Gramática Com Textos 9º Ano
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Gramática com textos: 9º ano - coordenação e subordinação de
períodos
Introdução
Esta é a décima terceira de uma série de 16 sequências didáticas que fazem
parte de um programa de estudo de gramática para 6º a 9º ano do Ensino
Fundamental. Confira ao lado todas as aulas da série.
Objetivos
Apresentar o período composto;
Analisar as relações de coordenação e subordinação entre períodos;
Analisar as relações semânticas presentes na construção dos períodos
compostos.
Conteúdos
Período composto;
Relações de coordenação e subordinação;
Relações semânticas em períodos compostos.
Tempo estimado
Seis aulas
Desenvolvimento
1ª etapa
Inicie a aula colocando no quadro o silogismo abaixo.
Todo brasileiro é sul-americano.
Todo paulista é brasileiro.
Todo paulista é sul-americano.
Explique aos alunos que a palavra silogismo vem do verbo syllogízo (em
grego) e significa reunir, juntar pelo pensamento, conjeturar. Trata-se de um
tipo de raciocínio desenvolvido na Grécia Antiga pelo filósofo Aristóteles (384
a.C. - 322 a.C.). Parte-se de duas afirmações, chamadas premissas, para
chegar a uma conclusão. O exemplo acima começa com uma afirmação geral
-Todo brasileiro é sul-americano -, passa por outra mais específica - todo
paulista é brasileiro - e chega à conclusão - todo paulista é sul-americano.
Entendido o conceito de silogismo, apresente à moçada o objetivo desta
sequência didática: estudar o período composto. Explique que, para isso, é
importante relembrar o período simples. Mostre aos alunos que, no silogismo
acima, há três períodos simples - cada um com um verbo (ser).
Em seguida, peça que os alunos tentem reescrever o silogismo colocando
todas as informações em um único período. Caso perceba que os estudantes
estão com dificuldade, proponha que pensem em uma expressão indicativa de
hipótese ou condição - sugira o uso dos conectivos se ecaso. Dê um tempo
para que realizem a atividade e corrija coletivamente no quadro.
Uma possibilidade de redação é a seguinte:
Se todo brasileiro é sul-americano e todo paulista é brasileiro; logo, todo
paulista é sul-americano.
Outra é:
Se todo brasileiro é sul-americano e todo paulista é brasileiro, todo paulista é
sul-americano.
Durante a correção, mostre aos alunos que a transformação dos três períodos
em um ocorreu por meio do acréscimo de palavras como se, e, logo. Explique
que esses elementos funcionam como articuladores entre as orações que
fazem parte do período composto.
Pergunte se a conclusão (todo paulista é sul-americano) se sustenta ao
suprimirmos uma das duas orações indicadoras de condição (se todo
brasileiro é sul-americano e todo paulista é brasileiro). Os estudantes vão
notar que não.
2ª etapa
Proponha, então, que a turma se organize em duplas e transforme outros dois
silogismos em períodos compostos. Desta vez, oriente os alunos para que
comecem as frases pela conclusão.
a) Todos homens são mortais.
Sócrates é homem.
Sócrates é mortal.
b) Todo metal dilata com o calor.
A prata é um metal.
A prata dilata com o calor.
Dê um tempo para que os alunos procurem as respostas e peça que as
apresentem. Uma possibilidade de construção é:
a) Sócrates é mortal, já que Sócrates é homem e todo homem é mortal.
Outra é:
b) Sócrates é mortal porque Sócrates é homem e todo homem é mortal.
Deixe claro aos alunos a diferença de sentido entre as duas reescritas. No
primeiro caso, trata-se de um período de caráter condicional, em que o locutor
cria uma hipótese e a comprova. No segundo, as duas premissas são
tomadas como verdades, como dados que embasam o pensamento.
Explique à classe que os articuladores que interligam as orações - porque, já
que, logo, se e e -, representam uma classe de palavras chamada
"conjunções".
3ª etapa
Escreva no quadro os seguintes períodos compostos:
José saiu e Pedro chegou.
Quando José saiu, Pedro chegou.
Pergunte aos estudantes se os dois períodos possuem o mesmo significado.
Conclua com a classe que não. O primeiro possui duas orações interligadas
pela conjunção e e sugere a ideia de linearidade: primeiro José saiu e depois
Pedro chegou. Já o segundo indica concomitância entre as duas ações. Essa
simultaneidade é marcada pela presença da conjunção quando.
Explique, então, a diferença entre períodos compostos por coordenação e por
subordinação. Para isso, desmembre as duas orações presentes no item a e
pergunte à classe se elas são compreensíveis separadamente. José
saiu e Pedro chegou. A moçada vai perceber que sim.
Questione se o mesmo ocorre no item b. Os alunos vão dizer que não.
Comente que a oraçãoQuando José saiu é um trecho solto e precisa de
complementos para fazer sentido.
Explique à classe que essa característica - possibilidade ou não de existir
independentemente do complemento - é usada por vários gramáticos para
diferenciar períodos coordenados e subordinados. São chamados períodos
compostos por coordenação aqueles em que as orações estão articuladas,
mas não há dependência entre elas. O período composto por subordinação,
por sua vez, possui orações articuladas, mas com uma relação de
dependência.
Para saber mais...
A diferenciação entre período composto por coordenação e por subordinação
apresenta vários pontos de discussão entre os gramáticos. Muitos acreditam
que também existe dependência nas orações coordenadas.
Não há consenso também sobre as denominações. Para alguns autores, o
período subordinado é composto por duas orações distintas - a principal e a
subordinada. Para outros, todo o período subordinado representa a oração
principal e, dentro dela, está a oração subordinada.
Como as relações estabelecidas pelos períodos compostos são importantes
para a estruturação do pensamento e da argumentação, talvez o mais
importante, nesse estágio de aprendizado, é dar aos alunos o conhecimento
dessas relações. Realize uma problematização compatível com o nível escolar
e não insista em aspectos da nomenclatura e classificações minuciosas.
Para se aprofundar sobre o tema, leia o texto A Coordenação e a
Subordinação nas Perspectivas Tradicional e Funcionalista: confrontos de
Andréa Marques.
4ª etapa
Peça que os alunos tragam a gramática para a classe e leia com eles os
trechos referentes à coordenação e à subordinação. Veja se a turma
apresenta alguma dúvida e explique-a. Em seguida, façam uma breve síntese
do conteúdo lido e diga para os alunos anotarem nos cadernos.
Após a escrita dessa síntese, proponha que a moçada classifique as
seguintes manchetes - publicadas no jornal Folha de S. Paulo em 03 de
novembro de 2010 - em períodos compostos por coordenação ou
subordinação.
a) Facebook afirma que corretora comprou dado sigiloso de usuários.
b) Gal relança obra e prepara novo disco.
c) Estudo explica por que ocidental não diferencia rostos orientais.
d) Proteína pode ser capaz de destruir células cancerígenas.
e) Republicanos ganham força, mas racham.
Para corrigir a tarefa, sublinhe os verbos de cada período e procure identificar
com a turma se eles precisam de complemento. Caso julgue interessante, use
a gramática como suporte durante a correção.
Em Facebook afirma que corretora comprou dado sigiloso de usuários,
sublinhe os verbos afirmae comprou. Ao dividir os períodos, os alunos vão
perceber que, sozinha, a primeira oração não possui sentido completo. O
verbo afirma pressupõe um complemento - que, no caso, é a oraçãoque
corretora comprou dado sigiloso de usuários. Trata-se, portanto, de um
período composto por subordinação.
Na manchete Gal relança obra e prepara novo disco, repita o procedimento
com a classe. Sublinhe os verbos, divida os períodos e peça que os alunos
analisem as frases. Eles vão notar que, nesse caso, nenhum dos verbos
precisa de elementos da outra oração para ter seu sentido completo. Trata-se,
então, de um período composto por coordenação.
Repita a mesma orientação para analisar as demais manchetes. Quando
terminar, comente com a classe que a língua é muito rica e a classificação dos
gramáticos nem sempre dá conta dessa riqueza. É por isso que as gramáticas
se modificam ao longo do tempo.
5ª etapa
Comente com a classe que, embora as gramáticas afirmem que o e é uma
conjunção coordenada aditiva, há uma série de exemplos na Língua
Portuguesa em que ele aparece associado a ideias bem diferentes da adição.
Em seguida, peça que os alunos se dividam em trios e discutam os possíveis
sentidos assumidos pelo conectivo e nos textos publicitários abaixo:
Dê um Boticário no dia das mães e transforme-a numa linda mulher.
(Propaganda
para o dia das mães do Boticário, outdoor, Juiz de Fora, abril/2006).
Mude para a Tim e ganhe mais créditos no seu pré-pago (Propaganda Tim,
Revista Época, 20 abr 2006)
Não leve trabalho pra casa. Tenha Internet no seu Oi e leia seus e-mails no
caminho.(Propaganda, Revista Época 5 jul 2010)
Voe Azul e dê férias para o seu bolso.
(Propaganda, Revista Época 5 jul 2010)
Dê um tempo para a realização da atividade e corrija-a. Leve os alunos a
perceberem que, embora o conectivo e seja comumente associado à ideia de
adição, nos casos acima ele remete à ideia de condição e às relações de
causalidade. Explique que o vínculo apresentado nessas orações não é de
dependência sintática, mas sim da ordem do significado.
As frases Voe Azul / Dê férias para o seu bolso poderiam ser separadas e
justapostas sem a presença de conectivos. Há um vínculo implícito entre elas,
remetendo ao contexto em que se inserem e ao sentido que as atravessa.
Como estamos na dimensão do texto publicitário, mais forte será a sua ação
se ele passar como um dado natural e não como uma construção com o
objetivo de persuadir o leitor. Assim, se justificaria o camuflamento da
subordinação nessas construções.
Levante ainda com os alunos outros usos da conjunção e. Ela pode ser usada
com o sentido de adversidade - O menino caiu e não chorou -, com o sentido
de conclusão - Chegamos atrasados, perdemos o ônibus e não fomos viajar -
entre outros.
Avaliação
Proponha que os alunos leiam, em trios, o poema "Eu, etiqueta" de Carlos
Drummond de Andrade. Com base na leitura, peça que elaborem um texto
publicitário em que o conectivo e seja usado de duas maneiras: como
conjunção aditiva - Raul usa blusa da marca X e Ana usa calça da marca Y - e
como organizador de períodos com valor de hipótese - Use a marca X, a
marca Y e você será feliz.
Os textos publicitários devem ser entregues ao professor e apresentados para
a classe na aula seguinte.
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
que não é o meu de batismo ou cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei,
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo
ser pensante, sentinte e solitário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiraram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Para me ostentar assim, tão orgulhoso
e ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade)
Disponível em: acd.ufrj.br/~pead/tema10/perspectivas.html - Acesso em 02
nov 2010
Gramática com textos: 9º ano - construções contrastivas no
discurso argumentativo
Introdução
Esta é a décima quarta de uma série de 16 sequências didáticas que fazem
parte de um programa de estudo de gramática para 6º a 9º ano do Ensino
Fundamental. Confira ao lado todas as aulas da série.
Objetivos
Analisar o valor contrastivo dos conectivos mas e embora;
Analisar as diferenças de uso entre os conectivos mas e embora.
Conteúdos
Discurso argumentativo;
Conectivos mas e embora.
Tempo estimado
Cinco aulas
Desenvolvimento
1ª etapa
Inicie a aula fazendo referência a Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), um
dos principais nomes do Iluminismo francês. Retome os conhecimentos da
classe sobre essa corrente filosófica do século 18. Explique que os iluministas
defendiam a razão como luz natural da humanidade. Rousseau acreditava na
bondade natural do homem e dizia que ele nascia bom, mas era corrompido
pela sociedade. O filósofo afirmava que, diferente do animal, o homem era
livre.
Proponha que os alunos leiam o trecho abaixo de um texto de Rousseau em
que essa concepção é explicitada. Antes de entregar o texto à classe, suprima
o conectivo mas.
A natureza comanda todo animal, e a besta obedece. O homem experimenta
a mesma sensação, ---------------- ele se reconhece livre para aquiescer
(acatar) ou para resistir; e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se
mostra a espiritualidade da alma ...
ROUSSEAU, J-J. In: FORTES, L. R. S. O Bom Selvagem. São Paulo: FDT,
1989, p.55.
Peça que os alunos se coloquem em duplas, leiam o texto e identifiquem a
palavra ausente. Durante a realização da tarefa, observe as discussões e as
dificuldades apresentadas pela turma.
Quanto terminarem, releia o trecho e levante oralmente as possibilidades
inferidas pelos alunos. Proponha à classe alguns articuladores e discuta seus
significados. Pergunte se a frase poderia ser completada com a palavra logo,
incite os alunos a pensar sobre o papel desse articulador no contexto. Repita
o exercício com portanto, e e mas.
Chame a atenção dos estudantes para o significado do mas no trecho. Peça
que expliquem como ele se insere no contexto. Os alunos vão perceber que
Rousseau começa dizendo que homens e animais são governados pela
natureza. Cria-se, então, a expectativa de que eles devam apresentar o
mesmo comportamento. O filósofo, no entanto, quebra essa ideia ao mostrar
que o animal acata as determinações naturais, enquanto o homem pode não
acatá-las. Conclua com a classe que o mas assinala uma expectativa não
cumprida.
2ª etapa
Proponha que os alunos leiam o texto abaixo.
A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segundo
a bela imagem de Michel de Certeau, o leitor é um caçador que percorre
terras alheias. Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum - ou ao
menos totalmente - o sentido que lhe atribui o seu autor, seu editor ou seus
comentadores. Toda a história da leitura supõe, em seu princípio, esta
liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro lhe pretende
impor. Mas esta liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é cercada por
limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos que
caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam
segundo o tempo e os lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas
atitudes são inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex
medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores
dividem a longa história das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação
entre o corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e as categorias
intelectuais que asseguram sua compreensão.
CHARTIER, R. A Aventura do Livro: do leitor ao navegador. São Paulo:
UNESP/ Imprensa Oficial SP, 1999, p 77.
Analise o texto coletivamente e verifique se os alunos compreenderam-no. Em
seguida, proponha que, em duplas, preparem um esquema colocando a
argumentação presente no texto. Dê um tempo para que realizem a tarefa.
Oriente a classe a retornar a leitura, grifar as informações principais, ver como
se relacionam entre si e esquematizá-las.
Inicie a correção e leia os quatro primeiros períodos até o mas. Peça que os
alunos comentem qual o eixo da argumentação até então. Eles devem
perceber que ela está focada na liberdade do leitor, um caçador que percorre
terras alheias à procura de significados.
Após essa análise, leia o restante do texto. Questione a classe sobre a
mudança na rota de argumentação. Chame a atenção para o período "mas
esta liberdade leitora não é jamais absoluta" e analise-o coletivamente. A
classe vai notar que a mudança fica evidente pelo uso domas e pelo teor do
trecho. Comente que o esta retoma a ideia anterior - a liberdade do leitor - e
omas sinaliza a presença de um novo argumento que se opõe ao primeiro e
estabelece uma mudança de direção.
Discuta também a colocação do articulador no interior do texto. Pergunte à
classe as razões para o mas aparecer no meio do período. Mostre aos alunos
que, para estabelecer uma relação de contraste, é preciso que haja uma
ocorrência inicial que será contrariada. O mas, nesse caso, pressupõe um
antecedente. Comente com a moçada que, muitas vezes, encontramos textos
argumentativos em que o mas aparece no início do período. Explique que
esse erro indica uma incompreensão do sentido do conectivo.
No final da aula, proponha aos alunos uma tarefa para casa. Cada dupla deve
escolher um assunto polêmico em evidência no momento e procurar quatro
notícias sobre ele (duas por aluno). Explique que os textos devem ser trazidos
na última aula desta sequência didática.
3ª etapa
O intuito dessa etapa é trabalhar outras relações contrastivas no interior de
pequenos textos argumentativos. Inicie a aula relembrando a remissão feita a
Rousseau, filósofo que defendia a bondade natural do homem. Escreva no
quadro o seguinte trecho:
"O bom selvagem" é uma expressão muito em voga entre os pensadores
iluministas. A tradição a aproxima de algumas teses de Rousseau, embora ele
não a tenha usado em seus escritos.
FORTES, L. R. S. O Bom Selvagem. São Paulo: FDT, 1989 ,p.1
Analise o fragmento dado coletivamente. Discuta com a classe o uso do
conectivo embora. Os alunos devem notar que, de modo similar ao mas , ele
indica que uma ideia se opõe a outra.
Proponha aos alunos dois exercícios:
a) Substituição do termo embora por mas no texto acima;
b) Reescrita do segundo período, invertendo a ordem e começando com o
termo embora.
Inicie a correção e analise as peculiaridades do uso dos
conectivos embora e mas. No primeiro exercício, chame a atenção da classe
para a mudança do modo verbal subjuntivo para o indicativo.
"O bom selvagem" é uma expressão muito em voga entre os pensadores
iluministas. A tradição a aproxima de algumas teses de Rousseau, mas ele
não a usou em seus escritos.
Peça, então, que a classe apresente a solução do segundo exercício. Os
estudantes devem chegar ao seguinte texto.
"O bom selvagem" é uma expressão muito em voga entre os pensadores
iluministas.Embora Rousseau não a tenha usado em seus escritos, a
tradição a aproxima de algumas de suas teses.
Leve a turma a perceber as diferenças de entre mas e embora.
O mas pressupõe uma afirmação anterior à qual o conectivo faça remissão.
O embora, por sua vez, pode ser usado para iniciar um período. Quando isso
acontece, ele insinua e prepara o leitor para a quebra de expectativa.
Proponha que os alunos analisem os efeitos de sentidos em jogo nos períodos
abaixo.
a) Pedro estudou para a prova, mas não tirou boas notas.
b) Embora Pedro tenha estudado para a prova, ele não tirou boas notas.
Conclua com a classe que, no primeiro exemplo, o trecho inicial Pedro
estudou para a prova cria uma expectativa favorável, desfeita no trecho
final: mas não tirou boas notas. No segundo exemplo, o uso do
termo embora antecipa ao leitor a quebra de expectativa.
4ª etapa
Apresente à classe a seguinte história contada pelo historiador francês Roger
Chartier.
Na novela Mundo de Papel de Pirandello, um leitor, o professor Balicci, fica
cego de tanto ler. Ele fica desesperado porque a voz interior dos livros, que
passava por sua visão, se calou. Imagina então um primeiro subterfúgio, pedir
a uma leitora para lhe ler em voz alta, mas o procedimento revela-se um
desastre. A moça lê à sua maneira e Balicci não ouve mais a voz de seus
livros. Ele ouve outra voz, que choca sua audição e sua memória. Ele pede
então a sua leitora que fique quieta e leia em seu lugar. Ela deve ler, para ela
mesma, em silêncio, a fim de dar nova vida a este mundo que, desabitado,
corre o risco de se tornar inerte. Lendo em lugar de Balicci, a leitora evitará
que seus livros morram, abandonados, ignorados. Mas o drama se precipita
quando um dia, lendo uma descrição da catedral e do cemitério de Trondheim,
na Noruega, a leitora exclama: "Eu estive lá e não é de modo algum como
está no livro." O professor Balicci, então, tomado de terrível cólera, despede a
leitora, gritando: "Pouco me importa que você tenha estado lá, do modo como
está escrito, é assim que deve ser". O mundo de papel de Balicci, como o de
Dom Quixote, tornara-se o próprio universo. Cego, o professor encontra o
único conforto, ou sua única certeza, no fato de que, quando folheia seus
livros, que se tornaram ilegíveis, seus textos retornam na sua memória e, com
eles, o universo tal como ele é - ou deve ser.
CHARTIER, R. A Aventura do Livro: do leitor ao navegador. São Paulo:
UNESP/ Imprensa Oficial SP, 1999, p 155.
Após a leitura, discuta com os alunos os possíveis significados da novela de
Pirandello.
Apresente alguns questionamentos para nortear a discussão:
a) Qual a relação entre literatura e realidade? A literatura deve imitar a
realidade?
b) Por que a leitura da moça não agradou ao professor? Qual o possível
significado dessa passagem da novela?
c) A leitura é uma prática individual? É possível socializar o espanto que ela
ocasiona no leitor?
Depois da discussão, proponha que os alunos elaborem um parágrafo
comentando o texto. A produção deve conter as palavras mas ou embora,
utilizadas como indicadores de contraste. Simule com os alunos algumas
possibilidades de construção.
Embora o velho Balicci tentasse driblar a sua cegueira contratando uma
leitora, ele não alcançou o seu objetivo, pois a voz da moça não era a voz de
seus livros.
O velho Balicci tentou driblar sua cegueira, mas não conseguiu porque a
leitura é uma experiência intransferível.
Realize a correção e peça que os alunos leiam suas produções para a classe.
Observe, durante a leitura, se eles compreenderam os aspectos abordados.
Avaliação
Como atividade avaliativa, peça que os alunos se reúnam em duplas e
retomem a tarefa proposta na 2ª etapa. Oriente-os a trocar com o colega de
dupla as notícias sobre o assunto escolhido. Com isso, cada um lerá as duas
notícias que o amigo selecionou. Após a leitura, proponha que as duplas
discutam o tema e elaborem um texto, posicionando-se a respeito dele.
Explique que os estudantes devem usar os dois conectivos estudados -
mas ou embora.
Ao final da aula, recolha as produções da classe, leia-as e aponte os ajustes
necessários. Peça que a turma reescreva os textos. As produções finais
podem compor um painel na sala de aula com os posicionamentos do grupo
sobre as polêmicas do momento. A avaliação deve ter como foco a primeira
versão do texto e o trabalho reescrito.
Gramática com textos: 9º ano - relações causais e explicativas
no discurso argumentativo
Introdução
Esta é a penúltima de uma série de 16 sequências didáticas que fazem parte
de um programa de estudo de gramática para 6º a 9º ano do Ensino
Fundamental. Confira ao lado todas as aulas da série.
Há várias formas de organizar as ideias quando queremos expressá-las por
meio de um texto, seja ele escrito ou falado. Uma delas é a argumentação. O
que caracteriza essa opção é o encadeamento de proposições com o intuito
de defender um ponto de vista. Essa articulação pode se dar por meio das
chamadas conjunções lógicas, como o "pois" e o "porque". O efeito de
causalidade característico de um texto argumentativo revela a relação entre
duas ideias: uma é a causa, outra, a consequência. Conhecer as relações
estabelecidas por essas conjunções é um requisito importante para o aluno
ampliar sua capacidade de compreender e de produzir textos cada vez
melhores.
Neste bloco de aulas, não está em jogo a distinção - difícil até para os
gramáticos - entre as orações coordenadas explicativas e as subordinadas
adverbiais causais. O interesse aqui incide nas relações causais e explicativas
construídas no interior de pequenos trechos.
Objetivos
Analisar as relações causais e explicativas no discurso argumentativo;
Analisar os efeitos de sentido dos usos dos conectivos no discurso
argumentativo.
Conteúdo específico
Relações causais no discurso argumentativo.
Uso dos conectivos "pois" e "porque".
Tempo estimado
6 aulas
Desenovlvimento
1ª etapa
Peça que os alunos leiam o seguinte texto de Walnice Nogueira Galvão. O
fragmento encontra-se no livro Guimarães Rosa, no qual a autora analisa o
romance Grande Sertão: Veredas, publicado em 1956. Nele, diferentemente
dos romances voltados para o Nordeste, o sertão remete aos campos
mineiros, ricos em pequenos riachos - as veredas -, em gado solto por pastos
a perder de vista e na ética dos jagunços. No trecho, a autora analisa o papel
da criação extensiva do gado na economia brasileira.
TEXTO PARA LEITURA
A presença difusa e constante do bovino, em Grande Sertão: Veredas, recria
o universo da pecuária extensiva, onde o gado é criado solto e não
estabulado. A origem dessa maneira de criar gado remonta aos tempos
coloniais, quando a atividade econômica prioritária se resumia às plantações
às quais se reservavam as terras mais férteis e mais próximas do litoral, para
minimizar os custos do envio da mercadoria para a metrópole. Espécie de
parente pobre da economia colonial, a criação de gado dispensava
investimentos e se contentava com um mínimo de mão-de-obra. Era, todavia,
indispensável, pois alimentava todos aqueles envolvidos na agroindústria,
primeiro da cana-de-açúcar e mais tarde de café. Socialmente, era uma
atividade atraente, pois reservava-se aos homens livres, porque os distinguia
do trabalho manual dos escravos.
GALVÃO, W. N. Guimarães Rosa. São Paulo: Publifolha, 2010 (Adaptado).
Depois da leitura, peça que os alunos identifiquem no texto as informações
sobre a pecuária extensiva. É provável que o primeiro empecilho da atividade
seja o teor do texto. Muitos alunos podem reclamar que o fragmento mais
parece indicado à disciplina de História. Caso isso ocorra, discuta com eles o
caráter interdisciplinar do conhecimento. Walnice Galvão, no pequeno livro
Guimarães Rosa, parte das referências constantes ao gado em Grande Sertão
para analisar a presença da pecuária extensiva no Brasil.
Após a realização dos exercícios pelos alunos, inicie junto com eles a análise
do texto de Walnice. Leia o texto novamente. Diga aos alunos que ele tem o
intuito de expor uma idéia e de analisá-la. Dessa forma, a clareza, a ausência
de ambiguidades é um dos seus objetivos.
Inicie a análise, mostrando aos alunos que, mesmo quem não sabia o
significado de pecuária extensiva não ficou perdido, pois o seu significado é
explicitado no texto - é onde o gado é criado solto e não estabulado. Diga
também a eles que o significado de "estabulado" pode ser inferido com base
em nossos conhecimentos prévios: "estábulo" indica o lugar onde se prendem
os bois, "não estabulado" significa não preso em estábulos.
No segundo período, há novas caracterizações da atividade: são dadas
circunstâncias temporais de seu início entre nós - o período colonial - e se
insinua a localização e a relação com outras atividades - a pecuária se deu
fortemente no interior do país.
Os três períodos subsequentes trazem afirmações a respeito da pecuária
extensiva e as explicam em seguida. A primeira diz que ela era uma prima
pobre das outras atividades econômicas coloniais - dispensava investimentos
e requisitava pouca mão-de-obra. Essa explicação, ao contrário dos dois
próximos períodos, não possui um conectivo explícito.
Continue a análise e assinale a presença da conjunção "pois". As duas
ocorrências marcam relações explicativas - a pecuária era indispensável, pois
alimentava os envolvidos na atividade da agroindústria; ela era socialmente
interessante, pois reservava-se aos homens livres e os distinguia dos
escravos.
Para finalizar a análise, você pode dizer aos alunos que o texto não revela,
mas insinua ideias a respeito da nossa formação socioeconômica. Uma é a
relevância atribuída à exportação dos produtos agrícolas, outra é a
valorização do trabalho livre.
Como tarefa para casa, solicite aos alunos que pesquisem os usos do
conectivo "pois". Sugira que busquem em dicionários exemplos desses usos e
os copiem no caderno.
2ª etapa
Se você tiver acesso ao livro de Guimarães Rosa, você pode iniciar a aula,
mostrando o exemplar aos alunos. Não se trata de indicar a leitura, nesse
estágio escolar, mas de permitir a eles o contato inicial com uma referência
importante da nossa literatura. A apresentação sucinta do enredo, a leitura de
um pequeno trecho e uma informação perspicaz sobre o autor certamente
deixarão marcas que poderão incentivar a leitura do romance no futuro.
Corrija a tarefa proposta. Reforce com os alunos o uso do "pois" como
elemento conclusivo e como elemento explicativo. Alguns exemplos:
Ele chegou atrasado, não conseguiu, pois, entrar.
Eu não encontrei a chave, ela não estava, pois, em seu lugar.
Ele não chegou, pois não há ruído na casa.
Ele gostou da exposição, pois a indicou a todos os seus amigos.
Proponha aos alunos que escrevam um pequeno parágrafo, analisando o
texto de Walnice Galvão. Nessa produção, eles devem usar a conjunção
"pois" com o sentido de explicação.
Ouça e comente a produção dos alunos.
3ª etapa
Leia para os alunos o editorial abaixo, dedicado à água, publicado na Revista
da USP, em junho/julho e agosto de 2006.
EDITORIAL
Com este número damos início à trilogia dos quatro elementos (água, terra, ar
e fogo). Começamos com "Água" por razões quase óbvias. Se o corpo
humano é quase 70% água, talvez essa seja uma ótima razão. Mas não
sendo redundante, e não deixando de sê-lo, seria muito bom afirmar o velho
bordão de que sem água não há vida. Vamos nos centrar no caso das
grandes cidades. Como se daria a convivência de vários milhões de pessoas
sem a utilização da água? Os romanos, já no seu tempo, tinham uma noção
muito exata disso. E, aqui, cabe uma história divertida envolvendo o poeta
Carlos Drummond de Andrade. Lá pelas tantas, vivendo no Rio de Janeiro, o
bairro do poeta ficou sem água. O cidadão Drummond, indignado, escreveu
uma carta aos jornais denunciando a falta do produto. Algumas pessoas,
desavisadas, andaram recriminando publicamente tal fato. Afinal, por que um
poeta do seu calibre iria descer do pedestal para reclamar de coisa tão banal?
A resposta de Drummond foi de uma ironia que engolia a própria obviedade:
"Sem água não posso tomar banho". Com muita propriedade, portanto,
podemos dizer que sem água não temos comida na mesa, roupa lavada etc.
Acontece ainda que a questão da água hoje se impõe dado o ritmo alucinante
de expansão de algumas cidades. Cansamos de ouvir, ver e ler que estamos
com problemas graves de esgoto a céu aberto, de lixo (dos mais variados)
contaminando rios e nascentes. Na cidade de São Paulo, por exemplo,
convivemos há anos com esta moléstia: a poluição dos rios Tietê e
Tamanduateí, que cortam a cidade - isso, para ficarmos apenas nos dois que
são os mais visíveis, que ainda não foram enjaulados pela canalização e não
deixaram de ser observados por uma população que nem sequer pressente
sua presença.
Água é vida. Passamos por um momento em que a questão da água se
coloca como problema a ser solucionado a médio prazo. Se isso não for feito,
dizem muitos ambientalistas, será o colapso. Assim, convidamos o leitor
atento a procurar neste dossiê um texto que lhe agrade, da filosofia à
arquitetura - água doce ou salgada. É uma ótima ocasião de se entrar em
contato com uma das grandes questões do nosso tempo.
Francisco Costa
Texto disponível neste link
Acessado em 16 de novembro de 2010.
Após a leitura, pergunte aos alunos qual o objetivo do texto. Ouça-os e reitere
o caráter de apresentação do tema analisado no dossiê e das razões que
levaram a essa escolha.
Em seguida, peça aos alunos que releiam o texto e identifiquem o uso de uma
palavra com valor conclusivo que possa ser substituída pela conjunção "pois",
com esse valor. Veja se identificaram a conjunção conclusiva "portanto" no
trecho Com muita propriedade, portanto, podemos dizer que sem água não
temos comida na mesa, roupa lavada etc.
Assinale aos alunos que a conjunção "pois" insere-se entre duas vírgulas
quando possui valor de conclusão. Já quando possui valor explicativo, a
vírgula a antecede.
Proponha aos alunos que escrevam um parágrafo apresentando, segundo as
ideias do editorial, as razões que levaram à escolha do tema da revista. Nesse
parágrafo, eles devem usar a conjunção "porque" com o valor de causa.
4ª etapa
Escreva no quadro o seguinte texto e leia-o em voz alta para os alunos.
TEXTO PARA LEITURA
Como os jovens delinquentes receberam muito mais trocas agressivas com o
mundo exterior (família) do que amorosas, aprendem a conseguir a realização
de suas necessidades mediante a violência ou força. Na medida em que
crescem, cada vez que desejam algo, buscam obter o que sentiam como
necessidade por meio dos furtos, roubos, estupros, homicídios, uso de tóxicos
etc., o que, por sua vez, evidencia sua indiferenciação entre o eu e o não-eu e
uma defesa compulsiva contra o profundo sentimento de privação. Ao
enfrentar a crise da adolescência, onde tanto os impulsos agressivos como os
libidinais estão exacerbados, estes menores não encontram um ambiente
capaz de abarcar seus desequilíbrios momentâneos, o que favorece, mais
uma vez, o aparecimento de atuações criminosas, muitas vezes, irreversíveis.
Disponível neste link.
Acessado em 16 de novembro de 2010.
Solicite que, em duplas, os alunos reflitam sobre o texto e expliquem, por meio
de um pequeno texto, os mecanismos utilizados em sua construção. Discuta
as respostas dos alunos. Nesse momento, mostre como o texto acima parte
de uma afirmação tomada como verdade e causa da violência - os jovens
delinqüentes receberam muito mais trocas agressivas com o mundo exterior
(família) do que amorosas. Ou seja, devido a essa causa eles aprendem a
conseguir a realização de suas necessidades mediante a violência ou força.
Essa consequência atua como causa de outra cadeia, gerando outra
consequência, pois esses jovens, quando crescem, cada vez que desejam
algo, buscam obter o que sentiam como necessidade por meio dos furtos,
roubos, estupros, homicídios, uso de tóxicos etc.
Solicite aos alunos que reescrevam o primeiro período do texto, invertendo a
ordem causa-consequência e utilizando a conjunção "porque". Uma
possibilidade de reescrita é:
Os jovens delinquentes aprenderam a realizar suas necessidades por meio da
violência porque receberam mais trocas agressivas com o mundo exterior que
amorosas.
Discuta com os alunos a diferença de sentido das duas construções. A
anteposição da causa, como ocorre no texto original, sugere um fato
conhecido e aceito pelo interlocutor. A anteposição da consequência atenua o
caráter persuasivo da construção causal.
Após a correção da atividade, proponha a eles que, em dupla, busquem
conjunções ou locuções conjuntivas que estabeleçam relações de causa e
consequência e reescrevam o trecho acima utilizando uma dessas formas. A
tarefa deve ser iniciada em classe e concluída em casa.
5ª etapa
Realize a correção da tarefa proposta na aula passada. Entre as
possibilidades de conjunções encontramos: pois, já que, uma vez que, dado
que, visto que. Em seguida, apresente à turma o texto Brinquedos, de Roland
Barthes. O texto foi escrito pelo crítico francês nos anos 1950; portanto, há
quase sessenta anos. Nele, Barthes analisa os brinquedos franceses do
período e os toma como uma reprodução do mundo adulto. O texto pode
oferecer alguma dificuldade para os estudantes, mas deixe a eles - a atividade
deve ser realizada em duplas - a tarefa de procurar entendê-lo.
Em seguida, informe os alunos que, na próxima aula, eles deverão escrever
um texto argumentativo analisando o papel dos brinquedos nos dias atuais,
concordando ou não com as ideias de Barthes. Para ajudá-los nessa tarefa,
proponha que, em casa, eles releiam e discutam o texto do filósofo com pais,
irmãos mais velhos, tios ou outras pessoas da comunidade.
BRINQUEDOS
O adulto francês considera a criança como um outro eu; nada o prova melhor
do que o brinquedo francês. Os brinquedos vulgares são assim,
essencialmente, um microcosmo adulto; são reproduções em miniatura de
objetos humanos, como se, para o público, a criança fosse apenas um homem
pequeno, um homúnculo a quem só se pode dar objetos proporcionais ao seu
tamanho.
As formas inventadas são muito raras; apenas algumas construções,
baseadas na habilidade manual, propõem formas dinâmicas. Quanto ao
restante, o brinquedo francês significa sempre alguma coisa, e essa alguma
coisa é sempre inteiramente socializada, constituída pelos mitos ou pelas
técnicas da vida moderna adulta: o exército, a rádio, o correio, a medicina
(estojo miniatura de instrumentos médicos, sala de operação para bonecas), a
escola, o penteado artístico (secadores, bobes), a aviação (paraquedistas), os
transportes (trens, citroens, lambretas, vespas, postos de gasolina), a ciência
(brinquedos marcianos).
O fato de os brinquedos franceses prefigurarem literalmente o universo das
funções adultas só pode evidentemente preparar a criança a aceitá-las todas,
construindo para ela, antes mesmo que possa refletir o álibi de uma natureza
que, desde que o mundo é mundo, criou soldados, empregados do correio e
vespas. O brinquedo fornece-nos assim o catálogo de tudo aquilo que não
espanta o adulto: a guerra, a burocracia, a fealdade, os marcianos etc. Aliás,
na realidade, não é tanto a imitação que constituí o signo da abdicação, mas
sim a literalidade dessa imitação: o brinquedo francês é, em suma, uma
cabeça mirrada de índios jivaro - onde se reencontram numa cabeça com
proporções de uma maçã, as rugas e os cabelos do adulto.
Existem, por exemplo, bonecas que urinam: possuem um esôfago, e se lhes
dá mamadeira, molham as fraldas; sem dúvida, brevemente, o leite
transformar-se-á em água, em seus ventres. Pode-se, desta forma, preparar a
menininha para a causalidade doméstica, "condicioná-la" para a sua futura
função de mãe. Simplesmente, perante este universo de objetos fiéis e
complicados, a criança só pode assumir o papel de proprietário, do utente, e
nunca o do criador; ela não inventa o mundo, utiliza-o: os adultos preparam-
lhe gestos sem aventura, sem espanto e sem alegria. Transformam-na num
pequeno proprietário aburguesado que nem sequer tem de inventar os
mecanismos de causalidade adulta, pois já lhes são fornecidos prontos: ela só
tem de utilizá-los, nunca há nenhum caminho a percorrer.
Qualquer jogo de construção, se não for demasiado sofisticado, implica um
aprendizado de um mundo bem diferente: com ele a criança não cria nunca
objetos significativos; pouco lhes importa se eles têm um nome adulto: o que
ele exerce não é uma utilização, é uma demiurgia: cria formas que andam,
que rodam, cria uma vida e não uma propriedade; os objetos conduzem a si
próprios, já não são uma matéria inerte e complicada na concha da mão. Mas
trata-se de um caso raro: o brinquedo francês, de um modo geral, é um
brinquedo de imitação, pretende formar crianças-utentes e não crianças
criadoras.
O aburguesamento do brinquedo não se reconhece só pelas suas formas,
sempre funcionais, mas também pela sua substância. Os brinquedos vulgares
são feitos de uma matéria ingrata, produtos de uma química, e não de uma
natureza. Atualmente muitos são moldados em massas complicadas: a
matéria plástica tem assim uma aparência simultaneamente grosseira e
higiênica, ela mata o prazer, a suavidade, a humanidade do tato. Um signo
espantoso é o desaparecimento progressivo da madeira, matéria um tanto
ideal pela sua firmeza e brandura, pelo calor do seu contato; a madeira
elimina, qualquer que seja a forma que sustente, o golpe de ângulos
demasiado vivos, e o frio químico do metal: quando a criança manipula ou
bate com ela onde quer que seja a madeira não vibra e não range, produz um
som simultaneamente surdo e nítido; é uma substância familiar e poética que
deixa a criança permanecer numa continuidade de tato com a árvore, a mesa,
o soalho. A madeira não magoa, não se estraga também; não se parte, se
gasta, pode durar muito tempo, viver com a criança, modificar pouco a pouco
as relações entre o objeto e a mão; se morre, é diminuindo, e não inchando
com esses brinquedos mecânicos que desaparecem sob a hérnia de uma
mola quebrada. A madeira faz objetos essenciais, objetos de sempre. Ora, já
praticamente não existem brinquedos de madeira só possível, é certo, numa
época de artesanato. O brinquedo é doravante químico, de substância e de
cor; a própria matéria- prima de que é construído leva a uma cenestesia da
utilização e não do prazer. Estes brinquedos morrem, aliás, rapidamente, e,
uma vez mortos, não têm para a criança nenhuma vida póstuma.
BARTHES, Roland. "Brinquedos" . In: Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1999, pp. 40-42 (com cortes)
6ª etapa
Nesta aula final, as duplas deverão redigir o texto argumentativo anunciado na
aula anterior. Eles devem usar pelo menos três conjunções indicativas de
relações de causa e consequência. Analise os trabalhos, faça seus
comentários para cada dupla e, com base neles, peça a reescrita dos textos.
O conjunto da obra pode ser transformado em uma publicação da turma ou
ser exposto em murais na escola para acesso dos demais alunos.
Gramática com textos: 9º ano - modalizadores do discurso
Introdução
Esta é a última de uma série de 16 sequências didáticas que fazem parte de
um programa de estudo de gramática para 6º a 9º ano do Ensino
Fundamental. Confira ao lado todas as aulas da série.
Objetivos
Conhecer expressões modalizadoras do discurso;
analisar o papel dos modalizadores no texto.
Conteúdo
Expressões modalizadoras.
Tempo estimado
Sete aulas.
Desenvolvimento
1ª etapa
Comece a aula anotando no quadro a manchete abaixo. Informe aos alunos
que ela foi publicada na primeira página de um jornal.
Para erradicar a pobreza, Brasil teria de gastar mais R$ 21,3 bi
(Folha de S. Paulo, 14 nov. 2010)
Peça que os alunos, em dupla, analisem-na segundo os seguintes aspectos:
a) o que a manchete apresenta como tema?
b) como esse tema é apresentado, quais recursos linguísticos chamam a
atenção dos alunos?
c) qual o efeito de sentido, ou seja, o impacto causado pelas escolhas dos
recursos mencionados no item acima?
Dê um tempo para a realização da atividade e corrija-a com a moçada.
a) Tema: os gastos necessários para a erradicação da pobreza no Brasil.
b) Recursos utilizados:
- inversão da ordem direta;
- uso do futuro do pretérito - teria;
- uso do advérbio mais.
c) Efeitos de sentido:
- ao inverter a ordem direta e começar a frase com a finalidade da ação, o
autor dá mais ênfase ao objetivo (erradicar a pobreza) do que à ação
necessária para alcançá-lo (gastar mais R$ 21,3 bi).
- o uso do futuro do pretérito lança dúvidas sobre a realização da ação.
- o uso do advérbio mais dá a ideia de que o que se gasta hoje não é
suficiente e deixa claro que é preciso colocar um valor extra para alcançar o
objetivo.
Para terminar, proponha a reescrita da manchete. Peça que os alunos
busquem alternativas para substituir a caráter de possibilidade por uma ideia
de certeza. Sugira também que coloquem ênfase na ação que deve ser
tomada para erradicar a pobreza.
Dê um tempo para a realização da atividade e, em seguida, peça que os
alunos apresentem suas opções. Algumas construções possíveis são:
Brasil gastará mais R$21,3 bi para erradicar a pobreza
Brasil terá de gastar mais R$21,3 bi para erradicar a pobreza
2ª etapa
Mostre à classe outras duas manchetes publicadas na primeira página do
mesmo jornal.
Com atraso, Campos de Jordão vai tratar esgoto
Corinthians vence o Cruzeiro com pênalti polêmico e é líder
Peça que os alunos identifiquem nelas as marcas do juízo de valor deixadas
pelo enunciador (aquele que escreve o texto). Dê um tempo para que as
duplas discutam.
Durante a correção, chame a atenção da moçada para a expressão com
atraso, colocada na primeira manchete. Ela mostra o viés que o enunciador
quer dar ao texto. Peça que a classe observe também o papel do
adjetivo polêmico, usado na segunda manchete para mostrar um julgamento a
respeito do pênalti que deu a vitória ao Corinthians.
Após a análise das manchetes, explique aos alunos que, ao produzirmos um
texto oral ou escrito, usamos expressões que podem sugerir o nosso ponto de
vista - reforçando-o ou atenuando-o. Essas expressões são chamadas
de expressões modalizadoras. Elas podem ser constituías por verbos,
advérbios, adjuntos adverbiais, adjetivos etc.
Nas manchetes analisadas, foram usadas algumas fórmulas linguísticas que
sugerem o ponto de vista dos autores a respeito do mundo. Diga aos alunos
que é interessante perceber o uso desses dispositivos e considerá-los na hora
de analisar o texto. Explique que o leitor deve se perguntar, por exemplo: terá
mesmo sido polêmico o pênalti corintiano? Ou essa é apenas a opinião do
jornalista?
3ª etapa
Coloque no quadro o seguinte trecho da Gramática Houaiss da Língua
Portuguesa:
"A modalização diz respeito à expressão das intenções e pontos de vista do
enunciador. É por intermédio da modalização que o enunciador inscreve no
enunciado seus julgamentos e opiniões sobre o conteúdo do que diz/escreve,
fornecendo ao interlocutor ‘ pistas’ ou instruções de reconhecimento do
efeito de sentido que pretende produzir. (...)
a) É possível que chova no Carnaval. (Suposição)
b) É necessário que chova no Carnaval. (Necessidade)
c) Vai chover no Carnaval. (Certeza)"
AZEREDO, José Carlos. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São
Paulo: Publifolha, 2008
Comente a definição com a turma e certifique-se de que o conteúdo está
claro. Caso haja necessidade, discuta as dúvidas dos alunos.
Feito isso, proponha à classe a leitura do boletim meteorológico abaixo. Peça
que os alunos identifiquem os trechos assertivos e aquele onde há
modalização indicativa de atenuação.
Chove em grande parte do Brasil
As chuvas se espalham pelo país, atingindo faixa que vai de SC até AM. As
pancadas são isoladas no Nordeste. Já no Sudeste e no Centro-Oeste, há
risco de temporais, sobretudo no sul de MG e RJ.
Folha de S. Paulo, 22 de nov de 2010, Caderno Cotidiano, C 2.
A classe deve perceber que os verbos chove e são, colocados no presente do
indicativo, dão a ideia de certeza. Já a expressão há risco de temporais indica
uma atenuação, mostrando que existe uma possibilidade que pode ou não se
concretizar.
Proponha que a turma reescreva o boletim de modo que o caráter assertivo
seja substituído pela possibilidade ou probabilidade.
Uma opção de resposta é:
Pode chover em grande parte do Brasil
As chuvas podem se espalhar pelo país, atingindo faixa que vai de SC até
AM. As pancadas podem ser isoladas no Nordeste. Já no Sudeste e no
Centro-Oeste, há risco de temporais, sobretudo no sul de MG e RJ.
Proponha que os estudantes realizem o mesmo exercício, utilizando a
previsão astrológica abaixo.
Áries (21 de mar. a 20 de abr.).
Lua em Gêmeos favorece estudos, comunicação e contatos sociais em geral.
Sol em Sagitário traz quatro semanas ótimas, para você desenvolver melhor
sua espiritualidade, explorar com mais afinco novas maneiras de viver.
Folha de S. Paulo, 22 de nov de 2010, Caderno Ilustrada, E11
Uma opção de resposta é:
Áries (21 de mar. a 20 de abr.).
Lua em Gêmeos pode favorecer estudos, comunicação e contatos sociais em
geral. Sol em Sagitário indica a possibilidade de quatro semanas ótimas para
você desenvolver melhor sua espiritualidade, explorar com mais afinco novas
maneiras de viver.
Corrija os dois exercícios. Mostre à turma que os dois gêneros textuais
(previsão do tempo e astrologia) são baseados em probabilidades e deveriam,
a rigor, ser descrito por meio de expressões modalizadoras de atenuação.
Isso, no entanto, tiraria a força persuasiva das afirmações. Opta-se, então, por
frases mais assertivas.
4ª etapa
Inicie a etapa explicando aos alunos que eles vão ler um texto que começa
com a palavrainfelizmente. Pergunte a eles o que essa palavra sugere. Ouça
o que têm a dizer. Incite-os a construir oralmente períodos em que a palavra
se apresente.
Em seguida, entregue o texto à classe.
Brutalidade não pode ser reação à cantada
Jairo Bouer
INFELIZMENTE, em menos de um mês tenho que voltar ao tema da violência
gratuita, face aos incidentes que aconteceram em plena avenida Paulista,
quando um grupo de quatro menores e um garoto de 19, todos de classe
média e teoricamente "educados", agrediram outros jovens.
A coluna está sendo escrita um dia após os agressores terem sido liberados
pelas autoridades responsáveis. Há indícios (segundo a própria polícia) de
que a motivação para alguns dos ataques no dia 14 tenha sido a homofobia.
A defesa alega que não houve homofobia, mas uma simples briga de jovens,
talvez motivada por um suposto flerte de um dos garotos que foi agredido. Os
agredidos e outras testemunhas negam que houve qualquer tipo de contato
anterior e dizem que os agressores já chegaram batendo.
Vamos supor que houve uma briga que nasceu de uma cantada. Desde
quando a forma de se reagir a qualquer tipo de cantada, vindo ela de homens
ou de mulheres, é uma agressão brutal? Cinco garotos atacando um jovem
sozinho é uma simples briga? Na melhor das hipóteses, é pura covardia. Na
pior, é um ato preconceituoso e bárbaro.
Não dá para admitir tal comportamento como sendo natural, um rito de
passagem, agressividade normal de meninos, necessidade de afirmação
frente ao grupo e falta de limites colocados pelos pais, entre outras alegações.
É uma selvageria inadmissível e, para isso, existe lei, julgamento e eventuais
responsabilizações.
Tendo a achar que a melhor maneira de aprender é trabalhar aquilo que é
sensível. Assim, que tal colocar alguém que não sabe lidar com sua própria
agressividade em um trabalho comunitário com vítimas de violência contra a
mulher, de preconceito e de homofobia? Talvez, no contato com aquilo que
incomoda, a gente cresça e aprenda a ser um adulto melhor.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/folhatee/fm2211201012.htm.
Acesso em 22 de nov. 2010
Pergunte o que acharam do texto e o que pensam sobre a violência juvenil.
Promova uma discussão em classe sobre o tema.
5ª etapa
Após a discussão, releia o texto com a classe assinalando as modalizações
realizadas. No primeiro parágrafo, marque as
palavras infelizmente, gratuita e teoricamente.
No terceiro parágrafo, encontram-se simples, talvez e suposto. Mostre aos
alunos como essas palavras são utilizadas pela defesa dos jovens agressores,
visando diminuir a gravidade do fato. A suposição elaborada pelos advogados
atrela-se a palavras indicativas de hipóteses - talvez esuposto. A ela se
contrapõe as afirmações dos agredidos e das testemunhas que aparecem no
mesmo parágrafo. Eles negam que houve qualquer tipo de contato anterior e
dizem que os agressores já chegaram batendo. Chame a atenção da classe
para a assertividade presente nessas frases.
No quarto parágrafo, o autor do texto parte da suposição lançada pela defesa
dos agressores e a problematiza. Isso se dá por meio de duas questões em
que o juízo do enunciador é reforçado por meio dos adjetivos:
agressão brutal, simples briga. Na afirmação seguinte, a adjetivação também
se apresenta: pura covardia, ato preconceituoso e bárbaro.
No quinto parágrafo, analise com a moçada a expressão inicial - não dá para
admitir tal comportamento - e as palavras inadmissível e eventuais. A
palavra inadmissível poderia ser tirada do texto sem prejuízo à mensagem.
Sua presença, no entanto, marca o posicionamento de repulsa do enunciador.
O uso da palavra eventuais associada a responsabilizações evita a
condenação sem provas e remete, indiretamente, à instância legal.
No último parágrafo, o enunciador mostra uma possível via de punição. Ele,
entretanto, atenua o caráter de verdade de sua proposta ao usar as
expressões Tendo a achar que e Talvez, no contato com aquilo que
incomoda, a gente cresça e aprenda a ser um adulto melhor.
Solicite que os alunos redijam um parágrafo comentando o texto de Jairo
Bouer. Eles devem usar algumas das seguintes expressões modalizadoras: é
certo que, felizmente, infelizmente,inadmissível, provavelmente e talvez.
6ª etapa
Dedique uma aula à leitura pelos alunos dos textos produzidos. Observe se o
uso das expressões modalizadoras foi realizado corretamente.
É interessante que a discussão sobre violência juvenil ultrapasse os limites da
sala de aula. Se possível, exponha o artigo de Jairo Bouer e os textos dos
alunos no mural da escola.
Avaliação
Proponha que os alunos leiam o texto abaixo e realizem a atividade a seguir.
Origens da Linguagem
A questão da origem da linguagem ou, em outros termos, da evolução do
comportamento comunicativo do humano é altamente controvertida, dada a
inexistência de provas e testemunhas factuais, diferentemente da evolução da
espécie humana, para qual existem evidências concretas. Isso tornou o tema
sujeito às mais inusitadas divagações e propostas fantasiosas. Uma das
primeiras teorias sobre a origem da linguagem humana é que as palavras
surgiram da tentativa de imitar os sons produzidos pelos animais, como quá-
quá, bem-te-vi, cuco, e os sons da natureza circundante, como o farfalhar das
folhas, o correr das águas, o barulho do vento e da chuva, por meio de sons
sibilantes ou chiantes, como s, z, ch, de nasais murmurantes, como m e de
líquidas como l e r. A imitação tornava-se a palavra que designava o objeto.
Essa teoria, conhecida como teoria onomatopaica, evoca a seu favor a
existência de onomatopéias em todas as línguas. Além disso, é comum a
mãe, ao mostrar o filho pequeno um livro com animais, dizer-lhe: olha o au-au,
olha o miau, olha o cocoricó, olha o muu, nomes que muitas vezes a criança
usa para se referir ao cachorro, gato, galo e vaca. No entanto o elo perdido
está em saber como de au-au passa a ser cachorro, de miau a gato, de muu a
vaca.
Outra possibilidade proposta, muito semelhante à explicação onomatopaica,
foi a de identificar o germe da linguagem nas interjeições. Os primeiros sons
produzidos pelos homens teriam sido exclamações de dor, alegria, desespero,
espanto, surpresa, o que também não explica como se passou do estágio dos
gritos expressando emoções à linguagem articulada de frases como eu estou
com dor, eu estou feliz, eu estou desesperado etc.
FRANCHETTO, B. e LEITE, Y. Origens da Linguagem. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2004, pp11-12.
Atividades:
a) Identificar as expressões modalizadoras presentes nos dois primeiros
períodos do texto.
b) Produzir um texto resumindo e comentando o trecho lido. Nele, os alunos
devem usar duas expressões modalizadoras diferentes das utilizadas pelas
autoras.