GONZÁLEZ REY, L. F. Pesquisa Qualitativa Em Psicologia, Caminhos e Desafios. São Paulo, Pioneira...

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    Em: GONZLEZ REY, L. F. Pesquisa Qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. So Paulo: Pioneira

    Thomsom, 2002. p. 24-36.PSQUJSA Qr.AJ.n Ativa FM PSIOiS.\HOS

    doiogia, mas por ser base de uma reconstruo epistemolgica que

    prtfcuri responder s exigendas da construo do conhecimento

    acerca da subjetividade.

    Uma reflexo epistemolgica acerca do

    desenvolvimento da pesquisa qualitativa em psicologia

    Quando apresentamos pela primeira vez nossa compreenso do

    qualitativo, essencialmente como definio epistemoigica, tfnha-

    mos plena conscincia de que a definio do qualitativo na pesquisa

    psicolgica no era ama questo instrumental nem tampouco uma

    questo definida pelo tipo de dados que devem ser includos, mas que

    se define essencialmente pelos processos implicados na construo

    do conhecimento, pela forma de se produzir o conhecimento.

    A definio de uma rlepistemoiogia qualitativa1', expresso que

    pode parecer redundante pei&nte o Fato de que toda epstemologacomo construo dos processos do conhecimento qualitativa, de

    manda significao aiue a necessidade de especificar episcemoiogica-

    mente o qualitativo, necessidade compartilhada de forma crescente

    por difetentes pesquisadores, mas que ainda no encontrou um mar

    co explcito entre as opes metodolgicas atuais das cincias sociais,

    o qual precisamente um dos nossos objetivos,

    Rodrguez Sutil, pesquisador espanhol dedicado ao tema dapesquisa qualitativa, escreve:

    Pois a diferenciao tecnulgica ou Instrumental nos processos de

    pesquisa social concreta entre o enfoque quantitativoMrsttso quantitativo no mais que a conseqncia de uma prvia e mais funda

    mental diferenciao metodolgica, determinada peia existncia e

    [Teas #dgncias especficas de dimense^ e problemas epsstemolgi-cos de natureza heterognea (1994:92),

    Todavia, a reflexo acerca da natureza epistemolgica das con

    tradies entre o qualitativo e o quantitativo no tem sido adotada

    - 24 -

    Mateeial cpm dineios aus a rais

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    Di FHRj\T/.. AROROAtrliXi KlK.l ,-1 PUHt*17A )Wt.J' T'J,il 'A...

    pelos pesquisadores sociais, em parte pelo carter dominant^ da epis-

    temoogia positivista em que esta baseado o uso dos mtodos quali

    tativos,

    A formulao de uma epfetemjog qualitativa tem antecederiates importantes no marxismo, na gpistemologa histrica franeesa,

    na teoria da complexidade e nos trabalhos de F. Feyerabhd. Dife

    rentes filsofos frisam a importncia da filosofia para o desenvolvi

    mento de epistemologias particulares de cada cincia (G, Bachelard,

    L Seve). L Seve escreveu r

    Em outras palavras: se o nascimento da filosofia marxista p^ rim quimera de um conhecimento filosfico dos objetos cientficos,

    assinala, ao mesmo tempo, a apario de um conhecimento cient

    fica dos objetos filosficos; essa outra face da Filosofia materia

    lista dialtica, isso situa em um plano superior a especificidade da

    filosofia e sua responsabilidade em relao s cincias particulares -

    por exemplo, a psicologia dessa vez. segundo vemos, j nao no

    sentido inaceitvel de uma tentativa encaminhada para deduzir ouconstruir priori seu contedo concreto, a partir dos princpio?, deuma concepo geral do mundo: mas no sentido muito diferente de

    uma ajuda proporcionada ejenia paia a soluo dos problemas

    episiemolgicos que se lhe apresentam (1972:49),

    construo das questes epistemolglcas implicadas nas cin

    cias particulares tem estreita relao com as questes epi st etnolgicasgerais tratadas pela filosofia, Essa relao, no entanto, no repousara

    na importao direta do elaborado na filosofia ao campo das cinciasparticulares, mas ser um intercmbio reciproco que garantir o de

    senvolvimento simultneo da e pis temologia a ambos os nwis.

    O carter ontolgico diferente dos objetos de estudo das cincias

    particulares estimula construes tericas que, embora suscetveis do

    complementar-se entre si nas elaborares tericas mais universais da

    filosofia, conduzem elaborao de epstemotagias diferentes, questo

    que tem sido pouco desenvolvida nos campos particulares da pesquisa

    cientfica. esse respeito, o socilogo espanhol, J. bnez afirma:

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    Material com direitoi aularais

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    PiSQUlS Q.:AL!TAlT[VA EU PSICOLOGIA - CAliirSHS E DESAFIOS

    O pensamento bjetivista que mais ou menos se ms pira na pist*

    mologa dc Newton tinha sentido para este porque os objetos do

    sistema solar que ele pesquisava so pouco subjetivos e a pesquisa

    de NeWtpn os afetava muito pouco tambm: a Lua no mudounada pelo fato de Newton tSa estudado. gico que algum que

    pesquisa sistemas muito objetivos (no sentido clssico dessa pala

    vra) implicitamente segue o princpio da objetividade, Mas os

    pesquisadores sociais, os socilogos, os psiclogos, os lingistas, os

    psicanalistas, os semiticos deparam com objetos que so sujeitos

    com a mesma capacidade de distino e objetivao deles mesmos{1994: xi-xiL),

    Todavia, o desenvolvimento da metodologia na psicologia no

    associado a uiha reflexo epistemoogica alternativa que explique os

    processos envolvidos na metodologia adotada. Nesse momento his

    trico, quando so descobertas novas dimenses do objeto de estudo

    da psicologia, assim como novas concepes do processo do conhecimento que afetam de forma geral o desenvolvimento das cincias, a

    reflexo eptstemolgica torna-se insubstituvel.

    O resgate do individual e da dimenso construtiva do conheci

    mento adquire significao essencial no caso da psicologia, O de

    senvolvimento de uma epistemologia para os processos envolvidos

    na construo terica das Formas mais complexas que hoje se inte

    gram representao do objeto da psicologia, entre elas a subjetividade, exige identificar e satisfazer as necessidades epistemolgicas

    subjacentes a essa construo, o que implica uma referencia episte-

    molgica no desenvolvimento de alternativas metodolgicas que,

    de forma integrai, respondam a uma maneira diferente de fazercincia.

    metodologia qualitativa ignora, com muita freqncia, os

    princpios epistemolgicos que esto na base da produo cientfica,

    e isso leva a produzir alternativas que ficam dentro dos limitei epis-

    temoigcQS das opes que pretendia superar, sse o caso de mui

    tas das tentativas qualitativas que tem caracterizado a pesquisa so-

    - 2 6 -

    M^tll com d irei-os 3ularais

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    ciai, as quais no podem superar a epistemologia positivista que est

    na base do desenvolvimento dos mtodos quantitativos (Bogdan e

    Taylor, Strauss, Qasser, Lincoln, Cuba eoutros).A epistemologia aplicada s cincias sociais assume cm todas as

    suas conseqncias o carter histrico-cultural de seu objeto e do co

    nhecimento como construo humana, Nas palavras de Morin:

    s sim, o conhecimento est ligado* de todos os ados, estruturada cultura, organizao social, prxis histrica. Ele no s

    condicionado, determinado c produzido, mas tambm condicionante, determinante e produtor (o que demonstra de maneira evidente a aventura do conhecimento cientfico) (1998:3

    Essa concepo do conhecimento comea a se expandir entre os

    cientistas e permite sair do princpio estreito da ''objetividade" ado

    tado como pretenso de relao biunvoca entre realidade e conheci

    mento.A citao de Morn tem estreita rdao com autores que tiveram

    uma Vso crtica da epistemologia positivista tradicional (Cavailles,

    Cangulhen, Bacheiard e Feyerabend, entre outros), feyerabend, criti

    cado pelo radicalismo de sua abordagem, ope uma viso humana da

    construo do conhecimento, em tudo o que ela tem de irregular, sin

    gular, casual e subjetivo, viso rgida, despersonalizada e determi

    nista que caracteriza o positivismo. Porm, na nossa opinio, cometeu o erro de proclamar-se anarquista e, pelo carter ideolgico da pr

    pria definio, introduziu os fantasmas do caos e a irresponsabilidadeno mbito historicamente asctico da cincia, :eyerabend afirma:

    Nao h uma racional idade cientfica que pdssa ser considerada

    guia para cada pesquisa, mas h normas obtidas de experincias

    anteriores, sugestes heursticas, concepes do mundo, absurdos

    metafsicos, restos e fragmentos de teorias abandonadas, e de todos

    eles Far uso o cientista em sua pesquisa (1993:1).

    P j F ; \ t l iNT S^&iKDACUV.F PAU,H A 1*11 lJ tjg| jQISAIJT 4 I VS

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    QUAtJ'1TIVA VM PSI

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    da mesma constitutiva da cultura, no pode ser consideradaresultado subjetivo de processos objetivos externos a daPmas ex

    presso objetiva de uma realidade subjetivada. Como assinalou

    Demo:

    Somos objetivos como fato social. Quero dizer, nossa subjetividade

    um fato, mas a expressamos de mdo subjetivo, nossa maneira(1995:14).

    A subjetividade, como temos afirmado em outras obras, pressupe superar um conjunto de dicotomias que caracterizam as pro

    dues tericas nas cincias humanas, como so as dicotomias entre

    o social-individual, o mtem o-extemo, o afetivo-cognitivo, o i ntra ps

    quico - interativo.

    A subjetividade faz parte das realidades complexas que a episte-

    mologia da complexidade legitima como representaes do pensa

    mento cientfico, e sua compreenso exge a liberao de amarras denosso pensamento para acessar formas de representao diferentes

    daquelas em que repousa a compreenso do psquico, apesar de haver

    existido no poucos antecedentes de pensamento complexo no

    desenvolvimento de nossa cincia, A complexidade, no obstante,

    no pode ser adotada como uma moda que nos leve a incorporar con

    ceitos de outras epistemologias ou da filosofia, Ela abre uma viso de

    mundo que deve encontrar suas formas de expresso no pensamentopsicolgico.

    A epistemologia qualitativa um esforo na busca de formasdiferentes de produo de conhecimento em psicologia que permi

    tam a criao terica acerca da realidade plurideter minada, diferen

    ciada, irregular, interativa e histrica, que representa a subjetividade

    humana, De acordo com da. pretendemos demonstrar neste livro as

    conseqncias metodolgicas desse conceito mediante a apresenta

    o de uma alternativa de pesquisa qualitativa comprometida de

    forma explcita com uma epistemologia e uma representao terica

    do objero de estudo.

    D W R H K n i S HBOftIMCliNS H#B?H A PU fQVISA

    - 2 9 -

    Material com direi-cs ^ui^rais

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    PE5QU5A QlIALJTATrVA t'W I^&OLKIA - CAMINHOS E &&SAFIOS

    A idia de converter o qualitativo em um paradigma que se sus

    tente por si mesmo como unidade de um referencial metodolgico

    para as diferentes cincias sociais no me parece o melhor caminho

    para a defesa de uma forma alternativa de construo do conhecimento em face da epistemologia positivista e seus diferentes e sutis

    derivados metodolgicos, pois implicaria a padronizao de procedi

    mentos que no respondem a uma metodologia abstrata, mas s con

    seqncias epistemolgicas de representaes tericas diferentes, A

    contradio entre o qualitativo e o quantitativo no constitui con

    tradio metodolgica, ela s aparece em seu carter contraditrio no

    campo epistemolgico.

    A contradio entre o qualitativo e o quantitativo no se expressa instru mentalmente, mas nos processos centrais que caracte

    rizam a produo de conhecimento, A epistemologia positivista, da

    qual expresses em psicologia quantitativa, a denominada por

    Cronbach'pesquis# correlacionai, . um recurso para produzir conhe

    cimento por meio da simplificao do objeto em variveis> que seconvertem cm produtos de conhecimento por sua correlao com

    outras variveis,

    A chamada pesquisa correlacionai deu lugar a um modelo ascti

    co. despersonalizado, regular e quantitativo de produzir conhecimen

    to, que ate hoje considerado equivalente chamada metodologia

    denifica. Nesse modelo gdam-se da condode sujeitos pensantes

    tanto o pesquisador como o sujeito pesquisado, os quais eram substitudos por instrumentos validados e confiveis, considerados caminho

    idneo para produzir conhecimentos "objetivqs* sobre o problema

    pesquisado, Essa obsesso peia objetividade se completava com a apre

    sentaro dos resultados em formas estatsticas. O nmero tornou-se

    assim uma entidade rei fica da por c adora da 'Verdade cientfica",

    Um uma crtica ao uso das matemticas na sociologia, o socilo

    go ]. Ibriez escreveu:

    7. Cronbth, J,, AJaU 1Jteri! com direitos ^ulorais

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    Para analisar os dados produzidos pela pesquisa costuma-se recor

    rer aos ram os das matemticas menos flexveis; lgebra linear, cl

    culo, estatstica. O usual e que se; recorra anlise de regresso, s

    anlises varireis mltiplas por mnimos quadrados, anlise fato-

    rial ou de probabilidades etc. (...) desse ponto se inicia a anise

    faotialj operando sobre uma matriz de coeficientes de correlao

    linear, que so o resultado de ter sido exprimida e jogada fora, pela

    aplicao Jmear, a maior parte da informao dos dados originais

    (1994:139),

    A esse tipo de nmero se ope a epistemologia qualitativa, pois o

    nmero parte de uma linguagem do pensamento para alcanar formas complexas de definio qualitative do estudado, o que inclusive

    se expressa de forma ntida na chamada matemtica qualitativa. De

    fato?essa a matemtica que as chamadas "cindas duras" utilizam,em que as construes matemticas sao um momento do processo

    construtivo geral do pensamento, e no unia maneira de Hmit-o. Ascincias de modelos matemticos nunca substituram a construo

    terica pela produo de nmeros, ao contrrio, os nmeros passaram

    a ser um momento essencial da construo terica.

    A epistemoiogia q u a l i t a t i v a se apia em trs princpios de im

    porta n tes co n seq ii nc ia s met od olagica s, E st es so:O conhecimento uma produo t&ts&ttiva$ntcrf>re?iiwtt isto c, o

    conhecimento no uma soma de fatos definidos por cons ta caesimediatas do momento emprico, Seu carter inter preta tiv o e gerado

    pela necessidade de dar sentido a expresses do sujeito estudado, cuja

    significao para o probiema objeto de estudo s indireta e implcita.A interpretao um processo em que o pesquisador integra, recons-tri e apresenta e.m construes interpretativas diversos indicadores

    obtidos durante a pesquisa, os quais no teriam nenhum sentido se

    tossem tomados de forma isoada, como constataes empricas.

    O uso e a definio dos indicadores como categorias a serem

    usadas nos processos de construo de informao na pesquisa qua

    litativa sero apresentados de forma exaustiva mais adiante, A inter -

    DjfHft;VT,f, ftOFU.MC-.VT I !.VfUT>t TI 'I..,

    - 3 1 -

    M aterial co m difeiios auS a rais

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    Pb s q u s a Q i a i .:j (\t i v a k m P s k :q m x ; ia C a i n h o s - D i

    pretao um processo constante de complexidade progressiva, que

    sc desenvolve por meto da atribuio de significado a formas diferen

    tes do objeto estudado, nos marcos da organizao conceituai mais

    complexa do processo interpreta tivo.

    A interpretao, como temos afirmado em trabalhos anteriores/

    no um processo de reduo da riqueza e diversidade do objeto

    estudado a categorias preestabelecidas, que do significao s mani

    festaes singulares do estudado nos termos das categorias inva

    riveis dos marcos tericos adotados. Essa prtica freqente na inter

    pretao psicanaltica cem motivado severas crticas de psicanalistasbrasileiros destacados (R. Mezn; L. C. Figueredo), Mezn afirma a

    respeito;

    Onde est ento a universalidade do Complexo de Eidipo da Lei cie

    deformao^ Podemos perceber agora que afirm-la a prpri no sejustifica: nessa forma geral e assertiva, tal afirmao cem valor

    como resumo de inumerveis psicanlises, mas s pode ser psica-Saitcamentf mantida se for reinventada e redes coberta em cada

    caso, s pode ser reinventada e redescoberta se no quiser fingi r-

    se de cientfica e definitiva ilustrao iut ttuseattt de um princpioestabelecido de uma vez por todas, decifrao aparentemente obje

    tiva, mas na verdade malandra de um sentido que j se conhece

    antes de comear (J 983:73).

    A interpretao um processo diferenciado que d sentido a

    diferentes manifestaes do estudado e as converte em momentos

    particulares do processo geral, orientado construo terica do su

    jeito, em sua condio de sujeito social como pode ser a famlia, a co

    munidade, a escola, ou de sujeito individual.

    A interpretao no se refere a nenhuma categoria universal e

    invarivel do marco terico adotado, um processo que se realiza

    8 C on z lc Rey, ProHtw+ify?is f ntcigrl tit' /4 fttfogfit ( 199.-:) t l'ffist&na!og(acuafirdfftwy subjtiiindaJ(1997).

    - 8 2 -

    M^till com lireiics ^ulsr

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    atravs da unicidade e complexidade do sujeito estudado. A teoria

    est presente como instrumento a servio do pesquisador em rodo o

    pio cesso interpretativo, mas no como conjunto de categorias a prio

    ri capazes de dar conta dos processos micos e imprevistos da pesquisa; s influi no curso das construes tericas do pesquisador

    sobre o objeto, teoria constitui um dos sentidos do processo de pro

    duo terica, no o esquema geral ao qual se deve subordinar esse

    processo,

    Ainda que toda interpretao seja uma construo* fui constru

    es geradas pelo curso das idias que se combinam no pensamento

    do pesquisador, que tm uma relao mais indireta implcita com oproblema estudado que aquela que caracteriza a interpretao. Essas

    construes, de natureza terica, no podem ser seguidas peio pes

    quisador no momento emprico, que passa a ser uma referncia indi

    reta e mediata em relaao quelas, O pesquisador, como sujeito, pro

    duz idias ao longo da pesquisa, em um processo permanente que

    conta com momentos de integrao e continuidade de seu prpriopensamento, sem referncias identificveis no momento emprico.

    Esse nvd terico da produo cientfica deixado de lado pela epis-temologia positivista, em que o cenrio da cincia definido pclaspecto emprico-

    Um elemento essencial para distinguir a metodologia qualitati

    va que propomos da maioria dos enfoques, reconhecidos no chama

    do paradigma qualitativo, c que, para ns, no obstante o que muitosautores sustentam (Taylor e Bogdan, G las ser e Strau$s; Cuba |

    Lincoln, CresweLl e outros), as modalidades qualitativas produzem

    estruturas tericas que vo muito alm de qualquer critrio atual de

    confirmao no plano emprico. Essas construes Sc convertem em

    recursos indispensveis para entrar em zonas de senado ocultas pela

    aparncia. Esse princpio tem diferenc.es repercusses ao nvel metr

    dolgico, entre as quais esto o lugar ativo do pesquisador e do sujeito pesquisado como produtores de pensamento.

    Quando afirmamos o carter construtivo-interprctativo da pro

    duo de conhecimentos, no o contrapomos ao carter descritivo,

    $FfjKf:.\m ;i:\. j im a pv.iq v iw.' u.i irn:4. .

    - 3 3 ^

    Material com direioi aulcrais

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    PfcS^m SA QUALITATIVA FM PsidOL ClA - CAMINHOS E DfiSAFIOS

    que outra forma de produo de conhecimento, no s compatvel

    com a construo terica, mas freqentemente necessrio nela.

    Carter interativo do processo dc produo do conhecimento, Esse segundo atributa da epistemologia qualitativa enfatiza que as relaes

    pesquisador-pesquisado sao uma condio para o desenvolvimento

    das pesquisas nas cincias humanas e que o interativo uma dimen

    so essencial do processo de produo de conhecimentos, um atribu

    to constitutivo do processo de estudo dos fenmenos humanos.

    Esse princpio orientar a ressignificao dos processos de comu

    nicao no nvel metodolgico e mudar muito do institudo nos projetos para pesquisa realizados sobre a influncia positivista. A partir

    dessa perspectiva epistemolgica, o principal cenrio da pesquisa so

    as relaes pesquisador-pesquisado e as relaes dos sujeitos pesqui*

    sados entre st nas diferentes formas de trabalho grupai que a pesquisa

    pressupe.A considerao da natureza interativa do processo de produo

    do conhecimento implica compreend-lo como processo que asstmi~la os imprevistos de todo o sistema de comunicao humana e que,

    mclusivet utiliza esses imprevistos como situaes significativas para

    o conhecimento. Outra conseqncia importante da aceitao da na

    tureza interativa do conhecimento a aceitao dos momentos informais que surgem durante a comunicao, como produtores de

    informao relevante para a produo terica.

    A considerao do carter interativo da produo de conhecimentos outorga valor especial aos dilogos que nela se desenvolvem

    e nos quais os sujeitos se envolvem emocionalmente e comprometem

    sua reflexo em um processo em que se produzem informaes de

    grande significado para a pesquisa. Aceitar o curso dos dilogos aber

    tos entre os participantes da pesquisa pressupe estimular a discus

    so dos sujeitos estudados entre sirem um processo pelo qual o inter

    locutor ftilit idias e emoes que s surgem ao calor da reflexo

    conjunta e espontnea em que se desenvolve a vida cotidiana dos

    protagonistas (M, Billig, J997).

    O carter interativo do conhecimento leva a reivindicar a im

    * 3 4 -

    Material com direitos aulcrais

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    DlLRl-.STii. 1 1f>'17ACHN ' f^l K.' 4 11 .-1 [ Vdf ,17VTTl! *.

    portncia do contexto e das relaes entre os sujeitos que intervem

    na pesquisa (3 do pesquisador e do pesquisado, por exempIS), como

    momentos essenciais para a qualidade do conhecimento produzido.

    Signi f i cao da singu lar i dade como rt fvel legt imo da produo do co-

    fhiCimnt.A singularidade foi historicamente desconsiderada quanto sua legitimidade como fonte de conhecimento dc nt hco ; mas na

    pesquisa da subjetividade adquire importante significao qualitati

    va, que impede de identific-la com o conceito de i nmduidt uk . A

    smgukridade se constitui como realidade diferenciada na histria da

    constituio subjetiva do indivduo.

    Assim, quando trabalhamos com o sujeito como singularidade, 0

    identificamos como forma nica e diferenciada de constituio subje

    tiva, o que marca uma diferena essencial em relao pesquisa expe^rimental com porta men tal istaTque trabalha com indivduos a pare ir da

    premissa de que no existem entre eles diferenas que influam sobre o

    comportamento estudado. Sob esse aspecto, a investigao comporta-

    me ntalista usa 0 indivduo como entidade objetivada, enquanto nsutilizamos a singularidade como momento diferenciado e subjetivado,

    que aparece como individualidade em condio de sujeito,

    O conhecimento cientfico, a partir desse ponto de vista quali

    tativo. no se legtima pela quantidade de sujeitos a serem estudados,

    mas pela qualidade de sua expresso. O nmero de sujeitos a serem

    estudados responde a um critrio qualitativo, definido essencial

    mente pelas necessidades do processo de conhecimento que surgemno curso da pesquUa,

    A expresso individual do sujeito adquire significao conforme

    o lugar que pode ter em determinado momento para a produo de

    idias por parte do pesquisador. A informao expressa por um sujeito

    concreto pode converter-se em um aspecto significativo para a pro

    duo de conhecimento, sem que tenha de repetir-se necessariamente

    em outros sujeitos Ao contrrio, seu lugar no processo terico podelegitimar-se de mltiplas formas no curso da pesquisa, A legitimao

    do conhecimento se produz pelo que significa uma construo ou um

    resultado em relao s necessidades atuais do processo de pesquisa.

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    WatsriJl com direitos aulcrais

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    PLSQl ISAQt M.n VI IVA - C.\>5I ElOS DESftFfOS

    0 nmero de casos a serem considerados em uma pesquisa tem

    a ver. antes de Ludo, com as necessidades de lafotmap que se de

    finem em seu curso. Em certas ocasies, e necessrio abrir novas

    zonas de sgnifieo do problema estudado, sobre as quais so el&bd-adas diferentes hipteses no curso da pesquisa, as quais, no entanto,

    no puderam se confrontar com a expresso dos sujeitos escudados.

    Os trs princpios gerais da epistemoiogia qual ira va apresentados levam a diferentes formas de produo de conhecimento, cujo

    desen^lvimeito metodlgico um dos principais desafios para apsicologia. Nos captulos que se seguem, aprofundaremos as defini

    es metodolgicas que temos produzido nesse caminho, dentro do

    qual os momento* tericos, metodolgicos e epi st etnolgicos se suce

    deram de diferentes formas em um mesmo processo.

    Caractersticas da subjetividade como objeto da

    pesquisa psicolgicaFara tratar as definies metodolgicas que derivam do marco

    epistemofgjco apresentado, pensamos que seria til uma breve ex

    posio das caractersticas gerais do objeto dc estudo adotado a dasrepresentaes tericas construdas sobre ele no momento atuai do

    desenvolvimento da psicologia. A subjetividade tem sido, com fre

    quncia, cermo reservado para os processos que caracterizam o mundo interno do suieito, sem que esse mundo interno, em sua condio

    subjetiva, tenha sido claramente elaborado teoricamente. muito

    interessante a forma como a psicanlise passou a ser uma referencia

    unive.rsa! para o tema da subjetividade, praticamente em todas as

    esferas das cincias sociais, o que teve a ver. entre outras coisas, com

    o fato de fornecer informao sobre os processos complexos do mun

    do do sujeito, pouco elaborados pela psicologia e petas cincias antro-possociais em geral*

    Na nossa opinio, a subjetividade e um sistema complexo de sig

    nificaes e sentidos subjetivos produzidos na vida cultural humana,

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