Frente nacional de libertação da córsega

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1 Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Universidade Fernando Pessoa Frente Nacional de Libertação da Córsega Criminologia 3º Ano Docente: Prof. Fontão Pereira Discente: Liliana Fonseca, nº 26289

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Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Universidade Fernando Pessoa

Frente Nacional de Libertação da Córsega

Criminologia

3º Ano

Docente:

Prof. Fontão Pereira

Discente:

Liliana Fonseca, nº 26289

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Introdução

No âmbito da disciplina de Terrorismo, lecionada pelo Professor Fontão Pereira, foi

proposto aos alunos a elaboração de um trabalho escrito que incida sobre um grupo ou

atentado terrorista.

O terrorismo tem-se assumido como um fenómeno cada vez mais ameaçador e em

forte expansão por todo o mundo, conduzindo a uma crescente preocupação por parte

das autoridades, bem como da população. Todos os dias, os jornais e os diferentes

meios de comunicação são invadidos por notícias de atentados por toda a parte,

provocando milhares de vítimas inocentes e destruição de bens materiaias em grande

escala. Ao partilhar destas imagens o ser humano acaba por ter uma maior perceção de

um perigo iminente, que a qualquer momento pode ocorrer. Neste sentido, após uma

extensa pesquisa bibliográfica, considerei pertinente a realização de um trabalho sobre o

FNLC (Frente Nacional de Libertação da Córsega), sua história, seus elementos,

objetivos e atentados realizados com vista a alcançar a independência da Córsega.

Sendo que a Frente de Libertação Nacional da Córsega se traduz num movimento

político que defende a independência da Córsega da França. A FLNC é considerada

pelas autoridades um grupo terroista pela utilização de métodos violentos similares aos

da máfia italiana, como vinganças, sequestros, atentados. O fenómeno do terrorismo não

é recente, ele tem suas origens num passado longinquo, todavia atualmente o número

dos ataques terroristas aumentou, principalmente após o 11 de setembro, sem esquecer a

maior divulgação destes ataques através dos meios de comunicação, que lhes dão uma

maior projeção.

A escolha deste grupo terrorista recai sobre o facto deste grupo não ser muito

conhecido, bem como os seus atos terroristas, bem como pela ocultação da sua

identidade, pois são um grupo que atua sempre ocultado por um capuz. Neste sentido,

será ainda realizada uma análise crítica dos atos terroristas cometidos por este grupo e

das suas intenções e objetivos.

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FNLC

História

O crescimento do terrorismo acompanha o fenómeno de globalização e cada vez o

ser humano se sente mais ameaçado, por isso urge a necessidade de se criarem

estratégias eficazes que proporcionem uma maior segurança ao indivíduo. Tal como o

refere Luís Conceição (2008), o clima de insegurança crescente exige a introdução de

novas medidas de segurança, aproveitando, por exemplo, os sistemas de segurança que

várias empresas produzem na actualidade. Se no passado existia já esta preocupação

relativamente à segurança, a mesma passou para a construção de edifícios em geral, de

forma a proporcionar uma melhor e maior protecção. O terrorismo define-se assim

como uma ação violenta, que usa a força, pode ser de cariz político ou religioso,

provoca medo, ameaça e é imprevisível. Esta é uma ação organizada, planeada em

função de um determinado objectivo, método de combate ou projecção mediática

(Fontão, 2013). US Departement of State (1996) acrescenta ainda que o terrorismo pode

ser entendido como um ato de violência premeditado e politicamente motivado,

praticado contra civis não armados, por grupos subnacionais ou agentes clandestinos,

cujo objectivo é influenciar uma audiência.

A Córsega é uma ilha do Meditterrâneo, situada a 82 quilómetros a leste da Itália e a

200 quilómetros de Nice ou Toulon, na costa mediterrânea francesa (Hutter, L. M. Esta

ilha ocupa uma posição antagónica no espaço geográfico francês, pois não é uma

continuidade do território francês, encontrando-se relativamente próxima do país, sendo

esta localização e a luta pela sua dependência o motivo da exsitência do FNLC e seus

atentados (Jean-Louis Fabiani, 2003). O FNLC é um grupo terrorista criado no dia 5 de

maio de 1976 cujos elementos são naturais da Córsega. Em 5 de maio de 1976, a FLNC

anunciava sua criação, reivindicando a autoria de vinte e um atentados cometidos na

noite anterior. Contudo, o recurso a este modo de ação é anterior à sua criação, vísivel

através do que ocorreu em 1964, quando a Sociedade de Economia Mista pela

Valorização da Córsega se tornou símbolo da desapropriação fundiária e foi

transformada em alvo. Tal aconteceu, devido à venda de terras a recém-chegados para

mudar a escala da prática agrícola, o que vai conduzir ao descontentamento popular. Por

conseguinte, em 1968, os bens e as propriedades pertencentes aos repatriados de países

do Norte da África são atacados por bombas caseiras, sendo estas as origens dos ataques

do FNLC atualmente (Ceccaldi, F.-M. & Pesteil, F. A, 2006). Todos os grupos que

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sempre lutaram pelos interesses da Ilha da Córsega tinham um objetivo comum, a sua

independência e autonomia, por isso, são assínaláveis vários momentos ao longo da

história compreendida entre 1959 a 1973. Inicialmente, lutaram contram a supressão da

única ferrovia da ilha, depois lutaram contra a instalação de um centro de experiências

nucleares subterraneas nas imediaçãoes de Calvi, foram contra o restabelecimento de

repatriads franceses provenientes da Argélia, contra o tráfego de vinhos da Córsega em

detrimento da economia da região, defendendo assim, desde sempre, os interesses da

própria terra, reinvidicando um estatuto especial para a Ilha. Lutando sempre pela

autonomia administrativa, pela instalação de uma Universidade, pelo ensino obrigatório

da língua corsa, por mais empregos, pela substituição de funcinários franceses por

corsos e pelo reconhecimento dos movimentos nacionas do povo corso. O governo

francês nem sempre respondeu às reinvindicações e quando o fez, foi apenas em parte.

A França ainda chegou a admitir a possibilidade de conceder uma certa autonomia à

Córsega, mas o povo corso considerou os projetos para a ilha insuficientes. Pouco

tempo depois da sua formação, em meados de 1979, a imprensa divulgou informações

referentes a quinze atentados ocorridos em Paris e na Córsega, reivindicados pela Frente

Nacional da Libertação da Córsega, devido a um processo instaurado pela Corte de

Segurança em Paris, contra elementos da FNLC, sendo que um mês depois o Tribunal

de França condena a prisão 17 separatistas e um militande da Frente Nacional da

Libertação da Córsega (Hutter, L. M. A destruição do bem material é um dos modos de

expressão deste grupo, mas nem todos os elementos seguem esta via para exprimir seu

desacordo, alguns homens da FNLC também se exprimem sem violência (Ceccaldi, F.-

M. & Pesteil, F. A, 2006). Alguns corsos utilizam greves para chamar atenção, tal como

aconteceu, por exemplo, em 1980 quando foi decretada uma greve geral na ilha (Hutter,

L. M.. Do mesmo modo, um ato de destruição reivindicado pela FLNC conduz aos

locais apenas poucos homens: o comando (grupo restrito, que age em nome do coletivo

com a reputação de representar a FLNC) (Ceccaldi, F.-M. & Pesteil, F. A, 2006). A

Frente de Libertação da Córsega visa a independência da Córsega, atuando sobretudo na

ilha, atacando essencialmente edifícios símbolos de dominação e não pessoas, como por

exemplo, bancos, edifícios do governo, instalações militares e só em 2011 rerivindicou

ter cometido 38 ataques à bomba (Fontão, 2013). A necessidade de organizar os

homens, os meios e a luta é frequentemente apresentada como estando na origem da

FLNC (Ceccaldi, F.-M. & Pesteil, F. A, 2006).

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Atentados

Um atentado traduz-se num ato de violência que tem por objetivo causar destruição

em bens materiais ou mesmo atentar contra a vida humana, possuindo uma motivação

ideológica de carácter religioso, político ou até moral. O atentado é assim a forma de

expressão de um determinado grupo terrorista, que por meios violentos procurar

espelhar os seus ideias e lutar pelos seus objetivos, de forma a alcançar os seus

prossupostos. É neste sentido que o FNLC procura lutar pela independência da Ilha da

Córsega, através da destruição de edifícios, da ameaça, de explosões, tendo provocado a

morte a dezenas de vítimas inocentes. Até aos dias de hoje, este grupo não aceita

pertencer à França e, por isso, constituiu esta Frente de Libertação Nacional, com o

intuito de alcançar a sua autonomia e o reconhecimento do povo corso pela lura armada.

Após a sua formação a 5 de maio de 1976 Entre os seus atos violentos constam uma

explosão no aeroporto de Ajaccio, que vitimou uma pessoa e deixou oito feridas,

justamente depois da chegada do presidente Valéry Giscard d’Estaing, a 16 de abril de

1981; um «imposto revolucionário» aplicado pelo FNLC a 24 de dezembro de 1982; o

assassinato do secretário geral do departamento da “Haute-Corse” (Alta Córsega),

Pierre-Jean Massimi, a 13 de Setembro de 1983; a explosão de uma bomba na prefeitura

de Bordéus, sob o mandato de Alain Juppé, que também era primeiro-ministro francês,

que causou vários danos no prédio; o assassinato de Jean-Michel Rossi, fundador do

FLNC na Ilha Russa (Alta Corsica) em seguida de um acerto de contas (1). Mais

recentemente, um complexo turístico do litoral oeste de Córsega foi alvo de um novo

atentado com bombas de forte potência, mas que não deixou feridos, a 4 de março de

2006. O atentado aconteceu durante o dia, o que não é comum em ataques contra alvos

imobiliários ou turísticos da ilha e os três homens responsáveis pelo ataque estavam

armados e usavam capuzes. Os artefatos explosivos destruíram vários chalés não

ocupados e num dos muros do condomínio foi encontrada a seguinte mensagem: "A

razão é nossa força". Em janeiro de 2005, este grupo havia lançado um carro-bomba

contra uma das entradas do mesmo complexo turístico, mas o veículo não chegou a

explodir (2). Também sete supermercados corsos são bombardeados a 10 de Setembro

de 2012. A FLNC reivindica pouco depois destes atentados, justificando-os pelo direito

das lutas sociais e sindicais do povo corso face aos múltiplos intermediários do

colonialismo francês na Córsega; a explosão de vinte bombas que provocam a

destruição de residências secundárias nos quatro cantos da ilha a 7 de Setembro de

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2012. A FLCN (União dos combatentes) reivindica a onda de ataques alguns dias mais

tarde, justificando estes atentados pela sua vontade de lutar contra a especulação

imobiliária (1). Este grupo armado transforma aquela que é conhecida pela ilha da

beleza, na ilha rebelde da França, onde desde os anos 70 do século XX actua um

separatismo e um banditismo que opera na tentativa de conquistar a sua independência.

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Análise crítica

Um atentado terrorista é um ato de extrema violência, que põe em causa a violação

dos direitos humanos, da vida humana e da vida em sociedade. Estes atos conduzem o

ser humano a reflectir sobre o que move certos indivíduos a agir de forma tão violenta.

Existe assim dois lados diferentes perante esta situação, o atentado visto por quem o

comete e o atentado visto pela vítima. Apesar de não ser da forma mais correta, a

verdade é que a violência utilizada é vista como a única forma de alcáçar os objectivos

pretendidos, no caso do FNLC, a luta pela liberdade.

A motivação do terrorismo exercido pelo grupo da Frente de Libertação da Córsega,

abordado neste trabalho traduz-se em ideais nacionalistas, querendo eles a

independência e uma maior autonomia para a sua ilha, sendo estes ataques dirigidos

sobretudo a edifícios governamentais e não a pessoas. O que nos conduz a uma reflexão

e a questionar se este grupo é verdadeiramente um grupo de terrorismo? Ou um grupo

que luta pela liberdade do seu povo? Será que os cidadãos corsos não têm o direito de

lutar pela independência “germinando” o seu próprio País a sua própria Nação? Ou

então, existirá alguma outra solução mais pacífica, que conduza ao resultado desejado?

No que concerne aos direitos dos cidadãos, todos temos o direito e o dever de lutar

por aquilo que acreditamos e que achamos ser melhor para o nosso bem estar, ou até o

bem estar da nossa sociedade. Todavia, devemos fazê-lo com dignidade, pois a nossa

liberdade acaba quando começa a liberdade do próximo, ou seja, todos nós temos o

direito de lutar pelo bem do nosso povo, mas sempre tendo em vista a opinião dos

outros cidadãos e respeitando o seu espaço. Assim, como foi defendido formalmente na

Carta das Nações Unidas de 1945 não devemos esquecer a liberdade que cada povo, um

dado território ou grupo nacional tem, de determinar o seu próprio estatuto político e

decidir como serão governados, sem qualquer influência de um país estrangeiro. Sendo

que um povo engloba características comuns como a linguagem, a história, a cultura,

entre outros elementos, que a Córsega possui bem diferente da França e que deseja

preservar. Deste modo, os cidadãos corsos têm diversos motivos para desejar a

independência da França e lutar pela liberdade do seu povo e pelo direito à auto

determinação, contudo devem evitar a utilização de meios de extrema violência,

destruindo edifícios, causando o medo à população, aniquilando a ordem pública e

prejudicando vítimas inocentes. Todos aqueles que sentem o ímpeto de lutar, seja pela

liberdade do povo, seja pelos seus direitos, devem lutar de uma forma democrática,

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através da justiça, das leis, fazendo valer seus direitos, respeitando a liberdade que todos

possuímos, sem atentar contra a vida e bens de ninguém. Desta forma, e para que haja

uma diminuição destes atentados, são criadas estratégias de segurança e de prevenção,

por exemplo, o cuidado com a construção de edifícios governamentais, o cuidado com a

segurança nos aeroportos, o passar a revista a todos aqueles que viajem, bem como, a

cooperação internacional entre policias., que têm desempenhado um papel fulcral na

vigilância e defesa de todos os cidadãos.

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Conclusão

O fenómeno do terrorismo cada vez mais crescente e violento é uma constante na

sociedade actual e é a forma encontrada pelos grupos terroristas de alcançar a

concretização dos seus ideais.

Os ataques terroristas implicam o uso de violência, formalizada através de ataques a

edifícios, população ou instalações governativas, de forma a provocar o medo e a forçar

as entidades detentoras de poder a aceitar as reivindicações dos grupos armados

responsáveis pelos atentados. Contudo, estes ataques implicam inevitavelmente a

destruição de edifícios e a morte de vítimas inocentes, que não têm a oportunidade de se

defender. Sendo que o terrorismo não é visto da mesma forma por todos os cidadãos,

existindo aqueles que apoiam e dão seu contributo para a formalização dos ataques

terroristas, aqueles que se tornam cúmplices destes grupos armados e partilham

informação confidencial e aqueles que lutam determinantemente para a nossa segurança

e procuram reduzir ou até mesmo findar com estes grupos armados.

Contudo, existe ainda um longo caminho a percorrer, porque não é uma tarefa fácil

lutar contra indivíduos movidos pela sede de poder, por ideais religiosos ou políticos ou

até mesmo pelo sonho de liberdade do seu povo ou país. Pois, eles crêem que as suas

acções são corretas e justificáveis perante a injustiça que acreditam reger a sociedade

actual.

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Bibliografia

Ceccaldi, F.-M. & Pesteil, F., (2006). A constituição da Frente de Libertação

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Webgrafia

1- http://portaldejornalismo-rj.espm.br/?p=4595

2- http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u93226.shtml