Geração sustentável - edição 27

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Projeto de ciclovia elevada contribui com a mobilidade e a segurança do cidadão Sustentax cria selo para reconhecer produtos sustentáveis Pensamento SISTÊMICO Veja as dicas de consultores para conectar a sua empresa com a sociedade e o meio ambiente [ ] A N O 6 EDIÇÃO 27 • R$ 11,90 A REVISTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL CORPORATIVO

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Visão sistêmica

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Projeto de ciclovia elevada contribui com a mobilidade e a segurança do cidadão

Sustentax cria selo para reconhecer produtos sustentáveis

PensamentoSISTÊMICO

Veja as dicas de consultores para conectar a sua empresa com a sociedade e o meio ambiente

[ • ] A N O 6 E D I Ç Ã O 2 7 • R $ 1 1 , 9 0

A REVISTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL CORPORATIVO

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06 Editorial

07 Mundo Digital

08 Sustentando

50 Vitrine Sustentável

28 Gestão Estratégica

39 Perfil Profissional

44 Gestão Sustentável

Ano 6 • edição 27

A reciclagem é o destino final mais adequado para esta revista.Lembre-se: o seu papel é importante para o planeta!

Colu

nas

Mat

éria

s

12 Entrevista Ozires Silva

16 Capa Pensamento Sistêmico e Visão Estratégica: Combinação ideal para gerir o mundo corporativo

24 Tecnologia & Sustentabilidade Sustentabilidade comprovada em rótulo

30 Desenvolvimento Local Excesso de impostos e importações ameaça indústria têxtil brasileira

36 Responsabilidade Social Corporativa Pelo futuro das empresas

40 Empreendedorismo Iniciativa de inclusão transforma a vida de pessoas por meio do empreendedorismo

46 Acessibilidade Sustentabilidade sob duas rodas

Anu

ncia

ntes

e Pa

rcer

ias02 e 03 Junior Achivement

05 Consult

11 Expolux

17 GBC

23 Ambiente EXPO

29 FAC

34 e 35 D&G

43 Civitas

45 EBS

49 DFD

51 Unimed/PR

52 Reciclação

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16Capa

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Editorial

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Diretor Executivo Pedro Salanek Filho ([email protected]) • Diretora Admi-nistrativa Giovanna de Paula ([email protected]) • Relações Corporati-vas Fabrício Campos ([email protected]) • Projeto Gráfico e Direção de Arte Marcelo Winck ([email protected]) • Conselho Editorial Pedro Salanek Filho, Antenor Demeterco Neto, Ivan de Melo Dutra e Lenisse Isabel Buss • Colaboraram nesta

edição Jornalistas: Bruna Robassa, Letícia Ferreira, Lyane Martinelli e Karla Ramonda ([email protected]) • Revisora Alessandra Domingues • Assinaturas [email protected] • Fale conosco [email protected] • Impressão Gráfica Capital • ISSN nº 1984-9699 • Tiragem da edição: 10.000 exemplares • 27ª Edição • janeiro/fevereiro • Ano 6 • 2012

A impressão da revista é realizada dentro do conceito de desenvolvimento limpo. O sistema de revelação das chapas é feito com recirculação e tratamento de efluentes. A revista é produzida com papel certificado. O resíduo das tintas da impressora é retirado em pano industrial lavável, que é tratado por uma lavanderia especializada. As latas de tintas vazias e as aparas de papel são encaminhadas para a reciclagem. Em todas as etapas de produção existe uma preocupação com os resíduos gerados.

Revista Geração Sustentável Publicada pela PSG Editora Ltda. CNPJ nº 08.290.966/0001-12 - Rua Bortolo Gusso, 577 - Curitiba - PR - Brasil - CEP: 81.110-200 - Fone: (41) 3346-4541 / Fax: (41) 3092-5141

www.geracaosustentavel.com.brA revista Geração Sustentável é uma publicação bimestral independente e não se responsabiliza pelas opi-niões emitidas em artigos ou colunas assinadas por entender que estes materiais são de responsabilidade de seus autores. A utilização, reprodução, apropriação, armazenamento de banco de dados, sob qualquer forma ou meio, dos textos, fotos e outras criações intelectuais da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL são termi-nantemente proibidos sem autorização escrita dos titulares dos direitos autorais, exceto para fins didáticos.

Errata: Na edição 26 na matéria da editoria: Visão Sustentável o nome correto da empresa mencionada é Honda Prix.

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Você possui visão sistêmicana gestão do seu negócio?

O tema de capa dessa edição envolve um assunto de grande relevância para o “pensar sustentável”. A sustentabilidade efetivamente está na pauta estratégica dos negócios e veio, sem dúvidas, para ficar. Será que já mudamos a forma de pensar antes de começar a agir?

É comum alguns profissionais, principalmente do ambiente acadêmico, mencionarem a sustentabilidade como um tema interdisciplinar e que seja incluído, de forma transversal, em outras disciplinas. Dentro dessa linha, essa área começa a ganhar amplitude e complexidade, visto que envolverá diversas variáveis, tanto internas como externas, bem como as con-troláveis e as não controláveis. A interpretação começa a tomar forma de rede e cada agente (indivíduo dessa rede) começa a ter várias inter-relações e conexões. Essa construção que começa a se definir exige que busquemos outras habilidades, além de uma percepção que irá muito além de um plano linear.

Começa a ficar claro que decisões pontuais e unilaterais não irão trazer soluções eficientes. Será necessário (e também obrigatório) começar a olhar além das condições individuais, desenvolvendo uma percepção holística do sistema que está se formando, fazendo-se necessário o desenvolvimento de uma visão sistêmica. Em linhas gerais, podemos definir o sistêmico como a condição de "enxergar o todo", enquanto o não sistêmico (estilo mais cartesiano) teria uma visão mais engessada em modelos padronizados e critérios mais mecanicistas e lineares. Parece até ser uma questão simples, mas na maioria das vezes o imediatismo por resultados e a ganância pela lucratividade limitam que o gestor construa esse olhar do todo. O gestor irá perceber que a continuidade do negócio, o surgimento de novas oportunidades e a manutenção ou o crescimento da lucratividade estará nesse novo contexto.

Além da temática de pensamento sistêmico, esta edição traz ainda um panorama do setor têxtil brasileiro e suas dificul-dades com a concorrência dos produtos importados e as altas cargas tributárias. Na editoria Acessibilidade, você encontrará um projeto de ciclovia elevada criado por um arquiteto de Curitiba. O selo da Sustentax é o destaque na matéria sobre tec-nologia e sustentabilidade.

Boa Leitura!Pedro Salanek Filho

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A REVISTA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL CORPORATIVO

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Prêmio promovido pelo ISAE-FGV reconhece iniciativas empreendedorasIncentivar as empresas e empreendedores que desempenham projetos com olhar voltado para a sustentabilidade. É esse o objetivo do prêmio Ozires Silva, promovido pela ISAE/FGV, que reconhece iniciativas empreendedoras que fazem a diferença também no quesito sustentabilidade. De acordo com Norman Arruda, superintendente da ISAE/FGV, “de nada adianta ter uma boa ideia que tenha sucesso apenas no pilar econômico. Se o projeto não contemplar a área ambiental e social, acabará sucumbindo a médio ou longo prazo”. Além de organizações da área pública ou privada,

de qualquer porte ou segmento, o Prêmio em 2012 também contempla estudantes e empreendedores, as pessoas físicas. Empresas, pessoas físicas e comunidade acadêmica puderam inscrever seus projetos nas categorias Empreendedorismo Econômico, Ambiental, Educacional e Social. “Este ano, incluímos a categoria estudante porque queremos incentivá-los a, cada vez mais, desenvolver projetos voltados para esse tripé da sustentabilidade”, afirma Arruda. A avaliação do prêmio é baseada, principalmente, nos critérios de consistência do plano de negócios, cuidado ambiental, social e econômico. Essa metodologia é refinada a cada ano, com foco nos três pilares da sustentabilidade. Todos os projetos inscritos são avaliados por, pelo menos, três jurados. Os jurados elegem os finalistas que passam por uma banca de avaliação. “Eles apresentam seus trabalhos para uma banca de jurados convidados, sendo esses profissionais de notória importância e de renomada atuação, agindo de maneira soberana nas decisões”, explica Arruda. O resultado vem da média aritmética das notas atribuídas dentro de vários quesitos, incluindo a apresentação para os jurados.

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Uma telha na geladeiraVocê sabia que uma caixinha longa vida de leite pode ser transformada em telhas? É isso mesmo. As embalagens são feitas de um material com uma vida longa e a sua reciclagem pode contribuir muito para um futuro melhor para o planeta. Com o intuito de estimular o aumento da reciclagem dessas caixinhas do nosso dia a dia, a Tetrapak criou o portal “Rota da Reciclagem”, que mostra aos consumidores os pontos de coleta seletiva de embalagens longa vida. É só digitar o endereço e descobrir os locais por toda a cidade. Ao todo, no Brasil, já são 3400 locais cadastrados para a coleta. O portal também tem um aplicativo gratuito para iPhone e iPad que indica onde é possível fazer a entrega desses materiais. www.rotadareciclagem.com.br

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Cidadania embalada para criançasO Instituto de Embalagens, criado em 2005, no Brasil, para promover o desenvolvimento do setor no país, busca ensinar e estimular crianças sobre educação ambiental. Por isso, criou o “Conjunto de Educação Ambiental”, um kit que contém uma cartilha que ensina as crianças sobre embalagens, seus usos, como descartar corretamente embalagens e as formas de transformá-las em instrumentos para um mundo melhor; um caderno com exercícios sobre os conteúdos da cartilha e adesivos para que as crianças possam identificar as lixeiras de forma correta, como uma prática do aprendizado. A cartilha é sustentável, produzida em BOPP reciclado e com a impressão feita com tintas especiais, que torna o material impermeável à água.

Sapato com selo sustentávelO Laboratório de Sustentabilidade da Escola Politécnica da USP em parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) está desenvolvendo um selo para atestar que os sapatos produzidos no Brasil são feitos de forma sustentável. Estudantes de um projeto do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) vieram ao Brasil para avaliar o impacto das ações de sustentabilidade na cadeia produtiva de calçados. O MIT estima que sapatos sustentáveis tenham seu preço final 25% mais caro que calçados comuns. Por isso, o selo é parte de uma estratégia para conscientizar consumidores e formar parcerias de apoio a projetos sustentáveis na área. Para ter o selo verde, os fabricantes terão de se enquadrar em quatro quesitos:- Econômico, com o uso racional de matérias-primas, economia de água e energia, e aspectos ligados à produtividade;- Ambiental, com a não utilização de substâncias tóxicas, como o cromo, usado no amaciamento do couro;- Social, com questões de saúde preventiva, segurança no trabalho, incentivos dados aos funcionários em relação à educação e o não uso de mão de obra infantil;- Cultural, com a interação positiva da empresa com as comunidades locais onde atua.

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Mais sujeira no mundo

Aumentou o consumo de carvão no mundo. A afirmação é do Centro de Informações

Energéticas (EIA) do governo norte americano, que mostra que a demanda por carvão quase

dobrou em todo o mundo desde 1980. A Ásia é a principal consumidora da fonte mais suja de energia e 73% de todo o consumo de carvão do continente é de responsabilidade da China. O EIA estima que a China já consome metade de todo o carvão mineral produzido no mundo. Essa forma de energia é a que mais emite gás carbônico para cada watt gerado. O grande problema é convencer

países emergentes asiáticos a abrir mão de um recurso abundante e barato em nome no

equilíbrio do clima global. Hoje, a China já investe em hidrelétricas e energia eólica, mas não consegue se comprometer em reduzir a quantidade de carbono emitido por dólar gerado.

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Trocando garrafas por bicicletasUm meio de transporte alternativo, barato e saudável. E além de tudo, pode ser ainda mais sustentável. A conhecida bicicleta, em um projeto do inventor uruguaio Juan Muzzi, que reside no interior de São Paulo, usa garrafas PET para produzir os “quadros” das bicicletas. Para cada bicicleta, ele usa 200 unidades de garrafas PET, que deixam de ir para aterros sanitários ou poluir o meio ambiente. Além de ser uma solução para o uso dos resíduos, o material proporciona ter uma bicicleta mais resistente e barata, que não enferruja, é mais leve e que continua sendo reciclável. Já estão sendo feitos estudos para utilizar também outros materiais nessa produção, como para-choques de carros e embalagens de shampoo. A meta do inventor é produzir 132 mil unidades por ano, reciclando 15,8 milhões de garrafas. Por enquanto a Muzzzicycle (nome que o inventor deu a nova bicicleta) é produzida sob encomenda e o preço pode variar de R$250 a R$ 3 mil. Já são 2,5 mil pessoas na fila de espera e quem quiser pode baratear o preço da nova bike levando as suas próprias garrafas PET.

Bib

liote

ca

a flor no concretoUm reencontro com a naturezae os valores humanosmarisol isidoro

ManUal Do eMPreenDeDorComo construir um empreendimento de sucessojerônimo mendeseditora atlas

loGÍStIca reVerSaEm busca do equilíbrioeconômico e ambientalPatriCia GUarnierieditora ClUBe de aUtores

o ProPÓSIto Do SÉcUlo XXIUm plano vital pra assegurar nosso futurojames martinCUltriX - amana-KeY

aqUecIMento Global ecrÉDItoS De carbonorafael Pereira de soUza (orG.)editora qUartier latin

SUStentabIlIDaDe PlanetárIa, onDe eU entro nISSo?faBio feldmannterra VirGem editora

cIÊncIa aMbIentalTerra, um Planeta Vivodaniel B. BotKin e edward a. KellerltC editora

aUDItorIa aMbIental floreStaljUlis oráCio feliPeeditora ClUBe dos aUtores

GeStão Para a SUStentabIlIDaDejUlis oráCio feliPeeditora ClUBe dos aUtoreseditora atlas

eScolhaS SUStentáVeISDiscutindo biodiversidade, uso da terra, água e aquecimento globalrafael morais ChiaraValloti e CláUdio Valadares PádUaeditora UrBana

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Ozires Silva nasceu em Bauru/SP, em 1931. É engenheiro aeronáutico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e atuou como oficial da Força Aérea Brasileira e no Correio Aéreo Nacional. Destaca-se pela sua contribuição para o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira com a criação da Embraer, em-presa da qual foi presidente por vinte anos. Atuou também como presidente da Petrobras e da Varig, na área política foi ministro de Estado da Infraestrutura. Atualmente é Reitor da UNISA – Universidade de Santo Ama-ro de São Paulo, presidindo também a OSEC – Organização Santamarense de Ensino e Cultura; Presidente do Conselho Consultivo do WTC – World Trade Center de São Paulo e Presidente do Conselho de Administração da PELE NOVA Biotecnologia S/A. Autor de vários livros e homenageado por diversas vezes no Brasil e no mundo, Ozires Silva também faz parte de uma série de Conselhos e de Associações de Classe. Nesta edição da revista GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, ele comenta sobre os desafios que enfrentou na implantação de seus projetos inovadores e a respeito dos impactos socioambientais atuais no setor da aviação.

Entrevista

Ozires Silva

Empreendedorismo: entusiasmo e tenacidade para colher bons resultados

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Desse modo, temos que colocar o objetivo de ter êxito e construir a sustentabilidade dentro dos limites do possível. A sustentabilidade não pode ser constituída numa limitação das ações, pois tendo em vista a variação dos modos de vida, que sempre afetaram e afetarão os empreendimentos, podem vir de qualquer região ou país do mundo global. Assim, embora diferente do que se pensou no passado, diria ser quase impossível responder a isso no início de um projeto.

O ISAE/FGV promove anualmente o prêmio de empreendedorismo sustentável que leva o seu nome. Quais são os pontos relevantes dessa iniciativa?A iniciativa do prêmio veio da decisão do Profes-sor Norman Arruda que, de forma generosa, julgou que o meu nome poderia incentivar, sobretudo os jovens e estimulá-los a empreender. Assim, entendo – e o Professor Norman pode entender

diferentemente – que entre os pontos relevantes podemos nos referir a mostrar que, muitas vezes, um sonho pessoal – como o meu de transformar o Brasil num produtor mundial de aviões – por dis-tante que possa parecer, reunindo os atributos de fé, entusiasmo e crença no sucesso, pode ter êxito.

Com relação às empresas do setor de aviação. Quais são os maiores impactos socioambien-tais que elas causam? Como superá-los?O impacto ambiental da operação de aviões, de longe, é muito menos significativo, do que o dos veículos de superfície, que usando motores bem ineficientes provocam danos ambientais mui-to maiores do que os aviões. Do ponto de vista social, o avião é uma extraordinária ferramenta de transporte rápido e um dos mais importantes atributos do mundo moderno, graças a sua veloci-dade e a capacidade de vencer distâncias, isso o torna como um dos mais eficazes dos instrumen-tos hoje disponíveis para assegurar as crescentes exigências da mobilidade moderna. Portanto, visto

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Com sua ampla experiência como gestor e em-preendedor em uma trajetória que envolveu riscos, desafios e grandes feitos, quais reco-mendações o senhor daria hoje para uma pes-soa que deseja iniciar seu empreendimento?Diria que é preciso sonhar, acreditar no que so-nhamos e que um dia esses sonhos possam se transformar em realidade. Perseguir sempre, com entusiasmo, fé e tenacidade nossos projetos e não desistindo até que, um dia, seja possível comemo-rar resultados que tragam benefícios para todos.

Atualmente, são muito questionados os fato-res socioambientais nos negócios, como via-bilizar uma empresa de forma responsável e lucrativa?O sonho é um ponto de partida. Daí por diante, os objetivos passam a ser os mais diferentes, con-forme as circunstâncias. E não bastam os limites que colocou de “responsável e lucrativo”. Muitos outros atributos devem ser vencidos, inclusive, os que apontou, e isso varia de empreendimento para empreendimento. Não há dois iguais!

Como disseminar para o mercado consumidor as iniciativas sustentáveis e como torná-las diferenciais competitivos?Nem todas as iniciativas partem como susten-táveis e com diferenciais competitivos, embora sejam itens importantes a serem considerados desde o início, mas tudo depende do período ne-cessário para consolidar o empreendimento. O mundo não está parado e não nos espera. Os cenários mudam sempre e temos de adaptar os projetos, à medida que se avança, tendo em vista os fatores externos. Se olharmos as histórias dos empreendimentos vamos ver que a concepção do empreendedor, dos instantes iniciais, foi parcial ou inteiramente alterada quando o produto estava pronto para enfrentar o mercado e os consumido-res. Como ocorreu no caso dos aviões brasileiros, que hoje foram vendidos e operam em mais de 90 países, o diferencial competitivo, visto desde o iní-cio, centrando-se na criação de um mercado para a Aviação Regional, revelou-se algo da maior impor-tância para os sucessos da atualidade.

Como contribuir para a formação e o reconhe-cimento de empreendedores dentro desses novos desafios da sustentabilidade?Novamente, a sustentabilidade é um atributo, im-portante, mas deve ser considerado entre muitos outros. Sinto a preocupação das perguntas, cen-tradas em sustentabilidade, o que, no mundo dos homens, não tem sido suficiente para o sucesso.

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O mundo não está parado e não nos espera. Os cenários mudam sempre e temos de adaptar os projetos, à medida que se avança, tendo em vista os fatores externos

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Entrevista

O impacto ambiental da operação de aviões, de longe, é muito

menos significativo, do que o dos veículos de superfície, que

usando motores bem ineficientes provocam danos ambientais

muito maiores do que os aviões

sob esses ângulos, o avião provoca muito menos prejuízos sociais do que seus concorrentes terres-tres.

O senhor acredita que existiram alternativas eficientes e menos poluentes no que diz res-peito aos combustíveis utilizados na aviação? Estaremos, dentro de alguns anos, viajando em aviões “ecológicos”?Os aviões hoje respondem por 2% do chamado efeito estufa, da escala mundial, o que repre-senta valores menores, do que as alternativas de transporte. Os gases de escapamento dos moto-res aeronáuticos são menos poluidores do que os dos motores, por exemplo, dos automóveis, ôni-bus, etc. A combustão nos motores aeronáuticos requer mais ar de combustão, do que os motores convencionais a pistão, instalados nos demais veículos, pois, para cada unidade de combustível precisa de 15 unidades de ar, permitindo combus-

tão mais completa do que nos automóveis que queima apenas 1/3 do ar utilizado pelos motores aeronáuticos. No momento atual, embora experi-mentos com biocombustível estejam sendo reali-zados, sou muito cético sobre a possibilidade de êxito nessas direções, pelo menos em relação ao que tem sido conseguido até o momento. Os bio-combustíveis têm-se apresentado com um poder calorífico da ordem de 30%, mais baixo do que o querosene de aviação. No avião, o peso é um pa-râmetro entre os mais importantes e os tanques de combustíveis têm de oferecer, para um mesmo vo-lume de armazenamento, a maior quantidade de energia por unidade de peso. Assim, se o combus-tível alternativo tiver um poder calorífico menor,

ele vai requerer mais peso por unidade de potên-cia produzida. Isso reduz a carga-paga dos aviões, reduzindo sua operação economicamente viável.

Iniciativas governamentais como aquela im-plantada na Europa no início deste ano, tari-fando as companhias aéreas e obrigando-as a compensar todo o carbono emitido durante os seus voos. Essa ação do governo é válida? Há um bocado de demagogia, diria, nessas orien-tações. Porque não se faz isso para os outros meios de transporte muito mais poluidores do que os aviões, quando sabemos que os aviões quei-mam pouco mais de 2% do petróleo consumido no mundo, hoje estimado em quase 90 milhões de barris/diários? Note que parece ser objetivo das autoridades centrar suas colocações muito mais contra atividades que tenham impacto junto à opinião pública, evitando atacar aquilo que afe-ta as pessoas diretamente, como os automóveis particulares ou o transporte de cargas a base de combustível diesel.

Em sua opinião, compensação de carbono re-solve o problema ambiental? Pode ser consi-derada de fato uma ação sustentável?Boa a sua pergunta. Realmente, o que coloca a ne-cessidade de olhar o meio ambiente no seu todo. Temos que considerar outros itens, como as emis-sões de particulados resultantes da combustão de um modo geral, do lixo, dos recicláveis, poluição das águas, do solo, extinção das espécies, des-matamento e assim por diante. Como vê, embora todos os esforços na direção de reverter as ações generalizadas contra a vida do planeta ainda não tenha faturado resultados positivos mensurados e palpáveis.

Que mensagem final o senhor quer deixar aos leitores da revista Geração Sustentável?Seria uma mensagem simples. Recebemos da Na-tureza um planeta com condições excepcionais para a criação e a preservação da vida, tanto ani-mal como vegetal. O homem na sua marcha para o desenvolvimento não levou tudo isso a sério suficientemente e, como sabemos, desenvolveu uma capacidade muito superior a qualquer ou-tra espécie na Terra, de destruir tudo isso, cujo equilíbrio, como sabemos, é sensível ao extremo. Assim, precisamos, como a Revista GERAÇÃO SUS-TENTÁVEL prega, reverter tudo isso. É fundamental e necessário. E, mais, o que deve nos preocupar é que o período de tempo que temos para conseguir resultados não é infinito.

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Capa

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o livro Tieta do Agreste, a Pastora de Cabras, do autor, Jorge Ama-do, conta um problema digno de análise: a instalação de uma fábrica altamente poluidora na praia de Mangue Seco, local paradisíaco e intocado. Os cidadãos das proximidades se dividem: para uns, a po-

luição virá, mas valerá a pena aproveitar os lucros que virão com ela. Afinal, o progresso é assim mesmo e bobo de quem ficar para trás. Para outros, nenhum dinheiro ou progresso paga o desastre ambiental e a perda da paz e da saúde.

Assim, temos dois tipos de pensamento em Agreste, cidade vizinha à praia: o imediato, dos primeiros, que enxergam apenas o linear e cartesiano (método criado por René Descartes que contribuiu com a Revolução Científica); e o sis-têmico, dos segundos, que enxerga o todo e o futuro. A história se passa em 1966 e o pensamento sistêmico e a sustentabilidade ainda não eram palavras familiares nas empresas do Brasil. Atualmente, a mentalidade está começando a mudar. Será?

Alguns especialistas, como Aurélio L. Andrade e Paulo Vodianitskaia, acredi-tam que os esforços são poucos, mas existem. Já para os biólogos e consultores Gastão Octávio da Luz e Rosimery de Fátima Oliveira, nada leva a crer que o pensamento sistêmico esteja, de fato, tomando forma no mundo corporativo no Brasil ou no mundo.

O pensamento sistêmico, entretanto, vem antes da invenção do corporativis-mo. Andrade explica que o pensamento sistêmico, ou PS, surgiu da evolução do pensamento cartesiano, que, nos séculos passados, não conseguiu explicar sa-tisfatoriamente fenômenos como a natureza da matéria e da luz, a termodinâmi-ca e a evolução das espécies. "A visão cartesiana provocou crises de percepção na física, biologia, psicologia, sociologia, economia, religião e artes", afirma.

Para Luz, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento e em Sustentabili-dade, e Oliveira, especialista em Diagnóstico e Pensamento Sistêmico, pensar sistematicamente é pensar a realidade além do reducionismo mecanicista que começou a tomar conta do mundo nos séculos 16 e 17 (Revolução Científica) e 18 (Revolução Industrial). Segundo eles, essas revoluções levaram a civilização a ver a vida somente sob a ótica do racional, do científico e das especializações: "Pensar sistematicamente é buscar a ligação entre a Ciência (razão), Arte (sen-sação), Filosofia (sentimento) e Transcendência (intuição) - tudo está ligado a tudo, uma vez que a soma das partes, nunca é igual ao todo, mas sim maior do que ele".

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Pensamento sistêmico e visão estratégica: combinação ideal para gerir o mundo corporativo

Especialistas e consultores falam sobre a teoria sistêmica e sua influência nos modos de produção e consumo atuais

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letícia Ferreira

o Pensamento Sistêmico é a

abordagem fundamental para

“pensar fora do quadrado”, envolvendo

inúmeras variáveis para a formação de

uma visão integrada de produção, economia, sociedade, cultura e

ambiente natural

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Para Paulo Vodianitskaia, professor de es-tratégia empresarial e consultor na área de sus-tentabilidade (empresa Hapi Consultoria), acres-centa que o pensamento sistêmico, enunciado pelo austríaco Ludwig von Bertalanffy há qua-se um século, significa interpretar algo em seu contexto mais amplo. "O pensamento sistêmico transcende a visão do ser humano como mera mercadoria, do mundo como mero mercado, do universo como mero mecanismo", diz. Segundo ele, Leonardo da Vinci, Goethe, Rudolf Steiner e Carl Gustav Jung são exemplos, entre outros, de pessoas que preferiram pensar e trabalhar sistemicamente, o que é perceptível em sua obra.

Pensamento sistêmico e mun-do corporativo • Andrade, co--autor do livro Pensamento Sistêmico Caderno de Campo e co-fundador da Escola Brasileira do Pensamento Sistêmico (www.escolaps.com.br), em 2008 e, em 2012, do Instituto Sistêmico (www.sistemico.com.br), acredi-ta que o pensamento cartesia-no também não deu conta do advento do mundo corporativo. Para ele, os novos tempos pe-dem flexibilidade, significado humano e sustentabilidade eco-lógica e social, ou seja, pedem o pensamento sistêmico. "O PS é a abordagem fundamental para 'pensar fora do quadrado', envolver inúmeras variáveis e conectá-las, transcendendo a vi-são tecnicista em direção a uma visão integrada de produção, economia, sociedade, cultura e ambiente natural. É a aborda-gem que ajuda a adotar uma po-sição empática, de diálogo e de visão comum", afirma.

Luz e Oliveira, porém, não acreditam que o empresariado tenha atingido, em nenhum nível, o pensamento sistêmico: "É preciso rever o modelo macroeconômico e impor limites à máquina produtiva". Para os pesquisa-dores, apesar das crises (ambiental, social, eco-nômica, política e de recursos – água e energia), as corporações não mostram sinais de mudança de paradigma: "As pessoas desejam mais em-prego para mais consumir, o que garante o lucro

do sistema produtivo, que exerce mais a deple-ção na natureza e mais polui, gerando um ciclo vicioso e insustentável".

Segundo eles, tanto o sistema financeiro quanto a máquina industrial-comercial não dão sinais efetivos do pensar sistêmico, a não ser na usurpação do discurso socioambiental-mente correto e inteligente, com um marketing ambiental que ilude a crítica e perpetua a "in-sustentabilidade". Assim, do ponto de vista sis-

têmico, crescimento e desenvolvimento não são a mesma coisa e, fora dele, "fica-se apenas com o discurso, a falácia que se vale do termo sus-tentabilidade".

Vodianitskaia, que atua no Programa das Na-ções Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e na ABRAPS, a Associação Brasileira dos Profis-sionais de Sustentabilidade, admite que ainda é o pensamento linear mecanicista que predo-

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mina, no mundo todo, no primeiro e segundo setores da economia, ou seja, no governo e nas empresas. Entretanto, vê algumas iniciati-vas corporativas, mas poucas, e acredita que o pensamento sistêmico demorou várias décadas para transitar entre o mundo científico e o mun-do corporativo, mas, a partir da consciência dos limites naturais há muito violados, algumas em-presas passaram a considerar que a garantia de seu sucesso em longo prazo é trabalhar também

para o sucesso do ecossistema e da sociedade em que estão inseridas.

Para o consultor, é crescente, embora peque-no, o número de líderes políticos e empresariais que pensam e agem de forma holística e estraté-gica para promover o desenvolvimento susten-tável. E lembra um para ilustrar a crença de que uma empresa pode crescer e lucrar sem abrir mão da sustentabilidade e usando o pensamen-

to sistêmico: a Interface Global, fabricante de carpetes modulares (ver box).

Enganos • A InterfaceFlor é um exemplo muito celebrado, mas pouco imitado. Vodianitskaia afirma que empresas de todos os ramos de ati-vidade, administradas para produzir a ficção de resultados extraordinários em curto prazo, conti-nuam atentas unicamente à velha single bottom line (foco apesar no resultado imediato), negli-

genciando o desenvolvimento de seus funcionários, esmagan-do pequenos fornecedores, ter-ceirizando a gestão de resíduos pós-consumo de seus produtos para a sociedade, e enganando clientes com greenwashing (ma-quiagem verde).

O destino dessas empresas, para o especialista, é funesto: "verão sua margem de mano-bra (e de lucros) minguar com o passar do tempo, sem ao menos entender por quê. Em um mun-do interconectado por redes so-ciais, a condução antiética dos negócios será cada vez mais cla-ramente percebida e punida."

Para o consultor, essas cor-porações desprezam a coope-ração e seus frutos, manejando crescentes passivos ambientais e trabalhistas com dispendiosos serviços jurídicos, e não conse-guem engajar seus funcionários na busca de maior eficiência por-que são justamente os funcioná-rios os primeiros a perceberem o logro que os vitima em primeiro lugar. E que um dos fatores que dá a essas empresas uma falsa sensação de segurança é o con-sumidor ainda não educado a um consumo consciente. "Exe-cutivos, em geral, ainda hesitam em ver suas empresas como or-

ganismos dentro de um sistema ambiental e so-cial que as nutre e metaboliza o que fazem. Pre-ferem vê-las como máquinas que impõem seus produtos à sociedade aliciada pelo bombardeio constante do marketing", diz.

Os biólogos Luz e Oliveira resumem desta forma: as empresas que adotassem a filosofia sistêmica perderiam, num primeiro momento, pois isso implicaria redução do produzir-con-

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“empresas que se prepararem, desde já,

para um mercado de experiências tomarão

o lugar daquelas aferradas ao mercado

de consumo”, Paulo Vodianitskaia da Hapi

Consultoria

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

sumir-descartar, até que se desenvolvessem outras matrizes energéticas e/ou fossem feitas revisões na produção de bens realmente neces-sários em detrimento da produção de supérflu-os descartáveis. Porém, se o mundo corporativo não adota a filosofia sistêmica, todos perdem a qualidade (como já vem ocorrendo) e as próprias corporações perdem, a médio e longo prazos: "É uma questão de inteligência socioambiental que o capitalismo vigente não tem demonstrado possuir".

E Andrade define em uma frase: "Quem for sistêmico encontrará soluções e inovações cria-tivas. Quem não for, adotará soluções superfi-ciais e o resultado disso é apenas a postergação do próprio fim".

Cenário ideal • Andrade, entretanto, é otimista e acredita que, no futuro, organizações sistêmi-cas serão tão inovadoras que praticamente não serão mais organizações no sentido tradicional: "Não serão mais hierarquias, mas redes de pro-

dução e propriedade colaborativas que envol-vem colaboradores, usuários e sociedade".

Para os pesquisadores Luz e Oliveira, uma empresa que adotasse o pensamento sistêmi-co provocaria uma revolução de paradigma ao deixar de confundir crescimento com desenvol-vimento, ao promover a distinção entre o que é necessário e o que é supérfluo, ao favorecer as desconcentrações e a descentralização dos bens, da riqueza, em favor da universalização da qualidade de vida e, finalmente, ao ajudar a educar para outra relação sociedade-natureza.

E, para Vodianitskaia, as empresas que ado-tam, em algum grau, o pensamento sistêmico em sua governança, ganham limites mais elásticos de crescimento, lealdade dos clientes, atraem talentos e sabem cooperar em seu setor indus-trial e na sua cadeia de valor. Com isso, pro-duzem situações em que todos ganham. Além disso, reduzem perdas, passivos e riscos porque o pensamento sistêmico favorece a abordagem interdisciplinar, vital para a gestão de sustenta-

Capa

exemplos e tentativasa InterfaceFlor Global, empresa fabricante de carpetes modulados, foi fundada em 1974 por ray anderson,

morto em agosto do ano passado, aos 77 anos. anderson ainda é reverenciado por, em 1994, ter feito a empresa crescer, tornando-se líder do segmento, ao economizar milhões de dólares simplesmente coibindo o desperdício de água e energia. Sua fama como empreendedor sustentável, porém, vem de mais atitudes: aliando-se ao método tnS (the natural Step ou o Passo natural, em tradução livre), aos poucos, sua indústria passou a utilizar material orgânico e de Pet reciclados em sua produção e ainda assumiu o compromisso de reduzir as emissões dos Gases do efeito estufa gerados pela Interface, que já está em 70%. as metas, em longo prazo, incluem a eliminação total dos desperdícios até 2020.

em 1998, anderson surpreendeu o mercado quando a InterfaceFlor começou a entrar em contato com donos de carpetes antigos, até os não fornecidos por ela, para reciclá-los. e o ideal ia com ele para a casa: usava um auto-móvel híbrido e, em seus imóveis, energia solar. Deixou à Interface o objetivo de se tornar a primeira empresa do mundo totalmente sustentável.

outro caso interessante é o Portal do Software Público Brasileiro, criado em abril de 2007 para compartilhar softwares de interesse público e tratar o software como um bem público. Cerca de 50 softwares gratuitos estão à disposição e qualquer pessoa pode se cadastrar e utilizá-los. Há softwares de gestão empresarial, de gestão de servidores de e-mail, de gerenciamento de instituições de ensino, bibliotecas, municípios, softwares de música, de atendimento ao público, etc.

Já a the Hub, fundada em São Paulo, em 2008, por Paulo Handl, existe em várias cidades do mundo (há Hub em Curitiba), e oferece, em sistema de trabalho colaborativo, um espaço para troca de ideias e lançamento de projetos e negócios voltados para melhorar o mundo. o conceito surgiu em 2005, na Inglaterra. ali se reúnem empreendedo-res que pensam em sustentabilidade social, ambiental e corporativa. Para se inscrever, é necessário apresentar um projeto que será avaliado. o escritório oferece planos de pagamento para vários bolsos e necessidades.

uma das empresas que trabalha na Hub Curitiba é a terra azul Consultoria, que oferece serviços de consultoria e assessoria técnica em gestão organizacional, otimização de processos e em desenvolvimento e meio ambiente. em São Paulo, são membros da Hub empresas como Carbono Zero Courier, que faz serviços de entrega com bicicletas, Solstice empreendedorismo, de consultoria de evolução sustentável para eco-empreendedores que desejam entrar no mercado brasileiro, e a ecotece - Instituto do vestir Consciente, que atua como agência de criação e conheci-mento, formulação de projetos sociais e produtos ecológicos que geram renda e comunicam valores sustentáveis.

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

bilidade, cuja estratégia deve ser traçada a partir da ligação entre a empresa, o meio ambiente e a sociedade.

Esses resultados positivos, explica, não são mensuráveis somente em longo prazo, mas tam-bém pelo engajamento dos stakeholders, aná-lise de materialidade e escolha de indicadores adequados, por exemplo, os propostos pela Glo-bal Reporting Initiative (GRI): "Evidentemente, de nada adianta incluir novos indicadores sem a gestão de metas desafiadoras e sem prover espaço para a inovação voltada à sustentabili-dade", afirma. "Infelizmente, é o caso de muitas empresas que aderem a compromissos, como O Pacto Global da ONU, sem integrar à sua gestão quaisquer metas ligadas aos princípios desse pacto."

Vodianitskaia acredita que, hoje, é consen-so que o ser humano destrói a vida mais rapi-damente do que a natureza a pode criar e paga e pagará caro por isso; mas tem esperança de que as mudanças inesperadas nos sistemas

ambiental e social, que a humanidade começa a perceber, pouco a pouco, transformem consu-midores em experimentadores, que aprenderão a degustar o mundo sem consumi-lo: "Empresas que se prepararem, desde já, para um mercado de experiências tomarão o lugar daquelas afer-radas ao mercado de consumo: mais software e menos hardware, porções menores de alimen-tos melhores, viagens em número menor, mas mais longas, mais reuso e menos matéria-prima virgem, mais integração da cadeia de valor e menos perdas, energia renovável sem desmata-mento nem emissões poluentes e desestabiliza-doras do clima."

Para Vodianitskaia, percebe-se melhor a ado-ção do pensamento sistêmico no terceiro setor, entre as ONGs e, dos conflitos e dilemas entre o segundo e o terceiro setores, aparece como so-lução dialética um quarto setor, não direcionado somente ao lucro, mas principalmente ao bene-fício. "Esse novo setor está destinado a usufruir o maior nível de crescimento e uma insuperável

A partir da consciência dos limites naturais, algumas empresas passaram a considerar que a garantia de seu sucesso em longo prazo é trabalhar também para o sucesso do ecossistema e da

sociedade em que estão inseridas

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Capa

"Quem for sistêmico encontrará soluções e inovações criativas. Quem não for, adotará soluções superficiais e o resultado disso é apenas a postergação do próprio fim”, Aurélio L. Andrade do Instituto Sistêmico

geração de valor para seus stakeholders", diz.Mesmo com essa esperança, Vodianitskaia

crê que não há mais tempo para uma reformula-ção ordenada da educação formal ou da política no sentido do pensamento sistêmico: "A mudan-ça dos padrões de comportamento atuais virá de fenômenos emergentes, rápidos, sistêmicos, como a mobilização social que se estende dos países árabes a Wall Street".

Realidade brasileira • Para Vodianitskaia, in-dividualmente, o brasileiro comporta-se como quem valoriza mais as experiências relaciona-das a relações pessoais ou com a natureza de que é parte, e não a alguma satisfação egoísta. Coletivamente, porém, muda a figura: o brasilei-ro comporta-se como se nada mais importasse além de sua satisfação imediata, buscando lu-crar em curto prazo e em detrimento do futuro. "Consumimos irrefletidamente e, até na educa-ção formal, aprendemos a pensar linearmente: ou penso o mundo como comerciante, ou biólo-go, ou engenheiro. Em geral, não aprendemos sobre sustentabilidade em cada uma das disci-plinas que cursamos".

Já Luz e Oliveira acreditam que esse pen-samento egoísta e linear, como define Vodia-

nitskaia, não é privilégio do povo brasileiro: "A questão deve ser analisada pela óptica civiliza-tória - o desempenho 'crescimentista' (em de-trimento da 'desenvolvimentista') é planetária, globalizada e hegemônica".

Para ambos, os colapsos já estão na pauta dos acontecimentos e a necessidade é realizar mudanças profundas no modo de se viver no planeta, em lugar de se sobreviver do planeta: "O ser humano precisa deixar de ser um para-sita para entrar numa relação de simbiose com a Terra".

Andrade não limita cultura a países, mas também não vê o mundo como uma cultura he-gemônica, fazendo uma polarização entre cul-tura global e cultura ocidental/oriental. E brasi-leiros estão preparados, em termos cognitivos e culturais, mas pouco predispostos a adotar uma nova forma de pensar. "Nós somos, em termos empresariais, mais globais e ocidentais pela nossa origem europeia e americana de escolas de administração e economia", diz. "Temos o aparato cognitivo e cultural para pensar dife-rente, mas nossa sociedade é formatada pela visão cartesiana, analítica. Precisamos um ree-quilíbrio de ênfases. Buscar mais o sistêmico, o orgânico, o holístico."

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tema sustentabilidade tem sido cada vez mais comentado e difundido pela mídia, pelas empresas, autoridades, governo e sociedade, refletindo as cres-

centes preocupações com os impactos de nossas atividades. Mas, afinal, o que significa ser sus-tentável? Quais são as práticas que comprovam se uma empresa ou produto são sustentáveis? De acordo com Newton Figueiredo, fundador e presidente do Grupo SustentaX, organização que teve a iniciativa de criar um selo que comprova a sustentabilidade, produto sustentável é aquele que respeita o consumidor, a sociedade e o meio

O

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Tecnologia&Sustentabilidade

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Sustentabilidade comprovada em rótulo

Bruna robassa

ambiente. “É um produto competitivo, que não faz mal à saúde, tem qualidade comprovada para o que se propõe, e é desenvolvido, fabricado e comercializado de forma socioambientalmente responsável”, diz.

Figueiredo conta que 65% dos consumido-res brasileiros têm interesse em obter mais in-formações sobre produtos sustentáveis, contra 20% da média mundial, dado que foi consta-tado em uma pesquisa realizada em 2010. De acordo com a mesma pesquisa, divulgada pela empresa GS&MD Gouveia de Souza, os consu-midores já estão dispostos a pagar 8% a mais

Selo foi criado para reconhecer produtos sustentáveis de acordo com regras preestabelecidas

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

por produtos sustentáveis.De acordo com Rômulo Viel, coordenador do

Comitê de Sustentabilidade da Rede Paranaen-se de Metrologia e Ensaios — Paraná Metrologia, para um produto ser considerado sustentável ele deve ser “economicamente viável, socialmen-te justo e ambientalmente correto”, seguindo a conceituação clássica de sustentabilidade. O comitê coordenado por Viel foi criado em abril de 2011 com o objetivo de difundir ideias susten-táveis aqui no estado. Segundo ele, a rede tem como foco atuar de modo a dar suporte a ações que garantam a qualidade dos processos. “Ao garantir a qualidade conquistamos a confiança do cliente, o que é um diferenciador tecnológico e comercial para as empresas”, explica.

Diante dos amplos e distintos conceitos que existem acerca do termo sustentabilidade, a busca pela rotulagem surge como uma forma de comprovar tecnicamente, de acordo com cri-térios preestabelecidos, se um produto é com-provadamente sustentável. Além disso, segundo o presidente do Grupo SustentaX, a busca pela rotulagem está relacionada com a intenção de comprovar ao consumidor a qualidade das ini-ciativas e dos produtos de uma empresa. “Por meio de selos confiáveis, os consumidores po-dem comparar melhor os produtos que desejam adquirir. Para citar um exemplo, no caso de ele-trodomésticos, 40% dos consumidores já estão dispostos a pagar até 10% a mais para produtos que têm o selo Procel. Só depois de confirmarem a existência do selo é que se voltam para a mar-ca. É uma quebra de paradigma, pois até há al-guns anos se comprava por marca”, conta.

Outro segmento que tem se interessado por rotulagem de sustentabilidade é o de materiais de reforma, decoração, construção e operação de edificações. Exemplo disso é a manta de pro-teção para pisos fabricada pela empresa Proma-flex, que acaba de conquistar o selo de sustenta-bilidade. O material é desenvolvido para reduzir custos e desperdícios de materiais e aumentar a produtividade em obras e reformas. A manta é capaz de proteger, durante os trabalhos, superfí-cies e pisos já instalados. O “Promapiso” é uma manta laminada que possui as características necessárias para substituir com eficácia sacos de aniagem com gesso e também a proteção de papelão e resina.

Para a arquiteta Andrea Velletri Martins, ge-rente de marketing da Promaflex, a conquista do Selo SustentaX para o Promapiso demonstra a preocupação da empresa em oferecer soluções

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"Por meio de selos confiáveis, os

consumidores podem comparar melhor os

produtos que desejam adquirir. Para citar

um exemplo, no caso de eletrodomésticos,

40% dos consumidores já estão dispostos a

pagar até 10% a mais para produtos que têm o selo Procel”, Newton

Figueiredo, presidente do Grupo SustentaX

inovadoras para um mercado que busca produ-tos que gerem menos impactos sobre as pessoas e o meio ambiente, com garantia de qualidade e sustentabilidade. “O processo para obtenção do selo foi mais uma comprovação de que cumprir os preceitos de nosso sistema da qualidade com be-nefícios para a empresa e para toda a cadeia que nos cerca, é sempre o melhor caminho”, afirma.

O processo de rotulagem trouxe melhorias no processo fabricação da manta, como explica a arquiteta. “Eliminou-se o uso de adesivo de con-tato para a laminação dos materiais, substituin-do-o por calor. Foi necessário o investimento em maquinário, mas, por outro lado, reduzimos o custo com matéria-prima, aumentamos velocida-de de produção e atendemos outros requisitos da rotulagem”, explica a gerente.

Certificação X Rotulagem • É muito comum termos técnicos como esses serem confundidos. No entanto, para que fiquem mais claros, os termos certificação, rotulagem, assim como ins-peção e declaração de fornecedor são tipos de “avaliação de conformidade”, segundo explica Rômulo Viel. Um processo de certificação refere--se a processos, como por exemplo, a ISO 9001, norma internacional de gestão da qualidade. No caso, o processo de produção é certificado e não o produto em si. É utilizada, normalmente, entre empresas. Uma certificação pode ser compulsó-ria (obrigatória) ou não compulsória (voluntária).

A certificação é obrigatória para produtos que, por suas características, podem colocar em risco a saúde e a segurança do usuário e tam-bém o meio ambiente, caso sejam fabricados de maneira inadequada. É o caso de produtos como extintores de incêndio, botijões, fios e cabos elé-tricos, preservativos, entre outros, que têm seu processo de fabricação regulamentado pelo IN-METRO.

Como forma de controle, equipes técnicas visitam periodicamente os locais em que se en-contram à venda esses produtos, verificando suas condições. Os fabricantes e importadores que não cumprem as normas e os regulamentos são multados e os produtos irregulares são reti-rados de comercialização.

A certificação voluntária, que tem como obje-tivo garantir a conformidade de processos, pro-dutos e serviços às normas elaboradas, é deci-são da empresa que fabrica produtos ou fornece serviços. Nesses casos, a certificação é um dife-rencial de mercado em favor das empresas que a adotam.

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No caso da rotulagem ou etiquetagem, enten-de-se como o resultado de uma avaliação que analisou características do produto em relação a determinados parâmetros. A rotulagem visa in-formar o consumidor sobre determinadas carac-terísticas que diferenciam o produto enquanto a certificação trata, normalmente, do seu processo de fabricação.

O Selo SustentaX enquadra-se na rotulagem ambiental do tipo I, em conformidade à Norma ISO NBR 14024:2004, sendo um programa de ter-ceira parte voluntário, onde não há envolvimento com fabricação ou comercialização.

Processo de análise para rotulagem de pro-duto • Para que um produto conquiste o Selo SustentaX o fabricante deve comprovar a existên-cia dos atributos essenciais de sustentabilidade, aqueles que não podem faltar em um produto para que ele possa ser considerado, minimamen-te, como sustentável. São eles: salubridade (não pode fazer mal a quem fabrica nem a quem instala ou utiliza), qualidade (funcional e ambiental) e as

responsabilidades socioambiental e de comuni-cação com o consumidor do fabricante.

Após essa primeira etapa, se a empresa com-provou todos os atributos essenciais do produto, são analisados os complementares de susten-tabilidade, referentes a como o produto foi con-cebido (sustentabilidade do design), fabricado (sustentabilidade na fabricação) e comercializa-do (sustentabilidade na comercialização). Nes-sa fase, são analisados: utilização de conteúdo reciclado, biodegrabilidade, regionalidade dos materiais, desmaterialização, contribuição para a economia de água, eficiência energética, entre muitos outros aspectos. Quanto mais atributos complementares tiver, mais sustentável o pro-duto será. O processo para rotulagem leva, no mínimo, 6 meses.

De acordo com Paola Figueiredo, vice presi-dente executiva do Grupo SustentaX, os produ-tos com o selo de sustentabilidade, em geral, atendem aos principais requisitos para comercia-lização de “produtos verdes” nos mercados in-ternacionais. Quando um produto recebe o selo,

Com o selo da Sustentax, o promapiso é uma manta laminada certificada para proteção de pisos e superfícies durante períodos de obras e reformas

Tecnologia&Sustentabilidade

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Sobre a Paraná Metrologiaa atuação da rede Paranaense de Metrologia e ensaios ainda é recente na área de sustentabilidade. no entanto, a rede já atua há mais tem-po na difusão da cultura metrológica aqui no estado. trata-se de uma rede que congrega diversas entidades de ensino, pesquisa, tecnologia e laboratórios de maneira associativa, visando promover a infraestrutura tecnológica e de apoio às empresas instaladas no Paraná.

PrInCIPaIS oBJetIvoS - Identificar as necessidades de treinamento e capacitação técnica das instituições e labo-ratórios que atuam na área de metrologia e ensaios no Paraná.- Promover atividades de capacitação de recursos humanos e organizar e promover even-tos técnicos nas áreas de gestão da qualidade e competitividade, inovação e metrologia. - Promover programas de avaliação, acompanhamento e orientação à implantação de téc-nicas de melhoria da qualidade da prestação de serviços tecnológicos bem como a dispo-nibilização de tais serviços.- estabelecer e manter estreito vínculo com o Instituto nacional de Metrologia, normaliza-ção e Qualidade Industrial (InMetro), seguindo as orientações daquele Órgão bem como o apoiando em suas atividades, a fim de colaborar de maneira efetiva para o fortalecimen-to da estrutura da metrologia e os ensaios no Brasil.- Promover a conscientização da sociedade, dirigentes empresariais e atividades de ensi-no, pesquisa e desenvolvimento do estado para a necessidade e importância da gestão da qualidade e competitividade, inovação e metrologia.acesse: www.paranametrologia.org.br

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"Produtos com o selo de sustentabilidade,

em geral, atendem aos principais requisitos

para comercialização de 'produtos verdes'

nos mercados internacionais” ,

Paola Figueiredo, vice-presidente executiva do

Grupo SustentaX

nada mais importante que essa informação seja difundida. Por isso, folhetos com informações so-bre o diferencial do produto são disponibilizados com inúmeras informações úteis, tanto para ven-dedores desses produtos como para especifica-dores e compradores públicos e privados.

No folheto explicativo de cada produto é possível encontrar informações sobre sua salu-bridade, qualidade assegurada, produtividade, e como os produtos podem contribuir para cer-tificações ambientais. “O desenvolvimento de um folheto com essas características é único no mundo e só foi possível pela existência, na Sus-tentaX, de uma equipe multidisciplinar perma-nente de profissionais de várias especialidades de engenharia (civil, elétrica, mecânica, meio ambiente e naval), arquitetura, geografia, quí-mica, marketing, jornalismo, relações públicas, entre outras”, enfatiza Paola Figueiredo.

A sustentabilidade no Paraná • A sustenta-bilidade está ganhando força no Paraná. A Rede Paranaense de Metrologia e Ensaios — Paraná Metrologia - criou recentemente um comitê vol-tado à sustentabilidade que tem o objetivo de difundir ideias sustentáveis aqui no estado.

De acordo com Rômulo Viel, coordenador do Comitê, a rede apoia a iniciativa do Grupo Susten-taX em criar uma rotulagem de sustentabilidade. “O comitê foi criado recentemente, em abril de 2011, e o nosso objetivo é desenvolver atividades voltadas à sustentabilidade, assim como difundir o conceito. A criação desse selo está bem enqua-drada nos assuntos que pretendemos discutir no comitê. “É algo muito novo, que está sujeito a crí-ticas, mas o nosso objetivo é exatamente esse, discutir tudo que existe sobre sustentabilidade, especialmente no Paraná”, diz Viel.

O coordenador ainda fala sobre a ligação do conceito de sustentabilidade com a economia. “No fundo, o que impacta a decisão empresarial ainda é a questão financeira, por isso, é impor-tante dizermos que, para um produto ser susten-tável ele tem que ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto, de modo que as atividades econômicas reflitam melhor as preocupações da sociedade”, declara. Viel conta que um dos projetos do comitê é pro-mover ainda este ano um seminário sobre sus-tentabilidade, o qual deve reunir representantes de empresas que se interessam pelo tema para discutir e difundir o assunto.

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Julianna antunesEspecialista em

planejamento estratégico sustentável e processos

sustentáveis

em um mundo que caminha para o esgotamento de recursos naturais, ao mesmo tempo em que a demanda por eles cresce exponencialmente, adotar a sustentabilidade é uma alternativa para garantir a perenidade do negócio em médio e longo prazos

uitas empresas, a maioria, eu di-ria, associa a sustentabilidade a custos; mais um item para ser considerado na hora de formação

do preço e que pode inviabilizar a estratégia comercial de uma companhia. Sim, isso real-mente pode acontecer. No entanto, a questão vai depender muito mais de como as empre-sas lidam com o tema do que com o montante de dinheiro disponível.

Se para a empresa sustentabilidade signi-fica apenas projetos sociais como resposta a demandas da sociedade e dos stakeholders em geral, sim, será um custo. Necessário, po-rém custo. No entanto, se ela encarar a sus-tentabilidade como um agente catalisador de mudança em seus processos e busca por efi-ciência operacional, o custo se transforma em investimento, que é pago ao longo do tempo.

Em um mundo que caminha para o es-gotamento de recursos naturais, ao mesmo tempo em que a demanda por eles cresce ex-ponencialmente, adotar a sustentabilidade é uma alternativa para garantir a perenidade do negócio em médio e longo prazos. É um sinal que as empresas dão aos seus investidores de que elas estão trabalhando para que ques-tões como mudanças climáticas, racionamen-to de água ou mobilidade geográfica não comprometerão sua performance operacional e financeira.

Assim como a qualidade foi há décadas atrás, a sustentabilidade nada mais é que um novo modelo de gestão. Um modelo que pro-porciona uma série de ganhos. Um modelo que ainda é pouquíssimo praticado pelas em-presas, que, em uma visão rasa, basicamente enxergam a possibilidade de retorno de ima-gem e reputação.

A grande dificuldade para que a susten-tabilidade seja efetivamente praticada pelas companhias é mudança de valores e compor-tamento pela qual elas precisarão passar. É preciso engajar, é preciso capacitar, é preciso

cobrar dos colaboradores uma postura sus-tentável. E o maior desafio é formar profissio-nais que tenham essa visão não apenas no trabalho, mas na vida.

Aliado ao engajamento e à formação é preciso planejar em longo prazo e ter consci-ência de que os resultados nem sempre serão alcançados rapidamente. E é justamente essa relação entre tempo e retorno que pauta uma gestão sustentável. Com uma proposta de resultados que transcende as cifras, muitas vezes a implementação da sustentabilidade encontra resistência nas empresas que vivem no modelo de máximo lucro o mais rápido possível.

No entanto, esse modelo capitalista vigen-te desde o século passado, e grande responsá-vel pela crise que vem assolando a Europa e os Estados Unidos desde 2008, deixa claro que o esgotamento de matérias-primas e o colap-so nas relações com stakeholders são apenas uma questão de tempo. Pouco tempo, eu diria.

Por conta disso, questões que há pouco tempo pautavam a agenda de trabalho de gerentes médios (e que muitas vezes acumu-lavam funções, como, por exemplo, saúde, segurança e meio ambiente ou então comuni-cação e responsabilidade social), hoje chega ao topo da hierarquia corporativa. Mesmo que ainda estejam pisando em cacos de vidro, as empresas acordaram para a necessidade de trabalhar a sustentabilidade de forma mais estratégica e menos reativa.

A jornada ainda está no começo e algu-mas empresas largaram na frente, ainda que não seja possível dizer que haja, sequer, uma 100% sustentável. Todas possuem um gran-de passivo que é o resultado de anos e anos de gestão focada apenas no lucro excessivo. Mas antes de resolver o que está lá atrás, pre-cisamos assegurar que o daqui para frente seja diferente. E essa decisão tem de ser feita já. Atualmente sustentabilidade não é mais uma questão de escolha.

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A sustentabilidade corporativa ainda é uma escolha?

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GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 28

Page 29: Geração sustentável - edição 27

Foz do iguaçu (PR) seRá sede do FóRum inteRnacional de acessibilidade e cidadania

local: RaFain eXPocenteR iVdata: 13, 14 e 15 de JunHowww.FoRumdeacessibilidade.com.bR

o acesso É um imperativo norteador da vida.

a acessibilidade É objeto fundamental para inclusão social equilibrada e qualitativa.

o Fac É um local de debates, estudos, troca de experiências para a formação de um olhar voltado aos benefícios da acessibilidade para o desenvolvimento local sustentável

obJetiVos• Identificar experiências bem sucedidas relacionadas à acessibilidade e cidadania• Detectar prioridades regionais• Desenvolver estudos que possam contribuir para a elaboração de novos projetos e projetos já existentes

eVentos PaRalelos• 7º Salão de Turismo das Cataratas do Iguaçu• Hotelshow • VII Feira de Turismo • III Mostra de Turismo Sustentável• Rodada de negócios

No próximo mês de junho a cidade será sede do maior e mais importante evento de acessibilidade do brasil

seRViço

inscrições e informações:www.forumdeacessibilidade.com.br [email protected] assessoria de imprensa: Jornalista cristina lira(mtb dF 00990 JP) [email protected]

eVentos locais

23 de março em socorro/sPseminário Paulista de acessibilidade e cidadania

19 de abril em curitiba/PRseminário Paranaense de acessibilidade e cidadania

24 de maio em Porto Alegre/RSseminário gaúcho de acessibilidade e cidadania

“inclusÃo, É PaRticiPaRmos Juntos!”

Page 30: Geração sustentável - edição 27

Desenvolvimento Local

m um bairro de periferia, uma pequena confecção – microempresa familiar – ex-plora o trabalho de costureiras e lucra com os produtos vendidos a grandes vare-

jistas que, por sua vez, lucram muito mais pratican-do preços bastante altos para o consumidor final.

Pode ser enredo de novela brasileira, mas, infelizmente, pode também ser real. E pode ser pior. Lançado em 2005, o documentário China Blue, não autorizado pelo governo chinês e exibi-do no Brasil no cinema e na TV paga, acompanha a vida de duas jovens chinesas que trabalham para uma fábrica de jeans no sudoeste da China. Elas são obrigadas a morar na fábrica, onde as condições são precárias (a água, por exemplo, tem que ser levada por baldes), têm carga horária massacrante, ganham menos de um dólar por dia e têm suas despesas (alimentação, etc.) descon-tadas do salário. Para cumprir um prazo de entre-ga, ficam noites sem dormir. Um "feitor" analisa o tempo todo o trabalho e multa quem ele acha que está fazendo "corpo mole".

A China, entretanto, não é a única. China Blue faz parte da trilogia Globalização, do diretor Mi-cha Peled, cujo primeiro filme é Store Wars: When Wal-Mart Comes to Town, a respeito do conflito entre a rede Wal-Mart e uma pequena cidade na qual a ela acaba de implantar uma mega-store. O terceiro filme, Bitter Seeds (ou Sementes Amar-gas, em tradução livre), estreia no Brasil no final de março. O documentário mostra, na Índia, a

epidemia de suicídios – que já matou cerca de 250 mil pessoas – entre pequenos agricultores de algodão, obrigados a trabalhar com sementes geneticamente modificadas, com isso perdendo sua terra e seu sustento.

Segundo a Abit (Associação Brasileira da In-dústria Têxtil e de Confecção), os países asiáticos que mais vendem produtos têxteis para o Brasil são China, Índia, Indonésia, Taiwan e Bangla-desh. Todos são países sem democracia, ou com democracia fraca, população muito pobre e que, eventualmente, aparecem na mídia que denuncia o trabalho escravo. Ao contrário dos produtos na-cionais, com os quais competem e que, ao menos no caso brasileiro, pagam uma carga tributária gi-gantesca, esses produtos chegam ao consumidor muito mais baratos.

Um barato que sairá caro, segundo o coorde-nador do Conselho Setorial da Indústria do Vestu-ário da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Marcelo Surek. Para ele, o consumi-dor brasileiro precisa se conscientizar de que, ao adquirir esses importados, além de contribuir com uma indústria que não respeita os direitos humanos, nem o meio ambiente, está contribuin-do para a desindustrialização do setor no Brasil, e o consequente prejuízo para o país e para si mesmo. "O que é mais caro? Sem indústrias, não há geração de emprego e de consumidores para outros mercados", declara.

Segundo Surek, a indústria têxtil e de confec-

E

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 30

Page 31: Geração sustentável - edição 27

Uso de trabalho escravo, desrespeito ao meio ambiente e falta de controle de qualidade são outras questões levantadas contra produtos importados da Ásia

Excesso de impostos e importações ameaça indústria têxtil brasileira

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

letícia Ferreira

"o Brasil não precisa de trabalho escravo

para oferecer produtos acessíveis e de

qualidade, mas de isonomia e impostos

justos”, Marcelo Surek, coordenador do Conselho

Setorial da Indústria do Vestuário da Fiep

31

ção é a segunda maior geradora de empregos no Brasil (e, segundo o BNDES, a que tem o maior potencial gerador de empregos na indústria de transformação): a cada 10 milhões de reais por produto, são gerados cerca de mil empregos dire-tos e muitos mais indiretamente.

O coordenador afirma ainda que o problema do Brasil, entretanto, não é a China, mas o próprio Brasil e sua carga tributária altíssima: "O produto nacional sofre uma carga tributária em cascata, que incide sobre toda a cadeia produtiva e de co-mercialização. No final das contas, o lojista vende um produto do qual 45% do preço é imposto".

Diz ele que isso dificulta não somente a con-corrência com os produtos importados, mas o desenvolvimento da indústria, pois, com a perda que o setor está sofrendo, não pode investir, por exemplo, na qualificação de mão de obra: "O Bra-sil não precisa de trabalho escravo para oferecer produtos acessíveis e de qualidade. Precisamos de isonomia, condições de competir de igual para igual, com impostos justos".

Brasil importou 4,6 bilhões de dólares em 2011 • A Abit lançou, em janeiro, o importôme-tro: painel que mede as importações brasileiras de produtos têxteis relacionadas a quantos em-pregos deixaram de ser ofertados pelas empresas do setor no país. Segundo informações da Fiep, que apoia a iniciativa, o painel mostrou que, so-mente no primeiro mês deste ano, 60 mil postos

de trabalho deixaram de ser gerados. Com o im-portômetro, a Abit lançou também uma campa-nha para colher um milhão de assinaturas e, com isso, pressionar o governo a adotar medidas efi-cazes para melhorar a competitividade da indús-tria têxtil brasileira. O formulário para assinatura, bem como o painel atualizado em tempo real, estão disponíveis no site da Abit www.abit.org.br.

De acordo com dados levantados pelo depar-tamento econômico da Fiep, o Brasil importou, em 2011, US$4,6 bilhões em produtos têxteis: au-mento de 21% em relação a 2010. Somente o Pa-raná, no ano passado, importou US$ 181 milhões: aumento de 86% em relação ao ano anterior.

Para Surek e outros empresários das indús-trias têxteis e confecções a situação é grave: "Estamos à beira de uma desindustrialização do setor e o produtor brasileiro está vendo suas vendas diminuindo, muitas vezes, em até 70%. Alguns estão fechando as portas".

Segundo a área técnica da Abit, antes de 2005, praticamente não havia roupa importada da China no Brasil. Quem supria esse mercado eram as empresas nacionais, com roupa de excelente qualidade. Para a associação, a China corrompeu os valores de mercado porque, para produzir rou-pa barata, explora funcionários, contratando mão de obra escrava e infantil, empresta dinheiro aos seus exportadores sem cobrar juros, desrespeita todas as leis ambientais e mantém o câmbio for-çadamente desvalorizado. Assim, a roupa pronta

Page 32: Geração sustentável - edição 27

Desenvolvimento Local

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 32

chinesa chega aqui custando menos que o empre-sário brasileiro pagaria só pelo tecido.

Além disso, aponta a área técnica da Abit, os produtos que entram no Brasil sofrem apenas a fiscalização tributária, ou seja, o consumidor não tem garantia nenhuma de qualidade e procedên-cia. Ao contrário do que acontece com os produtos brasileiros, os importados não precisam se sub-meter a nenhum padrão ou controle de qualidade. Ao adquirir uma roupa da China ou de qualquer um dos países que praticam o mesmo tipo de pro-dução, ele não sabe de onde vem a matéria-prima, em que condições e por quem é produzida.

Recentemente, a pedido dos empresários, o governo anunciou que irá fazer uma parceria com o INMETRO para que os fiscais do instituto possam entrar nos portos e fiscalizar, pelo menos, etiquetas.

Para Marcelo Surek, não há como fiscalizar os 70 portos brasileiros: "Com a arrecadação do governo, tecnicamente há condições para isso, mas o país não tem a estrutura necessária, não há como pensar em fiscalizar qualidade e proce-dência de produtos."

Trabalho escravo no Brasil • A terceirização nos serviços de costura para a indústria têxtil e de confecção acrescentou a informalidade ao se-tor, o que tornou as relações cliente/fornecedor muito importantes.

Nessa equação, onde se encaixa o trabalho escravo no Brasil? Os imigrantes de outros países sulamericanos, principalmente bolivianos e ile-gais, que vêm ao Brasil para fugir de situações de

miséria e não conhecem seus direitos, são alvo fácil para confecções que, a exemplo das encon-tradas em países de democracia fraca e pouco respeito a direitos humanos, buscam lucrar com o trabalho análogo ao escravo.

No ano passado, denúncias do Ministério do Trabalho, seguidas de processo pelo Minis-tério Público, contra a rede varejista Zara Brasil, trouxeram novamente essa questão à tona. A di-retoria da rede se isentou de responsabilidade, dizendo que não sabia da procedência dos arti-gos que comercializa. Diante do processo, assi-nou com o Ministério Público do Trabalho e com o Ministério do Trabalho e Emprego - junto com a corporação à qual pertence, o grupo Inditex -, um Termo de Ajuste de Conduta. Em nota à imprensa, o Ministério comunicou que o termo visa a aper-feiçoar o controle sobre as confecções da indús-tria têxtil e garantir melhor qualidade de vida aos trabalhadores. Para pôr em prática várias ações com esse objetivo, a Zara Brasil fará um investi-mento social de R$ 3,4 milhões e criará um fundo de emergência para resolver eventuais situações de precariedade de trabalhadores. As empresas serão fiscalizadas e, caso não cumpram o com-promisso, serão punidas.

Para contribuir com o controle desse tipo de problema, a ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) mantém o Programa de Qualifica-ção de Fornecedores, do qual são signatárias em-presas como C&A, Grupo Pão de Açúcar, Marisa, Pernambucanas, Renner, Riachuelo, Wal-Mart, Grupo Gep e Leader, que representam, aproxima-

os produtos que entram no Brasil sofrem apenas a fiscalização tributária, ou seja, o consumidor não tem garantia nenhuma de qualidade e procedência

aGenDa PrIorItárIa Do Setor tÊXtIl e De ConFeCção

FORTALECIMENTODA CONFECÇÃO

TRIBUTAÇÃO

NEGOCIAÇÕESINTERNACIONAIS

COMPRAS GOVERNAMENTAIS

CUSTO DA INFRAESTRUTURA

DEFESACOMERCIAL

Page 33: Geração sustentável - edição 27

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 33

CreSCIMento DaS IMPortaçÕeS De veStuárIo

Mil toneladas

Fonte aBIt

uS$ Milhões FoB

2003

$ 100 $ 148 $ 227$ 347

$ 487$ 694 $ 767

$ 1073

$ 1721

14

17x

2004

28

2005

32

2006

37

2007

40

2008

45

2009

49

2010

68

2010

2011

96

2011

A cada 30 minutos um pequeno produtor de algodão se suicida na Índia

Supervisor vigia as funcionárias que trabalham a noite toda para cumprir prazos de entrega apertados, requeridos por varejistas internacionais

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damente, 15% do varejo nacional de vestuário. A C&A Modas informa que, além disso, criou,

em 1996, a SOCAM, (Organização de Serviço para Gestão de Auditorias de Conformidade), em-presa independente e internacional que realiza constantes vistorias em todos os fornecedores e subcontratados da rede, para buscar a melhoria das condições de trabalho, coibir qualquer tipo de mão de obra irregular e garantir um produto

íntegro. A empresa foi, ainda, a primeira a assinar (e a mobilizar seus fornecedores a assinarem) o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Es-cravo no Brasil (http://www.pactonacional.com.br). O documento é uma iniciativa da sociedade civil que visa a implementar ferramentas para que o setor empresarial e a sociedade brasileira não comercializem produtos de fornecedores que usam trabalho escravo.

Page 34: Geração sustentável - edição 27

Responsabilidade Socialc o r p o r a t i v a

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL

Pelo futuro das empresas

36

Cursos e oficinas trazem aos empresários algumas dicas para um futuro mais sustentável

lyane Martinelli

Page 35: Geração sustentável - edição 27

A s micro, pequenas e médias empresas representam hoje, no Brasil, aproxima-damente 95% das empresas do esta-do do Paraná, sendo responsáveis por

mais de 50% dos empregos diretos e com 24% de participação no PIB do estado. Entretanto, muitas delas apresentam dificuldades na gestão e, por isso, o Conselho Paranaense de Cidadania Em-presarial (CPCE) criou o “Guia do Empresário do terceiro milênio”, com dicas e orientações para empresários sobre orientações econômicas e so-cioambientais.

A qualificação e a mudança de postura do empreendedor paranaense é um dos objetivos da publicação, que busca abrir caminhos para uma gestão organizada e responsável, não só no quesito social e econômico, mas também relacio-nados à sustentabilidade empresarial. “O guia pretende motivar os gestores a administrarem suas empresas encarando novas posturas que lhes proporcionem maior comodidade e confor-to no gerenciamento dos recursos humanos, no relacionamento com a comunidade que os cer-ca e, sobretudo, torná-los mais competitivos no mundo globalizado. Tudo isso fundamentado nos princípios do Pacto Global e nos Objetivos de De-senvolvimento do Milênio (ODM) entre outras su-gestões de boas práticas”, afirma Victor Barbosa, presidente do CPCE.

“O CPCE estabelece mecanismos de apoio às empresas que têm interesse em investir na área socioambiental, bem como orienta sobre o investimento social privado e apoia a formação de empresários paranaenses comprometidos”, explica Barbosa. Para isso, ainda em março, será lançado o curso à distância gratuito baseado no Guia do Empresário do Terceiro Milênio, que traz de forma didática, as principais questões a serem implementadas ou ampliadas pelos empreende-dores para manter a boa saúde do seu negócio, sem se esquecer do seu lugar na sociedade e no ambiente. Empresários e estudantes poderão ter acesso ao curso pelo site www.eadsesipr.org.br

Oficinas sobre o Pacto Global • Junto a esse trabalho, com o guia para os empresários, o CPCE está desenvolvendo atividades com os empresá-rios paranaenses para difundir os princípios do Pacto Global - uma iniciativa desenvolvida pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores fundamentais e interna-cionalmente aceitos nas áreas dos direitos hu-manos, relações do trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. “Esses princípios são um comprometimento mundial com o fazer bem e acertadamente as práticas dos negócios. Nós, o Brasil, não podemos – e não devemos – ficar fora desse movimento que hoje aglomera milhares de organizações pelo mundo articuladas por cerca de 200 redes internacionais”, comenta Barbosa.

Para o CPCE, é importante salientar que o Pacto Global não é um instrumento regulatório, mas um código de condutas para promover o crescimento sustentável e a cidadania por meio de lideranças corporativas comprometidas com a inovação. As oficinas vão ocorrer em todo o Para-ná durante o ano de 2012 e as datas serão publi-cadas no site www.cpce.com.br.

Responsabilidade Social Corporativa • A fal-ta de planejamento das ações e dos critérios que efetivam a responsabilidade social corporativa (RSC) em uma empresa podem gerar desperdício de tempo e dinheiro. Por isso, o CPCE passou a oferecer em 2012 cursos de responsabilidade social corporativa, para que “cada vez mais em-presas trabalhem de forma planejada a susten-tabilidade de seus negócios com foco nas áreas que hoje são primordiais para a boa governança empresarial , onde o econômico , o ambiental e o social fazem parte dessa estratégia de negócios e são mensurados e apresentados no balanço so-cial da empresa”, conforme explica Sandra Bortot, articuladora do Núcleo do Terceiro Setor e do Nú-cleo das Instituições de Ensino Superior do CPCE.

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 37

“o CPCe estabelece mecanismos de apoio às empresas que têm

interesse em investir na área socioambiental,

bem como orienta sobre o investimento

social privado e apóia a formação de

empresários paranaenses comprometidos”, Victor

Barbosa, presidente do CPCE

Page 36: Geração sustentável - edição 27

Responsabilidade Socialc o r p o r a t i v a

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 38

“É essencial aliar as práticas sociais ao planejamento estratégico, buscando sempre a análise dos ambientes externo e interno da organização. Por tanto, é necessário considerar o foco em rSC que deve estar na base de gestão das organizações”, Janine Massolin, conselheira do CPCE

Os cursos vão contemplar assuntos, como: Normas e Certificações, Voluntariado Corporati-vo, Incentivos Fiscais e Doações Dirigidas, Plane-jamento e Gestão Estratégica do Terceiro Setor. “Esses são cursos que têm como grande desafio e objetivo ganhar maior tangibilidade, procurar indicadores concretos, utilizando-se de uma mo-nitoria e avaliação permanentes, aprimorando o trabalho dos gestores e especialmente a percep-ção de que a RSC deve fazer parte da estratégia de negócios da empresa e de propagar a impor-tância de tratar a questão social como forma es-tratégica, reaprendendo modos e condutas que

tenham a responsabilidade social como aprimo-ramento da qualidade de vida e o crescimento sociocultural de todos os envolvidos e guia para as tomadas de decisão”, explica Janine Massolin, conselheira do CPCE.

Segundo a conselheira, “é essencial aliar as práticas sociais ao planejamento estratégico, bus-cando sempre a análise dos ambientes externo e interno da organização. Por tanto, é necessário con-siderar que o Planejamento Estratégico com foco em RSC deve estar na base de gestão das organiza-ções que as impulsionem para o desenvolvimento sustentável, e para o cumprimento de suas ações”.

Princípios de Direitos Humanos, baseados na Declaração universal dos Direitos Humanos - 1948

Princípios do trabalho Decente, baseados nas Convenções da oIt

Princípios de Proteção ambiental, baseados na Declaração da rio 92 sobre Meio ambiente e Desenvolvimento

Princípios da anticorrupção, baseado na Convenção da onu Contra a Corrupção

01 respeitar e proteger os direitos humanos

02 Impedir violações de direitos humanos

03 apoiar a liberdade de associação no trabalho

04 abolir o trabalho forçado

05 abolir o trabalho infantil

06 eliminar a discriminação no ambiente de trabalho

07 apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais

08 Promover a responsabilidade ambiental

09 encorajar tecnologias que não agridem o meio ambiente

10 Combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina

os 10 princípios do Pacto Global

Fonte: Comitê Brasileiro do Pacto Global

Page 37: Geração sustentável - edição 27

Daniella Mac Dowell

Mestre em Saúde Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade

de São Paulo. Consultora e facilitadora de processos em

sustentabilidade.

o profissional de sustentabilidade

deve ser capaz de pensar de

forma sistêmica, compreendendo as

inter-relações entre os diversos atores e aspectos que regem

e influenciam sua atuação e sua

instituição

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 39

ustentabilidade” é um termo que ouvimos diariamente. Representan-tes de nações se encontram para decidir sobre estratégias para um

desenvolvimento mais sustentável. Empresas divulgam em seus sites boas práticas socio-ambientais. Governos discutem políticas de redução de impactos ambientais e diminui-ção da desigualdade social. Crises aquecem o questionamento sobre os limites do atual modelo econômico. Por encontrar-se de al-guma forma ligado a todas essas e a muitas outras questões, o termo “sustentabilidade” aparece com frequência em nossas vidas.

No entanto, se sustentabilidade é algo tão amplo e pluridimensional, o que dizer, então, do “profissional de sustentabilidade”? Quem é ele? Onde trabalha? Qual o seu perfil?

Em primeiro lugar, importante destacar que: (i) quando utilizo o termo “profissio-nais”, refiro-me àqueles que, exercem sua atividade profissional na área, e não àqueles que no seu dia a dia, agem de forma compa-tível com o que considero uma “vida mais sustentável”, embora, é claro, acredite que deva existir uma coerência entre a atuação e o cotidiano desse tipo de profissional (a nossa prática, ou seja, a forma como fazemos o que fazemos não pode ser dissociada de quem somos, e está intimamente ligada aos nossos valores; em sustentabilidade, não há espaço para profissionais do tipo “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”); (ii) acredito que muitos profissionais contribuem enormemente para a sustentabilidade, como, por exemplo, profissionais da área ambiental ou aqueles que atuam com desenvolvimento social; entretanto, o que apresento aqui é um novo perfil de profissional, que atua dentro de um conceito mais amplo e transversal.

Os profissionais de sustentabilidade não têm formação específica. Podem ser enge-nheiros, educadores, advogados, gestores, biólogos, entre inúmeras outras possibilida-des. Podem atuar no setor público ou no pri-vado, em instituições de ensino ou no terceiro setor. Podem atuar, ainda, como autônomos ou em consultorias. Podem ter em seu currí-culo inúmeros cursos na área ou, mesmo sem

ter se formado em um curso específico, com-preender inteiramente o conceito e ter prati-cado a sustentabilidade em seu dia a dia, no seu trabalho, de forma a se tornar especialis-ta no assunto. Podem ocupar cargos diversos, em departamentos diversos, não estando ne-cessariamente dentro de uma Diretoria ou Ge-rência de Sustentabilidade.

Mas reconheço um profissional de sus-tentabilidade quando encontro alguém com uma visão de um mundo mais sustentável, reconhecido dentro da instituição onde atua como um dos responsáveis por fazer com que essa instituição trilhe um caminho compatí-vel com essa visão. Esse profissional deve ter compreensão profunda sobre conceitos, as-suntos, princípios e ferramentas relacionados ao tema, e deve criar espaços para que esses temas permeiem a instituição onde atua.

Além das características descritas, esse profissional tem valores firmes e sólidos, atuando com ética e transparência, cons-truindo em sua instituição um caminho para a sustentabilidade de forma colaborativa, participativa, inclusiva e tolerante perante a diversidade. Ele deve ser capaz de pensar de forma sistêmica, compreendendo as inter--relações entre os diversos atores e aspectos que regem e influenciam sua atuação e sua instituição.

Hoje já ouvimos falar em CSOs, ou Chief Sustainability Officers. Esta terminologia, mais utilizada dentro das empresas, segue o padrão de outras já conhecidas como CEO (Chief Executive Officer) ou CFO (Chief Finan-cial Officer) e refere-se aos Diretores de Sus-tentabilidade, que têm como missão desen-volver estratégias de sustentabilidade dentro de uma empresa.

Em outubro de 2011, foi formalizada a ABRAPS – Associação Brasileira dos Profissio-nais de Sustentabilidade, com a missão de re-presentar, conectar e fortalecer a atuação do profissional de sustentabilidade. Com isso, percebemos o crescimento inegável desse novo perfil profissional e permanecemos com a esperança da melhoria da qualidade nas inter-relações entre indivíduos, empresas, mercado, sociedade e o planeta.

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Quem é o profissional da sustentabilidade?

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Page 38: Geração sustentável - edição 27

nir forças e viabilizar acessos para que pessoas e comunidades de baixa renda possam ser empreendedoras, promo-vendo a inclusão e os desenvolvimen-

tos econômico e social.” É com essa missão que está em cena, desde 2005, a Aliança Empreen-dedora, uma associação sem fins lucrativos que trabalha com projetos de geração de renda e empreendedorismo com o viés da sustentabili-dade aplicado às iniciativas.

Com sede na capital paranaense, a Alian-ça realiza projetos com empresas, governos e

ONGs em todo o Brasil, valendo-se de iniciativas e equipes no Paraná, em São Paulo, em Pernam-buco e na Bahia. Também conta com uma rede de organizações sociais capacitadas nas meto-dologias desenvolvidas por ela própria em mais 11 estados. São mais de 40 projetos e serviços para empresas e governos de diversos municí-pios orientados para o acesso ao conhecimento, ao crédito e à comercialização, resultando no apoio direto a cerca de seis mil microempreen-dedores de diferentes setores.

Rodrigo de Mello Brito Silva, diretor de Par-

Empreendedorismo

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 40

Iniciativa de inclusão transforma a vida de pessoas por meio do empreendedorismo

U

A cultura da inovação, sustentabilidade e “mão na massa”, é o diferencial de associação que promove desenvolvimento com o apoio de microempreendedores em todo o Brasil

Karla ramonda

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Page 39: Geração sustentável - edição 27

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 41

os resultados das organizações de catadores as organizações de catadores são empreendimentos cuja

característica é agregar, no mesmo ramo de atividade, o tripé da sustentabilidade (triple Bottom line). elas operam com as chamadas commodities secundárias e, como resultado, ge-ram postos de trabalho e renda (dimensão econômica), redu-zem a exploração de recursos naturais, o consumo de energia nos setores primário e secundário da economia (dimensão ambiental) e criam oportunidades para a inclusão social, uma vez que são constituídas por trabalhadores da base da pirâmide. também convergem para o engajamento multis-takeholder, pois se relacionam com o poder público munici-pal, estadual e federal, com a iniciativa privada, o terceiro se-tor, os movimentos sociais e com a sociedade de forma geral.

InDICaDoreS Do ProJeto reCIClaGeM InCluSIva (2011)aBranGÊnCIa:- Seis estados do Brasil: rS (esteio e Charqueadas), Pr

(araucária), SP (São Paulo e Pindamonhangaba), rJ (rio de Janeiro), MG (Divinópolis e Barão de Cocais) e Pe (recife),

IMPaCto:- nove organizações de catadores de materiais recicláveis

receberam suporte relacionado à gestão, produção e comer-cialização e a parcerias;

- elaboração da metodologia "Caminhos da reciclagem" composta de 15 módulos para assessorar diretores e público

interno das organizações de catadores;- Quatro organizações sociais aliadas (onGs) estão repli-

cando para a base a metodologia "Caminhos da reciclagem", o que leva à promoção do terceiro setor local.

InDICaDoreS eConôMICoS:- nove organizações formalizadas; três emitem nota fis-

cal, cinco comercializam para a indústria;- 175 toneladas de sucata foram comercializadas direta-

mente com a Gerdau em apenas seis meses, gerando a quan-tia de r$ 113.202,00.

InDICaDoreS aMBIentaIS:- nove associações receberam assessoria para operar em

conformidade com a legislação ambiental;- Melhoria na qualidade da relação com as Secretarias

Municipais de Meio ambiente;- Sensibilização das nove organizações de catadores so-

bre os impactos ambientais dos empreendimentos;- orientação sobre o manejo e a destinação correta de re-

síduos perigosos.InDICaDoreS SoCIaIS:- 201 catadores beneficiados diretamente e cerca de 600

pessoas beneficiadas indiretamente;- 48 catadores estão contribuindo para o InSS - Instituto

nacional de Seguro Social.

cerias e Oportunidades de Impacto da Aliança Empreendedora, explica que a associação atua na prestação de serviços e parcerias com gran-des empresas que queiram criar modelos de negócios inclusivos junto aos públicos de bai-xa renda, colocando os microempreendedores como parte de sua estratégia e cadeia de valor. “O objetivo é realizar programas de geração de renda e empreendedorismo para ampliar a es-cala de impacto e, ao mesmo tempo, tornar as ações sustentáveis”, justifica.

Inovação e sustentabilidade • Algumas das empresas clientes e parceiras da Aliança Empre-endedora são conhecidas por imprimir inovação aos projetos. Um deles é o Reciclagem Inclusiva – parceria entre a Aliança, Gerdau (líder no seg-mento de aços longos nas Américas e um dos maiores fornecedores do mundo), e GIZ (Agência de Cooperação Internacional do Governo da Ale-manha) – que visa beneficiar catadores de mate-riais recicláveis em seis estados brasileiros.

De acordo com Marcel de Souza, coordena-dor do Reciclagem Inclusiva pela Aliança Empre-endedora, esse projeto faz parte de uma parce-

ria público-privada entre Brasil e Alemanha, cujo objetivo é integrar o setor informal na cadeia de valor do aço. “A iniciativa busca apoiar e for-talecer as organizações de catadores de mate-riais recicláveis dentro das áreas de atuação e de influência da Gerdau. Além disso, propõe o aprimoramento dos processos de gestão, pro-dução e comercialização das organizações de catadores de materiais recicláveis dentro da ca-deia produtiva e de valor da Gerdau, em todo o território brasileiro”, conta.

O projeto iniciou em janeiro de 2011 e dura até julho de 2013, com suporte a nove organi-zações de catadores no Rio Grande do Sul, Pa-raná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco. Neste ano retoma o apoio às redes de comercialização organizadas pelos catadores. “O grande legado do projeto será a metodologia Caminhos da Reciclagem, uma ferramenta de profissionalização a ser validada por diversos stakeholders que atuam na cadeia produtiva e de valor da reciclagem, servindo como ponto de par-tida para apoiar as associações e cooperativas de catadores em todo o Brasil”, informa Marcel.

“a iniciativa busca apoiar e fortalecer as

organizações de catadores de materiais recicláveis e propõe o aprimoramento

dos processos de gestão, produção e

comercialização das organizações de catadores de materiais recicláveis””,

Marcel de Souza, coordenador do projeto

Reciclagem Inclusiva

Page 40: Geração sustentável - edição 27

O projeto “feminino” • Outra união da Alian-ça Empreendedora é com o Grupo Santander Brasil, que lançou em 2011 o programa Parcei-ras em Ação, destinado a organizações sociais que executam projetos de apoio a microempre-endimentos e a grupos produtivos comunitários constituídos e liderados majoritariamente por mulheres de baixa renda.

Para 2012, foram selecionadas cinco orga-nizações entre mais de 200 projetos que, ao longo do período, receberão apoios financeiro e metodológico para acompanhar 14 grupos pro-dutivos. Segundo a coordenadora de Gestão do Conhecimento da Associação Aliança Empreen-dedora, Caroline Maria Appel, existem alguns critérios específicos relacionados à triagem. Os concorrentes devem prever o apoio desde dois até quatro grupos produtivos, liderados em sua maioria por mulheres.

Quanto ao “item” sustentabilidade, Appel explica que não é norma para a seleção. “No en-tanto, ao longo do tempo de apoio aos grupos, são trabalhados o conceito e as questões rela-cionadas ao negócio como o aproveitamento e a destinação correta de resíduos, envolvimento

com a comunidade, entre outros.”Desde o primeiro edital (2009), receberam

apoio a Fundação Brasil Cidadão (Ceará), Fun-dação Apaeb (Bahia), Instituto de Desenvolvi-mento do Artesanato Maranhense (Maranhão), Avesol, Associação do Voluntariado e da Solida-riedade (Rio Grande do Sul) e Apesp (Associação de Pescadores no Espírito Santo). Entre essas or-ganizações, destaca-se o trabalho da Fundação Brasil Cidadão, que trabalha as sustentabilida-des econômica, ambiental e social em todas as suas ações.

Destaca-se, também, o Mulheres de Corpo e Algas, que buscou durante o projeto eliminar a exploração predatória dos bancos de algas de Icapuí/CE, por meio de cultivo e esporulação de algas, sem agredir o meio ambiente.

“Todas as cinco organizações apoiaram dire-tamente 17 grupos produtivos, que construíram seus planos de negócio, receberam máquinas e, com isso, aumentaram a renda dos participan-tes”, finaliza a coordenadora. As parcerias para a aplicação dos projetos também se estendem a outras empresas como Natura, Danone, Wal-mart, Sebrae e HP.

GERAÇÃO SUSTENTÁVEL 42

Empreendedorismo

Saiba mais sobre a aliança empreendedorao que aconteceria se a sua empresa atuasse de forma inclusiva e ao mesmo tempo lucrativa junto ao mercado de baixa

renda? Imagine então se cada onG promovesse a geração de trabalho e renda nas comunidades em que atua com metodologias de impacto? Isso acontecendo em uma rede que articula multiplicadores, parceiros e investidores? e se cada prefeitura tivesse programas de incentivo, formação e apoio a microempreendedores de baixa renda como estratégia para a redução da pobreza de forma consistente e com indicadores de impacto e resultado. Imaginou?

transformar isso em realidade é o que a aliança empreendedora faz com os projetos, serviços e formação de multiplicadores em todo o Brasil.

FoCo e atuação • Negócios inclusivos: Desenho, planejamento, implantação e avaliação de modelos de negócios inclusivos para empresas

que queiram atuar junto a públicos de baixa renda por meio de mecanismos de mercado.• Projetos e programas de incentivo e apoio ao empreendedorismo de baixa renda: Desenho, planejamento, implantação

e avaliação de projetos, programas e editais de incentivo e apoio a microempreendedores para a geração de trabalho e renda.• Geração de conteúdo e disseminação da cultura empreendedora: Premiações, eventos, geração e disseminação de mídia

e conteúdo educativo e inspirador para o empreendedorismo. Desenvolvimento e repasse de metodologias de apoio e educação empreendedora para onGs, governos, institutos e fundações empresariais

• Foco: públicos de empreendedores individuais, grupos produtivos comunitários urbanos e rurais, jovens empreendedores, negócios sociais comunitários e catadores de materiais recicláveis.

• Cursos, oficinas e treinamentos: Relacionados aos temas de gestão, empreendedorismo, inovação, negócios inclusivos e geração de trabalho e renda na base da pirâmide.

Mais informações:www.aliancaempreendedora.org.brcontato@aliancaempreendedora.org.br(41) 3013 2409 – Curitiba, Paraná

“o objetivo é realizar programas de geração de renda e empreendedorismo para ampliar a escala de impacto e, ao mesmo tempo, tornar as ações sustentáveis”, Rodrigo de Mello Brito Silva, diretor da Aliança Empreendedora

Page 41: Geração sustentável - edição 27
Page 42: Geração sustentável - edição 27

JerÔniMo MenDesAdministrador, Consultor,

Professor Universitário e Palestrante. Mestre

em Organizações e Desenvolvimento Local

ntre as inúmeras especulações sobre o mito criado em torno de Steve Jobs, existe algo que poucos pesquisado-res e aficionados pelo assunto não

destacam com a mesma importância com que deveriam: a questão da sustentabilidade e o lado humano da estratégia, visivelmente pre-sentes na política da empresa.

De início, pode-se imaginar que a Apple está preocupada apenas com a questão eco-nômico-financeira, porém, quando se analisa a qualidade dos produtos e sua aplicabilidade, é possível ter ideia do que se passava na cabe-ça de Jobs em relação à sustentabilidade e sua indissociável relação com a criação de facilida-des tecnológicas.

Sustentabilidade diz respeito ao uso efi-ciente dos recursos naturais utilizados por parte de quem fabrica e também de quem con-some produtos e serviços. Portanto, empresas que desejam perpetuar e construir um legado admirável devem pensar, acima de tudo, em como ganhar dinheiro sem destruir o meio am-biente.

Com relação ao lado humano da estratégia, significa dizer que as empresas, a exemplo da Apple, IBM, FIAT, GE e Natura, entre outras, procuram conceber produtos e serviços orien-tados para o bem-estar do consumidor. Obvia-mente, visam o lucro, porém, em tempos cada vez mais voltados para a interação do homem com o meio ambiente, é praticamente impossí-vel ignorar essa premissa.

Para se ter ideia do que isso significa é ne-cessário entender o que a Apple faz para mere-cer o conceito de empresa sustentável:

• Os produtos Apple são construídos em peça única denominada chassi monobloco com alumínio 100% reciclável;

• Os monitores são feitos com vidro 100% reciclável;

• A iluminação do painel utiliza tecnologia LED (Light Emitter Diode) - a mesma utilizada na fabricação de chip dos computadores – ca-paz de transformar energia elétrica em luz al-

ternativa e ecologicamente correta;• Por lei, toda compra realizada no Estado

da Califórnia reverte oito dólares para auxiliar na recuperação do impacto dos seus produtos sobre o meio ambiente;

• Todos os produtos Apple são fabricados sem componentes prejudiciais ao meio am-biente: chumbo, PVC, mercúrio, arsênio (tela de vidro), BFR (retardador de chama que con-tém Bromo, altamente tóxico);

• As embalagens de produtos Apple são concebidas exclusivamente para acomodar os produtos e nada mais, ou seja, embalagens compactas significam menos transporte, me-nos consumo de combustível e menos resídu-os no meio ambiente;

• Se você mora nos Estados Unidos e ad-quire um produto Apple, ganha um programa de reciclagem para a próxima troca do equipa-mento; a Apple recicla 90% dos componentes utilizados no produto original;

• Em geral, seus produtos são projetados para proporcionar a eficiência energética dos próprios usuários, portanto, mais recursos in-terativos e menos desperdício de energia.

Assim, quando pensar em sustentabilidade, lembre-se da Apple e incorpore em definitivo esse conceito. Quanto maior a conscientização em relação ao impacto dos desenvolvimentos econômico e social sobre o meio ambiente, maior a esperança para o futuro do planeta. Ser sustentável, portanto, significa:

• Ter políticas claras voltadas para o bem- estar do consumidor e ao mesmo tempo para o menor impacto possível dos seus produtos e serviços sobre o meio ambiente por meio da utilização consciente dos recursos naturais;

• Ter consciência de que se você quer dei-xar algo de valor para os seus filhos e netos, deve fazer muito mais do que se indignar com o que outros fazem com os resíduos dos produ-tos que fabricam e consomem;

• Ter o pensamento orientado para um viés sistêmico que permita entender a diferença en-tre consumo consciente e consumismo.

O que é ser sustentável?

E

Sustentabilidade diz respeito ao uso eficiente dos recursos naturais utilizados por parte de quem fabrica e também de quem consome. Portanto, as empresas que desejam perpetuar e construir um legado admirável devem pensar, acima de tudo, em como ganhar dinheiro sem destruir o meio ambiente

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falta de estrutura para que ciclistas se locomovam em espaços urbanos os obriga a dividirem o mesmo espaço com carros, ônibus e motos. Hábito

que pode ser bem perigoso e até fatal. São cada vez mais comuns as notícias sobre acidentes en-volvendo ciclistas e automóveis em todo o Brasil. Somente em Curitiba, de acordo com dados do Corpo de Bombeiros, de janeiro a agosto de 2011, 121 pessoas ficaram feridas em 146 acidentes en-volvendo ônibus e bicicletas em Curitiba.

Diante desta situação alarmante imagine po-der andar de bicicleta sem se preocupar com a movimentação dos carros nas regiões mais mo-vimentadas da cidade. Agora pense como seria bom poder fazer isso contemplando belas pai-sagens. Esses são apenas alguns dos benefícios

Acessibilidade

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Sustentabilidade sob duas rodas

AArquiteto cria projeto de ciclovia elevada que contribui com mobilidade e segurança

Bruna robassa

proporcionados pela ciclovia sustentável projeta-da pelo arquiteto e urbanista Gilmar Lima.

Lima é proprietário da empresa Atmosfera2 (www.atmosfera2.com.br), que existe há mais de 12 anos e tem como foco desenvolver planos es-tratégicos municipais voltados ao incremento do turismo. Além disso, grande parte dos projetos é sustentável. A Ciclovia Elevada começou a ser planejada há dois anos e pode ser implantada em qualquer região ou cidade. “É um projeto-conceito, que poder ser aplicado em qualquer lugar, no en-tanto, gostaria que Curitiba fosse a primeira cidade a receber um presente como este”, declara Lima.

A ciclovia proposta por Gilmar de Lima é ele-vada, como se fosse uma passarela que acom-panha a linha dos canteiros centrais, onde estão instaladas as estações tubo, que se integram à

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e desequilibrada. De acordo com dados do De-tran/PR (Departamento de Trânsito do Paraná) entre 2006 e 2010 a frota de veículos em Curitiba passou de 963.464 para 1.197.974, o que significa um aumento de 24%.

“Os carros aumentaram significativamente sua frota nas últimas décadas, sem investimen-tos compatíveis na infraestrutura urbana, além disso, em termos de sustentabilidade, esse tipo de locomoção já deixou a desejar”, ressalta.

O arquiteto destaca fatores preocupantes, como o uso individual do automóvel e o pouco há-bito de caronas. “Incomum é encontrarmos mais de uma pessoa nos carros. Além disso, o grande número de automóveis gera poluição, estresse e ruas incompatíveis. Mobilidade urbana é, hoje, questão de saúde pública”, enfatiza Lima.

Ideia inédita • O maior problema para a mobi-lidade urbana é também a falta de educação no trânsito. “Por isso, projetar ciclovias que fiquem no mesmo nível dos carros não é mais seguro. O trânsito anda tenso e perigoso, e isso nos inspi-rou na ideia de criar um projeto inédito, tirando a ciclovia do chão”, explica o arquiteto.

As estações tubo, conforme mostram as ima-gens, seriam interligadas a essa ciclovia por meio de elevadores, rampas e escadas. O projeto tam-bém prevê que na estação seja construída uma plataforma elevatória para possibilitar o acesso à ciclovia tanto para ciclistas como cadeirantes.

A criação de estacionamentos (bicicletários), acoplados às estações tubo, também está previs-ta no projeto. “Nesses locais também seria inte-ressante que a prefeitura disponibilizasse bici-cletas para uso público, assim como já acontece em diversas cidades europeias, no Rio de Janeiro e até no interior do Paraná. A bicicleta pode ser utilizada como meio de condução de um trajeto completo ou por lazer, como apenas para com-pletar o caminho que muitas vezes o ônibus não faz”, sugere Gilmar.

Sustentabilidade e acessibilidade • A ciclo-via elevada possui vários requisitos que a tornam sustentável. Segundo o arquiteto, há condições para que o piso dela seja gerador de energia em alguns trechos, energia que poderia ser trans-formada em iluminação de baixo consumo. Uma opção seriam os balizadores de LED. Portanto, a iluminação da ciclovia seria gerada por ela mes-ma por meio da movimentação dos ciclistas.

As características do projeto também o tor-nam capaz de resolver um problema que pode-ria ser considerado barreira à implantação da

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“no Brasil não faltam bons projetos

sustentáveis, mas sim planejamento sustentável e uma

cultura mais perfilada ao tema” , Gilmar lima,

arquiteto e urbanista

ciclovia por meio de elevadores e escadas adap-tadas para bikes. O projeto piloto teve como base a cidade de Curitiba em razão de o arquiteto viver aqui nesta cidade.

Se fosse contemplada a ciclovia deveria cobrir toda a Linha Verde com integração para as linhas Boqueirão e Pinheirinho - Centro. “Esses foram os locais escolhidos para o projeto piloto pelo grande fluxo de trabalhadores que utilizam essas linhas e por serem regiões mais planas”, explica. O arquiteto lembra que a ciclovia precisa ser en-carada como forma de transporte, não só como lazer domingueiro.

O problema da mobilidade nas cidades • Gil-mar é um crítico da mobilidade urbana. Segundo ele, as cidades cresceram de forma desordenada

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Acessibilidade

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ciclovia. “A estrutura poderia acoplar parte das tubulações urbanas, que hoje são enterradas, o que causa grandes custos de manutenção e in-tervenção. Se essas tubulações fossem acopla-das na ciclovia, seus custos de implantação e manutenção seriam barateados, assim como se-ria possível criar mais jardins e liberar passagem de pedestres no solo. Solução integrada, viável e sustentável”, ressalta o arquiteto.

Como coordenador nacional do Fórum Inter-nacional de acessibilidade e cidadania, que será realizado em junho deste ano em Foz do Iguaçu (PR), Gilmar de Lima também prevê a utilização da ciclovia para pessoas com deficiência. “A condu-ção para cadeirantes não é uma atividade muito fácil diante do trânsito caótico e da falta de estru-tura em muitas calçadas. Por esses e outros moti-vos, essa ciclovia teria condições de agregar uma parte de comunicação visual e tátil importante e integrada à sua acessibilidade”, conta Lima.

Natureza e segurança • Uma ciclovia elevada permite a contemplação de paisagens urbanas com o benefício de estar no nível da copa de algu-mas árvores. Além das possibilidades naturais, o arquiteto prevê a plantio de espécies nativas que “abraçariam” a ciclovia. “Dessa forma, além de proporcionar um passeio agradável e sombrea-mento aos que pedalam, o projeto também pro-move o embelezamento da cidade, ao mesmo tempo em que é sustentável”.

Outra utilização da ciclovia poderia ser a de policiamento. “Já temos policiais que se locomo-vem de bicicleta, e essa ciclovia também bene-ficiaria o policiamento, já que a visão periférica tornar-se-ia abrangente, assim como a de um mi-

rante”. O arquiteto destaca, porém, que a ciclovia proposta “é um projeto único, que deve concorrer a prêmios de mobilidade urbana pela inovação que se apresenta, mas sem cunho político. É um conceito exclusivo que pode e deve ser replicado, apesar de já ter registrado seus direitos autorais”.

Arquitetura sustentável • Gilmar, que possui quase 30 anos de profissão, já tem em sua tra-jetória diversos projetos sustentáveis aprovados, implantados e bem-sucedidos em muitas cidades do Brasil. O principal foco do arquiteto, é o plane-jamento de parques, praças, ciclovias que, além de sustentáveis, sejam atrativos para potenciali-zar o turismo em locais degradados.

As obras são sustentáveis pelo tipo de mate-rial utilizado, que são de preferência ecoprodu-tos e matéria-prima local. Outros requisitos que caracterizam a sustentabilidade são o reuso de água, a economia de energia e a capacitação de quem executa os projetos para evitar o desper-dício e gerar baixo custo de manutenção futura.

Como exemplo de projetos já produzidos, Gilmar cita as “Paragens temáticas da Estrada da Graciosa”, no município de Quatro Barras, o “Parque do Rio Timbu”, em Campina Grande do Sul, e o “Polo Náutico Cambirela”, no município de Palhoça, em Santa Catarina, além do Parque Linear S. Francisco, entre outros.

Na estrada da Graciosa, as paragens temáti-cas “contam” a história de Dom Pedro II e pro-movem uma viagem no tempo com muita inte-ratividade e utilização de materiais reciclados e alternativos. As paragens também são benéficas para os ciclistas que por ali passeiam.

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e desafia as pessoas a experimentar novas formas de percepção, novas formas de atuação e novas formas de expansão do potencial humano, agregando valor à sociedade e às futuras

gerações.

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