HEXETEG

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Hexeteg Revista Uma revista do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Hugo Sarmento Ano 1 - nº 1 - 2011 Preço: não mensurável!!

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Projeto pedagógico do 3º ano do Ensino Médio. Disciplinas: Português e História.

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HexetegRevista

Uma revista do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Hugo Sarmento

Ano 1 - nº 1 - 2011

Preço: não mensurável!!

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Esta revista é um instrumento de comunicação feito pelos próprios alunos, que visa atuar como um fórum de discussão so-bre as diversas questões que preocupam a juventude, privilegian-do o ponto de vista dos estudantes sobre a sua própria realidade. Valorizamos a multiplicidade de opiniões, a diversi-dade dos pontos de vista e abordagem bastante abrangente. Sua linguagem é comum a todos, justamente por ser escri-ta pela mesma faixa etária daqueles que lerão a revista, o que facilita a exposição e debate de idéias e diferentes opiniões. O nome da revista se alinha a essa proposta. A hashtag (#), símbolo utilizado nos meios digitais para marcar o as-sunto ou a palavra-chave de uma declaração publicada, tor-nou-se sinônimo de relevância e de posicionamento peran-te as discussões nos meios digitais de comunicação. O nome da revista, que foi estilizado em sua grafia, traz esse sen-tido: marcar relevantemente opiniões e posicionamentos.

Os princípios que norteiam a revista são a defe-sa dos Direitos Humanos, a diversidade e a democracia. Em meio à complexidade da sociedade contemporânea, a re-vista busca o sonho da juventude de um mundo melhor.

Coletivo hexeteg #

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Hexeteg e a democratização da mídia

O ideal democrático, desde sua fundação pelos gregos até o seu de-senho contemporâneo, tem no uso público da palavra a sua base estrutu-ral. Não a palavra única, institucionalizada, como prerrogativa do saber, mas a palavra enquanto debate, enquanto construção contraditória do saber.

Nesse sentido, a democracia possui como pressuposto a exposição pública do conhecimento e, a partir dela, o debate. A possibilidade de fazer contraste en-tre pontos de vista diferentes, o acesso à comunicação, à informação de qualida-de, à publicidade dos eventos de interesse público e à participação mais completa possível nos procedimentos decisórios coletivos diante de toda a forma de ocul-tamento, são condições indispensáveis da efetivação da democracia enquanto go-verno mas, sobretudo, como comportamento interiorizado, individual e coletivo.

O projeto da Revista Hexeteg estabelece um diálogo entre os campos da comunicação e educação. Essa interface permite um envolvimento descontra-ído dos estudantes com as habilidades e competências vinculadas à comunica-ção e à expressão, tais como a produção de textos, o aprendizado de ferramen-tas de edição, o desenvolvimento de pesquisas, a exposição de ideias e o debate.

É um convite para que os estudantes, a partir da sua perspectiva e in-teresses, se insiram no espaço da deliberação pública, a fim de expor os te-mas em controvérsia e suas diferentes interpretações, com o fim de aumen-tar a quantidade e sobretudo a qualidade das formas de acesso ao debate social.

Professor Renato Maldonado

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Ano Internacional da Química

Skoob – Para onde foram as boas pessoas?

Da lama ao caos (Resenha)

A história do tênis brasileiro

Lá vai, lá vai, lá vai... coco de roda no Hugo Sarmento

Terrorismo: violência ou resistência?

Primavera Árabe

O bode expiatório da civilização ocidental?

Tirinhas

Um é pouco, dois é bom, três é violação da densidade demográfica.

Clicks do velho e do novo (ensaio fotográfico)20

Tour da banda TuNa e DIY

Em debate: maconha

Palavras de despedida

Sumário

EXPEDIENTECoordenação: Paulo Ribeiro e Renato Maldonado.

Escreveram textos e produziram matérias: Cecília Lieko Mome Yoshida, Eric Valério Uzan, Gabriel Kanashiro , Julia Gerhardinger Jacob, Julia Pagnan Condini, Lucas Bernardi, Marco Aurélio Milito Góes, Sarah Gimbernau Gimenez, Thiago Buchianeri Numa de Oliveira, Victor Camargo e Yuri Abduch Habib.

Colaboraram com textos: Carolina Nemer, Sofia Fajersztajn de Almeida e Juliana V. C. Fellipe (da primeira série).

Diagramação: Gabriel Kanashiro e Yuri Abduch Habib.

Revisão: Paulo Ribeiro e Renato Maldonado

Agradecimentos: Rodrigo Ratier e Elisa Meirelles, pela visita à Editora Abril e as conversas frutíferas; Isabella Vieira, pela aula de diagramação e pelo empréstimo do software, à direção do colégio Hugo Sarmento pelo apoio e o projeto pedagógico que viabilizou a criação da revista hexeteg.

Declaramos que as matérias não expressam necessariamente a opinião da Revista.

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por Marco Aurélio Milito Góes

Química é vida. Tudo é composto pelos

elementos químicos e sua combinação molecular,

desde gases vitais como o oxigênio, até estruturas

de enorme complexidade, como o DNA e proteí-

nas. Podemos usar a química para as mais diversas

aplicações como medicamentos, alimentos, novos

materiais, ligas metálicas e energia.

O Ano Internacional da Química tem

como meta fazer um intercâmbio de conhecimen-

to e discutir como a química pode ser inserida na

educação em todos os níveis de escolaridade, além

da celebração dos inúmeros benefícios que ela traz

para a humanidade. O evento difunde o slogan

CHEMISTRY FOR A BETTER WORLD (Química

para um mundo melhor), que mostra a importân-

cia da área em relação a questões como sustentabi-

lidade e qualidade de vida.

O Brasil, através dos órgãos representativos

da Química brasileira, unem-se à UNESCO e à IU-

PAC (sigla em inglês para “União Internacional de

Química Pura e Aplicada) com o intuito de trocar

experiências e formular ações que atuam na me-

lhoria da educação e pesquisas no país. O conjunto

de ações programadas pela SBQ é também uma

maneira de congregar a comunidade de químicos

brasileiros e, com isso, poder contribuir ativamente

com o Programa Nacional de Ciência e Tecnologia.

O país é carente de pesquisas e incentivos,

sendo de grande importância para o desenvolvi-

mento do Brasil a realização de eventos do gênero.

A partir dessa troca de idéias e experiências é pos-

sível crescer, se desenvolver e se aprimorar em todo

o meio tecnológico, científico e informacional. #

Ano Internacional da

Química

Educação

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por Sarah Gimbernau Gimenez e Marco Aurélio Milito Goes

Foi ao som de “Good People”, do cantor e compositor Jack Johnson que a ideia do site surgiu como uma resposta para a pergunta feita na música: “Where’d all the good people go?”, em português, “Para onde todas as pessoas boas foram?”. O Skoob, para os criadores do site, é o lugar aonde essas pessoas boas foram e onde elas se encontram para falar de um único assunto, que nunca irá se desgastar: livros. O Skoob foi feito com o objetivo de integrar todos aque-les que amam livros e têm opiniões para dividir sobre os livros que já leram, que abandonaram ou que irão ler. Além da possibilidade de marcar essas opções, o usu-ário do Skoob pode colocar livros que não quer mais para troca ou livros que deseja ter, como uma sugestão de presente. O primeiro passo para se tornar um “skoober” é se cadastrar na página inicial do site (endereço no final da matéria). Logo após fazer a conta no site, o segundo passo é adicio-nar livros à sua estante, colocando o nome do livro, do autor ou da editora no campo de busca que se localiza na página do seu perfil.

O terceiro e último passo é adicionar amigos à sua página, podendo ser aqueles que você já conhece ou aqueles que compartilham o mesmo gosto de leitura que você, fazendo com que haja, assim, interação entre os usuá-rios. O site é muito fácil de usar e faz com que ler se torne ainda mais divertido, pois você

pode sincronizar o seu Skoob com seu Twitter, e quando houver uma atualização feita por você na sua estante, seus seguidores sabe-rão o que você leu ou planeja ler. Para quem gosta de ler, assim como nós, o site é uma ótima dica, aproveite! #

Torne-se um Skoober no site: http://www.skoob.com.br/

Imagem do site Estante Virtual

Para onde foram as boas pessoas?

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por Gabriel H. Kanashiro

“Viva Zapata! Viva

Sandino! Viva Zumbi! Antônio

Conselheiro, todos os Panteras

Negras, Lampião sua imagem e

semelhança. Eu tenho certeza

que eles também cantaram um

dia.”

Assim começa o disco

que há 20 anos marcaria o come-

ço de uma revolução na música

popular brasileira. “Da lama ao

caos”,

de

Chi-

co

Science & Nação Zumbi é um

marco no movimento deno-

minado mangue beat, que teve

como objetivo mostrar a ri-

queza e diversidade da música

nordestina.O movimento faz

referência ao mangue, o ecossis-

tema mais rico do mundo.

“Morro, ladeira córre-

go, beco, favela”. Luta de classes

marcada pelos rios que cruzam a

desigualdade social do Recife. O

mangue degradado da metró-

pole fervilhando por meio das

guitarras distorcidas junto aos

batuques graves do coco e mara-

catu.

Não é a toa que “Da lama ao

caos” destaca-se entre os me-

lhores da música brasileira, pois

com uma proposta inovadora o

disco até hoje continua a impres-

sionar muitos pela sua originali-

dade e intensidade.

“Da lama ao caos, do caos à lama, um homem rouba-do nunca se engana”. #

Musica

Da lama ao caos“Chico Science & Nação Zumbi

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A história do tênis brasileiro

Esporte

Maria Esther Bueno Uma das maiores tenistas que o mundo já viu jogar, a brasileira da cidade de São Paulo foi campeã de 20 grand slam’s e durante os anos de 1957 e 1967 foi o terror das quadras pelo mundo. Em seus vinte anos de carreira, colecionou 589 títulos internacionais, entre os quais se destacam feitos

importantes, individuais e em dupla.

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por Victor G. F. Camargo

Não se sabe ao certo como o Tênis começou, mas acredita-se que foi na França do final do século XII e iníco do XIII onde foi cria-do o “jeu de paume” (Jogo de palma). A brincadeira que originou o esporte atual era, no prin-cípio, jogada com as mãos nuas. Com o tempo, passaram a usar luvas para proteger as mãos. Somente no século XIV começaram a usar um objeto de madeira em forma de pá, conhecido como “battoir”, e que mais tarde recebeu um cabo e as cordas trançadas. Nascia ali,a raquete de tênis, uma invenção italiana. O tênis até então era jogado contra um muro (paredão) e, com o tempo, passou a ser praticado em um retângulo dividido ao meio por uma corda. Surgiu, assim, o “longue-pau-me”, um jogo que permitia a participação de até seis jogadores de cada lado da quadra. Mais

tarde apareceu o “court-paume”, jogo similar, disputado em uma quadra fechada, com técni-cas mais complexas e que exigiam uma superfí-cie menor para sua prática. Muitos reis da França tinham o “jeu de paume” como sua principal diversão, chegando ao ponto de o rei Luís XI decretar “que a bola de tênis teria uma fabricação específica: com um couro especialmente escolhido, conten-do chumaços de lã comprimida, proibindo o enchimento com areia, giz, cal, cinza, terra ou

qualquer espécie de musgo”. Para se ter uma idéia do cres-cimento do esporte na França, o rei Luís XII pediu ao francês Guy Forbert para criar as primeiras regras e regulamen-tos do jogo e decidiu construir nada me-nos que 40 quadras em Órleans, cidade sede de seu palácio. Durante a “Guerra

dos Cem Anos”, o rei Carlos V condenou o “jeu de paume”, declarando: “todo jogo que não contribua para o ofício das armas será elimina-do”. Devido à Revolução Francesa e às Guerras Napoleônicas, o esporte praticamente desapare-ceu junto com a destruição das quadras. O poder econômico britânico no século XIX ganhou o mundo e, certamente, ajudou a espalhar o tênis, inclusive no Brasil, aonde

O “Jeu de Paume”

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Gustavo Kuerten Nascido em Florianópolis no ano de 1976, Guga como é conhecido pelo povo brasileiro e pelo mundo todo é nosso maior tenista de todos os tempos. Atualmente aposentado e cuidando de seu projeto “Escolinha Guga, tênis para crianças” ainda é visto por muitos como exemplo, Guga colecionou vitórias e títulos ao longo de sua brilhante carreira que foi interrompida por uma série de lesões repetidas.

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chegou pelas mãos dos técnicos das empresas: Light and Power (energia elétrica) e da São Paulo Railway (estradas de ferro), que iniciaram o processo de urbanização dos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. No Brasil, o esporte teve início em Niterói, Rio de Janeiro, em 1888. Além dos diplomatas, os pioneiros eram representantes de firmas de nave-gação e engenheiros que vieram construir nossas ferrovias. Dentre muitos nomes importantes no mun-do do tênis, alguns nomes brasileiros se destacaram como Gustavo Kuerten, Thomaz Koch, Luiz Mattar, Fernando Meligeni, Carlos Kirmayr, Jaime Oncins, Flávio Saretta e Marcos Hocevar. Não foram só nomes masculinos que de-fenderam o Brasil no tênis, tivemos Maria Esther Bueno, uma jogadora que em toda sua carreira, conquistou muitos títulos importantes, disputou muitos torneios levando o nome do Brasil em sua camisa. Apesar de seus problemas físicos e de saúde, Maria Esther ainda assim, continuou disputando torneios e ainda venceu o torneio de duplas de Ro-land Garros. Para Maria Esther, não havia piso ruim, apesar de ter se formado no saibro, ela ganhou mui-tos “Grand Slams” e conseguia ser superior em todos os pisos. O tênis brasileiro foi muito bem representa-do por estes nomes, mas nunca foi um esporte forte no Brasil. Hoje em dia, muitos desses ex-profissio-nais fazem projetos e dão palestras e cursos para in-centivar o tênis. Apesar de não existir muito incen-tivo no Brasil, eles ainda acreditam que o país possa ter outros nomes importantes. Não existem muitos centros de treinamento fortes, os que existem são de tenistas ex-profissionais, ou dos treinadores desses tenistas de renome, como no caso de Larri Passos,

ex- treinador de Guga Kuerten.No ranking mundial, dentre os tenistas brasileiros, Thomas Bellucci, treinado por Larri Passos, ocupa a 22ª posição. Nos próximos seis anos, o mundo esportivo brasileiro estará voltado para a Olimpíada de 2016. De olho nos Jogos que serão disputados no Rio de Janeiro, algumas promessas do tênis poderão des-pontar no esporte e brigar por uma medalha para o Brasil. Em plena evolução, Tiago Fernandes, Thia-go Monteiro e Guilherme Clezar estarão no auge de suas carreiras daqui a seis anos e poderão quebrar a sensação de vazio desde o encerramento da carreira de Gustavo Kuerten. Thiago Fernandes e Thiago Monteiro trei-nam em Balneário Camboriú, onde está localizado o Instituto Larri Passos. Já Guilherme Clezar, está trei-nando em Nova Hamburgo, com o ex-profissional João Zwetsch, hoje capitão do Brasil na Copa Davis. Todos acreditam no potencial desses meni-nos que começaram a jogar tênis cedo e, ainda juve-nis, conquistaram títulos importantes para suas carreiras. É muito importante desenvolver projetos em comunidades carentes, pois são desses locais que saem os melhores jogadores. Muitos começam tra-balhando em academias, pegando bolinhas, e aos poucos começam a jogar e disputar torneios: pau-listas, estaduais, sul-americanos e até internacionais. Atualmente o tênis deixa de ser um simples esporte para se tornar um acontecimento interna-cional, através dos diversos torneios disputados pelo mundo, acompanhados por milhões de pessoas. Os prêmios, patrocinadores e tenistas (verdadeiras per-sonalidades internacionais) também colaboraram para que o tênis fosse reconhecido e incentivado por todo o mundo.#

Esporte

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por Sofia Fajersztajn de Almeida

O Brasil é um país co-

nhecido por suas belas praias,

riquezas naturais como a

floresta amazônica, carnaval

e as mulheres bonitas. Porém,

e muito além disso, o Brasil

possui uma vasta riqueza cul-

tural. Cada canto do país tem

pessoas e histórias diferentes.

De diferentes cores e sabores,

cada região expressa as suas

peculiaridades por meio da

música e da dança.

Nesse ano, os alunos

do Ensino Médio do Colégio

Hugo Sarmento exploraram

um pouco da cultura popular

do nordeste por meio do Coco

de Roda e a Ciranda. O Coco

de Roda, que é praticado em

Pernambuco, em Alagoas e

na Paraíba, é uma manifes-

tação cultural relacionada

ao trabalho. Os catadores de

coco, para aliviar o trabalho

duro, criaram um ritmo para

cantar e dançar durante o

serviço, uma música anima-

da por instrumentos como a

caixa do divino, o triângu-

lo, o pandeiro, a zabumba, o

bombo, o ganzá e o som da

batida dos pés daqueles que

dançam. Esse ritmo incorpora

diferentes influências, como o

rebolado dos ancestrais afri-

canos e a coreografia pautada

pelas fileiras ou a formação de

rodas tipicamente indígena.

Já a Ciranda, que tam-

bém foi criada em Pernambu-

co, tem destaque em regiões

litorâneas, como na Ilha de

Itamaracá. É uma dança co-

munitária que surgiu como

forma de entretenimento.

Assim como em várias dan-

ças populares, para entrar no

Lá vai,

coco de roda no Hugo Sarmento

lá vai, lá vai...

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cordão não existe preconceito de idade, sexo,

cor, condição social ou econômica dos brin-

cantes. A ciranda é uma dança de integração,

pois geralmente se inicia com poucas pessoas

de mãos dadas dançando e, conforme a roda

vai girando, vão entrando novos participantes.

As músicas tocadas são chamadas de toadas.

Sempre alguém começa a cantar, fazendo a

primeira voz. Essa pessoa é a figura que “puxa”

a canção, o “cantador”. O coro repete o que o

“puxador” disse, seguindo a mesma melodia.

Para uma ciranda geralmente são usados um

ganzá, um bumbo e uma caixa. Esse ritmo tem

uma personagem muito conhecida, dona Lia

de Itamaracá. Essa senhora, que vive na Ilha

de Itamaracá (PE), é conhecida como a mãe e

símbolo da ciranda, além de compositora de

várias toadas.#

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Coco de roda: apresentação na festa junina 2011

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Terrorismo:Violência

ou

Resistência?

por Julia Pagnan Condini

Após o 11 de setembro, terrorismo virou o assunto do momento, e terroristas, os culpa-dos pelos males do mundo. Julgados pelos meios e não pelos fins, sua importância política não é re-velada, e o termo “terrorista” perde seu verdadei-ro sentido. Associados à violência gratuita, muitos dos grupos chamados de “terroristas”, ao contrário do que possa parecer, possuem ideologias religio-sas e/ou políticas e lutam por seus ideais. Usam do terror como arma de guerra e, através do medo, conseguem chamar atenção para as suas causas.

Durante a ditadura militar no Brasil

(1964 – 1985), aqueles que resistiam ao gover-no eram chamados de terroristas e, de fato, pra-ticavam ações com o intuito de enfraquecer a ditadura. Hoje, estes mesmos são considerados res-ponsáveis pela nossa democracia. Sendo assim, o ter-rorismo seria sinônimo de violência ou de resistência? Os grupos de terror são, em alguns casos, núcleos de resistência de seus valores. Buscam dis-seminar e/ou preservar aquilo em que acreditam, seja no campo político ou religioso. Alguns gru-pos resistem à modernidade, outros ao capitalis-mo, e ainda existem aqueles que lutam para formar um país independente. Portanto, podemos dizer que sim, o terrorismo é uma forma de resistência. Como o próprio nome diz, o terroris-mo tem como intuito provocar o terror. A dife-rença de grupos terroristas em relação a outros grupos de resistência é o uso da violência como mecanismo de luta. Provocar o caos e desordem ga-12

Page 13: HEXETEG

rante visibilidade midiática, o que promove a ade-são de outras pessoas ao movimento, fortalecendo--o, além de atacar fisicamente os seus inimigos A importância e a atuação do terrorismo no cenário mundial é política. Ele atua como termô-metro social, abordando questões como liberdade, fome, reforma agrária e econômica, sempre difun-dindo ideologias. Logo, eles não seriam os grandes culpados pelos males do mundo, e sim reflexos dos verdadeiros males que afligem toda a população. São eles o produto da soma de vários fatores da política interna e externa de cada região, associados ou não a alguma religião, preconceito ou radicalismo. O uso de violência não é justificável, é ape-nas um dos meios de manifestação encontrado por alguns grupos. Dá-se prioridade à violência terroris-

ta, contudo não é discutida a violência política, que traz mais males à população do que o próprio ato de terror. Ela é silenciosa, mascarada, diária, crônica. Fere o povo em níveis muito maiores se comparada ao terrorismo. A miséria em sua pior manifestação, gera a fome, mais mortes do que o próprio terror, as-sim como a desigualdade e o problema das fronteiras. Os grupos terroristas buscam ter uma voz, um espaço, no qual possam reivindicar pelos seus interesses. Buscam o terror em atos desesperados por atenção, já que se sentem oprimidos por todo um sistema que não lhes permite expressão. Por-tanto, questiono: quais são os verdadeiros provo-cadores do medo e incentivadores da violência? #

“ Provocar o caos e desordem garante visibilidade midiática“

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Page 14: HEXETEG

por Yuri Habib Abduch

A onda de manifestações e protestos que assombrou o mundo no final de 2010 foi uma ação revolucionária organizada por jovens insa-tisfeitos em países do Oriente Médio e Norte da África.Em meados de dezembro, um tunisiano de 26 anos, vendedor de frutas, ateou fogo ao próprio corpo em protesto por trabalho, justiça e liber-dade. Após este ato, uma série de manifestações eclodiu na Tunísia. Como uma epidemia ali-mentada pelas novas tecnologias, sites e redes sociais, esse movimento libertário se espalhou

pelos países vizinhos, originou a queda de diver-sos presidentes como Hosni Mubarak (Egito) e, recentemente, Gaddafi (Líbia). O nome “Primavera Árabe” foi atribuído ao conjunto de manifestações contra os regimes ditatoriais e autoritários de países onde a po-pulação não tem direito a voto e sofre há déca-das com a violência e a falta de liberdade. No momento em que o mundo passa por avanços sociais, econômicos e políticos com o advento da globalização, usando a internet para difundir seus ideais revolucionários, a população vem buscando mudar essa tradicional situação em busca do respeito aos direitos humanos e aos ideais democráticos.Atualmente estamos diante de uma das mais in-teressantes e importantes revoluções da história desse início de século. Ao longo dos tempos, os

PrimaveraArabe´

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Opinião

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povos árabe sempre mostraram submissão, tanto no aspecto político, social, quanto no religioso, obedecendo e aceitando normas e regras impos-tas por pessoas que, pelo uso da força, se manti-nham como donos absolutos do poder. Mas o que já se vê em alguns desses países é a amplitude da mídia e o uso das novas tecnologias, junto com o posicionamento das populações locais, poten-cializando a indignação latente na sociedade e então possibilitando a criação de movimentos a favor da queda dessas tradições, líderes políticos e imposições. Regimes corruptos e autoritários nascidos entre as décadas de 1950 e 1970 foram se conver-tendo em governos repressores que impediam a oposição política. Mas o mundo se desenvolveu e, como estivessem estagnados no tempo, as di-taduras não notaram que, pelo o uso da internet e avanços em outras áreas da mídia, através de

foruns de discussão, noticiários e outros meios de disseminar informações, a reunião e criação de laços entre pessoas insatisfeitas com ideários comuns, poderia ser facilitada, como no caso da divulgação das primeiras imagens das manifesta-ções na Líbia, feitas através do site de relaciona-mentos “Facebook”. A maioria dos manifestos têm a presença maciça de jovens (não em vão, as manifestações no Egito receberam o nome “Revolução da Ju-ventude”) com acesso à internet e que ao con-trário das gerações anteriores, possuem estudos básicos e até mesmo, graduação. Desta forma, o mundo Árabe se liber-ta das antigas repressões e abre a porta para a construção de uma nova ordem, de novos ideais, pautadas pela tecnologia que constrói uma nova ponta que de maneira polêmica os liga ao oci-dente.#

Revolução Mudanças no governo Conflito armado Grandes protestos Pequenos protestos

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Page 16: HEXETEG

por Carolina Nemer

No dia 22 de julho, na Ilha de Utoya e Oslo, Noruega, 76 pessoas foram brutalmente as-sassinadas por Behring Breivik, jovem norueguês de 36 anos de idade, branco e desequilibrado. A princípio se achava que esse ataque era um ato terrorista is-lâmico. Antes de qualquer aver-iguação, a imprensa já divulgava o ocorrido como tal. Ao ouvir es-ses rumores, vários lideres políti-cos se manifestaram precipita-damente, colocando-se a favor da Noruega caso houvesse conflito

contra as forças terroristas. Algum tempo depois veio à tona a figura do assassino: olhos claros, alto e loiro, exatamente como as vítimas. Após o ocorrido chegou-se a pensar que seria o momento ideal para se iniciar uma “cru-zada” contra islamofobia. Porém, depois de aprofundar os estu-dos sobre essa tese, foi possível perceber que tal progresso não ocorrerá. Não imediatamente, pelo menos. A visão europeia do islã ainda é cheia de precon-ceito, xenofobia e desinformação. Behring, que estava ar-mado até os dentes, caçou os in-tegrantes de um congresso da ju-ventude do Partido Trabalhista, de tendência esquerdista, durante uma hora e meia, plano que já es-tava sendo preparado há algum

tempo. O jovem norueguês es-creveu um manifesto de 1500 pági-nas sobre a sua ideologia baseada no catolicismo fundamentalista. Parece que os seus atos têm uma grande influência do pensamento extremista divulgado pelos líderes conservadores de extrema direita. A política praticada na Europa acabou fazendo de um nativo um letal inimigo. Se as es-tratégias continuarem seguindo as mesmas linhas de pensamento, cheias de preconceito e de fo-bias ao diferente, o que teremos a seguir? Uma terceira guerra, na qual mísseis serão disparados pelos seus próprios militantes? E qual será o trabalho da imprensa e dos líderes governamentais, achar um bode expiatório do clichê do medo pós 11 de setembro?#

O Bode Expiatorio

da CivilizaÇao

Ocidental?

Politica

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Tirinhas

Humor

por: Eric Valério Uzan

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por: Sarah Gimbernal

Sinceramente, não me lembro o que é ser filha única; quando me perguntam eu nunca sei responder, pois minhas vívidas lembranças come-çam com uma casa cheia. É a partir do meu primeiro irmão que a minha vida começa de fato e hoje ele tem treze anos. Não me lembro quando foi que minha mãe deu a notícia de que teria um irmãozinho, mas lembro-me de desejar com toda a fé que possuía em meu pequeno coraçãozinho que nas-cesse uma menina para que eu pudesse brincar de boneca. Não funcionou. Foi meio sem graça no começo, não senti ciúmes nem nada, pois ele só comia e dormia. Nem chorar ele chorava. Sim-plesmente não sentia que ele estivesse roubando a atenção dos meus pais, na verdade ele só os fazia sentirem-se res-ponsáveis por me dar mais atenção do que o normal, foi ótimo. A notícia do segundo irmão eu lembro, ah sim, como lembro. Minha mãe sentou comigo e com meu pai no sofá e disse que eu teria outro irmãozi-nho; o que eles não sabiam é que eu já tinha me contentado com um, aquele que não chorava e não reclamava de pra-ticamente nada. Aí veio ele, que agora tem onze anos e continua com o mesmo tom claro de cabelo que destoa de mim e de meus outros dois irmãos, além dos olhos verdes, que também são um pouco mais claros. Esse sim chorava e era um saco, eu já tinha sete anos e falta-va apenas um ano para que eu mudasse de escola e fosse para longe da guarda da minha mãe dentro da

escola, pois naquele tempo eu estudava na escola que ela possui. Quem ficou radiante foi o meu primeiro irmão, que finalmente tinha alguém para brincar. Um tempo depois descobri que poderia usá--los como meus alunos de verdade em minha peque-na sala de aula. Então, os ensinei a ler e a escrever.

Crônica

Um é pouco, dois é bom, três já é violação de densidade demográfica

Capa da Revista da Folha - Ago/2004

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Quando completei dez anos de idade minha mãe veio com aquele olhar de novo, porém era algo mais cansado e carregado, e notei também que meu pai já estava sem al-guns cabelos na parte lateral da cabeça, como se os tivesse arrancado. Minha mãe estava grávida de novo. Foi a partir daí que esqueci completamente o que era ser filha única, tal-vez eu nunca tenha sido de qualquer forma. Lembro-me do dia em que soube-mos que o meu mais novo irmão iria ser um irmão de fato, nunca vou esquecer aquela sensação de tristeza que tomou conta de mim quando o médico disse “é um menino” e sorriu pra mim com um ar de compaixão, eu afirmo com certeza que ele sabia que eu queria uma menina. Nunca irá sair da minha memória o dia em que meus pais foram me buscar na escola e me levaram diretamente para a ma-ternidade pois meu irmão ia nascer. Eu estava no quarto com eles e a enfermeira mandou que eu e meu pai saíssemos do quarto para que minha mãe pudesse ser preparada para o parto. Meu pai me pegou pela mão, me levou até a máquina de salgadinhos e tentou inutilmente colocar uma nota de cinco reais lá dentro para que conseguíssemos alguma

comida. O tempo passou rápido demais, de re-pente me vi em um quarto com uma treliche e um bebê chorando ao longe. Percebi que a casa jamais ficaria vazia novamente. Se eu disser que de toda essa experiência só posso tirar coisas ruins eu estaria contando uma mentira horrível e egoísta, pois grande parte dos meus sorrisos eu devo a esses três meninos que invadiram minha casa, tomaram todos os meus futuros brinquedos e, principalmente, meus pais. Ter a casa vazia é bom, mas não por muito tempo – sempre convivi com muitas pessoas ao meu redor e é graças aos meus irmãos que nunca estou sozinha e jamais vou ficar. Apesar de re-ceber três vezes a mesma notícia ter sido um trauma – às vezes sonho que minha mãe me diz que está grávida novamente e dessa vez são trigêmeos – , nunca poderia me imaginar sem essas três peças essenciais do meu que-bra-cabeça, eles me fizeram o que eu sou hoje e isso eu jamais posso negar. Desculpem-me aqueles que acham que minha família eleva as taxas densidade demográfica do país, mas toda regra tem uma exceção e minha família é essa exceção.#

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Da esquerda para a direita: Renato, Jordi e Jaime.

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

As imagens produzidas por Ciça Mome transitam entre a art nouveau, que dá contornos aos prédios do centro, e o de-sign dos modernos edifícios da Avenida Paulista. Num outro eixo, a fotógrafa nos impressiona ao retratar a megalópole de cima. Grandes sulcos abertos pelas ave-nidas rasgam um mar de concreto de um lado a outro. Torres, pontes e estruturas rodoviárias se destacam na imensidão de concreto. Um poema imagético que se desdobra em versos truncados que fixam a beleza do caos cotidiano da cidade.#

CLICKS DO VELHO E DO NOVO

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Musica

por Paulo M. Ribeiro, professor de português do Ensino Médio e guitarrista da banda TuNa

As perguntas que mais ouvi além do costumeiro e retórico “Tudo bem?” que acompanha o “Bom dia!” nesta vol-ta de férias ao Hugo Sarmento foram: “E aí, como é que foi a turnê? Por que países você passou?” e “O que você fez em Am-sterdã?” (perguntin-ha capciosa essa...).E a verdade é que, no trauma pós volta, misturado com fuso horário trocado e um monte de lição de casa para fazer (ou vocês, alunxs* acham que é só para vocês?), eu não respondi direito como é que foi, já que as históri-as desses quase dois meses de viagem viriam aos poucos, conforme os contextos fossem pedindo. Agora, aqui na revista Hexeteg, procurarei dar uma resposta mais detalhada e informativa a res-peito disso, começando pelo começo da história: Entrei numa banda, assim, de verdade, em 1993. Na época arranhava um violãozinho (tipo um

Religião Umbanda com a galera no portão, sentado na calçada ou no grêmio do colégio) e conheci uma turma que tinha um grupo chamado Coletivo Altruísta, que fazia fanzines, organizava shows, protestos, palestras e cujos membros tinham duas bandas: a Metropolixo e a Execradores. Fui convidado primeiro para tocar na Metropolixo: um dos caras teve que deixar a banda por causa da faculdade (na real, isso não era motivo, dava para conciliar, sempre dá). Assumi o contrabaixo e aprendi a tocar as músicas, que na época eram muito

difíceis para mim, na raça, com muito en-saio no baixo que eu pegava emprestado, pois não tinha o meu próprio, usava o que pertencia ao coletivo, um velho Gianinni Sonic vermelho que estava mais para ber-imbau que para con-trabaixo. Pouco depois o baixista da Execra-dores deixou a banda também e eu assumi o baixo das duas, as úni-cas bandas em que to-

quei esse instrumento, pois migrei em seguida para a guitarra. Assim, fui tendo bandas (umas oito no total) e fazendo parte de grupos culturais como o Altruísta ao longo desses quase 20 anos. Algumas vezes ajudei a manter e organizar casas culturais onde acontecia de tudo, shows, exposições de arte, encontros temáticos, reuniões de outros coletivos etc. É algo que faz parte da minha vida, e ser um agitador cultural me possi-bilitou muitas coisas: conhecer muita gente de mui-

A tour da banda TuNa e o DIY

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tos lugares do Brasil e do mundo, aprender e ensinar, gravar discos e claro, viajar barato e fazendo algo mais que ver prédios e quadros nos lugares para onde vou. Todas essas coisas, o DIY me proporcionou. Calma que eu explico: o DIY (do it yourself – faça você mesmx) é uma prática comum no movimento libertário, anarquista e alterna-tivo mundial. Nasce do reconhecimento de que nossos anseios e nossa produção não devem se apoiar em instituições oficiais ou empresas de entreteni-mento para acontecer-em. É uma prática de vida ligada a um de-sejo de não alienar-se e participar de todas as etapas de produção artística, de uma forma solidária, basea-da na afinidade e no apoio mútuo, de modo a formar uma grande comunidade de pessoas em que todxs são consumidorxs e produtores, uma rede de amizades funcionando como uma grande família, na qual o din-heiro entra apenas como um viabilizador para que as coisas aconteçam, não como moeda de troca ou fim em si. O que move gente em todas as partes do mun-do é a paixão de ver e fazer as coisas acontecerem, de poder escrever uma parte da história e mostrar que toda ela pode ser construída a partir de outros valores. O DIY funciona a partir de uma enorme rede de comunicação e apoio mútuo por todo o mundo. Minha casa mesmo é um desses pólos aqui na cidade. Junto de amigxs organizo shows e turnês de bandas de outros estados e países; só no último ano foram hospedadas em casa bandas dos EUA, da Venezuela, da República Tcheca, do Rio de Janeiro, de Salvador, mais uma dupla de cineastas da África do Sul, membros de uma editora

Um lago gelado no norte da Suécia

A van e a bagagem; cabia, acreditem

alternativa de livros e três Suecxs, entre outrxs. Essas pessoas são amigas ou amigas de amigxs, gente que faz as mesmas coisas, gosta do mesmo tipo de músi-ca, que é também adepta do veganismo etc. E foi um batalhão de gente dessa comunidade, que já con-hecíamos ou não, que nos ajudou a realizar a turnê.A TuNa** existe já há uns dois anos e pouco, mas só no fim do ano passado começamos a tocar mesmo. Desde o início tínhamos nos planos viajar, tocando o máximo que pudéssemos. No fim do ano passado, começo desse ano, combinamos que em julho de 2011 viajaríamos em tour pela Europa, coisa que já fiz duas outras vezes em 2000 e em 2002. Todo esse tempo, desde nossa decisão entre janeiro e julho, foi gasto com a organização da viagem: primeiro vimos os dias que tínhamos disponíveis, em que países gos-taríamos de tocar e traçamos uma rota, assinalando no mapa as cidades pelas quais poderíamos de pas-

sar. Em algumas delas já conhecía-mos pessoas e lhes escrevemos. Essas pessoas nos iam passando contato de outras pessoas, de outras cidades, e, aos pouquinhos, depois de centenas de emails trocados conseguimos uma rota, começando

pela Suécia, pois a Xenia (que eu conheci e de quem fiquei amigo aqui no Brasil, quando ela ficou hospe-dada em minha casa, a pedido de outro amigo, este brasileiro, mas que vive em Estocolmo), se dispôs a ser nossa motorista ao longo da viagem. Ela con-seguiu com um cara, que também foi nosso motor-ista, alugar uma van por um preço ridículo: €150,00 por semana, além das despesas de gasolina e pedágio. A rota ficou assim: Suécia, Dinamarca, Alemanha,

TuNa, Wrath Cobra (EUA) e os motoristas23

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Áustria, República Tcheca, Croácia, Eslovênia, Suíça, França, Espanha, Bélgica (passando antes pela França de novo), Holanda, Alemanha e, por fim, de volta à Suécia. Fora isso, preparar merchandising para levar: camisetas, bottons, adesivos, fanzines, coisas que, ven-didas, nos ajudariam a custear a viagem e a divulgar a banda.O acordo com xs organizadores dos shows era o seguinte: receberíamos uma parcela da bilheteria, pelo menos o sufi-ciente para pagar as despesas da van e da viagem até a cidade seguinte; teríamos também jantar, café da manhã e local para dormir. Além disso todos os locais também nos da-vam bebidas durante as festas... Que mais podería-mos querer? Só a chance de tocar, ver bandas con-hecer gente e fazer amigxs... e fazer um turismozinho quando havia tempo hábil. E quase sempre tinha. Começamos em Estocolmo, num lugar cham-ado Grundbulten, gerido por uma turma muito aten-ciosa. Já conhecíamos algumas pessoas na cidade e do coletivo organizador. Foi um show bem legal e, depois dele, ficaríamos cinco dias sem tocar. Para esse meio tempo a Xenia organizou umas fé-rias no norte da Suécia, em casa de mais amigxs. Muita natureza, lagos incríveis a temperaturas baixíssimas, mas que não nos assustaram. Ar-rancar a roupa toda e pular nesses lagos congelantes foi revigorante e, de verdade, muito prazeroso. Depois ainda tivemos outro show na Sué-cia, num grande festival, realizado todo ano nos arredores de Gottem-borg, chamado Punk Illegal, que tem como objetivo angariar fundos para auxiliar a vida dxs imigrantes ilegais do país, muitxs dxs quais são refugiadxs de guerra, muçul-manxs especialmente. O festival ac-ontece durante dois dias e dezenas de bandas tocam em dois palcos; gente de toda a Europa viaja para lá e dorme em barracas armadas no camping gratuito ao lado do local. Ficamos felizes de dividir o palco com tanta gente que, como nós, acredita num mundo

sem fronteiras e com possibilidades iguais para todxs. Os outros concertos foram acontecendo e a nossa rotina seguia: viaja, viaja, viaja; chega ao local, conhece a galera; descarrega o equipamento do car-ro, monta o palco, passa o som; monta a banquinha

com merchandis-ing; janta, bebe; toca, bebe, dança con-fraterniza, dorme e, no dia seguinte, viaja, viaja, viaja... Foram, no total, 29 shows em 27 cidades (tocamos duas vezes em Berlim e duas em Amsterdã). A maio-ria dos eventos acon-teceu em squats ou em centros de juven-tude que, anterior-

mente, foram squats. Para quem não sabe, um squat, chamado em português de ocupação é um espaço de cultura DIY sediado em um prédio ou casa que fora abandonado. Os grupos ocupam esses espaços oci-osos e os transformam em moradia, local de shows e outros eventos culturais, restaurantes, cafés, bibli-otecas, selos musicais, estúdios de ensaio e gravação etc. Alguns desses lugares, em muitos países são le-galizados, isto é, têm um acordo com o governo, que aceita a ocupação do edifício e, em alguns casos,

fornece algum auxílio financeiro, reconhecendo a importância do espaço como gerador de cultura.Na Alemanha, por exemplo, to-dos os squats são legalizados, com exceção do Köpi, em Berlim. O prédio é um antigo hotel de luxo do início do século XX que sobre-viveu a duas guerras mundiais e a todo o período de guerra fria. A parte da frente, que contava com uma entrada, um chafariz onde carrões faziam uma voltinha para entrar e algumas paredes foram destruídas por bombardeios, mas a estrutura principal está de pé e

firme. O primeiro andar do prédio conta com um bar beeeem punk, uma cozinha grande e bem montada, alojamento para bandas e visitantes e tam-bém um grande espaço para shows, que por sinal é muito bem equipado e conta também com um pro-jetor. O show no Köpi foi quase um show dos Bric:

Köpi, em Berlim: último squat ilegal

O LP: cooperação.

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estavam programadas, além de nossa banda brasileira, uma banda chinesa e uma russa: só faltava uma in-diana. Mas no fim, metade dos Bric faltou: a banda russa ficou detida na fronteira e não pode comparecer. Olha o tema da estupidez das fronteiras aí de novo...Em Berlim também pegamos nossos LPs, sim, elepês, discões de vinil com nossa música. O álbum também foi produzido de maneira DIY, com a colaboração de vários selos franceses e um japonês. Ficou bem bo-nito e ficamos muito orgulhosos de ter em mãos a gravação da última vez que tocamos com nosso queri-do Mudinho, o baterista original da banda que faleceu em novembro passado, três semanas depois de ter-mos gravado. Dedicamos o trabalho à sua memória.Na França todos os shows foram com bilheteria tipo “preço livre”, ou seja, cada um paga o que quiser, se quiser, para ver o show. Uma coisa interessante disso é que ninguém entrava sem pagar alguma coisa e, em geral, o valor médio de um show do porte do nosso: € 5,00 a 10,00. As pessoas entendem que é necessário contribuir de alguma forma para as coisas de que gostam aconteçam, e o dinheiro faz parte das necessidades para o desenvolvimento da, como chamamos, cena DIY. Na Alemanha também houve shows com valor facultativo: de € 4,00 a 7,00, por exemplo. O curioso é que a grande maioria pagava o preço máximo. Algumas pessoas se recusavam a pagar o que pedíamos pelo disco, por exemplo, dizendo que só comprariam se fosse por um valor maior, pois entendiam que uma banda viajando tem várias despesas. Foram muitos shows, bons momentos, algumas brigas, é claro, pois conviver num grupo de oito pessoas (quatro da banda, dois amigxs que foram para ajudar e dois motoristas) em um carro cheio de guitarras, amplificadores, alto-falantes etc. vinte e quatro horas por dia nos sete dias de seis semanas seguidas gera estresses também. Tudo resolvido com diálogo ou com silêncio e isolamento, porque às vezes tudo de que se precisa é algum espaço para respirar individualmente. De tantos shows e lugares fica difícil falar aqui neste pequeno texto. Vai uma passada por algumas

coisas: os shows em pequenas cidades, organizados por coletivos ligados à agricultura ecológica; os shows em casas antigas, construídas ainda na Idade Média; um show surpresa, marcado um dia antes, divulgado no Facebook e que bombou; os mergulhos num lago profundo e cristalino nas montanhas da Eslovênia; a feira do livro anarquista; ver o show do Neurosis, uma das bandas preferidas de todxs nós; ir ao Pratz em Viena, ao museu do muro em Berlim, ao parque Guell; reencontrar amigxs... Agora, de volta ao Brasil, o plano é ensaiar muito, compor novas músicas e preparar um novo disco, tocar por aqui (queremos ir logo para o nordeste) e, quem sabe, logo menos ir para outra tour internacional.Em outras palavras, continuar viven-do aquilo pela qual somos apaixonados.#

* é comum no meio libertário o uso de sinais neutraliza-dores de gênero em situações que a palavra deve se referir a pessoas de diferentes gêneros, uma alternativa à norma pa-drão, na qual o masculino é empregado ainda que as pes-soas do gênero masculino sejam minoria no grupo refer-ido. Assim, onde se lê alunxs entende-se: alunas e alunos.

**Você pode ouvir o som e buscar mais informações so-bre a banda no site www.tunapunkrock.com, assim como ler o diário de bordo da tour, com histórias mais por-menorizadas das coisas que encontramos e vivemos.

Renato, o batera e grafite em Girona (Es)

Raspberries de horta permacultural

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Não, meus argumentos contra a legalização por Julia Jacob

Legalizar: Tornar legal; dar força de lei a (um ato, ou disposição). Revestir das formalidades exigidas por lei. Autenticar.

Legalizar a maconha significa, portanto, regu-lar o plantio, a distribuição e uso a partir de determinações das insti-tuições. A proposta já é debatida pela sociedade há algumas décadas e cada vez mais engrossam-se as fileiras daqueles que defendem que a lei deve ser mudada.Para que o debate não fique apenas em seu aspecto legal ou jurídico, é importante considerar as conse-quências do seu uso contínuo para o corpo e os impactos socioeconô-micos. A maconha é classificada como uma droga alu-cinógena ou perturbadora, pois faz com que o cérebro funcione de forma confusa. Como resultado, a pessoa apresenta uma perturbação na capacidade de perceber o espaço e o tempo, além de apresentar um prejuízo na memória e atenção. Os efeitos causados pelo consumo da maconha, bem como a sua intensidade, são os mais variáveis e estão intimamente ligados à dose utilizada, concentra-ção de THC (Tetrahidrocarboneto) na erva consumida e reação do organismo do consumidor à presença da droga. O THC age no sistema nervoso central como um neurotransmissor, podendo causar sintomas físicos e psicológicos ao usuário. O hábito de fumar maconha, mesmo em pouca quantidade, pode danificar a memó-ria, segundo recente estudo elaborado pela Universi-dade Federal de São Paulo (UNIFESP). Quando o uso é crônico e se inicia antes dos 15 anos de idade, o risco é ainda maior, devido ao efeito tóxico e cumulativo do

tetrahidrocanabinol (hoje mais potente pelas mutações genéticas) no desempenho cerebral. Seu uso também diminui a produção de tes-tosterona, fazendo com que o homem que consome continuamente a maconha apresente diminuição em sua fertilidade. Além disso, pode reduzir a capacidade de aprendizado e memorização, ocasionando falta de motivação para desempenhar tarefas mais simples do cotidiano. Diversos têm sido os argumentos em torno da liberação da maconha para uso medicinal. Em países como o Canadá e os EUA o uso é restrito ao tratamento

de certas doenças graves, tais como Aids, artrite, esclerose múltipla e câncer, e, em alguns estados ame-ricanos, a maconha é usada no tratamento de glaucoma (ela aju-daria a diminuir a pressão no olho, reduzindo a dor). Liberando o comércio, o tráfico não deixaria de existir, e nossa vi-zinhança com outros países produ-tores de droga poderia transformar o nosso país no paraíso das drogas mundial. Assim, é plausível pensar

que a liberação causaria o aumento do consumo, o fortalecimento da cadeia do narcotráfico e aumento da distribuição das outras drogas, aumentando também o número de usuários e dependentes. Segundo reportagem da revista Veja, a Holanda foi o primeiro país a permitir o uso de maconha, em 1976, ainda que restrito a bares especiais e só para maiores de 18 anos. A tolerância teve sucesso em tirar os consu-midores da clandestinidade, mas não surtiu o mesmo efeito no tráfico. Metade dos crimes cometidos no país são ligados aos entorpecentes, e o número de presos triplicou nos últimos dez anos. Portanto, após analisar diferentes estudos e pesquisas empreendidas pelo mundo, entendemos que a cannabis não é tão inofensiva . Se legalizarmos a maconha, haverá um risco de transformar o Brasil num paraíso internacional do tráfico de drogas, além dos prováveis elevados gastos com saúde publica e seguran-ça. #

Um estudo realizado em 1994, nos Estados

Unidos, demonstrou que adultos que usaram

maconha quando crianças tinham 17 vezes

mais chances de se tornarem usuários regula-

res de cocaína. Dois trabalhos publicados na

revista Science, em 1997, mostravam que os

efeitos produzidos no cérebro pela maconha

são semelhantes aos da heroína e cocaína.

Vários países têm discutido a legalização da cannabis sativa, po-pularmente conhecida como Maconha. Isso ocorre porque novas pes-quisas estão promovendo a quebra de vários tabus entorno da planta. Cada nova pesquisa divulgada mostra que a guerra contra essa planta foi motivada muito mais por fatores raciais, econômicos, políticos

e morais do que por argumentos científicos.

Em Opinião

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Sim, meus argumentos a favor da legalização

por Thiago Buchianeri

Em nosso país houve, nos últimos anos, inúmeros movimentos e manifestações pela descrimina-lização da maconha visando combater os estereótipos relacionados ao uso da substância. Apesar da proibi-ção na Convenção Única de Entorpecentes, em 1961, e de um processo de repressão desenvolvido desde então, o seu consumo apenas aumentou. Houve também um aumento da violência e dos problemas sociais ligados à produção e distribuição ilegais da planta. Seu uso como entorpecente recreativo é apenas uma das possibili-dades que a planta oferece, e fechar os olhos para ou-tras aplicações da cannabis é apenas inflexibilidade servindo ao conservadoris-mo irracional. Grupos de pes-quisadores entendem que os efeitos medicinais da maconha, um analgési-co poderoso, beneficiam pacientes que sofrem de câncer, AIDS, glaucoma e esclerose múltipla, entre outras doenças. Pessoas tratadas com quimioterapia geralmente sofrem de fortes enjoos, eventualmente tão terríveis que alguns afirmam preferir a doença ao remédio. Há medicamentos para reduzir esses efeitos colaterais e eles são eficientes. No entanto, alguns pacientes não respondem a nenhum remédio tradi-cional e respondem muito bem ao uso da maconha. Mas os médicos se veem num dilema crucial. Como receitar um remédio que é proibido? No campo econômico, as fibras do cânhamo podem ser utilizadas para fabricar roupas, levantar

paredes e compor a estrutura de um carro, devido à sua resistência (ela é duas vezes mais forte que outras fibras orgânicas). As sementes podem ser aprovei-tadas para a produção de biodiesel, devido ao seu potencial oleaginoso. Em uma experiência desen-volvida na Universidade de Connecticut, nos EUA, cerca de 90% do óleo das sementes foi convertido em combustível. Além disso, a maconha pode ser plan-tada em solo pobre, de baixa qualidade e sem neces-sidade de pesticidas. A cannabis substitui os biocom-bustíveis que necessitam ser plantados em lavouras destinadas ao plantio de alimentos. No que se refere à criminalização, cabe lem-

brar que vivemos em um país em que a taxa média nacional de esclarecimento de homicídios dolosos é de 8% (92% dos homicídas permanecem impunes, nem sequer são identifi-cados nas investigações policiais). Por sua vez, as penitenciárias estão entu-pidas com jovens pobres, com baixa escolaridade, que negociavam drogas no varejo. Segundo o antropó-logo Luiz Eduardo Soares, ex- Secretário Nacional de

Segurança Pública (2003), autor de "Justiça" (Nova Fronteira, 2011), a política que condena esses jovens ao convívio prisional com grupos especializados no crime, sob um custo mensal de R$1.500 para o Esta-do brasileiro em nada contribui para a resolução do problema da violência no país. Repensar prioridades, e buscar novas ma-neiras de organizar e lidar com esta planta é uma necessidade urgente. Para isso, debates aprofundados e pesquisas isentas devem ocupar todos os âmbitos da sociedade, desde as conversas de famílias até os centros acadêmicos de pesquisa.#

Dois psiquiatras brasileiros, Dartiu Xavier e Eliseu Labigalini, fizeram uma experiência interes-sante. Incentivaram dependentes de crack a fumar maconha no processo de largar o vício. Resultado: 68% deles abandonaram o crack e, depois, pararam espontaneamente com a maconha, um índice altís-simo. Segundo eles, a maconha é um remédio feito sob medida para combater a dependência de crack e cocaína, porque estimula o apetite e combate a an-siedade, dois problemas sérios para cocainômanos. Dartiu e Eliseu pretendem continuar as pesquisas, mas estão com problemas para conseguir financia-mento – dificilmente um órgão público investirá num trabalho que aposte nos benefícios da maco-nha.

O tema está cada vez mais presente na nossa sociedade, sobretudo a partir do lançamento do documentário Quebrando o Tabu (2011), que conta com a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A revista Hexeteg traz em nossa primeira edição uma discussão em tor-no dessa polêmica.

Debate

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Opinião

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por Sarah Gimbernau Gimenez

Fazer um texto assim do nada parece fácil, mas é preciso muita inspi-ração, uma música excelente e algo sobre o que valha a pena escrever. Eu estou aqui escutando “You’ll be in my heart”, do Phil Collins e lembrando todos os momentos que eu passei com vocês naquela sala de aula. Sabe, mesmo que fazendo pouco tempo que eu conheço alguns de vocês eu sinto como se já fossem parte da minha vida e eu nunca, jamais, irei esquecê-los. Outro dia eu estava procurando algumas frases pra escrever no meu caderno e encontrei essa citação:“Sou grata a todos os anos que passei com essa família, por tudo que dividi-mos, cada chance que tive de crescer. Levarei o melhor deles comigo e usarei como exemplo aonde quer que eu vá. Um amigo me disse para ser honesta com vocês, e aqui vai: isso não é o que eu queria, mas seguirei meu caminho. Talvez porque eu tenha visto tudo como uma lição ou porque eu finalmente entendi. Existem coisas que não queremos que aconteçam, mas temos que aceitar. Coisas que não queremos saber, mas temos que aprender. E pessoas sem as quais não podemos viver, mas temos que deixar partir.”É exatamente assim que eu me sinto. Vou sentir falta de cada pessoa que pas-sou comigo esses três últimos anos de escola, em especial o último ano, para o resto da minha vida. E cada momento que eu passei com vocês vai estar sem-pre em minha memória e como meu pai, terei histórias sobre minha infância e adolescência pra contar para os meus filhos antes de dormir e fazer com que eles sonhem em ter algo parecido, porque nunca será melhor. Eu sei que teve momentos em que ninguém ali se aguentava mais, mas as risadas, os sorrisos, as lágrimas e as zoações sempre fizeram com que tudo melhorasse e a gente acabasse vendo que as brigas aconteceram porque nós nos amamos.

“Entramos forçados, ficamos pirados e, enfim, estamos formados.”

Palavras de despedida

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Lucas EricJu

Jay Caíça yuri

Japa

Feijão

Ciça Marco Sarah

Paulo Renato

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