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Gosto o jeito que você se despe dos costumes, o jeito que assume que o negócio é se arriscar. Eu tinha prometido não ceder à compulsão, mas é uma agressão dizer pra um bicho não caçar. [...] O bom é que depois, o final, é a pequena morte lenta de nós dois. Pitty e Martin (Trecho da Música “Pequena Morte”) Guia de Apresentação A Natureza da Polícia Militar: História e Ecologia Wagner Soares de Lima Orientador: Juracy Marques

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“Gosto o jeito que você se despe dos costumes, o jeito

que assume que o negócio é se arriscar. Eu tinha

prometido não ceder à compulsão, mas é uma agressão

dizer pra um bicho não caçar. [...] O bom é que depois, o

final, é a pequena morte lenta de nós dois”. Pitty e

Martin (Trecho da Música “Pequena Morte”)

Guia de

Apresentação A Natureza da Polícia Militar:

História e Ecologia

Wagner Soares de Lima Orientador: Juracy Marques

GUIA DE APRESENTAÇÃO A NATUREZA DA POLÍCIA MILITAR: HISTÓRIA E ECOLOGIA

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RESUMO

O sistema de segurança pública brasileiro tem se mostrado ineficaz frente aos números

alarmantes da violência e a Polícia Militar, o órgão mais representativo desse sistema, além de

ser copartícipe do insucesso, apresenta um comportamento lesivo às comunidades e aos seus

próprios integrantes. Tendo sido depreendido muitos esforços em prol de mudanças, pergunta-

se: por que a Polícia Militar tanto resiste aos projetos reformuladores? Esta pesquisa teórica,

portanto, em um formato de estudo interdisciplinar aos moldes da Ecologia Humana, de

abordagem sistêmica com objetivos prospectivos, propôs-se apresentar os principais

elementos profundos próprios do modelo institucional policial militar, geradores de resistência

às mudanças organizacionais. Para tanto, recorremos a uma extensa revisão bibliográfica, a

instrumentos como a etnografia digital, a uma análise institucional histórica e, sobretudo, ao

resgate das memórias do autor como ex-nativo da instituição, mediante a autoetnografia. A

partir de uma visão ecológica profunda dialogou-se com múltiplos quadros de referência,

compostos por contribuições destacadamente de Leonardo Boff, Edgar Morin, Gregory Bateson

e Felix Guattari. Mediante o prisma das abordagens de Fritjof Capra, Humberto Maturana e

Niklas Luhmann, passou-se a compreender a organização como um sistema social vivo

portador de uma dinâmica psíquica autônoma, similar à propriedade autopoiética de um

organismo biológico. Munidos de uma sabedoria ecológica aplicada aos estudos

organizacionais (com contribuições de Gareth Morgan, Chris Argyris e Edgar Shein), partiu-se

para a segunda fase, sondando significados ocultos dos símbolos heráldicos utilizados pelas

polícias militares, destacamos três deles: a estrela de cinco pontas, a insígnia e o emblema

institucional. Dois caminhos foram selecionados para a pesquisa: um histórico e outro de

imagens mentais. O caminho histórico sonda as matrizes institucionais da PM, compondo sua

genealogia: a Gendarmaria Nacional francesa, a Guarda Nacional Republicana portuguesa e a

Polícia Militar do exército norte-americano entre outras expressões do mundo colonial

português. O caminho imagético tece analogias que demonstram as relações ecológicas

profundas da instituição. Encontrou-se, portanto, modelos mentais que guardam vínculo com

parcelas funcionais da mente organizacional. Disso desenvolveu-se uma tipologia, não dos

policiais, mas ideológica dos “deuses” guerreiros, para o qual fazemos uso das expressões

mitológicas. Cada grupo de componentes ideológicos ficou associado a uma das quatro

funções psicológicas segundo Jung, estabelecendo a tipologia policial arquetípica guerreira: o

Pai-Zeloso, o Herói, o Aventureiro e o Guerreiro. Através da narrativa da experiência do autor,

revela-se a disputa pela primazia na regência dos destinos institucionais, até então vencida por

expressões agressivas: o guerreiro-caveira e o aventureiro-caçador, constatando a presença

de barreiras mentais, para as quais descrevo meios de como desbloqueá-las. Nas conclusões,

discutimos sobre a viabilidade de reformas e a possível necessidade de extinção da Polícia

Militar e as consequências de sua ausência no ambiente social e propomos uma re-

militarização, como alternativa transitória. Discorremos sobre uma gestão de competências,

bem como explanamos sobre as atitudes necessárias a um ativismo interno, ambos para

desbancar a ideologia hegemônica. Em um desfecho filosófico-espiritual conectamos a

problemática institucional à crise civilizatória da humanidade.

Palavras-chave: Ecologia Humana; Pensamento Sistêmico; Psicologia Analítica; Biologia

Cognitiva; Autoetnografia.

Natureza da Pesquisa Uma pesquisa teórica, de cunho qualitativo, em um formato de estudo interdisciplinar aos moldes da Ecologia Humana, de abordagem sistêmica com objetivos prospectivos. Com duas fases, cada uma com fins específicos: (1) exploração básica e (2) explicação aplicada.

Proposta Estudar os elementos profundos da instituição policial militar brasileira. Elaborar a teoria genética da instituição segundo Adriano Oliveira (2000).

Problematização Qual é o tamanho do problema?

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Jean Claude Chesnais (1999): “Essa evolução é sintoma de uma desintegração social, de um mal-estar coletivo e de um desregramento das instituições públicas [...] No Brasil, a violência, sobretudo urbana, está no centro do dia a dia e ocupa as manchetes dos [...] mais que tudo, assombra as consciências, de tal forma é ameaçadora, recorrente e geradora de um profundo sentimento de insegurança”.

O que nos atesta que há algo de errado? A Letalidade da Polícia Militar e os números da violência nacional. Pelo menos 80% das mortes cometidas por policiais estaduais são resultado de ações de policiais militares. O Brasil registrou mais vítimas de mortes violentas intencionais do que a Guerra civil na Síria, no acumulado de cinco anos. Na Síria, entre março de 2011 e novembro 2015, segundo a ONU (Alto Comissariado para Refugiados/Observatório de DH da Síria), morreram 256.124 pessoas; no Brasil, segundo as edições anteriores do próprio Anuário do FBSP, entre 2011 e 2015, 279.567 pessoas foram assassinadas. Quanto à letalidade policial, pelos números do 10º Anuário, os dados da Saúde tem subnotificação quanto a mortes decorrentes de intervenções policiais. Pois enquanto o Datasus registrou 942 vítimas, o Anuário coletou dados e somou 3.320 mortos pela polícia brasileira em 2015, em um aumento progressivo, já que em 2009 tinham sido 2.177. Juntas as polícias estaduais mataram 17.688 pessoas entre 2009 e 2015. Nem todo o Estado dispõe de dados sobre mortos por intervenção policial desagregados por corporação: Polícia Militar e Civil. Por isso das 3.320 mortes, não se sabe quanto realmente é resultado da atividade da PM. Mas se pode comparar alguns números dos Estados que declararam a diferenciação. Por exemplo, segundo a 10ª edição do Anuário do FBSP, em São Paulo, no ano de 2015, as polícias estaduais causaram a morte de 848 pessoas, dessas 580 foram causadas pela ação de policiais militares em serviço. Contudo, 220 ocorreram por policiais militares de folga, não podendo ser consideradas fruto da ação organizacional, mas inseridas no contexto institucional geral, que induz o comportamento policial. Assim chega-se, subtraindo, que apenas 48 de 848 mortes foram causadas por policiais civis em serviço ou de folga. Façamos o mesmo exercício, agora com Alagoas, foram 97 mortes no ano de 2015, sendo 78 por policiais militares e 14 por policiais civis e 5 mortes em operação conjunta. Portanto, entre 80% e 90% das mortes causadas pelas polícias brasileiras, são de responsabilidade da PM, o que dariam do total do ano de 2015, algo em entre 2.600 e 2.900 pessoas mortas somente pela PM. Se usarmos a mesma proporção, em sua menor taxa: 80% e consideramos os mortos por policiais brasileiros em serviço, no ano de 2012, segundo a 7ª edição do Anuário do FBSP , que foram 1.890 (80% = 1.512) e compararmos isso aos dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODOC) referentes ao mesmo ano (Estudo Mundial sobre Homicídios 2013 ); só a Polícia Militar Brasileira, em 2012, teria sido responsável, independente da legitimidade das ações (e excludentes de ilicitude ), por mais mortes do que o total de homicídios de 22 países (Hong Kong, Noruega, Nova Zelândia, Dinamarca, Suiça, Irlanda, Áustria, Suécia, Portugal, Jordânia, Líbano, Holanda, Uruguai, Bósnia e Herzegovina, Timor-Leste, Kuwait, Eslovênia, Áustria, Hungria, Butão, Catar e Singapura). Lembrando que Bósnia e Herzegovina, Timor-Leste e Kuwait foram áreas de confronto bélico no final do século XX e existem brasileiros que pensariam duas vezes antes de ir ao Líbano e à Jordânia se perguntando se lá é seguro. Ora, só uma das polícias do Brasil mata muito mais do que todos os assassinatos da Jordânia (1500 contra 100). Naquele ano de 2012, as mortes violentas intencionais no Brasil, haviam somado 40.974, segundo a UNODOC e 50.062, segundo o Anuário do FBSP. Usando a contagem menor, o Brasil foi onde mais morreram pessoas assassinadas no mundo. A soma dessas pessoas mortas pela violência no país é maior que todos os homicídios da Europa, Oceania, Caribe e Oriente Médio juntos nesse mesmo ano. Pessoas como eu, que estiveram na linha de frente e que guardam boas lembranças e laços afetivos para com a profissão e as pessoas que lá atuam, não conseguem dar conta que 15,6% dos homicídios tinham um policial no gatilho, no ano de 2014, segundo a Anistia Internacional ; ou seja, estamos em guerra. Contra quem? Contra nosso próprio povo. Contra criminosos! Quando se analisa o perfil das vítimas, isso não é totalmente verdade. Seria mais factível dizer,

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estamos matando a parcela mais jovem da população pobre, sobretudo os de sexo masculino. E quem é esse “nós” oculto que conjuga com “estamos”? “Nós”, nesse caso, somos todos da sociedade brasileira. Se isso não é uma guerra, como explicar que no ano base de 2012, Palestina, Israel, Iraque, Síria e Somália, que estavam em meio a conflitos armados e, portanto, tem números de guerras formais, acrescentados dos assassinatos comuns e perfazem a soma juntos de 1.513 mortos. Isso é apenas uma morte a mais do que a Polícia Militar, em todo territótio brasileiro, provocou no mesmo ano. Essas 1.513 mortes em regiões de conflito não são nem 4% de todas as mortes intencionais do Brasil em 2012. Literalmente há uma grande mancha de sangue entre outras menores, no globo terrestre, e a maior delas não está sobre o Oriente Médio, está sobre o Brasil.

Frustração deles Luiz Eduardo Soares, UERJ/Estácio, 2017, Rio de Janeiro: “UPP fracassou porque só

ela não basta [...] não houve nenhuma reforma institucional, e a polícia, infelizmente, é o que é no Rio de Janeiro [...] E as experiências das UPPs foram por água abaixo, e o grande símbolo dessa virada foi o assassinato do Amarildo”.

José Luis Ratton, UFPE, 2016, Pernambuco: “Infelizmente, o Pacto pela Vida morreu [...] o Pacto construiu um mecanismo de governança, que hoje está perdido”.

Glaucíria Mota Brasil, UECE, 2013, Ceará: “Como pesquisadora não me espanta o fracasso do 'Ronda', mas me frustra, como cidadã principalmente, o fato deste ter se tornado 'o mais do mesmo' na política estadual de segurança pública”.

Adriano Oliveira, UFPE, 2000: “O problema é mais complexo do que aquisição de arma

e viatura. As bases institucionais do atual modelo policial não são questionadas internamente”.

(1) Construção de uma teoria genética da Instituição Policial Militar. (2) Não confiar totalmente que a classe detentora do poder interno seja sincera em prol da mudança. (3) O modelo policial militar teve mais de vinte anos para demonstrar sua eficácia na diminuição da criminalidade e contrariamente, permite inclusive o aumento. (4) O modelo não é racional, nem democrático. (5) Não adianta discutir a “aparência” da instituição. (6) Existem duas polícias, dentro de uma nominal: a dos oficiais e das

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praças, sendo apontadas tensões originadas da prática social “arbitrária” por parte dos oficiais. (7) “Autorizados” a atuar livremente apenas no estrato social mais baixo, não atuam de forma contumaz contra uma série de “crimes dos ricos”. (8) Uma mudança das polícias, passa necessariamente por uma mudança na sociedade. (9) É urgente a necessidade de “mergulhar” na instituição, ouvir a “totalidade” dos componentes e construir outro modelo.

Ruth Vasconcelos, UFAL, 2007: [...] é preciso se distanciar das “interpretações simplistas e reducionistas” que produzem respostas do mesmo caráter “a um problema tão complexo e de tão grave magnitude”. Há uma tendência que segue a direção de explicar os problemas da Segurança Pública, a partir das questões relativas ao indivíduo e pela aplicação da Sociologia Clínica e Psicologia Social e não mais somente pelas variáveis estruturais.

Pergunta-problema Mesmo diante de alternativas patentemente mais eficientes, socialmente mais legítimas e moralmente mais plausíveis; por que essas alternativas são rejeitadas pela instituição policial militar?

Decorrências Grupo 1:

O que são instituições? Por que instituições resistem às mudanças? Como elas reproduzem seus padrões organizativos?

Resulta nos capítulos da Parte II | Exploração Básica: Ecologia Humana Integral e Organizações. Grupo 2:

O que é polícia? Como se constituiu o modelo institucional das polícias militares do Brasil? Quais fatores específicos compelem à resistência às mudanças do modelo policial

militar? Resulta nos capítulos da Parte III | Explicação Aplicada: História e Ecologia da Polícia Militar. Papel da Polícia segundo Ivone Costa (2005)

• Papel Atribuído: natureza jurídico-política • Papel Transferido: legitimidade social • Papel Desejado: motivos inconscientes

Pesquisa Teórica Paulo Demo (1985; 2000): “É aquela que monta e desvenda quadros teóricos de referência” Portanto, trata-se de um empreendimento científico dedicado “a reconstruir teoria, conceitos, ideias, ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos”.

Objetivo Geral Apresentar um quadro com os principais elementos da Ecologia Profunda própria do modelo institucional da Polícia Militar Brasileira, geradores de resistência e resiliência às mudanças organizacionais exigidas por pressão social.

Definição do Objeto O aporte teórico da Ecologia Profunda compartilha a ênfase do estudo entre (1) as pessoas membros das organizações e as (2) organizações como ente vivo com (3) as imagens da dimensão mental (cognitiva) dos sistemas sociohumanos, perfazendo três categorias de agentes autônomos, respectivamente da biosfera, sociosfera e noosfera. Essas três categorias aplicadas à Polícia Militar ficam da seguinte forma:

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(1) Pessoas: policiais militares (Biosfera/Sociosfera); (2) Oraganizações: polícias militares estaduais e a distrital no Brasil (Sociosfera); Instituição: Polícia Militar Brasileira (Sociosfera/Noosfera); (3) Expressões idelógicas: que regem a instituição policial militar: modelos mentais e arquétipos (Noosfera);

Figura 1 – Metáfora do “iceberg” difundido por Chiavenato1 baseado na teoria de modelo de

cultura organizacional de Shein2 e seus níveis da cultura organizacional

Elaborado pelo Autor baseado nas seguintes fontes: (1) CHIAVENATO, Idalberto. “Recursos Humanos: O capital humano das organizações”, (2009). (2) SCHEIN, Edgar H. “Guia de sobrevivência da Cultura Corporativa”, (2007).

Quadro 1 – Dimensões ecológicas nas perspectivas pessoais e coletiva.

Perspectiva Pessoal Perspectiva Coletiva

Platão1 Marques2 Guattari3 Boff4 Jung5

Soma Corpo Meio Ambiente Ecologia Ambiental -

Anima Alma

Relações Sociais Ecologia Social Consciente Coletivo

Intersubjetividade Humana

Ecologia Mental

Consciente Pessoal

Inconsciente Pessoal

Noos Espírito Inconsciente Coletivo

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- Ecologia Integral Arquétipo de Si-Mesmo Elaborado pelo Autor com uso das seguintes fontes: (1) Platão. “X”, Ano. (2) MARQUES, Juracy. “Ecologia da Alma”, (2012). (3) GUATTARI, Félix. “As três ecologias”, (1990). Para Guatarri compreendem o mundo da “psique”, do “socius” e do “ambiente”. (4) BOFF, Leonardo. “Uma cosmovisão ecológica: a narrativa atual”, (1995). (5) JUNG, Carl G., “Fundamentos de Psicologia Analítica”. (1996). (6) É importante notar que para Jung, é necessário uma representação esférica, já que o Inconsciente Coletivo revelam um processo de acumulação do acervo evolucional anímico biológico.

Instrumentos metodológicos (metodologias) Pesquisa bibliográfica Pesquisa documental: produção legislativa e fontes estatísticas; as principais fontes foram: a

Câmara dos Deputados, o Senado Federal, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o Exército Brasileiro (pela Inspetoria Geral das Polícias Militares - IGPM) de onde partiu-se para os sites institucionais de cada Corporação estadual e a distrital de polícia militar; o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgãos das Nações Unidas e a União Americana de Liberdades Civis (ACLU).

Autoetnografia Etnografia Digital: (ciberetnografia) como “biblioteca de pessoas” para perscrutar alguns

artefatos da cultura do subgrupo social estudado: logomarcas, brasões, insígnias, trajes, sítios oficiais das organizações institucionalizadas. Bem como representações sociais internas e externas à instituição sobre imagem projetada e autoimagem percebida por meio de produções ficcionais (como filmes, livros e séries de TV), por produções autobiográficas e o destaque das falas de policiais (guardas e familiares) em artigos e relatórios de diagnósticos de autoria de acadêmicos brasileiros, além de matérias jornalísticas.

Mapeamento filogenético e análise histórica institucional

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Imaginização e o Uso de Metáforas Autoetnografia

David Hayano (1979): “Como um antropólogo conduz e escreve etnografias de seu próprio povo?”.

Pesquisa desenvolvida por memórias de seguidas observações participantes assistemáticas, tendo sido a integração com o grupo estudado ocorrida de forma natural; recaptuladas por um processo de simulação de vozes: do etnógrafo e do etnografado, registrado no formato de entrevista escrita, sendo aproveitado na redação final os trechos pertinentes à compreensão e ilustração dos pontos abordados.

Reed-Danahay (1997): pode-se perscrutar o significado do termo em si: autoetnografia, que pode ser desmembrado em: “auto”-“etno”-“grafia”. Portanto, autoetnografia é o resultado escrito de um estudo sobre um grupo de pessoas feito por um membro do próprio grupo.

Stacy Holman Jones, Tony Adams e Carolyn Ellis (2013): “A autoetnografia, que em linhas gerais tem como objetivo requalificar a relação entre objeto e observador, ressaltando a importância desta interação e da experiência pessoal do pesquisador como forma de construção do conhecimento [...] propõe a pesquisa social numa prática ainda menos alienadora, em que o pesquisador não precisa suprimir sua subjetividade”

Etnografia Digital

Etnografia Online; Ciberetnografia; Netnografia; Etnografia Virtual.

Robert KOZINETS (2011): “uma forma especializada de etnografia que utiliza comunicações mediadas por computador como fonte de dados para chegar à compreensão e à representação etnográfica de um fenômeno cultural na Internet”.

Mapeamento filogenético e análise histórica institucional O conceito é de um estudo de processos históricos responsáveis pela distribuição geográfica de indivíduos, explicando a formação e características dos indivíduos das populações atuais (AVISE, 2000). Nesse sentido, que nosso mapeamento quando ampliado e detalhado nas reproduções institucionais mais recentes (últimos 200 anos) nos remetem diretamente a quatro ambientes geográficos: França, Portugal, Brasil e Estados Unidos. Quando o mapeamento é alargado para abranger um maior lapso temporal, tal qual começamos no Paleolítico (há 2,5 milhões de anos), mesmo antes do surgimento do homo sapiens, aí temos uma diversidade sem par de conexões sócio-espaciais. Para propor um mapeamento correlato ao filogenético, sentimos uma forte influência da diagramação de mapeamento genético-espaço-temporal, denominado de filogeográfico (MARTINS E DOMINGUES, 2011), utilizado na pesquisa que detectou os caminhos da disseminação do vírus da Zika no Brasil e no mundo, recentemente publicado na Revista Nature (FARIA et al., 2017). A necessidade de construir tal tipo de ferramenta especificamente para sondar a origem das idiossincrasias da instituição policial militar partiu da proposta de Adriano Oliveira (2002), por “uma teoria genética da instituição”. A primeira referência, para a possibilidade de aplicação de uma ferramenta de evolução genética ao ambiente sócio-organizacional, partiu dos estudos seminais de Hannan e Freeman (2005) sobre ecologia populacional das organizações, nos quais se desloca para a organização (empresa, órgão público etc.) a categoria de análise correlata a “indivíduo”. O agente humano, antes visto como indivíduo fica para fins de interpretação, como uma unidade autônoma que se acopla em grupos no interior dessa organização, ou seja, tal como células. O foco passa para a dinâmica de organizações similares, tratadas como populações. No trabalho de Hannan e Freeman há clara distinção entre a abordagem que visa estudar o processo de seleção natural (ambiente incidindo sobre a população de organismos) e o processo de adaptabilidade (organismos que se mantém ao longo do tempo, desde que consigam encontrar novas estratégias para superar os desafios ambientais); distinguindo entre a competição por recursos (2005) e a aprendizagem organizacional (ARGYRIS e SHÖN, 1978). Imaginização e o Uso de Metáforas “Imaginizar” consiste em um exercício de imaginação ativa orientada por metáforas, assim como sugere Gareth Morgan (2002), para aplicação pela Teoria Organizacional. Constituindo

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uma alternativa às abordagens sociológicas no campo da Administração. Trata-se de uma abordagem interpretativa específica da realidade das organizações por um aporte de uma Teoria Imagética própria, que em muito bebe da psicosociolinguística exercitada por George Lakoff e Mark Johnson (2002).

James Lawley (2007) informa que Gareth Morgan (2002) procura fazer três coisas em sua obra “Imagens da Organização”: (1) Mostrar que muitas das ideias convencionais sobre organização e administração são baseadas num pequeno número de imagens e metáforas tomadas como certas. (2) Explorar algumas metáforas alternativas para criar novas maneiras de pensar sobre organização. (3) Mostrar como usar as metáforas para analisar e diagnosticar problemas e melhorar a administração e design das organizações (LAWLEY, 2007).

Objetivos específicos

(1) Ofertar contribuição conceitual de abordagem ecológica para o estudo organizacional. (2) Modelar uma representação conceitual da evolução histórica das matrizes institucionais da polícia militar. (3) E descrever por analogias, as principais relações ecológicas profundas das organizações estruturadas pelo modelo policial militar.

Justificativa

Relevância Social: Subsídios para um exercício de uma Saúde Coletiva

Gro Harlem Brundtland (Relatório sobre violência e saúde, OMS, 2002): “Em todo o mundo, a violência invade a vida de muitas pessoas e, de alguma maneira, toca a todos nós [...] E, para aqueles que vivem no meio de guerras e conflitos, a violência permeia todos os aspectos da vida”.

A Polícia que mais mata, que mais é morta, que muito se mata e que muito adoece.

Relevância Científica: Interface entre Teoria Organizacional e Ecologia, respondendo a um grande e velho problema em uma abordagem diferente

Relevância Ecológica: Uma prática recursiva de sociabilidade humana/animal, como resultado da adaptação de uma espécie de primatas às condições ambientais, que promove, por meio de seus modelos mentais, um morticínio de sua própria espécie.

Fundamentação Teórica Interdisciplinaridade Na compreensão de Nicolescu (1999), nosso trabalho se trata de uma investida interdisciplinar que tem como ponto de partida a Teoria Organizacional, é a transversalidade do tema que opera a sobreposição dos campos de saber e que exige a troca de conceitos e metodologias, tendendo nossa modelização a uma postura transdisciplinar.

Interdisciplinaridade

Quadro de referência teórico

Visão Sistêmica Unificada

Ecologia do Ser (Juracy Marques)

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Polícia Militar como modelo mental-institucional hegemônico Pode-se chegar ao ponto de dizer, que um jovem brasileiro, sempre residente aqui, não conhece outra forma de ser aplicador da lei que não seja a forma policial militar ou de alguma derivação dela Ecosofia (Sabedoria Ecológica)

Ecologia das ideias: noosfera - Edgar Morin (1991): “As ideias são dotadas de vida própria porque dispõem, como os vírus, em um meio (cultural/cerebral) favorável, da capacidade de autonutrição e de autorreprodução”.

Fritjof Capra:

“Os princípios sobre os quais se erguerão as nossas futuras instituições sociais terão de ser coerentes com os princípios de organização que a natureza fez evoluir para sustentar a teia da vida. Para tanto, é essencial que se desenvolva uma estrutura conceitual-unificada para a compreensão das estruturas materiais e sociais” (CAPRA, 2002).

“A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza” (CAPRA, 1996).

Juracy Marques: “Para alguns flancos das ciências, tornou-se pecado falar nos fractais de Deus, dentre os quais a alma, o espírito e a psique”. “[...] louco é aquele que vê o invisível. Nossa cultura só nos autoriza a ver o visível”. “Categorias incômodas do paradigma invisível da Ciência”.

Leonardo Boff: “Ecologia Mental tem a vê com a mente e o que está dentro dela [...] remover as barreiras mentais, para remontar, colocar outras placas de orientação”. “[...]tipo de mentalidade que vigora, cujas raízes alcançam épocas anteriores à nossa história moderna, incluindo a profundidade da vida psíquica humana consciente e inconsciente, pessoal e arquetípica”.

Jung: “Nós precisamos de um entendimento maior da natureza humana, porque o único perigo real existente é o próprio homem [...] sua psique deveria ser estudada, pois somos a origem de todo o mal vindouro”.

Gregory Bateson: “Existe uma ecologia das ideias danosas, assim como existe uma ecologia das ervas daninhas”.

Humberto Maturana e Fernando Varela: “Organismos e sociedades pertencem a uma mesma classe de metassistemas, membros formados pela agregação de unidades autônomas, tanto celulares como metacelulares”.

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Staus Científico da Ecologia Humana? (Luciano Bomfim, 2016):

Paulo Machado (1984 apud BOMFIM 2016): “a Ecologia Humana como o estudo interdisciplinar das interações entre o homem e o meio ambiente, estudo realizado sob inspiração sistêmica e com objetivos prospectivos”.

Manuel Cesário (2004): “O estudo da interação dos seres humanos e do ambiente completo, esses estudos são direcionados principalmente para: (1) as circunstâncias naturais das sociedades humanas; (2) as tradições, a organização social e a tecnologia que são elementos básicos dessas sociedades e (3) as estratégias que são úteis para sua sobrevivência e desenvolvimento”.

Conceito de Hambiente de Juracy Marques (2017).

As três lógicas de Roderick J. Lawrence (1993)

Figura 2 – Triângulo ecológico humano (Natureza-Pessoa-Sociedade)

Fonte: Elaborado pelo Autor baseado em STEINER e NAUSER, “Human ecology: fragments of anti-fragmentary views of the world” (1993).

Figura 3 – Triângulo ecológico humano integral (Natureza-Espírito-Pessoa)

Fonte: Elaborado pelo Autor baseado no aporte teórico da Ecologia Humana Integral: bioecologia, ecologia profunda/mental e ecologia social.

Interface entre Teoria Organizacional e Ecologia:

Biologia das Organizações Ecologia Mental das Organizações Pessoa Organizacional

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Paul DiMaggio e Walter Powell (1991): “as instituições exercem influência sobre o

comportamento não simplesmente ao especificarem o que se deve fazer, mas também o que pensar [...] fornecerem esquemas, categorias e modelos cognitivos que são indispensáveis à ação”.

Pressupostos da Ecologia Humana Integral

A Natureza (a realidade) não é reduzida em partículas fundamentais, fica melhor entendida como uma rede de múltiplos eventos inter-relacionados.

Necessidade de quadros de referência lineares para compreender contextos delimitados.

Princípios da Física Quântica aplicados na interpretação dos fenômenos humanos.

Metáforas (imagens mentais) como modeladoras da realidade.

Organizações sociais humanas compreendidas como organismos vivos.

Organizações sociais humanas aprendem e se reproduzem através da alocação instanciada nas mentes humanas de seus membros.

Um conjunto de modelos mentais equivocados geraram uma marcha civilizatória predatória.

Sem alterar esses modelos mentais e consequentemente o rumo das ações humanas, a existência da espécie está ameaçada.

Resultados e Discussão

1. Arqueologia Simbólica

2. Genealogia das matrizes institucionais da Polícia Militar

3. Quadro de metáforas/imagens organizacionais da Ecologia Profunda da PM

4. Tipologia da Mente Institucional da PM

5. Mapa Filogenético da Polícia Militar

6. Extinção ou Reforma

Arqueologia Simbólica

Maurizio Teli, Francesco Pisanu e David Hakken (2007): “O que se observa no

conteúdo da Internet é artefato material da sociedade de pessoas e numa reflexividade

incomum são parte expressivas dessas mesmas pessoas”, afirmam Maurizio Teli,

Francesco Pisanu e David Hakken (2007), quando advogam pela Internet como uma

“biblioteca de pessoas”. Mas como assim? “Pessoas as produzem, pessoas são

alteradas” pelos discursos que manifestam: portanto, sendo (re)produzidas pela sua

própria obra. Nesse caso não apenas acompanhando a ideia de Teli et al. (2007), mas

as de Pierre Lévy (2003), e os prognósticos de Yuval Harari (2016) e Edgar Morin

(2000), podemos falar na metáfora da “biblioteca de pessoas” e nesse caso, pessoas

devem ser entendidas por ciborgues: “uma simbiose entre humanos e discursos” (TELI

et al., 2007). Por isso cabe-nos justificar a metodologia de coleta de material digital na

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Internet, apresentando a citação que nos inspirou: “Nessa esteira epistemológica e

ontológica, percorrer as páginas, os vídeos, perfis de redes sociais e outros conteúdos

da Internet, é como pesquisar numa biblioteca onde nas prateleiras estão pessoas

ciborgues e vestígios de suas ações” (TELI et al., 2007).

Arqueologia do Saber de Foucault

Imaginação Simbólica de Gilbert Duran

Imaginação Ativa de Carl Gustav Jung

Jean Chevalier e Alain Gheerbrant ([1969] 1986): “Que valor daremos, pois, ao símbolo?

Com que novo nome nomearemos, hoje, o que já se sabe? [...] O símbolo não é uma maneira

mais poética ou elegante de dizer algo já conhecido, apesar de ser isso também. O símbolo é o

fundamento de tudo quanto existe. É a ideia em seu sentido originário, o arquétipo ou forma

primeira que vincula o existir com o Ser. O símbolo e seu desenvolvimento na forma de mito

são outra história, outra fantasia se assim quiser chamar, mas tem a virtude de nos aproximar

da fonte imutável oculta de onde toda a luz e palavra provém”.

Figura 4 – Emblema e Insígnia da Polícia Militar Brasileira.

a) Emblema das polícias militares brasileiras

b) Insígnia das polícias militares brasileiras

Fonte: Imagens do Site Wikimedia Commons, produção autoral vinculada ao governo brasileiro (Lei Federal n.º 9.610/1998). a) Emblema das Polícias Militares do Brasil. (Imagem originalmente extraída do site da Polícia Miliar do Paraná) b) Insígnia das Polícias Miliares do Brasil.

Figura 5 – Relação entre estrela, poder político e militar.

a) Brasão de Armas do Brasil

b) Príncipes Williams e Harry do

Reino Unido

c) Che Guevara em fardamento

paramilitar e a bandeira cubana

Fonte: a) Brasão de Armas do Brasil. Disponível em <http://www2.planalto.gov.br/acervo/simbolos-nacionais/brasao/brasao-da-republica>. b) Príncipes Williams (à esquerda) e Harry (à direita) do Reino Unido, a caminho da Abadia de Westminster, em traje de gala militar, no casamento de Williams, irmão mais velho, em abril de 2011. Foto do Blog do iG Gente. Disponível em <especiais.ig.com.br>. c) Che Guevara em selo postal da Federação Russa de 2009, em comemoração aos 50 anos da Revolução Cubana. De acordo com o artigo 1259 do código civil russo, este trabalho não é um objeto de direito autoral. Imagem do Site Wikimedia Commons.

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Figura 6 – Insígnia de Polícia Militar: pistolas (“garruchas”) cruzadas.

a) Brasão da Military Police

Corps of U.S. Army

b) Brasão do 1º Batalhão de

Polícia do Exército (Brasil)

c) Fotografia de duas pistolas Harper’s

Ferry 1806 cruzadas

Fonte: Imagens do Site Wikimedia Commons. a) Brasão da Military Police Corps of U.S. Army. United States Army Institute of Heraldry (http://www.tioh.hqda.pentagon.mil). b) Brasão do 1º Batalhão de Polícia do Exército (Brasil), sediado no Rio de Janeiro. Considerado batalhão histórico, alojou parte das tropas da Força Expedicionária Brasileira, depois do retorno da Itália. c) Duas pistolas cruzadas, marca Harper’s Ferry, modelo 1806, calibre .54, de pederneira, fabricadas no Arsenal do Exército dos EUA. Presente em homenagem ao graduado John G. Smith, membro da 787ª Companhia do 14º Batalhão de Polícia Militar do Exército norte-americano.

Figura 7 – Representações de tropas de incursão em controle populacional em atividade operacional

a) Polícia Militar do exército

norte-americano (Iraque)

b) Fuzileiros Navais barsileiros

em Porto Príncipe no Haiti

c) Policiais do BOPE da PMERJ em

favelas no Rio de Janeiro

Fonte: a) Site Common Dreams, disponível em <https://www.commondreams.org/> b) Site Zona Militar – Misiones de Paz. Disponível em <https://www.zona-militar.com>. c) Imagem: Marco Antônio Cavalcanti/UOL, disponível <https://noticias.uol.com.br/album/2013/01/19/osso-duro-de-roer-veja-imagens-dos-35-anos-do-bope-a-elite-da-pm-do-rio.htm#fotoNav=8>

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Figura 8 – Emblemas de força e poder: PM, Adam-Chevah e Lilith-Samael.

a) Adão e Eva

b) Polícia Militar (invertida)

c) Lilith e Samael

Fonte: a) Emblema das polícias militares brasileiras (invertido verticalmente) com setas que indicam o giro dos selo circular. Produção autoral vinculada ao governo brasileiro (Lei Federal n.º 9.610/1998). Imagem do Site Wikimedia Commons. b) O selo de Lilith-Samael comparado ao emblema das polícias militares invertido. c) Selo extraído dos manuscritos de Leonardo da Vinci, representando o Homem Vitruviano. d) Selo de Adão-Eva.

Quaternário de deuses guerreiros

formado pelo matrimônio entre primos cruzados

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Figura 9 – Representação esquemática da teoria de gênero de Sandra do Bem.

Fonte: Elaborado pelo Autor com subsídios de (1) Bem, Sandra Lipsitz, “Gender schema theory: A cognitive account of sex typing”, 1981.

Tabela 1 – As dez diferenças entre sociedades masculinas e femininas

Feminilidade Masculinidade Diferenciação mínima do papel emocional

e social entre os gêneros. Máxima diferenciação do papel emocional

e social entre os gêneros.

Homens e mulheres devem ser modestos e cuidadosos.

Os homens devem ser e as mulheres podem ser assertivas e ambiciosas.

Equilíbrio entre família e trabalho O trabalho prevalece sobre a família.

Simpatia pela fraco Admiração pelo forte

Tanto os pais como as mães lidam com fatos e sentimentos.

Os pais lidam com fatos, mães com sentimentos.

Meninos e meninas podem chorar, mas nem um nem outro devem lutar;

As meninas choram, os meninos não. Os meninos devem lutar,

mas não é conveniente que as meninas lutem.

As mães decidem sobre o número de crianças. Os pais decidem sobre o tamanho da família.

Muitas mulheres em posições políticas eleitas. Poucas mulheres em cargos políticos eleitos.

A religião se concentra em seres humanos. A religião se concentra nas figuras divinas.

Liberdade sobre sexualidade; O sexo é uma maneira de se relacionar.

Atitudes morais quanto à sexualidade; o sexo é uma maneira de se realizar.

Fonte: Reproduzido de HOFSTEDE, Geert; “Dimensionalizing Cultures: The Hofstede Model in Context”, 2011.

Tabela 2 – Tipologia policial arquetípica guerreira quanto ao caráter integrativo e auto afirmativo

Tipo policial Contexto sócio organizacional: Auto afirmativo

Mentalidade Práxis

Pai-zeloso Integrativa Integrativa

Herói Integrativa Auto afirmativa

Aventureiro Auto afirmativa Integrativa

Guerreiro Auto afirmativa Auto afirmativa

Fonte: Elaborado pelo Autor, com subsídios de CAPRA, Fritjof. “A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos”,1996.

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Tabela 3 – Correspondência dos tipos policiais com a classificação junguiana

Dimensões da classificação junguiana

1, 2

Tipos Policiais

(1) Pai-zeloso (2) Herói (3) Aventureiro (4) Guerreiro

Expressão Luminosa

Expressão Sombria

Piedoso Mãe

Guerreira Justo Justiceiro Sonhador Caçador Patriota Caveira

Perfil composto Sentimental Extrovertido

Perceptivo Extrovertido

Intuitivo Extrovertido

Reflexivo Extrovertido

Atitude/Disposição Geral (Extroversão)

Levemente extrovertido

Moderadamente extrovertido

Levemente extrovertido

Moderadamente extrovertido

Moderadamente extrovertido

Altamente extrovertido

Moderadamente extrovertido

Altamente extrovertido

Nível de extroversão (de 1 a 4)

Nível 1 Nível 5 Nível 2 Nível 6 Nível 3 Nível 7 Nível 4 Nível 8

Dimensão preponderante

Racional Irracional Irracional Racional

Função Dominante Julgamento: Sentimento

Apreensão: Sensação

Apreensão: Intuição

Julgamento: Pensamento

Função Auxiliar (Secundária)

Apreensão: Intuição

Apreensão: Sensação

Julgamento: Sentimento

Julgamento: Pensamento

Julgamento: Sentimento

Julgamento: Pensamento

Apreensão: Intuição

Apreensão: Sensação

Função Terceária Apreensão: Sensação

Apreensão: Intuição

Julgamento: Pensamento

Julgamento: Sentimento

Julgamento: Pensamento

Julgamento: Sentimento

Apreensão: Sensação

Apreensão: Intuição

Função Inferior Julgamento: Pensamento

Apreensão: Intuição

Apreensão: Sensação

Julgamento: Sentimento

Correspondência Myers-Briggs

3

ENFJ ESFJ ESFP ESTP ENFP ENTP ENTJ ESTJ

Diplomata Idealista

Guardião Explorador

Artesão Explorador

Artesão Diplomata Idealista

Analista Analista Guardião

Fonte: Elaborado pelo Autor, com subsídios de (1) JUNG, Carl G. “Tipos Psicológicos”, [1960] 1976; (2) LESSA, Elvina Maciel. “Cooperação e complementaridade em equipes de trabalho: estudo com tipos psicológicos de Jung”, 2002. (3) CASADO, Tania, “Tipos Psicológicos e Estilos de Comportamento Motivacional: o diálogo entre Jung e Fromm”, 1993.

Tabela 4 – Visão peculiar dos tipos policiais sobre conflitos

Tema

Visão sobre o tema

Base Integrativa Base Auto afirmativa

Pai-zeloso Herói Aventureiro Guerreiro

(a) Como ver o oponente Filho desorientado Irmão rebelado Presa da caçada Inimigo perpétuo

(b) Destino do oponente

Busca reeducar seus filhos, em último caso prende um deles ou se

omite na punição do assassino de um filho morto em combate.

Mata alguns poucos no combate, prende os revoltosos e aceita o rendimento de alguns

Libera algumas presas, por vezes em

negociação pecuniária e sacrifica uma como exemplo intimidador

Mata todos Aceita a prisão de

alguns, apenas durante o julgamento

(c) Objetivo da guerra

Reorganização social, levar a justiça a seus próprios territórios em

conflito

Salvar outros territórios da injustiça

Usurfruir da emoção da luta

Aniquilamento total do inimigo

(d) O que pensa sobre diálogo e armistício

Uma questão de sabedoria, fim que deve ser sempre

desejado.

Uma alternativa viável, desde que o oponente não tenha como reagi

no futuro.

Uma alternativa imposta, apenas viável

se ganhar alguma vantagem e se já tiver

alcançado prazer suficiente na adrenalina

Uma fraqueza, inconcebível até que o rendimento seja uma patente expressão de derrota e humilhação

do inimigo

(e) Reação a prêmios materiais

Dispensa veementemente

Aceita como medalha e depois doa ao uso

comum

Aceita como trófeu e depois vende-o ou

consome em benefício próprio

Arranca-o do inimigo derrotado, é seu espólio de guerra

(f) Visão territorialista

Não tende a expansão, tende ao alcance de todos os rincões não explorados de seu próprio território

Missionário, funda núcleos em prol das missões e depois os

integra em rede

Colonização de entrepostos

Expansão imperial, anexação territorial

Fonte: Elaborado pelo Autor.

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Figura 10 – Tipos policiais arquetípicos guerreiros correlacionados com a expressão mitológica hebraica, as funções psicológicas, os elementos naturais e a representação

da inversão do giroscópio institucional.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Tabela 5 – Correspondência mitológica dos tipos policiais

Tipo policial Expressões

Correspondência com sistemas mitológicos Regente/Corregente Elemento

natural Hebraica

1 Greco-romana

2 Yorubá

3,4

Pai-zeloso Piedoso

Adam/Ima (Adão materno)

Atenas/Atermis (Minerva/Diana)

Oyá/Xangô (Filha de Iemanjá)

Água, Lago

Mãe Guerreira Adam/Abba

(Adão paterno) Atenas/Ares

(Minerva/Marte) Oyá/Oyá

(Filha de Iemanjá) Água,

Tempestade

Herói Justo

Chevah/Ima (Eva materna)

Ares/Atenas (Marte/Minerva)

Ogum/Xangô (Filho de Iemanjá)

Terra Metal

Justiceiro Chevah/Abba (Eva paterna)

Ares/Eros (Marte/Cupido)

Ogum/Oyá (Filho de Iemanjá)

Fauna Madeira

Aventureiro Sonhador

Lilith/Ima (Lilith materna)

Artemis/Atenas (Diana/Minerva)

Oxóssi/Xangô (Filha de Oxalá)

Ar Vento

Caçador Lilith/Abba

(Lilith paterna) Artemis/Eros

(Diana/Cupido) Oxóssi/Oyá

(Filha de Oxalá) Flora

Madeira

Guerreiro Patriota

Samael/Ima (Samael materno)

Eros/Artemis (Cupido/Diana)

Exu/Xangô (Filho de Oxalá)

Terra Metal

Caveira Samael/Abba

(Samael paterno) Eros/Ares

(Cupido/Marte) Exu/Oyá

(Filho de Oxalá) Fogo Metal

Fonte: Elaborado pelo Autor, com subsídios de (2) BULFINCH, Thomas. “O livro de ouro da mitologia: (a idade da fábula) histórias de deuses e herói”, 2002. (3) POLI, Ivan S. “Antropologia dos Orixás: a civilização yorubá através de seus mitos, orikis e sua diáspora”, 2011. (4) VERGER, Pierre F., “Orixás”, 2009. (5) JUNG, Carl G. “Tipos Psicológicos”, 1976.

Figura 11 – Tipos policiais arquetípicos guerreiros correlacionados com a expressão mitológica greco-romana.

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Fonte: Elaborado pelo Autor.

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Figura 12 – Tipos policiais arquetípicos guerreiros correlacionados com a expressão mitológica yorubá.

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Figura 13 – Imaginário policial sob o arquétipo do guerreiro-caveira e o caçador de recompensa.

Fonte: Imagem coletada em trabalho de Etnografia Digital de redes sociais específicas de policiais militares e vigilantes de segurança privada no Brasil. Representativa de uma guarnição de ROTA da PMESP.

Figura 14 – Simbologia bucaneira e corsária em relação à da Polícia Militar

a) “Jolly Roger” atribuída a

Richard Worley

b) Sobreposição da “Jolly Roger”

à “Union Jack” (1801)

c) Brasão distintivo do BOPE da

PMERJ

Fonte: a) Tradicional bandeira pirata, com elaboração e primeiro uso atribuída o capitão Richard Worley Imagem do Site Wikimedia Commons. b) Arte gráfica produzida pelo Autor (com inspiração em imagens observadas na Internet), através da montagem da sobreposição da bandeira do Reino Unido e o “Skull and Bones”, demonstrando a possível inspiração do formato da bandeira corsária, o uso da bandeira nacional britânica é atribuído ao capitão corsário Henry Morgan. c) Brasão distintivo do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o brasão histórico com a estrutura heráldica adequada é outro, em que este é apenas um emblema.

Figura 15 – Simbolismo mitraico e romano (1).

a) Imagem do deus Mitra no

Museu Britânico

b) Reconscituição de uma formação

com escudos de tropa do exército

c) Treinamento em policiamento de

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romano choque da PM de Sergipe

Fonte: a) Imagem do Site Wikimedia Commons. Estátua do deus persa, indiano e posteriormente incorporado ao culto romano Mitra, como deus do Sol, em sua épica passagem da vitória sobre o touro. Fotografia da imagem exposta no British Museum. b) Imagem coletada no site Cultura Mix. Disponível em <http://www.culturamix.com/cultura/historia/curiosidades-sobre-o-exercito-romano/>. c) Coletada no site institucional da PMSE.

Figura 16 – Simbolismo mitraico e romano (2).

a) Distintivo da Polícia Militar do

Exército norte-americano

b) Brasão da PMPR

c) Vexilo (Estandarte) do Império

Romano

Fonte: a) Distintivo metálico da Military Police of U.S. Army, com a águia característica do poder norte-americano, com referências emblemáticas, no centro do escudo a elementos romanos como fardamento e lança, inclusive ao “gorro” de Mitra. Imagem do Site Wikimedia Commons, conferido com United States Army Institute of Heraldry (http://www.tioh.hqda.pentagon.mil). b) Brasão institucional da Polícia Militar do Paraná, com a águia, que também está no escudo da RONE. No centro do escudo há elementos como a araucária da vegetação local, bem como o sol mitraico, equivalente ao das bandeiras argentina e uruguaia. Imagem do Site Wikimedia Commons. c) Estandarte (espécie de bandeira pendurada verticalmente por uma haste), vexilo, do Império Romano, com a característica águia e o acrônimo SPQR, o nome de oficial de Roma: Senatus Populusque Romanus. Imagem do Site Wikiwand. Disponível em <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/83/Vexilloid_of_the_Roman_Empire.svg/320px-Vexilloid_of_the_Roman_Empire.svg.png?1499651870799>.

Tabela 6 – Duplas de força de atração

Cosmovisão Nuance Integrador Dissociador

Greco romana

Entrecruzamento Nietzche e Jung

Dionisíaco Apolíneo

Psicanálise segundo Freud

Eros Thanatus

Discurso de Sócrates por Platão Eros Caos

Cristã Natureza messiânica Cristo Anticristo

Yorubá

Relação de manipulação do axé de Exu

Bara Exu Exu Elegbá

Idade do Orixá Ancião/Prudência Jovem/Vingança

Gênero e Qualidade Xangô (Alufan ou Airá) Oyá (Onira)

Judaica

Sephirot da Árvore da Vida da Cabala

Chesed Geburat

Rei no trono que sabiamente julga

Rei que vai à guerra

Entrecruzamento de Jung e a Cabala Misericórdia Justiça

Mito fundador judaico Samael como Lucífer,

antes da queda Samael como Saitã,

depois da queda

Fonte: Elaborado pelo Autor com subsídios em (1) JUNG, Carl G. “Tipos Psicológicos”, 1976. (2) FREUD, Sigmund. “As pulsões e seus destinos”, 2014. (3) POLI, Ivan S. “Antropologia dos Orixás: a civilização yorubá através de seus mitos, orikis e sua diáspora”, 2011. (4) VERGER, Pierre F., “Orixás”, 2009. (5) Wikipédia: a Enciclopédia livre, ferramenta on-line, acessível através do sítio na Web/Internet pelo endereço: Disponível em <https://pt.wikipedia.org>. (1) LARAIA, Roque, “Jardim do Éden revisitado”,1997. (6) LAITMAN, Michael, “O Zohar”, 2012. (7) PIRES, Valeria F, “Lilith e Eva: imagens arquetípicas da mulher na atualidade”, 2008.

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Autor/Tradição/Escola Princípio Feminino Princípio Masculino

A

Fritjof Capra1

Terminologia proposta

Integrativo Auto afirmativo

B Concepção autopoética Intercâmbio com o

meio Enclausuramento

operativo

C Concepção darwinista

Cooperação Competição

D

Taoísmo2

Sentido original Negação Afirmação

E Termo atual Yin Yang

F Tradução Sombrio Luminoso

G Tipologia policial de Mccold e Wachtel3

Serviço Autoridade

H Entrecruzamento Nietzche e Jung4

Dionisíaco Apolíneo

I Princípio da complementariedade

de Niels Bohr1, 5 Onda Partícula

Fonte: Elaborado pelo Autor com subsídios em (1) CAPRA, Fritjof, “A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos”, 1996. (2) WILHELM, Richard, “I Ching

: o livro das mutações”, 2006. Wilhelm traduz para o alemão um escrito milenar chinês, que tanto guarda aspectos filosóficos como esotéricos na forma da função oracular. O

autor-tradutor explica que yin e yang, não são conceitos primitivos do tempo original da compilação do I Ching. (3) MCCOLD, Paul and WACHTEL, Bem, “Police officer

orientation and resistance to implementation of community policing”, 1996. (4) JUNG, Carl G. “Tipos Psicológicos”, 1976. (5) LIMA VIANNA, Túlio, “Teoria quântica do direito:

o direito como instrumento de dominação e resistência”, 2008. (6) FREUD, Sigmund. “As pulsões e seus destinos”, 2014.

Matrizes institucionais da Polícia Militar

Quadro 2 – Matrizes institucionais a Polícia Militar Brasileira

Herança direta de organizações institucionalizadas

Gendarmaria Nacional francesa

Guarda Nacional Republicana portuguesa

Polícia Militar do Exército norte-

americano Guarda Civil Estadual

Maréchaussée Exército Português

(EP)

Guarda Civil do Estado de São Paulo (GCSP)

Polícia de Segurança Pública (PSP)

La Maison militaire du roi de France

(Mousquetaires)

Guarda Real da Polícia de Lisboa

(GRP de Lisboa)

Força Expedicionária Brasileira

(FEB) Sécurité nationale

Exército Romano

Divisão Militar da Guarda Real de Polícia

da Corte

(GRP do Rio de Janeiro)

Polícia do Exército Brasileiro (PE) (EB)

-

Cohortes vigilum (Força policial e de

defesa civil de Roma)

Força Pública Provincial/Estadual

Instituições sociais típicas do contexto luso-brasileiro

Tropas militares de segunda linha

Controle local/municipal Autoridade mestiça

Ordenanças e Milícias Quadrilheiros e Sherifs ingleses Capitão-do-mato

Guarda Nacional Jagunço e Feitor ausente

Entradas e Bandeiras Intendência de Polícia Homem pobre livre e branco

Juiz de Paz Guerreiro tribal africano Elaborado pelo Autor.

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Por uma Sociologia Profunda

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Continuidade entre Guerra e Política

[...] mas há muito tempo tem sido astutamente observado por estadistas ou estrategistas é a simbiose ou relação de fluxo-continuidade entre Guerra e Paz, ou melhor, Guerra e Política. Ou guerra e “mundo”. O general prussiano Carl von Clausewitz disse que a guerra é a continuação da política por outros meios. Michel Foucault inverteu a sentença e gerou política é a continuação da guerra, para tanto, o marco fundador da sociedade passa a ser a guerra civil.

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Biologia da Violência Marques (2017) acompanhando o raciocínio de Freud, diz que tendo a humanidade exercido, “inicialmente, a violência pelo uso da força bruta”, vai transferir esse impulso agressivo para “outras funções e usos pelas sociedades, pela civilização”, ou seja, por “instrumentos e intelectos”. Inferi que desse pressuposto possamos compreender a governamentalidade e o biopoder em Foucault (1998) e, portanto, aludir diretamente “aos bons propósitos das polícias”. Na perspectiva, freudiana “não há maneira de eliminar totalmente os impulsos agressivos do homem; pode-se tentar desviá-los num grau que não necessitem encontrar expressão de guerra” (FREUD, 1921 apud MARQUES, 2017).

Rito Sacrificial: bebendo sangue E assim eu descobri que se você não é um torturador, um sanguinolento, um ladrão ou um carniceiro, de tanto se envolver em situações da manutenção da ordem que por si só é “assassina” e injusta, você não terá escapatória, mais cedo ou mais tarde, você também será um assassino ou um cúmplice.

Mircéa Eliade, O Sagrado e o Profano (2001). Michel Foucault, “Vigiar e Punir”(2003): O prazer sádico no espetáculo do suplício. Rene Girard, A Violência e o Sagrado (1998): e o mecanismo do bode expiatório.

“Adrenalina no sangue”: resistência à perda de capital simbólico acumulado

O Macho Demoníaco WRANGHAM, Richard e PETERSON, Dale. O Macho Demoníaco [Trad.: M. H. C. Côrtes]. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1998.

Jovem policial ainda é o guerreiro tribal em busca da caça: Ou ele se apropria desse capital simbólico, que tem o sangue como vetor, ou ele estará condenado a transitar entre as camadas das masculinidades subalternas.

Sob o signo de Marte ALBUQUERQUE, Carlos Linhares de e MACHADO, Eduardo Paes. Sob o signo de Marte: modernização, ensino e ritos da instituição policial militar. In: Sociologias, Porto Alegre, ano 3, nº 5, p.p.214-237. jan/jun 2001.

- Currículo da selva - Rito iniciático feroz Foi a própria Corporação que contratou especialistas para a elaboração de um novo currículo, capaz de dar conta de uma nova fisionomia policial. Paradoxalmente, ela

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sustenta e celebra ritos que são formas de enfraquecer e boicotar essa mudança (ALBUQUERQUE e MACHADO, 2001).

Fala de um soldado da PMERJ, com 5 anos de atuação, em entrevista, no ano de 1999

Fala de um guarda municipal de Porto Alegre, em entrevista, no ano de 2007”

MUNIZ, Jacqueline de Oliveira. Ser policial é, sobretudo, uma razão de ser: cultura e cotidiano da policia militar do Estado do Rio de Janeiro. [Dissertação] Programa de Pós Graduação do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IUPERJ,1999

BAIERLE, Tatiana Cardoso; MERLO, Álvaro Roberto Crespo. Saúde mental e subjetividade no trabalho de uma guarda municipal: estudo em psicodinâmica do trabalho. Cad. psicol. soc. trab., São Paulo, v. 11, n. 1, p. 69-81, jun. 2008.

A grande coisa de trabalhar na rua é que você não precisa ir para a guerra ou para

a selva para ter aventuras. Você tem muita adrenalina, muita excitação e ainda sai do trabalho e volta para a

família.

A adrenalina! Adrenalina, a espera, nunca se sabe o que vai dar. A

inconstância do dia, um dia nunca é igual ao outro.

Mapa Filogenético da Polícia Militar Figura 17 – Genealogia da Polícia (Militar)

Fonte: Elaborado pelo Autor com subsídios de (1) HARARI, Yuval N, “Sapiens: uma breve história da humanidade”, 2015. (2) BAYLEY, David H, “Padrões de Policiamento: Uma análise internacional comparativa”, [1985] 2002. Linha cronológica: contagem a partir de 2017 d.C. (3) COTTA, Francis Albert, “Matrizes do sistema policial brasileiro”, 2012.

Tabela 7 – Troncos verticais filogenéticos

Identificação Descrição Heranças institucionais / antecedentes (a) Rito sacrificial e religiosidade Sistema Judiciário; sacerdócio servil

(b) Patriarcalismo Horda primitiva; pátrio poder; domínio masculino; violência

fundadora

(c) Resquícios do modo de

subsistência da caça Caça; guerra primitiva; autoridade tribal

(d) Sistema escravista Colonialismo português; bandeiras; autoridade mestiça

(e) Heranças anacrônicas dos

regimes de exceção brasileiros do século XX

Estado Novo da Era Vargas e Ditadura Militar

(f) Militarismo Exército formal em função policial; Corpos militarizados de

polícia; Gendarmaria; Guarda Real de Polícia de Lisboa e do Rio; Força Pública

(f1) Soldado religioso Cruzados; Quadrilheiros; Ordenanças; Guarda Regencial

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(g) Burocracia Estatal Agricultura; Escrita; Sendentarização; Estado Moderno; Polícia

Moderna

(h) Higienismo francês Intendência de Polícia

(i) Herança Corsária Corso; pirata; mercenário

(j) Heroísmo Herói; gladiador

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Figura 18 – Representação gráfica da teoria “genética” da Polícia Militar: história e ecologia profunda

Elaborado pelo Autor.

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Extinção ou Reforma? John Rawls (1971): “A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de pensamento. Embora elegante e econômica, uma teoria deve ser rejeitada senão é verdadeira; da mesma forma leis e instituições, por mais eficientes e bem organizadas que sejam, devem ser reformadas ou abolidas se são injustas”.

Propostas de mudança

Plano Individual:

Processo de amotinamento contra o espírito regente institucional

Ativismo pessoal-coletivo ou (auto)(etno)transformação

Plano Institucional:

Plano de ações de gestão para a mudança

Recrutamento e seleção

Quotas (4-3-2-1)

Gestão da Informação e Imagem Corporativa

Gestão de Pessoas e Gestão por Competências

Comissionamento temporário

Reconhecimento da carreira em segurança pública

Alargar os institutos de democracia interna

Atividades de compensação psicológica Re-militarização como proposta transitória Seria descabido de minha parte propor uma reorientação institucional própria de contextos civilizacionais femininos, isso pode ser desastroso em contextos masculinos. Ou seja, na lógica patriarcal não se pode simplesmente dispensar os elementos de controle. “Em toda sociedade existe a militarização no seu sentido amplo”, explica-nos Firmino (2015), atrelando esse caráter geral da civilização a sua própria existência e manutenção: “porque ela determina a harmonia e a evolução social dentro de padrões controladores para a sua própria sobrevivência”. Nesse ponto vemos Slavoj Žižek (2015) se perguntando, deveríamos nos submeter a isso? Minha resposta: no padrão de desenvolvimento civilizacional masculino, sim. E a desmilitarização em seu sentido amplo, pode ser percebida como “o declínio da metáfora paterna”, explicada por Ruth Vasconcelos (2007), aludindo a Freud, justamente no tocante a crise civilizatória e o aumento da violência.

Conclusão Durante o percurso desta pesquisa, estive à procura do espírito da Polícia Militar, identificou-se que os espíritos institucionais ou organizacionais são escolhidos pelos agentes volitivos dos sistemas sociais humanos. As pessoas escolhem a quais ideias dedicarão seus esforços físicos e mentais. Os espíritos, por sua vez, como entidades autônomas, em uma dinâmica denominada da ecologia das ideias, estabelecem ações estratégicas para “possuírem” mais mentes de pessoas que lhes sustentarão como as ideologias predominantes. Portanto, uma organização institucionalizada como é o caso das polícias militares estaduais e distrital, ou qualquer outra organização que adere ao modelo institucional policial militar, como é o caso das guardas municipais, não tem todas, um espírito único. Bem como, nem todos os membros das organizações acompanham os ditames da ideologia predominante internamente. Mas a ideologia que sustenta por mais tempo o posicionamento de príncipe entre as outras, manipula os recursos alocativos e autoritativos (materiais e de poder) em prol da manutenção e expansão da sua hegemonia. Tornando praticamente compulsório a adesão ou submissão a ela. A ideologia predominante hoje na Polícia Militar, segundo a prospecção da interpretação autoetnográfica é o de guerreiro em sua tonalidade “caveira”, ou seja, uma adesão coletiva ao espírito do guerreiro-assassino como atrator do sistema institucional e sua personificação imaginada como o modelo de policial honrado a ser seguido. Caberia uma conversão coletiva ao “culto” de outro espírito. Numa transição paulatina, mas não demasiadamente lenta, o arquétipo modelo temporário apropriado, parece ser o de herói-justo. Minha prospecção sobre os direcionamentos da civilização como um todo, parece apontar para novas formas de fazer

GUIA DE APRESENTAÇÃO A NATUREZA DA POLÍCIA MILITAR: HISTÓRIA E ECOLOGIA

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polícia. Instituições que cuidam e protegem, com uma incrível sensibilidade da condição humana, sem perder o vigor nas ações rápidas, sagazes, mas não vorazes. No futuro, o arquétipo de condução mental dos agentes sociais, que talvez nem mais se chamem policiais, será o de pai-zeloso ou de mãe-guerreira.

Mensagem do verdadeiro espírito guerreiro Nunca diga a um guerreiro que ele não pode fazer o que ele tem que fazer. Sobretudo, dizer que ele não pode, porque não consegue ou porque está proibido, ou seja, desautorizado a fazê-lo. Guerreiro! Você não pode combater o mal lá fora, antes de combater o mal dentro de você. Portanto, nunca diga a um guerreiro que ele não pode fazer, diga a ele o que realmente ele tem que fazer. Mostre-o que ele está, na verdade, obedecendo cegamente a uma autoridade injusta. Porque lá na frente, ele precisará de muita coragem. Em seu novo posicionamento contra as injustiças ele terá novos inimigos, que até então eram seus companheiros, seus deuses-irmãos. Ele terá que entender, que “o inimigo agora é outro”.

Conhece-te a ti mesmo e conhecereis a verdade. A verdade que dissipa as trevas sobre a ilusão de está separado do Todo. Apenas assim, será promovida a liberdade das amarras, que não são cadeias no corpo, mas vendas nos olhos da alma. Porque o Espírito é livre, mas não pode atuar adequadamente sobre o corpo, com uma alma cega.

Nisso este trabalho encerra-se com o ternário: Espírito, Alma e Corpo. Numa proposta da Ecologia do Ser Civilizacional, que fractalmente se espelha na realidade das sociedades,

instituições, tribos e organizações. Reconhecidos alguns dos aspectos do espírito da Polícia Militar do Brasil, cabe agora reformular as propostas de reorganização no contexto

institucional próprio, alcançando primeiramente o território onde habitam os espíritos: na mente humana. Ou seja, revelar a todo o guerreiro, o ardiloso jogo pela predominância entre

os espíritos, pelo controle dos sistemas sociais humanos. Conscientizá-lo de como eles têm sido usados na qualidade de alienados úteis tanto do sistema como das inócuas propostas

antissistema, pois padecem do mesmo mal: o mimetismo da violência. Para, somente assim, no caso da Polícia Militar, os próprios policiais operarem as mudanças necessárias, impostas

pelo “Ponto de Mutação”, pela atual encruzilhada civilizacional do Antropoceno.