Grafite, cubismo e design gráfico: um mapeamento para a compreensão das trocas subjetivas

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Este artigo pretende delimitar recortes precisos sob o ponto de vista da Teoria eCrítica na História da Arte, para um estudo acerca das dimensões históricas, formais econceituais de instalações produzidas em grafite na cidade de Porto Alegre.Investigando especificamente representações influenciadas pelo Design Gráfico e peloCubismo, realiza uma revisão de literatura em tais áreas, bem como utilizando basesfilosóficas, sociológicas, culturais e comunicacioniais. Por fim, são apontadas aslacunas para pesquisa na área.

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  • GRAFITE, CUBISMO E DESIGN GRFICO: UM MAPEAMENTO PARA A COMPREENSO DAS TROCAS SUBJETIVAS

    Bento Gustavo de Sousa Pimentel/UFRGS

    RESUMO Este artigo pretende delimitar recortes precisos sob o ponto de vista da Teoria e Crtica na Histria da Arte, para um estudo acerca das dimenses histricas, formais e conceituais de instalaes produzidas em grafite na cidade de Porto Alegre. Investigando especificamente representaes influenciadas pelo Design Grfico e pelo Cubismo, realiza uma reviso de literatura em tais reas, bem como utilizando bases filosficas, sociolgicas, culturais e comunicacioniais. Por fim, so apontadas as lacunas para pesquisa na rea.

    PALAVRAS-CHAVE Grafite; Cubismo; Design Grfico

    ABSTRACT This article aims to define precise cutouts from the point of view of Theory and Criticism in the History of Art, for a study of the historical, formal and conceptual dimensions on graffiti illustrations produced in Porto Alegre, specifically investigating representations influenced by Graphic Design and Cubism. For this accomplishment, it describes a literature review on such areas, as well on philosophical bases, sociological, cultural and those one communicatives. Finally, gaps for the research area are pointed out.

    KEYWORDS Graffiti; Cubism; Graphic Design

    Introduo

    A relao desta contribuio para a rea da Histria, Teoria e Crtica da Arte, enfatizvel no mbito do consumo pictrico, dado a necessidade por investigar a importncia do grafite como objeto de pesquisa no espao transitrio de trocas da Arte Contempornea.

    Complementar recorrncia verificada na reviso de literatura (RAMOS, 1994, RAMOS, 2007, NOGUEIRA, 2010), verificado que o grafite recebe influncias do Cubismo como contribuidor em estilo, e do Design Grfico, como contribuidor explanatrio a quem transfere - e recebe - influncias. possvel verificar tal explorao na imagem a seguir:

  • Flickr de Luiz Filipe Varella (2014)1 Registro fotogrfico 1 de Grafite com aspectos

    estilsticos de cubismo durante o evento Meeting of styles, no Tnel da Conceio em Porto Alegre

    Como Arte Urbana, o grafite verificado na constituio da paisagem em mutao nos grandes centros. Porm, ainda uma lacuna de investigao em Arte e seus desdobramentos em estilemas com hibridismos a partir da produo Design (PIMENTEL, 2015). Faz parte do sumrio desta pesquisa, propor consideraes relevantes para a pesquisa no campo.

    Desdobramentos de uma pergunta terica contribuem para definir a conduo das etapas de pesquisa, tal como: qual a relao entre tradio e contemporaneidade implicada em expresses como o Grafite, dado que seu marco conceitual est situado no interstcio entre interveno e ocupao do espao urbano, recebendo ao mesmo tempo influncia de estilos como o Cubismo, e atividades como a de designer grfico?

    Este artigo divide-se em quatro partes: 1-Apresentao do objeto de pesquisa (Introduo); 2-Reviso terica geral e crtica de ambas reas para o campo intersticial de estudo (Grafite e Design Grfico), e, por ltimo: 3-Cruzamento de conceitos e apontamento de diretrizes para futuros estudos.

    O Grafite

    A prtica da escrita como forma de demonstrar uma opinio crtica, remete a marcos arqueolgicos da produo grfica, tal como verificado em dataes relacionadas Mesopotmia Antiga (NOGUEIRA, 2010). O atrelamento conceitual do grafite

  • camadas menos favorecidas da populao, provavelmente no expostas a currculos de educao formal, segundo Nogueira (2010), se d no entanto a partir da Antiguidade Clssica.

    A funo inerente utilizao do grafite como meio de expresso, est baseada na exposio de uma mensagem de contedo libertrio todas as camada sociais (NOGUEIRA, 2010). Nos Estados Unidos durante a dcada de 80, o grafite desponta como exemplo do vanguardismo novaiorquino e adquire status sob um ponto de vista analtico. Isto ocorre de forma concomitante queda do comunismo na Berlim da Alemanha Oriental, dando continuidade ao cenrio emergente dos anos 70 (RAMOS, 2007).

    No Brasil, o Grafite comea a se estabelecer e gerar ressonncias a partir de um cenrio autoritrio de controle social durante os anos de ditadura militar. J durante os anos 80, os trampos2 recebem uma atribuio de performance urbana, trazendo consigo uma ressignificao da influncia estrangeira, tardiamente estabelecendo dilogos com a prtica urbana (RAMOS, 2007).

    A partir deste perodo, a diferenciao entre Arte Urbana e dano ao patrimnio pblico verificada mediante a tautolgica presena de mensagens de protesto (NOGUEIRA, 2010).

    Se acrescentada uma contribuio para possibilitar uma anlise mais aprofundada, possvel afirmar que: o tautologismo caracteriza o Grafite a partir da repetio de mensagens, intermediando a participao social de camadas inferiores em processos de presentificao por meio de expresso grfica no espao urbano. Tal afirmao encontra atrelamento conceitual atravs de validao analtica em eixos de pesquisa de base baumaniana, para reas como gesto e educao (SARAIVA; VEIGA-NETO, 2009), ligadas s trocas de saberes e consumo pictrico.

    O tautologismo na gerao de tais mensagens tambm leva a crer que o grafiteiro no procura a incluso social atravs de sua Arte. Isto se d devido a uma ontolgica complementao entre sua mensagem protagonista com a paisagem urbana, ocorrendo de forma transitria, efmera, (NOGUEIRA, 2010), e portanto, ulterior.

    Tal afirmao complementar no que tange constatao de que: o espao da prtica do Grafite se d de maneira similar ao verificado no comportamento simultneo de consumo icnico realizado por geraes na contemporaneidade (PIMENTEL, ET AL., 2013). Tal consumo verificado tanto no suporte, quanto na prtica, uma vez que

  • aplicado na transitria paisagem urbana, por agentes em trnsito constante (NOGUEIRA, 2010);

    A partir do ponto de vista analtico, a funo dialgica global dos produtores de Grafite contribui para uma continuidade conceitual de sua funo comunicativa para os sistemas da Arte. Em Nogueira (2010), a validade expressionista outorgada diferentes correntes do grafite com mesma relevncia para anlise, uma vez que esto ligadas expressividade pelo mesmo nvel de importncia comunicacional global. Sob tal ponto de vista relacional, Arte Urbana e outras formas de expresso recebem a mesma designao dentro do sistema da Arte (NOGUEIRA, 2010).

    Em uma abordagem focaultiana, uma camada de sentido heterognea e existencial gerada a partir do sentido almejado pelos autores de tais formas por meio das mensagens grafitadas. Isto ocorre dado que ao produzir sentenas de sentido aberto, e fazendo parte da paisagem urbana, estas mensagens descrevem afirmaes subjetivas compositivas de um espao constantemente atualizado por meio de autores desconhecidos (NOGUEIRA, 2010).

    Complementarmente, verifica-se nesta relao um contedo j analisado de gerao de significado explanatrio (dialgico), ps-moderno, verificado em tais interlocues no sistema da Arte (BOURRIAUD, 2008). Tal contedo possui uma diferenciao na formao do juzo de gosto do interlocutor, descrevendo diferentes percursos e juzos acerca dos espaos urbanos.

    Portanto, a sensao de coletivizao do estado de fruio gerado pelo Grafite se estabelece a partir da verificao da complexa relao entre os interactuantes sujeitos: todos esto envolvidos no processo da arte urbana (RAMOS, 2007).

    Do Grafite ao Design

    Acerca deste objeto de Arte, a pesquisa de Silva (2010) no campo da Educao apresenta uma contribuio com caractersticas fortes no campo das experincias pessoais de vivncia, a partir de seu convvio com o cenrio da pichao portoalegrense, e criao das primeiras oficinas do gnero em instituies do primeiro setor.

  • Sua pesquisa no campo da educao colabora para questes acerca das atividades de socializao, construo de identidade, ressignificao do espao urbano, e produo de outras pedagogias:

    [...]De forma esteticamente mais elaborada servem nas escolas, muitas vezes como "decorao" para banheiros depredados. Essas inscries surgem nos mais diversos espaos escolares, como forma de protesto instituio ou como uma "auto-afirmao" adolescente. Em qualquer caso, so imediatamente rotuladas como "sujeira" ou ao de "vndalos". Nesse contexto oficinas de graffiti so consideradas, muitas vezez como a "salvao" para alunos indisciplinados e pichadores (SILVA, 2010, p. 18) [...].

    Dado ainda a necessidade de aprofundamentos desta pesquisa no campo da Histria e Crtica da Arte, necessrio apontar um questionamento de inquietao neste recorte: em espaos de atuao de Arte Urbana, seria o Cubismo ainda apontado como inovador e colaborador imagtico, ao representar uma minoria social que utiliza a atividade de Grafite como forma de comunicao? Que aprofundamentos so possveis nesta relao no interstcio contemporneo entre setores corporativos e sistemas de Arte, tal como verificado na atividade de designer grfico?

    Acerca do Cubismo como contribuidor para um cenrio modernista nas Artes, segundo Gay (2009), mesmo com a dimenso complexa do estudo do estilo modernista no campo da Histria da Arte, qualquer quadro de Picasso pode ser considerado Modernista.

    Um transporte das ferramentas de anlise histrica realizada por Gay (2009) podem ser aplicadas em trechos contextuais de anlises como esta, uma vez que a correlao entre cenrio cultural e estilos de Arte feita em desdobramentos segmentados por meio da Histria Social. No recorte modernista (GAY, 2009), tal concentrao para subsidiar anlises, possui um momento de marco no sculo XIX, dado a ampliao dos espaos pblicos destinados a popularizao da informao vista nas expanses metropolitanas do sculo XX.

    Baseado nesta verificao, Gay (2009) frisa que:

    [...] As dcadas vitorianas aps a metade desse sculo conheceram as bibliotecas de emprstimos, os dias de visita grtis aos museus, textos de divulgao popular a preos razoveis sobre algumas contribuies admirveis, ingressos baratos nos teatros e salas de concertos, uma exploso na comercializao da cultura e a popularizao de tcnicas de reproduo baratas, como a litografia e a fotografia. Tudo isso bastante bvio, pois a proliferao dos gostos modernistas um elemento fundamental na histria daqueles decnios. Mas o importante reconhecer que a nova abundncia de objetos culturais, destinados a um pblico em crescimento constante, colaborou muito para aumentar a diversidade (GAY, 2009, p. 37) [...].

  • Ou seja, penetrao, adeso e notoriedade do estilo cubista est atrelada de modo causal densidade com que os meios informacionais do sculo XIX funcionaram tecnicamente voltados disseminar, em acordo com os interesses sociais, este tipo de Arte no espao de trocas da Modernidade.

    Analogicamente, compreende-se que o espao de trocas da Arte Contempornea pautado por dinmicas socioculturais, nas quais tais trocas imagticas se do atravs da cultura em mbito global, regional e local (VILLAS-BOAS, 2009). Verifica-se, portanto, a interao contnua de tais dinmicas com etapas de criao, publicao, disseminao, recepo e interpretao de eventos no campo da imagem, uma discusso conceitual recorrente em temas como a Aura da obra de arte, em Walter Benjamin3.

    A resultante superao estilstica discutida conceitualmente acerca dos sistemas da Arte a partir de um afunilamento nos sistemas de veiculao (BENJAMIM, 1994), dado uma compreenso do percurso no processo criativo e seu resultado verificado no objeto de Arte, compreendida, segundo Bueno (2010), como parte de fatores que se caracterizam pela mudana de estado por meio de inovao e ruptura.

    Tais superaes apresentam aspectos de representao aonde a visitao do iderio moderno realizada ciclicamente estilos tal como o cubista (GAY, 2009), sendo disseminadas por atividades que produzem artefatos ideolgicos de grande circulao, tal como a de designer grfico.

    A correlao entre cultura, reproduo e criao, tambm possvel de ser compreendida a partir de Bueno (2010), aonde a autora realiza uma caracterizao da modernidade ao reconstruir historicamente conceitos de Arte e Artista, do sculo XIX ao sculo XX. Esta contribuio est baseada em conceitos descritos como: i) princpio de circulao, ii) desterritorializao, e iii) reflexividade.

    O princpio de circulao est diretamente relacionado executabilidade tcnica de obras de arte em vias mercadolgicas de consumo4, enquanto a desterritorializao, com as dinmicas de trocas no campo do iderio e da influncia, relacionadas com a construo conceitual (BUENO, 2010).

    Convm afirmar ainda com base em Bueno (2010), que o princpio de circulao e desterritorializao so complementares para as realizaes no universo das artes, conforme verificado nas contribuies para a formao do iderio e potencial para a atividade criativa e tcnica do artista, como por exemplo, no caso dos cartazes

  • publicitrios de Toulouse Lautrec, as colagens de Raoul Hausmann, e o prenncio da Pop Art em Paolozzi:

    Eduardo Paolozzi (1924-2005) Real Gold (1949)

    Figurativo The Eduardo Paolozzi Foundation

    Portanto, convm afirmar que a relao entre Design e Grfico e Arte se manifesta na contemporaneidade atravs de contnuos desdobramentos e hibridismos, tal como apresentado em Canclni (1989), acerca das possibilidades de interpretao do objeto conceitual no recorte local.

    Ou seja, o Design Grfico tambm alvo de tais dinmicas sociais, sendo a superao de estilos diretamente vinculada ao desenvolvimento industrial no microcosmo complexo da corrida mercadolgica (PIMENTEL; SILVA, 2011, PIMENTEL, 2012, PIMENTEL, ET AL., 2013): deste binmio entre sociedade e iderio, advm a importncia em correlacionar esta pesquisa rea do Design com o estudo do estilo na Arte Urbana.

    Tais dinmicas sociais que recaem sobre o Design Grfico e o Grafite so levadas a cabo por uma relao de complementaridade entre foras socioeconmicas, no qual a cultura um mbito que se apresenta como formante do conjunto (VILLAS-BOAS, 2009).

    Mediante a compreenso da importncia desse integrante para anlise do contexto, em Habermas (1998) e Gay (2009), verifica-se que a Cultura ajuda a compor o pano de fundo para a cena na qual antagonismos e homologaes se do entre as representaes, uma vez que a autenticidade conceitual dos cones de poder tal como o trabalho, podendo ser visualizado o ofcio do Artista e a profisso de Designer

  • - tambm est presente na relao entre os agentes disseminadores dos estilos, de maneira a possibilitar a incapacitao da validao ontolgica no limite conceitual.

    Complementarmente, em Weill (2010), a consolidao de uma sociedade informacional viabilizada pela massificao do advento do microcomputador domstico, acelera a gerao de estilemas no processo autoral de vrias geraes de designers, mediante sucessivas incurses em fases do Design Grfico na Arte. Em fator disto, pode se verificar um acirramento nesta relao complementar entre tendncia mercadolgica, e a acelerao sistmica do ciclo de renovao estilstica do Design.

    Acerca das definies para a atividade do Designer no mbito da anlise da tarefa, possvel apontar mediante uma compreenso de Buchanan (1992), que sua execuo explora uma integrao concreta de conhecimentos que combinam teoria e prtica em fins produtivos. A esta capacidade sinttica demanda ateno no campo analtico, dado a necessidade intelectual do designer em desenvolver habilidades no campo da cultura tecnolgica e sua evoluo.

    Segundo Dorst (1997), o primeiro momento desta tarefa ocorre no mbito individual, sob a qualificao individual acerca do trabalho, e marcada por uma parcela de conhecimento tcito, cumulativo, intencionado a deduzir a partir de experincias anteriores, critrios tcnicos de projetao aplicveis ao produto a ser projetado. Tais critrios so confrontados com conhecimentos comprovados das tcnicas de projeto, como frisa o mesmo autor, acerca dos paradigmas que descrevem a atividade de design.

    Bento Gustavo de Sousa Pimentel (1984-?) Belm, 2012

    Ilustrao DigitalFigura 5 Portflio de Especializao em Artes Visuais

  • A descrio do conhecimento utilizado pelo Artista em seu ofcio ou pelo Arquiteto ou Designer - encontra definio em Arnheim (2004), que descreve que tal atividade conduzida por modalidades da inteligncia humana, atuando a partir da interao entre rea do intelecto e intuio, juntas no exerccio da atividade artstica. Por exemplo, a similaridade das descries esquemticas da atividade realizada para gerar o discurso musical, e a similaridade para criao do objeto de Arquitetura e Design, descrita em:

    [...] As estruturas arquitetnicas, no entanto, so tipicamente permeadas tambm de padres seqenciais. Como na arquitetura, a relao da arquitetura intemporal de uma composio musical com o seu carter de evento depende de seu estilo (ARNHEIM, 2004, p. 239) [...].

    Tendo caracterizado o conjunto de foras integrantes que compe o cenrio da anlise crtica do ponto de vista da Histria da Arte, aspectos da realizao do trabalho criativo, interao subjetiva e mapeamento de influncias, possvel descrever certos pontos nevrlgicos do cenrio entre Arte e Design, por um elo de ligao protagonizado pelo Cubismo.

    Sincronismo e diacronismo

    Retomando o objeto de pesquisa em questo e os desdobramentos mencionados no quadro de cultura, arte e consumo, verifica-se a necessidade de estabelecer relaes para pontuar uma anlise sincrnica e diacrnica no campo da Histria e Crtica da Arte5, de forma a possibilitar a investigao a partir de cenrios similares j analisados em outras pesquisas. Para isto, verifica-se contribuies de estudos acerca do perodo Modernista como verificado em Gay (2009).

    A correlao entre entre Cultura, Arte e consumo possui um momento de marco no sculo XIX, dado a ampliao dos espaos pblicos destinados a disseminao da informao, e consecutiva popularizao de cones da Arte, como visto nas expanses metropolitanas do sculo XX. A esta informao verifica-se em Gay (2009):

    [...] As dcadas vitorianas aps a metade desse sculo conheceram as bibliotecas de emprstimos, os dias de visita grtis aos museus, textos de divulgao popular a preos razoveis sobre algumas contribuies admirveis, ingressos baratos nos teatros e salas de concertos, uma exploso na comercializao da cultura e a popularizao de tcnicas de reproduo baratas, como a litografia e a fotografia. Tudo isso bastante bvio, pois a proliferao dos gostos modernistas um elemento fundamental na histria daqueles decnios. Mas o importante reconhecer que a nova abundncia de objetos culturais, destinados a um pblico em crescimento constante, colaborou muito para aumentar a diversidade (GAY, 2009, p. 37) [...].

  • Este marco do perodo denominado Modernismo se d a partir de 1880 e tm pice at 1930, durando, no entanto, at 1960 (GAY, 2009). Conseguinte, considera-se um aspecto similar na arte contempornea, a retro-alimentao cclica de caractersticas formais, como descrito novamente em: [...]As vanguardas dos anos 1920, embora parecendo inovadoras, basicamente colheram o que havia sido semeado nos anos anteriores guerra, quando as inovaes estticas se acumulavam uma aps a outra (GAY, 2009, p. 25)' [...].

    Ainda segundo Gay (2009), Picasso se consolidou como o arqutipo do artista moderno, ao protagonizar junto a outros nomes durante a fase conhecida como Cubismo Sinttico, uma contribuio para toda a classe de pintores modernistas. Neste advento, os desmembramentos impostos pelos cubistas aos seus temas delineiam uma reafirmao da capacidade criativa de seus autores.

    Tal como antecipado anteriormente na reviso proposta por este artigo, ainda hoje possvel verificar durante uma caminhada em Porto Alegre, ecos da existncia do estilo presente na Arte Urbana:

    Flickr de Luiz Filipe Varella (2014)6 Registro fotogrfico 1 de Grafite com aspectos

    estilsticos de cubismo durante o evento Meeting of styles, no Tnel da Conceio em Porto Alegre

    Tendo realizado alm de atrelamentos contextuais para fundamentar um cenrio complexo acerca das possveis correlaes entre Arte e Design atravs do Grafite em marcas visuais que utilizam emprstimos do Cubismo, o trnsito sincrnico e diacrnico possibilita extrapolar tpicos para apontar lacunas na pesquisa em Histria e Crtica da Arte.

    Pontos para discusso

  • O Grafite, escolhido aqui como suporte do objeto de estudo em Histria e Crtica, pode receber status de representao social e discurso comunicacional em reas afins com estudos sociais, tal como a pedagogia e estudos acerca dos (des)territrios urbanos de interlocuo, acumulando, portanto, competncias no campo imagtico.

    recorrente, tal como descrito pelas fontes pesquisadas, apontar um novo patamar de anlise do grafite, superestrutural, a partir de sua anlise consequente transferncia destes cnones do ambiente urbano estrutura da recepo de eventos e aparelho tcnico instituicional da museologia.

    Reitera-se que a experincia de significao gerada na atividade do grafite de cunho compartilhado, repleto de transio e complementao com o cotidiano. Tal nvel de compartilhamento de significado induz constatao da possibilidade de investigao de uma epistemologia participativa, mesmo que esta indique um certo paradoxo do ponto de vista analtico, dado sua estncia ulterior intrnseca.

    A Internet como possibilitadora de trocas subjetivas no ciberespao indica um campo de atuao dialgico e complementar com as instalaes geradas pela Arte Urbana. Reside portanto nesta subjetiva interatividade, um espao de relao subisidiria atividade de criao pictrica no Design Grfico. Tal assunto fora revisado pelos autores consultados neste artigo junto ao aspecto de estruturao de solues de projeto, porm apresentando a necessidade de afunilamento analtico, a utilizar para tal tarefa o estudo de marcas grficas e sua crtica.

    Notas 1Registro disponvel online no link: https://www.flickr.com/photos/luizfilipevarella/13207701453/

    2 Fazer um trabalho para sobreviver (NOGUEIRA, 2007, p. 8).

    3 BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade tcnica, 1955.

    4 Se desenvolvendo de forma interligada ao universo da indstria cultural, e diretamente influenciada por

    aspectos produtivos da circulao e disseminao de representaes no campo da imagem (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). 5 Informao oral de Dr. Paula Ramos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Artes,

    Departamento de Artes Visuais, 2012.

    6 Registro disponvel online no link: https://www.flickr.com/photos/luizfilipevarella/13207701453/

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    Bento Gustavo de Sousa Pimentel Mestre com concentrao em Design e Tecnologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2015). Designer, articulista e pesquisador, atua h 8 anos entre as reas pesquisadas. Para mais informaes acesse: gportfolio.wix.com/whiteportfolio. Contato: [email protected]