriados, e foi considerada uma

    mdia de 1,5 dias no teis por feriado como estimativa das pontes. Portanto, seriam aproximadamente 138,5dias com 150 apartamentos ocupados, e 226,5 dias com 300 apartamentos ocupados, o que resulta em 88.725pernoites anuais, ou 81% de taxa de ocupao.

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    que tem ocupaosingleem at 90% das vezes. Entretanto, as caractersticas do NEH atraem

    um pblico diferente do habitual dos hotis executivos de padro 4 e 5 estrelas: jovens

    estrangeiros em viagens de lazer, sacoleiros com acompanhantes, estudantes etc., o que

    aumenta a mdia. Dessa forma, no seria exagero supor uma ocupao mdia de 1,6 hspedes

    por unidade habitacional. Estimou-se, tambm, com base nas informaes coletadas da mdia

    e de outras fontes, que 65% dos hspedes tomam o caf-da-manh. Assim, tem-se uma receita

    de caf-da-manh da ordem de R$ 270 mil, como demonstrado na figura 5.

    Figura 5. Estimativa da receita anual de caf-da-manh do NEH

    Caf-da-manh

    Nmero de hspedes por UH 1,60

    Hspedes - total 141.912

    % hspedes que tomam caf 65%Cafs vendidos 92.243

    Preo de venda R$ 3,00

    Receita anual caf-da-manh R$ 276.728,40

    Outras receitas incluem a comisso sobre as vendas de vending machines e comisso ou

    locao do estacionamento para terceiros. Esses valores, somados, possivelmente no

    ultrapassam R$ 10 mil ao ms, ou R$ 120 mil ao ano.

    Em se tratando de gastos, percebe-se que o lay out fsico do empreendimento foi pensado para

    minimizar a necessidade de pessoal. As camareiras conseguem arrumar 18 UH por dia, o que

    significa que so necessrias dezessete camareiras trabalhando em um dia com ocupao de

    100%. Contando que a folga semanal de cada funcionria seja dada nos finais de semana (dias

    de baixa ocupao) e que haja necessidades extras para cobrir frias, licenas etc., o hotel

    deve trabalhar com um quadro de dezoito camareiras, uma supervisora e uma governanta.

    So, portanto, em torno de vinte funcionrios no departamento de governana.

    A recepo, 24 horas, e fazendo praticamente s check in (o pagamento solicitado

    adiantado, na entrada, e no h nenhum tipo de lanamento a ser realizado em conta corrente

    de hspede), trabalharia bem com trs funcionrios pela manh, trs tarde, um ou dois

    noite, com um supervisor ou chefe, mais o funcionrio responsvel por reservas. Dez

    funcionrios seria um nmero razovel.

    O servio de caf-da-manh, self service e pago na entrada, deve ter quatro ou cinco

    funcionrios na cozinha e mais um ou dois no salo, incluindo o caixa. Com uma pessoa para

    compras e almoxarifado, chega-se a sete funcionrios.

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    Com a contabilidade e a folha de pagamento terceirizadas, como comum em

    empreendimentos hoteleiros desse tipo, a administrao pode ser composta por apenas uma ou

    duas pessoas. Soma-se ento um gerente geral, um assistente ou subgerente, e tem-se um

    quadro total de funcionrios que pode variar de 40 a 45 pessoas.

    A partir de um salrio mdio mensal de R$ 600,00 na indstria hoteleira, e estimando

    encargos em 104% e benefcios de R$ 60,00 (assistncia mdica) por funcionrio ao ms, a

    figura 6 mostra os parmetros utilizados para clculo de despesas com pessoal do NEH.

    Figura 6. Estimativa mensal de despesas com pessoal do NEH

    Salrios, Encargos, Benefcios

    Nmero de funcionrios 40

    Salrio mdio R$ 600,00

    Encargos 104%

    Benefcios por funcionrio R$ 60,00

    Total / ms R$ 51.360,00

    Seguindo os critrios contbeis do SUCH (1996), que apresenta resultados gerenciais por

    departamento, as despesas de dirias mais significativas, alm de pessoal, so lavanderia e

    suprimentos. O NEH, ao contrrio de hotis da mesma categoria, lava toda a roupa de cama e

    banho utilizada todos os dias22. Com a lavanderia terceirizada fcil estimar gastos: sabe-se o

    enxoval utilizado por UH duas toalhas de banho, duas de rosto, um piso de banheiro, quatro

    lenis e trs fronhas23 , e tem-se o valor por pea cobrado por lavanderias, de 50 centavos.

    Por pernoite, portanto, 12 peas, ou R$ 6,00, ou R$ 532.170,00 ao ano. Suprimentos (material

    de escritrio, material de limpeza, impressos de hospedagem e outros) poderiam ser estimados

    em R$ 10 mil ao ms, e mais R$ 5 mil de outras despesas de hospedagem.

    Por fim, os tributos diretos sobre vendas: ISS, PIS e COFINS que, somados, representam

    8,65% da receita bruta de dirias.

    Chega-se, ento, a um resultado de hospedagem24

    estimado em R$ 3,26 milhes para o ano de2002, conforme demonstrado na figura 7 excludas as despesas de pessoal. A coluna RT

    22No Brasil, isso s comum em hotis de padro 4 ou 5 estrelas, sendo que os demais s trocam lenis efronhas quando h sada de hspedes ou quando a roupa est suja.23 Cortinas, protetores de colcho, cobre-leitos e cobertores, por serem de lavagem peridica, estodesconsiderados da estimativa.24 A estimativa de resultado de hospedagem apresentado no est completamente de acordo com o SUCH

    (1996), uma vez que a despesa de pessoal do hotel no est distribuda por departamento. Entretanto, para finsdeste exerccio, isso no foi julgado relevante especialmente considerando que os funcionrios do NEH soflexveis e podem exercer funes para vrios departamentos.

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    indica a porcentagem de cada classe de receita ou despesa sobre as receitas totais, e a coluna

    RD indica o porcentual da receita departamental.

    Figura 7. Estimativa de resultado de hospedagem do NEH em 2002HOSPEDAGEM 2002

    R$

    RT RD

    Receita de diria 4.346.055 91,6% 100,0%

    ISS, PIS/COFINS 375.934 7,9% 8,7%

    Receita Lquida 3.970.121 83,7% 91,4%

    Lavanderia 532.170 11,2% 12,2%

    Suprimentos Operacionais 120.000 2,5% 2,8%

    Outras Despesas 60.000 1,3% 1,4%

    Resultado Estimado de Hospedagem 3.257.951 68,7% 75,0%

    Para as despesas de alimentos e bebidas, e uma vez que as despesas de pessoal esto

    consideradas em separado (no-distribudas), os gastos mais relevantes so o custo da

    mercadoria vendida (CMV) e os descartveis pratos, copos, talheres e toalhas , utilizados

    dentro da concepo de hospedagem econmica e com poucos funcionrios. A mdia da

    indstria de CMV situa-se entre 28 e 35% do preo de venda, conforme a categoria,

    localizao e porte do hotel. Considerando-se a estratgia do NEH, de racionalizao de mo-

    de-obra para um pblico que prefere pagar menos, poder-se-ia falar de um CMV de 40%. A

    figura 8, abaixo, mostra tambm a estimativa de gastos de descartveis por pessoa 5 peas

    em mdia, a R$ 0,02 cada.

    Figura 8. Estimativa anual de despesas de A&B do NEH

    Receita Caf-da-manh R$ 276.728

    CMV % 40%

    Custo da Mercadoria R$ 110.691

    Cafs Vendidos 92.243

    Descartveis / pax R$ 0,10

    Descartveis total R$ 9.224

    O resultado de alimentos e bebidas pode, ento, ser estimado conforme a figura 9,considerando-se um ICMS mdio de 10% sobre a receita.

    Figura 9. Estimativa de resultados de A&B do NEH, em 2002ALIMENTOS E BEBIDAS (A&B) 2002

    R$RT RD

    Receita de Caf-da-manh 276.728 5,8% 100,0%

    ICMS 27.673 0,6% 10,0%

    Receita Lquida 249.056 5,3% 90,0%

    Custo da Mercadoria Vendida 110.691 2,3% 40,0%

    Descartveis 9.224 0,2% 3,3%

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    Resultado Estimado de A&B 129.140 2,7% 46,7%

    Por fim, e ainda conforme o SUCH (1996), amplamente utilizado pela indstria hoteleira,

    pode-se resumir o resultado departamental como na figura 10 que se segue:

    Figura 10. Estimativa de resultado departamental do NEH, em 20022002R$

    RT RD

    HOSPEDAGEM

    Receita 4.346.055 91,6% 100,0%

    ISS, PIS / COFINS 375.934 7,9% 8,7%

    Receita Lquida 3.970.121 83,7% 91,4%

    Folha de Pagamento 532.170 11,2% 12,2%

    Lavanderia 120.000 2,5% 2,8%

    Suprimentos Operacionais 60.000 1,3% 1,4%

    Outras Despesas 3.257.951 68,7% 75,0%

    Resultado Departamental de Hospedagem 4.346.055 91,6% 100,0%

    ALIMENTOS E BEBIDAS

    Receita de Caf-da-manh 276.728 5,8% 100,0%

    ICMS 27.673 0,6% 10,0%

    Receita Lquida 249.056 5,3% 90,0%

    Custo da Mercadoria Vendida 110.691 2,3% 40,0%

    Descartveis 9.224 0,2% 3,3%

    Resultado Departamental de A&B 129.140 2,7% 46,7%RECEITA OUTROS 120.000 2,5% 100,0%

    TOTAL DE RECEITAS 4.742.783 100,0%

    LUCRO DEPARTAMENTAL 3.387.091 71,4%

    O SUCH sugere apresentar, aps os resultados departamentais, as despesas operacionais no-

    distribudas. Neste caso, so compostas por despesas de pessoal, e principalmente por gastos

    com administrao e geral, marketing, manuteno e servios pblicos.

    As despesas operacionais de administrao e geral incluem as de gerncia geral, segurana e

    departamento administrativo. Entretanto, muitas funes administrativas so realizadas por

    empresas externas, como segurana, contabilidade e folha de pagamento. Esses contratos

    terceirizados foram estimados em R$ 3.000,00 mensais. Outra despesa administrativa a

    comisso para administradoras de cartes de crdito, principal forma de pagamento, ao lado

    de despesas faturadas, em hotis executivos. No caso do NEH, despesas faturadas so poucas,

    j que o pblico-alvo no o pblico corporativo. Portanto, estimou-se pagamentos com

    carto de crdito em 70% dos casos, com uma comisso mdia negociada com

    administradoras de 5%. Assim, a figura 11 demonstra a estimativa dos gastos de

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    administrao e geral, incluindo outras despesas (material de escritrio, informtica,

    assinatura de jornais e revistas, correios).

    Figura 11. Estimativa de gastos de administrao e geral do NEH, em 2002GASTOS OPERACIONAIS NO

    DISTRIBUDOS

    2002

    R$

    RT RD

    Comisses 152.112 3,2% 71,7%

    Terceirizados 36.000 0,8% 17,0%

    Outros 24.000 0,5% 11,3%

    Administrao e Geral 212.112 4,5%

    As despesas de marketing de hotis de cadeias so, normalmente, corporativas. As grandes

    cadeias internacionais exigem, em geral, que os empreendimentos afiliados destinem 5% das

    receitas ao marketing, que a estimativa que foi feita para este caso.

    Para estimar as despesas de manuteno, foi utilizada a mdia dos empreendimentos

    econmicos do mercado hoteleiro da regio sudeste para os hotis econmicos que, conforme

    a Horwath Consulting (2001), de 4,1% sobre a receita total.

    Os gastos de servios pblicos foram estimados em R$ 10 mil fixos, correspondentes a reas

    comuns, e mais R$ 2,00 por pernoite vendido25.

    Estes gastos operacionais no-distribudos esto demonstrados na figura 12, que j totaliza a

    estimativa do resultado operacional.

    Figura 12. Estimativa de gastos de administrao e geral do NEH, em 20022002R$

    RT RD

    RESULTADO DEPARTAMENTAL 3.076.520 64,9%

    GASTOS OPERACIONAIS NO-DISTRIBUDOS

    Despesas de Pessoal 616.320 13,0%

    Comisses 152.112 3,2% 71,7%

    Terceirizados 36.000 0,8% 17,0%

    Outros 24.000 0,5% 11,3%

    Administrao e Geral 212.112 4,5%

    Marketing e Vendas 237.139 5,0%

    Manuteno 194.454 4,1%

    Servios Pblicos 187.390 4,0%

    Despesas no distribudas 1.447.415 30,5%

    RESULTADO OPERACIONAL 1.939.676 40,9%

    25Apesar de, em uma aproximao, poder ser dito que variam conforme o nmero de pernoites vendidos, osgastos de servios pblicos no so somente da rea de hospedagem.

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    Por fim, despesas no-operacionais estimadas esto demonstradas na figura 13. Cabe ressaltar

    que o SUCH um sistema de informao gerencial para hotis, concebido para fornecer

    informaes teis gesto da melhor forma possvel, sem preocupaes com a contabilidade

    societria. Assim, o que aqui considerado como no-operacional so os custos no-

    controlveis pela gerncia geral, o que explica a classificao dada a determinados impostos,

    seguros e depreciao.

    Figura 13. Estimativa de gastos de administrao e geral do NEH, em 20022002R$

    RT

    RESULTADO OPERACIONAL 1.939.676 40,9%

    GASTOS NO-OPERACIONAIS

    Impostos

    Seguros 30.000 0,3%Juros

    Depreciao 810.000 17,1%

    Total 840.000 17,7%

    RESULTADO ESTIMADO 1.099.676 23,2%

    Um resultado da ordem de R$ 1,1 milhes para um empreendimento de 300 UH significa algo

    como R$ 3,7 mil por UH ao ano, ou em torno de R$ 310,00 por 12 m2de UH ao ms. Para

    chegar a esse resultado, foram estimados ou obtidos os seguintes dados para o caso em

    estudo:

    valor e composio do investimento quantidade e preo mdio de venda (taxa de ocupao e diria mdia) nmero de funcionrios salrio mdio, encargos e benefcios taxa de dupla ocupao taxa de hspedes que tomam caf-da-manh no hotel preo de venda do caf quantidade de enxoval e valor mdio de lavagem por pea suprimentos operacionais e outras despesas CMV e custo de descartveis do caf-da-manh utilizao de carto de crdito comisso mdia para administradoras de carto de crdito valor de contratao de servios terceirizados gastos de manuteno gastos com servios pblicos (energia eltrica e gua) seguros

    Esses dados, informaes e estimativas, com base em suposies, reportagens da mdia e

    engenharia reversa, so fruto de um exerccio que seguramente no representa a situao

    precisa atual do Hotel Formule 1 Paraso. Entretanto, uma primeira tentativa que pretendeu

    demonstrar que sim, exerccios sobre os custos e o resultado do concorrente na indstria

    hoteleira so possveis, e que uma primeira aproximao com o desempenho do concorrentepode ser o passo decisivo para comear a criar um sistema de informaes que seja

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    alimentado periodicamente, na medida em que mais informaes so obtidas ou que o

    contexto da indstria ou de um empreendimento especfico se modifique, especialmente com

    a entrada de novos hotis no mercado. Um sistema de informaes deve ser utilizado de

    forma recorrente, especialmente em uma indstria to dinmica quanto a hoteleira, com um

    produto to perecvel26 quanto unidades habitacionais, de forma que a empresa esteja,

    constantemente, adquirindo novos e diferentes insights sobre seus concorrentes (IMA,

    1996:27).

    CONSIDERAES FINAIS:PARA QUEM IMPORTANTE UM SISTEMA DE INFORMAES?

    Informaes para anlise competitiva so os fundamentos pelos quais as tticas, estratgias e

    objetivos da organizao so construdos, avaliados e modificados. O acompanhamento da

    evoluo do desempenho de um hotel concorrente pode permitir que outras organizaes

    avaliem tanto o ciclo de vida do produto na indstria quanto a capacidade dos concorrentes

    atuais e potenciais de ameaar sua posio estratgica, avaliando assim seus investimentos e

    desinvestimentos.

    Entender um hotel econmico como este texto props pode servir tanto a seus concorrentes

    diretos, que disputam a mesma fatia de mercado, quanto a hotis de categorias prximas que

    podem precisar de um reposicionamento devido crescente oferta. Serve a hotis upscale27,

    que podem perder demanda em contextos econmicos desfavorveis e passar a ter interesse

    por diminuir preos e custos at que a situao se reverta, e ento considerar as reaes que

    podem vir dos concorrentes desse mercado budget.

    Aprender sobre os padres funcionais, operacionais e de desempenho da indstria em um

    mercado como a cidade de So Paulo ser, cada vez mais, uma questo de sobrevivncia,

    dependendo da competncia da empresa para se armar de ferramentas que forneam respostas

    adequadas para um ambiente de mudanas.

    REFERNCIAS

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    26 No sentido de que o pernoite no vendido hoje no pode ser estocado para ser vendido amanh. Uma

    discusso mais completa sobre essa questo pode ser encontrada em GUERRA, 2001.27 Conforme nomenclatura proposta pela Smith Travel Research, apud Chon e Sparrowe, 2000:120,propriedades com dirias publicadas entre o 70o. e 85o. percentil em seu mercado geogrfico.

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