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ALEXANDRE CAMPOS BERBE
GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO:
REFLEXÃO DE CONCEITOS E O PAPEL DA BIBLIOTECONOMIA
São Paulo
Junho de 2005
ALEXANDRE CAMPOS BERBE
GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO: REFLEXÃO DE
CONCEITOS E O PAPEL DA BIBLIOTECONOMIA
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado à Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, como requisito para obtenção do título de bacharel em Biblioteconomia.
Orientadora: Profa. Dra. Asa Fujino
São Paulo
Junho de 2005
Esse trabalho é dedicado aos amigos da turma da noite de 2000 e aos que surgiram ao longo do curso, nas bagunças dentro do 701-U e nas viagens que fizemos.
Em especial aos componentes do "Trio Ternura", Julietti Andrade e Dani Momozaki...
...à simpática Aninha Sodré Garces... ...à parceira de pizza e trabalhos Gi Marangon...
...e à Liana Catunda Guedes, bibliotecária do CPC/USP.
"A criação de novos conhecimentos envolve tanto ideais quanto idéias"
Ikujiro Nonaka
RESUMO
A presente monografia apresenta conceitos e reflexões sobre as atividades de Gestão da Informação e do Conhecimento nas organizações. Recentemente, devido às mudanças no comportamento de indivíduos e instituições determinadas pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, as discussões sobre o valor da informação e a necessidade de uma administração eficiente desse recurso ganharam evidência e importância. Por isso, a pesquisa apresenta diversos conceitos e teorias relacionadas à Gestão da Informação e do Conhecimento, identificando a função de cada uma dessas atividades, determinando sua posição e área de influência dentro da organização. Como atividades relacionadas, a Gestão de Documentos e a Inteligência Competitiva têm finalidades específicas, porém são complementares aos objetivos da Gestão da Informação e do Conhecimento. Pensando num ambiente organizacional estruturado no uso da informação e capacidade de desenvolvimento do conhecimento, apresenta-se a imagem do profissional da informação, o agente que identifica fontes de informação, capacita seu uso e motiva a sua disseminação. A pesquisa demonstrou que o bibliotecário está apto a colaborar ativamente nas organizações em sua atividade natural de administrar recursos informacionais, embora muitas empresas esqueçam de sua valia e busquem soluções provisórias ou menos capacitadas. Palavras-chave: Gestão da Informação, Gestão do Conhecimento, Gestão de Documentos, Inteligência Competitiva, informação nas empresas, documentos eletrônicos, atribuições do profissional da informação, geração e uso do conhecimento.
SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA ......................................................................................6
1.1. Justificativa.............................................................................................................................6 1.2. Questões a serem respondidas ............................................................................................7 1.3. Introdução ..............................................................................................................................8
2. CENÁRIO ATUAL.................................................................................................................10 2.1. O conhecimento nas organizações ....................................................................................10 2.2. Necessidade de um novo modelo de administração......................................................12 2.3. Os valores intangíveis.........................................................................................................16 2.4. Tecnologia da Informação..................................................................................................17 2.5. Informação, conhecimento e aprendizagem organizacional.........................................19
3. GESTÃO DA INFORMAÇÃO ............................................................................................21 3.1. O conceito de informação...................................................................................................22 3.2. O papel da Gestão da Informação.....................................................................................26 3.3. Informação nas empresas...................................................................................................29 3.4. Ambiente organizacional ...................................................................................................31 3.5. Ambiente informacional.....................................................................................................34 3.6. Implicações para a administração da informação ..........................................................40
4. GESTÃO DE DOCUMENTOS............................................................................................42 4.1. O que é um documento? ....................................................................................................43 4.2. A questão dos documentos eletrônicos............................................................................47 4.3. Diferenças: documento na Biblioteconomia x Arquivologia ........................................54 4.4. Função da Gestão de Documentos....................................................................................56
5. GESTÃO DO CONHECIMENTO ......................................................................................60 5.1. O que é conhecimento?.......................................................................................................61 5.2. Geração de conhecimento ..................................................................................................64 5.3. Objetivos da Gestão do Conhecimento ............................................................................66
6. INTELIGÊNCIA COMPETITIVA.......................................................................................71 6.1. Aprendizado organizacional .............................................................................................76 6.2. Relação entre Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva ...........................78
7. O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO.........................................................................................81 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................89 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................99
Relação de sites consultados.........................................................................................................102
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1. APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
Tema
O uso da informação nas organizações e a função do profissional da informação.
Objetivos da pesquisa
1) conceituar e identificar diferenças significativas entre Gestão de Documentos,
Gestão da Informação, Gestão do Conhecimento e Inteligência competitiva;
2) investigar se esses conceitos são independentes ou se são níveis de tratamento da
informação nas empresas;
3) identificar o papel dos profissionais da informação para a realização desses
processos.
1.1. Justificativa
Atualmente, o cotidiano de pessoas e organizações está muito mais dinâmico
devido ao desenvolvimento e ao fácil acesso às tecnologias de informação e
comunicação. O ritmo acelerado em que novas tecnologias são criadas, as rápidas
mudanças econômicas e o grande volume de informação disponível faz com que
sejam necessárias ações para separar o útil do não-importante. Por isso, as
organizações precisam de processos que facilitam e organizam todo o acervo
informacional e que possibilitam rápidas ações no plano estratégico das empresas.
Nesse contexto, ganharam destaque e importância alguns processos que se
tornaram essenciais para a sobrevivência das empresas em meio a enorme
concorrência. Destaca-se a Gestão de Documentos, Gestão da Informação, Gestão do
Conhecimento e Inteligência Competitiva.
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Percebeu-se que a literatura disponível na área, incluindo as monografias
acadêmicas, aborda de maneira isolada cada um dos processos listados acima. Além
disso, e por se tratar de uma área em evidência, muitas discussões foram feitas a
respeito, gerando uma grande variedade de conceituações, e muitas distorções.
Portanto, é relevante uma pesquisa que delimite a Gestão de Documentos, da
Informação e do Conhecimento, tentando revelar as necessidades e objetivos
específicos de cada área.
Outro ponto importante é determinar o papel do bibliotecário nesse ambiente,
uma vez que se trata de um trabalho essencialmente de aquisição, organização e
aplicação de acesso a documentos e informações. O que se vê é a apropriação dessa
função por profissionais de outras áreas, principalmente de áreas ligadas aos
negócios, como administração, economia e engenharia.
1.2. Questões a serem respondidas
a) Quais são as implicações e as diferenças entre a gestão de documentos
“tradicionais” e documentos eletrônicos?
b) Quais são as características que diferenciam Gestão da Informação e Gestão do
Conhecimento?
c) Como as empresas entendem a Gestão do Conhecimento?
d) Há diferenças entre Inteligência Corporativa e Inteligência Competitiva?
e) O bibliotecário, considerando a sua formação, o novo cenário de trabalho e as suas
(novas) atribuições, está perdendo espaço para profissionais de outras áreas?
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1.3. Introdução
Nos últimos anos, especialmente a partir da disseminação das tecnologias de
informação, meios de comunicação e a globalização, provocaram profundas
transformações na maneira das pessoas e instituições interajam entre elas e o
ambiente que as cercam. Em todos os setores da sociedade ocorreram significativas
mudanças, sobretudo no que se diz respeito ao acesso à informação.
Esse fato faz com que as organizações procurem meios para administrar os
seus recursos humanos, tecnológicos e, principalmente, informacionais que se
ganharam grande importância. Desse modo, surgem teorias de administração que
tratam desses recursos que invariavelmente implicam em necessária adaptação e
preparação dos profissionais para atuarem nesse novo modelo organizacional.
Sobretudo, os profissionais de informação, cuja função primária é fazer a gestão dos
recursos de informação das instituições.
Com a área em evidência, muitos conceitos, definições e teorias surgem para a
formação do campo da Gestão da Informação e do Conhecimento.
Assim sendo, tomando como referência o campo da Biblioteconomia, torna-se
necessário investigar as atividades de gestão de recursos informacionais e do
conhecimento. Mais do que isso, a pesquisa intencionou demonstrar a relação entre
essas atividades e o profissional de informação, além de relacionar essas atividades
entre si.
Esse trabalho se desenvolve em um capítulo inicial que descreve a situação
atual das organizações e algumas características que surgiram devido às
transformações tecnológicas e da sociedade. A seguir, são apresentadas as três áreas
principais que são alvos da pesquisa: Gestão da Informação, Gestão de Documentos e
Gestão do Conhecimento.
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O capítulo sexto, Inteligência Competitiva, se faz necessário para destacar suas
diferenças entre as atividades apresentadas nos capítulos anteriores.
Por fim, o capítulo sétimo levanta as características que devem ser valorizadas
pelos profissionais de informação que queiram atuar com a gestão de informações
nas empresas. Também se discute o papel do bibliotecário no ambiente empresarial e
qual a sua posição nas atividades de Gestão da Informação, Gestão do Conhecimento
e Inteligência Competitiva.
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2. CENÁRIO ATUAL
A recente atratividade pela Gestão da Informação, Gestão do Conhecimento e
a discussão sobre a inteligência organizacional parecem convergir de vários fatores
econômicos, sociais, tecnológicos e culturais. Os modelos de apropriação da
informação, os meios de comunicação, a Internet, os recursos informatizados que
facilitam o trabalho (desde ferramentas de comunicação eletrônica até repositórios de
dados) e as novas formas de aprendizagem (como o e-learning), além de outros
elementos, transformaram o dinamismo das atividades humanas, principalmente no
que se refere às atividades realizadas nas organizações.
Diante da turbulência da atual sociedade, que exige a formação de um novo
modelo organizacional mais flexível, participativo e pró-ativo, uma parte
significativa das idéias e teorias sobre as organizações, surgidas nas últimas décadas,
enfatiza a necessidade de um processo de transformação das crenças que formam a
base do modelo burocrático. Essa necessidade de transformação abrange as mais
diferentes dimensões da rotina organizacional, tais como: a estratégia, a cultura, os
processos operacionais, a estrutura, o estilo de liderança, o processo de decisão, a
tecnologia e sobretudo a capacidade de aprendizagem organizacional e inovação.
2.1. O conhecimento nas organizações
A incorporação, cada vez maior, de conhecimento como valor agregado na
produção de bens e serviços, e alterações no escopo das organizações em função da
globalização, do dinamismo em relação às mudanças políticas, econômicas e
tecnológicas, e da alta competitividade dos mercados, bem como alterações na
arquitetura e estrutura organizacional, exigem o desenvolvimento de novas
competências, tanto no nível individual como no organizacional. Particularmente
sobre a função da informação e do conhecimento, SILVA (2002, p. 143) cita que “na
sociedade atual e futura, o conhecimento cada vez mais assume um papel central (...) recursos
11
econômicos básicos passam a contar, além do capital, dos recursos naturais e da mão-de-obra,
com o aporte dos conhecimentos necessários aos processos produtivos e de negócios”.
Na visão de Drucker (1991), o conhecimento do negócio se torna cada vez mais
necessário para o desenvolvimento organizacional. Esse conhecimento de negócio
significa estar por dentro de todos os acontecimentos que diretamente ou
indiretamente afetam a empresa, ou seja, integrar-se ao ambiente e ficar atento às
novas informações que surgem a todo o momento. A respeito desse fato, MORESI
(2001, p. 35) afirma que “para que a organização possa sobreviver, diante das adversidades
que se apresentam, é preciso que ela conheça o ambiente e atue com eficácia.” Sendo assim,
torna-se necessário que a organização esteja em constante interação com o ambiente
que o envolve para garantir uma continuidade saudável de seus negócios.
O conhecimento de negócio é a base para a inovação contínua. Como
requisitos essenciais para a constituição dessa nova organização, pode-se destacar,
entre outros:
• A existência de objetivos comuns, simples e claros, que se traduzam facilmente
em ações localizadas;
• Um tipo de ação gerencial que focalize a ação conjunta dos especialistas, que
passam a ser todas as pessoas na organização – democratização das
responsabilidades e noção de cooperatividade para o bem do grupo;
• A existência de metas claramente definidas e mecanismos de feedback e de gestão
do desempenho;
• O compartilhamento de responsabilidade pela informação – todos devem estar
conscientes de que informações realmente precisam, quem pode fornecê-la e para
quem precisam repassá-la.
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2.2. Necessidade de um novo modelo de administração
A complexidade na implementação desse modelo de organização reside na
dificuldade que as empresas têm enfrentado para transpor os limites impostos pelo
modelo burocrático tradicional. A burocracia de Max Weber é uma organização
eficiente que objetiva solucionar racionalmente os problemas das empresas. Pela
necessidade de adotar novas teorias administrativas que pudessem dar conta da
complexidade das empresas do início do século XX, criou-se a teoria da organização
burocrática a partir dos estudos de Weber. Como toda organização daquele período
buscava a máxima eficiência para atingir seus objetivos e aumentar a produtividade,
a burocracia, com o seu estruturalismo e racionalidade, veio para ajudar a alcançar
tais pretensões.
A organização burocrática foi desenvolvida cientificamente para funcionar
com precisão, criada para adequar os meios disponíveis aos fins pretendidos.
Portanto, para se atingir a eficiência e os objetivos da organização, o modelo
burocrático veio para regrar procedimentos e ações, detalhando antecipadamente
como as coisas deveriam ser feitas.
A organização de natureza burocrática possui, além de outras, as seguintes
características (FERREIRA et al., 1997, p. 34-39):
• Normas e regulamentos caracterizados em formas legais que devem ser
estabelecidos por acordo ou imposição, com o objetivo de manter a relação de
autoridade entre membros pertencentes à organização e o próprio funcionamento
dessa organização;
• A comunicação dentro da organização assume uma característica formal (são
registradas por escrito);
• Há uma racionalidade na divisão do trabalho, com uma hierarquização clara e
bem definida de cargos;
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• Cada cargo possui uma responsabilidade definida e delimitada legalmente,
tirando do funcionário a sua autonomia;
• Existe uma completa impessoalidade nas relações de trabalho, ou seja, a relação
existente na organização é por meio de cargos e não por meio de pessoas;
• A organização dos cargos obedece ao princípio da hierarquia, cada cargo inferior
está sob supervisão de um superior.
A Administração Clássica de Henri Fayol e a Administração Científica de
Frederick Taylor também desenvolveram modelos de organização que se
fundamentam no controle, na divisão do trabalho e na visão mecanicista das
atividades. Cada departamento e cada funcionário eram considerados peças de um
grande conjunto, a organização. Esse tipo de visão remete à idéia de uma máquina,
por isso esse estilo de administração é conhecido como mecanicista (FERREIRA et al.,
1997).
Esse tipo de administração é caracterizado por ser rigidamente estruturado e
inflexível, dificultando, ou até mesmo impedindo, mudanças significativas para a
adoção de um novo formato empresarial.
O velho modelo burocrático está se tornando cada vez mais inadequado para
enfrentar os desafios atuais impostos às empresas. As empresas de características
mecanicistas se encontram, geralmente, em ambientes relativamente estáveis.
Enquanto isso, as empresas que romperam essa estrutura rígida do modelo da
administração clássica (empresas orgânicas ou pós-empreendedoras) estão,
invariavelmente, em setores mais dinâmicos e intensivos do conhecimento (TERRA,
2001).
Diante da realidade apresentada, as empresas estão buscando tornar a
organização mais flexível e descentralizada, de forma a adaptar-se às mudanças do
ambiente.
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Comparativamente, existem profundas diferenças a empresa da era do
conhecimento e a empresa da era industrial, onde a produção representava o setor de
maior importância na organização. Uma síntese dessas mudanças pode ser
observada na tabela abaixo que apresenta as principais diferenças entre a
organização característica da era industrial e a organização baseada em modelos que
priorizam a informação e o conhecimento.
Item Paradigma na era industrial Paradigma na era do conhecimento
Pessoas Geradores de custos ou recursos Geradores de receitas Fonte de poder dos gerentes Nível hierárquico na organização Nível de conhecimento
Luta de poder Operários versus capitalistas Trabalhadores do conhecimento versus gerentes
Principal responsabilidade de gerência Supervisionar os subordinados Apoiar os colegas
Informação Instrumentos de controle Ferramenta para comunicação: recurso
Produção Operários processando recursos físicos para criar produtos tangíveis
Trabalhadores do conhecimento convertendo conhecimento em
estruturas intangíveis
Fluxo de informação Mediante a hierarquia organizacional Mediante redes colegiadas
Gargalos da produção Direcionado pelas máquinas; seqüencial Direcionado pelas idéias; caótico
Efeito do tamanho Economia de escala no processo de produção Economia de escopo das redes
Relações com os clientes Unidirecional através dos mercados Interativa através de redes pessoais
Conhecimento Uma ferramenta ou recurso entre outros O foco do negócio
Propósito de aprendizado Aplicação de novas ferramentas Criação de novos ativos
Valores de mercado (ações) Decorrentes, em grande parte, dos ativos tangíveis
Decorrentes, em grande parte, dos ativos intangíveis
Economia Baseada em retornos decrescentes Baseada em retornos crescentes e decrescentes
Tabela 1 – Os princípios da organização baseada no conhecimento Fonte: Adaptado de TERRA (2001, p. 57)
Porém, as organizações que buscam mudanças rápidas e intensas podem ser
vítimas de modismos e soluções utópicas que prometem dar conta dessa dificuldade,
e que muitas vezes resultam em transformações traumáticas ou atraso no
desenvolvimento organizacional. O surgimento de estruturas comprometidas com
estes novos valores, erigidas por novos paradigmas de horizontes abrangentes, não
permitirá mais organizações cujas responsabilidades compartilhadas sejam
medíocres (LESSA, 1997).
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Essas mudanças imprescindíveis para a formatação de um novo modelo
organizacional implicam em ajustamentos em sua cultura, em menor ou maior grau,
dependendo da complexidade, valores e crenças enraizadas no ambiente da
organização. FLEURY e FISCHER (1992, p. 20) definem a cultura organizacional
como
conjunto de pressupostos básicos (basics assumptions) que um grupo inventou, descobriu ou
desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e que
funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos membros como a
foram correta de perceber, pensar e sentir, em relação a esses problemas.
O ambiente organizacional não muda repentinamente, apenas com uma
ordem. Essa mudança envolve, além de outros aspectos, pessoas, seres humanos
suscetíveis a insegurança e rejeição a um novo modelo de trabalho.
Preocupando-se com o lado humano do processo, as organizações procuram
incentivar o desenvolvimento pessoal e profissional dos seus funcionários. Mais do
que isso, as empresas buscam formar equipes altamente especializadas. Essa
tendência mostra cada vez mais que as organizações baseadas em informação
exigem, geralmente, muito mais especialistas do que as empresas tradicionais do tipo
“comando e controle” (DRUCKER, 2000).
Esse modelo de organização exige preparação técnica de seus funcionários.
Em todos os setores, as organizações devem suprir suas necessidades de mão-de-
obra. Corroborando esse fato, citando DRUCKER (2000, p. 13), para quem “os
especialistas se concentram nas atividades operacionais e não na sede corporativa (...) a
organização operacional tende a transformar-se em organização de especialistas de todas as
espécies”.
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2.3. Os valores intangíveis
No tempo em que as linhas de produção eram novidades, o valor de uma
empresa refletia, basicamente, a soma de suas infra-estrutura, de sua produção e do
desempenho de suas vendas.
Atualmente, o patrimônio de uma organização não inclui apenas elementos
tangíveis. Boa parte do que representa uma empresa está na tecnologia que domina,
conhecimento adquirido e poder de competitividade.
Um exemplo real que demonstra as mudanças que estão ocorrendo no mundo
das organizações está nas empresas de tecnologia. Por exemplo, a empresa de
informática Microsoft chegou a valer vinte vezes mais que os seus ativos financeiros.
Apenas a marca Microsoft valia, em 2000, aproximadamente US$ 70.2 bilhões, atrás
apenas da marca Coca-Cola, cuja marca valia algo em torno de US$ 72.5 bilhões.
MARCA VALOR (US$ BILHÕES)
Coca-Cola 72,5
Microsoft 70,2
IBM 53,2
Intel 39,0
Nokia 38,5
General Electric 38,1
Ford 36,4
Disney 33,6
Mc Donald’s 27,9
AT&T 25,5
Marlboro 22,1
Mercedes 21,1
Tabela 2 – Valor de mercado das marcas mais valiosas do mundo Fonte: TERRA (2001, p. 21), baseado em levantamento feito pela Interbrand/Citibank – WPP Group, Annual Report, 2000
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Esse é um fato que demonstra como os valores intangíveis, como as marcas,
assim como o conhecimento e a capacidade de inovação ganharam importância, e
valor, na atual realidade do mundo dos negócios.
2.4. Tecnologia da Informação
Sob o aspecto tecnológico, a evolução das potencialidades da Tecnologia de
Informação (TI) provocou grandes mudanças. Maior capacidade de armazenamento
e disponibilização de informações, interatividade em tempo real e integração de
múltiplas mídias representam novas formas de trabalho e novas oportunidades.
Por muito tempo acreditou-se que o domínio da informação era sinônimo de
poder. Sob este ponto de vista, a TI representa um grande potencial para uma
organização garantir sua competitividade. A capacidade tecnológica da organização
é considerada seu diferencial, e, de certa forma, sua atuação está condicionada por
esta tecnologia.
Para se ter uma idéia da necessidade de investimentos em TI, o Jornal Valor
Econômico ( )1 publicou um artigo, no início de 2005, sobre números e valores nessa
área. Só no Brasil, a previsão de uma consultoria em tecnologia para investimentos
em TI no país é que seriam empregados mais de US$ 10 bilhões. No mundo, esse
valor chegaria a US$ 1 trilhão.
No entanto, da mesma forma que houve avanços e maior acesso aos recursos
de TI, o volume de informação disponível também cresceu. Os meios disponíveis se
multiplicaram, assim como o ritmo de entrada e saída de informações, ocasionando
uma necessidade de criar grupos responsáveis pelo gerenciamento do fluxo dessas
informações e fazer o seu tratamento, armazenamento e disseminação.
1 Artigo do Jornal Valor Econômico citado no site do Conselho Regional de Biblioteconomia – Região 7 (CRB-7), disponível online em <http://www.crb7.org.br/noticias/ tecnologiadainformacao.html> em 6 jan. 2005.
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Com a TI, uma empresa pode gerar mais dados sobre sua performance de suas
atividades, permitindo a coleta, armazenagem e análise de informações que antes era
impossível. A TI também permite uma análise mais apurada, além de poder
controlar e relacionar um número muito maior de variáveis. Isso é particularmente
importante, pois é possível observar com mais detalhes, e com um número muito
maior combinações de variáveis, os processos passados e planejar o futuro pela
elaboração de prováveis cenários do mercado em que a empresa opera.
A TI também promoveu uma grande transformação no meio produtivo das
empresas – especialmente na linha de produção. Máquinas e ferramentas
automatizadas são mais velozes e precisas do que as antigas máquinas operadas
manualmente.
PORTER e MILLAR (1996, p. 77) citam o exemplo dos pescadores da costa
oeste dos Estados Unidos. Esses pescadores agora usam aparelhos que indicam a
posição de cardumes através de GPS, temperatura da água e outros dados. Com
todas essas informações, esses pescadores podem realizar o trabalho de maneira mais
eficiente, usando melhor o tempo e reduzindo os gastos com combustíveis, por
exemplo.
A redução dos custos de TI, garantindo sua ampla utilização, e conseqüentes
experiências de sucesso e fracasso, resultou na percepção de que só TI não promove
benefícios substanciais para as organizações. A Gestão do Conhecimento vem ao
encontro dessa situação. As discussões sobre o conhecimento como o verdadeiro
diferencial sustentável e o deslocamento do centro das atenções para o capital
intelectual (recursos humanos com potencial de provocar mudanças), representam
uma evolução da Gestão da Informação que dominava o cenário das organizações até
então.
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2.5. Informação, conhecimento e aprendizagem organizacional
O levantamento de informações disponíveis que são necessárias para o
processo de tomada de decisão, de quem as produz e de que forma pode utilizá-las,
pode ser o fator determinante para o posicionamento da organização no mercado.
Talvez seja isso que diferencia as empresas que se orgulham do seu alto grau
de informatização e as empresas que se preocupam com a informação e o
conhecimento que circulam nas redes internas de comunicação. No caso das
primeiras, as pessoas acreditam que a quantidade de dados disponível acarreta num
melhor desempenho. Contudo, o abundante volume de dados que a tecnologia
dispôs às pessoas acarreta em sobrecarga de informação.
Essas empresas também colocam os especialistas em TI como a solução para
suas necessidades de dados estratégicos que os executivos e profissionais necessitam
para as suas atividades. Atualmente, essa é uma visão distorcida da realidade em
organizações que operam com informações e conhecimento. DRUCKER (2000, p. 19)
faz uma analogia, comparando esses especialistas em TI como os “ferramenteiros” da
empresa: “eles [especialistas em TI] são capazes de prover as ferramentas necessárias ao
estofamento de uma cadeira; mas precisamos decidir se a cadeira de fato necessita de reforma”.
Com base no fornecimento de informação e desenvolvimento do
conhecimento, as empresas estão mais preocupadas com a sua capacidade de
inovação. Por isso, fala-se muito em estimular a capacidade de aprendizagem das
organizações. O conhecimento é visto como recurso estratégico, enquanto que o
aprendizado como processo mais importante.
LASTRES e FERRAZ (1999, p. 49) entendem o processo de aprendizado como
“um processo que envolve uma combinação de experiência, reflexão, formação de conceitos e
experimentação”.
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A ênfase no conhecimento se deve, entre outros motivos, aos avanços
tecnológicos que são frutos de grandes esforços de pesquisa e desenvolvimento. As
altas taxas de inovações e mudanças recentes implicam em uma maior demanda por
capacitação para responder às oportunidades que se apresentam. Logo, exige-se, por
parte de indivíduos e organizações, investimento em pesquisa, desenvolvimento,
educação e treinamento.
Assim sendo, todos os recursos tecnológicos, de comunicação e informacionais
não serão plenamente utilizados caso não estejam aptos a utilizá-los.
Partindo dos fatos apresentados, percebe-se a importância e a necessidade de
estabelecer meios para gerenciar os recursos da organização, incluindo os intangíveis
que serão estudados nesse trabalho, sobretudo no período mais recente em que a
informação e o conhecimento fazem a diferença entre empresas baseadas em
modelos tradicionais de administração e empresas com poder de inovação. E,
principalmente, identificar o posicionamento do bibliotecário na gestão desses
recursos vitais para as modernas organizações.
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3. GESTÃO DA INFORMAÇÃO
A informação é o componente fundamental para a tomada de decisão e para
realização de qualquer tipo de tarefa. De maneira geral, podemos dizer que o papel
da informação é determinante para a condução das atividades nas organizações. De
acordo com CHOO (1996, p. 30), “as organizações usam a informação para tomar decisões,
resolver problemas ou acumular conhecimento”.
Fazendo uma pausa e refletindo sobre o papel da informação na vida de
qualquer pessoa, pode-se chegar a várias situações que a exigem.
Por exemplo, vamos supor que precisamos ir a um médico. Para realizar essa
atividade, precisamos responder a algumas questões:
a) que horário devemos chegar ao local?
b) onde fica o consultório?
c) precisamos levar algum documento ou guia?
d) que horas devemos sair de casa?
e) que trajeto vamos fazer?
Algo mais corriqueiro, como escutar música. Vamos escutar no rádio, CD ou
Internet? Que tipo de música eu queremos escutar? Que música está disponível? Se
for rádio, qual é a faixa da estação que queremos ouvir?
Pensando nisso, percebe-se que para responder a todas as questões
apresentadas necessitamos de algo. E em todos os casos, precisamos de informações.
No nosso cotidiano, existe uma requisição constante de informações.
Do mesmo modo ocorre nas empresas. Podemos imaginar várias situações
encontradas dentro de uma empresa no seu dia-a-dia em que a informação é
fundamental para o andamento das atividades.
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Um departamento de marketing não pode fazer nada sem informações sobre a
concorrência e o mercado consumidor. Um setor de compras deve receber
informações sobre os melhores preços de insumos. Um departamento de produção
necessita de dados sobre demanda e desempenho.
O papel da informação nas organizações é citado por BEUREN (2000, p. 43):
A informação é fundamental no apoio às estratégias e processos de tomada de decisão, bem como no
controle das operações empresariais. Sua utilização representa uma intervenção no processo de gestão,
podendo, inclusive, provocar mudança organizacional, à medida que afeta os diversos elementos que
compõem o sistema de gestão. Esse recurso vital da organização, quando devidamente estruturado,
integra as funções das várias unidades da empresa, por meio dos diversos sistemas organizacionais.
A informação, no ambiente empresarial, pode ser vista de duas perspectivas: a
informação como facilitadora na identificação de alternativas inovadoras no processo
de elaboração da estratégia empresarial; e a informação como um componente da
própria estratégia empresarial.
Também é importante lembrar que a elaboração de estratégias empresariais de
uma organização se fundamenta, entre outros aspectos, na sua posição em relação ao
ambiente externo. Levando em consideração os dias atuais, em que o ambiente
externo é extremamente turbulento, o papel da informação é vital para o
desenvolvimento de processos e ações empresariais.
Diante desse fato, justifica-se a necessidade de criar uma política eficiente de
Gestão da Informação. Mas o que é informação?
3.1. O conceito de informação
O conceito de informação, como conhecemos nos dias atuais, nasceu na
década de 60, juntamente com a área da Ciência da Informação. Discussões acerca do
23
tratamento da informação eram uma questão de urgência a ser resolvida pela
comunidade científica da época. No mesmo período, viveu-se um grande
desenvolvimento tecnológico.
FERNEDA (2003, p. 6) relata em sua monografia que a primeira definição para
a Ciência da Informação foi formulada durante as conferências do Georgia Institute
of Technology, nos anos de 1961 e 1962:
[Ciência da Informação é] a ciência que investiga as propriedades e comportamento da informação, as
forças que regem o fluxo da informação e os meios de processamento da informação para uma
acessibilidade e usabilidade ótimas. Os processos incluem a origem, disseminação, coleta, organização,
recuperação, interpretação e uso da informação. O campo deriva de ou relaciona-se com a matemática, a
lógica, a lingüística, a psicologia, a tecnologia da computação, a pesquisa operacional, as artes gráficas,
as comunicações, a biblioteconomia, a administração e alguns outros campos.
Outros autores apresentaram suas definições para os estudos no campo da
Ciência da Informação:
[Ciência da Informação] é um campo dedicado às questões científicas e à prática profissional voltadas
para o problema da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no
contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação. No tratamento
destas questões são consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologias
informacionais. (SARACEVIC, 1996, p. 47)
[Ciência da Informação é entendido] como o campo que se ocupa com os princípios e práticas da criação,
organização e distribuição da informação, bem como com o estudo dos fluxos da informação desde sua
criação até sua utilização, e sua transmissão ao receptor, por meio de uma variedade de canais. (SMIT e
BARRETO, 2002, p. 17)
Percebe-se, observando as definições apresentadas sobre a Ciência da
Informação, que se trata de uma área multidisciplinar. Essa caracterização propicia
diversas frentes de estudos e discussões sobre o seu objeto de estudo, a informação.
24
Na literatura pesquisada, ficou evidente a variedade de conceitos sobre
informação. Em outros trabalhos acadêmicos, muitos autores se referem aos aspectos
terminológicos da questão. Isso se justifica, principalmente, por causa do uso da
palavra “informação” em diferentes áreas do conhecimento. Mesmo em áreas
próximas, a palavra remete a conceitos com algumas variações.
Em linhas gerais, na Biblioteconomia e Ciência da Informação, informação
representa o conteúdo de um acervo, armazenada em suportes físicos ou digitais,
com potencial para agregar valor ao usuário visualizado pelo sistema de informação.
Na comunicação, informação desempenha o papel de núcleo no processo
comunicativo, tem significado associado à mensagem. Na administração, informação
é insumo. Na computação, informação é um conjunto de dados qualificados.
Visando distinguir a informação do senso comum com aquela que é objeto da
Ciência da Informação, SMIT e BARRETO (2002, p. 21) definem informação como
Estruturas simbolicamente significantes, codificadas de forma socialmente decodificável e registradas
(para garantir permanência no tempo e portabilidade no espaço) e que apresentam a competência de
gerar conhecimento para o indivíduo e para o seu meio. Estas estruturas significantes são estocadas em
função de um uso futuro, causando a institucionalização da informação.
Claude Shannon (apud FERNEDA, 2003, p. 8) apresenta o conceito de
informação a seguir:
[Informação é] o que acrescenta algo a uma representação [...] Recebemos informação quando o que
conhecemos se modifica. Informação é aquilo que logicamente justifica alteração ou reforço de uma
representação ou estado de coisas. As representações podem ser explicitadas como num mapa ou
proposição, ou implícitas como no estado de atividade orientada para um objetivo receptor.
O ponto de vista de Shannon trata a informação como algo que independe do
suporte físico material. O fundamental, nessa perspectiva, seria os papéis do emissor,
receptor e canal. Esse tipo de consideração é bastante comum na Teoria da
Informação e Teoria da Comunicação.
25
RUYER (1972, p. 3) também conceitua informação como uma relação entre um
suporte, o receptor e o processo de entendimento (apreensão de significado):
A palavra ‘informação’, em seu sentido usual, parece comportar, necessariamente, um elemento de
consciência e sentido [...] A informação, no sentido habitual do termo, é a transmissão a um ser
consciente de uma significação, de uma noção, por meio de uma mensagem com base em um suporte
espaço-temporal: imprensa, mensagem telefônica, onda sonora, etc.
Hayes (apud FERNEDA, 2003, p. 9) introduz um conceito de informação,
associando ao tratamento de dados:
Informação é uma propriedade dos dados resultante de ou produzida por um processo realizado sobre os
dados. O processo pode ser simplesmente a transmissão de dados (em cujo caso são aplicáveis a definição
e medida utilizadas na teoria da comunicação); pode ser a seleção de dados; pode ser a organização de
dados; pode ser a análise de dados.
DRUCKER (2000, p. 13), em seu artigo “The Coming of the New
Organization”, de 1988, definiu a informação como “dado investido de relevância e
propósito”. Esse conceito revela, indiretamente, o papel do investimento ou da análise
humana para a construção da informação.
DAVENPORT (2000, p. 18) utiliza como base de suas teorias o conceito de
informação de Drucker. Além disso, ele caracteriza a informação como algo que
requer unidade de análise (o que significa que é passível de discordância), exige
consenso em relação ao significado e exige necessariamente a mediação humana.
DAVENPORT (p. 19) também destaca o conceito de dados, como sendo
“observações sobre o estado do mundo”. Por serem facilmente estruturados,
quantificáveis e transferíveis, os dados, comparando com a informação, são mais
fáceis de capturar, comunicar e armazenar, sobretudo num meio informatizado.
KENT (1972, p. 23) define informação da seguinte maneira:
26
Podemos considerar como informação qualquer conhecimento gravado que possa ser de alguma utilidade
para uma decisão. Tal conhecimento gravado pode ser encontrado em uma vasta quantidade de fontes,
tais como correspondências, inventários, relatórios de vendas, de pesquisas, de viagens, monografias,
artigos, literatura comercial e anúncios.
Percebe-se, nas palavras de Kent, uma visão diferente sobre a informação. Esse
autor coloca o conceito de informação próximo ao suporte material, ou o que seria
documento.
Em geral, observa-se que todas as definições apresentadas levam em
consideração o papel da análise do ser humano para configurar dados, ou uma
transmissão de dados, em informação.
Sendo assim, o significado de uma informação pode variar de acordo com a
perspectiva de cada pessoa. Sempre haverá quem discorde ou tenha uma opinião
diferente sobre uma determinada informação. Usando uma comparação feita por
DAVENPORT (2000, p. 19), a informação é muito difícil de ser transferida com
absoluta fidelidade, como naquela brincadeira infantil do telefone sem fio.
Para que haja um uso eficiente da informação nas empresas, é importante que
existam canais eficientes que possibilitem o acesso às informações. Nesse ponto, a
responsabilidade dos administradores para criar meios de estabelecer um fluxo de
informação ideal é estrategicamente vital para as organizações.
3.2. O papel da Gestão da Informação
A atividade de gestão pode ser considerada um conjunto de processos que
englobam atividades de planejamento, organização, direção, distribuição e controle
de recursos. Nas empresas esses recursos podem ser econômicos, materiais,
tecnológicos, informacionais, humanos e de qualquer outra espécie. Toda gestão visa
racionalizar e melhorar a eficiência das atividades que envolvem uma organização.
27
O gerenciamento moderno de informações começou há mais de um século,
surgido da chamada revolução do controle de negócios. Essa revolução nasceu junto
com as corporações, com sua complexa organização em múltiplas divisões e funções,
provocando, assim, uma necessidade imediata de controle e coordenação.
DAVENPORT (2000, p. 26) comenta que Joanne Yates, historiadora de
sistemas de informação, já descreveu o início da administração informacional na
forma de correspondência comercial (feita em máquinas de escrever) e de sistemas de
arquivamento de documentos (guardados em arquivos como os que são encontrados
atualmente nos escritórios). Com o desenvolvimento tecnológico, surgiram meios
mais rápidos e eficientes de lidar com a informação empresarial.
BEUREN (2000, p. 44) descreve, resumidamente, o processo informacional nas
empresas:
Observa-se que a informação tem sua origem na coleta de dados, os quais, por sua vez, são organizados e
recebem significado de acordo com um contexto delimitado. Isso implica na necessidade da delimitação
inicial do problema, o que servirá de base para identificar as informações pertinentes a serem
selecionadas, dentre as já disponíveis na empresa, ou, em não existindo, buscar dados em outras fontes,
fora da organização, e transformá-los em informação útil para o contexto da definição da estratégia.
Portanto, a Gestão da Informação busca, em uma de suas etapas, definir as
fontes de informação da organização e fazer a seleção das informações que sejam
úteis. Esse tratamento inicial da informação constitui-se por uma série de processos
coordenados, dentro de planos organizacionais:
• identificação das necessidades de informação;
• coleta/entrada de informação;
• classificação e armazenamento da informação;
• tratamento e apresentação da informação;
• desenvolvimento de produtos e serviços de informação.
28
No entanto, a Gestão da Informação não se desenvolve apenas nesse nível
organizacional (papel que é desempenhado pelos profissionais da informação).
BEUREN (2000, p.59-67) identifica outros componentes no processo de informação:
• banco de dados (ferramenta de arquivamento e recuperação de informações);
• profissionais de TI;
• áreas usuárias de informação (gestores, assessores executivos, profissionais de
pesquisa, de desenvolvimento, de marketing, acionistas, investidores potenciais,
instituições financeiras, clientes, concorrentes, fornecedores, analistas de
mercado, etc);
• rede informal de informações.
MARCHIORI (2002, p. 74) identificou três recortes no contexto da Gestão da
Informação, baseado em evidências dos cursos de graduação e pós-graduação no
país:
Um dos enfoques é dado em cursos de administração de empresas, nos quais a gestão da informação visa
a incrementar a competitividade empresarial e os processos de modernização organizacional,
capacitando profissionais na administração de tecnologias de informação em sintonia com os objetivos
empresariais [...] Sob o enfoque da tecnologia, a gestão da informação é vista, ainda que dentro de um
contexto organizacional, como um recurso a ser otimizado via diferentes arquiteturas de hardware,
software e redes de telecomunicações adequadas aos diferentes sistemas de informação – em especial aos
empresariais [...] O terceiro enfoque é o da ciência da informação (...) que em sua essência se ocupa do
estudo da informação em si, isto é, a teoria e a prática envolvidas em sua criação, identificação, coleta,
validação, representação e uso, tendo como princípio o fato de que existe um produtor/consumidor de
informação que busca, nesta, um “sentido” e uma “finalidade”.
Esse conceito de Gestão de Informação representa exatamente a realidade dos
estudos sobre a informação. Em um mundo em que as áreas do conhecimento se
inter-relacionam e as especializações têm um caráter multidisciplinar, as pesquisas e
atividades profissionais se adaptam para manter-se existentes. Os profissionais da
informação tradicionais (bibliotecários, arquivistas, museólogos e até mesmo os
29
profissionais de comunicação social) se agregam a outros tipos de profissionais que
surgiram devido a essa nova demanda.
Levando em conta as definições anteriores, pode-se considerar como natural o
fato dessa mistura de especialistas na gestão de informação. Isso porque a Gestão da
Informação envolve não somente as atividades corriqueiras da função do
bibliotecário ou dos profissionais de comunicação, mas abarca outras áreas, como
informática (tecnologias de informação), psicologia (comportamento organizacional)
e a administração (estratégia e planejamento de negócios).
3.3. Informação nas empresas
As organizações necessitam de meios para obter informação que sejam úteis
para os seus negócios e que estejam disponíveis em mecanismos de busca que
funcionem bem, possibilitando uma integração entre suas redes de inteligência
interna com as vitais fontes de informação externas.
O fluxo de informação nas organizações refere-se a todos os processos, formais
e informais, que façam circular informação. Esse fluxo envolve vários tipos de
atividades e formas de comunicação e disposição da informação, como conversas
telefônicas, memorandos, manuais de procedimentos, jornais internos da companhia,
boletins, mala direta, etc. Fica evidente que quanto maior e mais diversificada for a
organização, mais sofisticada tende a ser o fluxo de informação.
Desse modo, o planejamento, como em toda política administrativa para o
andamento de atividades de qualquer setor da sociedade, é importante para evitar
problemas como aquisição de informação que não é necessária (o que pode ser visto
como desperdício de dinheiro) ou sobrecarga de informações. BEUREN (2000, p. 47)
enfatiza essa necessidade:
30
A informação não se limita à simples coleta de dados. (...) Eles precisam ser decodificados, organizados e
contextualizados, de acordo com as necessidades dos responsáveis pelos processos decisórios. Em outras
palavras, os dados representam a matéria-prima, à qual são agregados valores de utilidade, de acordo
com propósitos preestabelecidos, transformando-os em informação para aquele fim específico.
Com o grande volume de informações que chegam aos computadores de
gerentes e funcionários, fica claro a necessidade de um planejamento informacional,
ou como DAVENPORT (2000, p. 67) define como “Estratégia da Informação”:
Sem uma estratégia de informação para lidar com esse problema, o resultado é a sobrecarga de
informações. Os gerentes queixam-se de que recebem mais de cem mensagens diárias pelo correio
eletrônico cada um, sem contar o correio de voz, os (sic) fax, as ligações telefônicas normais e
correspondências em papel maior do que antes. Como um deles me disse: “para manter o trabalho em
dia, eu teria que gastar todo o meu tempo, dentro e fora da empresa, fazendo contatos, e não teria mais
vida própria”.
Em organizações que possuam grande fluxo de informações, é importante
citar o papel da arquitetura da informação. Esse procedimento é importante para,
entre outros motivos, definir o espaço da informação da organização em grupos de
interesse, identificar a informação interna da externa, organizar meios para definição
de origens, filtragem e redução da informação, eliminar ruídos, facilitar o acesso às
informações desejadas e aperfeiçoar a comunicação para o compartilhamento de
informações.
O controle do fluxo de informação é importante para que os setores de uma
organização desempenhem suas atividades. É função dos administradores elaborar
estruturas eficazes para que o trânsito de informação atinja os objetivos de todas as
partes. DAVENPORT (2000, p. 14) enfatiza a importância desse planejamento
afirmando que “ao invés de pensar somente na tecnologia, os administradores devem pensar
na maneira como as pessoas criam, distribuem, compreendem e utilizam a informação”.
Portanto, para que a informação certa circule e chegue aos funcionários certos,
não bastam apenas enormes investimentos em tecnologia. As tecnologias de
31
informação, sem dúvida nenhuma, facilitam bastante a vida das empresas, mas isso
não é suficiente.
Deve haver, necessariamente, uma mudança comportamental. O
envolvimento de todas as pessoas é preciso para que a Gestão da Informação atinja
os seus objetivos.
3.4. Ambiente organizacional
É uma tendência natural que os gerentes e profissionais que lidam com a
informação armazenem e “escondam” toda a sua produção informacional. Isso
acontece pelo pensamento de que “informação é poder”. Idéias novas e originais fazem
com que os líderes das organizações procurem preserva-las em nome da vantagem
competitiva.
No entanto, é fundamental que a organização implante a cultura do
compartilhamento de informações. É muito comum que em médias e grandes
empresas vários departamentos estejam realizando projetos e atividades
semelhantes, senão iguais. Ou então, que um departamento necessite de uma
informação que outro departamento já tem, causando gastos com sua procura ou
aquisição desnecessária.
Por isso, segundo STANAT (1997, p. 326), as organizações que conseguem
disseminar de maneira rápida e eficiente as informações geradas internamente,
levam um grande vantagem sobre as outras organizações. O acesso às bases de dados
de outros setores, gerências ou até mesmo de outras organizações, possibilita que as
lacunas ou necessidades informacionais sejam preenchidas.
SILVA (2002) diz que “uma informação idêntica, da mesma forma que um recurso
físico, terá diferente valor para as pessoas, locais e tempos diferentes, variando então seu valor
32
econômico conforme o contexto existente.” Por isso, o compartilhamento de informações
pelos integrantes da organização é fundamental, pois só assim pode haver agregação
de valores a partir de diferentes pontos de vista e de uso de uma mesma informação.
Um autor que defende com veemência o ato de compartilhamento é
DAVENPORT (2000, p. 115), que define a disseminação de informações por parte dos
funcionários como "o ato voluntário de colocá-las à disposição de outros".
O processo de compartilhamento não tem o mesmo significado de relatação,
ato involuntário de troca de informações através de um meio rotineiro e estruturado.
O relatório é habitualmente um processo que ocorre verticalmente na estrutura
hierárquica (da gerência para os subordinados). Esse é um tipo comum de troca de
informações nas empresas. Significa o poder (a melhor informação fica no topo da
hierarquia).
DAVENPORT (2000, p. 118) comenta sobre alguns estudos realizados em
algumas empresas. Os resultados mostraram que as pessoas têm uma visão negativa
da troca de informações. Muitas vezes as informações que são trocadas passam
primeiramente por uma manipulação para preservar a importância e a contribuição
exclusiva de seu criador ou proprietário. Em outro estudo, notou-se que não havia
incentivos para se compartilhar informações, pois os funcionários temiam que outros
recebessem os créditos pelo trabalho. Nas indústrias, dados sobre estoques são
freqüentemente manipulados e dados de clientes são retidos – para que nenhum
vendedor possa explorá-los.
Segundo DAVENPORT (2000, p. 118), “parece que a troca de informações, nas
empresas, é um ato quase anormal”.
No entanto, os líderes nas organizações estão percebendo a importância de
impor um fluxo menos hierárquico (sem rigidez em excesso) e do fluxo horizontal de
33
troca de informações. A troca de informações entre colegas tem se mostrado bastante
interessante no processo de disseminação de informações dentro das empresas.
Cada indivíduo deve adotar a responsabilidade pela administração da
informação. DAVENPORT (2000, p. 129-130) constatou que “na maioria das empresas, a
informação é armazenada e procurada por indivíduos (...) o crescimento do prestígio do
computador pessoal ilustra o valor que os funcionários dão ao ato de cuidar de seus próprios
ambientes informacionais”.
Contudo, os profissionais que são fornecedores e receptores de informação
sofrem do mal da sobrecarga de informações. Sem tempo, nem métodos eficazes para
fazer esse micro-gerenciamento de informação, papéis, dados e outros materiais se
acumulam nas gavetas e nos arquivos.
Outro ponto discutível é que é praticamente impossível microadministrar o
comportamento informacional de cada funcionário, dado ao número de pessoas e às
questões da privacidade e liberdade individual.
Em relação ao grupo (um departamento ou pessoas de um mesmo projeto), as
empresas tentam minimizar o problema relacionado ao comportamento
informacional elaborando um planejamento de disseminação e fluxo de informação
interno. Para isso, os envolvidos nesse planejamento devem pensar nas seguintes
questões:
• qual tipo de arquitetura de sistemas e quais componentes são necessários para a
implantação de uma rede de informação compartilhada?
• quem ou qual área funcional será responsável por coletar, selecionar e disseminar
informações?
• que tipo de informação pode ser compartilhado?
• que formato pode ser usado para distribuir a informação? (sob o ponto de vista
tecnológico e visual)
34
• como deve ser feita a distribuição de um determinado tipo de informação?
• quais são os requisitos necessários para efetuar o compartilhamento de
informação na empresa?
• como a empresa irá avaliar ou medir a eficiência do compartilhamento de
informação?
• quais são as “armadilhas” presentes?
3.5. Ambiente informacional
Figura 1 – Modelo do Ambiente Informacional das organizações Fonte: adaptado de DAVENPORT (2000, p. 51)
Um modelo para a Gestão da Informação elaborado por DAVENPORT (2000,
p. 51), divide a organização em três ambientes: o ambiente externo, ambiente
organizacional e o ambiente informacional. Essa divisão é baseada em quatro
atributos-chave, como a integração dos diversos tipos de informação, o
35
reconhecimento de mudanças evolutivas (adaptação ao ambiente externo), ênfase na
observação e ênfase no comportamento pessoal e informacional.
Ambiente externo
O ambiente externo é composto por outras organizações, negócios, fontes
externas de informação, mercado, ciência, política, cultura, economia, fornecedores,
concorrência e sociedade.
Essa teoria sistêmica das organizações não é recente. O alemão Ludwig von
Bertalanffy publicou em 1937 as bases da Teoria dos Sistemas, relacionando a
estrutura e as características dos organismos vivos com as organizações (FERREIRA
e REIS, 1997).
Figura 2 – Modelo do Enfoque Sistêmico, teoria administrativa conhecida como Teoria dos Sistemas Fonte: adaptado de FERREIRA, REIS e PEREIRA (1997, p. 62)
Ou seja, é o ambiente em que a organização, que faz parte desse ambiente
externo, se relaciona com outras entidades. Atualmente, nenhuma empresa pode
ignorar ou controlar o ambiente externo.
36
Para a Gestão da Informação, o ambiente externo está repleto de fontes
estratégicas de informação. O mercado de negócios pode oferecer informações para
orientar a estratégia de marketing da empresa. Por conseguinte, o mercado
consumidor permite coletar dados do consumidor (quantificáveis, como quantos
produtos foram adquiridos ou quantas reclamações foram feitas) e conhecimentos
sobre o consumidor (demográficos, como localização geográfica do consumidor).
Em um mundo altamente competitivo, as empresas alocam grandes esforços
para saber o que o concorrente está fazendo. Esse tipo de informação é realmente
significativo, se configurando como uma das missões do pessoal da Inteligência
Competitiva, assunto que será discutido mais tarde nessa monografia.
Ambiente organizacional
DAVENPORT (2000, p. 224) diz que
é preciso ter em mente que relacionamento entre o contexto organizacional de uma empresa e seu
ambiente informacional são uma via de mão dupla, isto é, o ambiente informacional pode orientar ou
motivar um ambiente informacional específico, assim como este último pode capacitar ou restringir a
empresa.
Após anos de dedicação ao planejamento estratégico para que os recursos
informacionais e tecnológicos trabalhem conjuntamente, os esforços de reengenharia
são um forte indício de que informação e tecnologia podem possibilitar novos
projetos ou impedi-los.
O ambiente organizacional é composto por alguns componentes. O mais
importante deles é referente à situação nos negócios da organização. A estratégia de
negócios implica diretamente nas necessidades informacionais.
Outro componente do ambiente organizacional é a estrutura tecnológica. O
uso de tecnologia apropriada propicia a redução de custos financeiros e de suporte,
37
além de que a informática está bem familiar aos funcionários. Isso significa que eles
podem usar o seu tempo no conteúdo e não na aprendizagem de novas linguagens
de informática.
Atualmente, os recursos de TI, mesmo os menos complexos, são suficientes
para a execução da maioria dos trabalhos para a gestão da informação. Conexões e
redes de alta velocidade, bancos de dados e softwares específicos para o
gerenciamento e distribuição de informações (como o Lotus Notes) são recursos
básicos para qualquer estrutura organizacional.
Por fim, o ambiente organizacional é formado pelo espaço físico. Muitas vezes,
os administradores não dão a menor importância ao lugar onde os funcionários e
grupos se situam. Para DAVENPORT (2000, p. 238), “poucas generalizações acerca da
informação são tão verdadeiras como esta: trocamos informações com aqueles que vemos com
freqüência”. As empresas incentivam a comunicação organizacional criando espaços
comuns para a troca de informações.
Ambiente informacional
DAVEPORT (2000, p. 51) definiu seis componentes que formam o núcleo do
gerenciamento de informação na organização.
1) estratégia de informação
Como ocorre em qualquer empresa, há a necessidade de estabelecer
estratégias para administrar recursos financeiros ou humanos. As estratégias da
informação giram em torno da seguinte pergunta: “o que queremos fazer com a
38
informação nesta empresa?” E o que é mais importante, essas estratégias devem
envolver a alta administração.
2) política de informação
Esse componente envolve o poder proporcionado pela informação e as
responsabilidades da direção em seu gerenciamento e uso. No entanto, as empresas
às vezes tentam implementar estratégias ou iniciativas informacionais inconsistentes
com a sua estrutura política, o que leva ao fracasso.
3) cultura e comportamento em relação à informação
A cultura e o comportamento organizacional tem papel muito importante no
desenvolvimento de um ambiente informacional bem sucedido. Talvez sejam os mais
resistentes às mudanças. Outro ponto a se destacar é que não se deve impor a
responsabilidade a cada funcionário. Esse tipo de ação deve se transformar em
objetivo estratégico da administração, sem restringir esse território a cúpula dos
gerentes e pessoal de TI. O comportamento em relação à informação, positivo ou
negativo, forma a cultura informacional de uma empresa. Essa cultura determina se
os envolvidos valorizam a informação, se a compartilham através das barreiras
organizacionais, trocam-na interna e externamente, capitalizam-na nos negócios.
4) equipe da informação
As pessoas ainda são as melhores “ferramentas” para realizar a identificação,
categorização, filtragem, interpretação e integração das informações disponíveis. A
equipe de informação não se restringe apenas ao pessoal da tecnologia, mas todos os
que captam e interpretam as informações. DAVENPORT (2000) cita que o papel do
ser humano ainda não pode ser trocado pelas máquinas: “assim como os pesquisadores
das tecnologias de fabricação, nas indústrias automobilísticas, descobriram que os projetos
39
mais produtivos usam soluções tecnológicas e humanas, os melhores ambientes informacionais
não automatizam o papel do homem”.
Uma boa equipe informacional é polivalente/multidisciplinar. O ideal é
formar uma equipe com especialistas em conteúdo (bibliotecários e pesquisadores de
mercado), projetistas, facilitadores de bases informacionais e elos de ligação (guias
que ajudam os usuários a identificar suas necessidades).
5) processos de administração informacional
Esse componente detalha os processos de gerenciamento de informação. Na
prática, pode-se dizer que seja o centro do ambiente informacional, onde ocorrem as
funções de coleta, tratamento e disseminação da informação.
Genericamente, os processos se dividem em quatro etapas distintas:
a) determinação de necessidades informacionais: conhecimento das exigências de
informação das pessoas e definição das fontes e fornecedores de informação;
b) coleta e análise: obtenção e tratamento da informação;
c) disseminação: distribuição da informação para as pessoas que a necessitam,
utilizando diversos canais (biblioteca, redes de computadores, Internet);
d) utilização e feedback: uso da informação e análise para verificar pontos falhos do
processo.
6) arquitetura de informação
Qualquer fornecedor de informação poder agregar valor à informação ao
torná-la mais acessível. A arquitetura informacional, ao conduzir o usuário ao local
onde uma determinada informação está armazenada, aumenta a possibilidade de
que essa informação seja usada de maneira eficiente, além de criar uma satisfação do
usuário que voltará a buscar outras informações.
40
3.6. Implicações para a administração da informação
O levantamento de informações disponíveis que são necessárias para o
processo de tomada de decisão, de quem as produz e de que forma pode utilizá-las,
pode ser o fator determinante para o posicionamento da organização no mercado.
Para que isso ocorra, é importante fazer com que essas informações cheguem
com um grau satisfatório de precisão. Isso porque o volume de informação presentes
em variados suportes (textuais ou não) disponível para acesso se eleva cada vez
mais. SAMPSON (apud DAVENPORT, 2000, p. 33) descreve esse excesso de
informação nas empresas:
Temos montanhas de papéis e de documentos impressos em computador. Rolos de microfilmes e pilhas
de microfichas enchem caixas e armários. Fitas de áudio e de vídeo escondem-se em cantos e em gavetas.
Disquetes espalham-se pelos escritórios, fitas de computador consomem o espaço do depósito e discos
óticos lotam armários. Hoje, os novos sistemas informacionais também incluem voz e vídeo.
Isso resulta em organizações com dificuldades de administrar esses grandes
volumes de informação.
Por isso, a alta gerência das organizações busca constantemente por meios
efetivos para coletar, armazenar, disseminar e, principalmente, compartilhar
informação em tempo razoável dentro de suas necessidades de seus negócios. Isso é
realizado nas empresas, de maneira geral, criando estruturas sistemáticas de suas
redes de informação compartilhada – arquitetura de sistemas de informação.
Arquitetura de sistema engloba todas as necessidades de entrada-processo-
saída de dados no plano tecnológico. A complexidade de um sistema depende muito
das necessidades e do tamanho da organização. De maneira geral, uma arquitetura
de sistema deve prever os seguintes elementos como descritos no esquema abaixo:
41
Fontes de informação (interna ou externa) ⇓
Banco de dados central ou centro de informação ⇓
Relatórios de competitividade / Notícias corporativas / Pesquisa de novos negócios / Pesquisa Ad Hoc
Figura 3 – Modelo de arquitetura de sistema de informação Fonte: adaptado de STANAT, Ruth. The Shared Information Network. In: CHOO e AUSTER (1997, p. 327)
Normalmente, os coordenadores de informação (representados por uma
pessoa ou um grupo na gerência) e as bibliotecas de empresas conseguem coletar a
maior parte das informações originadas externamente e de operações de divisões
internas da organização (como dados sobre vendas, contabilidade, resultado de
pesquisas, relatórios de mercado, etc.). Geralmente, bancos de dados resolvem boa
parte das necessidades de informação das organizações. No entanto, com a anexação
de novos recursos multimídia à informação textual, os sistemas necessitam ser mais
flexíveis e avançadas a ponto de suportar essa variada riqueza de formatos.
A integração entre os diversos tipos de informação (não-estruturada, baseada
em conhecimento, estruturada e computadorizada) está ocorrendo de maneira
natural nas organizações, segundo DAVENPORT (2000). Muito se deve ao papel da
TI. No entanto, uma integração mais real não pode ocorrer sem mudanças estruturais
e no gerenciamento.
42
4. GESTÃO DE DOCUMENTOS
A preocupação com a administração dos documentos não aparece
explicitamente na literatura relacionada à informação nas empresas. Contudo, após
conhecer a Gestão da Informação é fundamental levantar uma discussão
especificamente sobre os documentos tratados nas empresas. Primeiramente, porque
documento é algo implícito na área de Biblioteconomia. Durante todo o curso, o
estudante dessa área aprende conceitos e técnicas para o tratamento e administração
de documentos. Em segundo lugar, o documento é o principal veículo da informação
registrada. Ou seja, compreender as características dos documentos possibilita o seu
uso eficaz e, por conseguinte, o uso da informação presente em seu conteúdo.
Nas empresas, os documentos significam processos, atividades e a própria
informação. DAVENPORT (2000, p. 187-188) cita como os documentos têm valor nas
empresas:
Os documentos são as maneiras mais óbvias e úteis de estruturar a informação. ‘Informação’ é um
termo bastante abstrato, rejeitado por muitos gerentes. Pergunte-lhes que informações utilizam e
necessitam, e eles ficarão mudos. No entanto, conhecem os documentos que usam, apreciam e valorizam.
Os documentos têm estrutura, contexto e excluem uma quantidade suficiente de informações para que o
restante possa ser selecionado e resumido. Dar ênfase aos tipos de documentos que uma organização
precisa gerenciar é algo que leva, com freqüência, a discussões muito mais úteis do que observar
amplamente as exigências informacionais.
O planejamento do uso e do acesso a documentos é, portanto, uma forma de
garantir que a empresa tenha acesso à informação. Como apresentado no capítulo
anterior, as empresas necessitam de informação para realizar suas atividades, desde
as mais simples àquelas que decidem rumos estratégicos, e de meios, métodos e
ferramentas adequadas para obter essa informação de maneira eficiente. Sendo
assim, a Gestão da Informação só pode funcionar bem se, além da identificação das
fontes, houver uma administração dos registros de informações disponíveis na
organização. Isso implica, necessariamente, desenvolver um planejamento específico
para a Gestão de Documentos.
43
4.1. O que é um documento?
Antes de partir para a discussão sobre a Gestão de Documentos,
primeiramente é preciso conceituar o que é um documento. De maneira geral,
podemos considerar tudo aquilo que registra uma informação como documento. Um
relatório, uma ata de reunião, uma nota fiscal, uma conta de luz, uma certidão de
nascimento, um livro, uma monografia, uma fita de áudio, um texto em PDF ( )2 , uma
fotografia e uma radiografia podem ser considerados documentos.
Partindo dessa visão, podemos concluir que um documento, ou a informação
contida em um documento, está vinculado a um suporte (livros com papel, áudio
com fita cassete, por exemplo). Essa visão é compartilhada por BUCKLAND (1997, p.
804) que entende a informação como “coisa”, o que significa que a informação
normalmente está vinculada a um suporte, no caso o documento. A informação pode
designar também algo que é atribuído a um objeto, tal como o documento que se
refere à informação, porque dele se espera que seja informativo.
Os estudos na área da documentação surgiram em meados do século XIX,
quando a sociedade viveu um período de aumento no número de publicações,
especialmente científicas e técnicas. Com o desenvolvimento da produção editorial e
a procura maior por informações e conhecimentos registrados, buscou-se novos
meios e técnicas para gerenciar o crescimento da literatura disponível.
Essa necessidade de gerenciamento apresentou algumas características. Era
importante encontrar formas eficientes para coletar, preservar, organizar (arranjo
físico), representar, selecionar, reproduzir e disseminar os documentos. O termo
tradicional, naquela época, para representar essas atividades era “bibliografia”. No
entanto, a palavra “bibliografia” não comportava, em relação ao seu significado,
todas as atividades relacionadas ao gerenciamento desses documentos. Além disso, o
2 PDF é uma sigla da área de informática e significa “Portable Document Format”. Um arquivo PDF é um documento proprietário da empresa Adobe e um dos mais utilizados formatos de arquivo digital fechado. Esse formato permite manter a formatação do texto e configurar restrição de edição e cópia.
44
termo “bibliografia” tem uma profunda relação histórica com técnicas de produção
de livros.
No início do século XX, a palavra “documentação” começou a ganhar
importância, em substituição a “bibliografia”, para denominar as atividades de
gerenciamento diante da explosão documental.
Mais tarde, por volta de 1950, estudos e pesquisas começaram a lançar outras
terminologias como “ciência da informação”, “armazenamento e recuperação da
informação” e “gestão da informação”, em lugar de “documentação”.
BUCKLAND (1997, p. 805) cita que a documentação originalmente está
relacionada a um conjunto de técnicas desenvolvidas para gerenciar documentos
significantes, o que na prática abrangia apenas publicações textuais. No entanto, o
autor lembra que não há nenhuma referência na literatura da área que restrinja o uso
do termo “documento” a apenas os textos ou suportes impressos.
Há muitos outros objetos que carregam algum valor significativo, ou
informacional, além dos impressos. Essa visão de documento foi elaborada pela
primeira vez em 1928 por Paul Otlet (1868-1944).
Ele adotou a idéia de que documentos também poderiam ser tridimensionais,
como objetos de museus, incluídos na categoria “documentos” pelos documentalistas
da época. Otlet justificava o seu ponto de vista relacionando os textos com os objetos
que não eram considerados documentos. Qualquer texto (documento) tem a
finalidade básica de informar. Sendo assim, Otlet afirmava que qualquer objeto
poderia ser um documento, uma vez que é possível retirar informações por meio da
observação desse objeto. Ele deu exemplos de documentos de natureza não-textual,
como artefatos criados pela atividade humana (como material arqueológico), jogos
educacionais e trabalhos artísticos. (BUCKLAND, 1997, p. 805)
45
Em 1937, a International Institute for Intellectual Cooperation, uma agência da
Liga das Nações, apresentou um conceito para documento: “qualquer fonte de
informação, em suporte físico, capaz de ser usado como referência, estudo ou comprovação.
Exemplos: manuscritos, material impresso, ilustrações, diagramas, objetos museológicos,
etc.”. BUCKLAND (1997, p. 805)
Suzanne Briet (1894-1989), em 1951, definiu documento como “o suporte da
evidência de um fato”. Ela também elaborou uma definição mais detalhada: “o
documento é qualquer signo físico ou simbólico, preservado ou gravado, com o intuito de
representar, reconstruir ou demonstrar um fenômeno físico ou conceitual”. (BUCKLAND,
1997, p. 806)
Diante desse conceito, podemos observar que a documentação não pode ser
vista como sendo apenas o estudo de objetos textuais, mas são acessos a evidências
do mundo.
Briet realizou um estudo, enumerando seis objetos e perguntou se cada um era
um documento:
Objeto Documento?
Estrela no céu Não
Fotografia de uma estrela Sim
Rocha em um rio Não
Rocha em um museu Sim
Animal na selva Não
Animal no zoológico Sim
Briet exemplifica da seguinte forma: um antílope correndo pelas savanas
africanas não poderia ser considerado um documento. Porém, se capturado e
colocado em exposição em um zoológico, o antílope torna-se um objeto de estudo,
46
torna-se um documento. Além disso, os artigos escritos sobre o antílope podem ser
considerados documentos secundários, uma vez que se utilizou uma fonte primária,
ou o documento primário, no caso, o antílope.
Diante disso, pode-se inferir algumas características sobre um documento:
• materialidade: objetos físicos e signos físicos apenas
• intencionalidade: o objeto demonstra uma evidência de algo
• transformação em documento: um objeto deve ser configurado como documento
• percepção do objeto: o objeto deve ser percebido no documento
BUCKLAND (1997, p. 806) cita Donker Duyvis (1894-1961), que definiu
documento como:
A document is the repository of an expressed thought. Consequently its contents have a spiritual
character. The danger that blunt unification of the outer from exercises a repercussion on the contents
in making the latter characterless and impersonal, is not illusory (…) In standardizing the form and
layout of documents it is necessary to restrict this activity to that which does not affect the spiritual
contents and which serves to remove a really irrational variety. (Donker Duyvis, 1941; translation
from Voorhoeve, 1964, p. 48)
Ranganathan definiu documento de modo pragmático, desconsiderando
material audiovisual como programas de rádio e televisão:
[Radio and television communications] are not documents; because they are not records on materials fit
for handling or preservation. Statues, pieces of china, and the material exhibits in a museum were
mentioned because they convey thought expressed in some way. But none of these is a document, since
it is not a recorded on a more or less flat surface. (Ranganathan, 1963, p .41 apud Buckland, 1997, p.
807)
Paul Otlet, em 1920, enfatizou a idéia de que documentos podem ser
representados por objetos tridimensionais, como peças arqueológicas:
47
Collections of objects brought together for purposes of preservation, science and education are
essentially documentary in character (Museums and Cabinets, collections of models, specimens and
samples). These collections are created from items ocurring in nature rather than being delineated or
described in words; they are three dimensional documents.
DAVENPORT (2000, p. 55-56) considera documentos como “meios que
estruturam e apresentam a informação”. Essa idéia de documento é bastante semelhante
à definição encontrada no Dicionário Aurélio: “qualquer base de conhecimento, fixada
materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo, prova, etc.”.
A noção de documento de Otlet, Briet e outros documentalistas enfatiza o
objeto documento como algo tangível, material. O salto para o ambiente digital altera
a percepção diante dos conceitos apresentados. Um documento convencional, como
um relatório técnico, mas que esteja arquivado em computador, existe fisicamente
num plano digital na forma de uma string (cadeia) de bits. Porém, o documento
original só pode existir num ambiente digital. Logo, o conceito de documento como
um objeto material se torna nulo e leva à discussão sobre o que é um documento
eletrônico.
4.2. A questão dos documentos eletrônicos
Recentemente, com o desenvolvimento da computação e de tecnologias de
trabalho em rede, os documentos e suas formas de suporte estão experimentando um
período de fortes mudanças. Muitas tecnologias surgiram para expandir os limites e
ampliar o conceito tradicional de documento. Como as novas tecnologias de suporte
ao documento causam transformações no jeito em que se utiliza um documento,
torna-se importante discutir e re-elaborar o conceito de documento.
Nossa percepção e entendimento em relação ao documento estão
normalmente vinculados ao seu uso convencional – ou aquilo que se pode segurar
nas mãos. Tradicionalmente, documentos são reconhecidos como registros textuais,
48
como os livros. Essa era a noção que se tinha até a chegada dos documentos em
formato digital. Porém, o antigo conceito de documento não suporta os novos
formatos.
É possível identificar 8 características dos documentos que sofreram alterações
com a chegada dos documentos eletrônicos: densidade informacional, longevidade,
individualidade, duplicidade, mobilidade, personalização, conectividade e
integração.
Densidade informacional
Os documentos cada vez mais aumentam sua capacidade de armazenamento.
De acordo com um estudo de Conway, apresentado por LIU (2004, p. 280), a
densidade de informação progrediu segundo a tabela abaixo:
Suporte Caracteres por
polegada quadrada
placas de argila 34
manuscritos (período iluminista) 141
Microfilmes 10.000
Disquetes 106.200
Discos ópticos (CD-ROM) 50.000.000
O crescimento da densidade de informação torna os documentos “invisíveis”
aos olhos humanos e muito mais dependentes de equipamentos de leitura. COOK
(apud LIU, 2004, p. 280) afirma que é a primeira vez em 3.500 anos de atividade
documentalista que o homem produz documentos que “não existem” para os olhos,
diferentemente da placa de barro babilônica, do papiro egípcio, do pergaminho
romano e medieval, do papel moderno e até mesmo do microfilme.
49
Outro impacto sofrido na percepção de um documento é quanto a sua
preservação. Enquanto que documentos em papel, por exemplo, necessitam de sua
preservação física (o suporte), os documentos eletrônicos implicam na preservação
do suporte de acesso.
Em relação ao suporte, é evidente que os formatos tradicionais são
absolutamente acessíveis a qualquer pessoa. Basta pegar o documento e consultá-lo.
No caso dos documentos eletrônicos, isso pode se tornar uma barreira às pessoas que
não dispõem do equipamento para leitura ou que não têm o conhecimento para
operar tais sistemas informatizados.
Por outro lado, a popularização dessas novas tecnologias de acesso ao
conteúdo dos documentos contribui, relativamente, na queda da exclusão digital. Ou
seja, as pessoas utilizam cada vez mais recursos informatizados porque necessitam
ter acesso à informação em documentos eletrônicos.
Longevidade
Apesar das notícias sobre algumas pesquisas, não se pode garantir com
exatidão a durabilidade dos documentos eletrônicos. Por exemplo, é fato que um
escrito grego está ainda legível, após 22 séculos, que a primeira edição dos trabalhos
de Shakespeare ainda estão em ótimo estado após 4 séculos, e que os microfilmes
transportados por pombos durante o cerco a Paris, em 1870, ainda podem ser usados.
No entanto, vemos suportes de mídia digital que se tornam obsoletos em tempos
muito reduzidos.
Cartão perfurado >> Fitas rolo >> Discos magnéticos >> CD-ROM >> DVD-ROM
Figura 4: desenvolvimento dos suportes de informação, do autor
50
Ainda há os perigos das pragas digitais (vírus) e problemas que podem
ocorrer aos equipamentos de informática, impossibilitando a recuperação de dados.
Por isso, documentos eletrônicos implicam, obrigatoriamente, em realização de
backups freqüentes.
Perda do valor de “único”
Com as tecnologias, a distinção entre o documento original e uma cópia está
cada vez mais obscura. Antes do advento da impressão, os documentos eram criados
manualmente. Na tentativa de recriar um documento “igual” no conteúdo, os
manuscritos tinham diferenças muito nítidas entre si. Mesmo criados através de
técnicas mais desenvolvidas, como em máquinas de datilografar, cópias em carbono
e fotorreprodução, os documentos eram únicos e totalmente distinguíveis.
Entretanto, o entendimento tradicional de registros únicos que havia nos
documentos está insustentável, uma vez que estamos num mundo regido pelo
intangível e pelas conexões eletrônicas.
Duplicidade
Entre os séculos IX e X, um copista levava um dia inteiro para fazer a cópia de
quatro páginas. Isso daria, aproximadamente, a cópia de 2 bits por segundo. Poderia
levar anos para duplicar 1 gigabit de dados de inscrições em argila, dias ou semanas
para um copista, horas ou dias para microfilmar, mas apenas alguns segundos ou
minutos na mídia digital.
As novas tecnologias de suporte de documentos não abaixaram apenas o
tempo para reprodução, mas também reduziram consideravelmente o seu custo.
51
Gutenberg iniciou essa revolução com a invenção da imprensa, disseminando a idéia
da reprodução de impressos.
O desenvolvimento de novas tecnologias de impressão em massa influenciou,
também, na produção de documentos. Com a invenção dos tipos móveis e da
imprensa, o esforço de copiar manualmente textos se tornou obsoleto. Documentos
podem ser produzidos a um custo baixo e, por isso, torna-se acessível a um grande
público. Na sociedade em geral, esse fato possibilita que mais pessoas tenham acesso
à informação. Dessa forma, estimulou uma crescente circulação de informação e de
criação de conhecimento.
O custo baixo de reprodução de documentos permite que as pessoas possam
replicar e distribuí-los, por exemplo, por meio de lista de discussões na Internet ou e-
mail.
No entanto, a duplicação de documentos implica na queda de sua
credibilidade. Basta ver a imensa quantidade de documentos disponíveis na Internet
cuja origem não é citada ou é incerta, uma vez que não há mecanismo para
selecionar, rever ou classificar toda essa informação.
Mobilidade
A mídia, ou suporte, define o conceito da portabilidade de um documento. As
inscrições antigas feitas em pedra necessitam, obrigatoriamente, que o “usuário” vá
até o local onde se localizam para consultá-las. Os documentos em papel e os
microfilmados podem ser transportados, mas ainda estão em “algum lugar”,
disponível em algum acervo. No entanto, o acesso aos documentos eletrônicos não
depende de um lugar físico, e é por isso absolutamente mais fácil. Com os meios de
comunicação disponíveis, os documentos eletrônicos podem ser acessados de
qualquer lugar, a qualquer momento e por diversas pessoas simultaneamente.
52
Pela primeira vez na história da humanidade, é possível transmitir mensagens
para um grupo de pessoas sem ter que reproduzir diversas cópias e distribuí-las
fisicamente.
Personalização
Enquanto que a invenção da imprensa possibilitou a impressão de
documentos uniformes quanto a sua forma, os documentos eletrônicos permitem a
customização. Isso é possível uma vez que o ambiente digital permite a integração da
armazenagem e da apresentação do documento.
BROWN e DUGUID (apud LIU, 2000, p. 284) comentam que o papel e a tinta
colocaram um equilíbrio ideal – documentos portáveis e imutáveis. Contudo, no
meio digital, onde transporte e mobilidade estão juntos, a imutabilidade inexiste,
pois alguns documentos, como as páginas da Internet, estão constantemente em
mudança.
Esse ambiente altamente dinâmico implica em uma questão importante sobre
a preservação e armazenagem de informação. Antes, a pergunta era “o que deve
fazer parte do meu acervo e ser preservado?”. Agora a pergunta a ser feita é “o que
deve ser preservado e com que freqüência isso deve ser feito?”.
Conectividade
Os documentos não são totalmente independentes. Todo documento está
vinculado a outro. Por exemplo, a publicação de um livro irá gerar outros
documentos, tais como versões revisadas, revisões de livros, traduções, citações,
índices e resumos. Uma carta pode gerar uma ou mais respostas. Ou seja, os
53
documentos estão ligados a outros. Essa idéia foi definida como hipertexto na década
de 60 por Theodor Nelson (LIU, 2004, p. 285).
O documento tradicional tem seus limites bem definidos (um livro tem
número de páginas e volume, um atestado em uma página formato A4, etc.). Com o
conceito de conectividade no meio digital, a definição do limite de um documento
fica mais complexa. Por muito tempo, o documento era visto como um recurso de
informação estática e imutável.
No ambiente de rede eletrônica, os documentos são assuntos de constante
mudança através de links. A proliferação de hyperlinks restringe a visão dos limites
de um documento e afeta também a sua preservação.
O hipertexto também mudou a forma como as pessoas usam os documentos.
A leitura em uma seqüência linear (do começo ao fim) de um documento deixa de ser
necessária. Os documentos eletrônicos permitem uma leitura não-linear. Segundo
alguns estudos, esse tipo de leitura faz com que as pessoas, sobretudo da nova
geração, percam a qualidade da leitura, muitas vezes utilizadas de forma
fragmentada.
Integração
LIU (2004, p. 285) comenta que Paul Otlet já previa a integração de diversos
equipamentos em uma única máquina. Com as tecnologias de informação, isso hoje é
bastante comum.
Nos tempos em que o papel era o principal suporte de armazenamento de
informação, a máquina de escrever era a ferramenta de criação, os arquivos eram
locais de armazenamento, o serviço postal fazia a função de disseminação e as
fotocopiadoras realizavam a reprodução. Com o advento do computador, essas e
54
outras funções foram integradas. Ou seja, a tecnologia eliminou todas as barreiras
que separavam os processos de criação, reprodução e distribuição.
Além disso, não existia nenhum suporte capaz de unir em um pacote único
diferentes tipos de informação (dados, imagens, textos e áudio). Ou seja, havia
sistemas específicos para trabalhar cada tipo de informação (sistema de
processamento de dados, processador de texto, sistemas de microfilmagem para
imagens, etc.). No entanto, surgiu a integração desses formatos e a possibilidade de
agregar valor à informação. A multimídia permite a integração de texto, imagem,
som e vídeo num único documento.
4.3. Diferenças: documento na Biblioteconomia x Arquivologia
Quando se aborda a questão do documento, é fundamental caracterizar as
diferentes visões do bibliotecário e do arquivista.
Na visão da Arquivologia, um documento é apenas uma representação de um
processo que será executado ou já foi executado pela organização.
O conceito de Gestão de Documentos foi estabelecido nos Estados Unidos, a
partir da década de 1950, como forma de racionalizar a produção documental e
facilitar o seu acesso. Uma das principais conseqüências da introdução deste conceito
foi a elaboração da teoria das três idades, ou ciclo vital, isto é, os documentos de
arquivo têm uma idade ou fase, de acordo com as necessidades do órgão que o
produziu (CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS, 2005).
• Documentos correntes: são aqueles que estão em curso, isto é, tramitando, ou que
foram arquivados, mas são objetos de consultas freqüentes; eles podem ser
conservados nos locais onde foram produzidos sob a responsabilidade do órgão
produtor;
55
• Documentos intermediários: são aqueles que não são mais de uso corrente, mas
que por razões de interesse administrativo, aguardam sua eliminação ou
recolhimento à instituição arquivística. Esses documentos devem ser recolhidos a
um arquivo intermediário, sob a responsabilidade conjunta dos funcionários do
órgão produtor e da instituição arquivística.
• Documentos permanentes: são aqueles de valor histórico, probatório e
informativo que devem ser definitivamente preservados. Eles não são mais
necessários ao cumprimento das atividades da administração. Devem ser
conservados nas instituições arquivísticas, sob a responsabilidade dos
profissionais de arquivo.
No Brasil, a Lei Nacional de Arquivos, de 1991, definiu Gestão de Documentos
como o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à produção,
tramitação, uso, avaliação e arquivamento dos documentos em fase corrente e
intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente.
A lei reconheceu que as atividades relativas à documentação das fases
corrente e intermediária, realizadas pelas entidades produtoras com
acompanhamento das instituições arquivísticas, são distintas das atividades da fase
permanente, realizadas pelas instituições arquivísticas. Reconheceu também a
necessidade da participação das instituições arquivísticas desde o início do processo
de produção documental a fim de subsidiar os produtores de documentos com
informações que facilitem o exercício das suas atividades.
Além disso, a lei reconheceu, em seu artigo 8º, o conceito de ciclo vital,
importante para a definição do valor dos documentos e da responsabilidade pela sua
guarda, incluindo sua organização, conservação e condições de acesso e uso.
56
Sob o aspecto do profissional formado em Biblioteconomia, um documento é
tudo aquilo que contém informação recuperável. Um documento deve ser analisado,
resumido, indexado e armazenado para que possa ser feita a sua recuperação quando
solicitado. Formalmente, considera-se um documento os livros, manuais técnicos,
relatórios, dicionários, enciclopédias, manuscritos diversos, guias, entre outros.
Também pode estar em formatos não-tradicionais, como CD-ROMs, programas de
computador, fitas de áudio, vídeos, DVDs, partituras, objetos, sites, documentos
eletrônicos, etc.
Diferentemente do documento arquivístico, que é unitário e representa uma
atividade, o documento informacional não é individual (pode possuir inúmeras
cópias) e representa um conteúdo informacional como resultado de um trabalho
intelectual.
4.4. Função da Gestão de Documentos
A experiência nacional e internacional vem demonstrando que tão importante
quanto criar documentos, é saber gerenciá-los. A informação no âmbito da
arquivologia, organizada e acessível, serve de base para que a própria administração
possa tomar decisões, que dizem respeito a todos os cidadãos, e com isso tornar o
processo decisório verdadeiramente democrático.
Os governos foram os pioneiros a efetuar esse gerenciamento, em bibliotecas
ou arquivos nacionais: os primeiros repositórios sumérios datam de 5000 a.C. A
França estabeleceu um escritório nacional de registros no século XVIII, a Inglaterra
no século XIX e os Estados Unidos, no século XX. O arquivamento de documentos,
no qual funcionários numeram e catalogam entradas e saídas de papéis, é o principal
foco dessas organizações. As corporações propriamente ditas só começaram a
administrar o ciclo de vida completo dos documentos em meados da década de 40,
57
mas as maiores empresas ainda mantêm em operação unidades para este
gerenciamento.
DAVENPORT (2000, p. 33) resume a idéia da Gestão de Documentos em
arquivos como uma fonte de informação útil para a empresa:
Uma abordagem centralizada, altamente planejada, é insustentável para essa vasta quantidade de
informação. Até os arquivos mais bem-sucedidos não terão nenhum valor se não forem utilizados. As
estratégias de gerenciamento informacional que fazem de cada funcionário um gerente de registros
parecem as únicas alternativas viáveis. E as táticas generalizadas, centradas em como as pessoas criam,
armazenam e usam arquivos, serão mais valiosas do que aquelas que envolvem apenas tecnologia ou
arquitetura de registros.
Portanto, a gestão abrange todas as operações referentes à produção (definição
de suportes, estrutura do documento, incluindo código de classificação de assunto), à
tramitação (protocolo), ao uso (consulta e empréstimo), à avaliação (aplicação da
tabela de temporalidade e destinação) e ao arquivamento (guarda e armazenamento).
Além do objetivo de reduzir a papelada burocrática, esses princípios incluem
avaliar e gerenciar o custo da informação, estabelecer modos eficazes de armazena-la
e recupera-la, enfatizar o aumento da consciência organizacional em relação ao uso
da informação e de seu valor e, mais profundamente, reconhecer que papel em
excesso resulta da falta de critérios e de capacidade de prestação de contas da
organização – não são apenas um simples problema de administração de
documentos.
No âmbito do documento como recurso da biblioteca, também é importante
observar cuidadosamente a sua estrutura. Uma vez, um administrador britânico
definiu a administração de documentos como “o gerenciamento da informação requerida
pela condução de negócios e apreendida em formas reproduzíveis” (DAVENPORT, 2000, p.
31).
58
As atividades de gestão, portanto, não se restringem a evitar a produção de
documentos desnecessários e a estabelecer depósitos intermediários para garantir a
organização e a preservação dos documentos. Não importa o tipo de informação
presente na organização, mas importa o modo em que essa informação é disposta e
fica disponível. E esse é um papel importante do profissional da informação, que
além de organizar a informação deve torná-la plenamente acessível.
Uma proposta geral para Gestão de Documentos deve incluir quatro etapas:
determinação de necessidades, aquisição, tratamento e disseminação (DAVENPORT,
2000).
a) determinação de necessidades: é o momento para levantar que tipos de
informações são necessárias para os usuários e as atividades empresariais;
b) aquisição: engloba as ações para conseguir os documentos, incluindo possíveis
custos para aquisição desse material;
c) tratamento: é todo o processo técnico de anexação ao acervo e disponibilização do
serviço; no caso de documentos eletrônicos, o tratamento também pode ser
aplicado ao seu formato para apresentação;
d) disseminação: através de bases de dados bibliográficos, envio de mala direta
interna da rede da organização, sites, Intranet e outros meios.
A Gestão de Documentos é uma atividade de planejamento e administração
de recursos mais específica em relação à Gestão de Informação. A Gestão da
Informação envolve mais componentes da organização, como a cultura
organizacional, recursos humanos, tecnologia, política e estratégia.
Por conseguinte, a Gestão de Documentos é uma atividade mais localizada. A
Gestão de Documentos pode ser pensada como um dos componentes da Gestão da
Informação na organização. Uma vez que documento é por definição a representação
(física ou digital) da informação, a Gestão de Documentos representa o trabalho
59
aplicado especificamente às fontes de informação e às formas de torná-las acessíveis
aos usuários de um serviço de informação.
60
5. GESTÃO DO CONHECIMENTO
As transformações na sociedade nos últimos anos implicaram em mudanças
de atitudes por parte das pessoas e organizações. A dinâmica estabelecida pela
globalização, tecnologias e o aumento da oferta de informação são alguns fatores que
promoveram nas organizações uma busca constante por um diferencial sobre as
outras.
As empresas perceberam que apenas a produção industrial não era o
suficiente para obter garantias de geração de lucro. Como as organizações são
conduzidas através de planejamento e decisões, os recursos que auxiliam nessas
tarefas se tornaram pontos prioritários de discussão na área da administração.
Como já foi discutido anteriormente, a informação disponível ou acessível
pela organização serve para basear decisões. É importante saber que tipo de
informação é relevante, quais recursos são necessários para executar uma tarefa ou
obter determinados dados, quais caminhos são menos perigosos para a empresa, os
recursos tecnológicos e humanos disponíveis na empresa, além de outros fatores.
As organizações atuais, com um considerável grau de flexibilidade e de
capacidade inovadora, não se preocupam mais em somente armazenar dados e
informação. Essas organizações exploram o processamento das informações que
possuem visando aplicá-las em seu próprio benefício. Como explica SILVA (2002, p.
145), “o valor será originado por meio da transformação da informação em conhecimento e sua
aplicação na empresa”.
A competitividade, a informatização e a necessidade de diferencial
competitivo fizeram com que as empresas percebessem a importância do
conhecimento e da sua gestão. Neste aspecto, o conhecimento constitui um recurso
crucial para o bom desempenho de qualquer organização e a chave para a criação de
mais valias. Estas mudanças explicam a necessidade de se evoluir de uma
61
perspectiva de Gestão da Informação para um conceito mais alargado de Gestão do
Conhecimento que “trata de todos os aspectos relacionados com a forma como as pessoas
desempenham funções baseadas em conhecimento”. (DAWSON, 2000)
As empresas mais inovadoras, que se voltam para a Gestão do Conhecimento,
necessitam de uma abordagem que veja a organização como uma comunidade
humana, cujo conhecimento coletivo representa um diferencial competitivo em
relação aos seus mais diretos concorrentes. O conhecimento coletivo é valorizado,
criando-se redes informais de pessoas que realizam trabalhos diversos com pessoas
que eventualmente estão dispersas em diferentes unidades de negócio.
5.1. O que é conhecimento?
Para um melhor entendimento sobre a Gestão do Conhecimento, é importante
apresentar o conceito de conhecimento e as diferenças em relação à informação.
DAVENPORT (2000, p. 19) define conhecimento como “a informação mais
valiosa e, conseqüentemente, mais difícil de gerenciar”. Davenport continua explicando a
influência humana na transformação da informação em conhecimento: “é valiosa
precisamente porque alguém deu à informação um contexto, um significado, uma
interpretação: alguém refletiu sobre o conhecimento, acrescentou a ele sua própria sabedoria,
considerou suas implicações mais amplas”.
DRUCKER (2000, p. 13) também relaciona dados, informação e conhecimento,
da seguinte maneira: “informação é dado investido de relevância e propósito (...) por
conseguinte, a conversão de dados em informação requer conhecimento (...) e conhecimento,
por definição, é especializado.” Justificando o seu pensamento, o autor explica que “com
efeito, as pessoas realmente detentoras de conhecimentos tendem ao excesso de especialização,
exatamente porque sempre se deparam com muito mais a aprender”.
62
DAVENPORT e PRUSAK (1998, p. 6) sugerem que o conhecimento “é uma
mistura fluída de experiência condensada, valores, informação contextual, insight
experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas
experiências e informações”.
Essa visão afirma que o conhecimento deriva da informação, assim como a
informação deriva de dados. Da mesma forma que é necessária a intervenção
humana para a contextualização dos dados para criar informação, o conhecimento é
gerado através da atividade intelectual das pessoas.
Para STAIR (apud SILVA, 2002, p. 143), o conhecimento significa “aplicar um
conjunto de regras, procedimentos e relações a um conjunto de dados para que este atinja um
valor informacional”. Essa visão de Stair demonstra o valor do conhecimento como
“ferramenta” da construção da informação.
OLIVEIRA Jr. (1999, p. 206) levantou que o conhecimento da empresa “é o
resultado de interações específicas que ocorrem entre indivíduos de uma organização e é
portanto um ativo socialmente construído”.
Pode-se perceber que as definições apontam a construção do conhecimento
como resultados de processos de interpretação e contextualização de informação.
Assim como foi identificado na conceituação da “informação”, o conhecimento
também necessita da análise humana para ser criado.
Nesse ponto, é importante destacar a diferença entre o conhecimento
transformado em informação (explícito), inserido em algum suporte, e o
conhecimento fluído (tácito), que circula em forma de conversação, idéias, fatos ou
ocorrências passadas. A seguir, uma breve apresentação do conhecimento formal, ou
explícito, e conhecimento informal, ou tácito definido por CHOO (apud MORESI,
2001, p. 37):
63
• Conhecimento formal (ou explícito): está materializado em livros, documentos,
manuais, periódicos, bases de dados, repositórios, etc. É um produto concreto,
normalmente captado pelas organizações;
• Conhecimento informal (ou tácito): gerado a partir do uso do conhecimento
formal, constituindo-se de idéias, fatos, suposições, decisões, questões,
conjecturas, experiências e pontos de vista.
CHOO (apud MORESI, 2001, p. 37) identifica um terceiro tipo de
conhecimento nas organizações, o conhecimento cultural:
Este tipo de conhecimento consiste das estruturas afetiva e cognitiva que são usadas habitualmente pelos
membros de uma organização para perceber, explicar, avaliar e construir a realidade. Ele inclui
suposições e crenças que são usadas para descrever e explicar a realidade, bem como as convenções e
expectativas utilizadas para atribuir valor e significado à informação nova. Estes valores, crenças e
normas compartilhados estabelecem o referencial em que os membros de uma organização constroem a
realidade, reconhecem uma informação nova e avaliam interpretações e ações alternativas.
Como o conhecimento tácito é produzido com base no conhecimento formal e
o conhecimento cultural, ele é muito valioso, apesar de se perder ao longo do tempo
por falta de mecanismos para que seja coletado, estruturado, compartilhado e
reutilizado.
Uma idéia ou opinião isolada (individual) não representa muita coisa para a
organização, a não ser que a torne em conhecimento explícito, permitindo desse
modo que seja compartilhado por outros indivíduos da organização.
O conhecimento tácito é muito associado ao processo de inovação porque
auxilia a organização na identificação e solução de problemas, na predição e na
antecipação de fatos.
Portanto, esse é um dos grandes desafios das organizações: gerenciar o
conhecimento informal, da mesma forma que o conhecimento formal.
64
5.2. Geração de conhecimento
Segundo TERRA (2000, p. 78) as empresas que trabalham com conhecimento
seriam aquelas que criam novos conhecimentos, disseminam-nos por toda a
organização e, rapidamente, os incorporam em novas tecnologias e produtos.
Esse fluxo, idealizado por NONAKA e TAKEUCHI ( )3 , de conhecimento
ocorreria em um modelo organizado em quatro momentos, envolvendo o
comprometimento pessoal e em vários processos de conversão entre o conhecimento
implícito e o explícito.
Figura 5 – Modelo de Conversão do Conhecimento criado por NONAKA e TAKEUCHI Fonte: adaptado de TERRA (2001, p. 79)
Esse processo ocorreria em quatro momentos: socialização, externalização,
combinação e internalização.
3 Modelo apresentado por MORESI (2001, p. 36) e TERRA (2000, p. 79), adaptado de NONAKA, I. TAKEUCHI, H. The Knowledge Creating Company: how Japanese companies create dynamics of innovation. Nova York, Oxford University Press, 1995, p. 71-72.
65
Socialização (do tácito para o tácito): processo de compartilhamento de
experiências, resultando na criação do conhecimento tácito, como modelos mentais
ou habilidades técnicas compartilhadas. Nas empresas ocorreria por meio de
atividades como treinamentos, encontros de funcionários, interações com clientes e
brainstormings.
Externalização (do tácito para o explícito): processos de articulação do
conhecimento tácito em conceitos explícitos, expresso na forma de analogias,
conceitos, hipóteses ou modelos. Essa prática seria necessária para facilitar a
comunicação dos conhecimentos tácitos que, às vezes, são de difícil compreensão.
Combinação (do explícito para o explícito): cujo modo de combinação do
conhecimento envolve a combinação de conjuntos diferentes de conhecimento
explícito. Baseia-se em conversações informais, conversas telefônicas e troca de e-
mails.
Internalização (do explícito para o tácito): processo de incorporação do
conhecimento explícito para o conhecimento tácito. Segundo TERRA (2000, p. 80), é o
que as empresas chamariam de “learning by doing”, ou aprendendo na prática. Isso
significa que os membros da organização passariam a utilizar ou vivenciar esse novo
conhecimento e desenvolveriam uma prática operacional.
RASCÃO (2004) apresenta um modelo que também demonstra o processo de
construção do conhecimento nas empresas.
Primeiramente, observa-se a conversão de dados em informação. Utilizando-
se do conhecimento acumulado, os dados são coletados, selecionados e apresentados,
gerando a informação. Por sua vez, a informação é o componente essencial no
processo de decisão.
66
Figura 6 – Modelo de fluxo de informação e uso do conhecimento Fonte: adaptado de RASCÃO (2004, p. 22)
Conclui-se, com base nesse modelo, que a tomada de decisão é a soma da
informação analisada e o conhecimento aplicado. A ação dessa soma reverte em um
resultado, ou numa experiência baseada em todo esse processo que pode ser
“armazenado” em forma de conhecimento.
Então, pode-se afirmar que as ações e seus resultados alimentam o processo de
acumulação de conhecimento. Esta acumulação torna as pessoas mais capazes de
transformar dados em informação, o que permite utilizar esse material para agirem
no futuro.
5.3. Objetivos da Gestão do Conhecimento
O conhecimento é basicamente uma construção fundamentada em informação
e trabalho intelectual. Na organização, o conhecimento sempre existiu e serve para
levar a obtenção dos resultados almejados. O conhecimento também permite que a
organização desenvolva os seus negócios, perceba suas deficiências e influencia na
sua evolução.
67
Portanto, o conhecimento é um dos principais ativos corporativos das
empresas, uma vez que as pessoas são dinâmicas e dotadas de experiências
individuais, além da forte influência das variáveis externas do ambiente
organizacional.
Estabelecido dessa forma, as organizações necessitam implantar políticas de
gestão de conhecimento para administrar esses recursos para obter vantagens – o
conhecimento como vantagem competitiva.
Alguns autores apresentaram alguns conceitos para a Gestão do
Conhecimento, apresentados a seguir:
Gestão do Conhecimento é uma forma de tornar o ambiente favorável para que a organização identifique
suas competências, encontre os conhecimentos que ela já possui, aprenda o que precisa, compartilhe e
use estes conhecimentos na velocidade necessária ao desenvolvimento dos seus negócios. (PERROTI,
2004, p. 43)
[A Gestão do Conhecimento é] o conjunto de atividades que busca desenvolver e controlar todo o tipo de
conhecimento em uma organização, visando à utilização na consecução de seus objetivos. Este conjunto
de atividades deve ter como principal meta o apoio ao processo decisório em todos os níveis. Para isto, é
preciso estabelecer políticas, procedimentos e tecnologias que sejam capazes de coletar, distribuir e
utilizar efetivamente o conhecimento, representando fator de mudança no comportamento
organizacional. (MORESI, 2001, p. 37)
Gestão do Conhecimento é um processo estratégico contínuo e dinâmico que visa gerir o capital
intangível da empresa e todos os pontos estratégicos a ele relacionados e estimular a conversão do
conhecimento. Desse modo, deve fazer parte da estratégia organizacional e ter sua implantação
garantida e patrocinada pela alta gerência, a quem todo o processo de gestão do conhecimento deve estar
subordinado. (ROSSATO, 2003, p. 7)
Observando as três definições, pode-se perceber que a Gestão do
Conhecimento é uma atividade altamente gerencial. Isso significa que a Gestão do
Conhecimento abrange uma área maior da organização, envolvendo mais
departamentos, pessoas e recursos.
68
A organização sozinha não pode criar conhecimento. A produção de
conhecimento depende dos indivíduos e a interação entre o grupo em que ele se
encontra. Esse conhecimento produzido pode ser amplificado e cristalizado através
de discussões, compartilhamento de idéias e observação.
Usando um comentário apresentado por PERROTI (2004, p. 71), que “a Gestão
do Conhecimento é uma forma necessária de abordar a Administração de Empresas na era do
conhecimento”, fica claro que as organizações mudaram a sua visão de gerenciamento.
A preocupação agora é pela valorização do ser humano e seu conhecimento em
potencial, uma vez que a sociedade passou a valorizar esse conhecimento.
O conhecimento não está apenas nos indivíduos ou nas rotinas de trabalho,
mas está cada vez mais circulante entre as redes de conhecimento que ligam as
organizações. Empresas tradicionais incentivam de diversas maneiras o processo de
disseminação de conhecimento. Panfletos, manuais de instruções e oferecimento de
cursos e palestras são algumas formas de desenvolver o conhecimento na empresa.
A informática desempenha um papel muito importante nessa ação, uma vez
que é muito mais fácil promover o acesso ao conhecimento através de bases de
dados, cursos on-line e fóruns de discussão.
No entanto, o desafio está em perceber e enfrentar as limitações das
tecnologias de informação que permitem a existência dessas redes. Isso se deve à
forma em que essas redes transferem o conhecimento, de “cabeça para cabeça”, ao
invés de adentrar as cadeias de rotinas organizacionais.
Tecnologia, apenas, não é suficiente para implementar políticas de Gestão do
Conhecimento. O pessoal envolvido na Gestão do Conhecimento não pertence
somente às áreas técnicas (como programadores, analistas e tecnólogos). Sobre o
envolvimento de profissionais e especialistas nas atividades relacionadas com o
69
conhecimento, DAVENPORT e PRUSAK (1998, p. 132-133) comentam a respeito,
enfatizando o papel dos profissionais da informação:
Os novos cargos do conhecimento mais curiosos são, porém, os de integrador, bibliotecário, sintetizador,
repórter e editor do conhecimento. Sejamos honestos: poucos são os funcionários capazes de
esquematizar e estruturar o seu próprio conhecimento, e menos ainda os que têm tempo disponível para
colocar esse conhecimento num sistema. (...) Portanto, organizações precisam de pessoas para extrair o
conhecimento daqueles que o têm, colocar esse conhecimento numa forma estruturada e mantê-lo ou
aprimora-lo ao longo do tempo. As universidades não ensinam realmente essas habilidades, mas a
atividade mais próxima está nos currículos de jornalismo e biblioteconomia.
STANAT (1997) explica que a responsabilidade por desenvolver a rede de
informação e conhecimento de uma organização depende de diversos profissionais
de áreas diferentes. Segundo essa autora, geralmente os departamentos que estão
envolvidos ou capacitados para desenvolver esse trabalho são: marketing, sistemas
de informação (estratégia, inteligência organizacional e CIO – Chief Information
Center), planejamento estratégico (administração) e a biblioteca da empresa.
De maneira geral, a visão estratégica para as empresas que queiram trabalhar
com o conhecimento deve cobrir os seguintes aspectos ( )4 :
• projeto não pertence ao indivíduo, mas à organização;
• definir o que é conhecimento para a empresa;
• o conhecimento deve ser estocado e compartilhado (dentro de um fluxo);
• o conhecimento está dentro e fora das pessoas;
• incentivar a criação de um mercado de conhecimentos (confiança e
reconhecimento);
• diferentes conhecimentos devem ser vistos com a mesma importância;
• o conhecimento deve ser contextualizado;
• levar em consideração o presente, o passado e o futuro (experiência);
• experimentar para reconhecer erros ou problemas;
4 Adaptado de SILVA (2002).
70
• homem e tecnologia têm a mesma importância;
• avaliação constante dos processos.
DAVENPORT e PRUSAK (1998, p. 129) alertam que “a Gestão do Conhecimento
não alcançará sucesso numa organização se ela for de responsabilidade unicamente de um
grupo – mesmo que seja grande – de funcionários. (...) As empresas mais bem-sucedidas são
aquelas onde a Gestão do Conhecimento faz parte do trabalho de todos os seus membros.”
Com base nas características apresentadas, pode-se deduzir que projetos de
Gestão do Conhecimento devem ser conduzidos inevitavelmente por gerentes
capacitados ao desenvolvimento claro dos objetivos, formação e gestão de equipes,
determinação e gestão das expectativas de clientes, identificação e resolução de
problemas específicos do projeto.
Além disso, o gerente pode determinar uma série de fatores importantes,
como a tecnologia a ser usada para a disseminação do conhecimento, lembrando que
a tecnologia não é solução para a Gestão do Conhecimento. A tecnologia,
isoladamente, não transforma uma empresa em geradora de conhecimento, nem
garante que um funcionário desmotivado busque conhecimento usando o
computador.
A Gestão do Conhecimento, em linhas gerais, só ocorre de maneira eficiente se
houver uma ligação entre planejamento estratégico da administração, uma boa infra-
estrutura tecnológica e organizacional, domínio de fontes de informações e uma
cultura organizacional voltada à prática do desenvolvimento do conhecimento – o
que implica diretamente em motivação e espírito de envolvimento dos funcionários.
71
6. INTELIGÊNCIA COMPETITIVA
Com a globalização, Internet e evolução das tecnologias de comunicação, as
organizações podem trocar informações de qualquer lugar, tendo muitas vezes
acesso e influência em culturas e ambientes. A organização pode estabelecer o seu
local no mercado, de acordo com a sua posição nesse ambiente. Sendo assim,
atualmente o maior desafio de qualquer empresa é estabelecer um equilíbrio a seu
favor diante da dinamicidade e turbulência normal desse ambiente.
A obrigação da empresa, portanto, para continuar brigando por espaço no
mercado é estabelecer um monitoramento constante do ambiente interno e externo
das organizações. Dessa maneira, a organização que realiza esse monitoramento
interage com todas as partes integrantes desses ambientes, uma vez que o
conhecimento sobre esses ambientes são essenciais para o planejamento estratégico.
Michael Porter, citado por GOMES e BRAGA (2004, p. 20), explica que a
estratégia com fins empresariais (estratégia competitiva) envolve o posicionamento
de um negócio para maximizar o valor das capacidades que distinguem a
organização de seus concorrentes, isto é, um aspecto central da formulação
estratégica é a análise perceptiva do concorrente.
Para que uma organização retenha a sua competitividade, ela necessita
demonstrar ao mercado um diferencial ou uma característica particular visto como
uma vantagem competitiva. Esse atributo é construído com a capacidade de gerar
valor para o cliente por meio de seus produtos e serviços.
Além disso, no que se refere à tomada de decisão, não é suficiente que a
organização tenha um enorme estoque de dados e informações disponível. O ideal é
a profusão e análise desses dados e informações, transformando-a em conhecimento
para que a organização tenha a capacidade de adaptação às mudanças do ambiente
no qual está inserida.
72
O conceito de inteligência está ligado intimamente à intuição. Por exemplo,
um empresário, pressionado pela crise econômica, quer adiantar-se a alguns
problemas, tendo como princípio monitorar sua concorrência. Para isso, ele realiza
uma pesquisa por informações estratégicas que sejam úteis para estabelecer a sua
situação, permitindo uma reação a possíveis obstáculos.
Como explicam GOMES e BRAGA (2004, p. 25), o conceito de inteligência foi
apresentado como “a informação que possibilita ao executivo tomar a decisão porque fornece
um grau de previsão de coisas que possam vir a causar impacto à organização (...) ela obriga o
executivo a tomar algum tipo de atitude em resposta à inteligência recebida, por isso é ativa”.
Em relação à Inteligência Competitiva, GOMES e BRAGA (2004, p. 28) seguem
afirmando que
[Inteligência Competitiva] é um processo ético de identificação, coleta, tratamento, análise e
disseminação da informação estratégica para a organização, viabilizando seu uso no processo decisório.
Logo, a Inteligência Competitiva [...] é o resultado da análise de dados e informações coletados do
ambiente competitivo da organização que irão embasar a tomada de decisão, pois gera recomendações
que consideram eventos futuros e não somente relatórios para justificar decisões passadas.
BE GILAD (apud GOMES e BRAGA, 2004, p. 41) enfatiza que Inteligência
Competitiva “não é coleta de dados, e não é pesquisa de mercado [...] Inteligência
Competitiva diz respeito ao risco e não à informação”.
Outros autores definem a Inteligência Competitiva:
Atividade de gestão estratégica da informação que tem como objetivo permitir que os tomadores de
decisão se antecipem às tendências de mercados e à evolução da concorrência, detectem e avaliem
ameaças e oportunidades que se apresentem em seu ambiente de negócio para definirem as ações
ofensivas e defensivas mais adaptadas às estratégias de desenvolvimento da organização. (JACOBIAK
apud GOMES e BRAGA, 2004, p. 25)
73
Refere-se à capacidade de uma corporação como um todo de reunir informação, inovar, criar
conhecimento e atuar efetivamente baseada no conhecimento que ela gerou. Esta capacidade é a base do
sucesso em ambientes sujeitos a mudanças rápidas e altamente competitivos. (MORESI, 2001, p. 44)
A Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva – ABRAIC
(2005), citando Sherman Kent (1949), define Inteligência Competitiva como
a atividade especializada permanentemente exercida com o objetivo de produzir informação acionável
(Inteligência) de interesse de uma determinada organização e a salvaguarda desta informação contra
ações adversas de qualquer natureza. O termo Inteligência encerra um tríplice aspecto: (1) como
atividade (2), como produto dessa atividade; (3) como área habilitada a realizar essa atividade. Teve
origem nos órgãos de Inteligência Militar, passando mais tarde a ser utilizado pelo Estado. Hoje sua
abrangência atinge as organizações em geral.
No mesmo glossário da ABRAIC, apresenta-se o conceito para Inteligência
Competitiva, como “atividade de Inteligência voltada para o mundo dos negócios, ou seja,
para o ambiente competitivo [...] busca a manutenção ou desenvolvimento de vantagem
competitiva em relação aos concorrentes”.
A Inteligência Competitiva, portanto, não significa um levantamento de
acontecimentos já ocorridos, mas tem como justificativa o auxílio na identificação de
tendências, mudanças e oportunidades no ambiente em que a organização atua,
assim como a identificação e comparação de concorrentes antigos e em potencial.
Assim como é importante conseguir informações sobre a concorrência, é
importante que as organizações se preocupem em eliminar possíveis fugas de
informação interna. Algumas empresas adotam determinados dispositivos de
segurança que vão desde cláusulas de confidencialidade impostas aos funcionários e
fornecedores até restrições de acesso a determinados locais e informações que sejam
consideradas sigilosas.
74
A maior parte das informações que as organizações obtêm é de domínio
público, ou seja, publicados na mídia impressa, Internet, dados de fornecedores,
relatórios de bancos, publicações internas e até mesmo em forma de rumores.
Muitas vezes, as atividades ligadas à Inteligência Competitiva são
confundidas com espionagem. No entanto, a Inteligência Competitiva é algo legal, ou
seja, dentro das regras éticas e legislativas. A ABRAIC ( )5 cita que
espionagem é a busca ou acesso não autorizado a dados, informações e outros conhecimentos sensíveis,
ou seja, é o uso de práticas ilegais para a obtenção de dados e informações. No entanto, quase toda a
informação necessária a um profissional de IC pode ser coletada por meio do exame de informações
públicas, por entrevistas e usando métodos éticos e legais. Além disso, a introdução de Sistemas de
Inteligência Competitiva nas empresas tem mostrado que boa parte dessas informações já se encontra
dentro da própria empresa, faltando apenas a montagem de um sistema capaz de capta-las e gerenciá-las.
A ABRAIC até possui um código de ética que estabelece, entre outras coisas, 8
premissas básicas de conduta do profissional de Inteligência Competitiva.
• Exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade.
• Preservar sua dignidade, prerrogativas e independência profissional.
• Esforçar-se continuamente para aumentar o reconhecimento e o respeito à
profissão.
• Cumprir as leis aplicáveis, tanto no País quanto no exterior.
• Manter sigilo sobre o que souber, em função de sua atividade profissional.
• Evitar envolver-se em conflitos de interesse no cumprimento de seus deveres.
• Assegurar as condições mínimas para o desempenho ético-profissional.
• Emitir opinião, dar parecer e sugerir medidas somente depois de estar seguro das
informações produzidas e da confiabilidade dos dados obtidos.
A inteligência organizacional pode ser vista sob dois pontos de vista. Primeiro,
como um produto, o que se refere ao acervo informacional estruturado, sintetizado e
5 http://www.abraic.org.br/faqs.asp
75
direcionado para um objetivo, gerado por um sistema de informação que aumenta a
capacidade de solução de problemas. Podem ser distinguidos quatro níveis dentro
dessa visão de produto: dados, informação, conhecimento e inteligência
(conhecimento usado ativamente).
O segundo ponto de vista é sob a forma de processo. A inteligência
organizacional é interativa, agregadora, uma complexa coordenação de inteligências
humanas e de “máquina” (tecnologias) dentro de uma organização. Essas
inteligências devem ser orientadas de acordo com os objetivos da organização,
portanto, de acordo com os fluxos de trabalho.
A formação da Inteligência Competitiva de uma organização depende não só
do fator ambiente interno e externo, mas de profissionais, especialistas e outros
personagens que compõem a parte humana desse sistema. Segundo a Sociedade dos
Profissionais de Inteligência Competitiva (apud GOMES e BRAGA, 2004, p. 84), é
composto por:
• criadores de conhecimento: governo, consultores e acadêmicos
• criadores de dados: bibliotecários, administradores de banco de dados e todos os
envolvidos em redes de comunicação informal
• construtores de sistemas: tecnólogos e projetistas de sistemas
• tomadores de decisão: gerentes, chefes de departamento e diretoria (o trabalho
desse grupo resulta em ação, ou seja, desencadeia atividades baseados na análise
feita e na decisão tomada)
Dentro dessa cadeia de formação de Inteligência Competitiva, apresentam-se
pesquisadores online e de campo (função de coleta de dados), analistas de
informação, analistas de mercado, analistas de setor e os integradores (gerentes de
Inteligência Competitiva e consultores).
76
6.1. Aprendizado organizacional
Quando se trata da Inteligência Competitiva, está implícita a idéia de
aprendizagem. Assim como uma pessoa adquire experiência e novos conhecimentos
interagindo de variadas formas com o seu meio, uma organização também pode
“aprender” de maneira semelhante.
Segundo MORESI (2001, p.38), a aprendizagem organizacional
ocorre por meio de percepções, conhecimentos e modelos mentais compartilhados. Assim sendo, as
organizações podem aprender somente na velocidade em que o elo da cadeia mais lento aprende. A
mudança fica bloqueada, a menos que todos os principais tomadores de decisão aprendam juntos,
venham a compartilhar crenças e objetivos e estejam comprometidos em tomar as medidas necessárias à
mudança. (...) O aprendizado é construído com base em conhecimentos e experiências passados, isto é,
com base na memória. A memória organizacional depende de mecanismos institucionais (...), usados
para reter conhecimento.
Assim como as pessoas, as organizações aprendem cada uma a sua maneira. A
aprendizagem ocorre através de interações com o ambiente e através das escolhas
feitas em como se relacionar com esse ambiente. Essa visão das organizações
denomina-se “sistemas abertos”. Além disso, grandes organizações, por serem
demasiadamente complexas, se dividem em unidades, cada uma lidando com uma
parte das condições externas da empresa.
No entanto, para o sucesso da aprendizagem organizacional, as unidades
devem se entender, estar em coordenação. A integração interna dessas unidades
requer entendimento entre as unidades para que minimizem os conflitos entre os
diferentes estilos de aprendizagem.
O desenvolvimento do aprendizado organizacional pode ser efetivado através
de alianças em vários formatos. Um tipo de relacionamento no intuito colaborativo se
materializa sob o conceito de Organização em Rede. Esse conceito, na prática,
significa uma rede de organizações, envolvendo fornecedores e clientes, que
77
contribuem em determinadas áreas para um desenvolvimento em conjunto. Essa
união ajuda as empresas participantes na exploração de oportunidades de mercado e
capacita a realização de trabalhos e pesquisas de maneira concomitante e conjunta.
TERRA (2001, p. 199) cita dois casos de empresas norte-americana que
adotaram a modalidade de organização em rede:
• Nokia (divisão de visores): atua nos EUA com apenas cinco funcionários;
praticamente todo o resto é terceirizado: suporte técnico, logística, vendas,
marketing, etc.
• Topsy Tail (empresa de acessórios de moda): com faturamento anual de US$ 80
milhões e apenas três funcionários, essa empresa nunca “toca” o produto: entre as
empresas contratadas, há as que injentam os moldes, agências que desenvolvem
as embalagens, empresas que cuidam da logística, atendimento ao cliente,
distribuição e vendas.
Outras formas pelas quais a organização “aprende” é analisando a ação dos
concorrentes. Aumento de produção, estatística de vendas, expansão da cadeia de
distribuição e dados contábeis, entre outros, são alguns exemplos de informações que
determinam mudanças na Inteligência Competitiva.
O ambiente externo também demonstra algumas características que podem ser
estratégicos para a organização. Mudanças do rumo político, perspectivas sociais e
educacionais de uma comunidade ou sociedade, novas tecnologias e publicação de
pesquisas da área acadêmica são fatores que influenciam uma organização.
Sem dúvida, a aprendizagem organizacional depende fundamentalmente das
competências desenvolvidas pelos seus funcionários. Como relata MORESI (2001, p.
39),
78
o aprendizado organizacional ocorre quando os membros de uma organização respondem às mudanças
nos ambientes interno e externo [...] o aprendizado individual deve contribuir com a organização se ele
não for obstruído por constrangimentos organizacionais, tais como responsabilidades ou procedimentos
rígidos de processamento de informação.
Logo, se houver liberdade para que os funcionários interajam com o ambiente
e entre si, compartilhando suas experiências individuais, o aprendizado evolui
informalmente. Hoje em dia, esse tipo de “troca” está sendo muito valorizado em
empresas que crêem nos benefícios do valor do conhecimento.
Esse tipo de relacionamento afeta diretamente no desempenho da empresa
como um todo, uma vez que seus sucessos e falhas são determinados pela estrutura
dos relacionamentos entre os diversos funcionários, grupos e departamentos.
6.2. Relação entre Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva
De acordo com o que foi levantado, a Gestão do Conhecimento é um amplo
conglomerado de atividades necessárias para identificar, administrar e disponibilizar
todos os conhecimentos e competências, conhecidos pela organização.
A Gestão do Conhecimento propõe uma atividade mais abrangente da
organização, ou do ambiente organizacional. Como a organização é uma entidade
envolvida, influenciada e influenciadora do ambiente em que pertence, a Gestão do
Conhecimento interage com esse ambiente. Como bem explica OLIVEIRA Jr (1999, p.
130), a administração do conhecimento é “o processo de identificar, desenvolver,
disseminar, atualizar e proteger o conhecimento estrategicamente relevante para a empresa,
seja a partir de esforços internos à organização, seja a partir de processos que extrapolam suas
fronteiras”.
79
O resultado da Gestão do Conhecimento é um mapeamento de habilidades,
experiências e competências dos colaboradores da empresa, de produtos, tecnologias
e informações do mercado.
Enquanto isso, a Inteligência Competitiva pode ser vista como uma atividade
de coleta e análise de informações sobre a movimentação e tendências dos negócios
dos concorrentes. Ou seja, a Inteligência Competitiva propõe o conhecimento acerca
da posição, desempenho e capacidade das organizações “rivais” com o intuito de
usufruir para o seu bem próprio.
Esse tipo de informação é de muita valia para o processo decisório de uma
organização. O intuito é conhecer o concorrente para poder realizar um planejamento
específico para desenvolver ou ampliar vantagens sobre as outras organizações. Em
muitas indústrias uma decisão errada pode levar à falência da organização. Para
sobreviver nesse ambiente temos de dispor de um sistema de inteligência
competitiva que forneça informações analisadas de forma integrada e tempestiva
para que se possa tomar decisões mais seguras e em tempo real, garantindo, assim, a
sobrevivência da empresa.
Logo, a Gestão do Conhecimento cria condições para que o conhecimento de
uma determinada organização possa ser identificado, desenvolvido, socializado e
disseminado dentro da empresa.
A Inteligência Competitiva, por sua vez, resulta na produção do conhecimento
originado do ambiente externo, prioritariamente sobre as empresas que tem qualquer
nível de disputa de mercado com a organização.
Apesar de a Gestão do Conhecimento apresentar algumas interferências com o
ambiente externo, ela não trata especificamente sobre as empresas. Essa função de
detalhar o mercado e a concorrência é uma especialização da Inteligência
Competitiva.
80
Também é importante grifar que a Gestão do Conhecimento e a Inteligência
Competitiva são complementares. Qualquer empresa que desejar manter um fôlego
no concorrido mercado, deve conhecer as suas capacidades, identificando nichos de
conhecimento e grupos de especialistas, e deve conhecer as capacidades de seus
concorrentes.
Concluindo, MORESI (2001, p. 43) lembra uma citação de Sun Tzu em seu
livro A Arte da Guerra que estabelece bem essa idéia do conhecimento interno e
externo como vantagem competitiva para travar qualquer batalha:
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se
você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota.
Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...”
81
7. O PAPEL DO BIBLIOTECÁRIO
Quando se fala em administração de documentos bibliográficos, informação e
conhecimento, é natural pensar na figura dos profissionais da informação.
Muitas empresas mantêm bibliotecas e centros de informação como
repositórios permanentes de informação. Esses departamentos desempenham a
função de auxiliar na identificação de fontes de informação, na coleta, tratamento e
disseminação, atualmente com o apoio das tecnologias de informação.
Outro fator que se destaca é a vontade das organizações em manter os seus
funcionários informados sobre os eventos e atividades ligadas aos seus ramos de
negócio, como parte de sua gestão de conhecimento. Nesse caso, o centro de
informação define, em primeiro lugar, as informações que serão importantes para a
empresa. Em segundo lugar, centraliza todas as informações em um único meio de
divulgação para não haver re-trabalho ou informações ambíguas.
Sabendo da necessidade do acesso às informações estratégicas, as
organizações estão dando maior importância às atividades desses departamentos e
profissionais. Em alguns casos, as tradicionais bibliotecas sofrem algumas alterações
para se adaptar ao perfil das empresas que trabalham com o conhecimento.
DAVENPORT e PRUSAK (1998, p. 134) relatam sobre o caso da Ernest & Young que
era apenas uma biblioteca da prática de consultoria. Com as mudanças – que
mudaram a denominação dos funcionários desse departamento para gerentes do
conhecimento, muitos dos quais formação em Biblioteconomia – essa empresa
mudou o perfil da biblioteca para um novo modelo de gestão do conhecimento,
transformando-a em Centro de Conhecimento de Negócios.
Agentes do conhecimento são indispensáveis para as práticas de Gestão do
Conhecimento. E o bibliotecário corporativo pode ser estratégico no papel de corretor
do conhecimento em empresas, pois esses profissionais conhecem formas de
82
organizar e disseminar informações (e também disseminar conhecimento), além de
serem um dos poucos profissionais que têm contato com pessoas de diversos
departamentos.
DAVENPORT (2000, p. 142) lembra bem dessa característica do trabalho do
bibliotecário nas empresas: “os bibliotecários têm uma posição garantida no quadro de
informações de uma empresa, particularmente porque sua história profissional – ao contrário
do que acontece com os programadores e profissionais de SI – os predispõem ao contato direto
com os usuários”.
As bibliotecas empresariais são centros de informação estratégicos para as
organizações e cada vez mais estão se posicionando no centro das redes de
conhecimento interno. Esses profissionais podem resolver mais adequadamente as
necessidades de informação (busca mais eficaz da informação), gerenciando uma
gama variada de informações da concorrência, do negócio e todos os eventos que
envolvem ou afetam a organização. Os bibliotecários podem desempenhar uma
importante função para a rede de informação da empresa.
No entanto, segundo STANAT (1997, p. 336), as bibliotecas corporativas
sofreram, como muitas outras áreas, os efeitos do downsizing (redução e
racionalização de vagas nas empresas com intuito de reduzir custos com pessoal e
enxugar a estrutura organizacional). Em grande parte dessas bibliotecas, o número
de profissionais é bastante reduzido, com apenas uma ou duas pessoas vindas da
área de Biblioteconomia.
As bibliotecas de empresas nasceram durante as décadas de 20 e 30, copiando
os modelos das bibliotecas públicas (DAVENPORT e PRUSAK, 1996, p. 447). O
objetivo desses departamentos era reunir o maior número de volumes sobre os mais
variados assuntos relacionados com a atividade da empresa. As políticas dessas
bibliotecas não visavam o uso da informação, mas como estocagem de informação
utilizável.
83
Mais tarde, as bibliotecas especializadas surgiram. Ao invés de criar um
acervo de livros com conteúdos mais variados (como a biblioteca pública), as
bibliotecas se transformaram em acervos de informação especializada. No entanto,
esse modelo negligenciou o fato de que boa parte das pessoas nas organizações com
necessidades de informação dentro de um conhecimento especializado não eram
apenas profissionais da informação ou de uma determinada área. Centros
especializados de informação eram apenas uma modificação das primeiras
bibliotecas e, assim sendo, não conseguiram realizar uma disseminação de
informação eficiente em toda a organização.
Nos dias atuais, a biblioteca foi incorporada aos projetos de sistemas de
informação empresariais. Os quadros de pessoal responsáveis pela informação estão
sendo consideravelmente transformados, incorporando atividades que fogem um
pouco das que normalmente os bibliotecários e os analistas de sistemas devem
realizar. Esses novos profissionais terão que agregar valor às informações fornecidas
aos usuários e irão desempenhar funções adicionais, além das funções tradicionais da
área – entre eles condensar, contextualizar, aconselhar o melhor estilo e escolher os
meios corretos de apresentação da informação.
A respeito disso, DAVENPORT e PRUSAK (1996, p. 450) observavam, já em
1996, que as empresas não podem depender apenas da rede de informação como o
único veículo de acesso à informação corporativa. Os bibliotecários precisam ser
criativos para prepararem produtos e serviços que ajudem os funcionários diante da
necessidade de informação. Isso envolve, por exemplo, promoção de seminários e
palestras, CD-ROMs, boletins, comunicação através do canal de áudio ou vídeo
interno.
Diante dessa realidade, as equipes de informação precisam pensar em seus
produtos e serviços. O profissional envolvido no trabalho de disseminação da
informação deve pensar nas seguintes características: exatidão, oportunidade,
acessibilidade, envolvimento (a informação como sendo algo útil para alguém),
84
aplicabilidade, escassez (a informação rara, normalmente, é bastante valiosa),
condensação, contextualização e apresentação.
Acerca desse assunto, BEUREN (2000, p. 45) comenta que
o valor da informação e, por conseguinte, a solidez das decisões, pode ser afetado pela qualidade da
mesma. Infelizmente, esta qualidade falta ou é deficiente em muitas empresas, conduzindo os gestores a
não tomarem as melhores decisões. Por sua vez, as informações podem ser consideradas de qualidade
quando são relevantes, precisas, acessíveis, concisas, claras, quantificáveis e consistentes.
As grandes organizações utilizam redes de trabalho como a principal
alternativa para comunicação e disseminação de informação. A principal
característica desse modelo é a forte presença das redes de computadores
interligando pessoas, departamentos, fontes de informação e entidades externas,
como bases de dados e a própria Internet.
Muitas empresas que adotaram esse modelo colocam a biblioteca como uma
rede virtual de informação. Através de aplicativos (um dos mais populares é o Lotus
Notes), qualquer funcionário pode recorrer ao serviço de informação, diretamente no
catálogo on-line ou acervo digital ou por solicitação de pesquisa através de
mensagem eletrônica via rede.
No entanto, o modelo de rede de trabalho descentraliza o papel do material
bibliográfico tradicional, composto por livros e documentos técnicos, o que gera certo
desconforto aos bibliotecários.
Esse relativo desprezo ao valor dos livros disponíveis nas estantes das
bibliotecas cria, em alguns casos, a idéia de que a organização não necessita gastar
dinheiro e espaço físico para manter uma biblioteca, uma vez que os recursos
informatizados são, supostamente, suficientes para atender às necessidades. Por isso,
o bibliotecário precisa desmistificar a visão de si, como profissional dos livros para se
85
destacar como o profissional que realmente deve ser, atendendo as necessidades de
informação dos usuários.
Sobre essa implicação de um novo relacionamento entre bibliotecários e
ambiente empresarial, DAVENPORT e PRUSAK (1996, p. 453) falam de oito
premissas básicas para que os profissionais da informação possam desempenhar
eficientemente os seus trabalhos nas organizações:
• sair da biblioteca e conhecer o negócio da empresa;
• avaliar constantemente as necessidades de informação e quem necessita de
informação – depois, ajudar essas pessoas a obter a informação;
• focar em uma variedade de mídia (formatos) e ficar atento às tendências
tecnológicas de amanhã (atualização);
• desenvolver uma relação com o pessoal responsável pelo sistema de informação
da empresa;
• não se influenciar pela idéia de que a tecnologia irá substituir o trabalho humano
de fornecer informação (a tecnologia só facilita ou enriquece essa atividade);
• desenvolver a arquitetura de informação;
• trabalhar com fontes externas para desenvolver veículos de informação
(distribuição) mais eficientes;
• enfatizar o uso de materiais de fontes externas.
Como se sabe, em relação a qualquer outro profissional que pode ser
encontrado nas empresas, o bibliotecário é aquele que consegue com maior facilidade
obter fontes de informação (sua formação acadêmica é apropriada para desempenho
dessa atividade). O foco desses profissionais não é particularmente na tecnologia ou
nos sistemas de informação, mas é na informação em si.
Portanto, os bibliotecários têm o perfil para abandonar definitivamente o nível
mais técnico da estrutura hierárquica para assumir uma posição de maior
importância, destituindo-os de seu antigo estereótipo ligado basicamente às estantes
86
e livros, levando-os para uma função mais estratégica e para o suprimento das
necessidades informacionais dos negócios da organização.
MARCHIORI (2002, p. 75) apresenta também uma relação de conhecimentos e
habilidades que devem estar presentes no profissional que tenha a ambição de
trabalhar com a gestão integral dos recursos de informação das organizações:
• habilidade para fazer o mapeamento, planejamento e estruturação de unidades,
pessoas e fluxos de informação;
• conhecimentos de teorias de comunicação;
• gerenciamento de sistemas de controle da informação;
• análise de sistemas de informação;
• noções de gerenciamento de recursos humanos e coordenação de equipes;
• controle de orçamentos;
• conhecimentos de marketing empresarial;
• ética social e legal.
Sob o ponto de vista de MARCHIORI (2002, p. 77)
O Gestor de Informação (...) exerce suas atividades em um âmbito razoavelmente controlado,
identificado pela necessidade de gerenciar um recurso de informação – que pode ser mais ou menos
complicado, de acordo com a natureza do sistema, produto, serviço e/ou atividade de informação
envolvida; dos canais e da estrutura de conectividade (...) disponíveis na fonte e do receptor; e das
habilidades tecnológicas, gerenciais e de medição (...) que o profissional possa oferecer a indivíduos e
grupos, dentro e fora das organizações.
As instituições acadêmicas, no intuito de suprir a carência de conteúdos para
formação de profissionais com o perfil de gestor de informação empresarial, estão
buscando mudanças em seus currículos. Muitas até oferecem opções de
especialização voltadas para o trabalho em organizações empresariais. Entretanto, é
importante lembrar que muitos desses cursos não são reconhecidos pelos Conselhos
Regionais de Biblioteconomia, o que gera certa dúvida em relação à certificação dos
87
alunos desses cursos como profissionais bibliotecários. Essa polêmica, embora não
seja objeto dessa monografia, mostra a preocupação das escolas em acompanharem
os movimentos do mercado de trabalho.
Nota-se, também, que vem crescendo a oferta de eventos que objetivam a
atualização na área. Seminários, palestras e workshops voltados para o público com
formação em Biblioteconomia e Ciência da Informação estão se tornando comuns nos
últimos anos.
Por outro lado, o bibliotecário não é visto, por muitos, com o perfil ideal para
assumir o papel de gestor de informação. Esse papel, em muitos casos, é atribuído a
outras carreiras. Esse fato pode ser observado em algumas empresas que contratam
profissionais de outras áreas – principalmente engenheiros, economistas e
administradores – para atuarem com atividades referentes ao trabalho com a
informação.
Ainda existe a tendência forte, por parte de alunos, de pessoas de fora da área
e pessoas ligadas à administração de empresas, de acreditar que o bibliotecário
somente atua com livros, bibliotecas e empréstimos ao usuário. DAVENPORT e
PRUSAK (1996, p. 448) explicam que a formação em Biblioteconomia ou Ciência da
Informação não é voltada para os negócios ou para a atividade empresarial, mesmo
com a popularização e a influência da informática na área. A formação desse
profissional é voltada para o lado mais técnico, orientado para o gerenciamento da
informação. Tecnicamente é dizer que o bibliotecário só olha para a atividade de
coletar, categorizar e armazenar informação.
No entanto, essa deficiência em perceber um caminho profissional nas
organizações não é culpa somente dos profissionais da informação. Muitos
administradores e gerentes não acreditam no potencial do bibliotecário. E por isso
contratam profissionais de outras áreas, embora a formação e experiência desses
profissionais não sejam voltadas exatamente para a atividade.
88
Logo, existe ainda um caminho a ser trilhado para que o profissional da
informação venha a ser valorizado, não só no campo empresarial, mas em todos os
demais – bibliotecários de bibliotecas infantis, escolares, universitárias,
governamentais, centros de informação especializados, bibliotecas digitais, etc.
Para isso, algumas instituições de ensino estão se reunindo e discutindo as
suas estruturas curriculares de modo a adequarem a formação dos novos
profissionais às exigências do mercado de trabalho. No entanto, é importante
também que os profissionais se dediquem e se empenhem em desenvolver trabalho
para demonstrar o valor e a importância do profissional da informação para as
organizações em que trabalham, e para a sociedade, direta ou indiretamente.
89
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como motivação, em primeiro lugar, tornar alguns conceitos
sobre o trabalho com informação menos nebulosos. Conceitos, aliás, que nos últimos
anos emergiram ou conquistaram maior grau de importância nas discussões de
diversas áreas. Por isso mesmo, trabalhos, publicações, periódicos, cursos e eventos
sobre o papel estratégico da informação e do conhecimento se tornaram mais
comuns.
Toda essa discussão, principalmente em trabalhos monográficos que surgem
em número cada vez maior nas prateleiras das livrarias e bibliotecas universitárias,
gera maior heterogeneidade de pontos de vista particulares a cada autor sobre os
assuntos aqui apresentados. Não há um consenso ou uma visão única sobre o
conceito de “Gestão da Informação” ou sobre o conceito de “Gestão do
Conhecimento”.
Não significa que os entendimentos sobre os conceitos sejam radicalmente
divergentes, mas percebeu-se que cada autor tem uma maneira de expor suas idéias
sobre o tema. Esse fato pode ser observado, por exemplo, na quantidade de conceitos
primários levantados, como os conceitos de informação, conhecimento e Gestão do
Conhecimento, entre outros.
No entanto, uma evidência que pôde ser constatada é que existem ligações
bem definidas entre as atividades de Gestão de Informação, Gestão de Documentos,
Gestão do Conhecimento e Inteligência Competitiva. De modo geral, pode-se dizer
que uma atividade depende da outra para existir, ou para que funcione de maneira
eficiente.
90
Gestão da Informação x Gestão de Documentos
Fazer a Gestão de Documentos não necessariamente abrange toda a gama de
informação existente nas organizações. Basta pensar na informação que circula sem
registro, como as conversas informais na hora do cafezinho, palestras e outras
atividades que não são registradas formalmente, além da informação presente no
suporte digital. Esse tipo de transferência de informação está sendo bastante
valorizado nas empresas, uma vez que as pessoas se sentem mais à vontade nesses
momentos para compartilhar o seu conhecimento tácito.
A Gestão de Documentos pode ser vista como a típica função do bibliotecário.
Ou seja, identificar conteúdos importantes para a organização, adquirir material,
criar acervo e fazer o controle de acesso ao material. No aspecto tecnológico, temos os
documentos eletrônicos que necessitam de uma outra abordagem, já que não
compartilham de todas as características dos documentos tradicionais, mas que são
igualmente importantes para compor as fontes de informação necessárias para a
organização.
Além disso, documentos eletrônicos se proliferam rapidamente. As
tecnologias de informação facilitam a sua criação e disseminação por meios que, às
vezes, são muito difíceis de administrar adequadamente. Qualquer funcionário pode
acessar uma página na Internet ou enviar qualquer tipo de informação através de seu
e-mail profissional.
Para resolver parte desse problema, muitas empresas instalam softwares de
GED (Gestão Eletrônica de Documentos) para controlar qualquer tipo de acesso aos
documentos eletrônicos compartilhados por uma organização. Outras, estabelecem
regras de uso de e-mail e, até mesmo, checam o conteúdo de mensagens que julguem
suspeitas. Mas esse fato leva a uma discussão ampla no campo da ética e da
privacidade.
91
A Gestão da Informação, por sua vez, é uma atividade mais ampla e que não
se limita apenas ao controle informacional, pois envolve outras áreas e aspectos da
empresa para que a informação circule da melhor maneira. É uma atividade
estratégica, diferentemente da Gestão de Documentos que tem um perfil mais
técnico. A Gestão da Informação engloba quatro grandes etapas:
• determinação das necessidades informacionais da organização
• identificação de fontes de informação
• disseminação da informação
• análise do uso da informação (avaliação)
Ela deve envolver grupos que captam informação, a cultura organizacional
para transferência da informação entre os funcionários e departamentos (espírito de
compartilhamento de informações citado por DAVENPORT) e a estrutura
tecnológica da organização (redes informatizadas).
Apesar de certas definições da área de Biblioteconomia sugerirem a noção de
documento como “a informação em suporte tangível”, a Gestão de Documentos não
é igual a Gestão da Informação – contudo, a Gestão de Documentos está inserida na
Gestão da Informação.
Resumindo:
Gestão de Documentos Gestão da Informação
Perfil técnico Perfil estratégico
É desenvolvido por um departamento ou grupo dentro da organização
É planejado pela alta administração e desenvolvido por todos que façam uso da
informação na organização Trabalha basicamente com informações
registradas em algum tipo de suporte, físico ou eletrônico
Trabalha com todas as informações, formalmente registradas ou não
O sucesso depende do grupo que coordena as atividades da biblioteca ou centro de informação
O sucesso depende da maioria dos funcionários e da cultura organizacional
92
Gestão da Informação x Gestão do Conhecimento
Em muitas situações, as pessoas não sabem diferenciar informação e
conhecimento. Por exemplo, enviar artigos e programação de eventos de interesse de
um grupo da organização é promover a Gestão de Informação ou de Conhecimento?
Ou possuir uma relação de contatos de especialistas é uma informação ou um
conhecimento?
De acordo com as definições apresentadas para a Gestão do Conhecimento e
Gestão da Informação, pode-se concluir que ambos os exemplos se encaixam nas
duas atividades. De fato, a informação que está presente em qualquer tipo de suporte
pode ser um conhecimento explícito (conhecimento registrado).
A diferença na Gestão da Informação para a Gestão do Conhecimento está,
principalmente, nas formas em que são tratadas. A informação pode ser distribuída
por e-mail, relatórios e comunicação interna. Percebe-se, portanto, que a informação
normalmente está registrada, exceto nos casos em que ela assume o formato
informal, como uma conversa telefônica ou em uma dinâmica com os funcionários.
O conhecimento assume a “forma” de informação quando é disseminado,
depois é absorvido por uma pessoa (conhecimento adquirido) e repassado
novamente em forma de informação. O desenvolvimento do conhecimento é uma
tarefa de cada indivíduo, pois depende de um processamento intelectual. Como as
pessoas possuem diferentes patrimônios intelectuais e percepções para determinados
assuntos, o conhecimento gerado é visto na empresa como um processo de inovação
e criatividade. Desse modo, a administração desse conhecimento serve às empresas
como saídas para diversos problemas que se apresentam no seu dia-a-dia.
Em suma, a Gestão da Informação fica caracterizada por ser o motor do fluxo
de informação que a empresa necessita para as suas atividades. Ou seja, ela
93
determina qual informação a empresa necessita, como deve ser apresentada e
disseminada, e para quem essa informação deve ser repassada.
A Gestão do Conhecimento, por sua vez, incentiva o uso da informação, a
transferência de “conhecimento em forma de informação” (etapa de externalização
do modelo de Nonaka) e a identificação de nichos de conhecimento presentes na
organização.
Resumindo:
Gestão da Informação Gestão do Conhecimento
Orientada para a identificação de fontes de informação e sua disseminação
Orientada para o uso qualitativo da informação e compartilhamento do conhecimento
É desenvolvido, principalmente, através de tecnologias de informação e comunicação
É desenvolvido, principalmente, através do relacionamento entres indivíduos e a interação
com a informação disponível
Objetiva estabelecer um fluxo ideal das informações necessárias e seu uso eficaz
Objetiva a atividade intelectual, a inovação e o desenvolvimento do capital intelectual da
organização
Gestão do Conhecimento x Inteligência Competitiva
A Gestão do Conhecimento basicamente é um conjunto de atividades que
atingem o ambiente interno. Ou seja, a influência que exerce é fundamentalmente
sentida dentro da organização e pelos seus membros. Embora exista uma pressão do
ambiente externo que determina certos aspectos do plano estratégico da empresa, a
Gestão do Conhecimento desenvolve-se apenas internamente.
A Inteligência Competitiva, por sua vez, preocupa-se em examinar as
atividades do ambiente externo. Pode-se pensar na Inteligência Competitiva como
uma forma de captação de informação estratégica sobre a concorrência. Esse tipo de
informação é um bem altamente valorizado, já que é determinante para muitas ações
e estratégias da organização.
94
Portanto, a Inteligência Competitiva é uma atividade altamente especializada,
executada por grupos que têm como objetivo mapear e analisar os passos e a situação
de empresas consideradas concorrentes. Além disso, a Inteligência Competitiva e a
Gestão do Conhecimento são complementares, ambas essenciais para o planejamento
estratégico e o desenvolvimento da capacidade de inovação das atividades da
organização. A Inteligência Competitiva também complementa a Gestão da
Informação, no que diz respeito à coleta de informações originadas do ambiente
externo.
Resumindo:
Gestão do Conhecimento Inteligência Competitiva
Atividades que resultam em ações no ambiente interno
Atividades que identificam mudanças e ocorrências no ambiente externo, especificamente
de empresas concorrentes Identifica o “acervo” intelectual da organização e
objetiva o seu desenvolvimento Resulta em informações estratégicas para a
organização Como fornecimento de informação essencial para o planejamento estratégico da organização, podem
ser consideradas atividades complementares
Inteligência Competitiva x Inteligência Corporativa
Como foi visto, a Inteligência Competitiva é uma competência que as
empresas buscam desenvolver para identificar armadilhas, antecipar acontecimentos
e definir estratégias para anular os efeitos da concorrência.
A Inteligência Corporativa pode ser vista como todo o acervo informacional e
intelectual que é de posse da organização. Envolve produtos e tecnologias que a
organização detém: marcas, acervo informacional e base intelectual humana. A base
intelectual pode ser desenvolvida principalmente por meio da aprendizagem
organizacional (o conjunto do desenvolvimento dos grupos).
95
O bibliotecário nas empresas
Para uma organização que trabalha essencialmente com informação, é difícil
imaginar a ausência de um profissional que identifique e controle o acesso a fontes
de informação que sejam necessárias para a execução dos trabalhos. Por formação, o
bibliotecário deveria assumir essa posição, já que não há nenhum profissional
teoricamente mais preparado para a função.
No entanto, a realidade é um pouco diferente. Por descrédito ou
desconhecimento do papel do bibliotecário, muitas empresas contratam outros
profissionais para assumir o cargo de “gerente” de informação. Esses profissionais,
geralmente, estão ligados, por sua formação acadêmica, aos negócios da empresa.
Por exemplo, economistas ou engenheiros são contratados porque quem os contrata
acredita que estão mais habilitados a lidar com informações e termos da área. Porém,
é um equívoco, pois é preciso conhecer mais que o conteúdo das informações,
tornando necessário o domínio de técnicas e ferramentas para adquirir, organizar,
tratar, dispor e disseminar de forma adequada para possibilitar o acesso físico ou
virtual ao usuário potencial. Como muitos desses profissionais não estão preparados
para isso, a decisão de contratar profissionais não capacitados adequadamente para o
exercício dessas atividades leva as organizações a adotarem soluções provisórias – e
que algumas vezes permanecem como definitivas.
Outro problema que se apresenta são as equipes que são muito pequenas – em
muitos casos, a organização conta com um funcionário apenas. Nem sempre se
consegue realizar um trabalho eficaz nesse ambiente. Basta imaginar o volume de
informação que uma empresa, mesmo pequena, tem à disposição e aquelas que ela
demanda para suas atividades. Além disso, muitas empresas contratam estagiários
para desempenharem a função que deveria ser exercida por um profissional com
curso superior. Esses aprendizes não têm, geralmente, a experiência requerida e são
utilizados como mão-de-obra barata.
96
Portanto, percebeu-se que muitas organizações sabem da necessidade da
administração dos recursos informacionais, mas muitas não estão preparadas para
desempenhar tais atividades ou não sabem como implementá-las e também não
contratam profissionais adequados.
Como foi observado no trabalho, a biblioteca ou qualquer outra unidade de
informação desempenha uma função fundamental em empresas que necessitam de
informação. Uma consultoria, por exemplo, não existiria sem a administração correta
da informação. E essa administração não depende exclusivamente de modernos
softwares ou uma rede de computadores. Pessoas que saibam lidar com esse insumo
é que devem atuar dentro desse sistema.
Entretanto, não basta ter os conhecimentos técnicos adquiridos no curso de
Biblioteconomia. Faz-se necessário que o profissional que queira trabalhar com
informação de empresas pense nas características ideais apresentadas por Davenport
e Prusak( )6 . Interação com os funcionários, um pouco de conhecimento dos negócios,
atualização com as novidades em TI e atitude proativa, entre outros, são qualidades
que devem ser desenvolvidas pelo profissional.
Talvez seja por isso que muitos cursos de graduação estejam atualizando seus
currículos com disciplinas e conteúdos relacionados com informação em empresas.
Enfim, o aspecto positivo observado na literatura é que o bibliotecário está
apto a exercer a sua verdadeira função nas empresas, como gestor de recursos
informacionais – documentos e informação. Em relação à Gestão do Conhecimento e
Inteligência Competitiva, sua função é complementar a de outros profissionais,
desempenhando um papel às vezes de mediador entre fontes e usuários , às vezes de
integrador das facilidades e dos recursos informacionais, mas principalmente de
analista de conteúdo, que organiza, trata e cria formas de representação desses
6 Essas características estão listadas na página 83.
97
conteúdos de forma mais adequada às condições de uso requeridas pelos potenciais
usuários.
Considerações sobre o tema
Não são áreas totalmente novas. As empresas sempre necessitaram de
administrar e controlar informações. Entretanto, devido à idéia de estarmos numa
sociedade da informação e do conhecimento, temas como Gestão da Informação e do
Conhecimento são colocados à tona e discutidos.
O objetivo desse trabalho não era estabelecer conceitos conclusivos, uma vez
que a questão da informação e do conhecimento pode ser analisada de diferentes
ângulos. O que foi apresentado foi apenas uma das vertentes que tratam da
problemática da Gestão da Informação e do Conhecimento. Essas atividades não são
exclusivas das organizações, mas são realizadas em centros de pesquisa,
universidades, governo e outros tipos de instituições.
Pretendeu-se, porém, estabelecer uma relação entre as questões de
administração e gestão de informação, documentos e conhecimento e onde cada uma
dessas atividades estaria localizada numa organização. É óbvio que nem todas as
organizações estruturam essas atividades de maneiras idênticas, ou as realizam de
fato.
O importante nessa pesquisa foi realmente apresentar a organização e a
dinâmica da informação e do conhecimento. Por conseguinte, já que é trabalho
natural do bibliotecário no controle dos recursos informacionais das instituições,
também foi importante levantar o tema sobre a função desse profissional nas
empresas. Foi apresentado o que é necessário para que ele atue como gestor, mas de
fato não se sabe ao certo se o bibliotecário está sendo preparado para tal. Uma
pesquisa mais detalhada sobre esse aspecto poderia revelar a realidade de quem
trabalha com informação empresarial.
98
De qualquer modo, o gestor da informação e do conhecimento, para se manter
no presente e ter boas perspectivas para o futuro, deve sempre pensar na informação
como um recurso inestimável. Isto implica um envolvimento consistente,
permanente e criativo na estruturação de atividades para identificação de fontes
confiáveis de informação e sua obtenção, tratamento e utilização, para que grupos e
indivíduos possam desempenhar suas atividades com base em informação com valor
agregado.
99
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Relação de sites consultados
Associação Brasileira de Ciência da Informação – ABECIN http://www.abecin.org.br Associação Brasileira de Inteligência Competitiva – ABRAIC http://www.abraic.org.br Conselho Federal de Biblioteconomia – CFB http://www.cfb.org.br Conselho Nacional de Arquivos (Arquivo Nacional) – CONARQ http://www.arquivonacional.gov.br/conarq/home.htm Curso de Gestão da Informação – Universidade Federal do Paraná http://www.decigi.ufpr.br Georgia Institute of Technology http://www.gatech.edu Gestão Estratégica do Conhecimento (links) http://www.cni.org.br/links/links-at-gestaoconhecimento.htm Information Architecture and Knowledge Management – Kent State University http://iakm.kent.edu Knowledge Management Resource Center http://www.kmresource.com Programa Sociedade da Informação no Brasil http://www.socinfo.org.br School of Information Management and Systems – Professor Michael Buckland http://www.sims.berkeley.edu/~buckland/ Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento http://www.sbgc.org.br Sociedade dos Profissionais de Inteligência Competitiva – SCIP http://www.scip.org WebInsider http://webinsider.uol.com.br