Gastronomia2+_130810

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8 SALVADOR SEXTA-FEIRA 13/8/2010 2 “Essa cozinha que está no li- vro é a cozinha da minha casa, dos parentes que moravam per- to, dos amigos que moravam na roça”, situa a autora, que nasceu na cidade de Taperoá. “Nessa época não tinha energia elétrica nem água encanada. O fogão era a lenha. Era brasa pra lá e pra cá até chegar à temperatura ideal”, acrescenta. Manuscrito As 115 receitas do livro são, por- tanto, como relíquias desse tempo. O resgate se deu pri- meiro pela memória afetiva da autora, que lembra como se fos- se hoje de um sequilho de goma que só a mãe sabia fazer. Conversas com gente da fa- mília também renderam pano para manga. Entre as fontes de informação, estão um caderno de receitas manuscrito que Ana Rita ganhou quando ficou noi- va. E tem outro no qual ela iden- tificou anotações de 1912. A obra, que também em apre- sentação impecável, ainda tem desenhos e fotos que colaboram para dar água na boca. A eterna força dos sabores regionais brasileiros GASTRONOMIA Sobrinha do escritor paraibano Ariano Suassuna, a educadora Ana Rita lança livro que reúne receitas sertanejas Fábio Knoll / Divulgação Cuscuz de goma com massa de milho zarolho. No livro de Ana Rita Suassuna, a receita vem acompanhada pela letra da canção Penerô Xerém, de Luiz Gonzaga Tour gastronômico no Pelô até domingo O Restaurante Jardim das De- lícias, no Pelourinho, recebe convidados esta noite para o lançamento do Noites de Boe- mia. O projeto – realizado pela Abrasel em parceria com Seb- brae, Saltur, Convention Bu- reau e Associação dos Comer- ciantes do Pelourinho – prome- te dar um pouco mais de fôlego à programação do Centro His- tórico com um tour gastronô- mico em 15 bares e restauran- tes da região. A produção do evento espera atrair cerca de 10 mil pessoas, entre baianos e turistas, que contarão também com apresentações musicais de artistas locais. Sexta é dia de feijoada francesa Para quem adora feijoada, mas não dispensa aquele toque de sofisticação, o Restaurante Couver é o endereço certo às sextas-feiras. Este é o dia que a casa reserva para oferecer o cassoulet, prato típico da gas- tronomia mais famosa do mun- do, que ficou conhecido como “feijoada francesa”. Preparado à base de feijão branco e carnes defumadas cozidas, o cassoulet do Couvert se adapta ao gosto do brasileiro e vem acompa- nhado de arroz branco e farofa. A novidade está disponível so- mente na franquia do Salvador Shopping, onde o prato indi- vidual fica por R$ 22,90. Feira de vinhos para curiosos e experts Já está confirmada, para os dias 10 e 11 de setembro, a sexta edição da Wine Bahia. O even- to, organizado pelo enólogo André Freire de Carvalho e pe- la promoter Licia Fabio, rece- berá especialistas e curiosos no Hotel Mercure (Rio Vermelho), para apresentar as novidades de produtos e safras e difundir o hábito de beber vinho por meio de minicursos e degus- tações orientadas. A programa- ção contará, ainda, com ativi- dades para convidados, como o circuito de enogastronomia, noite de queijos e vinhos e pas- seio náutico, além de jantar enogastronômico. DANIELA CASTRO Certa feita, a paraibana Ana Rita Suassuna achou de apresentar a um grupo de chefs de cozinha de São Paulo, amigos de seu filho, alguns exemplos do que se co- mia no dia a dia de sua terra natal. Mara Salles e Alex Atala, só para citar dois, estavam à mesa neste dia. Entre um prato e outro, to- me-lhe a cozinheira a matar a curiosidade dos convidados. “Fui respondendo muito des- pretensiosamente, mas eles se surpreenderam com a quanti- dade de informações que eu ti- nha”, lembra. Embora a literatura não lhe fosse algo estranho – sim, ela é sobrinha de Ariano Suassuna – foi só então que começou a co- gitar a possibilidade de ver o seu nome estampado na capa de um livro de gastronomia. “Não me preocupei com aqui- lo. Mas chega uma hora que var o leitor muito além de in- gredientes e modos de fazer, agregando às receitas uma pi- tada de história. “Nunca fui ligada ao movi- mento gastronômico. Só cozi- nho em casa e é no olho, sem receita, sem tabela, sem termô- metro, nada”, revela Ana Rita, que faz questão de revelar a idade para que o leitor entenda de que tempo ela está falando. “Pode ‘butar’ aí: Ana Rita vír- gula 76, quase 77”. Nhoque de fruta-pão em clima de taverna DANIELA CASTRO Tudo bem que, em Salvador, a estação mais fria do ano não é tão fria assim, mas as tempe- raturas mais amenas do inverno ainda servem como bom pre- texto para programas a dois em lugares aconchegantes. Se a proposta for essa, a Os- teria Dell‘Agazzi é uma boa es- colha. Localizado numa rua re- sidencial da Federação, o res- taurante fundado por uma fa- mília italiana vinda da cidade de Bergamo recebe os clientes em um ambiente dupla-face. No primeiro, você pode ter a impressão de que está na sala de uma tia querida. Mais o sub- solo ganha de dez a zero. É lá que a casa ganha o clima de taverna sugerido pelo nome. Não dá para não se encantar com a decoração antiga, que inclui um gramofone e um pia- no, com direito a luz de velas que derretem sobre o gargalo de garrafas vazias. Para socorrer os que têm di- ficuldade para ler na penumbra, os garçons emprestam uma lan- terninha. Aliás, isso é só um de- O preço pode assustar à primeira vista, mas a maioria dos pedidos serve duas pessoas com folga talhe do serviço, que é atencioso e discreto como o ambiente pe- de, com garçons preparados pa- ra explicar cada item do menu sem pestanejar. Fruta-pão Eles ajudam a escolher do an- tepasto à sobremesa, passando pelo primeiro e segundo pratos. Difícil, porém, é chegar a um segundo prato depois das mas- sas, que são servidas em por- ções generosas. O preço pode assustar à primeira vista, mas a maioria dos pedidos serve duas pessoas com folga. Se quiser algo leve, o caneloni verde recheado com ricota (R$ 64) vai bem. A massa artesanal é uma boa razão para experi- mentar a receita, que ganha um plus com molho de queijo gou- da. Mas o caneloni fica somente no campo do razoável se com- parado ao nhoque. O inventivo chef Aurélio Agazzi prepara a iguaria à base de fruta-pão e serve frita na manteiga, com sál- via. O ponto alto é a textura: crocante fora, suave dentro. Não perca a opção em que ele vem sem molho, só com linguiça artesanal moída. Vale lembrar que o nhoque é o único que possuiu meia porção – R$ 37, contra R$ 58 da inteira. Ainda assim, haja apetite. A sobremesa, porém, nem sempre reserva boas surpresas. Evite creme do bosque e fragola delicata, que têm como base o trivial creme de confeiteiro, combinando com amora, amên- doa e licor de cassis, ou com morango, merengue e pistache. Ambos passam sem marcar o paladar e deixam a sensação de preço salgado: R$ 22, cada. OSTERIA DELL‘AGAZZI (3245-9069) / RUA ANTÔNIO DOS PASSOS, 30, FEDERAÇÃO GASTRONOMIA SERTANEJA – RECEITAS QUE CONTAM HISTÓRIAS / ANA RITA SUASSUNA Editora Melhoramentos / 204 páginas / R$ 149 parece que a gente tá se fazendo de rogada, não é?”, diz a especialista em educação que se tornou autora do do livro Gas- tronomia Sertaneja, recém-lan- çado pela Melhoramentos. História A publicação reforça uma ten- dência do mercado à valoriza- ção da gastronomia pelo cami- nho dos sabores regionais bra- sileiros. Mais do que isso, o pro- jeto editorial se destaca por le- “Só cozinho em casa e é no olho, sem receita, sem tabela, sem termômetro, sem nada” ANA RITA SUASSUNA

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talhedoserviço,queéatencioso ediscretocomooambientepe- de,comgarçonspreparadospa- raexplicarcadaitemdomenu sempestanejar. Certafeita,aparaibanaAnaRita Suassunaachoudeapresentara umgrupodechefsdecozinhade SãoPaulo,amigosdeseufilho, algunsexemplosdoqueseco- mianodiaadiadesuaterra natal.MaraSalleseAlexAtala, sóparacitardois,estavamà mesanestedia. Entreumpratoeoutro,to- me-lheacozinheiraamatara curiosidade dos convidados. Fruta-pão DANIELACASTRO DANIELACASTRO História 8 ANARITASUASSUNA

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8 SALVADOR SEXTA-FEIRA 13/8/20102

“Essa cozinha que está no li-vro é a cozinha da minha casa,dos parentes que moravam per-to, dos amigos que moravam naroça”,situaaautora,quenasceuna cidade de Taperoá. “Nessaépoca não tinha energia elétricanem água encanada. O fogãoeraa lenha.Erabrasapra láepracá até chegar à temperaturaideal”, acrescenta.

ManuscritoAs 115 receitas do livro são, por-tanto, como relíquias dessetempo. O resgate se deu pri-meiro pela memória afetiva daautora, que lembra como se fos-se hoje de um sequilho de gomaque só a mãe sabia fazer.

Conversas com gente da fa-mília também renderam panopara manga. Entre as fontes deinformação, estão um cadernode receitas manuscrito que AnaRita ganhou quando ficou noi-va. E tem outro no qual ela iden-tificou anotações de 1912.

A obra, que também em apre-sentação impecável, ainda temdesenhosefotosquecolaborampara dar água na boca.

A eterna força dos sabores regionais brasileirosGASTRONOMIA Sobrinha do escritor paraibano Ariano Suassuna, a educadora Ana Rita lança livro que reúne receitas sertanejas

Fábio Knoll / Divulgação

Cuscuz de goma com massa de milho zarolho. No livro de Ana Rita Suassuna, a receita vem acompanhada pela letra da canção Penerô Xerém, de Luiz Gonzaga

Tour gastronômicono Pelô até domingo

O Restaurante Jardim das De-lícias, no Pelourinho, recebeconvidados esta noite para olançamento do Noites de Boe-mia. O projeto – realizado pelaAbrasel em parceria com Seb-brae, Saltur, Convention Bu-reau e Associação dos Comer-ciantes do Pelourinho – prome-te dar um pouco mais de fôlegoà programação do Centro His-tórico com um tour gastronô-mico em 15 bares e restauran-tes da região. A produção doevento espera atrair cerca de 10mil pessoas, entre baianos eturistas, que contarão tambémcom apresentações musicais deartistas locais.

Sexta é dia defeijoada francesa

Para quem adora feijoada, masnão dispensa aquele toquede sofisticação, o RestauranteCouver é o endereço certo àssextas-feiras. Este é o dia que acasa reserva para oferecer ocassoulet, prato típico da gas-tronomia mais famosa do mun-do, que ficou conhecido como“feijoada francesa”. Preparadoà base de feijão branco e carnesdefumadas cozidas, o cassouletdo Couvert se adapta ao gostodo brasileiro e vem acompa-nhado de arroz branco e farofa.A novidade está disponível so-mente na franquia do SalvadorShopping, onde o prato indi-vidual fica por R$ 22,90.

Feira de vinhos paracuriosos e experts

Já está confirmada, para os dias10 e 11 de setembro, a sextaedição da Wine Bahia. O even-to, organizado pelo enólogoAndré Freire de Carvalho e pe-la promoter Licia Fabio, rece-berá especialistas e curiosos noHotel Mercure (Rio Vermelho),para apresentar as novidadesde produtos e safras e difundiro hábito de beber vinho pormeio de minicursos e degus-tações orientadas. A programa-ção contará, ainda, com ativi-dades para convidados, como ocircuito de enogastronomia,noite de queijos e vinhos e pas-seio náutico, além de jantarenogastronômico.

DANIELA CASTRO

Certa feita, a paraibana Ana RitaSuassuna achou de apresentar aum grupo de chefs de cozinha deSão Paulo, amigos de seu filho,alguns exemplos do que se co-mia no dia a dia de sua terranatal. Mara Salles e Alex Atala,só para citar dois, estavam àmesa neste dia.

Entre um prato e outro, to-me-lhe a cozinheira a matar acuriosidade dos convidados.

“Fui respondendo muito des-pretensiosamente, mas eles sesurpreenderam com a quanti-dade de informações que eu ti-nha”, lembra.

Embora a literatura não lhefosse algo estranho – sim, ela ésobrinha de Ariano Suassuna –foi só então que começou a co-gitar a possibilidade de ver o seunome estampado na capa deum livro de gastronomia.

“Não me preocupei com aqui-lo. Mas chega uma hora que

var o leitor muito além de in-gredientes e modos de fazer,agregando às receitas uma pi-tada de história.

“Nunca fui ligada ao movi-mento gastronômico. Só cozi-nho em casa e é no olho, semreceita, sem tabela, sem termô-metro, nada”, revela Ana Rita,que faz questão de revelar aidade para que o leitor entendade que tempo ela está falando.“Pode ‘butar’ aí: Ana Rita vír-gula 76, quase 77”.

Nhoque de fruta-pão em clima de taverna

DANIELA CASTRO

Tudo bem que, em Salvador, aestação mais fria do ano não étão fria assim, mas as tempe-raturas mais amenas do invernoainda servem como bom pre-texto para programas a dois emlugares aconchegantes.

Se a proposta for essa, a Os-teria Dell‘Agazzi é uma boa es-colha. Localizado numa rua re-sidencial da Federação, o res-taurante fundado por uma fa-mília italiana vinda da cidade deBergamo recebe os clientes emum ambiente dupla-face.

No primeiro, você pode ter aimpressão de que está na salade uma tia querida. Mais o sub-solo ganha de dez a zero. É láque a casa ganha o clima detaverna sugerido pelo nome.

Não dá para não se encantarcom a decoração antiga, queinclui um gramofone e um pia-no,comdireitoa luzdevelasquederretem sobre o gargalo degarrafas vazias.

Para socorrer os que têm di-ficuldade para ler na penumbra,os garçons emprestam uma lan-terninha. Aliás, isso é só um de-

O preço podeassustar à primeiravista, mas amaioria dospedidos serve duaspessoas com folga

talhedoserviço,queéatenciosoe discreto como o ambiente pe-de, com garçons preparados pa-ra explicar cada item do menusem pestanejar.

Fruta-pãoEles ajudam a escolher do an-tepasto à sobremesa, passandopelo primeiro e segundo pratos.Difícil, porém, é chegar a umsegundo prato depois das mas-sas, que são servidas em por-ções generosas. O preço podeassustar à primeira vista, mas amaioria dos pedidos serve duaspessoas com folga.

Sequiseralgo leve,ocaneloniverde recheado com ricota (R$

64) vai bem. A massa artesanalé uma boa razão para experi-mentar a receita, que ganha umplus com molho de queijo gou-da. Mas o caneloni fica somenteno campo do razoável se com-parado ao nhoque. O inventivochef Aurélio Agazzi prepara aiguaria à base de fruta-pão eserve fritanamanteiga, comsál-via. O ponto alto é a textura:crocante fora, suave dentro.

Não perca a opção em que elevemsemmolho,sócomlinguiçaartesanal moída. Vale lembrarque o nhoque é o único quepossuiu meia porção – R$ 37,contra R$ 58 da inteira. Aindaassim, haja apetite.

A sobremesa, porém, nemsempre reserva boas surpresas.Evite creme do bosque e fragoladelicata, que têm como base otrivial creme de confeiteiro,combinandocomamora,amên-doa e licor de cassis, ou commorango, merengue e pistache.Ambos passam sem marcar opaladar e deixam a sensação depreço salgado: R$ 22, cada.

OSTERIA DELL‘AGAZZI (3245-9069) / RUA

ANTÔNIO DOS PASSOS, 30, FEDERAÇÃO

GASTRONOMIA SERTANEJA – RECEITAS QUE

CONTAM HISTÓRIAS / ANA RITA SUASSUNA

Editora Melhoramentos / 204páginas / R$ 149

parecequeagentetáse fazendode rogada, não é?”, diz a

especialista em educação quese tornou autora do do livro Gas-tronomia Sertaneja, recém-lan-çado pela Melhoramentos.

HistóriaA publicação reforça uma ten-dência do mercado à valoriza-ção da gastronomia pelo cami-nho dos sabores regionais bra-sileiros. Mais do que isso, o pro-jeto editorial se destaca por le-

“Só cozinhoem casa e éno olho, semreceita, sem tabela,sem termômetro,sem nada”

ANA RITA SUASSUNA