gestão pública empreendedora

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 9 Finanças em linha – Março 2003  ARTIGO – MATEUS BANDEIRA Gestão pública empreendedora  variadas para o desenvolvimento de lideranças e for- mação de gestores públicos como agentes de mudan- ça. E essa reforma interessa não apenas aos Governos, mas a toda sociedade civil e ao setor empresarial, já que a melhoria da eficiência e o aperfeiçoamento da capacidade de gestão do aparelho estatal é um fator crucial na promoção e condução do desenvolvimento econômico, único caminho para a redução da desigual- dade social. Afinal, a reduç ão do déficit público e a produção de superávit pelos Governos depende da dis- ciplina fiscal, que por sua vez pressupõe boa gestão, eliminação de despesas desnecessárias e aumento da produtividade dos servidores. Um exemplo importante da crescente preocupação e interesse do setor privado na modernização da capa- cidade de gestão estatal é o novo programa de bolsas de estudos da Fundação Estudar (www.estudar.org.br), uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é con- ceder bolsas de estudos a jovens brasileiros que te- nham claro potencial de liderança e de multiplicação de suas ações na sociedade. O programa lanç ado este ano é exclusivo para funcionários públicos concursa- dos, que tenham sido aprovados em cursos de pós- graduação em administração pública, em escolas de primeira linha n o exterior. O objetivo é ajudar a for- mar gestores de alto nível, que são ou serão respon- sáveis pelo planejamento e pela execução das políti- cas públicas do País. Iniciativas como essa representam um avanço im- portante em relação à percepção do setor empresarial sobre a necessidade de uma gestão pública eficiente, em linha com os desejos da sociedade. Programas como o da Fundação Estudar precisam ainda serem comple- mentados pela ação do Estado e, não menos importan- te, encontrar profissionais altamente motivados e im- buídos de um vigoroso espírito de serviço público, igual- mente dispostos a investir na sua carreira. Se o Governo do Estado for capaz de adotar essa idéia e cumprir seu papel na elaboração de uma políti- ca estratégica de formação de executivos de alto nível e com visão empreendedora para a Administração Pú- blica Estadual, estará viabilizando a modernização da capacidade de ação e gestão do Estado gaúcho e das finanças públicas. Mateus Bandeira é Agente Fiscal do Tesouro do Estado, Graduado em Proc. Dados, Pós-graduado em Finanças Corporativas pela FGV e Gestão de Sistemas de Informação pela UFRGS e b olsista da Fundação Estudar cursando o MBA da Univers idade Wharton na Pennsylvania.  A formação de uma nova mentalidade empreende- dora no Governo é um dos elementos essenciais para o desenvolvimento de uma administração pública efici- ente, com foco em resultados e orientada para a pres- tação de serviços de qualidade que atendam as deman- das da sociedade contempor ânea. E o que a sociedade deseja é simples: governos que façam mais, melhor e custem menos. A pr ática de boa governança pública tem sido, inclusive, um tema atual nos debates sobre a reforma administrativa e gerencial do Governo Federal nos últimos anos. Os efeitos da globalização contribuem para uma cer- ta pressão pela modernização da gestão pública. Por outro lado, o uso cada vez mais intensivo da tecnologia da informação nos processos, aliado a crescente des- centralização administrativa, são claramente alguns dos elementos básicos para um governo do futuro. Entretanto, a construção desse novo paradigma de gestão pública empreendedora e voltada para resulta- dos depende, fundamentalmente, da qualificação pro- fissional das carreiras de estado e da formação de ges- tores e lideranças capazes de mobilizar os quadros de servidores em torno de objetivos comuns, favorecendo uma visão compartilhada da necessidade de mudança e alavancando, assim, a modernização da máquina pú- blica. Isso implica a intervenção do Estado no desen-  volvimento de estratégias para a seleção e formação de gestores, bem como na criação de um ambiente pro- pício e favorável à mudança, baseado menos na hierar- quia e mais na liderança, engajamento e meritocracia. Sob pena de se tornar cada vez menos atrativo em relação ao setor privado, o Estado precisa incentivar de forma sistemática a qualificação profissional, através de programas regulares de educação continuada, seminá- rios para troca de experiências, programas de especiali- zação e atualização profissional em áreas de gestão pu- blica, planejamento governamental, gestão da tecnolo- gia de informação e, mesmo, em programas de MBA, que podem oferecer uma formação de gestão mais abrangente e difundir uma abordagem de “mercado”, conceitos de “business” e instrumentos de gestão ino-  vadores para executivos de alto nível da admini stração publica. Este assunto vem ganhando importância cres- cente em diversos paises, que têm adotado estratégias 34385_p9a16.P65 14/03/03, 17:16 9

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9Finanças em linha – Março 2003

 ARTIGO – MATEUS BANDEIRA 

Gestão pública

empreendedora

 variadas para o desenvolvimento de lideranças e for-

mação de gestores públicos como agentes de mudan-

ça. E essa reforma interessa não apenas aos Governos,

mas a toda sociedade civil e ao setor empresarial, já

que a melhoria da eficiência e o aperfeiçoamento da

capacidade de gestão do aparelho estatal é um fator

crucial na promoção e condução do desenvolvimento

econômico, único caminho para a redução da desigual-

dade social. Afinal, a redução do déficit público e a

produção de superávit pelos Governos depende da dis-

ciplina fiscal, que por sua vez pressupõe boa gestão,

eliminação de despesas desnecessárias e aumento da

produtividade dos servidores.

Um exemplo importante da crescente preocupação

e interesse do setor privado na modernização da capa-

cidade de gestão estatal é o novo programa de bolsas

de estudos da Fundação Estudar (www.estudar.org.br),

uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é con-

ceder bolsas de estudos a jovens brasileiros que te-

nham claro potencial de liderança e de multiplicação

de suas ações na sociedade. O programa lançado este

ano é exclusivo para funcionários públicos concursa-

dos, que tenham sido aprovados em cursos de pós-graduação em administração pública, em escolas de

primeira linha no exterior. O objetivo é ajudar a for-

mar gestores de alto nível, que são ou serão respon-

sáveis pelo planejamento e pela execução das políti-

cas públicas do País.

Iniciativas como essa representam um avanço im-

portante em relação à percepção do setor empresarial

sobre a necessidade de uma gestão pública eficiente,

em linha com os desejos da sociedade. Programas como

o da Fundação Estudar precisam ainda serem comple-

mentados pela ação do Estado e, não menos importan-

te, encontrar profissionais altamente motivados e im-

buídos de um vigoroso espírito de serviço público, igual-

mente dispostos a investir na sua carreira.Se o Governo do Estado for capaz de adotar essa

idéia e cumprir seu papel na elaboração de uma políti-

ca estratégica de formação de executivos de alto nível

e com visão empreendedora para a Administração Pú-

blica Estadual, estará viabilizando a modernização da

capacidade de ação e gestão do Estado gaúcho e das

finanças públicas.

Mateus Bandeira é Agente Fiscal do Tesouro do Estado,

Graduado em Proc. Dados, Pós-graduado em Finanças

Corporativas pela FGV e Gestão de Sistemas de Informação

pela UFRGS e bolsista da Fundação Estudar cursando oMBA da Universidade Wharton na Pennsylvania.

 A formação de uma nova mentalidade empreende-

dora no Governo é um dos elementos essenciais para o

desenvolvimento de uma administração pública efici-

ente, com foco em resultados e orientada para a pres-

tação de serviços de qualidade que atendam as deman-

das da sociedade contemporânea. E o que a sociedade

deseja é simples: governos que façam mais, melhor e

custem menos. A prática de boa governança pública

tem sido, inclusive, um tema atual nos debates sobre a

reforma administrativa e gerencial do Governo Federal

nos últimos anos.

Os efeitos da globalização contribuem para uma cer-

ta pressão pela modernização da gestão pública. Por

outro lado, o uso cada vez mais intensivo da tecnologia

da informação nos processos, aliado a crescente des-

centralização administrativa, são claramente alguns dos

elementos básicos para um governo do futuro.

Entretanto, a construção desse novo paradigma de

gestão pública empreendedora e voltada para resulta-

dos depende, fundamentalmente, da qualificação pro-

fissional das carreiras de estado e da formação de ges-

tores e lideranças capazes de mobilizar os quadros de

servidores em torno de objetivos comuns, favorecendouma visão compartilhada da necessidade de mudança

e alavancando, assim, a modernização da máquina pú-

blica. Isso implica a intervenção do Estado no desen-

 volvimento de estratégias para a seleção e formação

de gestores, bem como na criação de um ambiente pro-

pício e favorável à mudança, baseado menos na hierar-

quia e mais na liderança, engajamento e meritocracia.

Sob pena de se tornar cada vez menos atrativo em

relação ao setor privado, o Estado precisa incentivar de

forma sistemática a qualificação profissional, através de

programas regulares de educação continuada, seminá-

rios para troca de experiências, programas de especiali-

zação e atualização profissional em áreas de gestão pu-

blica, planejamento governamental, gestão da tecnolo-gia de informação e, mesmo, em programas de MBA,

que podem oferecer uma formação de gestão mais

abrangente e difundir uma abordagem de “mercado”,

conceitos de “business” e instrumentos de gestão ino-

 vadores para executivos de alto nível da administração

publica. Este assunto vem ganhando importância cres-

cente em diversos paises, que têm adotado estratégias

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