Golpe da pirâmide_parte 1

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4 DOMINGO, 4 DE MAIO DE 2014 capa Rê Campbell [email protected] Compartilhe: universal.org/29515 P romessa de dinheiro fácil sempre foi isca para vá- rios tipos de trapaça. No Brasil, um golpe antigo vem chamando atenção de ór- gãos de defesa do consumidor e da Justiça desde o início de 2013. Pelo menos 25 mil brasileiros se sentiram lesados nos últimos 15 meses por terem caído no que parece ser o famoso esquema de pirâmide financeira. Esse é o número de queixas feitas ao site Reclame Aqui revelado com exclusividade à Folha Univer- sal . As empresas denunciadas se apresentavam como negócios de marketing multinível, mas cobra- vam altas taxas de quem desejas- se participar. Isso levou as vítimas a contrair dívidas e a investir suas economias. Reclamações desse tipo tam- bém cresceram em diferentes unidades do Procon espalhadas pelo País. As denúncias levaram o Ministério Público de vários estados a averiguar cerca de 80 empresas. Diante das suspeitas, a Justiça brasileira interrompeu a operação de pelo menos três companhias: a TelexFree, a Pri- ples e a BBom. Se ficar configu- rada a formação das pirâmides, os responsáveis terão de respon- der por crime contra a econo- mia popular e, dependendo do caso, por lavagem de dinheiro, como explicou o advogado cri- minalista Caio César Arantes. “O dinheiro simplesmente percorre a cadeia e somente o idealizador do golpe (ou, na me- Lucros altos e em pouco tempo podem indicar uma empresa bem- sucedida ou um esquema ilegal. Saiba como não cair em golpes DINHEIRO QUE CAI DO CÉU? lhor das hipóteses, umas poucas pessoas) ganham trapacean- do os seus seguidores”, explica Arantes. Isso acontece porque a “sustentação” real da pirâmide depende da tarifa de adesão de novos adeptos e não da venda de produtos (veja quadro) . Quem não conseguiu o lu- cro prometido acabou protes- tando. “Desde 2013, houve um boom de denúncias contra esse tipo de empresa”, disse o diretor de operações do Reclame Aqui, Diego Campos. O executivo do portal acredita que o fato de os primeiros integrantes da TelexFree terem divulga- do que foram bem-sucedidos pode ter estimulado a abertu- ra de empresas semelhantes e a atração de novos adeptos. Campos alerta que o golpe da pirâmide costuma ser anun- ciado como marketing multiní- vel. “Se o ganho estiver atrelado ao recrutamento de mais pesso- as, estamos falando de pirâmi- de. No marketing multinível, só a venda de produtos garante a remuneração do participante”, explica o executivo, citando em- presas de cosméticos nas quais revendedores fazem vendas porta a porta, com o auxílio de catálogos e amostras grátis. “Essas pirâmides vêm cres- cendo porque o consumidor está ávido por multiplicar di- nheiro. O consumidor investe um valor e eles prometem que a pessoa vai conseguir um Diego Campos, diretor de operações do site Reclame Aqui Se o ganho estiver atrelado ao recrutamento de mais pessoas, estamos falando de pirâmide. No marketing multinível, só a venda de produtos garante a remuneração do participante FOTOLIA

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4 DOMINGO, 4 DE MAIO DE 2014capa

Rê Campbell [email protected]

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Promessa de dinheiro fácil sempre foi isca para vá-rios tipos de trapaça. No Brasil, um golpe antigo

vem chamando atenção de ór-gãos de defesa do consumidor e da Justiça desde o início de 2013. Pelo menos 25 mil brasileiros se sentiram lesados nos últimos 15 meses por terem caído no que parece ser o famoso esquema de pirâmide fi nanceira. Esse é o número de queixas feitas ao site Reclame Aqui revelado com exclusividade à Folha Univer-sal. As empresas denunciadas se apresentavam como negócios de marketing multinível, mas cobra-vam altas taxas de quem desejas-se participar. Isso levou as vítimas a contrair dívidas e a investir suas economias.

Reclamações desse tipo tam-bém cresceram em diferentes unidades do Procon espalhadas pelo País. As denúncias levaram o Ministério Público de vários estados a averiguar cerca de 80 empresas. Diante das suspeitas, a Justiça brasileira interrompeu a operação de pelo menos três companhias: a TelexFree, a Pri-ples e a BBom. Se fi car confi gu-rada a formação das pirâmides, os responsáveis terão de respon-der por crime contra a econo-mia popular e, dependendo do caso, por lavagem de dinheiro, como explicou o advogado cri-minalista Caio César Arantes.

“O dinheiro simplesmente percorre a cadeia e somente o idealizador do golpe (ou, na me-

Lucros altos e em pouco tempo podem indicar uma empresa bem- sucedida ou um esquema ilegal. Saiba como não cair em golpes

DINHEIRO QUE CAI DO CÉU?

lhor das hipóteses, umas poucas pessoas) ganham trapacean-do os seus seguidores”, explica Arantes. Isso acontece porque a “sustentação” real da pirâmide depende da tarifa de adesão de novos adeptos e não da venda de produtos (veja quadro).

Quem não conseguiu o lu-cro prometido acabou protes-tando. “Desde 2013, houve um boom de denúncias contra esse tipo de empresa”, disse o diretor de operações do Reclame Aqui, Diego Campos. O executivo do portal acredita que o fato de os primeiros integrantes da TelexFree terem divulga-do que foram bem-sucedidos pode ter estimulado a abertu-ra de empresas semelhantes e

a atração de novos adeptos. Campos alerta que o golpe

da pirâmide costuma ser anun-ciado como marketing multiní-vel. “Se o ganho estiver atrelado ao recrutamento de mais pesso-as, estamos falando de pirâmi-de. No marketing multinível, só a venda de produtos garante a remuneração do participante”, explica o executivo, citando em-presas de cosméticos nas quais revendedores fazem vendas porta a porta, com o auxílio de catálogos e amostras grátis.

“Essas pirâmides vêm cres-cendo porque o consumidor está ávido por multiplicar di-nheiro. O consumidor investe um valor e eles prometem que a pessoa vai conseguir um

Diego Campos, diretor de operações do site Reclame Aqui

Se o ganho estiver atrelado ao recrutamento de mais pessoas, estamos falando de pirâmide. No marketing multinível, só a venda de produtos garante a remuneração do participante

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