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FACULDADE DE EDUCAÇÃO GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO PROFA. DRA. CRISTINA LÚCIA MAIA COELHO CAROLINA DALTOÉ FERNANDO ALMEIDA THAIS VALLI LEONARDO MOTTA VALNEL GOMES TRANSTORNO DE DÉFCIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

PROFA. DRA. CRISTINA LÚCIA MAIA COELHO

CAROLINA DALTOÉ FERNANDO ALMEIDA

THAIS VALLI LEONARDO MOTTA

VALNEL GOMES

TRANSTORNO DE DÉFCIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

NITERÓI / RJ – 2017

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TRANSTORNO DE DÉFCIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)

Trabalho apresentado à Faculdade de

Educação da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial da

avaliação da disciplina Psicologia da

Educação.

Prof.ª Dr.ª CRISTINA LÚCIA MAIA COELHO

NITERÓI / RJ– 2017

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RESUMO

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH – é uma desordem

neurobiológica que afeta o desenvolvimento de algumas partes do cérebro, o que reflete em

uma deficiência de dopamina nos receptores e acarreta comportamentos impulsivos,

desatenção e diversas dificuldade escolares e sociais decorrentes disso que vão desde

fracassos escolares à inclinação ao abuso de drogas. Apesar de todo o ceticismo que cerca o

transtorno os estudos científicos têm conseguido identificar cada vez mais evidências da

existência do TDAH nas áreas da saúde e educação. No entanto o grande reconhecimento da

doença pode se apresentar como uma faca de dois gumes, ao mesmo tempo que, apesar de ser

amplamente reconhecida, gera possibilidade de falsos positivos e medicalizações indevidas.

Neste cenário, há participantes fundamentais que podem esclarecer características e auxiliar

em identificações mais exatas, sendo eles a Neurociência, a família e a escola.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................5

2. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO....................................................................6

3. FUNDAMENTOS NEUROLÓGICO.............................................................................7

4. EVOLUÇÃO E IMPACTO DO TDAH..........................................................................9

5. TRATAMENTO.............................................................................................................11

5.1. FARMACOLÓGICO………………………………………………………………. 11

5.2. PSICOSSOCIAL……………………………………………………………….…... 12

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................13

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1. INTRODUÇÃO

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) pode ser definido

como uma síndrome neurocomportamental caracterizada por padrão persistente de desatenção

e/ou hiperatividade-impulsividade. Barkley (1998) o define como um transtorno do

desenvolvimento do autocontrole, da capacidade de persistência da atenção em tarefas de

baixa motivação, do controle de impulsos e inibição do comportamento e do nível de

atividade. Portanto, o TDAH é marcado por um nível inadequado de atenção em relação ao

esperado para a idade - trata-se, portanto, de um distúrbio do desenvolvimento - gerando

déficits motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais.

O TDAH é um problema psiquiátrico diagnosticado majoritariamente na infância,

sendo definido de acordo com a presença de três principais sintomas: hiperatividade,

impulsividade e desatenção. É um dos transtornos mais comuns em crianças e adolescentes,

afetando cerca de 2 a 12% das crianças mundiais em idade escolar,sendo que em indivíduos

menores de 18 anos, a prevalência é de 5,29%.

A maior parte dos indivíduos apresentaram a doença na infância. Estes indivíduos

continuam com a patologia durante a vida adulta; mas na maior parte dos casos, os sinais

tendem a desaparecer com o tempo, só permanecendo aqueles relacionados ao déficit de

atenção (SWANSON et al., 1998a).

A maior prevalência de TDAH se dá em pessoas do sexo masculino durante a

infância, porém o número de mulheres que tende a continuar com a doença na vida adulta é

maior que o de homens (BIEDERMAN, 2003).

Esta patologia envolve sérias questões sociais, visto que traz aos portadores certos

desafios no que dizem respeito ao aprendizado e à convivência. Crianças com essa doença

apresentam, geralmente, um desempenho acadêmico reduzido e dificuldades de interação, o

que acaba gerando certa rejeição no ambiente escolar e social.

As consequências desse transtorno resultam em prejuízo educacional, profissional

e risco aumentado de desenvolvimento de outras doenças psiquiátricas, além de uma maior

busca por drogas de abuso como o metilfenidato ou psicoestimulantes ilícitos, como a cocaína

(BIEDERMANN, 2003).

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2. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO

O TDAH pode ser encontrado em três formas distintas: um quadro mais voltado para o

sintoma de desatenção, que dentre outras características, o paciente se distrai com facilidade,

esquecendo atividades diárias, sendo predominante em meninas. Uma segunda forma, típica

de meninos, mostra sintomas de hiperatividade e impulsividade mais evidentes, nesse caso, a

pessoa manifesta grande inquietação. Um terceiro tipo combina desatenção, hiperatividade e

impulsividade. Além disso, conforme o grau de comprometimento da doença, esse distúrbio

pode ser classificado como leve, moderado ou grave (DSM-V-TR, 2013).

Figura 1: Características do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). O TDAH pode se manifestar de três formas

distintas sendo elas, grupos de pacientes com sintomas evidentes de desatenção; um outro extremo que mescla hiperatividade e

impulsividade; e um terceiro tipo que combina os três sintomas. Regiões correlacionadas com o TDAH incluem o Córtex pré-frontal,

Núcleos da base e Cerebelo. Os neurotransmissores envolvidos com a doença podem ser modulados por medicamentos como Atomexetina,

Metilfenidato, ou Fluoxetina, por exemplo. Extraído de PEREIRA, 2013. Modificado por VALLI, T.R.

A impulsividade, que é uma das principais características dos indivíduos portadores de

TDAH, manifesta-se por impaciência, precipitação, dificuldades em ouvir e seguir instruções.

Essa particularidade também pode ser entendida como uma desinibição comportamental

(BARKLEY, 1998), resultante de um desbalanço na transmissão neuroquímica glutamatérgica

e/ou GABAérgica.

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Em suma, para o pensamento científico predominante, o que determina o TDAH é o

defeito inibitório cerebral que impede o indivíduo de focalizar a atenção e sustentá-la para

atingir uma recompensa a longo prazo. O comportamento do indivíduo afetado é imediatista,

ele não consegue adiar seus impulsos e necessidades imediatas tendo em vista ganhos futuros.

A Teoria do Desenvolvimento Dinâmico enuncia o TDAH como deficiência no

processo de extinção de comportamentos, o que provoca comportamentos em excesso

(denominados como hiperatividade) e aumento na variabilidade comportamental. Para essa

teoria, o TDAH caracteriza-se fundamentalmente como um transtorno da motivação, isto é, os

portadores sofrem de falta de motivação intrínseca que lhes permita permanecer em atividades

percebidas como tediosas.

A causa é parcialmente oriunda de deficiência no controle da atenção, além de

deterioração das funções motoras. Contudo, os sintomas de TDAH são desenvolvidos como

conseqüência de processos alterados de reforçamento e de deficiências na extinção de

comportamentos inadequados. Tais sintomas são modificados de forma dinâmica ao longo do

desenvolvimento infantil e da interação da criança com o meio familiar e social.

Profissionais da área de saúde mental da infância e adolescência frequentemente se

deparam com situações clínicas em que o diagnóstico do TDAH deve levar em consideração a

presença de diferentes condições, tais como déficits cognitivos, transtornos do aprendizado ou

transtornos invasivos do desenvolvimento, sendo fundamental o melhor entendimento da

complexidade desses casos para adequada orientação, elaboração da intervenção terapêutica e

avalia- ção da necessidade do suporte educacional e emocional para esses pacientes e suas

famílias.

Portanto, o processo diagnóstico quanto e o tratamento do TDAH são complexos, não

só pelo caráter dimensional dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade, mas também pela

alta freqüência de comorbidades psiquiátricas apresentadas pelos pacientes.

3. FUNDAMENTOS NEUROLÓGICO

Apesar das causas do TDAH ainda não estarem bem estabelecidas, acredita-se na

possibilidade de haver um envolvimento genético com o aparecimento do transtorno. A

literatura demonstra indícios de alterações em genes relacionados com a neurotransmissão de

catecolaminas. Os tratamentos para o TDAH mais eficazes facilitam as ações das

catecolaminas em geral e, principalmente da dopamina (ARNSTEN,2005).

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A dopamina é um neurotransmissor envolvido diretamente com prazer e dependência.

Normalmente, ela permite estímulos relacionados à recompensa para modificar o

comportamento, de maneira que promova a aprendizagem de hábitos adaptativos que

permitam a sobrevivência (SIEGEL et al., 2007). Além disso exerce um papel crucial na

atenção, o que está totalmente correlacionado com os sintomas do TDAH.

Outra ação importante do sistema dopaminérgico é seu controle sobre a atividade

locomotora. A ativação de seus receptores regula o movimento dos indivíduos. Estudos

neuropsicológicos identificaram pela primeira vez deficiências em pacientes com TDAH ao

realizarem tarefas que exigem função do córtex pré-frontal, e estudos da imagem latente

confirmaram insuficiência estrutural e funcional desta área.

Especificamente, as insuficiências nos circuitos do córtex frontal (CF) (figura 2), a

partir da neurotransmissão das catecolaminas, resultam nos sintomas de esquecimento,

distratibilidade, impulsividade, e desorganização. (ARMSTEN, 2005).

Existem diversas regiões cerebrais envolvidas com a sintomatologia do TDAH. De

acordo com a teoria científica atual, a disfunção da neurotransmissão dopaminérgica na área

frontal (pré-frontal, frontal motora, giro cíngulo); regiões subcorticais (estriado, tálamo

médiodorsal) e a região límbica cerebral (núcleo acumbens, amígdala e hipocampo), é o ponto

chave no distúrbio.

Muitos trabalhos vem destacando o Estriado como uma região do cérebro bem

envolvida com a sintomatologia do TDAH. Em questões comportamentais, por ser uma região

relacionada ao controle e planejamento da atividade motora, é um dos alvos para os estudos

dos sintomas de hiperatividade (SCHUBINER, 2002). Pesquisas atuais têm mostrado

alterações nessa região em pacientes com TDAH. Um exemplo é o trabalho de Castellanos et.

al. (2002), no qual foi observado que, crianças com TDAH, apresentavam um volume

diminuído do núcleo caudado (região do Estriado) quando comparado às pessoas normais

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Figura 3: Estriado. O EST é uma região formada pelo

globo pálido, putamen e núcleo Caudado. Extraído de:

McCAFFREY, P., 2014. Modificado por VALLI. T.R.

Figura 2: Córtex frontal. Em vermelho

destaca-se a estrutura do CF. Extraído de

NOVAES, F.C.; 2012.

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É importante destacar também o Córtex pré-frontal, que está envolvido com o controle

da tomada de decisão. Pesquisas recentes demonstraram déficits de dopamina nessa região em

quadros de TDAH (TRIPP e WICKENS, 2009). A Tabela 1 aponta regiões do SNC afetadas

no TDAH e seus respectivos sinais:

Tabela 2: Correlação entre sinais de TDAH e área cerebral envolvida. Extraído de SWANSON et al., 1998b; modificado por PEREIRA,M.S.

4. EVOLUÇÃO E IMPACTO DO TDAH

Como o TDAH é um problema crônico, pode ter um impacto significativo ao longo da

vida, atingindo o desempenho acadêmico e as relações sociais e familiares.

É a partir da entrada da criança na escola que se observa maior consciência do

problema. Talvez, pela dificuldade que a criança apresenta em realizar algumas atividades

solicitadas pela professora, ou até mesmo pela dificuldade em manter-se em grupo . O papel

da escola é fundamental para o desenvolvimento global da criança, incluindo o

desenvolvimento social e de linguagem, principalmente para as que são portadoras de TDAH

Para que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem aconteçam, são necessários

alguns componentes extremamente importantes. A atenção focada é um destes componentes e

pode-se considerar a base de toda uma estrutura de desenvolvimento cognitivo.

No caso de crianças portadoras de TDAH, alguns dos requisitos para o

desenvolvimento da linguagem podem encontrar-se alterados. A atenção é necessária desde

os primeiros momentos da aquisição da linguagem oral, possibilitando-nos inferir que o

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comprometimento desta função venha a interferir de modo decisivo no desenvolvimento da

linguagem, não só nos aspectos relativos ao domínio das estruturas linguísticas, como também

no desenvolvimento das habilidades comunicativas que permitam à criança participar de uma

conversa, falar sobre um assunto ou contar uma história.

De fato, crianças com dificuldades no processamento de linguagem e limitações para

se comunicar cedo se deparam com grandes problemas de relacionamento e cognição. Deste

modo, fica mais claro compreender porque essa patologia está tão presente dentre as queixas

escolares de aprendizagem e de comportamento, para Caliman (2006): “Os sujeitos afetados

não se encaixam nas exigências morais de sucesso e produtividade”

Diversos estudos têm sido realizados sobre a evolução do transtorno ao longo da vida.

Durante algum tempo, acreditou-se que os sintomas desapareciam com a idade. Entretanto,

existem evidências indicando que 30 a 60% dos indivíduos continuam a apresentar sintomas

significativos na vida adulta. Assim, é importante considerar não apenas o impacto do

transtorno na vida acadêmica, mas sobre o funcionamento e bem-estar ao longo da vida para a

criança, adolescente ou adulto com TDAH e sua família.O TDAH pode dificultar os relacionamentos afetivos e sociais, e a impulsividade gerar

rejeições entre colegas de escola e professores. Para Harpin (2005), características negativas

podem estar associadas aos diferentes estágios de desenvolvimento. São acumuladas, podendo

levar a sérios comprometimentos futuros: baixa auto-estima até os sete anos, problemas de

comportamento, atraso na aquisição do repertório acadêmico e déficit em habilidades sociais

até os 11 anos. Dos 13 anos até a idade adulta, comportamento desafiador e opositivo,

comportamento criminoso, expulsão da escola, baixa motivação e dificuldades de

aprendizagem.

É importante ressaltar que estas crianças são frequentemente punidas, fato que acarreta

agressividade e frustração, comprometendo ainda mais seu comportamento. Os pais e/ou

cuidadores, por sua vez, sentem-se desgastados pela necessidade de monitorar diariamente a

criança ou adolescente com TDAH; fator que pode acarretar discussões familiares, acusações,

agressões e ressentimentos (Mattos, 2001).

Estudos realizados com pais destas crianças indicam que estes sentem maior

insatisfação com seus papéis parentais. As mães têm vulnerabilidade aumentada para

depressão e há maior consumo familiar de álcool em função do estresse.

Como outro fator importante dentre os problemas gerados pelo TDAH, existe ainda, a

busca por substâncias psicoativas ilícitas (TAYLOR et al., 1998) (Figura 2), já que, os

indivíduos portadores da doença tendem a procurar a droga cada vez mais cedo, quando

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comparados a pessoas sem a doença. Foi relatado que entre os dependentes de cocaína,

pacientes com TDAH tendem a ser apresentados à droga ainda jovens, apresentando um

abuso precoce mais intenso e frequente da droga .

Figura 2: estatística de coexistência entre indivíduos com TDAH e o abuso de drogas. Extraído de www.cdc.gov, 2009; modificado por PEREIRA, M.S.

O trabalho de Pereira (2003), apesar de controverso aponta para uma associação íntima

entre o uso de MF ( metilfenidato- ritalina) durante a infância e adolescência e a busca por

cocaína em vida adulta.

5. TRATAMENTO

5.1- Farmacológico

O metilfenidato, mais conhecido como Ritalina é o medicamente mais utilizado, em

todo o mundo, para o tratamento TDAH. Atualmente, tal estimulante tem sido utilizados com

grande eficácia. Além do metilfenidato, a atomoxetina, droga bloqueadora seletiva do

transportador de noradrenalina, também tem tido uma contribuição importante no tratamento

da doença (PETERSON et al., 2008).

O número de prescrições de ritalina aumentou significativamente na última década

Esse aumento tem ocorrido devido a um possível aumento no número de diagnósticos

equivocados, já que comumente crianças que são um pouco mais agitadas são repreendidas e

diagnosticadas como portadoras do TDAH (OLFSON et al., 2002)..

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Sendo assim, se torna clara a necessidade de pesquisas clínicas para determinar

precisamente a severidade dos sinais que justifiquem o uso de estimulante como tratamento

para esse transtorno. Isso é importante, visto que esse diagnóstico é realizado cada vez mais

cedo, colocando em risco o desenvolvimento cerebral de crianças que estão iniciando esse

tratamento antes mesmo dos dois anos de idade (ZITO et al., 2000).

A Ritalina, é recomendada em 90% dos casos de TDAH (GOLDMAN et al., 1998), e

tem sido amplamente utilizado contra essa doença desde 1960, apresentando uma eficácia de

70 a 80% em pacientes portadores do distúrbio (WILENS e BIEDERMAN, 1992)

Entre as alternativas para tratamento do TDAH estudadas, a cafeína tem se

apresentado como uma droga promissora para aliviar os aspectos comportamentais e

neuroquímicos do transtorno (PANDOLFO et al, 2012). A cafeína é encontrada em alimentos

como café, chá, chocolate e bebidas derivadas da cola e é capaz de melhorar a atenção em

animais utilizados como modelos para o estudo do TDAH. Além disso, já foi demonstrado

que a cafeína é capaz de causar benefícios cognitivos e de memória em ratos quando utilizada

cronicamente. (PIRES et al., 2010; PANDOLFO et al., 2012)

5.2- Psicossocial

Os tratamentos comprovadamente eficazes para o manejo do TDAH, além da

farmacoterapia, incluem treino de pais em manejo de contingências, aplicação do manejo de

contingências em sala de aula e uma combinação destas estratégias. É importante ressaltar que

nenhum destes tratamentos promove a cura do TDAH, mas sim uma redução temporária dos

sintomas e das dificuldades associadas ao problema (ex. depressão, baixa auto-estima, baixo

rendimento escolar) (BARKLEY, 1998).

Este tipo de acompanhamento deve ser considerado, mesmo na ausência de

comorbidade, quando sofrimento clinicamente significativo é identificado na criança ou

adolescente e família. Para alguns autores, a combinação entre tratamento farmacológico e

psicossocial é a única forma terapêutica que produz a normalização no funcionamento de

crianças com TDAH .

Há necessidade de psicoterapia quando existem problemas secundários considerados

graves e de difícil solução na escola, em casa ou socialmente. Embora nem toda criança

necessite psicoterapia, todo caso de TDAH requer orientação.

A orientação aos pais visa facilitar o convívio familiar, ajudar a entender o

comportamento do portador de TDAH e ensinar técnicas para manejo dos sintomas e

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prevenção de futuros problemas. No Brasil dados da literatura sobre terapia familiar sistêmica

como recurso facilitador do manejo do TDAH são escassos.

Para Desiderio (2007), a orientação escolar visa facilitar o convívio de crianças com

TDAH com colegas e evitar o desinteresse pela escola e pelos estudos, fato comum em

adolescentes portadores de TDAH. O desafio, entretanto, para que esta intervenção ocorra, é

conseguir a participação da escola no tratamento. Propõe-se que a escola deva adotar regras

claras e um programa previsível .

A avaliação do professor deve ser frequente e imediata, e as tarefas devem variar, mas

devem permanecer interessantes ao aluno. Sugere-se ainda, que os professores devem ter o

conhecimento do conflito incompetência X desobediência, e aprender a discernir entre os dois

tipos de problema. Outro aspecto importante, diz respeito às expectativas do professor em

relação à criança, considerando as deficiências e inabilidades resultantes do TDAH.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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