Furtos no Varejo
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DEZEMBRO 2006 SUPERMERCADO MODERNO 61http://www.sm.com.br
POR FERNANDO SALLES
les são ousados. Sabem queo varejo investe cada vez
mais no sentido de reduzir furtos,mas insistem em tentar levar mer-cadorias da área de vendas. E o pioré que muitas vezes obtêm suces-so. “Agarrar” esses furtantes oupelo menos mantê-los longe da lojaé um grande desafio para qualquersupermercadista e para tornar issopossível, um bom começo é enten-der o perfil dessas pessoas, seucomportamento e forma de agir.
É exatamente o que mostra apesquisa realizada pela FundaçãoGetúlio Vargas de São Paulo, sob
LOJA
Horário,movimento da
loja e vestimentasadequadas.
Nada é escolhidopor acaso por
quem pretendefurtar produtos
na loja.
E
FURTOS: COMO OSLADRÕES AGEM
encomenda de duas multinacionaise do instituto inglês PerpetuityGroup. Os pesquisadores entrevis-taram 30 pessoas que cometem fur-tos com freqüência em supermer-cados e drogarias da Grande SãoPaulo e, para entender o passo-a-passo das ações, foram gravadasquatro simulações de furtos.
Entre os resultados da pesqui-sa, ficou claro que super e hiper-mercados ainda são consideradoslocais atrativos para quem preten-de furtar. Prova disso, é que 83%disseram ter escolhido lojas do se-tor para furtar pela primeira vez,contra apenas 17% que optarampor drogarias ou perfumarias. Fi-F
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O Wal-Mart age ostensivamentecontra furtos na seção deprodutos para depilar e barbear:câmeras, monitores e avisosinibem a ação dos furtantes
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LOJA
cou constatado também que asperdas com furtos variam de 0,3%a 5% do faturamento, com médiade 1,38%. Os pequenos furtos res-pondem por 80% dessas perdas.
Para que o seu supermercado pos-sa obter maior sucesso no combatea esse mal, a seguir você conhecerámelhor o perfil, comportamento emétodo de ação dos furtantes.
QUEM SÃO E O QUECOSTUMAM FURTARSegundo a pesquisa, 54% dosfurtantes têm entre 18 e 29 anos,43% entre 30 e 39 anos e 3% têmmais de 40. Em geral, começarama furtar antes dos 16 anos, exer-cem atividade remunerada, sejaformal ou informal, e 67% ga-
nham até R$ 1.200 por mês. Aocontrário do que muitos pensam,praticar essas ações não é privilé-gio dos homens: 47% são mulhe-res. O nível de escolaridade damaioria é baixo, já que 57% se-quer concluiram o segundo grau.No entanto, 40% têm curso supe-rior incompleto.
Entre os itens preferidos, nenhu-ma surpresa: aparelhos e lâminasde barbear, pilhas e baterias, esco-vas de dentes, desodorantes, cre-mes para pele, shampoos e condi-cionadores, bebidas alcoólicas,além de cremes e tinturas para ca-belos. O estudo identificou, inclu-sive, as marcas mais visadas. Sãoelas: Gillette, Duracell, Nívea,Dove, Johnson’s, L’oreal, Oral B e
A pesquisa da FGVmostra que 54%
dos furtantes têmentre 18 e 29 anos
e 67% ganhamaté R$ 1.200
por mês
WAL-MART: TECNOLOGIA E TREINAMENTO PARA EVITAR FURTOS
A Wal-Mart é uma das redesque têm investido pesado emprevenção de furtos e umexemplo disso pode serobservado na seção de itenspara barbear/depilar. Ummonitor transmite as imagenscaptadas por uma câmeraposicionada ao lado. Além
disso, um aviso informaaos clientes que asmedidas de segurançaajudam a manter oposicionamento de preçobaixo. Paulo Polesi (foto),diretor de prevenção deperdas, afirma que essamedida ostensiva éapenas parte da filosofiade prevenção de perdas.No Wal-Mart todos osfuncionários recebemtreinamento para inibirfurtos e quando um delesprecisa ir até a retaguarda,
propositadamente faz o percurso pordentro da loja, passando por áreasde menor movimento e, dessaforma, inibindo a ação de pessoasmá intencionadas. “Sempre que umde nossos associados percebealguém em atitude suspeita, usa oque chamamos de hospitalidadeagressiva, ou seja, se aproxima e
oferece ajuda”. Polesi é tambémpresidente do Núcleo deEtiquetagem na Origem (Neo),que reúne indústrias e redes devarejo empenhadas emdisseminar essa tecnologia deetiquetagem, que pode reduziros furtos quase pela metade.O método já é adotado em 55produtos bastante visados narede Wal-Mart: os itens jáchegam dos fornecedores cometiquetas anti-furto gravadasna própria embalagem,o que impossibilita a retiradados sensores. Até o fim do anoque vem, o Wal-Martpretende ter 150 itensetiquetados na origem. “Comisso reduzimos os furtos em40% e aumentamosas vendas em 25%, já quenão precisamos maisconfinar esses produtosem armários”, comemora.
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Sensodyne. Na hora de escolherquais produtos serão furtados, con-sideram três aspectos fundamen-tais: valor do produto, tamanho emarca, respectivamente.
– O valor e a marca têm impor-tância porque 50% dos itens furta-dos são revendidos, normalmentepela metade do preço de gôndola.Já o tamanho diz respeito à facili-dade de esconder o objeto furtado– explica José Bento Carlos Ama-ral Jr., coordenador da pesquisa.
FREQÜÊNCIA DOS FURTOSA maior parte dos entrevistadosafirmou furtar uma ou duas vezespor semana (47%). Apenas 17%disseram praticar furtos três a qua-tro vezes por semana, e o restantese divide em ações quinzenais oumensais. Entre os fatores que jus-tificam a periodicidade, destacam-
COMO AGEMPara começarmos a entender a for-ma como agem esses criminosos,vale observar as característicasdescritas sobre a última vez emque furtaram. A grande maioria(86%) escolheu praticar o últimofurto em lojas grandes, em geralcom mais de 20 checkouts. Quan-to ao melhor horário, destaquepara o período da noite, escolhi-do por 47% dos larápios. JoséBento Carlos Amaral Jr., coorde-nador da pesquisa, lembra que asescolhas se explicam pela crençade que em lojas grandes é maisfácil passar despercebido e de queà noite a segurança está mais re-laxada ou menos presente.
Na última ação, 70% levaramapenas uma categoria de produtoe metade levou somente uma uni-dade. A lógica de furtar pequenasquantidades para não correr riscosprevalece na maioria das ocasiões,mas é preciso considerar que 23%disseram ter furtado quatro oumais unidades de produtos.
Como 50% dosprodutos furtadossão revendidos,os criminososobservam o
valor e a marcado produto
José Bento AmaralFGV
‘‘ Os furtantes emgeral agem por um
tempo em uma loja edepois mudam, para
não ficarem visados,,
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se a preocupação em não chamara atenção e não ficar visado porseguranças e funcionários.
– Em geral eles agem por umtempo em uma loja e depois mu-dam para outro local – diz Amaral.
Em comparação com a época emque começaram a furtar, 40% con-tinuam praticando os delitos com amesma freqüência, 33% intensifi-caram as ações e apenas 27% di-minuíram. Apesar disso, 57% reco-nhecem que ficou mais difícil fur-tar. Observando as razões alegadas,é possível extrair procedimentosque inibirão os criminosos de atuarna sua loja. Vamos a elas: câmerasespalhadas por todo lado; reforçono número de seguranças, inclusi-ve à paisana; produtos expostoscom sensor de metal e presença deespelhos de aumento.
Já a parcela que acredita estarmais fácil furtar cita entre as prin-cipais razões a falta de vigilânciae a distração dos funcionários.
COMO ELESDESISTEMDO FURTODos 30 furtantesentrevistados, 80% disseramjá ter desistido de furtar nomeio da ação. Eles desistemquando percebem que osegurança:
• olha insistentemente
• segue pela loja como umasombra
• olha e fala pelo rádio
• caminha em sua direção
• pergunta se precisa de ajuda
• usa óculos escuros dentrodo raio de ação
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LOJA
As justificativasdadas para os
furtos são: falta dedinheiro, produtofácil de roubar ou
item com altovalor agregado
Quando os pesquisadores daFGV-SP solicitaram justificativaspara o último furto, as respostasmais comuns foram: necessida-de/falta de dinheiro, ser um itemfácil de pegar e esconder e ser umproduto de alto valor. José Ben-to, da FGV, ressalta que quandose fala em necessidade, nãoestamos falando de gente que fur-ta para comer.
– A necessidade é de comple-mentar a renda, já que a pesquisadeixou claro que essas ações sãopraticadas por profissionais, queganham dinheiro revendendo asmercadorias furtadas – afirma.
Na primeira vez em que agi-ram, 83% dos entrevistados o fi-zeram em supermercados, contra10% nas drogarias e 7% nas per-fumarias. Ainda considerando o“início de carreira”, 60% agiramacompanhados, praticamente ametade planejou o furto antes de
chegar aos estabelecimentos e só13% foram pegos, porém nin-guém acabou preso.
Se considerarmos a média dasações, e não apenas o primeiro eo último furto, observamos queem 70% dos casos o furtante agesozinho. Para 47% deles a deci-são do furto é tomada na loja, já33% decidem antes de chegar, en-quanto o restante alterna ambosos procedimentos, dependendodas circunstâncias. Nem a formade se vestir é escolhida ao acaso,roupas especiais como jaquetas ecasacos grandes com bolsos inter-
nos, camisas e blusas largas ecompridas cobrindo a cintura, cal-ças largas e com bolsos grandes,jeans e saias são utilizadas pois
facilitam na hora de esconder oitem surrupiado.
Antes de entrar na loja, os fur-tantes observam a presença de se-guranças uniformizados e à pai-sana e de policiais. Vêem tambémcomo está o movimento, tendocomo base inicial a quantidade decarros no estacionamento: o idealpara eles é que a loja não estejanem cheia e nem muito vazia. Noprimeiro caso, há risco de ser de-nunciado por clientes, no segun-do viram alvo fácil da segurança.
Já na área de vendas, outro ro-teiro é seguido à risca. O primei-
ro passo é verificar novamente sehá seguranças à vista, caso real-mente estejam por lá, passam amemorizar suas posições. O po-sicionamento das câmeras, claro,também é observado.
A partir daí, a regra é tentar sepassar por um cliente comum. Paraisso, estabelecem um percurso dis-simulado: pegam um produto aqui,verificam o preço de outro, lêemembalagens, colocam itens no car-rinho, até, enfim, chegarem à se-ção de seu interesse. Nesse mo-mento fazem nova verificaçãoquanto à presença e ao posiciona-mento de câmeras e certificam-se de que ninguém os observa.
Nesse instante, o alvo do furtojá foi identificado na gôndola e opróximo passo é se aproximar deledistraidamente, sempre atento a ele-mentos hostis. Se tudo está tranqüi-lo, pegam o produto e escondem,principalmente, dentro da calça ouno bolso, na cintura, na bolsa, najaqueta, na manga da blusa, ou nasaxilas. Continuam o percurso dis-simulado até chegarem ao checkout.
– Raramente deixam de com-prar algum produto para despis-tar, normalmente itens baratos ede uso pessoal – afirma.
Como em muitos casos a gôn-dola dos produtos mais visados ébastante vigiada, também é proce-dimento comum colocar o produ-to no carrinho e escondê-lo em áre-as da loja consideradas mais tran-qüilas, como a seção de frios.
■ MAIS INFORMAÇÕES
FGV-SP: www.fgvsp.brNÚCLEO DE ETIQUETAGEM NAORIGEM: [email protected]: www.walmartbrasil.com.br
Roupas como jaquetas e casacos com bolsosinternos são usadas para cometer furtos
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