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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

HISTÓRIA, TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS

LINHA DE PESQUISA- TERRITÓRIOS, TEMPORALIDADES E PODER

GRAZIANO UCHÔA PINTO DA SILVA

A ERA STROESSNER: UMA ANÁLISE DA CULTURA POLÍTICA

PARAGUAIA (1954-1970)

CUIABÁ-MT

JANEIRO DE 2013

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GRAZIANO UCHÔA PINTO DA SILVA

A ERA STROESSNER: UMA ANÁLISE DA CULTURA POLÍTICA

PARAGUAIA (1954-1970)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em História.

Orientação: Prof. Dr. Pio Penna Filho.

CUIABÁ-MT

2013

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança - Cep: 78060900 -CUIABÁ/MT

Tel : (65) 3615-8493 - Email : [email protected]

FOLHA DE APROVAÇÃO

“A Era Stroessner: uma análise da cultura política paraguaia (1954-1970)”

GRAZIANO UCHÔA PINTO DA SILVA

Dissertação defendida e aprovada em 08/07/2011

Composição da Banca Examinadora:

Presidente Banca / Orientador: Doutor Pio Penna Filho

Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Examinador Interno: Doutora Leonice Aparecida de Fátima Alves

Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Examinador Externo: Doutor Carlos Eduardo Vidigal

Instituição: Universidade de Brasília (UNB)

CUIABÁ, 08/07/2011

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Agradecimentos

Ao Dr. Pio Penna Filho, orientador desta dissertação, por todo empenho,

sabedoria, compreensão e, acima de tudo, exigência. Gostaria de ratificar a sua

competência, participação com discussões, correções e sugestões que fizeram com que

concluíssemos este trabalho.

A Profª. Drª. Leonice Aparecida de Fátima Alves, por sua ajuda e interesse,

ressaltando sua colaboração na avaliação do trabalho fazendo isso com detalhismo e

competência incomuns.

Ao Prof. Dr. Cândido Moreira Rodrigues, Prof. Dr. Oswaldo Machado Filho e

Prof. Dr. Carlos Eduardo Vidigal por aceitarem participar da qualificação e da banca de

defesa desta dissertação, proporcionando discussões e sugestões que serviram para o

crescimento, aprendizado e incentivo à pesquisa.

Gostaria de agradecer a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de estudo, bolsa esta, que ajudou muito no

decorrer da pesquisa.

À secretária Val Ribeiro por sua força e otimismo, sendo uma profissional

extremamente competente e dedicada.

Aos meus familiares que sempre me deram amor e força, valorizando meus

potenciais. Em especial a minha companheira Glauce Oliveira Marques e minha mãe

Ruth Uchôa Mendonça.

A todos os meus amigos e amigas que sempre estiveram presentes me

aconselhando e incentivando com carinho e dedicação.

A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução

desta pesquisa.

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Resumo

A dissertação ora apresentada visa, no âmbito da História recente da América Latina,

analisar a ditadura do General Alfredo Stroessner, um dos mais violentos e duradouros

regimes autoritários estabelecidos no Cone Sul (1954-1989). Nas décadas em que essa

região passou por governos que tinham à sua frente às Forças Armadas (1950-1970),

ainda existe uma carência em estudos voltados para o caso paraguaio. O Paraguai de

Stroessner baseado em uma cultura política de cunho autoritário foi precursor no que

seria uma constante em outros governos militares, a sociedade vivendo em um

permanente “estado de sítio”. Frente a esse contexto, surgiram agrupações armadas

(guerrilhas), tendo como intuito tomar o poder das mãos de Stroessner. Entre os grupos

mais expressivos, estão o 14 de Mayo e a FULNA (Frente Unida de Liberacíon

Nacional) atuantes na década de 1960. Já na década de 1970 entra em cena a OPM

(Organización Política Militar Primero de Marzo) que aparece como a última agrupação

de peso no período stronista. Apropriando-se do discurso anticomunista, o stronato

sufocou qualquer oposição conseguindo manter-se no poder durante longos anos.

Palavras-Chaves: Ditadura, Paraguai, Stroessner, Guerrilhas.

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Abstract:

The presented dissertacion however aims at, in the scope of the Latin America recent

History, to analyze the General Alfredo Stroessner´s dictatorship, one of most violent

and lasting regimes authoritarian established in the South Cone (1954-1989). In the

decades where this region passed for governments that had to its front to the Armed

Forces (1950-1970), still exists a lack in studies directed toward the Paraguayan case.

The Stroessner´s Paraguay based on a politics culture of authoritarian matrix was

precursory in what it would be a constant in other military governments, the state of

siege society living in a permanent one “state of siege”. Front to this context, had

appeared armed agrupation (guerilla), having as intention to take the power of the

Stroessner´s hands. It enters the most expressive groups, are the 14 of Mayo and

FULNA (Joined Front of National Liberacíon) operating in the decade of 1960. Already

in the decade of 1970 the OPM (Organización Militar Política Primero de Marzo) enters

in scene that it appears as the last agrupation of weight in the stronist period. Assuming

itself of the anti-communist speech, the stronato suffocated any opposition obtaining to

remain itself in the power during long years.

Key-words: dictatorship, Paraguay, Stroessner, guerrilla.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................09

I-SOBRE O CONCEITO DE CULTURA POLÍTICA E SUA APLICABILIDADE

NO CASO PARAGUAIO............................................................................................17

1.1 - Histórico do conceito ............................................................................................17

1.2 - Cultura Política: O Paraguai em perspectiva ........................................................25

1.2.1 - O período Francista.............................................................................................27

1.2.3 - O Paraguai dos López.........................................................................................29

1.3 - Instabilidade política e a formação dos partidos políticos no Paraguai................38

II- O PARAGUAI SOB O CONTROLE DE STROESSNER: CONDIÇÕES

INTERNAS E EXTERNAS PARA A INSTAURAÇÃO DA

DITADURA...................................................................................................................47

2.1 - As contendas dentro do Partido Colorado..............................................................47

2.2 - Strossner e a ascensão ao poder .............................................................................49

2.2.1 - A construção do stronismo .................................................................................51

2.3 - Política externa sul-americana: utilização das disputas Brasil-Argentina na fixação

do regime ........................................................................................................................56

2.4 - Conjuntura internacional e o Paraguai no contexto da Guerra Fria .......................63

2.4.1 - O Paraguai nas décadas de 1960-1970.................................................................67

III- RESISTÊNCIA ARMADA NO PARAGUAI: A OPOSIÇÃO AO REGIME E

O SISTEMA REPRESSIVO STRONISTA ................................................................75

3.1 Luta armada: o surgimento das guerrilhas no Paraguai............................................78

3.2 O Movimiento 14 de Mayo.......................................................................................81

3.3 A Frente Unido de Liberación Nacional (FULNA)..................................................87

3.4 O começo das ofensivas guerrilheiras.......................................................................92

3.5 Organización Político Militar Primero de Marzo (OPM).........................................99

CONCLUSÃO..............................................................................................................104

FONTES E BIBLIOGRAFIA...............................................................................................107

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INTRODUÇÃO

O trabalho ora apresentado visa analisar como a ditadura de Alfredo Matiuda

Stroessner no Paraguai se insere de forma singular no Cone Sul da Doutrina de

Segurança Nacional (DSN), estabelecendo como recorte temporal o período que vai de

1954 com a implementação do golpe até 1970 com a incorporação total ao discurso da

DSN. Pretendemos mostrar que a instauração e a manutenção do regime de Stroessner

não foram simplesmente desdobramentos do período da Guerra Fria, mas que

dependeram de vários acontecimentos que contribuíram de forma significativa na

construção da cultura política paraguaia, que influenciaram o modo de fazer política

nesse país.

Concernente à História Contemporânea da América Latina, principalmente no

período em que a região do Cone Sul viu-se sob o jugo de ditaduras militares (décadas

de 1960 e 1970), o Paraguai é um país que por vezes não tem reconhecido o importante

papel que exerceu e ainda exerce nas relações entre os países sul-americanos, sobretudo

quando falamos do momento em que as Forças Armadas despontaram como

protagonistas no cenário político dessa região.

Como reflexo direto da assertiva acima, temos que a produção historiográfica

brasileira, relativa ao período em que o general Alfredo Matiuda Stroessner esteve à

frente da administração do Estado paraguaio ainda é muito pequena se comparada ao

número de obras que podemos ver em relação aos outros países como Brasil, Argentina,

Chile, Uruguai e Bolívia.

O interesse pelo tema teve início no ano de 2008, ainda na graduação, quando

tive a oportunidade de participar como bolsista de Iniciação Científica (PIBIC), no

projeto intitulado “Estado, Sociedade e Política no Cone Sul - Entre a ditadura e a

democracia (1954-1998)”, sob a supervisão do Professor Doutor Pio Penna Filho. Em

meu Trabalho de Conclusão de Curso, defini como objetivo principal analisar quais

foram os meios que a ditadura stronista utilizou para legitimar um governo autoritário,

entre eles, elencamos a forte repressão e um discurso com uma fachada democrática.

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No entanto, no decorrer de nossos estudos, podemos perceber que essas

características podem ser identificadas não só no regime ditatorial de Alfredo

Stroessner, mas também em quase todas as outras ditaduras. Então, qual seria a

particularidade da ditadura stronista?

Olhando para trás, no corredor do tempo, podemos identificar que além dos

elementos externos, como por exemplo, o interesse do Brasil e da Argentina em

expandir suas influências políticas sobre seus vizinhos menores, ou ainda o contexto da

Guerra Fria e a intenção estadunidense em conseguir influenciar o maior número de

países possível com o seu discurso anticomunista, o governo de Strossner sustentou-se

não só nesses elementos que vinham de fora, mas também pode contar com uma cultura

política instaurada no Paraguai, que desde a reorganização do Estado paraguaio pós

Guerra da Tríplice Aliança, fez com que o Paraguai tivesse à frente de sua

administração, governantes com vocação para ditadores.

No ano de 1954, Alfredo Stroessner ascendeu ao cargo de presidente do

Paraguai através de um golpe de Estado. Só depois, no ano de 1964, veríamos ocorrer a

implementação de outra ditadura, a do Brasil, onde uma junta de militares depôs o então

presidente João Goulart, eleito democraticamente, instaurando um regime onde o

cerceamento dos direito básicos e a livre expressão serviram como justificativa para que

a nação pudesse proteger seus interesses e assim, como diziam os golpistas,

salvaguardar o país da ameaça comunista.

A partir de então, nas décadas vindouras, o Cone Sul seria tomado por governos

de cunho ditatorial. No mesmo ano da instauração do regime militar brasileiro, a Bolívia

também adotaria uma ditadura. Em 1973, países como o Chile e o Uruguai, que viviam

experiências democráticas, veriam cair por terra estas, dando lugar ao protagonismo das

Forças Armadas. Por fim, no ano de 1976, os militares assumiriam o governo argentino,

colocando todo o Cone Sul sob a égide de regimes ditatoriais.

Quando falamos especificamente do caso paraguaio, podemos perceber, que em

termos de concatenação com as outras ditaduras instauradas no Cone Sul da América do

Sul, a de Stroessner deu-se de maneira prematura. Podemos então identificar que o

regime stronista, aparece como um laboratório do que seriam as ditaduras dessa região.

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Com o termo “laboratório”, não queremos apontar que os outros regimes

ditatoriais ocorridos no Cone Sul embasaram-se na experiência paraguaia, em relação a

ditadura, para orquestrar as suas. No entanto, é interessante salientar, que no período em

que todos os outros países, ainda inseriam-se no jogo democrático, o Paraguai já não o

fazia. No restante dos países do Cone Sul, a oposição ainda tinha espaço dentro da luta

pelo poder, presidentes ainda eram eleitos através de pleitos democráticos, e a

constitucionalidade ainda não havia sido quebrada. No Paraguai de Stroessner, esses

elementos haviam sido deixados à margem. Todos esses preceitos do liberalismo, já

haviam desaparecido, deixando somente para a população o amargo gosto da repressão.

Não estar do lado de Stroessner, era um feito que custava caro, ou se abandonava o país,

ou se desaparecia.

Dito isso, o Paraguai começou a construir seu sistema repressivo muito mais

cedo do que os outros países, no entanto, diferente destes, o Paraguai de Stroessner

ainda não tinha se alinhado de maneira tão sistemática ao discurso da Doutrina de

Segurança Nacional (DSN) estadunidense, que tinha como principal meta se opor ao

comunismo que se expandia.

Segundo Joseph Comblim, o regime de Alfredo Stroessner, parecia depender de

preceitos menos desenvolvidos do que o proposto pelo sistema de segurança nacional,

um tipo de sistema caudilhista que o autor compara com os ocorridos no século XIX1.

Dito isso, algumas questões nos pareceram relevantes: a primeira é que Stroessner era

um autêntico militar e contou com as Forças Armadas para instaurar e manter seu

regime, assim como as outras ditaduras que se instalaram no Cone Sul no decorrer das

décadas de 1960 e 1970, então, o que explicaria a precocidade do regime? A segunda

questão; quando e por que o regime de Stroessner alinhou-se ao discurso de Doutrina de

Segurança Nacional?

Parte desses questionamentos explica-se identificando elementos da cultura

política paraguaia. Quando nos referimos a Cultura Política queremos dizer que algumas

formas de agir e de pensar são relevantes para a configuração de um imaginário do

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político que norteiam as ações dos vários atores sociais no Paraguai. Assinalando, de

forma clara, que as estruturas que sustentam essa cultura, foram construídas ao longo do

processo histórico do país, no entanto, não anulando a incorporação de novos

elementos, a exemplo do anticomunismo.

A chegada de Stroessner ao poder difere da perspectiva de uma reação abrupta ou de evolução pontual de determinada conjuntura, como se pode considerar em relação aos casos do Uruguai e do Chile, nos anos 70. Da mesma forma, ela não interrompe uma continuidade democrática e constitucional parte de uma cultura política republicana e respeitosa de liberdades consolidadas. Ao contrário disso, a experiência política paraguaia mostra, por longos períodos, a presença de governos fortes onde o autoritarismo e a inconstitucionalidade pautam a relação deles com a sociedade civil. Por isso, pode-se afirmar que a ditadura de Stroessner deu prosseguimento a uma dinâmica política marcada por regimes autoritários. Efetivamente, a história do Paraguai está pautada por uma longa sucessão de governos autoritários e militaristas2.

O processo que construiu essa cultura política paraguaia esboçou-se logo após

sua independência em 1811:

Entre a proclamação da independência (1811) e o fim da Guerra da Tríplice Aliança (1870), o Paraguai foi governado sucessivamente por três homens: José Gaspar Rodriguez de Francia, Carlos Antonio Lopez e Francisco Solano Lopez. De 1870 até 1954, sucederam-se 44 presidentes. A partir de 1954 e durante 35 anos, o poder foi exercido pelo general Alfredo Stroessner3.

As primeiras ditaduras constituíram no Paraguai um modo específico de fazer

política que o difere do restante dos outros países do Cone Sul. Suas condutas

defensivas e ofensivas em relação aos seus vizinhos Brasil e Argentina, que começaram

���������������������������������������� �������������������2 PADRÓS, Enrique Serra. O Paraguai de Stroessner no Cone Sul da Segurança Nacional. Disponível em:http://www.eeh2008.anpuhrs.org.br/resources/content/anais/1212375776_ARQUIVO_ANPUHtextoEnriqueSerraPadros.pdf. Consulta em 18/06/2008, p.02. 3 CARBONE, Alberto e SOTOMAYOR, Walter. Stroessner: anatomia de uma ditadura. Brasília: Paralelo 15 editores, 1996, p.15.

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com José Gaspar Rodrigues de Francia o Supremo, que posteriormente deixou de

herança ao governo de Carlos Antonio Lopez e que teve seu desfecho no governo de

Francisco Solano Lopez, deixaram também como legado uma cultura política que tinha

como base um Estado militarizado e que tinha à frente deste setor um homem forte, um

ditador.

No processo de reorganização política paraguaia, que se deu logo após o término

da Guerra da Tríplice Aliança, a sociedade paraguaia se viu imersa em conflitos,

causados pelos interesses de grupos que detinham o poder local. Com isso, era possível

que outros candidatos a ditadores surgissem nesse contexto.

As disputas oligárquicas pelo controle político do Paraguai tiveram como

representantes os dois maiores partidos paraguaios: o Partido Liberal e a Associação

Nacional Republicana (ANR) 4 que ficou popularmente conhecida como Partido

Colorado. A ininterrupta luta entre essas agrupações afundaram o Paraguai em

sucessivas guerras civis5, além disso, durante a primeira metade do século XX o país

envolveu-se em um conflito com a Bolívia, este conhecido como Guerra do Chaco

(1932-1935) agravando ainda mais a situação paraguaia. Toda essa conjuntura delineou

um cenário de atraso tecnológico e de constante crise econômica, criando uma situação

de extrema pobreza, fragilizando assim as instituições de representação democrática e

tendo como resultado uma situação permanente de instabilidade política. Todos esses

momentos vivenciados pela “Nação Guarani” criaram o terreno perfeito para a ascensão

do Partido Colorado no domínio do país e como conseqüência deixaram lacunas para a

instauração do regime ditatorial comandado pelo General Alfredo Matiuda Stroessner.

O governo de Stroessner, para manter sua estabilidade, se estruturou como

resultado do longo processo histórico do Paraguai que constitui uma cultura política

específica paraguaia. Para isso, trabalhou incessantemente para anular qualquer

oposição dentro e fora do coloradismo e manter sob as rédeas desse as Forças Armadas.

���������������������������������������� �������������������4 Além dos partidos já citados, havia o partido Revolucionário Febrerista de tendência progressista e Partido Comunista Paraguaio (PCP). 5 A primeira guerra civil ocorreu em 1904, os liberais afastaram os colorados do poder. Depois em 1922 acontece uma guerra entre facções do próprio Partido Liberal pelo controle do Estado. Por fim a guerra de 1947, também conhecida como Revolução de 1947 que definitivamente consolidou o Partido Colorado no poder e mudou o curso da história contemporânea do Paraguai. Para entender melhor esses acontecimentos ver: ARCE, Osmar Diaz de. O Paraguai contemporâneo (1925-1975) In: CASANOVA, Pablo G. (org.). América Latina - História de médio siglo. Volume I, México: siglo veintiuno editores, 1977, p.333-360.�

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O que identificamos é que o stronismo baseou-se em uma tríade formada por: partido

único, forças armadas e à frente desses setores um ditador, Alfredo Stroessner.

Governo e oposição (com exceção do Partido Comunista Paraguaio) pautaram

suas estratégias sem nenhuma ideologia expressa, nem o Partido Colorado, o Liberal ou

Febrerista tinham características que fugiam à cultura política paraguaia. Taticamente

esses grupos foram incorporando elementos dos ideários comunistas e anticomunista, no

entanto, não caracterizando grandes mudanças no modo de fazer política no Paraguai.

Os resultados da pesquisa aqui apresentada foram divididos em três capítulos:

No primeiro capítulo fizemos um breve histórico do conceito de Cultura Política.

Assim, discutimos a formulação do conceito pela Ciência Política e sua reformulação

por parte dos historiadores o que possibilitou uma ampliação da proposta inicial. Ainda

nesse capítulo, tratamos o que identificamos como cultura política paraguaia, analisando

os acontecimentos que possibilitaram as primeiras ditaduras paraguaias, a saber: a de

José Gaspar de Francia, de Carlos Antonio Lopez e de Francisco Solano Lopez.

Esse último era o presidente que estava à frente do governo paraguaio na

época da Guerra contra o Paraguai, conflito que envolveu além desse país, Brasil,

Argentina e Uruguai. Após esse episódio bélico, a reorganização do estado paraguaio,

que saiu como perdedor da disputa deu-se em um cenário de extrema instabilidade

política e econômica. Nesse tortuoso panorama, Brasil e Argentina contribuíram na

nova ordem estabelecida para o Paraguai.

A formação dos tradicionais partidos políticos paraguaios, o Colorado e o

Liberal, delinearam-se nesse contexto, deixando como marca as disputas internas entre

essas duas forças que agravaram ainda mais a situação do Paraguai. Pretendemos com

esse capítulo demonstrar como se desenhou o que ao longo do nosso trabalho

identificamos ser o que possibilitou a construção da cultura política paraguaia.

No segundo capítulo partimos do período em que o Partido Colorado já havia se

estabelecido no poder e iniciado sua hegemonia política. No entanto, situação que ainda

não caracterizava uma estabilidade política dentro do Paraguai. A partir do Golpe de

Estado de 1954, veríamos Alfredo Stroessner ascender ao poder e redefini-lo. Com

Stroessner, as contendas dentro do partido foram resolvidas através da política de ações

que procuraram anular qualquer oposição ao seu regime. Para isso, atuou de forma

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pendular aproveitando-se das disputas que Argentina e Brasil estabeleceram

historicamente, tentando assim tirar proveito dessa situação visando com isso, a

manutenção de seu regime. Ainda empregou um discurso desenvolvimentista para

legitimar sua ditadura, justificando a caça a qualquer opositor e o constante Estado de

Sítio que instaurou no Paraguai. O governo de Stroessner só conseguiu consolidar-se

porque pôde contar com um imaginário estabelecido no Paraguai, onde a instabilidade

das instituições democráticas permitia que governos autoritários fossem naturalizados.

Por fim, discutimos o alinhamento ao discurso estadunidense da Doutrina de Segurança

Nacional, que surgiu como novo elemento dentro dessa cultura política. A partir de

então, todos que se opuseram ao stronismo em algum momento foram taxados como

subversivos, comunistas.

No terceiro e último capítulo, analisamos como o Paraguai atuou no cenário do

Cone Sul de Segurança Nacional. Para isso, faremos uma análise do aparecimento das

agrupações armadas que se insurgiram contra o regime. Entre elas daremos destaque a

Frente Unida de Liberação Nacional (FULNA), o Movimento 14 de maio, e por fim a

Organização Político Militar (OPM). O objetivo de discorrer sobre esses revoltosos

visa demonstrar como nas duas primeiras experiências que ocorreram ainda num

Paraguai não totalmente alinhado ao discurso de segurança nacional (1959-1961),

tinham a sua frente pessoas com os mais diversos ideários e que o comunismo não regia

a maioria desses opositores que foram duramente reprimidos pelo regime de Stroessner.

Analisar como na década de 1970, quando ocorreram os últimos intentos significativos

para a derrubada do regime, Stroessner já se encontrava afinado com o Discurso de

Segurança Nacional, quando dizia ser o governo mais anticomunista do mundo quando,

na verdade, analisando a cultura política do Paraguai, a repressão a qualquer voz

destoante não estava ligada a ser comunista, tinha uma ligação com a tradição do

pensamento autoritário construído durante todo o processo histórico paraguaio, que

constituiu uma cultura política baseada nesse autoritarismo.

É interessante salientar que mesmo com o fim da ditadura de Stroessner em

1989, a transição democrática paraguaia deu-se de forma singular a de seus vizinhos.

Quem o sucedeu na presidência, foi o General Andrés Rodriguez, que era membro do

Partido Colorado e homem forte dentro da hierarquia do poder. Através de um golpe

palaciano Stroessner foi deposto em 3 de fevereiro 1989, o que torna questionável se

houve ou não uma real transição, já que o partido hegemônico, o Colorado, continuou

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frente à administração do estado paraguaio por mais 19 anos. Acreditamos que mesmo

com o fim da ditadura, Stroessner deixou uma herança no modo de fazer política

paraguaia, prova disso, é uma “transição democrática”, que tem por objetivo substituir

um regime ditatorial, mas que vai se iniciar com um golpe militar.

Como fontes para o desenvolvimento desta pesquisa estão sendo utilizados os

documentos que se encontram atualmente no Arquivo Nacional em Brasília e, que

compreendem a documentação diplomática produzida pelo Itamaraty em relação à

temática proposta. Este conteúdo está relacionado ao Centro de Informações do Exterior

(CIEX), e eram destinados ao extinto Serviço Nacional de Informações elaborado com

classificação restrita. Constituem-se em fontes valiosas de informações sobre o período

proposto, onde encontramos documentos que referem-se a ação da oposição ao regime

de Stroessner e também mostram a ligação entre os governos militares estabelecidos no

Cone Sul.

Outro importante Arquivo que foi pesquisado é o conhecido “Arquivo do

Terror”. O conteúdo encontrado neste é vastíssimo, contando com mais de quatro

toneladas de documentação, entre elas fichas, prontuários, fotografias entre outros. É

uma importante documentação. Utilizamo-nos dos arquivos que estão disponíveis na

internet, que conta com quase 6000 documentos. A base de dados que possibilitou a

digitalização desse material refere-se ao Projeto Memória Histórica, Democracia e

Direitos Humanos (MHDDH) resultado de um convênio entre a Corte Suprema de

Justiça, a Universidade Católica de Assunção e a Organização não Governamental The

National Security Archive. Também nos utilizamos de alguns documentos

desclassificados que se encontram no site da Central Intelligence Agency (CIA), onde

podemos ter acesso a algumas informações relacionadas ao Paraguai.

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Capítulo I- Sobre o conceito de Cultura Política e sua aplicabilidade no caso

paraguaio

1.1-Histórico do conceito

A princípio identificamos ser necessário fazer um breve histórico do conceito de

Cultura Política, devido ao seu sentido polissêmico. Quando nos referimos a Cultura

Política queremos apontar que alguns elementos são relevantes para a configuração de

um imaginário6 do político que influenciam de maneira significativa no agir dos atores

sociais, desta forma, em nossa análise faremos um levantamento de aspectos que podem

ser vistos como parte da cultura política paraguaia, neste trabalho, das primeiras décadas

em que Alfredo Stroessner esteve a frente da administração do governo (1950-1970).

No entanto, no decorrer de sua utilização, essa não foi à primeira aplicação do que hoje

a história entende por cultura política, portanto, iremos mostrar as mudanças que o

conceito sofreu, chegando assim a ser apropriado pela história é o nosso intuito nessa

parte da escrita.

Nos anos pós Segunda Guerra Mundial, a historiografia fala de um esgotamento

de modelos totalizantes, ou globalizantes. Os modelos correntes de análise –a exemplo

dos advindos do Marxismo e da Escola dos Annales- necessitaram tratar com uma nova

realidade, boa parte desse exercício para novas reflexões, deve-se ao contexto da

chamada Guerra Fria.

É dentro do argumento supracitado que veremos surgir com maior vigor o

debate sobre cultura política. Uma obra é considerada basilar para esse feito; The Civic

Culture: political attitudes and democracy in five countries, dos cientistas políticos

norte-americanos, Gabriel Almond e Sidney Verba.

Os autores propõem essa expressão, a partir da junção das perspectivas de

vários ramos das ciências humanas como a antropologia, filosofia, história, sociologia e

psicologia. Segundo Monique Cittadino:

Nesta conceituação inicial, era nitidamente presente a perspectiva da incorporação dos aspectos subjetivos das orientações políticas, tanto da parte das elites quanto da população destas sociedades. Para estes

���������������������������������������� �������������������6 “Entende-se por imaginário um sistema de idéias e imagens de representação coletiva que os homens, em todas as épocas, construíram para si, dando sentido ao mundo”. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural; Belo Horizonte: Autêntica, 2005.p.41

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autores, cultura política seria a “expressão do sistema político de uma determinada sociedade nas percepções, sentimentos e avaliações da sua população”. Assim, de uma forma bastante simplificada, estaria presente no conceito de cultura política a idéia da subjetividade, do posicionamento do sujeito frente a um determinado sistema político7.

Inicialmente, à proposta de Almond e Verba detinha um caráter extremamente

normativo. Procuraram fazer uma classificação de um número de sociedades e

identificaram diferentes culturas política, para tal utilizaram-se do aparecimento de

novas metodologias de pesquisas, dando destaque às quantitativas. Nas palavras de

Ângela de Castro Gomes “tal modelo tinha um viés ‘comportamentalista’, definia uma

cultura política como um conjunto de valores e opiniões dos membros de uma sociedade

em relação à política, o que podia ser determinado por meio de pesquisas tipo survey” 8.

Com esse tipo de pesquisa, que consiste na obtenção de dados ou informações

sobre características de determinado grupo de pessoas, queriam fazer uma transição do

individual para o coletivo, elencando as opiniões dos vários sujeitos de uma sociedade

em relação à política, e por fim, encontrar similaridades entre estes, entendendo que

assim, seria possível determinar o que essas sociedades concebiam como sendo valores.

Karina Kuschnir e Leandro Piquet Carneiro asseveram:

Na formulação original de Almond e Verba, as avaliações subjetivas dos sistemas políticos podem ser divididas segundo três tipos de orientação. A orientação cognitiva diz respeito ao conjunto dos conhecimentos e crenças relativas ao funcionamento do sistema político e ao papel dos indivíduos e dos grupos sociais no interior do sistema no qual estão inseridos. A orientação afetiva determina os sentimentos que o indivíduo nutre com relação ao sistema político e social. Finalmente, a orientação avaliativa - julgamentos e opiniões sobre os objetos políticos - envolve a combinação de informações, sentimentos e conhecimento sobre o funcionamento do sistema político, consubstanciados em valores que orientam as ações individuais9.

���������������������������������������� �������������������"CITTADINO, Monique. Poder local, memória e cultura política: Possibilidades de análise a partir da figura do Governador João Agripino (Paraíba -1966-1971. In: SAECULUM-Revista de História [16]; João Pessoa, jan/jun.2007 Disponível em: <http://www.cchla.ufpb.br/saeculum/saeculum16_dos04_cittadino.pdf>. Consulta em 12 de Junho de 2010, p.52. �8GOMES, Ângela de Castro. História, historiografia e cultura política no Brasil: algumas reflexões. In: Culturas políticas: ensaios de história cultural, história política e ensino de história/organizadoras Rachel Soihet, Maria Fernanda B. Bicalho e Maria de Fátima S. Gouvêa. Rio de Janeiro: Mauad, 2005, p.27.

�KUSCHNIR, Karina e CARNEIRO, Leandro Piquet. As dimensões subjetivas da política: Cultura Política e Antropologia da política. In: Estudos Históricos.1999-24 Disponível em:�<http://virtualbib.fgv.br/ojs/index. php/reh/article/viewFile/2100/1239>. Consulta em 14 de maio de

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Os diversos tipos de culturas políticas para Almond e Verba, são derivados de

duas dimensões, uma é a orientação com relação aos objetos políticos como foi descrita

logo acima por Kuschnir e Carneiro. A outra seria o tipo de objeto ao qual se

relacionam essas orientações, podendo ser o sistema político como urna totalidade; as

estruturas de incorporação das demandas individuais e coletivas; as estruturas

executivas e administrativas encarregadas de dar resposta às demandas individuais e

coletivas e por fim a percepção do sujeito como ator político10.

Do cruzamento das dimensões individuais e coletivas Almond e Verba

construíram um modelo, identificando três tipos básicos de cultura política, quais sejam;

a) cultura paroquial, b) cultura súdita e c) cultura participativa. Henrique Castro e

Daniel Capistrano assim descrevem essas categorias:

A primeira seria caracterizada por uma estrutura de valores tradicionais, descentralizada, em que os indivíduos estão reduzidos à esfera particular. A cultura súdita é caracterizada por uma estrutura autoritária, marcada pela centralização, idealizada como um meio termo entre a completa ausência do indivíduo em relação ao sistema político, na cultura paroquial, e o sentimento de completa inclusão na esfera pública, característico da cultura participativa. No estudo publicado, o arranjo mais adequado ao surgimento e à manutenção estável de um regime democrático está na combinação denominada Cultura Cívica, cujos representantes empíricos mais próximos seriam os Estados Unidos e o Reino Unido11.

Construindo esse tipo de “escala”, entre os vários tipos de cultura política, os

autores chegaram à conclusão que existiam características que seriam de suma

importância para um estado pautado na democracia. Estes elementos estariam presentes

nas nações que permitiam uma maior participação dos sujeitos de uma sociedade no

jogo político. Para os autores os EUA eram um bom exemplo de um país que detinha

essa cultura cívica.

Esse tipo de pensamento deu origem à chamada “escola desenvolvimentista”,

que tinha como centro de seus estudos os “processos de modernização”, destacando-se

���������������������������������������� ���������������������������������������� ���������������������������������������� ���������������������������������������� ����������

2010, p.230.�10 Idem, p.231. 11CASTRO, Henrique Carlos Oliveira de e CAPISTRANO, Daniel. In: Cultura política pós consenso de Washington: o conceito de cultura cívica e a mudança política na América Latina. In: REVISTA DEBATES, Porto Alegre, v. 2, n.1, p. 75-97, jan.-jun.2008. Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/index.php/debates/article/viewFile/3139/2883> Consulta em: 25 de janeiro de 2010, p.77.

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como discussão nuclear o levantamento de “características democráticas”. Nesta

tendência os estudiosos acreditavam que através de suas pesquisas, seria possível

auxiliar nos processos de transição de modelos políticos ‘atrasados’ para modelos

‘modernos’, tendo como referencial a experiência liberal democrática anglo-saxã.12

Sobre o paradigma sugerido por Almond e Verba, afiança José Álvaro Moisés:

As teorias de cultura política e, em particular, o modelo proposto por Almond e Verba (1963) foram objeto de várias críticas, sendo uma das mais importantes a que se refere ao seu suposto viés determinista, isto é, à noção de que o surgimento e a consolidação dos regimes políticos, quaisquer que sejam eles, dependeriam da existência prévia de valores congruentes com as instituições correspondentes13.

A principal critica, indicava como simplista a idéia de cultura cívica

democrática, apontando como hierarquizante a investigação de uma mudança social e

das formas de adesão a uma cultura política do tipo estadunidense e inglesa como sendo

as ideais, uma vez que a hipótese era a de fomentar a influência dos padrões culturais e

estrutura institucionais existente nestas sociedades e a transposição dessas

características para outras.Sobre a problemática construída pelas Ciências Políticas e

pela Antropologia, Castro afirma que as fundamentais eram as:

Naturalização dos regimes democráticos e a construção de um parâmetro de cidadania e de definição de política no marco institucional liberal-democrático. Além disso, apontou para a utilização maciça de metodologias quantitativas, que conduziam a um deslizamento do individuo para o coletivo, segundo a lógica simplista de que o social é um agregado de individuais, o que desconsiderava princípios sociológicos elementares e reduzia a complexidade cultural

A relação de dependência entre cultura política e estabilidade democrática,

apontava para um determinismo culturalista, entendendo a vinculação de valores

���������������������������������������� �������������������12GOMES, 2005, p.28. 13MOISÉS, José Álvaro. Cultura Política, instituições e Democracia; lições da experiência brasileira. In: revista brasileira 18 de ciências sociais - vol. 23 nº. 66. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v23n66/02.pdf> artigo publicado em 2008. Consulta em 12 de junho de 2010, p.16.

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políticos prévios que seriam a via para a instauração de estados democráticos, essa foi a

idéia final do trabalho de Almond e Verba. Citamos novamente José Álvaro Moisés:

Foco central de preocupação dos formuladores da abordagem com os países que começaram a se democratizar no segundo pós-guerra do século XX. Se esse fosse o caso, contudo, seriam inviáveis as transições do autoritarismo para a democracia particularmente em situações em que valores autoritários estavam (ou estão), total ou parcialmente, enraizados na sociedade14.

Aqui retomamos sobre a conjuntura em que The Civic Culture: political

attitudes and democracy in five countries foi concebido. O conceito de cultura cívica,

que na concepção da obra pioneira dos autores está entrelaçado com o de cultura

política, aparece nos anos seguintes a Segunda Guerra Mundial e também num contexto

em que começam a despontar regimes autoritários. Os Estados Unidos assumia a

posição hegemônica como sendo o ‘modelo de democracia’. Com isso é possível

entender como Almond e Verba foram influenciados pelo ambiente socioeconômico e

político em que estavam inseridos; a Guerra Fria. O intento dos autores vai de encontro

ao interesse norte-americano em difundir seus ideários no restante do mundo e aumentar

sua área de influência, sobre o assunto:

[...] entendida como o sistema político norte-americano, em contraposição ao socialismo soviético. Deste modo, as análises procuravam responder a uma dupla demanda: “por um lado, reforçar e justificar a compreensão da supremacia da sociedade norte-americana como modelo a ser seguido; por outro, promover e justificar a política norte-americana [...]”15.

Podemos perceber durante toda nossa exposição, que a obra de Almond e Verba

serviu para suscitar vários questionamentos sobre o que se pode se chamar de Cultura

���������������������������������������� �������������������14 MOISÉS, 2008, p.17. 15CASTRO apud BORBA, Julian. Cultura Política, ideologia e comportamento eleitoral: Alguns apontamentos teóricos sobre o caso brasileiro. In: OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, Vol. XI, nº 1, Março, 2005. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/op/v11n1/23698.pdf>. Consulta em 14 de junho de 2010, p.148-149.�

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Política. Entendemos também, que a proposta não conseguiu ir além dos velhos

dualismos, dos antagonismos, colocando algumas sociedades como atrasadas e outras

desenvolvidas, muito disso explicado pelo lugar social dos autores (de onde escrevem, o

lugar de formação acadêmica, a nacionalidade). Todo esse mosaico acabou deixando

brecha para a idéia engessada de geradores de valores e receptores destes. Visto dessa

forma, esses aspectos empobrecem a esfera de análise da política, criando o que ‘deve

ser’, enxergando de maneira linear o processo histórico e construindo modelos que

seriam os ideais para as relações político-sociais e culturais.

Numa reformulação por parte dos historiadores Cultura Política afasta-se dessa

proposição inicial, sendo possível expandir o conceito além de suas primeiras

aplicações. Desse modo:

A categoria cultura política foi definida como “um sistema de representações, complexo e heterogêneo”, mas capaz de permitir a compreensão dos sentidos que um determinado grupo (cujo tamanho pode variar) atribui a uma dada realidade social, em determinado momento do tempo. Um conceito capaz de possibilitar aproximação com uma certa visão de mundo, orientando as condutas dos atores sociais em um tempo mais longo, e redimensionando o acontecimento político para além da curta duração.16

Com isso é possível estender o escopo de Cultura Política, principalmente

levando em consideração a existência de várias culturas políticas, no entanto,

entendendo que há competição entre elas em alguns momentos, mas também existe um

jogo de influência entre elas, contrapondo-se, complementando-se em certas

conjunturas, podendo em alguns momentos influenciarem umas mais que outras, mas

que não se sobrepõe inteiramente deixando espaços de articulação, de negociação.

Essa releitura do conceito deve-se ao que a historiografia chama de Nova

História Política, que assim é descrita por Sandra Jatahy Pesavento:

���������������������������������������� �������������������16 GOMES, 2005, p.31.

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Abandonando formas ainda herdadas de uma tradição positivista, linear, seqüencial e causal de análise do político, ou ainda de um viés marxista, a ver a política como manifestação superestrutural de uma infraestrutura socioeconômica, ou ainda mesmo a uma vertente da ciência política, a estudar os comportamentos políticos dos grupos, os partidos e as eleições, o renascimento da história política, a aproximação com a história cultural rendeu bons frutos17.

Dentro dessa nova perspectiva, torna-se de suma importância analisar como os

personagens se representam em determinada conjuntura e como esses intérpretes dentro

do cenário do político passam do campo das idéias, suas representações, as práticas

políticas que dentro de algo que possamos chamar de “realidade” se configuram de

maneira muito mais complexa.

Fazendo alusão aos autores Karina Kushnir e Leandro Piquet Carneiro, a

Cultura Política aponta as “atitudes, crenças e sentimentos que dão ordem e significado

a um processo político, pondo em evidências as regras e pressupostos nos quais se

baseia o comportamento de seus atores” 18.

Ainda pensando nas representações que os vários grupos que compõem a

sociedade fazem de si, não queremos encontrar a gênese destas, muito menos transpor-

las de maneira mecânica para analisar nosso objeto. Entendemos que:

A constituição de uma cultura política demanda tempo, sendo um conceito que integra o universo de fenômenos políticos de média e longa duração. Uma postulação que não exclui a existência de movimentos e de transformações no interior e uma cultura política, mas que adverte para o fato de eles não serem nem rápidos, nem contingentes, nem arbitrários, havendo postos mais resistentes e outros mais permeáveis19.

Segundo a historiadora Ceres de Moraes, em seu trabalho intitulado Paraguai: a

consolidação da ditadura de Stroessner 1954-1963, muitos trabalhos destacam uma

cultura autoritária e clientelista no Paraguai. Por meio dessas características procuram

explicar o terreno favorável ao regime do General Stroessner, procurando raízes no ���������������������������������������� �������������������17PESAVENTO, 2005, p.76.�

18KUSHNIR, Karina e CARNEIRO, Leandro Piquet apud SENA, Ernesto Cerveira de. Entre anarquizadores e pessoas de costumes: a dinâmica política nas fronteiras do Império: Mato Grosso (1834-1870). Cuiabá, MT: Carlini e Caniato, 2009, p. 09. 19 GOMES, 2005, p.31

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processo colonial paraguaio e o papel desempenhado pelos jesuítas, outros embasados

na tese do clientelismo, sendo que neste caso a relação dos cidadãos se manteve por

uma troca de favores com a elite. Ainda cita Paul Lewis, com a idéia de essa situação

manter-se pelas características pessoais de Alfredo Stroessner, ou outras que destacam o

isolamento do Paraguai. Contrapondo-se a esses argumentos afirma:

A implantação e a consolidação da ditadura de Stroessner foi possível porque havia as condições internas e externas para tanto. As condições internas podem ser caracterizadas pelo atraso e crise econômica que vivia o país, pela fragilidade das instituições de representação democrática e a permanente instabilidade política que permitiram ao ditador fazer uso da repressão e do discurso anticomunista para submeter a oposição. As condições externas se apresentam através dos interesses dos Estados Unidos da América do Norte e do Brasil na região. O que diferencia a ditadura de Stroessner, das que o antecederam é o fato de haver uma conjuntura externa favorável a ela20.

Consideramos que os acontecimentos são datados, únicos. Em nosso trabalho,

julgamos ser importante caracterizar a situação do país em um período mais longo, a

partir das primeiras ditaduras de Francia e dos Lopez, procurando não a gênese das

idéias políticas paraguaias. Mas, como alguns episódios colaboraram para a construção

de uma percepção política no Paraguai, que auxiliou na implementação da ditadura de

Alfredo Stroessner. Uma cultura política, que foi formada dentro de um cenário de

instabilidade política e que proporcionou terreno fértil a vários regimes ditatoriais.

Para respaldar essa idéia citamos novamente Ângela de Castro Gomes:

A constituição de uma cultura política demanda tempo, sendo um conceito que integra o universo de fenômenos políticos de média e longa duração. Uma postulação que não exclui a existência de movimentos de transformações no interior de uma cultura política, mas que adverte para o fato de eles não serem rápidos, nem contigentes, nem arbitrários, havendo pontos mais resistentes e outros mais permeáveis.

Especificamente por não poder abarcar tudo (como sabemos ser impossível), não

procuramos motivos ancestrais para caracterizar a situação do Paraguai. No entanto

encontramos a necessidade de contextualizar, identificando alguns elementos

���������������������������������������� �������������������20MORAES, Ceres. Paraguai: A consolidação da ditadura de Stroessner-1954-63. -Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. (coleção história 34). p.08. �

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necessários para entendermos as idéias stronista nos anos em que propomo-nos

considerar. Inserido dentro do descrito:

Culturas políticas exercem papel fundamental na legitimação de regimes, sendo seus usos extremamente eficientes. Em todos os casos, as culturas políticas articulam, de maneira mais ou menos tensa, idéias, valores, crenças, símbolos, ritos, mitos, ideologias, vocabulário21.

Com essa reflexão sobre o conceito e pensando como podemos utilizá-lo em

nossa apreciação dentro de uma perspectiva histórica, procuramos apontar alguns traços

do fazer política no Paraguai, percebendo que a sociedade paraguaia esteve imersa em

um processo bastante conflitivo e instável da sua organização, o que proporcionou uma

militarização do governo e gerou uma idéia de governabilidade com bases ditatoriais22,

sempre com a preocupação de uma fachada democrática.

Essa situação mostrou que durante longos períodos as ações dos que detiveram o

poder esteve aportada em uma tríade, utilizada para a manutenção dessa forma de

governar, composta por: Forças Armadas, Partido único e um só Governante a frente

deste outros setores. Não queremos dizer que isso seja uma “fórmula matemática” que

possa explicar a situação do Paraguai, mas que o imaginário muda de maneira vagarosa

e que isso influenciou de maneira significativa o cenário político no qual se insere o

regime de Alfredo Stroessner.

1.2 Cultura Política: O Paraguai em perspectiva

O Paraguai é um país mediterrâneo sem saída para o mar, localizado no centro

do coração da América do Sul, o que constituiu um grande problema para sua história

como estado independente23. Ao contrário dos seus vizinhos maiores, Argentina e

Brasil, isso limitava sua inserção no cenário geopolítico no Cone Sul.

���������������������������������������� �������������������21 GOMES, 2005, p.32 22Os debates sobre o conceito ditadura é muito vasto. Como fator comum as discussões, entendemos nesse trabalho, ditadura como sendo um sistema que não permite a existência de uma oposição política capaz de desafiar seriamente o governo, decorrente dos artifícios criados para neutralizar qualquer voz destoante. No entanto, sempre chamando eleições e dando a impressão que existia espaço para opiniões díspares. 23ROLON, José Aparecido. Paraguai: transição democrática e política externa. Tese de doutorado apresentada ao departamento de Ciência Politica e Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo 2010, p. 21.

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Por muito tempo o Paraguai foi administrado por um governador indicado pela

Coroa Espanhola, este, tendo que dirigir-se diretamente ao vice-rei do Peru. A situação

muda, depois que a província começa a responder ao novo Vice Reinado de La Plata

(1776), com sede em Buenos Aires. “Historicamente o acesso ao oceano dava-se por

meio fluvial via navegação nos rios do Prata, implicando, assim, que todas as

embarcações que rumassem para o Paraguai fossem ‘autorizadas’ por Buenos Aires”24.

Isso proporcionou uma relação de atrelamento no comércio marítimo, o que

descontentava uma parcela da oligarquia paraguaia, deixando-a dependente dos portos

Argentinos. Com esse acontecimento, repartia-se as influências entre os grupos dentro

do Paraguai, o que obrigou parte da elite a se revoltar culminado na independência do

país.

Quando o Paraguai se declarou independente da Espanha, em 1811, poucos dos seus habitantes tinham realmente alguma experiência em governar. Parte do problema dessa pequena república decorreu da própria estrutura extremamente centralizada e suspeitosa do império hispânico. De tal modo que os membros da elite nativa, criollos,espanhóis nascidos na América, eram excluídos das posições importantes no governo colonial. Cargos de confiança eram preenchidos por oficiais enviados da metrópole, tais como vice-reis, governadores, juízes e coletores de impostos, que freqüentemente eram transferidos para outras partes do império, impedindo que criassem laços mais estreitos com as províncias25.

Da sua independência em 14 de maio de 1811 até o término da Guerra com o

Paraguai em 1870 o país teve a frente de seu governo três homens e três grandes

ditaduras: a de José Gaspar Rodríguez de Francia (1811-1840), a de Carlos Antonio

López (1844-1862) e a de Francisco Solano López (1862-1870), o que nos mostra uma

particularidade da nação paraguaia, qual seja: a de governos longos e o poder

centralizado. Em 1954, o país viu Alfredo Matiuda Stroessner ascender ao poder e

���������������������������������������� �������������������24SILVA, Ronaldo Alexandre do Amaral. Brasil- Paraguai: Marcos da política pragmática na reaproximação bilateral, 1954-1973. Um estudo de caso sobre o papel de Stroessner e a importância de Itaipu. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Relações Internacionais da Universidade Federal de Brasília. Brasília, 2006, p.24. 25SILVA, Henrique Manoel da. In: Fronteireiros; as condicionantes históricas da ocupação e colonização do oriente paraguaio. A região de Katueté, no departamento de Canindeyú -1970-2000. -2007. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina, p.24.

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instaurar novamente um longo regime centrado nas mãos de um só personagem (1954-

1989).

1.2.1 O período Francista

Após a independência toma provisoriamente a administração do país um

triunvirato que assumiu o governo por um curto período (1811-1813). Este último foi

composto por Juan Caballero e Fulgencio Yegros, militares do incipiente Exército

paraguaio, e ainda Fernando de La Mora e Francisco Bogarim, homens letrados da

época, no entanto, destaca-se a figura de um advogado oriundo de Assunção; José

Gaspar Rodrigues de Francia, o famoso Dr. Francia.

No ano de 1813, Francia é eleito pela maioria dos que podiam votar, deste pleito

foram excluídos os “inimigos da liberdade”, que se dividiam entre españolistas

(espanhóis residentes no Paraguai) e os porteñistas (parte da elite local favorável a

política de Buenos Aires), esta oposição ligada aos interesses da Coroa espanhola

criavam uma resistência aos interesses da direção instaurada no Paraguai neste

momento.

No Congresso de 1816, Francia tornou-se o ditador vitalício, e conseguiu o título

de “El Supremo”, o que acabou acarretando, segundo Paul Lewis (1980) 26, “o início de

uma longa e dura tirania e também um fatídico início para o desenvolvimento político

paraguaio”. Francia intensificou a perseguição aos monarquistas logo após chegar ao

poder, caçando direitos, confiscando bens, expulsando os que iam contra os interesses

do novo governo paraguaio.

Com isso, anulava também forças de antigos aliados que poderiam oferecer

algum risco a sua hegemonia, entre eles Pedro Juan Caballero e Fulgencio Yegros,

importantes nomes no processo de independência. Os planos caminhavam para que não

existisse qualquer oposição.

Instaló un sistema de espionaje interior que destruyó la libre expresión. Se arrestaron personas sin cargo alguno y fueron desaparecidas sin más trámites . Habia una tortura terrible llamada

���������������������������������������� �������������������26 LEWIS apud Silva, 2007 p, 24.

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"Cámara de la Verdad" que se aplicaba a aquellos sospechosos de intrigar contra Francia27.

A igreja teve as ordens expulsas do Paraguai e o estado apropriou-se dos seus

bens. “Essa medida foi uma reação do Ditador Perpétuo à ordem do papa Leão XII, em

1824, de que arcebispos e bispos na América apoiassem os esforços de Fernando VII,

rei da Espanha, para restabelecer sua autoridade sobre as antigas colônias”28.

Para garantir a eficiência de suas ações, Francia criou ferramentas para

estabelecer as linhas de defesa de seu governo, para isso:

Impôs rígidos parâmetros comportamentais à sociedade, numa espécie de estado-caserna, no qual tudo era direcionado à manutenção de um exército forte. Homens entre 17 e 60 anos eram recrutados ao serviço militar, índios ou criollos, chegando o exército a contar com 5.500 homens nas tropas regulares e mais de 25.000 reservistas, numa população estimada de 375.000 almas29.

Identificamos aqui medidas que fortaleceu uma das instituições que foram

protagonistas na vida política paraguaia, o Exército. Mas com uma especificidade, tendo

a frente um homem, que não necessariamente precisava ser um militar, como mostra o

caso de Francia, mas que, no entanto, governava com a idéia vertical contida neste setor,

que mais tarde também serviu pra respaldar o regime de Stroessner.

Para manter o status quo de seu governo, Francia manteve muito pouco contato

com os países vizinhos. E conservava sob controle do Estado, o pequeno comércio

paraguaio, que mantinha uma tímida relação com a região de Corrientes na Argentina e

pela Vila de Itapúa, com o Brasil, isto temporariamente colocou o Paraguai longe das

contendas da região.

Segundo Doratioto o afastamento do Paraguai em relação às disputas platinas:

Implicou o estabelecimento de um tipo de economia no qual o Estado se tornou regulador de todas as atividades e detentor do monopólio do comércio de erva-mate, da madeira e do tabaco, os produtos mais significativos da economia nacional. Ao confiscar terras da elite tradicional, o poder econômico do Estado paraguaio fortaleceu-se30.

���������������������������������������� �������������������27BARUJA Victor E. e PINTO Ruy G. Uma historia Del Paraguay . Disponível em: http://narraciones.tripod.com/paraguay/index.html Acesso em: 14/03/2010 28 DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das letras, 2002.p.25. 29 SILVA, 2007, p.26. 30 DORATIOTO, 2002.p.25.

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Dessas terras, Francia organizou as Estâncias da Pátria. Que poderiam ser

arrendadas aos camponeses ou exploradas pelo próprio Estado, preferiu arrendá-las,

para manter um maior controle sobre os camponeses. Nas palavras de Guido Rodriguez

Alcalá:

Ele (Francia) preferiu arrendar as terras fiscais para assegurar uma renda, em vez de ter os arrendatários submissos. Outra parte das terras fiscais foi destinada às “fazendas da pátria”, operadas, na sua maioria, com mão-de-obra escrava. Com o monopólio da propriedade da terra, com o produzido pelas “fazendas da pátria”, com o controle do comércio exterior e o estabelecimento dos “armazéns do Estado”, Francia conseguiu cobrir os gastos da administração e do Exército e, ao mesmo tempo, governar sem a participação, nem o apoio popular.

Ainda no período, o Paraguai sofria com a possibilidade de uma invasão por

parte da Confederação Argentina, originária de antigas disputas entre os países, tendo

como desdobramento a tentativa de irrupção ocorrida em 1830 sob o comando de Juan

Manuel Rosas, com o intuito de se impor sobre as antigas províncias do vice-reino do

Prata. O êxito em conter essa incursão contribuiu com o discurso de proteção a pátria e

fortaleceu ainda mais o governo de Francia.

Nesse sentido, foi possível estabelecer um sistema militarizado e centralizado, o

problema era que “não dispunha de um sistema burocrático racionalmente organizado e,

nesse sentido, era inferior ao da colônia, que contava com corpo de funcionários

eficientes” 31.

Era preciso fomentar as relações comerciais para que o Paraguai pudesse

novamente oxigenar sua economia, o que só se daria com uma maior abertura, ocorrida

logo após a morte de Francia em 1840. Da herança deixada pelo “Supremo”,

identificamos ser para nós a mais importante, o aparecimento de um corpo militar mais

organizado.

���������������������������������������� �������������������31ALCALÁ, Guido Rodriguez. Ideologia Autoritária. Brasilia: Funag/IPRI,2005. Coleção Países da América do Sul, p.46.

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1.2.3 O Paraguai dos López

Com o fim da era Francista, ostentaram seguidamente o poder duas juntas

militares, mostrando que “até certo ponto, o exército era a única força organizada do

país” 32. Depois disso um triunvirato e logo em seguida uma assembléia composta por

pessoas da elite paraguaia, que nomeou dois cônsules; Mariano Roque Alonso, militar e

o advogado Carlos Antonio López.

Em 1944 Carlos López é eleito presidente do Paraguai, com ele, o Paraguai

estende sua abertura comercial com os países vizinhos e com a Europa. Em 1942 o

Império do Brasil reconheceu a independência do Paraguai. Essa nova conjuntura

demandava uma modernização da economia, o que encontrava obstáculos no governo

de Rosas governante da República Oriental do Uruguai que dificultava o escoamento da

produção paraguaia com medidas que limitavam a navegação pelo estuário do Prata. O

Uruguai foi área de litígio entre Brasil e Argentina por muito tempo, o que tornava o

Rosas um governante muito mais cauteloso nas relações estabelecidas com seus

vizinhos.

Era interessante para o Brasil neutralizar as forças de Rosa no Uruguai, pois este

era desfavorável as pretensões brasileiras em relação à navegação pelo Prata. Para isso

deu seu apoio aos opositores do governo o que culminou na derrubada de Rosas em

1952. As diversas contendas internas no Uruguai e na Argentina (relativa à adesão de

Buenos Aires a Confederação) permitiram que o Brasil expandisse sua área de

influencia na região.

O Paraguai dentro deste contexto tinha como preocupação maior as diversas

discussões sobre os limites e sobre a navegação no Prata. Em 1962 morre Carlos

Antonio Lopez e assim Doratioto descreve o ultimo anseio de Carlos ao seu sucessor,

seu filho Francisco Solano López:

Momento antes de expirar alertou Solano López ‘ tem muitas questões pendentes, mas não busque resolvê-las pela espada, mas sim pela

���������������������������������������� �������������������32 ARCE, Omar Diaz de. El Paraguay contemporâneo (1925-1975). In: América Latina: história de médio siglo. Volume I, México: siglo veintiuno editores, 1977. p.330.

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caneta, principalmente com o Brasil’. Carlos agiu para obter um lugar para o Paraguai no plano internacional, mas tinha consciência da debilidade do seu país, daí o pragmatismo de sua política externa, pautada nos limites possíveis. O falecido presidente não era um aventureiro, nem um teimoso, e ‘como bom administrador tradicional, conhecia os limites do seu poder. Bem diferente seria a atuação de seu filho mais velho, ao ocupar a presidência paraguaia33.

No governo de Francisco Solano López, legatário da família López e General

das Forças Armadas paraguaias têm inicio a Guerra com o Paraguai34, conflito

envolvendo Brasil, Argentina, Uruguai contra o Paraguai

Parte da historiografia da década de 1960 indica que o país guarani passou por

um crescimento econômico e social; que segundo alguns autores são produtos de uma

“política de isolamento”. Não concordamos com isso, mas vale à pena discutir

brevemente o impacto historiográfico dessa opinião.

Osmar Díaz de Arce coloca que o “Paraguay mantenía una economia propia, un

estado nacional independiente marco e instrumento a su vez de la nacionalidad que

surgia bajo la acción enérgica del Doctor Francia 35. Oscar Creydt concordando com

essa idéia, assim descreve a situação do Paraguai neste período:

En el Paraguay se estaba operando un rápido proceso de desenvolvimiento nacional independiente, sobre las bases echadas por la dictadura revolucionaria de Francia. Por esta vía economica nacional llegó a adquirir un nivel de productividad que planteaba, con mayor intensidad que antes, la necesidad y la tarea de abrir nuevos mercados externos, de vincular al país dirctamente a Europa. Los progresos de la navegación a vapor suministraban nuevas posibilidades técnicas para tal vinculación. Un importante centro comercial y portuario había surgido en Montevideo. Se abrió la perspectiva de utilizar este como una base para las comunicaciones de ultramar, con independencia de Buenos Aires 36.

���������������������������������������� �������������������33 DORATIOTO, 2002.p.41. 34Segundo o Historiador Ruy Coelho essa seria a melhor designação para este conflito, pois Guerra do Paraguai remonta a uma historiografia de cunho militarista do século XIX, que aponta o Paraguai como grande causador do conflito. Para ver mais: Barros, Ruy Coelho de. A guerra com o Paraguai – aspectos polêmicos: aprofundamento – 2007. p.13. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso.�35 ARCE, 1977, p.330. 36CREYDT, Oscar. Formación histórica de la Nación Paraguaya. Asunción, Paraguay: Servilibro, 2007.p.101.�

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Essa idéia, que o Paraguai antes da guerra era um país que caminhava para o

progresso, com grandes chances de se modernizar e que tentava fugir da influência

capitalista, criaram a tese que Brasil e Argentina, manipulados pela Inglaterra queriam

acabar com o desenvolvimento do autônomo Paraguai.

Esses argumento se popularizaram com os trabalhos de autores como o

historiador argentino León Pomer e no Brasil Júlio José Chiavenato, estes, tentaram se

contrapor a imagem construída por uma historiografia tradicional que colocava Solano

Lopez como uma chefe sanguinário e péssimo estrategista, e que com suas decisões

ocasionou a morte de milhares de cidadãos paraguaios em uma guerra que foi causada

pelos interesses de um só homem.

Segundo Francisco Doratioto:

Na verdade, tanto a historiografia conservadora como o revionismo simplificaram as causas e o desenrolar da Guerra do Paraguai, ao ignorar documentos e anestesiar o senso crítico. Ambos substituíram a metodologia do trabalho histórico pelo emocionalismo fácil e pela denúncia indignada37.

A forma de representar o Paraguai dentro deste conflito ocorrido no século XIX

insere-se na situação política vivida na América do Sul, no período em que os chamados

revisionistas escreveram;

Estas surgem num contexto regional de ditaduras, tanto no Paraguai (com o General Alfredo Stroessner) quanto no Brasil (com o golpe de 1964) e, por outro lado, de Guerra Fria, buscavam “combater a figura dos heróis militares, que levou a uma interpretação do Império do Brasil como o causador da Guerra. “Enquanto isso no Paraguai buscava-se reconstruir e enaltecer as figuras dos heróis nacionais, sobretudo de Solano Lopez.38

���������������������������������������� �������������������37 DORATIOTO, 2002, p.20. 38 SALES, Thiago Rabelo. As relações entre o Império do Brasil e a República do Paraguai no contexto do pós-guerra (1869-1889). Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso.

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Os interesses do Paraguai também existiam, havia à necessidade de escoar seus

produtos e participar do jogo comercial e político do Prata. Embasamo-nos em Luiz

Alberto Moniz Bandeira:

Os interesses comerciais, sediados no porto de Montevidéu, e as dificuldades econômicas no Paraguai [...] que precisava de saída para o mar e obter recursos a fim de manter seu desenvolvimento, convergiram no sentido de formar um só estado, ao qual as províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes também se juntariam. Esse projeto, porém, não só se contrapôs aos esforços da burguesia mercantil de Buenos Aires, lutando ainda para unificar e integrar o território da Confederação Argentina, como colidiu com as políticas do Império do Brasil na bacia do Prata. E abortou. O Brasil interveio manu militari no Uruguai, onde apoiou a instalação de um governo favorável aos seus desígnios. O Paraguai, em represália, invadiu-lhe o território, na província de Mato Grosso, bem como o da Argentina, a fim de avançar sobre o Rio Grande do Sul.39

Percebemos que muitas foram às causas da Guerra com o Paraguai, os

desentendimentos sobre questões fronteiriças entre os países envolvidos, a liberdade de

navegação dos rios platinos, o interesse de expandir áreas de influência (em especial

Brasil e Argentina), o anseio paraguaio em escoar sua produção. Essa gama de

interesses culminou em um conflito que marcou a história e deixou um saldo negativo

para o Paraguai. Sobre o desfecho da guerra uma das melhores sínteses é feita por Túlio

Halperín Donghi:

O Paraguai tornou-se um país desmembrado e devastado; as conseqüências de sua derrota foram limitadas pelas divisões que surgiram entre os vencedores. A Argentina protegia no Paraguai os que haviam regressado do exílio; o Brasil, na condição de obter os territórios contestados, deu seu aval a um governo dominado pelos generais de Lopez, incitando-o a resistir às reivindicações territoriais argentinas. Afirmou-se assim o predomínio brasileiro, enquanto os novos governantes organizavam a liquidação das terras públicas; a reconstrução do Paraguai, muito lenta, tem lugar sob a égide da grande propriedade; o país continuará mantendo seus traços econômicos, sobretudo com a Argentina, que absorve a maior parte de

���������������������������������������� �������������������39 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Brasil, Argentina e Estados Unidos – Conflito e integração na América do Sul (Da tríplice Aliança ao MERCOSUL 1870 – 2003) – Rio de Janeiro: Revan: 2ª edição, setembro de 2003. p. 46

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suas exportações e de cujo sistema de navegação fluvial depende para a comunicação ultramar.40

Vemos aqui um Paraguai com dificuldades em influenciar politicamente nas

decisões tomadas por seus vizinhos maiores; Brasil e Argentina.

Falamos dos interesses dos países vizinhos, mas é importante destacar que

existiu o interesse do capital estrangeiro nas relações econômicas dos países sul-

americanos (a exemplo da Inglaterra e posteriormente dos Estados Unidos). Nas

palavras de Oscar Creydt:

O Estado nacional foi destruído e substituído pelo poder dos grandes estancieiros e dos agentes do capital estrangeiro, disfarçado de república constitucional de tipo liberal. Apoiando-se nos grandes estancieiros, interessados em exportar seus produtos, o imperialismo britânico [...] O Paraguai deixou de ser uma nação soberana para converte-se em um país dependente com características semicoloniais.41

Citando novamente Omar Diaz de Arce com relação ao capital estrangeiro:

[...] El país se abrió al capital extranjero, sobre todo inglés, primero por la vía de empréstitos, depués outorgándole concesiones territoriales e ferrocarrileras. Destruida gran parte de la producción agrícola y renacido el latifundio en gran escala, sobre todo a partir de 1885, cuando el régimen conservador legalizó las ventas masivas de los bìenes nacionales para cubrir las deudas del fisco, el sector fundamental de la economía paraguaya pasó a ser el de las estancias y plantaciones orientadas a la exportación. A ello se agregó a finales de siglo la extracción del tanino de quebracho y el aprovechamento de los bosques de maderas duras por empresas extranjeras. Hasta la yerba mate, el cultivo tradicional, quedó bajo el control de firmas inglesas, brasileñas y argentinas 42.

���������������������������������������� �������������������40 DONGHI, Túlio Halperín. História da América Latina; tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975. p. 146. 41 CREYDT, 2007, p.104-105. 42 ARCE, 1977, p.332.

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Sobre os interesses da Inglaterra afirma o historiador Ruy Coelho de Barros:

Momentaneamente não há um documento escrito, específico e oficial que comprove a participação da Grã-Bretanha na guerra. Assim como desapareceram as provas documentais a respeito da participação do cônsul inglês no Rio de Janeiro no tráfico de escravos, em sociedade com um brasileiro, e assim como hoje se veio a saber da tentativa de desviar o curso do Rio Nilo, esse documento sobre a participação da Grã-Bretanha na guerra surgirá, mais dia, menos dia, quando os governos que ainda resistem a abrir os seus arquivos (envergonhados talvez pelos atos dos seus maiores) venham a abri-los. E a loura Albion, talvez um pouco mais corada do que o normal - juntamente com aqueles que hoje negam que ela tenha tido participação na guerra - terão que curvar-se à realidade e admiti-la.43

Com o avanço das relações capitalista faz-se mister o interesse das potências

estrangeiras em adotar uma dinâmica de auxilio para seus aliados e assim garantir seus

interesses no restante do mundo. O caso da Guerra da Tríplice Aliança mostra como o

desenvolvimento internacional do capital, mudou profundamente a dinâmica nas

relações político-econômicas e culturais da região platina.

Antes mesmo da morte de Solano López em Cerro Corá em 1870, Brasil e

Argentina já se articulavam para garantir um governo paraguaio mais favorável aos seus

interesses. A historiadora Ceres Moraes, escreve sobre a data de 22 de junho de 1869:

Com a presença do diplomata Paranhos, representante do Império do Brasil, e do Dr. José Roque Pérez, representante do governo argentino, reuniu-se em Assunção uma assembléia que elegeu um triunvirato para governar o país. Esse triunvirato era formado por Cirilo Antônio Rivarola, José Diaz de Bedoya e Carlos Loizaga. Um ano depois, em 13 de agosto de 1870, Rivarola e Loizaga renunciaram, sendo então, no mesmo dia eleito Facundo Machain, presidente provisório. No dia 14 de agosto, apenas um dia depois da escolha de Machain, Rivarola e

���������������������������������������� �������������������43 BARROS, 2007, p.118.

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Cândido Barreiro apoiados pelas tropas brasileiras, deram um golpe e Rivarola assumiu a presidência.44

A instabilidade política da sociedade paraguaia abre espaço para a intervenção

do Brasil e da Argentina:

Entre 1870 e 1876 una fuerza de ocupación brasileña en Paraguay, representaba el orden traído por los aliados. Como la contienda se llevó a cabo bajo las banderas del liberalismo mitrista y la mayoría de los repatriados estaban refugiados en Argentina, los primeros gobiernos fueron presididos por “legionarios” liberales, aunque la vicepresidencia se reservaba a alguno de los antiguos colaboradores de Solano López que había preferido colocarse bajo la preoteción brasilenã45.

Há que se levar em consideração que a Argentina detinha um número

significativo de exilados paraguaios nesse período, na sua maioria antigos opositores de

Solano López. Para a Argentina era interessante que esses exilados voltassem ao

Paraguai, assim teriam nesse momento aliados importantes. Em contrapartida o Brasil

instigava outra parcela que disputava o poder a se contrapor às idéias argentinas. Para

isso conservou antigos aliados de Solano, a fim de poder influenciar no processo de

reestruturação do estado paraguaio.

Findado o período de Francia e dos López, o Paraguai encontrava-se totalmente

em migalhas, as oligarquias locais agora procuravam sobreviver e estabelecer um novo

cenário político, para isso era essencial que tivessem o apoio de países vizinhos mais

fortes; no caso: Brasil e Argentina.

Como herança de Francia e dos López, chamamos a atenção para o

fortalecimento dos militares. Com constitutivas do que Alain Rouquié designou como

um militarismo sem militares, onde os chefes não conhecem a existência de um exército

regular, com uma formação militar especifica, e ainda, como singularidade deste, a

participação de civis a sua frente que adquirem alguma experiência militar nas rebeliões

���������������������������������������� �������������������44MORAES, 2000, p.15. �45 ARCE, 1977, p. 333.

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que eles mesmos promovem (o caso de Francia e Carlos López) ou ainda como

participes de um incipiente exército, que tentam estabelecer o embrião de um

militarismo (como Francisco Solano López) 46.

A intervenção dos militares paraguaios começa a ser fator corriqueiro no

panorama político, o que é um fator dissonante ao seu papel. Segundo Jacques Lambert,

diferente do mundo europeu, em que o exército tem a função de defesa nacional contra

o estrangeiro, na América Latina:

As funções que os exércitos são o mais das vezes chamados a executar não são funções de defesa nacional contra o estrangeiro. Apesar de ter conhecido no século XIX verdadeiras guerras internacionais, - em 1847, a dos Estados Unidos contra o México; de 1864 a 1870, a Tríplice Aliança entre o Brasil, República Argentina e Uruguai contra Solano López, o ditador do Paraguai, e de 1869 a 1883, a do Pacífico entre o Chile, Peru e Bolívia -, a América Latina viveu, a este respeito, muito menos perigosamente que a Europa. A partir dos anos 1880, não houve, na América Latina, senão uma única e verdadeira guerra, a que de 1932 a 1935 opôs a Bolívia e o Paraguai47.

A citação acima é valiosa, pois, apesar de entendermos que o exército tinha

muito mais um caráter de policia militar, que resguardava a segurança homem forte do

estado, o Paraguai teve experiências de guerras contra seus vizinhos, contra o

estrangeiro. Uma identidade nacional Paraguai começa a ser construída, em especial, a

partir desse momento histórico da Guerra com o Paraguai e no século XX, com a Guerra

do Chaco. Um nacionalismo em que Solano López aparece como grande herói e como

defensor da pátria se cristaliza no imaginário paraguaio.

���������������������������������������� �������������������46 ROUQUIÉ, Alain. O Estado militar na América Latina. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1984, p.76-77. 47 LAMBERT, Jacques. América Latina: Estruturas sociais e instituições políticas. São Paulo: Ed. Nacional: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1979, p.274.

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1.3- Instabilidade política e a formação dos partidos políticos no Paraguai

Dentro deste espaço de instabilidade, tem inicio a formação dos dois maiores

partidos políticos paraguaios, o Partido Liberal e a Associação Nacional Republicana

(ANR) 48, que ficou popularmente conhecida como Partido Colorado. A ininterrupta

luta entre essas agrupações afundaram o Paraguai em sucessivas guerras civis, e vão se

prolongar até o regime de Stroessner que irá definitivamente consolidar os colorados no

poder, caracterizando a longa ditadura de partido único (1954-1989).

Em 1870 com o retorno dos exilados paraguaios e com o alinhamento dos

grupos polarizados entre as influência brasileira e argentina, se implementa a

constituição de 1870. Nas palavras de Fátima Yore em relação à constituição e a

formação dos partidos políticos paraguaios:

La adopción de una Constitución Nacional filosófica y doctrinariamente liberal [...] y la fundación de los partidos políticos tradicionales, el Nacional Republicano (Colorado) y el Centro Democrático (Liberal), bajo lá influencia de los valores y principios individualistas del liberalismo ortodoxo, em expansión por el continente americano, plasmará en la sociedad nacional el régimen jurídico-político de un Estado liberal oligárquico, expresión del nuevo régimen de propriedad de la tierra instaurado sobre la base de la venta o adjudicación de las tierras públicas al capital extranjero49.

���������������������������������������� �������������������48Além dos partidos já citados, havia o partido Revolucionário Febrerista de tendência progressista e Partido Comunista Paraguaio (PCP). 49YORE, Fátima Myriam. La dominación stronista. Orígenes y consolidación. Seguridad nacional y represión. Asunción. BASE Investigaciones sociales, 1992. p.35.

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Até então, não havia partidos políticos no Paraguai, as reuniões da forças

políticas se congregavam em centros políticos, onde a situação política era resolvida

através das forças de segurança do Estado, o Exército mais especificamente. No entanto,

estes grupos com linhas políticas diferentes conviviam nas estâncias deliberativas. Com

a Constituição o acesso ao poder agora ganha uma fachada de democracia, as linhas

políticas se bifurcam definitivamente e dão origem aos tradicionais partidos paraguaios.

En 1869 se fundaron en Asunción dos centros políticos: el “Club del Pueblo” dirigido por José Segundo Decoud y el “Club Unión” dirigido por Cándido Baruro. Poco después, Decoud pasó al outro grupo, disolviéndose el suyo.

Estos no fueron seno pequeños núcleos. La fundación de los partidos tradicionales data de 1887. Antonio Tabeada secundado por Alón, Queirolo, Báez, Soler y otros, funda el “Centro Democrático”. Este nunca cambió oficialmente de nombre, pero fueron llamándose “Partido Liberal” y este nombre te quedo em definitiva. Un mes después de dicha fundación, el general Bernardino Caballero, secundado por Decoud, Juan G. González, Uriarte, el coronel Centurión y otros, funda la “Asociación Nacional Republicana”, más conocida por “Partido Colorado” 50.

O Partido Liberal de tendência pró-argentina, era formado por intelectuais,

campesinos e pessoas que tiveram suas terras expropriadas. A maioria deste partido é

oriunda de uma oposição às tradições políticas advindas do Dr. Francia e dos Lopez. Os

dirigentes faziam parte da pequena Legión Paraguaia, paraguaios, integrantes do

Exército Argentino na Guerra contra Solano López.

As origens sociais dos partidos tradicionais, o Partido Colorado e o Partido

Liberal assemelham-se em metas que são fundamentais na estrutura dos partidos. José

Nicolás Morínigo aponta três fatores:

a) A configuração de um novo sistema de legitimação do poder político, formalmente sustentado nos postulados da democracia liberal;

���������������������������������������� �������������������50 CAPDEVIELLE APUD SILVA, 2006, p.43.

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b) A Necessidade de articular de acordo com o novo esquema de ordenamento político, uma relação eficaz entre Estado e sociedade;

c) A venda das terras públicas como eixo da problemática social, cuja alternativa de solução desde o ponto de vista político, se canalizou através dos partidos51.

Na formação do Partido Colorado, assinalamos como sendo as figuras mais

importantes as de Bernardino Caballero, Cándido Bareiro e Patricio Escobar. No pós-

guerra trabalharam juntos para formar o partido. Anibal Miranda, em sua obra Partido

Colorado: La máxima organizacion mafiosa, serve-nos aqui como pilar para relatar

uma sinopse histórica sobre o partido:

Os três tinham os pés bem plantados sobre a terra, tendo aprendido a manejar com cautela e astúcia os seus anos de serviço a família de López, em especial as ordens de Francisco Solano. Bareiro possuía experiência administrativa e diplomática, os outros eram militares que haviam combatido na Grande Guerra. Entre conspirações e quartelazos, foram trilhando os passos até o Palácio do Governo, praticamente a única recompensa para homens de ação em meio a devastação pós-bélica.52

Em agosto de 1876 as tropas brasileiras retiraram-se do território paraguaio, um

ano depois Bernardino Caballero, por meio de um golpe, auxilia na subida do Partido

Colorado ao poder, assumiu a presidência em 1880, estabelecendo a primeira fase dos

colorados no poder que durou de 1876 até 1904. Segundo Victor E. Baruja e Ruy G.

Pinto:

Ese veterano de guerra de larga barba dominó la política paraguaya de las siguientes dos décadas como presidente o a través de su poder militar. Su ascenso al poder fue notable ya que trajo cierta estabilidad política, fundó un partido gobernante, el colorado, para regular la elección de presidentes y la distribución de favores políticos y inició un lento proceso de reconstrucción económica.Pese a su inocultable idolatría hacia el Supremo, los colorados desmantelaron el original sistema de socialismo estatal de Gaspar Rodríguez de Francia. Los colorados, desesperados por dinero contante y sonante debido a

���������������������������������������� �������������������51 MORINIGO, José Nicolás. Vocabulario Político. Asunción. Expo-libro. RP Ediciones, p (?). 52MIRANDA, Aníbal. Partido Colorado, La máxima organizacion mafiosa. Asunción/PY, Aníbal Miranda e asociados, 1992. p.26.�

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pesadas deudas contraidas en Londres durante el periodo postguerra, puso en venta las inmensas tenencias del Estado que comprendían más de 95 por ciento de la tierra del Paraguay. El gobierno de Caballero vendió la mayor parte de esa tierra a los extranjeros en grandes tajadas. Mientras políticos colorados metieron mano en las ganancias y se transformaban en grandes hacendados, se obligó a campesinos, ya considerados como intrusos, que cultivaban la tierra por varias generaciones atrás a abandonarla y que emigraran en la mayor parte de los casos. Hacia el año 1900, setenta y nueve personas poseían la mitad de la tierra del país.53

Elencamos aqui, e não é de nada dispensável este apontamento, uma tradição

paraguaia de cunho militar, reconhecendo que a citação é longa, porém importante.

Como podemos ver a formação do partido colorado, do qual fez parte o General Alfredo

Matiuda Stroessner, tem desde o processo de formação a influência do militarismo, a

exemplo dos fundadores do Partido Colorado Bernardino Caballero e Patrício Escobar.

Esta especificidade vai ser de suma importância para entendermos como o regime

stronista conseguiu sua manutenção e perdurou por tanto tempo no poder.

Neste contexto o Partido Colorado, via-se como nacionalista, herdeiros das

idéias de López e acusavam os liberais de defensores estrangeiros, inspirados no mundo

político de Buenos Aires. Entender as disputas é de suma importância para descrever o

regime de Alfredo Stroessner.

Segundo Guido Rodriguez Alcalá:

“O nacionalismo lopizta construiu uma ideologia autoritária oposta aos princípios defendidos pelo Partido Liberal. [...] Avesso à critica, o nacionalismo lopizta influenciou sua influência nas primeiras décadas do século XX. [...] dogmático, militarista e estatista hamonizava-se” com as ditaduras já ocorridas e também com a de Alfredo Stroessner. [...] todo oposicionista era um traidor da pátria. Isto, afinal, buscava justificativa ideológica para o exercício do poder nas ditaduras do passado, reinterpretadas como da soberania nacional e do progresso do país54.

Durante o governo de Caballero, o Paraguai manteve uma postura mais

simpática ao Brasil, o que acirrava ainda mais a disputa entre colorados e liberais. Este

���������������������������������������� �������������������53BARUJA Victor E. e PINTO Ruy G. Uma historia Del Paraguay . Disponível em: http://narraciones.tripod.com/paraguay/index.html Acesso em: 14 de março de 2010. 54 ALCALÁ, 2005, p.12-13.

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governo, não conseguiu estabilizar a economia e muito menos a situação política

paraguaia. O Partido Colorado não era uma unidade, e a continuidade partidária no

governo, não era elemento suficiente para extinguir as disputa interna, durante o período

em que estiveram no poder 14 presidentes assumiram o governo, o que mostra a

extrema discordância dentro do partido.

Essa agremiação política nunca fora unida nem homogênea, e à medida que Caballero ia perdendo sua força no controle da máquina partidária várias facções começaram a aparecer. Alguns colorados que fizeram fortuna através da especulação de terras tornaram-se conservadores; outros, descontentes por não lucrarem o suficiente, aguardavam o momento oportuno para se verem livres daquele governo. Nesse ritmo, o partido foi paulatinamente se tornando menos radical em suas proposições nacionalistas e mais negligente na admissão de questionáveis elementos entre suas fileiras, o que proporcionaria dois anos mais tarde, em 1904, o retorno dos liberais ao poder 55.

O Estado paraguaio em seu estágio de reorganização pós Guerra contra o

Paraguai deu-se em um cenário caótico no campo do político. Num primeiro momento

os núcleos que viriam dar origem aos Partidos Liberais e Colorado, negociaram com

intuito de fortalecer suas bases e posteriormente disputar o poder. Nessa altercação, os

colorados saíram vitoriosos, contando com o apoio brasileiro e por período conseguindo

manter a seqüência do partido no poder. As ações dos partidos estiveram ligadas a

conjuntura política do Prata. As articulações dentro do Paraguai dependiam de certa

forma do panorama no Brasil e na Argentina.

Os liberais, representantes dos grandes proprietários de terras e comerciantes,

vinculados ao capital anglo-argentino, e os colorados negociando com a chancelaria

brasileira.

Em 1904 as disputas entre os partidos se acirraram ainda mais, o que culminou

na chamada “Revolução de 1904” ou “Revolução Liberal”, a vitória liberal foi possível

pela conseqüência de um crescimento das camadas médias e profissionais residindo na

capital Assunção, tornaram-se estes a principal base do partido 56.

���������������������������������������� �������������������55 SILVA, 2007, p.34. 56 DONGHI, 1975, p.209.

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No primeiro período Liberal que vai de 1904 a 1936, surgem novas forças, “em

1906, sob a influência do anarco-sindicalismo, foi fundada a ‘Federación Obrera

Regional del Paraguay’ (FORP). Em 1912, fundou-se o Centro de Obreros e a Unión

General del Paraguay57.

Em 1918 um movimento de protesto contra um professor na Universidade de

Córdoba na Argentina, culminou em uma proposta maior que reivindicava uma reforma

universitária neste país. Estudantes paraguaios que tiveram contato com essas

discussões regressam ao Paraguai e começam a se articular-se com o incipiente

movimento operário. Dessa conjuntura tem o surgimento do Partido Comunista

Paraguaio (PCP). Em relação à data de fundação não há unanimidade, em algumas

obras apontam o ano de 1928, Oscar Creydt, que foi presidente do partido por muitos

anos indica a fundação no ano de 1933.

Marca as primeiras décadas do governo liberal, a construção da primeira

academia militar em 1915, “os liberais para desvairar ao exército do controle partidário

fundaram a Escola Militar e instituíram a Lei de Organização Administrativa para

arrumar a administração nacional” 58 (tradução do autor). As disputas entre as várias

facções do Partido Liberal, vão obrigar o então presidente Manuel Gondra, liberal, a se

afastar do poder, para isso os opositores contaram com a ajuda dos colorados e dos

militares. Sobe ao poder Eduardo Schaerer, também do Partido Liberal.

Divididos entre “shaeristas” e “gondristas” o regime liberal sofria com as

disputas destas correntes só em 1925 o partido vai viver certa estabilidade.

El último enfrentamiento faccionalista había comenzado el 29 de octubre de 1921, cuando Manuel Gondra, invocando su habitual principismo, renuncio a la primera magistratura ante las exigencias del caudillo político Eduardo Schaerer [...] os “shaeristas”, tendencia que logró atraerse la colaboración de elementos del “coloradismo”. [...] La participación de fuerzas militares en uno y outro bando convertió la controversia entre los seguidores de Schaerer y el presidente provisional59.

���������������������������������������� �������������������57 MORAES, 2000, p.25. 58BARUJA Victor E. e PINTO Ruy G. Uma historia Del Paraguay . Disponível em: http://narraciones.tripod.com/paraguay/index.html Acesso em: 14/03/20010. 59 ARCE, 1977, p.334.

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Eligio Ayala foi presidente do Paraguai pelo período provisório de 1923 e 1924,

e presidente constitucional em 1924 a 1928, no governo de Eligio, os discordantes do

partido se juntaram nominalmente e este foi um dos poucos governos que puderam

terminar seu mandato.

Aqui abrimos espaço para falar de outro Ayala, Eusébio Ayala60, que não tem

nenhum parentesco com o primeiro mais governou em seu segundo mandato 1932-

1936, num momento que marcou a história paraguaia profundamente, a chamada Guerra

do Chaco.

Este conflito deu-se pela disputa entre Paraguai e Bolívia pela região do

Chaco61, num período em que a situação política e econômica do Paraguai estava

extremamente sofrível. Chamamos a atenção para a conjuntura internacional que assim

é descrita Amado Luiz Cervo:

A crise da economia capitalista desencadeada em 1929 provocou sobre a América Latina efeitos similares àqueles ressentidos por outros mercados, como a diminuição, em 1932, para um quarto de sua capacidade de importação. Os impostos de exportação, que alimentavam o tesouro dos Estados, converteram-se em impostos de importação, mesmo porque a industrialização já vinha sendo promovida de longa data, embora a ritmo lento e sem continuidade. Entretanto, o que nos países capitalistas avançados configurou-se como fechamento dos mercados e reforço do protecionismo, na América latina tomou o rumo de um processo de modernização econômica, procurada com determinação crescente por grupos dirigentes, que agregaram à diplomacia o senso de conflito de interesses nas relações internacionais62.

���������������������������������������� �������������������60 Sem nenhum parentesco com Eligio, mas que como ele se formou na Europa e versado em finanças, em economia, em pedagogia e psicologia – foi discípulo de Bergson. Liberal, governou o Paraguay em dois momentos críticos, 1921 e 1932. Nos livros “Ante el país (1932)” e “Patria y libertad”, publicado apenas em 1952, contêm seus escritos relacionados com o conflito no Chaco. MOREIRA, Luiz Felipe Viel. Historiadores e atores políticos: a historiografia paraguaia na era liberal (1904-1936). Disponível em: <http://www.anphlac.org/periodicos/anais/encontro5/luiz_felipe.pdf> Acesso em: 20 de julho 2010.�61 Imensa área de estepes quase devoluta, situada entre os Andes e o rio Paraguai.�62CERVO, Amado Luiz. Relações Internacionais da América Latina: velhos e novos paradigmas. Brasília: IBRI, 2001, p.23

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A situação interna paraguaia, acentuada pela grande depressão via-se agora

tendo que resolver um embate com a Bolívia, que necessitava de um porto no Rio

Paraguai e que para ter livre acesso necessitava ocupar o Chaco. Com o fim da Guerra

com Paraguai, a nação guarani já havia perdido terras para os vencedores (Argentina,

Brasil), e não lhes interessava novamente fazê-lo. Nesta região existiam alguns

pequenos agricultores de origem alemã menonistas63, existiam também algumas

ferrovias de bitola que serviam para escoar madeira da região para o Rio Paraguai.

Além de uma histórica disputa entre Bolívia e Paraguai por essa região, segundo

Julio José Chiavenato, existiam interesses internacionais das companhias norte-

americanas, a Shell e a Standard Oil, esta última perfurava poços na Bolívia nesse

período64.

Sob o governo do Partido Liberal, depois de uma guerra que consumiu forças de

ambos os países mais que teve como “vencedor” o Paraguai. Com o fim da Guerra do

Chaco, “se iniciou um período de emergência das Forças Armadas no sentido

corporativo, como fator político determinante e ator principal no controle do Estado” 65.

Os setores militares nacionalistas e os setores médios da sociedade fundam o

Partido Febrerista em 1936. A fundação do partido esta diretamente ligada ao golpe de

Estado liderado pelo Coronel Rafael Franco herói da Guerra do Chaco, que derrubou

Eusébio Ayala do poder.

Em 17.02.1936 um golpe militar desalojou o Partido Liberal do governo, jogou os arquitetos da vitória na cadeia e logo ao exílio, e levou ao poder ao Cel. Rafael Franco – um dos heróis da recente contenda. A chamada Revolução Libertadora anulou a constituição de 1870 (decreto nº 152 de 10.03.1936), revestindo-se da mesma índole das transformações sociais totalitárias da Europa. O decreto identificava fascismo e Estado Paraguaio, sendo respaldado por um amplo leque político: de colorados a setores liberais, passando pelas agrupações menores, inclusive o apoio do Partido Comunista66.

���������������������������������������� �������������������63Doutrina anabatista do séc. XVI divulgada pelo holandês Meno Simonis, da qual ainda restam alguns milhões de adeptos nos Estados Unidos da América e na Europa, principalmente na Ucrânia 64Para ver mais: CHIAVENATO, Júlio José. Guerra do Chaco (leia-se petróleo). São Paulo; Editora Brasiliense 65 YORE, 1992, p.40. 66MOREIRA, Luiz Felipe Viel. Historiadores e atores políticos: a historiografia paraguaia na era liberal (1904-1936). Disponível em:<http://www.anphlac.org/periodicos/anais/encontro5/luiz_felipe.pdf>

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Durante um curto tempo todos os partidos puderam atuar na legalidade, este

período de “paz” durou menos de 15 dias quando o Partido Comunista, novamente foi

posto na ilegalidade, Franco adotou uma opção anticomunista e antidemocrática. Como

conseqüência disso, m novo golpe ocorre em 1937 liderado pelo Coronel Ramón

Paredes, que mantinha intenso contato com os quadros do partido liberal no exílio,

pondo fim aos 18 meses de governo febrerista. Assume em 1939 o Marechal

Estigarribia, também herói da Guerra do Chaco e ligado ao Partido Liberal. Com ele foi

promulgada a nova Constituição de 1940, que estabelecia a religião católica como a

oficial, neste governo também tem inicio a aproximação com os Estados Unidos com o

estabelecimento de missões norte-americanas.67

Com o falecimento de Estigarribia (em um desastre de avião), o general Higinio

Morínigo, ministro da Guerra, assume o governo apoiando-se basicamente no exército.

Em 1943, é eleito como candidato único. Na administração Morínigo é formado o

chamado Governo de Coalizão com o Partido Colorado, Partido Febrerista e

representantes das Forças Armada, novamente o Partido Comunista é colocado na

legalidade e alguns presos políticos voltam do exílio. Essa situação tem seu fim em

março de 1947, sobre o panorama deste ano afiança Alain Rouquié: “em março de 1947,

os febreristas do governo Franco organizam uma rebelião com os liberais e um grupo de

jovens oficiais que mergulha o país em uma guerra civil de seis meses. Apesar do

sucesso dos rebeldes e da desagregação do Exército regular, Morínigo e os colorados

terminam levando a melhor” 68.

Morínigo na última etapa de seu governo (1946-1947) apela ao apoio do Partido

Colorado para que ampare sua ditadura, com isso “provocou sua divisão, senão seu

esmigalhamento” 69. Em pouco tempo os colorados se estabeleceram no poder, tendo o

apoio do Exército, e nos sete anos seguintes instauraram um sistema de partido único ou

ditadura de partido. Isso definitivamente consolidou os colorados no poder e mudou o

curso da história contemporânea do Paraguai.

���������������������������������������� ���������������������������������������� ���������������������������������������� ���������������������������������������� ����������

Acesso em: 20/07/2010.�67 MORAES, 2000, p.30. 68 ROUQUIÉ, 1976, p.215 69 Idem, p.215

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CAPÍTULO II- O Paraguai sob o controle de Stroessner: Condições internas e

externas para a instauração da ditadura

2.1-As contendas dentro do Partido Colorado

A consolidação do Partido Colorado no poder não trouxe ao Paraguai a

estabilidade política que o tanto país necessitava. Além disso, também não fortaleceu as

instituições democráticas. Como já foi dito no capítulo anterior, Morínigo visando sua

permanência no poder, contou com o apoio do Partido Colorado em especial de uma

facção do partido denominada de “Guion Rojo”. O chefe dessa agrupação era Juan

Natalício González que comandava essa frente de cunho paramilitar, um braço armado

colorado.

O governo de Morínigo a partir daí teve seus dias contados. Em julho de 1948

foi forçado a renunciar ao cargo justamente por essa facção que o havia ajudado. Em

seu lugar assumiu Juan Manuel Frutos, do Partido Colorado, que não demorou a

entregar o governo nas mãos de Juan Natalício González. O que nos chama atenção é

que as tentativas de golpe contra González vieram de dentro do Partido Colorado, este,

por um tempo conseguiu conter os ânimos, mas a situação de instabilidade era maior. O

Partido Colorado não era um corpo homogêneo, as disputas dentro da organização eram

intensas. Em 1949, outra facção do partido comandada pelo General Raimundo Rolón

depôs Natalício González. Em comum, os dois tinham a atividade militar e o status de

serem ex-combatentes no conflito do Chaco, o que mostra a forte influência militar na

política paraguaia.

El derrocamiento de González por uno de sus ministros y líder de otra facción del partido gobernante, Raimundo Rolón, puso en evidencia que Paraguay no había salido del círculo vicioso de dictadura y luchas intestinas creado por una oligarquía de familias y grupos rivales. Efectivamente, nos tres meses y medio, Felipe Molas López, ministro da Educación de Rolón, lo sustituía70.

���������������������������������������� �������������������70 ARCE, 1977, p.359.

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A sucessão de golpes continuava conseqüência do cenário de instabilidade

política. Eleito para cumprir um mandato de quatro anos, Molas só ficou no poder

durante seis meses. Em seu lugar de forma provisória assumia a presidência o Dr.

Federico Chavez, figura influente dentro do Partido Colorado. Em julho de 1950

Chavez foi eleito presidente, o que enfatizamos nessa parte de nossa escrita é que todos

esses personagens compunham o quadro do mesmo partido, a Associação Nacional

Republicana (ANR) ou como ficou popularmente conhecida, Partido Colorado. Do

governo de Federico Chavez exige-se uma análise mais minuciosa, da conjuntura

estabelecida fruto das medidas deste governo veremos Alfredo Stroessner despontar

como uma das personalidades de maior importância na história contemporânea do

Paraguai.

Federico Chavez estava à frente do chamado “setor democrático” do

coloradismo, o partido agora se dividia entre guionistas e democráticos. Representados

por Chavez, a ala democrática agora estava a frente do estado. O clima de instabilidade

política era perceptível. Em 1953 apesar das discordâncias dentro do partido, o então

presidente Chavez foi reeleito. Para tentar minimizar o problema da economia, o

presidente colocou a frente do Banco Central o advogado e intelectual do partido

Epifanio Mendez Fleitas.

Mendez Fleitas tinha como principal proposta um acordo bilateral com a

Argentina, nesta época governada por Perón, este plano econômico foi chamado de

Unión Paraguaya-Argentina previa-se nesse acordo investimentos industriais recíprocos

e a unificação das marinhas mercantes.

Levando-se em consideração que a economia argentina era mais forte, aquela união simplesmente queria dizer que boa parte da economia paraguaia estaria sob controle e influência dos argentinos. No entanto, aquela medida econômica acabou chamando a atenção da parte mais conservadora do Partido Colorado71.

O governo de Chavez parecia caminhar para certa estabilidade, seus principais

inimigos estavam neutralizados; Felipe Molas havia falecido, Natalício González estava

exilado no México. Os outros partidos encontravam-se sufocados, com pouquíssimo

espaço para articularem alguma ação que realmente pudesse botar em risco a

���������������������������������������� �������������������71MENEZES, Alfredo da Mota. A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai 1955-1980. Campinas, SP: Papirus, 1987, p.48.

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administração de Chavez. No entanto, isso não caracterizava um segurança total, o

golpe contra o presidente viria das pessoas mais próximas de seu governo.

A política econômica de Mendez Fleitas começou a desagradar La Sociedad

Rural, uma associação de latifundiários criadores de gado que discordavam da

aproximação com a Argentina. Como medida para apaziguar esses descontentes Chavez

destituiu Fleitas do cargo de presidente do Banco Central do Paraguai, e com ele todos

os que estavam próximo do seu círculo político, entre eles Tomas Romero Pereira,

Ministro de Obras Públicas, o chefe de polícia Coronel Esteban López Martinez; e o

chefe de Investigação da Polícia, Juan Manuel Santacruz72.

Além dessas demissões, a reorganização das forças policiais pelo novo chefe da

polícia, Roberto Petit, começou a levantar dúvidas sobre as intenções do governo

Chavez. A polícia começou a ser armada, visando uma maior proteção a política

chavista a fim de paralisar qualquer tentativa de golpe por parte dos militares foi

formando o chamado “Battalion 40”, um contraponto as Forças Armadas, que nesse

período encontrava-se forte e bastante influente na política paraguaia.

O então Comandante do Exército Alfredo Matiuda Stroessner, via com

preocupação essas medidas, ou segundo alguns autores via a chance que tanto esperava

para dar um golpe e começar a galgar o poder. Segundo Alfredo da Mota Menezes,

Stroessner desejava tomar as rédeas do estado paraguaio a algum tempo, prova disso é

que tinha participado das tentativas de golpe contra todos os cinco presidentes daquele

período: Morínigo, González, Rolon, Molas Lopez e por fim contra Chavez 73.

2.2-Strossner e a ascensão ao poder:

Alfredo Matiuda Stroessner nasceu em Assunção, e ingressou aos dezesseis anos

no Colégio Militar. Seu pai era um imigrante alemão e sua mãe uma paraguaia, logo

depois da Guerra do Chaco (1932-1935), Stroessner foi promovido a tenente. No

período em que os febreristas estiveram no poder em 1936, ele recebeu e patente de

capitão e em 1940 conseguiu a insígnia de major. Neste mesmo ano segundo uma

publicação do Ministério das Relações Exteriores:

���������������������������������������� �������������������72BENITEZ, Adriano Abab Lopez. Historia política del Paraguay 1940 a 2005. Asunción- Paraguay, Gráfica Emasa S.R. L, 1998, p.26. 73MENEZES, 1987, p.48

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En la villa militar de Deodoro, Brasil: una generación de militares realizaba el curso de especialización. Entre ellos un joven exponente del Ejército paraguayo, el Capitan Alfredo Stroessner, enviado para perfeccionar conocimientos en el Arma de Artillería. Entre los instructores, constaba un brillante militar brasileño, el Tte. Cnel Humberto Alencar Castello Branco.74

Resolvemos destacar essa citação por acharmos bastante interessante essa

coincidência, mais tarde veríamos estes personagens se reencontrarem para inaugurar a

chamada Ponte da Amizade estando à frente dos seus países de origem, como chefes de

ditaduras instauradas no Brasil e no Paraguai.

No ano de 1945, Stroessner tornou-se Tenente Coronel, sendo indicado como

instrutor de artilharia no regimento denominado General Bruguez e no ano seguinte com

apenas 34 anos foi designado para o Estado Maior do Exército75. Sua ascensão

vertiginosa na carreira militar deu-se no período de conflitos internos dentro do Partido

Colorado, sua permanência mostra uma boa articulação e também a habilidade de

conspirar mantendo-se sempre perto do poder.

Quando Federico Chavez governou o Paraguai, Stroessner ascendeu ao grau de

General de Divisão, neste período começou a trabalhar para provocar uma separação

nos setores do coloradismo e no corpo militar, fomentando duras críticas ao governo

Chavez e a política de aproximação com a Argentina76.

Em 1954 Stroessner juntamente com Mendez Fleitas maior fomentador do golpe

e Tomas Romero Pereira, ambos ex- ministros do governo de Chavez, arquitetaram um

golpe para depor o presidente. Uma quartelada comandada por Stroessner cercou a

capital Assunção que tinha como única defesa o Batallion 40 comandado por Roberto

Petit, chefe da polícia nacional. O saldo desse acontecimento foi o de várias pessoas

mortas, entre elas Petit, e o fortalecimento de Stroessner frente à política paraguaia.

O golpe de estado que gerou um novo momento na política paraguaia, segundo a

autora Fátima Yore:

Fue recibido entonces con expectación y esperanzas, no sólo por los colorados que se hallaban fuera del gobierno - guione rojos, epifanistas- sino además por la oposición que esperaba salir beneficiada com el cambio de situación. Con excepción de los democráticos [...] y del Partido Comunista Paraguayo, los disidentes

���������������������������������������� �������������������74 Ministerio de Relaciones Exteriores del Paraguay. Alfredo Stroessner; el líder, su vida y sus obras. Agosto de 1985, p.08. 75 MORAES, 2000, p.42. 76 MENEZES, 1987, p.49

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colorados y los dirigentes de los partidos Liberal y Revolucionario Febrerista celebraron la caída de Federico Chaves 77.

Quanto à citação supracitada, a referência de expectativas, de esperanças, não se

deu somente por parte dos que disputavam o jogo político. Parece-nos que a sucessão de

complôs e golpes, gerava um sentimento parecido para a população paraguaia que

ansiava por um governo mais estável, mas que também haviam se habituado a essa

tradição de governos efêmeros, o que criava um misto entre esperança e desconfiança na

permanência de alguém frente à administração. Os que haviam participado do golpe (a

exemplo de Fleitas e Romero), assumiram suas antigas pastas, agora Fleitas que havia

sido o mentor do golpe não era o homem mais indicado para ocupar o cargo de

presidente, mas Stroessner o homem forte das Forças Armadas, parecia ser.

Em 1954, depois de uma convenção do Partido Colorado, tirou-se como acordo

a indicação de Stroessner a presidência. Ele saiu vitorioso sem nenhuma oposição e foi

empossado em agosto do mesmo ano, finalmente conseguindo o que por muito tempo

almejou.

2.2.1-A construção do stronismo78

Segundo o documento intitulado Testemonio contra el olvido: Reseña de La

infamia y el terror (Paraguay, 1954-1989), produzido pelo “Comité de Iglesias para

ayuda de emergencia”, o governo de Strossner pode ser dividido em quatro etapas, que

seriam:1ª-consolidação da ditadura (1954-1962);2ª-Construção do sistema e

fortalecimento do poder (1963-1975); 3ª-máximo desenvolvimento de um sistema quase

totalitário (1975-1986) e 4ª- O acaso (1986-1989)79.

Analisaremos a partir disso, as duas primeiras etapas do governo de Stroessner.

A primeira visando ter sob controle, o partido, as forças armadas legitimando sua

política interna. Num segundo momento as articulações que manteve com seus vizinhos ���������������������������������������� �������������������77 YORE, 1992, p.59. 78 Expressão espanhola utilizada pela maioria dos analistas paraguaios para caracterizar o regime de Alfredo Stroessner, iniciado em 1954. Durante nossas leituras o termo stronato, também aparece com freqüência, tendo a mesma utilização. "�Estas informações foram extraídas da carta de representação contra Stroessner, documento redigido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados em 13 de junho de 2000, tendo como presidente o Deputado Marcos Rolim, foi encaminhada a Justiça Brasileira, visando denunciar os crimes ocorridos durante o governo de Stroessner e sua extradição para o Paraguai, a fim de ser julgado por estes fatos. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/tpi/stroeessner.html Consulta em: 16 de maio de 2010.�

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(Brasil e Argentina), tirando proveito da disputa entre esses países com relação ao

Paraguai. E ainda, o alinhamento com os Estados Unidos, uma descrição da conjuntura

internacional que não mudou a cultura política paraguaia, mas proporcionou novos

elementos para o governo de Stroessner, em especial, o discurso anticomunista.

As constantes disputas políticas entre as várias correntes do Partido Colorado

permaneciam. Assim que Stroessner assumiu o poder, tinha como plano principal

centralizar o partido, visando anular a opinião de qualquer um que discordasse de seu

governo.

El llamado de Stroessner (para a centralização) no debe ser interpretado líricamente, ni como expresión de deseo ni como manifestación unitarista ingenua. En realidad, consciente del poder de ciertos círculos, sobre todo el epifanismo, necesitaba peremtoriamente mostrarse abierto a las otras corrientes, de modo que éstas pudiesen contrapesar a las dominantes. Se debe tener presente al evaluar la consigna, también, que el no tenía tradición de liderazgo político; de hecho era visto por propios y estraños como um jefe militar apolitico80.

Para estabelecer seu governo Stroessner, em princípio tratou de impor um

verticalismo partidário, ou seja, de estabelecer uma filiação em massa à sociedade

paraguaia, deixando como única via legal, nesse primeiro momento, pertencer ao

Partido Colorado. Com isso, colocou nas fileiras de seu partido todos os setores que

poderiam de alguma forma colaborar ou ameaçar a manutenção da ditadura. Aníbal

Miranda refere-se a esse processo que chamou de coloradezación da seguinte maneira:

En una primera etapa se dio para militares, policias e demás funcionarios de la administración pública. El copamiento de la sociedad civil se produjo por medio de la afiliación subsiguiente de docentes y magistrados, contratistas y proveedores de reparticiones estatales, mixtas y municipales, comerciantes obreros y campesinos.81

���������������������������������������� �������������������80 PAREDES, Roberto. Stroessner y el stronismo. Asunción/Paraguay; Servilibro, 2004, p.43. 81MIRANDA, 1992, p.149.�

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Dentro deste processo, havia descontentes com essa questão da centralização do

partido, entre eles citamos o nome de Mendez Fleitas. Atuante político, Fleitas contava

com o apoio de fileiras importante no interior do partido, além disso, tinha bastante

influência dentro dos aparatos policiais.

Vale lembrar, que este personagem havia participado do governo de Federico

Chavez e dele vinham às medidas que colocaram o Paraguai mais próximo da órbita

política Argentina, que naquele momento não parecia ser a solução mais apreciada por

Stroessner, que aparecia como um simpatizante do Brasil.

Um fato importante no cenário político do Cone Sul aconteceu para que o

governo de Stroessner pudesse afastar Mendez e sua “má influência”. Em 1955, a

relação de Stroessner com os militares argentinos ficou mais difícil, o que dá início a

isso é o asilo concedido a Juan Domingo Perón, que acabava de ser deposto do governo

da Argentina.

Dentro do Paraguai, o que nos parece é que agora o governo de Stroessner teria

que trabalhar com duas questões para conseguir nesse momento estabilizar a situação

política e por fim conseguir de fato a sonhada centralização do partido. A princípio teve

que gostando ou não, conceder asilo a Perón fato que muito se deve a simpatia do setor

colorado que se alinhavam as idéias de Mendez Fleitas, a outra seria agradar os novos

donos do poder argentino.

As idéias de Mendez Fleitas segundo documento do Centro de Informações do

Exterior (CIEX) caracterizavam-se como um “nacionalismo não ortodoxo e na linha

internacional aparecia como fervente admirador de Juan Perón” 82. Como vimos isso

não interessava nada ao governo de Stroessner que a algum tempo era crítico a

dependência com a Argentina e ainda trazia problemas com o governo desse país; sobre

o desdobramento disso assevera Alfredo da Mota Menezes:

O governo argentino mandou uma nota Stroessner pedindo que Perón fosse expulso do país. Imediatamente após a nota a pressão econômica sobre o Paraguai começou quando navios argentinos foram proibidos de ir para Assunção e os navios paraguaios começaram a ter problemas no porto de Buenos Aires83.

���������������������������������������� �������������������82Centro de Informação do Exterior (CIEX). Informes n° 01 a 225. V. 09. Ano: 1969. Arquivo do Ministério das Relações Exteriores (AMRE). 83 MENEZES, 1987, p.50.

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Vemos que tudo isso colaborava para que Stroessner ficasse no poder por um

curto período de tempo, a exemplo de seus antecessores colorados. No entanto como

tratou com isso? Como de aspectos negativos, Stroessner conseguiu se manter no poder

por longos 35 anos?

Vale ressaltar que a partir da revolução de 1947, preferencialmente, o território

argentino era visto pela oposição paraguaia (liberais, feberistas e comunistas) como

sendo local seguro para abrigo. Por uma questão histórica (como foi mostrado no

primeiro capítulo) esses partidos e também uma parcela do coloradismo, dividiam suas

opiniões entre alinhar-se ao Brasil ou a Argentina. Com isso, a cada momento em que

trocavam os governos, uma massa de exilados procurava se organizar fora do Paraguai,

já que, como vimos, faz parte da cultura política desse país um só partido gerir todo o

governo, procurando sempre eliminar qualquer oposição. A prática do exílio tornou-se

uma constante e apresenta antecedentes no século XIX, mas, tomou corpo durante o

século XX com a ditadura de Stroessner, no decorrer de nossa narrativa poderemos ver

a importância destes exilados.

O setor militar na sua maioria, do qual Stroessner fazia parte, entendia que

deveria se estabelecer novas relações, em especial com o Brasil. Ao assumir o poder o

que Stroessner pretendia era:

Construir uma alternativa que ligasse o Paraguai, através, por exemplo, de uma rodovia, a outro porto no Atlântico, e o libertasse da secular servidão imposta por Buenos Aires. Para tanto ele não hesitou em jogar com a carta do Brasil, cujo processo de industrialização, tomando vigoroso impulso, contrastava com a relativa estagnação econômica da Argentina e modificava fundamentalmente a correlação na América do Sul 84.

Precavido ao jogo político, Stroessner e seus correligionários, agiram para que

essa situação se transformasse em pontos positivos para sua manutenção e consolidação

no poder. Primeiro começou a pressionar Perón para que abandonasse o Paraguai,

porém de “maneira bem suave, Perón passou a viver em uma cidade do interior,

Villarrica, e em 2 de novembro de 1955 abandonou o país”85. Com isso mostrava ao

novo governo argentino que não apoiava nenhuma articulação de Perón ou de grupos

peronistas para que pudessem proferir um contra golpe partindo de território paraguaio.

���������������������������������������� �������������������84 BANDEIRA, 2003, p. 282. 85 MENEZES, 1987, p.50

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Por outro lado, apontava para o Partido Colorado a necessidade da centralização,

primeiro porque lembrava que o território argentino podia ser palco para oposicionistas

se organizarem, o que colocou Mendez Fleitas em maus lençóis frente ao partido e

segundo, porque os líderes dos outros partidos estavam exilados na Argentina, o que

abria espaço para acusar Mendez Fleitas de traidor, colocando a possibilidade que este,

pudesse estar em contato com os oposicionistas, que a partir de agora eram colocados

como pró-argentina assim como Fleitas. A partir disso Fleitas teve que se exilar no

Uruguai, mas sua expulsão estava sendo cogitada há mais tempo. O tema da remoção de

Mendez Fleitas do Partido Colorado havia sido discutido em reuniões da junta de

governo em várias ocasiões desde seu exílio em fevereiro de 1956, mas sempre se

levantavam vozes opostas que por esta razão contribuía para fazer um mártir esse

homem aos olhos das bases coloradas86.

Eliminando a possibilidade de Fleitas crescer ainda mais dentro do partido,

Stroessner aproveitou-se de outro episódio (o que proibia os navios argentinos de

trafegar para Assunção e os problemas dos navios paraguaios em Buenos Aires),

mostrando que para se desenvolver o Paraguai necessitava de novos caminhos,

indicando a aproximação com o Brasil como alternativa para a resolução desse impasse.

Neste sentindo, a administração de Stroessner começava a identificar elementos

que poderiam legitimar sua estada no poder. No entanto:

Com a saída de Méndez Fleitas, Stroessner provou ser mais duradouro no poder do que originalmente os colorados haviam suposto. Mas sua posição não era completamente segura, pois os democráticos ainda sonhavam com o retorno ao poder e estavam determinados a ganhar novamente o governo para o partido. Na prática, eles ainda eram a maior facção com representação na Junta de Governo, dentro do Congresso e no próprio gabinete87.

O governo de Stroessner resolveu fortalecer a facção mais radical do Partido

Colorado, os guionistas. Na figura de Edgar Ynsfran, essa parcela do partido, voltou ao

poder (de onde tinha sido deslocados no governo Chavez). Ynsfran foi guindado a

Ministro do Interior e os Guion Rojos ficaram responsáveis pelo comando da polícia,

estas avaliações datam do ano de 1956.

���������������������������������������� �������������������86 Despacho do Serviço Exterior, n°227, 13 de janeiro de 1958. Departamento de Estado, Washington. In: MIRANDA, Anibal. Partidos Políticos y autoritarismo en Paraguay. El Lector, Asunción; 1988, p.84. 87 SILVA, H. 2007, p.55.

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Stroessner ainda não tinha alcançado todos os seus objetivos, mas pelo menos,

ganhava tempo para realizar seus planos. O Partido Colado não estava totalmente em

suas mãos, ainda tendo que lidar com correntes discordantes, mas a cada dia que

passava os líderes que mais poderiam oferecer algum perigo ao seu regime eram

neutralizados. No entanto, na política interna, estava trabalhando para estabelecer seu

modo de governar, estruturando seu poder e as forças que compunham com ele. Por

outro lado, atento a conjuntura internacional e as melhores relações que poderia

estabelecer, Strossner procurava novos apoios. Em princípio o Brasil aparecia como o

parceiro ideal. A sociedade entre Brasil e Paraguai nesse período contribuiu muito para

que se construísse uma visão positiva da ditadura de Stroessner.

2.3-Política externa latino-americana: utilização das disputas Brasil-Argentina na

fixação do regime

Desfrutando de certa estabilidade política, agora o governo de Stroessner

trabalharia para reaproximar-se do Brasil, relações que haviam ficado estremecidas

desde o episódio da Guerra com o Paraguai. Para isso, nomeou Raul Sapenã Pastor (que

havia sido embaixador do Paraguai no Brasil) como o novo Ministro das Relações

Exteriores. Segundo Alfredo da Mota Menezes “essa aproximação irá trazer no futuro

aquilo que Stroessner realmente desejava: um novo pulmão econômico que poderia

ajudar o Paraguai a se livrar de sua histórica dependência para com a Argentina” 88.

A referência a um “outro pulmão” indica a necessidade de haver novo meio que

não fosse pelo Rio de la Plata, uma rodovia por exemplo, que ligasse o Brasil ao

Paraguai. Desde janeiro de 1956, os paraguaios, tinham um porto franco no Brasil, que

era o de Paranaguá, no Paraná.

Em 1954, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, havia autorizado a

construção da estrada que passaria por Coronel Oviedo a Puerto Franco. Para a

concretização da obra, foi preciso que o Brasil a financiasse. No decorrer do governo

Kubitschek outras parcerias iriam mostrar essa reaproximação com o Brasil, a exemplo

de financiamento de estudos sobre o aproveitamento do potencial hidroelétrico

compartilhado por ambos na Bacia do Prata. No entanto para que a ligação definitiva

���������������������������������������� �������������������88 MENEZES, 1987, p.50

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entre os países acontecesse, era preciso que se construísse uma ponte para ligar os dois

países.

Em 1956 em um ato simbólico, reuniram-se no lugar aonde a ponte (que viria ser

chamada de Ponte da Amizade) deveria ser construída Juscelino Kubitschek e Alfredo

Stroessner, durante o período Kubitschek (1956-1961) as relações entre Brasil e

Paraguai se estreitaram:

Con la ruta al Este y con el puente sobre el río Paraná (...), obras financiadas por el gobierno instalado em su recientemente nueva capital (do Brasil), Brasília, Stroessner cambió el tablero geopolítico del Paraguay. Ya no tenía un solo horizonte, una única boca de salida al resto del mundo: la Argentina, sino que abrió otra puerta que prometía nuevos destinos: el Brasil 89.

No ano seguinte em 1957, vários acordos continuaram sendo estabelecidos entre

o Brasil e o Paraguai:

Em fevereiro desse ano, foi determinado o início das obras da rodovia Concepcíon-Pedro Juan Caballero; em setembro, Stroessner firmou acordo para a construção do projeto hidrelétrico no rio Acaray, e no mesmo mês começaram as obras da ponte internacional sobre o rio Paraná, na altura de Foz do Iguaçu. Nesse mesmo ano, o Brasil firmou tratados com o Paraguai na área cultural, com objetivo de promover atividades de teatro, feiras, literatura, artes plásticas, ao mesmo tempo em que abriu uma Missão Cultural em Assunção e construiu o Colégio Experimental Paraguai-Brasil, que deveria trabalhar com o Instituto Cultural Brasil-Paraguai, localizado em Assunção90.

Com isso o Paraguai caminhava para transitar da histórica órbita Argentina onde

gravitara durante décadas, para a brasileira. Stroessner preocupava-se nesse momento

com seus opositores que estavam asilados em território argentino e com os contatos que

mantinham dentro do Paraguai, havia acusações que a República Argentina tinha a

intenção de devolver o governo ao Partido Liberal, que historicamente preferiu a

Argentina que o Brasil. Sobre isto afirma Luiz Alberto Moniz Bandeira:

Evidências também havia, aumentando-lhe ainda mais as apreensões (de Strossner), de que realmente as autoridades militares daquele país (Argentina), integrantes do chamado “grupo dos gorilas”, facilitavam

���������������������������������������� �������������������89 FARINA apud SILVA, R. Brasília, 2006, p.61. 90 SILVA, R. Brasília, 2006, p.65.

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ou eram coniventes com o contrabando de armas através da fronteira para os inimigos do regime91.

Parece-nos que as preocupações de Stroessner não eram infundadas, segundo

Raul Peña que era o chanceler interino, em confissão ao encarregado dos negócios do

Brasil, José Jobim; as autoridades argentinas não tolerariam um governo que desse

andamento aos projetos de ligação rodoviária do Paraguai com o Brasil92.

Nesse momento, os Estados Unidos procuravam uma cooperação com a

Argentina visando através da influência deste país sobre o Paraguai, à exploração do

petróleo na região do Chaco paraguaio, crença que existia nessa época. As empresas

norte-americanas tinham forte alcance nesta atividade na Argentina, no Paraguai e na

Bolívia e procuram cercar o Brasil mantendo-o distante. O motivo desta preocupação

era que a Pegasa-Petróleo Guarany S.A, subsidiária da empresa brasileira Fiduciária

Fluminense S.A, obtiveram grandes concessões no Paraguai durante esse período.93

O Brasil então resolveu intensificar sua aproximação com o Paraguai; A

estratégia que sugeria para as relações com o Paraguai envolvia quatro frentes de ação:

o aproveitamento do petróleo, a industrialização do Paraguai, a conclusão das ligações

rodoviárias e o incremento do comércio bilateral94.

Além do que já foi descrito, em 1958 no Paraguai, foram realizadas as eleições

para eleger seu presidente. Muitas eram as preocupações para o governo de Stroessner,

que tinha de se atentar com a política interna e também com a relação que estava se

estabelecendo com seus vizinhos. Segundo Albert E. Carter, primeiro secretário da

embaixada. No domingo 9 de fevereiro, o general Alfredo Stroessner foi reeleito

Presidente do Paraguai pelo período de 1958-1963. A eleição, de acordo com a

Constituição paraguaia, foi realizada seis meses antes de começar o novo período

presidencial no próximo 15 de agosto, 421 aniversário da cidade de Assunção. Os

paraguaios na sua grande maioria, incluindo os mais fanáticos Colorados, não

demonstraram nenhuma expectativa pela eleição95.

A falta de expectativa pelas vias legais não deixava alternativa para os que

discordavam do regime de Stroessner, senão a de organizar-se fora da estrutura política

���������������������������������������� �������������������91 BANDEIRA, 2003, p. 281. 92 CERVO, 2001, p.199. 93 BANDEIRA, 2001, p.285. 94 CERVO, 2001, p.201. 95 Despacho ao Serviço Exterior, N°272; 11 de fevereiro de 1958. Departamento de Estado, Washington. In: MIRANDA, Anibal. Partidos Políticos y autoritarismo em Paraguay. El Lector, Asunción; 1988 p.80.

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que o Paraguai vivia naquele momento. Stroessner, mesmo com os problemas que vinha

enfrentando com a Argentina, tinha fortalecido suas relações com o Brasil e ainda

conseguiu anular seus principais opositores, e que agora encontravam-se fora do país

dificultando uma ação mais eficiente contra a ditadura de Stronessner.

Uma das principais demonstrações de descontentamentos com o regime se

materializaria com a Greve Geral de 1958. Em 9 de julho deste ano, a Confederação

Paraguaia dos Trabalhadores (CPT), apresentaram ao governo um pedido de aumento

do salário mínimo. Nas primeiras manifestações desta greve, depois de prolongadas

negociações o governo concedeu um aumento de vinte por cento. Mas, segundo Roberto

Paredes:

O conflito que desembocou na greve geral de 1958, se deu em torno de um aumento salarial solicitado pelos trabalhadores, mas o movimento não teve um caráter meramente reivindicativo, pois estava fortemente condimentado com ingredientes políticos de alta potência96.

As forças que estavam fora do país enxergavam nessa mobilização a chance de

derrubar Alfredo Stroessner do poder. Os colorados que ainda simpatizavam com

Mendez Fleitas, os ativistas comunistas e febreristas, em geral todos percebiam uma

chance para voltar a influenciar na cena política.

Nesse momento a CPT reunia 300 sindicatos entre eles os mais estratégicos para

a economia do Paraguai. Os trabalhadores da Liga de Obreros Marítimos, dos sindicatos

das empresas tanineras (exploradoras do quebracho), os ferroviários e os trabalhadores

dos frigoríficos.

Stroessner asumió dos actitudes diferentes en el transcurso de la conversación: primeramente, trató de intimidar a los dirigentes sindicales, pero como se mantivieron firmes en sus reclamos, después pasó a adoptar un tono conciliador, prometiendo inclusive, cambios políticos, entre los cuales la vuelta del líder febrerista, Rafael Franco, en esse entonces em el exilio97.

Em outubro de 1958, o governo paraguaio tornou públicas informações que

haviam conseguido acerca de incidentes ocorridos nas fronteiras entre o Paraguai e a

Argentina.

���������������������������������������� �������������������96PAREDES, Roberto. El sindicalismo después de Stroessner. Roberto Paredes, Asunción/PY, 2002, p.16. 97 PAREDES, 2002, p.20.

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Um indivíduo chamado Américo José Perez Gris revelou a policia do Paraguai a existência de um complô de amplas proporções, visando a eliminar não só Arturo Frondizi, quando de sua visita oficial a Assunção, como também o próprio general Alfredo Stroessner. E informou, ao mesmo tempo, que autoridades militares da Argentina estavam a promover o contrabando de armas, através da fronteira entre os dois países, para militantes da oposição ao domínio do Partido Colorado98.

O governo do Paraguai não demorou a pedir que o Brasil mediasse esta situação.

Entendia que seu governo era mais vantajoso aos interesses brasileiros naquele

momento, e assim especulava entre a rivalidade argentina e brasileira em prol da

manutenção da ditadura:

No Paraguai, Stroessner [...] usou aquele apoio brasileiro como uma arma para intimidar a oposição política. Elpidio Yegros, vice-presidente do Partido Revolucionário Febrerista disse, de certa feita, que os discursos de Stroessner [...] estavam sempre ameaçando a oposição com drástica intervenção do poderoso vizinho. Os Colorados, sentindo o apoio do Brasil, passaram a usar o nome como elemento para dissuadir qualquer tentativa da oposição em tomar o poder pela força99.

Inseridos nessa conjuntura, houve uma grande greve dos estudantes pedindo a

destituição de alguns ministros e maior participação política, ainda, um grupo de

opositores que se mantinha próximo ao governo de Stroessner, em março de 1959,

exigiu a renuncia do governo e o fim do Estado de Sítio. Dentro do partido oficial se

organizou uma corrente com o nome de Movimiento Popular Colorado (MOPOCO).

Entoando o lema “Liberdade dentro e fora do partido”, essa tendência conseguiu nuclear 36 dos 57 deputados da Câmara. Quando em maio novas demonstrações contra o alto custo de vida e a repressão converteram-se em verdadeiras batalhas campais nas ruas, os deputados emitiram uma declaração de repudio a violência empregada contra os estudantes e fizeram responsável dela o chefe da policia100.

Nesse momento crítico, a priori o governo de Stroessner primeiro tratou a

questão da greve, em um marco das negociações o chamado Congresso normalizador,

onde Stroessner aparentemente cedia às reivindicações da CPT deixando que

���������������������������������������� �������������������98 BANDEIRA, 2003, p. 281.

99 MENEZES, 1987, p.61. 100 ARCE, 1977, p.366.

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integrassem a nova diretoria da central cinco social-cristãos e cinco febreristas. Eram

eles: Efigenio Fernández, Raimundo Pizzurno, Antonio Román, Vicente Machuca e

Augusto Maidana, os febreristas: Fortunato Osorio, Albino Arriola, Generoso Vivero e

José Ibarrola Sosa101.

A resposta sobre a mediação brasileira não demoraria a vir. O Brasil não podia

abandonar Stroessner nesse momento, mas também não podia comprar uma briga com a

Argentina, com a qual desenvolvia excelentes relações. O chanceler Horácio Lafer

viajou a Assunção com o intuito de fortalecer a imagem de Stroessner. Por outro lado,

instruiu a embaixada brasileira em Buenos Aires, que transmitisse ao governo

Argentino que não acreditavam em um possível apoio do país aos acontecimentos que

estavam ocorrendo no Paraguai.

Dessa ação diplomática os seguintes pontos foram acordados:

1°) a Argentina e o Brasil reafirmaram o princípio de não intervenção; 2°)Comprometiam-se a reprimir, dentro das respectivas fronteiras, quaisquer movimentos subversivos destinados a eclodir em outro país, naquele caso o Paraguai; 3°)manteriam estrita vigilância nas suas fronteiras para evitar lutas armadas e transgressões fronteiriças;

Conseguido isso, Stroessner não demorou a deixar cair à máscara da legalidade.

Dissolveu o congresso, deportou opositores e decretou o Estado de Sítio, que havia

levantado pouco antes pelas pressões sofridas. Stroessner a partir daí conseguiu a

fixação da política do Partido Colorado, sob seu comando, utilizou muito bem o apoio

brasileiro para uma política de pressão sobre a Argentina.

O Estado de Sítio foi instituído como medida de segurança e prevenção e

poderia ser estabelecido somente se “houvesse uma ameaça grave de perturbação

interior ou conflito exterior (artigo 52, carta política, ano 1940)” 102. Stroessner não

demorou a reivindicar isso em seu favor:

Durante su implantación se tuvo muy poca libertad de acción,pero hubo mayor seguridad social en las calles. [...] las fuerzas policiales controlaban mejor las actividades nocturnas; casi no había delicuentes, evitándose de este modo intentos de robô, asaltos a mano armada, y en las noches se dormia mejor y con tranquilidad. Por el control de las fuerzas policiales y militares, el funcionamento de esta medida aseguraba el movimiento de personas, y sobre todo al gobierno de

���������������������������������������� �������������������101 PAREDES, 2004, p.78. 102 YORE, 1992, p.181.

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posibles rupturas, por las acciones de los revolucionarios que se encontraba dentro del territorio nacional y fuera de las fronteras 103.

Como podemos ver segundo essa citação, as medidas que o regime vinha

tomando, agradava uma parcela da população. No Brasil, por exemplo, não é raro que

escutemos que os tempos dos militares eram melhores. No Paraguai, uma população

que havia se habituado aos conflitos internos, a instabilidade política e econômica,

qualquer governo que trouxesse o mínimo de melhorias cairia nas graças da população,

isso explica como Stroessner conseguiu que as fileiras do Partido Colorado,

aumentassem vertiginosamente, uma ampla base social que contava com os campesinos

pobres e também com as classes baixas das cidades:

Por necessidade de segurança, para obter benefícios ou por acreditar que estavam participando da vida política do país, milhares de pessoas filiaram-se ao Partido Colorado. Este, na medida em que detinha o poder de distribuição dos cargos públicos e que desenvolvia uma prática assistencialista num país pobre e de tradição autoritária, com uma certa facilidade, exercia através de sua estrutura, o controle sobre a população104.

Isso explica em parte, que os intentos de derrocar a ditadura de Stroessner em

1959 e depois na década de 1970, estes, comandados pela oposição exilada na

Argentina carecessem de um maior apoio popular, mas não só através da simpatia pelo

governo se deu esse controle sobre a população, para isso instalou-se um sistema de

violência e também de espionagem por todo o país. Conhecidos como pyragués,

(espiões com pés de pluma traduzido da língua guarani), colaboravam denunciando

qualquer um que se opusesse ao stronismo, com isso, fazia um contraponto em sua

política, oferecia segurança aos que estavam ao seu lado e refreava qualquer um que

apontasse ao contrário.

É usado para vigiar pequenos funcionários, conversas nas mesas de bares, fiscalizar o comportamento dos vizinhos, estar como uma ameaça constante nas redações dos jornais, amedrontar professores, etc. [...] o pyrague transformou-se num instrumento psicológico da ditadura. [...] O medo ao pyrague impede que os paraguaios conversem livremente. No trabalho, por exemplo, a ação do pyrague

���������������������������������������� �������������������103BENITEZ, 1998, p.34. 104 MORAES, 2000, p.58.

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foi tão perfeita como intimidação psicológica, que os companheiros não trocam idéias. E, quando falam, um desconfia do outro105.

Assim, o stronismo contando com o apoio de uma parcela significativa da

população (em parte por seu discurso de segurança e por outra a reprimindo) e também

com sua boa articulação com seus vizinhos mais expressivos, procurava dar passos

ainda maiores na fixação do seu regime, principalmente porque não se havia extinguido

a oposição além das fronteiras paraguaias. As movimentações de agrupações armadas106

que trariam em si a inspiração da Revolução Cubana (1959), (que gradativamente

assumiu uma perspectiva de cunho comunista), abriu espaço para Strossner alinhar-se

com o discurso anticomunista estadunidense, com o lema: “os que se vão do Paraguai,

não querem o Paraguai”, agora qualquer opositor seria taxado como comunista.

Os fatos descritos datam dos dois primeiros mandatos de Stroessner, o primeiro

de 1954-1958 e o segundo de 1958-1963, dentro de uma cultura política que a priori o

comunismo não aparecia como um elemento dessa cultura, onde os atores sociais que a

partilhavam estavam mais preocupados em se estabelecer no histórico cenário de

instabilidade política do Paraguai. Grosso modo, os elementos utilizados para a

manutenção do regime stronista não mudaram drasticamente, mas agora a apropriação

do discurso apregoado pelos EUA, contribuiria ainda mais para que Stroessner pudesse

continuar no poder. Vejamos como isso aconteceu.

2.4-Conjuntura internacional e o Paraguai no contexto da Guerra Fria

Das duas Guerras Mundiais emergiram as Nações que iriam disputar com seus

ideários o cenário político do globo. Com a Primeira Guerra Mundial ocorrida entre os

anos de 1914 e 1918, os Estados Unidos da América (EUA) consolida-se no panorama

internacional como a mais importante potência econômica. Com os países europeus, a

exemplo de Inglaterra e França, sofrendo com a perda paulatina de sua influência sobre

a política global, é possível perceber o crescente fortalecimento da nação estadunidense

na política mundial. O período da Segunda Guerra Mundial aponta de maneira mais

clara o caminho que a nova ordem política estava tomando e que iria desembocar no

antagonismo capitalismo x socialismo. Segundo o autor Luis Fernando Ayerbe:

���������������������������������������� ���������������������(CHIAVENATO, Julio José Julio José. Stroessner: retrato de uma ditadura. -São Paulo: editora brasiliense, 1980, p.16.�106 Falaremos sobre as guerrilhas no terceiro capítulo.

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A Segunda Guerra Mundial vai confrontar velhos rivais europeus, com exceção do Japão. Os Estados Unidos e a União Soviética, que não aparecem inicialmente como fator de peso na dinâmica do conflito, terão participação decisiva na sua definição em favor dos aliados. A partir de 1945, esses dois países passaram a exercer a liderança na política internacional.107

O mesmo autor descreve o desenvolvimento dos acontecimentos da Segunda Guerra:

Se o pós-Primeira Guerra Mundial traz como grande fato novo o surgimento do primeiro Estado socialista, o pós- Segunda Guerra Mundial nos defronta com a existência de um sistema socialista mundial formado por vários países da Europa Ocidental libertados da presença nazista graças à intervenção do exército soviético. A esses países se somam em pouco tempo, Vietnã do Norte, China e Coréia do Norte.108

Analisando o que foi descrito, podemos perceber que as disputas já não se

caracterizam como foi no começo do século XX, confrontos que envolviam os

interesses de uma série de países almejando uma partilha do mundo. Neste momento o

que está posto, é um disputa entre duas superpotências (EUA e URSS) e que além de se

diferenciarem enquanto sistemas políticos têm uma visão díspar de todo o conjunto

social.

Após o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o panorama

internacional foi marcado com a chamada Guerra Fria, período caracterizado pelo

constante confronto de ideários entre duas superpotências mundiais (Estados Unidos X

União Soviética) disputando áreas de influência para suas políticas. A Guerra Fria, além

de estabelecer um novo momento no jogo do político leva o mundo ao mais visível

choque ideológico, levando por conseqüência a uma disputa de diferentes

representações da realidade.

De forma muito simplista esse seria o resumo do que foi aquele momento, mas,

no entanto, o que nos parece é que existiam como pano de fundo questões muito mais

densas para se considerar do que o fato da corrida armamentista e do medo de um

confronto bélico entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), aspectos que

estão ligados a cultura e a política e muitos outros fatores. Esse choque entre culturas

diferentes se materializa em desigualdades e em embates decorrentes da imagem que os

���������������������������������������� �������������������107AYERBE, Luis Fernando. Estados Unidos e América Latina: A construção da hegemonia, São Paulo: Editora UNESP, 2002, p. 63-64. 108 Idem, p.64.

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vários atores sociais constroem de si, de como querem ser vistos pelos outros e como vê

esse outro.

Para expandir seu ideário e assim poder introduzir o direcionamento pretendido

para o restante do mundo, os EUA, sob a administração do presidente Harry S. Truman

(1945-1953) tem se inicio uma maior preocupação com o alargamento das idéias

comunistas; em 1947 a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca

(TIAR) caracteriza o que foi comentado, neste havia uma proposta de auxilio mútuo

entre as nações americanas em caso de qualquer agressão. A respeito, citamos a

historiadora Ceres Moraes; que descreve que como conseqüência deste:

[...] foram assinados vários tratados bilaterais de segurança mútua, principalmente a partir da década de 50. Por esses acordos, os Estados Unidos passavam a fornecer equipamentos e treinamento a militares latino-americanos, o que lhe permitia intervir em muitos desses países, tanto de forma direta como indireta, toda vez que sentiam seus interesses ameaçados [...] 109

Estabelecendo outras preocupações para a agenda de segurança, as políticas

propostas por esse novo arranjo serão administradas por um novo organismo chamado

Conselho de Segurança Nacional (CSN). Faziam parte deste o presidente e vice,

assessores especiais, o Pentágono, representantes das três armas e a Central de

Inteligência (CIA). Dentro deste contexto formula-se a Doutrina de Segurança Nacional

(DSN).

Nas palavras da historiadora Sandra Jatahy Pesavento as “idéias não têm raízes e

viajam no tempo e no espaço, proporcionado sempre novas apropriações” 110(ou são

levadas). Em suma, o que ocorreu no Cone Sul foi uma apropriação tática de discursos

para resolver problemas políticos internos.

���������������������������������������� �������������������109 MORAES, 2000, p.68. 110 PESAVENTO, Sandra. Paraísos cruzados: Diálogos do encantamento e do desencantamento do mundo (Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda). Disponível em: http/www.unicamp.br/siarq/sbh/paraísos_cruzados.pdf. Acesso em: 20/08/2009. p. 02.

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Estrategicamente, para manter estável em sua posição política, Stroessner

alinhou-se ao discurso estadunidense anticomunista, denominado Doutrina de

Segurança Nacional. Assim nos descreve o autor Joseph Comblin:

A Doutrina de Segurança Nacional, colocada acima da segurança pessoal, expande-se por todo continente latino-americano [...]. Inspirada nela, os regimes de força, em nome da luta contra o comunismo e a favor do desenvolvimento econômico, declaram guerra a todos os que não concordam com a visão autoritária da organização da nova sociedade. [...] as garantias individuais são suprimidas [...] a o abuso do poder do Estado, as prisões arbitrárias, as torturas, a supressão da liberdade de pensamento111.

O caso paraguaio, muito tem a ver com a situação vivida na América Latina dos

anos 50 do século XX. Para melhor descrever a circunstância, faço referência ao

historiador Enrique Serra Padrós:

[...] uma conjuntura prematura se formos pensar em termos de concatenação com os golpes que, no Cone Sul, impuseram as ditaduras de segurança nacional no transcorrer dos anos 60 e 70. De qualquer forma, não podemos esquecer que essa conjuntura da primeira metade dos anos 50 é marcada por fortes movimentos de direita que concluem em golpes e intervenções, como no caso do fim da Revolução Boliviana (1952), da violenta interrupção do programa de reformas que vinha sendo aplicado na Guatemala de Jacob Arbenz (1954) (com particular participação dos Estados Unidos e da empresa multinacional United Fruit) assim como dos golpes que forçaram a saída de cena de Getúlio Vargas, no Brasil (1954) e de Juan Domingo Perón, na Argentina (1955). Portanto, colocada nessa perspectiva, a ascensão de Stroessner no Paraguai, independente das questões específicas da política interna do país, está emoldurado por uma dinâmica de instabilidade que se projeta sobre a região, particularmente pelas pressões dos interesses dos EUA assim como pela disputa de influência entre Argentina e Brasil (envolvendo fatores econômicos – agrícolas e industriais, como processamento de algodão ou de sementes oleaginosas, e frigoríficos - e geopolíticos)112.

���������������������������������������� �������������������111 COMBLIM, Pe. Joseph. A ideologia de Segurança Nacional, o poder militar na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Civilazação Brasileira, 1978.p.16. 112 PADRÓS, Enrique Serra. O Paraguai de Stroessner no Cone Sul da Segurança Nacional. Disponível em:http://www.eeh2008.anpuhrs.org.br/resources/content/anais/1212375776_ARQUIVO_ANPUHtextoEnriqueSerraPadros.pdf. Consulta em: 18 de agosto de 2009.

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A citação é longa, mais extremamente necessária para melhor compreender a

época da ascensão do stronato, que não estava desligada dos acontecimentos da

América Latina ocorridos nesse período. Sobre os regimes militares instaurados no

Cone Sul, Clóvis Rossi classifica o Paraguai como uma espécie de “precursor artesanal

dos regimes de Segurança Nacional” 113. Vale lembrar que só a partir da década de 1960

teve início a era dos regimes militares nos outros países sul americanos: no Brasil em

1964, na Bolívia no mesmo ano, no Uruguai e no Chile no ano de 1973 e em 1976 na

Argentina. Toda essa situação auxiliou na implementação de um governo ditatorial que

tinha como principal característica o cerceamento de direitos básicos, deixando uma

margem muito pequena para aquelas vozes que destoavam das medidas tomadas por

Stroessner.

2.4.1-O Paraguai nas décadas de 1960-1970

No entanto, não só o uso da força serve como sustentáculo a um regime de

cunho ditatorial, o discurso que apregoa a democracia é uma ferramenta utilizada por

esses governos, com Stroessner não foi diferente:

Neste terceiro mundo do ocidente, mesmo os ditadores mais rupestres preocupam-se com as boas maneiras democráticas. Os Trujillos, Somozas, Stroessners, e vários outros antes deles, fazem-se se eleger regularmente pelo povo de boa vontade114.

O que podemos perceber durante o que escrevemos até agora nesse trabalho, é

que o governo de Stroessner preocupou-se em construir toda uma imagem, que

legitimasse sua estadia no poder. Com o apoio brasileiro, conseguiu estabelecer um

discurso modernizador, que visava a melhoria da nação paraguaia, na visão da ditadura

progresso merecido, não tendo sido possível antes por ter sido subjugada

historicamente. Com isso, angariou o apoio de uma parte da sociedade, que viam avanço

no país durante o stronismo, conseguindo com isto, inflamar um sentimento nacional

paraguaio. Também havia conseguido estabilizar as relações dentro do Partido Colorado

���������������������������������������� �������������������113ROSSI, Clóvis. Militarismo na América Latina.São Paulo: Brasiliense, 1980, p. 37.�

114 ROUQUIÉ, 1984, p.48.

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expulsando seus opositores dentro e fora do partido e agora fechando o ciclo, levantava

a bandeira de proteção à nação contra a ameaça internacional, o comunismo.

No ano de 1963, Stroessner e o partido que comandava no Paraguai, permitiu

uma limitada abertura política, procurando assim dar uma fachada democrática ao seu

governo. A partir daí, um setor do Partido Liberal aceitou participar do teatro que seria a

próxima eleição. Apesar dos avanços que Stroessner havia empreendido:

A realidade do país seguia sendo perigosa [...] a densidade da população campesina e suas lutas reivindicativas eventualmente podiam transmutar as esporádicas lutas guerrilheiras, uma centelha, em uma verdadeira conflagração social. A camarilha de Stroessner compreendeu que em longo prazo, não bastava o aperfeiçoamento dos mecanismos repressivos115.

Neste período, segundo o autor Roberto Paredes, havia se realizado um censo

agropecuário, revelando que no país “existiam 141.000 unidades produtivas, da quais

mais de 100.000 eram estabelecimentos com menos de 10 hectares. E 2% dos

proprietários ocupavam mais de 90% das terras destinadas a produção agropecuária” 116.

A realidade campesina era bastante complicada, pelos dados podemos ver que

havia a existência de um grande número de pequenos produtores, com o agravante de

serem campesinos pobres e sem muitos recursos. As movimentações entre os

trabalhadores rurais aumentavam e com isso o estabelecimento de uma reforma agrária

o que não era nada interessante ao regime stronista, que nesse momento tinha muito a

perder.

Com o discurso de Paz e Progresso, Stroessner então deu início a um novo

processo de política agrária, criou o Instituto de Bienestar Rural, com o intuito de

diminuir as tensões nos campo, instituindo centenas de colônias agrícolas destinadas a

amenizar a situação campesina nas áreas mais povoadas.

���������������������������������������� �������������������115 ARCE, 1977, p.368. 116 PAREDES, 2004, p.109.

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En este sentido, se apuntó a la venta de tierras de acuerdo a las posibilidades de inversión de los compradores y de las conexiones políticas, cuyo objetivo constituyó la cooptación a favor del gobierno. Por otra parte, se destinaron tierras para la formación de colonias extranjeras mediante la asignación de grandes extensiones a empresas de capital extranjero117.

A “reforma agrária” do governo de Stroessner visava aumentar o número de

pequenos proprietários, lhes oferecendo um “cala boca”. As terras que o governo

oferecia eram em lugares distantes e não valorizados. No entanto a política de

Stroessner era estratégica; primeiro que dependia das possibilidades dos compradores,

que em sua maioria não tinham grande capital para investimento, segundo dependia

das conexões políticas que detinham, ou seja, favorecia aqueles que estavam na fileira

do Partido Colorado, e os que não estavam viam como alternativa para conseguir

alguma ajuda se filiar ao partido. Com isso, Stroessner vendeu a idéia que havia

avançado na questão agrária do país, no entanto, só mais tarde veríamos seu

verdadeiro interesse sobre essa questão:

Stroessner no olvido “estimular la participación extranjera en su proyecto de “reconstrucción nacional”. Nuevas concesiones se añadieron a las antiguas en la esferas de la producción ganadera, agrícola y petrolera. La supresión en 1967 de la cláusula del estatuto agrário, que impedía la venta de tierras en zonas de frontera seca a personas o entidades extranjeras, reveló las dimensiones del invitable proceso de absorción completa del Paraguay por los monopolios imperialistas y sus aliados brasileños118.

A medida para contornar o problema agrário do país deu-se, num momento que

mais uma vez existia alguma ameaça ao stronismo e no período em que Stroessner,

preparava-se para chamar eleições gerais. Esta ocorreu no ano de 1963, contando com a

participação de dois partidos, Colorado e Liberal, com isso Stroessner construía uma

���������������������������������������� �������������������117MORÍNIGO, José Nicolás. La matriz histórica del problema de la tierra en la sociedad paraguaya. In: Novapólis revista de estudios políticos contemporâneos. Edicion nº 10 agosto/diciembre 2005, p.07. Disponível em: http://novapolis.pyglobal.com/10/novapolis10.pdf Consulta em: 05 de abril de 2008.�

118 ARCE, 1977, p.369.

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imagem positiva dentro do Paraguai, mais também no exterior, a idéia de um país que

vivia sobre um regime democrático e caminhava para a estabilidade política, criando a

fantasia de avanços econômicos e sociais. Em fevereiro de 1963, os Liberais chamados

de “renovadores” lançaram a candidatura de Ernesto Gavilán, que foi derrotado nas

urnas, sobre a participação dos liberais nas eleições de 1963 assevera Pedro Venialbo

Alcaraz:

O desalento apoderou-se dos militantes mais ativos, quando os líderes exilados mais pragmáticos e moderados começaram a ganhar adeptos com a idéia de tentar um acerto com Stroessner. Ele (Stroessner) estava interessado em fomentar essa idéia, porque sabia que um país pacificado era mais fácil de governar que um país convulsionado. Assim, além de dar a seu governo uma imagem mais democrática no exterior, esperava incrementar a ajuda externa119.

Gavilán perdeu as eleições mais conseguiu como “prêmio de consolação” a

embaixada paraguaia em Londres. Mesmo com a derrota do pleito os liberais ganharam

vinte dos sessenta lugares no Congresso, o que definitivamente colaborou na

legitimidade do governo de Alfredo Stroessner.

O Partido Febrerista entendendo que também poderia voltar à legalidade, pediu

ao governo em 1964 sua reintegração política no Paraguai. Isso criou um racha dentro

do Partido. Os militantes mais antigos a exemplo de Rafael Franco concordavam em

retornar ao Paraguai e “disputar” o poder pelas vias legais. No entanto, nesse momento

o Partido Febrerista contava com um número expressivo de jovens militantes, que não

viam com bons olhos essa aliança com o stronismo.

De todos modos, la capitulación del Partido Revolucionario Febrerista en 1964 tuvo consecuencias internas tremendamente negativas, pues el partido se fracturó aún más, distanciándose sus cuadros más progresistas, que pasaron a impulsar la formación de

���������������������������������������� �������������������119AlCARAZ apud CARBONE, Alberto e SOTOMAYOR, Walter. Stroessner: anatomia de uma ditadura. Brasilia: Paralelo 15 editores, 1996, p.41.

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um Movimiento Paraguayo de Liberación, para desarrollar una línea de resistencia activa120.

No entanto, a maioria do partido e também seus quadros mais bem preparados,

preferiram voltar ao Paraguai e legalizar o partido. Em 1965, Stroessner então, pode

convocar eleições municipais, e contou com a participação de três partidos políticos;

Colorado, Liberal e Febrerista. Dando a oportunidade para que a oposição elegesse

vereadores, mais os deixando longe da presidência, cadeira qual não lhe interessava

passar adiante. Em documento da CIA Stroessner ganhou até elogios pelo modo que

vinha lidando com a política do país:

Através da manutenção da ordem política de maneira enérgica, Stroessner criou as condições em que ele poderia implementar um programa de reconstrução econômica em desenvolvimento e permitir a gradual liberação política. Um político decisivo e disciplinado, o Presidente Stroessner, [...], tornou-se líder nacional com um programa flexível e pragmático de paz, ordem, e desenvolvimento econômico que fez com que ganhasse uma popularidade raramente alcançada por um governante autoritário121. (tradução do autor)

Não é o foco desse estudo, mas cabe lembrar que em 1963, todo o esforço de

Stroessner em estreitar laços com o Brasil poderia ter desmoronado nos

desentendimentos ocorridos pela questão de Sete Quedas ou Salto del Guairá

localizadas no curso do Rio Paraná na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Relacionada

a uma questão de delimitação fronteiriça, os países se desentenderam pelos recursos

naturais partilhados e o potencial na geração de energia que esse oferecia. A negociação

sobre esse assunto começou com o Presidente do Brasil João Goulart, que em 1964 foi

deposto por um golpe militar e continuou sendo objeto de querelas entre a

administração de Stroessner e a ditadura militar brasileira.

Estes fatos colaboraram para que Stroessner pudesse fomentar ainda mais o

espírito nacionalista paraguaio, a administração de Stroessner deixou que a oposição

falasse livremente sobre o assunto (inclusive criticando sua administração), na verdade

���������������������������������������� �������������������120 PAREDES, 2004. P.113 121 Documento; Stroessner-Paraguai, relatório especial; análise semanal03/01/1968, desclassificado pela CIA em novembro de 2001. Disponível em: http://www.foia.cia.gov/browse_docs.asp Consulta em: 16/08/2010.

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o que o stronismo queria era promover uma histeria nacional122. Em 1966, o Brasil

lançou a proposta que ambos os países explorassem o potencial energético de Sete

Quedas (que mais tarde na década de 70 se concretizaria com a construção da Usina de

Itaipu)123. Uma síntese sobre isso é oferecida por Menezes:

Para o governo de Stroessner, o problema se afigurava difícil, pois dava oportunidade para ser criticado interna e externamente; no final, porém os fatos sugerem, foi lhe até benéfico. Agora ele tinha todo o país consigo, brigando por uma causa nacionalista e também mostrava ao Brasil e outros vizinhos uma forte resistência contra qualquer domínio imperialista. [...] O governo, os partidos oficial e de oposição, a imprensa, a Igreja Católica, estudantes, intelectuais, professores e também o homem comum, todos se puseram de acordo e juntos de uma causa nacionalista124.

Esse episódio foi tão importante para Stroessner, que mostra disso é o aceite dos

partidos de oposição em participar da Assembléia constituinte de 1967. A Constituição

de 1940 permitia que ao presidente exercesse apenas dois mandatos, o Partido

Colorado, não hesitou em trabalhar com a idéia de que Stroessner havia cumprido dois

mandatos e não três, alegando que o período que correspondia aos anos de 1954-1958

tinham sido apenas para cumprir o mandato de Federico Chavez, deposto pelo golpe.

Com isso, Stroessner havia conseguido mostrar que não havia exercido três mandatos e

sim dois períodos consecutivos de 1958-1963 e 1963-1968. No entanto a Constituição

de 1967, redigida pelo Partido Colorado, propunha que o presidente pudesse se reeleger

enquanto fosse à vontade do povo paraguaio. A Constituição de 1967 foi promulgada

em 25 de agosto, o que permitiu que Stroessner pudesse concorrer nas eleições de 1968

e sair vitorioso, continuando a frente do país.

La participación de los partidos en la Convención Nacional Constituyente y en las elecciones generales de 1968 no fue resultado de la creencia ingenua en un proceso de eventual apertura, ni fue resultado de una nueva estrategia. Fue la admisión ante el stronismo

���������������������������������������� �������������������122MENEZES, 1987, p.79.

124 Idem, p.85.

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de la catastrófica derrota experimentada en los años recientes. Los partidos concurrieron entregados, arriando sus banderas de lucha, con el cuento de que se traba de una “participación condicionada”125.

A década de 60 foi sem dúvida quando Stroessner pode finalmente consolidar

definitivamente o stronismo e a partir daí levá-lo ao seu apogeu. A relação com os

militares no Brasil vinha se desenvolvendo, os partidos de oposição já haviam sido

cooptados para a farsa, que Stroessner chamava de “democracia”. O crescimento e o

apoio que Stroessner tinha dentro da sociedade paraguaia (por meio de coerção ou de

simpatia) eram de índices altíssimos. Stroessner com essas medidas e alicerçado sobre o

poder militar e o controle do Partido Colorado, podia legitimar sua ditadura,

comparando-se aos grandes ditadores Francia e o Lopez, utilizando-se da cultura

política existente no Paraguai.

Procurava construir junto ao povo a imagem de que ele, da mesma forma que os grandes homens do passado, tinha a missão de conduzir o Paraguai ao seu devido lugar de destaque no “concerto das nações”. Buscava ser ele próprio visto como herói e mito, presente em todos os momentos da vida nacional126.

A imagem que Stroessner havia construído, não legitimava seu poder só

internamente e não somente com seu vizinho Brasil. Como dissemos o alinhamento com

o discurso anticomunista dos Estados Unidos, foi o elemento mais novo dentro da

política stronista. O apoio diplomático e econômico dos EUA ao governo Stroessner fez

com que em pouco tempo o regime stronista se autodenominasse como o “governo mais

anticomunista do mundo”.

O apoio a potência capitalista não ficava apenas no campo da retórica, mas traduzia-se nas ações concretas da política externa paraguaia no período. Além de votar consistentemente com os EUA na Organização das Nações Unidas (ONU) e na Organização dos Estados Americanos (OEA), o Paraguai forneceu duas centenas de soldados para ajudar na

���������������������������������������� �������������������125 PAREDES, 2004, p.134. 126 MORAES, 2000, p.72-73.

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intervenção norte-americana na República Dominicana e ofereceu tropas para lutar no Vietnã. Em troca, o general paraguaio conseguia o que desejava para fortalecer e consolidar seu regime: ajuda econômica e legitimidade127.

No discurso oficial do governo paraguaio ser comunista era ir contra os

interesses do país, de seu desenvolvimento e, portanto deveria ser combatido sendo

papel do Estado evitar a influência dessas idéias nocivas. Nas palavras de Adan Godoy

Jimenez, Ministro da Saúde e Bem Estar Social do governo stronista na década de 1980

o modelo “republicano democrático de governo” se daria através de uma “democracia

sem comunismo”. Esse modelo se caracterizava por uma inviabilidade da convivência

pacífica com tal ideologia. Segundo Jimenez:

El Comunismo solo sirve a los intereses de una potencia imperialista128 empeñada en conquistar y sujuzgar a los pueblos libres, soberanos, democráticos y nacionalistas como es el Paraguay del presente129.

Para legitimar a ditadura, Stroessner, a exemplo das outras que ocorreram na

América Latina, utilizou-se de um persistente discurso ideológico nacionalista para

justificar uma “proteção” a Nação, qualquer tentativa de se questionar o regime

ditatorial implantado no país era ir contra o seu desenvolvimento. Vemos aqui que para

o regime de Stroessner, ser paraguaio era ser nacionalista, era estar do lado do governo

empreendedor de Stroessner. Não fazê-lo era estar contra todo o país em suma isso se

resumia em uma só frase: não concordar era ser subversivo, era ser comunista.

Alicerçado no discurso anticomunista, procurou naturalizar suas ações mesmo

que estas ferissem qualquer direito básico. No campo das idéias, as disputas entre as

ideologias comunista e capitalista serviram para acirrar os conflitos no Paraguai. Os

���������������������������������������� �������������������127 KFURI, Regina e LAMAS, Bárbara. Entre o Mercosul e os EUA: As relações externas do Paraguai. In: Observador On-line (v.2, n.9, set.2007). Disponível em: HTTP://observatorio.iuperj.br Consulta em 20 de agosto de 2009, p.05. �%# A potência imperialista da qual Adan Godoy se refere é a união soviética. 129 JIMENEZ, Adan Godoy. Stroessner: Um modelo Republicano y democrático de gobierno.Asunción.Ed. Che Retá; 1987. p.23.

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vários atores apropriando-se destas, aspiraram através da implementação desses

discursos estabelecer novas ordens sociais. A partir disto poderemos ver a atuação de

outros grupos dentro do cenário do Paraguai de Stroessner, em especial, as experiências

de luta armada que ocorreram dentro do Paraguai nas décadas de 1950-1970, e os meios

que o stronismo utilizou-se para por fim a essas tentativas.

Capítulo III- Resistência armada no Paraguai: a oposição ao regime e o sistema

repressivo stronista

Nos capítulos anteriores procuramos traçar o percurso da história política

paraguaia, analisando os principais fatos que antecederam o regime de Alfredo

Stroessner e que permitiram um “fazer política” singular neste país. Os conflitos

internos e externos, a relação com seus vizinhos maiores (Brasil e Argentina), a

formação dos partidos políticos paraguaios, a consolidação do Partido Colorado no

poder e a ascensão de Stroessner como chefe maior do estado.

Vimos à herança deixada pelas primeiras ditaduras paraguaias e o alvorecer do

fruto dessas no século XX. O primeiro governo militarizado liderado por Francisco

Solano López, e as disputas de cunho caudilhesco que permitiram um clima de

constante agitação na vida política do Paraguai.

No capítulo ora apresentado, pretendemos examinar o surgimento das principais

agrupações armadas contra o regime de Stroessner e analisar quais foram às ferramentas

utilizadas pela ditadura para sufocar esses insurgentes, percebendo como o discurso de

segurança nacional intensificou a idéia do inimigo interno e contribuiu de forma

importante, para que o regime stronista minimizasse as tradicionais disputas pelo poder

no Paraguai, conseguindo assim manter-se no poder pelo longo período de 35 anos

(1954-1989).

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Não queremos com isso argumentar que o surgimento de agrupações armadas no

Paraguai acabou contribuindo com o regime de Alfredo Stroessner, mas que o governo

stronista soube se posicionar habilmente no período da Guerra Fria:

Stroessner supo sacar cada vez más provecho del clima mundial de la denominada “Guerra Fría” y hasta “III Guerra Mundial” que brindaba, no sólo el marco internacional adecuado para situar su propia contienda local como una de las batallas que habia que librar contra el “Comunismo Internacional” sino, y principalmente, apoyo de las potencias occidentales en formación militar, ayuda económica y licencia para actuar según la gravedad de la situación lo indicara: logro disfrazar el escenario de una guerra civil típica de los períodos de posguerra y presentarlo ante el mundo como un escenario de guerra anticomunista que, por lo tanto, ameritaba ayuda internacional para sofocarla. Así, Stroessner recibe de la banca internacional, varios millones de dólares para su lucha contra el “comunismo ateo” y justifica represión y masacres en nombre de Dios y la Patria.130

Como discutimos no segundo capítulo, no período em que Stroessner esteve no

poder, o laço político que estabeleceu com o Brasil se fortaleceu. Stroessner pode assim,

aumentar sua área de articulação que antes ficava restrita com a relação que mantinha

com a Argentina. Ressaltamos que a Argentina desde o final do século XIX apareceu na

história do Paraguai como sendo um território propício para a oposição ao coloradismo.

Vale lembrar ainda, que o Partido Colorado foi desde sua formação um partido com

ideários nacionalistas, antagonista as idéias de seu principal rival o Partido Liberal

simpatizante da República Argentina. Os principais inimigos de Stroessner puderam

então encontrar guarita nesse país, pela conjuntura que já descrevemos. Para reforçar

nossa argumentação citamos a autora Lorena Soler:

De la misma forma que la elite “ilustrada” regresa después de la Guerra de la Triple Alianza con voluntad de construir el Estado Liberal paraguayo, los cuadros más importantes de la guerrilla se organizan desde Buenos Aires y la zona fronteriza con Argentina, ingresando para sus “operaciones” desde las provincias de Misiones, Corrientes y Formoza. Por otra parte, fuertes lazos políticos que mantienen las tres organizaciones armadas más importantes M14, fundada en Municipio de Lanús (Buenos Aires), FULNA y especialmente, OPM [...] deben explicarse en la distracción de los gobiernos militares argentinos con las guerrillas armadas paraguayas, dadas las estrechas pero efímeras relaciones políticas entre Stroessner y Perón131.

���������������������������������������� �������������������130 ARELLANO, Diana. Movimiento 14 de mayo para la Liberación del Paraguay, 1959: memorias de no resignación. Argentina/Posadas: Editorial Universitaria, Universidad Nacional de Missiones. , 2005. p.33. �&� SOLER, Lorena. Dominación política y legitimidad: El stronismo en el contexto de América Latina.

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Enfim, o governo argentino apoiava ou não as guerrilhas paraguaias? Era fato

que os maiores opositores ao stronato encontravam-se asilados naquele país. Porém a

Argentina “negava as acusações e insistia em dizer que não estava dando nenhum apoio

aos exilados para depor Stroessner” 132. Segundo o Alfredo da Mota Menezes:

Provavelmente isto era verdade, porém o difícil era convencer os Colorados. É bem provável que o governo argentino não estivesse dando armas ou outras coisas aos opositores de Stroessner baseados em seu território, mas algumas tentativas para depor Stroessner vieram da Argentina e isto parecia mais do que suficiente para os Colorados olharem o país com certa desconfiança133.

No entanto, Roberto Paredes aponta que:

El gobierno de Stroessner no era bien visto por los militares que lideraron la “revolución libertadora” contra Perón, en primer lugar, debido a que el Paraguay otorgó asilo político al caudillo argentino y resistió todas las presiones que se realizaran para evitar su entrega; en segundo lugar, por la “marcha hacia el Este”, giro geopolítico que aproximaba fuertemente al Paraguay del Brasil, cuestión que no era bien vista sobre todo por el que entonces era considerado mayor estratega geopolítico argentino, Isaac Rojas.

Lo cierto y concreto es que los militares argentinos cooperaron directamente con sectores de la oposición paraguaya, para armar y entrenar a algunos guerrilleros134.

Os interesses de Stroessner em se desvincular da dependência com a Argentina,

a aproximação entre Brasil e Paraguai como solução para este aspecto, o alinhamento ao

discurso estadunidense de Segurança Nacional, todos esses aspectos foram discutidos

nas páginas anteriores deste trabalho. No entanto, faltou discutir quem foram esses

personagens que se organizaram desde território argentino para derrubar a ditadura de

Alfredo Stroessner.

Durante a pesquisa, notamos que há um déficit sobre trabalhos relacionados aos

intentos de luta armada no Paraguai e durante esse percurso algumas questões

começaram a despontar, entre elas: Quais foram essas agrupações? Quais os seus

objetivos? Todas elas realmente levantaram a bandeira do comunismo? Veremos que a

reposta para essa última pergunta é negativa.

���������������������������������������� ���������������������������������������� ���������������������������������������� ���������������������������������������� ����������

In: Novapólis, Nº 4 de Abril de 2009. Disponível em: http://iealc.fsoc.uba.ar/archivos/soler-novapolis.pdf Consulta em: 10 de março de 2010.�132 MENEZES, 1987, p.62. 133 Ibidem. 134 PAREDES, 2004, p. 88.

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O discurso anticomunista construído por Stroessner serviu para combater

qualquer oposição e durante a Guerra Fria, todos os que questionaram o stronato foram

em algum momento qualificados como comunistas e sofreram com a dura repressão. O

automático enquadramento dos opositores como sendo elementos comunistas foi uma

arma empregada pelo regime de Stroessner de forma bastante eficaz. O stronismo

construiu um mito em que seu governo surgia como o defensor dos princípios

democráticos, enquanto, seus oponentes apareciam como elementos contrários a esses

princípios. Conseguiu com isso, apresentar-se como alternativa capaz de promover a

paz e o progresso e também como o único que impediria que o Paraguai fosse

contaminado com esse ideário tão nocivo; o comunismo135.

Analisaremos como a idéia do anticomunismo foi incorporada na cultura política

paraguaia, sendo utilizada de maneira estratégica pela ditadura de Alfredo Stroessner

para consolidar-se no poder. Ademais, como já salientado, procederemos a uma

apreciação mais detalhada da atuação dos grupos que partiram para a luta armada como

forma de combater a ditadura.

3.1 Luta armada: o surgimento das guerrilhas no Paraguai:

Em 1959 o movimento em armas, que culminou com a Revolução Cubana e a

derrocada do ditador Fulgêncio Batista, marcou um novo capítulo na história mundial.

Um novo fôlego foi dado aos setores de esquerda e aos setores de oposição que

percebiam nessa a possibilidade de dar fim às ditaduras militares instauradas na

América Latina.

Compreendemos que diversas propostas advindas da esquerda nesse momento

também não eram fundadas em princípios democráticos. Basta ver as inspirações

contidas nesses movimentos que tomavam quase sempre o padrão cubano e o chinês

como inspiração, modelos estes que com o decorrer das décadas mostraram um caráter

bastante autoritário. Resumindo no campo do direito político, as propostas que

apareceram nesse momento não se enquadravam nas normas democráticas-ocidentais,

no entanto, o fato é que as direitas potencializaram e demonizaram as idéias de

���������������������������������������� �������������������135 MORAES, 2000, p.75-76

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mudanças propostas pela esquerda e suas implicações no Paraguai é o foco desse

estudo.

A repercussão do movimento vitorioso em Cuba não demorou a impactar a

sociedade paraguaia, o que culminou no aparecimento de novas organizações, inclusive

de cunho armado. Segundo Oscar Creydt:

[...] con las luchas estudantiles y la división del Partido Colorado, impulsada desde agosto de 1958 por la huelga general que paralizó a todo el país, se produjo en el Paraguay una situación revolucionaria. Esto es lo importante y esto es lo que no debe ser olvidado136.

A oposição considerava que aquele era o momento exato para conseguir derrotar

Stroessner. A conjuntura interna paraguaia apontava para isso e o contexto internacional

mostrava que esse era o momento propício para um contra-atraque. A luta armada no

Paraguai aparece dividida por fases na proposta de Roberto Céspede e Roberto Paredes:

Una primera y muy breve fase constituye el período anterior a la experiencia guerrillera rural que se inicia en 1959 con el M14; y que se puede denominar de la resistencia tradicional. La segunda fase se inicia con el M14 en 1959 y culmina, por así decirlo, con la muerte del líder sobreviviente de la guerrilla rural del PCP en 1970, “Agapito Valiente”. Esta fase que puede dividirse en dos etapas, 1959-1960 y 1960-1970, puede calificarse como de la guerrilla rural. Finalmente, a partir de 1974 hasta 1980, la tercera fase, es de guerrilla predominantemente urbana antes que rural. Comienza con el descubrimiento de intento de aprovisionamiento de armas del llamado EPR pasa por la OPM y culmina con un último intento de guerrilla rural en 1980137.

A fase inicial, descrita como tradicional, ocorreu no início de 1959 caracterizado

pelo caos político e teve como marco principal o pacto das cúpulas dos Partidos Liberal

���������������������������������������� �������������������136 CREYDT, 2007, p.290. 137CÉSPEDE, Roberto e PAREDES, Roberto. La resistencia armada al stronismo: panorama general. In: Novapólis revista de estudios políticos contemporâneos. Edicion nº08 agosto/2004, p. 08-09. Disponível em : http://novapolis.pyglobal.com/08/novapolis8.pdf Consulta em: 05/04/2008.

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e Febrerista exiladas na Argentina que se organizaram na Unión Nacional Paraguaya138.

Esses levantes armados são intitulados tradicionais porque seus projetos não detinham

uma ideologia e se inseriam numa lógica de disputa local. O Partido Colorado o Liberal

e o Febrerista encabeçaram nesse momento os conflitos e pretendiam com isso não mais

que um novo golpe de estado. A Unión Paraguaya perdeu forças com o estabelecimento

da ala colorada próxima a Stroessner no poder. Essas primeiras tentativas de ações

armadas, não se inserem na lógica de guerra de guerrilhas.

A segunda fase insere-se em um contexto diferente. Nessa fase a concepção das

agrupações armadas, inspira-se na idéia advinda dos acontecimentos que possibilitaram

a Revolução Cubana. O intuito é o de formar pequenos grupos de combatentes que

organizados desde território argentino, adentrariam o Paraguai e conseguiriam o apoio

do povo, principalmente dos trabalhadores rurais:

Fueron varios factores los que contribuyeron a su aparición: la derrota del movimiento sindical urbano después de la huelga general de 1958; la inspiración de la revolución cubana en enero de 1959; la creciente división dentro del partido gobernante, el Partido Colorado, acerca de su apoyo o no a la re-elección de Stroessner en 1958, lo cual derivo una ruptura del partido en mayo de 1959; y el creciente descontento campesino en la zona central alrededor de Asunción, que fue producto de la desigualdad de la tenencia de tierra139.

Dentro desse contexto e cancelada a perspectiva de derrubar o stronismo pelas

vias legais, surgem os grupos que agora passamos a discutir. Observaremos que as

primeiras experiências armadas (como já foi dito anteriormente) nada tinham de

comunistas, no entanto, com o decorrer da bipolarização mundial poderemos observar

que o discurso ideológico, por muitas vezes, vai assumir um caráter doméstico, sendo

empregado para legitimar um regime ditatorial e que aos poucos conseguiu tornar uma

oposição entre esquerda e direita - que antes era somente imaginária -, em algo bastante

���������������������������������������� �������������������138 A União Nacional Paraguaia tentou criar colunas armadas, com a intenção de enfrentar as forças do governo como uma guerra tradicional. A experiência mais relevante foi a de tentar introduzir uma coluna de 400 homens que terminou abortada pelo exército argentino em Puerto Bouvier (lado argentino). Para ver mais: DURE V, Victor e SILVA, Agripino (2004): Frente Unido de Liberación Nacional (1960-1965), guerra de guerrillas como guerra del pueblo In: LACHI, Marcello. (org) Insurgentes: La resistencia armada a la dictadura de Stroessner. Asunción: Uninorte; Arandurã Editorial.�139 Idem, p. 27

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real. Assim; nesta parte do trabalho analisaremos como se desenvolveu esse processo no

Paraguai.

3.2 O Movimiento 14 de Mayo

O 14 de Mayo tem sua origem ligada ao grande número de cidadãos paraguaios

que se viram obrigados a fugir para o exílio durante os anos que Strossner governou o

Paraguai. A eliminação sumária dos destoantes ao regime, todos os partidos opositores

postos na ilegalidade impossibilitaram que muitos paraguaios continuassem em seu

país. Essa situação fez com que “Aproximadamente 1 milhão de paraguaios

procurassem exílio na Argentina, no Brasil e no Uruguai, segundo o Comitê Católico

Mundial de Migrações140.

Alguns militantes dos partidos, Liberal e Febrerista começaram a se reorganizar

em território estrangeiro, principalmente em solo argentino. Os que participaram desse

projeto eram pessoas que não concordavam com o que estava acontecendo no Paraguai.

Nesse período (1958), Stroessner tinha autorizado as eleições e “convidara” os partidos

opositores a voltar e participar.

Alguns componentes dos Partidos mais tradicionais do Paraguai e que nesse

momento encontravam-se no exílio, não acordavam em voltar para o Paraguai e

compactuar com o que julgavam ser uma farsa; o pleito de 1958. Optaram por continuar

em território estrangeiro o que não agradou a ala dirigente dos Partidos Liberal e

Febrerista que via nessa proposta uma chance de voltar à legalidade, causando assim

uma divergência de opiniões dentro desses partidos. Os que continuaram em exílio

começaram então a traçar outros planos.

���������������������������������������� �������������������140MARIANO, Nilson. As garras do condor/ como as ditaduras militares da Argentina, do Chile, do Uruguai, do Brasil, da Bolívia e do Paraguai se associaram para eliminar adversários políticos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p.222.

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Compunha pauta de esse novo planejamento arregimentar os que ansiavam pela

queda do regime stronista e que não estavam organizados em partidos políticos. Uma

ressalva importante é que muitos paraguaios decidiram deixar o país, e para que

tomassem essa decisão havia uma gama de ensejos, no entanto a política agrária

estabelecida no governo Stroessner aparecia como um dos principais motivos pelo qual

a população deixava o Paraguai.

De acordo com Domingo Rivarola, entre 1950 e 1960, sessenta e cinco por cento

da população paraguaia estava assentada em áreas rurais141. Quase toda essa parcela da

população ocupava terras menores que 10 hectares e a atividade econômica era

reduzida:

El nivel de sub-ocupación y desocupación, ya sea periódica o disfrazada, alcanza una significación altamente comprometedora”. En consonancia con esto, los precios de los productos agrícolas sufren fluctuaciones enormes imposibles de prever y van dando lugar a una “política de retracción”. Por estos años, la emigración hacia la Argentina comienza a dirigirse directamente hacia los núcleos urbanos del país. Se trataría de un contingente distinto al anterior, motivado por condicionantes de índole económica más que política142.

Assim os militantes dos partidos opositores que viviam no exílio, viam nessa

massa que estava migrando para território argentino um “potencial revolucionário”.

Dessa forma tem início o germe do que seria o Movimiento 14 de Mayo.

Começaram a luta armada sem definição política, sem um programa estabelecido. Foram levados pelo romantismo e idealismo, com uma boa dose de voluntarismo, inspirados quase todos pela Revolução Cubana que tinha acabado de conquistar a vitória contra o ditador Baptista, mais ou menos da mesma têmpera que Stroessner. O Movimiento 14 de Mayo, indefinido ideologicamente, podia ser caracterizado como um grupo de centro, eqüidistante da direita e da esquerda, com várias incoerências e contradições a nível diretivo143.

A situação dos paraguaios na Argentina não era as das melhores. Muitas pessoas

que migravam para esse país encontravam-se em situação ilegal o que implicava na

���������������������������������������� �������������������141 RIVAROLA, Domingo apud Águila, Álvaro del. Una resenã antropológica de la inserción laboral de migrantes paraguayos em la industria de la construccíon de la Ciudad de Buenos Aires. In: Miradas em movimiento, volumen II- Septiembre 2009. 142 Idem. 143 CHIAVENATO, 1980, p. 121.

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impossibilidade de conseguirem empregos obrigando-os a se dedicarem a atividades

desgastantes e sendo mal remunerados. A antropóloga Diana Arellano descreve da

seguinte maneira a situação dos exilados paraguaios na Argentina:

Si el exilio es un hecho doloroso por múltiples factores, la situación de una gran parte de los paraguayos se complicaba aún más. Para muchos el guarani era su única lengua, solo manejaban el castellano para los “ asuntos con la autoridad”. En esos casos, trataban por todos medios de asentarse en las provincias argentinas fronterizas, Misiones, Correientes, Chaco o Formosa, empleándose como peones rurales o dedicándose a diversas tareas del sector “informal”144.

Dito isso, os paraguaios que se encontravam nessas regiões da Argentina

começaram a encontrar dificuldades para sua atuação política, aspectos culturais como a

língua, a condição ilegal dentro do país deixavam uma margem quase nula para que

pudessem organizar-se contra o regime de Stroessner.

Famílias inteiras tinham sido forçadas a deixar o Paraguai, uma boa parte por

conta da perseguição política e outra pelo fator econômico. Naquele momento as

práticas sociais que conseguiram estabelecer em solo argentino foram primordiais para

que pudessem pensar uma forma de voltar ao Paraguai e reaver os direitos de cidadão

retirados pelo regime:

La pequeña comunidad estallada en una atomización individualista que lles hacía buscar as sus compatriotas para reforzar sus identidades basadas en el país de procedencia y, en particular, en el partido político que les permitía replicar formas de relación social, como los comités, los clubes para la discusión política, los bailes, la preparación y venta de empanadas y las quermeses con sus juegos y sorteos, como “forma conocidas” de recreación y de generación colectiva de recursos. Toda prácticas sociales de la pequeña comunidad recreadas en la gran urbe para hacer frente a la impotencia y organizarse y trabajar por el retorno al Paraguay145.

Assim sendo, o Movimiento 14 de Mayo (alusão a independência do Paraguai),

não é um movimento que levantou a bandeira do comunismo, e sim, aparece como um

���������������������������������������� �������������������144 ARELLANO, Diana. La lucha no termina: Movimiento 14 de mayo para La liberación del paraguay (1959-1961). In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004, p.82 145 Idem, p. 83.

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movimento pluralista, que contém em suas fileiras militantes dos partidos Febrerista e

Liberal, no entanto contando com simpatizante de outros partidos (a exemplo dos

dissidentes colorados e do Partido Comunista Paraguaio) e de cidadãos que tinham

como único objetivo voltar ao Paraguai:

Ahí no se trataba de Liberales, ni de colorados, ni izquierdistas, éramos todos paraguayos idealistas. Ahí podíamos integrar todos, Comunistas, Liberales, Colorados inclusive! No había distinción de ideologías políticas, nada más que nuestro objetivo era derrocar al gobierno de Stroessner y a toda cúpula para sacarle al pueblo paraguayo de ese yugo del gobierno dictatorial de Stroessner146.

Viam na luta armada a chance de derrubar o stronismo, no entanto não constava

em seus planos estabelecer um governo socialista. Seus integrantes queriam em sua

grande maioria somente reintegrar-se se social e politicamente, isso explica como esses

diferentes grupos de exilados na Argentina configurariam uma extensão do Paraguai,

suas esperanças nesse momento confluíam em um alvo único, regressar ao seu país de

origem.

Sí de retornar pero solo cuando las condiciones que causaron su destierro hayan sido superadas entre otras causas por la acción desarrollada desde fuera; desde el papel que debía desempeñar el exilio en materia de dar a conocer al mundo la situacíon de opresión y sofocamiento de las condiciones que transcurría la vida en Paraguay con un total aplastamiento de toda manifestación de la ciudadanía. La vuelta constituía el proyecto político desde el suelo extraño por recuperar dicha ciudadanía. Esto es lo que puede constatarse en varios relatos, ya que con más o con menos, otorgó sentido a las largas casi cuatro décadas a la comunidad paraguaya en distintos lugares del territorio argentino.147

Em 4 de maio de 1959 assinava-se a ata de constituição do Movimiento 14 de

Mayo. Este feito contou com representantes de organizações que combatiam o

stronismo desde o exílio, visando unificar as ações dos integrantes destas. Em

comunicado ao povo paraguaio o 14 de Mayo expõe os motivos pelo qual estavam se

rebelando conta a ditadura de Alfredo Stroessner e também seus objetivos:

���������������������������������������� �������������������146 Idem, p. 85. Entrevista de um integrante do Movimiento 14 de Mayo. �'" Sánchez, María Antonia. Exilio(s) paraguayo em Argentina (1940-1985). UBA. Buenos Aires. 30 de abril de 2009. Disponível em: http://lasa.international.pitt.edu/members/congress-papers/lasa2009/files/SanchezMariaAntonia.pdf Consulta em: 18 de março de 2010��

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El Movimiento 14 de Mayo para la libertad paraguaya desea la paz de la república. La paz es indivisible con la justicia y la libertad.

No tolerará ninguna clase de gobierno que surja sín el consentimiento de todas las corrientes de opinión nacional, porque considera la paz un problema de solución nacional.

El Movimiento 14 de Mayo está decidido inquebrantablemente a hacer cumplir los propósitos nacionales, cualquiera fuese la fuerza que le oponga. Es un movimiento de Pueblo y, como Pueblo, no se pretenderá que traicione su origen y su destino148.

Neste mesmo documento o 14 de Mayo propõe aos setores mais organizados do

Paraguai (Exército e Partido Colorado) que se juntem às fileiras do movimento e

também que participem da sublevação contra o regime de Stroessner:

[...] exhortamos al Ejército a reberlarse contra el tirano y su camarilla los Jefes e Oficiales que así lo hicíeram, serán respetados y considerados. Comprendemos y apreciamos la situación, y reconoceremos en los patriotas, con toda lealtad, su colaboración en favor de la libertad del Pueblo. [...] Nadie tema venganzas. Nuestros guerrilleros han dado un ejemplo en la historia política de nuestra Patria. [...] Exhortamos a los partidos políticos, a sus dirigentes, a subordinase al principio de que la liberdad debe ser para todos. Nadie debe ser excluido en la paz, porque todos debemos transar en nuestras pretensiones y coincidir en nuestras esperanzas. Queremos dejar atrás el pasado, para construir futuro. Sabemos lo que queremos y todo lo que nuestras adversarios quieren. Pero para comprendernos, aprendamos a respetarnos. Para hacer las soluciones estables, asumamos la responsabilidad del compromiso.

Colorados de la República: no temáis a vuestros hermanos. Sabemos que so tan patriotas como todos. No negamos ni impediremos vuestros derechos, pero tampoco reincidáis en pretender cercenar lo que pertenece a todos149.

Outro aspecto importante a ser observado nessa comunicação, é a necessidade

do 14 de Mayo em reafirmar seus princípios cristãos e patrióticos. Para conseguir o

apoio do povo, era necessário desconstruir a idéia de que, eram pessoas que estavam

tentando voltar ao Paraguai para disseminar idéias “vindas de fora”, regressando ao país

transformados em elementos violentos, perigosos, ateus e sobretudo; comunistas.

Por sobre nuestras divergencias, nuestro enconos, está el Amor de Dios, de nuestra Santa Religión; está la sangre de nuestra sangre, que hemos vertido por culpa de la maldad del tirano [...] está el sentimiento patriótico que nos une a esa tierra bendita de tantos

���������������������������������������� �������������������148 Comunicado del Movimiento 14 de Mayo al pueblo paraguayo explicando las razones de la rebelión contra la dictadura de Stroessner. In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004, anexo, p. 216-217. 149 Ibidem

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sacrificios y alegrías; está nuestro destino, que es el destino de todos los paraguayos150.

Podemos deste modo, inferir que a composição do Movimiento 14 de Mayo era

bastante pluralista. Em sua estrutura permitiu-se que ingressassem pessoas com as mais

variadas motivações. Segundo Oscar Creydt, militante do Partido Comunista Paraguaio:

Este movimiento es una confirmación de que la victoria de la Revolución Cubana repercutió fuertemente en toda América Latina, no solamente en las masas, sino también en ciertos sectores de la burguesía, ni qué hablar de la pequeña burguesía. El dirigente del 14 de Mayo de Corrientes, Benjamín Vargas Peña, su seudónimo era Brava, tenia el retrato de Fidel Castro en su escritorio. Y aquí aparece la duplicidad de la burguesía, que los trotzquistas creen haber descubierto, y que ante la cual tiemblan, nosotros no. Este mismo hombre que levanto la bandera de la Revolución Cubana, porque así fue, estaba en complicidad con los generales fascistas que habian tumbado a Perón, fascistas, quiere decir que estos generales argentinos, a pesar del retrato de Fidel Castro en la pared de su casa, sabían perfectamente bien com quién trataban, porque es un anticomunista orgânico151.

O tom que Oscar Creydt utilizou é um tanto ácido. Porém, é a partir desta

análise, que o Partido Comunista Paraguaio resolve participar da luta armada no

Paraguai. O PCP tinha conhecimento que o Movimiento 14 de Mayo estava se

estruturando para adentrar o país e assim derrubar o stronato. No entanto identificavam

que a revolução que o Partido Comunista Paraguaio almejava não viria de “bate

pronto”. O PCP então acordou que essa viria por etapas e que nesse primeiro momento

deveria articular-se com quem visasse à queda do regime de Stroessner, inclusive com

esses militantes “pequenos burgueses” 152 que também compunham o 14 de Mayo.

Discorreremos então sobre outra sugestão guerrilheira, desta vez com uma influência

maior do PCP. Passamos agora a descrever a FULNA.

���������������������������������������� �������������������150 Ibidem 151 CREYDT, 2007, p.288-289. 152 Referência aos militantes do Partido Liberal e do Partido Febrerista.

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3.3 A Frente Unido de Liberación Nacional (FULNA):

O ato de fundação da FULNA aparece nas obras consultadas tendo se realizado

em fevereiro de 1959. Para Fátima Yore, foi o padre Ramón Talavera153 que lançou a

proposta da criação desta frente desde seu exílio em Montevidéu. Talavera participou

também do planejamento do 14 de mayo. Comparando as atas de fundação da FULNA e

do M14 veremos que a frente foi à primeira tentativa de reunir toda a oposição em luta.

No entanto começamos a descrever o M14 primeiramente que a FULNA, ajuizados nos

desdobramentos que veremos ao longo da dissertação. Pensando nas irrupções feitas

pelas guerrilhas até o Paraguai o M14 é o primeiro a tentar tomar o poder pela via

armada e mesmo sendo a FULNA formada primeiramente suas ações dependeram das

experiências dessas iniciais irrupções.

No projeto inicial da FULNA, Talavera conclamava aos exilados a unir-se em

torno de um programa comum a fim de derrubar o regime stronista.

El Frente Unido de Liberación Nacional (FULNA), apareció en Montevideo, nucleando a comunistas, febreristas, liberales y colorados disidentes [...] Sin Duda, se trataba de una coalición de elementos independientes de esos partidos, y no de un frente integrado institucionalmente por las organizaciones partidarias. De hecho, los dirigentes de los partidos Liberal y Febrerista inmediatamente repudiaron a FULNA y ordenaron a sus afiliados que dejaran el movimiento, so pena de ser expulsados, por su integración con militantes del Partido Comunista Paraguayo. De hecho, el FULNA, al estar integrado en su mayoría por comunistas y dirigido por el PCP, era ideológicamente tan enemigo del stronismo como de la oposición burguesa, principalmente de la dirigencia y sectores oligárquicos de los partidos154.

Segundo o autor João Batista Berardo:

���������������������������������������� �������������������153Ramón Antonio Talavera foi um religioso perseguido pelos organismos de repressão do governo Stroessner. Teve suas licenças sacramentais caçadas em 1963 devido aos seus sermões de cunho político e que denunciavam o modus operandi do regime stronista. Viveu muito anos na Argentina e no Uruguai. Morreu em agosto de 2010, aos 86 anos, na cidade de Foz do Iguaçu fronteira entre Brasil e Paraguai. ABC Color digital, 9 de agosto de 2010. Disponível em: http://www.abc.com.py/nota/166152-mons-talavera-perseguido-por-el-regimen-stronista-murio-en-el-brasil/ Consulta em: 02 de janeiro de 2011. 154 YORE, 1992, p. 219.

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Em uma época da ditadura, chegou-se até a formação de guerrilhas, para a derrubada de Stroessner. [...] Um padre de nome de Talavera, no ano de 1959, falou muito contra este governo despótico. O Paraguai sempre teve e tem exilados políticos. [...] O padre Talavera organizou uma Frente Patriótica contra Stroessner, que visava restaurar as liberdades, conseguir a promulgação de lei de anistia em geral para exilados e presos políticos, eleições livres, redução de orçamento militar, aumento de salários, congelamento de preços, liberdade para os sindicatos, aumento da produção e a organização de uma reforma agrária155.

Essa efervescência da oposição ao regime gerou as condições propicias para o

desencadeamento da luta guerrilheira. As reivindicações de algumas vozes de destaque,

a exemplo de Ramón Talavera, possibilitou a criação da FULNA. Em Montevidéu,

representantes dos partidos Comunista, Liberal e Febrerista reuniram-se para começar a

planejar o que viria a ser essa frente.

Con eses hombres se fundo el FULNA, estos no eran militantes cualquiera de eses partidos, sino que dentro de los comités, si es que pueden llamarse comités esos, dentro del círculo dirigente del Partido Liberal y del Partido Febrerista en Montevideo [...] eran hombres de influencia. Así se inició el FULNA, como una alianza verdadera, no como alianza de hombres escogidos del Partido Liberal y del Partido Febrerista, sino con los líderes locales de esos partidos. Se llamó Frente Unido de Liberación Nacional, no recuerdo quién de ellos, pero allí había discusiones de igual para igual. Y se elaboro un programa y este programa fue impreso según el camarada con quién hablé unos días. Fue un programa muy bonito, en que se contemplaba la cuestión agraria, la cuestión anti-imperialista y democrática156.

A FULNA então surge como uma proposta de coordenar os vários intentos na

luta pela caída de Stroessner. No entanto, o PCP deu um maior peso a essa frente,

convertendo uma parte importante de suas forças para o levante da FULNA, fazendo um

“giro” de seus quadros mais preparados para dentro desta frente. Fizeram isso porque

achavam que a margem que sobrava ao partido dentro de outras propostas a exemplo do

14 de Mayo, não era suficiente. Segundo o Partido Comunista, não queriam tornar a luta

guerrilheira uma luta do Partido e tampouco torna – lá uma organização do PCP. Queria

uma organização de frente única juntamente com o 14 de Mayo e com todos que assim

quisessem lutar contra a ditadura de Alfredo Stroessner. No entanto:

���������������������������������������� �������������������155 BERARDO, João Batista. Guerrilhas e Guerrilheiros no drama da América Latina. Edições populares; ano de edição 1981, p. 283. 156 CREYDT, 2007, p.294-295.

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Casi todos los miembros del movimiento conocido como la FULNA (Frente Unido de Liberación Nacional), formaban parte del PCP (Partido Comunista Paraguayo). Uno de sus secretarios fue Oscar Creydt, Stalinista. [...] Destacar que el PCP había constituido una fuerte oposición en la década de 1960, no teniendo ni los cuadros ni el peso que había alcanzado entre los 1947 y 1948; operaban en varios frentes y sea político, sindical, militar, campesino y estudantil; a través de sus simpatizantes realizaban sucesivas manifestaciones en las calles de Asunción, así como las huelgas en los años 1958 y 1959157.

Assim sendo, a FULNA aparece composta por militantes de vários partidos, mas

majoritariamente composta por quadros do Partido Comunista Paraguaio. O que levou o

14 de mayo a se organizar de forma paralela à frente, colaborando com esta, mas não se

dissolvendo dentro da mesma.

Temos então nesse momento dois grupos de influência na luta armada

paraguaia, o grupo 14 de mayo, de composição Liberal e Febrerista em sua maioria e a

FULNA que tem o PCP como “carro chefe”. Interessante é ver que o primeiro grupo

não tinha nenhuma afinidade com as propostas socialistas o que explica manter-se

enquanto uma organização distinta dentro da frente deixando a FULNA nas mãos dos

militantes do Partido Comunista Paraguaio afetos a tal ideário. Aqui podemos apontar

que o planejamento de uma “frente” não parecia possível - e não o foi - pela histórica

rivalidade entre os partidos tradicionais e o PCP; a FULNA logo poderia sentir isso:

Para los grupos conservadores de estos partidos, estaba dominado por los comunistas. Los más alarmados fueron los dirigentes liberales en Buenos Aires, quienes a través de un manifiesto del 16 de marzo prohibían a cualquier miembro del Partido Liberal de Paraguay integrar el frente. Muy consecuentes con su anticomunismo158.

As diferenças ideológicas destes grupos ficam claras no documento denominado

Cartilla guerrillera elaborada em 1960 pelo secretário geral do PCP Oscar Creydt:

El Mov. 14 de Mayo habla de reforma agraria, pero lo que propone es colonizar las tierras desérticas, lejos de los caminos y do los mercados de colocación de productos agrícolas. Esto significa mas sacrificios y más explotación para los campesinos. Estos sectores hablan tambiem de unidad, pero hostilizan al FULNA y se niegan a concertar acuerdos para a acciones unidas o coordinadas. Eso indica que no quierem una

���������������������������������������� �������������������157 BENITEZ, Adriano Abab Lopez. Historia política del Paraguay 1940 a 2005. Asunción- Paraguay, Gráfica Emasa S.R. L, 1998, p. 44-45. 158 YORE, 1992, p. 219

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democratización amplia y efctiva, um régimen de plenas libertades, sin restricciones159.

No mencionado documento é exposto o que o programa da FULNA previa.

Argumentando que essa frente seria um movimento patriótico e de unidade popular e

que não faria nenhuma exclusão, propunham reformas com caráter antiimperialista,

especialmente com mudanças no setor agrário e garantiam que estas seriam geridas por

um estado realmente construído sobre os princípios de uma verdadeira democracia. Para

que a FULNA pudesse alcançar seus objetivos, os fundamentos de seu programa seriam

baseados na:

1)Destrucción completa del régimen dictatorial antinacional y formación de un gobierno provisional democrático de representación nacional que establezca un regimen de plenas libertades democráticas, con garantias iguales para todos los partidos existentes y a crearse, así como para las organizaciones estudantiles, obreras, campesinas y populares en general. Convocatoria inmediata a elecciones para Asamblea Nacional Constituyente libre e soberana. Plan de activacción económica que debe comenzar a ejecutar el Gobierno Provisional Democrático de representación nacional para aumentar la producción, establizar el valor de la moneda, detener la infalación y mejorar las condiciones de vida del pueblo160.

O segundo ponto abordava a questão da soberania paraguaia em relação às

decisões políticas e econômicas daquele momento. Como vimos o governo Strossner

era visto como “entreguista”, deixando que o destino do Paraguai fosse traçado não

pelos paraguaios, mas como um grupo que estava entregando o país nas mãos dos norte-

americanos e do seu vizinho mais influente, o Brasil. Uma questão que pode ser vista

aqui, é a confusão ideológica do PCP, que reivindicavam - assim como Stroessner

também o fazia - um nacionalismo exacerbado e também a herança deixada pelas

primeiras ditaduras a de Francia e a dos López. Acreditavam que a independência do

país começou a ser ferida desde o episódio da Guerra da Tríplice Aliança e que passava

da hora do Paraguai se impor como grande nação que era:

2)Recuperación de la independência política y económica de la nación poniendo término a la intervención extranjera en nuestro país, y explotación de sus riquezas básicas de acuerdo con las necesidades del

���������������������������������������� �������������������159Primeras dos páginas de la “Cartilla guerrillera” inspirada en la guerra de guerrillas de Mao en China elaborada en 1960 por el Secretario General del Partido Comunista Paraguayo (PCP), Oscar Creydt y que tuvo la aprobación del Che según el mencionado Creydt. Fuente: Policía de la Capital: dossier “documentos subversivos” In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004, anexo, 224-225. 160 Ibidem.

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progreso nacional, pra retomar el camino del desarrollo económico Independiente cerrado en 1870161.

Por fim, aparecia a questão da reforma agrária. Com isso esperavam atender o

tema da má distribuição de terra no Paraguai e atingir a grande parcela da população

paraguaia que se dedicava as atividades no campo a idéia era de uma;

3)Reforma agraria a fondo, que empiece por poner en manos de los campesinos no solo las tierras fiscales, sino también las tierras de aquellos grandes terratenientes que apoyan a la dictadura y a la intervención extranjera162.

Em abril de 1960, a FULNA já estava era tida como um braço armado do PCP.

Nesta mesma época o movimiento 14 de mayo preparava se para invadir o Paraguai.

Mesmo com as diferenças ideológicas visíveis entre os grupos que não conseguiam

coordenar as lutas justamente por discordarem cabalmente das concepções um do outro,

o discurso público do governo Stroessner os pintavam do mesmo jeito. Tanto a FULNA

como o Movimento 14 de mayo, eram vistos como parte de uma conspiração comunista

internacional que estava atentando contra a raça e a nação paraguaia. Eram um poderoso

inimigo que utilizavam estratégias de combate deploráveis escondendo se entre a

população163.

A FULNA então identificara que sozinha não poderia lutar. Mesmo com os

planos do 14 de Mayo em adentrar o Paraguai não se importando se teria ou não a ajuda

da frente, a FULNA coordenada pelo PCP se prontificou a auxiliar qualquer intento que

visasse o fim do regime stronista.

Para derrotar militarmente a la dictadura es necesario e imprescindible que todas las fuerzas opuestas a la dictadura golpeen juntas contra ella. Sólo a la dictadura le conviene que las fuerzas del Mov.14 de Mayo [...] y del FULNA golpeen por separado, porque este le ofrece la posibilidad de batirlas por separado. Por consiguinte, como señalan la proclama inicial y todos documentos del FULNA, es necesario que el FULNA cumpla su misión de asegurar la acción conjunta de todas las fuerzas dispuestas a luchar con las armas contra a dictadura164.

���������������������������������������� �������������������161 Ibidem. 162 Ibidem. 163 ARELLANO,2004, p. 78. 164 Primeras dos páginas de la “Cartilla guerrillera” inspirada en la guerra de guerrillas de Mao en China elaborada en 1960 por el Secretario General del Partido Comunista Paraguayo (PCP), Oscar Creydt y que tuvo la aprobación del Che según el mencionado Creydt. Fuente: Policía de la Capital: dossier

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É neste contexto que teremos as invasões desses dois principais grupos, de um

lado o 14 de mayo confluindo liberais e Febreristas do outro a FULNA sob o comando

do Partido Comunista Paraguaio. As ações desses grupos começaram com diferenças de

meses e marcaram o principio das atividades insurgentes do período em que o Paraguai

foi governado por Alfredo Stroessner.

3.4 O começo das ofensivas guerrilheiras: No final de 1959, os grupos guerrilheiros preparavam-se para invadir o Paraguai

e tomar o poder. O apresto das incursões armadas e a implantação das guerrilhas

começaram através da região de Misiones (fronteira entre a Argentina e o Paraguai)

onde se encontravam um número grande de exilados e de onde planejavam atacar o

governo Stroessner cruzando o rio Paraná com o intuito de levar a população paraguaia

a ingressar nas fileiras da “revolução”.

A cidade de Buenos Aires era onde esses exilados concentravam-se em sua

maioria, desde capital Argentina mantinham contato com outras pessoas que almejavam

a derrubada de Stroessner e que nesse momento encontravam se em Posadas cidade

localizada na região de Misiones. Com isso os revoltosos do M14 queriam concentrar

forças nessa região e preparar a grande invasão. A maneira mais comum de chegarem a

Posadas sem levantar suspeitas era a de se deslocar em grupos não muito grandes,

utilizando pequenos caminhões, deslocando alguns outros de trem, outros de ônibus e

até mesmo em caminhões de empresas particulares, não queriam que esse traslado se

desse em massa visando com isso manter o movimento em segurança165.

O M14 nesse momento ampliava sua rede de apoio e para suas ações havia

estabelecido que cinco colunas guerrilheiras ingressassem simultaneamente no

Paraguai:

Inicialmente o 14 de Mayo tinha 300 combatentes. Todos foram para as selvas, ao longo do rio Paraguai, no sul do país. Armado com fuzis e metralhadoras argentinas, cedidas por Toranzo Montero, engrossaram seu arsenal com armas vindas de Montevidéu, onde em certo tempo era fácil consegui-las comercialmente166.

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“documentos subversivos” In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004, anexo, 224-225.

165 ARELLANO,2004, p. 88. 166 CHIAVENATO, 1980, p. 122-123.

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Outro meio que o M14 encontrou para divulgar seus objetivos foi à utilização de

uma rádio clandestina. Desde território argentino esse meio de propaganda fazia

denuncias e transmitia discursos dos guerrilheiros167.

Com o intuito de montar um ataque de frente única, planejaram adentrar o

Paraguai através de múltiplos lugares, evitando assim que o exército regular do Paraguai

pudesse se contrapor a investida.

Os objetivos aqui descritos foram levantados pela Antropóloga Diana Arellano e

nos embasamos em seus apontamentos para demonstrar a organização dessas ações.

A primeira coluna encontrava-se na região de Posadas e planejavam entrar no

Paraguai cruzando o rio Paraná aonde chegariam à cidade de Encarnación; sua missão

era tomar a prefeitura, neutralizar as forças policiais e o grupo de cavalaria. No entanto,

para que esse plano desse certo, contavam com a promessa que um grupo de pessoas

que estavam em Encarnación no Paraguai se somaria as fileiras do movimento, para a

infelicidade dos planos do M14 isso não ocorreu.

A segunda coluna com o nome de Mainunby ingressou pela região de Puerto

Rico (Misiones), a terceira Coluna era a de Puerto iguazú chamada de Pátria e Libertad,

essas duas colunas conseguiram avançar bastante em território Paraguaio, inclusive

tomando portos dessa região e dominando as forças policiais das mesmas. As outras

duas colunas entrariam pelas regiões de Puerto Península e Eldorado (regiões de

Misiones) 168.

No entanto, essas invasões coordenadas pelo M14 que tiveram início em 12 de

dezembro de 1959, não conseguiram se sustentar por muito tempo. Algumas das

colunas tombaram rapidamente e seus integrantes foram presos ou mortos. Segundo

Fátima Yore:

En realidad las FF.AA, contralaron a situación desde el principio y las acciones rebeldes fueron todas abortadas y brutalmente reprimidas. Los guerrillheros que no eran muertos combatiendo, eran tomados prisioneros y ferozmente torturados y mutilados hasta morir. Ningún rebelde tomado vivo fue encarcelado ni juzgado169.

���������������������������������������� �������������������167 Ibidem 168 ARELLANO, Diana. La lucha no termina: Movimiento 14 de mayo para La liberación del paraguay (1959-1961). In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004, p.82 169 YORE, 1992, p. 227.

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Desta primeira ação do 14 de Mayo, um grupo de combatentes dirigidos por

Juan José Rotela170 conseguiu escapar da repressão stronista e voltar para reorganizar-se

em território argentino, assim ocorreria a segunda tentativa do M14 em derrubar e

Stroessner (em junho de 1960) e juntamente com a ação de Rotela a FULNA também se

inseriria na luta armada paraguaia.

El grupo de Rotela tenía planeado ganar la serranía del Ybyturuzú171, al igual del grupo FULNA, pues se consideraba que el terreno era el mas propicio para la manteción de la guerrilla. Eso también sabía el gobierno, por lo que la persecución apostaba a evitar que los mismos se estableciesen ahí172.

Começaram então os enfrentamentos entre o grupo 14 de Mayo e as forças do

exército stronista. O efetivo militar do governo Stroessner apoiado por milicianos do

Partido Colorado impediram que os guerrilheiros ocupassem a localidade. Enquanto

isso, Patrício Colmán coronel das forças regulares do governo Stroessner, organizou

suas tropas e protagonizou uma perseguição implacável aos guerrilheiros.

O grupo liderado por Rotela foi totalmente massacrado pela repressão e o final

dos intentos do 14 de Mayo é descrito da seguinte forma:

Muchos fueron torturados, echados desde aviones. Las peores cosas han hecho con la gente de Rotela y él mismo fue muerto, no sé cómo. Después un grupo que Rotela aisló, lo que fue criminal porque exponerlo a caer em manos del enemigo, tuvo um choque y fue aniquilado el jefe de este grupo, Aguilera, es el que fue asesinado en Capitán Meza. [...] Así terminaron las acciones del 14 de Mayo173.

Ainda sobre o “golpe de misericórdia” ao Movimento 14 de Mayo, ocorrido em

junho de 1960:

Juan José Rotela tentou uma última alternativa: mudar a direção das invasões. Com os guerrilheiros sobreviventes tentou entrar no Paraguai pela fronteira do Brasil. A tentativa não deu certo, eles foram cercados. Desistiram da luta e voltaram ao Brasil, onde se entregaram e pediram asilo político. O governo brasileiro os entregou a Patrício Cólman e Edgard Insfrán – secretamente, sem nenhuma publicidade do fato. Trinta guerrilheiros,

���������������������������������������� �������������������170Juan José Rotela foi líder e comandante do Movimento 14 de Mayo, organizado na Argentina e integrado por exilados paraguaios. Era filho de um coronel brasileiro de nome Pedro de Lacerna. Sua experiência como veterano da Guerra do Chaco o tornou uma peça importante na formação das guerrilhas contra a ditadura de Alfredo Stroessner. 171 Ybyturuzú encontra-se em Villarica, distrito paraguaio localizado no departamento de Guairá. 172 PAREDES, 2004, p. 88. 173 CREYDT, 2007, p.318.

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entre eles Juan José Rotela, o chefe do 14 de Mayo, foram fuzilados imediatamente, na fronteira Brasil-Paraguai174.

Para combater aos insurgentes Stroessner também pôde contar com apoio

externo, e para isso “recebeu muito dinheiro, armas aviões e veículos, mandou seus

militares treinarem nos Estados Unidos e teve instrutores dentro do Paraguai” 175. Nos

relatos o Brasil aparece como importante colaborador:

O Movimento 14 del mayo, denunciou que o Brasil havia entregue ao General Stroessner 14 metralhadoras pesadas, 25 caixas de projéteis e 258 bombas e mandado que aviões fizessem o reconhecimento das tropas revolucionárias na região de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Mato Grosso”176.

Os inimigos do regime foram perdendo e forças e sendo sufocados. A

perseguição ultrapassou as fronteiras como podemos ver. O Brasil, por exemplo,

aparecia como um lugar perigoso para oposição a ditadura stronista. Além do fato

supracitado, podemos ilustrar essa situação com outro caso. No dia 25 de dezembro de

1960, oito brasileiros pediram asilo político ao Brasil e também foram assassinados.

Para aclarar o ocorrido citamos o historiador Alfredo da Mota Menezes, segundo ele:

O comentário abaixo é parte de um relatório do secretário de segurança do Estado de Mato Grosso na administração Fernando Corrêa da Costa: dia 20 de dezembro de 1960, oito paraguaios cruzaram a fronteira de Mato Grosso, próximo a Paranhos, no município de Amambay [...] No dia 25 de dezembro, um cabo do Exército Brasileiro que tinha sido comprado pela polícia do Paraguai que estava procurando por aqueles refugiados, levou os oito fugitivos para as proximidades da fronteira Brasil-Paraguai onde foram assassinados por aqueles policiais paraguaios177.

Além do 14 de Mayo, a FULNA foi um grupo ativo durante as incursões

guerrilheiras da década de 1960. Tendo a frente de suas fileiras membros do Partido

Comunista Paraguaio, a guerrilha começou a se organizar em fevereiro de 1960 e

���������������������������������������� �������������������174 CHIAVENATO, 1980, p. 126. 175CHIAVENATO, Julio José. Stroessner: retrato de uma ditadura. -São Paulo: editora brasiliense, 1980, p.133.�176 MORAES, 2000, p.95. 177 MENEZES, 1987, p.62.

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manteve ações até 1969 (período do terceiro mandato de Alfredo Stroessner)178. A

FULNA estava ciente do poderio da ditadura stronista. Por isso, a orientação aos seus

militantes era que colaborassem com os outros grupos de guerrilhas atuantes naquele

momento. A resolução que o PCP tomou, foi a de escolher um nome forte no interior do

Paraguai, para começar assim a organizar a luta armada partindo do campo. O homem

escolhido para essa missão foi Arturo López, que respondia pelo codinome de Agapito

Valiente179. O jornal comunista uruguaio “El popular” publicou em 09/03/1968 um

comunicado oriundo do Partido Comunista Paraguaio, esta informação esta se encontra

em um documento do CIEX do mesmo ano, onde Agapito Valiente é citado como

elemento importante para a organização da oposição ao regime:

Estes novos progressos no processo da reorganização e a crescente unidade de todas as forças marxistas-leninistas do PCP constituem verdadeiras vitórias da classe trabalhadora e do povo sobre os interventores imperialistas ianques, sobre a união dos agentes inimigos Creydt e Arturo López180.

Assim, surgiu o grupo guerrilheiro Mariscal López, que tinha como objetivo

principal servir como a “ponta da lança” dentro da FULNA. Além desta parcela que

atuava dentro do Paraguai, o PCP ainda formou outra contingente de apoio a guerrilha

que se organizou desde território argentino. Este serviria para dar apoio à guerrilha

campesina e no final de abril de 1960 adentrou no Paraguai o grupo que compôs essa

coluna chamada de Ytororó.

Segundo Ceres Moraes e Evaristo Colmán as investidas da FULNA tiveram

inicio quando “a Coluna Mariscal López fez um assalto ao pueblo de Barrero Grande no

Departamento das Cordilheiras, onde se organizara, ocupando uma estação transmissora

de rádio e a delegacia de polícia recuperando armas” 181. De posse desta estação de

rádio a FULNA declarou suas intenções em especial seu projeto sobre reforma agrária.

Dando continuidade aos planos, em maio de 1960 a coluna Ytororó (saindo de

Misiones na Argentina) começou sua jornada rumo ao morro de Ybyturuzú em Vila

Rica. Tinha como intuito estabelecer nessa região a central de operação da FULNA. O ���������������������������������������� �������������������178 Stroessner tomou o poder através de um golpe em 1954. Foi eleito presidente em 1958 e depois reeleito por várias vezes. O segundo mandato ocorreu no ano de 1963 e o terceiro em 1968. 179 Utilizaremos este pseudônimo durante o trabalho 180 Centro de Informação do Exterior (CIEX). Informes n° 135 a 232. V. 05 2. Ano: 1968. Arquivo do Ministério das Relações Exteriores (AMRE). 181 MORAES, Ceres e COLMÁN, Evaristo. A guerrilha da FULNA: Considerações preliminares. Disponível em: www.cedema.org/uploads/moraes_colman.pdf Acesso em: 23/01/2011.

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sistema repressivo de Stroessner não demorou em tomar ciência dos fatos citados,

primeiro organizou o isolamento da Coluna Mariscal López, em seguida, perseguiu de

forma intensa a coluna Ytororó, que não demorou a ser totalmente aniquilada.

La Columna Mariscal López siguió esperando la entrada de la Columna Ytororó hasta que supo del desenlace de la misma em agosto de 1960. Muchos fueron los factores que causaran la derrota de la Columna Ytororó, tanto externos como internos: conocimiento por parte del enemigo de los planes de ingreso; desinteligencia interna del misma comandancia de la Columna que o se pudo solucionar antes del ingreso; separación de la columna em grupos por las causas citadas que facilitaron a las fuerzas militares de Colmán aniquilarla por pedazos [...] De los 54 integrantes de la Columna Ytororó 52 cayeron y fueron asesinados182.

O fim da FULNA foi então sendo traçado. O episódio que arrematou sua queda

foi à morte de Agapito Valiente. Patrício Colmán general de Stroessner, mesmo depois

de conseguir desmantelar toda a organização da FULNA, não poupou esforços para

acabar com esse quadro do PCP, que nestes tempos já havia virado referencia dentro

dos grupos de oposição, Agapito Valiente foi morto em maio de 1970, em um episódio

dramático e que custou a vida de um dos principais nomes da repressão de Stroessner:

Ocurrió lo siguiente Agapito Valiente había sido entregado por quien lo estaba transladando em la valijera de um taxi. Patricio Colmán quiso matarlo personalmente, pero al abrir la puerta de la valijera Agapito le disparo en la región de los genitales, produciéndole la herida que después lo llevaría a la muerte183.

Os primeiros movimentos guerrilheiros foram assim, asfixiados ao longo de uma

década (1959-1970). Segundo Oscar Creydt a luta armada seria suspendida “até que se

criem melhores condições para esta forma superior de luta em nosso país” 184. Na

���������������������������������������� �������������������182 DURE, Victor V. e SILVA, Agripino. Frente Unido de Liberación Nacional (1960-1965), guerra de guerrillas como guerra del pueblo. In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004, p. 142-143. 183 PAREDES, 2004, p. 92. 184 CREYDT, Oscar, 2007, p.326.�

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verdade quando alude a essas “condições”, faz referência a um maior apoio das massas

na luta contra o regime. O terror instaurado pela ditadura amedrontava enormemente o

povo.

Na luta guerrilheira paraguaia não houve sobreviventes: pelo menos todos os lideres foram mortos e a maioria dos combatentes morreu em combate ou torturas que se efetuavam em plena selva. Os métodos de intimidação não ficavam apenas para os combatentes da guerrilha: os camponeses da região eram espancados, torturados e até assassinado preventivamente. Assim que os guerrilheiros estavam numa determinada zona, era inevitável que os militares da ditadura matassem alguns camponeses e torturassem outro tanto, como exemplo para os demais, que não deveriam lhes dar apoio. 185

O regime stronista utilizou-se de um forte esquema repressivo para sua

manutenção no poder. Para isso, pode contar com o apoio externo do EUA e do Brasil, e

também com o discurso da Doutrina de Segurança Nacional (assunto apontado no

capítulo II deste trabalho). O que era inesperado para povo paraguaio era que como

efeito disso, Stroessner ficaria como chefe de Estado por um período de 35 anos e

estabeleceria um sistema ditatorial marcado pela falta de liberdade, deixando os civis

por mais de três décadas longe do poder. Além do mais, os primeiros grupos

guerrilheiros como já apontamos, organizaram-se desde fora do território paraguaio fato

este que debilitaram seus planos deixando a análise da conjuntura naquele momento

fragilizada:

Os dirigentes da FULNA, assim como os do Movimento 14 de maio, desde o exílio em Buenos Aires ou Montevidéu idealizaram a guerrilha imaginando que a sociedade paraguaia continuava sendo a mesma que eles haviam conhecido, ou seja, aquela de 1947. No fundo, um Estado frouxamente constituído, com predomínio dos caudilhos e elites políticas, no qual, os alçamentos e quarteladas permitiam rápidas mudanças no comando do governo. A longa instabilidade posterior à guerra civil de 1947 parecia confirmar que a sociedade paraguaia pouco havia mudado186.

���������������������������������������� �������������������185CHIAVENATO, 1980, p.120. 186 MORAES, Ceres e COLMÁN, Evaristo. A guerrilha da FULNA: Considerações preliminares. Disponível em: www.cedema.org/uploads/moraes_colman.pdf Acesso em: 23/01/2011.

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O regime de Stroessner passou a se reivindicar como defensor ferrenho da

política anticomunista. Durante a Guerra Fria, todos que questionaram o regime foram

em algum momento qualificados como comunistas e sofreram com a dura repressão do

regime. Para perceber o automático enquadramento dos opositores como sendo

elementos comunistas, vale lembrar que ao começar a década de 1970 todos os países

do Cone Sul tinham governos militares que abraçavam a idéia da Doutrina de Segurança

Nacional formulada pelos Estados Unidos, dentro deste contexto vejamos agora outra

agrupação que escolheu as armas para tentar derrotar Stroessner.

3.5 Organización Político Militar Primero de Marzo (OPM):

A idéia de formar a OPM partiu da vontade de alguns estudantes universitários

paraguaios que se encontravam em exílio no Chile em 1971e vislumbravam instaurar

um governo de cunho socialista, conforme o de Salvador Allende. Quem tomou frente

dessa organização e se dispôs a lhe dar um caráter mais orgânico foi Juan Carlos da

Costa, um jovem de 27 anos que viu na insatisfação desses outros jovens a oportunidade

de reacender a oposição armada e por fim ao regime de Alfredo Stroessner. Juan Carlos

aparece destacou-se como líder devido sua experiência militante.

Em 1970, Juan Carlos foi preso pela primeira vez, neste momento já havia

começado a manter contato com líderes campesinos e cultivava planos de construir uma

organização clandestina a fim de destituir Stroessner do poder. Porém em junho de

1971, foi preso, torturado e deportado para Argentina devido suas atividades políticas

no Paraguai, ali tomou contato com organizações de esquerda a exemplo dos

Montoneros, e assim que tomou ciência da vitória de Allende não demorou a migrar

para o Chile, onde estreitou laços com o Movimiento de Izquierda Revolucionaria

(MIR)187.

O próximo passo estabelecer contato com os descontentes que estavam dentro do

país e assim unir forças desde exílio para finalmente colocar em prática o objetivo final

que era o fim da ditadura. O projeto logo encontrou adeptos entre pessoas que se

opunham ao regime stronista, Wellbach Evelin assim afiança:

���������������������������������������� �������������������187 PAZ, Alfredo Boccia. Biografia de Juan Carlos Da Costa (OPM-Organización Político Militar) In: LACHI, Marcelo. Insurgentes: La resistência armada a la dictadura de Stroessner. Asunción/PY: Arandurã editorial, 2004, p. 203-204.

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Muchos exiliados en Argentina y estudiantes paraguayos que residían en nuestro país y militaban en contra del régimen, se incorporaron a las filas de esta nueva organización. Principalmente fueron los estudiantes universitarios de la Provincia de Corrientes en la UNNE (Universidad Nacional del Nordeste, Argentina), quienes desde allí forjaron núcleos importantes. La vinculación con el sector campesino se estableció por medio de algunos de los miembros de las Ligas Agrarias Cristianas, organizaciones campesinas que desde los años sesenta tenían sus bases en varios puntos de Paraguay.Miembros de las Ligas Agrarias Cristianas se vinculan con OPM difundiendo el pensamiento católico tercermundista entre los integrantes de esta última Organización188.

Como descrito na citação, unem-se aos estudantes e a outros militantes para

formar a OPM a Liga Agraria Cristiana. Era um movimento que surgiu em vários

departamentos do Paraguai e suas reivindicações estava ligada ao histórico problema de

terras que existente no Paraguai. Na década de 1970, as ligas tomaram um

posicionamento mais aguerrido em relação ao combate à ditadura. Os dirigentes

campesinos começaram a ver nas armas o único meio para se contrapor ao regime:

Para 1974, las tranformaciones se hecieron más resonantes, Constantino Coronel, um destacado dirigente de las primeras Ligas Cristianas se aproximó a dirigentes que se propusieron derrocar a Stroessner a través del uso de las armas-Organización Primero de Marzo. (OPM)-. Es en la prácticas como estás, en las que encontramos la transformación de los perfiles de los dirigentes: van radicalizandose189.

Na cidade argentina de Corrientes, os estudantes da Universidad Del Nordeste

estavam organizados na “Agrupación Cultural Guaraní”, que através de festas e festivais

abriam espaço para a discussão da situação política do Paraguai. Os militantes da OPM

utilizaram essa agrupação que tinha uma fachada não política para aproximar membros

para a organização. O intuito era selecionar pessoas com o “perfil guerrilheiro” e para

isso pessoas como Juan Carlos da Costa eram essenciais, importantes nesse trabalho de

identificar possíveis militantes, devido sua experiência.

���������������������������������������� ��������������������##EVELIN, Wellbach. Las prácticas políticas de las organizaciones Político Militares desde el exílio 1970-1989. Disponível em: http://www.iigg.fsoc.uba.ar/pobmigra/paraguay/pdf_taller_200806/Pon_Wellbach.pdf Acesso em: 05/07/2010. ��#� TERRIBILE, Marcelo. De las ligas Agrarias Cristianas a los Movimientos Campesinos en el departamento de Caaguazú: El proceso de transformación de las organizaciones rurales del Paraguay (1960-1989). Disponível em: http://produccion.fsoc.uba.ar/paraguay/taller/2008/pdf_taller_200806/Pon_Terribile.pdf Acesso em:07/02/2011.�

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La captación de cuadros, para la incorporación a la militancia estaba sustentada por un sistema en el que cada integrante de la célula tenía la misión de atraer a compañeros, no se apuntaba tanto a la cantidad sino a la calidad humana del futuro militante. Los miembros tenían como tarea máxima, incorporar tres compañeros a la Organización, bajo un criterio bastante restrictivo190.

Começaram então a difundir suas idéias através de uma revista que tinha

circulação interna de nome Tatapiriri, que apareceu pela primeira vez em maio de 1975,

esta era escrita e editada em Assunção e visava deixar os militantes em exílio

informados da situação no Paraguai. Além disso, continuavam a recrutar novos

membros e adotaram medidas de seguranças, como por exemplo, o uso de

pseudônimos191.

No dia 03 de abril do ano de 1976, a OPM sentia que já estava madura o

bastante para ingressar no Paraguai partindo de Corrientes na Argentina. A estratégia

era adentrar em território paraguaio em pequenos grupos e depois juntar forças com os

militantes da OPM que se encontravam no Paraguai. No entanto, Carlos Branãs

estudante de medicina em Corrientes, foi preso pela policia enquanto cruzava de lancha

com sua esposa e outras duas mulheres no rio Paraná entre Posadas que fica na

Argentina e Encarnación região do Paraguai.

A raiz del apresamiento del estudiante Carlos Branãs em el puerto fronterizo de Encarnación, el Departamento de Investigaciones de la Policía de la Capital descubríria a la Organización Político Militar (OPM), cuyo desmantelamiento orginaría la escalada represiva más importante de los años.192

No Departamento de investigações no mesmo dia em que foi preso, Carlos foi

interrogado e submetido a torturas, durante a madrugada do dia 04 de abril a policia já

tinham em mãos as informações que necessitavam para acabar com a OPM.

A partir de ahí se seguieron días trágicos: el 5 murió en un enfrentamiento com la policía su máximo líder, Juan Carlos da Costa; esse mismo día “desapareció” Martino Rolón y fue detenido – para ser

���������������������������������������� �������������������190 EVELIN, Wellbach. Las prácticas políticas de las organizaciones Político Militares desde el exílio 1970-1989. Disponível em: http://www.iigg.fsoc.uba.ar/pobmigra/paraguay/pdf_taller_200806/Pon_Wellbach.pdf Acesso em: 05/07/2010. 191 Ibidem 192PAZ, Alfredo Boccia. et al. En los sotanos de los generales: los documentos ocultos del operativo Condor. Asunción-Paraguay:Servilibro, 2002. p.121.

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muerto después – Mario Schaerer Prono. Decenas de detenidos, centenares después.193

O que aconteceu com Mario Prono aparece na carta de representação contra

Alfredo Stroessner, informação levantada pela Comissão de Direitos Humanos da

Câmara dos Deputados do Brasil presidida pelo Deputado Marcos Rolim de Moura em

2000 e que exigia a extradição de Stroessner para o Paraguai onde deveria ser julgado

pelos crimes que cometeu, na carta;

Mário Schaerer Prono e sua esposa Guilermina Kanonnikoff foram presos em 5 de abril de 1976. Ela, que à época estava grávida, ficou presa mais de um ano, tendo seu filho nascido na prisão. Guilermina declarou em juízo que viu seu marido em várias oportunidades, enquanto estava no Departamento de Investigações e, inclusive, escutou seus gritos durante sessões de torturas. A última vez que o viu se encontrava em estado grave. Várias outras pessoas, que se encontravam detidas no Departamento de Investigações, viram seu marido em estado grave. A versão oficial do governo foi a de que Prono havia morrido em um enfrentamento com a policia194.

A dura repressão da ditadura de Stroessner custou a vida de aproximadamente

20 militantes da OPM e acarretaram na prisão de mais de 1000 pessoas195. Segundo um

balanço feito da ditadura paraguaia pelo autor Nilson Mariano, as conseqüências do

sistema repressivo de Stroessner são descritos desta forma:

1)Cerca de 2 mil presos e 70 mortos identificados, segundo o Comitê de Igrejas para Ajudas de Emergência. 2)Entre 1 mil e 2 mil mortos durante os 35 anos de ditadura, segundo o volume três do Relatório Nunca Mais. 3)360 mil estiveram presos ao longo da ditadura, conforme relatórios da Americas Watch, de 1985. 4)Aproximadamente 1 milhão de paraguaios exilados na Argentina, no Brasil e no Uruguai, segundo o Comitê Católico Mundial de Migrações196.

���������������������������������������� �������������������193 PAREDES, 2004, p. 160. ��' Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/tpi/stroeessner.html Consulta em: 16 de maio de 2010.�

195 PAZ, Alfredo Boccia. et al. En los sotanos de los generales: los documentos ocultos del operativo Condor. Asunción-Paraguay:Servilibro, 2002. p.121. 196MARIANO, Nilson. As garras do condor/ como as ditaduras militares da Argentina, do Chile, do Uruguai, do Brasil, da Bolívia e do Paraguai se associaram para eliminar adversários políticos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p.222.

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O fim das ações organizadas pelos insurgentes não poderia dar-se em momento

melhor para o governo de Alfredo Stroessner, em 1976 ano em que a OPM caiu,

também foi o ano de criação do Operativo Condor criado no Chile. A conjuntura do

Cone Sul não era propicia para ditadores como Alfredo Stroessner. Todos os países da

região tinham a sua frente governos militares que adotavam a Doutrina de Segurança

Nacional e seu teor anticomunista, suas ações eram assistidas de forma condescendente

pelo Estados Unidos e para Stroessner no Paraguai, esses conjunto de fatos contribuiu

para o estabelecimento de seu longo regime.

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CONCLUSÃO:

O debate que travamos durante nosso trabalho nos levou a considerar um tipo de

cultura autoritária no Paraguai e que o longo período em que Stroessner esteve no

poder, foi sustentado por uma percepção única, um modo de perceber o “fazer político”

singular. O palco político desse país se desenhou de forma caótica, fruto de um cenário

de instabilidades e que por muitas vezes deixou margem para a ascensão de ditaduras.

A condição para o estabelecimento dessa cultura remonta o processo de

reorganização política paraguaia após a “Guerra contra o Paraguai” (1864-1870), deste

conflito sobrou a esta nação uma herança bastante amarga. O país não conseguiu depois

desse período, dar um caráter democrático a suas instituições representativas, o que

permitiu o estabelecimento de regimes longos baseados na força. Um ciclo constante de

golpes, sublevações em um circuito de constante desordem política.

É dentro deste contexto que os partidos mais tradicionais do Paraguai surgiram.

O Partido Colorado e o Partido Liberal tiveram na constituição de seus projetos a

vontade de se estabelecer como força única, tomando o poder e estabelecendo o controle

sobre todo o estado, anulando qualquer oposição. Isso ocasionou perseguições e

exclusões, atraso e debilidades políticas e econômicas, deixando o Paraguai bastante

vulnerável. A gana pelo poder que caracteriza a atuação desses grupos deixa clara o teor

autoritário contido em suas ambições.

Com Alfredo Stroessner, isso ficou ainda mais visível. Os planos do general em

se tornar o chefe do estado paraguaio caracterizou o marco de uma nova era para o

Paraguai. Stroessner que tomou o poder através de um golpe no ano de 1954 foi espelho

dessa cultura. Era um personagem que de alguma forma unia características que o

fizeram aparecer como a melhor opção dentro deste terreno de instabilidades. Era

influente dentro do grande partido Colorado, era um militar, tido como herói da Guerra

do Chaco (1939-1935) e havia acompanhado de perto vários golpes e levantes do qual

também participara. No entanto, em sua ditadura, Stroessner aperfeiçoou este tipo

característico de fazer política no Paraguai. Estabeleceu um regime autoritário, baseado

no militarismo e em seu partido, só que com uma novidade: impulsionou certo tipo de

desenvolvimento e modernização econômica que a muito a sociedade paraguaia não via.

Para isso, soube tirar proveito das disputas estabelecidas na região do Cone Sul entre

Argentina e Brasil, com sua política externa conhecida como pendular. Não se deve

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esquecer-se do importante apoio estadunidense que contribuirá no discurso

anticomunista incorporado por Stroessner durante seu regime.

Stroessner para conseguir consolidar sua ditadura, não hesitou em utilizar de

armações e procedimentos autoritários, sacrificando qualquer valor democrático e

impedindo pelo meio da força qualquer um que se colocasse em seu caminho.

O regime stronista, obrigou a várias pessoas que não concordavam a ditadura a

abandonar o Paraguai. Esses grupos de exilados organizaram-se desde fora, para por fim

ao governo de Stroessner. A mais expressiva experiência em uma primeira fase desses

grupos, que viam na via armada o único caminho para derrubar Stroessner, foi a Frente

Unido de Liberación Nacional (FULNA) e o 14 de Mayo. No entanto, essas primeiras

agrupações não demoraram em ser totalmente dizimadas. O serviço de repressão

stronista, não parava de se aprimorar, todo o modo de fazer política do governo

Stroessner baseava-se na coerção. Além disso, outro fator pesava para que o sucesso

dessas agrupações não ocorresse. A maioria dos seus quadros vivia em exílio o que

dificultava uma análise mais profunda do que realmente estava ocorrendo dentro do

Paraguai.

A segunda fase da luta armada contra o regime de Stroessner tem como

protagonista a Organização Político Militar (OPM). Esse grupo surgiu na década de

1970, e também foi idealizado por paraguaios que se encontravam no exílio. A

especificidade desse período é que o governo Stroessner nesses anos já se encontrava

alinhado ao discurso anticomunista em voga nessa época. Não foi difícil para

Stroessner, contanto com o apoio do grande Estados Unidos e de seu vizinho Brasil,

sufocar qualquer descontente. Stroessner soube usar de forma hábil as ferramentas que

lhe eram oferecidas naquele momento. A aproximação com um vizinho forte na região

do Cone Sul que era o Brasil e por fim o alinhamento internacional com o discurso da

Doutrina de Segurança Nacional dos EUA.

Em um regime ditatorial só o uso da força não serve como sustentáculo. É

preciso criar meios através de significações que auxiliam no enraizamento do discurso

pronunciado. Segundo Edward Said “a cultura pode até mesmo ser um campo de

batalha no qual as causas se expõem publicamente e combatem uma contra a outra” 197.

���������������������������������������� �������������������197 SAID apud EAGLETON, Terry. A idéia de cultura; tradução Sandra Castello Branco. São Paulo: Editora UNESP, 2005, p. 53

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O governo paraguaio baseado, alicerçado no discurso anticomunista, procurou

naturalizar suas ações mesmo que estas fossem contra o interesse da maioria. No campo

das idéias, as disputas entre as ideologias comunista e capitalista serviram para acirrar

os tradicionais conflitos no Paraguai. Na verdade, Stroessner utilizou-se disto para por

fim a qualquer oposição, quando na verdade, não queria defender o Paraguai de uma

ameaça comunista e sim defender seu tradicional e autoritário governo mantendo o

poder em suas mãos.

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FONTES E BIBLIOGRAFIA

A) LIVROS:

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