Geografia_capitulo

10
14 196 CAPÍTULO Neste capítulo A indústria petrolífera nos séculos XIX e XX. A formação da Opep. Crises mundiais do petróleo: causas e consequências. As ocupações militares ligadas ao petróleo. exaustivamente. O aumento da produção reduzia substancialmente os preços, até que o esgotamento dos poços provocasse nova alta. As dificuldades de estocagem faziam com que toda a produção fosse imediata- mente ofertada ao mercado. Em 1870, surgiu nos EUA a empresa Stan- dard Oil, criada por John Rockefeller. Seu pio- neirismo consistiu na atuação verticalizada da indústria, ou seja, ela passou a organizar sua atuação estratégica por toda a cadeia pro- dutiva, dos sistemas de refino à distribuição e ao transporte. Assim, Rockefeller conseguiu diminuir os riscos da atividade e a flutuação dos preços do produto, garantindo alta lucra- tividade para suas companhias. Pouco depois de fundar sua empresa, já controlava 10% do segmento de refino. Nos anos 1880-1890, controlava 90% do trans- porte ferroviário e dos oleodutos. Além dis- so, expandiu sua atuação para Europa, Ásia, África do Sul e Austrália: em 1890, 70% de suas atividades eram desenvolvidas fora dos EUA. Ainda nesse ano, a Standard Oil pos- suía 39 refinarias de petróleo nos EUA, 100 mil empregados, 6 500 km de oleodutos e 20 mil poços de petróleo espalhados pelo globo – isso representava cerca de 90% da capacidade mundial de perfuração, refino e distribuição, constituindo um verdadeiro monopólio. O nascimento da indústria petrolífera Geopolítica do petróleo Atualmente, mais de 90% da energia uti- lizada no mundo vem do consumo de com- bustíveis fósseis. Os três principais com- bustíveis fósseis são o petróleo, o carvão e o gás natural. Eles constituem as fontes de energia mais usadas tanto nos países in- dustrializados como naqueles em vias de industrialização. Após a Segunda Guerra Mundial, o pe- tróleo tornou-se a fonte de energia domi- nante, predomínio que se aprofundou a partir da década de 1960. Dada a sua fa- cilidade de transporte e uso, ele substituiu o carvão, tornando-se um insumo-chave do desenvolvimento no século XX. O petróleo no século XIX  O primeiro poço de petróleo a ser explo- rado comercialmente foi aberto em 1859, na Pensilvânia (EUA). Sua principal utilida- de era como combustível para iluminação. A indústria petrolífera só deixaria de ser es- tadunidense para se tornar uma indústria global com a descoberta de áreas de produ- ção no Oriente Médio e com o aumento do consumo em outras áreas geográficas. Nos primórdios da exploração petrolí- fera, a competição era predatória: quando se anunciava uma nova descoberta, havia uma corrida para a aquisição das terras vizi- nhas ao poço, com o objetivo de explorá-las Ação e cidadania O petróleo e a sociedade do automóvel No início do século XX, a popularização do automóvel provocou uma verdadeira revolução nos costumes e na organização do espaço: a ur- banização acelerou-se; a cadeia de peças e ser- viços automotivos multiplicou-se; milhões de quilômetros de vias asfaltadas foram construí- dos. Mas hoje estamos diante dos limites dessa evolução: é previsto o esgotamento dos com- bustíveis fósseis, seu uso é altamente poluidor, e a sociedade do automóvel sofre cada vez mais críticas por seu caráter excludente, pela polui- ção e pelos congestionamentos. Com um colega, pense em alternativas para di- minuir a preponderância do automóvel na vida cotidiana. Anotem suas ideias e dividam-nas com a turma. > Congestionamento na avenida 23 de Maio, São Paulo (SP), em 2009. Acesse <www.anp.gov.br> Site da Agência Nacional do Petróleo, com dados importantes sobre a produção de petróleo no Brasil.

Transcript of Geografia_capitulo

Page 1: Geografia_capitulo

14

196

Capítulo

Neste capítuloA indústria �petrolífera nos séculos XIX e XX. A formação da �Opep. Crises mundiais �do petróleo: causas e consequências. As ocupações �militares ligadas ao petróleo.

exaustivamente. O aumento da produção reduzia substancialmente os preços, até que o esgotamento dos poços provocasse nova alta. As dificuldades de estocagem faziam com que toda a produção fosse imediata-mente ofertada ao mercado.

Em 1870, surgiu nos EUA a empresa Stan-dard Oil, criada por John Rockefeller. Seu pio-neirismo consistiu na atuação verticalizada da indústria, ou seja, ela passou a organizar sua atuação estratégica por toda a cadeia pro-dutiva, dos sistemas de refino à distribuição e ao transporte. Assim, Rockefeller conseguiu diminuir os riscos da atividade e a flutuação dos preços do produto, garantindo alta lucra-tividade para suas companhias.

Pouco depois de fundar sua empresa, já controlava 10% do segmento de refino. Nos anos 1880-1890, controlava 90% do trans-porte ferroviário e dos oleodutos. Além dis-so, expandiu sua atuação para Europa, Ásia, África do Sul e Austrália: em 1890, 70% de suas atividades eram desenvolvidas fora dos EUA. Ainda nesse ano, a Standard Oil pos-suía 39 refinarias de petróleo nos EUA, 100 mil empregados, 6 500 km de oleodutos e 20 mil poços de petróleo espalhados pelo globo – isso representava cerca de 90% da capacidade mundial de perfuração, refino e distribuição, constituindo um verdadeiro monopólio.

O nascimento da indústria petrolífera

Geopolítica do petróleo Atualmente, mais de 90% da energia uti-

lizada no mundo vem do consumo de com-bustíveis fósseis. Os três principais com-bustíveis fósseis são o petróleo, o carvão e o gás natural. Eles constituem as fontes de energia mais usadas tanto nos países in-dustrializados como naqueles em vias de industrialização.

Após a Segunda Guerra Mundial, o pe-tróleo tornou-se a fonte de energia domi-nante, predomínio que se aprofundou a partir da década de 1960. Dada a sua fa-cilidade de transporte e uso, ele substituiu o carvão, tornando-se um insumo-chave do desenvolvimento no século XX.

O petróleo no século XIX  

O primeiro poço de petróleo a ser explo-rado comercialmente foi aberto em 1859, na Pensilvânia (EUA). Sua principal utilida-de era como combustível para iluminação. A indústria petrolífera só deixaria de ser es-tadunidense para se tornar uma indústria global com a descoberta de áreas de produ-ção no Oriente Médio e com o aumento do consumo em outras áreas geográficas.

Nos primórdios da exploração petrolí-fera, a competição era predatória: quando se anunciava uma nova descoberta, havia uma corrida para a aquisição das terras vizi-nhas ao poço, com o objetivo de explorá-las

Ação e cidadania

O petróleo e a sociedade do automóvelNo início do século XX, a popularização do

automóvel provocou uma verdadeira revolução nos costumes e na organização do espaço: a ur-banização acelerou-se; a cadeia de peças e ser-viços automotivos multiplicou-se; milhões de quilômetros de vias asfaltadas foram construí-dos. Mas hoje estamos diante dos limites dessa evolução: é previsto o esgotamento dos com-bustíveis fósseis, seu uso é altamente poluidor, e a sociedade do automóvel sofre cada vez mais críticas por seu caráter excludente, pela polui-ção e pelos congestionamentos.

Com um colega, pense em alternativas para di- �minuir a preponderância do automóvel na vida cotidiana. Anotem suas ideias e dividam-nas com a turma. > Congestionamento na avenida 23 de Maio,

São Paulo (SP), em 2009.

Acesse<www.anp.gov.br>

Site da Agência Nacional do Petróleo, com dados importantes sobre a produção de petróleo no Brasil.

5P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 196 4/6/10 4:33:30 PM

Page 2: Geografia_capitulo

197

Saiba mais

Distribuição das grandes empresas petrolíferasAtualmente, houve uma diversificação regional das maiores pe-

trolíferas do mundo. As Sete Irmãs concentravam-se praticamente nos EUA, com apenas duas empresas na Europa; agora, a lista in-clui China e Brasil. Essas empresas não têm o poder de cartel que caracterizou as Sete Irmãs no século XX.

Nacionalidade das vinte maiores petrolíferas (2009)

País Número de empresas

Estados Unidos 4

Reino Unido 3

Rússia 3

China 2

Índia 2

Brasil 1

Canadá 1

França 1

Hong Kong 1

Itália 1

Noruega 1

para o país onde se situava. As sete empre­sas operavam como um cartel internacional, coordenando suas ações para evitar a con­corrência. Assim, controlavam as reservas e os canais de distribuição. Os contratos de concessão introduziram a estratégia do con­trole geográfico. Eles eram assinados por cem anos ou mais, cobrindo grandes áreas territoriais e determinando preços baixos para os países produtores e exportadores de petróleo fora do consórcio.

Os governos dos países desenvolvidos proporcionaram um ambiente político e mi­litar favorável para essas ações e apoiaram ativamente as companhias petrolíferas.

O petróleo no século XX  

No início do século XX, o desenvolvi­mento do motor a explosão deu um grande impulso ao consumo de petróleo (formado em grande parte por hidrocarbonetos). Ele passou a assegurar a propulsão dos gran­des navios transatlânticos e trens. Mais tar­de, com a popularização do automóvel, o mercado de hidrocarbonetos conheceu uma formidável expansão.

A produção de petróleo aumentou e ex­pan diu­se pelo mundo, mas permaneceu con trolada por um pequeno grupo de em­presas. Durante a maior parte do século XX, elas controlaram o sistema internacional do petróleo, dominando a tecnologia de explo­ração e refino, a regulação da produção e a distribuição do produto. Expandiram seu domínio por toda parte, extraindo óleo cru (bruto, sem refino), produzindo combustí­veis, montando refinarias, oleodutos, ban­cos e financeiras internacionais.

As Sete Irmãs do petróleo  

A atuação monopolista da Standard Oil foi questionada por seus concorrentes, du­rante mais de vinte anos, na Justiça dos EUA. Até que, em 1911, o Supremo Tribunal es­tadunidense ordenou a divisão da compa­nhia em 34 novas empresas independentes. Entre elas, destacavam­se a Standard Oil of New J ersey, a Standard Oil of New York e a Stan dard Oil of California. Mais tarde, elas compuseram, com outras duas grandes empresas dos EUA e mais duas europeias, o cartel chamado de as Sete Irmãs, criado para disputar o mercado internacional.

O início do século XX é marcado por acir­rada disputa pelas reservas mundiais de pe­tróleo, em especial no Oriente Médio, e pela busca de petróleo em novas regiões, como Sudeste Asiático, Venezuela, Egito, Rússia e México.

As Sete Irmãs perceberam que o controle do suprimento de petróleo era importante para não ocorrer superprodução e guerra de preços. Por isso, começaram a atuar de maneira inte­grada, com o objetivo de eliminar a concor­rência e controlar o mercado mundial. Como a oferta de petróleo estava descentralizada em um número crescente de países, essas companhias passaram a adotar concessões, sobretudo no Oriente Médio. No regime de concessão, uma das Sete Irmãs “arrenda­va” a reserva e pagava uma pequena parte

AssistaO filme Sangue negro (2007), de Paul Thomas Anderson, trata da busca pela riqueza na exploração do petróleo, quando essa atividade ainda se iniciava nos EUA.

Fonte dos dados: Financial Times. Disponível em: <http://media.ft.com/cms/ 5f933498­4c41­11de­a6c5­00144feabdc0.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2009.

> Campo de extração de petróleo Burk-Waggoner, no Texas, EUA, 1919.

6P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 197 4/10/10 4:05:44 PM

Page 3: Geografia_capitulo

Arábia SauditaIrãIraqueKuwaitEmirados Árabes UnidosVenezuelaLíbiaArgéliaCatarNigériaIndonésia*

29,5%

14,9%

12,9%

11%

8,7%

4%

11,1%

1,3%0,5%

4,4%

1,7%

* Em 2008, a Indonésia desligou-se da Opep.

Reservas de petróleo da Opep — 2004

198

14 Geopolítica do petróleo

Em 1962, a Organização das Nações Uni­das (ONU) reconheceu o direito de todo Es­tado soberano poder dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais, levando em consideração suas estratégias de desenvolvi­mento. Essa resolução fortaleceu países pro­dutores de petróleo, sobretudo os da Opep.

Para os Estados do Oriente Médio, em par­ticular, a situação de soberania sobre os re­cursos naturais e de fortalecimento da Opep correspondia a sua própria independência.

A Opep teve o importante papel político de enfraquecer o cartel das Sete Irmãs. Sua formação significou uma restrição das es­tratégias de controle total das reservas pe­las grandes empresas. Com o primeiro cho­que do petróleo (forte aumento dos preços), em 1973, o papel de regulação do mercado foi transferido das Sete Irmãs para a Opep. O choque de 1973 representou uma séria dificuldade para as economias capitalistas, que dependiam da importação do petróleo. A partir de então, o Oriente Médio, onde se localizam as maiores reservas mundiais, passou a ser visto como área prioritária das estratégias geopolíticas mundiais. Veja o grá­fico abaixo.

O domínio das Sete Irmãs recuou por for­ça de intervenção política. Por exemplo, no início dos anos 1950, o governo do Irã que­brou um acordo com uma empresa do Reino Unido e nacionalizou as ações da companhia no Irã. Outros países produtores tomaram medidas idênticas, colocando fim ao domí­nio absoluto do cartel.

Os países produtores de petróleo passa­ram a reivindicar melhores condições de re ­muneração. Alguns deles, como Argentina, México e Irã, criaram empresas estatais para cuidar da produção ou editaram leis de na­cionalização do petróleo. Na Venezuela, hou­ve uma renegociação dos contratos, com va­lores bem menores. Na década de 1950, o governo brasileiro criou a estatal Petrobras.

Em virtude desse processo, países pro­dutores do Oriente Médio conseguiram me­lhorar condições contratuais, diminuindo os prazos de concessão e a área geográfica e aumentando a tributação sobre os lucros das companhias petrolíferas.

Paralelamente, empresas petrolíferas me­nores passaram a conseguir espaço em mer­cados internacionais, reduzindo gradativa­mente o poderio econômico das Sete Irmãs.

Em 1960, alguns dos maiores exportadores mundiais de petróleo – Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela – reuniram­se para criar a Organização dos Países Expor-tadores de Petróleo (Opep), com o objetivo de coordenar a política petrolífera dos países­­membros, aumentando a renda obtida com o petróleo. Esses países não estavam satisfei­tos com os baixos preços, pois reduziram sig­nificativamente suas receitas públicas.

Saiba mais

Nacionalização do canal de SuezEm 1956, o Egito nacionalizou o ca-

nal de Suez, então em poder de uma em-presa anglo-francesa. O canal era um ponto estratégico do transporte de pe-tróleo para Europa e EUA. A interrupção do transporte levou ao aumento da cota-ção internacional do produto.

Fonte dos dados: Ecopetrol S.A. Energia para el futuro. Disponível em: <http://www.ecopetrol.com.co/especiales/estadisticas2004/internacional/imgs/reservas­petroleo­opep.gif>. Acesso em: 21 jul. 2009.

Acesse<http://resistir.info>

O site português traz uma série de artigos sobre temas atuais, entre eles alguns sobre as oscilações do petróleo e sua importância geopolítica no mundo.

<http://www.blogspetrobras.com.br/fatosedados/>

Organizado pela Petrobras, traz diversas informações atuais sobre a empresa e sua participação na produção mundial de petróleo.

LeiaO poço do Visconde é um clássico da literatura infanto juvenil de Monteiro Lobato. Nesse livro, o autor expõe, de maneira agradável, as características geológicas necessárias para que ocorra petróleo em um terreno.

A organização da Opep e os choques do petróleo

Imagem de satélite do canal de Suez (2001).

Canal de Suez

6P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 198 07.04.10 18:40:08

Page 4: Geografia_capitulo

desc

ober

tas

no T

exas

Gue

rra

do Y

om K

ippu

r

alívio das tensões de

mercado

esforços pela soberania no Oriente Médio

início do boom do petróleo nos EUA

100

90

80

70

60

20

10

30

40

50

01861 1890 1920 1950 1980 2010

esfo

rços

pel

a so

bera

nia

no Ir

ã

iníc

io d

a pr

oduç

ão n

a A

mér

ica

do S

ul e

no

Ori

ente

Méd

io

US

$ p

or b

arri

l

Preço nominal de um barril de petróleoPreço calculado segundo valor de compra em 2003Tendência do preço do barril

Preço do petróleo bruto desde 1861

199

Consequências dos  

choques do petróleo A nacionalização dos principais merca-

dos produtores de petróleo provocou a ho-rizontalização das empresas petrolíferas mundiais, ou seja, elas passaram a se es-pecializar em poucas etapas da cadeia pro-dutiva (produção, distribuição, transporte, refino, etc.). As Sete Irmãs tiveram de aban-donar as práticas de “preços internos” e es-tabelecer contratos com as estatais dos paí-ses hospedeiros (produtores e exportadores de óleo cru) para obter a matéria-prima de sua indústria.

Uma das principais consequências dos choques do petróleo foi o surgimento de novas áreas produtoras, não pertencentes ao cartel. Além disso, a crise suscitou pro-jetos de substituição energética – dos com-bustíveis fósseis por fontes alternativas – e de conservação de energia.

No entanto, com o passar do tempo, os limites impostos pela Opep foram sendo desrespeitados por alguns países, o que en-fraqueceu a organização, que em 2010 era formada por 12 países: Arábia Saudita, Ar-gélia, Angola, Catar, Emirados Árabes Uni-dos, Equador, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria e Venezuela.

O primeiro choque  

do petróleo Em 1973, um fato político levou ao pri-

meiro choque do petróleo. A guerra do Yom Kippur, entre Israel e nações árabes, envolveu vários países ocidentais, inclusi-ve os EUA, em ações de ajuda militar a Is-rael. A Arábia Saudita respondeu com um embargo a todos os embarques de petróleo para EUA, Países Baixos (Holanda) e Por-tugal. Amsterdã constituía um importante ponto estratégico, pois era o principal redis-tribuidor europeu de combustível. Em Por-tugal localiza-se a base das Lajes, o principal ponto de abastecimento estadunidense para o fornecimento de armas a Israel.

Com o objetivo de pressionar os EUA e a Europa, que apoiaram Israel nos conflitos, os árabes uniram-se, reduzindo a produção do petróleo, elevando os preços do barril em mais de 70% e dando origem à maior crise do petróleo, que afetou toda a econo-mia mundial. Veja o gráfico abaixo.

Essa situação causou pânico e confusão nos países desenvolvidos. A Europa e o Ja-pão foram obrigados a racionar energia. Os EUA travaram o consumo e investiram em suas reservas. Os países emergentes, como o Brasil, foram muito afetados, pois o enca-recimento dessa fonte de energia gerou um desequilíbrio em suas frágeis economias.

Desde então, os países produtores de pe-tróleo tornaram-se controladores do merca-do, pois as companhias petrolíferas perde-ram espaço diante das nações produtoras.

O segundo choque do  

petróleo Em janeiro de 1979, um evento polí-

tico – a queda do xá (rei) Reza Pahlevi, no Irã, seguida da instalação de uma repú-blica islâmica, liderada pelo aiatolá (che-fe religioso) Khomeini – levou o mundo a um segundo choque do petróleo, com a paralisação da produção iraniana. A guer-ra entre Irã e Iraque, iniciada em 1980, agravou a situação, elevando o preço mé-dio do barril a mais de 80 dólares atuais. Tropas do Iraque, que contavam com o apoio dos EUA e da URSS, invadiram o vizinho Irã e não conseguiram derrubar o governo islâmico. A guerra estendeu-se por dez anos.

AssistaSyriana — a indústria do petróleo (2005), de Stephen Gaghan, mostra a ação de um veterano agente da Agência Central de Inteligência (CIA) que percebe estar sendo usado para interesses particulares ligados à indústria petrolífera.

Acesse<http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1253_saddamsiraq1/> Uma cronologia das guerras em que o Iraque esteve envolvido, com análise da importância do petróleo como motivação para os conflitos.

<http://diplo.uol.com.br/+-Petroleo-+>O site traz uma série de artigos sobre o petróleo e sua importância geopolítica.

Fonte dos dados: Scientific American Brasil, n. 57, fev. 2007. p. 76.

4P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 199 3/31/10 6:06:57 PM

Page 5: Geografia_capitulo

AFEGANISTÃOSÍRIA

IRAQUE

KUWAIT

BAHREINCATAR

ARÁBIASAUDITA

Mar da Arábia

OCEANOÍNDICO

Golfo de Omã

Golfode Áden

Golfo Pérsico

MarMediterrâneo

Mar C

Trópico de Câncer

Mar Verm

elho

E. A. UNIDOS

OMÃ

IÊMEN

LÍBANO

ÁFRICA

ÁSIA

ISRAEL

IRÃ

45°L 75°L

30°N

15°N

60°N60°L

Total de forças estadunidenses

km

0 455

Exército85 600

Fuzileiros260507100

Marinha2 850

270

1 300

25 250Marinha

1 250Exército19 700

Fuzileiros1 600

Força Aérea2 700

300

Força Aérea(maioria)6 540

QG da 5a Esquadra

3 000

121 600

Forç

For

Presença militar dos eUa no oriente médio (2005)

200

14 Geopolítica do petróleo

O petróleo tornou-se um elemento cen-tral para o interesse geopolítico das potên-cias industriais.

Os choques do petróleo, como já vimos, foram ocasionados principalmente pela ação dos cartéis e pelo uso político de seu poder de produção. Um novo choque do petró-leo, ocorrido a partir de 1999, foi resultado do aumento do consumo mundial, inclusi-ve por causa do desenvolvimento dos paí-ses emergentes, como o intenso crescimento chinês. Assim, o preço do barril de petróleo chegou a um pico em julho de 2008, pas-sando a valer 147 dólares, e caiu para 28 dólares em dezembro do mesmo ano.

Podemos destacar, na história recente, dois conflitos armados relacionados à pos-se do petróleo e ao controle geopolítico: a Primeira Guerra do Golfo (1990) e a inva-são do Iraque, também chamada de Segun-da Guerra do Golfo (2003).

A Primeira Guerra do Golfo  

Com o fim da Guerra Irã-Iraque (1980- -1989), o Iraque viu-se endividado e neces-

Ocupações militares motivadas pelo interesse por petróleo

leiaOs conflitos do Oriente Médio, de François Massoulie, trata das diversas disputas no Oriente Médio e sua ligação com os interesses econômicos e geopolíticos mundiais.

Fonte de pesquisa: Smith, Dan. O atlas do Oriente Médio: o mapeamento completo de todos os conflitos. São Paulo: Publifolha, 2008. p. 47.

> Mesmo depois das guerras com o Iraque, os EUA puderam manter uma forte presença militar no Oriente Médio. Grande parte das reservas de petróleo do globo concentra-se ali, o que torna vital o domínio da região para os interesses estadunidenses.

sitando fortemente realizar uma recupera-ção econômica. Boa parte de suas dívidas ti-nha como credor o Kuwait, país ao sul de seu território e também possuidor de gran-des reservas petrolíferas.

No início dos anos 1990, o Iraque pres-sionava a Opep a diminuir a produção de petróleo como forma de aumentar o pre-ço, o que lhe daria mais recursos para sua reconstrução. Mas o Kuwait aumen-tou sua produção, não seguindo as cotas da Opep, e ainda retirando petróleo dos campos iraquianos. Além disso, o Kuwait tinha uma infraestrutura portuária mui-to melhor que a do Iraque, que fora em grande parte destruída durante a guerra nos anos 1980.

Assim, com o intuito de aumentar seu poder regional e obter uma saída maior para o golfo Pérsico, o presidente do Iraque, Sa-ddam Hussein, iniciou a guerra, anexando o Kuwait ao território iraquiano, em agos-to de 1990.

A resposta dos países árabes e dos EUA foi rápida, exigindo sanções da ONU, en-tre elas um embargo comercial e a autori-zação para envio de tropas. No início de 1991, forças militares invadiram o Kuwait para retirar dali as tropas iraquianas. A in-vasão do Kuwait por uma coalizão lidera-da pelos EUA ficou conhecida como Ope-ração Tempestade no Deserto e pôs fim à ocupação iraquiana. Vários países da região abrigaram tropas estadunidenses em seu território, principalmente o Kuwait, que permaneceu controlado pelos EUA duran-te um bom tempo. Veja o mapa ao lado.

O cessar-fogo ficou condicionado ao aban dono, pelo Iraque, de suas armas de destruição em massa e das instalações capa-zes de produzi-las.

Durante a guerra, houve uma alta signifi-cativa do preço do petróleo. Logo após seu fim, deu-se uma queda, até meados dos anos 1990, quando o preço voltou a oscilar. O controle da região pelas tropas estaduniden-ses garantiu certa estabilidade na produção e na ação da Opep. O Iraque ficou proibido de comercializar seu petróleo sem autorização direta da ONU, que apenas permitia a troca do petróleo por alimentos e remédios.

6P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 200 07.04.10 18:45:32

Page 6: Geografia_capitulo

201

A Segunda Guerra do Golfo  

A chegada de Hugo Chávez ao poder na Venezuela (1999), grande produtor mundial de petróleo, provocou uma nova escalada do preço do barril. Em seguida, com a recessão estadunidense e os atentados de 11 de setem-bro de 2001, o presidente dos Estados Uni-dos George W. Bush mostrou-se determinado a invadir militarmente o Iraque. As justificati-vas eram o apoio de Saddam Hussein ao ter-rorismo internacional, a defesa da democracia e a existência de armas de destruição em mas-sa no território iraquiano, mesmo após várias inspeções da ONU, que não encontraram tais armas. Em março de 2003, tropas estaduni-denses e inglesas invadiram o Iraque. Os Es-tados Unidos passaram a controlar as imensas reservas de petróleo iraquianas.

A guerra durou cerca de seis semanas e não teve o apoio da ONU. Vários países se posicionaram contra a guerra, como França, China e Rússia.

Em abril daquele ano, forças da coalizão lideradas pelos Estados Unidos tomaram a capital iraquiana, Bagdá, destituindo Saddam Hussein. Preso em 2004, foi executado pelo governo iraquiano em 2006.

Segundo dados de 2008, o número de iraquianos mortos após a invasão ultrapas-sou 1 milhão de pessoas, entre civis e mili-tares. As acusações de tortura e desrespeito aos direitos humanos e a morte de jovens soldados fizeram com que a ocupação ga-nhasse pouco apoio popular.

A atuação geopolítica no  

Cáucaso e na América Latina A região do Cáucaso também tem sido

palco de conflitos envolvendo o petróleo. Área de grandes reservas e de produção pe-trolífera, é uma das principais fornecedoras para a Europa e os EUA, e para a Ásia (China, Japão e Coreia do Sul). Veja o mapa abaixo.

O controle dos oleodutos e gasodutos da região tem despertado grande interesse geopolítico; assim, alguns conflitos locais têm sido apoiados pelas grandes potências, como a Rússia e os EUA.

Os principais produtores de petróleo na América Latina são Venezuela, Méxi-co e Brasil, mas há reservas significativas no Equador e na Bolívia. Esta tem destaca-da importância na produção de gás. Na últi-ma década, um novo panorama nacionalista tem modificado a geopolítica dos recursos naturais na América Latina.

Políticas de integração regional baseadas em parcerias para a exploração de petróleo e gás têm sido adotadas por meio da atuação das grandes empresas petrolíferas desses países.

Algumas parcerias na construção de refi-narias (em Pernambuco, por exemplo) e ga-sodutos (Brasil-Bolívia) marcam uma nova fase nos anos 2000, buscando reverter a perda de controle das reservas naturais ca-racterística dos anos 1990, quando a adoção das políticas neoliberais levou à privatização de empresas petrolíferas (caso da Argentina) e de reservas de gás (caso boliviano).

RÚSSIA

RÚSSIA

CAZAQUISTÃO

GEÓRGIA

ARMÊNIA AZERBAIJÃO

UZBEQUISTÃO

TURCOMENISTÃO

QUIRGUISTÃO

TADJIQUISTÃO

AFEGANISTÃO

PAQUISTÃO

ÍNDIA

TURQUIA

SÍRIA

ARÁBIASAUDITA

IRAQUE

KUWAITÁFRICA

JORDÂNIA

LÍBANOCHIPRE

ISRAEL

IRÃ

CHINAGRÉCIA

ESLOVÁQUIA

HUNGRIA

UCRÂNIA

BELARUS

ROMÊNIA

MOLDÁVIA

POLÔNIA

LETÔNIA

ESTÔNIA

LITUÂNIA

em direçãoà Europa

em direçãoà Europa

em direçãoà Europa

em direção à Europae América do Norte

em direçãoao Paquistão e

ao Golfo Pérsico

em direçãoa Xangai

em direçãoao Japão e

à China

BULGÁRIA

Mar Mediterrâneo

MarVermelho

Mar Negro

MarBáltico

MarCáspio

Mar deAral

LagoBalkhash

20°L 40°L 60°L 80°L

40°L

50°L

30°L

Golfo Pérsico km

0 545

Existente Em projeto

Sentido leste

Existente Em projeto

Sentido oeste

Principais rotas dedistribuição de petróleoe gás

Principais zonas deprospecção e exploraçãode gás e petróleo

Corredor estratégiCo para o transporte de gás e petróleo — 2005

Fonte de pesquisa: Le Monde diplomatique. L’ Atlas. Paris: Armand Colin, 2006. p. 171.

assistaO documentário Fahrenheit 11 de setembro (2004), de Michael Moore, trata dos acontecimentos ligados ao ataque às torres do World Trade Center nos EUA, das relações entre a família Bush e Bin Laden, e da invasão do Iraque.

Soldado anônimo (2005), de Sam Mendes, conta a história de um jovem estadunidense que vai para a guerra no Iraque, passando por grandes adversidades. Recheado de humor sarcástico, o filme faz uma crítica à ação dos EUA no Iraque.

leiaGuerra e globalização: antes e depois de 11 de setembro de 2001, de Michel Chossudovsky, fala sobre os principais conflitos mundiais após o ataque às torres do World Trade Center, em Nova York.

6P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 201 20.04.10 16:14:17

Page 7: Geografia_capitulo

Mundo hoje

202

para as quais fiz um trabalho de assistência humanitá-ria, que viviam sob os telhados de duas casas, e são elas que mais sofrem em tempos de guerra, principalmente quando os motivos são totalmente desnecessários.

Havia alguns agricultores que nem mesmo sabiam que houve uma Tempestade do Deserto ou uma Ope-ração Liberdade do Iraque. Foi então que me dei conta de que essa guerra foi iniciada pelos poucos que lucra-riam com ela, e não pelo seu povo; nós, como as Forças de Coalizão, não libertamos esse povo; nós o mergulha-mos ainda mais na pobreza. Não prevejo nenhuma aju-da econômica chegar em breve para esse povo, por cau-sa do modo como Bush sempre desviou sua renda com o petróleo para garantir que houvesse petróleo suficien-te para os nossos veículos utilitários-esportivos.

[...]Estamos aqui tentando manter a paz quando só nos

ensinaram como destruir. De que modo 200 mil solda-dos esperam assumir o controle desse país? Por que não temos um plano efetivo para reconstruir a infraestrutu-ra do Iraque? [...] Minha mulher e eu estamos pensando seriamente em nos mudar para o Canadá na condição de refugiados políticos.

Isto foi um pouco mais do que eu pretendia original-mente, mas espero ter transmitido a mensagem. Quero agradecer a você por criar um site interativo onde sol-dados podem se expressar livremente. Você certamente merece alguns “pontos positivos” de minha parte.moore, Michael. Cartas da zona de guerra: algum dia voltarão a confiar na América? São Paulo: Francis, 2004. p. 29-31.

Cartas da zona de guerraCrítico ferrenho do governo de George W. Bush, Michael

Moore, documentarista e escritor estadunidense, publicou cartas pessoais de soldados que lhe foram enviadas durante a Guerra do Iraque. A seguir, trechos de uma das cartas.

De: Kyle WaldmanEnviado em: sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004,

2:35 a.m.[...]Michael Moore,Tenho vivido em um mundo de contradições entre o meu

compromisso como membro do serviço militar e minha fi-delidade à minha moral e aos meus valores. Primeiramente, devo explicar por que optei por me alistar no exército.

Eu era um ingênuo rapaz de 19 anos à procura de um caminho diferente na vida. Como a maioria dos soldados alistados, entregamos as nossas vidas antes de passar re-almente por um processo de autoexame para nos ajudar a entender o que é um compromisso exigente. Certamente não sabíamos o que é ser soldado, mas iríamos descobrir muito em breve.

[...]Quando a guerra foi declarada, os Estados Unidos

pareceram desumanizar o povo iraquiano, tornando to-dos inimigos. [...] O tempo que passei no Iraque me en-sinou um pouco sobre o povo iraquiano e a condição desse país dilacerado pela guerra e assolado pela fome.

O índice de analfabetismo nesse país é extraordiná-rio; a maioria dos civis completa um nível de educação equivalente à nossa quinta série. Há algumas famílias,

Para elaborar

Considerando o texto, o mapa, o gráfico e os seus conhecimentos, responda: É possível falar em um “custo humanitário do petróleo”? Discuta a questão com os colegas e, a seguir, escreva um texto expondo a conclusão a que você chegou.

Fonte de pesquisa: Smith, Dan. O atlas do Oriente Médio: o mapeamento completo de todos os conflitos. São Paulo: Publifolha, 2008. p. 101.

Rio Eufrates

outros103

Número de mortos no Iraque(maio 2003–mar. 2006)

civisiraquianos

28156

militaresiraquianos

1719

EUA2305

Reino Unido103

militares

Iraquianos mortos por região(maio 2003–jan. 2006)

civis

Anbar183 2359

Qadisiya1 68

Bagdá498 14966

Najaf26 749

Muthanna2 121

Basra39 1625

Dhiqar8 974

Misan10 31

Wasit12 435

Babil130 1308

Diyala280 1126

Salahuddin171 1106

Ninawa162 1303

Dahuk1 3

Arbil60 140

Tamim118 779

Sulaymaniyah0 85

Karbala18 978

SÍRIA

TURQUIA

JORDÂNIA

ZONA NEUTRA

40°L

GolfoPérsico

35°N

30°N

45°L

ARÁBIASAUDITA

IRÃ

KUWAIT

km

0 155

NúmErO DE mOrtOS NO irAqUE

4P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 202 3/31/10 6:07:00 PM

Page 8: Geografia_capitulo

203

Informe

limites no âmbito das ações soberanas individuais dos países, no tratamento das instituições que fundamen-tam esse comércio de gás – sem renunciar à noção de soberania de cada Estado nacional.

Esses benefícios e limitações gerais tomam contor-nos específicos para países produtores e consumidores. Os países produtores poderão desfrutar de investimen-to para exploração e desenvolvimento de reservas; segu-rança na comercialização do produto da lavra e, portan-to, segurança de um fluxo estável de receitas no longo prazo; controle monopólico de grandes segmentos de mercado consumidor. [...]

Os consumidores, por sua vez, terão assegurado o fluxo contínuo de um insumo essencial para o sistema produtivo, e poderão ter esse insumo a um preço menor do que pagariam pelo recurso importado de fora da re-gião. Em contrapartida, deverão assegurar o pagamen-to regular ao produtor; submeter-se em alguma medida à flutuação especulativa dos preços internacionais do gás natural; e conceder controle monopólico de longo prazo sobre parte considerável de seus mercados nacio-nais de gás. O elemento distributivo, que vai determi-nar se as partes estão ou não razoavelmente satisfeitas, deverá materializar-se na definição de instrumentos que tornem operacionais uma convenção (coordenação) de repartição do valor do gás natural entre produtores e consumidores.Ghirardi, André. Gás natural na América do Sul: do conflito à integração possível. Le Monde diplomatique. Disponível em: <http://diplo.uol.com.br/2008-01,a2109>. Acesso em: 22 jul. 2009.

A função integradora da indústria de gás natural na América do Sul

Enquanto instrumento de integração, a infraestru-tura de energia representa um desafio maior do que outros tipos de infraestrutura (estradas, ferrovias, tele-comunicações). Há pelo menos duas razões para isso. A principal delas é a natureza estratégica dos bens en-volvidos e sua relevância como elemento de seguran-ça nacional. Outra é que requer simultaneamente um alto grau de integração comercial (compra e venda de bens) entre os países. [...]

A possibilidade de integração pela indústria de gás natural oferece vantagens. Os países da região buscam aproveitar a complementaridade entre oferta e deman-da, a capacidade de financiamento e a capacitação tec-nológica. Há necessidade de investimentos nos diversos segmentos da indústria, seja para explorar e expandir a base de reservas e produção, como para construir redes de transporte que levem o produto desde os campos até os centros consumidores, ou ainda para construir redes locais de distribuição nos centros urbanos. A constru-ção de uma rede de comércio regional de gás pode, de fato, ser um instrumento eficaz para o desenvolvimento dos países do bloco regional.

[...] Para integrar, é preciso obter um equilíbrio es-tável entre a liberdade (ou autonomia) das partes e o controle (ou cooperação) do todo. Se há vantagens a se-rem auferidas pelas partes que compõem a integração, há igualmente limites que permitem a realização dessas vantagens. Dessa contradição intrínseca resulta que o problema central da integração é a distribuição dos be-nefícios produzidos.

[...] Em princípio, a integração das sociedades da região, através de uma estrutura de produção-transporte-con-sumo de gás, possibilita pelo menos dois benefícios gerais. Primeiro: maior dinamismo das economias integran-tes, como base para elevar o nível de produção e melhorar a distribuição do produto dentro de cada país. Segundo: poder conjunto, para negociar diante da comunidade internacional, maior do que teria cada uma das partes iso-ladamente. Como contrapartida a esses benefícios gerais apresenta-se a neces-sidade conjunta de obter acordo sobre

1. Quais os principais elementos apresentados no texto que justificam a função integradora da indústria de gás natural?

2. Por que essa integração é um desafio? Explique.

Para discutir

> Operário dá os últimos retoques antes da inauguração do gasoduto Brasil-Bolívia. Corumbá (MS), fevereiro de 1999.

4P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 203 3/31/10 6:07:01 PM

Page 9: Geografia_capitulo

ArábiaSaudita

264,3

137,5115,0

101,5 97,880,0 79,5

41,5 39,8 36,2 29,917,1 16,3 15,2

Sem considerar asreservas de Tupi

12,9 12,3 12,2 9,0 7,08,5Em.

ÁrabesVene-zuela

Casa-quistão

Irã Iraque Kuwait Rússia Líbia Nigéria Canadá China Qatar MéxicoArgélia Brasil Angola Noru-ega

Azer-baijão

EUA

1°· 2°· 3°· 4°· 5°· 6°· 7°· 8°· 9°· 10°· 11°· 12°· 13°· 14°· 15°· 16°· 17°· 18°· 19°· 20°·

80ºN

60ºN

60ºS

80ºS

40ºN

40ºS

20ºN

20ºS

30ºL30ºO 0º 60ºL60ºO 90ºL90ºO 120ºL120ºO 150ºL 180º150ºO180º

OCEANOPACÍFICO

OCEANOPACÍFICO

OCEANOATLÂNTICO

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO

OCEANOÍNDICO

Trópico de Capricórnio

Mer

idia

no

de

Gre

enw

ich

Equador

Trópico de Câncer

Círculo Polar Ártico

Círculo Polar Antártico

1°·2°·3°·

5°·6°·

7°·

8°·

9°·

10°·

20°·11°·

12°·

13°·

14°·

Países da Opep (Organização dosPaíses Exportadores de Petróleo)

15°·16°·

17°· 18°·

19°·

4°·

Outros países com grandesreservas de petróleo

km

0 5500

Maiores reservas de petróleo — 2004

US

$/b

arri

l (20

04

)

1970

1975

198

0

198

5

199

0

199

5

20

00

50

40

30

20

10

0

2º choquedo petróleo

Hugo Chávezassume invasão do

Iraque

1ª Guerrado Golfo

Revolução Iraniana:Khomeini no poder

criseasiática

recessão nosEUA

Kadafi toma o poder,Opep se rearticula

Guerra Irã-Iraquee progressiva

desarticulação daOpepGuerra do Yom

Kippur: 1o_ choque do petróleo

Oscilação do preço do petróleo e crises políticas mundiais

MÉXICO

CANADÁ

AMÉRICA CENTRALE DO SUL ÁFRICA

OCEANIA

CHINA

Fluxo de petróleo(milhares de barris/dia)

7500 3200 1100 300

Nota: Em mapas como este, emprojecão azimutal oblíqua,

não é possível indicar orientação.de 100à 500

JAPÃO

SUL E LESTEAFRICANO

ORIENTEMÉDIO

SUL ESUDESTEASIÁTICO

EUROPA CEI

ESTADOSUNIDOS

Importações de petróleo(milhares de barris/dia)

11500

5200

1200700

14_c_0234_EMG3_199_LA

km

0 3725

principais fluxos de petróleo e iMportações petrolíferas (2005)

204

Atividades

14 Geopolítica do petróleo atenção: não escreva no livro. Responda a todas as questões

em seu caderno.

b) Compare essas reservas, referentes ao ano de 2004 com o panorama da indústria de petróleo do início do século XX. Aponte as permanências e transformações observadas de um momento para o outro.

c) É possível dizer que o quadro geopolítico mun-dial se alterou em razão das transformações operadas na indústria do petróleo? Justifique sua resposta.

Observe o gráfico a seguir.11.

revendo conceitos

Cite argumentos que justifiquem a importância es-1. tratégica do petróleo como fonte de energia para o mundo atual.

Que eventos marcaram a transformação do petró-2. leo de um produto estadunidense para um produto global?

Apresente dados que comprovem que a Standard 3. Oil detinha o monopólio da cadeia produtiva do pe-tróleo no fim do século XIX.

Por que é possível dizer que as Sete Irmãs do 4. petróleo agiam como um cartel? Quais eram os mecanismos utilizados por essas empresas nesse sentido?

Qual a importância da Opep no enfraquecimento 5. das Sete Irmãs? Quais são seus métodos de ação?

O que foram os “choques do petróleo”?6.

Quais as principais consequências das crises do pe-7. tróleo no mundo atual?

Que causas específicas levaram a cada uma das 8. guerras do Golfo? Qual é o interesse fundamental por trás de ambas?

Qual a importância da região do Cáucaso, do ponto 9. de vista da geopolítica do petróleo?

lendo mapas e gráficos

Observe o mapa a seguir.10.

a) Em que região se localizam os cinco países com as maiores reservas de petróleo do mundo?

Fonte de pesquisa: OPEC Annual Statistical Bulletin 2008. Disponível em: <http://www.opec.org/opec_web/static_files_project/media/downloads/publications/ASB2008.pdf>. Acesso em: 7 maio 2010.

Fonte de pesquisa: DuranD, M. F. et al. Atlas de la mondialisation: comprendre l’espace mondial contemporain. Paris: Sciences Po, 2008. p. 99.

a) Localize os anos em que houve picos de alta no preço do barril. Que eventos da economia mundial podem ser relacionados a cada um desses picos?

b) Que eventos da política mundial estão relaciona-dos a cada um desses eventos econômicos?

c) De acordo com o que você estudou sobre a in-dústria e a geopolítica do petróleo, o que po-deria ajudar a diminuir o impacto desse tipo de evento sobre cada país?

Analise o mapa a seguir e responda às questões.12.

Fonte dos dados: Carta Capital, n. 291, ano X, 19 maio 2004. p. 42.

Para incluir esta página no sumário, clicar + shift + command na caixa com texto transparente abaixo

EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 204 5/7/10 2:56:03 PM

Page 10: Geografia_capitulo

205

– Porque as companhias estrangeiras que nos vendem petróleo não têm interesse nisso. E como não têm interesse nisso foram convencendo o brasi-leiro de que aqui, neste enorme território, não havia petróleo. E os brasileiros bobamente se deixaram convencer...

– Que araras! – exclamou Emília. – Mas não es-tão vendo petróleo sair em todos os países vizinhos do nosso?

– Estão, sim, mas que quer você? Quando um povo embirra em não arregalar os olhos não há quem o faça ver. As tais companhias pregaram as pálpebras dos brasileiros com alfinetes. Ninguém vê nada, nada, nada...Lobato, Monteiro. O poço do Visconde. São Paulo: Brasiliense, 1963. p. 22-23.

O trecho selecionado integra uma obra infanto ju-venil, que revela um importante debate na socieda-de brasileira, na época em que foi publicado pela primeira vez (1937): a possibilidade ou a impossibili-dade de haver petróleo no Brasil. Assim, responda:a) Que argumento o texto traz para afirmar que cer-

tamente há petróleo no Brasil? Esse argumento tem coerência, do ponto de vista científico?

b) E como o texto explica a obstinação, na época, em negar a existência de petróleo no Brasil? Essa negativa tinha motivações científicas ou políticas?

Crie uma legenda para a imagem a seguir e escreva 15. um texto sobre o tema explorado por ela.

a) Quais são as principais regiões produtoras de petróleo?

b) Quais as principais regiões consumidoras?c) Escolha um dos fluxos apresentados e escreva

sobre as questões econômicas e geopolíticas nele implicadas.

Interpretando textos e imagens

Leia o texto que segue. 13.

O diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, disse nesta segunda-feira que o bloco BM-S-9, conhecido como Carioca, pode ser o terceiro maior campo de petróleo do mundo. Segundo ele, o poço, que teria reservas em torno de 33 bilhões de boe (barris de óleo equivalente), seria cinco vezes maior que o megacampo de Tupi, na Ba-cia de Santos.Junior, Cirilo; rodrigues, Lorenna. Brasil pode ter 3o maior campo de petróleo do mundo; governo pede cautela. Folha de S.Paulo, 14 abr. 2008. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u392021 .shtml>. Acesso em: 15 out. 2009.

a) É razoável supor que, caso se confirmem as des-cobertas mencionadas pelo texto, venha a se modificar o papel do Brasil, do ponto de vista es-tratégico, no contexto mundial? Justifique sua resposta.

b) Que medidas o governo pode tomar, em relação ao petróleo, para fortalecer seu papel estratégi-co na geopolítica mundial? Apresente argumen-tos em um texto no seu caderno.

Leia atentamente o texto a seguir.14.

– E nós, no Brasil, quantos poços abrimos?

– Que desse petróleo, nenhum. Até hoje foram abertos no território brasileiro apenas sessenta e poucos poços, na maioria rasos demais para atingir alguma camada petrolífera.

– Que vergonha! E a Argentina?

– A Argentina já abriu mais de quatro mil, quase todos produtivos.

– E os outros países da América?

– Todos estão cheios de poços de petróleo, don-de tiram milhões e milhões de barris. A Venezuela conseguiu tornar-se o terceiro produtor do mundo, com mais de duzentos e oitenta milhões de barris por ano. O Peru extrai milhões de barris. A Colôm-bia extrai outros milhões. O Equador extrai outros milhões. A Bolívia, idem. Todos os vizinhos do Bra-sil são grandes produtores de petróleo, exceto o Uruguai e o Paraguai. [...]

– Então por que não se perfura no Brasil? > Ilustração de Robert Balazik.

6P_EMG3_LA_U04_C14_196a205.indd 205 20.04.10 17:00:56