Fundinho Cultural - 23º edição

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Nesta edição: Nesta edição: Nesta edição: Nesta edição: Nesta edição: Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega L L L ourdinha Barbosa . T ourdinha Barbosa . T ourdinha Barbosa . T ourdinha Barbosa . T ourdinha Barbosa . T eresinka P eresinka P eresinka P eresinka P eresinka P ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento Mariú Cerchi . Isabela Lima . Elenice J. da Silva Mariú Cerchi . Isabela Lima . Elenice J. da Silva Mariú Cerchi . Isabela Lima . Elenice J. da Silva Mariú Cerchi . Isabela Lima . Elenice J. da Silva Mariú Cerchi . Isabela Lima . Elenice J. da Silva Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha L L L uciano Belo P uciano Belo P uciano Belo P uciano Belo P uciano Belo P ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P ereira ereira ereira ereira ereira Antônio P Antônio P Antônio P Antônio P Antônio P ereira . Ivone V ereira . Ivone V ereira . Ivone V ereira . Ivone V ereira . Ivone V ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal Germano Mendes de P Germano Mendes de P Germano Mendes de P Germano Mendes de P Germano Mendes de P aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H . P . P . P . P . P aul aul aul aul aul "Eu aprendi que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular!" William Shakespeare 23 23 Um Jornal do bairro Fundinho . Uberlândia . MG . Brasil Um Jornal do bairro Fundinho . Uberlândia . MG . Brasil “Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio.” Kahlil Gibran "Eu aprendi que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular!" William Shakespeare Foto: Isabela Lima Olivaldo Gomes . Aricy Curvello Olivaldo Gomes . Aricy Curvello Olivaldo Gomes . Aricy Curvello Olivaldo Gomes . Aricy Curvello Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega . Antônio Cesar Ortega . Antônio Cesar Ortega . Antônio Cesar Ortega . Antônio Cesar Ortega L L L ourdinha Barbosa ourdinha Barbosa ourdinha Barbosa ourdinha Barbosa ourdinha Barbosa . . . . . T T T eresinka P eresinka P eresinka P eresinka P eresinka P ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento ereira . Evandro Nascimento Mariú Cerchi . Mariú Cerchi . Mariú Cerchi . Mariú Cerchi . Mariú Cerchi . Isabela Lima . Elenice J. da Silva Isabela Lima . Elenice J. da Silva Isabela Lima . Elenice J. da Silva Isabela Lima . Elenice J. da Silva Isabela Lima . Elenice J. da Silva Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha Ida Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha L L L uciano Belo P uciano Belo P uciano Belo P uciano Belo P uciano Belo P ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto ereira . Eduardo Humbertto Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Neuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P ereira ereira ereira ereira ereira Antônio P Antônio P Antônio P Antônio P Antônio P ereira . Ivone V ereira . Ivone V ereira . Ivone V ereira . Ivone V ereira . Ivone V ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal ebber . Magda Marçal Germano Mendes de P Germano Mendes de P Germano Mendes de P Germano Mendes de P Germano Mendes de P aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro aula . Marina Cavalcanti Monteiro Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H Marília Cunha . Jorge H . P . P . P . P . P aul aul aul aul aul Nesta edição: Nesta edição: Nesta edição: Nesta edição: Nesta edição:

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Fundinho Cultural 23º edição.

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Page 1: Fundinho Cultural - 23º edição

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Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega

Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega

Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar Ortega

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Olivaldo Gomes . Aricy Curvello . Antônio Cesar OrtegaLLLLLourdinha Barbosa . Tourdinha Barbosa . Tourdinha Barbosa . Tourdinha Barbosa . Tourdinha Barbosa . Teresinka Peresinka Peresinka Peresinka Peresinka Pereira . Evandro Nascimento

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Mariú Cerchi . Isabela Lima . Elenice J. da SilvaIda Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha

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Terezinha Maria Moreira . José Carlos da Silva

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Neuza Gonçalves Travaglia . Riza LahiNeuza Gonçalves Travaglia . Riza LahiNeuza Gonçalves Travaglia . Riza LahiNeuza Gonçalves Travaglia . Riza LahiNeuza Gonçalves Travaglia . Riza Lahi

Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio P Alcides Buss . Oscar Virgílio Pereiraereiraereiraereiraereira

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"Eu aprendi que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular!" William Shakespeare

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“Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo nosso vazio.”Kahlil Gibran

"Eu aprendi que são os pequenos acontecimentos diários que tornam a vida espetacular!" William Shakespeare

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Isabela Lima . Elenice J. da Silva Isabela Lima . Elenice J. da Silva Isabela Lima . Elenice J. da Silva Isabela Lima . Elenice J. da SilvaIda Nogueira Rocha e Silva . Mônica Cunha

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Page 2: Fundinho Cultural - 23º edição

PerfilViagem pelo otimismo e alegria, o recado de Ida Nogueira Rocha e Silva

A tela na parede do hall, no apartamento repleto de

lembranças, revela uma presença muito especial na vida da

senhora Ida Nogueira Rocha e Silva. Na tela, a suave expressãoda face jovem de uma linda mulher, Ida Isabelle Felicie Vrèbos.

É o retrato da avó, belga, de quem a nossa entrevistada

herdou o nome. Ternas recordações decoram o ambiente comalgumas obras de arte e souvenirs de muitas partes do mundo

por onde andou o casal Ida e Luiz Antônio. Araguarina de

nascimento, uberlandense de coração, dona Ida relata fatosdasua história, da história do Fundinho e de Uberlândia, com o otimismo de

quem sempre viveu a vida com alegria. Uma mulher moderna que dirige seu

carro pelas ruas da cidade e viaja sempre pelo mundo e pela vida, comotimismo e com alegria.

Conte-nos um pouco da história desua famíliaIda: -Meu pai, Achileu Nogueira, minhamãe, Carmen. Meu avô, Olavo de As-sumpção, que era paulista e fez medi-cina na Europa. Minha avó era belga emeu avô a conheceu lá, por ser o paide Ida, professor na Escola de Medici-na de Louvain, cidade universitária emBruxelas, onde Olavo de Assumpçãoestudou. Eu me chamo Ida em home-nagem a ela. Minha mãe nasceu lá esó veio para o Brasil aos 7 anos. Nóséramos 5 irmãos, meu irmão mais ve-lho, Cid Nogueira, que faleceu no anopassado, era médico do Congresso emBrasília. Foi o primeiro médico a operaro coração de um paciente no Brasil, emSão Paulo, junto com a sua equipeamericana. Isto consta na Literatura deCardiologia Médica. Sou a segunda dacasa. Depois veio Eny, viúva de RenotFerreira, que hoje reside em Goiânia.Lya estudou arquitetura até o quartoano, no Rio de Janeiro, quando se ca-sou. Seu marido foi desembargador emBrasília, Mauro Renan Bittencourt. Ocaçula, Achileu Nogueira Filho, que teveeste nome em homenagem ao pai,mora em São Paulo. Nasci em Aragua-ri, uma cidade que eu adoro. Tive umainfância muito feliz lá. Meus pais erammuito cuidadosos conosco, nos vigia-vam o modo de falar e confiavam sem-pre em qualquer circunstância.

E o seu olhar para a vida?Ida: -Tenho muito bom humor e vejo avida com otimismo Acho que a pessoatem que ter alegria de viver, respeitocom o próximo e também deletar (comose diz na linguagem do computador)as coisas que não nos foram agradá-veis. Sempre tenho boas lembrançase uma condição de não ficar repisandoo que me foi desagradável na vida.

Uberlândia, os filhos queridosIda: -Vim para Uberlândia quando mecasei, no fim de novembro de 1953, nósviajamos e só vim para cá em janeirode 1954. Mais que tudo, Uberlândia éterra dos meus três filhos, Gustavo,oftalmologista, Carmen Lídia, arquite-ta e Isabella que é jornalista e fez Di-reito no Largo São Francisco. Uberlân-dia é uma cidade onde sempre vivi muitofeliz. Tive muita felicidade no casamen-to e sou muito integrada à sociedadelocal, com excelentes amizades.

Uberlândia é uma beleza de cidade,sou apaixonada por Uberlândia.Quando se tirou os trilhos da Mogianado centro Uberlândia se expandiu.

O amor de sua vidaIda: -Sou viúva, meu marido se cha-mava Luiz Antônio da Rocha e Silva. Eleera engenheiro civil como o pai, o pro-fessor, Dr. Luiz da Rocha e Silva, cario-ca que veio para cá e foi prefeito deUberlândia em 1947. Ele fez e calculoumuitas construções importantes. O pri-meiro edifício de apartamentos deUberlândia foi planejado e construídoem parte para o senhor Luiz Finotti,que o vendeu. Fez a sede da Compa-nhia Telefônica. Teve convites para irpara fora daqui, mas permaneceu emUberlândia. Minha sogra, Lydia de Re-zende Costa Rocha e Silva foi a primei-ra universitária de Uberlândia, fez Far-mácia em Ribeirão Preto. Era filha dosenhor Antônio de Rezende Costa,Tonico Rezende.

O Fundinho na década de cinquentajá era um bom lugar. Sempre admi-rei aquele traçado antigo, as calça-das estreitas e as ruas também. Cres-ceu dentro de mim um amor muitogrande por toda a cidade. Acreditoque Uberlândia, dentro de sua gran-diosidade, tem pouca memória regis-trada. Na década de cinquenta foi degrande importância o Colégio NossaSenhora com seu internato,o Liceu deUberlândia e o Colégio Estadual deUberlândia que o senhor Tonico Re-zende ajudou a construir.

Fale-nos da casa da Quinze de No-vembro, onde residiu?Ida: - A casa em estilo mexicano rústi-co, da Rua Quinze de Novembro esqui-na com Silva Jardim, onde hoje se situa o Edifício Rochae Silva, foi feita pelo irmão de minha sogra.No imenso jardim da casa havia uma linda fonte comestátua, coqueirinhos sagus e a figueira brava que exa-lavam um perfume característico. A casa foi originalmen-te feita em parte, com materiais vindos de fora deUberlândia e até do exterior, que aqui não se encon-travam para comprar. Esta casa foi posteriormente, nafase em que lá morávamos, retratada pelo artista IdoFinotti a pedido do meu marido.

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Qual o seu hobby?O meu hobby é a leitura, principalmente no que se refere à arte. Gosto muito dearte, cinema, teatro, pintura e escultura. Me formei na primeira turma da Facul-dade de Artes de Uberlândia. Tenho aqui em casa uma coleção de obras devários artistas brasileiros e do exterior, particularmente, do pintor uberlandenseIdo Finotti, que eu sugeri numa crônica publicada em jornal, dar seu nome a umagaleria de arte local, e o prefeito Virgílio Galassi cumprimentou-me pela lembran-ça oportuna.

Telas de Ido Finotti

Algumas reflexões de dona IdaIda: - Eu acho a amizade uma coisamaravilhosa, sendo cultivada, ela nãoacaba. A pessoa precisa ter um poucode lhaneza para tratar os amigos e nãotrair nenhum, aceitando-lhes os defei-tos.O casamento tem que ter alegria, temque ter doação de um pro outro e acondescendência aos defeitos quetoda pessoa tem.Acho que nós, o povo brasileiro, fala-mos errado. O português é uma línguamaravilhosa que teve influência de ou-tras línguas e agora a arrasadora in-fluência do inglês, mas aguardemos, tal-vez seja para nosso intercâmbio como mundo.Eu acho que escrever é tentar semprecontinuar a viver.Gosto muito de ler e um livro marcantepara mim é “Casa grande & senzala”de Gilberto Freire. Ele nos fala dasetnias que nos influenciaram, dos po-vos europeus, dos índios, donos daterra e dos negros escravos, que nosajudaram a ser mais românticos e en-riqueceram nossa música. Há outrosescritores brasileiros e estrangeirosque nos informam e nos mostram de-talhes de histórias de nossa história etambém retratam o Brasil como um paísespecial. Livros educam sempre!

Um grande vulto uberlandenseAntônio de Rezende Costa Filho porintermédio de um amigo belga deTonico Rezende, foi para a Inglaterraainda pré adolescente e lá estudoueconomia, só voltando depois da Pri-meira Guerra Mundial, de 1914.

Lições de um tempo

Mônica Cunha

Três riscos na rua.Feitos com pedra mesmo.Uma bola velha e uma criançada empol-gada para brincar ali mesmo no meio darua.Um corre-corre e uma gritaria saudávelentre dois times que arremessavam rumoao adversário. Em quem a bola tocasseera menos um do outro lado da linha. Eradivertido e atraía os vizinhos para aque-le jogo que tinha o nome de carimbada.A disputa era acirrada, cheia de energiae de vez em quando surgia uma briga,mas em violência.Volto no tempo e sinto saudade de casasem grade, sem muro alto, sem cercaelétrica.Como cresci no Fundinho me acostumeia ir e voltar da escola, prestando aten-ção nas casas e suas janelas e portasabertas para quem quisesse entrar. Atéarriscava um olhar mais curioso e esti-cado lá para dentro na busca de detalhesdaquele lar. Não havia maldade, não erabisbilhotagem. Era só para saber se alitambém era tão bom quanto a minhacasa.E nesse passeio dava para ver a cor dosofá, uma cristaleira encostada na pare-de com a melhor louça à espera de ummomento especial, e dependendo via-seaté uma pontinha do quintal. Como osportões eram baixinhos era possível ad-mirar jardins com rosas, alpendres comvasos de samambaia que despencavamaos montes, criando um ambiente gosto-so com as cadeiras de fios de plásticoque eram moda na época.Seguir a pé para o colégio significava qua-se uma independência total. Reconhecero caminho e por ele descobrir novos ami-gos. Por ele voltar, e à noite reencontrara turma para sentar na calçada e con-versar. Contar, ouvir, rir e programar opróximo dia, ou melhor, a semana.Havia tempo. Havia disponibilidade e von-tade de estar com o outro. E nesse jeitode viver a gente conhecia pais, avós, tios,primos e quem mais viesse. Experimen-tava os sabores do lanche, do almoço da-queles que moravam pertinho da gente.Convivia e cultivava afeto, praticava osentimento fraterno. Nas ruas do Fundi-nho foi isso e muito mais que aprendi.

Um sentimento de gratidão, de emoção.A andança foi intensa. Foi uma experi-ência única.A cada passo, a cada quilômetro con-quistado imagens de vida, de fé, de de-terminação, de simplicidade.Vi muita gente. Conversei com alguns.Imaginei tantas histórias. Houve bonda-de. Houve mãos estendidas para um café,um biscoito, para água, para um banhopara os pés, um prato de sopa. Uma fra-se de apoio. Uma brincadeira para es-pantar o cansaço da madrugada.A cada passo uma vontade maior, o so-nho mais perto. Mas o corpo gritou dedor. Há limites. E é preciso respeitá-los.Agradeço, reconheço o esforço, o em-penho. Agradeço sempre. Aprendi mui-to em mais de 12 horas de estrada, maisde 60 km percorridos.

Romaria

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2323Detalhe da PraçaCel. Carneiro e fotopanorâmica deUberlândia-2012Fotos: Isabela Lima

[email protected]

“Os artigos assinados são de inteira respon-

sabilidade de seus autores e não refletem a

opinião do jornal”

Editorial

FUNDINHOCULTURAL

Ano IX – nº 23AGOSTO 2012Editor: Hélvio Lima

Assessoria:Adélia LimaIsabela LimaLourdinha BarbosaEvandro Afonsodo NascimentoDiagramação:Niron FernandesImpressão:Gráfica Scanner-3212-4342Fotos internas: Acervos particularesIsabela Lima e Jorge H. PaulTiragem: 5.000 exemplaresEnd. para correspondência: Rua FelisbertoCarrejo, 204 – Fundinho – Fone: (34) 3234-1369 – Cep. 38400-204 – Cx postal: 1005Uberlândia-MG

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Em outubro o VIII Festival de Cordas Nathan Schwartzman, grandes momentos musicais! Prestigie!3

Criadores geniais, renomadosartistas, ultrapassam a casa dossessenta, cada vez mais férteis.Caetano, Chico, Roberto, Erasmo,Bibi, Fernanda...Exemplos de criatividade, força,talento e emoção!Em todas as edições do FundinhoCultural o espaço aberto a todasas idades, maior idades, melhoridades, idades de bem viver.Aos amigos colaboradores, leitorese patrocinadores que enriquecemesta publicação, de todas asidades. aquele abraço!

Hélvio Lima - Editor

Page 3: Fundinho Cultural - 23º edição

Opinião

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O QUE ESTÁACONTECENDO

COM O ENSINO?

Há pouco mais de vinte anos, quan-do ministrava aulas nas Licenciaturasna UFU, observava que, a cada ano,os alunos que chegavam às salas deaula estavam menos preparados queos que acabavam de sair. Cometiamerros imperdoáveis de concordância, deortografia, de gramática e, o que é pior,de raciocínio mesmo! Nas avaliaçõesque fazíamos, além das respostas la-cônicas do tipo, não, sim, às vezes,quando recebiam as notas, os alunosvinham até o professor discordandodas mesmas argumentando que aquestão estava respondida adequada-mente. Mas não era só nas Licencia-turas que isso acontecia. Estudos fei-tos por pesquisadores comprovavamque essa carência acontecia em outrasáreas do conhecimento, tais como: nasexatas, nas biomédicas, no direito, nainformática.

Era preciso, então, descobrir os cul-pados por esse baixo desempenho dosalunos. As primeiras acusações recaí-ram sobre o ensino fundamental. Dizi-am: se o ensino fundamental não ofe-rece os alicerces básicos da língua fa-lada e escrita, o pensamento lógico dacriança fica com lacunas, cujos desdo-bramentos desembocariam no ensinomédio e superior. A conclusão parecialógica: se o aluno não detém os conhe-cimentos básicos da escrita e da fala,é claro que carregarão tais deficiênci-as daí para frente!Mas, se o ensinofundamental for verdadeiramente oculpado o que dizer das instituições deensino superior que atuam na forma-ção dos professores do ensino funda-mental e do médio? Bola de neve, nãoé?

Ninguém ignora os descalabros mos-trados nas avaliações feitas pelo ENEMconhecidas como: “As Pérolas doEnem”. O tema é complexo, mas, comoeducadora, vejo uma exagerada com-placência da escola para com o aluno:não poder reprovar, por exemplo, épassar a mão demais na cabeça do alu-no. Nenhum de nós morreu por repe-tirmos o ano escolar, ou ficar de se-gunda época. As avaliações com a mar-cação de “x” concorrem também paraisso. O cuidado que os cursinhos temem resumir livros (chatérimos de ler-

no linguajar dos jovens), suprime, nomeu modo de ver, o esforço do alunoem aprofundar o pensamento do es-critor além de “jogar fora” partes im-portantes dos livros; quase uma muti-lação. O que se percebe hoje é quealém do terror das físicas, matemáti-cas e químicas, o bicho de sete cabe-ças passou a ser a prova de redação.Redigir um texto com clareza, discerni-mento, criatividade é quase um parto!É demais para a organização cognitivado aluno a construção do pensar,questionar, refletir. Os chavões paraajudar na memorização, e o corre-cor-re em busca do vestibular (como seapenas isso bastasse e compensasseo esforço),tornam-se um desrespeitopara com o desenvolvimento do pen-samento lógico do aluno. O que nãoentendo, é a multiplicação de escolaspor esse Brasil afora. Lembro-me, quehá pouco tempo, para o MEC reconhe-cer um curso, era um Deus nos acuda!Hoje, até Faculdades de Medicina fun-cionam sem que haja um hospital paraa prática dos alunos. Então, onde en-contrar os culpados?

Como educadora, o que me preocu-pa, de fato, é que (salvo excelentesescolas que se destacam com honro-sas exceções), os alunos se profissio-nalizam pensando que detém o conhe-cimento: aprenderam mal e pouco e selançam no mercado de trabalho segu-ros de terem atingido o topo do saber:pobres de nossos netos e bisnetos queestarão nas mãos desses profissionaispreparados inescrupulosa e irrespon-savelmente.

Mariù Cerchi Borges - Educadora

Curiosidades do Fundinho Mangas amadurecem em pleno agosto nos quintais do Fundinho

Três dias de encontroreencontro...risos música prosaversojogando conversa fora...Cheiro de café degustadoem baixo de uma parreirano fundo do quintalda Oficina CulturalArte, Arteira de Brincar, jogar

Poesi

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com as históriasde vidas, vividas, partilhadassussurradas no pé da orelhado amigo de agoraou de outroraacontecimentos acontecidosno encontro de encantamentosonde o seu olhar melhora o meu...

Elenice J. da Silva

Encontro ReflexãoFotos: Isabela Lima

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Ressurreições- José Carlos da Silva(romance)Editora ComposerSagarana- João Guimarães Rosa (contos ecrônicas)Editora Nova FronteiraPoesia reunida- Martha Medeiros (poesia)Editora L&PM PocketO Filho Eterno- Cristovão Tezza (romance)Editora RecordO Coração Amarelo-Pablo Neruda (poesia)Editora L&PM Pocket

Lourdinha Barbosa

Maricotinha ao vivo (DVD) MariaBethânia-Biscoito FinoSemelhanças Daniela Alvis (CD)Estúdio SonoraVIVO (CD) Paulinho Pedra AzulEldorado Distribuidora MPB Especial 1973 (DVD) Elis ReginaPrograma Ensaio gravado na TV Cultura.dose dupla (CD+DVD) Maria RitaWarner Music Brasil Ltda

Discos

Livros

Fundinho Culturalrecomenda

... e o picolezeiro vendepicolés para a meninadada escola.

LugarA imagem estilizada da Santa na Praça daEscola Municipal Bom Jesus, é o limite en-tre o bairro Fundinho com o bairroTabajaras.

Estudo

Noções sobre a Física QuânticaEste ano completam-se trinta anos da

comprovação experimental de um dos prin-cípios básicos da física ou mecânica quân-tica. Em 1982 o físico francês Alain Aspecte colaboradores mostraram que uma per-turbação num sistema quântico é percebi-da em todos os pontos do sistema. A ex-periência foi muito sofisticada e complexa,mas o resultado é facilmente entendível.Eles fizeram com que um átomo emitissedois fótons (partículas de luz) em sentidosopostos e, em seguida, mudaram uma pro-priedade de um deles. Assombrosamente,tal como previa a mecânica quântica, a in-formação foi transmitida ao outro fóton ins-tantaneamente, embora eles estivessemdistantes um do outro.

Fantástico, não? Pois é, foi a possibili-dade da existência de fantasmas desse tipoque tirou o sono de Albert Einstein por maisde duas décadas, até sua morte. O físicogenial, que explicou o efeito fotoelétrico eformulou as teorias da relatividade espe-cial e geral, foi o crítico mais feroz da me-cânica quântica, que surgiu quando ele erao grande guru da física mundial, na déca-da de 20. Até sua morte em 1955, Einsteinfez tudo para derrubar a nova teoria. Emvão, seus argumentos foram sempre ele-gantemente rebatidos pelo seu amigo Ni-els Bohr, outro físico genial do século pas-sado, um dos pais da física quântica, infe-lizmente um tanto ignorado pelos meios decomunicação. O debate Einstein-Bohr cons-titui um dos mais fascinantes que a histó-ria das ciências já registrou.

Niels Bohr faleceu em 1962 e não podesentir a felicidade de ver confirmadas asprevisões da teoria quântica, que nasceudevido à incapacidade de a física clássicaexplicar muitos fenômenos do microcos-mo já observados experimentalmente.Assim, ele e outros físicos tiveram a ousa-dia de propor uma nova teoria que se apli-casse ao mundo infinitamente pequeno deátomos, moléculas e partículas subatômi-cas. Nesta dimensão a física clássica nãose aplica, pois não há continuidade damatéria. Por exemplo, o átomo de hidro-gênio, o mais simples, com um próton eum elétron, é um enorme vazio. Caso onúcleo do hidrogênio, constituído pelo pró-ton, fosse aumentado até o tamanho deuma bola de tênis, o elétron estaria a umadistância de 200 metros. Assim, o micro-cosmo pode ser considerado como umaréplica do macrocosmo, onde as estrelasestão mergulhadas no vazio do universo.

No microcosmo tampouco há certeza dalocalização das partículas elementares, aprópria luz enviada para localizá-las alteraseu movimento, trabalha-se, então, comprobabilidades e não com certezas. Alémdisso, micropartículas exibem comporta-mento corpuscular ou ondulatório, um ououtro vai depender de como se organize oexperimento para detectá-la, ou seja, arealidade não goza de existência própria eestá intrinsecamente ligada às nossas per-cepções dela. Mais ainda, a energia envol-vida nos processos elementares não varia

continuamente, senão discretamente, empacotes de quantum (energia da radiaçãoeletromagnética, que é diretamente pro-porcional à frequência dessa radiação).Assim, ao absorver ou emitir energia dedeterminada frequência, a energia da mi-cropartícula aumenta ou diminui em núme-ros inteiros de quantum, mas nunca fraci-onários. Por isso que se diz que essa ener-gia é quantificada.

Entretanto, a mecânica quântica vaimuito mais além dos exemplos acima cita-dos. Em realidade, sua teoria não permite,nem pretende, fornecer uma imagem dosfenômenos tal como faz a física clássica. Etudo isso deixava Einstein desesperado, elegostava de trabalhar com certezas, com a“realidade objetiva” independente do ob-servador e não com suposições ou “fan-tasmas” que atuavam à distância.

Por outro lado, por seu caráter holísti-co, a física quântica desde o início desper-tou a atenção de adeptos de religiões ori-entais como o budismo, hinduísmo e taoís-mo, e reciprocamente, alguns físicos qu-ânticos como Schrödinger traçaram umparalelismo entre mecânica quântica e aunidade harmônica da natureza contida nomisticismo oriental. Essa identificação con-tinua, hoje em dia muitos místicos se inte-ressam por mecânica quântica e, recipro-camente, muitos cientistas professam reli-giões orientais. Surgiu até um conceito do“homem quântico”.

Apesar do aparente surrealismo (NielsBohr falava que quem não se assombravacom a física quântica é porque não a haviaentendido), ela se tornou o pilar da físicamoderna e de grande parte do desenvol-vimento tecnológico das últimas décadas.Há dez anos as inovações tecnológicasbaseadas na mecânica quântica já eramresponsáveis por aproximadamente 30%do PIB americano e esta participação temaumentado nos últimos anos. Atualmente,a indústria de ponta das mais diferentesáreas aplica cada vez mais conhecimentosadvindos da teoria quântica. E as pesqui-sas e avanços continuam incessantemen-te, já se trabalha intensamente no projetode um computador quântico, muito maispotente que os atuais que utilizam o siste-ma binário.

Numa entrevista para a BBC de Londres,o famoso físico Paul Davis perguntou a AlainAspect o que teria dito Einstein sobre oresultado de seu experimento. Aspect res-pondeu que não poderia responder àquelapergunta e, polidamente, acrescentou:“certamente ele teria algo muito interes-sante para dizer”. Recentemente, outroexperimento conseguiu transmitir a infor-mação de um fóton para outro situado a600 metros de distância. Pela teoria quân-tica esta distância não tem limite. Em tem-po, trata-se de transmissão de informação,não de transporte de matéria!

Evandro Afonso do NascimentoProfessor titular aposentado e voluntário -

Instituto de Química - UFU; [email protected]

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EntrevistandoAricy Curvello

ENTREVISTA Nº 422 publicada em 4 deAgosto de 2012, no portalde Selmo Vas-concellos, com fotos, 5 poemas e uma bi-obibliografia.Trata-se do maior site de entrevistas emportuguês da Internet,incluindo membrosda Academia Brasileira de Letras e váriosescritores do 1º time nacional..

SELMO VASCONCELLOS – Quais as suasoutras atividades, além de escrever ?ARICY CURVELLO – Ler, ler, ler, ler… eprestar serviços como consultor na áreade contratos.

SELMO VASCONCELLOS – Como surgiuseu interesse literário ?ARICY CURVELLO - Desde que me enten-do por gente. estive envolvido.Meus pais sempre foram bons leitores,como também minha avó materna, Nicoli-na Ottoni. Aos dez anos escrevi uma lon-ga aventura de crianças…

SELMO VASCONCELLOS – Quantos e quaisos seus livros publicados ?ARICY CURVELLO – Constam da biografiaque lhe remeti, Selmo, a qual foi muitobem composta por uma amiga, professo-ra de literatura brasileira e excelente emcompor biobibliografias.

SELMO VASCONCELLOS – Qual (is) o(s)impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s)capaz(es) de produzir poesia ?ARICY CURVELLO – Os impactos podemapenas estimular, provocar, despertaralgo. A elaboração de poemas não é fácil,não é gratuita, e exige bastante concen-tração e trabalho. Justamente por ser umtrabalho a partir da linguagem, e de umalinguagem especial.

SELMO VASCONCELLOS – Quais os escri-tores que você admira ?ARICY CURVELLO – Carlos Drummond deAndrade, Manuel Bandeira, JoãoCabral de Mello Neto, em poesia. Na fic-ção, Guimarães Rosa e Clarice Lispector.Quanto a autores estrangeiros, a lista fi-caria por demais grande.

SELMO VASCONCELLOS – Qual mensagemde incentivo você daria para os novos po-etas ?ARICY CURVELLO – Ler muito, ler sem-pre, estudar todas as disciplinas que di-zem respeito à linguagem, inclusive Filo-sofia da Linguagem. E como a poesia podeabarcar tudo o que diz respeito ao ser hu-mano e à natureza em geral, nunca se sabeo bastante. “Só sei que pouco sei” deveriaser um lema para os poetas, novos ou não,loucos ou não, humildes ou não, conscien-tes ou não. A mensagem que gostaria detransmitir é esta: só serão originais seestudarem; não copiem outros poetas; nãoimitem; não plagiem, pois isso está viran-do uma praga na poesia brasileira.

Entrevista incluída no site

www.selmovasconcellos,com.br - Selmo

Vasconcellos é poeta, entrevistador e

jornalista. Carioca, vive há mais de 20

anos no Estado de Rondônia.

Poeta

dest

aque

Alice Spindola (GO), Aricy Curvello (ES), Diego Mendes (PI) e João Carlos Taveira (DF)

Acampando com Aricy CurvelloDiego Mendes Sousa

(34) 3212-8800 / (34) 9993-5261

Rua Prata, 99 - 38400-622Bairro Aparecida - Uberlândia/MG

Aricy Curvello prepara, há muito tempo,um acampamento divino para abrigar asua boa poesia. Poeta da Geração 70 doséculo XX, ao lado de Alcides Buss,Astrid Cabral, Dora Ferreira da Silva,Ruy Espinheira Filho e outros, AricyCurvello apresenta o seu discurso vivo:

Viver o instante é tudo o que possoViver o instante é tudo o que passa

Aricy Curvello trabalha a Língua, emseus perfeitos meandros:

sem receio, quando te entregares,quando te fundires, sem medo,ao obsclaro e ao mênstruo da linguagem,

mesmo se te houveres perdido,porque terás de criar livremente a tua língua,

haverás de criar livremente o teu espírito.

As tonalidades de sua poesia mínima sãobelas, soantes e leves:

canção de uma só palavrapássaro de uma só asa

cidades de uma só casa

uma só mãobatendo palmas

A significação dos nomes aparece napoesia de Aricy Curvello em plenaintuição bravia:

eis, mais que os nomes do nada,menos que os nomes de tudo.só alguns píncaros,pouco demais no mundo.eis, dificuldade, a louca recusade compreender que é breve a eternidade.

eis, linguagem que vivemos,( a linguagem que nos vive)o ser, a casa,o lugar-pátria:eis todo o teu universo,dicionários& enciclopédiascomo alicerces.

Aricy Curvello é um intelectual, Poeta demuitas leituras e colecionador de livrosraros. Atualmente, a Biblioteca Nacionalde Brasília, que foi dirigida pelo compe-tente Antonio Miranda, abriga uma salacom o seu nome, uma distinção honrosa,por seu relevante trabalho de revitaliza-ção da memória nacional, do qual soutestemunha ocular.

Vozes somentede minha mente.

a contraparte insanabalança a parte sã.

vozes dementesde minha mente:

parte louca de mim,a mais interessante sim.

[Diego Mendes Sousa é considerado amaior promessa da poesia no Piauí.Sobrinho do grande poeta FerreiraGullar, vive em Parnaíba, cidade litorâ-nea, antiga capital de seu Estado. Jápublicou vários livros de poemas.]

Selmo Vasconcelos

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UFU reconhece seus pesquisadores Antonio César Ortega

Um prêmio Nobel, um literato da en-vergadura de Saramago, ainda quesubtraiamos o afeto natural pelo avô,reconhecia a sapiência em um analfa-beto. Nesse momento me perguntei:O que espera a academia e a socieda-de ao reconhecer o mérito do trabalhode sábios cientistas, muito mais do queletrados?

Lembrei-me de um convite que re-cebi, certa vez, para participar de umareunião na casa do Dr. Kerr, em apoioa um candidato à Câmara Federal. Ali,em situação de igualdade, todos osconvidados puderam emitir suas opini-ões, sugestões, apresentar divergên-cias e concordâncias. As intervençõesdo nosso cientista eram sempre, nosentido de que, se eleito, o candidatoapoiado deveria manter seu firme pro-pósito de construção de um país maisjusto e democrático. As sugestões iamdesde a defesa de uma postura ética,combativa e democrática, até ações deatendimento das necessidades imedi-atas das populações mais pobres. Des-sa maneira, o professor Kerr professa-va alguns dos objetivos que nortearama vida de Saramago: a luta pela liber-dade, democracia e as grandes causasda sociedade.

Dos premiados, portanto, devemosesperar que sejam sábios! Que pro-duzam seus papers acadêmicos comgrande impacto no meio científico, mastambém fora dele. Fazendo isso, es-ses pesquisadores não estarão fazen-do ciência como um fim em si mesmo. Aescolha da melhor pesquisa, do pes-quisador do ano, sempre pode sermotivo de debate. Não obstante, ain-da que os critérios utilizados sejam ospragmáticos sistemas criados para ava-liar o impacto de um artigo científico emfunção das citações que dele são fei-tas por outros cientistas, nossa expec-tativa é de que o labor de nossos pes-quisadores se convertam em meiospara a construção de uma sociedademelhor. Sejamos sábios, portanto, paragerar conhecimento, mas que não fi-quemos fechados em nossas “torres demarfim”, isolados da sociedade. Felizescolha a do patrono desse “PremioPesquisador”!

Naquela noite, entretanto, ademaisde reconhecer o trabalho de nossospesquisadores, também reconhecemoso trabalho de mestres e doutores for-mados pela UFU. Afinal, essa é umainstituição de ensino superior, e essaatividade complementa a tríade indis-sociável: ensino-pesquisa-extensão.

Ao pensar sobre o que falaria emnome do Conpep, me veio a mente tam-bém a economista Joan Robinson, quefaleceu em 1983 e dedicou a vida aensinar economia em Cambridge. Anosatrás encontrei em uma feira de livrosuma coletânea de artigos de Joan Ro-binson. Dentre eles havia um intitula-do: “O ensino da economia”. Nele, aprofessora, já veterana, se questiona-va sobre o que ensinamos e quais as

consequências do que ensinamos paraa vida dos alunos e de seus países,particularmente, dos alunos de paísesem desenvolvimento que se dirigiam aCambridge para estudar.

Para ela existiam dois tipos de alu-nos: aqueles cujo único interesse resi-dia em superar os exames e os outros.Dentre os que queriam somente supe-rar os exames, os mais inteligentesdescobriam rapidamente que “o truqueconsiste em dizer o que deles se espe-ra, e não se perguntar o que significao que estão dizendo (porque tal coisaresulta desconcertante e arriscada epode lhe fazer perder pontos).” Inte-ressante observar, diz a Mestra, queestes geralmente “se convertem emseu devido tempo em examinadores(professores) e, então, já perderamqualquer dúvida que pudessem ter tidoalgum dia. Chegam a crer, inclusive,que a educação realmente é isso. Eassim, se vai perpetuando o sistema.”Questiona a Professora: “Mas o queocorre com os poucos (os outros) queadotam uma atitude séria, aqueles querealmente desejam aprender? O quefazemos por eles?” “Com frequência,dizia ela, o estudante sério se dedicaà economia impulsionado por sentimen-tos humanitários...”, visa “aumentar obem estar humano”.

Assim, a despeito do peso que poderepresentar o prestigio dos professo-res e dos livros, o estudante conscien-te não deve reprimir os seus impulsosgenerosos iniciais, seus sonhos, poissenão ira “sair como entrou”. Eu diria,pior, pois terá perdido seus sonhos!

Ao olhar para os alunos, naquelanoite homenageados, como professor,acreditava que estivéssemos reconhe-cendo aqueles que cultivaram seussonhos e construíram conhecimentospara torná-los realidade, ou seja, maisdo que alunos que passaram nos exa-mes!

Esperamos ter reconhecido alunose professores pesquisadores que re-almente desejam aprender algo paraelevar o bem estar humano como so-nharam Joan Robinson e Saramago,como segue sonhando Dr Kerr e todosnós que produzimos uma ciência sen-sível à constituição de uma sociedademais justa!

Antônio César

Ortega,

professor do

Departamento

de Economia da

Universidade

Federal de

Uberlândia-MG.

Ilustre morador

do bairro

Fundinho

Na noite de 28 de junho de 2012,o Conselho de Pesquisa e Pós-gradu-ação (Conpep) da Universidade Fede-ral de Uberlândia esteve reunido parauma seção solene. Na ocasião a Co-munidade Universitária, por meio da-quele Conselho, reconheceu o méritode professores pesquisadores, de alu-nos de pós-graduação e graduaçãopremiando-os pelos trabalhos realiza-dos no último ano.

Em 2011 a UFU, por proposição doConpep, inaugurou a salutar prática dereconhecer os resultados de pesqui-sas de seus alunos e professores, eque se destacaram no último ano. Nes-se ano, o Conpep continuou inovandoe, como homenagem ao nosso pesqui-sador maior, decidiu denominar aque-la honraria como Prêmio de PesquisaProfessor Warwick Estevam Kerr.

O professor Kerr é, sem dúvida, opesquisador da UFU mais renomadonacional e internacionalmente. Paraaqueles que não conhecem sua carrei-ra de sucesso, basta dizer que o pro-fessor Kerr além de ser membro daAcademia de Ciências do Brasil, desde1990 tornou-se o primeiro brasileiro apertencer à Academia de Ciências dosEstados Unidos. Assim, em 2012 foramconferidos prêmios aos pesquisadoresde três grandes áreas da Universida-de: a) Ciências Agrárias, Ciências Bio-lógicas e Ciências da Saúde; b) Ciênci-as Exatas e da Terra e Engenharias; ec) Ciências Humanas, Ciências SociaisAplicadas, Linguística, Letras e Artes.

Quando decidimos reconhecer o tra-balho científico realizado por nossospesquisadores vários foram os objeti-vos que o Conpep pretendeu alcançar.O mais imediato era criar um incentivopara a produção de trabalhos de qua-lidade e promover o reconhecimentodesse esforço que permite elevar onome de nossa Instituição.

Entretanto, para além desse incen-tivo óbvio, até porque estamos falan-do de produção de ciência, os prêmiosconferidos naquela noite representa-vam muito mais que isso.

No dia anterior ao evento recebi umtelefonema da Secretária Geral da UFU.Ela transmitia-me o convite do Presi-dente do Conpep, o Magnífico ReitorProf. Dr. Alfredo Júlio de FernandesNeto, para que, em nome daquele Con-selho, eu fizesse a saudação aos ho-menageados da noite seguinte. Acei-tei honrado, desliguei o telefone e,imediatamente, além da figura do Pro-fessor Kerr, outras duas vieram-me amente: a do escritor e premio Nobelde Literatura, o português José Sara-mago; e a da professora de economiada Universidade Cambridge na Ingla-terra, a Dra. Joan Robinson.

Lembrei-me das palavras de Sara-mago ao receber seu prêmio em 1998.Ele iniciou seu discurso dizendo que ohomem mais sábio que conheceu emsua vida foi seu avô materno. Era umanalfabeto, fez questão de registrar.

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Entrevista

Um nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo PereiraUm nome inscrito na história da medicina veterinária: Dr. Luciano Belo Pereira

Uma pessoa de extraordinária lucidez e talento, o médico veterinário Luciano Belo Pereira, aos 96anos, é testemunha de uma longa jornada de realizações em prol de nobres ideais. Morador dobairro Fundinho, há mais de 30 anos, contempla do alto de seu apartamento, no décimo sextoandar, o horizonte sem relevos da paisagem que se descortina ao seu olhar. Uberlândia é acidade que ele adotou há 50 anos. Um médico veterinário e pesquisador, que tem o seu nomeinscrito na história da medicina veterinária, em sua luta para sanar as zoonoses dos rebanhos.Um colecionador de selos e moedas, um escritor digitando memórias para o seu próximo livro. Umser humano da mais alta qualidade, que dignifica o bairro Fundinho com a sua presença.

“Uberlândia é uma cidade privilegiada!”

No Brasil, eu via os prejuízos que meupai sofria em consequência disso. Eu es-tava sempre maquinando, preocupadocom isto. Em decorrência de minha car-reira profissional fui ao Rio de Janeiro, fa-zer uma especialização, sobre as zoono-ses dos grandes animais. Tive a oportu-nidade de conseguir uma bolsa de estu-dos no Centro Panamericano de FebreAftosa, uma instituição internacional quejá estudava a febre aftosa no Brasil. Nes-ta especialização estudei o reconheci-mento dos vírus da aftosa, que são três:O, A e C .”

Um holandês descobriu como cultivaro vírus da aftosa“

“- Em 1950, 1952, já era preocupaçãodo governo, fazer uma vacina contra afebre aftosa. Em 1948, um holandês, es-tudando a febre aftosa, conseguiu fazera primeira vacina para esta zoonose nomundo. Ele conseguiu uma técnica decomo cultivar os vírus em laboratório.

Este holandês passou a tirar o epité-lio da língua dos bovinos que eram abati-dos para o consumo. Ele descobriu a pól-vora. O mundo inteiro mandou gente paralá, aprender com ele, como fazer, inclusi-ve os americanos. O Brasil, enviou tam-bém um colega nosso, meu conhecido,Amleto Morci, que trabalhava em Vargi-nha quando eu trabalhava em Itajubá. Elefoi para a Holanda e aprendeu, mas quan-do voltou, o seu chefe do Instituto de Bi-ologia do Rio de Janeiro, de ciúme, nãoforneceu a ele o material necessário paraproduzir a vacina. Eu,nesta época, por cir-cunstância, fui a chefia do Ministério deAgricultura de Minas Gerais. Quando elefoi lá visitar o seu pai em Belo Horizonte,mandei chamá-lo. Perguntei-lhe porquenão fazia a vacina se foi lá na Holandaaprender a técnica? Ele respondeu que

“O Fundinho é a capital histórica de Uberlândia. O Fundinhoera o fundinho, agora deixou de ser fundinho e virou cidade.Eu acho este nome Fundinho, excelente, genial. Na realida-de isto aqui era a beira do rio Uberabinha. Era o fundo da

não lhe deram o material. Interroguei-lhe,o que faltava em nosso laboratório paraproduzir a vacina? Deu uma olhada, fezum relatório do que precisava e entregoua mim. Disse que tinha uma máquina pe-sada que custava 20.000 cruzeiros. Con-videi-o a vir trabalhar comigo para pro-duzir a vacina. Iríamos comprar a máqui-na. Só tinha um representante de umafirma americana, única fábrica que dis-ponibilizava esta máquina, supercentrífu-ga com 36.00 rpm. Precisávamos desteequipamento para separar os diversostipos de vírus.

Conseguimos fazer a primeira vacina

“-O Amleto pediu transferência, man-daram-no embora para Belo Horizonte.Eu, tinha feito, sem saber porque, um es-tudo sobre o vírus. Ele foi aprender noexterior, como fazer a vacina e como pro-piciar o meio para cultivar o vírus no labo-ratório. Eu, sempre pensava em uma va-cina, pois conhecia os prejuízos que a af-tosa causava ao meu pai, fazendeiro.Com a vinda do Amleto surgia uma opor-tunidade de trabalho, resposta para oque ele tinha ido aprender na Europa. Nóséramos escravos do relógio. Quando vocêcoloca uma cultura durante 18 horas temque colher. Estávamos pesquisando comofazer uma vacina para aftosa no Brasil.Trabalhávamos até 3 horas da madruga-da. Íamos para casa, dormíamos poucashoras e voltávamos à pesquisa. Traba-lhamos por certo período, até que conse-guimos fazer a vacina. Quando tivemosum lote de vacina testado, com 95 porcento de efetividade, já era um alto índi-ce para quem nunca havia produzido umavacina. Um alto poder de imunidade, va-cinar 500 animais, e adoecer 25 ou 30.Ao criarmos este lote de 5.000 doses devacina conclui, estávamos fazendo algu-

ma coisa de utilidade. Colocamos este pri-meiro lote à disposição da diretoria do Ins-tituto de Biologia Animal, do Ministério daAgricultura, para eles testarem a vacinana hora que quisessem, dentro do Brasil.Do Rio mandaram um telegrama proibin-do a fabricação e que destruíssemos avacina produzida. Proibiram que nós con-tinuássemos a fazer a vacina e queimás-semos a vacina já fabricada. Levei umtapa dobrado porque eu era o chefe darepartição. Fiquei desorientado. Tínhamosa vacina pronta e éramos proibidos decontinuar a sua fabricação. Disse ao meuamigo Amleto: -Isto não vai ficar assim!Você vai comigo aonde eu for? Ele disse:Se for para fazer a vacina eu vou. Pediuma reunião com a Itambé, cooperativacentral dos produtores rurais de Belo Ho-rizonte. Poderíamos repassar a tecnolo-gia de vacinas da aftosa, desde que elesfizessem o laboratório. Responderam quenão tinham condição de fazer.

Recebi três rapazes de Araçatuba, per-guntando se nós estaríamos em condi-ções de ir para sua cidade, fabricar a va-cina da aftosa. Aceitamos a proposta.Não conseguiram levantar os recursospara fazer o laboratório.

Em Uberlândia realizamos nosso mai-or sonho: um laboratório para fabricara vacina contra a aftosa

Ao chegar em Uberlândia, hospedei-meno hotel do Hugueney, depois moreinuma casa ali na Praça Rui Barbosa.Uberlândia tinha cerca de 80.000 habi-tantes. Da estação ferroviária para cimasó haviam duas casas.

“-Vicente Salles Guimarães, esposo deIsolina Guimarães, sabia das pesquisascom a vacina e começou a levar este as-sunto ao conhecimento dos donos daPaviterrana: Genésio de Melo Pereira, Or-venor Fernandes, Helvécio Alves Carnei-ro e Edésio Alves Carneiro; e ao presi-dente da cooperativa dos produtores desuínos de Uberlândia e região, Sr. YedoFiúza. O Vicente sugeriu a eles a constru-ção de um laboratório de produção da

vacina contra a aftosa e a peste suína,em Uberlândia. O Genésio e o Orvenor nosconvidaram a vir a Uberlândia. Viemos,participamos de uma reunião para rece-ber o ministro. Nesta reunião foi dada apalavra ao Vicente: -Estou sabendo queem Belo Horizonte, no ministério da agri-cultura, tem um laboratório fazendo va-cinas de febre aftosa, e que estes doisveterinários que estão desenvolvendoeste trabalho foram proibidos de fazer avacina. Eles estão aqui nesta reunião e osenhor poderia dar a eles a palavra? OOrvenor que já sabia deste assunto per-guntou quem seriam os dois veterinári-os? O Vicente narrou o episódio que oministro pacientemente escutou. Nos le-vantamos e o Amleto discorreu sobre ahistória da vacina na Holanda. Quandodemos o assunto por encerrado o Orve-nor interviu dizendo ao ministro: -Senhorministro. O ministério da agricultura temdois veterinários capazes de fazer umavacina para febre aftosa. A maior desgra-ça que tem neste país é a febre aftosa, osenhor sabe disso, tanto quanto nós. Enão faz porque não tem dinheiro parafazer um laboratório para eles fabricarema vacina? O ministério tem a tecnologiadesenvolvida por estes dois veterinários,mas não tem o dinheiro para fazer o la-boratório? Eu vou te dizer o seguinte: -nós temos em Uberlândia, um grupo decapitalistas, que tem dinheiro para fazero laboratório, mas não temos a tecnolo-gia nem os técnicos. O senhor disponibili-za os dois técnicos para ensinar a tecno-logia em Uberlândia e nós construimos olaboratório. O ministro disse que não po-dia responder porque não era dono dogoverno. Tinha que obedecer à legisla-ção e ouvir os departamentos dessa área.Não podia chegar aqui e autorizar a fa-zer isso. Levou a proposta e disse que iaanalisá-la. Enfiaram o projeto na gavetae o ministro nunca mais deu notícia.

Os empresários de Uberlândia nos con-vidaram para vir trabalhar aqui. Nós vie-mos, depois de positivado um primeiroteste de garantia da vacina, propostopelo Genésio e pelo Orvenor. Construidono Bairro Jaraguá, confrontando com o

córrego do Óleo e com o rio Uberabinhafoi edificado o laboratório que teve o nomeVallée. Henri Vallée foi o cientista fran-cês que descobriu o micróbio que fazia afebre aftosa. Então viemos para Uberân-dia, eu e o Amleto, em 1962. Pedi demis-são do meu cargo de chefia em Belo Hori-zonte, mudei do serviço de defesa sani-tária animal para o serviço de caça e pes-ca. O Amleto saiu do serviço de defesasanitária animal para o serviço de inspe-ção de produtos de origem animal. Nóstivemos que mudar de serviço. Amletoconseguiu através do novo serviço serlocalizado em Uberlândia. Eu conseguiatravés do meu novo serviço vir para oserviço de psicultura que tinha aqui. Vie-mos transferidos para Uberlândia e con-seguimos depois autorização para dar as-sistência ao laboratório Vallée para ensi-nar a tecnologia. O Orvenor Fernandesera o presidente do Vallé, mas ele era opresidente da parte econômica e finan-ceira. Sanados os problemas de embala-gem e assepcia, começaram as vendas.E as filiais de revenda se espalharam porvárias capitais brasileiras. Em 1966 oamigo Amleto foi embora de volta parasua cidade e eu fiquei mais 1 ano, depoisdisso, meus irmãos me convidaram e eufui para Capinópolis para fundarmos umaassociação de plantio de milho e soja parasemente. Desenvolvi com eles este pro-jeto durante alguns anos.

cidade.Todo povoado nasceu na beira do rio, porque preci-sava da água do rio, do córrego. Os primórdios das coloniza-ções iam para a beira dos rios. Quase todas as cidades sãocortados por rios.”

Uma coisa que eu sempre observeiem Uberlândia é que a elite aqui émuito fechada, mas toda vida admi-rei o povo da cidade, que briga na po-lítica, mas acabou a política cada umvai para sua casa, não agride o ad-versário. O prefeito conta com o povoe encontra resposta. Sempre foi as-sim. Uberlândia é uma cidade privi-legiada. Nós precisamos fazer, o povoUberlandense ajuda. Quando o MECveio criar a universidade, viu quepoucas universidades do Brasil ti-nham um patrimônio igual ao encon-trado aqui, resultado das doações dasociedade Uberlandense.

DEPOIMENTO

“Eu não fico dois minutos parado!”

“-Nasci em Palmira, hoje Santos Du-mont. Tive 9 irmãos. Fiz o curso primárioem Barbacena e formei-me no curso demedicina veterinária em Belo Horizonte em1938.

Casei-me em Itajubá, no sul de Minas,em 1942, com Maria Matos Pereira. Osmeus filhos: José Abílio, Lucimar, LucianoAlberto, Luis Eduardo, Elizabete e Stella.

Em 1940 já estava trabalhando em Fru-tal, como funcionário do Ministério. Fuidurante 6 anos chefe do Serviço de Defe-sa Sanitária Animal do Ministério da Agri-cultura do Estado de Minas Gerais. Exer-cia diversas atividades ali, inclusive aque-las de produção de soros e vacinas con-tra a raiva, tétano, peste suína, vacinaspara as aves... Eram as principais ativi-dades do laboratório, fora o serviço deassistência às zoonoses dos grandesanimais: suínos, ovinos, caprinos, equi-nos e bovinos.”

“A aftosa, a minha grandepreocupação”

“-A minha grande preocupação desdea década de quarenta era a febre aftosa,o maior problema, principalmente nos ani-mais bovinos, no mundo. O prejuízo cau-sado pela febre aftosa era tão grande,tão tremendo, que na Inglaterra, porexemplo, lá pelos anos de 1890 e 1900,quando surgia um foco de febre aftosa,que esparramava pelo país e por todo omundo, eles bloqueavam a infecção, fe-chavam a fazenda e nem o proprietáriosaia de lá. Colocavam soldados de 50 em50 metros, e matavam todos os bichos,até passarinhos, para não carregar o mi-cróbio da doença.