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Grazielle Nayara Felicio Silva
Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG: espaço
efetivo de controle social?
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.
Orientador: Prof. Márcio Eduardo Brotto
Rio de Janeiro Setembro de 2014
Grazielle Nayara Felicio Silva
Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG: espaço
efetivo de controle social?
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social do Departamento de Serviço Social do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Prof. Marcio Eduardo Brotto Orientador
Departamento de Serviço Social – PUC-Rio
Profa. Inez Terezinha Stampa
PUC-Rio
Profa. Mônica de Castro Maia Senna
UFF
Profa. Mônica Herz Vice-Decana de Pós-Graduação do
Centro de Ciências Sociais – PUC-Rio
Rio de Janeiro, 08 de setembro de 2014
Todos os direitos reservados. É proibida a
reprodução total ou parcial do trabalho sem
autorização da universidade, do autor e do
orientador.
Graduou-se em Serviço Social pela Universidade
Estadual de Montes Claros – UNIMONTES, em
2011, onde desenvolveu trabalhos sobre extensão
universitária e estudos sobre políticas sociais,
especificamente sobre a política de Assistência
Social e a política de Previdência Social. Trabalhou
como assistente social no Programa Bolsa Família
de Francisco Sá/MG. Atualmente é Assistência
Social e pertencente ao quadro efetivo, no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo, no qual atua sobre a política de educação,
em interface com as demais políticas sociais.
Ficha Catalográfica
CDD: 361
Silva, Grazielle Nayara Felicio Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG: espaço efetivo de controle social? / Grazielle Nayara Felicio Silva ; orientador: Márcio Eduardo Brotto. – 2014. 189 f. : il. (color.) ; 30 cm Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Serviço Social, 2014 . Inclui bibliografia. 1. Serviço social – Teses. 2. Assistência social. 3. Controle social. 4. Conselhos municipais. 5. Esfera pública democrática. I. Brotto, Márcio Eduardo. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Serviço Social. III. Título.
Aos meus avós Belchior e Gasparina. Fonte de amor, inspiração
e presença, mesmo na ausência. Um amor vivido por 23 anos e
que eu sinto saudades diariamente. A vocês, eu dedico esse
mestrado!!!
Agradecimentos
Chegar ao final de uma etapa, atravessada de tantos obstáculos, tempestades e
ventos frios, faz o gosto de agradecer ter um sentimento de liberdade aflorada e de
calor de colo de mãe. A vontade de expressar a todos aqueles que se fizeram
presentes - do início ao fim do processo – requer coração quente e disposto a
chorar. Tarefa fácil a uma pisciana que está aprendendo a lidar com os
sentimentos e as sensações que eles despertam. Por isso, me sinto imensamente
agradecida.
Primeiramente, e acima de tudo, à Deus por tudo que tem feito em minha vida.
Pelos caminhos que tem me possibilitado trilhar e pela força que recebo dEle, que
me faz acreditar que a minha fé move montanhas e tudo o que sou e que tenho
devo a Ele. Foi graças a Ti, Senhor, que eu não desisti de mim e dos meus sonhos!
Obrigada pelo amor incondicional e pela graça de reconhecer diariamente o seu
cuidado, afeto e proteção comigo.
Aos meus pais, Ester e Jair, por representarem a mim o sentimento de que o amor
e o cuidado com o outro é algo livre, que dá asas para o crescimento e ensina os
caminhos que deve andar. Vocês me permitiram sonhar, ousar e jamais desistir!
Mesmo distantes, nos fazemos presentes, com o coração conectado e o amor
imensurável. Vocês são os meus melhores amigos!
Aos meus avós, Belchior e Gasparina, a quem dedico a conclusão desse mestrado.
Vocês estiveram – durante 23 anos da minha vida- ao meu lado, me ofereceram
cuidados, amores, abraços, puxões de orelha e a prova mais verdadeira de que o
amor resiste ao tempo e até mesmo a morte. Aprender lidar com a ausência e o
sentimento de saudades tem sido meu maior desafio nos últimos tempos. Tenho
me feito forte, graças aos ensinamentos de vocês.
Aos meus irmãos, sinônimo que o amor se reflete até mesmo nas brigas e na super
proteção. Ser irmã mais velha me gera o sentimento de cuidado e responsabilidade
com vocês. Vê-los crescer com dignidade e aprendendo a ter respeito pelo outro é
o sentimento que me fortalece na busca por aquilo que desejo e acredito. Vocês
me impulsionam ao meu melhor e despertam em mim a vontade de tê-los sempre
comigo.
Ao meu padrasto, pelo apoio e incentivo que sempre demonstrou aos meus
projetos e a maneira carinhosa como cuida da minha mãe, sendo suporte na
ausência dos filhos.
A minha família materna: tios, tias, primos, primas e agregados. Sou grata por
compartilharem comigo e comemorarem a realização das minhas conquistas. O
lugar que cheguei e os espaços que estou inserida foram possíveis por reconhecer
o amor de vocês. Os laços que nos unem são muito mais que sanguíneos. Somos a
Família Felício, que cuida, briga, intromete, ama, abraça, ri e chora juntos, sempre
juntos! Vocês são essenciais na minha vida!!!
A minha família paterna: mesmo o contato não sendo tão intenso e rotineiro,
temos vínculos que permitem que nos reconheçamos um nos outros. Quando
estamos juntos, o amor prevalece e sinto de vocês o cuidado, carinho e respeito
comigo. Obrigada por me permitirem saber que família é isso!
Aos meus amigos de Serranópolis de Minas, meus melhores amigos de
adolescência. Que viveram comigo a mudança de fases. Cada riso compartilhado é
guardado no canto esquerdo do peito! Hoje estamos trilhando caminhos
diferentes, mas é sempre uma festa quando estamos juntos, sinto muito a falta de
vocês!
Aos meus amigos de Montes Claros, sejam aqueles que a Unimontes me permitiu
conhecer ou até mesmo a militância profissional. Vocês compartilharam comigo
momentos únicos, guardo com carinho o sorriso e o abraço de cada um. Foram
responsáveis pelo meu crescimento enquanto pessoa e enquanto profissional!
Aos amigos que a graduação me deu. Ao meu quarteto, presentes que a faculdade
me deu e que carrego pra vida. Dani, Dé, Selminha e Mari, amo muito vocês! E
sei que o “a gente se tem” é de verdade. Obrigada por serem meu referencial de
amizade! A minha galera do bem, por terem sido muito mais que colegas de
turma. Compartilhamos sonhos. E isso nos fez muito mais que amigos, nos fez
irmãos.
Aos amigos de Francisco Sá, obrigada pela acolhida tão sincera que vocês sempre
possibilitaram a mim. Essa cidade me deu um dos meus bens mais preciosos, por
isso guardo um carinho muito grande por tudo que vivi e pude conhecer aí. Foram
momentos que marcaram um importante momento da minha vida.
Aos amigos do Rio de Janeiro, os quase 365 dias vividos nesta Cidade
Maravilhosa foram únicos, pois tive a presença e companhia de cada um de vocês.
Cada um no seu jeito de ser, mas que demonstravam carinho, respeito,
cumplicidade, lealdade e acima de tudo amizade. A Leninha, que me acolheu em
um momento de procura de rumos. A Mayra, que com seu jeitinho Alice, dividiu
comigo o processo de mudança e se tornou uma das minhas melhores amigas. A
Luana, por compartilhar sonhos, projetos de vida e perspectivas profissionais. E,
por fim e não menos importante, a Jussara Lopes¸ conterrânea norte-mineira, mas
que tivemos os vínculos aproximados devido as perspectivas profissionais tão
parecidas. Obrigada por tudo. O mestrado e a mudança ao Rio de Janeiro só foram
possíveis pela força que você me deu! Compartilhamos sonhos e projetos de vida
e construímos uma linda amizade! Serei sempre muito grata!
Aos amigos do mestrado, não consigo mensurar o quanto essa dissertação só
chegou ao fim, pois tive a força de vocês. Quando tudo estava tenebroso, era o
carinho, o afeto e o cuidado que temos um com o outro que me fizeram crescer e
encarar as dificuldades com a cabeça erguida. Obrigada Ana Paula Jordão, Ana
Carolina, Joyce, Keila, Keiza, Leandro, Maria Inês, Michelle, Mônica, Rejane,
Vanderlei e Vanessa. Cada mensagem de incentivo jamais poderão ser retribuídas.
Em especial, a Rachel: o presente mais lindo que o Rio de Janeiro me deu! Nos
tornamos muito mais que vizinhas. Nos tornamos confidentes, amigas e irmãs e os
caminhos da vida agora são muito mais floridos. Amo você!
Ao Departamento de Serviço Social da PUC-Rio e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por permitirem elementos
fundamentais ao processo de início, desenvolvimento e conclusão do mestrado.
Aos professores, por dividirem ensinamentos e propiciarem que o processo
ensino-aprendizagem não se desvencilhassem do comprometimento, da qualidade
e da amizade. Vocês sempre serão referenciais de profissionais. Aos funcionários
Bruno e Mariana, agradeço a solicitude de sempre e a Joana, o meu muito
obrigada por tudo que você representa ao Departamento.
Ao Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros, pelas
contribuições e suportes necessários à efetivação da pesquisa e por ter sido lócus
de observação acerca do objeto aqui pesquisado. Espero que minhas reflexões
auxiliam na efetivação do Controle Social pautada nas perspectivas que o Sistema
Único de Assistência propõe.
Ao professor Márcio Brotto, sou grata pelo processo de acolhimento desde sua
entrada na PUC-Rio e por aceitar o desafio de enfrentar a orientação. Graças a sua
paciência, pude chegar ao fim desse processo. Obrigada pela amizade que dividiu
comigo desde sempre e desculpas pelos atrasos e contratempos no desenvolver da
pesquisa. Carregarei comigo os ensinamentos e sentirei saudades. Você foi
essencial e é responsável por uma parte da profissional que sou.
A Inez Stampa, gratidão eterna. Antes mesmo de ser aluna no Programa, já pude
contar com o seu apoio e orientação nas horas necessárias. Muito obrigada por
toda acolhida, carinho e preocupação. Não consigo demonstrar em palavras o
carinho que tenho por você. Sentirei muitas saudades e espero que a amizade
construída se fortaleça.
A Andréia Clapp agradeço pela contribuição no meu processo de formação e por
ter sido, também, referência de profissional. Admiro sua firmeza e seu jeito doce
de encarar a vida.
A Monica Senna, obrigada pelas contribuições no processo de qualificação e por
permitir que a pesquisa fosse construída sobre os seus olhares também. Tenho
você como referencia de pesquisadora na área de Assistência Social. Parabéns
pela competência que tem conduzido à arte de ensinar.
Aos amigos de Capivari e Rafard, agradeço pela acolhida nesta cidade e por
permitirem que eu faça daqui o meu lugar para viver e morar. A amizade de vocês
é essencial para que consiga conviver com a saudade de casa.
Ao Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), agradeço por
permitir que eu possa exercer minhas competências profissionais. A categoria de
assistentes sociais, sobretudo a Michelli Daros, agradeço por compartilharem
comigo o cotidiano, as angústias, as reflexões e pela união que faz com que
sejamos fortalecidas na busca pela efetivação do nosso Projeto Ético Político, em
um cenário de correlação de forças e que emerge, diariamente, a necessidade de
lutas para garantia dos direitos dos nossos usuários. Aprendo, diariamente, com
vocês a me tornar assistente social.
Aos amigos do IFSP Campus Capivari agradeço pela amizade e pela parceria que
estabelecemos. Sem dúvidas, conviver com um espaço de trabalho sereno como é
o nosso faz toda a diferença. A Talita, obrigada por ter sido, desde o primeiro dia,
minha companheira não só de trabalho, mas como também de lar, sempre disposta
a me ouvir e dividir comigo as angústias do dia-a-dia. A Isabel, com seu jeitinho
doce e delicado, divide comigo a saudade de Minas Gerais, sempre disposta a
ouvir e colaborar. A Letícia, que chegou a pouco tempo e já demonstra a que veio,
seja na posição firme ou no jeito sempre solícito e disposto a ajudar. A Ana Carla,
a quem carinhosamente chamo de “chefa”, muito obrigada por tudo e
principalmente por entender minha ausências quando necessário para o êxito da
pesquisa. Trabalhar com vocês, meninas, me realiza profissionalmente. Nas
nossas singularidades, construímos uma prática profissional comprometida com o
processo ensino-aprendizagem público, gratuito e de qualidade. Além disso,
construímos vínculos de amizades que são essenciais para mim. Ao Waldo,
sinônimo de competência e serenidade. Sem dúvidas, é o referencial a todos o
Campus, não poderíamos ter um diretor e um amigo melhor. Obrigada pelo modo
como conduz a sua prática profissional e nos permite colaborar. A Grazielle,
Karlan, Márcio, Micael, Junio, Adriana Peressin, e Paulo Renato, obrigada por
permitirem que nossa amizade fosse extensa ao Instituto.
Por último e não menos importante, a família que tenho construído em Capivari,
muito obrigada por me permitirem conviver com vocês. Ao meu namorado Luis
Carlos, que tem sido fundamental para a concretização dessa etapa na minha vida.
A força que encontro em você não me deixou fraquejar. Os puxões de orelha e os
finais de semana compartilhados em estudos e juntos propiciaram que eu
concluísse com êxito esse momento. Você tem se tornado um grande amigo e
viver a dois com você tem sido uma das minhas melhores experiências. Obrigada
por me oferecer carinho e família, de um modo incondicional e cercado de amor!
Aos meus sogros Maria e Carlão, agradeço pelo afeto e a forma como cuidam de
mim. Ter comida de mãe e amor de pai em terras paulistas me faz um bem
danado! Ao João e Danilo, obrigada, cunhadinhos postiços, por fazerem com que
meus finais de semana sejam mais divertidos. Carregarei vocês para a vida e
tenho certeza que Deus reserva lindos sonhos para nós. Amo vocês
Que venham os novos desafios e que meu desejo de realizar meus sonhos me
impulsione cada vez mais! Um ciclo se fecha, mas novos horizontes se abrem.
Resumo
Silva, Grazielle Nayara Felício; Brotto, Marcio Eduardo. Conselho
Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG: espaço efetivo
de controle social? Rio de Janeiro, 2014. 189p. Dissertação de Mestrado –
Departamento de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro.
O presente estudo tem como objeto central o exercício do controle social na
política de assistência social desenvolvido pela gestão do Conselho Municipal de
Assistência Social de Montes Claros, considerando suas atividades no período de
setembro de 2012 a dezembro de 2013. Através da análise de atas produzidas
durante o referido período e de dados advindos do Censo SUAS 2013, busca-se
analisar se as práticas desenvolvidas pelo Conselho Municipal de Assistência
Social de Montes Claros têm contribuído para o exercício e protagonismo do
Controle Social, no processo de implementação do Sistema Único de Assistência
Social (SUAS). Esta análise parte do pressuposto da necessidade de estudos
acerca dos conselhos gestores de políticas públicas, tendo em vista que a
Constituição Federal de 1988 traz, dentre outras inovações no âmbito dos direitos
sociais, a presença destes espaços como algo que atravessa a organicidade das
políticas públicas, de modo a configurar um novo espaço de participação aos
movimentos sociais. Isso porque os conselhos foram criados como instâncias com
poder decisório para permitir uma necessária e importante articulação entre
Estado e Sociedade Civil, possibilitando o exercício do Controle Social e um novo
modo de fazer política. Estes espaços institucionais de exercício da participação
popular são considerados uma grande conquista na implementação das políticas
públicas e para a participação da sociedade civil, além de atuar na construção da
esfera pública democrática, haja vista o ranço cultural que historicamente
perpassaram as políticas públicas, tais como o imediatismo, a fragmentação e a
descontinuidade. Neste sentido, o presente estudo busca demonstrar que apesar
dos avanços constitucionais e da legalidade imposta pela institucionalidade do
conselho municipal, no contexto das práticas voltadas à assistência social, o
conselho ainda carece de questões pertinentes ao debate efetivo qualitativo, de
modo a aprimorar suas intervenções para além daquilo que está posto como sua
função. Esbarra, assim, em questões conjunturais e estruturais para o exercício de
um controle social efetivo, já que embora os dados apontem para a expansão
quantitativa, o processo não demonstra um avanço qualitativo expresso em
experiências práticas de efetivação do controle social, o que corrobora para que os
conselhos vivenciem limites e possibilidades.
Palavras-chave
Assistência Social; Controle Social; Conselhos Municipais; Esfera Pública
Democrática.
Abstract
Silva, Grazielle Nayara Felício; Brotto, Marcio Eduardo (Advisor). The
City Social Care Council of Montes Claros/ MG: an effective space of
social control? Rio de Janeiro, 2014. 189p. MSc. Dissertation –
Departamento de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro.
The present study has as central purpose the exercise of social control in
social care policy developed by the administration of the Municipal Social Care
Council of Montes Claros, considering their activities from September 2012 to
December 2013. through analysis of minutes produced during the period and
arising your 2013 SUAS CENSUS, we seek to examine whether the practices
developed by the Municipal Council of Montes Claros Care (SUAS) have
contributed to the role of exercise and Social Control in the process of
implementing the Unified Social Care (ITS). This analysis assumes the need for
studies on the management boards of public policy, given that the Federal
Constitution of 1988 provides, among other innovations in the context of Social
Rights, the presence of these spaces as something that traverses the organicity of
public policies in order to set up a new space for the participation of social
movements. This is because the councils were created as instances with decision
and making power to enable a necessary and important link between the State and
Civil Society, enabling the exercise of social control and a new way of doing
politics. These institutional spaces for the exercise of popular participation are
considered a great achievement the implementation of public policies and the
participation of civil society in building democratic public sphere, given the
cultural rancid historically permeated public policies, such as immediacy,
fragmentation and discontinuity. In this sense, this study seeks to show that
despite the advances constitutional and legal institutions imposed by the city
council, in the context of practices aimed at Social Care, it still lacks the relevant
qualitative true debate issues in order to enhance their interventions beyond what
is posited as its function. Coming just in cyclical and structural to the exercise of
effective social control issues, since although the results point to the quantitative
expansion, the process does not show an express qualitative advance in practical
experiences of effective social control, which confirms that advice to experience
the limits and possibilities.
Keywords
Social Care; Social Control; Municipal Councils; Democratic Public Sphere.
Sumário
1. Introdução 20
2. Esfera pública, controle social, perspectivas democráticas, movimentos sociais e formação sócio-histórica brasileira: elementos necessários para introduzir o debate
34
2.1. Formação sócio histórica do Estado brasileiro 35
2.2. Relação entre esfera pública, controle social e perspectivas democráticas
51
2.3. Movimentos sociais e democracia: uma relação dialética
61
3. A Política de Assistência Social e suas interfaces: uma análise sobre seu histórico, seu contexto e suas demandas atuais
66
3.1. A Assistência Social e seu processo histórico de formação: o direito como favor
66
3.2. Assistência Social enquanto direito: elementos normativos e o debate contemporâneo
77
3.3. Os Conselhos de Assistência Social: importância deliberativa e suas funções constitucionais
92
4. Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros: diretrizes, objetivos e perspectivas – um olhar crítico sobre sua realidade atual
102
4.1. Natureza da pesquisa e método 103
4.2. “Cenários” de estudo e análise de dados: correlacionando elementos empíricos
105
4.2.1. Contextualizando a história de Montes Claros: “a cidade do favor”
105
4.2.2. A Assistência Social em Montes Claros/MG: seus elementos concretos
114
4.2.3. O Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG: fragilidades, limites e possibilidades
117
5. Considerações finais 146
6. Referências Bibliográficas 153
7. Anexos
162
Lista de Figuras
Figura 1 - Rede Socioassistencial do SUAS 85
Figura 2 - Regiões de Planejamento de Minas Gerais segundo a Fundação João Pinheiro (1992)
107
Figura 3 - Mapa que mostra a localização geográfica de Montes Claros/MG
113
Figura 4 - Territórios dos CRAS no município de Montes Claros/MG
115
Figura 5 - Resumo dos principais assuntos relacionados ao Tema de Pauta
129
Figura 6 - Resumo dos principais assuntos relacionados ao Tema de Pauta
133
Lista de Gráficos
Gráfico 1 - Número de membros por Representação do Poder Público – Poder Público
119
Gráfico 2 - Número de membros por Representação da Sociedade Civil - Poder Público
120
Gráfico 3 - Composição do Conselho em relação à questão de gênero
121
Gráfico 4 - Escolaridade dos Conselheiros Municipais de Montes Claros
122
Gráfico 5 - Função desempenhada pelos Conselheiros Municipais de Montes Claros
123
Gráfico 6- Representação dos Conselheiros Municipais de Montes Claros
124
Gráfico 7 - Quantidade de reuniões realizadas 127
Gráfico 8 - Principais pautas discutidas no período analisado
128
Lista de Quadros
Quadro 1 - Resumo das funções da Assistência Social
84
Quadro 2 - Atribuições do Conselho Municipal de Montes Claros
117
Quadro 3- Agrupamento de perguntas correlacionadas à dinâmica de funcionamento do CMAS
134
20
1 Introdução
O presente estudo dissertativo, intitulado Conselho Municipal de
Assistência Social de Montes Claros/MG: espaço efetivo de controle social? é
fruto de inquietações que deram subsídios à construção da pesquisa desenvolvida
ao longo do mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Serviço Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Esta pesquisa esteve atrelada à área de concentração do referido programa,
embasada nas discussões pertinentes às análises ao eixo de “Serviço Social,
Questão Social e Direitos Sociais”, tendo em vista o recorte que subsidia a
investigação dos diferentes processos, representações e práticas dos sujeitos
sociais envolvidos na constituição da esfera pública.
Dessa maneira, vinculada à linha de pesquisa de “Trabalho, Políticas Sociais
e Sujeitos Coletivos”, buscou-se compreender o exercício do controle social na
política de assistência social desenvolvido pela gestão do Conselho Municipal de
Assistência Social de Montes Claros, considerando suas atividades no período de
setembro de 2012 a dezembro de 2013, já que esta linha de pesquisa conglomera
estudos que buscam, a partir das categorias trabalho, políticas sociais e sujeitos
coletivos, analisar a importância destas para o Serviço Social frente à conjuntura
que perpassa a contemporaneidade e suas relações.
Assim, as reflexões que sustentaram as indagações que originaram o
presente estudo foram resultantes das vivências da pesquisadora enquanto
estudante de Serviço Social, ao longo dos anos 2008-2011. Durante o período de
discente de graduação, através do acesso às esferas do ensino, pesquisa e
extensão, fora possível vivenciar questões que perpassavam a política de
Assistência Social, seja enquanto estagiária em Centros de Referência de
Assistência Social (CRAS) ou no Conselho Municipal de Assistência Social,
localizado na cidade de Montes Claros/MG.
Além disso, a participação no projeto de Extensão Unimontes Solidária1,
permitiu que questões oriundas da dinâmica de funcionamento dos Conselhos
1 O referido projeto é desenvolvido semestralmente pela Pró-reitoria de Extensão da Universidade
Estadual de Montes Claros e tem a intenção de promover atividades que estejam articuladas entre
21
Municipais de Assistência Social, nos municípios visitados no Norte de Minas
Gerais, surgissem como aflições perante os princípios que subsidiavam a
construção da formação profissional, que estava posta durante a graduação,
suscitando o desejo por investigar – de modo stricto sensu - as questões que se
qualificavam como angustia.
Compreende-se que este permite desvendar a realidade com elementos
palpáveis, que contribuem para a efetivação de direitos, a partir dos seus
resultados.
Assim, o objeto de estudo que foi designado para análise, parte da ideia de
ter sido um fruto das inquietações ora postas no cotidiano de formação
profissional. Dessa maneira, a presente pesquisa se demarcou enquanto uma
possibilidade de reflexão acerca do controle social, permitindo a busca por novos
ângulos de análises. Buscou-se contribuir para uma prática mais fortalecida dos
sujeitos envolvidos nesse processo, com novos elementos de atuação e de
análises, tendo em vista que a realidade está em constante metamorfose e que a
teoria social deve propiciar o seu desvelamento, através de pesquisas direcionadas
a sua transformação e comprometidas com os temas e sujeitos que se envolvem no
estudo.
Destarte, a problemática central deste estudo refere-se à atuação do espaço
do controle social democrático circunscrito à política de Assistência Social no
município de Montes Claros/MG, cuja abordagem ganha especial interesse por
estar situada na região do norte de Minas Gerais, circunscrita a uma cidade que
vivencia em suas relações sociais uma forte presença da cultura política do favor,
do clientelismo, do apadrinhamento e de outros traços que historicamente
marcaram a formação sócio-histórica da região (Pereira, 2002).
É válido destacar que o estudo aqui realizado, ao delimitar como eixo
norteador o cenário de (re)formulações da Política de Assistência Social, o faz
levando em consideração o marco da Constituição Federal de 1988. Isto ocorre
pois se compreende que o histórico da política de assistência social –
anteriormente à promulgação desta Constituição – foi perpassado por um modelo
os cursos oferecidos na Universidade. O público-alvo do projeto são municípios carentes das
regiões do Norte de Minas, Vales do Jequitinhonha e Mucuri, que possuam, dentre os requisitos
necessários para seleção, IDH com números relativamente baixos” (FELÍCIO SILVA e MENDES,
2011)
22
socioassistencial que se efetivou através de benemerência, filantropia e caridade,
arraigada de valores morais que reforçavam a subalternidade dos sujeitos que
eram usuários das ações desenvolvidas por ela, deslegitimando direitos
historicamente construídos.
Assim sendo, a assistência social enquanto política pública, tendo seus
programas, projetos, serviços e benefícios organizados com base na
implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que se orientam
conforme a pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), a Política Nacional
de Assistência Social (PNAS) e as Normas Operacionais Básicas (NOB’S), seja a
Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB-SUAS)
e/ou a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB-RH).
Dessa maneira, a perspectiva adotada nesta dissertação é a de assistência
social enquanto política pública de proteção social, integrante da seguridade
social2 e com caráter não contributivo. De acordo Brotto (2012), é importante
entender que esta atual configuração da assistência social apresenta o desafio de
superar a concepção conservadora que historicamente perpassou esta política,
segundo a qual concebe proteção social pública como sinônimo de práticas
assistencialistas.
Compreende-se que o leque de questões que emerge das afirmações ora
postas estimula diversas inquietações que permitem estudos aprofundados.
Todavia, como demonstrado anteriormente, optou-se por analisar a assistência
social através dos conselhos de assistência social, entendendo que este configura-
se como espaço privilegiado de análises frente aos objetivos a que a pesquisa se
propõe. De acordo a PNAS (2004)
Os conselhos têm como principais atribuições a deliberação e a fiscalização da
execução da política e de seu financiamento, em consonância com as diretrizes
propostas pela conferência; a aprovação do plano; a apreciação e aprovação da
proposta orçamentária para a área e do plano de aplicação do fundo, com a
definição dos critérios de partilha dos recursos, exercidas em cada instância em que
estão estabelecidos. Os conselhos, ainda, normatizam, disciplinam, acompanham,
avaliam e fiscalizam os serviços de assistência social, prestado pela rede sócio-
assistencial, definindo os padrões de qualidade do atendimento e estabelecendo os
critérios para o repasse de recursos financeiras (PNAS, 2004, p. 51-52)
2 Em conjunto com a saúde e a previdência social, formando o tripé da seguridade social.
23
Frente a isso, faz-se importante ressaltar que a assistência social enquanto
política pública é perpassada por relações que são estabelecidas entre a esfera
pública e a esfera privada, sendo carregada de códigos culturais que se
intercruzam e se reproduzem – de maneira histórica – nas expressões da cultura
política e proteção social dos sujeitos (Brotto, 2012).
Dessa maneira, o objetivo geral deste estudo centra-se em analisar se as
práticas desenvolvidas pelo Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS)
de Montes Claros têm contribuído para o exercício e protagonismo do Controle
Social frente à execução dos serviços, programas, projetos e benefícios do
Sistema Único de Assistência Social.
Para tanto, de modo a construir os caminhos desta análise, buscou-se,
enquanto objetivos específicos, compreender quais ações são executadas no
âmbito da deliberação, formulação, fiscalização e monitoramento da assistência
social em esfera municipal; caracterizar a atuação do Conselho Municipal de
Assistência Social (CMAS) naquilo que tange as suas atribuições previstas nos
elementos normativos que circunscrevem este espaço de controle social e as ações
inerentes à execução do processo de controle social democrático; bem como
entender o modo pelo qual se concretiza a relação entre as esferas governamental
e sociedade civil, frente a sua atuação política e as pautas ora colocadas.
Os questionamentos que direcionaram as análises estiveram permeados das
seguintes interrogações: o conselho municipal é atuante naquilo que diz respeito
aos seus objetivos? Como se dá o processo de controle social por parte das esferas
que compõem este espaço? Ele tem atuado na direção de consolidar a política de
assistência social enquanto política pública? Quais as pautas que têm direcionado
as suas discussões? Elas são analisadas e discutidas com base na legislação que
normatiza a política? Elas condizem com a real função do CMAS?
Parte-se do pressuposto de que o Conselho Municipal de Assistência Social
de Montes Claros, dado a tradição clientelista que permeou o processo de
formação sócio-histórica do norte de Minas Gerais (Pereira, 2002), tem sido
circunscrito de questões que limitam a efetivação deste enquanto um espaço de
controle social, com o intuito de contribuir para a implementação dos serviços,
programas, projetos e benefícios da política municipal de assistência social -
calcada nos princípios que permeiam a Política Nacional de Assistência Social - e
24
que, portanto, carece de análises que colaborem para o efetivo exercício das suas
funções ora delimitadas.
Desse modo, tem-se como diretriz para subsidiar a discussão a concepção de
que os conselhos surgem – em conjunto com outros espaços democráticos, tais
como as conferências – enquanto arranjos, historicamente conquistados pela
sociedade civil, de modo a promover que as políticas públicas possuam relações
democráticas em sua relação com o Estado.
Entretanto, conforme a abordagem impressa por Raichelis (2006), é
importante entender que o surgimento dos conselhos esteve permeado por
questões conjunturais que tencionam o esvaziamento da esfera pública e a
politização das suas relações3 e redirecionam a necessidade de reflexão acerca dos
desafios colocados à participação social frente às políticas públicas na atual
conjuntura, tendo em vista que
[...] a operacionalização da política de assistência social apresenta diversos
desafios, com destaque para as influências de práticas históricas de caráter
conservador e clientelista que, recorrentemente, também são caracterizadoras da
cultura e da história política nacional e local. (Brotto, 2012, p. 21)
Assim sendo, a construção deste estudo dissertativo buscou-se centrar em
categorias de análise que permitissem a sua concretização com base em elementos
que contribuíssem com o desvelamento das questões colocadas ao longo do
caminho metodológico. Neste sentido, fez-se importante utilizar teorias que
elucidassem e permitissem o aprofundamento do debate bem como o
embasamento dos apontamentos aqui colocados.
Em um primeiro momento, constituindo-se aqui o segundo capítulo desta
dissertação, que se denomina “Esfera pública, controle social, perspectivas
democráticas, movimentos sociais e formação sócio histórica brasileira:
elementos necessários para introduzir o debate”, apresenta-se o debate que
gira em torno das reflexões necessárias para correlacionar a formação sócio
histórica do Estado Brasileiro e as características inerentes ao debate da esfera
pública, controle social e perspectivas democráticas, bem como a relação dialética
3 Conforme Carvalho (2013) estas questões são inerentes aos princípios neoliberais que regem a
lógica de Estado atual.
25
entre os movimentos sociais e a democracia, de modo a permitir a construção dos
subsídios que contribuam aos olhares que direcionam esta pesquisa.
Dessa maneira, entende-se que a formação sócio-histórica brasileira4 é
permeada por paradigmas que constituem o que Coutinho (2008) denominou
como “via brasileira”, influenciada por outros diversos paradigmas. Estes
paradigmas remetem à ideia de que a formação do Estado Brasileiro se deu tanto
através da manutenção de elementos da velha ordem, sem promover mudanças na
organização social, como na junção/conciliação da classe dominante com a
explícita tentativa de excluir as camadas populares de um processo de participação
mais amplo, o que propiciou a preferência pela manutenção do atraso ao invés de
promover o desenvolvimento aliado às classes populares.
Assim sendo, compreende-se que no processo de formação do Estado
Brasileiro não ocorreram rompimentos com elementos que caracterizavam a
ordem social anterior, promovendo rearranjos entre as classes dominantes com o
intuito explícito de afastar as classes populares do processo que se ordenou. Com
base em Fernandes (1975), a Revolução Burguesa que surge – de modo tardio no
Brasil – foi carregada de forte simbolismo, todavia não veio a romper com a
ordem anterior, permeada de características aristocráticas, mas sim reproduzir o
elitismo característico do período imperial, consequência imediata da sociedade
de classes.
Dessa forma, importante entender que o processo de independência
ocorreu com a manutenção de traços conservadores, inerentes ao sistema vigente,
promovendo a extensão de traços da esfera doméstica para o circuito das relações
em sociedade, como a manutenção de privilégios, contribuindo para a maior
estratificação da sociedade.
Entende-se que esta situação justificou-se devido à necessidade de
manutenção do status quo, tendo em vista que os conflitos surgidos eram sempre
apaziguados de modo opressivo e repressivo, para refletir a ideia de que caso
houvessem manifestações populares que objetivassem galgar espaço político elas
fossem contidas antes da sua explosão.
Nesse sentido, de maneira introdutória, observa-se que a formação sócio-
histórica brasileira esteve permeada por uma cultura política vivenciada nas
4 Entende-se aqui como o processo que origina as condições para a independência e expansão da
burguesia neste cenário.
26
relações e que fora provocada – sobretudo – pela ascensão burguesa, que escolhia
maneiras para desenvolver o seu poderio embasada em princípios que trouxessem
vantagens ao seu interesse classista.
Essas escolhas permitiram que as mudanças promovidas pela ascensão
burguesa estivessem demarcadas pelas ambiguidades, atreladas a uma ordem
social competitiva, com papéis econômicos, sociais e políticos demarcados, que
fugiam à lógica democrática e revolucionária, expressando um caráter reacionário
e conservador.
É válido destacar que este processo contribui para a presença de um Estado
forte com traços autoritários em contraponto a uma sociedade civil frágil5,
originária da burocracia paternalista brasileira. Estas características, inerentes à
constituição do Estado Brasileiro, contribui para que questões ligadas a cidadania
estivessem sempre no centro de pauta das discussões, sobretudo no que diz
respeito à garantia de direitos dos sujeitos sociais.
No debate atual acerca da constituição do Estado e das características da
sociedade civil, entende-se a necessidade de enfatizar que, após a constituição do
estado democrático de direito – sobretudo com o fim da Ditadura Militar pós-1985
– há a efervescência dos movimentos populares, contribuindo para que avanços
sejam ocorridos frente às políticas públicas e delineando o amadurecimento da
sociedade civil frente às questões necessárias à formação social brasileira. Isso
ocorre mesmo tendo em vista a concretização, em anos seguintes, dos princípios
neoliberais que direcionam a intervenção do Estado.
Ressalta-se com o debate posto que os conselhos de políticas e de direitos
constituem-se enquanto construções coletivas frente ao cenário que historicamente
fora colocado. Embora se verifiquem fragilidades de direitos, entende-se que estes
têm delineado suas intervenções com base nos ideários democráticos, afincados
na ideia de garantir a justiça social, circunscrito no interesse público que permeia
a esfera pública e seus debates.
Entretanto, se faz de suma importância compreender as relações que se
efetivam nesta esfera pública - partindo do princípio que esta se constitui
5 Essas características permearam a constituição do Estado Brasileiro ao longo das décadas,
embora se verifiquem oscilações ao longo da história. Durante a construção do embasamento
teórico do capítulo, observou-se que em muitos momentos a sociedade civil fora responsável por
mudanças significativas na garantia de direitos sociais e na configuração de políticas públicas.
Parte do debate poderá ser observado ao longo do texto do Capítulo 2.
27
enquanto parte do processo democrático - convergindo no fortalecimento do
Estado e da Sociedade Civil e nas decisões políticas que os circunscrevem.
Assim sendo, cabe destacar que o desenvolvimento desta pesquisa
compreende que a constituição da esfera pública permite a interlocução entre os
sujeitos, possibilitando diálogos6 que contribuem para a efetivação de direitos,
tendo em vista que é na esfera pública que, de acordo Telles (1990), o discurso
ganha legitimidade, sobretudo a partir da totalidade contraditória e dinâmica.
Nesse sentido, o controle social se torna um elemento de suma importância
para efetivar o debate dentro do contexto da esfera pública, tendo em vista que ele
permite a participação da sociedade civil nas negociações e construções debatidas,
sobretudo no processo de fiscalização. Isso se efetiva em um espaço com
princípios democráticos, que possibilitam as decisões políticas, baseadas em uma
cultura que venha a romper com o ranço individualista e seja pautada na ideia da
coletividade.
É na esfera pública que se verifica o vislumbramento das questões que são
inerentes à opinião e vontade política, sobretudo os conflitos pertinentes a este
debate. Além disso, ela permite que seja dada a efetivação da participação e do
protagonismo social dos movimentos sociais, contribuindo para que o exercício
do controle social se efetive nas perspectivas que se propõe – sobretudo a partir da
Constituição Federal de 1988. Assim, os conselhos de políticas – enquanto
mecanismos de controle social - surgem enquanto elementos necessários para a
garantia da efetivação das políticas públicas, por contribuírem para a gestão das
mesmas.
Cabe ressaltar que essa mudança de paradigma acerca do controle social –
advindo da Constituição Federal de 1988 – deve-se, sobretudo, graças ao
protagonismo dos movimentos sociais que emergem na década de 1970 e 1980.
Entende-se que os movimentos sociais7 permitem o processo de participação dos
sujeitos coletivos, na apresentação das suas demandas, em um viés coletivo e de
perspectivas de mudanças sociais, buscando da autonomia e emancipação.
Como expressão dos movimentos sociais, os conselhos constituem-se
enquanto elementos de participação, que propiciam a tomada de decisões,
6 Estes diálogos devem ter como norte a desconstrução de elementos que permearam a formação
sócio-histórica brasileira, tais como a tendência a perspectivas patrimonialistas e conservadores. 7 Além disso, os movimentos sociais possibilitam a construção de novos atores sociais, em uma
perspectiva de formação de nova cultura democrática.
28
constituídos de maneira plural e paritária entre Estado e Sociedade Civil
(Tatagiba, 2002) e possibilitam deliberações, tornando-se elementos fundamentais
no campo do debate político.
É válido ressaltar que os movimentos sociais tem seu respaldo balizado na
defesa de grupos historicamente excluídos. Por isso se faz necessário que o espaço
que estes se insiram esteja permeado por significações culturais que permitam a
ampliação das práticas sociais para além de mecanismos institucionalizados8, de
modo que o fazer político seja redefinido através da inserção de novas práticas
sociais frente às práticas culturais desenvolvidas, não limitando os atores sociais,
mas sim criando identidades, demandas e necessidades dos grupos colocados em
situação de vulnerabilidade e exclusão social. Além disso, é importante que estes
espaços estejam permeados por concepções democráticas e que construam uma
dimensão pública e cidadã das políticas sociais (Alvarez, Dagnino & Escobar,
2000; Cohn, 2003; Melluci, 2001; Oliveira, Paoli Rezex, 2003; Santos & Avritzer,
2005).
Frente ao debate posto, o 3º capítulo deste estudo, intitulado A Política de
Assistência Social e suas interfaces: uma análise sobre seu histórico, seu
contexto e suas demandas atuais fornece subsídios para a construção do debate
pertinente à política de Assistência Social, tendo em vista que o foco do trabalho
refere-se aos conselhos municipais de Assistência Social. Por isso a necessidade
de entender as relações postas ao discurso da teoria que reflete sobre esta política
pública. Inicialmente, as reflexões centram-se em compreender o processo
histórico de constituição da Assistência Social, enquanto política de dever do
Estado e de direito do cidadão, tendo em vista que historicamente ela foi
caracterizada enquanto o lugar do favor e da caridade.
Entende-se que a assistência social constitui-se enquanto um produto
histórico, fruto da ação dos sujeitos, tendo suas experiências e valores afirmados e
reafirmados ao longo do processo que a cria e recria. Importante entender que este
processo esteve atrelado a valores antagônicos, permeado por questões como
favor e direito, o antigo e o novo (Garcia, 2012).
Entretanto, é válido compreender que a assistência social esteve,
historicamente, ligada ao tratamento da questão social, de modo a minimizar as
8 Como o voto, por exemplo.
29
suas questões na vida dos sujeitos sociais (Sposati, 1195). Porém, ao longo do
tempo suas práticas e ações foram se modificando. Inicialmente elas estiveram
atreladas à lógica da caridade, pautada numa perspectiva assistencialista. Eram
desenvolvidas, em grande parte, pela Igreja e damas de caridade, em um viés
filantrópico de ajuda ao próximo. Entretanto, com o acirramento da questão social
e suas expressões, foi necessária a busca estratégica por intervenções pelo Estado,
de modo a atuar para minimizar essas questões.
Assim, ao longo da constituição enquanto política pública verificam-se
diversas formas pela qual a assistência social foi se institucionalizando. Cabe aqui
destacar a instituição do Conselho Nacional de Serviço Social em 1938, criado
enquanto um órgão de cooperação que tinha como objetivo subsidiar as escolhas
das organizações da sociedade civil que seriam auxiliadas financeiramente.
Além disso, observa-se, em 1942, a criação da Legião Brasileira de
Assistência (LBA), instituição que se configurou como a pioneira no que diz
respeito à responsabilidade de executar práticas ligadas à assistência. Esta tinha
como objetivos, oferecer atendimento a famílias em situação de calamidade de
maneira paliativa. Porém, as suas ações eram subsidiadas em direcionamentos
políticos, arraigados em formas carismáticas e assistencialistas e tinham
perspectiva de enquadramento à ordem social vigente.
Compreende-se que este histórico9 da política de assistência social (em seu
viés assistencialista) foi responsável por criar na mesma a identidade do negativo,
do lugar do pobre e do necessitado - desvirtuando a mesma do seu real significado
– e das práticas imprevisíveis, ausentes de planejamento no seu processo de
execução.
Ressalta-se aqui a importância dos movimentos sociais naquilo que compete
à reorganização da política de assistência social. Vários movimentos, como, por
exemplo, a Teologia da Libertação – surgida dentro e com influências na Igreja
Católica – permitiram que as práticas pudessem ser ressignificadas frente ao
contexto e objetivos que se inseriam (Lonardoni et al, 2003) e que permitissem à
9 O histórico da política não se limita apenas a criação do CNSS e da LBA. Conforme será
verificado no capítulo 3, observa-se que diversos elementos compuseram a sua criação e
institucionalização enquanto política. Cabe destacar que muitos desses elementos trouxeram
contribuições de forma negativa, mas também de maneira positiva a forma pela qual a mesma é
executada na atualidade.
30
Assistência Social (re)configurar-se enquanto política pública de -direito do
cidadão e dever do Estado.
Assim sendo, os elementos normativos10 que propiciaram a construção da
Assistência Social - numa perspectiva enquanto política pública de caráter social –
entraram em cena a partir de 1988, com a promulgação da constituição que
atualmente rege o sistema legislacional brasileiro.
De acordo com estes elementos normativos, a assistência social, na
contemporaneidade, é entendida enquanto política pública que compõe a rede de
proteção social, numa perspectiva que garanta direitos a quem dela necessitar,
sendo financiada com recursos públicos e provida pela sociedade e pelo Estado,
com a primazia deste último.
Assim, ela é norteada por princípios, diretrizes e objetivos, a partir de uma
nova lógica de gestão. Todavia, frente ao cenário econômico de agravamento da
questão social, essa política tem se defrontado com desafios que exigem a sua
necessidade de reafirmação enquanto direito do cidadão, frente à legislação que a
direciona.
E é diante dessa necessidade de reafirmação da política enquanto direito dos
seus usuários que a presente pesquisa situa a importância dos conselhos de
assistência social, já que se tem a premissa que os conselhos gestores de políticas
configuram-se, na contemporaneidade, enquanto instrumentos que propiciam a
participação social dos sujeitos (Gohn, 2011) e que têm demarcado importante
destaque na estrutura das políticas públicas, ao estabelecer um novo papel na
relação entre Estado e Sociedade, pois permitem que seja feita a fiscalização das
ações, atingindo uma dimensão político-institucional.
De acordo Tatagina (2002), por partirem do princípio da universalização dos
direitos, os conselhos de política – através de funções consultivas, deliberativas
e/ou fiscalizatórias – propiciam que as políticas se efetivem na legalidade.
Dessa maneira, como exemplos de conselhos gestores têm-se os conselhos
de assistência social. Eles são estruturas permanentes e coexistem em todas as
esferas administrativas, seja União, Estados, Municípios e/ou Distrito Federal.
São preceituados pela Lei Orgânica de Assistência Social e concretizam a diretriz
referente à participação da população no processo de gestão da política. Além
10 Esses elementos foram contextualizados no início dessa introdução e serão trabalhados ao longo
da construção teórica desta dissertação.
31
disso, são compostos – de forma paritária – por representantes do governo e da
sociedade civil.
De acordo a Política Nacional de Assistência Social, eles devem se efetivar
numa perspectiva democrática e descentralizada, a partir de processos de
aprovação, acompanhamento, fiscalização e avaliação. Possuem, dentre as suas
atribuições, a função de deliberar e fiscalizar a política conforme as diretrizes
discutidas e referenciadas em conferências, aprovar os planos de assistência social
e a proposta orçamentária, definir os critérios de partilha de recursos e
acompanhar a execução do fundo de assistência social.
Desse modo, a priori, os conselhos de assistência social devem contribuir
para a consolidação de uma esfera pública participativa, abarcando diferentes
sujeitos sociais em seu processo de gestão da política, que devem estar preparados
para o exercício da gestão democrática em um espaço de conflitos.
Nesta perspectiva, o capítulo empírico (capítulo 4) denominado Conselho
Municipal de Assistência Social de Montes Claros: diretrizes, objetivos e
perspectivas – um olhar crítico sobre sua realidade atual traz um estudo acerca
de como o Conselho Municipal de Montes Claros tem atuado naquilo que é de
competência dessa esfera, de modo a contribuir para a consolidação da política de
Assistência Social neste município.
A pesquisa bibliográfica realizada neste estudo foi complementada com a
pesquisa documental que subsidiou a construção deste último capítulo. Através de
uma análise quanti-qualitativa, foi possível analisar as questões que norteavam
este debate. Para tanto, usou-se como instrumentos metodológicos a leitura de
fontes teóricas sobre as categorias escolhidas para debate e a análise de atas
produzidas no período de setembro de 2012 a dezembro de 2013, bem com os
dados advindos do CENSO SUAS 2013 e disponibilizado pelo site do Ministério
do Desenvolvimento Social (MDS). O acesso às atas foi possível a partir de
contatos com a secretaria executiva do CMAS que disponibilizou – via correio
eletrônico- a essa pesquisadora.
Montes Claros hoje se configura como a maior cidade do Norte de Minas
Gerais, sendo considerada a capital norte-mineira, com aproximadamente 386.000
habitantes. Tem se consolidado enquanto um polo regional, tanto no âmbito da
prestação de serviços como saúde e educação, como na questão de polo
econômico. Todavia, apesar desses aspectos, a cidade ainda convive com ausência
32
de planejamento nas políticas públicas, bem como a convivência com fatores que
historicamente perpassaram as suas relações (Lessa, 2007).
No que diz respeito à política de Assistência Social no Município, verifica-
se que este se encontra em uma gestão plena11, assumindo a responsabilidade de
gestão de todas as ações que dizem respeito à política e sua execução no
município. Utilizou-se dos dados advindos da pesquisa realizada por Perez (2013)
para subsidiar a construção da caracterização da assistência social em Montes
Claros/MG.
Observa-se, no que diz respeito à configuração da política no município, que
este possui – em termos estruturais – aspectos relevantes12 que condizem com a
efetivação qualitativa desta.
No que se refere ao Conselho Municipal de Assistência Social de Montes
Claros – objeto de estudo – verifica-se que o mesmo foi criado através da Lei
2.479 de 07 de maio de 1997, sendo uma instância de caráter deliberativo,
permanente, normativo, fiscalizador e paritário. Dessa forma, é composto por
membros do governo e da sociedade civil e possui uma série de atribuições
elencadas na legislação que o regulamente internamente.
Assim sendo, para que os objetivos propostos neste estudo fossem atingidos,
inicialmente construíram-se os subsídios necessários à pesquisa para caracterizar o
espaço que se buscou analisar. Assim, brevemente foi feito uma caracterização do
município e da política de Assistência Social, bem como a história do Conselho
Municipal ligado a esta política e a maneira que ele se apresenta na atualidade.
No processo, foram trabalhados os dados advindos da pesquisa empírica – à
luz dos conceitos trabalhados ao longo do estudo – de modo a problematizar a
maneira pelo qual o CMAS de Montes Claros tem pautado sua atuação e o
exercício do controle social em âmbito municipal. Considera-se que este capítulo
possui aportes fundamentais para se entender o lócus de intervenção empírica e a
maneira pela qual o exercício do controle social é demarcado por singularidades
que carecem reflexões.
11 A gestão municipal da política de Assistência Social divide-se em três níveis de habilitação:
inicial, básica e pela. A gestão inicial é de responsabilidade dos municípios que atendam requisitos
mínimos, como a existência e funcionamento de conselho, fundo e plano municipais de assistência
social, além da execução das ações da Proteção Social Básica com recursos próprios. No nível
básico, o município assume, de forma autônoma, a gestão da proteção social básica. No nível
pleno, ele passa à gestão total das ações socioassistenciais. 12 Esses aspectos serão trabalhados ao longo do último capítulo deste estudo.
33
Desse modo, a partir das considerações finais, entende-se que esta pesquisa
contribuirá de maneira significativa para propiciar que o espaço de controle social
aqui analisado possa repensar, e quem sabe até, modificar suas ações com base
nos parâmetros analisados, permitindo que os participantes deste espaço possam
desenvolver um controle social autônomo e efetivo, que vá para além do mero
cumprimento de protocolo e obrigatoriedade.
.
34
2 Esfera pública, controle social, perspectivas democráticas, movimentos sociais e formação sócio-histórica brasileira: elementos necessários para introduzir o debate
Frente ao objeto de estudo que esta pesquisa se propõe a discutir, faz-se de
suma importância entender elementos que permitam a análise das suas formas
historicamente construídas. Dessa maneira, neste debate entende-se que
compreender o processo de formação sócio-histórica brasileira propicia subsídios
para analisar a forma pela qual a cultura política permeou a constituição da
sociedade e das relações estabelecidas entre os sujeitos que a compõem.
Parte-se das análises de Coutinho (2008; 2012) e Fernandes (1975; 1987)
para compreender o modo pelo qual a formação sócio-histórica brasileira esteve
atrelada a um processo de modernização que se efetuou pelo alto, sem promover
mudanças significativas na estrutura social. Esse processo sucumbe em privilégios
e promove uma cultura política calcada em uma participação política amorfa e
quase sempre reprimida pela classe detentora do poder.
Todavia, verifica-se que o desenrolar do processo de formação sócio-
histórica permite que a sociedade civil vá ganhando espaços e buscando maneiras
de promover lutas que pautem a necessidade de participação política, na busca
pela conquista e garantia de direitos dos sujeitos sociais. Assim, destacam-se os
conselhos e os movimentos sociais que, em bases democráticas, promovem a
necessidade do debate acerca da participação calcada em arena de lutas sociais.
Frente a isso, o objetivo desse capítulo é propiciar reflexões acerca da
relação entre a formação sócio-histórica brasileira e suas variáveis que
influenciam diretamente na esfera pública e na maneira pela qual os conselhos e
os movimentos sociais exercem o seu protagonismo social, sobretudo frente a
perspectivas democráticas colocadas ao longo do processo histórico que os
contextualiza.
Cabe destacar que o modo de fazer política ora alicerçado fora construído
em um cenário de repressão e exclusão das camadas populares devido à aliança
entre setores elitistas/dominantes. Essa aliança permitiu que fosse construída uma
cultura política na qual estivessem contempladas práticas que tratavam as
questões públicas como questões privadas. Assim,
35
Atravessaram toda a história sociopolítica de nossa sociedade e alicerçou uma
cultura política, onde o clientelismo, o compadrio e o mandonismo são marcas
prementes. Práticas políticas que, na atualidade, ainda podem se reproduzir em
espaços ditos democráticos, inclusive no âmbito de atuação dos conselhos gestores
de políticas; dentre eles o de assistência social. (Carvalho, 2013)
Diante disso, essa discussão se faz de suma importância, pois ela
possibilitará o entendimento acerca do Estado brasileiro e seu processo histórico
de desenvolvimento em diferentes esferas, sejam elas econômica, política e/ou
social, tendo em vista que por este processo ter sido demarcado com
transformações “pelo alto”, contribuiu para a exclusão das camadas populares do
processo de participação, o que rebate diretamente no modo pelo qual os atores
sociais colocam em cena suas demandas.
2.1. Formação sócio histórica do Estado Brasileiro
A constituição de uma esfera pública democrática atravessa as relações que
se entrecruzam entre o espaço público e o espaço privado. Delimitar e
caracterizar a esfera pública presume o desvelamento das relações que perpassam
estes âmbitos e como as mesmas se efetivam no cotidiano dos espaços. Desse
modo, temos uma inter-relação entre aquilo que é público e aquilo que é privado,
no qual o privado se apropria do espaço público, estabelecendo suas relações,
geralmente patrimonialistas e clientelistas, expressando a cultura política presente
na sociedade brasileira.
Importante compreender que o processo de formação sócio-histórico que
esteve submetido o Estado brasileiro possui características peculiares. De acordo
com Coutinho (2008), durante décadas houve a presença de um Estado
caracterizado por traços autoritários, fruto da burocracia patrimonialista burguesa
advinda de Portugal. Todavia, parte-se da análise de que o Estado brasileiro
experimentou um processo de formação que o fez possuir características de um
Estado extremamente forte, autoritário, em contrapartida a uma sociedade civil
com debilidades.
36
Na leitura do autor supracitado, compreende-se que o Brasil experimentou
um processo de transformação social peculiar, compondo o que o mesmo
denomina de “via brasileira”. Porém, é necessário apreender a ideia de três
paradigmas elementares para pensar o modo pelo qual o Brasil transitou para a
modernidade, perpassando sua evolução política, tendo em vista a presença desses
paradigmas no processo de formação social.
Em um primeiro paradigma, calcado nas ideias apresentadas pelo marxista
Lenin13 (apud Coutinho, 2008), compreende-se o denominado como via
prussiana. Este tipo de transição para o sistema capitalista tem como pressuposto
o fortalecimento do Estado através da manutenção de elementos da velha ordem.
Já em Gramsci – constituindo o segundo paradigma – apreende-se o
conceito de Revolução Passiva. Elementarmente, entende-se este como revoluções
que se dão pelo alto e, embora provoquem mudanças na organização social, são
mudanças que conservam elementos anteriores. Nestes processos há uma
“transformação em que ocorre uma conciliação entre as frações modernas e
atrasadas das classes dominantes, com a explícita tentativa de excluir as camadas
populares de uma participação mais ampla de tais processos “(Coutinho, 2008, p.
108)
Por conseguinte, apresentando-se como o terceiro paradigma a influenciar o
processo de formação social brasileira, tem-se o que Barrigton Moore Jr.
denominou como Modernização Conservadora. Verifica-se que este paradigma
conserva características do latifúndio fundiário, bem como o poder oriundo deste
sistema. Desse modo, há a preferência por manter-se o atraso a aliar-se às classes
populares para promover o desenvolvimento.
Nesse sentido, observa-se que a formação do Estado brasileiro – o processo
de independência - não se constituiu como uma revolução, no sentido correlato do
termo, tendo em vista que não houve um rompimento com elementos anteriores e
ocorrendo – no seu círculo de formação – arranjos entre as classes dominantes,
que não corroboraram para a presença das classes populares. Como bem afirma
Coutinho (2008),
(...) tivemos, desde o início de nossa formação histórica, uma classe dominante que
nada tinha a ver com o povo, que não era expressão de movimentos populares, mas
13 LENIN. V.I O programa agrário. São Paulo, Ciências Humanas, 1980.
37
que foi imposta ao povo de cima para baixo ou mesmo de fora para dentro e,
portanto, não possuía uma efetiva identificação com as questões populares, com as
questões nacionais (Coutinho, 2008, p. 111).
O processo de independência – que rompe a priori com o estatuto colonial
do Brasil – origina as condições para expansão da burguesia em ascensão. Para
Fernandes (1975), é preciso compreender o processo histórico das transformações
econômicas, políticas e sociais que circunscrevem a consolidação da burguesia. É
válido analisar que esta – diferentemente da Europa – surge tardiamente na
formação social brasileira, sendo, entretanto, carregada de forte simbolismo neste
processo, tendo em vista que, conforme o autor supracitado, há uma divergência
no tempo econômico e no tempo político da revolução burguesa brasileira.
Além disso, Fernandes (1975) remete à ideia de que a evolução do
capitalismo e da sociedade de classes no Brasil – tendo a revolução burguesa
como uma realidade histórica do nosso país – pode ser avaliada do ponto de vista
das realidades vividas e do processo galgado em meio à sociedade brasileira.
A luz de tais argumentos, seria ilógico negar a existência do “burguês” e da
“burguesia” no Brasil. Poder-se-ia dizer, no máximo, que se trata de entidades que
aqui aparecem tardiamente, segundo um curso marcadamente distinto do que foi
seguido na evolução da Europa, mas dentro de tendências que prefiguram funções
e destinos sociais análogos tanto para o tipo de personalidade quanto para o tipo de
formação social. (Fernandes, 1975, p. 17)
O processo de desenvolvimento pelo qual a sociedade econômica brasileira
esteve historicamente atrelada exalta que a ascensão da burguesia advém da
necessidade do avanço - no que tange aos aspectos econômicos -, não tendo
relação intrínseca com aspectos políticos e provocando uma dualidade nestes
elementos.
A modernização econômica associada à extinção do estatuto colonial e à
implantação de um Estado nacional independente não tinha por fim adaptar o meio
econômico brasileiro a todos os requisitos estruturais e funcionais de uma
economia capitalista integrada, como as que existiam na Europa. Os seus estímulos
inovadores eram consideráveis, mas unilaterais. Dirigiam-se no sentido de
estabelecer uma coordenação relativamente eficiente entre o funcionamento e o
crescimento da economia brasileira e os tipos de interesses econômicos que
prevaleciam nas relações das economias centrais com o Brasil. (Fernandes, 1975,
p. 84)
38
Importante compreender que, de acordo o autor supracitado, a revolução
burguesa não ocorreu de modo a romper definitivamente com a ordem anterior,
não havendo um embate direto entre a classe que detinha o poder – a aristocracia
– e a nova classe que emerge nesse processo – a burguesia. Seguindo essa mesma
linha, Perondi (2007, p 139) afirma que
A burguesia brasileira não se constituiu inicialmente como uma força política
revolucionária, dotada de capacidade de empreender a suplantação da hegemonia
oligárquica através de uma insurreição. Ela surgiu como uma consequência
imediata da sociedade de classes, mas sem assumir o papel de “salvar” a sociedade
das forças que estavam no poder. O papel que ela se propôs a desempenhar era
claramente o de tirar o máximo de vantagem possível das desiguais condições da
sociedade brasileira. A transformação social que ela se propunha a desempenhar
era orientada por esses interesses (...).
Nesta direção, fica válido explicitar que os ideários que compreendiam a
formação desta burguesia em ascensão reproduzia o elitismo característico do
período imperial. De acordo Fernandes (1987), na medida em que iam acirrando
as contradições na sociedade em formação, o modo encontrado para apaziguar as
desigualdades era calcado na repressão, o que contribuiu para a manutenção da
estrutura social ora vigente, tendo em vista que a burguesia brasileira apresentou
uma fraca capacidade de modernização, inovando – sobretudo e apenas – naquilo
que concerne à esfera da produção e às atividades econômicas, remetendo à ideia
de que os modos de dominação foram ditados pela classe oligárquica
anteriormente destituída.
As implicações que isso gerou para a dominação burguesa foram numerosas e
qualitativamente significantes. Primeiramente cabe ressaltar que permitiu à
burguesia manter um amplo controle de todos os setores da sociedade brasileira
(econômicos, políticos, sociais), pois apesar da grande heterogeneidade social do
Brasil, o acordo tácito com a oligarquia permitia-lhe alcançar desde condições de
desenvolvimento atrasado (onde o padrão aristocrata ainda era predominante) até
as zonas urbanas que passavam por uma acentuada expansão econômica ( e que já
haviam assimilado o padrão burguês de desenvolvimento). (Perondi, 2007, p. 141)
Destarte, importante compreender, conforme elenca as ideias remetidas por
Fernandes (1987), que a reestruturação do poder permitida pela ascensão da
burguesia foi acoplada à dominação dos padrões autocráticos e conservadores,
tendo em vista que o acordo existente impossibilitou a criação do Estado enquanto
39
um mecanismo democrático de participação política, acionando o aparato
repressivo para coibir quaisquer formas de reivindicação pelas classes populares.
Nesse sentido, importante destacar que o processo de independência ocorreu
com a manutenção de um caráter conservador, no qual a preservação do sistema
vigente se mantém nas relações estabelecidas, tendo em vista a necessidade de que
houvesse maneiras de que a elite gozasse de uma dominação que não era possível
nos moldes estabelecidos pelo sistema colonial.
Desse modo, verifica-se que há a extensão de um modo patrimonialista –
inerente à esfera doméstica – para as relações estabelecidas no âmbito da
sociedade, sobretudo no tocante aos aspectos econômicos e da manutenção de
privilégios, promovendo ainda mais a estratificação da sociedade (Fernandes,
1975).
Diante disso, é válido elucidar que o processo de formação das classes
sociais no Brasil, conforme o autor supracitado, foram estruturadas sob um
processo de formação peculiar, demarcado por uma realidade jurídica, social e
institucional caracterizada pelo modo dependente no qual atravessavam as
relações, promovendo maneiras para que a prevalência dos interesses e de formas
de exploração continuassem a se dar de “fora para dentro”.
De acordo Oliveira e Vazquez (2010), é necessário compreender o processo
de análise da Revolução Burguesa no Brasil sob quatro ângulos de fatores
históricos sociais: a independência, a figura do “fazendeiro do café” e o
“imigrante”, a mudança de padrão da relação entre capital internacional e
organização da economia interna e a expansão e universalização da chamada
ordem social competitiva.
Cabe dizer que o processo de Revolução Burguesa no Brasil foi, conforme
Carvalho (2013), possibilitada pela expansão da lavoura – sobretudo na plantação
de café – na qual há a emergência de senhores rurais pautados em um estilo de
vida ao qual saem do isolamento do engenho e adentram a esfera política e
econômica das cidades. Além disso, há a intensificação desse processo com a
chegada dos imigrantes nas regiões onde há surto na economia, em virtude da
economia cafeeira.
Destarte, nota-se que para além das inferências na esfera econômica, o
processo de independência – e subsequente da “Revolução Burguesa” – promoveu
consequências tanto na esfera econômica quanto nas esferas da sociedade e do
40
Estado. A burguesia em ascensão no Estado “independente” desencadeia uma
série de processos que vão exercer influência direta no campo político, tendo em
vista que a mesma converge para o Estado seus ideários.
Esses interesses eram múltiplos e para tanto se comprometiam com o que lhe fosse
vantajoso, aproveitando-se tanto da situação de “atraso” como de “adiantamento”
em que se encontra a sociedade neste período. Foi exatamente no terreno político
que se definiram os interesses comuns e nele se impôs o pacto tácito de dominação
de classe, possibilitado pela forma lasciva com que o país se rende ao império do
poder e da soberania, especificamente nascido do dinheiro (Carvalho, 2013, p. 28).
Todavia, como dito anteriormente, no que concerne a resolução dos
conflitos, verifica-se que a maneira como esta lidava era peculiar. Dadas as
alianças feitas – tendo em vista a necessidade de manutenção do status quo da
oligarquia aristocrata -, observa-se que os mesmos eram apaziguados em âmbito
interno, já que quase sempre eles eram oriundos de divergências entre as classes
que detinham o poder e se tratavam de interesses que convergiam em
posicionamentos contrários no que tange aos aspectos econômicos e preocupações
particulares, dado o conservadorismo que permeava as relações.
Ainda neste sentido, é válido dizer que apesar do caráter modernizador
apresentado pela burguesia, este se restringia aos aspectos econômicos, já que fora
impossível a mudança dos paradigmas que permitissem uma “revolução de baixo
para cima” e ocasionasse mudanças de valores relativas aos aspectos
socioculturais (Idem).
Na acepção em que tomamos o conceito, Revolução Burguesa denota um conjunto
de transformações econômicas, tecnológicas, sociais, psicoculturais e politicas que
só se realizam quando o desenvolvimento capitalista atinge o clímax de sua
evolução industrial. Há, porém, um ponto de partida e um ponto de chegada, e é
extremamente difícil localizar-se o momento em que essa revolução alcança um
patamar histórico irreversível, de plena maturidade e, ao mesmo tempo, de
consolidação do poder burguês
e da dominação burguesa. A situação brasileira do fim do Império e do começo da
Republica, por exemplo, contem somente os germes desse poder e dessa
dominação. O que muitos autores chamam, com extrema impropriedade, de crise
do poder oligárquico não e propriamente um “colapso”, mas o inicio de uma
transição que inaugurava, ainda sob a hegemonia da oligarquia, uma recomposição
das estruturas do poder, pela qual se configurariam, historicamente, o poder
burguês e a dominação burguesa. (Fernandes, 1975, p. 203)
41
Diante disso, a maneira encontrada para lidar com a resolução dos conflitos,
oriundos deste processo, foi a opressão e repressão fazendo com que as
manifestações populares que tivessem como objetivo galgar espaços políticos
fossem contidas antes mesmo de ascenderem aos espaços desejados. Assim,
observa-se a presença de elementos paternalistas e de mandonismo político, que
atravessavam as manifestações populares e os discursos demagogos praticados.
Cedendo terreno ao radicalismo dos setores intermediários e a insatisfação dos
círculos industriais, ela praticamente ditou a solução dos conflitos a largo prazo,
pois não só resguardou seus interesses materiais “tradicionais” ou “modernos”,
apesar de todas as mudanças, como transferiu para os demais parceiros o seu modo
de ver e de praticar tanto as regras quanto o estilo do jogo. (Fernandes, 1975, p.
209)
No que tange aos aspectos das mudanças provocadas pela ascensão
burguesa, observa-se que a cultura política vivenciada nas relações advém deste
período histórico marcado pela debilidade e forma maniqueísta como nasce o
poder burguês, tendo em vista que desde os seus primórdios este esteve arado em
um terreno marcado pela dominação de classe, corrompida por valores enraizados
no capital, e que se manifesta, em larga escala, no âmbito político, convergindo
para o Estado e sua dominação socioeconômica.
Essa dominação socioeconômica permitiu que os interesses particulares
obtivessem espaço nas decisões de âmbito comum, representados no poder
político estatal. Diante disso, Fernandes (1975) remete ao entendimento de que a
aristocracia agraria obteve terreno propício a perpetuar o poder anteriormente
exercido. Todavia, a mesma, neste processo de transição, modernizou-se – naquilo
que se fazia necessário-, desdobrando em novas possibilidades de manter o seu
domínio exercido.
Assim, verifica-se que a burguesa polarizou-se de diversos modos, tanto
naquilo que concerne à estrutura social bem como no que diz respeito à estrutura
econômica e política. O modo escolhido para desenvolver seu poderio era calcado
em escolhas que fossem “vantajosas” aos seus princípios e seu interesse classista.
Nesse sentido, era importante para a burguesia manter a oligarquia presente na
sociedade, utilizando-se dos aspectos do atraso e das desigualdades promovido
por ela para as classes populares.
42
Nesse sentido, fora preterido pela burguesia a dinâmica de adoção dos
múltiplos interesses, no qual se baseia nas escolhas que promoveram uma
mudança gradual no que era estabelecido, promovendo uma modernização com
ambiguidades, marcada por um caráter intransigente, impetuoso e, ao mesmo
tempo, avassalador (Fernandes, 1975).
No mais, ela florescia num meio em que a desagregação social caminhava
espontaneamente, pois a Abolição e a universalização do trabalho livre levaram a
descolonização ao amago da economia e da sociedade. Sem qualquer intervenção
sua, intolerante ou ardorosa, a modernização caminhava rapidamente, pelo menos
nas zonas em expansão econômica e nas cidades mais importantes em crescimento
tumultuoso; e sua ansiedade politica ia mais na direção de amortecer a mudança
social espontânea, que no rumo oposto, de aprofunda-la e de estende-la as zonas
rurais e urbanas mais ou menos “retrogradas” e estáveis. (Fernandes, 1975, p. 205)
Segundo o autor supracitado, é necessário compreender que para além dos
aspectos sociodinâmicos mencionados, no que diz respeito à dinâmica
sociocultural, a burguesia possuía um caráter estritamente provinciano, oriundo
dos determinantes rurais provocados pela dominação oligárquica. Assim, embora
houvesse, muitas vezes, divergências ou mesmo oposição de ideias, estas
resumiam-se a questões que atravessavam o mesmo horizonte cultural, carregadas
de ideias calcadas em um particularismo peculiar e entranhadas de ideias
conservadoras.
Neste sentido, os conflitos que eram calcados entre os mesmos restringiam-
se – na grande maioria das vezes- aos aspectos de expansão dos negócios. Estes
eram facilmente negociados e acomodados, não sendo capaz de promover
inferências de grande relevância a história social, já que as relações sociais não
eram deixadas de serem colocadas em prática tendo em vista os interesses
divergentes.
Não obstante, a burguesia esteve atrelada e condicionada à ordem social
competitiva, definindo, portanto, um papel econômico, social e político. Porém, as
representações dos ideários burguesias atrelavam-se a “um circuito fechado” e, na
medida em que outros grupos cobravam da mesma um posicionamento
democrático, revolucionário e nacionalista ela reagia de um modo reacionário e
ultraconservador, seguindo os passos do “mandonismo oligárquico”.
Assim, observa-se que a mesma esteve dotada de um espírito modernizador,
naquilo que concerne ao espaço empresarial e às atividades econômicas
43
desenvolvidas, com o objetivo do crescimento econômico. Porém, naquilo que diz
respeito a promover a nação, a mesma promovia uma “Revolução Passiva”, do
alto para baixo, sem promover mudanças na estrutura social.
No sentido do que é expresso, Coutinho (2008) nos diz que o Brasil se
caracterizou, no decorrer da sua história pela presença de um Estado forte, com
traços autoritários, em contraposição a uma sociedade civil com características de
fragilidade e que isto é originado da burocracia patrimonialista burguesa14. Assim,
a “orientalidade” que permeia o processo de formação social, pode ser entendido
como o causador das mudanças que tornam-se marcas eminentes da
transformação social experimentadas neste processo.
A “via brasileira” que origina o processo de formação social do Brasil é
permeada de especificidades que incidem diretamente sob aspectos
socioeconômicos, sociopolíticos e socioculturais do país, tendo em vista que o
processo de ruptura da colônia – que origina o Estado Independente Brasileiro –
não é caracterizado por rompimentos com a estrutura antiga. De acordo Coutinho
(2008, p. 110)
(...) o processo de independência não se constitui absolutamente em uma revolução
no sentido forte da palavra, isto é, não representou um rompimento da ordem
estatal e sócio-econômica anterior, mas foi apenas, de certo modo, um rearranjo
entre as diferentes frações das classes dominantes.
Importante dizer que estes traços históricos incidem para compreender os
motivos que permitiram a presença do Estado nas relações sociais estabelecidas.
Isso possibilitou que houvesse uma interferência que acarretasse em
consequências15, promovendo uma Independência “pelo alto”, na qual a
constituição da nação se dá via Estado e não através das manifestações populares.
14 Para tanto, o autor se vale das ideias de Raymundo Faoro, que se embasa no pensamento
weberiano. Todavia, Coutinho (2008) opta por valer-se de Gramsci e afirma que o Brasil foi – pelo
menos até 1930 – um país no qual sua formação sócio-política seria do tipo “oriental”. Neste tipo
de sociedade, o Estado é tudo e a Sociedade Civil apresenta características de inconstância e sem
poder para aferir questões que permeiam as contradições apresentadas. Importante dizer que, no
pensamento Gramsciano, o “Ocidente” é caracterizado por uma ideia de equilíbrio entre o Estado e
a Sociedade Civil, naquilo que é pertinente as suas relações estabelecidas. 15 De acordo Coutinho (2008) isso teve importantes consequências para o Brasil. Na linha do
pensamento do autor, caso o processo de independência tivesse ocorrido de baixo para cima, com a
presença de manifestações populares e participação política, vivenciaríamos uma divisão
sociopolítica diferente da apresentada hoje. Provavelmente, conforme o autor, não seríamos um
país unificado e esta fragmentação poderia ter aspectos positivos, tendo em vista que através da
44
Nesse sentido, verifica-se que, desde os primórdios do Estado Brasileiro, há
a presença de uma classe dominante com questões que diferenciassem das
apresentadas pelas classes subalternas e pela qual há a imposição dos seus
anseios/desejos de modo que não se percebe a identificação das questões
populares com a maneira pela qual é executada a política no país. Assim, o Estado
desempenha papel protagonista neste cenário, favorecendo o que Florestan
Fernandes denominou de “autocracia burguesa”16.
Ao invés de ser o resultado de movimentos populares, ou seja, de um processo
dirigido por uma burguesia revolucionária que arrastasse consigo as massas
camponesas e os trabalhadores urbanos, a transformação capitalista teve lugar
graças ao acordo entre as frações das classes economicamente dominantes, com a
exclusão das forças populares e utilização permanente dos aparelhos repressivos e
de intervenção econômica do Estado. (Coutinho, 2012, p. 196)
Cabe destacar que o processo de Proclamação da República instaura no país
a criação de um Estado Burguês, incidindo diretamente na formação de uma
sociedade capitalista. Contudo, diante do pensamento expresso por Coutinho
(2008), verifica-se que a consolidação das relações capitalistas se dá,
efetivamente, a partir de 1930, no governo Getúlio Vargas, com a expansão e
consolidação do modo de produção industrial, amparados no poder do Estado.
Este processo se dá pelo alto.
Todavia, este processo, ao ocorrer de modo imposto e sem a presença das
classes populares, possibilita rebatimentos em esferas da vida que incidem
diretamente no modo como as relações são estabelecidas na sociedade brasileira.
A modernização pela qual o Estado Burguês passa no período da Revolução de
1930 gera elementos como o déficit de cidadania17 a dependência externa, a
coerção no modo capital-trabalho e forma corporativista estabelecida pelo Estado.
construção de um Estado calcado na participação popular, é possível vivencias aspectos menos
despóticos e oligárquicos, como o vivenciado no país, durante o processo. 16 A Revolução Burguesa que ocorreu no Brasil se deu de uma maneira não democrática e
revelando-se altamente opressora. Para Fernandes (1975) “Isso fez com que a restauração da
dominação burguesa levasse, de um lado, a um padrão capitalista altamente racionale
modernizador de desenvolvimento econômico; e, concomitantemente, servisse de pião a medidas
politicas, militares e policiais, contra-revolucionárias, que atrelaram o Estado nacional não a
clássica democracia burguesa, mas a uma versão tecnocrática da democracia restrita, a qual se
poderia qualificar, com precisão terminológica, como uma autocracia burguesa” (p. 267-268). 17 Importante dizer que, conforme Coutinho (2008), a questão social neste período era vista como
“caso de polícia”, não tendo as mediações necessárias para a garantia de direitos a população que
carecia destes.
45
Estes elementos permeiam a construção social do país, até os dias atuais
(Coutinho, 2008).
Verifica-se, no que tange a sociedade civil18, que durante o processo de
formação social do Brasil, sempre houve a tendência de que a mesma estivesse
atrelada ao Estado, sendo cooptada ou reprimida pelo mesmo, expressando – em
muitas de suas pautas de demandas – a representação dos interesses
corporativistas-, e ocasionando o fortalecimento do Estado e enfraquecimento da
sociedade civil (Coutinho, 2008).
Ianni (1978) refere-se ao “colapso do populismo19”, ao analisar a crise
vivenciada pelo Estado centralizador no período pós-Revolução de 193020. Nesse
período – precisamente nos anos do governo Jango21- observa-se que a sociedade
civil vai ganhando destaque nas suas bandeiras de lutas e torna-se ativa, de modo
a articular uma autonomia no seu exercício. Todavia, observa-se que a crise que
aflingiu o Estado populista não se rompe definitivamente no decorrer da história,
tendo em vista que o Golpe de 1964 apresenta características deste – bem como os
conserva e reforça.
Neste sentido, as mudanças que ocorrem continuam a serem realizadas pelo
alto, numa perspectiva conservadora, atrelada as interesses da elite, tendo em vista
que “o golpe não rompeu com o tipo de articulação corporativista e autoritária
entre Estado e sociedade civil e não retirou o Estado de suas funções no terreno da
regulação da economia” (Coutinho, 2008, p. 120). Na direção do que o autor
apresenta, considera-se que a preeminência da classe dominante no poder se dava
através de formas de dominação e não da direção político-ideológica por ela
apresentada.
18 Entende-se sociedade civil numa perspectiva gramsciana. Com base em Coutinho (2012),
podemos relacionar o termo a “organismos de participação política aos quais se adere
voluntariamente” (p. 125) e que é “formada precisamente pelo conjunto das organizações
responsáveis pela elaboração e/ou difusão das ideologias (...)” (p. 127). Para além disso, a mesma
é tida como uma arena de luta de classes, na qual há a representação de diferentes segmentos
sociais e interesses. 19 Para Batistella (2012) o populismo é um fenômeno de massa e “ [...] essa política de massas
seria uma forma de organizar, controlar e utilizar a força política da classe trabalhadora, que, em
virtude da sua origem rural, seu atraso cultural e sua inexperiência política, estava destituída de
uma consciência de classe. Dessa forma, eram facilmente galvanizados e instrumentalizados pelas
lideranças carismáticas” (p. 472). 20 Para o autor, o populismo do período pós-Revolução de 30 entrou em colapso em virtude do
desajuste político-econômico-ideológico que atravessa suas relações. 21 O mandato de João Goulart esteve entre os anos 1961 a 1964.
46
Para dos Santos (1979), a maneira como fora executada a política no
período ora correspondido, nos atrela a perspectiva da “cidadania regulada”. Há,
eminentemente, um caráter seletivo e excludente no modo como são estabelecidos
às concessões (entende-se aqui direitos trabalhistas, por exemplo) 22. A cidadania
regulada, que perpassa este período, pode se entendida enquanto um conceito
Cujas raízes encontram-se não em código de valores políticos, mas em um sistema
de estratificação ocupacional, e que, ademais, tal sistema de estratificação
ocupacional é definido como norma legal. Em outras palavras são cidadãos todos
aqueles membros da comunidade que se encontram localizados em qualquer uma
das ocupações definidas e reconhecidas em lei. [...]. A cidadania está embutida na
profissão e os direitos do lugar que ocupa no processo produtivo, tal como
reconhecido por lei. (Dos Santos, 1979, p. 75)
Neste sentido, observa-se que a garantia de direitos, durante o período,
esteve atrelada a regulamentação da profissão, a carteira profissional e a presença
do sindicato público. Assim, conforme Coutinho (2008), a burguesia brasileira
pode desenvolver, com certa hegemonia seletiva23 limitada e instável, fazendo
com que o Estado tivesse uma política autoritária e centralizadora, na qual há a
manifestação definida dos interesses privados, estando a serviço dos mesmos,
naquilo que concerne a sua função de intervenção na economia e na proposição de
políticas sociais.
A primeira manifestação deste “privatismo” reside no fato de que tal Estado
sempre apresentou (para usar o conceito de Weber) fortes características
patrimonialistas, sendo tratado na prática, pelos seus ocupantes, como propriedade
pessoal, o que levou aos muitos fenômenos de nepotismo, clientelismo, corrupção
etc., que todos conhecemos e que prosseguem de certo modo até hoje (Coutinho,
2008, p. 124-125).
Para além disso, é importante destacar que a intervenção do Estado na
economia visava a expansão do capital privado, estando o Estado Brasileiro
sempre permeado por interesses particularistas. Todavia, embora isso não seja um
traço peculiar da nossa formação sócio histórica, haja vista que isto permeia as
sociedades capitalistas, verifica-se a intensidade destes interesses no país, embora
se perceba a existência de mecanismos para a satisfação das demandas oriundas
22 Cabe destacar que um dos marcos da Política Social Brasileira é a promulgação da Consolidação
das Leis do Trabalho, em 1943. 23 O autor usa o termo para definir o que seriam os termos expressos pela “cidadania regulada” de
Wanderley Guilherme dos Santos (1979).
47
da classe trabalhadora – estratégia utilizada para que houvesse a legitimação da
burguesia e dos seus interesses.
No que se refere à política desenvolvida durante o período da Ditadura
Militar24, verifica-se que a emersão de uma sociedade civil ativa, sendo
contraditório aos princípios expostos pela política dos militares. Nesse sentido,
dado a repressão imposta, Coutinho (2008) elucida que há a conversão de uma
frente de esquerda com bandeiras de lutas que pautavam a negação das medidas
autoritárias e repressivas que se efetivavam neste período. Há a instalação de uma
crise no paradigma de organização das relações estabelecidas entre Estado e
Sociedade Civil, sobretudo no período de transição da ditadura à democracia.
Embora a Ditadura Militar estivesse a serviço do grande capital e da
instalação – ainda maior – de uma ordem nacional e internacional naquilo que diz
respeito à economia brasileira, tendo em vista que a mesma promoveu – com
bastante intensificação – o aumento das forças produtivas e complexificação da
ordem capitalista. Perante isto, o que observa-se é que ela não conseguiu eliminar
a sociedade civil – embora houvesse o esforço intransigente para este fim.
Destarte, percebe-se o fortalecimento da sociedade civil neste período.
Desse modo, uma das contradições fundamentais que se manifestou ao longo do
período ditatorial foi precisamente a que teve lugar entre um Estado autoritário,
que buscava cancelar e reprimir a sociedade civil, e o progressivo florescimento
dessa última, que o regime – não dispondo de instrumentos de mobilização como,
por exemplo, um partido de massas de tipo fascista – era incapaz de evitar
(Coutinho, 2008, p. 130)
Assim, é possível destacar que o período da Ditadura Militar contribuiu para
a emersão de uma parcela de sujeitos políticos que contribuíram para o processo
de abertura à transição democrática do país. Todavia, as negociações e processos
desencadeados não estiveram inertes aos traços autoritários e excludentes que
permearam o processo de formação social, favorecendo a ruptura da ditadura
militar, porém não promovendo mudanças substancias, aludindo a uma
transformação social da sociedade e das relações.
24 Aa Ditadura Militar no Brasil é definido como o período que os militares governaram o país.
Este período vai de 1964 a 1985 e é caracterizado pela ausência de democracia, supressão dos
direitos constitucionais, forte repressão e perseguição política.
48
Diante disso, compreende-se que após o término do período de Ditadura
Militar vivenciado, o Brasil passa a vivenciar uma “ocidentalização” nas suas
relações, aludindo ao termo gramsciano. Assim, observa-se que a sociedade civil
passa a ter papel de importância na configuração da política desenvolvida, e
embora haja, ainda, a presença de um Estado forte, é possível observar a atuação
da sociedade civil como articulada e de modo a controlar a ação do Estado,
havendo equilíbrio entre Estado e Sociedade Civil.
Coutinho (2008), ao referir-se a este processo, destaca que as sociedades
ditas “ocidentais”, apresentam dois modelos principais de disputa política. De um
lado há o modelo norte-americano, no qual há a presença de uma sociedade civil
forte, desenvolvida e articulada. Porém a organização política e a representação de
interesses ocorrem por meios de partidos apáticos, sem definição ideológica, e que
atuam como frente inorgânica de múltiplos interesses. Além disso, há a presença
do corporativismo profissional, representando pequenos grupos profissionais e o
interesse de grupos relativamente restritos. Assim, limitam-se a fazer o que
Gramsci denominaria como “pequena política”, ou seja, questões parciais e
cotidianas que se apresentam no interior de uma estrutura já estabelecida,
representando fracos de uma mesma classe política.
Já de outro lado, tem-se o modelo europeu. Neste, a estrutura partidária é
centrada em partidos homogêneos e de defendem projetos de sociedade definidos,
porém diversos entre si. Já no que diz respeito aos interesses da classe
trabalhadora, observa-se que há a unificação destes em um sindicalismo classista,
representando a totalidade dos interesses. Assim, verifica-se que há a defesa de
divergentes alternativas de sociedade, tendo assuntos como o socialismo, sempre
em pauta na agenda política.
Desse modo, observa-se que o Brasil vivencia – desde o fim da ditadura –
estas duas possibilidades para organizar as suas relações sociais e se tornar um
país “ocidental”. Há a oscilação da presença do novo e do velho. Ao mesmo
tempo que verifica-se transformações sociais e a presença de elementos de
modernização , percebe-se a presença de elementos que apontam para o antigo:
clientelismo, populismo, tutela dos sujeitos etc. (Coutinho, 2012). Desse modo,
instala-se um problema de conjuntura que atravessa a organização da relação entre
Estado e sociedade civil no Brasil.
49
Isso pode ser feito segundo um “modelo americano”, ou, mais precisamente,
segundo um padrão “liberal-corporativo”; nele, ao tempo que a vida econômica é
deixada ao livre jogo do mercado, o conflito de interesses é também resolvido
numa espécie de mercado político, no qual os grupos com recursos organizativos
obtêm resultados enquanto os que não dispõem de tais recursos são excluídos, sem
condições de obter influência real. (Coutinho, 2008, p. 137)
Nesse sentido, conforme Coutinho (2008), compreende-se que há a presença
do livre mercado e do conflito de interesses que são permeados pelas negociações
esdrúxulas. Isso é permeado pelos ideários neoliberais25, que passa a predominar
no país, sobretudo, a partir do governo Collor26.
Diante disso, embora se verifique que a história da formação social
brasileira seja permeada por elementos que atravessam o que Coutinho (2008)
denominou como via brasileira, pode-se dizer que há a presença de uma
Revolução Passiva no país, aludindo à categoria gramsciana. Assim,
O conceito de Revolução Passiva constitui portanto, um importante critério de
interpretação para compreender não só episódios capitais da história brasileira,
mas também, de modo mais geral, todo o processo da transição de nosso País à
modernidade capitalista e, mais recentemente, ao capitalismo monopolista de
Estado (Coutinho, 2012, p. 202-203).
Portanto, isso aponta, como consequência desta Revolução Passiva,
instrumentos que permeiam nossa formação política e social. Há, de um lado, o
fortalecimento do Estado frente à sociedade civil, o que implica a exclusão das
massas populares dos poderes de decisão, embora o país tenha vivenciado, após o
fim da ditadura militar, a efervescência de movimentos populares27.
Todavia, corrobora-se com Coutinho (2008) ao analisar a situação do Brasil
no período democrático – pós-ditadura militar- com o qual se identifica a presença
25 “Comecemos com as origens do que se pode definir como neoliberalismo enquanto fenômeno
distinto do simples liberalismo clássico, do século passado. O neoliberalismo nasceu logo depois
da II Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo.
Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. Seu
texto de origem é O Caminho da Servidão, de Friedrich Hayek, escrito já em 1944. Trata-se de um
ataque apaixonado contra qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado,
denunciada como uma ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política”
(ANDERSON, 1995, p. 9). 26 O Governo Collor foi o período da história que é marcado com a posse do presidente Fernando
Collor de Mello, em março de 1990 e encerrado em outubro de 1992, com o afastamento do
governo após aprovação do impeachment, em setembro de 1992. 27 Pode se exemplificar aqui o Movimento de massa ocorrido em 1984 que clamava-se em favor de
eleições diretas para a Presidência da República. Observa-se que a sociedade civil assume, nesse
processo, dimensões inéditas no que tange ao papel de fortalecimento das suas bandeiras de lutas.
(COUTINHO, 2012)
50
de dualidades de conjunturas. Há a presença, simultânea, de elementos de
contribuem para o avanço e para o retrocesso, e isso demarca os projetos e a
agenda política em pauta, contribuindo para a incerteza da maneira pela qual a
sociedade deseja construir os caminhos a seguir.
Entretanto, o que se verifica é que a burguesia brasileira, já percebeu o
modo como deve se constituir a política no país, tendo em vista que a sociedade
civil não está amorfa e inerte, como anteriormente. Embora ainda a cooptação da
mesma aponta que ela deve convergir para a sua maturidade enquanto uma
sociedade civil ativa e dinâmica, verifica-se que os modos de fazer política
divergem do que permearam os primórdios da formação social brasileira, embora
“ o grande objetivo atual das forças do capital, no Brasil e no mundo, é consagrar
a pequena política e a pseudo-ética do privatismo desenfreado como elementos
fundamentais de um senso comum que sirva de base à sua hegemonia” (Coutinho,
2008, p. 139), contribuindo para aquilo que permeia os ideários neoliberais.
Assim sendo, observa-se que o modo de fazer política delineado pelo
Estado, atualmente, tem se concentrado em um modelo de redefinição calcado nos
princípios neoliberais. Frente a isso, observa-se a adoção de um modelo
neoliberal, permeado por uma proposta que define o fim do intervencionismo
estatal, dando livre arbítrio ao Mercado, adotando medidas de supressão dos
direitos (historicamente conquistados pela classe trabalhadora e seus elementos de
representação), sobretudo os direitos sociais28. Além disso, verifica-se o
enfraquecimento da esquerda política no processo de correlação de forças que
sucinta o processo mencionado29.
[...] a característica talvez mais determinante deste tipo de Estado foi sempre ter se
colocado a serviço de interesses privados, ou, mais precisamente, dos interesses das
diversas frações da burguesa. Ora, é precisamente esta a característica que o
neoliberalismo quer reforçar, não só privatizando o patrimônio público na esfera da
economia, mas também suprimindo os poucos direitos sociais conquistados pelos
trabalhadores e inscritos na legalidade vigente (Coutinho, 2008, p. 144-145).
28 Para mais, ver Carvalho (2002), Cidadania no Brasil: o Longo Caminho, que delineia sobre a
construção dos direitos civis, políticos e sociais na sociedade brasileira. 29 Todavia, conforme Coutinho (2008), esta afirmação não eleva a noção de desaparecimento de
uma esquerda política que seja contra os ideários neoliberais. Entretanto, o que observa-se é o
enfraquecimento da mesma e um escasso movimento de esquerda apregoado pelos partidos
políticos e que estejam ligados às classes subalternas.
51
Frente ao exposto, faz-se imprescindível, que haja – por parte dos setores
ligados a classe trabalhadora e da esquerda política do país – a construção de lutas
pautadas no intuito de permitir que o Estado tenha como primazia o interesse
público. Entende-se público na perspectiva de propiciar as construções coletivas,
na qual haja discussões que sejam feitas numa perspectiva horizontal, sem
correlações de forças que tangenciam a construção verticalizada, do alto para
baixo, sendo imposta aos sujeitos sociais.
Assim, estas construções coletivas devem-se pautar numa perspectiva
calcada em princípios democráticos e com intuito de promover a justiça social,
representando os interesses das classes subalternas e que estejam permeadas pela
reformulação/redefinição do espaço público. Este espaço público deve ser
composto – para além do Estado – por instituições da sociedade civil, de modo a
propiciar a participação social dos sujeitos e meios que permitam a construção
democrática que estejam na luta pela construção de um novo tipo de sociedade,
permeadas pelo interesse público, seja nas esferas da vida social, quanto nas
esferas que tangenciam a vida política dos cidadãos.
2.2. Relação entre esfera pública, controle social e perspectivas democráticas
Frente ao exposto, para além de analisar o modo como fora constituída –
historicamente – a sociedade política brasileira e suas relações, bem como as
implicações desta, compreende-se que seja de fundamental importância desvelar
as relações que se efetivam na esfera pública, entendendo as delimitações entre
espaço público e espaço privado – embora no cotidiano, muitas das vezes, não
existam limites entre estes espaços. Por esfera pública, entende-se, na perspectiva
de Raichellis (2000, p. 27-28) que “[...] sua constituição é parte integrante do
processo de democratização, pela via do fortalecimento do Estado e da sociedade
civil, expresso fundamentalmente pela inscrição dos interesses das maiorias nos
processos de decisão política”.
Neste sentido, importante destacar que frente à constituição da esfera
pública, delineia-se a necessidade da construção de espaços que permitam a
52
interlocução entre os sujeitos, no sentido de pautar interações entre a sociedade
política e a sociedade civil30, com o objetivo de promover uma ordem
democrática, que valorize a perspectiva de direitos e cidadania31 (Raichellis,
2000).
Silveira (2006) remete à ideia de que a formação do Estado Brasileiro é
fruto de um processo histórico no qual se verificam singularidades que expressam
uma forte tendência à consolidação de uma ordem patrimonial, marcada pela
indistinção entre a esfera pública e a esfera privada naquilo que concerne à vida
política e suas práticas sociais.
Neste sentido, Buarque de Holanda (1969) provoca reflexões no sentido de
compreender que as heranças do nosso período colonial incidem sobre o processo
cultural, de modo a promover que haja práticas ligadas à subordinação de
interesses, em assuntos pertinentes ao debate na esfera pública. Para este autor, o
processo pelo qual muitos países desenvolvidos vivenciam - de passagem de uma
esfera privada, com fortes traços de interesses privados e familiar, para a
formação de um Estado, onde haja a preocupação com o interesse coletivo – não
fora vivenciado de modo pleno pela sociedade brasileira. Desse modo, há a
peculiaridade da presença de valores trazidos do núcleo familiar, com caráter
patriarcal, para as atividades que são inerentes ao espaço público.
No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente tivemos um sistema
administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses
objetivos e fundados nesses interesses. Ao contrário, é possível acompanhar, ao
30 Conforme Coutinho (2012), compreender o Estado Ampliado em Gramsci, presume que ele é a
junção de duas esferas, sendo elas: a sociedade política e a sociedade civil. Neste sentido, a
sociedade política é constituída pelo conjunto de mecanismos pelos quais a classe dominante
detém o monopólio da repressão e da violência, identificados com os aparelhos pelo qual a Estado
exerce seu poder coercitivo e repressivo. Já a sociedade civil, por relacionar o Estado ético,
compõe-se pelas organizações que são responsáveis pela difusão e/ou elaboração de ideologiais.
Nesse sentido, compreende escolas, igrejas, partidos políticos, sindicatos, organizações
profissionais e meios de comunicação. Através dela, as classes buscam aliados para exercer sua
hegemonia frente as suas posições, diante a direção política que estabelecem, sendo, portanto, o
espaço de relações ideoculturais e políticas. Importante destacar que, nos países que Gramsci
denominava como ocidentais, há entre o Estado e a sociedade civil uma relação de
complementariedade e reflexos. 31 Numa perspectiva de direitos e cidadania, compreende-se que um Estado Democrático
pressupõe a garantia – em um sentido de legalidade – e o respeito as direitos dos sujeitos sociais.
Assim, para além da instauração de um Estado de Direitos e Instituições que permitam o exercício
da Democracia, é necessário que haja – cotidianamente- o exercício da cidadania e a efetividade de
apropriação de direitos – sejam eles civis, políticos e sociais - pela coletividade, de modo
equânime e igualitário.
53
longo de nossa história, o predomínio constante das vontades particulares que
encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma
ordenação impessoal. [...]. Isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas,
fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendam assentar a sociedade em
normas antiparticularistas (Buarque de Holanda, 1969, p. 106)
Tendo como norte de referência as discussões apresentadas por Telles
(1990), compreende-se que é a esfera pública é um espaço eminentemente
político, dotado de visibilidade, pela qual há a oportunidade de que o discurso
possa ser visto e ouvido pela coletividade. Frente a isso, na esfera pública,
observa-se que os sujeitos sociais intermediam interlocuções pelas quais podem
ser vislumbradas tanto a ação, quanto o discurso e a deliberação acerca de
questões que tangenciam o interesse comum.
Frente a isso, a autora supracitada nos afirma que é no espaço público que a
ação e o discurso ganham legitimidade na construção de objetivos que contribuem
para a sociedade, através da linguagem. Assim sendo, é neste espaço que para se
efetivar há a necessidade de organização política, havendo a visibilidade de ações
através da interação entre os sujeitos, em suas pluralidades.
[...] o espaço público se qualifica como espaço da deliberação conjunta, através da
qual os homens, na medida em que são capazes de ação e opinião, tornam-se
interessados e responsáveis pelas questões que dizem respeito a um destino
comum. (Telles, 1990, p. 37)
Nesse sentido, os sujeitos constroem significados de modo a conduzir o
espaço público, observado os direitos que são pertinentes a cada um e a
participação na vida pública (IDEM). Importante destacar que por serem sujeitos
com pluralidades, os indivíduos permitem que suas questões privadas se façam
presentes em âmbito público, a partir dos seus interesses particulares (Yaakoub,
2005).
Importante dizer que a esfera pública, por ser compreendida numa totalidade
dinâmica e contraditória, é constituída por elementos essenciais. Neste sentido, a
visibilidade social: “por pressupor publicidade e fidedignidade das informações
que orientam as deliberações nos espaços públicos de representação” (Raichelis,
2008, p. 9), permite que as ações que são pautadas pelos sujeitos sociais na esfera
pública constituam-se com transparência de modo a promover que todos estejam
envolvidos nas decisões políticas que são construídas.
54
Já o Controle Social diz respeito ao acesso a processos que delineiam e
informam acerca das decisões oriundas da sociedade política, de modo a viabilizar
que a sociedade civil possa participar - de forma organizada e planejada- das
construções que convergem para as negociações e arbitragens que perpassam os
interesses propostos.
Dessa forma, ele possibilita que sejam feitas as fiscalizações das decisões de
acordo os critérios que regem as necessidades pactuadas e colocadas em jogo.
Além disso, a representação de interesses coletivos envolve os sujeitos políticos e
sua constituição, ao apresentar-se no contexto de atuação enquanto uma demanda
coletiva, tendo em vista que eles exercem o papel de representatividade perante
estas, em um cenário de mediações.
Por conseguinte, a democratização, ao compor também os elementos
essenciais à esfera pública, remete à necessidade de ampliação dos espaços que
permitem as decisões políticas, de modo a ampliar as formas tradicionais de
representação, pois permite que novos sujeitos sociais sejam incorporados ao
processo, entendendo os mesmos enquanto portadores de direitos. Assim, numa
perspectiva dialética de conflito e consenso é possível que os interesses
divergentes possam ser discutidos em perspectivas diferentes, de modo a
qualificar e confrontar o debate em virtude do embate público que possibilita a
criação de posições hegemônicas.
Frente a isso, faz-se necessário que haja o surgimento de uma cultura
pública que parta da premissa de enfrentar o histórico ranço da cultura de
apropriação do público pelo privado, de modo a construir uma cultura
democrática de mediações políticas, que reconheça os interesses numa perspectiva
de coletividade. Assim, compreende-se que a esfera pública possui uma dimensão
política, que se baseia na importância do direito à participação de todos na vida
pública.
Por isso, quando falamos da construção da esfera pública nos referimos a uma nova
arquitetura na relação entre o Estado e a sociedade civil que transcende as formas
estatais e privadas, para constituir uma nova esfera, onde o público não pode ser
associado automaticamente ao Estado, nem o privado se confunde com o mercado,
ainda que transitem nesta esfera interesses de sujeitos privados (Raichelis, 2008, p.
9)
55
Diante disse e de acordo Fedozzi (2001), nos espaços que expressam o
contrato social32, é necessário que haja a separação entre o privado e o público,
ocorrendo um exercício impessoal do poder, para que ocorra uma mudança que
atravesse a estrutura desses espaços e que rebata na cultura política que perpassa
os mesmos. Cultura esta que reflete o mando, o favor, o clientelismo, o
patrimonialismo, sobretudo nas relações pessoais entre os sujeitos. Assim, o
espaço público deve ser visto como algo que se despe dessas características e atua
em função da garantia de direitos, administrando interesses que são públicos e
destinam-se a toda uma sociedade.
Importante compreender que a esfera pública pressupõe o entendimento
acerca da democracia deliberativa, tendo em vista que esta é parte essencial do
processo. De acordo Lubenow (2010), parte-se da ideia de que a concepção acerca
da política deliberativa afiança sua teoria, em duas tradições teórico-políticas,
sendo elas: (1) a concepção acerca dos ideários republicanos, calcados na vontade
geral e na soberania popular, e (2) a teoria acerca da concepção da autonomia
privada, com embasamento nos interesses particulares e liberdades individuais.
Entretanto, conforme este autor, embora o tema geral seja o mesmo, há
diversas abordagens acerca da democracia deliberativa, pautando distintos
processos democráticos e modos divergentes de analisar os limites entre
autonomia privada e autonomia pública. Todavia, vale salientar que o presente
estudo não se atentará a essas diferentes abordagens, compreendendo apenas que
ao mesmo tempo que existem autores que buscam reformular a perspectiva liberal
de democracia, existem aqueles que buscam refutá-las e apresentam novas
alternativas e/ou paradigmas de pensamento. Dentre estes autores e constituindo-
se enquanto um dos principais pode-se citar Habermas33 e suas discussões acerca
da democracia deliberativa.
Frente a isso, de acordo Lubenow (2010), no pensamento habermasiano, a
democracia deliberativa constitui a essência no que tange ao processo
democrático. Já a esfera pública, por ser uma estrutura intermediária, media o
Estado e o sistema político e sua relação com os setores privados, que tangem ao
cotidiano dos sujeitos, constitui-se enquanto uma estrutura intermediária, tendo
em vista que designa “um centro potencial de comunicação pública, que revela um
32 Falar-se-á sobre este assunto a posteriori. 33 Com base na leitura do texto de Lubenow, aferem-se tais questões.
56
raciocínio de natureza pública, de formação da opinião e da vontade política,
enraizada no mundo da vida através da sociedade civil” (p. 231).
Desse modo, a esfera pública constitui-se enquanto um espaço social que
permite a emersão de um modo que propicia a discussão acerca da opinião e
vontade política. Nela, colidem os conflitos que permeiam o processo
comunicativo que delineia o mundo da vida e a sociedade civil, bem como o
sistema político e administrativo.
Assim, para Lubenow (2010), ela configura-se como uma “caixa de
ressonância” que, ao ser dotada de um sistema de sensores, tem a função de filtrar,
sintetizar e transportar os temas, argumentos e contribuições para o âmbito dos
processos de resolução e decisão institucionalizados, de modo a permitir que os
conflitos existentes na sociedade civil permeie o sistema político, com o objetivo
de influenciar e regular os processos de poder que circunscrevem o sistema
político.
A esfera pública não pode ser entendida como uma instituição, nem como uma
organização, pois ela não constitui uma estrutura normativa capaz de diferenciar
entre competências e papéis, nem regula o modo de pertença a uma organização,
etc. Tampouco, ela constitui um sistema, pois, mesmo que seja possível delinear
seus limites internos, exteriormente ela se caracteriza através de horizontes abertos,
permeáveis e deslocáveis. A esfera pública pode ser descrita como uma rede
adequada para a comunicação de conteúdos, tomada de posição e opiniões; nela os
fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em
opiniões públicas enfeixadas em temas específicos (Habermas, 2003, p. 92).
Tendo em vista que, a esfera pública - por ser constituída de muitas
potencialidades e por permitir a construção de projetos e o exercício da
participação social34- possibilita a efetivação do controle social, ela faz-se de
suma importância para a consolidação da sociedade civil, enquanto um
instrumento legítimo de organização e espaço para a garantia de direitos.
Diante disso, importante compreender que o controle social do espaço
público circunscreve a relação entre Estado e Sociedade. Após a Constituição
Federal de 1988, ganha destaque, pois passa a definir o controle que a sociedade
faz do Estado, sobretudo naquilo que diz respeito ao processo de decisão nas
políticas públicas que circunscreve o âmbito dos conselhos de direitos.
34 Importante compreender que, em um sentido político, a participação social significa a
democratização e participação ampla dos cidadãos naquilo que diz respeito a tomada de decisões
por parte da sociedade. Assim, é preciso compreender as múltiplas forças que influenciam a
formação, execução, fiscalização e avaliação das políticas públicas.
57
No que tange aos espaços de controle social, importante entender – de
acordo Campos (2006) as dimensões que tangenciam esta categoria, sendo elas, a
política, a técnica e a ética. Assim, a dimensão política permite que haja a
qualificação dos atores da sociedade civil, para que eles possam intervir – de
modo propositivo e qualificado- na agenda do governo. Já a dimensão técnica diz
respeito à identificação de competências e habilidades para efetivar o exercício da
fiscalização sobre as ações governamentais. Por fim, a dimensão ética
corresponde à construção de perspectivas que permitam uma atuação, de modo a
promover a redução das desigualdades sociais, numa perspectiva de justiça social.
Frente a isso, compreende-se que o controle social é o modo pelo qual os
cidadãos exercem a fiscalização das ações do Estado, e – numa perspectiva
sociopolítica – há a valorização do envolvimento da sociedade civil no que
corresponde à agenda do governo, de modo a promover a efetivação da
democracia e atribuindo uma dimensão coletiva a participação social.
Diante disso, a constituição e formalização dos espaços e das formas de
participação – sobretudo a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988
- promovem alterações no modo como o Estado organiza sua administração e
proposição de políticas públicas, tendo em vista que as diretrizes que passam a
vigorar baseiam-se em um modelo de gestão, que pauta suas ações na perspectiva
de descentralização político-administrativa.
Neste sentido, as concepções acerca da descentralização pautam-se no modo
como há o deslocamento do poder entre os entes federativos, tendo como destaque
o modo pelo qual ela permite que a tomada de decisões efetive-se com
proximidade aos sujeitos interessados, de modo a possibilitar a mudança da
cultura política no âmbito da gestão, que deve adotar conceitos e práticas
inovadoras de gestão.
Para Cunha e Cunha (2003), a gestão da política social suscita uma relação
na qual haja cooperação e complementariedade entre os entes federativos. Isso
pressupõe que haja uma correlação continua entre o poder público, os cidadãos e
as organizações representativas, exigindo que os processos técnico-burocráticos se
renovem e adotem linhas de flexibilidade e horizontalidade, numa relação de
parceria entre Estado e sociedade35.
35 Assim, nesse processo de mudança tem se destacado a adoção – enquanto instrumentos de
gestão – de elementos como o planejamento, o diagnóstico e o monitoramento e avaliação.
58
Diante disso, partindo do pressuposto da necessidade de descentralizar a
tomada de decisões acerca das políticas sociais e como uma maneira de garantir a
participação popular, enquanto um elemento componente das premissas emanadas
da Constituição de 1988, há o estímulo à implantação, em diversos âmbitos
setoriais, de conselhos. Entende-se estes, enquanto “canais de participação que
articulam representantes da população e membros do poder público estatal em
práticas que dizem respeito à gestão de bens públicos” (Gohn, 2001, p.7).
Assim, o processo de promulgação da Constituição vigente, trouxe à tona a
presença de movimentos sociais - embora a década de 1980 tenha abarcado um
processo confrontado por distintos interesses - e estes movimentos sociais
possibilitaram, dentre as várias conquistas, a instituição dos conselhos gestores de
políticas públicas, sobretudo em virtude do processo de descentralização.
Após a promulgação da Constituição de 1988, leis federais específicas de
regulamentação das políticas sociais estabeleceram formas de participação da
sociedade por meio de órgãos denominados conselhos, com caráter deliberativo e
com a participação de representantes do governo e das organizações da sociedade
civil (Santos Junior, 2000, p. 18).
Aqui, vale resgatar que a década de 1970 e 1980 colocou em cena a emersão
dos movimentos sociais na esfera pública na luta por cidadania, sobretudo na
perspectiva de construção de uma sociedade com base nos princípios
democráticos. Confome o expresso em Sader (1988), os movimentos sociais são
indicadores de novas identidades coletivas, principalmente naquilo que diz
respeito a um contexto de relações de poderes, no qual cada um possui suas
especificidades.
Importante compreender, que conforme o autor supracitado, falar em
sujeitos coletivos – no caso, os movimentos sociais – não pressupõe remeter a
ideia de que os mesmos são dotados de autonomia coletiva. De acordo o teórico, é
a partir da coletividade que se elabora uma identidade, que norteia a organização
das práticas sociais. Somente a partir dessa construção que é desenhado um
sujeito autônomo, capaz de tomada de decisões, haja vista que a partir da
coletividade os interesses e vontades podem ser definidos, tendo em vista que é no
discurso que o sujeito demonstra sua ação.
Através dos movimentos sociais é possível fazer a análise acerca do
processo de participação dos sujeitos coletivos. Para estes, a concepção de
59
participação relaciona-se com o processo de reinvindicação. Todavia, Benevides
(1998) nos expressa que a esta categoria está para além daquilo que se verifica no
entorno dos movimentos sociais.
Na direção do que é apresentado, Teixeira (2000, p.33) remete a ideia de
que a categoria participação busca, dentre outras coisas, o alcance da autonomia e
da emancipação. Desse modo, é importante que o processo de participação
contribua para que espaços públicos, pautados na democracia, sejam criados.
Nesse sentido, os sujeitos através de
Um processo de reinvindicação, expressão e luta, constroem suas identidades e
autonomia com uma nova maneira de encarar o Estado e de agir coletivamente para
expressar suas aspirações e necessidades. Passam a constituir-se, então, novos
atores sociais e políticos, que não só lutam por políticas públicas que atendam às
carências, mas que também buscam serem reconhecidos como sujeito, na
construção e efetivação de direitos e de uma cultura política de respeito às
liberdade, à equidade social, à transparência das ações do Estado.
Neste sentido, para Teixeira (1996), os conselhos foram um modo pelo qual
se viu a possibilidade de implementar a participação com o objetivo de promover
mudanças na elaboração das políticas, com o intuito de promover sua
democratização e a transparência das ações, tornando-se um canal de relação entre
Estado e sociedade, capaz de permitir a administração de conflitos. Nesse sentido,
na discussão acerca dos conselhos, é importante destacar que os mesmos possuem
a presença de distintos atores sociais e que a presença da correlação de forças
dentro desse espaço e o jogo de alianças feito podem contribuir para uma
perspectiva democrática, ou não.
Conforme Gohn (2000), os conselhos36 – ao se instituírem- permitem canais
de participação que propiciam um novo modo de relação entre Estado e sociedade,
pois viabiliza que a população possa ter acesso aos espaços de tomadas de
decisões políticas, que incidem sobre as políticas públicas e suas gestões. Diante
disso, isso implica na criação de condições de vigilância, sobretudo no que diz
respeito à prestação de contas por parte do executivo. Assim,
36 Neste momento do presente trabalho, centrar-se-á as discussões em âmbito geral, no que diz
respeito aos conselhos. No segundo capítulo deste estudo dissertativo, falar-se-á sobre os
conselhos de assistência social e o controle social exercido por eles, objeto deste estudo.
60
Os conselhos constituem-se normalmente em órgãos públicos de composição
paritária entre a sociedade e o governo, criados por lei, regidos por regulamento
aprovado por seu plenário, tendo caráter obrigatório uma vez que os repasses de
recursos ficam condicionados à sua existência, e que assumem atribuições
consultivas, deliberativas e/ou de controle (Gomes, 2003, p. 39).
Nessa direção, Bravo (2002) afirma que os conselhos contribuem para a
construção de uma cultura política calcada em princípios democráticos, que
permitem a consolidação das políticas públicas, afiançadas na noção de cidadania.
Nesta perspectiva, eles possuem a concepção de participação social, afiançada na
universalização de direitos frente ao papel exercido pelo Estado, sendo idealizado
enquanto o lugar do fazer político que tenha como norte princípios democráticos.
Assim sendo,
Os conselhos gestores de políticas públicas são, portanto, espaços públicos de
composição plural e paritária entre Estado e sociedade civil, de natureza
deliberativa, cuja função é formular e controlar a execução das políticas públicas
[...] (Tatagiba, 2002, p. 54).
Todavia, convém lembrar que a presença dos diversos atores sociais no
espaço de controle social faz com que haja também a existência de distintas falas,
atravessadas por vozes, muitas vezes em um discurso socialmente construído, com
presença de relações econômicas, sociais e políticas, imbuídas de contextos
sociais diferenciados, em um movimento contraditório, não linear.
Conforme Yaakoub (2005, p. 63), “para que haja consenso, muitas
estratégias são elaboradas, tanto no sentido de relações clientelistas, quanto no
sentido de busca de uma perspectiva democrática, apesar das diferenças
existentes”, tendo em vista que a relação Estado e Sociedade é permeada de
conflitos. Desse modo, Gohn (2001) afirma que esse processo compreende que a
instituição dos conselhos gestores garantiu uma institucionalidade pública a
gestão das políticas sociais, tendo em vista que, ao se constituírem enquanto um
lugar de conflitos de interesses, permitem que propostas e/ou ideias tornem-se
deliberações.
Assim, torna-se importante atentar que os conselhos devem, a priori, agir na
relação Estado-Sociedade, mas de modo dinâmico e sem tender a um dos polos,
enquanto um elemento favorecedor de interesses privatistas. Por isso, faz-se de
suma importância que este espaço tenha a democracia enquanto base de ação,
61
pautando seus diálogos e interesses, haja vista o controle democrático que o
mesmo é instigado a exercer.
2.3. Movimentos sociais e a democracia: uma relação dialética
Neste debate, os movimentos sociais, enquanto um espaço de construção de
novos atores coletivos no espaço público, desempenham um papel de suma
importância, naquilo que se refere à acepção de uma nova cultura democrática,
que vai na contramão de práticas caracterizadas enquanto autoritárias, no modo de
concepção da participação. Importante destacar que, através dos movimentos
sociais, é possível verificar os conflitos existentes na arena política, situando sua
importância no âmbito do debate político, tendo em vista que os sujeitos sociais
são orientados por questões plurais e atuam, de modo coletivo, em questões
baseados no princípio da solidariedade (Cohn, 2003).
Todavia, faz-se importante compreender, dentro dessa representação de
interesses, a origem das mesmas, levando-se em consideração determinados
grupos sociais e sua legitimidade, perante o espaço público, haja vista que os
movimentos sociais ganham respaldo, sobretudo, devido à representação de
grupos historicamente excluídos (IDEM). Assim sendo, a ação destes atores
defronta-se com formas políticas peculiares, arraigadas de conservadorismo, na
tentativa de estabelecer novas práticas sociais, baseadas em princípios pautados na
igualdade e numa concepção de democracia diferenciada da democracia liberal37.
Nesse sentido, o debate democrático que emerge da teoria dos movimentos
sociais proporcionam novos significados as regras do jogo na política. Assim
sendo, de acordo Santos e Avritzer (2005), é necessário que o espaço dos
movimentos sociais seja envolvido em torno de um conjunto de significações
culturais, de modo a ampliar o político e suas práticas, estendendo o conceito de
37 Com base no pensamento de Schumpeter (1961) a democracia liberal é baseada na ideia de
representatividade, todavia, é fortemente influenciada pela ideia de que as elites devem ser estes
representantes, na qual a participação dos cidadãos se restringe, apenas, ao voto. Assim, os
partidos políticos detém o controle político da burocracia. Essa concepção se consolidou no
período pós guerra enquanto concepção hegemônica de democracia
62
participação dos sujeitos para além do mecanismo do voto, de modo a contribuir
na construção de direitos elencados na cidadania dos sujeitos.
A nova cidadania requer [...] a constituição de sujeitos sociais ativos (agentes
políticos, definindo o que consideram ser seus direitos e lutando para seu
reconhecimento enquanto tais. Neste sentido, é uma estratégia dos não-cidadãos,
dos excluídos, uma cidadania “desde baixo”. [...] A novo cidadania transcende uma
referência central no conceito liberal: a reivindicação ao acesso, inclusão,
participação e pertencimento a um sistema político já dado. O que está em jogo, de
fato, é o direito de participar da própria definição desse sistema, para definir de que
queremos ser membros, isto é, a invenção de uma nova sociedade. (Dagnino, 2004,
p. 104)
Neste sentido, enquanto atores políticos, os movimentos sociais produzem
efeitos que vão para além das demandas por direitos, buscando a ampliação da
esfera política, a transformação de práticas da classe dominante, o aumento da
cidadania e a inserção de atores sociais, ora excluídos do processo (Santos &
Avritzer, 2005). Assim sendo, à medida que os movimentos sociais vão
estabelecendo novos significados as práticas culturais, ou desafiando as velhas
práticas políticas estabelecidas, o modo de fazer política é redefinido, atingindo,
diretamente à política cultural38 e restabelecendo novas práticas democráticas
(Alvarez, Dagnino & Escobar, 2000).
Desse modo, conforme Melluci (2001), os atores sociais não se limitam,
apenas a colocar em cena os conflitos, mas desejam atravessar as relações sociais
que são postas, de modo a romper as regras do jogo, propondo objetivos não
negociáveis e pondo em xeque a legitimidade do poder instituído, tendo em vista
que a associação entre o cultural e político tem como centralidade a redefinição e
questionamento do sistema político que está posto. Assim sendo,
Na medida em que os objetivos dos movimentos sociais contemporâneos às vezes
vão além de ganhos materiais e institucionais percebidos; na medida em que esses
movimentos sociais afetam as fronteiras da representação política e cultural, bem
como a prática social, pondo em questão até o que pode ou não pode ser
considerado político; finalmente, na medida em que as políticas culturais dos
movimentos sociais realizam constestações culturais ou pressupõem diferenças
culturais – então devemos aceitar que o que está em questão para os movimentos
sociais, de um modo profundo, é uma transformação da cultura política dominante
na qual se movem e se constituem como atores sociais com pretensões políticias
(Alvarez, Dagnino & Escobar, 2000, p. 26)
38 A política cultural, com base em Alvarez, Dagnino e Escobar (2000) diz respeito ao processo
que é colocado em ação por diversos atores sociais, trazendo enumerados significados e práticas
que se conflitam.
63
Destarte, ao articularem-se enquanto atores no processo de mudanças de
paradigmas, de modo coletivo, são traçadas estratégias para que haja o
rebatimento de mudanças da realidade sócio histórica. Neste sentido, ao
compreender a cultura dos movimentos sociais enquanto um conjunto, articulado,
de ideias, valores e práticas, eminentemente políticos, é possível a busca de uma
ressignificação da democracia, a partir da emersão de novos atores sociais,
ampliando o espaço político, transformando-o, de modo a superar práticas
autoritárias.
Esta superação é possível a partir da apropriação, pelos movimentos sociais,
dos espaços públicos, de modo a conceber políticas culturais que serão efetivadas;
de modo a construir identidades, demandas e necessidades dos grupos em
vulnerabilidades e excluídos da cena política. Assim, a partir dessa
institucionalização é possível redefinir a noção acerca da democracia, de modo a
questionar o poder do Estado, reconstruindo agendas e necessidades da sociedade,
tendo em vista que este espaço permite o espaço do discurso.
Importante compreender que o período de democratização, circunscrito aos
movimentos sociais no período pré-constituinte, colocou em cena a necessidade
da inserção de novos atores sociais, para que a participação social se consolidasse
como algo intrínseco as relações sociais na sociedade brasileira, de modo a criar
canais de interlocução entre o Estado e a Sociedade; para que o sistema político
seja (re)configurado em novos modelos, sobretudo nos mecanismos
representativos, atribuindo aos mesmos um caráter político e transformador
(Teixeira, 2002)
Assim sendo, nesses novos modelos a participação não se restringe apenas
ao mecanismo do voto, mas é exercida através de mecanismos institucionais, que
advém dos movimentos sociais para garantir a autonomia perante o Estado e o
mercado, bem como a demais atores políticos, tendo em vista que a democracia
configura-se, neste entendimento, como um procedimento que busca atravessar as
relações sociais, de modo a homogeneizar a organização da sociedade,
reconhecendo suas diversidades e pluralidades. “Na abordagem participativa, o
regime democrático pressupõe possibilidades de ruptura com tradições e normas
estabelecidas, com o objetivo de instituir novas práticas e leis que atendam às
modificações e necessidades da sociedade” (Guedes, 2008, p. 41).
64
Destarte, importante dizer que espaços públicos que compreendam a efetiva
participação dos indivíduos se fazem de suma importância, para construção de
uma cultura política pautada em princípios democráticos, que permitam o
confronto a concepção de democracia elitista, e os modos tecnocráticos e
autoritários que, muitas vezes, circunscrevem estes espaços - sobretudo em
espaços que são marcados pela exclusão, pelo privilégio e pelo favor nas relações.
Assim, o que se coloca em cena é a consolidação de uma ordem democrática que
estabeleça a transformação da realidade social, de modo a eliminar desigualdades
sociais e culturas enraizadas, significando uma nova democracia.
Nesta direção, as inovações que se apresentam nos conselhos gestores de
políticas públicas evidenciam a necessidade de pautar este modo novo de fazer
política, construída em bases democráticas que estabeleçam o para além da mera
representatividade. É necessário, de acordo Oliveira, Paoli e Rezek (2003)
restaurar, perante a sociedade, a confiança de que estes espaços podem construir
uma dimensão pública e cidadã das políticas sociais, de modo a mobilizar os
setores sociais envolvidos no processo, ainda em construção. Assim, prescinde a
importância da articulação na intenção de defesa dos interesses e identidades das
classes subalternas.
A partir destas ideias, tem-se a compreensão de que os conselhos, com base
no pensamento de Cunha (2009), se identificam enquanto espaços que permitem a
participação política e a manifestação de ideias, dando visibilidade a
argumentações, de modo a pautar a construção de um governo com enfoque na
cidadania e participação dos sujeitos. Além disso, estes espaços permitem a
expressão de distintos discursos, tendo em vista posicionamentos acerca de
questões que perpassam o debate público e que exigem encaminhamentos
necessários. Importante compreender que estes serão dotados da presença de
participantes, que representam o interesse dos sujeitos envolvidos no processo e
que estão sujeitos à decisão. Devido a isso, configuram-se como “espaço de
expressão do conflito, de produção de acordos acerca de prioridades e ações em
relação às políticas públicas e de controle público sobre a execução dessas ações”
(Cunha, 2009, p. 124).
Vale reforçar que com a promulgação da Constituição Federal de 1988, os
conselhos gestores de políticas públicas surgem na perspectiva de garantir que as
relações entre Estado e Sociedade, no que tange a gestão das políticas públicas de
65
caráter social, se diferenciem de uma gestão autoritária, imposta verticalmente de
cima para baixo e com negociações permeadas de clientelismo - tendo em vista a
detenção do poder por parte de um determinado grupo – e de relação burocratas -
que limitam a política a procedimentos administrativos e tecnicistas. De acordo
Raichellis (2000), os conselhos de políticas foram instituídos pela legislação nas
diferentes instâncias administrativas, configurando-se como estruturas
permanentes, atribuídas de competências e função e vinculadas a estrutura
administrativa do Estado.
Desse modo, conforme Cunha (2004), os conselhos se instituíram de modo a
pautar suas ações com base nos princípios da participação (de modo a ampliar a
participação da sociedade); da representação (para que distintas concepções sejam
representadas); da deliberação (precedidas de intensos debates públicos); da
publicidade (de modo a mostrar à sociedade os debates e posicionamentos que
têm sido pautados por seus autores e autonomia (para que as regras sejam
construídas acerca do modo de seu funcionamento).
Assim, os diversos conselhos que são atrelados ao processo de participação
social possuem, geralmente, como características em comuns o fato de serem
estruturas híbridas entre Estado e sociedade, com representações plurais e com
caráter deliberativo, pautados no processo de diálogo, no que tange a formulação e
controle das políticas públicas.
66
3 A Política de Assistência Social e suas interfaces: uma análise sobre seu histórico, seu contexto e suas demandas atuais
A Política de Assistência Social no Brasil foi atravessada – ao longo da
história – por diferentes perspectivas que entrecruzaram a sua constituição
enquanto política pública, de direito do cidadão e dever do Estado. Importante
partir do princípio que a assistência social é um tema que requer constantes
estudos, tendo em vista que ela tem sido instrumento de constantes mudanças e
transformações, perpassando os caminhos da caridade ao direito, e aglutinando,
portanto, distintos elementos ao debate.
Assim sendo, faz-se de suma importância compreender esses elementos,
frente às demandas que são colocadas no direcionamento dessa pesquisa, tendo
em vista que eles propiciam instrumentos que vislumbrem presunções à constante
construção/reconstrução desta política pública, sobretudo frente aos desafios que
são colocados a mesma, cotidianamente.
Desse modo, este capítulo tem como objetivo trazer a cena o modo pelo
qual a Assistência Social constitui-se antes e pós Constituição Federal de 1988.
Inicialmente contextualizam-se os elementos históricos de configuração da
mesma; logo após apresentam-se os elementos normativos atuais e a maneira que
eles rebatem na execução dos serviços, programas, projetos e benefícios da
política de Assistência Social. Por fim, focando no objeto de estudo deste
trabalho, fala-se sobre os Conselhos de Assistência Social, entendo os elementos
que o perpassam e rebatem – diretamente – na maneira pela qual ela é conduzida
frente aos dilemas e desafios atuais.
3.1. A Assistência Social e seu processo histórico de formação: o direito como favor
O debate acerca da Política de Assistência Social nos leva a necessidade de
compreender como esta se estrutura, historicamente, na sociedade brasileira, tendo
67
em vista ser um produto histórico, que retém e conserva experiências e valores
acumulados, ao mesmo tempo em que institui, cria, recria e inova o seu processo
de intervenção e normatização.
Para Garcia (2012, p. 4), nesse processo de construção da assistência social
enquanto política pública, “coexistem o antigo e o novo, o instituído e instituinte,
o favor e o direito, a política de governo e a política de Estado, o isolamento
institucional e a noção e sistema de gestão etc.”, abarcando sujeitos coletivos em
um processo de inserção nos movimentos democráticos, pautados numa
perspectiva de luta social.
Neste sentido, a Assistência Social – enquanto uma política de direito do
cidadão e dever do Estado – esteve condicionada ao contexto histórico no qual ela
é estabelecida, imbricada de determinações múltiplas e com processos
contraditórios de formação. Esse contexto proporcionou que ela estivesse – em
cada tempo e/ou governo - instituída de um modo diferente, não trazendo
paradigmas de continuação e concretização de uma política salientada na
perspectiva do direito39. Para Sposati (2007, p. 10) “a assistência social tem na sua
paternidade genética heranças que não se pode afirmar, sejam desejáveis ou
compatíveis com a inclusão ou com os direitos de cidadania”.
Enquanto prática da humanidade, a assistência sempre esteve presente, não
estando limitada, à civilização judaico-cristã e/ou sociedades capitalistas. Numa
perspectiva de solidariedade, diversos sujeitos estavam ligados a ela, sejam
pobres, incapazes, viajantes/andarilhos, doentes etc., sendo objeto de intervenções
que aconteciam de diversas maneiras, ligadas a filosofia de que sempre existirão,
entre os homens, pessoas carecedoras da ajuda alheia.
Para Sposati (2003), foi através da civilização judaico-cristã que a caridade
e benemerência tomam a forma de ajuda ao próximo, baseada numa perspectiva
presente na moral40 de conduta dos sujeitos. Assim, com o objetivo de promover
39 Esse paradigma altera com a inserção – em conjunto com a Previdência Social e Saúde – no
tripé da Seguridade Social. Falar-se-á sobre isso posteriormente. 40 Dentro deste debate, é necessário distinguir a diferenciação entre moral e ética. Para Barroco (
2010, p. 60) “ [...] os valores morais surgem das necessidades históricas dos homens. Uma vez
instituídos, passa a se estruturar como sistema normativo: conjunto de normas morais que visa à
regulação do comportamento dos indivíduos, tendo por finalidade atender às necessidades de
sobrevivência, de justiça, de defesa etc. da comunidade. As normas e valores também servem de
orientação de valor, de parâmetros para juízos de valor, que visam nortear a consciência moral dos
indivíduos, compondo um código moral não escrito, cuja reprodução é realizada na vida cotidiana,
pela repetição formadora do hábito e dos costumes”. Nesse sentido, a moral tem-se objetivado
enquanto um julgamento de valores, de modo a responder as necessidades imediatas dos sujeitos,
68
práticas de ajuda e apoio, grupos filantrópicos e religiosos passaram a se
organizar, originando as instituições de caridade voltada aos aflitos.
Frente a isso, decorrente da expansão do capital e da precarização do
trabalho – instalada nas sociedades capitalistas com condições de pobreza se
tornando, cada vez mais visíveis e incômodas - a benemerência pode ser vista
enquanto uma prática de dominação, tendo em vista que suas ações, por serem
alvos de caridade, destituíam os sujeitos da condição de portadores de direitos.
Importante compreender que as práticas atreladas à proteção social no Brasil
são frutos de lutas históricas41. Todavia, possuem histórico recente de
desenvolvimento no país, estando – ao longo da sua história – atreladas à garantia
de necessidades básicas dos sujeitos.
A proteção social historicamente foi desenvolvida através da Poor Law (Lei dos
Pobres), que ficou conhecida como estando na centralidade do entendimento acerca
da ideia dos direitos sociais haja vista que estes têm como objetivo básico garantir
aos indivíduos a satisfação de suas necessidades sociais. A lei supracitada
caracteriza-se como um conjunto de regulações feitas pelo sistema capitalista que
se destinava a todos os indivíduos que estavam situados à margem do trabalho,
como por exemplo, os idosos, os inválidos, os órfãos, as crianças carentes etc.
Além disso, há também a identificação de outras que se tornaram exemplos de
garantir a proteção social/política social as classes mais abastardas da sociedade.
Entre as mais conhecidas, podemos dizer acerca das leis inglesas como o Estatuto
dos Trabalhadores, o Estatuto dos artesãos (Statute of Artificies) e a
Speenhamland, dentre outras. 42 (Felício Silva, 2011, p. 51)
As Poor Laws eram políticas de natureza caritativa e inauguram uma
primeira fase de evolução da política social, sendo disseminada na grande maioria
dos países europeus, entre o século XVII e XIX. De certo modo, essas legislações
se tornavam um código coercitivo do trabalho e tinham um caráter repressivo, não
oferecendo proteção aos que a utilizavam (Boschetti, 2003).
de modo superficial e singular. É orientada por estereótipos e preconceitos, em intervenções
moralistas e sem uma adesão crítica à realidade. Já por ética, entende-se “a ética é trazida para o
conjunto das práticas conscientes do ser social, dirigidas para a intervenção na realidade e na
direção da conquista da liberdade e da universalidade, tendo como parâmetro a emancipação
humana” (BARROCO, 2009, p. 11). 41 Para Felício Silva (2011, p. 51) “com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
verificamos indicativos que ampliam o debate acerca da proteção social no Brasil, haja vista que
esta constituição ampliou de maneira considerável os direitos sociais dos sujeitos”. 42 Neste sentido, importante destacar que a Poor Law foi criada na Inglaterra em 1601, vigorando
até 1834. Tinha como objetivo constituir-se enquanto um sistema de abonos que era oferecidos aos
trabalhadores considerados incapazes, desempregados, velhos e crianças. Essa assistência ofertada
era dada pelas paróquias, na qual utilizavam o fundo que era oriundo de impostos e taxações
locais.
69
Neste sentido, de acordo Sposati (1995), a Assistência Social esteve, por
muito tempo, ligada diretamente ao trato a questão social, exercendo um vínculo
direto na relação capital-trabalho. Assim sendo, observa-se que as ações
desenvolvidas, de modo a minimizar expressões da questão social, tinham o
intuito de reprimir os sujeitos e executar um modo de intervenção para enquadrar
os sujeitos nos moldes do sistema vigente.
Frente a isso, válido entender que o sistema de proteção social brasileiro,
historicamente esteve organizado frente a três vertentes. Em uma primeira
vertente, compreende-se o que fora desenvolvido no período da República
Velha43, tendo em vista as práticas que visavam o enfrentamento da questão
social, através das políticas sociais em um caráter corporativo, pela via de
instituição de direitos sociais assentados na vinculação ao trabalho, como por
exemplo, o acesso aos Institutos de Aposentadorias e Pensões, baseados na
Consolidação das Leis do Trabalho. Além disso, importante entender que neste
período a questão social é tratada enquanto “caso de polícia”.
Já uma segunda vertente é estabelecida com o objetivo de atender situações
de pobreza que passaram a ser objeto de intervenção do Estado após a década de
1930. Essa vertente dialogava com práticas baseadas em uma tradição caritativa e
filantrópica. E por fim, tem-se a vertente que disserta acerca das políticas sociais
enquanto afirmação de direitos sociais que compreendem a cidadania dos sujeitos
e que se consolida – no país – a partir de 1988.
Para Boschetti (2009), a Seguridade Social, nos países capitalistas da
Europa e da América Latina, se estruturou tendo como norte a organização social
do trabalho. Frente a isso, de acordo o padrão keynesiano-fordista, bem como sua
regulação das relações econômicas e sociais, a instituição da Seguridade Social –
após a Segunda Guerra Mundial – esteve como núcleo central nas práticas
desenvolvidas pelo Estado social.
Nesta direção, há a instituição de direitos ligados a Seguridade Social que se
baseiam em um modelo alemão bismarckiano44 e aqueles que remetem no modelo
43 O período da República Velha é o período que vai da Proclamação da República, em 15 de
Novembro de 1989 até a Revolução de 1930. 44 O modelo bismarckiano influenciou em grande parte as primeiras iniciativas que constituíram a
seguridade social no século XX. Este modelo nasce na Alemanha em 1883 durante o governo de
Otton Von Bismarck, devido às greves e pressões feitas pelos trabalhadores. Este modelo é
baseado em um sistema de seguros sociais ao qual há contribuição direta dos empregadores e
empregados baseando-se nas folhas de salários. Esse modelo estrutura diversos benefícios da
70
inglês beveridgiano45. Ambos possuem como norte os direitos ligados ao trabalho,
de modo a garantir benefícios para os trabalhadores, impedidos ou não de
exerceram, permanentemente ou temporariamente, suas atividades laborativas
(Boschetti, 2009).
Assim, tem-se um sistema de proteção social que mobilizava a família, a
comunidade e as instituições filantrópicas religiosas para interferir junto aos
segmentos que carecessem de medidas. Já no atual sistema, que passa a vigorar,
sobretudo, a partir do século XX, ocorre um compartilhamento dos riscos que é
dividido entre a sociedade, o mercado e o Estado.
A proteção social ao se constituir, em tese, como um sistema universal no decorrer
do século XX, transformou-se em um dos maquinismos de enfrentamento à questão
social, que expressa os conflitos e contradições nas relações sociais capitalistas,
estando sempre ligada à sociedade salarial. Entretanto, devido às mudanças
sofridas na categoria trabalho em virtude dos processos de mundialização do
capital, verifica-se que há recrudescimento nesta sociedade afetando de maneira
significativa um número expressivo de trabalhadores. Isso coloca em evidencia um
grande número de sujeitos que ficam à margem de ações que ofereçam aos mesmos
proteção social, em sua grande parte, através das políticas sociais. (Felício Silva,
2011, p. 52-53)
Destarte, compreendendo o debate acerca da assistência social enquanto
prática e política pública, é necessário entender que o seu processo de constituição
também esteve inerente aos processos construtivos que permearam a formação da
proteção social em nossa sociedade, tendo em vista que a mesma enquanto
política social é uma possibilidade recente, instituída pela promulgação da
Constituição Federal de 1988. Não obstante, sua trajetória esteve atrelada a um
legado de concepções, ações e práticas, que necessitam de análise para
compreender os mecanismos rebatem em seu desenvolver e efetivação,
atualmente.
De acordo com Lonardoni (et al, 2003), a prática de assistência é algo que
ocorre há muito tempo. Tal prática esteve relacionada a diversas sociedades,
seguridade social, sobretudo os ligados a Previdência Social e eles tem o objetivo de garantir a
renda do trabalhador nos momentos de risco social e ao qual há a ausência do trabalho, afiançando
proteção ao trabalhador e à sua família (FELÍCIO SILVA, 2011, p. 47). 45 O modelo do Plano Beveridge, surge mais precisamente em 1942, durante a 2.ª Guerra Mundial,
e é formulado na Inglaterra e propõe a criação do Welfare State. Nesse plano os direitos têm
caráter universal e são destinados a todo o conjunto de cidadãos, independente de contribuição
financeira ou não garantindo mínimos sociais a todos que deles necessitarem. Além disso, visa
como principal objetivo a luta contra a pobreza (IDEM)
71
atrelada a ações voltadas aos pobres, aos viajantes, aos doentes, aos incapazes etc.,
sempre justificadas na perspectiva de que existem sujeitos frágeis, que necessitam
de ajuda e/ou apoio, tendo em vista sua dependência de práticas que garantam a
sua proteção. Assim, a filosofia apregoada pela civilização judaico-cristã,
proporciona que haja a transformação dessa ajuda aos “mais necessitados” em
uma caridade e/ou benemerência, permitindo que a assistência oferecida se
transformasse em um apelo a necessidade de praticas, direcionadas a benevolência
daqueles que necessitassem.
Assim, de acordo com Mestriner (2008), a assistência social, a princípio,
esteve atrelada a ótica da caridade e da ajuda e, por conseguinte, a ótica do
assistencialismo. As ações eram desenvolvidas por grupos ligadas a Igreja
Católica, em uma perspectiva filantrópica, calcada em um método positivista46, na
qual há práticas voltadas a solidariedade aos que não obtinham condições de
prover seu sustento.
Desse modo, as práticas direcionadas a ajuda se perpetuavam através de
esmolas, calcados na dimensão da boa vontade, ajuda ao próximo e amor à
humanidade. O modo como eram desenvolvidas essas ações caritativas tinham
como objetivo enquadrar os sujeitos, para que os mesmos não provocassem uma
revolta com a ordem social vigente.
De acordo Lonardoni, (et al,2003, p. 1-2) “No Brasil, até 1930, não havia
uma compreensão da pobreza enquanto expressão da questão social e quando esta
emergia para sociedade, era tratada como “caso de polícia” e problematizada por
intermédio de seus aparelhos repressivos”. Assim, havia o trato a pobreza como
um caráter de disfunção do sujeito, de modo à culpabilizá-lo pela condição que
estava inserido na sociedade.
As práticas que foram construídas – na constituição da assistência social –
estiveram ligadas também as damas de caridade, vistas enquanto “boas moças” da
sociedade e que praticavam o bem voltado aos pobres. Entretanto, frente aos atos
de favor que eram desenvolvidos, havia o agravamento das condições de pobreza
e desigualdades sociais. Assim, com a expansão do capital e a pauperização da
46 A filosofia positivista baseia-se no discurso de “ordem e progresso”. Para ela, não é possível que
haja compatibilidade entre essas esferas se uma não presumir a outra. Assim, ela buscava eliminar
– em ações baseadas nesta filosofia – todos os problemas que configuravam-se enquanto
empecilhos para a máxima.
72
força de trabalho, há a apropriação pelo Estado das práticas desenvolvidas,
direcionando a solidariedade a sociedade civil (Lonardoni, 2003).
Entretanto, frente à sociedade capitalista e seus princípios – que provocam o
agravamento das expressões da questão social47, sobretudo a miséria e a pobreza -
o Estado passa a atuar de modo estratégico, de modo a conformar os indivíduos a
atos imediatistas, negando a concepção de direito social. Neste parâmetro então:
Longe, portanto, de assumir o formato de política social, a assistência social
desenrolou-se ao longo de décadas, como doação de auxílios, revestida pela forma
da tutela, de benesse, de favor, que, no fim, mais reproduz a pobreza e a
desigualdade social na sociedade brasileira. (Mestriner, 2008, p.16)
Diante disso, o primeiro modo pelo qual se regulou a assistência social no
Brasil foi a instituição do Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS – em
193848. Para Mestriner (2008) este foi criado como um órgão de cooperação entre
o Ministério da saúde e educação, formado por figuras importantes da sociedade
cultural e filantrópica, de modo a substituir o governo na decisão no tocante à
escolha de quais organizações da sociedade civil auxiliar financeiramente. Foi,
portanto, a forma pela qual a assistência social acopla-se a burocracia do Estado,
ainda que de modo a subsidiar ações da sociedade civil.
A moral republicana liberal – mesclada à ditadura varguista – entende que os
notáveis é que dialogariam com entidades sociais sobre os mais pobres. Nem
pensar em relações democráticas ou na presença da voz dos usuários para dizer de
si. Eles precisavam ser vocalizados por outros. É a grande e persistente
desconfiança com o que dizem os usuários da assistência social que precisa ser
rompida. (Sposati, 2007, p. 17)
Esse Conselho só é extinto pela Lei Federal 8.742/93 (que dispõe sobre a
organização da Assistência Social e dá outras providências)–, quando há a criação
do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS.
47 A questão social diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas
na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no
caráter coletivo da produção contraposto à apropriação privada da própria atividade humana – o
trabalho - [...]. É indissociável da emergência do “trabalhador livre’ que depende da venda de sua
força de trabalho com meio de satisfação de suas necessidades vitais. A questão social expressa
portanto disparidades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por
relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa as
relações entre amplos segmentos da sociedade civil e poder estatal. (IAMAMOTO, 2001, p.16-17) 48 O Decreto-Lei n.º 525 de 1 de Julho de 1938, que cria o extinto Conselho Nacional de Serviço
Social está disponível nos anexos deste trabalho dissertativo.
73
Para além desses instrumentos, configurando-se enquanto a primeira grande
instituição que desenvolve a assistência social, tem-se a Legião Brasileira de
Assistência (LBA), que tem, na sua gênese, a inserção da presença das mulheres e
dos ideais de patriotismo ligados ao desenrolar das ações voltadas aos
necessitados. De acordo Sposati (2007), a criação da LBA ocorre quando Darcy
Vargas – então esposa do presidente Getúlio Vargas – decide reunir senhoras da
sociedade para agraciar os combatentes da II Grande Guerra Mundial e
pertencentes à Força Extraordinária Brasileira com cigarros e chocolates.
Além disso, após o pós-guerra, esta legião trabalha com o objetivo de
oferecer assistência às crianças e mães necessitadas, tendo em vista que os
objetivos anteriores foram considerados como empreitadas de sucesso.
Desse modo, em 1942, a LBA passa a agregar objetivos direcionados a
oferecer apoio às famílias que não eram atendidas pelos fundos previdenciários, se
tornando uma sociedade civil com finalidades não econômicas. Assim, de modo
emergencial, ela passa atender famílias em situações de calamidade, trazendo a
assistência social um caráter paliativo (Sposati, 2007). De modo progressivo, ela
passa a atuar em questões ligadas à maternidade, à velhice, à infância etc., ou seja,
em questões geracionais.
Após as campanhas de impacto realizadas com os “convocados” de guerra, a
Legião Brasileira de Assistência será a instituição a se firmar na área social, e sua
ação assistencial será implementada para dar apoio político ao governo (Mestriner,
2008, p. 145).
Importante entender que através da LBA eram legitimados atos políticos
que usufruíam do assistencialismo para imprimir a marca do carisma e da
generosidade frente às classes empobrecidas. Além disso, ela não buscava
eliminar a situação de pobreza vivenciada pelos seus “assistidos”, executando
uma filantropia disciplinadora, que tinha como objetivo enquadrar os
comportamentos dos indivíduos, através do embasamento em encíclicas sociais
(Carvalho, 2013). Dentre os parceiros que a LBA encontra para desenvolver suas
ações, pode-se citar que ela passa a buscar – em um momento de legitimação do
serviço social enquanto profissão – o auxílio das escolas de serviço social para o
desenvolvimento de trabalhos técnicos na área social.
74
Neste sentido, a assistência social passa a ser definida pela identidade do
negativo; entendida como uma política pela qual os setores estatais não entendem
como de sua competência, sendo arraigada por traços de assistencialismo que se
limitava a ações simplistas de combate a miséria. Assim, a assistência social
carrega um legado de ações imprevisíveis, relegadas ao solidarismo e a
individualização da questão social, onde grande parte dos serviços, programas,
projetos e benefícios da assistência social eram construídos com base na regulação
“caso a caso”, com relações personalistas e clientelistas.
Assim, a assistência social foi historicamente operacionalizada de forma
assistemática, voluntária, individualista e sem dispor de quaisquer recursos
orçamentários, direcionados ao suprimento das classes subalternas e/ou
necessitadas da sociedade.
Dando prosseguimento as atividades desenvolvidas nos anos anteriores,
observa-se, no período da Ditadura Militar a criação do Ministério da Previdência
e Assistência Social – MPAS, que passa a ter, em sua estrutura, uma Secretaria de
Assistência Social. Essa possuirá uma função consultiva, sendo o elemento
fundamental para a elaboração de políticas, com objetivo de ataque à pobreza.
Nesse período, observa-se que o foco da assistência social deixa de ser apenas a
filantropia, atuando de modo intrínseco as relações de produção, tendo em vista o
acirramento das questões ligadas à pauperização49 da classe trabalhadora.
Nesta direção, há a implementação de políticas sociais direcionadas ao
exército industrial de reserva, como por exemplo, casas populares voltadas à
habitação (Lonardoni et al, 2003). Todavia
A criação de novos organismos segue a ideia do retalhamento social, criando-se
serviços, projetos e programas para cada necessidade, problema ou faixa etária,
compondo uma prática setorizada, fragmentada e descontínua, que perdura até hoje
(Mestriner, 2001, p. 170)
Entretanto, apesar de observar o predomínio de ações que predominavam
características de tratamento ao usuário como uma clientela, baseada na
49 O termo pauperismo é ligado a teoria marxista e centra-se nas categorias trabalho,
alienação/fetichismo e exploração. Para o autor, o pauperismo da classe trabalhadora é responsável
pelas condições de pobreza e miséria extrema, numa dimensão de totalidade da esfera econômica,
tendo em vista as expressões da questão social inerentes ao sistema capitalista.
75
perspectiva da assistência e repressão, observa-se o uso de um racionalismo
técnico, voltado as organizações sociais. Além disso, há o surgimento de diversos
movimentos sociais, como por exemplo, as associações comunitárias e as
Comunidades Eclesiais de Base, tendo em vista a redefinição da atuação das
camadas populares, que passam a intervir no âmbito político, econômico, social,
cultural etc., exigindo do Estado à necessidade de pautar políticas para a proteção
social50.
De acordo Resende (1985), os movimentos sociais devem ser vistos como
produtores da história, sendo forças instituintes que devem questionar os moldes
pelo qual o Estado executa suas práticas. Assim, dado a necessidade de por fim ao
período ditatorial e suas práticas repressivas de cerceamento da liberdade dos
sujeitos, observa-se, sobretudo a partir de 1968, a emersão de diversos
movimentos sociais, tais como o movimento estudantil e os movimentos
religiosos.
Dentre esses, dois dos principais que delinearam a necessidade de novos
paradigmas para a assistência social, dizem respeito aos movimentos que surgem
dentro da Igreja Católica baseados na Teologia da Libertação, que tinha como
objetivo romper como modo de dominação que as classes subalternizadas sofriam
frente às ações que eram desenvolvidas pelo Estado e suas classes filantrópicas.
Além disso, há as Associações Nacionais dos Servidores da LBA51 que se
articulam de modo a promover debates, documentos, proposições para que haja a
inserção da Assistência Social na Constituição Federal de 1988 que seria
promulgada, de modo a caracterizar um direito do cidadão e dever do Estado.
50 Neste período há a criação, por exemplo, do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
Para Carvalho (2013, p. 69) “É importante pontuar que apesar deste período ter sido palco de
muitas mudanças e avanços na proteção social, devido a criação destes institutos e demais
instituições que de alguma forma prestavam assistência, estas alterações não abarcavam o conjunto
da sociedade, pois o público assistido era determinado pelo vínculo empregatício, ou seja, neste
sistema mantêm-se um modelo fragmentado e desigual com articulações de interesses e troca de
favores, onde uma grande parcela da população que não encontrava inserida no mercado de
trabalho, tinha que recorrer às ações filantrópicas”. 51 Isso vai à direção do que Garcia apresenta ao afirmar que “No entanto, é sempre oportuno
lembrar que foi dentro da LBA que surgiram os primeiros e principais debates que levaram os
constituintes a entender que a assistência social precisava ser compreendida e executada como um
direito. A LBA não foi apenas um espaço de clientelismo, politicagem e corrupção. Houve muita
vida inteligente nela pensando um novo caminho para a assistência social; houve profissionais que
formularam um caminho pelo qual a área deixasse de ser refém dos projetos políticos eleitorais”
(2012, p. 7).
76
Movimentos de defesa de direitos, Organizações não-governamentais e o
surgimento de novos movimentos sociais, são emblemáticos no período conhecido
como de transição democrática, onde predominava uma filantropia vigiada.
Podemos demarcar essa fase entre os anos de 1985 a 1988, quando ocorre a
abertura política e potencializa-se o surgimento de novos sujeitos políticos, que
passaram a reivindicar respostas inerentes à um conjunto de demandas
compreendidas e vinculadas à garantia de direitos sociais, agora pautados em base
democráticas e de autonomia em relação ao Estado, a fim de construir um novo
padrão de cidadania (Carvalho, 2013, p. 69).
De acordo Lonardoni et al (2003), os movimentos sociais influenciaram –
de modo intenso e positivo - a configuração das políticas públicas (pós período
ditatorial), sobretudo a Política de Assistência Social. Vale destacar que modo
como à sociedade civil se organiza torna-se um fator fundamental para o processo
de democratização que ocorrera neste período.
De acordo Brant de Carvalho (1994), ao se inserir enquanto política pública
no âmbito da seguridade social, a assistência social passa a se mover para o
campo da proteção social, de modo a garantir mínimos a quem dele necessitar.
Entretanto, como observado ao longo das discussões anteriormente travadas, seu
processo de constituição enquanto política pública fora longo e com entraves que
buscaram a sua não conceituação enquanto direito, atrelando suas práticas ao
favor e ao clientelismo, práticas que se entrelinham à configuração da política
social brasileira.
Assim sendo, o contexto pelo qual passa a se circunscrever o delineio da
nova Constituição a ser promulgada, exigem práticas assistenciais calcadas na
nova realidade posta, tendo em vista o aumento das reinvindicações que
solicitavam respostas efetivas as práticas assistenciais, de modo a torná-la uma
política pública, afiançada na perspectiva dos direitos sociais, em favor das
pessoas em situação de vulnerabilidade, exclusão e risco social.
77
3.2. Assistência Social enquanto direito: elementos normativos e o debate contemporâneo
A política de assistência social brasileira52, historicamente, foi perpassada
por um modelo socioassistencial que ao contrário de legitimar direitos reforçava a
subalternidade e a dependência dos usuários em relação às ações por ela
desenvolvidas, se dando através de benemerência, filantropia e caridade, arraigada
de valores morais. Atualmente, a política de Assistência Social é arquitetada
enquanto uma política de caráter não contributivo e destinada a quem dela
necessitar, tendo na Política de Assistência Social (PNAS) de 2004 e no Sistema
Único de Assistência Social (SUAS) de 2005, seus principais elementos políticos
e normativos. Além disso, desde a Lei Orgânica da Assistência Social já se
preceitua esta política como sendo um direito do cidadão e dever do Estado, capaz
de prover mínimos sociais através de um conjunto integrado de ações do Estado e
da sociedade, com o intuito de proporcionar o atendimento às necessidades
básicas dos sujeitos (Pereira, 2006).
A assistência social foi marcada por uma institucionalização periférica e
fragmentada, sem diretrizes para sua constituição como política pública. Foi
historicamente tratada como caridade e prestação de favor, ao invés de ser a
promoção de um direito social. Os implementadores, de fato, das ações
assistenciais foram as entidades filantrópicas e sem fins lucrativos, o que facilitou a
presença de clientelismo, corrupção e ineficiência, além da sobreposição de ações,
falta de planejamento e articulação das intervenções, sem critérios claros dos
serviços a serem prestados e nenhuma avaliação de suas ações. (Costa & Palotti,
2011, p. 214).
Nesta direção, importante compreender que conforme Oliveira (2003), a
história da assistência social nos mostra períodos de fragilidade das suas ações,
voltadas a um caráter alienante, excludente, paternalista, por vezes, deixado ao
segundo plano. Ao longo de sua trajetória, conformou-se como campo de atuação
da igreja, da filantropia e das primeiras damas, o que contribuiu para a sua não
visibilidade enquanto política pública. Além disso, a maneira pela qual o Estado a
52 Pode-se dizer com base na leitura de autores que a assistência social ainda convive com uma
dicotomia entre o pensar e o fazer esta política no nosso país em virtude do processo, da
convivência entre o novo e o velho, das relações sociais contraditórias e dos múltiplos jogos de
interesse, que dificultam a consolidação desta política como um direito universal inserido no
campo da cidadania social. Ver Couto et al (2010)
78
executou, historicamente, remetem a práticas ligadas às classes subalternas53 da
sociedade, porém de forma assistemática e com práticas assistencialistas.
Todavia, como dito anterior, com a promulgação da Constituição Federal de
198854, a Assistência Social passa a ganhar status de política pública compondo a
rede de proteção social55 aos sujeitos. Nesta direção, temos a inserção da
assistência social, como direito do cidadão e dever do Estado, no tripé da
seguridade social, em conjunto com a previdência social e a saúde. Desse modo,
esta Carta Cidadã oferece a oportunidade de promover o processo de refletir e
mudar, de modo a inaugurar uma proteção social que seja capaz de afirmar e
afiançar direitos, para que sejam superadas as práticas assistencialistas e
clientelistas (Lonardoni et al, 2003).
As políticas de seguridade social, que no Brasil incluem a saúde, a
previdência e a assistência social, podem ser consideradas produtos históricos da
luta da classe trabalhadora, no sentido de atendimento das suas necessidades
sociais, reconhecidas pelo Estado e pela classe burguesa dominante. A partir de
1988 e da Constituição, datada deste ano, pode-se perceber a proteção social
sendo atrelada a Seguridade Social, colocando-se como algo de maior abrangência
e de maior amplitude a distintos segmentos sociais.
De acordo Mota, Maranhão e Sitcovsky (2008) a Seguridade Social, da qual
a assistência social é parte essencial e constituinte, é um ambiente permeado de
interesses políticos e que, por isso, configura-se como um campo de disputas,
constantemente sendo alvo de adequações voltadas aos seus interesses. Além
disso, não é possível pensar uma estruturação de uma política social sem
compreender os ditames das políticas econômicas e, embora a atual política
econômica tenha sido permeada por indicadores que delineiam para a sua
melhoria, o que se constata é que a concentração de renda, calcada em uma lógica
predominante de exclusão, tem circunscrito as relações, fazendo com que a
53“A categoria "subalterno" e o conceito de "subalternidade" têm sido utilizados,
contemporaneamente, na análise de fenômenos sociopolíticos e culturais, normalmente para
descrever as condições de vida de grupos e camadas de classe em situações de exploração ou
destituídos dos meios suficientes para uma vida digna.” (SIMIONATTO, 2008, P. 42) 54 Os artigos 203 e 204 disciplinam acerca desta política. 55 Com base no pensamento de Viana e Levcovitz (2005, p. 17) a proteção social na
contemporaneidade versa sobre a ―ação coletiva de proteger indivíduos contra os riscos inerentes
à vida humana e/ou assistir necessidades geradas em diferentes momentos históricos e
relacionadas com múltiplas situações de dependência‖. Desse modo, podemos afirmar que os
sistemas de proteção social se originam diante a necessidade de se minimizar os impactos
advindos de determinadas situações de riscos que incidem sobre o indivíduo e sobre a sociedade
79
política social em questão esbarre em limites que não permitem o alcance de seus
objetivos, princípios e diretrizes no intuito de minimizar as desigualdades sociais.
Diante deste cenário é que a Constituição Federal de 1988 avança trazendo
um novo panorama que define um arcabouço legal e conceitual a assistência
social, na qual assegura em seu artigo 203 e 204 a assistência como um direito de
todos, integrando a seguridade social brasileira, e também uma política que deve
ser provida com recursos financeiros públicos sendo responsabilidade de toda a
sociedade e de primazia do Estado de modo a garantir a proteção, a promoção, o
amparo à habilitação e reabilitação de pessoas em distintas condições de
vulnerabilidade e risco social.
Através destes artigos podemos perceber que a assistência social foi um dos
importantes temas da agenda política no período constituinte, o que levou a fazer
com que o Estado adotasse como sua responsabilidade para com aquelas pessoas
que se encontram em processo de vulnerabilidade, riscos e exclusão social.
(Sposati, 2009).
Diante da inserção da assistência social como uma política pública garantida
constitucionalmente é que houve um intenso processo de mobilizações de
distintos atores sociais, na tentativa de regulamentar esta política enquanto um
direito social universal que expressasse as necessidades de todos os envolvidos no
processo.
Desse modo, em 1993 é sancionada a Lei 8.742 ou a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) que se torna um divisor de águas no campo da
Assistência Social, haja vista que dispõe sobre as competências das esferas de
governo na condução e no financiamento da política, tendo como diretrizes a
descentralização político administrativa, a participação popular e a primazia do
Estado. Além disso, esta Lei Orgânica visa assegurar serviços, programas,
projetos e benefícios que permitam enfrentar situações de
Vulnerabilidade que fragilizam a resistência do cidadão e da família ao processo de
exclusão sociocultural, dedicando-se ao fomento de ações impulsionadoras do
desenvolvimento de potencialidades essenciais à conquista da autonomia. (Lopes,
2006, p. 77)
Como elencado anteriormente, a inserção da assistência social no sistema de
proteção social brasileiro possibilitou que a mesma pudesse avançar e mudar seu
80
padrão historicamente construído, tendo a LOAS mudanças institucionais na
condução desta política (Yazbek, 2008). Em virtude da sanção da Lei 8.772 é
aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), em 2004, a
edição revista e ampliada da Política Nacional de Assistência Social56 que
expressa às deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social,
realizada no final do ano de 2003 em Brasília.
Conforme Couto et al (2010), a PNAS/2004 vai tornar claro as diretrizes
para que a assistência social possa se efetivar, enquanto um direito do cidadão e
de dever do Estado, apoiada em um modelo de gestão compartilhada através do
pacto federativo, na qual são detalhadas as atribuições e competências de cada
esfera do governo na provisão das ações e atenções socioassistenciais - conforme
o preconizado na LOAS e, mais recentemente, na Lei 12.435, que altera alguns
artigos da Lei 8.772.
A PNAS apresenta como objetivos o provimento de serviços, programas,
projetos e benefícios de proteção social básica57 e ou especial58 para os
indivíduos, famílias e grupos que dela necessitem; contribuir com a inclusão e a
equidade dos usuários e dos grupos específicos tanto da zona urbana quanto da
zona rural e assegurar que as ações desenvolvidas tenham centralidade na família
e que garanta a convivência familiar e comunitária (MDS/PNAS, 2004, p. 27).
Como um dos requisitos essenciais para a efetivação da LOAS e dentre as
deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social está a criação de
um sistema descentralizado e participativo que permite a consolidação das
diretrizes, objetivos e funções da assistência social expressos pelas referidas lei
orgânica e política nacional. Assim, é Criado o Sistema Único de Assistência
56 Assim, podemos dizer que a LOAS produz impactos consideráveis ao trazer uma nova matriz
para a assistência social brasileira, tornando a mesma visível enquanto política pública e direito a
quem dela necessitar e como passo seguinte a promulgação desta Lei há a elaboração da Política
de Assistência Social em 1995, sendo esta política revista e aprimorada em 1998 e por fim em
2004. E em virtude da Política Nacional de 2004 há a criação do Sistema Único de Assistência
Social em 2005. 57 A Proteção Social Básica diz respeito aos serviços, programas, projetos e benefícios que tenham
como objetivo prevenir as situações de risco social. Nesse caso, os usuários encontram-se em
situação de vulnerabilidade social, mas não há rompimento dos vínculos familiares e comunitários.
Tem como porta de entrada os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) 58 Já a Proteção Social Especial realiza o trabalho os indivíduos e/ou seus familiares que estejam
em situação de risco social e que o rompimento dos vínculos familiares e/ou comunitários já
estejam rompidos ou propensos a isso. Ela se subdivide em (1) proteção especial de média
complexidade, quando os vínculos ainda não foram rompidos, e é executada pelos Centros de
Referência Especializados em Assistência Social (CREAS), por exemplo.; (2) proteção especial de
alta complexidade, quando já houve o rompimento dos vínculos familiares e/ou comunitários. É
exercida pelas instituições de acolhimento, por exemplo.
81
Social que foi regulamento através da Norma Operacional Básica – NOB/SUAS
aprovada através da resolução 130 de 15 de Julho de 2005, que disciplina e
normatiza a operacionalização da gestão da PNAS/2004.
Assim sendo, o Sistema Único de Assistência Social tem como objetivo
referenciar os serviços, programas, projetos e benefícios da política de Assistência
Social, em consonância com a Política Nacional de Assistência Social, a Lei
Orgânica da Assistência Social e a Constituição Federal de 1988, de modo a
promover que seus princípios, diretrizes e objetivos, se concretizem numa
perspectiva de direito do cidadão, afiançada numa lógica de cidadania. É
importante entender que o SUAS| configura-se como um sistema público, não-
contributivo, descentralizado e participativo e que tem como função principal a
gestão do conteúdo da Assistência Social.
A gestão do SUAS é estruturada sobre os seguintes eixos que se encontram
dispostos na Política Nacional de Assistência Social – PNAS: precedência da
gestão pública da política; alcance de direitos socioassistenciais pelos usuários;
matricialidade sociofamiliar; territorialização; descentralização político-
administrativa; financiamento partilhado entre os entes federados; fortalecimento
da relação democrática entre estado e sociedade civil; valorização da presença do
controle social; participação popular/cidadão usuário; qualificação de recursos
humanos; informação, monitoramento, avaliação e sistematização de resultados.
A Assistência Social, enquanto política pública de direito do cidadão e
dever do Estado, deve pautar-se na centralidade das famílias e os seus membros
constituintes, dando prioridade aquelas que se encontram em situações de
vulnerabilidades e risco social, de maneira a ter caráter preventivo, de modo a
fortalecer os laços e vínculos sociais, entre seus membros e indivíduos. Nessa
direção, esta política possui algumas funções, quais sejam:
- Proteção Social hierarquizada entre proteção básica e proteção especial
A proteção social na assistência social realiza-se através dos serviços,
programas, projetos e benefícios que são executados e oferecidos pelo SUAS. Ela
tem como princípios:
A matricialidade sociofamiliar: isso significa que a família, entendida
aqui como um núcleo afetivo que se estrutura por laços consaguíneos ou
82
não nas qual há obrigações recíprocas e mútuas e que se organizam em
tornos de relações de gênero e de geração. Neste sentido, a família é o
núcleo social central e básico no qual se dá a autonomia, convívio,
autonomia, sustentabilidade e protagonismo social;
Territorialização: isso significa pensar que os indivíduos e a família estão
sujeitos a situações de fatores sociais e econômicos que os situam em
situações de vulnerabilidade, risco pessoal e social e que a lógica da
proteção social deve se pautar sobre ele, de modo já garantir a
universalidade do acesso, o princípio da prevenção e da proteção e o
planejamento e localização da rede de serviços.
Proteção pró-ativa: se dá, principalmente, no campo da proteção social
básica, de modo a prevenir situações de risco social;
Integração à seguridade social; reafirma o princípio da seguridade social,
dando ênfase a lógica de que a previdência social, a saúde e a assistência
social devem manter, entre si, relações de complementariedade.
Integração às políticas sociais e econômicas: parte da lógica de que as
vulnerabilidades e riscos sociais originam-se em virtude de fragilidades
sociais e econômicas, exigindo assim ações intersetoriais articuladas a
realidade do território.
Além disso, tem como garantias:
A segurança de acolhida: provida por meio da oferta pública de espaços e
serviços para a realização da proteção social básica e especial;
A segurança social de renda; é operada por meio da concessão de bolsas-
auxílios financeiros sob determinadas condicionalidades aos indivíduos
vulnerabilizados, não incluídos no sistema contributivo;
A segurança do convívio ou vivência familiar, comunitária e social;
oferta pública de rede contínua de serviços que garantam a construção, a
restauração e o fortalecimento dos laços de pertencimento;
A segurança do desenvolvimento da autonomia individual, familiar e
social; exige ações profissionais que garantam o desenvolvimento de
capacidades e habilidades para o exercício do protagonismo social, a
conquista da liberdade, da dignidade humana, a proteção social para o
83
cidadão, a independência pessoal e o fortalecimento do protagonismo para
superar as contingências e vicissitudes.
A segurança de sobrevivência a riscos circunstancias: que exige a oferta
de auxílios em bens materiais e pecúnia sob determinadas situações
circunstancias.
- Defesa Social e Institucional
Na execução da política de assistência social os serviços de proteção social
básica e especial devem ser organizados de maneira a garantir que seus usuários
tenham acesso a espaços que permitam o conhecimento acerca dos seus direitos,
bem como de sua defesa, tais como as ouvidorias, os centros de referência, centros
de apoio sociojurídico, conselhos de direitos etc. Assim sendo, os mesmos
precisam dispor de espaços locais que garantam a manifestação da sua violação de
direitos, rompendo com os ideais de tutela e subalternidade, considerando o
cidadão como protagonista das suas ações e serviços.
- Vigilância Socioassistencial
Esta consiste no desenvolvimento da capacidade e dos meios de gestão
utilizados pelo órgão da gestão pública responsável pela assistência social com o
intuito de conhecer e preservar os índices de vulnerabilidade social no território.
Esta função contribui, principalmente, para:
Produzir, sistematizar e construir informações, indicadores e índices do
território e das situações de vulnerabilidade e risco social que incidem sobre os
usuários da política;
Identificar pessoas com deficiência ou em situação de abandono;
Identificar crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos vítimas de
formas de exploração, de violência, de maus tratos e ameaças;
Exercer vigilância sobre os padrões dos serviços da assistência social,
sobretudo aqueles que atuam com os usuários em situações de risco social;
Contribuir para a avaliação e o monitoramento da assistência social,
através da identificação das situações de precarização que incidem sobre o e
84
cidadão e colocam em vulnerabilidade e risco sua autonomia, sua socialização e
seu convívio familiar.
Quadro 1 - Resumo das funções da Assistência Social Quadro síntese das funções da política de assistência social
Proteção Social na
Assistência Social
Proteção
Social
Básica
Prevenir
situações de
risco. Destina-se
a população em
vulnerabilidade
social
Princípios Garantias
matricialidade
sociofamiliar;
Territorialização
Proteção pró-ativa
Integração à
seguridade social
Integração às
políticas sociais e
econômicas
segurança de
acolhida
segurança
social de renda
segurança do
convívio ou
vivência
familiar,
comunitária e
social
segurança do
desenvolviment
o da autonomia
individual,
familiar e
social
segurança de
sobrevivência a
riscos
circunstancias
Proteção
Social
Especial
Subdividida em
média e alta
complexidade.
Destina-se a
famílias e
indivíduos em
situação de risco
pessoal e social
Defesa Social e
Institucional
Garantir a participação e o protagonismo social através do acesso a
instituições que permitam isso.
Vigilância Social Tem o intuito de conhecer e preservar os índices de vulnerabilidade
social no território.
Fonte: Norma Operacional Básica (NOB-SUAS). Elaboração própria.
Válido dizer que os serviços, programas, projetos e benefícios
socioassistenciais são ofertados pela rede socioassistencial, articulada nos
princípios da proteção social, na defesa social e institucional e na vigilância
social.
85
Figura 1 - Rede Socioassistencial do SUAS. Fonte: Equipe Inovara 2012. Disponível em Perez (2013).
Assim sendo, tanto a PNAS quanto o SUAS estabelecem a política de
assistência social enquanto uma realização de ações que estejam voltadas ao
intuito de proteger os cidadãos contra os riscos sociais, inerentes aos distintos
ciclos de vida, para o atendimento das necessidades individuais e/ou sociais.
Destarte, a implantação de um sistema responsável por gerir a gestão e o bom
funcionamento da política deve requerer uma nova leitura e organização de
desenvolvimento de ações. Neste contexto, hoje um dos grandes desafios do
Sistema Único de Assistência Social, é ser considerado como um todo,
abrangendo a totalidade dos seus usuários e dos serviços, programas, projetos e
benefícios oferecidos.
Verifica-se que a assistência social tem sido uma maneira pela qual se dá o
enfrentamento a questão social e que a mesma vem assumindo um lugar com
destaque no que tange a proteção social brasileira. Importante compreender, como
dito anteriormente, que a consolidação desta política tem se dado a passos curtos.
Todavia, com a criação do Sistema Único de Assistência Social verifica-se uma
expansão desta política, contribuindo para o destaque que ela vem ganhando em
nossa sociedade, sobretudo em virtude dos programas de transferência de renda.
Com base no pensamento de Filho et al (2012), pode-se dizer que, diante
do capitalismo monopolista que vivemos, as políticas sociais têm atuado na
direção de satisfazer, de modo imediato, as necessidades da classe trabalhadora
para que a mesma consiga reproduzir sua força de trabalho, atuando, assim,
86
minimamente, nas expressões da questão social. Esse movimento vai ao encontro
do jogo pregado pela lógica de mercado de maximização dos lucros e de não
intervenção do Estado, haja vista que o mundo capitalista vem sofrendo, nas suas
últimas décadas, um intenso processo de modificação nos seus padrões de
produção e de acumulação, aludindo novos desafios aos distintos segmentos da
sociedade.
Diante deste cenário, Pastorini (2007) afirma que todo este processo
provocou importantes e significativas mudanças, o que corrobora não somente
para a desmobilização da organização dos trabalhadores, quanto para a
desestruturação e negação dos direitos conquistados por esse segmento social.
Nesta perspectiva, a flexibilização sucinta inúmeros processos, que provoca uma
série de alterações, que vão desde a criação de novas formas de trabalho (como o
trabalho terceirizado e a contratação temporária) até o crescimento do aumento
dos níveis de pobreza e desigualdades sociais, que geram também o retraimento
dos direitos sociais e a desregulamentação das condições de trabalho do
trabalhador.
E é diante destes tempos de mudança e futuro incerto, como diria Vera
Telles (1999), que essas manifestações da questão social vêm provocando
preocupações diante dos rumos da sociedade brasileira, perante este cenário de
flexibilização trabalhista. Mas, para além disso, o que nos inquieta é como a
pobreza brasileira vem assumindo configurações que não condizem com o
processo de avanço tecnológico e de capitalismo globalizado que vivenciamos,
sobretudo se considerarmos que a questão social é algo que é colocado dentro do
debate do serviço social, como algo intrínseco as relações sociais capitalistas.
Neste sentido convém registrar que ela é também, uma categoria que se formula e
reformula conforme os processos de transformação social que circunscrevem a
sociedade e embora alguns autores falem em uma nova questão social, ela
permanece substantivamente a mesma, pois trata-se de uma questão estrutural
provocada em decorrência de processos econômicos e históricos de exclusão.
E é perante a isto que Yazbek (2001) situa a condição de pobreza59 e
exclusão que grande parte dos brasileiros vivenciam atualmente, em virtude da
59 Pobreza pode ser dividida em pobreza relativa e pobreza absoluta. Conforme Escorel (1999, p.
25) “A pobreza relativa, a desigualdade, é a falta de recursos ou de consumo em relação a padrões
usuais ou aprovados do que é considerado essencial, pela sociedade, para uma vida digna. A
87
enorme desigualdade social que circunscreve a nossa sociedade. Esta autora situa
a pobreza como algo que vai para além da categoria renda, mas sim como algo
multidimensional e político, que envolve uma ausência e ou carecimentos de
diversos fatores que envolvem tanto o plano espiritual, como o campo dos direitos
e das possibilidades e esperanças. Já a exclusão, se faz pelo sentimento de não
pertencimento na inserção da vida social, pela não participação e pelo mínimo
usufruto da riqueza socialmente produzida. Pode ser tanto uma exclusão que
envolve a renda, como a exclusão sofrida pelos setores menos favorecidos
socialmente envolvendo outros fatores, como a cor ou os diversos grupos sociais,
como exemplo, os negros, os índios, as mulheres, os presos etc.
Os impulsos destrutivos das transformações do capitalismo vão gerando
desconfortos para a sociedade, sobretudo para aquelas classes subalternas. São as
marcas do desemprego, da precarização do trabalho, dos que se tornaram
inempregáveis, supérfluos, os problemas das políticas públicas (como a falta de
uma educação e de uma saúde de qualidade), as moradias precárias, a alimentação
insuficiente, a fome, a exclusão, a violência, a criminalidade, o medo. Estas e
tantas outras situações denunciam as condições de vida de grande parte dos
sujeitos sociais. Denunciam também, o quanto a sociedade banalizou essas
expressões. O quanto à questão social se tornou algo natural, para a grande
maioria dos nossos agentes sociais, demonstrando total incompatibilidade com os
avanços da nossa economia e da ordem do capital internacional.
Essa despolitização dos agentes sociais, em conjunto com a deposição do
caráter público dos direitos dos pobres e excluídos em nossa sociedade, compõe a
atual base do sucateamento dos serviços públicos, da desqualificação do caráter
universal das políticas sociais, da erosão dos direitos trabalhistas e sociais. Desse
modo, os padrões de proteção social se veem alterados perante a sociedade, no
qual os direitos sociais enfrentam consideráveis encolhimentos institucionais.
Neste sentido, Pereira (2001) afirma que em virtude destas transformações
sociais temos o esvaziamento da sociedade salarial, haja vista, que há um
desmanche dos direitos sociais e um aumento considerável da pobreza, tanto a
absoluta quanto a relativa.
pobreza absoluta significa não ter acesso aos bens e serviços essenciais, é o afastamento de um
mínimo necessário à manutenção da sobrevivência física de um indivíduo”.
88
Ainda na direção destas mudanças, há uma modificação no perfil de
proteção social consolidado historicamente - caracterizado no pleno emprego, nas
políticas sociais universais e na extensão progressiva dos direitos sociais - por
outro padrão de proteção social - caracterizado pelo desemprego e pela
insegurança social crescente, o que contribui também para o aumento de
fenômenos, como a violência urbana e a segregação social. Além disto, esta
insegurança social inibe o Estado da sua primazia de provedor de seguranças
sociais, transferindo esta responsabilidade para a família e para a sociedade.
É neste contexto que se insere a política de assistência social, tendo dentre
seus principais objetivos a garantia de direitos na perspectiva de possibilitar a
satisfação das necessidades sociais dos sujeitos em suas relações sociais. Porém,
assim como muitas outras políticas, mudou seu status de caridade ao de direito,
sendo introduzida como peça essencial do tripé da seguridade social, na
constituição federal de 1988, tornando-se direito do cidadão e dever do Estado e
elemento basilar da proteção social. Embora isto se faça elementar para entender
os resquícios provocados por esta trajetória histórica na sua execução, isto não é
foco deste estudo60, tornando-se importante, neste momento, apenas deixar clara a
forte influência da cultura política, do apadrinhamento e do favor, ainda presente
nestas relações.
A assistência social, formulada como política pública, é direito de cidadania e,
portanto, dever do Estado. Como responsabilidade do Estado, a assistência social
ganha status de política social, perde o caráter de seletividade e transforma-se em
um princípio universal. (Souza, 2009, p. 84)
O contexto no qual esta política se inseriu defrontou-se com um cenário de
pobreza e miserabilidade extrema e, sua própria institucionalização tardia, fez
com que suas ações acabassem por se voltar aos segmentos pobres e subalternos.
O cenário de transição que o capital viveu e seu próprio processo de crise, entre os
anos de 1960 e 1980, provocou uma degradação das condições de vida de grande
parte da população, sobretudo daqueles setores que viviam mais marginalizados
socialmente, contribuindo para sua assolação e convergindo com a falta de
60 Entretanto, sugere-se para leitura autores como Couto et al(2010), Couto (2004; 2009) Pereira
(2001) etc.
89
ausência da intervenção do Estado, com a consolidação do ideário neoliberal61.
Embora seja inegável o avanço que a constituição traz a esta política, não
podemos dizer que ela contribuiu para que esta política atinja toda a totalidade que
dela necessita, conforme preconiza os artigos 203 e 204 desta Carta Magna.
Destarte, um dos grandes desafios da assistência social hoje é a árdua tarefa
de permitir que esta se consolide de fato como uma política pública, e isto tem
suscitado embates tanto para os profissionais que atuam em sua execução, quanto
para os seus beneficiários que veem na mesma a única possibilidade de acessar,
mesmo que minimamente, direitos imbricados em sua cidadania. Apesar da
mesma ser garantida de maneira legal, ela ainda defronta-se com os mecanismos
que perpassaram toda sua desenvoltura, que a tornou uma espécie de ajuda, favor,
caridade, benesse e voltada somente aos setores pobres da sociedade.
Souza (2009) nos afirma que apesar de todo o avanço da política e de seus
elementos norteadores, a sua população usuária ainda não os reconhece, bem
como muito dos seus gestores (como prefeitos e secretários) não entendem suas
funções, sendo muitas vezes, de conhecimento específico dos técnicos que
executam a política, o que acaba por corroborar pela continuidade das práticas
assistencialistas e paternalistas.
Ou seja, embora haja uma legislação que normatize a prática da assistência social
prestada com recursos públicos diferenciando-se da filantropia, na realidade, este
processo ainda está para ser construído e, em muitos lugares, o que permanece é a
prática da assistência confundida com caridade, favor, enfim, com o
assistencialismo. (Souza, 2009, p. 89)
Contudo, conforme verificado nas discussões de Morgado (2011), entender
a implementação da assistência social significa compreender a garantia de direitos
assegurada por parte do Estado, no intuito de oferecer proteção social ao conjunto
dos grupos e indivíduos da sociedade, sobretudo os mais vulnerabilizados, e que,
por isso, esse processo suscita uma gama de desafios a serem enfrentados. Um dos
61 Este processo cria-se o que Castel (1998) denominou como a criação dos supranumerários, dos
excluídos do sistema do trabalho que exige, cada vez mais, um trabalhador polivalente e
multicapacitado, inviabilizado que os segmentos que historicamente foram apartados da cobertura
das políticas sociais estatais tenham acesso ao mercado de trabalho e o que antes era tido como
exercito de reserva, sendo necessário ao sistema, hoje é visto como inutilizável, descartável,
desnecessário tornando-se o alvo principal. da política de assistência social e dos benefícios,
programas, projetos, serviços.
90
grandes desafios tangenciados na execução da assistência social, hoje, é romper
com a herança clientelista que perpassou seu processo histórico de consolidação.
Essa Cultura Política, especialmente no caso da assistência social, vem sendo
construída ao longo de um percurso histórico marcado pelo embate entre posições
políticas e ideológicas conflitantes, que a definem, prioritariamente, sob a lógica do
favor, em detrimento de sua confirmação sob a ótica do direito. A tarefa de
remover o traço clientelista, que embaça a possibilidade de se efetivar um modelo
democrático para a assistência social, não tem sido tarefa de fácil resolução.
(Oliveira, 2003, p. 20)
Ainda nesta direção, um dos elementos tangentes que corroboram para a não
integração da assistência social enquanto política social em sua execução é a
ausência de intersetorialidade62 na relação com as demais políticas, perdendo-se o
foco de que a mesma é uma política horizontal e deve perpassar todas as demais
que tem o objetivo comum, ou seja, propiciar satisfação das necessidades sociais e
garantir cidadania aos seus sujeitos. Além disso, ela tem se limitado a executar
ações pontuais que tenham como foco o combate à pobreza - e não as suas causas
-, perdendo o foco da política que ainda depara com o escasso orçamento, que é
destinado a ela nas distintas esferas governamentais (federais, estaduais e
municipais).
Neste sentido, podemos dizer, que a assistência social, por ser demandatária
de objetivos diversos e por abarcar distintos programas, projetos, serviços e
benefícios, convive, em seu cotidiano, com sujeitos diferentes e com necessidades
divergentes. Esta pulverização de demandas impõe que a assistência social se
articule com as demais políticas, haja vista, que não é possível somente a ela tratar
com as manifestações da questão social.
Seguindo a lógica neoliberal de desresponsabilização do Estado
implementada no Brasil na década de 1990, a assistência social também é
perpassada por estes princípios e tem em sua argumentação, a divisão de
responsabilidades com a sociedade civil organizada através das entidades laicas
ou religiosas com cunho filantrópico, que prestam serviços à população usuária.
Porém, vale dizer, que se não fizermos uma análise significativa podemos nos
remeter às antigas práticas feitas na condução da política nos seus primórdios, o
62 Intersetorialidade diz respeito, em seu significado, a articulação entre dois ou mais setores
distintos. Assim, diz respeito a união de ações dos setores, por exemplo, da educação e saúde, com
o intuito de promover o atendimento em sua totalidade ao seu usuário social.
91
que reafirma a necessidade de estabelecer diretrizes na condução destas
atividades63. Assim, há a criação de um comando único nas esferas
governamentais, com o intuito de criar mecanismos que permitam a gestão e o
planejamento das ações, de natureza pública e privada, que são executadas com
orçamento público, exigindo por parte da sociedade o controle social.
A partir da leitura de autores como Mestriner (2001) e Oliveira (2003)64,
verifica-se que as características da filantropia, da descontinuidade, da
pulverização das ações, do parco financiamento destinado à ‘prima pobre’65 e da
gestão e controle social feitos de forma fragmentada (embora seja previsto nos
elementos normativos a articulação da mesma), ainda se esbarram no processo de
consolidação da assistência social, colaborando para uma (des)construção,
enquanto política pública de direito do cidadão e dever do Estado.
Assim, o controle social hoje também tem sido um dos grandes desafios da
assistência social, pois convive, com problemas estruturais e culturais em sua
execução, que perpassam desde a falta de ausência de reuniões ordinárias mensais
até a sobreposição de interesses por parte das distintas esferas (governamental e
sociedade civil). Além disso, estes espaços convivem com a falta de representação
política e falta de participação popular, o que inviabiliza e produz consequências
na execução dos serviços, de modo que eles sejam oferecidos com qualidade, indo
na contramão dos princípios da integralidade e da totalidade.
Deste modo, é preciso dizer que a consolidação da política de assistência
social enquanto política pública de direito do cidadão e dever do Estado enfrenta-
se em seu cotidiano limites que corroboram para a sua desvinculação como
direito. Há, apesar dos avanços constitucionais, limites institucionais que
dependem de vontade política para afirmar e reafirmar os parâmetros apresentados
pela LOAS, PNAS e pelo próprio SUAS, haja vista que tendo como referência a
história social brasileira, ela ainda convive com elementos culturalistas,
patrimonialistas, tecnocratas e clientelistas que dificultam a sua efetivação. Estes
elementos apontam assim, para desafios gritantes a serem enfrentados, tanto pelos
63 O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS têm atuado em conjunto com os Conselhos
estaduais e os municipais desta política no sentido de fiscalizar e direcionar as diretrizes das
atividades desenvolvidas. 64 Como Mestriner (2001) e Oliveira (2003) 65 Termo muitas vezes utilizado para determinar a assistência social que convive com um
financiamento ineficiente com poucos recursos destinados a mesma.
92
distintos sujeitos sociais como pelas instituições políticas e culturais que
compõem o enorme bloco das relações sociais.
Assim sendo, diante do exposto, compreende-se que alguns desafios, para
além dos anteriormente citados, fazem-se presentes no cotidiano da assistência
social, contribuindo para que a mesma ainda conviva com uma herança histórica
baseada no improviso e na subalternidade. Há uma ausência de um discurso, por
parte de gestores, formuladores, executores, usuários, trabalhadores de uma
perspectiva de direito e de um caráter público desta política, afiançando o mesmo,
muitas vezes, em ações de cunho assistencialistas.
Por fim, baseando-se em Pereira (2001) podemos dizer que a assistência
social tem sido constantemente negligenciada, haja vista que ela quase sempre não
é vista como ela de fato é. Uma política pública de caráter social entendida como
fruto de lutas históricas e com determinações histórico-estruturais. Infelizmente,
esta tem sido analisada através da sua imagem distorcida, através do senso comum
e pelo mau uso político feito dela, onde a falta prática de referências a conceitos
teóricos e normativos tendem a identifica-la como um ato subjetivo movido por
valores morais e pelo amor ao próximo. Porém, partindo da percepção de que a
assistência social é uma política pública social, devemos entender, portanto, que
ela exige ação coletiva no intuito de concretizar os direitos sociais que demandam
da sociedade e que estão também previstos em lei. Além disso, ela deve visar à
satisfação das necessidades sociais dos sujeitos, sendo uma política oferecida com
um caráter desmercadorizado.
3.3. Os Conselhos de Assistência Social: importância deliberativa e suas funções constitucionais
Os conselhos gestores de políticas públicas configuram-se como uma forma
específica de participação social. De acordo Gohn (2011, p. 7) são “canais de
participação que articulam representantes da população e membros do poder
público estatal em práticas que dizem respeito à gestão de bens públicos”. Desse
modo, representa uma novidade, a partir da promulgação da Constituição Federal
de 1988, no tocante a configuração das políticas públicas.
93
Nesta ótica, os conselhos são abarcados em sua trajetória por diversas
questões que se relacionam a formas de participação, formas de governo e
representatividade, natureza da esfera pública, etc. Além disso, o cenário que
configura os conselhos é perpassado por elementos que o influenciam
diretamente, podendo-se destacar: a democracia (nas suas diversas e variadas
formas) e/ou as condições geopolíticas (tais como a globalização e a
reestruturação do papel do Estado).
Ainda na perspectiva de Gohn (2011), ao se analisar as ações dos conselhos,
é preciso considerar o pressuposto de que o desenvolvimento histórico66 de
inserção dos conselhos gestores, como formas de participação, não é algo recente.
Neste sentido, faz-se importante compreender de que modo os conselhos tem
obtido destaque na estrutura das políticas públicas, já que ele estabelece um novo
marco de relação entre Estado e Sociedade, desenvolvendo um importante papel
no que se refere ao processo de fiscalização das políticas públicas67.
Para Raichelis (2000), os conselhos também não são instituições recentes. O
que se apresenta como “novo” é o papel que eles passam a exercer no que diz
respeito à dimensão político-institucional. Além disso, de acordo a autora, a
Constituição estabeleceu mecanismos que possibilitaram a participação dos
conselhos no processo de gestão das políticas sociais.
Como elucidado no capítulo 2, a década de 1980 é marcada pela
efervescência de atores sociais que colocavam em cena a necessidade de partilhar
novos modelos de gestão da coisa pública e a necessidade de garantia de direitos
aos cidadãos, de modo a questionar o padrão autoritário, excludente e
centralizador que vinha sendo desenvolvido ao longo da história da formação da
sociedade brasileira, influente no modo como as políticas públicas relacionavam-
se com os seus usuários (Carvalho, 2013).
Seguindo a linha de pensamento proposta, é importante destacar a formação,
durante o desenrolar do século XX, de três tipos de conselhos no cenário
brasileiro. Nesta direção, existem os conselhos que são criados pelo poder
66 Para adentrar, de modo mais detalhado, neste assunto, recomenda-se a leitura na íntegra de
Gohn (2011). 67 Importante destacar que os conselhos configuram-se como um instrumento de participação
social. Todavia, não é o único. Mecanismos como orçamentos participativos, fóruns e conferências
são também espaços dinâmicos e fundamentais para a consolidação da participação dos sujeitos no
que tange as políticas públicas. Estes, também foram frutos dos movimentos sociais na década de
1980.
94
Executivo, de modo a mediar as suas relações com as organizações populares; os
conselhos construídos pelos movimentos sociais para mediar suas relações com o
poder público e os conselhos institucionalizados, que derivam se mecanismos
legislacionais capazes de permitir a participação na gestão da coisa pública (Gohn,
2011).
Para Tatagiba (2002) os conselhos são classificados em três tipos principais:
os Conselhos de Programas, os Conselhos Temáticos e os Conselhos de Políticas.
Neste sentido, os Conselhos de Programas
[...] Geralmente encontram-se vinculados a programas governamentais concretos,
em geral associados a ações emergenciais, bem delimitadas quanto ao seu escopo e
clientela. [...] Dizem respeito não à extensão de direitos ou garantias sociais, mas a
metas incrementais, em geral vinculados ao provimento concreto de acesso a bens
e serviços elementares ou a metas de natureza econômica. A participação aqui, em
geral, advém de acolher a clientela-alvo ou beneficiária, contempla também as
parcerias e sua potência econômica ou política (Tatagiba, 2002, p. 49).
Como exemplos destes tipos de Conselhos, podem elucidar os que são
ligados às áreas de Alimentação Escolar, Desenvolvimento Rural, Habitação,
Emprego e Renda etc..
Já os Conselhos Temáticos:
[...] sem vinculação imediata a um sistema ou legislação nacional, existem na
esfera municipal por iniciativa local ou mesmo por estímulo estadual. Em geral,
associam-se a grandes movimentos de idéias ou temas gerais que, naquele
Município, por força de alguma peculiaridade de perfil político ou social, acolhem
ou enfatizam o referido tema em sua agenda. [...] Aqui, mais do que nas duas
modalidades, os formatos são muito variáveis, embora, em geral tendam a seguir as
características principais dos conselhos de políticas, ou seja, a participação de
representação da sociedade e a assunção de responsabilidades públicas. Nesse
grupo incluem-se os Conselhos Municipais da Mulher, de Cultura, de Esportes, de
Transporte, de Patrimônio Cultural, de Urbanismo etc. (Tatagiba, 2002, p. 49).
Por fim, os Conselhos de Políticas68, no qual tem relação direta com
políticas públicas estruturadas no sistema legislacional,
São, em geral, previstos em legislação nacional, tendo ou não caráter obrigatório, e
são considerados parte integrante do sistema nacional, com atribuições legalmente
estabelecidas no plano da formulação e implementação das políticas na respectiva
esfera governamental, compondo as práticas de planejamento e fiscalização das
ações. São também concebidos como fóruns públicos de captação de demandas e
negociação de interesses específicos dos diversos grupos sociais e como uma forma
68 As discussões do presente estudo se aterão a este “tipo” de Conselho, tendo em vista que busca-
se compreender a dinâmica do Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG.
95
de ampliar a participação dos segmentos com menos acesso ao aparelho do Estado.
Nesse grupo situam-se os Conselhos [...] de saúde, de Assistência Social, de
Educação, de Direitos da Criança e Adolescente [...] (Tatagiba, 2002, p. 49).
De modo geral, estes Conselhos partem da ideia de universalização dos
direitos sociais, afiançados numa perspectiva de cidadania e garantia de direitos.
Nesse sentido, buscam, através de funções consultivas, deliberativas e/ou de
fiscalização, fazer com que as políticas se efetivem no princípio da legalidade,
conforme os instrumentos normativos que a orientam.
Portanto, de acordo Tatagiba (2002), os conselhos gestores são espaços
públicos e paritários, com composição plural que devem possuir natureza
democrática nos seus aspectos deliberativos. Possuem, no seu processo de
diálogo, um instrumento que permite a resolução de conflitos frente aos interesses
que são colocados em cena, baseando-se em argumentos que sustentem o poder de
decisão. Além disso, são espaços que funcionam com o objetivo e competência
legal de formular políticas e atuar na sua fiscalização e implementação, de modo a
estabelecer uma gestão democrática.
É importante compreender, para além da função dos conselhos, o contexto
que o mesmo ao se inserir suscita debates frentes as possibilidades e desafios que
emergem no seu cotidiano. Neste sentido, é necessário
Pensar esses conselhos gestores enquanto espaços públicos é pensa-los enquanto
arenas para a representação e para as disputas entre propostas diferenciadas,
podendo se configurar como instrumento para a preservação do tipo de gestão
política, que melhor responda aos interesses dos governos. Isso ocorre pois, o
cenário político-cultural em que se legitimou os conselhos gestores foi
notadamente marcado por disputas entre diversas orientações políticas, que
tomaram uma forma mais acabada nas propostas apresentadas principalmente por
duas vertentes: a proposta das forças sociais progressistas de um lado e do outro, a
proposta das forças sociais conservadoras (Carvalho, 2013, p. 83)
Assim, no que diz respeito a composição dos conselhos, é importante
salientar que cada um possui sua legislação específica, obedecendo os princípios
da paridade entre Estado e Sociedade Civil. Geralmente, os representantes
governamentais são ligados a agentes públicos que exerçam alguma função na
Administração, seja direção/chefia ou até mesmo cargos de execução/intervenção
direta na política, atuando enquanto profissionais. Já os membros que representam
a sociedade civil, normalmente são escolhidos por seus pares, em fóruns próprios,
96
no qual há participação de entidades, organizações não governamentais,
associações comunitárias, movimentos populares etc..
Além disso, geralmente existe – na estruturação dos conselhos – um
Regimento Interno, aprovado em plenário. Esse regimento disserta acerca do
funcionamento desta instância de controle social.
Assim, dentre os Conselhos de Política, e tendo em vista o foco deste
estudo, estão os Conselhos de Assistência Social, seja na esfera nacional, estadual,
municipal ou do Distrito Federal. São espaços preceituados na Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (Lei 8.742 de 7 de Dezembro de 1993) que buscam,
em conjunto com as Conferências Municipais, Estaduais e Nacional de
Assistência Social, a concretização de uma das diretrizes69 da política, pautada na
participação da população, por meio de organizações representativas, na
formulação das políticas e no controle das ações, em todos os níveis.
Destarte, de acordo a LOAS, é condição essencial - para o repasse de
recursos orçamentários aos municípios, aos Estados e ao Distrito Federal: o pleno
funcionamento de Conselhos de Assistência Social – com composição paritária
entre governo e sociedade civil, como já elucidado; a criação do Fundo de
Assistência Social, com orientação e controle dos respectivos Conselhos e o Plano
de Assistência Social.
Ainda nesta direção, cabe aos conselhos a responsabilidade por inscrever e
fiscalizar as entidades e organizações da assistência social e a definição dos
programas, projetos, serviços e benefícios de Assistência Social, obedecidos os
objetivos e princípios da lei 8.742.
De acordo a LOAS, os Conselhos de Assistência Social, em conjunto com
os entes federativos e as entidades socioassistenciais, compõem o Sistema Único
de Assistência Social (SUAS). Assim, estão vinculados ao órgão gestor de
assistência social que, de acordo o artigo 16, da referida lei, em seu parágrafo
único
69 As outras diretrizes da Assistência Social dizem respeito à descentralização político-
administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em
cada esfera de governo e a primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de
assistência social em cada esfera de governo.
97
Deve prover a infraestrutura necessária ao seu funcionamento, garantindo recursos
materiais, humanos e financeiros, inclusive com despesas referentes a passagens e
diárias de conselheiros representantes do governo ou da sociedade civil, quando
estiverem no exercício de suas atribuições (Brasil, 1993).
Importante destacar que a função dos conselhos, nas três esferas de governo,
legitima-se enquanto um canal de participação popular, com poder compartilhado
para a tomada de decisões. Nesse sentido, a Política Nacional de Assistência
Social (2004) estabelece o controle social enquanto um instrumento de efetivação
da participação popular no processo de gestão político, administrativo, financeiro
e técnico operativo, atuando em uma perspectiva democrática e descentralizada.
Assim “o controle do Estado é exercido pela sociedade na garantia dos direitos
fundamentais e dos princípios democráticos balizados nos preceitos
constitucionais” (Brasil, PNAS, 2004, p. 51).
Na perspectiva de Pinheiro e Cunha (2006), os conselhos de assistência
social são estruturas permanentes que atuam – de modo efetivo – na gestão da
política de assistência social, de modo a garantir o caráter democrático-
participativo descentralizado do Sistema Único de Assistência Social, já que suas
atribuições pressupõem que sejam feitos os processos de aprovação,
acompanhamento, fiscalização e avaliação da política.
Destarte, as atribuições dos conselhos de assistência social, conforme
explicitado na Lei Orgânica da Assistência Social e a Política Nacional de
Assistência Social dizem respeito a: deliberação e fiscalização da política de
Assistência Social e de seu financiamento, de acordo as diretrizes aprovadas nas
conferências; aprovação dos planos de Assistência Social (no âmbito de jurisdição
a sua competência); apreciação e aprovação da proposta orçamentária, com a
definição dos critérios de partilha de recursos; acompanhamento na execução do
fundo de Assistência Social.
De acordo a LOAS, no campo da assistência social e sua representação
frente à sociedade civil, os conselhos – por serem paritários – possuem como
representantes ligados aos usuários ou organizações de usuários70, entidades e
70 Os usuários da política de assistência social são “aquelas pessoas e/ou grupos beneficiados pelos
programas, projetos, serviços e benefícios da PNAS [...]” (PINHEIRO; CUNHA 2006, p. 101).
98
organizações da assistência social71 (instituições de defesa de direitos, prestadoras
de serviços e trabalhadores do setor).
Portanto, além de serem espaços de participação, esses conselhos são espaços de
decisão política acerca da gestão de políticas públicas, suas decisões giram em
torno da gestão de bens públicos, do estabelecimento de diretrizes e estratégias de
ação, das definições de prioridades (inclusive orçamentárias), da regulação e
normatização das ações de determinada área de política pública. (Pinheiro &
Cunha, 2006, p. 98)
Nesse sentido, a paridade que os conselhos de assistência social exigem
coloca em discussão a questão da representação na perspectiva descentralizada.
Essa, tem como intuito possibilitar que os diversos sujeitos que atravessam a
logística da política possam estar presentes no debate que a mesma exige, de
modo a legitimar suas ações na perspectiva que é proposta, para consolidar a
democracia participativa presente neste novo modo de construir a cultura política
presente nas relações entre Estado e Sociedade Civil.
Entretanto, devido à tradição autoritária que demarca o processo de
formação sócio-histórica brasileira, os conselhos paritários, de acordo Raichelis
(2000) são perpassados por fragilidades que colocam em xeque seu princípio
participativo, tendo em vista que a história de dependência incide sobre a ausência
de uma cultura participativa, dificultando o efetivo exercício do controle social72.
Assim, observa-se que os conselhos de assistência social contribuem para a
consolidação da esfera pública, pois congregam diversos sujeitos sociais, com
71 Conforme a LOAS: “Art. 3o Consideram-se entidades e organizações de assistência social
aquelas sem fins lucrativos que, isolada ou cumulativamente, prestam atendimento e
assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem como as que atuam na defesa e
garantia de direitos. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)”. Podem ser caracterizadas como:
“§ 1o São de atendimento aquelas entidades que, de forma continuada, permanente e planejada,
prestam serviços, executam programas ou projetos e concedem benefícios de prestação social
básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em situações de vulnerabilidade ou risco
social e pessoal, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS [...] [...]; § 2o São
de assessoramento aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e
executam programas ou projetos voltados prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos
sociais e das organizações de usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público
da política de assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as deliberações do CNAS [...]
3o São de defesa e garantia de direitos aquelas que, de forma continuada, permanente e planejada,
prestam serviços e executam programas e projetos voltados prioritariamente para a defesa e
efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da cidadania,
enfrentamento das desigualdades sociais, articulação com órgãos públicos de defesa de direitos,
dirigidos ao público da política de assistência social, nos termos desta Lei, e respeitadas as
deliberações do CNAS, [...]” 72 De modo a complementar a reflexão e conforme abordado nas discussões do 1.° capítulo deste
estudo, importante elucidar que os conselhos são espaços de socialização política e de partilha de
poder, tornando-se um instrumento fundamental no processo de democratização e que pressupõe –
em suas relações – autonomia, democracia e participação.
99
projetos políticos divergentes e peculiares, que os manifestam em suas decisões
políticas e exercem – ou devem exercer - “o controle social sobre as ações e
decisões governamentais” de modo a “apresentar propostas alternativas que
contribuam para a consolidação da assistência social como politica pública
universal de ampliação da cidadania” (Raichelis, 2000, p. 10).
Para Carvalho (2013) a disputa acerca da direção política que os conselhos
gestores – a incluir o de Assistência Social – referendam-se, direcionam para o
modo como o seu significado político é tangenciado. Nessa perspectiva, muitas
vezes, podem ocorrer disputas – travadas no interior dos conselhos – direcionadas
as formas como as forças políticas exercem influência no seu meio, rebatendo nas
pautas que são objetos de intervenção do espaço de controle social.
Os conselhos são arenas de negociação que podem ser um espaço de qualificação
da comunidade no exercício da gestão democrática. Como toda arena de
negociaçaõ, sua qualidade decorre de múltiplos fatores, como por exemplo, o
preparo dos próprios conselheiros em formular opinões e argumentos defensivos da
qualidade do atendimento e dos direitos (Sposati, 1994, p. 104)73
Frente ao exposto, importante elucidar que os conselhos fazem parte do
processo em curso de descentralização proposto pela Constituição Federal de
1988, reafirmado pela Lei Orgânica de Assistência Social e enfatizado na Política
Nacional de Assistência Social. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em uma publicação de 2009, acerca da Assistência Social, os
conselhos municipais permitem a participação nos mecanismos de gestão da
política, em todos os níveis federativos e se inserem – a partir da perspectiva de
descentralização do Estado Brasileiro - em um território que converge para a
existência de diversas e distintas forças de poder local.
Para Brotto (2012) é necessário desvelar o conceito de descentralização,
tendo em vista que o mesmo compõe-se enquanto um princípio democrático e
que, conforme o modo como é abordado, pode conferir legitimidade a gestão das
políticas sociais, no tocante aos municípios brasileiros.
No campo das Ciências Econômicas a descentralização corresponde, em linhas
gerais, à transferência de responsabilidades das atividades econômicas
73 Entretanto, é importante demarcar que o conselho não se esgota na ação dos seus membros,
tendo em vista que, muitas vezes, a questão da paridade não representa os interesses da
coletividade, já que ela não se esgota na “divisão de assentos” e em um determinado espaço de
tempo.
100
públicas para a iniciativa privada. Por seu turno, sob a vertente das Ciências
Políticas, o termo é demarcado pela perspectiva da autonomia política de níveis
locais e regionais, concebido como mecanismo democrático ou, ainda, de
aprofundamento do processo de democratização ao passo que, na lógica do Campo
Sociológico, a descentralização é apontada como mecanismo capaz de impulsionar
a cidadania por intermédio do “empoderamento” da sociedade civil, via
participação popular, concepção esta que reconhece a descentralização como
elemento do processo democrático, sobretudo no que se refere ao desenvolvimento
de políticas públicas. Por fim, no campo da administração pública, o termo é
estruturado enquanto uma diretriz política que tem por objetivo transferir, da
estrutura nacional para as estruturas regional e local, responsabilidades e poder
decisório de gestão. (Brotto, 2012, p. 78).
Para Nogueira (1997), a descentralização tem permitido o redirecionamento
das políticas numa perspectiva de democratização, colaborando para o
rompimento de práticas advindas de intervenções estatais centralizadoras e
fragmentadas, que historicamente perpassaram as políticas públicas. Assim, a
descentralização proposta na Constituição Federal de 1988 possui natureza
política, já que atrela – de modo efetivo – a participação da sociedade no poder
decisório. “Esse fenômeno de reestruturação político-administrativa pode, ainda,
ocorrer em duas principais direções: a redistribuição de poder e de recursos da
esfera federal para a estadual e a municipal; e do Estado para a sociedade”
(Pereira, 1996, p.76).
Porém, é necessário entender que, de acordo Nogueira (1997),
descentralização e participação não são complementares. Para o autor, “nem toda
descentralização leva automaticamente a maior participação” (p. 8), tendo em
vista que ela pode ser imposta e/ou exigida legalmente. Já a participação, por
correlacionar fatores histórico-culturais que dependem do grau de
amadurecimento político dos sujeitos, pode aparecer somente muito tempo após a
implementação da descentralização.
O que a descentralização permite é uma melhor canalização ou vocalização das
demandas sociais da população, mas isso só ocorre em comunidades que estão
mobilizadas na defesa de seus interesses. Assim, a descentralização pode ser um
instrumento de poder das comunidades organizadas, mas também pode ser um
instrumento de opressão das comunidades com baixo grau de consciência e
organização (Medici, 1995, p. 96).
Frente a isso, compreendendo que os Conselhos de Assistência Social – nos
três níveis federativos – correspondem a um dos mecanismos que permitem a
efetivação da descentralização no âmbito desta política pública, ele – em conjunto
101
com os planos de assistência social – são responsáveis pela centralização dos
recursos e pelo direcionamento das diretrizes no que tange a organização,
implementação, execução e monitoramento da assistência social, de modo a
corroborar a efetivação dos serviços, programas, projetos e benefícios pautados
pela rede socioassistencial.
Para Arantes (2011), estes espaços de controle social representam a
perspectiva da gestão da sociedade sobre a política de assistência social, atuando
sobre o Fundo74 e a intersetorialidade das ações com as demais políticas sociais.
Dessa forma, os conselhos tornam-se espaços fundamentais para a concretização
dos eixos estruturantes do SUAS, a saber: descentralização político-administrativa
e territorialização, tendo em vista que eles se efetivam enquanto o principal
espaço de participação e controle social, como já enfatizado neste estudo.
Todavia, é necessário desvelar as armadilhas e contradições que perpassam a
efetivação do controle social na política de assistência social.
Desse modo, é necessário reconhecer – apesar dos limites – a importância e
legitimidade dos conselhos, enquanto órgãos gestores, de modo a conformar o
SUAS na direção das intervenções dos conselhos de Assistência Social e
possibilitar que este espaço se efetive enquanto um direcionador da política, para
além do aspecto legal que demarca a sua existência e criação, permitindo que a
assistência social de fato garanta direitos, na direção que é apontada em seus
instrumentos normativos.
74 Os Fundos de Assistência Social são os espaços nos quais são feitas as transações orçamentárias
no que tange aos serviços, programas, projetos e benefícios da política. A coordenação dele, nas
esferas federativas, é feita pelo órgão responsável pela administração da assistência social. Já a
orientação e controle é feito com base nos direcionamentos dos Conselhos de Assistência Social.
102
4 Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros: diretrizes, objetivos e perspectivas – um olhar crítico sobre sua realidade atual
Neste capítulo busca-se a discussão, de modo mais específico, acerca da
atuação do Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros (CMAS-
MOC) no que diz respeito ao controle social da política de Assistência Social em
âmbito municipal, sobretudo a partir da análise das legislações que regulamentam
este espaço e seu modo de execução. Essa análise baseou-se nas reuniões que
ocorreram no período de setembro/2012 a dezembro/2013 e dos dados advindos
do CENSO SUAS75.
Para tanto, de modo que tal discussão ocorresse de forma aprofundada,
buscou-se, primeiramente, entender como se formou a dinâmica socioeconômica
de Montes Claros/MG, sobretudo inserida na dinâmica que constitui a região do
Norte de Minas Gerais. Logo após, calcada nos dados apresentado por Perez
(2013), foi feita a descrição da política de Assistência Social em Montes Claros,
contribuindo de maneira significativa a este debate, pois ajuda a elucidar a
maneira pela qual a política se efetiva.
Por fim, apresentam-se os dados advindos da análise documental que
contribui para este debate, trazendo questões que são inerentes à dinâmica de
funcionamento do CMAS-MOC. Esses dados são levantados com base no
objetivo deste estudo, compreendendo que o debate contribuirá a entendermos os
avanços, os limites, os desafios e as possibilidades de atuação deste espaço de
controle social.
75 O CENSO SUAS é um diagnóstico realizado anualmente pelo Ministério de Desenvolvimento
Social que busca aferir questões acerca da Política de Assistência Social. Assim, cada questão que
a delineia é analisada (desde a execução até a gestão). Nessa pesquisa, centra-se na análise da
gestão feito pelos Conselhos Municipais, especificamente no caso de Montes Claros/MG.
103
4.1. Natureza da pesquisa e método
Pesquisas científicas tem o objetivo de busca por respostas para
problemáticas que emergem no cotidiano da sociedade (Gil, 2002). Questões estas
que, muitas vezes, trazem angústias e requisitam a designação de rigor técnico e
científico para a criação de respostas que contribuam para sua elucidação. Para
que os objetivos deste estudo pudessem ser alcançados, foi necessário estabelecer
qual caminho percorrer.
Conforme Minayo (1994), o processo metodológico busca o conhecimento
da realidade, enquanto um caminho do pensamento. Desse modo, diz respeito às
etapas que serão consubstanciadas na realização da construção da pesquisa, bem
como inclui “as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que
possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do
investigador.” (Idem, p.16).
Desse modo, este estudo teve como base a pesquisa social qualitativa76,
todavia utiliza-se também de dados quantitativos77 tendo em vista que se
compreende que a junção das duas permite a inserção na realidade social, de
modo a conhecê-la em profundidade.
Em consonância com aquilo que apresenta a autora ora supracitada (2008),
este tipo de pesquisa centra-se em um universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem ao espaço das relações,
dos processos e dos fenômenos. Através desta, espera-se desvendar a relação
sujeito-objeto, conhecendo a complexidade e seus significados. Assim, pretendeu-
se conhecer, explorar, descrever estes fenômenos e suas relações interpessoais e
sociais.
76 Este tipo de pesquisa foi escolhido, pois durante o processo de construção do projeto de pesquisa
que subsidiou o presente estudo, observou-se que a maior parte das análises que dizem respeito aos
conselhos de direitos e participação social dos movimentos sociais baseiam-se em pesquisas
qualitativas. Conforme Landim (2005), acredita-se que análises e debates sobre participação
ganham destaque quando se dispõe de dados empíricos sobre as realidades sociais, sobretudo as
realidades municipais. 77 A pesquisa quantitativa foi utilizada neste estudo, pois apesar de compreender que a análise
principal é qualitativa, entende-se que dados da pesquisa foram quantitificados, traduzindo em
números questões que circunscrevem a dinâmica do Conselho Municipal de Assistência Social de
Montes Claros. Este tipo de pesquisa foi utilizado para subsidiar questões tangentes a análise de
dados.
104
Através da aproximação qualitativa, pode-se captar a dinâmica da realidade,
essencialmente contraditória, de modo a combinar condições objetivas e
condições subjetivas. Desse modo, apoiar-se-á naquilo expresso pela dialética,
enquanto categoria epistemológica que capta e compreende a realidade estudada
através da ideia de conflito social e da unidade de contrários, numa perspectiva de
totalidade e numa dimensão crítica, apreendendo para além da aparência,
penetrando na essência dos fenômenos, de modo a compreender as dimensões
imediatas, mediatas, construídas e reconstruídas.
Diante disso, a pesquisa realizada foi composta de abordagem documental,
sendo analisadas as atas no período compreendido entre setembro/2012 e
dezembro/201378 e os dados advindos do Censo SUAS 2013. Além disso,
importante dizer que a pesquisa bibliográfica fez parte de todo o processo, tendo
em vista que a mesma permitiu o acesso ao material que já fora produzido, sobre o
assunto, podendo, assim, contribuir na construção do referencial teórico que
sustenta a pesquisa (Gil, 2002).
Em relação à pesquisa documental, foram analisadas as atas79 produzidas
pelo Conselho Municipal de Assistência Social durante a gestão estudada e os
dados advindos do Censo SUAS 2013 e disponibilizado no site do Ministério do
Desenvolvimento Social. Conforme Gil (2002), a pesquisa documental
fundamenta-se em materiais que ainda não receberam tratamento e não foram
sistematizados em análises. Todavia, documentos já categorizados também podem
contribuir com o processo de pesquisa, como é o caso do Censo SUAS utilizado.
Importante compreender que esta pesquisa apresentou diversas vantagens,
tendo em vista que os documentos, sobretudo em uma perspectiva histórica,
configuram-se como ricas de dados. Além disso, analisa-se que os documentos
têm o potencial de nos apresentar, em suas linhas, as aspirações e intenções dos
períodos de estudo, descrevendo os lugares e as relações sociais que perpassam e
compreendem o período analisado (May, 2004).
78 Cabe destacar que embora a gestão analisada tenha exercido o seu mandato até setembro/2014,
as atas analisadas findaram-se em dezembro/2013 dado o cronograma proposto a esta pesquisa. 79 As atas foram disponibilizadas a pesquisadora através de envio de e-mail. A princípio, a
solicitação fora prontamente e rapidamente atendida. Todavia, ao solicitar as atas referentes as
Comissões Temáticas, por várias vezes consecutiva, a pesquisadora não teve o pedido atendido.
Portanto, os documentos que servem de análise e foram produzidos pelo Conselho dizem respeito
somente às atas do período estudado.
105
Por conseguinte, dada à realização e finalização da coleta dos dados, a
análise se deu a partir daquilo obtido na sistematização dos dados coletados na
pesquisa documental, tanto nas atas quanto no Censo utilizado. As categorias de
análise se deram conforme aquilo expresso pelos autores que subsidiam o
referencial teórico, além daqueles que consubstanciam os dados empíricos.
Assim sendo, os dados obtidos foram analisados com base na análise de
conteúdo que, conforme Minayo (2008), consiste em um conjunto de técnicas
diversificadas “usadas para representar o tratamento dos dados de uma pesquisa
qualitativa” (p. 199). Neste sentido, a análise fora orientada por um referencial
epistemológico da pesquisa, que neste caso, é aquele presumido pelo referencial
dialético, histórico, estrutural, rompendo com a perspectiva da neutralidade,
traduzida pelo senso comum, haja vista que a pesquisa acadêmica como
investigação e interpretação da realidade é um trabalho de desvendamento do real,
que exige fundamentalmente, nesta perspectiva, uma razão crítica na organização
dos princípios explicativos, na articulação de categorias ontológicas e analíticas.
4.2. “Cenários” de estudo e análise de dados: correlacionando elementos empíricos
4.2.1. Contextualizando a história de Montes Claros: “a cidade do favor” 80
Compreende-se que em um processo de escrita de uma pesquisa seja
necessário delimitar e caracterizar o “lugar” do qual se fala. Analisar suas relações
sociais e o modo pelo qual a história vai se desvencilhando em aspectos do seu
cotidiano faz-se imprescindível para que seja possível atingir os objetivos a qual o
estudo se propõe. Assim, corrobora-se com Pereira (2007) que ao analisar uma
região é necessário ter em mente o espaço socialmente produzido, em sua
dinâmica administrativa e politica, conforme os ditos que o capital impõe e o
modo que a luta de classes se estabelece frente aos conflitos postos.
80 Este título faz referencia ao livro de Laurindo Mékie Pereira.
106
Neste sentido, tendo como norte que o objeto central deste trabalho é o
exercício do controle social na política de assistência social, desenvolvido pelo
Conselho Municipal de Montes Claros, no período de setembro/2012 a
dezembro/2013, torna-se elementar a recorrência aos aspectos sociais, culturais e
históricos desta cidade, de modo a contribuir para a o processo de produção de
conhecimento o qual este estudo se propõe, tendo em vista que se entende que a
análise da formação histórica, econômica e social podem permitir o melhor
vislumbramento das dificuldades colocadas a implementação de políticas
públicas na região e que, por consequência, atravessam a cidade pesquisada.
Todavia, antes de delimitar as características que sucumbem o processo de
formação desta cidade, é necessário elucidar a história de Minas Gerais81, já que
de acordo Rosa (1978) este Estado “ajunta de tudo, os extremos, delimita,
aproxima, propõe transição, une ou mistura: no clima, na flora, na fauna, nos
costumes, na geografia, lá se dão encontro, concordemente, as diferentes partes do
Brasil” (p. 217).
Assim, compreende-se as diversificações e diferenciações das diferentes
regiões deste Estado, carregando marcas que configuram-se em cada delimitação
sócio espacial. Para fins didáticos, adota-se neste estudo a divisão do Estado feita
pela Fundação João Pinheiro, em 1992, que delimita as regiões para fins de
planejamento, com objetivos político-administrativos, sendo calcadas nos critérios
de interdependência, enfatizando as áreas de influência urbana e elementos de
homogeneidade (Diniz & Batela, 2005).
81 Embora não seja o foco do presente trabalho.
107
Figura 2 - Regiões de Planejamento de Minas Gerais segundo a Fundação João Pinheiro (1992). Fonte: (Diniz & Batela, 2005).82
De acordo com Costa (2002) a formação sócio-histórica de Minas Gerais é
pautada em temporalidades que criam sociedades e territórios bastante distintos,
com diversidades de identidades e aspectos culturais. Para o autor existem duas
regiões, a Minas Gerais e o Sertão Mineiro, corroborando com o que Rosa (1978)
diria que “seu orbe é uma pequena síntese, uma encruzilhada; pois Minas Gerais é
muitas. São pelo menos, várias Minas” (p. 218).
Frente ao processo de dissensão83 que existe nas relações culturais do
território mineiro e tendo em vista, de acordo Pereira (2007), que ao analisar uma
região devem-se considerar os elementos naturais, culturais, econômicos, políticos
etc., dando ênfase ao regionalismo, é importante entender que as diferenciações
que tangenciam a realidade social rebatem – de modo direto – na identidade que
se cria.
Em Minas Gerais, dada a existência de duas formações históricas distintas, que em
um dado momento do passado se imbricaram e deram constituição à sociedade
mineira, há duas culturas, duas mentalidades e duas identidades diferenciadas. Uma
82 Esta imagem foi extraída do texto que a referência, disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/viewFile/9208/5670 83 Entende-se o termo aqui na perspectiva de divergências, diferenciações, tendo em vista que o
território mineiro foi constituído em diferentes linhas de formação.
108
é conhecida e reconhecida: a mineira, pelo simbolismo construído em torno da
formação sócio-econômica e cultural vinculada à mineração aurífera e
diamantífera. A outra é conhecida e reconhecida pela ficcionalização construída
por João Guimarães Rosa sobre o mundo pastoril. São dois signos identitários
distintos que devem ser acionados na imagem mental do brasileiro para se falar da
totalidade da realidade social em Minas Gerais. O primeiro signo, que identifica a
formação mineradora, é mineiro, mas se replica nos signos as Minas ou as Gerais.
O campo semântico aí vinculado expressa a região econômica aurífera que foi
intensamente controlada pela metrópole portuguesa. O segundo signo se refere à
formação pastoril que se iniciou no curso médio do rio São Francisco e se espalhou
pelos campos gerais. O signo que aciona a imagem mental é o Sertão ou os Gerais
(Moreira, 2010, p. 16).
Assim, a realidade que é vinculada à exploração do ouro, é responsável
pelo aparecimento de classes sociais que se inter-relacionam e vivem relações
sociais democráticas. Já a região baianeira84, é perpassada por uma formação de
marginalidade social, sobretudo se inserida na realidade mineira, tendo em vista
que se configura enquanto uma sociedade em fronteira85 (Costa, 2002). De
acordo Rosa (1978) o norte de Minas Gerais seria o lugar sertanejo, quente,
pastoril, com alguns trechos e aspectos baianos, nordestinos, já outros com
aspectos da caatinga, que sofre os aspectos da seca.
Importante entender que cada região cultural, que compreende a sociedade
mineira, advém de um processo de formação diferente, tendo em vista a expansão
colonial e os processos migratórios que emergiram em virtude do declínio da
mineração, em torno de meados do século XIII. Assim, o norte de Minas surge da
vinculação ao bandeirismo paulista predador de índios e exterminador de
quilombos, frente à busca de fazendas nordestinas de gado, sobretudo no interior
do país (Costa, 2002).
Pautando-se em Andrade (2010), compreende-se que o processo de
ocupação e constituição do norte de Minas Gerais, esteve atrelado a atividades
econômicas que tinham como objetivo abastecer o sistema açucareiro do
Recôncavo Baiano. Todavia, dado o descobrimento das jazidas de ouro e
diamantes, os criadores e produtores voltaram suas atividades para a satisfação
84 Termo utilizado por Costa (2002) para referir-se ao Norte de Minas Gerais. 85 “Os espaços de fronteira, sendo determinados pelos centros de poder, são inscritos politicamente
em sua ordem, apesar do desenvolvimento de tradições culturais e de sociedades dessemelhantes.
Toda ordem é suportada por uma estrutura de pensamento construída e mantida nos lugares axiais,
centros de poder, que vinculam outras realidades políticas, culturais, identitárias a si mesmos,
englobando-as” (COSTA, 2002, p. 56).
109
das necessidades destas regiões, intensificando as relações destas com o norte de
Minas, o que rebate no desenvolvimento da população regional.
No que diz respeito à formação econômica da região, além de se tornar uma
região abastecedora das minas, outra modalidade produtiva norte mineira foi o
cultivo do algodão, que rebateu diretamente na rotina diária dos moradores locais,
pois introduziu no cotidiano das pessoas a presença constante de rodas de fiar e
teares manuais, tendo uma relação estreita entre as atividades domésticas e a
produção de tecido para o mercado. Nesse sentido, há a implantação de fábricas
de tecidos, relacionadas à economia local das cidades de Montes Claros e Pirapora
(Andrade, 2010).
Além disso, a formação da economia norte mineira esteve ligada à
exploração do Látex, sobretudo nas proximidades do município de Januária, ao
longo do fim do século XIX. De acordo Costa (2005), paralelo a esses processos
foram-se estruturando comunidades indígenas e quilombolas, que distinguiam da
lógica capitalista em formação.
Não obstante a isso, outro fator de extrema relevância na formação da
dinâmica sócio territorial foi a presença da estrada de ferro, no norte de Minas,
que permitiu que a cidade de Pirapora se consolidasse – a este tempo – enquanto
polo regional, já que a estrada de ferro “(...) intencionava promover a interligação
entre os Vales dos Rio das Velhas e do São Francisco com os mercados do centro
sul (...) ainda pretendia formar um mercado consumidor no interior do país”
(Cardoso, 2000, p.201). Entretanto, frente à decadência da ferrovia e do ciclo da
borracha, há um reordenamento econômico que permite a ascensão de Montes
Claros, enquanto principal centro regional.
Assim sendo, elucida-se que a formação socioeconômica norte
mineira abrange lógicas distintas, acarretando “na configuração de um sistema
produtivo complexo e multifacetado, composto por diversas temporalidades”
(Andrade, 2010, p. 77). Desse modo, fora possível conviver – ao longo da sua
história – com uma formação que integrava interesses elitistas, tendo em vista que
as camadas subordinadas não significava nada além de um mero instrumento de
voto86, realidade que se perpetua até meados do século XX (Costa, 2005).
86 Falar-se-á sobre isso a posteriori.
110
Diante disso, é necessário elucidar que de acordo Pereira (2007, p. 13) “No
Norte de Minas, o regionalismo é o veículo/forma de expressão da ideologia –
visão de mundo da fração regional da burguesia e, um instrumento fundamental
para que ela conquiste e exerça a hegemonia sobre os demais grupos sociais”.
Para este autor, a região norte-mineira tem a especificidade de pertencer – no que
diz respeito ao âmbito político-administrativo – ao Estado de Minas Gerais, porém
enquadra-se a área de atuação da SUDENE87, tendo em vista o combate aos
efeitos da seca e o uso de medidas e políticas para o desenvolvimento regional.
Neste sentido, de acordo Santos e Silva (2010), o norte de Minas Gerais, por
está no limite entre a Região Sudeste e Nordeste do Brasil, possui semelhança - no
âmbito econômico e social – a aspectos ligados a região Nordeste. Para eles,
através da inserção na SUDENE, a região foi incorporada ao mercado capitalista
com a intervenção do Estado enquanto agente indutor.
Entretanto, de modo a consolidar as práticas desenvolvidas pela SUDENE e
a política desenvolvimentista atracada na década de 1950, a cidade de Montes
Claros esteve permeada por disputas e mobilizações das elites regionais com o
intuito de promoverem o desenvolvimento da região, afim de que os recursos
destinados ao Estado também permeassem o sertão mineiro.
Assim, destaca-se que a base econômica de Montes Claros estava calcada na
agropecuária e nas atividades mercantis. Na década de 1950, de acordo Pereira
(2001) o desenvolvimentismo era uma figura longínqua, tendo em vista que
Montes Claros ainda era perpassada por figuras que representavam o atraso
econômico, como a falta de energia (seja para o âmbito doméstico como para a
industrialização), bem como estradas e vias de acesso em situações precárias de
tráfego. Desse modo, as elites locais – que eram predominantemente agrárias –
mobilizaram-se com o objetivo de estabelecer parcerias para atrair investimentos
públicos.
Entretanto, essas parcerias se estabeleceram com base em uma figura de
troca. De acordo o autor supracitado, “Para barganhar do Estado os investimentos
reclamados, as elites locais serviram-se de uma poderosa moeda de troca: o voto”
87 A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste foi uma autarquia criada em 1959 e que
tinha como objetivo promover o desenvolvimento progressivo da Região do Nordeste, tendo em
vista que este concentrava-se, sobretudo, nas regiões sul e sudeste. Dada as peculiaridades
socioeconômicas, o norte de Minas foi abrangido por esta superintendência, sendo ela uma das
responsáveis por promover o “desenvolvimento” da região. Para saber mais, recomenda-se a
leitura de Pereira (2007).
111
(Pereira, 2001, p. 3). O objetivo dessa barganha era permitir a transferência de
votos para candidatos situacionistas. Assim, várias estratégias estiveram
permeadas no sentido de “conquistar o voto da população” (IDEM).
Dentre as estratégias efetuadas, verifica-se a figura do “coronel”88, como
líder, no sentido de promover os seus interesses, através da interação de diversos
elementos, sejam eles o poderio econômico, a tradição e/ou o carisma dos
coronéis, as políticas assistencialistas, a violência, a fraude e a propaganda
ideológica efetuada pela imprensa.
Na leitura de Pereira (2001), há o acesso a dados socioeconômicos que
demonstram que a cidade de Montes Claros, na década de 1950, era atravessa por
desigualdades sociais e índices que demonstram uma região subalternizada,
permeada de aspectos de pauperização dos habitantes. A título de exemplo, e com
base no que expressa o IBGE neste período, observa-se que o índice de
desemprego era altíssimo, tendo em vista que somente 28,8% da população estava
empregada ao final da década de 1950.
Além disso, o acesso a políticas sociais básicas como saneamento básico e
habitação estava restrito a uma pequena parcela da população, que convivia com
um elevado índice de analfabetismo, como demonstra as análises do autor.
Observa-se que o cenário político que favoreceu a figura do coronel possibilitou
rebatimentos que configuram as relações sociais que são desenvolvidas em
Montes Claros e região.
Assim, na base de um país em franco processo de industrialização, “democrático” e
“moderno”, imagens criadas e disseminadas pela ideologia desenvolvimentista,
sobrevivia um país pobre, agrário e marcado por relações políticas “atrasadas”.
Desenvolvimentismo e coronelismo conviviam de forma harmônica,
interdependente, complementar (Pereira, 2001, p. 3).
88 “O coronel era, pois, uma liderança social, política e econômica que se utilizava de variadas
estratégias para conquistar, exercer e manter seu poder” (PEREIRA, 2001, p. 3). Entende-se o
coronelismo na perspectiva de relação de dependência que existe entre a troca de favores e os
compromissos que são estabelecidos nas relações, que possibilitam a manutenção da dominação
econômico exercida pela elite econômica sob a população (PEREIRA, 2001). De acordo Andrade
(2010, p. 78) “Desde o inicio do século XX tem se no Brasil e especialmente no norte de minas,
uma formação sócio histórica ligada ao fenômeno do coronelismo, ainda em certa medida com
práticas ainda presentes, figurando como obstáculo para a configuração de políticas públicas
afiançadas na cidadania”.
112
Desse modo, as relações sociais expressas possuem, em sua gênese, uma
verticalização, que acarreta uma privatização do público com interesses nas trocas
privadas, com a ocorrência de relações de poder que capilarizam a esfera da
política e/ou do Estado. De acordo Pereira (2002), embora haja a presunção da
decadência do coronelismo após 1930, o autor trabalha a ideia de que as práticas
foram readaptadas frente aos novos contextos urbanos, sem que ocorresse a
ruptura com o que era anteriormente desenvolvido, mas sim a incorporação de
novas práticas as que já existiam. Assim sendo, há a gestão de relações políticas
coronelistas que escamoteiam o espaço público e acarretam a metamorfose dos
direitos sociais em favores, mediados pelos mais diversos atores sociais.
Perante o exposto, compreende-se que a SUDENE desenvolveu papel
elementar para o avanço do norte de Minas, tendo em vista que “a formação e
ordenamento territorial norte mineiro foi perpassado por diversos momentos, e
demarcado por diversas influências – econômicas; políticas e sociais [...]”,
conforme explícito por Andrade (2010, p. 81). Essa importância fundamental
relaciona-se ao fato de que, por ter sido historicamente demarcada por um perfil
agropecuário, a criação da SUDENE permite – tardiamente – a modernização
capitalista, sobretudo a partir da década de 1970.
Assim, introduzidos aspectos que tangenciam compreender a formação
sócio-histórica norte mineira, o presente trabalho centra suas análises na cidade de
Montes Claros, situada no norte deste Estado89, com uma população de
aproximadamente 386.000 pessoas, de acordo o IBGE (2013) e é considerada a
“capital norte-mineira”, por aglutinar recursos que permitem o atendimento aos
outros municípios que compreendem o norte de Minas Gerais, no que diz respeito
às necessidades básicas dos sujeitos. Hoje, Montes Claros tornou-se um polo
universitário90 e centro de referência no atendimento às complexidades da área da
saúde, bem como polo industrial.
89 O Norte de Minas Gerais é formado por uma mesorregião que abrange 89 municípios, sendo 68
de pequeno porte I (até 20.000 habitantes), 16 de pequeno porte II (de 20.001 até 49.999
habitantes), 4 de porte médio (de 50.000 a 99.999 habitantes) e apenas 1 de grande porte (de
100.000 a 899.000 habitantes). O município de grande porte da região é a cidade de Montes
Claros, que referencia a presente pesquisa. 90 De acordo dados do MEC (2010), atualmente Montes Claros conta com 31 instituições de
ensino superior, sendo elas a Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES, a
Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG e o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais –
IFNMG.
113
Figura 3 - Mapa que mostra a localização geográfica de Montes Claros/MG. Fonte: http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=314330
Desse modo, tendo em vista o contraditório processo e legado de heranças
econômicas, sociais e políticas, atualmente Montes Claros consolida-se enquanto
núcleo urbano de maior centralidade e dinamismo econômico no norte de Minas
Gerais, tendo instalado grandes empresas como a VALLE/AS (produtos
veterinários), NESTLÉ (Alimentos e bebidas), COTEMINAS (tecidos de cama,
mesa e banho), BIODIESEL (Petrobrás), LAFARGE (cimento e concreto) e
NOVO NORDISK (produtos farmacêuticos) (Perez, 2013).
De acordo, Perez (2013) a cidade de Montes Claros, por se configurar
enquanto um centro urbano e polo universitário, tem recebido um intenso fluxo de
migração de pessoas, o que corrobora para o processo de crescimento
populacional de modo desordenado, com o aumento da favelização e
informalidade do trabalho. Perante a isso, há de acordo Lessa (2007) uma
ausência de planejamento nas políticas públicas voltadas a esse fim. Além disso, a
implementação torna-se comprometida diante os entraves postos, para além do
assistencialismo presente historicamente em suas relações.
114
4.2.2. A Assistência Social em Montes Claros/MG: elementos concretos91
Como elencado ao longo do capítulo 3, a política de assistência social é
constituída, no âmbito de sua implantação, por uma rede socioassistencial que é
responsável pela execução dos serviços, programas, projetos e benefícios, baseada
em princípios, garantias, diretrizes, objetivos e funções. Neste sentido, tendo
como base a rede socioassistencial em Montes Claros/MG, com base nos dados
apontados por Perez (2013) é possível denotar como se compõe a formação desta
rede, no âmbito do município de Montes Claros/MG.
Compreendendo a proteção social básica (PSB) e considerando, de acordo a
Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais que os Centros de
Referência em Assistência Social (CRAS) são espaços que se configuram como a
“porta de entrada” da PSB, através do Programa de Atenção Integral à Família
(PAIF), esses equipamentos de Assistência Social estão localizados, sobretudo,
em espaços/territórios que tenham indicadores de vulnerabilidade social, tendo em
vista que ele atua de modo a prevenir situações de risco social, trabalhando o
fortalecimento dos vínculos familiares e/ou comunitários. Conforme o Relatório
de Gestão 2011/2012 - que subsidiou a construção dos dados por parte de Perez
(2010) – no município de Montes Claros há o referenciamento de 15.540 famílias,
acompanhadas pelos 11 CRASs que são distribuídos nos territórios da cidade.
91 Embora se considere que seja de suma importância o tratamento histórico do modo pelo qual a
Assistência Social se constituiu em âmbito montesclarense, este estudo apresentará a priori apenas
os dados referentes a execução atual da política no município estudado, com base na pesquisa já
indicada e realizada por Perez (2013). Devido a ausência de fontes já produzidas e a escassez de
tempo hábil, não fora possível analisar questões históricas. Isso leva a possibilidade de discussão
dessa história em um processo de doutoramento, tendo em vista essa ausência de fontes.
115
Figura 4 - Territórios dos CRAS no município de Montes Claros/MG. Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Disponível em Perez (2013)
Assim, com base nos dados advindos da pesquisa realizada por Perez
(2013), em Montes Claros há a oferta, através do desenvolvimento de ações
relacionadas às atividades dos Centros de Referência da Assistência Social, de
Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) as diversas faixas
etárias. Através da “Casa do Brincar” é oferecido esses serviços as crianças de 0 a
06 anos, na qual através da presença de um “brincante” e de um técnico de
referência do CRAS, as crianças e suas famílias são acompanhadas, com o intuito
de fortalecimento dos vínculos familiares.
Ainda na direção dos dados apresentados pela autora, são oferecidos o
SCFV para crianças de 06 a 15 anos, através do atendimento a crianças advindas
do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), sendo este um Serviço
da proteção social especial de média complexidade. Já aos adolescentes de 15 a 17
anos, são oferecidas as atividades pertinentes ao Serviço com fundamento nas
ações do ProJovem Adolescente e aos idosos, a partir de 60 anos são ofertados o
Serviço denominado como “Conviver Idoso”, no qual os idosos inseridos são
acompanhados por um técnico de referência e um arte-educador social. Importante
dizer que, no âmbito da PSB também estão alocados, na gestão do SUAS do
município, o Programa Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada, no
116
qual a rede socioassistencial faz o constante e sistemático acompanhamento
(Perez, 2013).
No que diz respeito à proteção social especial, o município de Montes
Claros possui serviços referentes à proteção social de média e alta complexidade.
Em relação a média complexidade, há – segundo Perez (2013) – um Centro de
Referência Especializado em Assistência Social que oferta os serviços de proteção
e atendimento especializado a famílias e indivíduos (PAEFI), o serviço
especializado em Abordagem Social, a proteção social a adolescentes em
cumprimento de medidas socioeducativas de liberdade assistida (LA) e prestação
de serviços à comunidade (PSC), bem como a proteção especial para pessoas com
necessidades específicas, idosos e suas famílias. Além disso, é oferecido o serviço
especializado para pessoas em situação de rua e os benefícios eventuais, voltados
a famílias e indivíduos em condição de risco social e que não tiveram – ainda – os
vínculos familiares e/ou comunitários rompidos.
Por conseguinte, os serviços que compreendem a proteção social especial de
alta complexidade, voltada a famílias e indivíduos em situação de risco social e
que já tiveram o seu vínculo familiar e/ou comunitário rompidos, são ofertadas, no
município de Montes Claros 05 unidades de Acolhimento Institucional voltadas a
crianças e adolescentes, sendo 1) o serviço de acolhimento institucional Joana
Campos voltada a crianças entre 0 e 11 anos, de ambos os sexos; 2) Serviço de
acolhimento institucional Eunice Rocha, voltada a adolescentes do sexo feminino
em medida protetiva, sendo, portanto, uma Casa de Passagem; 3) O Serviço de
acolhimento Bethânia I, que acompanha adolescentes do sexo masculino com
idade que perpassa os 12 e 15 anos; 4) O Serviço de acolhimento Bethânia II, que
acompanha adolescentes com dependência química, com idade que perpassa os 15
e 17 anos e 5) Lar Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, entidade socioassistencial
que atende de crianças a idosas do sexo feminino. Além disso, há uma unidade de
acolhimento – em parceria com a rede privada – para adultos que tem os moldes
de funcionamento de um albergue; uma Casa Lar para o acolhimento de pessoas
com deficiência e o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (Perez,
2013).
Frente a isso, considera-se que dadas às peculiaridades e particularidades, a
rede socioassistencial do município de Montes Claros apresenta estrutura que
permita a efetivação qualitativa da política de Assistência Social. Assim, faz-se
117
necessário que haja a articulação da rede de modo a promover que os serviços,
programas, projetos e benefícios estejam para além de apenas uma função
burocrática, desempenhando papel de extrema relevância na consolidação e
garantia dos direitos do cidadão.
4.2.3. O Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG: fragilidades, limites e possibilidades
Conforme dito anteriormente, o cenário de estudo que se propõe analisar diz
respeito ao Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG.
Este foi criado através da Lei 2.479 de 07 de maio de 1997, enquanto uma
instância de caráter deliberativo, permanente, normativo, fiscalizador e paritário,
composto pelo governo e sociedade civil, com função de estabelecer, acompanhar,
controlar e avaliar a execução da Política Municipal de Assistência Social,
conforme as disposições da lei que cria o espaço de controle social e a Lei Federal
nº 8.742/93. Importante dizer, que de acordo regimento interno, o CMAS de
Montes Claros é a instância máxima de deliberação naquilo que diz respeito à
avaliação, à aprovação e ao controle da Política no âmbito municipal. Dentre as
atribuições do CMAS, elenca-se:
Quadro 2 - Atribuições do Conselho Municipal de Montes Claros
Atribuições
1 Acompanhar a elaboração de estratégias para execução da Política Municipal de Assistência Social,
inclusive quanto aos recursos econômicos, financeiros e humanos, com acompanhamento da execução
do orçamento.
2 Estabelecer diretrizes para elaboração dos Planos Plurianuais de Assistência Social do Município
adequados à realidade social.
3 Aprovar o Plano Plurianual de Assistência Social do município.
4 Articular-se com outros órgãos colegiados da Rede de Assistência Social das esferas Estadual, Federal
e de outros municípios.
5 Atuar no equacionamento das questões de interesse municipal na área de Assistência Social, dentre as
quais: critérios para definição de padrão de qualidade, parâmetros assistenciais e melhor
resolutividade das ações e serviços sociais.
6 Aprovar ou reprovar os relatórios de movimentação de recursos repassados ao Fundo Municipal de
Assistência Social (FMAS), já analisados pelos setores técnicos de planejamento da Secretaria
Municipal de Políticas Sociais.
118
7 Impugnar ações ou serviços que contrariem as diretrizes da organização da Rede de Assistência Social
no Município.
8 Exercer a orientação do controle do FMAS.
9 Aprovar propostas dos recursos destinados às ações finalísticas.
10 Discutir e aprovar a instalação de qualquer serviço público ou privado no município de Montes Claros
que mantem ou venha manter contratos ou convênios com órgão público de Assistência Social.
11 Regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo de assistência social, no
âmbito do município, considerando as normas gerais do CMAS, as diretrizes da política estadual de
assistência social, as proposições da conferência municipal de assistência social e os padrões de
qualidade para a prestação de serviços.
12 Supervisionar o funcionamento dos serviços públicos e privados, determinando auditoria e, se
necessário, a suspensão de contrato ou convênio dos mesmos, quando não atenderem à legislação e às
normas da Política de Assistência Social.
13 Propiciar à população um amplo conhecimento da Rede Municipal de Assistência Social, bem como
promover a divulgação de dados estatísticos relacionados à Assistência Social.
14 Evitar a diluição e a superposição de atividades e recursos na área de Assistência Social, através da
efetiva integração das instituições da Rede de Assistência Social, bem como a integralidade das ações
de caráter individual como as coletivas.
15 Acompanhar o alcance dos resultados dos pactos estabelecidos com a rede prestadora de serviços da
assistência social.
16 Articular-se com os setores educacionais, de saúde e outros do município, visando a caracterização
das necessidades sociais nos setores acima referidos.
17 Propor ao Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS e Conselho Estadual de Assistência
Social - CEAS/MG o cancelamento de registro das entidades e organizações de assistência social que
incorrerem em descumprimento dos princípios previstos no artigo 4º da LOAS e em irregularidades
na aplicação dos recursos que lhes forem repassados pelos poderes públicos.
18 Cancelar o registro das entidades que incorram em irregularidades na aplicação dos recursos que
forem repassados pelos poderes públicos que não obedeçam aos princípios e diretrizes da lei 8.742/93,
bem como instituir grupos específicos de trabalho para executar atividades determinadas, utilizando
pessoal vinculado às instituições públicas, voluntário ou contratação de terceiros.
19 Inscrever, monitorar e fiscalizar as entidades de assistência social.
20 Articular-se com as diversas "entidades de classe" que tenham envolvimento com a assistência social,
buscando garantir uma prática profissional na Rede Municipal de Assistência Social, segundo os
princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade.
21 Convocar e coordenar a Conferência Municipal de Assistência Social, elaborando o regulamento de
instruções normativas da mesma, nos termos da lei.
22 Definir os programas de assistência social (ações integradas e complementares com objetivos, tempo
e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços
assistenciais), obedecendo aos objetivos e os princípios estabelecidos na Lei 8.742 de 1993, com
prioridade para a inserção profissional e social.
23 Elaborar e publicar seu regimento interno.
Fonte: Lei de Regulamentação do Conselho (Montes Claros, 2008). Elaboração própria
Já naquilo que diz respeito à composição deste espaço, o mesmo é
formado por 20 (vinte)92 membros titulares e suplentes, representantes do poder
público e da sociedade civil, exercendo mandato de 02 (dois) anos, podendo ser
reeleitos por uma vez por igual período. Os representantes do poder público são
92 Este número iguala-se para os suplentes.
119
indicados pelas secretarias e os representantes da sociedade civil serão eleitos em
assembleia pelo voto das entidades vinculadas à assistência social, em
funcionamento, no mínimo há 03 (três) anos, com sede no município93. Ambos
são nomeados pelo prefeito.
Desse modo, o conselho é composto da seguinte maneira:
Gráfico 1 - Número de membros por Representação do Poder Público – Poder Público
Fonte: Lei 2.479 de 07 de maio de 1997 (e suas alterações) – Elaboração própria.
93 Exceto para os assistentes sociais.
120
Gráfico 2 - Número de membros por Representação da Sociedade Civil - Poder Público
Fonte: Lei 2.479 de 07 de maio de 1997 (e suas alterações) – Elaboração própria.
Ainda no que se refere à caracterização do espaço de controle social,
conforme seu regimento interno o mesmo, em sua estrutura, é composto pelo
plenário94, mesa diretora95, comissões temáticas permanentes e temporárias96 e
secretaria executiva. Já em relação ao processo de deliberação do CMAS de
Montes Claros o mesmo reúne-se, ordinariamente, uma vez por mês, na primeira
quinta-feira, na Casa da Cidadania, situado na Praça Raul Soares, s/n.º - Centro97,
às 14 horas. Conforme o Censo SUAS 2013, o Conselho possui um local
específico para o seu funcionamento, todavia este é dividido com outras
instituições (como ONG’S e Entidades) e outros Conselhos de Políticas e Direitos.
No que concerne a Secretaria Executiva do CMAS, ela é o órgão do CMAS
de Montes Claros de assessoramento, que presta apoio técnico administrativo e
operacional e estará subordinada à mesa diretora. Conforme o Censo SUAS 2013,
o Conselho possui esta em funcionamento, com a alocação de 03 funcionários,
94 “Art.13º - Plenário é o órgão de deliberação máxima do CMAS de Montes Claros composto
pelos membros efetivos e seu(s) suplente(s).” 95“ Art.15º - A mesa diretora do CMAS de Montes Claros é eleita para um mandato de 2 (dois)
anos, não sendo prorrogável. (NR), e será composta por: I – Presidente; II – Vice-presidente; III –
1º secretário; IV – 2º secretário”. 96 “Integram a estrutura do CMAS as Comissões Temáticas, de caráter permanente ou eventual. As
comissões compor-se-ão de 4(quatro) membros e se reunirão com quórum mínimo de 02 (dois) de
seus membros titulares ou suplentes. As Comissões Temáticas, de natureza permanente e
temporária, têm por finalidade subsidiar a plenária no cumprimento de sua competência”. 97 Ou outro lugar previamente determinado.
121
sendo que há uma pessoa – com nível superior completo – designada para ocupar
o cargo de Secretário Executivo do Conselho. Esta trabalha exclusivamente neste
espaço de controle social e o cargo foi formalizado por meio de instrumento que
se difere de Lei, Decreto e/ou Portaria. Cabe destacar que o CENSO Suas não
especifica qual fora este instrumento utilizado.
Em relação ao custeio do CMAS, de acordo dados advindos do Censo
SUAS 2013, há previsão – na lei orçamentária deste mesmo ano no município –
de recursos específicos do órgão gestor destinados à manutenção e funcionamento
do conselho. Todavia, já em relação a uso dos 3% de recursos, correspondentes
aos Índices de Gestão Descentralizada (IGD-Bolsa Família e IGD-SUAS) o censo
demonstra que não há aplicação e/ou uso, por parte do conselho.
No que diz respeito à composição do Conselho Municipal de Montes
Claros, com base no Censo SUAS 2013, é possível categorizar a composição,
inclusive no que tange ao gênero dos conselheiros. De acordo o Censo, atualmente
o Censo é constituído por 31 conselheiros, sendo 24 mulheres e 7 homens.
Observa-se assim a presença majoritária do gênero feminino no que diz respeito
ao processo de condução do controle social exercido pelo conselho, fato que
comprova a influência histórica do fenômeno denominado feminilização da
assistência social.
Gráfico 3 - Composição do Conselho em relação à questão de gênero
Fonte: Censo SUAS 2013 – Elaboração própria.
122
Já no quesito escolaridade, observa-se a prevalência de grande parte
dos conselheiros com formação superior, destacando-se relativa proporção dos
que também possuem especialização.
Gráfico 4 - Escolaridade dos Conselheiros Municipais de Montes Claros
Fonte: Censo SUAS 2013. Elaboração própria.
Quanto à função desempenhada, observa-se que a grande maioria
desempenha o papel de conselheiro titular, todavia este número encontra-se
inferior ao estabelecimento pela legislação que norteia o funcionamento do
Conselho Municipal de Montes Claros/MG. Essa legislação disserta sobre 20
membros conselheiros titulares e 20 membros suplentes. Entretanto, ela não deixa
claro qual procedimento a ser tomado, em caso de número de suplentes inferior ao
número de titulares.
123
Gráfico 5 - Função desempenhada pelos Conselheiros Municipais de Montes Claros
Fonte: Censo SUAS 2013. Elaboração própria
Frente a isso, em relação à representação observa-se que em grande maioria
– embora em porcentagem de diferença inexpressiva – o governo possui maior
número de cadeiras referentes ao Conselho Municipal de Montes Claros e o
controle social exercido. Ressalta-se que o não preenchimento das 40 vagas
destinadas a paridade de representação rebate na representação da sociedade
civil98. Como elencado, por não deixar claro qual o procedimento a ser tomado em
caso de números inferiores ao estabelecido, o CMAS deixa brechas para a
fragilidade da representatividade, nesse caso, da sociedade civil.
Compreende-se que esta disparidade deve-se a vacância dos cargos por
parte dos conselheiros, ao longo do processo de representação. Cabe aqui destacar
a necessidade de compromisso frente aos interesses representados. Como
verificado ao longo do 2.º capítulo, a esfera pública é perpassada por uma
dinâmica que deve direcionar as suas ações em um viés democrático. Durante o
processo de análise de dados referentes às atas de reuniões, observou-se que muitos
conselheiros pediam o seu desligamento ao longo do processo. Quando dizia respeito à
representatividade do governo, novos membros eram indicados. Todavia, no caso da
sociedade civil, percebeu se que os suplentes assumiam a vacância e novos membros não
98 Embora a Lei que regulamenta o funcionamento do Conselho disponha sobre a constituição da
sociedade civil destinada as entidades de acordo o segmento que representa (idosos, movimentos
populares, criança e adolescente etc.), no Censo SUAS que delineia os dados apresentados, a
configuração é apresentada conforme o que dispõe.
124
eram eleitos para preenchimento da cadeira vazia. Isso fere, de modo substancial, o
princípio da paridade que norteia os Conselhos e suas legislações.
Como observado no gráfico abaixo (gráfico 6), fora feito a segmentação da
sociedade civil para demonstrar que a ocupação das cadeiras na plenária do CMAS-MOC
é feito com base em segmentos de atuação da sociedade civil. Embora a representação
governamental também se paute na divisão por secretarias, compreende-se que a
segmentação dos membros representantes da sociedade civil não permite a
universalização da defesa de direitos de todos os segmentos que perpassam a constituição
desta arena política e suas bandeiras de lutas, historicamente constituídas.
Faz-se de suma importância que esta analise contribua para que sejam refeitas as
legislações que norteiam a constituição do Conselho Municipal de Assistência Social de
Montes Claros, para que ele permita, de fato, a universalização de representação de
interesses e a garantia de direitos para além dos usuários, entidades, trabalhadores e
outros segmentos que constituem a rede socioassistencial da política de Assistência
Social, sobretudo em âmbito municipal.
Gráfico 6- Representação dos Conselheiros Municipais de Montes Claros
Fonte: Censo SUAS 2013. Elaboração própria.
Desse modo, frente ao exposto, considera-se que o Conselho Municipal de
Montes Claros é uma instância de controle social efetivamente estabelecida, com
regimento próprio, legislação que a regulamente, secretaria executiva estruturada
– em espaço e funcionamento –, a presença de número considerável de
125
conselheiros com formação prática e teórica que sustente os argumentos
exercidos. Todavia, rebate em elementos que despertam a necessidade de repensar
suas ações e o modo como o controle social tem se efetivado.
Esses elementos delineiam-se nas fragilidades que a própria legislação o
permite, como a ausência de representatividade para além de segmentos pré-
estabelecidos. Destaca-se no que diz respeito à composição/caracterização dos
conselheiros, verifica-se que a priori os mesmos possuem condições técnicas e
teóricas para subsidiarem as discussões, tendo em vista a formação superior, com
índices consideráveis de conselheiros com nível de escolaridade relacionado a
pós-graduação99.
Importante destacar que essa caracterização permite que sejam delineados
os aspectos a conhecer o modo pela qual é constituído o cenário de estudo, tendo
em vista que de acordo Gohn (2007) os conselhos podem ser considerados
espaços estratégicos para a presença de diversos atores sociais ou maneiras que se
permeiam as mudanças sociais, no intuito de democratizar as relações que se
configuram na sociedade, além de permear o fortalecimento do espaço de
formação de opinião e tomada de decisão.
Diante disso, como elencado pelo referencial teórico que sustenta este
estudo, a Constituição Federal de 1988 implementou os Conselhos de Assistência
Social na perspectiva de assegurar a universalidade da política de Assistência
Social, bem como o processo de descentralização suscitado pela referida Carta
Magna e o princípio participativo que sucumbe a estruturação das políticas de
direitos do cidadão e dever do Estado.
Assim sendo, os conselhos desenvolvem papel fundamental na formulação,
gestão e controle social das políticas públicas que referenciam. No que tange aos
Conselhos de Assistência Social, eles possuem importância elementar na
consolidação do Sistema Único de Assistência Social, ao se constituírem enquanto
espaço pertinente à esfera pública democrática de cogestão e participação entre
governo e sociedade civil, tendo em vista que eles devem propiciar
direcionamento a política de assistência social e a efetivação dela enquanto um
99 Válido ressaltar que a valorização da formação dos conselheiros não retira os méritos daqueles
que não possuem formação superior completa. Entende-se que as vivências dos sujeitos os
permitem criar uma visão crítica da realidade social. Todavia, entende-se que a formação superior
permite subsídios teóricos que podem acrescentar ao debate e colaborar para o direcionamento das
práticas pautadas em plenária.
126
sistema que garanta direitos e que, historicamente, foi permeada por
direcionamentos que a afirmavam enquanto o lugar do favor e ações
descontinuadas.
Desse modo, os conselhos vêm se efetivando na esfera municipal enquanto
canais institucionais que propiciam a participação da sociedade no que concerne a
efetivação das políticas sociais, tendo um caráter representativo e com mandatos
que não são remunerados pelo poder público e nem pela sociedade. Nesse sentido,
são espaços deliberativos, com caráter permanente e que possuem composição
paritária entre governo e sociedade civil – como já demonstrado e elencado – e em
algumas experiências possuem autonomia para discernir perspectivas a efetivação
de práticas voltadas a garantia de direitos. Desse modo, é de suma importância
avaliar o modo como o conselho tem se efetivado enquanto espaço fundamental a
consolidação da Assistência Social.
A partir dos dados advindos da pesquisa de campo que norteia o desenrolar
deste trabalho é que se busca analisar o controle social desenvolvido pelo
CMAS/Montes Claros frente à política que delibera. Desse modo, entende-se ser
de fundamental prevalência compreender, com base nas legislações que o
regulamentam e os dados obtidos e se existe coerência/relação e com aquilo que é
expressado na prática, no cotidiano do funcionamento desta esfera pública
democrática.
Neste sentido, no período analisado, observa-se que o Conselho Municipal
de Montes Claros realizou – com regularidade – as reuniões. Conforme gráfico
abaixo, verifica-se que houve tanto reuniões ordinárias – em maior número – e
reuniões extraordinárias – em menor número e advindas da necessidade de
aprovação de pautas.
127
Gráfico 7 - Quantidade de reuniões realizadas
Fonte: Atas CMAS/Montes Claros. Elaboração Própria.
Assim, foram contabilizadas 19 reuniões, sendo que 14 delas
relacionam-se com reuniões ordinárias e 5 com extraordinárias. Ao analisar a data
da ocorrência das mesmas, verifica-se regularidade, já que na sua grande maioria
as reuniões ordinárias ocorrem uma vez ao mês100. Essa regularidade de reuniões
possibilita que questões pertinentes a política de Assistência Social estejam em
constante discussão, propiciando para a sua efetivação de qualidade.
As pautas das reuniões diversificam-se, todavia observa-se a
prevalência de algumas questões que estão sempre recorrentes nas discussões,
sobretudo naquilo que há a exigência burocrática por parte de outras instituições,
como as prestações de contas. Como elencado no gráfico abaixo, o agrupamento
das pautas discutidas e observadas no registro das atas, direciona para os
principais elementos:
100 Cabe aqui dizer que o período analisado corresponde ao período de 16 meses (setembro/2012 a
dezembro/2013). Embora haja regularidade nas reuniões, observa-se que o número de reuniões
ordinárias foi inferior a quantidade de meses, devido a períodos de recesso do conselho municipal,
como janeiro, por exemplo.
128
Gráfico 8 - Principais pautas discutidas no período analisado
Fonte: Atas CMAS – Elaboração própria.
Conforme orientação do Conselho Nacional de Assistência Social o controle
social deve ser entendido enquanto um exercício democrático de
acompanhamento pelo modo qual se realiza a gestão e avaliação da Política de
Assistência Social, do Plano Plurianual de Assistência Social e o modo pelo qual
os recursos financeiros são aplicados, de modo a contribuir para que os serviços
socioassistenciais oferecidos pela rede estejam primados na qualidade ofertada.
Desse modo, o controle social exercido deve possibilitar que o conselho tenha
possibilidade de intervir nas políticas públicas, contribuindo para a definição das
prioridades e a elaboração dos planos de ação.
Neste sentido, buscou-se conhecer as principais pautas em discussão pelo
CMAS, para que os princípios que norteiam sua constituição/formação pudessem
ser analisados, tendo como eixo de entendimento que ele deve contribuir, de modo
significativo, na execução, implementação e efetivação da Assistência Social.
129
Assim, conforme o gráfico disposto anteriormente observa-se que as
questões ligadas a Estrutura do Conselho correspondem a 15% das pautas. Já as
questões ligadas a Entidades Socioassistenciais, aglomeram 21%, enquanto as
questões relacionadas ao SUAS dizem respeito a 18%. Observa-se que estes temas
estavam presentes em quase todas as pautas analisadas.
No que diz respeito às questões ligadas a estrutura do conselho, observou-se
as discussões referentes à eleição da mesa diretora, composição das comissões
temáticas, esclarecimentos inicias sobre a importância de ser conselheiro
(regimento interno, processo de inscrição de entidades, o modo como ocorre
financiamentos/prestação de contas etc.), a composição das instâncias de controle
social do Programa Bolsa Família, apreciação do planejamento para o CMAS em
2013, recomposição das comissões, recursos materiais para o CMAS e nomeação
do secretario executivo da instância de controle social.
Observa-se que estas questões representam aspectos importantes para o
direcionamento e funcionamento do conselho. Entende-se que contribuem de
modo significativo para o exercício do controle social, pois possibilita condições
técnicas, financeiras e logísticas ao funcionamento desta esfera pública.
Figura 5 - Resumo dos principais assuntos relacionados ao Tema de Pauta Fonte: Atas CMAS – Elaboração própria.
130
Já em relação às questões relacionadas às entidades socioassistencial
verifica-se a prevalência (sendo menor apenas que os assuntos gerais) desta pauta
nas discussões do Conselho Municipal de Montes Claros. Durante quase todas as
atas analisadas foi possível verificar o debate acerca do processo de inscrição das
entidades socioassistenciais, seja a apreciação para inscrição/renovação do
cadastro, seja para criar resoluções acerca desse processo de inscrição/renovação
para entidades específicas (como é o caso de associações comunitárias rurais),
seja acerca da liberação de recursos e isenções para entidade via prefeitura e
discussão sobre emissão de certificados provisórios e respeito a ordem
cronológica de requerimento para visitas, dentre outros e emissão de relatórios
acerca de visitas realizadas as instituições.
Cabe destacar no que diz respeito a este ponto de análise, a maneira que se
verificou a prevalência dessas ações nas atas de reuniões analisadas. Compreende-
se que o processo seja importante, todavia ela rebate diretamente em questões que
tangenciam o debate acerca do Estado e Terceiro Setor101, e incidem também na
maneira pela qual o conselho vem direcionando suas ações ao mero protocolo de
aprovação de entidades socioassistenciais.
Frente a isso, importante compreender que a política de assistência social é
realizada de modo integrado por ações constituídas através do poder público e da
sociedade. Nesse sentido, o modo pelo qual a sociedade intervém se dá através de
organizações e entidades de assistência social, com fins não lucrativos e que
desenvolvem de modo contínuo, planejado e permanente, ações com fins de
atendimento, assessoramento e defesa e garantia de direitos102. No que concerne
aos destaques da análise de atas, registra-se as seguintes discussões de modo
pertinente, relacionadas com as entidades socioassistenciais.
101 Sobre isso, recomenda-se a leitura de Montaño (2002). 102 Segundo a LOAS, em seu artigo 3.º: “§ 1o São de atendimento aquelas entidades que, de forma
continuada, permanente e planejada, prestam serviços, executam programas ou projetos e
concedem benefícios de prestação social básica ou especial, dirigidos às famílias e indivíduos em
situações de vulnerabilidade ou risco social e pessoal” “§ 2o São de assessoramento aquelas que,
de forma continuada, permanente e planejada, prestam serviços e executam programas ou projetos
voltados prioritariamente para o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações de
usuários, formação e capacitação de lideranças, dirigidos ao público da política de assistência
social” “§ 3o São de defesa e garantia de direitos aquelas que, de forma continuada, permanente e
planejada, prestam serviços e executam programas e projetos voltados prioritariamente para a
defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos, promoção da
cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais, articulação com órgãos públicos de defesa de
direitos, dirigidos ao público da política de assistência social” (MDS, 1993).
131
A Assistente Social do CMAS, Érika falou da necessidade de realizar seminários
entre os CRAS, CREAS e a rede privada com a finalidade de estreitar as ações com
a rede, potencializando a referência e contra referência. Franciely lembrou que a
Resolução 16 do CNAS preconiza que seja realizada uma vez ano audiência
pública com as entidades (Ata n.º 187)
***
O presidente Adiel, diante de demanda das entidades da zona rural, solicitou à
Comissão de Documentação e Cadastro trazer para a próxima reunião, uma
sugestão de resolução com critérios para a inscrição das associações rurais no
CMAS. Neste sentido, a conselheira Elizabete falou da necessidade de critérios
pois existem associações rurais cuja composição tem maioria dos associados
moradores na zona urbana de Montes Claros, portanto não atenderia ao público
morador da zona rural (Ata n.º 187)
***
A conselheira Beatrice reafirmou sobre o novo caráter da assistência social, política
pública, em detrimento da visão caritativa histórica (Ata n.º 189)
***
Partindo para o primeiro ponto de pauta, apreciação de entidades e aprovação com
ressalvas, Érika pontuou que a aprovação com ressalvas requer monitoramento
periódico, portanto se preocupa com a fiscalização das entidades, principalmente
pela pouca oferta do veículo, o que acaba levando ao acúmulo de trabalho. Nesse
sentido, foi colocado em discussão sobre a aprovação com ressalvas. A conselheira
Beatrice Silveira entendeu que se Érika trouxe essa fragilidade o Conselho tem que
repensar esse posicionamento, só se contássemos com equipe maior, defendendo
que ou o CMAS aprova ou desaprova. Grace disse que a falta do monitoramento é
uma preocupação. Adiel lembrou do zelo que se deve ter com a entidade desde sua
criação e adequação, pois muitas delas acabam fechando por falta de
documentação, de organização. Levada em votação, foi aprovado que até segunda
ordem não serão aprovadas entidades com ressalvas, contando com doze votos
favoráveis e duas abstenções (Ata n.º 192).
***
[...] a técnica Erika falou sobre as dificuldades enfrentadas para visitar as entidades
que pleiteiam inscrição no CMAS, pois o município está com a frota de carros
quebradas, e o conselho tem ciência dessa dificuldade do município. Erika
justificou que conhece a necessidade das inscrições e que para acontecer a visita
algumas entidades tem ido buscá-la. A conselheira Rosilene Aparecida colocou
que entende a preocupação, mas vai ter entidade que não terá como vir buscá-la, o
que acaba privilegiando aqueles que tem condições. A conselheira Beatrice
colocou que Érika fica desprotegida trabalhando dessa forma, em seguida a
conselheira Grace colocou que ela esta protegida enquanto servidora (Ata n.º 196).
***
A conselheira Rosilene perguntou qual a relação da entidade com o CRAS Rural
[...]. Rosilene colocou sobre a importância em melhorar a relação com o CRAS
RURAL. A conselheira Grace complementou falando sobre a importância da
articulação com o CRAS RURAL em benefício da comunidade (Ata n.º 198).
Desse modo, as entidades socioassistenciais compreendem a constituição
do Sistema Único de Assistência Social, configurando-se enquanto prestadoras de
serviços socioassistenciais. Além disso, são elementares para que o controle social
132
seja exercido, tendo em vista que peças fundamentais para a formação dos
conselhos de assistência social, pois representam – em grande parte – a sociedade
civil, por meio da participação nesses espaços.
Ainda, nesta perspectiva, verifica-se que grande parte das reuniões do
CMAS estão centradas nas discussões acerca da aprovação de
inscrição/certificação das entidades socioassistencias, fazendo com que muitas
vezes outros pontos de pauta sejam deixados para reuniões a posteriori, tendo em
vista o esgotamento do tempo necessário para discussão.
Compreende-se a importância das discussões acerca das certificações para
as entidades, entretanto, entende-se que seja necessário que o CMAS planeje suas
atividades de modo a levar a plenária apenas aquilo que é necessário para
deliberação. Entende-se, neste aspecto, o papel essencial da Comissão Temática
de Documentação e Normas, entretanto, verifica-se que a lógica expressa nela tem
seguido o aspecto da descontinuidade e descompromisso – por parte dos seus
integrantes – para a efetivação dos princípios e atribuições inerentes aos
conselheiros. Isso pode ser ilustrado, conforme trecho destacado abaixo:
Logo após o presidente do CMAS Adiel Elias colocou que a comissão temática de
documentação e normas não reuniu para analisar as entidades, mas foi deliberado
em plenária que quando acontecesse este fato apenas os pareceres favoráveis iriam
para a plenária. Em seguida o presidente do CMAS Adiel sugeriu que a comissão
temática de documentação e normas fosse notificada, levando para plenária obteve
onze (11) votos favoráveis e duas (02) abstenções (Ata n.º 202).
Nesse sentido, cabe aqui a crítica da necessidade de reafirmar o real papel
do conselho municipal de Assistência Social de Montes Claros em âmbito de
exercer um processo de controle social que contribua a gestão da política de
assistência social em âmbito municipal, para além do mero cumprimento de
protocolos estabelecidos.
133
Figura 6 - Resumo dos principais assuntos relacionados ao Tema de Pauta – Fonte: Atas CMAS – Elaboração própria.
Assim sendo, dando continuidade às discussões e entendendo que as
entidades socioassistenciais compõem o Sistema Único de Assistência Social, foi
possível vislumbrar as questões que estiveram presentes nas reuniões do CMAS,
englobando as discussões pertinentes ao SUAS. O debate que se respaldava em
questões ligadas ao Sistema Único de Assistência Social foi possível observar no
seguinte registro de ata, por exemplo:
Neste sentido, solicitou respaldo sobre gestão do trabalho no SUAS. Francielly
pontuou que a oficina de trabalho do Conselho Nacional de Assistência Social tem
discutido essa temática e procedeu leitura do texto encaminhado pelo CNAS, que
ressalta a fragilidade dos vínculos empregatícios, a alta rotatividade do SUAS, o
que reflete diretamente no atendimento ao usuário. (Ata n.º 188)
No que tange a proteção básica, foram objetos de análise e discussão o
Termo de Aceite acerca do Programa de Promoção do Acesso ao Mundo do
Trabalho – ACESSUAS, a ciência do Termo de Aceite do Serviço de Convivência
e Fortalecimento de Vínculos, a reprogramação do Programa ProJovem, a
apresentação da minuta que dispõe acerca dos benefícios eventuais no município e
a aprovação do plano municipal de convivência familiar e comunitária.
Além disso, no que diz respeito à Proteção Especial, foram assuntos de
diálogo o que diz respeito à justificativa da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social acerca da baixa execução do Piso Fico de Média
Complexidade II e Piso de Média Complexidade IV, referentes a 2011, bem como
a comprovação do funcionamento do serviço de acolhimento para a população de
134
rua e a apresentação do termo de aceite de expansão do serviço de abordagem
social e a aprovação do plano de reordenamento do serviço de acolhimento para a
população adulta em situação de rua. Ainda nesta direção, foi apresentado ao
CMAS o Advogado para o CREAS, como resposta ao plano de providências da
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social - SEDESE
Compreende-se, neste sentido, que o Conselho tem tido atribuição
fundamental para que o SUAS se efetive. Porém, ao analisar os dados advindos do
Censo SUAS, há um choque de fatos e instala-se a figura da preocupação, tendo
em vista que se observa o mero cumprimento de “protocolo” (como já dito
anteriormente) de muitas ações supracitadas acima, naquilo que concerne as
questões tangenciais do SUAS. Assim, de acordo o CENSO Suas 2013, foi
possível aferir as seguintes situações:
Quadro 3- Agrupamento de perguntas correlacionadas à dinâmica de funcionamento do CMAS
Questão Resposta
1 O Conselho deliberou sobre o Plano de Assistência
Social do município Não
2 O Conselho conhece e acompanha a implantação da
NOB/SUAS 2012 em seu município?
O Conselho conhece, mas
não acompanha a
implantação da NOB/SUAS
2012
3 O Conselho deliberou sobre a proposta anual de
orçamento do executivo para o ano de 2013? Não
4 O Conselho fiscaliza os serviços, programas, projetos e
benefícios socioassistenciais do SUAS?
Sim, a rede socioassistencial
pública e privada do SUAS.
5 Se sim, informe como a fiscalização é realizada:
Por meio de visitas e análise
de relatórios
6 O conselho tem planejamento das fiscalizações
realizadas anualmente?
Não, as fiscalizações são
realizadas mediante denúncia
7
Quando solicitado pelo Conselho é disponibilizado,
pelo Fundo Municipal de Assistência Social,
informação detalhada e, se necessário, documentação
sobre as despesas realizadas pelo referido Fundo? Sim
8
Com que frequência o gestor apresenta ao Conselho o
relatório de aplicação dos recursos dos Fundos de
Assistência Social? Anualmente
9 O Conselho aprecia e emite parecer sobre o Plano de
Ação Municipal? Não
10
O Conselho aprecia e emite parecer sobre o
Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-
financeiro (prestação de contas)? Sim
135
11
O Conselho aprecia e emite parecer sobre os relatórios
de atividades e de execução financeira dos recursos do
Fundo de Assistência Social? Não
12 O Conselho delibera sobre os critérios de repasse de
recursos para entidades? Não
13
O Conselho já regulamentou por meio de resolução
própria os Benefícios Eventuais concedidos no âmbito
da Assistência Social? (Decreto 6307/2007 e
Resolução 39/2010) Não
14 O Conselho é a instância de Controle Social do Bolsa
Família? Sim
15 O Conselho fiscaliza e acompanha a execução do
Programa Bolsa Família? Não
16
O Conselho acompanha os processos de pactuação da
Comissão Intergestora Bipartite - CIB e Comissão
Intergestora Tripartite - CIT? Não
17 O conselho conhece e acompanha o cumprimento do
Plano Decenal da Assistência Social?
O conselho conhece, mas não
acompanha o cumprimento
do Plano Decenal
18 Com que frequência o conselho recebe denúncia? Anualmente
19
Com que frequência o conselho realiza reuniões
ampliadas (com participação, também, de membros da
sociedade civil que não sejam conselheiros)? Mensalmente
20
Com que frequência o conselho realiza reuniões
descentralizadas (realizadas em
bairros/distritos/municípios, fora da sede do conselho)? Nunca
21 Com que frequência o conselho realiza ações de
mobilidade social? Nunca
22 Com que frequência o conselho realiza visitas nas
unidades da rede socioassistencial? Mensalmente
23 Com que frequência o conselho acompanha
votações/discussões do Poder Legislativo local? Anualmente
24
O Conselho regulamentou, por meio de resolução
própria, a inscrição das entidades e organizações de
assistência social, bem como dos serviços, programas,
projetos e benefícios socioassistenciais? Não
25
O Conselho já estabeleceu, por meio de resolução, o
Plano de Acompanhamento e Fiscalização, das
entidades e organizações de assistência social, bem
como dos serviços, programas, projetos e benefícios
socioassistenciais inscritos, com os respectivos
critérios? Não
26
O Conselho acompanha a execução dos Planos de
Ação apresentados pelas entidades e organizações de
assistência social, bem como dos serviços, programas,
projetos e benefícios socioassistenciais inscritas no
conselho? Não
136
27
O Conselho acompanha o cumprimento das
deliberações da Conferência Municipal de Assistência
Social de 2012? Sim
28 No ano de 2012, os conselheiros fizeram algum curso
de capacitação presencial para auxílio de sua função? Não
29 No ano de 2012, os conselheiros fizeram algum curso
de capacitação à distância para auxílio de sua função? Não
Fonte: Censo SUAS 2013 – Elaboração própria.
Essas questões perpassam de modo significativo a efetivação da
implementação da política de assistência social em âmbito municipal. Todavia,
quando se analisa as atribuições do CMAS, estabelecido em lei de regulamentação
própria, verifica-se que o mesmo poderia ir além destas questões que estão postas
e chegam de maneira canalizada as pautas de discussões.
Conforme leitura e análise das atas observou-se que muitos diálogos foram
construídos devido à obrigatoriedade dos órgãos regulatórios, que exigiam a
ciência/aprovação do conselho municipal no que se refere a alguns assuntos.
Portanto, faz-se necessário que o mesmo reveja a maneira como tem construído
suas ações, permitindo que elas ultrapassem os limites institucionalizados.
Destarte, compreende-se que o controle social exercido é pautado em
direcionamentos normativos. Assim, parte-se do pressuposto, de acordo Alves e
Almeida (2013), de que seja atribuição do conselho fazer o acompanhamento da
gestão da Política de Assistência Social em diversos instrumentos, tais como o
Plano Plurianual, a destinação dos recursos financeiros e o modo como tem sido
implementado. Ainda é competência do mesmo propiciar que a rede
socioassistencial ofereça serviços, programas, projetos e benefícios pautados
numa perspectiva qualitativa.
A Resolução CNAS nº 237/2006 que estabelece as diretrizes para a estruturação,
reformulação e funcionamento dos Conselhos de Assistência Social, define o
controle social como o exercício democrático de acompanhamento da gestão bem
como de avaliação da Política de Assistência Social, do Plano Plurianual de
Assistência Social e dos recursos financeiros destinados a sua implementação. É
previsto ainda que uma das formas de exercício desse controle é zelar pela
ampliação e qualidade da rede de serviços sócio-assistenciais para todos os
destinatários da Política no âmbito de atuação destes conselhos (Alves & Almeida,
2013, p. 149).
137
Frente a isso, compreendendo que o Controle Social exercido através dos
Conselhos Municipais de Assistência Social deve colaborar para a criação de
estratégias naquilo que referencia, é de suma importância elucidar, de acordo
Trajano e Ramalho (2011, p. 2) que frente a isso, eles devem ter como norte que
“sua função é atuar na formulação de estratégias e no controle da execução da
política de assistência, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros” haja vista
que o controle social presume a participação da população na gestão pública, de
modo a propiciar o acompanhamento, a avaliação e a fiscalização, assegurando
que os interesses da sociedade sejam garantidos.
Entretanto, embora algumas das questões elucidadas no quadro acima
estivessem presentes no planejamento do CMAS, verifica-se o descumprimento
do planejamento estabelecido em algumas deliberações. Um dos exemplos a ser
citado diz respeito à realização de reuniões descentralizadas (em
bairros/distritos/municípios, fora da sede do conselho).
Logo depois, Adiel apresentou a proposta de calendário de reuniões para dois mil e
treze, inclusive com três previsões de reuniões descentralizadas (nos territórios dos
CRAS), além do recesso em janeiro e das recomendações da conferência e pré-
conferência, o qual foi aprovado na íntegra por todos os presentes (Ata n.º 188).
Desse modo, entende-se que os conselhos, por serem responsáveis pela
aglutinação de diversas representações e interesses, deve partir do pressuposto de
qual é a sua função na sociedade. Assim, o conselho deve ser visto como o espaço
que está sempre atuando para a melhoria do Sistema Único de Assistência Social,
promovendo o debate, realizando fiscalizações e sendo um órgão de referência
para a execução da política e por isso deve possuir um planejamento contínuo,
organizado e sistemático, para que o que foi pensado não fique no plano das
ideias, sem possibilidades reais de concretização.103
Por conseguinte, no que tange a comunicação, o índice representado não se
diz tão significativo, tendo em vista que representou apenas 3% das atas
analisadas, entretanto as pautas demonstram-se de suma importância, já que diz
respeito a resposta da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social sobre
indagações feitas pelo CMAS e acerca de ofício enviado ao Ministério Público.
103 Durante a análise de todas as atas relativas ao exercício 2013, não fora observada nenhuma das
mesmas sendo realizada nos territórios do CRAS, como deliberado em plenária. O acesso a este
planejamento fora solicitado pela pesquisadora, porém não obtido êxito em resposta.
138
Apesar do índice pequeno, verifica-se a importância destas pautas, tendo em vista
que elas demonstram ações que vislumbram o papel fiscalizatório do conselho
frente à política de assistência social.
Entende-se que o CMAS, apesar de ainda em menor grau e restrito a alguns
casos, possui o papel importante que contribui para que seja intensificada a
necessidade da efetiva participação dos sujeitos, tornando-se protagonistas
naquilo que objetivam.
Nesse sentido e sobretudo nas atas iniciais, observou-se uma busca de que o
conselho estivesse à frente de mecanismos que “cobrassem” do poder público
uma maior resolutividade às questões que são postas. Em um grau maior de
cobrança por parte dos membros da sociedade civil, verificou-se indagações que
condiziam com a postura necessária para o real cumprimento do papel de
conselheiro municipal, com especificidades que emergem em cena a efetivação do
SUAS. Assim, destacam-se os seguintes registros, analisados em ata:
- Sobre a necessidade de efetivação dos trabalhadores do SUAS
[..] Após discussão, foi colocada em apreciação proposta de recomendação para a
Secretaria de Desenvolvimento Social realizar concurso público para compor o
quadro de recursos humanos do SUAS, ou considerar o concurso em vigência, ou
fazer processo seletivo com provas e títulos, de forma democrática e transparente.
A conselheira Rosilene, que está a frente da seccional do Conselho Regional de
Serviço Social – CRESS, informou de reunião com representantes do Ministério
Público e da secretaria de desenvolvimento social, ocasião que foi discutido sobre
processo seletivo acompanhado pelo Ministério Público. Érica lembrou da urgência
desses trâmites pois em janeiro entrarão outros funcionários. Foi colocado em
votação a proposta desta recomendação ao município com cópia para o Ministério
Público, a qual foi aprovada por unanimidade (Ata n.º 188).
- Sobre o repasse financeiro a entidades sem o prévio conhecimento e
deliberação do CMAS
Passando-se para o próximo pontos de pauta, foi levado ao conhecimento do
CMAS projeto de lei do executivo que tinha por objetivo repassar recursos a
entidades “de assistência” nos termos do projeto, via Secretaria de
Desenvolvimento Social, inclusive algumas delas sequer eram inscritas junto ao
CMAS. Franciely lembrou que não ficou claro se o recurso era proveniente do
FMAS, apesar de ser via Secretaria de Desenvolvimento Social, pois o referido
fundo é gerido pelo órgão gestor e controlado e fiscalizado pelo CMAS(conforme
previsão da NOB), porém este órgão não foi consultado sobre a matéria. Ademais,
não ficou claro o critério de escolha das quatro entidades, pois o ideal seria edital
público, possibilitando à todas as entidades devidamente inscritas concorrem.
Deve-se ressaltar para a Secretaria de Fazenda também, para fins de
isenção/imunidade, que o reconhecimento público de entidades como de assistência
139
social é a inscrição no CMAS. O presidente sugeriu carta de repúdio à prefeitura
por não comunicar ao CMAS sobre esses repasses e por não divulgar critérios de
escolha das entidades, o que seria a forma mais democrática e transparente, e ainda
solicitar que esses repasses não sejam realizados. A conselheira Nasta Hanna falou
que participou de reunião com entidades e que coincidentemente todas as entidades
que pleiteavam subvenção tinham ligação com vereadores, e duas tiveram o
repasse aprovado pela Câmara – Ademoc e Projeto Presente, respectivamente de
cento e oito mil reais e sessenta e cinco mil reais (Ata 192).
***
A assistente social do CMAS Erika Veloso colocou que qualquer entidade que
oferte serviços, programas, projetos ou benefícios socioassistenciais, e que seja
reconhecida como entidade de Assistência Social quando receber recurso público,
seja Federal, Estadual ou municipal tem que ser depositado no Fundo Municipal de
Assistência Social, para que o CMAS acompanhe e fiscalize a aplicação desse
recurso. Quando o município enviou o projeto para a câmara de vereadores sem
que CMAS tivesse ciência, privou de cumprir seu papel de controle social. A
conselheira Beatrice comentou que a carta de repúdio foi até branda, pois
deveríamos ser mais incisivos em relação ao repasse de recurso. A conselheira
Grace colocou que o acompanhamento de repasse de recurso do fundo para fundo
deve ser aprovada pelo conselho (Ata 193)
- Resposta ao oficio que foi encaminhado pelo conselho sobre o
impedimento da instancia de controle social do programa Bolsa Família
não ter acesso ao sistema SIBEC.
Em seguida Erika leu o documento do Ministério Público em resposta ao oficio que
foi encaminhado pelo conselho sobre o impedimento da instancia de controle social
do programa Bolsa Família não ter acesso ao sistema SIBEC (Ata n.º 201).
Já os relatórios de gestão correspondem a 4%, alavancando índice similar a
comunicação. Esses relatórios são apresentados correntemente ao conselho, para a
aprovação por parte do mesmo, tendo em vista a exigência para o recebimento de
valores orçamentários. Nas discussões apresentadas, verificou-se a recorrência de
assuntos ligados à reprogramação do recurso do cofinanciamento do governo
federal, a apresentação do demonstrativo sintético da execução financeira no ano
de 2012 e a apresentação do demonstrativo anual físico financeira da execução da
receita e da despesa – ano 2012 cofinanciado pelo Estado.
Em complemento a isso, observa-se a porcentagem de 12% referente aos
relatórios dos serviços co-financiados, que envolvem a discussão sobre a
apresentação dos relatórios dos serviços co-financiados pelo Estado de Minas
sendo eles: Serviço de Acolhimento ao Migrante; Serviço de Acolhimento
Institucional; Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora; Serviço de
Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes de 06 a 15 anos e serviço
de abordagem social.
140
Em relação a apresentação desses relatórios – tanto o de gestão quanto o dos
serviços co-financiados – verificou-se que o conselho tem papel de suma
importância neste debate. Embora muitas vezes observou-se, na leitura das atas, a
presença de falas que possibilitavam o processo fiscalizatório, percebe-se que o
conselho ficava direcionado sobre o trabalho da Comissão que analisava os
relatórios, não havendo, portanto, diálogos profícuos que buscavam compreender
a maneira que os recursos estavam sendo aplicados na política de assistência
social.
Compreende-se que a gestão financeira da política de Assistência Social se
consolida via os Fundos de Assistência Social, nos quais há as partilhas dos
recursos conformes critérios estabelecidos. Desse modo, a comprovação dos
gastos é aprovado pelos Conselhos de Assistência Social em sua jurisdição de
atuação, sendo competência dos mesmos a orientação, o controle e a fiscalização
do gerenciamento, via resoluções que se relacionam com a elaboração da proposta
orçamentária, tendo com norte os critérios de partilha, o modo de aplicação e a
execução financeira que serão efetuados pelo órgão gestor da política de
Assistência Social.
Neste sentido, é necessário que sejam feitos os acompanhamentos, de modo
a avaliar e fiscalizar os recursos para que sejam aferidos os ganhos sociais que os
investimentos tem possibilitado a Rede Socioassistencial do SUAS, seja em seus
serviços e/ou programas, projetos e benefícios. Entretanto, conforme demonstrado
no Quadro 3 anteriormente citado, o Conselho não deliberou sobre a atual
proposta de orçamento do executivo para o ano de 2013 e nem apreciou e emitiu
parecer sobre os relatórios de atividades e de execução financeira dos recursos do
Fundo de Assistência Social.
Além disso, não houve a deliberação acerca dos critérios de repasse de
recursos para entidades, como já fora demonstrado anteriormente, sendo objetivo
de repúdio dos conselheiros municipais do CMAS de Montes Claros. Todavia,
observa-se, nos dados advindos do Censo SUAS que o Conselho aprecia e emite
parecer sobre o Demonstrativo Sintético Anual da Execução Físico-financeira, ou
em outros termos, da prestação de contas. Nessa direção, no que diz respeito aos
relatórios mensais dos Serviços co-financiados, verificou-se que estes são
analisados e apresentados pela Comissão de Gerenciamento do Fundo, conforme
elencado no registro abaixo:
141
Considerando a pauta, o presidente Adiel solicitou à Comissão permanente de
Gerenciamento do Fundo Municipal de Assistência Social – FMAS apresentasse à
plenária sua análise no que tange ao relatório físico e financeiro da aplicação dos
recursos repassados pelo Estado de Minas Gerais, tendo como referência o mês de
novembro (Ata n.º 188).
Frente a isso, fora possível distinguir – em quase todas as atas que
dispuseram sobre o assunto, que a comissão analisa os dados e repassa aos
conselheiros planilhas com a disposição dos gastos, para que o entendimento seja
possibilitado, de modo didático, conforme disposto abaixo:
Para melhor entendimento, foi entregue aos conselheiros planilha impressa
contendo o público alvo, previsão de repasse, saldo anterior, recurso transferido
pelo Fundo Estadual, recurso financeiro gasto no mês, rendimento, saldo atual,
execução física, meta pactuada e meta executada (IDEM).
Entretanto, observa-se que – de modo positivo – o conselho tem se
posicionado quando há divergências em valores e ou indicadores que dificultam o
entendimento acerca do assunto.
A conselheira representante da comissão, Solange Santos pontuou que a
comissão encontrou duas divergências nos documentos apresentados,
havendo erros de digitação em relação aos dados do empenho dos serviços
de abordagem social e serviço de acolhimento institucional. Assim,
aprovaram as contas com ressalva. (Ata n.º 188)
***
A conselheira Lourdes de Fátima questionou sobre gasto elevado relativo a compra
em comercial de nome “DUBOI”, empresa que vende produtos agropecuários. A
conselheira Solange explicou que a comissão indagou também sobre isso, sendo
explicado que se trata de compra de protetor solar. Após calorosa discussão, Lúcio
informou que as compras são anuais. Karla Silveira colocou que são destinados ao
serviço de abordagem social, sendo duas equipes, uma pela manhã outra pela tarde.
O conselheiro Wladimir entende que apesar do valor, é justificável, pelo número de
pessoas que compõe a equipe. (Ata n.º 189)
***
A conselheira Grace colocou que a comissão reuniu no dia nove de maio, porém a
prestação de contas não foi aprovada pela comissão, uma vez que a contabilidade
não lançou os empenhos por problemas na mudança do sistema; tinham apenas
extratos e rendimentos. Foi sugerido pela própria comissão reunião extraordinária
para apreciar esta prestação de contas. (Ata n.º 194)
142
No que concerne aos relatórios financeiros, verificou-se que os assuntos
estiveram relacionados à reprogramação dos recursos, bem como a apresentação
do demonstrativo sintético de execução financeira no ano de 2012 e a
apresentação do demonstrativo anual físico financeira da execução da receita e da
despesa-ano co-financiado pelo Estado. Importante entender que a Política
Nacional de Assistência Social articula três eixos norteadores, ou seja, a gestão, o
financiamento e o controle social. Neste sentido, importante elucidar que
O financiamento da Assistência Social foi marcado historicamente pela não
obrigatoriedade da inclusão orçamentária e indicação legal das fontes de recursos;
inexistência de critérios claros e transparentes para distribuição dos recursos entre
estados e municípios e entre os programas implementados; impossibilidade de se
fazer o acompanhamento e o controle do fluxo dos recursos aplicados, em prejuízo
da transparência administrativa; inexistência de um fundo específico para a área;
pulverização financeira dos recursos diluídos entre diferentes órgãos de um mesmo
nível de governo e sua consequente obscuridade e pelo andamento da liberação
destes recursos à vontade política dos governos e às incertezas da conjuntura
econômica (MDS, 2009, p. 89).
Nesse sentido, o financiamento deve ter como norte e referência o Sistema
Único de Assistência Social, em seu caráter descentralizado e participativo, com
base nas diretrizes que são colocadas e estabelecidas, sobretudo pela Política
Nacional de Assistência Social – PNAS, propiciando que o desenho institucional
seja contrário a direção historicamente efetuada de segmentação, fragmentação e
focalização. Na perspectiva de Yazbek (2004) é necessário considerar aquilo que
referencia as demandas do território e das famílias nas quais as ações
socioassistenciais estão inseridas.
Portanto, é compreensível que as demandas que norteiam o financiamento
das práticas socioassistenciais estejam pautadas nas discussões realizadas em
conferências e nos conselhos municipais. Entretanto, conforme análise do quadro
3, é possível aferir que os CMAS de Montes Claros não tem contribuído para a
elucidação desses elementos e configurações do orçamento da política de
assistência social no município.
Na análise das atas, fora possível identificar que a atuação do CMAS, no
que tange aos relatórios financeiros supracitados, correlacionaram nos seguintes
direcionamentos.
143
Seguindo para o próximo ponto de pauta a Comissão de prestação de contas,
apresentou os relatórios dos serviços cofinanciados pelo Estado de Minas – meses
de maio/junho/julho de 2013 com parecer favorável a constar os valores. Relatórios
provado por unanimidade (Ata n.º 202).
***
A secretária executiva Erika informou que o demonstrativo sintético da execução
físico financeira exercício 2012 do cofinanciamento estadual seria apreciada na
próxima reunião extraordinária do CMAS. A conselheira Simone colocou que os
sistemas estão conflitantes e não estão conseguindo fechar a prestação de contas
(Ata n.º 203)
***
Em seguida o presidente do CMAS Adiel Elias colocou que os relatórios do
cofinanciamento do Estadual meses agosto, setembro e outubro passaram pela
avaliação da comissão temática de fundo e que foi enviado aos conselheiros
antecipadamente. Após apresentação da comissão os relatórios foram aprovados
por unanimidade. Logo após o Assessor Financeiro Lúcio Patrus juntamente com a
conselheira Grace Aparecida apresentou a retificação do Demonstrativo Anual
Físico Financeira da Execução da Receita e da Despesa – ano de 2012 cofinanciado
pelo governo do Estadual (Ata n.º 205).
***
Logo em seguida a secretaria executiva Erika proferiu a leitura das perguntas com
as respostas elaborada pela comissão referente ao demonstrativo. O conselho
deliberou favoravelmente todas respostas contudo observou-se que os serviços,
programas e projetos foram ofertados precariamente tendo em vista o período
eleitoral e falta de profissionais efetivos, comprometendo a qualidade do que é
ofertado ao público do Sistema Único de Assistência Social (Ata n.º 205).
Entretanto, importante ressaltar que apesar da aprovação do Conselho
acerca dos relatórios financeiros, verificou-se a morosidade no processo, já que
muitas vezes as pautas eram deixadas para reuniões posteriores, como observado
abaixo:
Prosseguindo a reunião a secretária executiva do CMAS Erika Veloso justificou a
não apresentação do demonstrativo sintético da execução físico financeira,
colocando que o conselho tem prazo até trinta (30) de outubro de 2013 e o
município até 30 de setembro para encaminhar ao cmas para análise. Dessa forma a
comissão permanente de gerenciamento do fundo municipal de assistência social
terá tempo posterior a esta reunião para estudá-lo (Ata n.º 201)
***
A secretária executiva Erika informou que o demonstrativo sintético da
execução físico financeira exercício 2012 do cofinanciamento estadual seria
apreciada na próxima reunião extraordinária do CMAS. A conselheira
Simone colocou que os sistemas estão conflitantes e não estão conseguindo
fechar a prestação de contas (Ata n.º 203).
144
Assim, entende-se que apesar do cumprimento da atribuição de analisar o
orçamento, verifica-se que o CMAS tem tido uma posição apática em relação ao
processo que se torna elementar a efetivação do SUAS, dado a necessidade de
financiamento para que a rede socioassistencial de fato se efetive na direção que é
necessária. Através da leitura das atas, compreende-se que a aprovação dos
relatórios financeiros tem sido efetuadas, sem discussões e se planejamento, que
sejam pertinentes ao controle social exercido.
Embora se presuma a competência da Comissão que os analisa, faz-se
imprescindível que outras ações sejam pautadas, tais como visita in lócus,
questionamentos a fundo sobre os gastos, a qualidade dos serviços, programas,
projetos e benefícios ofertados. O mero protocolo de aprovação não garante que
sejam estabelecidos mecanismos tangenciais aos objetivos que o SUAS se propõe.
Essa ausência de planejamento acerca da dimensão financeira da política de
assistência social representa a noção de que a gestão da política não tem sido feita
de modo compartilhando, construído em bases democráticas e em um diálogo
constante de formulação e reformulação das suas ações. É importante
compreender que o CMAS tem um papel de suma importância para contribuir a
garantia de direitos e ausentando-se do debate o mesmo não cumpre com as
responsabilidades que foram colocadas ao mesmo, fruto de discussões coletivas.
Para além de um simples protocolo, com o objetivo da comprovação dos
gastos do orçamento/recursos, é preciso compreender a necessidade de que sejam
buscadas estratégias para a otimização destes gastos, numa perspectiva de
garantias efetivas dos direitos sociais e a execução dos programas, projetos,
serviços e benefícios da Assistência Social.
Por fim, compreendendo que os índices supracitados correspondem à
aglomeração de pautas, utilizados pela pesquisadora para mensurar as principais
intervenções no que diz respeito ao papel que o Conselho Municipal de Montes
Claros tem exercido no controle social, nesta cidade norte-mineira, verificou-se o
percentual de 22% relacionados aos assuntos gerais.
Esses assuntos gerais estavam relacionados a avisos genéricos sobre
questões que envolviam diversos debates, desde realização de eventos a
participação dos conselheiros em atividades externas ao CMAS e sua função.
145
Optou-se por aglutiná-los para demonstrar o espaço que estes assuntos tem
ocupado nas pautas, estando presente em todas as atas analisadas. Entretanto,
compreende-se que estes possuem apenas função informativa, não acarretando
prejuízos ao papel que o conselho deve executar.
É importante ter como norte de discussão que a efetivação do Controle
Social na Política de Assistência Social representa uma conquista histórica dos
movimentos sociais e, dado a isso, é elementar a efetivação dos direitos sociais
dos sujeitos que vivenciam em seu cotidiano situações que remetem a mazela
social e a ausência de comprometimento do Estado com as políticas sociais.
Assim, torna-se indispensável que as práticas sociais sejam repensadas com
buscas a compreender o papel desta esfera pública, propiciando que a mesma seja
um espaço elementar na busca pela valorização da cidadania, elucidada naquilo
que diz respeito aos objetivos propostos nos elementos normativos que
direcionam as suas práticas, sendo, portanto, um espaço que vivencia limites e
possibilidades, mas que os constrói e reconstrói no cotidiano do diálogo e da
democracia da participação política, na busca de indicadores que representem a
efetividade das práticas sociais ora construídas.
146
5 Considerações Finais
A investigação realizada neste estudo, através da interação de aspectos
teóricos e empíricos, buscou trazer ao debate questões que perpassam a
constituição da política de assistência social brasileira, de modo direto ligado aos
conselhos municipais de assistência social, compreendendo que este é parte
constituinte do modo pelo qual a política se executa no cotidiano dos sujeitos.
Desse modo, a aproximação relacionada ao objeto de estudo permitiu aferir
questões que carecem e necessitam de reflexões, a partir da análise crítica dos
dados e percepções. Importante ter em mente que as transformações pela qual o
Estado brasileiro passou, ao longo do seu período de constituição histórica,
trouxeram diferentes demandas que rebatem diretamente no modo pelo qual é
feito e executado a política social brasileira e os aspectos relacionados a ela. Cabe
aqui destacar o processo de redemocratização elencado pela promulgação da
Constituição Federal de 1988, que demarca aspectos democráticas que contribuem
para perspectivas de garantias de direitos.
Frente ao que este estudo se propôs a discutir, chega-se a difícil missão de
elencar as considerações finais acerca do objeto aqui investigado. Compreende-se
que o leque de questões da política de assistência por si só abarca e trazem
diferentes vertentes que tencionam e harmonizam ainda mais o debate, tendo em
vista o seu processo contraditório de formação e constituição enquanto política
pública, de direito do cidadão e dever do Estado.
Nesse sentido, através da articulação de questões teóricas e empíricas, pode-
se relacionar, neste trabalho, aspectos ligados tanto a constituição e formulação da
política de assistência social, bem como questões inerentes a aspectos
relacionados à gestão desta, aqui representados pelos conselhos gestores de
políticas – especificamente os de assistência social – em âmbito municipal.
Cabe destacar que o presente estudo buscou centrar em aspectos que
permitissem o vislumbramento do suporte necessário a entender o debate que ele
se propôs a realizar. Dessa maneira, o aporte teórico foi fundamental, pois
permitiu compreender que a relação entre Estado e Sociedade perpassou – desde
sempre – por aspectos contraditórios. Entretanto, na contemporaneidade tem sido
147
demarcada por relações democráticas, substanciadas em instrumentos normativos
que direcionam o seu processo de execução e implementação.
Parte-se da ideia dos conselhos enquanto esfera pública democrática, que
pressupõe a ação dos sujeitos para que ela se efetive frente aos objetivos postos a
mesma. Entretanto, compreende-se que o processo pelo qual o Estado brasileiro se
constituiu, trouxe rebatimentos às políticas sociais que lidam diretamente com as
expressões da questão social, tendo em vista o viés autoritário pelo qual ele
formou. Como foram verificadas, as mudanças sociais promovidas no processo de
constituição da sociedade burguesa, no Brasil, estiveram pautadas em
transformações que ocorriam pelo alto, sem promover mudanças na base da
sociedade.
Dessa maneira, entende-se que atualmente, embora os sujeitos sociais
estejam submetidos à ordem do capital - que tem imposto a redução da garantia de
direitos e a necessidade de se travar lutas sociais – é possível verificar o esboço de
uma política de assistência social capaz de legitimar direitos, na perspectiva pela
qual ela se constitui, apesar de todo seu ranço histórico. Através dos elementos
que regulamentam a política é possível conceber um novo desenho para a mesma,
reafirmando o seu caráter não contributivo, de direito do cidadão e dever do
Estado, que atua em uma perspectiva intersetorial, de maneira a promover que os
indivíduos tenham suas necessidades sociais básicas garantidas.
Todavia, frente ao contexto de desmoronamento do papel do Estado em
prover direitos aos sujeitos, esta pesquisa vem somar para demonstrar as carências
de reflexão e a necessidade de repensar as práticas dos sujeitos que foram aqui
instrumento de análise, pois se compreende que os conselhos de assistência social
são demarcados por uma série de possibilidades que contribuem para evidenciá-lo
enquanto um espaço pautado no protagonismo das ações, já que o mesmo possui
um caráter deliberativo, aglomerado de representação de interesses de modo
paritário, através do compartilhamento da gestão entre o Estado e a sociedade
civil. Entretanto, embora se compreenda a importância dos conselhos, frente ao
processo de garantia de direitos, entende-se, a partir desta pesquisa, a necessidade
de repensar as práticas na direção daquilo pelo qual ele se propõe a executar.
Importante entender que apesar de todo o avanço constitucional e
legislacional da política de Assistência Social – na qual os conselhos representam
papel fundamental – é necessário colocar em discussão o direcionamento pelo
148
qual se deseja construir outro tipo de sociedade, já que o atual cenário tem
norteado e demonstrado o norteamento da garantia de direitos, impondo aspectos
necessários e urgentes aos sujeitos que participam do processo de construção das
políticas sociais e que compreendem a importância do exercício do protagonismo
social para garantir que as desigualdades sociais sejam minimizadas, frente a
avalanche neoliberal que se impõe ao Estado, atualmente.
Cabe aqui ressaltar que os conselhos de assistência social, ao se
constituírem enquanto espaço de gestão da política, configuram-se como uma
esfera privilegiada, sobretudo no processo de propiciar elementos ao seu real
funcionamento. Assim sendo, este estudo, ao se propor analisar a gestão do
Conselho Municipal de Assistência Social de Montes Claros/MG esteve
emoldurado em questões que permitiram entender a sua dinâmica de
funcionamento, sintetizadas na observação de que a gestão pesquisada ainda
carece de aspectos que não permitem a efetivação do controle social assistência
social, para além de um mero formalismo e cumprimento de protocolos de
funções.
A gestão analisada (frente ao período estudado) ainda esbarra nos limites de
exercer o controle social de acordo o preconizado pela Lei Orgânica da
Assistência Social e a Política Nacional de Assistência Social, tendo em vista que
tem exercido um processo de mero cumprimento de protocolo, não indo além nos
aspectos essenciais para consolidar a assistência social enquanto direito do
cidadão e dever do Estado.
Observa-se que apesar de toda organicidade da estrutura do CMAS, tais
como regularidade de reuniões, presença de secretaria executiva, agenda de
reuniões pré-estabelecida, planejamento anual, ele ainda tem-se esbarrado em
limites concretos, que determinam suas ações incipientes. Cabe destacar que isso
contribui para olhares que desvirtuam a política de assistência social enquanto
direito do cidadão, tendo em vista que há a desresponsabilização do conselho no
que diz respeito ao seu real papel.
Percebe-se que a estrutura do conselho tem servido apenas como suporte
necessário a aprovação de entidades e prestação de contas dos recursos
orçamentários destinados a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, para
que ela possa executar os serviços, programas, projetos e benefícios pertinentes a
política de assistência social municipal. Entretanto, verifica-se que a estrutura
149
material, física e pessoal do conselho compromete o controle social exercido,
tendo em vista os parcos investimentos que são feitos no mesmo. Isso reflete
acerca dos investimentos feitos nas políticas sociais, na contemporaneidade.
Dessa maneira, ele se limita a resolução de aspectos burocráticos, em
detrimento a intervenções que contribuam para a melhoria da efetividade de
assistência social. Essa limitação burocrática impede que aspectos pertinentes,
como por exemplo, a lei de criação do CMAS de Montes Claros seja revista,
possibilitando que a representação da sociedade civil esteja para além de
determinados segmentos.
Cabe ressaltar que apesar da formação teórica dos conselheiros - tendo em
vista que os dados apontaram para uma maior incidência de conselheiros com
nível superior completo - verificou-se, na análise das atas, que o modo pelo qual é
exercido o controle social, não está calcado em capacitações aqueles que
representam os interesses da sociedade.
Assim, a ausência da dimensão teórico-prática, teórico-metodológica e
técnico-operativa por parte dos conselheiros, tem se configurado enquanto um
impeditivo as questões que são pertinentes ao debate, tendo em vista que durante
o período analisado os conselheiros não passaram por nenhum processo de
capacitação. Portanto, faz-se de suma importância que todas as gestões passem
por um curso de alinhamento e capacitação, para além da simples dimensão
informativa do que é ser conselheiro. É necessário que questões inerentes à
política de assistência social sejam repassadas e refletidas, de modo a contribuir
para a constituição do debate qualitativo.
Durante a pesquisa verificou-se que o CMAS de Montes Claros possui
fragilidades no aspecto de propiciar a dimensão política deste espaço de controle
social, tendo em vista a incipiente relação entre o Ministério Público e o
Legislativo local. Parte-se do ponto de vista que esta relação permite o
fortalecimento da cultura democrática e do controle social, de extrema
importância e necessidade.
Dentro dessa linha de pensamento, critica-se aqui também, a ausência do
funcionamento das comissões temáticas. Entende-se que seja de suma importância
que as mesmas tragam contribuições aos debates pertinentes à assistência social.
Porém a pesquisa permitiu verificar que apesar de instituída, as mesmas não
possuem regularidade de atividades, ficando comprometido o controle social
150
exercido, pois não se permite in lócus que os conselheiros estejam atentos aos
aspectos necessários, tais como a execução dos serviços, programas, projetos e
benefícios ofertados pela rede socioassistencial de proteção básica e especial. Por
consequência, verifica-se que a fiscalização, do modo como a política é operada
no seu cotidiano, fica comprometida, na direção das legislações que a norteiam.
Ainda na direção do modo pelo qual o conselho se executa, destaca-se que
não foi verificado, na análise de atas, assuntos referentes à conferência para além
do seu processo logístico de organização. Nesse processo, observa-se a
desconexão entre as ações do CMAS e as deliberações presentes na conferência, o
que demonstra a desconectividade entre esses espaços. Essa desconectividade
compromete a política de assistência social e coloca em xeque os direitos dos seus
usuários, já que as conferências constituem espaços de suma importância para
deliberar acerca das diretrizes que norteiam as ações desta política. Portanto, exige
que o conselho repense as suas ações frente aquilo que de fato deve ocorrer.
Frente ao exposto, compreende-se que, durante a gestão analisada, o
Conselho Municipal de Montes Claros esteve permeado por questões que carecem
de análises e que colocam em xeque o modo pelo qual este espaço de controle
social tem desenvolvido seu papel, no tocante a gestão da política de assistência
social em Montes Claros/MG.
Entende-se que o cenário que permite a efetivação da política tem se
construído a partir de avanços. Todavia, é importante analisar que a construção da
garantia de direitos exige constantes afirmações e reafirmações dos cenários que
possibilitam a sua efetivação, tendo em vista que a conjuntura tem sido
atravessada por uma perspectiva de refração dos direitos sociais dos sujeitos.
Desse modo, frente ao exposto, considera-se que o Conselho Municipal de
Montes Claros tem efetivado um tímido controle social da política de assistência
social no município. Conforme verificado na análise do material coletado,
percebe-se que os conselheiros tem sido mero instrumento de aprovação de
pautas, não construindo diálogos que possibilitem a afirmação da política de
assistência social nas diretrizes que são pautadas e na necessidade de constante
formulação e reformulação da sua gestão. Por ser um instrumento de gestão,
analisa-se que o CMAS tem deixado lacunas no controle social, pertinente ao
período analisado, não atuando conforme as legislações que o regulamentam, nem
151
com as deliberações/diretrizes construídas nas conferências municipais de
Assistência Social.
Conforme os dados advindos do Censo SUAS, percebe-se que questões de
suma importância têm sido negligenciadas pelo CMAS-MOC. Questões como a
deliberação do plano de Assistência Social do Município, a implantação da
NOB/SUAS, o plano de ação municipal, a emissão de pareceres e relatórios sobre
a execução financeira do Fundo de Assistência Social, os critérios de repasses de
recursos para entidades, a regulamentação própria dos benefícios eventuais
concedidas no âmbito da assistência social, a fiscalização e acompanhamento da
execução do Programa Bolsa Família, não tem sido acompanhadas e executadas
pelo Conselho em Montes Claros.
Além disso, verifica-se que o acompanhamento dos processos de pactuação
da Comissão Intergestora Bipartite (CIB) e Comissão Intergestora Tripartite
(CIT), o acompanhamento do Plano Decenal da Assistência Social, a realização de
reuniões descentralizadas, fora da sede conselho, ações de mobilidade social, a
regulamentação própria das inscrições das entidades e organizações de assistência
social, bem como o estabelecimento de resolução própria para acompanhamento
de fiscalização das entidades e organizações da assistência social e o cumprimento
dos seus respectivos planos de ação, também tem sido negligenciados por parte do
CMAS. Ainda nessa direção, verificou-se que o conselho não realiza ações de
mobilidade social, o que compromete o princípio de participação social
democrático na esfera pública.
Através do material coletado, foi possível verificar que, de modo inicial, o
conselho tem atuado na realização de fiscalização da rede socioassistencial,
somente através de denúncia. Essa situação compromete o modo pelo qual são
efetivados os serviços socioassistenciais dos municípios. Além disso, tem
restringido suas ações à apreciação e emissão de parecer sobre o demonstrativo
sintético anual da execução físico-financeira e emissão de certificação/inscrição as
entidades socioassistenciais.
De modo geral, compreende-se que o objeto de estudo apresentado
demonstra a persistência de uma cultura política de apatia frente às questões que
perpassam a política de assistência social, tendo em vista que não se tem
configurado como um espaço de controle social efetivo.
152
Frente a isso faz-se importante entender que os conselhos possuem papel
fundamental da constituição de uma esfera pública democrática, tendo em vista
que são canais/instrumentos de comunicação das relações pautadas entre Estado e
Sociedade Civil. Portanto, é necessário que se estimule a ampliação e o
fortalecimento desta instância deliberativa, para além de protocolos estabelecidos.
Por fim, acredita-se que as análises aferidas neste trabalho possibilitarão que
o conselho reveja suas práticas, de modo a se consolidar enquanto um instrumento
de gestão democrática no qual se reconheça a defesa da garantia de direitos como
bandeira principal de intervenção. É necessário que os entraves, dilemas e
dificuldades se transformem em possibilidades de atuação, contribuindo para a
caracterização de uma esfera pública democrática e participativa e que rebate na
criação, ampliação e fortalecimento de outras esferas, de modo a consolidar a
assistência social no viés construído a partir da inserção desta no tripé da
seguridade social.
153
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162
7 Anexos
7.1. Lei de Criação do Conselho Municipal de Montes Claros
163
164
165
166
167
168
169
170
171
7.2. Lei de alteração do Conselho Municipal de Montes Claros
172
173
174
7.3. Regimento Interno
175
176
177
178
179
180
181
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183
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185
186
187
188
7.4. Decreto Lei n.º 525 de 01 de Julho de 1938
189