Granito do Porto - cienciaviva.pt · As características climáticas e as boas condições de...
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Granito do Porto
Escola Básica e Secundária do Cerco
Turmas 11º B e 12º B
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Ah! Ver o Porto…
Ah! Ver o Porto…Ver o Porto é – sempre ou quase – reencontrar imagens de certa forma de
cidade escondida, que conservamos dentro de nós. Imagens densas, impenetráveis como
neblinas envolvendo as manhãs.
Imagens de crepúsculos nos outonos tingindo o casario, telhados, clarabóias, águas-furtadas,
torres, lanternins e chaminés de S. Nicolau, Vitória e Miragaia. Tingindo-os e misturando a
suavidade de cores indefinidas, de cores esbatidas sugerindo atmosferas que as palavras não
conseguem (ou não podem) descrever: púrpuras e cobaltos desmaiados ou brevemente
laranjas. Violetas-cinza penetrados por claridades que produzem brilhos leves nas vidraças das
janelas. Imagens de entardeceres vistos da Ponte, do Jardim do Morro, da Serra do Pilar,
pontilhados de luzes, milhares de luzes reflectidas nas águas do rio.
Ah! Ver o Porto…Ver o Porto é – sempre ou quase – um ajuste de contas. É um acertar das
nossas percepções com as imagens de certa forma de perenidade que guardamos num recanto
da memória (ou talvez da fantasia), dentro de nós. Imagens das escuridões eivadas de
sobressaltos e inquietudes (ou solidões) quando anoitece. Quando anoitece e aumenta aquela
impressão subjectiva – será do granito e das morrinhas ou é apenas sentimento? – da cidade
sombria e húmida, da cidade agreste e desabrida. Imagens de tonalidades frias dos invernos do
noroeste, mesclados de azul esbranquiçado e verde, em transparências, em velaturas de suaves
e quase imperceptíveis gradações.
Imagens concretas. Imagens afirmativas dos lugares onde a História assentou raízes. Nas
marcas dos tempos, nas evocações das crónicas e lendas retidas no imaginário persistente nos
habitantes. Imagens de ruas e travessas, escadas e recantos, vielas, becos e esquinas com
referências, com espírito e razão sedimentados nos séculos.
Dantes, os rabelos vinham, às centenas, rio abaixo, até à Ribeira, carregando sangue do
comércio que fez prosperar a cidade. E agora? Agora estão ali, feitos silhuetas melancólicas e
nostálgicas, pousando num rio agredido de que restam, apenas, a poesia e as recordações.
Recordações da azáfama dos vapores e batelões, barcaças e caícos. Nostalgias de um rio de
que restam, apenas, névoas e gaivotas. E restam, no Cais de Vila Nova, barcos sobreviventes
dos tempos da epopeia de descer o rio, reconstruídos com os últimos saberes que persistem nos
mestres dos estaleiros de Rei Ramiro.
Ah! Ver o Porto…Ver o Porto é permanecer fiel a um certo, subtil e indizível sentimento de
viver, de pertencer a um território com carácter e tradição.
Ah! Ver o Porto…Ver o Porto é guardar imagens da luz e da atmosfera que, em algumas horas
e em certos dias, envolve, define ou atenua os contornos do burgo: morros e torres, maciços
verdes e muralhas, pontes e palácios, margens e cais.
Ah! Ver o Porto, eis o desafio para olhar e reter os encantos e magias que sobrevivem na
cidade inesquecível que aí está, à espera da nossa descoberta, da nossa nostalgia e da nossa
paixão. Porque, afinal – confirmando Saint-Exupéry ao escrever que o essencial é invisível
para os olhos -, ninguém, acho eu, pode ver (e entender) o Porto senão com o coração.
Helder Pacheco
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Introdução
O Granito do Porto é onde a Invicta assenta, esta rocha encontra-se com muitas
patologias devido ao efeito das chuvas e da poluição causada pelos gases que são
libertados para atmosfera.
Os portuenses utilizaram o granito do Porto na construção de monumentos
como a Torre dos Clérigos, o Hospital de Santo António, o antigo edifício da Faculdade
de Ciências da Universidade do Porto, entre outros. O uso deste tipo de rocha vem do
tempo dos nossos antepassados que aproveitaram este recurso para embelezar esta
cidade, tornando-a assim uma cidade mais bonita, onde se torna apetecível a sua visita.
Quem vê a cidade do Porto observa sempre uma grande quantidade deste tipo de
granito que serve como um postal a quem a visita, levando-a sempre na lembrança e
com a alegria e esperança de tornar a cá voltar.
Um afloramento de granito do Porto que trabalhamos, ao longo deste estudo, foi
um que que se encontra perto do Estádio do Dragão e do Dolce Vita. Observamos a
granulometria, a cor, os minerais constituintes, diáclases e respectivas orientações,
filões, entre outros aspectos.
Ao longo destas aulas de campo fomos recolhendo algumas amostras para
estudarmos o elevado grau de meteorização em que se encontra o Granito do Porto.
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1. Localização geográfica da cidade do Porto
A segunda cidade do país é o Porto, situado na foz do rio Douro, com o seu centro
histórico classificado como Património da Humanidade pela UNESCO em 1996. É uma
das mais antigas cidades da Europa.
A cidade situa-se na margem direita do rio Douro. Estende-se sobre a ampla
plataforma (que se prolonga para N e que esta ligeiramente inclinada para o Oceano
Atlântico), formada por uma sucessão de superfícies dispostas em escadaria.
O Porto foi-se desenvolvendo entre o vale encaixado do rio Douro a sul e o rio Leça a
norte. O rio Douro é o responsável pelo vale, estreito e profundo, visível em toda a
marginal e que se prolonga até à Foz, com vertentes íngremes e elevadas que
apresentam em alguns pontos altitudes da ordem dos 70 e dos 80 metros. A Oriente
encontra-se o vale mais amplo, o de Campanhã entre os montes da Vela e da Corujeira.
É neste vale que correm os rios Tinto e Torto.
Próximo da nossa escola, Escola Básica e Secundária do Cerco, surge o vale de
Campanhã. Esta área corresponde ao contacto entre os micaxistos do complexo Xisto-
Grauváquico, aos Xistos correspondem as zonas de costas mais baixas.
Na realidade numa região com as características do Porto torna-se difícil a
caracterização morfológica, por um lado porque não são evidentes as formas de relevo
significativos, e por outro lado porque corresponde a uma área intensamente ocupada,
em que as características materiais foram fortemente alteradas pela acção do homem.
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2. Enquadramento geotectónico da cidade do Porto
O perfil da cidade do Porto é definido pela presença do granito (figura 9), granito
do Porto, quer em afloramento, quer no património construído. O granito do Porto que
constitui o substrato da cidade e é a pedra aplicada na sua edificação desde da ocupação
romana até à actualidade.
Figura 1 – Extracto da folha 9 – C – Porto da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50 000
Legenda
As agressões atmosféricas e da natureza ambiental têm causado uma acentuada
degradação do granito bem patente em edifícios e monumentos históricos.
Granito do Porto
Escola Básica
e Secundária
do Cerco
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Assim sendo, a cidade do Porto não pode ser dissociada dos seus granitos. Situa-
se, sob o ponto de vista geológico, essencialmente na Zona Centro - Ibérica (ZCI)
(NORONHA, 2005).
De acordo com o mesmo autor, um dos principais contactos geotectónicos da
Península Ibérica é o contacto entre a Zona Centro Ibérica (ZCI) e a Zona Ossa Morena
(ZOM). Este contacto está marcado a ocidente pela zona de cisalhamento Porto - Tomar
(ZCPT) que passa pela zona da Foz do Douro - Nevogilde, pelo que, mais precisamente
se deve considerar que a cidade se situa no limite entre aquelas duas zonas
geotectónicas.
Na cidade do porto distinguem-se três tipos de formações geológicas
(NORONHA, 2005).
Formações sedimentares de coberturas;
Formações metamórficas;
Formações ígneas.
O grupo mais significativo é o das formações ígneas, particularmente o das rochas
graníticas. De facto o substrato em que assenta a cidade do Porto e essencialmente
constituído por rochas graníticas xistosas da Era Primária e por alguns depósitos
quaternários. As rochas mais antigas pertencem ao oriental da cidade (área do Bonfim e
Campanhã). Nestes afloramentos os micaxistos e metagrauvaques constituem uma
sequência relativamente monótona e metamorfizada, sendo frequentemente recortados
por granitos. Também metamórficas são as rochas da zona mais ocidental da cidade do
porto, na estreita orla litoral entre a Foz do rio Douro e o Castelo do queijo formando o
chamado “Complexo Metamórfico da Foz do Douro”. Aqui encontram-se afloramentos
de variadas rochas metamórficas e sedimentares com metamorfismo de alto grau.
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3. Localização do afloramento de granito do Porto
Figura 2 - Localização do afloramento do granito do Porto ( - coordenadas UTM [Datum
WGS84] Fuso 29 - M:534633.55 / P:4556940,16)
Figura 3 - Orientação do perfil do afloramento das rochas graníticas (N110º).
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1
N
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Figura 4 – Cálculo da extensão do afloramento.
Leituras aproximadas: Comprimento ≈ 134 metros / altura ≈ 8 metros.
Figura 5 (a, b ,c) - Recolha de amostra de granito do Porto de duas micas (constituído
essencialmente por quartzo, feldspato, moscovite e biotite).
a c
c
b
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Figura 6 - Leitura de diaclase que “corta” o pegmatito (Diaclase: N69º; 50ºSE )
Figura 7 - Facies pegmatitica está estruturado segundo atitude da família de diaclases (N90º; 52ºN)
Leitura de diaclases (N90º; 52ºN / N98º; 55NE).
diaclase
facies mais
pegmatitica Feldspato
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4. Classificação do Granito do Porto
As rochas magmáticas formam-se quando o magma que está presente na câmara
magmática arrefece e consolida. Quando formadas em profundidade designam-se rochas
magmáticas plutónicas ou intrusivas, como é o caso do granito. Originam-se a partir de
magmas com diferente composição, sendo, consequentemente, constituído por minerais
simples.
Os granitos apresentam cores claras – rochas leucocratas. Os principais
constituintes mineralógicos do granito são o Quartzo, o Feldspato e as Micas.
A cidade do Porto, é um exemplo, de uma paisagem granítica, porque esta cidade
encontra-se assente num maciço granítico que lhe confere uma tonalidade cinzenta
(figura 8).
Figura 8 – Construções em granito do Porto e afloramento de granito do Porto
O granito sobre o qual assenta a cidade constitui a mais significativa mancha
petrográfica da cidade do Porto, sendo este o material mais utilizado na construção dos
monumentos da cidade. O granito do Porto aflora numa região com um clima
mediterrâneo (região norte Atlântico) caracterizado por amplitudes térmicas diurnas e
anuais pouco significativas, valores e precipitação média anual muito elevados, mas
com Verões secos. Esta região é fortemente húmida caracterizada por chuvas
abundantes.
O granito do Porto é um granito de grão médio de duas micas com textura
hipidiomórfica granular (figura 9), por vezes com tendência porfiróide. Quando não
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meteorizado apresenta cor cinzenta clara e aspecto muito homogéneo. É constituído por
quartzo, microclina, plagioclase, moscovite e biotite, tendo como minerais acessórios o
zircão, a apatite e a silimanite (Begonha, 1997).
Figura 9 – Granito do Porto
As características climáticas e as boas condições de drenagem favorecem a
meteorização do granito do Porto que aflora sempre mais ou menos meteorizado.
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5. Antigas pedreiras
Antigas pedreiras da cidade localizavam-se no Monte Pedral, que corresponde nos
dias de hoje à área delimitada pelas ruas da Constituição, do Almirante Leote do Rego,
de S. Dinis e de Serpa Pinto (BEGONHA, 1997).
Temos ainda a antiga Pedreira da Trindade que hoje está ocupada pela Trindade
Domus Gallery.
Figura 10 – Localização da antiga Pedreira da Trindade (imagem retirada de http://porto-
sentido.blogs.sapo.pt/127104.html)
Bem próximo da nossa escola existia uma antiga pedreira de granito, a pedreira da
Areosa, da qual apresentamos um relato de Franquelim Fortunato Ferreira:
“(…) Naquele tempo, a Avenida de Fernão de Magalhães ainda não tinha sido rasgada
totalmente desde o Campo 24 de Agosto até à Circunvalação, junto à Areosa.
Começava junto ao actual Hotel Nave e terminava junto da Rua da Vigorosa. Onde
hoje existe o viaduto sobre a VCI e, anteriormente, existiu a Praça de D. João II, mais
conhecida por "rotunda das batatas", havia uma elevação no cimo da qual se situava o
campo de futebol do Estrela e Vigorosa Sport.
Passava-se para a Rua de Contumil por uma rua estreita que, em parte, coincidia com
a actual Rua das Cavadas.
O actual troço da Avenida, entre a Rua de Contumil e a Rua de Santa Justa já existia,
embora com outro nome, e abrangia num dos seus lados o Bairro de Costa Cabral, em
toda a sua extensão. Para lá da Rua de Santa Justa ... nada! Isto é, neste local havia
Antiga
Pedreira
da
Trindade
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uma pedreira e, depois, campos estendendo-se até à Circunvalação.”
(http://paginas.fe.up.pt/~fff/Homepage/Fotobiografia.html).
Com o tempo tudo muda e das pedreiras já só restam histórias de quem um dia as
conheceu.
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6. Património em Granito
Figura 11 – Estação de São Bento
Figura 12 – Praça da Ribeira
Figura 13 – A Ribeira
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Figura 14 – Igreja de São Francisco
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7. O Granito na Literatura
Cidade berço de muitos escritores, o Porto, com as suas características, com as
suas tradições, foi sempre alvo de reflexão e de estudo na literatura. Nascida no Porto
em 1919, Sophia de Mello Breyner não é excepção. Embora na sua poesia exista uma
clara ligação da poetisa ao mar e à vida fora a cidade, em Junho de 1999, no Jornal de
Letras, alude ao granito da cidade do Porto, às suas características - como a dureza,
rugosidade, fortaleza e frieza - no poema “D. António Ferreira Gomes”.
Na cidade do Porto há muito granito
Entre névoas sombras e cintilações
A cidade parece firme e inexpugnável
E sólida – mas habitada
Por súbitos clarões de profecia
Junto ao rio em cujo verde se espelham as visões
Assim quando eu entrava no Paço do Bispo
E passava a mão sobre a pedra rugosa
O paço me parecia fortaleza
Porém a fortaleza não era
Os grossos muros de pedra caiada
Nem os limites de pedra nem a escada
De largos degraus rugosos de granito
Nem o peso frio que das coisas inertes emanava
Fortaleza era o homem – o Bispo –
Alto e direito firme como torre
Ao fundo da grande sala clara: fortaleza
De sabedoria e sapiência
De compaixão e justiça
De inteligência a tudo atenta
E na face austera por vezes ao de leve o sorriso
Inconsútil da antiga infância.
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Bibliografia
BEGONHA, A. (1997). Meteorização do granito e deterioração da pedra em
monumentos e edifícios do Porto. Braga: Universidade do Minho. Tese de
Doutoramento.
Carta Geológica de Portugal (1957): Folha 9C – Porto, à escala 1/50000, Serviços
Geológicos de Portugal, Lisboa.
http.igeo.pt.utilitarios/coordenadas/trans.aspx (11 de Maio de 2011)
http://porto-sentido.blogs.sapo.pt/127104.html (01 de Fevereiro de 2011)
http://paginas.fe.up.pt/~fff/Homepage/Fotobiografia.html (01 de Fevereiro de 2011)
NORONHA, F. (2005). Geologia, Tectónica, Geomorfologia e Sismicidade da cidade
do Porto, Carta Geotectónica. Porto.