Globalização e Inovação Localizada
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Globalização e Inovação Localizada:
Experiências de Sistemas Locais no Âmbito do Mercosul e Proposições de Políticas de C&T
Globalização e Inovação Localizada
Helena Lastres, José Cassiolato, Cristina Lemos, José Maldonado e Marco Vargas
Nota Técnica 01/98
Rio de Janeiro, março de 1998
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - IE/UFRJ Comissão corrdenadora: José Eduardo Cassiolato Helena Maria Martins Lastres Gustavo Lugones Judith Sultz
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 2
A presente Nota Técnica faz parte do Projeto de Pesquisa Globalização e Inovação
Localizada: Experiências de Sistemas Locais no Âmbito do Mercosul e Proposições de Políticas
de C&T. Esta e as demais notas técnicas do referido projeto serão publicadas como livro no início de
1999, assim como encontram-se disponibilizadas em via eletrônica na homepage do Grupo de Economia
da Inovação do Instituto de Economia da UFRJ: www.race.nuca.ie.ufrj.br/gei/gil.shmtl.
O objetivo central do projeto de pesquisa em referência é o de analisar as experiências de
sistemas locais selecionados no âmbito do Mercosul, visando gerar proposições de políticas de C&T aos
níveis nacional, supra e subnacional. Para tal delineia-se um conjunto de objetivos subordinados, os quais
podem ser divididos em dois grupos principais. O primeiro grupo inclui os objetivos mais gerais
relacionados à necessidade de desenvolver mais aprofundadamente o quadro conceitual empírico e teórico
que norteia a discussão proposta. Neste caso, a análise incluirá o exame de experiências internacionais
(fora do Mercosul), destacando-se quatro tópicos principais de pesquisa:
(i) a dimensão local do aprendizado, da capacitação e da inovação;
(ii) processo de globalização e sistemas nacionais, supra e subnacionais de inovação;
(iii) papel de arranjos produtivos locais e sua capacidade; e
(iv) novo papel e objetivos das políticas de desenvolvimento científico e tecnológico, tendo em
vista as dimensões supranacional, nacional, regional, estadual e local.
Já o segundo grupo de objetivos refere-se à necessidade concreta de (a) identificar e analisar as
experiências específicas com arranjos locais de inovação em países do Mercosul; e (b) discutir soluções
alternativas quanto à adoção de políticas de desenvolvimento - que considerem, não apenas as questões
nacionais e supranacionais de aumento da competitividade e da capacitação industrial e tecnológica no
cenário crescentemente globalizado, mas também se preocupem com os desafios e oportunidades relativos
ao aprendizado nas dimensões sub, supra e nacionais nestes países. Participam do projeto diversas instituições de pesquisa do Brasil, da Argentina e do Uruguai. O
projeto é financiado pela Organização dos Estados Americanos, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil
José E. Cassiolato (IE/UFRJ-Brasil) - Coordenador Geral
Judith Sutz (Universidad de la Republica - Uruguai) - Coordenadora Adjunta
Gustavo Lugones (Universidad de Quilmes - Argentina) - Coordenador Adjunto
Helena M.M. Lastres (PPCI/IBICT/CNPq/UFRJ - Brasil) - Coordenadora Adjunta
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 3
Sumário
1 - Introdução.................................................................................................................................... 1
2 - Globalização.................................................................................................................................2
3 - Globalização tecnológica .............................................................................................................7
4 - Globalização tecnológica e os países em desenvolvimento .......................................................9
5 - A dimensão local do desenvolvimento econômico e da inovação............................................ 14 5.1 - O enfoque do local na economia .................................................................................... 14
5.2 - Contribuições para o entendimento da dimensão local da inovação ................................. 16
5.3 - Sistema local de inovação.............................................................................................. 19
6 - Permanência do local .................................................................................................................21 6.1 - Grandes versus pequenas empresas ............................................................................... 20
6.2 - Global versus local......................................................................................................... 22
7 - Conclusão...................................................................................................................................24
Bibliografia ......................................................................................................................................30
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 1
1 - Introdução
A emergência de um novo paradigma tecnológico e a globalização financeira são os traços mais
marcantes da economia mundial nos últimos 15 anos. Estreitou-se ainda mais a integração da economia
mundial, enquanto a revolução tecnológica se difundia rapidamente, porém de forma desigual, mesmo
entre as principais economias avançadas. Em tal quadro, a competitividade de firmas e nações parece
estar cada vez mais correlacionada à sua capacidade inovativa, cenário onde a mudança tecnológica tem-
se acelerado significativamente e as direções que tomam tais mudanças são muito mais complexas.
No contexto internacional da década de 1990, uma das características principais das intensas
mudanças observadas nos processos produtivos relaciona-se à crescente intensidade de investimentos em
conhecimento. De fato, observa-se uma transformação fundamental no significado relativo dos
investimentos em conhecimento e investimentos em capital fixo. Como uma consequência, em vários
setores os gastos anuais em P&D das empresas líderes já são maiores que seus investimentos em capital
fixo, o que requer uma mudança de perspectiva também fundamental para quem está acostumado a ver o
investimento em capital fixo como o motor do crescimento econômico.
As implicações das atuais transformações para países em desenvolvimento, como o Brasil,
Argentina e Uruguai não são ainda totalmente claras. Tais países, numa expectativa de obter maior
integração com a economia mundial e sob pressão dos países mais avançados e de organismos
internacionais como o FMI e o Banco Mundial, abriram suas fronteiras comerciais, privatizaram suas
empresas estatais e promoveram uma desregulamentação das atividades econômicas particularmente
facilitando o acesso de empresas multinacionais a seus mercados.
A expectativa de que a entrada maciça do capital estrangeiro pudesse acelerar a difusão das novas
tecnologias e a integração das economias locais com um mercado global frustrou-se e a crise social na
região tornou-se mais aguda. A importância da inovação para a competitividade impõe uma discussão
mais aprofundada sobre os processos de desenvolvimento tecnológico na região e o impacto neles da
abertura acelerada e da criação do Mercosul.
Estabeleceu-se desta maneira um projeto de pesquisas nos países da região cujo objetivo central
é o de analisar as experiências de sistemas locais selecionados no âmbito do Mercosul, visando o
entendimento dos sistemas nacionais de tais países e gerar proposições de políticas de C&T aos níveis
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nacional, supra e subnacional. Para tal delineia-se um conjunto de objetivos subordinados, os quais
referem-se à necessidade concreta de (a) identificar e analisar as experiências com arranjos locais de
inovação em países do Mercosul; e (b) discutir soluções alternativas quanto à adoção de políticas de
desenvolvimento que considerem não apenas as questões nacionais e supranacionais de aumento da
competitividade.
Esta primeira nota técnica, resultante da primeira fase do referido projeto de pesquisa, visa iniciar a
discussão proposta focalizando a questão da globalização tecnológica e da dimensão local da inovação do
ponto de vista de países em desenvolvimento.
2 - Globalização
A idéia predominante subjacente ao termo globalização econômica é que se caminharia para um
mundo sem fronteiras, com a predominância de um sistema internacional autônomo e socialmente sem
raízes, onde os mercados de bens e serviços se tornam crescentemente globais. Nesta perspectiva,
sustenta-se que a economia mundial é dominada por “forças de mercado incontroláveis”, cujos principais
atores econômicos são grandes corporações transnacionais que não devem lealdade a nenhum Estado-
nação e que se estabelecem em qualquer parte do planeta, exclusivamente, em função de vantagens
oferecidas pelos diferentes mercados. Assim, apregoa-se que a única forma de evitar se tornar um
perdedor - seja como nação, empresa ou indivíduo - é ser o mais articulado e competitivo possível no
cenário global. Neste quadro, o papel dos Estados nacionais, particularmente da periferia menos
desenvolvida, é descrito como extremamente diminuído senão anulado, só lhes restando a aceitação
incondicional e o azeitamento do crescente processo de desenvolvimento das forças econômicas em
escala global. Paralelamente, a ideologia da globalização tem servido aos governos como bode expiatório,
ao se transferir a responsabilidade pelas vicissitudes econômicas e sociais nacionais para o âmbito das
forças supranacionais, fora de seu controle.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 3
No entanto - e conforme argumentamos em trabalhos anteriores1 - consideramos fundamental ao
iniciarmos a discussão proposta nesta nota técnica salientar o carregado conteúdo ideológico do termo,
particularmente no que se refere à criação e consolidação de um ambiente intelectual ideal para a adoção
de políticas econômicas e sociais favoráveis aos grandes interesses econômicos e financeiros que operam
no plano internacional. A consequência talvez mais grave disto é que, numa realidade supostamente
dominada por forças internacionais avassaladoras e movimentos econômicos irreversíveis, a globalização é
vista como um mito, que rouba a esperança, anula a busca de alternativas e tende a paralisar as iniciativas
estratégicas nacionais 2.
Um importante aspecto recorrentemente salientado na literatura, é, portanto, que a noção de
globalização não apresenta consistência conceitual; tanto no que se refere ao verdadeiro significado do
termo, quanto à extensão do processo em suas várias instâncias, uma vez que seus efeitos e impactos se
fazem sentir de forma diferenciada em diversos segmentos dentro da própria esfera econômica, sejam
estes financeiro, comercial, produtivo, institucional, tecnológico, etc. E para além de diferentes indicadores
(que nos mostram, por exemplo, que cerca de 80% de toda a produção mundial ainda são consumidos
nos países em que são produzidos; e que a poupança doméstica financia 95% da formação de capital),
ressalta como distorção talvez mais flagrante a constatação de aumento nas barreiras ao deslocamento de
pessoas, ou melhor trabalhadores3. Trata-se de fato conhecido que alguns autores inclusive recusam-se a
discutir o assunto, devido, não apenas, à sua inconsistência e ao modismo, mas principalmente ao
conteúdo ideologicamente carregado do mesmo 4.
1 Ver, particularmente, Lastres, Cassiolato, Lemos, Maldonado e Vargas (1997) no qual muitas das idéias discutidas aqui têm origem. 2 Ver, dentre outros, Fiori (1993 e 1995), Countinho (1996), Ianni, (1995 e 1996), Furtado (1996 e 1998) Chesnais (1996), Tavares & Fiori (1997), Carrion & Vizentini (1997), Cordelier (1998), Hirst & Thompson (1998). 3 Benjamin et al. (1998), acrescentam “assim o conceito de globalização não descreve o processo como um todo, mas o faz tão somente de um certo ponto de vista. Junto com a globalização do grande capital, ocorre a fragmentação do mundo do trabalho, a exclusão de grupos humanos, o abandono de continentes e regiões, a concentração da riqueza em certas empresas e países, a fragilização da maioria dos Estados, e assim por diante” (p. 33). 4 Nota-se por exemplo que JeanLojkine (diretor do Ce ntre d’étude des Mouvements Sociaux da École des Hautes Études en Sciences Sociaux, Paris) iniciou sua conferência na UFRJ sobre globalização, em 1996, apontando para estes aspectos e chamando a atenção que, na língua francesa, o termo sinônimo ‘mundialização’ é mais utilizado por diversas razões. Dentre estas inclui-se o fato de o termo globalização ter sido difundido após a queda do Bloco Socialista, quando então alguns autores norte-americanos usariam-no no sentido de difundir a idéia que o mundo (ou melhor o mercado mundial) teria a partir de então se tornado um só, global.
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Contudo, concorda-se com o argumento que poucos são os casos de termos tão utilizados5 e com
tanta força política quanto este passou a possuir neste final de século. Como nos lembram Tavares & Fiori
(1997), Hobsbawn em seu livro A Era do Império (1988) já salientava - à semelhança da globalização - o
caráter ideológico e impreciso que o conceito de imperialismo teve no final do século passado, ao ser
cunhado inicialmente pelos meios jornalísticos políticos transformando-se posteriormente em peça teórica
fundamental da economia política. Assim, se no início imperialismo significava coisas positivas, acabou
adquirindo uma conotação política cada vez mais negativa com o passar do tempo. Desta maneira,
justificam a importância de aprofundar a discussão sobre tal fenômeno: “a história pode estar nos
ensinando que uma crítica séria e consistente da palavra globalização – introduzida pelo jargão
liberal deste final de milênio – talvez possa contribuir para uma melhor compreensão das
transformações da economia capitalista ocorridas a partir da crise dos anos setenta, e dos desafios
enfrentados pela sociedade política mundial na entrada do século XXI” (p. 7-8).
Adicionalmente, destaca-se que apesar da imprecisão do termo e das grandes divergências entre
os diversos estudos, alguns aspectos do atual processo são objeto de relativo consenso entre os diferentes
autores6. Primeiramente aponta-se que, face a um ambiente de mudanças e incertezas, um grande número
de países respondeu aos novos desafios com a adoção de políticas de cunho liberal, as quais atribuem ao
mercado a prerrogativa de prover a auto-regulação econômica. Conforme salientado por vários autores,
essas idéias tornaram-se hegemônicas nos anos 80, sob a liderança dos países anglo-saxônicos e se
propagaram em graus diferentes a diversos países do mundo, incluindo os em desenvolvimento e os ex-
comunistas, resultando sobretudo na diminuição das barreiras nacionais e regionais previamente
existentes7. Assim, abrir, estabilizar, desregular e privatizar tornaram-se as palavras de ordem no âmbito
da maior parte das políticas macroeconômicas implementadas a partir de então.
Em segundo lugar, associado ao desenvolvimento do novo paradigma tecno-econômico,
destaque-se a acelerada difusão das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) que
possibilitaram uma radical ruptura quanto à extensão dos contatos e de trocas de informações possíveis
5 Conforme discutido por Humbert (1995) ao iniciar uma de suas contribuições à discussão do tema globalização, uma análise da progressão do uso destes termos nos revelaria que o número de livros publicados em inglês com o termo global no título, passou de zero em 1950 para 1.766, em 1970, e para 4.496, em 1980. 6 Para uma discussão mais detalhada sobre diferentes contribuições teóricas quanto à definição do conceito, ver Lastres (1997). 7 Ver, dentre outros, Chesnais (1996); Fiori (1993 e 1995); Ianni (1995); Cassiolato (1996).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 5
entre os atores, individuais e coletivos, através da diferenciação e ampliação de sistemas, canais, redes e
organizações de geração, tratamento e difusão de informações. Essas tecnologias, além de possibilitarem a
rápida comunicação, processamento, armazenamento e transmissão de informações a nível mundial a
custos decrescentes, encontram-se na base técnica do que se convencionou denominar ‘revolução
informacional’ a qual vem contribuindo para a conformação de uma nova era, para cuja caracterização
concorrem diferentes designações: sociedade ou economia da informação ou do conhecimento; paradigma
tecno-econômico das tecnologias da informação e comunicação, etc.8.
Assim, a conjugação destes dois fenômenos - o crescente movimento de liberalização e
desregulação dos mercados (sobretudo dos sistemas financeiros e dos mercados de capitais) e o advento
do paradigma das tecnologias de informação - é vista como elemento catalisador do processo de
globalização nas últimas décadas.
Esse novo paradigma inaugurou uma nova dinâmica tecnológica e econômica internacional, com a
substituição paulatina de tecnologias intensivas em capital e energia e de produção estandardizada e de
massa, características do ciclo de desenvolvimento anterior, para as tecnologias intensivas em informação.
Neste novo padrão, o conhecimento torna-se um ativo primordial de competição, ao mesmo tempo que
vêm-se impondo novas formas de organização e interação entre as empresas e entre estas e outras
instituições (incluindo as de ensino e pesquisa) e favorecendo rápidas mudanças nas estruturas de
pesquisa, produção e comercialização. A principal expressão organizacional deste conjunto de mudanças
é a formação de redes de todo o tipo, maximizando o potencial oferecido pelos novos meios técnicos
disponibilizados pelo desenvolvimento e barateamento dos bens e serviços gerados particularmente pelos
setores de informática e telecomunicações.
Como exemplo ao nível meso e microeconômico, destaca-se a formação da empresa rede
(network firm ), que engloba todo o tipo de colaborações e relações inter e intra-firma, intensificando a
montagem e operação de redes de fornecimento de insumos, equipamentos, serviços, produção,
distribuição e consumo. Tal tendência, além de se cristalizar como formato mais eficiente e competitivo,
tende também a assumir dimensões globais, onde os principais agentes são as grandes organizações
8 Ver, por exemplo, Lastres (1998) a qual salienta a estreita articulação entre o desenvolvimento das novas TICs e o setor financeiro, destacando como um dos reflexos de tal articulação o fato de neste setor o processo de globalização ter se
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transnacionais que mais rapidamente conseguem fazer uso das inovações técnicas e organizacionais
disponibilizadas pelo novo padrão em difusão. Conforme apontado por alguns analistas do tema, as
organizações transnacionais, além de controlarem em grande parte as áreas que compõem o núcleo
central do progresso tecnológico, detêm, através da montagem de redes corporativas, a capacidade de
realmente definir e implementar estratégias de competitividade de caráter global. Tais estratégias são
centradas na obtenção de vantagens advindas da crescente mobilidade de certos ativos e fatores (como
capital, acesso a matérias-primas, partes e componentes, etc.) e das possibilidades de manejar sistemas
complexos proporcionados pelo avanço e difusão das tecnologias da informação9.
Faz-se necessário frisar que, além das dimensões tecnológica, organizacional e institucional, o
atual processo de globalização resulta de (e também envolve) mudanças políticas, comerciais,
financeiras, culturais, sociais, etc. Tais mudanças, ao se relacionarem de maneira dinâmica, vêm gerando
- dentre vários outros resultados - uma reorganização espacial da atividade econômica e uma clara re-
hierarquização de seus centros decisórios. Como decorrência, salienta-se a realocação internacional da
atividade produtiva e dos fluxos de comércio, informação e conhecimento concentrando-se
aceleradamente na denominada Tríade (Estados Unidos, Japão e países da Europa Ocidental) que, com
o desmantelamento do Bloco Socialista, vêm-se consolidando como blocos econômicos hegemônicos.
Como destacado por diversos autores, como por exemplo, Fiori (1995), é “neste espaço que
são tomadas as decisões e se desenvolvem as novas formas organizacionais de competição
global que acabam alcançando, de uma forma ou de outra, os respectivos espaços periféricos”10.
Tendo em vista a extensão da crise deflagrada no mercado financeiro globalizado e particularmente na
Ásia, durante a década de 90, diversos autores vêm enfatizando as tendências de os EUA manterem e
reforçarem dentro do conjunto dos países mais avançados sua posição hegemônica. Assim, a
globalização principalmente daquelas atividades mais estratégicas, além de concentrar-se nos países da
Tríade (e particularmente nos EUA), é vista como provocando um processo de polarização crescente
entre blocos, países, regiões e grupos sociais. Paralelamente, destaca-se a tendência a incorporar nesse
processo aqueles mercados (alguns inclusive da periferia menos desenvolvida) que possuem peso e
dado de forma mais acelerada, até porque grande parte das atividades financeiras não envolvem trocas físicas, mas sim de informações traduzidas e transmitidas em tempo real no mundo inteiro. 9 Ver, por exemplo, Lastres (1993) e Cassiolato (1996).
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posição relevante ao nível mundial e que adotam normas trabalhistas, ambientais, tributárias, entre outras,
consideradas como mais atrativas, flexíveis ou competitivas (Lastres, 1997).
Assim é que se sugere entender o fato de - ao analisarem a atual fase do processo de
globalização - alguns autores apontarem que não existem evidências concretas comprovando mudanças
significativas no sentido de uma desconcentração da apropriação dos resultados ou da divisão do
trabalho intelectual entre as diferentes instâncias das empresas, blocos de países ou das diversas regiões
que compõem os países. Na verdade, a análise das evidências disponíveis ressalta, não apenas a
inexistência de um processo de globalização daquelas informações e atividades consideradas estratégicas
para as empresas e países (relacionadas ao planejamento e controle decisório e às atividades de pesquisa
e desenvolvimento, por exemplo), como em muitos casos, conclui-se por uma reconcentração de tais
atividades e informações, conforme aprofundado a seguir.
3 - Globalização tecnológica
A leitura das atuais estratégias tecnológicas das empresas, países e blocos tem suscitado um
intenso debate entre os autores que tentam interpretá-las e aferir o processo geral de globalização11. A
adoção de “estratégias globais de pesquisa” através da implantação de unidades de P&D em diferentes
países, estabelecimento de networks para inovação, e mesmo, os grandes programas de pesquisa
transnacionais cooperativos desenvolvidos, sobretudo, pela União Européia e Japão, entre outros, são
elementos considerados como constituintes do processo de tecno-globalismo. Assim, para um conjunto de
autores as atuais estratégias tecnológicas das empresas expressam um processo de globalização
tecnológica, tanto pela descentralização à escala mundial da atividade de P&D levada a efeito, sobretudo,
pelas multinacionais, como pelo grande número de alianças tecnológicas realizadas nas duas últimas
décadas. Nestas análises aponta-se, particularmente, para o papel desempenhado pelos avanços nas
tecnologias de comunicação e informação viabilizando tanto a realização conjunta de atividades de P&D
por participantes localizados em diferentes países do mundo, como o controle e coordenação das
mesmas.
10 Ver por exemplo, Tavares & Fiori (1997) onde no exame da evolução do processo de retomada da hegemonia norte-americana se dá ênfase especial aos aspectos relacionados à “diplomacia do dólar”.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 8
Nesta perspectiva, a idéia de um possível tecno-globalismo é interpretada por muitos como
deslocando os sistemas nacionais de inovação, tornando redundante, e no limite sem efeito, qualquer
tentativa por parte dos governos nacionais em promover o desenvolvimento tecnológico doméstico. Já
outros trabalhos criticam e refutam os princípios básicos de tal hipótese, ao mesmo tempo que apontam
que os dados disponíveis não evidenciam tal tendência. Aliás aponta-se que a própria criação e
disseminação do conceito de sistemas nacionais de inovação responde às teses que advogam o final da
história e da geografia. Os criadores e disseminadores de tal conceito consensualmente manifestam pelo
menos a necessidade de se investigar e discutir mais amplamente as especificidades e espaços para
projetos, políticas e atuação nacionais frente ao processo de globalização.
Dentro desta lógica, para um conjunto de autores, em oposição aos defensores da vertente do
tecnoglobalismo, a atividade tecnológica representa exatamente um dos casos de não-globalização. O
argumento principal aqui é que os dados estatísticos disponíveis sobre o crescimento de gastos de P&D
no exterior são insuficientes para basear conclusões mais acuradas, não havendo evidências de que este
processo seja generalizado. O essencial da atividade de inovação continua sendo desenvolvido no país de
origem das empresas segundo estratégias definidas em tais espaços; e quando se internacionalizam,
objetivam, principalmente, realizar atividades de monitoração e adaptações ao mercado local.
Através da análise da evolução recente de dados estatísticos sobre patentes para os países da
OCDE e sobre acordos de cooperação constantes dos principais bancos de dados internacionais, conclui-
se:
• que a geração de tecnologia permanece basicamente “doméstica”, no sentido de que o essencial da
P&D continua sendo desenvolvida nos países de origem das empresas;
• a colaboração internacional, por sua vez, é um fenômeno que diz respeito essencia lmente às empresas
dos países desenvolvidos e, deste modo, “triadizada”; e
• a exploração internacional de tecnologia, que se manifesta pela venda direta de produtos nos
mercados internacionais, na criação de subsidiárias, no depósito de patentes no exterior, no
11 Para uma reflexão em português sobre esta questão privilegiando-se o enfoque de país em desenvolvimento ver: Lastres e Cassiolato (1995); Cassiolato (1996); Maldonado (1996) e Lastres (1997), Lastres, Cassiolato, Lemos, Maldonado e Vargas (1997).
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licenciamento de tecnologias, etc., é a única dimensão que vem conhecendo efetivamente um processo
de globalização;
• configura-se, portanto, a visão da empresa-polvo que usa seus tentáculos para adquirir e explorar em
cada país suas excelências em pesquisa, mais propriamente do que descentralizar seu cérebro.
Salienta-se também nesta discussão que - na medida em que as grandes corporações vêm sendo
capazes de vender seus produtos e serviços à escala mundial e de produzi-los em diferentes localizações
geográficas - elas podem e agem como agentes indutores de uma padronização e homogeneização do
consumo, da produção e da tecnologia. Contudo, aponta-se que, ao mesmo tempo em que se verifica
essa tendência à padronização global em algumas áreas, nota-se também uma crescente diversidade
noutras12. Adicionalmente, destaca-se ser tal diversidade perfeitamente plausível e coerente com a
estrutura das estratégias globais das multinacionais. Reconhece-se que a internacionalização da P&D já
conduziu a um processo de adaptação e modificação de produtos para fazer face às especificidades locais,
como parte integrante das atividades de rotina das multinacionais. No entanto, as empresas permanecem
essencialmente nacionais no que tange à sua propriedade e controle e grande parte das atividades de P&D
continua sendo desenvolvida nos seus países de origem e fortemente influenciada por seus sistemas
nacionais e locais de inovação.
4 - Globalização tecnológica e os países em desenvolvimento
Ao se confrontarem as posições e os argumentos dos estudiosos do tema, constata-se, que -
apesar de diferentes interpretações quanto à questão da globalização tecnológica - de um modo geral, os
mesmos não incluem nas suas análises uma discussão mais aprofundada sobre o papel desempenhado
pelos países em desenvolvimento neste processo. Os dados estatísticos por si só são sintomáticos.
Mesmo aqueles que defendem a tese da globalização tecnológica, apenas apresentam dados sobre os
países da Tríade e, neste sentido, as duas correntes se aproximam. Na essência, estão tratando de um
12 Enquanto para alguns produtos a demanda mostra-se crescentemente global, para outros, variações locais no que se refere a preferências, regulamentações, clima e mesmo aspectos culturais, entre outros, continuam sem poder ser ignorados.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 10
processo que vem ocorrendo essencialmente entre os países mais desenvolvidos e, portanto, de uma
“triadização” (ao invés de globalização) tecnológica.
Assim, a literatura sobre processo de globalização tecnológica e os países menos desenvolvidos –
PMDs - é ainda relativamente emergente. Geralmente, o assunto é tratado de forma marginal, dentro de
outras problemáticas. Outrossim, verifica-se que a principal preocupação em tais estudos centra-se na
identificação dos impactos e efeitos do processo geral de globalização sobre as economias destes países,
em função de variáveis macroeconômicas como investimento externo direto, comércio exterior, fluxos
financeiros, etc. Cabe inclusive uma ressalva de que mesmo nestes níveis geralmente as análises sobre o
atual processo de internacionalização não incluem duas grandes regiões do planeta, que juntas comportam
mais de sessenta países. Assim, destaca-se a ubiqüidade na utilização dos termos “comércio global” e
“produto global”, os quais escondem uma realidade em que a participação no comércio mundial destas
regiões vem apresentando uma tendência decrescente, representando em 1996, apenas 4,30% para a
América Latina e 2,12% para a África13.
No que toca especificamente à discussão proposta nesta pesquisa sobre globalização tecnológica e
PMDs, apresentam-se, a seguir, algumas das principais conclusões produzidas nos últimos anos14.
Primeiramente, destaca-se que vêm-se multiplicando os obstáculos à circulação dos conhecimentos
científicos e tecnológicos, devido à importância estratégica para as empresas e para os governos no
domínio das tecnologias de ponta, como forma de conquistar e garantir posições hegemônicas no cenário
econômico e político internacional. Como decorrência, muito mais do que antes, o progresso tecnológico
atual e seus efeitos, chegam à periferia de maneira extremamente restrita e segmentada e como resultado
de decisões tomadas dentro do oligopólio mundial15. Decisões extremamente concentradas, mas que têm
um poder cada vez maior na hierarquização econômica dos espaços políticos nacionais, estabelecidas a
partir da importância deles ou de algumas sub-regiões, para os governos ou empresas decisoras.
Como resultado desta reordenação, ao contrário de uma suposta globalização tecnológica
observa-se um maior estreitamento do acesso dos países menos desenvolvidos ao conhecimento e
particularmente às tecnologias de ponta, pois sua utilização flexível e segmentada corresponde a este
13 International Financial Statistics, IFM, 1982/98. 14 Para maiores detalhes ver: Lastres, Cassiolato, Lemos, Maldonado e Vargas (1997) 15 Ver dentre outros, Fiori (1998).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 11
controle concentrado. E, como conseqüência, sua transferência e difusão para os espaços periféricos é
sempre parcial, dificultando ainda mais do que no passado a possibilidade de criação de uma capacidade
endógena de progresso técnico.
De fato, de acordo com as evidências atualmente disponíveis:
• a participação de países menos desenvolvidos no esforço de pesquisa e desenvolvimento realizado a
nível mundial é muito reduzida e verifica-se uma diminuição do licenciamento de tecnologias para os
países em desenvolvimento16; sabe-se que no momento atual de grande dinamismo tecnológico as
empresas dos países mais avançados ao invés de licenciar tecnologia estão mais voltadas ao
estabelecimento de acordos de cooperação tecnológica tendo em vista, entre outros fatores a
diminuição de custos e riscos; com a exceção dos chamados "Tigres Asiáticos", a participação de
empresas de países menos desenvolvidos nos novos arranjos de cooperação cientíco-tecnológica tem
sido apenas marginal17.
• as novas formas de investimento externo nestes países concentram-se em projetos que utilizam
tecnologias estáveis ou maduras, apontando-se como principal motivo para tal o fato de as empresas
estrangeiras estarem mais propensas a dividir o controle e a propriedade de um investimento quando a
tecnologia envolvida é amplamente disponível ou não se constitui num ativo estratégico.
As grandes transformações tecnológicas e organizacionais da atual fase e a integração restrita da
economia mundial, centrada fundamentalmente entre as economias da OCDE, afetam o Mercosul e a
16 Maldonado (1996), através do exame das atividades de patenteamento, parceria e importação de tecnologia no Brasil, analisa em que medida os principais aspectos associados ao processo de globalização tecnológica vêm sendo sentidos do ponto de vista da economia nacional. Suas conclusões mostram a exclusão do país nos processos gerais de geração e de cooperação internacionais de tecnologia, e a sua inclusão no processo de exploração global de tecnologia. Ou seja, as multinacionais são mais propensas a realizarem a comercialização e exploração de suas inovações no território nacional via patenteamento, mais propriamente do que o desenvolvimento de atividades tecnológicas no país, seja de forma individual ou em parceria com empresas nacionais. Em relação à importação de tecnologia, o autor também conclui que vem ocorrendo uma diminuição destes fluxos, o que significa um acesso cada vez mais restrito às novas tecnologias por parte dos agentes nacionais. 17 Dentre as conclusões relacionadas ao envolvimento destes países nas novas alianças destaca-se que: (a) apenas 4.3% das associações estratégicas tecnológicas re gistradas entre 1980 to 1989 envolvem empresas destes países; (b) a maior parte dos acordos concentram-se em projetos envolvendo tecnologias relativamente maduras e estáveis; (c) considerando os acordos nos quais transferência de tecnologia é o objetivo central, a fatia dos LDCs caiu de 5.3% na primeira metade dos 80s para 4.8% na segunda metade da década (Lastres, 1993). Tal tendência continua ao longo dos anos 90 (Narula, 1997).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 12
América Latina de forma multiplamente desfavorável. Dentre as razões que, na última década, reforçaram
esta situação incluem-se:
• a perda de dinamismo das economias da região que, com o significativo declínio dos investimentos,
conduziu a uma defasagem na absorção das transformações tecnológicas e organizacionais e a uma
perda de posição desses países no comércio internacional;
• a intensificação das fricções comerciais inter-blocos e o exercício cada vez mais agressivo de pressões
unilaterais pelos EUA que reduziram os graus de liberdade das políticas nacionais de
desenvolvimento18;
• a instabilidade macroeconômica associada à crise da dívida e à desorganização das finanças públicas,
que afetou os níveis de investimentos tanto internos quanto externos de longo prazo, com impactos
negativos particularmente nos esforços em capacitação e desenvolvimento tecnológico; e
• a aderência quase que ilimitada aos princípios do Consenso de Washington que resultou na ausência
completa de políticas ativas de promoção ao desenvolvimento industrial e tecnológico, particularmente
importantes no momento de transição, conforme demonstrado pela experiência dos países mais
avançados19.
Relativamente a este último aspecto, ressaltam-se acima de tudo (i) as reflexões críticas, realizadas
por diferentes autores ao longo desta década, ao conjunto de medidas econômicas neoliberais voltadas
para “a reforma e a estabilização das economias emergentes”, que resultaram do seminário que reuniu em
Washington em 1990 economistas do governo americano e instituições internacionais20; e (ii) os resultados
nefastos da adoção de tais princípios, os quais vêm recorrentemente sendo evidenciados por análises
elaboradas no mundo inteiro. Dentro de tal conjunto, destacam-se particularmente as críticas do próprio
Vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, propagadas internacionalmente em 1998, inclusive na
18 A estas se somam condições desfavoráveis de natureza estrutural. No caso específico do Brasil, salienta-se a fragilidade da sua economia em todos os complexos de alto valor agregado e conteúdo tecnológico, com competitividade revelada apenas em setores produtores de commodities de elevada escala de produção, baixo valor agregado e intensivos em recursos naturais, insumos agrícolas e energia; a debilidade e o reduzido tamanho dos grandes grupos empresariais brasileiros em face do que seria requerido para atuar como setores ativos no plano global; e a profunda regressão da base doméstica de financiamento de longo prazo, que atrasa a centralização dos capitais e obriga à dependência de recursos fiscais ou de endividamento externo para sustentar a acumulação (Coutinho, 1996). 19 Ver, por exemplo, análise de tais políticas para Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália, Espanha realizado pelo Grupo de Economia da Inovação do IE/UFRJ, Cassiolato & Lastres (1998) e da qual participaram todos os autores desta nota técnica (além de outros). 20 Tais medidas além de apregoarem a necessidade de se reduzir o papel dos Estados a um mínimo, propugnavam também a liberalização do comércio, controle da inflação e privatização.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 13
América Latina, e sua proposta de estabelecimento de um novo consenso que contemple a intervenção
dos governos na economia e dêem atenção a questões como emprego, saúde, educação e meio-ambiente.
Finalmente, faz-se necessário destacar que ao se discutir a hipótese de globalização tecnológica
deve-se alertar que implicitamente, os ‘tecno-globalistas’ assumem que tecnologias são commodities e
propõem que, num mundo sem fronteiras, as mesmas são acessíveis (inclusive a empresas de países em
desenvolvimento) e podem ser ‘transferidas’ sob a mediação dos mercados via mecanismos de preço.
Neste sentido, argumenta-se que o conhecimento da literatura sobre inovação e difusão - publicada nos
últimos 20 anos - ajudam a clarificar e qualificar melhor tal discussão. Dentre os pressupostos básicos
desenvolvidos incluem-se aqueles que indicam que tecnologia: (i) não pode ser vista como mercadoria; (ii)
não se trata de algo facilmente transferível; (iii) tem seu acesso e sua aquisição efetiva condicionada por
muito mais variáveis do que simplesmente preço, os quais incluem desde as decisões políticas de como
utilizar este instrumento crescentemente estratégico para a competitividade, até o reconhecimento dos
requerimentos de importantes capacitações por parte das empresas adquirentes. No que se refere a tais
capacitações, deve-se salientar também que os principais canais de difusão internacional de inovações não
ocorrem através de hierarquias de corporações multinacionais (isto é através de relações matriz/filial) nem
via puramente transações de mercado (compra e venda de tecnologias) mas sim resultam de formas de
aprendizado e aquisição de conhecimentos, para as quais a influência dos níveis de desenvolvimento local
é significativa21.
Assim, uma conclusão da discussão proposta neste trabalho é que os referidos posicionamentos
sobre a existência ou não de um processo de globalização tecnológica ou tecno-globalismo, na verdade
derivam de uma outra polêmica sobre o caráter tácito, as especificidades e a importância da inovação,
particularmente em sua dimensão local. Assim, o objetivo central dos próximos itens é exatamente o de
discutir mais em detalhe as contribuições teóricas e empíricas dos diferentes autores que vêm abordando
tal questão.
21 Tais formas compreendem principalmente esforços internos em P&D e em projetos de engenharia, "engenharia reversa" e colaborações com outras empresas e instituições locais, conforme demonstra o pioneiro estudo realizado na Universidade de Yale (conhecido como ‘Yale Innovation Survey’) no caso de empresas norte-americanas (Levin et al. 1992).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 14
5 - A dimensão local do desenvolvimento econômico e da inovação
5.1 - O enfoque do local na economia
O mainstream da teoria econômica sempre apresentou dificuldades em analisar o processo
inovativo. Da mesma forma que para esta corrente a tecnologia é considerada como fator exógeno à
economia e o processo inovativo como igual para os agentes, não se reconhece o ambiente onde se
localizam as empresas como um elemento capaz de influenciar sua capacidade de inovação e o
desenvolvimento econômico. Assim, considera-se, nesta que é a vertente ainda dominante em várias
esferas do debate econômico, que a inovação pode ser gerada independentemente do local em questão,
sendo esta dimensão geralmente desconsiderada pela literatura econômica.
Entretanto, mais recentemente, diversas foram as contribuições da literatura que se propuseram a
discutir o caráter localizado do desenvolvimento econômico e da inovação, assim como sua relevância.
Tais literaturas, que podem ser identificadas principalmente a partir do início da década de 80, vêm
buscando compreender o papel relativo ao local para compreensão do processo inovativo nas empresas,
regiões e países.
Salienta-se, em particular, a atenção que passou a ser dada ao caráter localizado da inovação e
do conhecimento, ao constatarem-se as grandes assimetrias em termos da distribuição espacial da
capacidade de geração e de difusão de inovações. Conforme se pode notar, o motivo central de muitas
das análises realizadas refere-se à tentativa de explicar as razões dos significativos níveis de concentração
ao nível mundial da taxa de introdução de inovações, com algumas regiões, setores e empresas tendendo a
desempenhar o papel de principais indutores de inovações, enquanto outras parecem ser relegadas ao
papel de adotantes.
É importante enfatizar que a discussão sobre o caráter local da inovação antecede
cronologicamente as questões que vêm se colocando mais recentemente sobre o processo de
globalização, discutido anteriormente. Contudo, com a emergência de tais questões, o enfoque sobre o
caráter localizado da inovação passa a ganhar maior evidência, tendo em vista os vários esforços de
equacionamento sobre como se estabelecerão as relações entre o local e o global e ao papel que cada
uma destas dimensões irá desempenhar em níveis econômico e político.
De forma geral, pode-se observar que as contribuições sobre a questão da dimensão local da
inovação partem de diferentes grupos de autores que adotam variadas linhas de pensamento não só
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 15
econômico, como também geopolítico, sociológico, histórico e filosófico, dentre outros. Como
decorrência, verifica-se um variado número de enfoques, terminologias e formas de analisar a capacidade
de arranjos locais em gerarem desenvolvimento econômico e inovativo22.
Essa profusão e diversidade de estudos amplia os ângulos da análise proposta. Porém, a falta de
uma maior uniformidade e a insuficiência de argumentos de vários enfoques, por vezes, dificultam a
comparação entre as diferentes experiências e a compreensão completa deste fenômeno, bem como a
proposição de políticas. Importantes tentativas neste sentido vêm sendo realizadas. Entretanto,
permanecem argumentos de que cada caso particular traz em si especificidades do processo de
capacitação inovativa e de desenvolvimento econômico, que tornam difícil o estabelecimento de modelos a
serem seguidos.
Apesar desta ressalva, análises que privilegiam o papel do ambiente e da interação que se dá
entre diferentes agentes como elemento de promoção da inovação passaram a confrontar as abordagens
mais tradicionais. O foco de contribuições mais recentes neste sentido, em particular na economia da
inovação, reside fundamentalmente na noção de que os processos de geração de conhecimento e de
inovação são interativos e localizados. Isto é, argumenta-se que a interação criada entre agentes
localizados em um mesmo espaço favorece o processo de geração e difusão de inovações.
Em particular no âmbito da abordagem evolucionista, buscou-se destacar o papel do local
enquanto elemento ativo no processo de criação e difusão de inovação. Esta literatura ressalta que a
interação entre tecnologia e contextos locais possui papel fundamental na geração das inovações, por meio
de mecanismos específicos de aprendizado formados por um quadro institucional local específico
(Cohendet e Llerena, 1997). Assim, aponta-se que diferentes contextos locais com diferentes estruturas
institucionais terão processos inovativos qualitativamente diversos.
Geralmente, argumenta-se que o conhecimento e a mudança tecnológica são localizados, tendo
em vista que decisões técnicas das firmas são path-dependents, isto é, em cada firma em qualquer
momento, a geração, implementação, seleção e adoção de novas tecnologias são influenciadas pelas
características das tecnologias que estão sendo utilizadas e pela experiência acumulada no passado. A
geração do conhecimento é vista como o resultado de um processo conjunto que envolve tanto a atividade
22 No campo conceitual, esse fato se reflete, por exemplo, na criação de múltiplas classificações e definições que
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 16
formal de ensino e P&D como os fluxos correntes das atividades da empresa e de sua interação com o
ambiente que a cerca. Destaca-se também que tal dimensão localizada do processo inovativo confere um
papel primordial às especificidades locacionais, particularmente aos diferentes mercados e instituições
(firmas, instituições de P&D, governo) delimitados em um espaço econômico e suas formas de interação
no processo de geração e difusão de inovações (Antonelli, 1996).
No entanto, como discutido a seguir, uma série de contribuições adicionais vem colocando
ênfase à análise da conformação de tipos de relações que têm também a proximidade geográfica como
elemento de relevância entre os agentes. Tais relações - denominadas neste e em outros trabalhos de
arranjos locais - podem se dar de diferentes formas e são analisadas sob diferentes enfoques.
5.2 - Contribuições para o entendimento da dimensão local da inovação
Para uma síntese da discussão sobre as características e importância de arranjos produtivos
locais, é necessário remeter à primeira contribuição de peso na economia, realizada por Marshall em fins
do século XIX, quando cunhou o conceito de distritos industriais23. Tal conceito deriva de um padrão de
organização comum à Inglaterra do período, onde pequenas firmas concentradas na manufatura de
produtos específicos, em setores como o têxtil, se localizavam geograficamente em clusters, em geral na
periferia dos centros produtores.
A importância de tais experiências para Marshall foi tal, que o autor considerou os distritos
industriais de pequenas empresas britânicas como a ilustração mais eficiente do capitalismo, tendo em vista
que, apesar das limitações de economias de escala, os mesmos apresentavam reduzidos custos de
transação, bem como economias externas particularmente significativas. Sua abordagem de distritos
industriais, ressaltando a eficiência e competitividade das pequenas firmas de uma mesma indústria
localizadas em um mesmo espaço geográfico, fundamentou os recentes trabalhos sobre o tema, e tornou-
se referência de arranjos locais de desenvolvimento industrial. Tais estudos, de forma geral, recuperam o
conceito marshalliano para estabelecimento de definições e características dos distritos industriais atuais.
abarcam as principais características desses arranjos locais, conforme discutido mais detalhadamente em (Lemos, 1997). 23 Marshall elaborou o termo em “Princípios da Economia”, cuja primeira edição data de 1890.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 17
Desde a década de 80, análises de diversas experiências têm demonstrado o dinamismo
tecnológico e o potencial de desenvolvimento inerente a diversos tipos de arranjos, em especial de
pequenas e médias empresas localizadas num mesmo espaço regional. Estas análises se iniciaram
fundamentalmente a partir do sucesso das experiências de arranjos locais da região da Terceira Itália24,
comumente chamados de distritos industriais italianos, e levaram ao surgimento de diversos outros estudos
de casos que destacam a importância que assume a proximidade territorial na dinâmica inovativa de
sistemas produtivos. Destacam-se em tais análises as características específicas desses arranjos, relativas
ao contexto sócio-econômico e histórico no qual emergem, e a identidade territorial criada, que resulta de
um processo de construção derivado das estratégias de seus atores, dos processos de aprendizagem
coletiva, da formação dos vínculos e da interação entre estes diferentes elementos.
O caso da Terceira Itália é ilustrativo, pois esta região é caracterizada por concentrar grande
número de distritos industriais de pequenas e médias empresas, localizados em pequenas cidades
especializadas na produção de vários itens de setores industriais tradicionais, tais como cerâmica vermelha,
têxteis e máquinas ferramentas. As firmas apresentam um alto grau de coordenação cooperativa. A
competição é intensa, mas limitada a certas esferas das atividades, nas quais as firmas esperam
desenvolver competências distintas. As indústrias locais são frequentemente compostas por pequenas
empresas de estrutura familiar com poucos empregados, organizadas em cooperativas promovidas por
governos locais. A cooperação é comum em atividades tais como serviços tecnológicos, gerenciais e
comerciais; oferta de infra-estrutura; promoção de feiras comerciais e outros negócios envolvendo o
marketing nacional e internacional e estende-se também a financiamento25.
A experiência da região da Terceira Itália, em arranjos locais de empresas de setores tradicionais
estimulou o interesse na pesquisa de formatos similares existentes em outros países, onde se destacam
regiões da Europa, como Baden-Württemberg, na Alemanha, Jutland, na Dinamarca26, e algumas
experiências em setores de alta tecnologia nos EUA, como as do Vale do Silício e da Route 128.
24 Conforme aponta Schmitz (1994), o conceito de Terceira Itália, cunhado por Arnaldo Bagnosco, começou a ser utilizado no final dos anos 70, tendo em vista um contexto onde, enquanto o norte da Itália apresentava declínio e o sul se mantinha pouco desenvolvido, o nordeste e o centro apresentavam rápido crescimento. 25 Ressalta-se a importância de tais tipos de arranjos na Itália, onde a contribuição das PMEs na geração de empregos e no PIB italiano é estimada em cerca de 40%. Para maior detalhamento, ver Lemos e Duarte (1998) e Lemos (1997). 26 Essa é a região que foi afetada pela presença de multinacionais. Ver Chesnais (1996).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 18
Destas experiências analisadas, apontam-se como principais atributos dos distritos industriais
contemporâneos: (i) proximidade geográfica; (ii) especialização setorial; (iii) predominância de pequenas e
médias empresas; (iv) estreita colaboração entre firmas; (v) competição entre firmas baseada na inovação;
(vi) identidade sócio-cultural com confiança; (vii) organizações de apoio ativas, para prestação de serviços
comuns, atividades financeiras, etc.; e (viii) promoção de governos regionais e municipais (Schmitz, 1995).
Como pano de fundo para compreensão da emergência, neste período, da vasta e heterogênea
literatura sobre arranjos de diversos tipos (e em particular aqueles reunindo pequenas empresas),
encontrava-se a crise do modelo de produção em massa, sustentado na dominação das grandes empresas
verticalmente integradas, com produção de bens estandardizados e voltados para mercados baseados em
competição via preços. Na fase de transição do modelo fordista, marcada por intensas mudanças
tecnológicas e organizacionais, alguns autores observaram que, enquanto as grandes empresas
atravessavam dificuldades, arranjos de pequenas e médias empresas mostravam maior flexibilidade e
dinamismo. Com estas referências, tornou-se intenso o debate travado entre aqueles que viam o
desenvolvimento e inovação como liderados por grandes empresas e, de outro lado, aqueles que
observavam possibilidades alternativas de desenvolvimento por meio de pequenas empresas concentradas
em um mesmo ambiente e com forte divisão de trabalho.
Piore e Sabel (1983 e 1984), autores da linha que ficou conhecida como especialização flexível,
podem ser vistos como representantes do lado extremo dos argumentos que consideram arranjos locais de
pequenas empresas como o formato mais favorável de desenvolvimento industrial. Ao analisarem as
principais fontes das mudanças observadas nas décadas de 70 e 80, estes autores apontaram para a
saturação dos mercados de massa e para as dificuldades deste sistema de produção, pouco ágil e flexível,
em atender à demanda por produtos especializados e diferenciados. O argumento central destes autores é
que sistemas de empresas especializadas e interconectadas, baseados em plantas multipropósito e em
tecnologias da informação e comunicação, trabalhadores polivalentes (alguns com marcantes tradições
artesanais), estariam bem posicionados para responder com eficiência às tais condições, mais
propriamente do que as grandes empresas líderes do padrão fordista. Para alguns dos defensores da
especialização flexível, este tipo de arranjo tenderia a tornar-se o padrão dominante de desenvolvimento
industrial.
Destaca-se que a noção de especialização flexível reforçou o reconhecimento da importância de
articulações geográficas particulares, propondo uma espécie de reconsolidação da região como uma
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 19
unidade de produção integrada. No entanto, e como discutido também a seguir, diversas ponderações
foram colocadas quanto a algumas das conclusões principais dos autores desta vertente; em particular no
que se refere às perspectivas de este padrão ser considerado como uma tendência válida para diferentes
contextos, permanente e até predominante. Entretanto cabe também discutir as contribuições de vários
outros autores que objetivaram analisar o fenômeno da dimensão espacial da inovação, seja sob o ponto
de vista dos distritos industriais, das relações entre os agentes, das formas de interação e aprendizagem e
das estratégias adotadas, seja do ambiente inovativo e do papel de outras dimensões, particularmente as
sócio-culturais.
Algumas abordagens, ainda que balizadas no enfoque dos distritos industriais marshallianos,
criam novas terminologias, definições e conceitos, no esforço de compreensão deste tipo de arranjo que
têm a proximidade geográfica e a interação entre agentes como elementos chave. Podem ser mencionadas
dentre outras, as que privilegiam a importância do ambiente local e das relações, não somente econômicas,
nele criadas, tal como os milieux innovateurs; os sistemas produtivos locais; as redes locais ou regionais
entre agentes de vários tipos, sejam entre empresas fornecedoras e usuárias, ou de pequenas empresas da
mesma indústria, sejam redes entre diversos agentes, tais como instituições de pesquisa; e também aquelas
que analisam os modelos de parques tecnológicos e tecnópolis em geral27.
5.3 - Sistema local de inovação
De maneira geral, aponta-se para a contribuição de um conjunto de autores (principalmente
preocupados com a área de economia da inovação) os quais, ao proporem a adoção do conceito de
sistemas nacionais de inovação, argumentam que desempenhos nacionais, no que tange à inovação,
derivam claramente de uma confluência social e institucional particulares e de características histórico-
culturais (Freeman, 1987 e 1995; Lundvall, 1985 e 1992; e Nelson, 1993). Freeman e Lundvall, por
exemplo, definem sistema nacional de inovação como um sistema constituído por elementos e relações que
determinam em grande medida a capacidade de aprendizado de um país e, portanto, aquela de inovar e
de se adaptar às mudanças do ambiente.
27 Para outros detalhes sobre alguns dos conceitos que procuram captar a diversidade das experiências de arranjos locais, tais como distritos industriais, parques tecnológicos, redes locais, sistemas produtivos locais, milieux inovativo, entre outros, ver Lastres et al (1997).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 20
Estes e outros autores ao discutirem os elementos que constituem os sistemas nacionais de
inovação, enfatizam que as diferenças relacionadas à experiência histórica, linguística e cultural, implicam
em características idiossincráticas que se refletem na configuração institucional geral dos países. E assim,
portanto, são reproduzidos na organização interna das firmas e dos mercados produtor e consumidor, no
papel do setor público e do setor financeiro, na intensidade e organização das atividades educacionais e
inovativas, etc.28. Alerta-se, no entanto, para a existência de diferenças importantes nos enfoques
atualmente utilizados, por exemplo, pelos autores acima relacionados. Alguns autores, como Smith (1997),
argumentam que os diferentes enfoques de sistemas nacionais de inovação se estruturam em três pilares
conceituais básicos, os quais permitem distinguí-los e diferenciá-los de acordo com a ênfase colocadas em
tais diferentes pilares. Tais pilares baseiam-se no entendimento que:
• as vantagens competitivas resultam da variedade e da especialização e que tal fato realmente
apresenta efeitos indutores path-dependent.. Isto é, especializações que apresentam sucesso
econômico ocorrem particularmente ao redor de estruturas industriais específicas;
• o conhecimento tecnológico é gerado através de um aprendizado fundamentalmente interativo,
geralmente tomando a forma de capacitações distribuídas entre os diferentes tipos de agentes
econômicos que devem interagir, de alguma maneira, para que o mesmo possa ser utilizado;
• o comportamento econômico repousa em instituições e “regras do jogo” estabelecidas legalmente
ou através de costumes que evoluem tendo em vista as vantagens que elas oferecem na redução da
incerteza. Assim, diferentes modos de organização institucional levam a diferentes comportamentos
e resultados econômicos.
No caso das análises sobre sistemas nacionais de inovação, a história é considerada
evidentemente como uma fonte importante de tal diversidade. Nesta última ótica, o desenvolvimento
institucional e as diferentes trajetórias tecnológicas nacionais contribuem para a criação de sistemas de
inovação com características muito diversas. Assim, a diversidade entre os sistemas nacionais de inovação
é entendida como produto de diferentes combinações das suas características. Uma implicação dessa
idéia é que a ênfase na diversidade e no caráter localizado dos processos de aprendizado - e, portanto, na
28 Em suas análises, Lundvall, Cassiolato e outros ressaltam em particular o papel das redes institucionalizadas de usuários-produtores, que apresentam processos de aprendizado interativos, relevância da confiança nas relações e as proximidades geográficas e culturais como fontes importantes de diversidade e vantagens comparativas, assim como a oferta de qualificações técnicas e organizacionais e conhecimentos tácitos acumulados.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 21
dimensão local da inovação - possibilita a conceitualização de sistemas locais de inovação, como a
definição algo próxima, por exemplo, dos “sistemas tecnológicos regionais ou locais”29.
Neste sentido, pondera-se, neste trabalho, que a proposta conceitual de sistema local de
inovação parece oferecer uma melhor possibilidade de compreensão do processo de inovação na
diversidade que se considera existir entre os diferentes países e regiões, tendo em vista seus processos
históricos específicos e seus desenhos políticos institucionais particulares. Na verdade, como foi visto
acima, trata-se de um referencial que permite, e até mesmo exige, o estudo do processo inovativo em seus
diferentes e específicos níveis. Tal quadro de referência está baseado em alguns conceitos fundamentais -
aprendizado, interações, competências, complementaridades, seleção, path-dependencies, etc. - que
enfatizam significativamente os aspectos regionais e locais. Consequentemente, e conforme também
destacado, igualmente neste caso se reconhece a importância dos estímulos aos diferentes processos de
aprendizado e de difusão do conhecimento, assim como a necessária diversidade nas formas das políticas
envolvidas.
Considera-se a extensão de tal vantagem a todos os casos e ainda mais particularmente aos
países menos desenvolvidos, cujas especificidades geralmente não se alinham e, como enfatizado neste
trabalho, na maior parte das vezes divergem radicalmente daquelas dos mais desenvolvidos que costumam
basear os modelos e as contribuições conceituais a respeito do tema.
6 - Permanência do local
Em relação ao papel e trajetória evolutiva recente dos arranjos locais produtivos e inovativos, as
principais questões que se colocam neste trabalho são referentes à permanência ou não, no atual quadro,
da importância da dimensão local para a inovação - e, portanto, dos arranjos locais - e de políticas para a
promoção deste tipo de formatos.
Em tal discussão concorrem, de um lado, as teses de autores que advogam a perda de
importância da dimensão local na atual fase do capitalismo, tendo em vista principalmente duas
condicionantes associadas, uma de cunho geopolítico-econômico e a outra de cunho técnico:
29 Ver, dentre outros, Ehrnberg e Jacobsson (1997).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 22
• Conforme apontado por diversos autores que reforçam estas teses, os impactos da globalização
tornam o mundo crescentemente centralizado e controlado por grandes corporações transnacionais e
anulam os resultados de esforços inovativos locais, tendo em vista as possibilidades destas
corporações se apropriarem das vantagens locais.
• As tecnologias da informação e comunicação, por seu turno, vêm gerando impactos no espaço
produtivo e inovativo, alterando e recriando as dimensões deste espaço e, consequentemente,
reduzindo a relevância do local. Aproveitando os desenvolvimentos associados a estas novas
tecnologias, o papel desempenhado pelo crescente uso do espaço informacional é visto como abrindo
múltiplas possibilidades de interações, até então inéditas. As formas de relações estabelecidas neste
novo espaço passariam a orientar os agentes, em detrimento das tradicionalmente realizadas na esfera
local, regional, ou mesmo nacional. De acordo com tal perspectiva, as sinergias até então atribuídas ao
ambiente físico seriam superadas pelas novas possibilidades de acesso a informações e a
conhecimentos gerados por diferentes agentes, não importando a distância entre os mesmos.
Em outra linha de argumentações incluem-se as teses que consideram que a dimensão local
constitui-se em um fator determinante da capacidade inovativa e que arranjos locais com as características
elencadas anteriormente - enfatizando o aprendizado interativo (coletivo) e a capacidade de inovação –
podem ser uma alternativa viável e importante de desenvolvimento econômico. Para alguns desses autores,
estabelece-se, em um extremo, a noção de especialização flexível e a crença de uma transição em curso
em direção ao localismo e ao regionalismo, consolidando-se um renascimento do interesse sobre a
potencialidade das economias locais e regionais. Em direção algo semelhante, autores dos estudos
relativos aos distritos industriais europeus chegaram a supor que esta forma de estruturação organizacional
seria crescentemente importante no contexto econômico presente e futuro, conforme já notado acima e
como será mais explorado adiante.
Como resposta a este bloco de argumentações, e alinhando-se com os argumentos sobre a
perda de relevância da dimensão local, uma série de observações têm-se colocado. Neste conjunto,
inclui-se a ressalva de alguns autores, como por exemplo Amin & Robins (1991), que consideram tais
teses como uma “alternativa radical ao pensamento econômico neo-liberal que perpassa as políticas
atuais”. Inclui-se também o questionamento de alguns estudiosos sobre até que ponto atualmente
permaneceriam ainda válidos tais formatos organizacionais, tendo em vista que alguns dos arranjos locais
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 23
estudados vêm apresentando dificuldades para enfrentar os desafios impostos neste segundo momento da
transição do modelo fordista para o novo.
A principal argumentação neste sentido indica que, conforme destacado anteriormente, durante a
fase de saturação do modelo de produção em massa e em economias de escala, a reorganização das
grandes empresas para responder a novas necessidades não foi imediata, tendo em vista principalmente as
suas estruturas rígidas e verticalizadas. Os distritos italianos e outros arranjos locais de pequenas
empresas, que se estabeleciam em setores tradicionais e fora dos padrões de competição então vigentes,
despontaram como alternativas, apresentando características fundamentais para atendimento das novas
exigências, destacando-se entre outras: especialização, flexibilidade, estruturas não hierárquicas,
economias de escopo e cooperação inter-firmas. Estas vantagens foram consideradas por muitos como
uma via de desenvolvimento adequada ao novo modelo.
Podem-se observar, entretanto, algumas tendências a argumentações de que o sucesso obtido
nas duas últimas décadas por tais formatos foi temporário, circunscrito a um período específico de
transição de modelos. Aponta-se que arranjos locais de pequenas empresas especializadas tenderam a se
desenvolver dentro de contextos específicos e de suas circunstâncias. De acordo com tais pontos de vista,
mais recentemente, com a consolidação e crescente maturidade do novo modelo, as grandes empresas já
teriam tido tempo para se reorganizar e capacitar para enfrentar os novos imperativos, enquanto as
pequenas teriam começado a esbarrar em diversos tipos de dificuldades em manter o seu desempenho30.
6.1 - Grandes versus pequenas empresas
Relacionado ao último ponto, é importante ressaltar que quando se questiona a permanência da
importância atribuída à dimensão local, estabelece-se uma questão subjacente sobre qual seria a forma de
arranjos locais que sobreviveriam no novo contexto. Neste sentido, as discussões têm focalizado mais
comumente (i) os formatos que envolvem pequenos fornecedores estabelecidos em uma rede em torno de
uma grande empresa líder do arranjo; e (ii) os arranjos locais de pequenas empresas que interagem entre
si.
30 Para uma discussão ver Lastres et al (1997).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 24
Em alguns dos casos de redes mais destacados na literatura, grandes firmas produtoras organizam
um sistema de fornecedores regionais de componentes, em geral pequenas firmas, como os casos típicos
de Baden-Wurttemberg e do Vale do Silício. Em outros casos, apontam-se, atualmente, diversos tipos de
redes locais ou regionais de pequenas empresas que se especializam em um setor, colaborando em
pesquisa e desenvolvimento, design, produção e distribuição, tais como os exemplos europeus de distritos
industriais especializados em produtos específicos, como na Terceira Itália.
Conforme argumentado acima e em trabalho anteriores31, o estabelecimento de redes de todo o
tipo vem crescentemente se consolidando como parte do novo formato de organização industrial,
incluindo-se também nas estratégias atuais de grandes empresas confrontadas com a exigência de maior
capacidade inovativa, especialização e flexibilidade produtiva. No caso das redes de fornecedores
especializados, geralmente as pequenas firmas se concentram em torno de grandes empresas para
fornecimento de insumos ou componentes específicos, atuando em parceria para a obtenção do produto
de acordo com as especificações desejadas.
No entanto, na literatura encontram-se argumentos diferentes sobre a relação entre grandes e
pequenas empresas atuando em redes. Acs (1996), por exemplo, destaca o papel das pequenas empresas
como agentes importantes nas redes de fornecedores de grandes empresas, tendo em vista possuírem
vantagens comparativas tais, como: estruturas administrativas mais leves; ausência de restrições
burocráticas; maior importância atribuída às atividades inovativas nas suas estratégias competitivas.
Considera ainda que, embora as grandes empresas sejam mais ativas na realização de associações com
universidades e instituições de pesquisa, as pequenas tendem a explorar melhor estas parcerias, de modo a
gerar inovações.
Outros autores, como Hobday (1994), consideram, entretanto, que de um modo geral as
pequenas empresas não dispõem de ativos complementares necessários para explorar inovações em
mercado de produção em massa e têm maiores dificuldades de obter resultados de suas inovações e que
as grandes empresas raramente dividem suas core capabilities dentro da rede, por questões econômicas,
tecnológicas e estratégicas.
31 Lastres (1993), Lemos (1996), Maldonado (1996), e Cassiolato (1996).
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 25
Alguns autores que estudaram e acreditaram no sucesso dos arranjos da Terceira Itália, mais
recentemente, reviram seus argumentos, à medida em que alguns destes distritos passaram a enfrentar
novas dificuldades e que se reconheceu a emergência de tentativas de flexibilização nas grandes empresas,
por meio de estratégias tais como a intensificação de suas relações de cooperação internas e externas,
abertura de unidades independentes e subcontratação de pequenas empresas. Para alguns destes autores
que questionam a sobrevivência de arranjos locais exclusivos de pequenas empresas, num ambiente de
acirrada competição internacional, a alternativa que se vislumbra é de um modelo baseado em redes que
articulem grandes e pequenas empresas.
Bianchi (1996), por exemplo, aponta mudanças nas características e dinâmica destes arranjos
locais. Destaca particularmente que tanto as vantagens atribuídas às pequenas empresas quanto as
desvantagens das grandes tenderam a se reduzir 32, concluindo que os modelos anteriores de produção
tendem a convergir em um único, baseado em redes de firmas. Sugere, portanto, que as políticas
governamentais de desenvolvimento regional devem ser reformuladas para a promoção de redes de
parcerias entre pequenas e grandes empresas e instituições de ensino e pesquisa. Para o autor, os
objetivos de tais políticas devem se concentrar, no que se refere às pequenas empresas, na transformação
das relações de subcontratação em parcerias estáveis e na substituição da dependência de poucos clientes
por parte destas para uma razoável autonomia de mercado. No caso das grandes empresas, sugere que a
política deva reforçar as tendências de maximização de qualidade. Sendo que os instrumentos de política
devem incluir a promoção de atividades de P&D para grandes empresas, programas de educação e
treinamento para pequenas empresas e redes de colaboração internacional entre pequenas empresas
visando facilitar a inovação e autonomia de mercado.
6.2 - Global versus local
Em outras argumentações de autores que não acreditam na sobrevivência dos arranjos locais,
ressaltam questões e críticas considerando a impossibilidade de formulação de políticas locais, tendo em
vista fundamentalmente uma mudança estrutural nas relações econômicas e sociais, que atualmente se
32 Aponta especificamente para uma crescente hierarquização dos arranjos de pequenas empresas, por um lado, e forte crescimento dos níveis de cooperação nos arranjos de grandes empresas, por outro.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 26
caracterizam pela combinação de concentração e centralização do capital, associados ao processo de
globalização.
Amin & Robins (1991), por exemplo, reconhecem os tempos atuais como ‘globais-locais’, com
o desenvolvimento de relações crescentemente diretas e imediatas entre estas esferas. Para estes autores,
as esferas locais estão sendo radicalmente reformuladas em termos e sob as condições e forças do
globalismo, sendo as mesmas vistas como conformadoras da nova estrutura e dinâmica das localidades,
regiões e nações. Ao mesmo tempo em que identificam um maior reconhecimento e importância atribuídos
a questões espaciais, argumentam em favor da tendência dominante de homogeneização dos mercados,
globalização das indústria s, integração das firmas e centralização internacional da hegemonia. Para os
autores, as diferenças nas dinâmicas espaciais, ao contrário de serem contraditórias ou incompatíveis,
refletem novas e complexas articulações locais e globais, com diferentes combinações geográficas dentre
as alternativas em poder das corporações.
Longe de ser homogêneo e uniforme, o espaço se torna mais variado e heterogêneo, porque
passa-se por um processo de reconhecimento do espaço e porque as grandes corporações têm agora o
poder de explorar estas diferenças espaciais, argumentam os dois autores. Podendo tal exploração ser
dada por meio de estratégias locacionais e produzir uma variedade de efeitos espaciais, centripetais,
centrifugais, localizados ou globalizados. Assim, argumentam, como afirma Castells, que verifica-se uma
intensificação da tendência de o “espaço de fluxos se sobrepor ao espaço de lugares” (pg. 113). De
acordo com tal ponto de vista, os espaços locais estão sendo reconstruídos não por uma escolha própria,
mas predominantemente por estarem subordinados a uma lógica global formada pelos interesses
econômicos dominantes.
Consideram, contudo, que ainda podem existir espaços não inseridos nesta lógica global, mas
que a sobrevivência dos mesmos é uma questão em aberto, não podendo ser vistos como modelo de uma
nova era econômica e social. Para os autores, a separação entre estas duas formas está se tornando
difusa, tendo em vista que consideram que as hierarquias funcionais estão dando lugar a redes funcionais -
territorializadas ou globais - mas que se caracterizam, fundamentalmente, por serem hierárquicas, em
termos da distribuição do comando, controle e autonomia.
Entretanto, é necessário ainda recuperar algumas considerações, como a dos autores da noção
de milieu, por exemplo, de que o fracasso de alguns distritos industriais especializados nos últimos anos,
desafiados por uma poderosa competição externa, poderia ter sido evitado com a adoção de estratégias
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 27
ativas e mais abertas de cooperação com competidores externos ao arranjo, visando reforçar as
competências adquiridas. Neste caso destaca-se a participação em joint -ventures e acordos de
colaboração de vários tipos, incluindo principalmente os tecnológicos, financeiros e de marketing
(Camagni, 1991).
Outros autores consideram que as duas formas de organização, as redes de grandes com
pequenas e os arranjos de pequenas, podem coexistir no atual contexto crescentemente globalizado.
Neste sentido, argumenta-se que os vários tipos de redes de pequenas empresas e o modelo das grandes
firmas integradas podem ser bem sucedidos, de acordo com as características específicas da indústria e
local em questão.33 Ressaltam, ainda, a importância do ambiente inovativo, de uma relação positiva entre as
fontes de inovação e seus usuários, do escopo da inovação, de seus impactos nas várias indústrias
usuárias, da presença ou não de economias de escala e dos estágios do ciclo de vida do produto.
Consideram, finalmente, que o papel do Estado deve ser de facilitador, provendo infra-estrutura e
mecanismos de regulação, permitindo o desenvolvimento das formas organizacionais que sejam melhor
adaptadas às firmas, ao tipo de inovação, à indústria ou setor, e aos seus ambientes específicos.
Alguns desses autores que se propõem a discutir a coexistência dos dois tipos de organização,
em um mundo crescentemente globalizado, salientam adicionalmente a relevância da promoção de arranjos
locais de pequenas empresas, especialmente sob o ponto de vista de países em desenvolvimento. Neste
sentido, são destacadas as vantagens características de tais empresas: (i) representam parcela significativa
e diversificada do setor privado; (ii) simbolizam fortes oportunidades de emprego, em uma conjuntura
onde estes se tornam cada vez mais restritos;34 (iii) e, por fim, em muitos casos significam a possibilidade
única (ou mais importante) de promoção do desenvolvimento econômico local.
Independentemente da discussão sobre tamanho mais apropriado dos agentes envolvidos em
arranjos, diferentes autores convergem numa série de pontos. Um deles é que os agrupamentos em redes
33 Ver,por exemplo, Robertson e Langlois (1994). As necessidades específicas das várias estruturas industriais dependem fundamentalmente da natureza e perfil da mudança tecnológica e dos efeitos dos vários padrões de ciclo de vida do produto, sendo que estas estruturas diferem na capacidade de coordenar os fluxos de informação necessários à inovação e de ultrapassar relações de poder adversas à inovação. 34 A este respeito, cabe ressaltar que micro e pequenas empresas empregam cerca de 60% da mão-de-obra no Brasil. Ver dentre outros Lemos (1996).
.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 28
permitem às corporações a possibilidade de identificar oportunidades tecnológicas e impulsionar o
processo inovativo. Considerando-se a existência de dificuldades cada vez maiores de obtenção de
conhecimento e realização de P&D que abranjam as mais diversas áreas, aponta-se largamente a
complementaridade tecnológica como um forte motivo de inserção em redes. Participar delas é uma forma
de monitorar novos desenvolvimentos e de avaliar e ter acesso, por meio de processo de interação, a
outras tecnologias que não as disponíveis pela firma, necessárias para a viabilização de uma inovação.
7 - Conclusão
Como resumo do amplo leque de discussão sobre os arranjos locais, reforçam-se tendências
diferentes, dentre as quais destacam-se duas linhas de argumentação principais. A primeira incluindo
aqueles autores que acreditam que o sucesso dos arranjos locais foi temporário e circunscrito a um
período de transição entre padrões distintos de crescimento econômico. Neste caso, a introdução das
tecnologias de informação e comunicação é vista como alterando (e mesmo aniquilando) o sentido da
proximidade geográfica para a interação entre os atores, inaugurando e reforçando a possibilidade de
interconexão, independentemente do lugar e das distâncias entre estes. Adicionalmente, a aceleração da
globalização da economia é vista como tendendo a diminuir (ou mesmo a acabar com) as chances de as
especificidades locais poderem ser aproveitadas como alternativa de desenvolvimento autóctone. Para
estes autores, a tendência é de que as grandes corporações predominem tanto na esfera global, quanto
naquelas locais que apresentem relevância econômica. Alguns destes autores sugerem que as políticas a
serem adotadas devem objetivar reforçar a formação e o dinamismo de redes entre grandes e pequenas
empresas subcontratadas.
A segunda linha de argumentação sustenta que, no contexto atual de globalização, existem
possibilidades de conjugação de ambos os padrões de organização, que dependerão sobremaneira do
espaço, ambiente e setores em questão e das relações e redes de cooperação que forem promovidas
entre os agentes internos ao local e os agentes externos. Mais especificamente, considera-se neste caso a
dimensão local ainda válida e relevante. Sugere-se também que arranjos locais com alguma dinâmica de
aprendizado e capacidade inovativa devem ser reforçados, especialmente quando se enfocam os países
em desenvolvimento. Neste sentido, argumenta-se que - tendo em vista ser o contexto da inovação
complexo e variado - o papel do Estado deve ser o de promover a consolidação de diferentes formas de
organização que sejam melhor adaptadas ao espaço e ambiente específicos, tanto de grandes empresas,
como de redes de grandes com pequenas empresas e mesmo de arranjos de pequenas empresas. E que a
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 29
existência prévia destes últimos certamente deve ser apoiada por governos, tendo em vista as
possibilidades de desenvolvimento inovativo, econômico e social que podem estar embutidas em tais
arranjos.
Desemboca-se, portanto, em alguns dos objetivos centrais e articulados do projeto de pesquisa
que, em primeiro lugar, reconhece a necessidade de efetuar discussões mais aprofundadas sobre tais
questões focalizando o ponto de vista dos países menos desenvolvidos; e, em segundo lugar, aponta para
a premência de avaliar os impactos das recentes transformações sobre os diferentes arranjos produtivos
destes países, suas capacidades inovativas, assim como a relevância e novos desenhos das políticas de
apoio tanto ao desenvolvimento industrial quanto inovativo.
A análise de diferentes experiências, localizadas tanto nos países mais avançados como naqueles
menos avançados, certamente representa contribuição importante para a pesquisa proposta. No entanto,
além do exame crític o dessas experiências, propõe-se aqui a realização de trabalho empírico no Brasil e
em outros países integrantes do Mercosul, visando reunir evidências e indicações atualizadas, que baseiem
a elaboração de sugestões quanto à promoção de políticas de C&T articuladas ao nível municipal,
estadual, regional, nacional e supranacional.
Globalização e Inovação Localizada, IE/UFRJ 30
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