Funcionalismo Estrutural e Teoria de Médio Alcance

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS TEORIA SOCIOLÓGICA Professora: Antônia L. Colbari Aluno: Roberto Izoton Comentários de Leitura dos Textos Referentes à Aula sobre O Funcionalismo Estrutural e a Teoria de Médio Alcance ALEXANDER, J. O Novo Movimento Teórico. Revista Brasileira de Ciências Sociais . A crítica ao funcionalismo no pós-guerra foi feita por duas perspectivas distintas e opostas, uma microteórica e uma macroteórica. Essas perspectivas unilaterais perderam força, e os sociólogos passara, a articular ação e estrutura. Alexander defende que desenvolvimento da teoria geral é importante também para uma ciência social mais empírica. A existência de um “resultado explicativo imediato” não é condição de cientificidade das ciências sociais. Isso

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Comentários de Leitura dos Textos Referentes à Aula sobre O Funcionalismo Estrutural e a Teoria de Médio Alcance da disciplina Teoria Sociológica - Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

CENTRO DE CINCIAS HUMANAS E NATURAIS

DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS SOCIAIS

TEORIA SOCIOLGICA

Professora: Antnia L. Colbari

Aluno: Roberto Izoton

Comentrios de Leitura dos Textos Referentes Aula sobre O Funcionalismo Estrutural e a Teoria de Mdio AlcanceALEXANDER, J. O Novo Movimento Terico. Revista Brasileira de Cincias Sociais. A crtica ao funcionalismo no ps-guerra foi feita por duas perspectivas distintas e opostas, uma microterica e uma macroterica. Essas perspectivas unilaterais perderam fora, e os socilogos passara, a articular ao e estrutura. Alexander defende que desenvolvimento da teoria geral importante tambm para uma cincia social mais emprica.

A existncia de um resultado explicativo imediato no condio de cientificidade das cincias sociais. Isso garante a validade da teoria geral na sociologia (ALEXANDER, 1987, p. 2). Normalmente, as cincias naturais prescindem de discusses subjetivas e supraempricas, porque seus praticantes frequentemente concordam sobre os princpios gerais que informam seu ofcio. De acordo com Thomas Kuhn, somente em perodos de revoluo cientfica esse acordo desfeito e aquelas discusses tm lugar nas cincias da natureza (o que chamado de crise de paradigma). As cincias sociais, por sua vez, tm como caracterstica o constante desacordo sobre seus fundamentos, da as discusses supraempricas serem constantes aqui (ALEXANDER, 1987, p. 3). Mesmo com todo o dissenso, possvel tanto produzir um conhecimento racional, quanto formular leis gerais de processos sociais, alm de realizar predies relativamente aceitveis nas cincias sociais (ALEXANDER, 1987, p. 3).

As cincias sociais possuem um carter valorativo. Nelas existe uma relao simbitica entre descrio e avaliao. a dupla hermenutica de Anthony Giddens, uma interpretao da realidade com o potencial de entrar na vida social e retornar, afetando por sua vez as definies do intrprete. Isso dificulta ainda mais a produo de consenso nas cincias sociais (ALEXANDER, 1987, p. 3). A diviso das cincias sociais em escolas decorre dessa falta de consenso terico e emprico. Por tudo isso, o discurso tem lugar nas cincias sociais, ao lado da explicao.

H nas cincias sociais uma sobredeterminao pela teoria e uma subdeterminao pelo fato. Como no se concluiu se as cincias sociais so compostas por definies, conceitos, modelos ou fatos, no h regras de correspondncia entre diferentes nveis de generalidade. Com isso, no h relao direta entre dados empricos e teoria geral (ALEXANDER, 1987, p. 4). possvel que ocorra tambm a sobredeterminao dos fatos empricos pela teoria. Um exemplo disso o livro A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, no qual Max Weber teria sobredeterminado seus dados empricos para corroborar sua correlao terica entre capitalistas e puritanos (ALEXANDER, 1987, p. 5). Como existe a subdeterminao emprica e a sobredeterminao terica dos dados, as concluses empricas das cincias sociais podem ser questionadas por consideraes supraempricas. Isso participar do discurso e no da explicao, o que no representa um abandono da verdade. A verdade no se limita ao critrio da validade emprica testvel e existem vrios critrios de verdade atingidos pelo discurso (ALEXANDER, 1987, p. 5).

Talcott Parsons, com sua sntese estrutural-funcionalista, buscou conciliar ao e estrutura, materialismo e idealismo. Mesmo assim, ele sofreu fortes resistncias dos ps-estruturalistas, que retomaram a disputa entra ao e estrutura depois da Segunda Guerra Mundial. Mesmo que as suas pesquisas tenham alcanado grande desenvolvimento no campo da empiria, as disputas entre os ps-funcionalistas continuavam a ser predominantemente tericas e generalizadas. A disputa de pressupostos sobre o carter racional ou irracional da ao social faz com que se constituam dois tipos ideais que tm marcado tradies tericas distintas, determinando argumentos discursivos de tipo mais polmico. As perspectivas racionalistas ou instrumentais consideram que os atores so movidos por foras fora deles, j as perspectivas no racionalistas sugerem que a ao motivada de dentro dos atores (ALEXANDER, 1987, p. 5). Alm da disputa sobre o carter da ao social, h divergncias quanto ordem da sociedade. Tambm de maneira tpico-ideal, essa divergncia divide os socilogos entre coletivistas e individualistas. Para os coletivistas, a ordem social externa aos indivduos e se introjeta neles. J para os individualistas, tanto as estruturas extra-individuais quanto os padres inteligveis da sociedade so resultado da negociao individual (ALEXANDER, 1987, p. 9). As teorias individualistas podem ser racionalistas ou antirracionalistas. O utilitarismo um exemplo de teoria individualista racionalista. O romantismo, por sua vez, um exemplo de teoria individualista antirracionalista, por trabalhar com o ator passional (ALEXANDER, 1987, p. 9).

Segundo Alexander, ao propalar que os indivduos no tm necessidade de outros ou da sociedade como um todo e ao desconsiderar que as estruturas sociais podem ser indispensveis liberdade, as teorias individualistas prestam um desservio prpria liberdade. O contrrio pode ocorrer com as perspectivas coletivistas, pois elas explicitam o controle social (ALEXANDER, 1987, p. 10). Tambm existem teorias coletivistas racionalistas e no racionalistas. As primeiras consideram que as instituies so externas e controlam os indivduos ao formular sanes negativas ou positivas que os atores escolhem ao calcular prazer e dor. Geralmente, essas perspectivas obnubilam os sujeitos. J as teorias coletivistas no racionalistas consideram os ideais e as emoes como motivadores da ao. Elas levam em conta a subjetividade dos atores, contanto que nela estejam internalizadas as estruturas extra-individuais. Um dos problemas dessas perspectivas que elas frequentemente subestimam a sempre presente tenso entre o indivduo socializado e o seu ambiente (ALEXANDER, 1987, p. 10). Os opositores de Parsons se dividiam entre tericos microssociolgicos como Homans, Blumer e os adeptos do interacionismo simblico, Garfinkel e os adeptos da etnometodologia e macrossociolgicos como Althusser e os marxistas estruturalistas. A partir dos anos 1970, esses autores se constituram no grupo dominante da sociologia, tanto que o marxismo se institucionalizou nos Estados Unidos. Nesse perodo, voltou-se a tentar conciliar a ao e a estrutura, tanto nas tradies mais micro, quanto nas tradies mais macro. Isso se deveu ao novo clima poltico nos Estados Unidos e na Europa, ocasionado pelo arrefecimento dos movimentos sociais radicais e pela consequente perda de legitimidade do marxismo ortodoxo. Na mesma poca, a sociologia europeia foi fortemente influenciada pela sociologia estadunidense (ALEXANDER, 1987, p. 13). A tentativa de revisionismo das tradies tericas, para a correo de suas inconsistncias, uma caracterstica do novo movimento terico na sociologia. por meio da aproximao entre ao e estrutura que ocorre o revisionismo nas perspectivas micro e macrossociolgicas (ALEXANDER, 1987, p. 13). A aproximao/choque entre culturalismo e estruturalismo nesse perodo revisionista fez com que se elevasse a influncia da antropologia nos estudos de historiadores e outros cientistas sociais nos Estados Unidos e na Europa. A crtica ao marxismo estruturalista surge do movimento ps-estruturalista francs, representado por Foucault, Bourdieu e Lyotard. Em linhas gerais, esse movimento atuou no sentido da reduo da influncia da direo marxista na teoria crtica. Habermas representante de um movimento anlogo que teve lugar na Alemanha (ALEXANDER, 1987, p. 16).

ALEXANDER, J. Las teoras sociolgicas desde la Segunda Guerra Mundial.Captulo 2 La Primera Sntesis de Parsons Em A Estrutura da Ao Social, Parsons defende que parte da crise contempornea responsvel pela ameaa ao individualismo e racionalidade no perodo entreguerras se deveu a desenvolvimentos intelectuais internos, principalmente da ideologia liberal. De acordo com ele, a autorregulao automtica das aes individuais propalada pelo liberalismo no ocorreu na realidade, o que faz com que essa teoria tenha que ser reformulada (ALEXANDER, 1992, p. 17).

Parsons prope o modelo do ato unidade, segundo o qual os atores possuem livre arbtrio e agncia, a que chama de esforo. Ao buscarem alcanar seus fins ou suas metas, os atores so limitados pelas situaes, que so realidades que em certo sentido esto fora do controle do ator. Os elementos da situao que se submetem ao esforo do ator so os meios da ao; os elementos cujas restries no so superveis so as condies da ao. O ato unidade tambm pressupe a existncia de normas, que so pautas que os atores interpretam e consideram ao agirem em busca de seus objetivos.

Com o modelo do ato unidade, Parsons tentou sintetizar as tradies idealistas coletivistas (que enfatizam as normas), as tradies idealistas individualistas (que destacam o esforo), as tradies materialistas coletivistas (que priorizam as condies) e as tradies materialistas individualistas (que focalizam os meios) das cincias sociais. O autor desvelou o que chamou de dilema utilitarista. Segundo ele, ao tratar do problema da ordem social, ou o utilitarismo mantm a subjetividade e a liberdade e continua individualista, ou opta por explicar a ordem de maneira mais positiva, ao eliminar a agncia e voltar a enfatizar os elementos inalterveis da interao humana, que so a herana (instintos biolgicos) e o meio ambiente (condies materiais). Essas condies so externas ao ator, que no as controla (ALEXANDER, 1992, p. 19). Segundo Parsons, as teorias do instinto estavam subjacentes ideologia darwinista social do capitalismo competitivo, responsvel pela crise que ocorreu entre final do sculo XIX e o incio do sculo XX, bem como ao fascismo, que buscou responder a essa crise. As teorias ambientais, por sua vez, estavam por trs do comunismo da Unio Sovitica. Essas so, para ele, as causas tericas das ameaas sofridas pelo individualismo e pela racionalidade no entreguerras (ALEXANDER, 1992, p. 20). Para resolver esse problema, seria necessrio restaurar o papel da agncia humana, a interpretao e as pautas morais, mas isso no significa um retorno ao individualismo tradicional da teoria liberal. O que Parsons prope uma aproximao entre a estrutura e a ao. Para tanto, seria necessrio considerar que os elementos morais e normativos formam sistemas que se sobrepem aos indivduos, mas que esses sistemas s se realizam mediante o esforo e a perseguio de fins individuais. Essa perspectiva, chamada de teoria voluntarista da ao, poderia ser encontrada principalmente nas obras de Weber e de Durkheim (ALEXANDER, 1992, p. 20). Alexander aponta trs grandes ambiguidades em A Estrutura da Ao Social. Primeiramente, Parsons afirma que adota uma abordagem multidimensional que combina o voluntarismo com a restrio, levando em conta tanto a racionalidade do indivduo quando a normatividade da sociedade, mas acaba privilegiando na sua anlise a restrio e a racionalidade, ao escrever que o elemento racional da ao deve ceder completamente ao elemento no-racional ou normativo. Em segundo lugar, o autor diferencia a ordem factual da ordem normativa, e diz que apenas esta ltima verdadeiramente coletiva. Isso se d porque, no nvel prossuposicional, ele confunde ordem no sentido de padro coletivo com ordem no sentido de consenso social enquanto oposto ao conflito social. Por fim, ele desvincula a ordem coletiva das estruturas materiais da sociedade e defende que estas ltimas que provocam o conflito social, por estarem associadas com a luta pela existncia e mesmo com o caos. Para Alexander, essa afirmao emprica carregada de ideologia est errada, pois a coero social sempre conseguiu produzir ordem e coeso (ALEXANDER, 1992, p. 21-22). Parsons adota uma abordagem macrossociolgica, pois estuda os sistemas em grande escala e no os atores. Alm disso, sua teoria parece contrria a uma anlise emprica dos indivduos, de acordo com Alexander (1992, p. 23).

Captulo 3 El estructural-funcionalismo Aps uma fase inicial mais abstrata, Parsons teve uma fase intermediria mais emprica, na qual, em uma srie de artigos, aplicou sua teoria crise social do entreguerras e luta ocidental contra o fascismo. Esses artigos desenvolveram um modelo da sociedade como um sistema funcional, e articularam conceitos, definies e proposies que esclareceram muito as implicaes do pensamento de Parsons para o mundo real e prtico. Aps essa fase, o autor voltou a desenvolver trabalhos mais abstratos (ALEXANDER, 1992, p. 25). Em sua fase intermediria, Parsons aplica a teoria do superego de Freud aos sujeitos sociais, visando remarcar sua perspectiva voluntarista. Para Freud, por meio da catexia, as crianas incorporam a personalidade de seus pais, o que d origem ao superego. A partir disso, Parsons prope que, desde a mais tenra idade, as crianas tambm internalizam as normas sociais, o que faz com que cada elemento da personalidade seja social. Desse modo, os objetos e as situaes sociais no nos so de todo externos e desconhecidos, pois introjetamos expectativas (normas) acerca do que implicam tais objetos ou situaes (ALEXANDER, 1992, p. 26).

Segundo Parsons, a internalizao ocorrida na infncia no cria apenas a personalidade, mas tambm a prpria sociedade. Com isso, a socializao est relacionada tanto com os valores culturais quanto com os objetos sociais. Segundo Parsons existem trs sistemas de ao tpico-idealmente distintos: 1) o sistema da personalidade, que engloba as necessidades orgnicas e emocionais dos atores, que constituem as suas identidades individuais; 2) o sistema social, que diz respeito interao cooperativa ou conflituosa entre as pessoas; e 3) o sistema cultural, que se refere aos amplos padres simblicos de sentido e valor. Ele ainda aponta que h uma precariedade na inter-relao entre indivduos socializados, sociedades psicologicamente afetadas e culturas socializadas (ALEXANDER, 1992, p. 27-28).

Segundo Parsons, o sistema social deve ser pensado como uma complicada srie de papis sociais e no em termos de estruturas materiais ou instituies. Estas ltimas s importam enquanto fornecem papis sociais. O autor define papis sociais como nichos sociais impessoais que consistem em obrigaes a realizar de maneira especfica e como um conjunto detalhado de obrigaes para a interao no mundo real (ALEXANDER, 1992, p. 28). O autor defende que deve haver uma correspondncia entre as personalidades dos atores e as exigncias e obrigaes impostas pelo papel que eles desempenham. Isso nem sempre acontece, o que produz tenses que todas as sociedades procuram resolver (ALEXANDER, 1992, p. 28-29).

A sociedade oferece a um ator, durante seu processo de socializao, sequncias de papis que o conduzem a seu derradeiro papel social. Esses papis so atribudos inicialmente pelas famlias, depois pela escola, pelos grupos de amigos, pelo governo etc. Para serem internalizados, esses papis devem ser ordenados em uma sequncia e cuidadosamente coordenados, o que difcil, pois eles normalmente so vrios e simultneos. Alm disso, essa sequncia de papis devem atender s necessidades psicossexuais da personalidade dos indivduos, bem como devem ser ancorados cultura comum, o que tambm no fcil, porque um indivduo desempenha papis em uma ampla gama de instituies separadas econmica, poltica e geograficamente (ALEXANDER, 1992, p. 29-30). Parsons propunha como modelo uma sociedade que funciona perfeita e harmonicamente, um motor sem atrito. Esse modelo deveria ser comparado com a sociedade real, para estudarmos as resistncias e as eventuais rupturas causadas pelo atrito no mundo real (ALEXANDER, 1992, p. 31).

A perfeita interao entre duas pessoas (dade) ocorre quando as expectativas de ambos os atores se complementam na interao. A institucionalizao perfeita, por sua vez, quando as exigncias do sistema social acerca dos papis se complementam com os ideais culturais e quando ambos, ao mesmo tempo, satisfazem as necessidades da personalidade. O conflito surge quando no h harmonia perfeita entre os diversos nveis de sociedade (ALEXANDER, 1992, p. 31). Parsons leva em conta a contingncia da interao, provocada pelo livre arbtrio dos atores e pela temporalidade da prpria interao. Todas as interaes se baseiam em sanes e recompensas, que tem como objetivo acomodar as outras pessoas s necessidades dos atores ou dos grupos. Se existe uma institucionalizao perfeita, uma complementariedade fundamental de expectativas e recursos, estas sanes e recompensas mtuas permitem a manuteno do equilbrio frente contingncia. Quando isso no ocorre, as sanes e recompensas produzem conflitos, por reforarem a conduta anti-institucional (ALEXANDER, 1992, p. 32).

De acordo com Parsons, o desvio ocorre quando a interao insatisfatria para as duas partes envolvidas na interao. A insatisfao das expectativas da interao provoca uma reao interna, no nvel da personalidade, que o abandono do papel, e uma reao externa, no nvel do sistema social, que a disfuno produzida pelo no desempenho daquele papel na sociedade.MERTON, R. Sobre as teorias sociais de mdio alcance. In: _____. Sociologia: Teoria e Estrutura Para Merton, as teorias sociolgicas de mdio alcance auxiliam a pesquisa emprica por se encontrarem entre as teorias gerais de sistemas sociais, que esto distantes da realidade diretamente observvel, e as minuciosas [e] ordenadas descries de pormenores que e no esto de modo algum generalizados. As abstraes das teorias de mdio alcance podem ser testadas empiricamente por estarem bastante prximas dos dados observados (MERTON, 1970, p. 51). Alm da possibilidade de validao emprica, as teorias de mdio alcance so compatveis com vrios dos chamados sistemas sociolgicos, mesmo divergentes, como o marxismo, o funcionalismo ou a teoria da ao de Parsons (MERTON, 1970, p. 55). Outra caracterstica das teorias de mdio alcance a superao do conflito entre o geral e o particular porque, mesmo envolvendo pesquisa emprica, sua lgica se desenvolve totalmente em termos dos elementos da estrutura social, mais do que em termos de proporcionar descries histricas concretas de sistemas sociais particulares (MERTON, 1970, p. 56). Para Merton, a sociologia ainda no estaria preparada para o desenvolvimento de grandes teorias que abarcassem tudo. Os grandes sistemas sociolgicos s existiriam porque foram desenvolvidos em um contexto no qual os principais filsofos tinham como praxe construir grandes sistemas filosficos de carter holista. Por isso, surgiram de incio as vrias escolas da sociologia, cada uma com seu sistema total. Por isso tambm, que a especializao da sociologia mais anloga especializao da filosofia do que a das outras cincias.

Os socilogos que pretendem desenvolver os grandes sistemas totais se baseiam numa representao equivocada das cincias naturais. Primeiramente eles imaginam que os grandes sistemas das cincias naturais se desenvolveram antes do acmulo de observaes empricas, o que no era mais verdade na poca em que Merton estava escrevendo. Em segundo lugar, aqueles socilogos entendem que, por ser contempornea da fsica, a sociologia tem o mesmo nvel de maturidade que ela. Porm, o progresso alcanado pela fsica e por outras cincias naturais superior ao da sociologia devido ao fato de que aquelas concentram uma maior quantidade de trabalho colaborativo acumulado ao longo do tempo. Por fim, os socilogos representam as cincias naturais como possuidoras de um sistema completo de teoria, o que negado pelos fsicos, por exemplo (MERTON, 1970, p. 60). A tentativa de estabelecimento dos grandes sistemas tericos da sociologia tambm se deve s crescentes demandas feitas pelos mais diversos seguimentos sociais para que essa cincia resolva todos os problemas sociais existentes. Assim, nem os socilogos nem a sociedade percebe que, assim como a medicina e as outras cincias, a sociologia est em constante desenvolvimento e que no existe qualquer dispositivo providencial capaz de adequ-la, a qualquer momento, soluo da extensa srie de problemas que a humanidade enfrenta (MERTON, 1970, p. 61). Para Merton, a sociologia s progredir se se dedicar ao desenvolvimento de teorias de mdio alcance que sejam, ao mesmo tempo, teorias especiais aplicveis a objetos conceituais limitados, como teorias do desvio do comportamento ou dos grupos de referncia. Mesmo assim, a teoria sociolgica deve envolver um esquema conceitual progressivamente mais geral, adequado a consolidar grupos de teorias especiais (MERTON, 1970, p. 63). As vrias teorias especiais de mdio alcance podem vir a constituir esquemas grandes e eficazes de sociologia, o que no ocorrer se cada socilogo formular sua teoria geral (MERTON, 1970, p. 63). Segundo Merton, o que se poderia chamar de teoria sociolgica (no singular) , na verdade, um conjunto de orientaes gerais para conseguir dados, segundo tipos de variveis que as teorias devem, de qualquer maneira levar em conta, mais do que exposies claramente formuladas e verificveis de relaes entre variveis especficas (MERTON, 1970, p. 64). Divergncias a respeito de qual papel deve ser desempenhado esto subjacentes opo de desenvolver teorias gerais ou teorias de mdio alcance. Os socilogos ligados a uma ou outra dessas perspectivas fecham-se em torno delas e s buscam conhecer os trabalhos da tradio rival para critic-la. Alm da disputa enunciada acima, um dos motivos de tal seleo de trabalhos a impossibilidade de acompanhar toda a produo sociolgica, devido ao grande volume de publicaes.

A polarizao se acirra porque o contexto social em que se travam as batalhas entre socilogos propicia a luta pelo status, devido igualdade dos nveis dos concorrentes e publicidade dos debates, o que faz com que a contenda seja retrica e no intelectual. Alm disso, aqueles que optam por uma terceira posio no so respeitados pelos seus pares (MERTON, 1970, p. 66-67). Porm, as polmicas podem ser benficas por possibilitarem a diversificao do trabalho sociolgico, quando este se concentra em torno de linhas de investigao, perspectivas tericas e/ou procedimentos metodolgicos determinados. interessante que Merton aponta O Suicdio, de Durkheim, como uma obra desenvolvida a partir da teoria de mdio alcance. Desse modo, outros autores do matiz Durkheimeniano tambm teriam adotado tal perspectiva.

A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, de Weber, tambm seria, para Merton, um importante exemplo de teorizao de mdio alcance, porque trata-se de um problema rigorosamente delimitado problema que por causalidade foi exemplificado numa poca histrica particular, com implicaes em outras sociedades e outros tempos; utiliza uma teoria limitada acerca das conexes entre engajamento religioso e conduta econmica; e contribuiu para uma teoria um pouco mais geral sobre os modos de interdependncia entre instituies sociais (MERTON, 1970, p. 74). Segundo Merton, ao contrrio do que dizem seus opositores, as teorias de mdio alcance so compatveis com investigaes macrossociolgicas que consideram a estrutura social. Alm disso, o autor afirma que tais teorias produzem generalizaes, apesar de no derivarem de um sistema nico e total de teoria. Por fim, ele nega que as teorias de mdio alcance sejam responsveis pela diviso da sociologia, pois elas consolidam, e no fragmentam, os achados empricos (MERTON, 1970, p. 75-76).

Merton diferencia teoria conjunto de suposies logicamente inter-relacionadas, do qual derivam hipteses empiricamente testveis de generalizao emprica proposio isolada resumindo uniformidade de relaes observveis entre duas ou mais variveis. Para ele, os socilogos marxistas que o acusam de se limitar a fazer generalizaes empricas que fazem isso, ao no desenvolverem teorias intermedirias especiais sua orientao terica geral (MERTON, 1970, p. 77). Por carecer de frmulas, que so expresses simblicas altamente abreviadas de relaes entre variveis sociolgicas, a sociologia possui interpretaes majoritariamente discursivas (MERTON, 1970, p. 80)

Me acordo com Merton, o socilogo deve ter como objetivo apresentar lucidamente os temas de proposies logicamente interligadas e empiricamente confirmadas, a respeito da estrutura social e suas mudanas, do comportamento humano dentro dessa estrutura, e das consequncias desse comportamento, sendo auxiliado nisso pelos paradigmas tericos da sociologia (MERTON, 1970, p. 81).

Merton defende a reprodutividade dos conceitos e dos processos dos socilogos, bem como a verificabilidade dos resultados de suas intuies.

Referncias Bibliogrficas

ALEXANDER, Jeffrey. O Novo Movimento Terico. Revista Brasileira de Cincias Sociais, vol. 4, n 2, 1987. p. 6-28.

______. Las teoras sociolgicas desde la Segunda Guerra Mundial. Barcelona: Gedisa, 1992.MERTON, Robert K. Sobre as teorias sociais de mdio alcance. In: _____. Sociologia: Teoria e Estrutura. So Paulo: Editora Mestre Jou, 1970. Como o PDF disponibilizado no site da revista no apresenta numerao de pgina, consideraremos a primeira pgina do arquivo como 1, e assim sucessivamente.

Todas as citaes foram traduzidas por mim a partir edio espanhola do livro.