Gestão do risco operacional no setor energético

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Índice

Introdução

Sumário executivo

Risco operacional

Aplicação de metodologias de avaliação do riscooperacional no setor energético

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A Função de Riscos 10

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Glossário 46

Referências 48

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Introdução

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Nos últimos anos, e como consequência da complexidade daatividade empresarial e também da materialização de eventosde risco relevantes, a gestão de riscos tem experimentado umcrescimento importante, que tem levado a inúmeras reflexões,regulamentações, recomendações e avanços em seudesenvolvimento em todo tipo de empresas e instituições.

Este fenômeno tem sido acompanhado por um aumento douso de métodos quantitativos na gestão empresarial e denegócios, motivado pela necessidade de melhorar a gestão emambientes tão competitivos como os mercados de energiatradicionalmente regulados, e ajudado por uma maiordisponibilidade de informação, tecnologia e conhecimento.

Neste contexto, as empresas criaram ou desenvolveramfunções de risco e trabalharam na evolução da organização eda administração, das políticas e modelos e dos processos esuporte tecnológico para a gestão e controle de risco. Com oimpulso derivado de maiores exigências de grupos de interessee de novas regulações ou pelo simples valor acrescentado pelodesenvolvimento das melhores práticas de mercado, houveavanços significativos na forma de se abordar o risco.

Entre os principais desafios enfrentados pela Função de Riscosestá a contribuição para geração de valor através da integraçãodo modelo de riscos com a gestão do negócio como umelemento de apoio à tomada de decisões e não apenas decontrole. É possível afirmar que o nível de integração efetiva domodelo de riscos na gestão é o fator diferencial mais relevantena hora de identificar a maturidade da função nas empresasnão financeiras. Essa maturidade, contudo, é frequentementeheterogênea dentro da mesma empresa, dependendo dostipos de risco ou domínios, assim como das áreas ou atividadesda empresa.

Um dos riscos mais relevantes da atividade empresarial, e emparticular das empresas de energia, é o risco operacional, namedida em que afeta os ativos produtivos suscetíveis a falhas,podendo portanto, gerar perdas econômicas e danos pessoaisou ambientais com potenciais efeitos significativos nareputação.

Esse risco, precisamente devido às suas possíveisconsequências fatais no que diz respeito a perdas econômicas,efeitos ambientais e perdas de vidas humanas, tem sidotradicionalmente administrado por programas de prevenção eplanos de contingência. Além disso, tem-se atuado sobre eleatravés de programas de seguros consolidados dentro daprópria organização em áreas ou departamentosespecializados, assessorados geralmente por empresas de

seguros e corretoras. Embora o risco operacional em geral e orisco operacional segurável1 em particular tenham um históricode gestão nas empresas, a utilização de técnicas quantitativastem observado uma difusão menor e mais heterogênea dentrodelas.

Esta publicação se destina precisamente a se aprofundar naaplicação prática das técnicas e modelos de risco operacionalno setor e pretende, por conseguinte, servir de exemplo daspossibilidades que o uso de metodologias avançadas de gestãode risco operacional pode ter para contribuir com suaquantificação e com a melhoria dos programas de seguros.

Para tanto, o documento estabelece em primeiro lugar umareflexão geral sobre a Função de Riscos em sentido amplo(Enterprise Wide Risk Management), e em seguida, apresentauma explicação do conceito e das metodologias de gestão derisco operacional, finalizando com um exercício quantitativoque ilustra a aplicação específica destas técnicas na otimizaçãodo programa de seguros de empresas industriais e, emparticular, do setor de energia.

1Entende-se por risco operacional segurável o risco operacional suscetível de sersegurado e, portanto, transferido parcial ou totalmente a um terceiro, geralmenteem troca do pagamento de um prêmio.

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Sumário executivo

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Função de Riscos

1. Existem várias interpretações do conceito de risco, emborahaja um consenso geral em sua caracterização como apossibilidade da ocorrência de uma perda. Em função daorigem e da natureza desta perda, os riscos podem serclassificados em diversos domínios: financeiros2,operacionais e tecnológicos, de modelo, de conformidadenormativa e reputacional, estratégicos e de negócio.

2. Dentro das organizações, a Função de Riscos tem comoresponsabilidade a definição e a implantação de um marcoefetivo de atuação em matéria de gestão e controle detodos os domínios de risco, garantindo o cumprimento dosobjetivos estratégicos da empresa.

3. Deve-se destacar que a Função de Riscos, especificamenteno âmbito das empresas de energia, tem experimentadouma evolução muito notável nos últimos anos em todas assuas dimensões.

4. Em termos de organização e administração, a função temevoluído desde sua constituição em relação ao domínio deriscos financeiros (e em questões operacionais etecnológicas) até o desenvolvimento de uma visão integral,em alguns casos materializada na figura de um Chief RiskOfficer ou CRO, com uma crescente independência no quediz respeito a funções de gestão ou assunção de riscos.

5. Em muitas empresas tem-se desenvolvido e melhorado,também de forma relevante, os mapas de riscos, as políticas(incluindo a definição de seu apetite de risco, em parteencorajada por movimentos regulatórios incipientes), osmodelos e metodologias (especialmente nos domínios deriscos tradicionalmente menos avançados), os processos e osuporte tecnológico. Neste último âmbito, as ferramentasespecializadas estão sendo progressivamentecomplementadas com ferramentas para uma gestão globale mais integrada com a atividade do negócio.

6. Embora a evolução da Função de Riscos seja evidente emmuitas empresas, o nível de integração efetiva dainformação de riscos na gestão é muito variável edetermina e diferencia as organizações mais avançadas emtermos de gestão e controle de riscos.

7. A Função mantém necessariamente seu objetivo de controlee o complementa com o de apoio à gestão. Constitui-seassim em uma alavanca adicional de geração de valor,proporcionando perspectiva de análise em muitos casosdecisiva para o apoio à tomada de decisões de negócio.

8. Estas análises compreendem, por exemplo, a avaliação donível de risco nas decisões de negócio ou de investimento,a mensuração da rentabilidade ajustada ao risco –incluindo os custos certos ou prováveis do risco –, aavaliação da suficiência de recursos para tomar decisões denegócio com garantias de continuidade da atividade, oajuste dos preços de venda de produtos e serviços para oreflexo de uma eventual transferência ou impacto do riscoao cliente, a definição dos limites de atuação na hora decomprometer recursos da empresa de acordo com o perfilde risco desejado e outras dimensões de informaçãotradicionalmente não contempladas.

Risco operacional

9. Dentro dos diversos domínios de riscos citados, o riscooperacional é um dos mais relevantes e com maiorevolução nos últimos anos do ponto de vista damensuração e gestão. No contexto financeiro, a definiçãoformal de risco operacional é “o risco de sofrer perdasdevido à inadequação ou às falhas dos processos, dopessoal e dos sistemas internos, ou devido aacontecimentos externos”3.

10. Nos últimos anos têm se desenvolvido e consolidado tantometodologias de mensuração de riscos baseadas eminformação especializada, proveniente de autoavaliações ecenários, quanto metodologias baseadas em informaçãohistórica interna e externa de perdas. Estas metodologiaspermitem quantificar os riscos de uma forma simples,compreensível e robusta e medir as perdas esperadas einesperadas que a empresa pode sofrer.

11. A metodologia baseada em informação especializada seapoia habitualmente em duas fontes: (1) questionárioselaborados com o objetivo de recolher informação sobre aprobabilidade ou frequência estimada de ocorrência e oimpacto dos riscos operacionais ou gravidade média oudiante de um cenário pior, e sobre a eficácia do ambientede controle; e (2) oficinas ou workshops de especialistasque, de forma conjunta, avaliam os impactos que aempresa poderia sofrer diante de diversos cenários de risco.

2Aqui se incluem tanto os diferentes riscos de mercado, que afetam as atividadesdas organizações (riscos de taxa de câmbio, taxa de juros e commodities,fundamentalmente), quanto os riscos de crédito, contraparte e liquidez.Adicionalmente, dentro deste domínio também está incluso o risco estrutural,entendido como aquele derivado da própria estrutura do balanço patrimonial daempresa.3Ver parágrafo 644, Convergência internacional de medidas e normas de capital(Marco revisto) do Banco de Pagos Internacionales (junho de 2006).

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12. Esta metodologia é amplamente utilizada para a avaliaçãode riscos operacionais porque permite estimar o risco deatividades para as quais não há histórico de eventos ou daruma visão sdo futuro referindo-se ao que aconteceuhistoricamente; portanto, permite calcular medidas de riscopara fenômenos de caráter menos recorrente (inclusive ocaso de sucessos extremos), mas de maior impactopotencial para a empresa. Sua aplicação pode reduzir-se aperguntas simples e de linguagem próxima à dosespecialistas, mas requer, no entanto, um rigormetodológico para homogeneizar e assegurar a coerênciadas respostas.

13. A metodologia baseada em informação histórica de perdasutiliza, por sua vez, registros de eventos de riscooperacional ocorridos na empresa ou com terceiros. Comeles se estima, através de técnicas estatísticas, a distribuiçãode probabilidade que melhor explica o fenômeno. Atécnica requer uma decisão sobre os agrupamentos deeventos de riscos de mesma natureza e que serãomodelados de forma conjunta, mantendo um equilíbrioentre o rigor estatístico (suficiência de amostragem e ajusteestatístico das distribuições) e a intuição de negócio dosagrupamentos.

14. Estas duas metodologias são complementares, e o setortende a combinar sua utilização de modo que se integre avisão histórica (baseada em dados de perdas) com aperspectiva (que os especialistas fornecem). Sua utilizaçãooferece uma informação geralmente inovadora e de valorpara a empresa, o que permite dar um salto qualitativo naavaliação de sua exposição real ao risco operacional.

Aplicação de metodologias de avaliação dorisco operacional no setor de energia

15. Os métodos descritos têm um interesse especial naavaliação de riscos operacionais suscetíveis de seremsegurados (riscos operacionais seguráveis), na medida emque permitem avaliar quantitativamente o nível ou o perfilde risco das empresas em função de sua sinistralidade.Estes métodos contribuem, além disso, para formar umquadro aproximado das condições de seguro maisadequadas para cada empresa em função de seu nível deretenção e de seu nível de apetite de risco, bem como dascondições técnicas e comerciais do programa de seguros.

16. Os programas securitários nas empresas de energia sãouma parte crítica, tanto do ponto de vista de definição doperfil de risco (a decisão sobre o nível de risco que se desejamanter e o que se pretende ceder), quanto da eficiência, namedida em que os prêmios de seguros e os custos dasinistralidade constituem uma parte muito relevante daconta de resultados.

17. São várias as empresas que estão evoluindo e implantandometodologias para identificar e medir o risco operacional erealizando esforços relevantes: implantação de mapas deriscos, autoavaliações, coleta de dados de perdasoperacionais, etc. Contudo, na maioria das empresas e dossetores ainda não se conseguiu valorizar essa informaçãopara administrar melhor o risco operacional segurável epoder agir sobre as perdas atuais (custo de prêmio esinistralidade) e potenciais (nível de risco assumido).

18. Neste estudo se demonstra que a aplicação de métodosquantitativos tem impactos muito benéficos do ponto devista da gestão de riscos, na medida em que permite daruma resposta objetiva e independente às perguntasrelativas ao nível de risco assumido e desejado e àeficiência do programa de seguros.

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19. O documento reúne os diversos passos da metodologia deum ponto de vista tanto teórico quanto aplicado: (1) acaracterização dos ativos objeto de alcance, dos programasde seguros (e seus principais parâmetros como franquia oudedutíveis, limites individuais e agregados associados acada ramo ou risco e a cada atividade de negócio ou tipode ativo) e dos sinistros; (2) o ajuste das distribuições deperdas; e (3) a simulação da sinistralidade para obter adistribuição de perdas líquidas de seguros (portanto,assumidas pela empresa), aplicando a cada sinistro ascondições de seguro.

20. Como resultado deste processo, pode-se obter também adistribuição de perdas transferidas, cuja média é umaaproximação do prêmio puro que se deveria obter paraeste programa de seguros.

21. A seguir, para encontrar as condições de seguro ideais,repete-se o processo de simulação descrito com mudançasnos parâmetros do programa, o que permite estimar oefeito que teriam as variações das condições de segurosobre as perdas retidas e transferidas. O ideal seráencontrado no cenário que minimize o custo total do risco4

dentro dos cenários admissíveis, em conformidade com oapetite de risco da empresa.

22. O processo anterior, apresentado em detalhes nodocumento, permite às empresas:

4 Quantificar o perfil de risco operacional da empresa (onível de risco e de retenção) através das perdasesperadas e inesperadas (com um determinado nívelde confiança).

4 Avaliar a eficiência do programa de seguros, entendidacomo a idoneidade ou adequação dos prêmios pagospelo programa de seguros frente ao risco transferido àseguradora.

4 Analisar o efeito de programas alternativos de segurono custo total do risco e avaliar produtos ou endossos,como por exemplo, a stop loss5 ou a análise decusto/benefício de variações nos parâmetros doseguro. Esta análise está, contudo, condicionada peladisponibilidade no mercado de programas comdeterminados níveis de parâmetros, assim como poroutros componentes do prêmio de seguro além doprêmio puro (margens comerciais, aversão ao risco daseguradora, prêmio por sinistralidade recente ou porfalta de informação, etc.).

4 Identificar a contribuição das diferentes linhas denegócio ou ativos ao perfil de risco da empresa e,portanto, ao custo dos prêmios, o que possibilita mediro efeito no custo do risco dos planos de manutenção,renovação ou alterações técnicas nos ativos.

4 Contribuir com o cumprimento de requisitosregulatórios (por exemplo, Solvência II) atuais epotenciais, relativos a reporting, avaliação e alocaçãode capital.

23. A aplicação de técnicas de quantificação do perfil de riscocomo as expostas oferece à empresa uma ferramenta útilpara responder de forma objetiva e independente àsnumerosas perguntas que fazem parte da agenda daadministração de riscos, seguros e, em geral, do negócio,para as quais não é fácil oferecer uma resposta quantificadaeconomicamente: quanto risco tem a empresa, quantodeste risco tranferir e quanto reter, que risco se assume aose aplicar uma redução de custos do seguro, qual é oprograma de seguros mais conveniente, que áreascontribuem mais para o risco e o custo de um seguro, comose deve esperar que variem as cotações de um programa deseguros se determinados parâmetros mudarem, em quemedidas preventivas ou de manutenção vale a pena investirdo ponto de vista da redução de custos e riscos e outrassimilares.

24. As respostas a estas perguntas podem ser obtidas semexigir um esforço metodológico ou de implantação desistemas relevante, na medida em que as metodologiasestejam amplamente comprovadas e o nível de modelagempossa ser particularizado para obter progressivamentemaiores escalas de precisão sem prescindir de uma primeiravisão alcançável em prazos normalmente breves.

4Define-se o custo total de risco como a soma do custo do risco segurado (prêmioda apólice de seguros) e do custo do risco não segurado (perdas assumidas pelaempresa).5Produto que limita as perdas totais assumidas pela empresa a um determinadomontante.

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A Função de Riscos

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Conceito de risco

O risco no contexto empresarial está associado à possibilidadede ocorrência de uma perda6 e é definido de forma distinta emfunção de sua origem. A Figura 1 mostra alguns dossignificados mais frequentes.

As diferentes definições de risco, por sua vez, podem seragrupadas em domínios: financeiro, operacional e tecnológico,de modelo, de conformidade, reputacional, estratégico, denegócio, etc. (Fig. 2).

4 Risco financeiro: neste domínio estão incluídos tanto osdiferentes riscos de mercado7, que afetam a atividade dasorganizações (risco de taxa de câmbio, taxa de juros ecommodities, fundamentalmente) quanto os riscos decrédito, contraparte8 e liquidez. Além disso, dentro destedomínio também está incluso o risco estrutural, entendidocomo aquele derivado da própria estrutura do balanço daempresa.

4 Riesgo operacional e tecnológico: o risco operacional édefinido como aquele que pode produzir perdas devido àinadequação ou falhas de processos, de pessoal e desistemas internos, ou bem por causa de acontecimentosexternos. Esta definição inclui o risco legal, mas exclui orisco estratégico e o de reputação.

Figura 1. Definições de risco

6Outras definições colocam em alguns casos o centro de atenção na probabilidadede descumprimento de objetivos ao invés de nas possíveis perdas.7O risco de mercado é definido como a possibilidade de sofrer perdas em posiçõesdentro e fora do balanço dadas as oscilações dos preços de mercado.8O risco de crédito é definido como a possibilidade de que uma das partes de umaoperação possa descumprir com suas obrigações antes que esta seja liquidada.Ocorreria uma perda econômica se estas operações ou a carteira de operações detal parte tivessem um valor econômico positivo no momento dodescumprimento. Por outro lado, o risco de contraparte produz um risco de perdabilateral, já que o valor de mercado da operação, que pode ser positivo ounegativo para ambas as partes, é incerto e pode variar com o tempo à medida queo fazem os fatores de mercado subjacentes.

Figura 2. Domínios de risco

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sua gestão (ex.: estabelecendo medidas de mitigação oucontratando seguros), no seu controle (ex.: mediante aimplantação de KRI11) e no seu reporting (Fig. 3)12.

A Função de Riscos

A Função de Riscos evoluiu para as abordagens de EnterpriseWide Risk Management, que se caracterizam por fornecer umavisão holística dos riscos. O modelo de referência desta Funçãotem vários componentes: missão e princípios gerais daavaliação, gestão e controle de riscos, mapa de riscos,organização, governo, políticas e modelos, e processos esistemas de suporte de TI.

A Função de Riscos tem como principal missão dar suporte àAlta Administração na determinação do apetite de risco e velarpor seu cumprimento, dando apoio aos demais objetivosestratégicos da empresa e facilitando a tomada de decisões.Além disso, tem como objetivo definir e implantar um âmbitode ação em termos de todos os riscos relevantes para aempresa.

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4 Risco de modelo: o risco de modelo faz referência aoconjunto de possíveis consequências adversas derivadas dedecisões baseadas em resultados e relatórios incorretos demodelos ou de seu uso inadequado9. Os erros em ummodelo podem incluir simplificações, aproximações,hipóteses errôneas ou um processo de elaboraçãoincorreto, enquanto que seu uso inadequado contemplasua aplicação fora do âmbito para o qual foi concebido. Istotudo pode se materializar em perdas financeiras, eventoscom impactos negativos na reputação da empresa ou atémesmo em sanções.

4 Risco de conformidde normativa e reputacional: dentrodeste domínio estão englobados os possíveis impactosderivados de infringir as regulamentos e normas que seaplicam ao setor e à empresa – e que são articuladosatravés de políticas e procedimentos internos –, com oconsequente impacto econômico (multas e sanções,exclusões, etc.). Igualmente são incluídos os potenciaisimpactos derivados do dano à imagem da marca e àreputação corporativa10, bem como o risco contábil. Esteúltimo corresponde a uma tipologia de risco muitoespecífica, relativa ao reflexo econômico-financeiro corretoe verdadeiro da realidade da empresa e ao cumprimentode todas as regras associadas (SCIIF, SOX, etc.).

4 Riscos estratégicos e de negócio: este domínio é compostopor riscos relacionados com o ambiente (associados tanto àmacro conjuntura do país no qual a empresa opera, quantoà conjuntura específica da indústria ou setor do grupo), omercado e a concorrência existente e com a tomada dedecisões internas de médio e longo prazo que possam terimpacto na continuidade ou na rentabilidade dasoperações.

Em relação a estes domínios de risco são executadas funçõesde diferentes naturezas para seu tratamento, centralizadasfundamentalmente na identificação e avaliação dos riscos, na

Figura 3. Ciclo de vida da gestão de riscos

10Entendendo por reputação corporativa (segundo o Fórum de ReputaçãoCorporativa) o conjunto de percepções que tem sobre uma empresa osdiferentes grupos de interesse com os quais se relaciona, tanto internos quantoexternos. É um resultado do comportamento desenvolvido pela empresa aolongo do tempo e descreve sua capacidade de distribuir valor aos gruposmencionados.11Key Risk Indicators.12Fonte: elaboração própria e Risk Management – Principles and guidelines. ISO31000-2009. Estes processos podem associar-se com os anteriores da seguinteforma: Identificação e mensuração correspondem a Establishing the Context e aRisk Assessment (identification, analysis and evaluation); Gestão, a Risk Treatment;Controle e Reporting, a "Monitoring and Review" e a "Communication andConsultation".

9Ver Management Solutions (2014).

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Para isto aplicam-se princípios elementares de divisão detarefas (gestão vs. controle), supervisão e participaçãopermanente da Alta Administração, eficiência, qualidade eevolução do ambiente de controle.

Na Função de Riscos coexistem tanto tarefas de modelagem econtrole (definição do tratamento do risco – quadro dereferência –, modelagem, controle agregado e reporting)quanto funções relativas à integração na gestão(desenvolvimento e implantação das políticas de risco eexecução da gestão de forma conjunta com os responsáveispela assunção do risco).

A implantação da Função de Riscos deve permitir uma visãoglobal e cobrir todas as acepções de riscos que podem afetar aempresa. Para isto, uma peça central é o mapa de riscos, quedelimita os riscos relevantes e identifica os responsáveis porsua gestão e controle.

O mapa de riscos, portanto, não apenas permite identificar umataxonomia de riscos completa, mas também é o ponto departida para determinar os papéis e responsabilidades que osdiferentes envovidos no processo de gestão e controle deriscos exercem dentro da organização em relação a cada umdos tipos de riscos identificados. Constitui um elemento básicodo modelo de gestão de risco enterprise-wide e serve comobase para o desenvolvimento de linhas de atuação queconstituem tendências gerais (por exemplo, o mapa de seguroe o combined assurance).

As responsabilidades da Função de Riscos em um modeloEWRM são exercidas em toda a empresa por diferentes áreas e

Tabela 1. Linhas de defesa

com diferentes objetivos, papéis e atribuições, embora aDiretoria de Riscos seja a responsável final por seu controle.

A organização da Função de Riscos está condicionada, dentreoutros aspectos, aos tipos de riscos que administra, à localizaçãode determinadas funções dentro da empresa e à sua dimensãolocal ou global. Em todo caso, as funções básicas de risco devemser executadas assegurando a divisão entre gestão e controle.

As tarefas de gestão e controle de riscos (e os envolvidos que asdesempenham) podem ser agrupadas em três linhas de defesa(Tabela 1):

4 Primeira linha de defesa (Risk Management). Responsávelpela identificação dos riscos e sua avaliação, seuacompanhamento e o estabelecimento de planos de ação.Estas funções são normalmente exercidas pelas própriasáreas de negócio que assumem os riscos, bem como poráreas especializadas de gestão de riscos.

4 Segunda linha de defesa (Risk Control). Esta linha dedefesa assume, em sua função de controle e supervisão dorisco, a revisão do cumprimento por parte da primeira linhadas políticas e procedimentos para a gestão de riscos, bemcomo a validação dos modelos e metodologias utilizadas.Estas funções costumam ser exercidas por uma áreacentralizada de Controle Global de Risco, liderada por umChief Risk Officer (CRO) que fornece uma visão integral,transversal e independente em relação à primeira linha dedefesa.

4 Terceira linha de defesa (Risk Audit). Por último, a terceiralinha de defesa desempenha funções de revisãoindependente dos processos para assegurar que umafunção efetiva de gestão e controle de riscos estejaimplantada na empresa. Em termos gerais, esta função éexercida pela área de Auditoria Interna.

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Figura 4. Características do Board Risk Committee

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A governança da Função de Riscos faz referência à estrutura deórgãos administrativos e comitês da empresa comresponsabilidades sobre a gestão e o controle de riscos, bemcomo à estrutura de delegação de autoridade para a tomadade decisões sobre riscos.

Neste sentido, as organizações com maior maturidade emgestão de riscos contemplam a existência, por um lado, de umComitê Central de Riscos (Board Risk Committee, BRC) comsubordinação direta ao Conselho e participação dos principaisenvolvidos na gestão de riscos (CEO13, CRO, CFO14, presidentedo Conselho de Auditoria, etc.; Fig. 4); e por outro lado, de umasérie de comitês adicionais com uma participação maispróxima na gestão de riscos15.

Para a implantação adequada da Função de Riscos, énecessário definir uma hierarquia de políticas que parte deuma risk framework ou estrutura de riscos com visão integral(que deveria ser aprovada pelo Conselho de Administração),posteriormente desenvolvida para cada acepção de risco emnormas de menor grau (modelos de gestão, políticas eprocedimentos, etc.).

Uma das políticas mais relevantes e que constituem um âmbitode atuação no qual as empresas estão investindo esforçosimportantes é o apetite de risco, definido como o nível de riscoque uma empresa quer assumir em busca de rentabilidade evalor. Pode expressar-se através de um conjunto de definições /critérios quantitativos e qualitativos que definem o perfil derisco desejado. Analogamente ao comentado para a estruturade riscos, o apetite de risco deve ser aprovado pelo Conselhode Administração e se desenvolve posteriormente em umaestrutura de limites de menor grau compatível com o apetiteaprovado.

Por outro lado, a Função de Riscos se apoia, para a mensuraçãoe tomada de decisões, em modelos e metodologias dediferentes tipos. A estrutura de riscos desenvolve as diretrizessobre os tipos de modelos a utilizar para a avaliação, gestão econtrole do risco, bem como para sua integração com a gestão.Estas metodologias devem estar documentadasdetalhadamente através de manuais de procedimentos,documentos metodológicos, etc., que deverão ser compatíveiscom a hierarquia de políticas definidas e com os modelos degestão existentes na organização, que devem considerarpossíveis particularidades em função das regiões ou negóciosnos quais a empresa opere.

Por último, a Função de Riscos se apoia em um conjunto deprocessos e sistemas de TI (ferramentas de gestão, dispositivosde cálculo e sistemas de informação) de suporte. Os processosdesenvolvem em profundidade os princípios e objetivosdefinidos, bem como a hierarquia de políticas de alto nível daempresa para ordenar e facilitar a implantação das funções degestão, controle e acompanhamento dos riscos.

Por outro lado, a gestão de riscos lança mão de um modelo deinformação apoiado por sistemas capazes de capturar todas asfontes materiais de risco necessárias para avaliar o efeito quetodas as mudanças nos fatores de risco possam ter sobre ovalor ou o resultado do ponto de vista econômico e contábil.Esta informação deve ser completa e recente para permitir acompreensão do nível e da natureza dos riscos aos quais aempresa está exposta.

De acordo com estas premissas, a arquitetura básica de apoio àFunção de Riscos requer:

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Figura 5. Cobertura de um marco de RDA & RRF

Figura 6. Princípios de agregação de dados e informações de riscos4 Ferramentas de gestão que ofereçam suporte aos

principais processos de risco (ex.: assunção,acompanhamento, etc.).

4 Dispositivos de cálculo que facilitem a avaliação (e oposterior controle) de acordo com metodologias definidas.

4 Repositórios e ferramentas de exploração de informaçãoque apoiem os processos de geração de informação para atomada de decisões e a avaliação, acompanhamento econtrole dos riscos. Devem contemplar tanto dadostransacionais e operacionais (ex.: eventos de riscooperacional interno) quanto de clientes ou de mercado (ex.:dados de cotações utilizadas nos processos de avaliação deriscos de mercado).

Atualmente, no entanto, não existe uma abordagem única paraum mapa de sistemas ou modelo de arquitetura de apoioglobal à Função de Riscos. Existem no mercado tantoferramentas de gestão de riscos especializadas quanto soluçõesholísticas com um enfoque enterprise-wide, que geralmente sãoutilizadas não apenas para abordar a gestão de riscos, mastambém para cobrir as funções de auditoria, controle interno econformidade. Por vezes os modelos de arquitetura da Funçãode Riscos combinam soluções de mercado com outrosdesenvolvidos in-house ou com adaptações de ERPs16

corporativos.

Esta heterogeneidade na arquitetura tecnológica apresentacertos inconvenientes, em especial na hora de integrar os riscosna gestão. Sendo assim, o suporte tecnológico começa a serobjeto de regulamentação, na medida em que as deficiênciaspodem provocar problemas de integridade na informação deriscos. De fato, no âmbito financeiro foi publicado umaregulamentação que obriga a revisar o reporting de riscos,conhecida como RDA&RRF17 (Figs. 5 e 6).

13Chief Executive Officer.14Chief Financial Officer.15Como o Conselho de Auditoria, o Conselho de Remunerações, o Conselho deNomeações e RH e o Conselho de Cumprimento e Ética.16Enterprise Resource Planning.17Risk Data Aggregation & Risk Reporting Framework, na publicação Principles foreffective risk data aggregation and risk reporting, BCBS (2013).

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Evolução da Função de Riscos no setorenergético

A configuração da Função de Riscos na indústria de energiatem experimentado importantes mudanças em diferentesâmbitos nos últimos anos. As organizações são conscientes darelevância e dos benefícios que uma Função de Riscos madurapode fornecer para a realização de seus objetivos, além deassegurar o cumprimento das cada vez mais intensasexigências regulamentares e fortalecer a imagem da empresaperante diferentes grupos de interesse internos e externos.

No que se refere à missão e princípios, nos últimos tempos seestá consolidando a prática de definir e tornar explícita amissão da Função de Riscos como parte da cultura corporativa,tanto internamente, quanto perante os stakeholders, e se estápotencializando o princípio fundamental de independência dasfunções de controle no que diz respeito às de gestão ouassunção de riscos (por exemplo, nos riscos financeiros).

Quanto ao mapa de riscos, as empresas têm realizado avançossignificativos em sua elaboração, através da definição de umataxonomia que permite obter uma visão global dos riscos queafetam suas atividades, completando-a com a identificação dospapéis e responsabilidades que diferentes áreas desempenhamna gestão desses riscos.

Em matéria de organização e governança em setores nãofinanceiros, a Função de Riscos nem sempre tem existido deforma explícita e, caso exista, encontra-se localizada em umsegundo nível organizacional, habitualmente subordinada aDiretorias Gerais Econômico-Financeiras18. Neste sentido, temsido uma prática geral constituir uma unidade específica deRiscos em torno do domínio de riscos financeiros e, em certasocasiões, em torno dos riscos operacionais e tecnológicos.

Mais recentemente se está avançando para a criação da figurado CRO e para o desenvolvimento de uma visão global eintegral da gestão de todos os riscos relevantes para aempresa. Em certas ocasiões, estas unidades recém-criadas (nasquais se desenvolvem as funções próprias da segunda linha dedefesa) são as que estão impulsionando e catalisando odesenvolvimento de outros domínios de risco.

No âmbito de políticas e modelos, as empresas têmtrabalhado fundamentalmente na consolidação das políticas deriscos e no refinamento das metodologias de avaliação e dosprocedimentos de acompanhamento e controle. Maisrecentemente (e devido ao aumento da pressão regulatória),também se está abordando a definição do apetite de risco,junto com sua implantação na organização.

Por último, quanto aos processos e suporte tecnológico daFunção de Riscos, a indústria de energia tem realizado umesforço relevante na automação da mensuração e controle dosriscos financeiros e operacionais, dando suporte às funções daprimeira linha de defesa.

Atualmente, o desafio das empresas se encontrafundamentalmente em potencializar o suporte tecnológico decontrole e reporting de riscos, bem como o desenvolvimentodos âmbitos de risco menos evoluídos, como o riscooperacional.

Em síntese, as organizações estão realizando esforços em trêslinhas de atuação principais:

4 Definir e implantar novas funções de riscos quedesenvolvam com maior profundidade o modelo de trêslinhas de defesa e impulsionar iniciativas focadas emfomentar uma gestão de riscos global com a participação einter-relação de todas as áreas da empresa (como adefinição da estrutura relativa ao apetite de risco ou oconceito de combined assurance19).

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4 Integrar a Função de Riscos na gestão dos negócios e,portanto, potencializar sua participação na tomada dedecisões estratégicas ou com possível impacto profundonos negócios.

4 Desenvolver domínios de risco tradicionalmente menosavançados quanto à sua avaliação e gestão. Neste sentido,cabe destacar a sofisticação da metodologia de risco decrédito comercial ou de risco de contrapartida (bem comosua inter-relação com o risco de mercado), o riscoambiental, o risco de conformidade, o risco de modelo ou orisco operacional, que será tratado adiante.

Contexto normativo

A evolução da Função de Riscos nas organizações em grandemedida vem sendo encorajada e em alguns aspectos reguladatanto por organismos internacionais quanto por reguladoreslocais, assim como pelo acordo de grupos e associações de

Organismo Âmbito Publicação Principais aspectos

BCBS (BIS) Mundial Principles for Enhancing CorporateGovernance (2010)

• Administração (comitês de Conselho) eorganização

• Remuneração

COSO Mundial Enterprise Risk Management -- IntegratedFramework (2004) (COSO II)

• Gestão de riscos corporativos e Controle interno

IIF MundialImplemementing robust risk appetiteframeworks to strengthen financialinstitutions (2011)

• Apetite de risco• Testes de stress e cenário

ISO Mundial Risk Management – Principles andguidelines. ISO 31000-2009

• Guias para a implementação deprocessos de gestão de riscos

EBA EuropaGuidelines on Internal Governance (GL-44) (2011)

• Linhas de defesa• CRO, Controle Interno, Compliance eAuditoria.

European Commission(Liikanen) Europa High-level Expert Group on reforming the

structure of the EU banking sector (2012)• Ring-fencing• Governança corporativa

Senior Supervisors Group EuropaObservations on Developments in RiskAppetite Frameworks and ITInfrastructures(2010)

• Apetite de risco: governança, alcance eacompanhamento

ESMA / U.S.A. Europa /EE.UU. European Market InfrastructureRegulation / Dodd–Frank Act

• Reporting operacional a um traderepository

• Possíveis obrigações de compensação eadoção de técnicas de mitigação derisco.

Independent Commissionon Banking (Walker) Reino Unido

A review of corporate governance in UKbanks and other financial industry entities(2009-ongoing)

• Comitê de Riscos do Conselho (BRC)• CRO• NEDs

PRA (ant. FSA) Reino Unido Effective corporate governance (CP 10/3e PS 10/15) (2010)

• Implementação de Walker Review• Significant Influence Functions (SIFs)

empresas, pelo mundo acadêmico e por instituiçõesindependentes (ex.: COSO).

A posição de todos estes organismos é convergente e apontapara um maior desenvolvimento da Função de Riscos. A tabela2 mostra de forma exaustiva algumas das principaisregulamentações que afetam a indústria, incluindo umareferência específica à normalização própria do setor financeiro,dado seu nível especial de desenvolvimento.

Tabela 2. Publicações relevantes

18Na indústria financeira, a Função de Riscos em geral se situa no primeiro nível daorganização (Diretoria Geral ou VP subordinada à presidência ou ao CEO).19O modelo de combined assurance é uma evolução do EWRM que foca na atuaçãointegrada e coordenada de todos os envolvidos na gestão de riscos, tanto internosquanto externos. Os principais objetivos deste modelo são otimizar o segurocontra os riscos e integrar toda a informação associada ao seguro em uma visãoúnica, consensual e mais clara, sobre o estado da gestão de riscos na empresa.

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Risco operacional

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Conceito de risco operacional

As definições de risco operacional variam desde visões amplas,que incluem neste domínio tudo aquilo que não possa serconsiderado risco de negócio, até visões mais restritivas, queincluem o risco de perdas resultantes de processos internosinadequados ou errôneos, pessoas, sistemas ou sucessosexternos.

No setor financeiro, uma das definições comumente aceitas é aobtida no acordo de Basileia II: “o risco de sofrer perdas devidoà inadequação ou a falhas dos processos, pessoas ou sistemasinternos, ou devido a acontecimentos externos”. Esta definiçãoé relevante, já que devido à inexistência de definiçõesadaptadas e amplamente aceitas em outros setores, costumaser utilizada como referência.

Habitualmente se entende como perda por risco operacionaltodos aqueles custos extras derivados de eventos nos quaisnão se haveria incorrido caso tais eventos não tivessem sidoproduzidos. No cálculo das perdas são incluídos, geralmente,violações, contingências legais e restituições e, no caso daindústria não financeira, costuma-se incluir também os custosde oportunidade e o lucro cessante.

O montante da perda pode ser reduzido mediante suarecuperação parcial ou total. As recuperações normalmenteclassificam-se em diretas (produzidas por gestões realizadaspela empresa) e indiretas (produzidas geralmente pelaexistência de seguros).

Classificação e identificação de riscosoperacionais

Para classificar os tipos de risco operacional na indústria, volta aser particularmente relevante o acordo de capital da Basileia II,cuja classificação em sete tipos é utilizada com frequênciacomo ponto de partida nos setores em que a gestão de riscooperacional não está tão intensamente regulada:

4 Fraude interna: perdas derivadas de atuações destinadas adefraudar, apropriar-se de bens indevidamente ou burlarregulamentos, leis ou políticas empresariais, nas quais seimplica, ao menos, uma parte interna da empresa embenefício próprio.

4 Fraude externa: perdas derivadas de atuações de umterceiro, destinadas a defraudar, apropriar-se de bensindevidamente ou burlar a legislação.

4 Relações trabalhistas e segurança no trabalho: perdasocasionadas por atuações incompatíveis com a legislaçãoou acordos trabalhistas, de higiene ou segurança notrabalho, no pagamento de indenizações por danos apessoas ou por eventos de diversidade ou discriminação.

4 Práticas com clientes, produtos e negócios: multas,indenizações e gastos ocasionados por infrações dasnormas vigentes, cometidas pela empresa, e porreclamações de clientes que hajam sofrido uma quebraeconômica ou se considerem prejudicados pela atuação daempresa.

4 Danos em ativos físicos: danos em ativos materiais comoconsequência de desastres naturais ou outrosacontecimentos.

4 Incidentes no negócio e falhas nos sistemas: perdas diretasderivadas de falhas nos sistemas que apoiam a atividade daempresa.

4 Execução, entrega e gestão de processos: perdas derivadasde erros no processamento de operações ou na gestão deprocesso, bem como de reações com contrapartescomerciais e fornecedores.

No caso particular do setor energético, as classificações de riscooperacional costumam ser similares à anterior, visto quecostumam basear-se na origem do risco. Significa que sedistinguem categorias de riscos relativos às pessoas (ex.:previdência social e saúde), aos processos (ex.: gestão de ativosprodutivos), aos sistemas (ex.: segurança da informação) e oseventos externos (ex.: meio ambiente). É normal que asorganizações incluam os riscos de conformidade, bem como osde ética e conduta, no domínio dos riscos operacionais.

Na estrutura dos riscos operacionais seguráveis, objeto destedocumento, o habitual é que as classificações de risco sevinculem com ramos de seguro: danos materiais e perda debenefício, responsabilidade civil, risco político, transporte demercadorias, etc.

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Uma vez estabelecida uma classificação de riscos operacionais,as empresas tratam de identificar os riscos concretos aos quaisestão expostas pelo desempenho de sua atividade, para o queexistem diferentes enfoques:

4 Enfoque extensivo ou bottom-up: orientado à identificaçãoda totalidade dos riscos da empresa. Realiza-se através deuma revisão detalhada dos processos, o que costumaproduzir como resultado vários milhares de riscos. Nesteenfoque, a identificação de riscos costuma viracompanhada da identificação dos controles existentes emcada processo para a mitigação dos riscos. Um exemplo deaplicação deste enfoque são os modelos de controlederivados da lei Sarbanes-Oxley. Tem a vantagem dealcançar um elevado grau de completitude e exaustividadee o inconveniente de exigir a dedicação de muitos recursosda organização.

4 Enfoque intensivo ou top-down: orientado à identificaçãodos principais riscos da empresa. Realiza-se através daidentificação dos riscos mais habituais de cada categoria ede seu cruzamento com as linhas de negócio paradeterminar sua aplicabilidade e costuma produzir comoresultado várias centenas de riscos. Um exemplo deaplicação deste enfoque é a estimativa de riscos realizadaem áreas de auditoria interna para o planejamento de suaatividade. Tem a vantagem de permitir orientar os esforçospara a gestão dos grandes riscos e o inconveniente depoder ignorar alguns deles.

As metodologias descritas a seguir são válidasindependentemente da classificação e do enfoque deidentificação de riscos escolhido.

Metodologias de avaliação do riscooperacional

Uma vez identificados e classificados os riscos operacionais, énecessário avaliar sua importância. Para isto, podem-se utilizardiferentes enfoques e metodologias.

As metodologias de avaliação podem ser classificadasconforme as fontes de suprimento de dados nas quais sesustentam. Atendendo a este critério, pode-se distinguir entreaquelas que utilizam informação especializada, como ametodologia de análise de cenários, e as que se baseiam eminformação histórica de eventos de perdas operacionais, bemcomo a metodologia de distribuição de perdas ou lossdistribution approach (LDA) (Tabela 3).

Esta classificação é útil para efeitos didáticos, embora, naprática, utilize-se a informação de diferentes fontes disponíveisem qualquer das metodologias descritas.

As metodologias baseadas em informação especializada sãoaquelas empregadas para a avaliação dos riscos operacionaisatravés das estimativas fornecidas pelos profissionais daorganização (“especialistas”) que tenham melhorconhecimento e informação sobre os riscos avaliados, seguindoalguns critérios previamente estabelecidos.

Existem diferentes técnicas para executar a avaliação de riscooperacional a partir da informação especializada; as mais

Tabela 3. Principais fontes de informação

Fontes de Informação Características Vantagens Inconvenientes

Informação especializada

Métodos de avaliação habituais:- Questionários: utilizados para coletarinformação sobre a avaliação de riscos econtroles por parte dos responsáveis pelonegócio.

- Análises de cenários: sessões de trabalho nasquais especialistas analisam profundamenteriscos relevantes.

- Permite estimar o risco operacional de atividadespara as quais não há histórico de eventos(especialmente útil para riscos de elevado impacto ebaixa frequência20).

- Fornece uma visão sobre a possível evolução de riscono futuro (consideração de mudanças sofridas pelosativos, processos, ambiente de controle, etc.).

- É difícil homogeneizar os critérios deavaliação entre os múltiplosavaliadores.

- Requer um exercício rigoroso porparte do avaliador e capacidade deabstração para situar-se em cenárioshipotéticos.

Base de dados de incidênciase perdas internas

- Lista de perdas próprias da empresa eincidentes em estágios prévios que podemnão ter resultado necessariamente em perdas.

- Informação básica:- Data de ocorrência.- Causa.- Perda bruta.- Perda líquida.- Risco e linha de negócio.

- Fornece informação detalhada dos eventos internosocorridos na empresa.

- Constitui um dos principais elementos para asseguradoras cotarem um programa de seguros.

- Requer procedimentos e sistemasinternos de coleta de informaçõeshabitualmente não disponíveis nosetor não financeiro, salvo em casosde sinistros declarados.

- Geralmente ocorrem poucos eventosde baixa frequência e alto impacto.

Bancos de dados de perdasexternas

- Bancos de dados públicos que recolheminformação prestada por fornecedores.

- Bancos de dados de consórcios de empresas(locais ou internacionais).

- Permitem incorporar eventos que poderiam ocorrerna empresa.

- Apresentam, em muitos casos, faltade informação dos eventos (ex.: datado evento, causa, etc.).

- Requer aplicação de fatores de escalae critérios de ajuste ao tamanho ecaracterísticas da empresa.

Indicadores (KRI)

- Métricas e índices que fornecem informaçãosobre o nível de risco operacional.

- Alertam sobre mudanças que possam serreveladoras de evoluções negativas na exposição aorisco.

- Permitem estabelecer limites para desencadear ações.

- Requerem procedimentos e sistemasinternos de coleta da informação.

20Como pode ser o caso de fenômenos climáticos extremos como “El Niño”. Este secaracteriza, entre outros elementos físicos e atmosféricos, por um aquecimento datemperatura das águas na parte central e oriental do Pacífico tropical, produzindoalterações climáticas com desastrosas consequências (chuvas intensas, ciclones,secas, erosão e ventos, etc.).

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frequentes são os questionários de autoavaliação e a análise decenários:

4 Questionários de autoavaliação: técnica baseada na coletade informação do especialista através de questionários, cujaconcepção está focada em obter informação sobre oimpacto e a frequência dos riscos identificados, aefetividade dos controles existentes e a possibilidade deestabelecer controles adicionais e o monitoramento dodesenvolvimento e acompanhamento dos planos demelhoria contínua.

O resultado dos questionários é a avaliação subjetivarealizada pelos gestores operacionais. A empresa devegarantir a definição correta de critérios para a avaliação e origor e a imparcialidade durante o processo depreenchimento.

Também costuma reconhecer impactos além dos puramenteeconômicos, como os reputacionais, de conformidade ou de

realização de objetivos, que habitualmente são avaliados comescalas qualitativas (Fig. 7).

A partir destas avaliações é possível realizar estimativas deavaliação de riscos como a perda esperada (qualitativa) e amáxima perda potencial (VaR qualitativo) com um determinadonível de confiança21 e em um horizonte temporal dado22 (Fig. 8).

Finalmente, tanto os dado de perdas recorrentes (perdasesperadas) quanto os de exposição potencial (perdainesperada) podem se converter em uma escala qualitativa queserve de base para a apresentação dos resultados. Costuma-sefalar, portanto, de exposição potencial e perdas recorrentesbaixas, médias, altas e muito altas.

Por último, são avaliados os controles associados aos diferentesriscos e analisada a existência de risco reputacional associado,bem como a determinação de seu grau de importância.

Figura 7. Exemplo de escalas de avaliação

Figura 8. Exemplo de modelagem com base em frequência média, impacto médio e pior cenário

2199,9% de forma habitual.22Com frequência de 1 ano.

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4 Análise de cenários: a análise de cenários é umametodologia baseada na definição de situações hipotéticasde materialização de riscos operacionais, que são analisadaspor grupos de especialistas com a finalidade de:

- Identificar e avaliar os riscos mais complexos erelevantes para a empresa.

- Promover a cultura de gestão de risco através daparticipação de pessoas responsáveis de diferentes áreasda organização.

- Estabelecer ações de prevenção ou mitigação quedevam se desencadear com rapidez diante de umevento operacional.

As análises de cenários costumam ocorrer durante oficinas ouworkshops nos quais participam diferentes profissionais daempresa, que fornecem o conhecimento dos processos denegócio, (ex.: áreas de negócio), do ambiente de controlerelacionado a cada risco (ex.: áreas de controle interno oucontrole de riscos), das condições internas e externas quepossam ter impacto na avaliação do risco (ex.: áreas desistemas), etc., coordenados por um especialista em riscooperacional, que fornece método e diretrizes.

O método consiste essencialmente em definir uma situação derisco que se considere que possa ocorrer na empresa eapresentar sucessivamente hipóteses de tipo what if queconduzam a saídas distintas em termos de probabilidade eimpacto (Fig. 9).

A partir desta informação se ajusta a distribuição deprobabilidade de frequência e de gravidade, e mediante suaconvolução se constrói a distribuição de perdas, da qual seobtém a perda esperada e a inesperada.

Figura 9. Análise de cenários

As metodologias baseadas em dados quantitativos sesustentam em uma etapa prévia de coleta e análise de perdasderivadas de eventos de risco operacional. No caso do setorfinanceiro, as empresas costumam dispor de eventos coletadosde forma interna ou externa. No entanto, no caso das empresasdo setor de energia, não é habitual dispor de um banco dedados de eventos interno (salvo os sinistros declarados) nemtampouco de fontes externas. Por este motivo, o primeiropasso para abordar estas metodologias é preparar e estruturara informação para suprir os processos de avaliação de risco.

Há dois tipos de bancos de dados de perdas por eventos derisco operacional:

Banco de dados de perdas internas. Constitui a peçafundamental sobre a qual se sustentam as metodologiasbaseadas em fontes de dados quantitativos. Deve ajudar amelhorar o entendimento do risco operacional, facilitar oestabelecimento de medidas corretivas que melhorem seucontrole, permitir a comparação entre os resultadosqualitativos e quantitativos e estabelecer as bases para aimplantação de metodologias baseadas na própria história deperdas da empresa.

Banco de dados de perdas externas. A Basileia II considera queos bancos de dados de perdas internas das empresas não sãosuficientemente profundos nem confiáveis para modelar orisco operacional na aplicação de modelos avançados (AMA23)e, portanto, requerem que sejam complementados com autilização de dados de perdas externas.

23Advanced Measurement Approach.

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Análise de cenáriosA análise de cenários permite determinar as características dadistribuição de perdas associadas a um determinado riscooperacional através de:

4 Estimativa de n cenários de perda considerados possíveis,caracterizados por sua frequência e gravidade (expressadoshabitualmente da forma: em um a cada “x” anos ocorre umevento de “y” euros).

4 Ajuste da melhor distribuição de gravidade dentro do leque dedistribuições estatísticas habituais para risco operacional(Weibull, gamma, lognormal, etc.).

4 Estimativa de uma distribuição de perdas a partir dos dadosfornecidos.

Habitualmente são utilizadas duas técnicas possíveis, conformeseja ou não identificado o cenário médio24. (Fig. 10).

As principais características de cada um dos métodos são asdescritas na Fig. 11.

Qualquer das técnicas expostas resolve o problema dequantificação de risco operacional a partir da estimativa decenários por parte de especialistas diante do ajuste de distribuiçõesestatísticas. Contudo, no caso de se fornecer o cenário médio, oenfoque será válido para qualquer número de cenários.

Uma das vantagens da análise de cenários é que parte de frasessimples para o avaliador (a cada “x” anos se perdem “y” euros) eproporciona um critério objetivo para escolher a melhordistribuição entre o leque de possibilidades. Além disto, odesenvolvimento matemático pode ser apoiado por um dispositivode cálculo de forma praticamente transparente para o usuário (oque não requer conhecimento estatístico).

Ambas as metodologias permitem obter uma estimativa dos riscosexistentes e podem ser complementadas com métodos que seapoiem em fontes de informação quantitativa.

Classe de Risco OperacionalA alta de uma ORC é um processo repetitivo no qual, a partir doscruzamentos estabelecidos (ORC base), estudam-se as ORCcandidatas (ou cruzamentos de eventos) suscetíveis de formarparte de tal grupo por contar com um perfil de risco similar.

Apoiando-se nas técnicas de análise descritiva de variáveis (índicesde localização ou tendência central, índices de variabilidade oudispersão, índices de forma25, índices de posição26, box-plots,histogramas, etc.) e de análise exploratória (mid-summary, p-sigma,

etc.), é possível confrontar as amostras de dados e detectar paresque a série candidata pode produzir na série base e decidir sobresua agregação.

As classes de risco operacional dão consistência ao processo decálculo pelos seguintes motivos:

- Homogeneizam os processos que originam os riscosoperacionais.

- Permitem agrupar eventos e obter um número suficiente emface da modelagem.

- Fornecem homogeneidade estatística às amostras (bateria deindicadores e gráficos estatísticos de análise descritiva,exploratória e de premissas do modelo).

- Estabelecem uma base estatística transferível às outras fontes:externas e compostas a partir de cenários sobre juízosespecializados.

Figura 10. Exemplos de análises de cenários com e sem cenário médio

Figura 11. Principais características das técnicas de análise de cenários

- Metodologicamente, é difícil encontrar distribuiçõesque se ajustem bem a todos os cenários.

- O avaliador deve estimar cenários representativos dasdiferentes partes da distribuição de gravidade.

- É mais fácil encontrar distribuições que se ajustembem aos cenários.

- Pode-se obter a perda esperada diretamente a partirdo cenário médio sem necessidade de realizar ajustesestatísticos.

- Com poucos cenários se obtém um bom ajuste docorpo e da fila da distribuição.

Caso sem cenário médio

Caso com cenário médio

24A metodologia seria igualmente aplicável se o avaliador fizesse uma estimativado cenário que ocorre mais frequentemente em vez do cenário médio, ou seja, amoda em vez da média.25Assimetria e curtose.26Quartis e percentis.

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Embora no setor de energia ainda não se disponha deinformação deste tipo, no setor financeiro existem naatualidade dois tipos de bancos de dados externos:

4 Bancos de dados públicos: compilam informações prestadaspor fornecedores, tais como empresas de consultoria ecompanhias de seguros. Normalmente proporcionaminformações de eventos com um limite de perda muito alto.

4 Bancos de dados de consórcios de empresas: podem ser deâmbito local ou internacional. Estas associações servem parao intercâmbio de informações relativas a perdas por riscooperacional das empresas membros, preservando aconfidencialidade dos dados. O limite de relato é muitoinferior ao dos bancos de dados públicos. Os principaisexemplos são ORX (Operational Risk Data ExchangeAssociation), GOLD (Global Operational Loss Database), DIPO(Database Italiano Perdite Operativo) e ABA (AmericanBankers Association).

Os dados dos bancos de dados externos são utilizadosprincipalmente de dois modos: na análise de cenários, comoinformação complementar para avaliar a exposição a eventosgeradores de perdas muito graves, e como indicador de eventosextremos na cauda da distribuição de perdas.

Adicionalmente, servem como ferramenta de benchmark comrelação às empresas do setor, uma vez que permitemestabelecer uma comparação em termos de gasto de capitalem relação à margem ordinária, de evolução das perdas e dedistribuição por linha de negócio, assim como informaçãosobre eventos graves.

A metodologia mais usada para a avaliação de riscooperacional a partir de eventos quantitativos, tanto pelas

instituições financeiras quanto pelas corporações de outrossetores, é a LDA (loss distribution approach) ou metodologia dedistribuição de perdas.

Este método permite modelar o risco de uma empresa e geraruma distribuição de perdas para cada um dos riscosidentificados. Além disto, no caso de avaliação de riscosseguráveis, possibilita a determinação do cenário ideal decobertura, vinculando os impactos econômicos com a conta deresultados através do programa de seguros.

O método requer a existência de dados de eventosoperacionais, que se classifiquem segundo sua natureza parasua modelagem conjunta, e o ajuste de distribuições. É comuma combinação de várias fontes, habitualmente bancos de dadosde perdas internas e externas ou bancos de dados de perdasinternas e informação obtida através da avaliação subjetiva decenários de perdas.

Os dois principais passos desta metodologia são análise etratamento de dados e modelagem de perdas brutas que, porsua vez, podem ser decompostos em cinco etapas (Fig. 12).

Análises de riscos e tratamento de dados. Em primeiro lugar, énecessário verificar a qualidade dos dados disponíveis para oprocesso de cálculo e detectar, mediante uma série devalidações, aqueles registros que não serão utilizados (ex.:dados fora do intervalo de tempo definido, dados anômalos eerrôneos ou dados atípicos).

Além disso, deve-se realizar a identificação e a classificação dosriscos que se deseja avaliar, com a finalidade de agruparaqueles eventos que apresentem um comportamento similardiante do risco operacional. O resultado desta classificação é adeterminação de classes ou categorias homogêneas (ORC –Operational Risk Class), de um ponto de vista tanto estatísticoquanto securitário.

Figura 12. Metodologia LDA - etapas no processo de cálculo da distribuição de perdas

Análise de dados(internos, externos equalitativos).Seleção de classes deRisco Operacional (ORC).

Dados Internos:completitude einexistência de anômalos/ errôneos.Dados Externos:pertinência eescalonamento.Informação especializada:ausência de consistêncianos cenários (dados deentrada e de saída domodelo).

Ajuste de distribuiçõesde frequência egravidade para cadaORC.

Amostras: escassez dedados em certas ORC.Catálogo dedistribuições: amplagama de distribuições degravidade a considerar.Distribuições:necessidade de ajuste defilas largas.

Complemento das sériescom informaçõesespecializadas e dadosexternos.Distribuições de frequênciae gravidade integradas.

Integração: regra emisturas a aplicar.Eventos extremos:consideração maslimitando seu “peso” nocálculo.Avaliações especialistasprocedentes do últimoexercício de auto-avaliação.

Geração da distribuiçãointegrada de perdas.Cálculo de perdaesperada eVaR.

Correlação: robustez deindicadores decorrelação.Estimativa em nívelGrupo e por cadaUnidade: efeitodiversificação.

Técnicas de estabilidade.Sensibilidade: impactoem resultados dedecisões no cálculo.

Conhecimento dosfatores com maiorimpacto nos resultadosalcançados.Gestão ativa econsideração de linhas deatuação que respaldemos interesses do Grupo.

Análise de riscos etratamento de

dadosAjuste de

distribuiçõesIntegração de

dados externos equalitativos

Cálculo dadistribuição de

perdasAnálise desensibilidade

ASPECTOS CHAVE

OBJETIVO

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Cabe destacar que os acordos de Basileia estabelecem classeshomogêneas de risco em função de dois eixos de análise: linhasde negócio e caterogorias de risco. Adicionalmente, definemcategorias de segundo nível para cada um desses eixos, dandoliberdade às empresas para acrescentar níveis complementaresse necessário. No caso de corporates não financeiras, não existeuma definição estrita sobre os eixos de análise.

Como último passo, deve-se verificar o cumprimento daspremissas que exigem a metodologia LDA: independênciaentre frequência e gravidade27 (através do estudo dasazonalidade, da tendência e da correlaçãofrequência/gravidade, etc.) e inexistência de autocorrelaçãoserial em frequência e gravidade28 (mediante a função deautocorrelação e testes de Durbin-Watson, Ljung-Box edivisões) para cada uma das ORC.

O resultado do processo de análise de riscos e tratamento dedados são os agrupamentos (ORC) disponíveis para seremutilizados na modelagem.

Ajuste de distribuiçõesNo ajuste de distribuições, é comum utilizar distribuiçõesparametrizadas para a estimativa da gravidade. Com frequência,usam-se distribuições biparamétricas (ex.: Weibull, lognormal) oudistribuições de mais de dois parâmetros que apresentemsensibilidade aos padrões de assimetria e curtose (ex.: generalizadahiperbólica).

No entanto, certas vezes, as distribuições paramétricas podemresultar insuficientes para ajustar com precisão amostras deeventos operacionais. Esta insuficiência se faz mais evidente emagrupamentos de dados que apresentam caudas largas ou, se foresse o caso, dados atípicos que por critérios de negócio não é

Figura 13. Metodologia LDA

recomendável eliminar. Nestas situações, é possível executar oprocesso de ajuste com distribuições semiparamétricas (ex.: kernel).

Costuma-se selecionar como distribuições clássicas de gravidadeaquelas que assumem valores não negativos, já que uma perdanegativa poderia ser considerarada como um ganho, o que nãoteria sentido.

Ajuste de distribuições. Uma vez agrupados os eventos deacordo com sua natureza, determina-se a distribuição de perdasassociada a cada ORC, através do ajuste de uma distribuição defrequência e de outra de gravidade. Para isto, realiza-se umabateria de testes estatísticos sobre um leque de distribuiçõeshabitualmente empregadas e é eleito o par que melhor seajuste. A integração das distribuições de perdas obtidas paracada agrupamento permite obter uma distribuição de perdasagregada, que deve ser construída considerando-se o efeito dadiversificação que existe entre os diferentes agrupamentosatravés da matriz de correlações.

As distribuições de gravidade utilizadas para a estimativa deperdas devem refletir uma realidade na qual convivem eventosde alta frequência e baixo impacto com eventos de baixafrequência e impacto muito alto. Esta circunstância requer que

27A frequência de uma ORC não deve condicionar o nivel de sua gravidade.28Comprovação de que tanto severidade e frequência em umdeterminadomomento são independentes da gravidade e frequência nomomento anterior.

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tais distribuições disponham de caudas suficientemente largaspara coletar eventos de alta gravidade.

No entanto, em alguns casos, o corpo da amostra pode serajustado com uma distribuição e a cauda com outra distinta.Nestas ocasiões, se utiliza a Teoria do Valor Extremo29, que secentra em melhorar o ajuste para as perdas elevadas,realizando uma mistura de distribuições na qual o corpo sigauma distribuição e a cauda outra: uma generalizada de Pareto(GDP) ou uma exponencial.

Integração de dados externos e qualitativos. Existemdiferentes métodos para integrar os dados procedentes daavaliação especializada ou das bases de dados externas nocálculo da distribuição de perdas.

Os métodos mais freqüentes são a Teoria da Credibilidade paraa integração de frequências e o método de Dutta e Babbel30

para a integração de gravidades, que consiste basicamente emadicionar dados à amostra histórica naqueles trechos nos quaisse encontra sub-representada.

Cálculo da distribuição de perdas. Uma vez ajustadas asdistribuições de frequência e gravidade, deve-se obter adistribuição de perdas para cada uma das ORC da amostra dedados e para o conjunto de todas elas. Para isto, se realiza umprocesso de convolução das distribuições de frequência egravidade através de simulações de Monte Carlo.

A partir da distribuição de perdas, é possível obter váriasmagnitudes representativas:

4 Perda esperada (Expected Loss, EL). Média aritmética dasperdas simuladas.

4 Valor em risco (Value at Risk, VaR). Máxima perda potencialesperada para um determinado intervalo de confiança ehorizonte temporal.

4 Perda inesperada (Unexpected Loss, UL). Diferença entre aperda esperada e o valor em risco (VaR).

4 Valor em risco condicional (Conditional VaR, CVaR ouexpected shortfall). Média das perdas que superam o VaR nohorizonte temporal indicado.

Sobre a distribuição de perdas obtidas, é possível aplicar osdiferentes programas de apólices de seguro existentes, quepermitirão mitigar o resultado e adequá-lo à verdadeirarealidade subjacente.

Como última etapa do processo, é possível calcular as medidasanteriormente indicadas levando em conta o efeitodiversificação. Para isto, deve-se realizar uma simulação deMonte Carlo com um processo de geração de númerosaleatórios preservando o esquema de correlações iniciais(modelo de simulação de Lurie-Goldberg).

Validação. O modelo quantitativo obtido deverá sercontrastado de forma recorrente com diferentes técnicas eestudos para assegurar a validade do mesmo. Alguns dosaspectos a considerar são a sensibilidade dos resultados diantedas variações nas variáveis do modelo, a estabilidade doscálculos diante das variações devido a causas tanto intrínsecas(distribuição de perdas operacionais dependente daaleatoriedade do processo de simulação) quanto extrínsecas(tamanho reduzido das amostras de dados de perdas e avariabilidade dos mesmos, como caudas largas), e obacktesting do modelo (comparação das perdas operacionaisestimadas com as perdas reais obtidas no período de cálculo).

Figura 14. Medidas sobre a distribuição de perdas

29Se a distribuição das perdas que superam um limiar convergirem para umadistribuição limite quando o limiar aumentar, então esta distribuição será ou umadistribuição exponencial ou uma distribuição generalizada de Pareto.30Scenario Analysis in the Measurement of Operational Risk Capital: A Change ofMeasure Approach.

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Testes de qualidade de ajusteApós o ajuste das diferentes distribuições candidatas, deve-seanalisar e comparar a adequação de cada uma delas. Isto pode serfeito através de diversos testes de qualidade analíticos e gráficos:

Contrastes analíticos: utilização de testes que observam asdiferenças entre a distribuição empírica (F) e a distribuição teórica(F₀) selecionada. Calculam a distância máxima existente entreambas e decidem em função desta quando se aceita a hipótese nula(H₀:F= F₀); ou seja, se a distribuição empírica se ajusta bem àdistribuição teórica selecionada, ou se rejeita esta hipótese e aceitaa hipótese alternativa (H₁:F₁�F₀).Alguns dos testes geralmente utilizados são o de Kolmogorov-Smirnov, o de Cramer-von Mises e o de Anderson-Darling. Seusinputs são a perda variável da ORC (𝑥) e o nível de significaçãoadmitido (𝛼).- Test de Kolmogorov-Smirnov. Verifica a diferença máximaexistente entre a distribuição empírica e a distribuição estatísticaselecionada. Serve de forma geral para todas as distribuições, jáque seus valores críticos não dependem da distribuiçãoespecífica que está sendo objeto de estudo.

A expressão desta estatística é:D�=max{max₍₁����₎[F�(𝑥�)―F₀(𝑥�)],max₍₁����₎[F�(𝑥�)―F₀(𝑥�₋₁)]}onde:

- 𝑛 é o número de observações da amostra.

- F� é o valor da função de distribuição empírica para um 𝑥�dado.

- F₀ é o valor da função de distribuição empírica para um 𝑥�dado.

Os valores da função de distribuição desta estatística estãoestipulados a partir do nível de significação (𝛼) e do tamanho daamostra (𝑛).

- Test de Cramer-von Mises. Tem as mesmas aplicações que oteste de Kolmogorov-Smirnov, mas tem maior sensibilidadediante dos pontos irregulares na amostra (ou pontosaberrantes).

Sua estatística mede a soma das distâncias máximas entre adistribuição empírica e a teórica ao quadrado e deve sercalculada levando em conta a distribuição que se pretendeconsiderar:

onde:

- 𝑛 é o número de observações da amostra.

- 𝑍 = 𝐹 (𝑥 ; 𝛳) é o vetor de probabilidades para a função dedistribuição considerada 𝐹 e o vetor de parâmetrosestimados 𝛳.

A estatística 𝑊� deverá ser ajustada posteriormente em funçãoda distribuição considerada.

Para obter o resultado do teste será necessário calcular o p-valor,o que se realizará mediante um procedimento diferente paracada distribuição.

- Teste de Anderson-Darling. Utilizado para verificar se umaamostra de dados vem de uma população que segue umadistribuição específica. É um teste que dá mais peso às caudasdas distribuições que os anteriores e que utiliza a distribuiçãoespecífica que se quer verificar para calcular os valores críticos.Tem a vantagem de permitir um teste mais sensível e adesvantagem de exigir o cálculo de valores críticos para cadadistribuição que se deseje avaliar.

A estatística de Anderson-Darling se define como:

onde:

- 𝑛 é o número de observações da amostra.

- 𝑍 = 𝐹 (𝑥 ; 𝛳) é o vetor de probabilidades para a função dedistribuição considerada 𝐹 e o vetor de parâmetrosestimados 𝛳.

A estatística 𝐴� deverá ser ajustada posteriormente em função dadistribuição considerada.

Da mesma forma que no teste de Cramer-von Mises, para obtero resultado será necessário calcular o p-valor, o que se realizarámediante um procedimento diferente para cada distribuição.

Testes gráficos: os testes de qualidade de ajuste proporcionamuma medida geral do ajuste que a distribuição teórica faz para adistribuição empírica. Asim, pode acontecer que a distribuiçãopasse no teste porque o ajuste geral é bom, embora o ajuste dascaudas não seja apropriado.

Utilizando testes gráficos de forma complementar aos testesanalíticos, pode-se decidir quão apropriado é tal ajuste:

- Gráfico de excesso sobre a média: permite distinguir entremodelos de filas suaves ou pesadas através da comparação dasfunções do excesso sobre as médias teórica e empírica.

- Gráficos QQ-plot e PP-plot31: comparam a distribuição teóricacom a empírica, avaliando o ajuste da distribuição teórica coma população. A diferença entre o QQ-plot e o PP-plot é que oprimeiro compara famílias parametrizadas de distribuições, ouseja, sem considerar estimativas dos parâmetros, enquantoque o segundo compara uma única distribuição que estácompletamente especificada mediante parâmetros estimados.

Figura 15. QQ-plot do ajuste de uma distribuição lognormal

31Quantile-Quantile Plot and Probability-Probability Plot.

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Por último, para o acompanhamento do modelo de gestão derisco operacional, é necessário contar com uma série deindicadores de acompanhamento. Os indicadores de risco (keyrisk indicators ou KRI) são estatísticas ou parâmetros quepermitem antecipar a evolução dos riscos assumidos pelaempresa (Fig. 16). Estes indicadores costumam ser revisadosperiodicamente para alertar sobre mudanças que possam serreveladoras de evoluções negativas na exposição ao risco.

Os principais objetivos da metodologia de KRI são os seguintes:

- Fornecer informações sobre o nível de risco operacional daempresa e identificar as principais causas de sua evolução.

- Estabelecer níveis de alerta e limites para a tomada dedecisões por parte dos diferentes responsáveis.

- Identificar e medir a eficácia dos controles e melhoriasefetuadas neles.

- Identificar correlações dos KRI com as perdas operacionais.

O nível de detalhe da informação do KRI nos diferentes âmbitosde gestão é distinto e deve adequar-se ao nível dosinterlocutores envolvidos em cada um dos comitês orientadosà gestão de risco operacional.

Figura 16. Exemplo de indicadores de risco ou KRI

Perdas de produto no transporte demercadoria

Sinistros sofridos em ativos emontantes relacionados

Número de expedientes sancionatóriosiniciados com empregados

Projetos de investimento comdisponível negativo

Pedidos de compra emitidos semautorização

Número de pessoas com autorizaçõesde acesso à devolução de faturas e aocadastro de contas

Periodicidade média de atualização defirewalls na proteção de acessos

Número de acessos às mesas de trading

Número de dias com incidências nobackup de dados (ou dias sem backup)

KRIs Control-orientedKRIs Loss-oriented KRIs Risk-oriented

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Avançado (AMA): enfoque baseado na estimativa de umadistribuição de perdas por risco operacional a partir dedistribuições de frequência e gravidade. Estas distribuições defrequência e gravidade podem ser estimadas para cadacombinação de linhas de negócio e tipologias de risco. O capitalregulatório se baseia no cálculo de perdas esperadas e inesperadascom um nível de confiança de 99,9% e no horizonte temporal deum ano.

A utilização de metodologias avançadas para a mensuração docapital regulatório implica em avanços e aplicações em outrosâmbitos, tanto nas próprias instituições financeiras (ex.: namensuração do capital econômico) quanto nas empresas de outrossetores (ex.: para a negociação do programa de seguros). Emboraos parâmetros analisados na distribuição de perdas possam variarem função das necessidades da análise, a metodologia será similarà utilizada neste âmbito.

Risco operacional e capital regulatórioCom a evolução das regras aplicáveis ao cálculo de capitalregulatório para as instituições financeiras, o risco operacional éincluído (junto com o risco de crédito e o de mercado) nasinformações de requisitos de capital que devem ser reportadas demaneira individualizada no denominado Pilar I de Basileia II, ondese estabelecem três métodos para o cálculo do capital regulatóriopor risco operacional (Fig. 17):

Indicador básico: cálculo de capital regulatório por meio daaplicação de uma porcentagem sobre a margem ordinária ajustada(15%). Este método está orientado a instituições de pequeno portee com uma estrutura simples de atividades de negócio.

Padrão: evolução do indicador básico que divide a atividade dainstituição em unidades e linhas de negócio preestabelecidas ecalcula o capital como uma porcentagem (que varia em função decada linha de negócio) da margem ordinária da linha.

Figura 17. Métodos de cálculo para o Capital Regulatório (Basileia II)

Capital baseado na margemordinária ajustada (15%).Orientado a instituições pequenascom uma estrutura simples deatividades de negócio.

Divisão da instituição em unidades elinhas de negócio padrão.Capital baseado na margem ordináriaajustada a cada linha de negócio(calibrado a 13%).- Banco de varejo (ß = 12%)- Intermediário varejo (corretora)(ß= 12%)

- Gestão de ativos (ß=12%) - Banco comercial (ß = 15%) - Serviços de agência (ß = 15%) - Comercialização e vendas (ß = 18%) - Financiamento empresarial (ß = 18%) - Pagamento e liquidação (ß = 18%)

Divisão da instituição em linhas denegócio e tipo de risco.Capital baseado no cálculo de perdasesperadas e inesperadas (99,9%, em umhorizonte temporal de um ano).(Estimado menos de 10% da margemordinária).Duas funções de distribuição(Gravidade e Frequência) das quais sederiva a função de distribuição deperdas por Risco Operacional (VaR).Reconhecimento de seguros comomitigante até um limite de 20%.

AVANÇADO(DISTRIBUIÇÃO DE PERDAS)

INDICADORBÁSICO

PADRÃO

EXIGÊN

CIAS QUANTITA

TIVAS

Menor complexidade Maior complexidadeMenor requerimento de capital+_

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Aplicação de metodologias de avaliação do riscooperacional no setor energético

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Contexto

Nos últimos anos, o setor energético tem experimentado umaumento na sinistralidade, tanto em número quanto emmagnitude dos eventos. Exemplos como o derrame depetróleo no Golfo do México pelo colapso da plataformaDeepwater Horizon de BP ou a catástrofe nuclear do Japão em2011 evidenciam o impacto econômico e meio-ambiental queapenas um evento de risco operacional pode representar naindústria energética.

Neste período o setor segurador tem tido que assumirimportantes perdas, que têm contribuído com o aumento doscustos de segurança e de pressão nos níveis de retenção derisco exigidos pelas empresas seguradas. Neste contexto, tantoas empresas de seguro e resseguro quanto os reguladores,acionistas e stakeholders em geral demandam dasorganizações a dedicação de recursos para a melhoria de seussistemas de gestão de risco operacional.

De acordo com as tendências recentes, identificam-se duas viasde evolução da gestão de risco operacional na indústriaenergética:

- Melhorias na prevenção e mitigação, destinadas a evitar osacidentes e a minimizar o dano em caso de ocorrência. Porexemplo, inspeções mais rigorosas e freqüentes dos ativoscríticos.

- Melhorias na avaliação, destinadas a caracterizar e estimaros riscos que a empresa assume pelo desempenho de suaatividade e minimizar o custo de sua assunção.

Nesta seção, pretende-se mostrar um caso de aplicação demetodologias de avaliação de risco operacional em relação aosegundo ponto.

Gestão de risco operacional segurável

Uma das ferramentas habituais para a gestão de riscosoperacionais é a transferência do risco por meio de seguros.Observam-se diferentes modelos de gestão de seguros nasempresas do setor, embora o mais comum entre as grandescorporações seja o baseado em uma seguradora cativa.

Este modelo consiste na concentração de risco de umaempresa, normalmente multinacional, em uma sociedade dogrupo que proporcione seguro a suas atividades. Este modelopermite determinar o nível de risco que se deve conservar nacativa, ao mesmo tempo em que dá acesso ao mercado deresseguro a toda a organização de forma conjunta, que obtémum maior poder de negociação e, portanto, melhorescondições.

A metodologia que se explica a seguir surge ante a necessidadede dar resposta a algumas das perguntas que as empresaslevantam para melhorar seu sistema de gestão de riscooperacional:

4 Que risco a empresa assume em cada uma de suasatividades ou linhas de negócio?

4 Qual é o custo razoável do prêmio de um determinadoprograma de seguros?

4 Qual é o custo total do risco?

4 Como varia o risco diante de mudanças no tamanho daempresa?

4 Como se distribui o risco retido pelo grupo entre cada umade suas atividades ou linhas de negócio?

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Metodologia de otimização do programa deseguros

A metodologia de otimização que se mostra a seguir, que temsua base na metodologia LDA descrita anteriormente, constade sete etapas (Fig. 18).

A metodologia para a análise de riscos e o tratamento dosdados que se realiza neste caso é similar à descritaanteriormente para a metodologia LDA, com a particularidadede que as fontes de informação utilizadas costumam ser:

4 Bancos de dados de perdas: utiliza-se o histórico desinistros da empresa.

4 Informações especializadas: como input de informaçãosubjetiva costumam-se incorporar no modelo as análises demaiores perdas prováveis e possíveis que habitualmenteocorrem para os ativos mais críticos, utilizandometodologias baseadas em informação especializada.

4 Informação setorial: complemento às dos itens anteriorescom sinistros ocorridos no setor que, por suascaracterísticas, considere-se que poderiam ocorrer naempresa.

Um dos objetivos que se persegue com a aplicação destametodologia é minimizar o custo total do risco operacional(CTR) para a empresa. Entende-se por custo total do riscooperacional a soma da perda ocasionada pela materializaçãodos riscos operacionais mais os custos associados à gestão de

tais riscos. Seguindo esta definição, é possível identificar osseguintes componentes fundamentais do CTR:

4 Custos de transferência: os relativos, principalmente, àaquisição de seguros (prêmio, brokerage, custos deintermediação, etc.).

4 Custos de retenção: os relativos à materialização de riscosnão segurados ou que excedem os limites de cobertura(eventos inferiores ou superiores ao limite segurado).

4 Custos de gestão: os relativos à identificação, avaliação,planos de prevenção, mitigação e controle dos riscos.

4 Outros custos: em alguns casos são incluídos na definiçãode custo total de risco outros componentes como os custosdo capital ou dos recursos próprios necessários para fazerfrente aos riscos.

Para efeitos deste estudo, o custo total de risco é composto pordois somandos:

4 O custo de risco segurado (CustoRS - risco segurado):corresponde ao prêmio da apólice de seguros.

4 O custo de risco não segurado (CustoRNS - risco nãosegurado): perdas assumidas pela empresa.

CTR = CustoRS + CustoRNS

Ambos os componentes serão definidos tanto pelos níveis deretenção (“R” - níveis de perda abaixo das quais a perda éassumida pela empresa) quanto pelo limite segurado32 (“L” -perdas máximas cobertas) do cenário de seguro33:

CTR = CustoRS(R,L) + CustoRNS(R,L)

Figura 18. Etapas do processo de otimização do programa de seguros

Definição de gruposhomogêneos de perdaspara modelagem emapeamento comseguros.

Análise da qualidade,profundidade ehomogeneidade dedados.

Principais fontes deinformação.

Delimitação do escopo.

Definição do conceitode custo do riscosegurado.

Definição do conceitode custo do risco nãosegurado.

Ajuste de distribuiçõesde frequência egravidade para cadacarteira de ativosseguráveis.

Revisão do acerto dosajustes (e complementocom critériosespecialistas).

Obtenção dedistribuição de perdasbrutas (cálculo deperda esperada, VaR eConditional VaR).

Alocação de apólices aativos segundo o ramo.

Homogeneização deparâmetros de cálculo(franquia direta ecolocação, stop loss,limite, etc.).

Obtenção dadistribuição de perdasdepois de seguros(retido e transferido).

Caracterização deperda retida pelosnegócios e pela cativa.

Definição de prêmiopuro em função donível de retenção e olimite segurado.

Análise decomponentes doprêmio puro (perdaesperada –PE-,coeficiente desegurança, custos emargem comercial).

Comparação deprêmios e perdasesperadas eidentificação deeconomias empotencial.

Definição da função decusto total do riscooperacional.

Definição da região decenários de segurançaadmissíveis paradiferentes níveis deconfiança.

Definição da fronteiraeficiente (prêmioteórico ideal para cadanível de riscoassumido).

Definição de políticasde apetite ao riscosegurável.

Definição da perdamáxima admissível eseu nível de confiança.

Definição da função decusto mínimo e seleçãodo nível de retençãoideal.

Análise de riscos etratamento de

dados

Definição decustos associados

ao riscooperacional

Modelagem defrequências egravidades

Modelagem deperdas comseguro

Cálculo de prêmio puro

Definição daregião admissível

e fronteiraeficiente

Determinação docenário ideal

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A Fig. 19 ilustra os conceitos de risco segurado (RS) e risco nãosegurado (RNS), bem como o nível de retenção (R) e o limitesegurado (L). Estes conceitos podem ser expressados de formagráfica a partir da distribuição da gravidade de um risco.

O CustoRS pode ser calculado como o prêmio puro ou perdaesperada assumida pelo seguro (PEresseguro). Este valor diferiráo prêmio real a pagar por tal cobertura, que incorporaadicionalmente outros custos não relacionados com o riscoassumido pela seguradora (custos de administração, prêmiocomercial, impostos, corretagem, etc.). No entanto, considera-se um proxy aceitável para efeitos de se encontrar o pontoideal de cobertura.

CustoRS = PEResseguro

O CustoRNS pode ser calculado como a soma da perdaesperada do grupo (PEgrupo) e a perda inesperada do grupocom um nível de confiança α (PIgrupo). Os valores de 𝛼costumam ser selecionados dentre os percentis altos dadistribuição de perdas (entre os 95% e os 99,9%) paracontemplar cenários adversos de materialização de perdas34.

CustoRNS = PEGrupo + PIGrupo (𝛼)Desta forma, o custo total de risco fica definido como:

CTR = PEResseguro + PEGrupo + PIGrupo (𝛼)Nesta definição do custo custo total do risco não estariamcontemplados os custos de gestão, conforme definidoanteriormente. Para efeitos de aplicação da metodologia, pode-se considerar que estes custos são constantes e, portanto, nãoteriam incidência no cálculo de otimização.

Em algumas ocasiões, as empresas desejam incorporar o custode capital na definição de custo total de risco. Em tal caso, afórmula do CTR pode se adaptar da seguinte forma:

- Incorporação do WACC (weighted average cost of capital):ponderar a perda inesperada pelo custo médio do capital35.

- CTR = prêmio puro + perda esperada + perda inesperada:CTR = PEResseguro + PEGrupo + PIGrupo (𝛼) ∗ WACC

É conveniente notar que esta expressão representa umcomportamento linear do custo de cobertura diante demovimentos dos níveis de retenção. Não obstante, a realidadedo mercado segurador demonstra que: (a) não é possível obtercotação para todos os cenários de seguro e (b) o aumento dosníveis de retenção não se traduzem em uma diminuiçãoproporcional do prêmio. Para coletar este fato, pode-seincorporar à fórmula do CTR um fator de endurecimento (FE)do prêmio puro, o que permite refletir o fato de que a variaçãodo prêmio cotado não responde linearmente às variações donível de retenção ou de stop loss.

CTR = PEResseguro ∗ (1+FE) + PEGrupo + PIGrupo (𝛼) ∗ WACC

Figura 19. Custos de risco segurado e de risco não segurado

32O limite segurado é definido habitualmente em termos de limite por ocorrênciae limite agregado.33Esta caracterização é uma simplificação da metodologia para efeitos ilustrativos.Na prática são consideradas outras variáveis como, por exemplo, os dedutíveisoperacionais ou os limites tipo stop loss, que estabelecem limite às perdasassumidas pelas empresas.34Um 𝛼 de 95% equivaleria a considerar no CTR as perdas inesperadas do grupoabaixo do percentil 95 da distribuição, ou seja, excluir as que a empresa sofre ou5% dos anos (1 a cada 20 anos). Da mesma forma, um α de 99,9% equivaleria aconsiderar no CTR as perdas abaixo do percentil 99,9%, isto é, excluir as queocorrem em 0,1% dos anos (1 a cada 1.000 anos). Cabe mencionar que o ano é aescala habitual para o cálculo das distribuições de perda devido à semelhançacom o período de validade dos seguros.35Algumas empresas, fundamentalmente no setor financeiro, consideram no custototal do risco o custo médio ponderado do capital necessário para fazer frente àsperdas inesperadas.

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Este bloco tem por objetivo a determinação das distribuiçõesde frequência e gravidade que melhor se ajustam aos dados deperda bruta, entendida como a perda materializada semconsiderar o efeito mitigador do seguro. A metodologia nestecaso é similar à descrita na seção 4 deste documento.

Uma vez que se tenha chegado a uma distribuição de perdasbrutas, o passo seguinte da metodologia consiste emdeterminar o efeito mitigador que um programa de segurostem sobre tais perdas.

Observa-se (Fig. 20) que os seguros permitem deslocar adistribuição de gravidade na medida que transferam as perdasentre R e L.

O método para obter as perdas depois de seguros consiste emsimular eventos e aplicar as condições das coberturasexistentes.

Com isto, para cada evento obtêm-se:

- Montante da perda retida pelo grupo: em função dascaracterísticas do programa de seguros e do foco deanálise, este dado pode ser dividido, por sua vez, na perdaque a empresa assume e na que assume a seguradoracativa.

- Montante da perda que o seguro assume: corresponde àperda bruta do evento menos o montante retido.

A partir da aplicação de um determinado programa de segurossobre os cenários de perda bruta, pode-se caracterizar adistribuição de perdas assumidas pelo seguro e, de fato, obtersua perda esperada ou prêmio puro, bem como a perdaassociada a um determinado percentil.

Prêmio puro = CustoRS = PEResseguro

Como já foi comentado, o prêmio puro não coincide com acotação devido aos diferentes suplementos que é necessárioadicionar sobre a primeira para chegar à segunda. No entanto,o exercício de calcular a distribuição de perdas assumidas peloseguro permite obter:

- A eficiência do programa de seguros: a comparação entre oprêmio puro calculado e o prêmio cotado permitedeterminar a eficiência do programa (Fig. 21).

- O percentil correspondente ao prêmio cotado: é possívelidentificar a qual percentil da distribuição de perdascorresponde o prêmio solicitado para um determinadoseguro e a que distância se encontra da média.

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Figura 21. Eficiência do programa de seguros

Figura 20. Distribuição de perdas com seguro

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Nem todos os cenários de seguro deixam a empresa em umasituação de risco admissível. O risco admissível é determinadopelo apetite de risco da empresa, que em termos práticoscostuma ser expressado como a perda máxima admissível aalcançar com um determinado nível de confiança. Ou seja, umnível de confiança para o risco de α implica que as perdasestarão abaixo do limite admissível com uma probabilidade 𝛼.Ou, de forma equivalente, as perdas acima do limite admissívelse produziriam com uma probabilidade não superior a 1 – 𝛼.Os níveis de apetite de risco permitem descartar cenários deseguro que não mantenham as perdas do grupo abaixo daperda máxima admissível com um determinado nível deconfiança 𝛼. O conjunto de cenários restantes constitui adenominada região admissível.

Dentro do conjunto de cenários de seguro da regiãoadmissível, aqueles que minimizam o custo total do risco são osque formam a fronteira eficiente.

A título de exemplo se mostra (Fig. 22) a superfície abaixo deuma completa aversão ao risco. Para combinações de retençãoe limite que situem as perdas com alta probabilidade abaixo daperda admissível (neste caso, 3,2 milhões de euros), o custototal é o custo do prêmio. Desta maneira, o prêmio puro teráseu mínimo na fronteira de cenários aceitáveis.

Partindo de um programa de seguros básico, realizam-sesimulações com variações progressivas nas condições defranquia e limite e se obtém para cada cenário a caracterizaçãoda distribuição de perdas retidas pelo grupo e transferidas aoseguro.

Como resultado deste processo de simulação de condições decobertura, pode-se encontrar:

- O programa que minimiza o custo total do risco.

- O programa de menor prêmio puro que mantém a perdainesperada dentro do limite admissível.

- O programa mais eficiente (melhor relação entre prêmiopuro e prêmio cotado).

A Fig. 23 ilustra o comportamento do CTR utilizando a definiçãoantes exposta.

Em cenários em que o nível de retenção é baixo (cenário 1), oprêmio será elevado e, ao contrário, em cenários em que o nívelde retenção é alto, o prêmio será baixo (cenário 6).

Figura 22. Região admissível e fronteira eficiente

Figura 23. Simulação de cenários de cobertura

CTR

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No ponto de menor CTR será alcançado o equilíbrio ideal entreprêmio e risco retido, e dependerá notavelmente da definiçãodo CTR que se estabeleça, como se observa a seguir.

a) CTR = prêmio puro + perda esperada + perda inesperada:

Neste caso, acontece que o prêmio puro mais a perda esperadaé uma constante que depende unicamente da perda bruta(equivale à perda bruta esperada).

Nestas condições, o CTR se comporta qualitativamente como aperda inesperada assumida pelo grupo. Portanto, quanto maiorfor o nível de retenção, maior será a perda inesperadaassumida pelo grupo e maior o CTR (Fig. 24).

Caso se introduza um limite às perdas assumidas pelo grupo noprograma de seguros (por exemplo, através de produtos stoploss), o CTR deixará de ser sensível aos movimentos nos níveisde retenção acima do patamar a partir do qual se alcança tallimite (Fig. 25).

b) Inclusão do custo de capital na fórmula do CTR:

Incluir o custo de capital na fórmula do CTR tem como efeito aredução do montante do CTR (dado que entra ponderando aperda inesperada), embora não altere seu comportamentoqualitativo (Fig. 26).

c)Inclusão do fator de endurecimento do prêmio na fórmula doCTR:

Incluir um fator de endurecimento faz com que o prêmio purotenha um comportamento não proporcional diante devariações do nível de retenção e limite. O efeito que se observaé um aumento do CTR em níveis de retenção baixos e umadiminuição em níveis de retenção altos (Fig. 27).

Se o fator de endurecimento depender tanto do nível deretenção quanto do limite, observa-se que (Fig. 28):

Figura 25. Sensibilidade do CTR ao nível de retenção e ao limite

Figura 24. Sensibilidade do CTR ao nível de retenção

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Figura 27. Efeito do fator de endurecimento do prêmio sobre o CTR

Figura 28. Efeito conjunto do fator de endurecimento do prêmio e WACC sobre o CTR

Figura 26. Efeito do WACC sobre o CTR

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ocorridos e impacto acumulado em danos materiais e lucroscessantes.

A sinistralidade apresenta uma média histórica de 74 milhõesde euros, com um perfil de perdas brutas e líquidas ilustradasna Fig. 30. À primeira vista, pode-se observar que as perdaslíquidas não estão submetidas às mesmas flutuações que asinistralidade, do que se deduz que o programa de seguroconsegue manter estáveis as perdas para a empresa em umamagnitude aproximada de 34 milhões de euros.

Programa de seguros: o grupo dispõe de um programa deseguros (Fig. 31) para cada um dos três países nos quais operae para cada um dos ramos que serão analisados neste exemplo:DM e PB.

Não se considerou informação especializada nem setorial nesteexemplo.

Seguindo os passos da metodologia descrita, realizou-se umafiltragem dos eventos para identificar aqueles que devem serexcluídos da análise (atípicos, dados com valores negativos,dados com datas fora do quadro temporal selecionado para aanálise, etc.).

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- Nos cenários de seguro onde o nível de retenção é baixo eo limite é alto (região 1), o CTR é elevado, comoconseqüência de um prêmio elevado (por serem cenáriosde transferência quase total do risco).

- O CTR ideal encontra-se em cenários de seguro onde onível é intermediário e o limite é alcançado (região 2).

Exemplo de aplicação

A seguir, mostra-se um exemplo de aplicação da metodologiano caso de uma empresa do setor elétrico. O objetivo desteexemplo é a modelagem do ramo de danos materiais (DM) eperda de benefício (PB) para o conjunto das atividades degeração e distribuição durante um período de cinco anos.

Os dados de partida são os seguintes36:

Sinistralidade histórica: (Fig. 29) mostra a sinistralidadehistórica acumulada nos cinco anos de estudo comdetalhamento por tipos e números de ativos, sinistros

Figura 29. Sinistros e impacto por tipo de ativo Figura 30. Sinistralidade histórica em um período de 5 anos consecutivos

Figura 31. Estrutura do programa de seguros por tipo de ativo e país

36Dados reais modificados para assegurar a confidencialidade da informação.

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39

Uma vez que o registro de dados tenha sido filtrado e oseventos nele colhidos apresentem as características corretaspara realizar a análise, definem-se os agrupamentos de eventosna ORC.

Seleção de ORC

As ORC são definidas mediante o agrupamento de eventoscom características similares (atendendo a sua frequência egravidade). Os eventos são classificados em função do tipo deatividade e do tipo de risco.

A tabela 4 mostra a matriz com os tipos de atividades e deriscos definidos, bem como o número de eventoscompreendidos no cruzamento de cada um destes tipos.

Foi realizada uma análise da homogeneidade estatística dasséries e decidiu-se:

4 O tratamento conjunto dos danos materiais e lucroscessantes ocasionados por incidentes para cada uma dasatividades de geração (ORC 1, 2, 3 e 4).

4 O tratamento conjunto de todos os danos materiais ematividades de distribuição, independente de serem redeselétricas ou subestações (ORC 5), e de forma análoga atodos os lucros cessantes (ORC 6).

4 O tratamento independente das agressões nas redeselétricas (ORC 7).

4 O tratamento conjunto de todos os desastres naturais,independentemente do ramo de negócio (ORC 8).

Tabela 4. Agrupamento de ORC (com número de eventos)

Deste modo, são oito as ORC definidas (Tabela 5).

Premissas do modelo e tratamento de dados

Uma vez definidas as ORC, realiza-se uma análise dos dadospara verificar o cumprimento das premissas do modelo. Asanálises devem ser realizadas para cada ORC, de tal maneiraque se alguma delas não passar nos testes, deverá sermodificada, o que poderá influenciar na agrupação de dadospara o resto.

Através da análise exploratória de dados se comprova ocumprimento efetivo das premissas do modelo (Fig. 32).

Neste exercício definiremos o custo total do risco como:𝐶𝑇𝑅 = 𝑃𝐸Resseguro + 𝑃𝐸Grupo + 𝑃𝐼Grupo (𝛼)

Tabela 5. ORC definidas

Figura 32. Resultados da análise de premissas do modelo

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Esta expressão reúne:𝑃𝐸Resseguro: perda esperada de resseguro, que é umaaproximação do prêmio puro do programa de seguros.𝑃𝐸Grupo: perda esperada do grupo.𝑃𝐼Grupo (𝛼): perda inesperada do grupo.

Obtenção de distribuições e frequências

Para o ajuste da distribuição de frequências dos dadosempíricos, é necessário levar em conta dois aspectos: a própriadistribuição de frequência escolhida e o agrupamentotemporal dos dados de cada ORC.

Para a escolha de uma combinação de uma distribuição defrequência e um agrupamento temporal, realiza-se o teste chi-quadrado, que fornece um p-valor para cada combinação. Esteindicador mostra qual é a distribuição que melhor se ajusta aosdados da amostra; em princípio, a melhor escolha é acombinação que apresente um p-valor maior (Fig. 33).

Além disso e de maneira complementar à análise do p-valordas diferentes distribuições, pode-se realizar uma comprovaçãodo ajuste gráfico da distribuição empírica com relação à teórica(Fig. 34). Esta análise é de grande utilidade quando mais de umcruzamento de distribuição e agrupamento temporal mostramum p-valor elevado.

Segue-se um processo similar para todas as ORC definidas eseleciona-se a distribuição que melhor modele a frequência doseventos de cada uma delas.

As distribuições habitualmente utilizadas para a modelagem dafrequência discriminam se a variabilidade do número desinistros apresenta uma volatilidade superior à média (binomialnegativa), inferior (binomial) ou similar (Poisson). Nota-se queas distribuições binomial e binomial negativa são

complementares e não é possível o ajuste simultâneo deambas.

A escolha de uma distribuição de frequência, portanto, nãocondiciona os valores médios do modelo de sinistralidade, massim os eventos extremos ou as perdas inesperadas.

Obtenção de distribuições de gravidade

O passo seguinte consiste em realizar o ajuste das distribuiçõesde gravidade. Neste exemplo, foi realizada a análise estatísticapara dez tipos de distribuições teóricas a partir dos montantesde perda dos eventos de cada ORC.

Uma vez obtidos os parâmetros destas distribuições, pode-secomparar a idoneidade de cada uma mediante testes dequalidade de ajuste. Neste caso, foram feitos dois testes:Kolmogorov-Smirnov (KS) e Kuiper (K) e, no caso da ORC 1, foiescolhida a distribuição lognormal (Figs. 35 e 36).

Na Tabela 6 são mostrados os resultados das distribuiçõesescolhidas para cada ORC.

Obtenção de distribuição de perdas brutas

Após a seleção das distribuições de frequência e gravidadepara cada ORC, realiza-se a convolução de ambas as funções.Esta convolução proporciona a distribuição de perdas simplespara cada ORC, da qual se poderão estimar as perdas esperadase inesperadas em nível individual; a seguir, realiza-se aagregação das distribuições de perdas simples para obter adistribuição de perdas agregada (Fig. 37).

Estes resultados representam a perda bruta que, de acordocom o modelo, a empresa sofrerá em suas atividades degeração e distribuição pelos riscos considerados.

É possível observar que a perda esperada é deaproximadamente 74,3 milhões de euros e que a perdainesperada, com um nível de confiança de 95%, alcançaria os107,2 milhões de euros na ausência de diversificação; ou seja,em um período de 20 anos se esperaria chegar a sofrer perdas

Figura 33. Ajuste de distribuições de frequência da ORC 4

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Figura 35. Ajuste de distribuições de gravidade da ORC 1

Figura 34. Ajuste gráfico da distribuição empírica com relação à teóricaa

Figura 36. Função de probabilidade acumulada – Distribuição Lognormal

Figura 37. Distribuição de perdas agregada

Tabela 6. Ajuste de distribuições para cada ORC

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superiores a esta quantidade. No entanto, considerando adiversificação existente entre as ORC, a perda inesperadaalcançaria os 85,3 milhões de euros; ou seja, obtém-se umefeito de diversificação de 22 milhões de euros. Este efeito,conhecido como “efeito de carteira”, origina-se naindependência existente entre a sinistralidade das diferenteslinhas de negócio.

Partindo da calibração efetuada, pode-se analisar o efeito queteria o programa de seguros atual sobre as perdas retidas etransferidas. Para isto, foi seguido um processo de simulação de100.000 cenários como o descrito na metodologia. Comoresultado, foram obtidas as distribuições de perdas assumidaspela empresa e pelo seguro. As perdas da empresa sãodivididas, por sua vez, nas assumidas pela cativa e por cada umdos negócios (Fig. 38; cifras em milhões de euros).

Pode-se observar que, com o programa de seguros atual (comstop loss) a perda bruta esperada sobe para 76,2 milhões deeuros, dos quais 41,4 seriam transferidos ao resseguro e 34,8seriam retidos pelo grupo. Além disso, destes 34,8 milhões deeuros, 15,9 seriam assumidos pela empresa e 18,9 pela cativa.

O prêmio puro, como já foi definido, seria a perda esperadatransferida ao resseguro. Portanto, o prêmio do programa deseguros analisado (com stop loss) alcançaria um montante de41,1 milhões de euros.

Por poder dividir o efeito que o programa de seguros temsobre cada uma das atividades de negócio, pode-se estimar oprêmio puro devido a cada um deles. No caso do exemplo,observa-se que o negócio de geração contribui com 39,3milhões de euros para o montante do prêmio puro total doprograma. Esta divisão permite identificar o peso ou a

Figura 38. Simulação de perdas da empresa

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Figura 39. Otimização do CTR

contribuição de cada negócio para a sinistralidade do grupo eestabelecer um mecanismo para a definição de custos do riscobaseado em mecanismos de mercado (ou seja, a transferênciado custo dos prêmios cotados segundo sua contribuição para asinistralidade).

O risco admissível vem determinado, como foi indicadoanteriormente, pelo apetite de risco da empresa. Para efeitosde simplificação do exemplo, foi definido o apetite de riscocomo um limite às perdas máximas por risco operacional de100 milhões de euros, com um nível de confiança de 95%.

Observe-se que no programa de seguros atual as perdasassumidas pela empresa, tanto pelo dedutível do negócioquanto pela retenção da seguradora cativa, subiriam a 57,7milhões de euros (87,7 milhões de euros sem stop loss). Comum nível de confiança de 95%, conforme se viu anteriormente(Fig. 38), a empresa se encontraria em um dos possíveiscenários de seguro admissíveis.

Os cenários de seguro que levem as perdas para a empresa aum patamar acima de 100 milhões de euros não seriamadmissíveis, como por exemplo um cenário de nãotransferência do risco ou não cobertura. que situaria as perdasem 161,4 milhões de euros, como se pode ver na cifra de VaRtotal na Fig. 38.

Ou seja, a definição da região admissível estabelece os cenáriosde seguro que (1) são compatíveis com as políticas e com oapetite de risco da empresa e (2) correspondem a programasde seguros acessíveis no mercado. Dentro desta região factível,o cenário mais eficiente de seguro será aquele em que adiferença entre prêmio teórico e prêmio cotado seja menor(minimiza-se, portanto, a ineficiência existente no custo do

prêmio originado pela própria aversão ao risco do segurador,pelos custos comerciais, etc.).

Caso se realizem movimentos nas condições de franquia elimite do programa de seguros, será possível analisar o efeitoque estes movimentos teriam sobre o custo custo total do riscoe chegar a determinar o cenário de seguro ideal. Na Fig. 39mostram-se os resultados de aumentar e reduzir em intervalosde 20% os níveis de franquia e stop loss.

Neste caso, observa-se que o custo total do risco (CTR) mínimoseria obtido em um cenário de aumento da franquia de cercade 60% e de redução do stop loss em aproximadamente 60%.Ou seja, em termos de CTR seria benéfico incrementar o nívelde retenção ao mesmo que se diminui o stop loss. Este cenáriodeixaria algumas perdas para o grupo de 52 milhões de euros a95% de confiança, encontrando-se dentro da região admissívele, portanto, dentro da política de apetite de risco.

O cenário ideal de seguro neste exemplo corresponde ao nívelmais baixo de de stop loss, uma vez que a definição de custo derisco é proporcional ao percentil ou perdas inesperadas que aempresa pode enfrentar. Ou seja, a soma de perdas esperadasretidas e cedidas ao mercado (esta última é a aproximação aoprêmio teórico) é uma constante independente do programade seguros e corresponde à perda esperada da carteira deativos. Portanto, o CTR é proporcional às perdas inesperadas oupercentil e é diretamente afetado pelo nível de stop losscontratado no caso de se ativar (quando o percentil de perdasanuais supera o nível de stop loss).

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Conclusões do caso

O caso prático, necessariamente simplificado, permite ilustrarde forma concreta como as metodologias expostas ao longo dodocumento contribuem para definir objetivos e quantificar onível e o perfil de risco operacional segurável e avaliar oprograma de seguros mais adequado para uma companhia.Adicionalmente contribui com informações úteis para a suanegociação, tal como o custo estimado do prêmio ou amedição da possível "ineficiência" em sua cotação. O processoseguido no exemplo prático permite, portanto, oferecerrespostas à algumas perguntas chave na gestão de este risco,tais como as seguintes:

4 As perdas a que a companhia está exposta. Ou seja, o nívelde risco associado aos ativos e à atividade de negócio. Estasperdas são quantificados através da modelagem dadistribuição das perdas brutas (antes da implementação deum programa de seguros) em determinados cenários(diferentes percentis da distribuição para medir a exposiçãoà perdas a cada ano ou a cada "x" anos). No exemplo, asperdas potenciais ascenderiam a aproximadamente161.000.000 de euros a cada 20 anos (percentil 95 dadistribuição), contra perdas brutas anuais esperadas de 76milhões de euros.

4 A contribuição de cada negócio para o risco total do Grupo.A contribuição do perfil de risco da companhia de cadauma das atividades de negócios ou o conjunto de ativos, oque permitiria uma alocação de custos objetiva e apriorização das ações de renovação ou melhoria dos ativose sua operação e manutenção. No exemplo (Figura 38), osativos de geração estariam contribuindo comaproximadamente 85% das perdas esperadas ousinistralidade ao Grupo, em comparação com 15% dascontribuições dos ativos de distribuição. Dentro dos ativosde geração, ciclos combinados seriam responsáveis porcerca de 50% da sinistralidade do Grupo. Em termos de

perdas potenciais (a cada 20 anos) a contribuição deprodução e distribuição é, respectivamente, 93% e 18%(112% em conjunto) e permite observar que os ativos degeração e distribuição apresentam entre eles um efeitodiversificador de 12% (a perda potencial do grupo é 12%menor do que a soma das perdas potenciais para cadagrupo de ativos).

4 O custo razoável do prémio associado a um determinadoprograma de seguros; em particular do prêmio teórico oupuro, que constitui o primeiro dos três componentes docusto do prêmio (que se complementa com o custocomercial ou de gestão e uma margem por aversão ao riscoda seguradora). Este prêmio puro é estimado a partir dafunção de perdas resultantes como a diferença entre asperdas brutas e líquidas. No exemplo, é cerca de 41 milhõesde euros.

4 O custo total do risco para a companhia. Isto quer dizer, asoma do custo proveniente das perdas esperadas, dosprêmios pagos e perdas potenciais. No exemplo 35, 41 e 58milhões de euros, respectivamente.

4 As formas de melhoria e otimização do programa de segurovigente. Isto quer dizer, as alavancas de gestão paraotimizar não só os prêmios pagos, mas também o custototal de risco. No exemplo (note que trata de dadosfictícios) um aumento da franquia e redução do stop loss naordem de 60% reduz o custo total de risco em 4%,passando de 102 a 98 milhões de euros.

4 O valor dos produtos de seguros, tais como stop loss. É aquantificação do custo razoável associado a cada um doscomponentes do programa de seguros em função de seuimpacto econômico no perfil de perdas da companhia. Écalculada como a variação no custo total de risco do Grupoassociado com a sua inclusão no programa. Neste exemplo,as Figuras 25 a 28 mostram aquelas combinações de

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37Neste sentido, tanto o ajuste de freqüências quanto o de gravidades devecontemplar a existência de fatores de escala para incorporar no perfil de riscomudanças na carteira de ativos originadas por invertimentos, desinvestimentos,mudanças em tecnologia ou a introdução de medidas corretivas. Por exemplo, aaquisição de uma rede de distribuição aumentará a freqüência dos sinistros, aindaque talvez não sua gravidade, e o aumento de potência de uma turbina degeração pode supor um aumento na perda de benefício desta perante umsinistro, embora não vá afetar sua frequência.

franquia e de stop loss sendo que este último não temefetividade em termos de redução do custo do risco para acompanhia, tanto que não altera substancialmente as suasperdas potenciais. Esta análise nos permite avaliar aconveniência econômica da modificação das condições doprograma de seguros, distinguindo, por exemplo, aquelesníveis franquia ou stop-loss cuja eficácia na redução dorisco da companhia justifica o seu preço ou aumento doprêmio.

4 A resposta do mercado às mudanças na configuração doprograma de seguros. É a medição do efeito que umamudança nas franquias, valores segurados, etc. têm sobreos prêmios. A existência de componentes na formação deum prêmio adicionalmente às perdas cedidas ao segurador,tais como a sua aversão ao risco ou custos comerciais,introduz incerteza ou ineficiência no custo do seguroenfrentado pela companhia, e esta pode ser medida atravésda diferença entre o prêmio cotado e o prêmio teórico, quevaria ao modificar as condições do programa (dedutíveis -franquias - stop loss).

Adicionalmente, é razoável considerar que o comportamentodo mercado de seguros é muito sensível a alteraçõessignificativas das condições de seguro (por exemplo, umaumento não-linear do prêmio frente a reduções significativasnos níveis de retenção). Portanto, a formulação do custo totalinclui fatores de endurecimento sendo viável estimar a partirde cotações dadas pelo mercado para programas equivalentes,diferenciados unicamente pelo nível de retenção e limite. Esteendurecimento do mercado, o crescimento exponencial dosprêmios frente a variações nos níveis de cessão, pode sercausado por sinistralidade recente, tanto própria como deterceiros, por imaturidade e por desconhecimento do perfil derisco de novas tecnologias, entre outros fatores.

Neste exercício, o comportamento do CTR é determinado pelaativação do limite ou stop loss. Esse comportamento permiteidentificar os níveis de stop loss que não afetam o custo do riscoda companhia e, portanto, onde um aumento do prêmioassociado com um melhor stop loss não justifica o investimentoem termos de redução do risco.

Em relação à disponibilidade de fontes de informação, autilização deste tipo de metodologias não exige a existência deum amplo histórico de eventos, mas permite obter resultadoscom poucas ocorrências. Em tais casos, não é necessário que osagrupamentos de eventos em ORC atinjam um elevado nívelde granularidade; é suficiente realizar agrupamentos de altonível (por exemplo, por atividade de negócio e tipo de risco)para alcançar resultados razoáveis. Se não se dispõe de eventossetoriais, como é o caso do exemplo, os resultados damodelagem serão baseados na história recente de eventos dacompanhia, o que por outro lado, costuma ser o inputfundamental utilizado pelas companhias de seguros paradeterminar o prêmio para um determinado programa. Emqualquer caso, a análise pode ser enriquecida por stress-test oude sensibilidade para estimar o risco frente a mudanças nosparâmetros de modelagem através da incorporação de eventoshipotéticos representativos de sucessos similares acontecidosno setor e mudanças no perímetro segurado (por exemplo,devido a desinvestimentos em ativos produtivos37).

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Glossário

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Apólice: contrato que estabelecem o contratante e seguradopelo qual se fixam as condições do seguro.

- Apólice de direito: documento mediante o qual ocontratante transfere o risco ao segurador e sãoestabelecidas as condições do seguro. O segurador, por suavez, transfere o risco à cativa mediante o que se denomina“acordo de fronting”.

Cobertura: elemento básico do seguro que define o objetosegurado, a empresa que adquire o risco (segurador), aempresa que libera o risco (segurado), o capital segurado(limite), o dedutível (franquia) e o nível de cobertura(porcentagem assumida).

Evento: fato que constitui a materialização do risco operacional.Caracteriza-se pela causa que o origina (motivo pelo qualocorre o evento) e o impacto que ocasiona (todas as perdasque não teriam ocorrido se o evento não tivesse acontecido).Todos os impactos ocasionados pela mesma causa de origemse consideram pertencentes ao mesmo evento.

Franquia ou dedutível: montante da perda segurada a cargo dosegurado.

Limite: montante máximo das perdas seguradas cobertas pelaempresa seguradora. Este limite poderá ser, em geral, dediferentes tipos:

- Limite por ocorrência: aplica-se a cada sinistro dentro dacobertura.

- Limite agregado: aplica-se à soma acumulada de sinistrosda cobertura de maneira que se no n-ésimo sinistro asperdas acumuladas por sinistros do mesmo tipo ultrapassaro limite, a seguradora ficará isenta de cobrir o excesso.

Prêmio: custo que o contratante paga ao segurador por assinara apólice. Compõe-se de:

- Prêmio puro: custo real de risco assumido pelo segurador,baseado na perda esperada.

- Encargo ou add-on: montantes somados ao prêmio puropor conceitos como gastos de administração, margemcomercial, gastos de gestão, etc.

Recuperação: montante da perda bruta que não constituifinalmente perda para a empresa. A recuperação é um fatoindependente da perda original. Habitualmente consideram-sedois tipos de recuperações na indústria: garantias (montante daperda coberto pelo fabricante do ativo) e seguros (montante daperda coberto por seguros, sujeito às condições da apóliceassinada previamente).

Risco operacional: risco de sofrer perdas devido à inadequaçãoou a falhas dos processos, pessoas ou sistemas internos oudevido a acontecimentos externos. Habitualmente inclui-se orisco legal e de conformidade normativa e excluí-se o riscoestratégico e de reputação. Na indústria se diferencia entre:

- Risco segurável: risco operacional suscetível de sersegurado e, portanto, de ser transferido parcial outotalmente a um terceiro, geralmente em troca dopagamento de um prêmio. Compreende os danos emativos de uma empresa e os danos a terceiros causados noexercício de sua atividade.

- Risco não segurável: parte do risco operacional relacionadoa falhas nos processos ou sistemas.

Seguradora cativa: empresa de seguro e resseguro pertencentea um grupo empresarial que tem como missão a cobertura dosriscos de tal grupo.

Stop loss: produto que limita as perdas totais viáveis de seremassumidas pela cativa a um determinado montante.

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