1

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA NO ESTADO DO PARANÁ: A EXPANSÃO DO

ENSINO SUPERIOR NO CAMPO DA SAÚDE

Raphael Klein de Souza1

Rosa Maria Rodrigues2

Solange de Fátima Reis Conterno3

Gilson Fernandes da Silva4

RESUMO: Estudar e compreender a abrangência da educação superior é uma questão essencial, de

interesse público, exigindo constantes revisões dos modelos de formação. Este estudo trata da

expansão dos cursos de graduação em Psicologia no Estado do Paraná, e faz parte das pesquisas do

Grupo de Estudos e Pesquisas em Práticas Educativas e Formação em Saúde da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná – Unioeste. Efetuouse um estudo qualitativo de caráter documental utilizando informações

de domínio público contidas no Cadastro das Instituições de Ensino Superior do Ministério da Educação,

consultado através do Sistema eletrônico do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira. Objetivou-se caracterizar os cursos de graduação em Psicologia ofertados no Estado do Paraná e

analisar a expansão do ensino superior em Psicologia no Estado. Dos 37 cursos identificados, a maior parte

encontra-se em instituições de natureza administrativa privada. Constata-se nos últimos anos a rápida

expansão dos cursos de graduação, especialmente a partir da década de 2000, com implantação de novos

cursos em Instituições de Ensino Superior privadas, reproduzindo, na internalidade da Psicologia, a

privatização da educação superior que caracterizou os últimos 20 anos.

PALAVRAS-CHAVE: Educação superior; Psicologia; Formação.

INTRODUÇÃO

Pode-se considerar que, no Brasil, desde a criação dos cursos superiores por Dom João VI a

partir de 1808, os cursos de nível superior expandiram-se acompanhando o desenvolvimento das

diversas regiões com a implantação de diversos cursos, dentre eles, os do campo da saúde,

influenciando e determinando os arranjos sociais em todas as unidades federativas do país.

Os estudos sobre a formação e atuação de profissionais do campo da saúde no país têm

sido discutidos de forma mais contundente desde a 1ª Conferência Nacional de Saúde,

1 Psicólogo, discente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Biociências e Saúde – Nível Mestrado,

do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Unioeste. raphaelklein02@yahoo.com.br 2 Doutora em Educação. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –

Unioeste. 3 Doutora em Educação. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –

Unioeste. 4 Enfermeiro, discente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Biociências e Saúde – Nível Mestrado,

do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Unioeste.

2

ocorrida em 1941, com desdobramentos e impactos nas políticas sociais, englobando os

diversos setores formativos e refletindo na prestação de serviços na área da saúde

(CONTERNO, 2013).

A universidade brasileira estruturou-se com base nos modelos napoleônico e alemão,

caracterizada pelo monopólio estatal e pela autonomia da ciência. A partir da reforma

universitária ocorrida em 1968, expressa na Lei Federal 5.540, passou a receber a influência

do modelo norte americano voltando fortemente suas ações de ensino e pesquisa para o

mercado, ocorrendo a partir deste período, a maior expansão da educação superior no país,

com a implantação e ampliação dos cursos em instituições públicas e a proliferação de

instituições privadas (SILVA; OURIQUE, 2012).

No que tange a formação em Psicologia, diversos movimentos ocorridos nas décadas

de 1940 e 1950 resultaram na regulamentação oficial da profissão no ano de 1962 com o

reconhecimento da profissão e o curso de formação superior em Psicologia. Com a

regulamentação surgem os primeiros cursos de Psicologia no Brasil e, posteriormente, no

Estado do Paraná (LISBOA; BARBOSA, 2009).

Devido à complexidade e relevância social do campo da formação em saúde e da exigência

de constantes revisões dos modelos de formação, a delimitação do tema deste estudo é a graduação

em Psicologia no Estado do Paraná, compreendida no período de 1962 a março de 2014.

Conceber a abrangência da educação superior implica em seu entendimento não

exclusivamente como uma atividade econômica; ela é de interesse público, mas que no

contexto brasileiro não significa que se configure em uma ação exclusiva do Estado. A análise

dos dados desta pesquisa apresenta uma discussão sobre a expansão dos cursos de Psicologia

no Estado do Paraná desde sua criação até o momento atual, questionando-se como se

configurou no Estado do Paraná a formação no campo da Psicologia.

Historicamente no Brasil, as Instituições de Ensino privadas tiveram maior expansão,

devido ao fato do poder público ter frequentemente diminuído sua atenção no âmbito da

educação institucionalizada. Um avanço na oferta dos cursos públicos, considerando sua

realidade jurídica, necessariamente passa por modificações nas polícias de Estado (SILVA;

OURIQUE, 2012).

3

OBJETIVOS

- Caracterizar os cursos de graduação em Psicologia ofertados no Estado do Paraná,

em situação regular perante o Ministério da Educação;

- Analisar a expansão do ensino superior em Psicologia no Estado do Paraná.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O campo de pesquisa do estudo foi o Estado do Paraná, um dos 26 estados do Brasil

situado na Região Sul do País. As Instituições de Ensino Superior – IES pesquisadas foram as

que ofertam cursos de graduação em Psicologia no Estado, a partir de 1969 quando criou-se o

primeiro curso de Psicologia.

Para coleta dos dados referente à formação em Psicologia no Estado do Paraná, foram

utilizados dados do Cadastro das Instituições de Ensino Superior do Ministério da Educação –

MEC, consultado por meio do Sistema Eletrônico e-mec, sistema do Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sendo selecionados todos os cursos

em situação regular no Estado do Paraná (BRASIL, 2014).

O Sistema Eletrônico e-mec apresenta um cadastro para cada habilitação possível:

bacharelado e licenciatura, além de um cadastro geral. Ou seja, em algumas Instituições de

Ensino Superior, cada curso consta no sistema mais de uma vez, ocorrendo um registro para

cada situação. Para efeito deste estudo, considerou-se cada curso apenas uma vez.

Nos casos de instituições que ofertam cursos em mais de uma cidade, considerou-se

um curso para cada cidade. Os dados foram coletados no mês de março do ano de 2014,

sistematizados e apresentados em tabelas com a finalidade de facilitar a visualização,

utilizando-se da estatística descritiva.

RESULTADOS

Historicamente a disciplina de Psicologia é ofertada nos cursos de graduação,

principalmente nas formações em Filosofia, Pedagogia, Direito e Medicina. A luta para o

reconhecimento legal da Profissão de Psicólogo no Brasil começou no decorrer das

décadas de 1940 e 1950, época em que se vivenciava a mobilização para o

reconhecimento formal da Psicologia como profissão (DIMENSTEIN, 1998; VILELA,

4

2011; CANDIDO; MASSIMI, 2012).

As primeiras associações de Psicologia e os primeiros periódicos foram fundados no

período de 1940 e 1950. Em 1945 criou-se a Sociedade de Psicologia de São Paulo e o

periódico intitulado “O boletim de Psicologia”. No ano de 1954 constituiu-se a Sociedade

Brasileira de Psicologia, tendo como objetivo o desenvolvimento da Psicologia como ciência,

profissão, tornando-se uma grande incentivadora para o reconhecimento da profissão

(ANGELINI, 2011; VILELA, 2012).

Em 1953 foi implantado na Universidade Católica do Rio de Janeiro o primeiro curso

de formação em Psicologia no Brasil. No ano seguinte em 1954 foi implantado o curso na

Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e no ano de 1957, criado o curso de Psicologia

na Universidade de São Paulo – USP, com início de suas atividades de formação no ano de

1958, acelerando o processo para a regulamentação dos cursos e da profissão de Psicólogo

(PAULIN; LUZIO, 2009; VILELA, 2011; CANDIDO; MASSIMI, 2012).

No entanto, a formalização do ensino da Psicologia no Brasil só ocorreu no ano 1962,

por meio da Lei nº. 4.119/62, que dispõe sobre os cursos de formação em Psicologia e

regulamenta a profissão de Psicólogo (BRASIL, 1962).

Observa-se que a constituição da profissão Psicologia acompanhou os movimentos

inerentes à constituição/delimitação de uma disciplina científica, de uma área de atuação

profissional, de um trabalho (PIRES, 2007). Ou seja, para constituir-se enquanto campo do saber

as profissões necessitam divulgar suas ações, o que se fez pela criação de um instrumento para

divulgação da profissão; além disso, a formulação de um processo formal de educação dos

sujeitos que irão desempenhá-la para só, posteriormente ser regulamentada legalmente.

Com a regulamentação da formação, expandiu-se a criação de cursos no Brasil, sendo

que no Estado do Paraná ocorreu a implantação do primeiro curso de Psicologia no ano de

1969, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR, instituição de natureza

administrativa privada, situada na cidade de Curitiba, capital do Estado. No Estado, esta

instituição foi pioneira na criação de outros cursos, como o de enfermagem criado em 1954

(RODRIGUES; CALDEIRA, 2007). Portanto, no Estado foi a educação privada, na sua

modalidade confessional que, primeiro se desenvolveu expondo o distanciamento do governo

5

federal e estadual na oferta de educação superior, característica da formação político-

econômica e social do Brasil.

De acordo com dados colhidos no Sistema Eletrônico e-mec, do Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, em março de 2014, havia 37 cursos de

Psicologia no Paraná, dentre os quais 33 eram de natureza jurídica privada e 4 de natureza

jurídica pública, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição do total de cursos de graduação em Psicologia no Paraná

por natureza jurídica administrativa, no período 1962 a 2014

Fonte: MEC/Inep, 2014

Os dados referentes à expansão da instalação dos cursos no Estado do Paraná estão em

conformidade com os dados relativos à pesquisa nacional, realizada por Lisboa e Barbosa

(2009), que apresentam as décadas de 1990 e início do século XXI, como momentos de

grande crescimento do número de cursos de Psicologia no Brasil.

Cabe ressaltar que com a implantação do Sistema Único de Saúde – SUS na década de

1990 e os encaminhamentos para uma formação voltada para as questões sociais, a Psicologia

não obteve grande inserção no serviço público, um dos principais empregadores de

trabalhadores em saúde. Alguns fatores que dificultam a inserção deste profissional no setor

público são as características formativas específicas, que se fundamenta no modelo de atuação

clássico, voltado para uma proposta de atendimento individual, em consultórios particulares

como profissionais liberais (PAULIN; LUZIO, 2009).

6

A pouca inserção do Psicólogo no SUS pode ser resultado da reduzida oferta de cursos em

instituições públicas; é possível verificar que no decorrer dos anos de 1995 a 2005 foram criados

13 cursos de Psicologia privados e 1 público, e no período de 2006 a 2014 foram criados 17

cursos privados e nenhum público. Observa-se que a rede privada é a responsável pela expansão

dos cursos de Psicologia no Estado. O crescimento da oferta dos cursos, no período de 2006 a

2014, representa um aumento da ordem de 45,9% em um período inferior a 8 anos.

Conforme Rodrigues e Caldeira (2007), esta expansão é uma característica da

educação superior no Brasil, observada no final dos anos 1990 e início dos anos 2000. E

Saviani (2010) expõe que, historicamente a expansão do ensino superior ocorreu com a

abertura isolada e de forma indiscriminada de instituições de natureza privada.

Pode-se observar que a expansão dos cursos de Psicologia no Paraná está concentrada

significativamente nas instituições privadas, acompanhando as tendências de implantação dos

cursos no restante do país, que segundo dados de Lisboa e Barbosa (2009), no Brasil os cursos

de Psicologia em instituições privadas somavam 334 cursos representando 84,34% dos

cursos, e nas instituições públicas 62 cursos representando 15,66% do total, conforme dados

de 2009. No Paraná, atualmente 33 cursos estão instalados em instituições privadas

representando 89%, e 4 cursos estão instalados em Instituições públicas representando 11%

do total de cursos no Estado. O Gráfico 1 apresenta a distribuição dos cursos por modalidade

Jurídica do ano de 1962 a 2014.

Gráfico 1. Evolução da implantação dos cursos de Psicologia por modalidade Jurídica

Fonte: MEC/ Inep, 2014.

7

No decorrer da década de 1990, ocorreu um processo de mudança histórica na forma de

organização das Instituições de Ensino Superior, suspendendo o processo de expansão das

instituições públicas, e estimulando a expansão das instituições privadas, com ou sem fins lucrativos

(SAVIANI, 2010). Mesmo a educação superior pública e gratuita experimentava até este período

algum crescimento, embora tímido, com a criação de alguns cursos públicos e gratuitos.

Já nos anos 2000, embora se observe uma modesta retomada de investimento e ampliação

das Instituições Federais, com a implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e

Expansão das Universidades Federais – REUNI, através do desmembramento e criação de novas

vagas, não houve expansão dos cursos públicos de Psicologia no Estado do Paraná, como observado

na Figura 1, porém ocorreu a continuidade aos estímulos as instituições privadas, acelerando o

processo de expansão de vagas (SAVIANI, 2010).

Nota-se que em relação aos cursos de Psicologia no Paraná, o avanço na modalidade

pública foi pouco significativo, de 1962 até o ano 1979 existiam 3 cursos, sendo implanto um

novo curso em 2003. Já na modalidade privada, de 1962 até o ano de 1979 existiam, também,

3 cursos, contudo no período de 1999 a 2014 foram implantados 30 novos cursos.

O quadro 1 apresenta o total de instituições/cursos de Psicologia no Estado do Paraná no

período de 1962, ano formal da regulamentação da formação até março de 2014, sendo estes dados

provenientes do site do Sistema e-mec e que estão disponíveis para consulta pública. Nela se

observa que apesar da regulamentação da formação em Psicologia datar do ano de 1962, o primeiro

curso no Estado do Paraná surgiu em 1969, através de uma instituição privada; somente no ano de

1972 ocorreu a implantação de um curso na modalidade pública.

Cabe destacar que na década de 1970 ocorreu o agravamento da crise do capitalismo,

levando o projeto neoliberal a assumir uma tentativa de regular a educação superior através do

mercado globalizado, influenciando as decisões das esferas políticas. As universidades

públicas neste contexto são acusadas de pouco produtivas, submetendo-se a mecanismos de

avaliação da produtividade, tentando-se inserir a universidade na lógica do capital, gerando

uma crise institucional nas instituições públicas (SILVA; OURIQUE, 2012).

Percebe-se que independente da modalidade jurídica, houve uma estagnação na expansão

dos cursos no período compreendido do ano de 1979 até o ano de 1999, quando se constata que se

8

passaram 20 anos sem a implantação de novos cursos. Porém, de 1999 até o presente momento,

31 novos cursos foram implantados, no período de aproximadamente 15 anos.

Quadro 1. Total de cursos de Psicologia no Estado do Paraná 1962 a 2014

Instituição Natureza

Jurídica Localização

Ano de

criação

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC/PR Privada Curitiba 1969

Centro Universitário Filadélfia - Unifil Privada Londrina 1972

Universidade Estadual de Londrina - UEL Pública Londrina 1972

Universidade Federal do Paraná - UFPR Pública Curitiba 1972

Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Privada Curitiba 1973

Universidade Estadual de Maringá - UEM Pública Maringá 1979

Centro Universitário de Maringá - Unicesumar Privada Maringá 1999

Faculdade de Ciências Aplicadas de Cascavel - Faciap Privada Cascavel 2001

Universidade Positivo - UP Privada Curitiba 2001

Faculdade Assis Gurgacz - FAG Privada Cascavel 2002

Faculdade Dom Bosco - FDB Privada Curitiba 2003

Faculdade Evangélica do Paraná - Fepar Privada Curitiba 2003

Faculdade Ingá Privada Maringá 2003

Faculdade União das Américas Privada Foz do Iguaçu 2003

Universidade Estadual do Centro Oeste - Unicentro Pública Guarapuava 2003

Faculdade de Pato Branco - Fadep Privada Pato Branco 2004

Universidade Paranaense - Unipar Privada Umuarama 2004

Faculdade Pitágoras de Londrina Privada Londrina 2005

Instituto de Ensino Superior de Foz do Iguaçu - Iesfi Privada Foz do Iguaçu 2005

Universidade Paranaense - Unipar Privada Cascavel 2005

Faculdade Anglo-Americano - FAA Privada Foz do Iguaçu 2006

Faculdade Guairacá - FAG Privada Guarapuava 2006

Faculdade Sant'ana - Iessa Privada Ponta Grossa 2006

Faculdade de Adm., Ciências, Educação e Letras - Facel Privada Curitiba 2007

Faculdade de Jandaia do Sul - Fafijan Privada Jandaia do Sul 2007

Faculdades Integradas do Brasil - Unibrasil Privada Curitiba 2007

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC/PR Privada Toledo 2007

Centro Universitário Franciscano do Paraná - FAE Privada Curitiba 2008

Faculdade Campo Real - Campo Real Privada Guarapuava 2008

Centro Universitário Campos de Andrade - Uniandrade Privada Curitiba 2009

Instituto de Ensino Superior de Londrina - Inesul Privada Londrina 2009

Faculdade Metropolitana de Maringá - Unifamma Privada Maringá 2010

Faculdade União de Campo Mourão Privada Campo Mourão 2010

Faculdade de Apucarana - FAP Privada Apucarana 2011

Faculdades Pequeno Príncipe - FPP Privada Curitiba 2011

Universidade Norte do Paraná - Unopar Privada Londrina 2011

Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC/PR Privada Londrina 2012

Fonte: MEC/ Inep, 2014.

A formação em Psicologia no Estado do Paraná acompanhou o constatado no cenário

nacional quando, em 2003 do total de instituições com cursos de Psicologia, 81,3% eram

privadas e 18,7 eram públicas, traçando um panorama do acesso ao ensino em Psicologia no

9

Brasil, “trazendo à discussão a desvalorização do ensino público no Brasil em contraste com a

proliferação das instituições privadas de ensino superior” (VIEIRA, et al., 2006, p. 253).

A partir dos dados sistematizados nesta pesquisa pode-se considerar que a expansão do

ensino de Psicologia no Paraná, ocorreu de forma significativa a partir dos anos 2000,

impulsionada pela oferta de cursos em Instituições de Ensino Superior de natureza privada.

No que se refere à expansão do ensino superior no Brasil, considera-se que na última

década, o Governo Federal manteve e aprofundou o processo de privatização, apresentado no

decorrer da década de 1990, reestruturando a ação estatal, no que tange às políticas públicas,

como por exemplo, o Programa Universidade para Todos – PROUNI, um programa

caracterizado pela compra de vagas em Instituições de Ensino Superior privadas, concedendo

bolsas de estudo integrais e parciais para alunos estudarem nestas instituições e o Fundo de

Financiamento Estudantil – FIES, que é um programa do Ministério da Educação destinado a

financiar a graduação na educação superior de alunos matriculados em instituições privadas,

são exemplos deste processo (SAVIANI, 2010; RODRIGUES; CALDEIRA, 2007).

E conforme salienta Saviani (2010), a situação da expansão das Instituições de Ensino

Superior e dos cursos de graduação, está em estreita simbiose com os mecanismos de

mercado. “Aprofunda-se, assim, a tendência a tratar a educação superior como mercadoria

entregue aos cuidados de empresas de ensino que recorrem a capitais internacionais com

ações negociadas na Bolsa de Valores” (SAVIANI, 2010, p. 11).

CONCLUSÕES

A sistematização dos dados disponíveis à consulta pública no Sistema e-mec do

Ministério da Educação expõe que a formação em Psicologia no Paraná está fortemente

concentrada em cursos não gratuitos, sejam eles privados ou confessionais. Identificou- se que

89,2% deles, são cursos/instituições privadas e que a maior expansão ocorreu nos anos de

2006 a 2014 com a implantação de 17 instituições o que representa 45,9% das instituições do

Estado. De 1962 até o ano de 1999, existiam 7 cursos no Estado dos quais, 3 eram públicos e

4 privados. E de 2000 até 2014, foram implantados 30 cursos: 29 são privados e 1 público.

Apesar do crescimento da oferta dos cursos em instituições privadas, nota-se que esta

expansão é modesta e que os baixos salários tornam os cursos pouco atrativos. Fatores

10

expressos pela falta de espaço efetivo do profissional da Psicologia no setor público e ao

mesmo tempo em que tem dificuldade em se colocar no mercado como profissional liberal,

dado que abordar as demandas “subjetivas ou da alma”, ainda é privilégio das classes mais

favorecidas economicamente, aliado ao alto custo da formação em instituições privadas,

acabam restringindo a formação nesta área.

Observa-se que o último curso público instalado no Estado foi na Universidade

Estadual do Centro Oeste – Unicentro, no ano de 2003 e o último curso privado foi instalado

no Estado em 2012 na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR, na cidade de

Londrina. Dados que permite afirmar que, a formação em Psicologia no Estado é

majoritariamente levada a cabo pela iniciativa privada e, consequentemente a assistência

psicológica no Estado é feita por profissionais formados nestas instituições. Sabe-se que o

foco das instituições privadas não é, necessariamente, a formação para atender as questões

sociais, mas se voltam à oferta de um produto no mercado que deve ser consumido pelos que

aceitam pagar por este serviço. Esta questão pode refletir nas políticas de saúde, uma vez que

se defende que as instituições formadoras em saúde deveriam voltar suas ações formativas

para a implantação do SUS (sistema público, universal, gratuito e que deve prestar assistência

integral). Será que sendo a formação em Psicologia majoritariamente privada seu foco está na

formação para o Sistema Único de Saúde?

Sendo a oferta de cursos públicos significativamente reduzida em comparação ao setor

privado, com a quase totalidade das vagas ofertadas no setor privado, nota-se que, no caso dos

cursos de Psicologia do Paraná, a política pública para esta modalidade, tende a se aproximar

com os preceitos neoliberais demonstrando neste caso, uma distorção entre o que se espera da

formação dos cursos da área da saúde e o que efetivamente pode estar sendo implementado.

REFERÊNCIAS

ANGELINI, A. L. Associação de Psicologia de São Paulo. In: JACÓ-VILELA, A. M. (Org.)

Dicionário Histórico de Instituições da Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago / Brasília, DF:

Conselho Federal de Psicologia, 2011. Disponível em: <http://newpsi.bvs-

psi.org.br/ebooks2010/pt/Acervo_files/DicionarioHistorico.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2014.

11

BRASIL. Lei Federal nº. 4.119, de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre os cursos de formação em

Psicologia e regulamenta a profissão de Psicólogo. Brasília, DF, 27 ago. 1962. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/1950-1969/L4119.htm>. Acesso em: 20 abr. 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira – INEP. Sistema e-Mec. Cadastro de Instituições de Ensino Superior Credenciadas por

Curso. Brasília, 2014. Disponível em: <http://emec.gov.br/>. Acesso em: 20 mar. 2014.

CANDIDO, G. V.; MASSIMI, M. Contribuição para a formação de Psicólogos: análise de artigos de

Carolina Bori publicados até 1962. Psicol. cienc. prof.: Revista do Conselho Federal de Psicologia,

Brasília, v. 32, n. esp, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=

S1414-98932012000500018&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 7 jun. 2014.

CONTERNO, Solange de Fátima Reis. Pressupostos pedagógicos das atuais propostas de

formação superior em saúde no Brasil: origens históricas e fundamentos teóricos. 262f. Tese

(Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal de São Carlos. São

Carlos/SP, 2013. Disponível em: <http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/

tde_arquivos/8/TDE-2013-11-07T100454Z-5711/Publico/5556.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2014.

DIMENSTEIN, M. D. B. O Psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde: Desafios Para a Formação e

Atuação Profissionais. Estud. psicol., Natal, v 3, n.1, jun. 1998. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-

294X1998000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 7 jun. 2014.

LISBOA, F. S.; BARBOSA, A. J. G. Formação em Psicologia no Brasil: um perfil dos cursos de

graduação. Psicol. cienc. prof.: Revista do Conselho Federal de Psicologia, Brasília, v. 29, n. 4, 2009.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-

98932009000400006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 13 jun. 2014.

PAULIN, T.; LUZIO, C. A. A Psicologia na Saúde Pública: desafios para a atuação e formação

profissional. Revista de Psicologia da UNESP, v. 8(2), p. 98-109, 2009. Disponível em:

<http://www2.assis.unesp.br/revpsico/index.php/revista/article/viewFile/138/170>. Acesso em: 7 jun.

2014.

PIRES, D. A enfermagem enquanto disciplina profissão e trabalho. Rev Bras Enferm. Brasília. v. 62,

n.5, p. 739-44, set-out, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v62n5/15.pdf>. Acesso

em: 17 jun. 2014.

RODRIGUES, R. M.; CALDEIRA, S. Desdobramentos das Mudanças da Educação Superior: O caso

da graduação em Enfermagem no Estado do Paraná. In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTADO E

POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL, 3., 2007. Anais... Cascavel, PR: Edunioeste, 2007. Disponível

em: <http://cac- php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario3/Formacao_e_gestao_do_trabalho/

desdobramentos_das_mudancas_da_educacao_superior_o_caso.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2014.

SAVIANI, D. A expansão do ensino superior no Brasil: mudanças e continuidades. Poíesis

Pedagógica: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFG, Campus Catalão, v. 8, n.

2, p. 4-17, ago./dez. 2010. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/

index.php/poiesis/article/view/14035>. Acesso em: 14 jun. 2014.

12

SILVA, J. P.; OURIQUE, M. L. H. A expansão da educação superior no Brasil: um estudo do caso

Cesnors. R. Bras. Est. Pedag.: Revista do INEP, Brasília, DF, v. 93, n .233, p. 215-230, abr. 2012.

Disponível em: <http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/2025/1790> Acesso em: 15

jun. 2014.

VILELA, A. M. J. História da Psicologia no Brasil: uma narrativa por meio de seu ensino. Psicol.

cienc. prof.: Revista do Conselho Federal de Psicologia, Brasília, v. 32, n. esp., 2012. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-

98932012000500004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 7 jun. 2014.

VIEIRA A. L. S.; et al. A profissionalização da psicologia no Brasil.In: BRASIL. Ministério da Saúde.

Fundação Oswaldo Cruz. Dinâmica das graduações em saúde no Brasil: subsídios para uma política

de recursos humanos. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. p. 244-261. Disponível em:

<http://www.ensp.fiocruz.br/observarh/arquivos/Graduacoes.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2014.