HIPOVITAMINOSE D E FATORES INTERFERENTES ENTRE.pdf

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Universidade de Brasília Faculdade de Ciências da Saúde Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana EMILY DE OLIVEIRA KELLY HIPOVITAMINOSE D E FATORES INTERFERENTES ENTRE MULHERES ASSISTIDAS EM UM SERVIÇO DE CIRURGIA DE OBESIDADE NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA - DF Brasília 2011

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  • Universidade de Braslia

    Faculdade de Cincias da Sade

    Programa de Ps-Graduao em Nutrio Humana

    EMILY DE OLIVEIRA KELLY

    HIPOVITAMINOSE D E FATORES INTERFERENTES ENTRE

    MULHERES ASSISTIDAS EM UM SERVIO DE CIRURGIA DE

    OBESIDADE NO HOSPITAL UNIVERSITRIO DE

    BRASLIA - DF

    Braslia

    2011

  • EMILY DE OLIVEIRA KELLY

    HIPOVITAMINOSE D E FATORES INTERFERENTES ENTRE

    MULHERES ASSISTIDAS EM UM SERVIO DE CIRURGIA DE

    OBESIDADE NO HOSPITAL UNIVERSITRIO DE

    BRASLIA - DF

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Nutrio Humana da Faculdade de

    Cincias da Sade da Universidade de Braslia,

    como exigncia para obteno do ttulo de mestre

    em Nutrio Humana.

    Orientadora: Profa Dr

    a Knia Mara Baiocchi de

    Carvalho.

    Braslia

    2011

    ii

  • EMILY DE OLIVEIRA KELLY

    HIPOVITAMINOSE D E FATORES INTERFERENTES ENTRE MULHERES

    ASSISTIDAS EM UM SERVIO DE CIRURGIA DE OBESIDADE NO HOSPITAL

    UNIVERSITRIO DE BRASLIA - DF

    Esta dissertao foi defendida no Programa de Ps-Graduao em Nutrio Humana da

    Faculdade de Cincias da Sade da Universidade de Braslia, como requisito parcial

    obteno do grau de Mestre.

    Braslia, 26 de setembro de 2011.

    BANCA EXAMINADORA:

    PRESIDENTE/ORIENTADOR: Profa Dr

    a Knia Mara Baiocchi de Carvalho

    Programa de Ps-Graduao em Nutrio Humana / Faculdade de Cincias da Sade

    /Universidade de Braslia - UnB

    2 MEMBRO: Profa Dr

    a Lilian Cuppari Valle

    Afiliada da Disciplina de Nefrologia

    Programa de Ps Graduao em Nutrio

    Universidade Federal de So Paulo - UNIFESP

    3 MEMBRO: Profa Dr

    a Sandra Fernandes Arruda

    Programa de Ps-Graduao em Nutrio Humana / Faculdade de Cincias da Sade

    Universidade de Braslia - UnB

    SUPLENTE: Profa Dr

    a Marina Kiyomi Ito

    Programa de Ps-Graduao em Nutrio Humana / Faculdade de Cincias da Sade

    /Universidade de Braslia - UnB

    iii

  • Este trabalho dedicado a todos os meus

    pacientes de cirurgia baritrica...

    iv

  • AGRADECIMENTOS

    minha orientadora e amiga professora Kenia, sempre presente ao longo dessa difcil

    jornada. Obrigada pela compreenso, pacincia, carinho e otimismo em todos os momentos.

    Sua maneira simples de ver e resolver as coisas foram meu guia e essenciais para a concluso

    deste trabalho.

    Aos meus queridos pais, agradeo pelo que sou hoje, pelo apoio, esforo e dedicao. Tenho

    certeza que o amor incondicional e participao de vocs em cada fase de minha vida me

    ajudaram a superar obstculos e me fizeram chegar at aqui.

    minha irm, Brenda, pela amizade, compreenso nos momentos difceis e pelo grande amor

    que nos mantm sempre unidas.

    A toda minha famlia: avs, tias, padrinho e primas, meu obrigado por todo amor e confiana.

    nutricionista e amiga Silvia Leite Faria, por me introduzir na rea de cirurgia baritrica e

    principalmente por me dar um voto de confiana em um momento difcil.

    s minhas grandes amigas e nutricionistas Aline Figueiredo, Janini Ginani, Mariana

    Melendez e Renata Miranda. Espelho-me em todas para ser uma profissional cada vez melhor.

    s companheiras de mestrado Fernanda Bassan e Caroline Romeiro, pelo companheirismo e

    apoio mtuo nessa poca to especial de nossas vidas.

    A todos os meus amigos, pelo carinho, apoio e incentivo.

    Aos pacientes, pela confiana em gentilmente colaborar e tornar possvel este estudo.

    Um agradecimento especial ao laboratrio SABIN e Dra. Luciana A. Naves pelas anlises

    bioqumicas realizadas.

    v

  • S sabemos com exatido quando sabemos pouco; medida que vamos adquirindo

    conhecimento, instala-se a dvida.

    Johann Goethe

    vi

  • RESUMO

    INTRODUO: A obesidade um fator de risco para hipovitaminose D (HVD) e a gastroplastia redutora com

    derivao gastrojejunal em Y de Roux (GRYR) pode potencializar este risco, em funo das restries dietticas

    e do processo disabsortivo envolvido. Contudo outros fatores devem ser considerados, como a perda de peso

    ps- operatria, uso de suplementao e exposio solar. OBJETIVO: investigar o estado de vitamina D e

    fatores interferentes em mulheres assistidas em um servio de tratamento de obesidade grave do hospital

    universitrio de Braslia-DF. METODOLOGIA: Foram avaliadas neste estudo transversal pacientes com mais

    de 24 meses GRYR (grupo ps operatrio - PS; n = 34), pareadas por idade, com pacientes na fase de

    preparao para a cirurgia (grupo pr operatrio- PR; n = 27). Aferiram-se o ndice de massa corporal (IMC;

    Kg/m2) e pelo exame de bioimpedncia, a porcentagem de gordura corporal (GC). O uso, tempo e dose de

    suplementao de vitamina D foram investigados, assim como avaliao da exposio solar. Dosaram-se 25-

    Hidroxivitamina D (25OHD) e hormnio da paratireoide (PTH). Considerou-se deficincia de vitamina D

    valores de 25OHD inferiores a 20 ng/ml. RESULTADOS: Aproximadamente metade da amostra j se

    encontrava em fase de menopausa (48,1% PR; 50,0% PS; p= 0,89). Entre as pacientes operadas (IMC =

    32,29 5,0 Kg/m2

    ; GC= 34,3 8,2 %), 73,5% faziam uso de suplementao em dose variada (835,5 1000,4

    UI), com 60% das pacientes recebendo dose maior que 800 UI/dia, iniciada h 13,88,8 meses do momento da

    investigao, sendo que apenas 11% iniciaram a suplementao desde o 1 ms de ps-operatrio. As pacientes

    PR ( IMC = 44,57 5,4 Kg/m2; GC = 44,9 4,9%) no estavam sendo suplementadas. Verificou-se que 44,4%

    das pacientes PR e 55,9% PS estavam com exposio solar suficiente, sem diferena estatisticamente

    significativa entre os grupos (p=0,375). A prevalncia de HVD de vitamina D foi de 38,0% no grupo PR e de

    47,0% no grupo PS, correspondendo aos nveis mdios de 25OHD de 20,76,4 e 18,1 7,6 ng/ml

    respectivamente, sem diferena significativa entre os grupos (p = 0,133). Nveis sricos de 25OHD apresentaram

    associao com tempo de cirurgia (rho=0,417, p=0,009), porcentagem de GC (-0, 473, p=0,044), perodo de

    suplementao (rho = 0,384, p=0,039) e dose de suplementao (rho=0,301, p=0,05), mas no para exposio

    solar. Tambm encontrou-se correlao entre PTH e nveis de 25OHD ( rho= -0,251, p=0,026), embora mais da

    metade das pacientes que apresentavam nveis adequados de PTH, estavam com nveis inadequados de vitamina

    D. CONCLUSO: Houve prevalncia elevada de HVD tanto em pacientes de fase pr quanto de fase ps-

    operatria de GRYR. A reduo da porcentagem de gordura corporal mostrou-se protetor, mas no o suficiente

    para manter melhores nveis de 25OHD. O nvel de PTH no deve ser usado como preditor do estado de

    vitamina D. DESCRITORES: obesidade, cirurgia baritrica, hipovitaminose D.

    vii

  • ABSTRACT

    BACKGROUND: Obesity is a risk factor for vitamin D Deficiency (VDD) and Roux and Y gastric bypass

    (RYGB) can increase this risk due to dietetic restrictions and the malabsorbtive process included. But other

    factors must be considered, like post-operative weight loss, use of supplementation and sun exposure.

    OBJECTIVE: to investigate vitamin D levels and interfering factors in women receiving care

    at a multidisciplinary service for treatment of severe obesity from the University Hospital of Braslia.

    METHODS: This cross sectional study included patients with over 24 months of RYGB ( postoperative group-

    POST, n = 34), matched by age with patients preparing for surgery (preoperative group -PRE, n = 27). A

    questionnaire was applied to identify socio-demographic characteristics, time of surgery and nutritional

    counseling. Weight, height and % of body fat (BF) were assed. Dietary intake of vitamin D was evaluated after

    application of food frequency questionnaire. The use of vitamin D supplementation, time of use and dosage was

    investigated. The amount of sun exposure was assessed among the patients. Biochemical analysis of serum 25-

    hidroxivitamin D (25OHD) and parathyroid hormone(PTH) were performed. RESULTS: Approximately half of

    the sample was in menopause (48,1% PR; 50,0% PS; p= 0,89) Among the operated group (BMI = 32.29 5.0

    Kg/m2

    ; BF= 34.3 8.2 %), 73.5% were in use of supplementation with different dosages (835.5 1000.4 IU),

    with 60% of the sample receiving doses above 800 UI/day, initiated at 1313.1 8.8 at the time of the study, and

    only 11% having started supplementation at 1 month of surgery. The preoperative patients (BMI = 44.57 5.4

    Kg/m2; BF = 44.9 4.9%) were not supplemented. Forty-four percent of the PRE group and 55.9% in the POST

    group had adequate sun exposure, without significant differences between the groups (p=0.375). The prevalence

    of vitamin D deficiency was of 38.0% in the PRE group and of 47.0% in the POST group, with

    mean 25OHD levels of 20.7 6.4 and 18.1 7.6 ng / ml respectively, with no significant differences between

    groups (p = 0,133). Significant correlation was found between 25OHD levels and: time of surgery (rho = 0.417,

    p = 0.009), fat percentage (-0.473, p = 0.044), time of supplementation (rho = 0.384, p = 0.039 ) and its dosage

    (rho = 0.301, p =0.05). A negative correlation between PTH and 25OHD levels was also found (rho = -0.251,

    p = 0.026). More than half of the patients with adequate levels of PTH had inadequate vitamin D levels.

    CONCLUSION: Patients of both pre and post-operative groups of GRYR had a high prevalence of

    VDD. Moreover, the reduction of body fat percentage seems to be an important, but not necessary enough

    protective factor for maintaining the higher levels of 25OHD. PTH cannot be considered a good predictor of

    of 25OHD levels KEY-WORDS: obesity, bariatric surgery, vitamin D, vitamin deficiency

    viii

  • LISTA DE TABELAS E FIGURAS

    Figura 1 Modificao do sistema digestivo aps Gastroplastia Redutora com Derivao Gstrica em Y de Roux. ..................................................... Erro! Indicador no definido.

    Quadro 1 Apresentao das principais formas de vitamina D Erro! Indicador no definido.

    Quadro 2- Fontes naturais de vitamina D e seu contedo ......... Erro! Indicador no definido.

    Tabela 1- Tempo de exposio solar em Braslia-DF para produo de nveis adequados de

    vitamina D, de acordo com o tipo de pele1......................... Erro! Indicador no definido.

    ARTIGO ORIGINAL

    Tabela 1- Tempo de exposio solar em Braslia-DF para produo de nveis adequados de

    vitamina D, de acordo com o tipo de pele1........................................................................ 47

    Tabela 2 Perfil sociodemogrfico, menopausa, antropometria e dados clnicos de pacientes de um programa de tratamento de obesidade grave de um hospital universitrio. Braslia,

    2010. .................................................................................................................................. 49

    Tabela 3 - Consumo diettico, suplementao de vitamina D, nveis de calcidiol e

    paratormnio (PTH) de pacientes de um programa de tratamento de obesidade grave de

    um hospital universitrio. Braslia, 2010........................................................................... 50

    Tabela 4 Distribuio das pacientes de um programa de tratamento de obesidade grave de um hospital universitrio (n = 61), de acordo com a classificao dos nveis de calcidiol e

    de paratormnio (PTH). Braslia, 2010. ............................................................................ 50

    Tabela 5- Correlaes entre nveis de calcidiol e tempo de cirurgia, porcentagem de gordura,

    dose e tempo de suplementao e exposio solar de pacientes em fase pr e ps

    operatria de um programa de tratamento de obesidade grave de um hospital

    universitrio. Braslia, 2010. ............................................................................................. 52

    Figura1 - Correlao entre nveis de calcidiol e porcentagem de gordura em pacientes de fase

    pr e ps-operatria de cirurgia de obesidade, de acordo com adequao da composio

    corporal. ............................................................................................................................. 51

    ix

  • LISTA DE APNDICES

    Apndice A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido: .................................................... 78

    Apndice B Ficha de avaliao da paciente ............................................................................. 80

    x

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    1,25(OH)2D 1,25-dihidroxivitamina D

    25OHD 25- hidroxivitamina D

    ALT Alanina aminotransferase

    AST Aspartato aminotransferase

    DPB do ingls: Protena ligadora de vitamina D

    DRI Dietary Reference Intake

    EHNA Esteatose heptica no alcolica

    ENDEF Estudo nacional de despesa familiar

    GLP1 Glucagon Like Peptide

    GRYR Gastroplastiaredutora com derivao gastrojejunal em Y de Roux

    HUB Hospital universitrio de Braslia

    HVD Hipovitaminose D

    IMC ndice de massa corporal

    PEP - Perda de excesso de peso

    PTH Paratormnio

    RDA do ingls: Recomendao de consumo dirio

    SUS Sistema nico de Sade

    UI Unidades Internacionais

    UV- Ultravioleta

    VDR Receptor de vitamina D

    xi

  • Sumrio

    RESUMO ................................................................................................................................. 7

    ABSTRACT..............................................................................................................................8

    1.INTRODUO ................................................................................................................... 11

    2. REVISO DA LITERATURA .......................................................................................... 14

    2.1 TRATAMENTO CIRRGICO DA OBESIDADE ..................................................... 14

    2.2- A VITAMINA D ............................................................................................................... 19

    2.2.1. DEFINIO ...................................................................................................................... 19

    2.2.2 METABOLISMO E FUNES ............................................................................................. 20

    2.2.3 - FONTES DE VITAMINA D E RECOMENDAES NUTRICIONAIS ...................................... 23

    2.2.4 - HIPOVITAMINOSE D: DIAGNSTICO E PREVALNCIA .................................................. 25

    2.3 -HIPOVITAMINOSE D, OBESIDADE E CIRURGIA BARITRICA ...................... 26

    3. OBJETIVO .......................................................................................................................... 32

    4. MATERIAIS E MTODOS ............................................................................................... 34

    4.1. TIPO DE ESTUDO .................................................................................................................. 34

    4.2. LOCAL DO ESTUDO ............................................................................................................. 34

    4.3. ASPECTOS TICOS ............................................................................................................... 34

    4.4. CRITRIOS DE SELEO DA AMOSTRA ....................................................................... 35

    4.5. PROCEDIMENTOS ................................................................................................................ 35

    4.6. ANLISE DE DADOS............................................................................................................. 39

    5. RESULTADOS E DISCUSSO: ARTIGO ORIGINAL ................................................ 42

    INTRODUO .................................................................................................................. 43

    MTODOS ....................................................................................................................... 44

    RESULTADOS .................................................................................................................. 48

    DISCUSSO ...................................................................................................................... 52

    REFERENCIAS ................................................................................................................. 59

    6. CONCLUSO E CONSIDERAES FINAIS .............................................................. 65

    7. REFERNCIAS .................................................................................................................68

    Apndice A: .................................................................................................................................. 78

    Apndice B: .................................................................................................................................. 80

  • 1. INTRODUO

  • 11

    1.INTRODUO

    A cirurgia baritrica considerada uma ferramenta eficaz para o tratamento da

    obesidade mrbida, especialmente quando se trata da gastroplastia redutora com derivao

    gastrojejunal em Y de Roux (GRYR). No entanto, essa tcnica cirrgica, por promover

    mudanas significativas na anatomia gastrointestinal e restries alimentares, pode acarretar o

    aparecimento de deficincias nutricionais, como o caso da hipovitaminose D (HVD).

    A HVD tambm prevalente entre os obesos mrbidos que no foram submetidos

    cirurgia de obesidade, embora a causa dessa deficincia no esteja totalmente esclarecida. Os

    possveis fatores vo desde exposio limitada ao sol e ingesto diettica insuficiente, at

    alteraes funcionais, conseqentes do excesso de tecido adiposo e esteatose heptica.

    O paciente candidato cirurgia de obesidade apresenta, portanto, dois riscos associados

    ao desenvolvimento HVD: o risco relacionado obesidade e o risco de disabsoro

    provocado pela cirurgia. Contudo, faltam estudos que estabeleam a magnitude dos vrios

    fatores determinantes do estado de vitamina D, em caso de obesidade.

    Apesar das evidncias, ainda no existe consenso sobre a dose e o melhor momento da

    suplementao de vitamina D para obesos graves, submetidos ou no a cirurgia baritrica. Por

    causa dos custos, as dosagens dos nveis sricos desta vitamina, avaliados pelo 25-

    hidroxivitamina D (25OHD), ainda no fazem parte da rotina de muitos servios pblicos de

    cirurgia de obesidade, o que dificulta o manejo para preveno da HVD.

    O presente estudo foi desenvolvido no Hospital Universitrio de Braslia, que possui um

    programa multidisciplinar de assistncia ao obeso grave e investigou fatores associados ao

    estado de vitamina D em mulheres submetidas h mais de dois anos a GRYR, pareadas por

  • 12

    idade, com pacientes na fase pr-operatria, no suplementadas. O desenvolvimento e

    resultados desta pesquisa so apresentados em seis captulos, sendo este inicial, com uma

    abordagem introdutria sobre o tema e sua relevncia.

    O segundo captulo compreende a reviso da literatura, na qual no se pretende esgotar

    o tema, mas apresentar de forma sistemtica os principais aspectos tericos, que embasaram a

    pesquisa. Sero descritos neste captulo o tratamento cirrgico da obesidade mrbida,

    aspectos relacionados fisiologia e funes da vitamina D e a relao da HVD com a

    obesidade e cirurgia baritrica.

    O terceiro captulo apresenta os objetivos do estudo e, no captulo seguinte, uma

    descrio detalhada dos materiais e mtodos utilizados.

    No quinto captulo so apresentados e discutidos os resultados do estudo e, para tal,

    adotou-se o modelo de redao na forma de artigo cientfico, seguindo as recomendaes do

    Programa de Ps-Graduao em Nutrio Humana da Universidade de Braslia. A elaborao

    do artigo seguiu as normas de publicao da revista Obesity Surgery, peridico ao qual este

    artigo ser submetido para publicao. Para esta verso, o artigo apresentado em lngua

    portuguesa. Em funo deste formato, o leitor ir encontrar algumas informaes repetidas em

    diferentes sesses, uma vez que o espao permitido ao artigo no seria suficiente para

    incluso de todo o referencial terico e o detalhamento metodolgico que deve conter uma

    dissertao, da a repetio de parte do texto.

    No sexto e ltimo captulo, constam as concluses gerais da dissertao, seguidas pela

    lista de referncias, apndices e anexos.

  • 13

    2. REVISO DA LITERATURA

  • 14

    2. REVISO DA LITERATURA

    2.1 TRATAMENTO CIRRGICO DA OBESIDADE

    A obesidade, caracterizada pelo acmulo excessivo de tecido adiposo no organismo

    (NIH, 2000), vem aumentando nas ltimas dcadas, passando a ser problema de sade pblica

    em todo o mundo. Estima-se que o sobrepeso e a obesidade j atinjam cerca de 1,5 bilho de

    pessoas em todo mundo (WHO, 2008). No Brasil, dados de 2006, referentes Pesquisa

    Nacional de Demografia e Sade (PNDS), j apontavam prevalncia de excesso de peso

    superior a 40% em todas as regies brasileiras. Resultados mais recentes da Pesquisa de

    Oramento Familiar (POF), realizada entre 2008 e 2009, apontaram excesso de peso de 50,1%

    entre os homens e de 48% entre as mulheres, sendo que 14,6% da populao adulta j

    apresentam algum grau de obesidade (IBGE, 2010).

    O critrio mais utilizado de diagnstico para obesidade baseado no ndice de massa

    corporal (IMC) maior que 30 Kg/m2, sendo considerados obesos mrbidos, severos ou de

    classe III, aqueles com IMC maior que 40 Kg/m2 (WHO, 2007). No Brasil, para este nvel de

    obesidade, a prevalncia tambm vem aumentando nas ltimas dcadas, segundo resultados

    encontrados por Santos et al (2008). Neste trabalho, a avaliao dos inquritos nacionais

    revelou que em 29 anos houve um aumento de 255% da obesidade mrbida no Brasil,

    passando da prevalncia de 0,18%, segundo o Estudo Nacional de Despesa familiar

    ENDEF, em 1974, para 0,64% de acordo com a Pesquisa de Oramentos Familiares - POF em

    2002-2003.

    O Ministrio da Sade recomenda que o tratamento da obesidade deva ser iniciado

    com medidas clnicas, incluindo a dieta, psicoterapia, medicamentos, e exerccio fsico, com

    abordagem acompanhada por uma equipe multidisciplinar (Pimenta et al, 2010). Contudo, o

  • 15

    tratamento convencional para obesidade mrbida continua produzindo resultados

    insatisfatrios, com recuperao da perda de peso em cerca de 30% a 35% em um ano do

    incio do tratamento, e com 95% dos pacientes recuperando seu peso inicial em at cinco anos

    (Anderson et al, 1984; Brownell et al, 1987). Por isso, considera-se que o tratamento mais

    eficiente e duradouro para a obesidade mrbida a cirurgia baritrica (Sociedade Brasileira de

    Cirurgia Baritrica e Metablica, 2008).

    So candidatos ao tratamento cirrgico da obesidade pacientes com IMC acima de 40

    kg/m2 ou com IMC superior a 35 Kg/m

    2 com comorbidades associadas. Devem ser

    considerados, tambm, os fracassos ocorridos com mtodos conservadores de emagrecimento,

    condies psicolgicas suficientes para cumprir as orientaes do ps-operatrio e ausncia

    de causas endcrinas da obesidade (Sociedade Brasileira de Cirurgia Baritrica e Metablica,

    2008).

    No ano de 2008, 344.221 cirurgias baritricas foram realizadas em todo o mundo por

    4.060 cirurgies. Desse total de cirurgias, 220.000 foram realizadas somente nos EUA e

    Canad. Entre os procedimentos mais realizados esto a banda gstrica ajustvel com 42,3%,

    e a gastroplastia redutora com derivao gastrojejunal em Y de Roux (GRYR) com 39,7%.

    No Brasil, o nmero de cirurgias de obesidade de aproximadamente 25.000/ano, realizadas

    por cerca de 700 cirurgies, colocando o Brasil atrs somente de EUA e Canad em termos de

    freqncia deste tipo de procedimento cirrgico (Buchwald, 2009).

    O aumento da realizao da cirurgia de obesidade pode ser explicado por trs fatores

    principais. O primeiro deles a elevada prevalncia de obesidade mundial, que faz com que

    nmeros maiores de indivduos busquem tratamento. Segundo, observa-se melhora de

    comorbidades proporcionada pela cirurgia, fator importante devido ao grande nmero de

  • 16

    evidncias que comprovam elevada mortalidade associada obesidade e, finalmente, a pouca

    eficincia de tratamentos no cirrgicos em manter perdas significativas de peso a longo

    prazo (Elder et al, 2007).

    Quanto ao tipo de procedimento cirrgico, a GRYR considerada padro ouro, em

    virtude da magnitude da perda de peso, quando comparada a procedimentos puramente

    restritivos, alm da menor taxa de complicaes, quando comparada a procedimentos com

    maior grau de disabsoro (Buchwald, 2005). Nesse tipo de cirurgia, o estmago separado

    em dois compartimentos por grampeamento e a maior poro excluda do trnsito alimentar.

    O neo-estmago comporta de 30 a 50 ml e ligado diretamente a um segmento do jejuno

    distal, excluindo o duodeno e jejuno proximal da passagem de alimentos. A ala excluda do

    transito intestinal recebe os lquidos biliares e pancreticos, entrando estes em contato com os

    alimentos, aps a anastomose com o jejuno distal na altura de 100 a 150 cm de trnsito. A

    ilustrao do procedimento cirrgico pode apresentada na figura 1.

    A perda de peso mdia do procedimento de 60 a 80% de excesso de peso no

    primeiro ano. Esta perda de peso decorre da restrio ingesto de alimentos, conseqncia

    do volume pequeno comportado pelo novo estmago e da disabsoro de nutrientes,

    provocada pela menor passagem dos alimentos pelo local de absoro, bem como do menor

    contato com os sucos digestivos (Buchwald, 2004). Outros fatores que tambm influenciam a

    perda de peso so as alteraes hormonais provocadas pela cirurgia, que levam a reduo de

    apetite, maior saciedade, e resoluo de comorbidades. Essas importantes modificaes

    hormonais levaram reclassificao da GRYR como uma cirurgia metablica. Entre as

    alteraes hormonais mais estudadas esto a reduo da produo do hormnio gstrico

    orexignico, grelina, que levaria a reduo de apetite (Cummings, 2002); e o aumento do

    Peptdeo YY e do Glucagon Like Peptide (GLP1), responsveis pela saciedade precoce e

  • 17

    melhor sensibilidade da insulina, provavelmente em decorrncia do contato mais precoce do

    alimento com a poro intestinal distal (Le Roux et al, 2006).

    Figura 1 Modificao do sistema digestivo aps Gastroplastia Redutora com

    Derivao Gstrica em Y de Roux.

    A perda ponderal resultante da cirurgia vem sendo associada a elevadas taxas de

    melhora e at de resoluo de comorbidades. Buchwald et al (2004) verificaram que uma

    reduo de 61% do excesso de peso era acompanhado por melhora do diabetes tipo 2,

    hipertenso, apnia do sono e dislipidemia. O aspecto benfico da cirurgia no diabetes tipo 2

    um dos resultados mais importantes observados. Nassif et al (2009) relatam que em pacientes

    submetidos GRYR, h melhora dos ndices de glicose srica em at 91% dos pacientes, e

    resoluo de diabetes em at 84%.

    Apesar de seus inmeros benefcios, a GRYR tambm pode resultar em complicaes.

    No perodo ps-operatrio imediato, podem ser observadas infeces, deiscncias, estenoses

    do estmago e lceras marginais. Em perodo ps-operatrio tardio, outros problemas podem

    ocorrer como vmitos, sndrome de dumping, reganho de peso e deficincias nutricionais

    (Buchwald, 2004).

    Neo-estmago

    Estmago excludo Duodeno

    Ala Alimentar

  • 18

    As principais deficincias nutricionais aps o GRYR so de protenas, ferro, vitamina

    B12, clcio e vitamina D. As deficincias ocorrem principalmente pela excluso do duodeno e

    jejuno proximal da passagem do alimento, o que reduz a capacidade absortiva de nutrientes.

    Alm disso, a reduo do estmago possibilita apenas o consumo de dieta de volumes

    pequenos, o que dificulta o aporte adequado de nutrientes (Bloomberg et al, 2005). Algumas

    dessas deficincias ocorrem j no perodo pr-operatrio, como o caso da vitamina D

    (Wortsman et al, 2000), a ser descrito mais adiante.

    Estudos tm demonstrado a ocorrncia de reganho de peso aps dois anos de GRYR

    (Shah et al, 2006; Magro et al, 2008). Provavelmente, esse reganho se deve a alguns fatores de

    adaptao da cirurgia que ocorrem com o tempo, como dilatao da bolsa gstrica, levando a

    uma perda da saciedade precoce e aumento da capacidade absorsortiva intestinal. Outro fator

    importante que tambm parece estar ligado ao reganho de peso a presena de hbitos

    alimentares inadequados. O consumo de lquidos de alta densidade calrica, a presena de

    alteraes no padro alimentar, como padro compulsivo (binger) e beliscador, assim como

    aumento progressivo do valor energtico total da dieta, so fatores que parecem estar

    relacionados com o reganho de peso (Shah et al, 2006; Sallet et al, 2007). O fenmeno de

    reganho de peso aps cirurgia baritrica sustenta o conceito de que a obesidade uma doena

    crnica e progressiva e deve ter acompanhamento constante (Brolin, 2007).

    Enfatiza-se, portanto, a necessidade de um aconselhamento nutricional sistemtico no

    ps-operatrio de cirurgia baritrica, principalmente para garantir o sucesso do tratamento,

    evitando complicaes, perda de peso insuficiente, deficincias nutricionais e at reganho de

    peso. A adoo e promoo de novos comportamentos de estilo de vida saudvel e o

    fortalecimento contra antigos hbitos que promoveram o estado de obesidade pr cirrgico

    so fundamentais para a manuteno do peso atingido ao longo prazo (Bond et al, 2004).

  • 19

    2.2- A VITAMINA D

    2.2.1. Definio

    A vitamina D foi descoberta no incio do sculo passado, aps cientistas observarem

    que a administrao diria de pequenas doses de um composto presente no leo de fgado de

    bacalhau prevenia e curava crianas com raquitismo. Esse composto lipossolvel foi

    denominado Vitamina D (Bouillon et al, 1995).

    Na dcada de 1930, descobriu-se que a exposio da pele luz solar tambm prevenia

    o raquitismo, atravs da sntese da Vitamina D pela ao fotoltica dos raios ultravioleta (UV)

    na pele. Essa capacidade de produo de quantidades adequadas pelo prprio organismo levou

    reclassificao do composto, passando ento a ser considerado um pr-hormnio, tambm

    por sua estrutura molecular ser similar a de outros hormnios esterides (estradiol, cortisol e

    aldosterona) (Norman et al, 2008).

    Sob a denominao genrica de Vitamina D, foram includas, portanto, substncias

    possuindo a propriedade de curar e prevenir o raquititsmo, sendo as formas mais comuns

    descritas no Quadro 1.

    Quadro 1 Apresentao das principais formas de vitamina D

    Nome Composio Qumica Estrutura

    Pr-vitamina D 7-dehidrocolesterol

    Vitamina D2 Ergocalciferol

  • 20

    Vitamina D3 Colecalciferol

    Calcidiol 25-Hidroxivitamina D

    Calcitriol 1,25-dihidridoxivitamina D

    2.2.2 Metabolismo e funes

    A sntese de vitamina D se inicia na pele. Localizada tanto na derme quanto na

    epiderme, a Pr-vitamina D ou 7-dehidrocolesterol, produzida endogenamente. A incidncia

    de raios UVB presente na luz solar provoca transformao no-enzimtica dessa substncia

    em Vitamina D3, tambm denominada colecalciferol. Quando h exposio solar excessiva, a

    vitamina D3 sobressalente transformada em compostos inativos, evitando dessa forma o

    aumento de concentrao a um nvel txico (Holick, 2007).

    A vitamina D proveniente de fontes dietticas vegetais tem outra conformao,

    conhecida como Vitamina D2 ou ergocalciferol. Ela absorvida principalmente no jejuno,

    incorporada a quilomcrons e transportada pela via linftica at o fgado (Holick, 2007).

    No fgado, as duas formas da Vitamina (D2 e D3) se encontram, sendo a Vitamina D3

    transportada por uma globulina, a protena ligadora de Vitamina D (DPB). A partir desse

    momento os dois compostos so convertidos em 25-hidroxivitamina D (25OHD) ou calcidiol,

    atravs de uma hidroxilao mediada pela enzima D3-25-hidroxilase (Holick, 2007).

  • 21

    Apesar do 25OHD ser a forma circulante e, portanto, utilizada nas anlises

    laboratoriais sricas para diagnstico do estado nutricional da vitamina, essa forma

    biologicamente inativa. Sua converso para a forma ativa 1,25-dihidroxivitamina D

    [1,25(OH)2D] ou calcitriol ocorre no rim, atravs de outra hidroxilao pela enzima 1-

    hidroxilase (Holick, 2007). Nos ltimos anos, tem se verificado a presena da 1-hidroxilase

    em pelo menos 10 outros tecidos, tendo esses tecidos capacidade de produo de 1,25(OH)2D

    que atuar de forma parcrina nas clulas proximais ( Norman, 2008).

    A forma ativa ento transportada aos rgos alvo atravs da DPB, onde haver

    ligao com o receptor de Vitamina D (VDR), seguido pela gerao de resposta especfica a

    cada tecido. J houve identificao da presena de VDR em pelo menos 36 tecidos, o que

    significa a possibilidade de resposta biolgica vitamina D dependendo da disponibilidade de

    quantidades apropriadas da vitamina (Norman, 2008).

    O mais importante ponto de regulao desse sistema de ao clssica da vitamina D

    ocorre pelo rigoroso controle da concentrao circulante do 1,25(OH)2D. Sua produo

    modulada de acordo, principalmente, com as necessidades de clcio do organismo. Os fatores

    de regulao mais importantes so: 1) a concentrao de 1,25(OH)2D, que atravs de um

    feedback negativo controla sua prpria produo; 2) o aumento do hormnio da paratireide

    (PTH), que ocorre com nveis reduzidos de 25OHD e clcio, levando a um estimulo da

    produo renal de 1,25(OH)2D; 3) concentraes sricas de clcio e fsforo, que quando

    elevadas reduzem e quando diminudas aumentam a formao do 1,25(OH)2D (Dusso et al,

    2005).

    A funo mais estudada da vitamina D est relacionada ao metabolismo sseo,

    responsvel pela manuteno das concentraes sricas de clcio e fsforo. Ela atua

  • 22

    aumentando a absoro desses minerais no intestino delgado, mobilizando clcio sseo para

    conservao dos nveis sanguneos e reduzindo a excreo de clcio renal pela reabsoro nos

    tbulos distais no rim. Na ausncia de vitamina D, somente 10 a 15% do clcio diettico

    absorvido. Na sua presena, essa absoro aumenta para 30 a 40%. Sua atuao tambm est

    relacionada mineralizao ssea normal, participando da maturao do colgeno e matriz

    celular (Holick, 2007).

    Atualmente vem sendo destacada a participao da Vitamina D em outros mecanismos

    fisiolgicos. Foram encontrados VDR em tecidos do crebro, mama, clon e clulas

    imunolgicas, que se ligam e respondem forma ativa da vitamina (DeLuca et al, 2004). De

    forma direta ou indireta o calcitriol parece controlar mais de 200 genes, incluindo aqueles

    responsveis pela regulao de diferenciao e proliferao celular, apoptose e angiognese.

    Alm disso, a Vitamina D parece tambm atuar no controle da secreo de insulina, controle

    dos nveis pressricos e na preveno e tratamento de diversos tipos de cncer.

    Krause et al (1998) observaram que pacientes hipertensos que passaram a se expor

    regularmente a luz solar durante 3 meses apresentaram um aumento de 180% nos nveis

    sricos de 25OHD, associado a redues de 6 mmHg na presso sistlica e diastlica. O papel

    da vitamina D na regulao de nveis pressricos pode estar associado inibio da produo

    de renina pelo 1,25(OH)2D (Li et al, 2002).

    Uma meta anlise concluiu que a suplementao com 700 a 1000 UI de vitamina D

    reduziu em at 19% o risco de quedas em indivduos idosos, o que sugere que uma

    concentrao plasmtica adequada de 25(OH)D pode prevenir fraturas, atravs de uma

    melhoria da funo musculoesqueltica (Bischoff-Ferrari et al, 2009).

  • 23

    A deficincia de vitamina D tem sido tambm associada diminuio da tolerncia

    glicose, diabetes tipo 1 e tipo 2 em humanos. Estas observaes foram sugeridas por modelos

    animais, que demonstraram secreo pancretica insuficiente de insulina em ratos com

    deficincia de vitamina D apresentando melhora de secreo aps suplementao (Mathieu et

    al, 2005). Em uma coorte que acompanhou crianas desde o nascimento at 31 anos na

    Finlndia, verificou-se risco 88% menor de diabetes tipo 1 em crianas suplementadas com

    2000 UI/dia (Hyppnen et al, 2001), comprovando outros efeitos da vitamina D e

    suplementao, alm do metabolismo sseo.

    Garantir um bom estado de vitamina D e manter suas funes metablicas dependem

    de adequado aporte desta vitamina. As orientaes para consumo de vitamina D devem estar

    baseadas nas melhores fontes alimentares e ateno s necessidades nutricionais de cada

    indivduo.

    2.2.3 - Fontes de vitamina D e recomendaes nutricionais

    Embora a vitamina D possa ser produzida endogenamente, a partir da exposio aos

    raios solares, a contribuio das fontes dietticas no deve ser desprezada, uma vez que elas

    se tornam essenciais em situaes de exposio solar insuficiente. Existe tambm a

    preocupao entre os dermatologistas de que o estmulo a exposio solar possa aumentar a

    incidncia de cncer de pele, uma vez que no h produo de vitamina D com uso de

    protetor solar (Wolpowitz et al, 2006).

    Poucos alimentos so considerados fonte dessa vitamina, dentre eles: gema de ovo,

    fgado, shitake e pescados gordos. Por isso, muitos pases vm recorrendo fortificao de

    alimentos e suplementao individual para incrementar o seu consumo (Holick, 2007).

  • 24

    O quadro 2 apresenta algumas fontes de vitamina D com suas quantidades.

    Quadro 2- Fontes naturais de vitamina D e seu contedo

    Fonte Poro (g) Quantidade (UI)

    Salmo 100 530

    leo de fgado de

    bacalhau 5 450

    Shitake 30 249

    Atum 100 200

    Sardinha 50 33

    Ovo 60 26

    Fgado Bovino 100 15

    Fonte: USDA National Nutrient Data Base: disponvel em http://www.nal.usda.gov

    A mais recente recomendao de consumo de vitamina D foi elaborada pelo Instituto

    de Medicina (IOM), aumentando as doses de recomendao de consumo dirio (RDA) para a

    populao sadia em todas as faixas etrias. Para adultos, a dose recomendada de 600 UI/dia

    at 70 anos. Para indivduos acima de 70, a dose recomendada de 800 UI/dia. No h

    diferena de recomendao entre os sexos (IOM, 2010). A Sociedade Endocrinologia

    Americana, no entanto, faz uma ressalva a essas recomendaes, observando que essas

    dosagens podem no ser suficientes para fornecer todo potencial de benefcios de sade no

    esqueletal associados vitamina D. Para isso, sugere que dosagens dirias acima de 1500 a

    2000 UI podem ser necessrias (Holick et al, 2011).

  • 25

    Existem poucos relatos de intoxicao de vitamina D descritos na literatura. O limite

    mximo tolervel (UL) estabelecido pelo IOM (2011) de 4000 UI/dia. No entanto, um

    estudo em adultos saudveis demonstrou que o consumo dirio por 5 meses de 10000 UI/dia

    de vitamina D3 no resultou em sinais de hipervitaminose D, como elevao de clcio srico

    e hipercalciria. O estudo sugere que esses nveis parecem ser seguros (Heaney et al, 2003).

    2.2.4 - Hipovitaminose D: diagnstico e prevalncia

    Como mencionado, avalia-se o estado de vitamina D pela dose de 25OHD srico,

    embora no exista consenso atual com relao aos seus nveis timos. A classificao mais

    recente elaborada na diretriz da Sociedade de Endocrinologia americana (Holick et al, 2011)

    considera normais nveis de 25OHD acima de 30 ng/ml, uma vez que valores acima dessa

    dose foram associados a aumento na absoro de clcio intestinal de 45 a 60% (Heaney et al,

    2003), alm de reduo de nveis de PTH (Thomas et al, 1998). Valores entre 20 e 29,9 ng/ml

    so considerados insuficientes, e valores abaixo de 20 ng/ml so considerados deficientes e

    relacionados ao desenvolvimento de problemas sseos (Ybarra et al, 2007).

    A prevalncia de deficincia de vitamina D vem sendo considerada elevada em

    diversos pases do mundo, mesmo naqueles com suficiente exposio luz solar. Utilizando

    os critrios definidos acima, tem sido estimado que cerca de 1 bilho de pessoas em todo

    mundo possuem deficincia ou insuficincia da vitamina (Holick, 2006), embora a

    prevalncia varie bastante entre os diversos pases.

    Estudos na Europa indicaram prevalncia de valores abaixo de 10 ng/ml variando

    entre 2 a 30% da populao, podendo aumentar para 75% de deficincia entre idosos

    institucionalizados (Mithal et al, 2009). Investigaes epidemiolgicas na Amrica Latina

    encontraram valores abaixo de 25 ng/ml com prevalncias entre 42 e 67% (Elizondo-Alans et

  • 26

    al, 2006). Nos Estados Unidos, a pesquisa de sade e nutrio NHANES, realizada entre 2002

    e 2004 com amostra de 20.289 indivduos, revelou valores abaixo de 20 ng/ml em 29% dos

    homens e 35% das mulheres com idades entre 20 e 49 anos (Yetley et al, 2008).

    Estudo realizado no Brasil, na cidade de So Paulo, tambm demonstrou elevada

    prevalncia de HVD em adultos, definida como nveis de 25OHD abaixo de 30ng/ml. O

    estudo demonstrou variao dos nves de 25OHD de acordo com a sazonalidade, havendo

    uma reduo de HVD de 77% no inverno para 37% durante o vero (Unger et al, 2010).

    De modo geral, os estudos revelaram maiores prevalncias de deficincia em

    indivduos com idades mais avanadas, de sexo feminino, em pases de latitude mais elevada

    e que no fazem uso de fortificao alimentar e em pessoas com pigmentao de pele mais

    escura (Holick, 2007). Outros fatores tambm esto associados deficincia de vitamina D,

    como no caso da obesidade com ou sem tratamento cirrgico, a ser descrito a seguir.

    2.3 -HIPOVITAMINOSE D, OBESIDADE E CIRURGIA BARITRICA

    Obesidade e hipovitaminose D (HVD) so reconhecidamente problemas bem

    prevalentes em todo o mundo, e aparentemente esto relacionados entre si, embora os

    mecanismos de causa e efeito dessa associao no estejam totalmente elucidados (Holick et

    al, 2011; Popkin et al, 2010).

    Em termos de associaes, j est bem documentado na literatura que pacientes obesos

    freqentemente possuem valores sricos reduzidos de 25OHD. Existe, no entanto, uma

    variao muito grande nas prevalncias encontradas, j havendo sido documentados valores

    desde 21% (Buffington et al, 1993) a 84% (Wilson et al, 2004) . Essa grande variao pode

  • 27

    ser em decorrncia de diversos fatores, principalmente relacionados a diferentes definies de

    deficincia de vitamina D, uso de suplementao oral e tambm a estao de ano de

    realizao do estudo (Carlin et al, 2006).

    Diversos fatores podem contribuir para os baixos nveis de 25OHD na obesidade. Um

    deles envolve maior captao de vitamina D pelo tecido adiposo, pelo fato de ser uma

    vitamina lipossolvel. Alguns estudos parecem confirmar essa hiptese ao observarem

    correlao negativa entre porcentagem de gordura, IMC e nveis de 25OHD (Looker et al,

    2006; Mahlay et al, 2009).

    No estudo de Wortsman et al (2000) concluiu-se que a obesidade no teria um impacto

    negativo na capacidade de sntese cutnea de vitamina D3. Isso porque a concentrao de 7-

    dehidrocolesterol de pacientes obesos no foi significativamente diferente de pacientes

    pareados no obesos. Alm disso, ambos os grupos apresentaram taxa de converso similar de

    7-dehidrocolesterol a vitamina D3 aps irradiao com luz UV. No entanto, pacientes obesos

    apresentaram nveis sricos de 25OHD 57% menores que de no obesos. Estes resultados

    sugerem que o grupo obeso apresentou, portanto, menor liberao de 25OHD circulao.

    Outra hiptese que tenta explicar a associao entre obesidade e HVD est relacionada

    menor converso de vitamina D3 em 25OHD no fgado, como conseqncia da presena de

    esteatose heptica no alcolica (EHNA) (Targher et al, 2007).

    A HVD em obesos tambm vem sendo justificada por uma menor exposio luz

    solar desses indivduos, fator essencial para requerimentos de vitamina D (Carlin et al, 2006).

    Sobre esta associao, pacientes obesos praticantes de atividades ao ar livre parecem

    apresentar menores riscos de desenvolverem HVD (Florez et al, 2007).

  • 28

    Uma nova linha de investigao sugere que nveis deficientes de vitamina D

    dificultariam a perda de peso, enquanto nveis elevados estariam associados a melhores

    resultados de perda ponderal. Ortega et al (2009) observaram em estudo de interveno com

    dieta hipocalrica que o nvel srico de 25OHD foi um forte preditor positivo de perda de

    peso. No entanto, essa linha de pesquisa ainda inconclusiva, uma vez que em estudo similar

    no foi encontrada associao entre vitamina D e perda de peso (Sneve et al, 2008).

    No caso de cirurgia de obesidade, tambm existe elevado risco de HVD,

    especialmente quando est envolvido processo disabsortivo. As causas para essa deficincia

    entre pacientes baritricos so vrias, dentre elas: ingesto reduzida de alimentos, o que

    prejudicaria a quantidade final de vitamina consumida; excluso do duodeno e jejuno

    proximal do trnsito digestrio, prejudicando a mistura de sais biliares com gordura diettica

    e conseqentemente dificultando a absoro da vitamina D (lipossolvel); ausncia ou

    inadequao do uso de suplementao aps procedimento; alm do estado de vitamina D pr-

    operatrio, que j pode estar associado HVD (Bariatric Surgery Guidelines, 2008).

    Para esta populao, a prevalncia de HVD bastante varivel entre os estudos. Por

    exemplo, enquanto no estudo de Mahlay et al (2009) identificou-se uma prevalncia de 47%

    de pacientes de GRYR com nveis de 25OHD abaixo de 30 ng/ml, Fish et al (2010)

    encontraram 63% aps 1 ano e 73% de HVD aps 3 anos de GRYR, utilizando o mesmo

    critrio diagnstico.

    Apesar dos diversos fatores contribuintes HVD no ps-operatrio de GRYR, alguns

    trabalhos observaram melhora dos nveis de 25OHD aps a cirurgia. Essa melhora estaria

    associada perda de peso e reduo de tecido adiposo, que aumentariam a biodisponibilidade

    da 25OHD. Outro fator importante seria a melhora de autoestima e maior mobilidade

  • 29

    adquirida pelo paciente aps reduo ponderal, levando a maior exposio solar (Signori et al,

    2010).

    Signori et al (2010) observaram reduo de HVD de 86% em pacientes pr-

    operatrio (definida como 25OHD < 32 ng/ml) para 70% aps 1 ano de GRYR em pacientes

    suplementadas com 800 UI/dia de vitamina D. O estudo tambm encontrou correlaes

    negativas entre IMC e nveis de 25OHD, na fase ps-operatria (r=0,2, p=0,013). Flores et

    al (2010) tambm relataram diminuio da incidncia de HVD (25OHD< 20 ng/ml) de 52%

    para 32% aps 1 ano de GRYR, em pacietes suplementados com 800 UI/dia de vitamina D.

    Houve aumento significativo dos nveis de 25OHD aps a cirurgia, de 21,28 para 25,2 ng/ml.

    No entanto, mesmo com o aumento os valores de 25OHD, a mdia amostral permaneceu

    abaixo do valor de adequao, de 30 ng/ml.

    Por sua vez, Carlin et al (2006) observaram, a partir de uma populao obesa que tinha

    60% de HVD antes da GRYR, um aumento de 20% dos nveis de 25OHD aps tratamento

    oral com 800UI dirio de vitamina D3 durante o primeiro ano ps-operatrio. No entanto,

    valores inadequados de 25OHD permaneceram em 50% dos pacientes.

    A sociedade de cirurgia baritrica e metablica americana (SCBMA) recomenda

    administrao diria de suplementao de vitamina D2 ou D3 na dose de 400 a 800 UI

    (Bariatric Surgery Guidelines, 2008). Para tratamento de HVD em adultos, a sociedade

    americana de endocrinologia sugere a administrao de suplementao oral de vitamina D2

    ou D3 de 50.000 UI/ por semana por 2 meses, seguido de manuteno com nveis de 1.500 a

    2.000 UI/dia (Holick et al, 2011).

    Embora o uso de suplementao oral ps-operatria j esteja estabelecido como

    consenso no tratamento de GRYR, as dosagens ainda so discutidas e estudos vm

  • 30

    demonstrando riscos de deficincia de 25OHD no ps-operatrio. Esse fator indica a

    necessidade de mais estudos para reavaliar a prescrio da suplementao de vitamina D

    (Compher et al, 2008).

    Com o objetivo de propor dosagens mais adequadas para o tratamento e preveno de

    HVD, Carlin et al (2009) realizaram um estudo prospectivo de interveno, dividindo

    mulheres obesas de pr-operatrio de GRYR com diagnstico de HVD (25OHD < 20ng/ml)

    em 2 grupos: Grupo de interveno (n=30) que recebeu suplementao oral de 50.000 UI/ de

    vitamina D3 por semana e Grupo controle, no qual no recebeu quantidade adicional de

    vitamina D3. Ambos os grupos receberam o tratamento convencional de 800UI de vitamina

    D3, acrescido de 1.500mg de clcio dirio. Os resultados mostraram que houve reduo

    significativa da prevalncia de HVD no grupo de interveno, que mantinha apenas 14% de

    HVD e valores mdios de 38 ng/ml de 25OHD, enquanto que o grupo controle permaneceu

    com 85% de HVD e valores de 15,2 ng/ml de 25OHD. Nenhum paciente obteve valor

    superior a 60ng/ml, demonstrando, portanto a segurana do tratamento. Apesar do resultado

    positivo obtido pelo trabalho, so necessrias mais pesquisas para verificar o efeito e

    segurana da superdosagem de vitamina D3 em longo prazo.

    Em resumo, pacientes obesos graves tem elevado risco de HVD e a cirurgia de

    obesidade pode promover melhora ou piora do estado de vitamina D, dependendo da dieta,

    suplementao e outros fatores que precisam ser investigados. Considerando sua importncia

    metablica, avaliar os fatores interferentes ao estado de vitamina D entre obesos submetidos

    ou no cirurgia de obesidade, pode contribuir, para o entendimento da melhor dose e

    momento de suplementao desta vitamina e preveno da HVD.

  • 31

    3. OBJETIVO

  • 32

    3. OBJETIVO

    OBJETIVO GERAL

    Investigar o estado de vitamina D e fatores interferentes em pacientes obesas,

    submetidas ou no cirurgia baritrica, e assistidas em um servio multidisciplinar de

    tratamento cirrgico de obesidade grave do hospital universitrio de Braslia-DF.

  • 33

    .

    4. MATERIAIS E MTODOS

  • 4. MATERIAIS E MTODOS

    4.1. TIPO DE ESTUDO

    Estudo analtico transversal observacional. Formaram-se dois grupos, o primeiro

    composto por pacientes com pelo menos dois anos de ps operatrio de gastroplastia redutora

    com derivao gastrojejunal em Y de Roux (GRYR) e o segundo composto por pacientes na

    fase pr-operatria para a mesma cirurgia.

    4.2. LOCAL DO ESTUDO

    A coleta de dados foi realizada no Hospital Universitrio de Braslia (HUB), junto ao

    programa multidisciplinar de assistncia ao obeso grave (PASSO), o qual presta atendimento

    aos pacientes de fase pr e ps operatria de cirurgia baritrica.

    4.3. ASPECTOS TICOS

    Este projeto foi aprovado pelo Comit de tica e Pesquisa (CEP) da Faculdade de

    Cincias de Sade (no001/2010) e sua realizao teve incio em agosto de 2010. A

    participao na pesquisa foi condicionada assinatura de termo de consentimento livre e

    esclarecido. Foi realizada leitura e entrega da folha de informao ao paciente, contendo os

    objetivos e os procedimentos envolvidos no estudo (apndice A).

  • 4.4. CRITRIOS DE SELEO DA AMOSTRA

    Os pacientes includos foram mulheres que estavam em acompanhamento no

    ambulatrio de nutrio de cirurgia baritrica do Hospital Universitrio de Braslia (HUB)

    com idades entre 20 e 59 anos. Os grupos foram formados por pacientes com mais de 24

    meses de cirurgia de (grupo ps operatrio; n = 34), pareadas por idade, com pacientes que

    estavam na fase de preparao para a cirurgia (grupo pr-operatrio; n = 27).

    Optou-se pela excluso dos pacientes do sexo masculino por estes estarem presentes

    em nmero muito reduzido no Programa, e para evitar um possvel fator de confundimento,

    uma vez que existem diferenas no metabolismo sseo de homens e mulheres (Riggs et al,

    2002).

    Foram excludos do estudo pacientes que apresentaram as seguintes condies:

    insuficincia renal, hiperparatireoidismo primrio, sndromes disabsortivas, intolerncias

    alimentares, vmitos ou queixas digestivas, alergia ao sol e em uso de medicamentos anti-

    convulsivantes.

    4.5. PROCEDIMENTOS

    4.5.1. Coleta de dados

    O protocolo compreendeu avaliao de dados clnicos, antropomtricos, de consumo

    alimentar e de exposio solar, todos coletados em um dia previamente agendado com os

  • pacientes que atendessem aos critrios de incluso e que haviam previamente concordado em

    participar da pesquisa.

    O questionrio aplicado encontra-se em anexo. (Apndice B)

    4.5.1.1. Dados cadastrais/demogrficos: A obteno dos dados

    cadastrais/demogrficos foi feita durante aplicao de questionrio e os dados obtidos foram:

    nome completo, telefone, idade (anos), renda (salrio mnimo) e escolaridade (anos de

    estudo).

    4.5.1.2. Dados de acompanhamento mdico/nutricional: os pacientes responderam

    se estavam ou no assduos ao acompanhamento previsto, com nutricionista e/ou

    endocrinologista.

    4.5.1.3. Dados clnicos: foi solicitado aos pacientes que informassem a(s)

    comorbidade(s) apresentada(s) e medicamentos utilizados para excluir da amostra aqueles

    com condies que pudessem interferir com o metabolismo de vitamina D. Aos pacientes

    operados foi solicitada a data de operao para determinar o tempo de cirurgia. Todas estas

    informaes foram conferidas, segundo dados dos pronturios.

    4.5.1.4. Dados de uso de suplementao: foi investigado se os pacientes de ps-

    operatrio estavam em uso ou no de suplementao de vitamina D, o tempo de uso e dose

    utilizada. No presente estudo, os pacientes de pr-operatrio no faziam uso de

    suplementao de vitamina D.

    4.5.1.5. Dados sobre consumo de vitamina D: Para avaliar a ingesto diettica de

    vitamina D foi aplicado questionrio de frequncia alimentar especfico para vitamina D,

    adaptado de Willett et al (1985) (Apndice B). A ingesto mdia de vitamina D foi calculada

    atravs de tabela de composio de alimentos brasileira (Philippi, 2001). Considerou-se como

  • valor de referncia a Estimativa Mdia de Requerimentos (EAR), sendo esse valor de 400 UI

    para mulheres de 18 a 70 anos de idade (IOM, 2010).

    4.5.1.6. Dados de exposio solar: A exposio solar foi avaliada indiretamente -

    pela freqncia e tempo de exposio, horrio do dia, tipo de pele (Webb et al, 2006) e uso de

    protetor solar, de acordo com a recomendao do Norwegian Institute for Air Research

    (Engelsen et al, 2005). Para a regio de Braslia-DF, considerou-se como exposio suficiente

    o tempo de exposio solar adequada especfica para o tipo de pele com frequncia mnima de

    3 vezes por semana, sem uso de protetor solar (tabela 1). A avaliao foi feita entre os meses

    de setembro e dezembro de 2010, final do perodo de seca e incio das chuvas, caracterstico

    da regio central do Brasil. Para minimizar o vis da classificao subjetiva do tipo de pele,

    somente um pesquisador treinado foi responsvel por essa identificao.

    Tabela 1- Tempo de exposio solar em Braslia-DF para produo de nveis adequados

    de vitamina D, de acordo com o tipo de pele1.

    Tipo de pele2

    I II III IV V VI

    Tempo de Exposio (minutos) 5 6 8 12 16 29

    1Tabela baseda nos estudos: Engelsen O, Brustad M, Aksnes L et al. Daily duration of vitamin D synthesis in

    human skin with relation to latitude, total ozone, altitude, ground cover, aerosols and cloud thickness.

    Photochem Photobiol. 2005;81(6):1287-1290.

    Webb AR, Engelsen O. Calculated Ultraviolet Exposure Levels for a Healthy Vitamin D Status. Photochemistry

    and Photobiology 2006; 82(6):1697-1703. 2Tipos de pele : I - Muito Clara Loira ou Ruiva, olhos azis, pele alva: nunca bronzeia; II- Clara- Cabelos e

    olhos claros, pele branca, dificuldade para bronzear;III Morena clara Cabelos e olhos escuros, tom de pele ainda claro. Bronzeia gradualmente; IV Morena escura Pessoas de biotipo hispnico. Tom de pele mdio. Raramente tem queimaduras provocadas pelo sol; V- Mulata Pigmentao preta leve; VI Negra- Pele muito pigmentada, escura.

  • 4.5.1.7. Dados antropomtricos: Os seguintes dados antropomtricos foram aferidos

    utilizando-se procedimentos padres de medio (Brasil/MS/SAS, 2004):

    Peso: aferido com balana digital de marca Tanita com capacidade de 200kg e

    preciso de 100g. Os pacientes foram pesados vestindo roupas leves e sem sapatos.

    Estatura: utilizou-se estadimetro porttil de marca Sanny, com preciso de 0,1 cm.

    A aferio da estatura ocorreu com o paciente em p sobre superfcie plana, com

    calcanhares aproximados e linha de viso horizontal.

    Porcentagem de Gordura Corporal: foi utilizado aparelho de bioimpedncia tetrapolar

    de marca, JL systems modelo BIA 101, com intensidade de sinal de 500 a 800

    microamperes e freqncia de 50 khz. A avaliao foi realizada com o paciente em

    jejum de 12h e aps esvaziamento da bexiga. Aps posicionamento do paciente em

    decbito dorsal, com membros superiores e inferiores afastados, Os eletrodos foram

    colocados: na superfcie dorsal da mo direita sobre a articulao metacrpica e entre as

    proeminncias distal e proximal do rdio e ulna no punho; e na superfcie dorsal do p

    direito e entre os malolos medial e lateral do tornozelo. Aps passagem da corrente

    eltrica foram obtidos valores de resistncia e reactncia, que foram aplicados frmula

    de Horie-Waitzberg para realizao do clculo da porcentagem de gordura. Essa

    frmula especfica para pacientes obesos, e corrige possveis erros de mensurao

    caractersticos da obesidade, como estado de hidratao alterado, anormalidade de

    tecido adiposo, distribuio tecidual assimtrica (Das et al, 2003). Para classificar o

    percentual de gordura utilizou-se a classificao de gordura mediana de Pollock e

    Wilmore (1993).

  • O IMC foi calculado a partir do peso dividido pelo quadrado da altura, obtidos na

    avaliao antropomtrica. O IMC foi classificado de acordo com critrio da Organizao

    Mundial de Sade (OMS 1997). O excesso de peso dos pacientes ps-operatrios foi

    calculado subtraindo-se o peso do dia da cirurgia pelo peso ideal de acordo com a tabela da

    Metropolitan Life, 1983. A partir desse excesso foi calculada a porcentagem de excesso de

    peso perdida pelo paciente.

    4.5.1.8. Dados laboratoriais: Foram realizadas dosagens sricas do hormnio

    paratireideo- PTH- (atravs da tcnica de Quimioluminescncia), de aspartato

    aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase - ALT ( por mtodo Cinetico Optimizado

    U.V) e de 25OHD ( por cromatografia lquida associada ao espectofotmetro de massa-

    LCMS) em laboratrio privado, que possua processo de validao interna e externa. Foram

    considerados adequados os valores de 25OHD acima de 30 ng/ml, insuficientes os valores

    entre 29,9 e 20 ng/ml e deficientes abaixo de 20 ng/ml. (Holick, 2007) Para PTH, os valores

    de referncia so de 15 a 65 pg/mL, sendo hiperparatireoidismo definido como PTH> 65

    pg/mL (Wolpowitz, 2006). Os valores de adequao utilizados para AST e ALT foram

    respectivamente de 13 a 35 U/L e 07 a 35 U/L (Dufour et al 2000).

    4.6. ANLISE DE DADOS

    Os dados foram analisados no programa SPSS verso 18.

    A varivel dependente desse estudo foi o nvel de 25OHD. Foram considerados

    variveis independentes: menopausa, fase de tratamento, tempo de cirurgia, peso, IMC, perda

    de peso, % gordura, consumo de vitamina D, uso de suplementao, tempo de suplementao,

    dose de suplementao, nvel de PTH.

  • As diferenas entre grupos para as variveis quantitativas de perfil dos pacientes foram

    avaliadas atravs do teste no paramtrico de Mann-Whitney. Optou-se pela utilizao de

    testes no paramtricos por estes serem capazes de detectar melhor relaes em amostras

    pequenas, de distribuio no-normal. Para as variveis qualitativas, utilizou-se o teste de qui-

    quadrado. O efeito das co-variveis foram controlados atravs do teste de correlao parcial.

    Aplicou-se correlao de Spearman para testar a associao entre as diferentes

    variveis quantitativas.

    Para efeito de anlise utilizou-se nvel de significncia de 5%.

  • 41

    5. RESULTADOS E DISCUSSO: ARTIGO

  • 42

    5. RESULTADOS E DISCUSSO: ARTIGO ORIGINAL

    Fatores associados aos nveis de 25-hidroxivitamina D em mulheres obesas, submetidas

    ou no cirurgia baritrica.

    RESUMO

    OBJETIVO: Investigar o estado de vitamina D e fatores interferentes em pacientes obesas, submetidas ou no

    cirurgia baritrica, e assistidas em um servio multidisciplinar de tratamento cirrgico de obesidade grave.

    METODOLOGIA: Foram avaliadas neste estudo transversal mulheres submetidas h mais de 24 meses

    gastroplastia redutora com derivao gastrojejunal em Y de Roux (GRYR)( grupo ps operatrio - PS; n= 34),

    pareadas por idade, com pacientes na fase de preparao para a cirurgia (grupo pr operatrio- PR; n = 27).

    Aferiram-se o ndice de massa corporal (IMC; Kg/m2) e a porcentagem de gordura corporal (GC). Dosaram-se

    25-hidroxivitamina D (25OHD) srico e hormnio da paratireoide (PTH). A prescrio de suplementao de

    vitamina D ocorreu de acordo com a deciso clnica do servio. Considerou-se hipovitaminose D (HVD) valores

    de 25OHD inferiores a 20 ng/ml. RESULTADOS: Entre as pacientes PS (IMC = 32,29 5,0 Kg/m2

    ; GC=

    34,3 8,2 %), 73,5% faziam uso de suplementao em dose variada (835,5 1000,4 UI), com 60% das pacientes

    recebendo dose maior que 800 UI/dia, iniciada h 13,88,8 meses do momento da investigao, sendo que

    apenas 11% iniciaram a suplementao desde o 1 ms de ps-operatrio. As pacientes PR ( IMC = 44,57 5,4

    Kg/m2; GC = 44,9 4,9%) no foram suplementadas. A prevalncia de HVD foi de 38,0% no grupo PR e de

    47,0% no grupo PS, correspondendo aos nveis mdios de 25OHD de 20,76,4 e 18,1 7,6 ng/ml

    respectivamente, sem diferena significativa entre os grupos (p = 0,133). Nveis sricos de 25OHD apresentaram

    associao significativa com tempo de cirurgia (rho=0,417, p=0,009), porcentagem de GC (-0, 473, p=0,044),

    perodo de suplementao (rho = 0,384, p=0,039) e dose de suplementao (rho=0,301, p=0,05). Tambm se

    encontrou correlao fraca entre PTH e nveis de 25OHD ( rho= -0,251, p=0,026), embora mais da metade das

    pacientes que apresentavam nveis adequados de PTH, estavam deficientes e/ou insuficientes, quanto a vitamina

    D. CONCLUSO: Encontrou-se elevada prevalncia de HVD, tanto em pacientes submetidas quanto em

    pacientes PR. Variveis como dose de vitamina D, tempo de suplementao e tempo de cirurgia apresentaram

    associao positiva com o 25OHD. Na anlise conjunta da amostra, a adequao da porcentagem de gordura

    corporal apresentou correlao negativa com os nveis de 25OHD. O nvel de PTH no deve ser usado como

    preditor do estado de vitamina D. DESCRITORES: obesidade, cirurgia baritrica, hipovitaminose D.

  • 43

    INTRODUO

    A prevalncia da obesidade vem aumentando sensivelmente no mundo, sendo

    considerada um problema de sade pblica tanto em pases desenvolvidos quanto em

    desenvolvimento (NIH, 2008). Para a populao adulta, quando o ndice de massa corporal

    supera 40 kg/m2, classifica-se como obesidade mrbida, em funo das inmeras morbidades

    envolvidas e comprometimento da qualidade de vida (Sociedade Americana de cirurgia

    Baritrica, 2008).

    A cirurgia baritrica aceita, atualmente, como a ferramenta mais eficaz no controle e

    tratamento da obesidade mrbida. Ela permite a perda de peso atravs de tcnicas restritivas

    ou procedimentos mistos que incorporam a restrio com algum grau de disabsoro. O

    objetivo da cirurgia a perda de pelo menos 50% do excesso de peso e manuteno do peso

    saudvel ao longo prazo, com controle das comorbidades (Sociedade Americana de cirurgia

    Baritrica, 2008).

    O procedimento associado com os melhores resultados de perda de peso a longo prazo

    vem sendo a gastroplastia redutora com derivao gastrojejunal em Y de Roux (GRYR). No

    entanto, essa tcnica cirrgica promove mudanas significativas na anatomia gastrointestinal

    e restries alimentares, o que podem acarretar o aparecimento de deficincias nutricionais

    (Buchwald et al, 2004). Uma dessas deficincias a de vitamina D.

    A deficincia de vitamina D tambm prevalente entre os obesos mrbidos que no

    foram submetidos cirurgia de obesidade, embora a causa dessa deficincia no esteja

    totalmente esclarecida. Tem sido proposto que a carncia dessa vitamina pode estar

    relacionada a um seqestro aumentado da vitamina na corrente sangunea e armazenamento

    no tecido adiposo excedente. Outras causas possveis so a exposio limitada ao sol, ingesto

  • 44

    diettica insuficiente e baixa produo da vitamina por um funcionamento inadequado do

    fgado, associado ao quadro de esteatose heptica (Compher et al, 2008).

    O paciente candidato cirurgia de obesidade apresenta, portanto, dois riscos

    associados ao desenvolvimento de deficincia de vitamina D: o risco relacionado obesidade

    e o risco de disabsoro provocado pela cirurgia. No estudo desenvolvido por Ybarra et al

    (2005), foi encontrada prevalncia de 81,3% de hipovitaminose D antes da cirurgia e de

    77,3% aps. Este mesmo grupo j relatou prevalncias ainda maiores, em torno de 90,0% no

    pr-operatrio e de 80,0% no ps (Sanchez-Hernandez, 2005). No entanto, os pacientes de

    ambos os trabalhos no receberam suplementao de clcio e vitamina D aps a cirurgia

    porque na poca de realizao das pesquisas essa conduta ainda no era preconizada.

    Apesar da GRYR ser considerada fator de risco para o desenvolvimento de deficincia

    de vitamina D, muitos estudos no avaliaram outros fatores que contribuem para a

    manuteno dos nveis adequados da vitamina, como a reduo do tecido adiposo, adeso

    suplementao, ingesto e exposio solar.

    Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi Investigar o estado de vitamina D e

    fatores interferentes em pacientes obesas, submetidas ou no cirurgia baritrica, e assistidas

    em um servio multidisciplinar de tratamento cirrgico de obesidade grave do hospital

    universitrio de Braslia-DF.

    MTODOS

    Trata-se de estudo transversal analtico e de observao.

    Participaram da pesquisa mulheres adultas que estavam em acompanhamento no

    ambulatrio de nutrio, do servio de obesidade grave do Hospital Universitrio de Braslia

  • 45

    (HUB). Os grupos foram formados por todas as pacientes com mais de 24 meses de cirurgia

    de GRYR, que estavam com os dados cadastrais atualizados e concordaram em participar da

    pesquisa (grupo ps, operatrio; n = 34), pareadas por idade, com pacientes que estavam na

    fase de preparao para a cirurgia (grupo pr-operatrio; n = 27).

    O estudo foi aprovado pelo comit de tica em pesquisa da Faculdade de Cincias da

    Sade da Universidade de Braslia (protocolo 01/2010) e a participao foi condicionada

    assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido.

    Optou-se pela excluso dos pacientes do sexo masculino pelo nmero bastante

    reduzido de homens assistidos pelo servio, e para evitar um possvel fator de confundimento,

    em funo das diferenas no metabolismo sseo que podem ocorrer (Riggs et al, 2002). Pelo

    mesmo motivo, tambm foram excludos pacientes que apresentassem as seguintes condies:

    insuficincia renal, hiperparatireoidismo primrio, sndromes disabsortivas, intolerncias

    alimentares, vmitos ou queixas digestivas, alergia ao sol e em uso de medicamentos anti-

    convulsivantes.

    Aplicou-se questionrio para identificar perfil scio-demogrfico, climatrio, data da

    operao, acompanhamento nutricional pr-operatrio assiduidade s consultas nutricionais e

    clnicas, comorbidades, e uso de suplementos nutricionais.

    Os seguintes dados antropomtricos foram aferidos utilizando-se procedimentos

    padres de medio (Brasil/MS/SAS, 2004): peso (com balana digital com capacidade para

    200kg, marca Tanita), estatura (estadimetro porttil de marca Sanny) e porcentagem de

    gordura corporal (utilizando aparelho de bioimpedncia tetrapolar de marca JL systems

    modelo BIA 101). O clculo da porcentagem de gordura foi realizado com a utilizao da

    frmula de Horie-Waitzberg, para corrigir possveis erros de mensurao caractersticos da

  • 46

    obesidade (Das et al, 2003). A classificao de porcentagem de gordura foi feita de acordo

    com o critrio de classificao regular de gordura para idade de Pollock e Willmore (1993).

    Foi calculado o ndice de massa corporal (IMC; kg/m2) e no caso dos pacientes operados,

    tambm foi verificada a porcentagem de perda de excesso de peso (%PEP). O excesso de peso

    foi calculado subtraindo-se o peso no dia da cirurgia pelo peso ideal de acordo com a tabela

    da Metropolitan Life (1983).

    Para avaliar a ingesto diettica de vitamina D foi aplicado questionrio de freqncia

    alimentar especfico para vitamina D, adaptado por Willett et al (1985). A ingesto mdia de

    vitamina D foi calculada atravs de tabela de composio de alimentos brasileira (Philippi,

    2001). Considerou-se como valor de referncia a Estimativa Mdia de Requerimentos (EAR),

    sendo esse valor de 400 UI para mulheres de 18 a 70 anos de idade (IOM, 2010).

    Para os pacientes operados, verificou-se o tempo de uso de suplementao de vitamina

    D, assim como a dose. Os pacientes em fase pr operatria no eram suplementados.

    A quantidade de exposio solar foi avaliada indiretamente, pela frequncia e tempo

    de exposio solar, horrio de exposio, tipo de pele (Webb et al, 2006) e uso de protetor

    solar, de acordo com a recomendao do Norwegian Institute for Air Research (Engelsen et

    al, 2005). Para a regio de Braslia-DF, considerou-se como exposio suficiente o tempo de

    exposio solar adequada especfica para o tipo de pele com frequncia mnima de 3 vezes

    por semana, sem uso de protetor solar (tabela 1). Para minimizar o vis da classificao

    subjetiva do tipo de pele, somente um pesquisador foi responsvel por essa identificao.

  • 47

    Tabela 1- Tempo de exposio solar em Braslia-DF para produo de nveis adequados de vitamina D, de

    acordo com o tipo de pele1.

    Tipo de pele2

    I II III IV V VI

    Tempo de Exposio (minutos) 5 6 8 12 16 29

    1Tabela baseda nos estudos: Engelsen O, Brustad M, Aksnes L et al. Daily duration of vitamin D synthesis in

    human skin with relation to latitude, total ozone, altitude, ground cover, aerosols and cloud thickness.

    Photochem Photobiol. 2005;81(6):1287-1290.

    Webb AR, Engelsen O. Calculated Ultraviolet Exposure Levels for a Healthy Vitamin D Status. Photochemistry

    and Photobiology 2006; 82(6):1697-1703. 2Tipos de pele : I - Muito Clara Loira ou Ruiva, olhos azis, pele alva: nunca bronzeia; II- Clara- Cabelos e

    olhos claros, pele branca, dificuldade para bronzear;III Morena clara Cabelos e olhos escuros, tom de pele ainda claro. Bronzeia gradualmente; IV Morena escura Pessoas de biotipo hispnico. Tom de pele mdio. Raramente tem queimaduras provocadas pelo sol; V- Mulata Pigmentao preta leve; VI Negra- Pele muito pigmentada, escura.

    Amostras de sangue foram coletadas no HUB e transportadas para o laboratrio

    clnico privado Sabin, localizado na regio central de Braslia DF. Foram realizadas

    dosagens sricas do hormnio paratireideo- PTH- (atravs da tcnica de

    Quimioluminescncia), de aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase

    (ALT) (por mtodo Cinetico Optimizado U.V) e de 25-hidroxivitamina D (25OHD) por

    cromatografia lquida associada ao espectofotmetro de massa- LCMS). Foram considerados

    adequados os valores de 25OHD acima de 30 ng/ml, insuficientes os valores entre 20-29,9

    ng/ml e deficientes abaixo de 20 ng/ml (Holick, 2007). Para PTH, os valores de referncia so

    de 15 a 65 pg/mL, sendo hiperparatireoidismo definido como PTH> 65 pg/mL (Wolpowitz et

    al, 2006). Os valores de adequao utilizados para AST e ALT foram respectivamente de 13 a

    35 U/L e 07 a 35 U/L (Dufour et al 2000).

    ANLISE ESTATSTICA

    Os dados foram analisados no programa SPSS verso 18.

    A varivel dependente desse estudo foi o nvel de 25OHD. Foram consideradas

    variveis independentes: menopausa, fase de tratamento, tempo de cirurgia, peso, IMC, perda

  • 48

    de peso, % gordura, consumo de vitamina D, uso de suplementao, tempo de suplementao,

    dose de suplementao, nvel de PTH.

    Para investigar diferenas entre grupos para as variveis quantitativas de perfil dos

    pacientes, aplicou-se teste no paramtrico de Mann-Whitney. Para as variveis qualitativas,

    utilizou-se o teste de qui-quadrado. O coeficiente de Spearman foi utilizado para detectar

    correlaes entre as variveis. Para controlar o efeito das co-variveis, utilizou-se o teste de

    correlao parcial.

    Para efeito de anlise utilizou-se sempre um nvel de significncia de 5%.

    RESULTADOS

    O perfil amostral pode ser observado na tabela 2. Em sua maioria, as pacientes

    possuam mais do que 45 anos de idade e apresentavam baixo nvel de renda e escolaridade.

    Quanto ao perodo reprodutivo, aproximadamente metade da amostra j se encontrava em

    fase de menopausa. Para estas variveis, no houve diferena significativa entre os grupos.

    Entre as pacientes operadas, quase 80,0% apresentaram emagrecimento superior a 50,0% do

    excesso de peso e consequentemente os valores de peso corporal, IMC e gordura corporal,

    foram significativamente menores, quando comparados com o grupo pr-operatrio.

    Em geral, as pacientes estavam em pleno acompanhamento clnico uma vez que, das

    operadas, 88,0% e 97,0% haviam comparecido a consulta com nutricionista e

    endocrinologista, respectivamente, nos ltimos trs meses, sendo o percentual de

    acompanhamento similar para os dois grupos (tabela 2).

  • 49

    Tabela 2 Perfil sociodemogrfico, menopausa, antropometria e dados clnicos de pacientes de um programa de tratamento de obesidade grave de um hospital universitrio. Braslia, 2010.

    PR- PERATRIO

    n=27

    PS-OPERATRIO

    n=34

    p-valor

    Idade (anos; mdia DP ) 46,19 10,72 45,12 9,06 0,730

    Renda (Salrio mnimo; mdia DP) 2,09 1,73 2,70 2,31 0,190

    Escolaridade (anos de estudo; mdia DP) 7,67 3,51 8,03 4,14 0,750

    Menopausa (n; %) 13; 48,1 17; 50,0 0,890

    Peso (Kg; mdia DP) 110,37 16,4 79,4 12,0

  • 50

    Tabela 3 - Consumo diettico, suplementao de vitamina D, nveis de 25-hidroxivitamina D (25OHD) e

    paratormnio (PTH) de pacientes de um programa de tratamento de obesidade grave de um hospital

    universitrio. Braslia, 2010.

    PR- OPERATRIO

    n= 27

    PS-OPERATRIO

    n = 34

    p-valor

    Ingesto diettica de vitamina D1

    (UI; mdia DP)

    135,1 91,1 118,1 93,7 0,190

    Consumo alimentar adequado2 (n; %) 4; 14,8 6; 17,6 0,350

    Tempo de Suplementao

    (meses; mdia DP) NA 13,1 8,8 200 - 3000

    Uso de Suplementao (n; %) NA 25; 73,5

    Dose de Suplementao de vitamina D

    (UI; mnimo mximo UI/dia) NA 200 - 3000

    25OHD (ng/ml; mdia DP) 20,7 6,4 18,1 7,6 0, 133

    PTH (pg/ml; mdia DP) 61,9 33,4 61,1 26,9 0, 931

    UI= Unidades Internacionais; DP: desvio padro 1-

    Consumo avaliado por questionrio adaptado de Willet et al, 1985. 2- Avaliado de acordo com a Estimativa de Requerimento Mdio de 400 UI (IOM et al, 2010)

    Quanto aos nveis de 25OHD, em mdia, pacientes em fase pr apresentaram valor

    insuficiente, enquanto que os pacientes operados apresentaram nveis ainda mais reduzidos,

    mas sem que houvesse diferena significativa entre os grupos (p=0, 133). A prevalncia de

    deficincia foi de 38,0% no grupo pr e de 47,0% no grupo ps. Os valores mdios de PTH

    estavam dentro da normalidade e com resultados muito prximos entre os grupos (tabela 3).

    Da amostra total, observou-se uma correlao negativa significativa, porm fraca,

    entre PTH e nveis de 25OHD (rho = -0,251 , p=0,026). A tabela 4 apresenta a distribuio dos

    nveis de 25OHD, de acordo com a classificao de PTH.

    Tabela 4 Distribuio das pacientes de um programa de tratamento de obesidade grave de um hospital universitrio (n = 61), de acordo com a classificao dos nveis de 25-hidroxivitamina D (25OHD) e

    de paratormnio (PTH). Braslia, 2010.

    CLASSIFICAO DE PTH

    CLASSIFICAO DOS NVEIS DE 25OHD

    Deficiente (n= 32) Insuficiente (n= 23) Adequado (n= 6)

    Baixo (n=1) 0 1 0

    Adequado (n= 40) 21 13 6

    Elevado (n= 20) 11 9 0

  • 51

    Com relao funo heptica avaliada por nveis de ALT e AST, da amostra total, 10 %

    (n=6) apresentaram alterao avaliada por nveis enzimticos elevados, sendo todas elas de

    fase ps-operatria. No foi observada associao significativa entre os nveis das enzimas

    hepticas e 25OHD (dados no apresentados).

    Considerando a amostra total, foi encontrada uma correlao negativa moderada (rh o=-

    0,473, p=0,044) entre 25OHD e percentual de gordura corporal, quando analisadas as

    pacientes com composio corporal adequada (Figura1). Entre as participantes que

    apresentavam valores aumentados de gordura corporal, essa correlao no foi encontrada

    (rho=0,163, p=0,137).

    Figura1 - Correlao entre nveis de 25-hidroxivitamina D (25OHD) e porcentagem de gordura em

    pacientes de fase pr e ps-operatria de cirurgia de obesidade, de acordo com adequao da

    composio corporal.

    Para os pacientes operados, a dose e o tempo de suplementao tambm foram

    positivamente correlacionados com o 25OHD (rho=0,301, p=0,05 e rho=0,384 p=0,039,

    respectivamente). A correlao com a dose tornou-se mais forte para indivduos com

  • 52

    suplementao de vitamina D adequada, considerada aqui como acima de 800 UI (rho=0,410,

    p=0,05).

    Para este mesmo grupo de pacientes, o tempo de cirurgia teve uma correlao moderada

    positiva com os nveis de 25OHD (rho=0, 417, p=0, 009) (Tabela 5). Ao aplicar correlao

    parcial para remover o efeito do tempo de suplementao e da perda de peso, observou-se o

    enfraquecimento e perda de significncia dessa correlao (rho=0,164, p=0,193), indicando

    que essas variveis provavelmente contribuem para explicar a associao.

    Tabela 5- Correlaes entre nveis de 25-hidroxivitamina D (25OHD) e tempo de cirurgia, porcentagem de

    gordura, dose e tempo de suplementao de pacientes em fase ps operatria de um programa de

    tratamento de obesidade grave de um hospital universitrio. Braslia, 2010.

    Parmetros associados aos nveis de 25OHD Rho p- Valor

    Tempo de cirurgia

    0,417

    0,009

    Tempo de suplementao de vitamina D3 0,384 0,039

    Dose de suplementao de vitamina D3 0,301 0,050

    Suplementao adequada (acima de 800 UI) 0,410 0,050

    DISCUSSO

    De acordo com o perfil amostral apresentado, observam-se grupos com

    caractersticas sociodemogrficas bem similares, fator esse objetivado pelo pareamento dos

    grupos. Tem-se uma amostra geral com escolaridade e renda baixos, caracterstico de hospital

    pblico de um pas em desenvolvimento. Esses fatores podem aumentar a chance de baixa

    adeso e compreenso do tratamento aps cirurgia baritrica implicando em maiores riscos

    para os pacientes (Martin et al, 1991). De fato, o no uso de suplementao entre alguns dos

    pacientes operados, pode ser conseqncia de falta de recursos para sua aquisio. Para

    pacientes submetidos cirurgia de obesidade com necessidades contnuas de suplementao

  • 53

    esse um problema muito srio, que pode precipitar diversas deficincias nutricionais, como

    a perda precoce de massa ssea (Aills et al, 2008). Balduf et al (2009) encontrou maior nvel

    de conhecimento sobre a cirurgia em pacientes com maior renda, e, portanto, recomendou um

    trabalho mais intensivo de educao pr-operatria com pacientes de mais baixo poder

    aquisitivo.

    O grupo de pacientes operados apresentou bom resultado de cirurgia, atingindo valor

    mdio 63% de PEP, estando acima do critrio de sucesso estabelecido para a cirurgia

    baritrica de 50% de PEP (Bariatric surgery guidelines, 2008). A %PEP encontrada similar

    ao resultado obtido a partir de uma metanlise realizada por Buchwald et al (2004) com 4200

    pacientes submetidos GRYR que obteve PEP mdia de 61,6%. Como esperado para este

    tipo de tratamento, os pacientes em sua maioria continuam obesos mesmo depois da cirurgia

    baritrica. Porm, deixam de apresentar obesidade grave ou grau III e passam a ser

    classificados como grau I, o que suficiente para melhora de comorbidades e autoestima dos

    pacientes (Bariatric surgery guidelines, 2008). Neste estudo, oss resultados positivos quanto

    ao emagrecimento podem estar associados assiduidade satisfatria das pacientes, tanto para

    o servio de nutrio quanto para o de endocrinologia. Ward-Kamar et al (2004)

    encontraram piores resultados quanto presena s consultas, com freqncia de 54% e 10%

    aps, respectivamente, 12 e 36 meses de cirurgia, o que foi associado necessidade de

    maiores cuidados para preveno e tratamento de deficincias nutricionais, entre outras

    complicaes.

    Do estado de vitamina D, as anlises deste estudo permitiram estimar a prevalncia de

    deficincia nas pacientes em fase pr-operatria e naquelas com mais de dois anos de cirurgia,

    alm de avaliar alguns fatores associados, inclusive a magnitude da perda ponderal e o uso de

    suplemento, para os pacientes operados.

  • 54

    Observa-se na literatura uma variao muito grande nas prevalncias de HVD entre

    obesos graves, j havendo sido documentados valores superiores a 80% em pacientes no

    suplementados, em fase pr operatria de cirurgia de obesidade (Ybarra et al, 2005; Sanchez-

    Hernandez, 2005). No presente estudo a prevalncia de HVD no foi significativamente

    diferente entre as pacientes em preparo para cirurgia e os j operados, superando 35% em

    ambos os grupos. No estudo de Mahlay et al (2009) identificou-se prevalncia de 47,0% de

    pacientes aps 1 ano de GRYR apresentando nveis de 25OHD abaixo de 30 ng/ml, enquanto

    que Fish et al (2010) encontraram 63,0 % aps 1 ano e 73,0 % de HVD aps 3 anos de

    GRYR, utilizando o mesmo critrio diagnstico. Alm das variaes quanto ao critrio

    diagnstico para definio de HVD, a comparao dos resultados da literatura torna-se difcil,

    em funo das diferenas da estao de ano de realizao dos estudos e a presena ou no de

    suplementao de vitamina D (Carlin et al, 2006).

    Alguns trabalhos observaram melhora dos nveis de 25OHD aps a cirurgia. Essa

    melhora estaria associada perda de peso e reduo de tecido adiposo, que aumentariam a

    biodisponibilidade da 25OHD (Signori et al, 2010; Flores et al, 2010). Outro fator importante

    seria a melhora de autoestima e maior mobilidade adquirida pelo paciente aps reduo

    ponderal, levando a maior exposio solar (Signori et al, 2010). Signori et al (2010)

    observaram reduo de HVD de 86% em pacientes pr-operatrio (definida como 25OHD <

    32 ng/ml) para 70% aps 1 ano de GRYR. Flores et al (2010) tambm relataram diminuio

    da prevalncia de HVD (25OHD< 20 ng/ml) de 52% para 32% aps 1 ano de GRYR. No

    entanto, mesmo com o aumento os valores de 25OHD, em mdia, a populao do estudo

    permaneceu abaixo do valor de adequao de 30 ng/ml.

    Embora seja um fator importante na produo de vitamina D3 corporal, no foi

    encontrada diferena entre os grupos para exposio solar e nveis de 25OHD. Assim, nossos

  • 55

    resultados no permitem afirmar que a causa de HVD foi a baixa exposio solar. Um fator

    que pode ter influenciado esse resultado foi a baixa preciso do mtodo utilizado para

    classificao de exposio solar, bastante subjetivo. Poucos estudos avaliaram esta associao

    em pacientes baritricos, sendo as metodologias utilizadas bem distintas e baseadas no auto-

    relato dos pacientes (Sanchez-Hernandez et al, 2007; Goldner et al, 2008; Carlin et al, 2009;

    Stein et al, 2009). At onde foi observado nesta reviso, apenas o trabalho de Stein et al

    (2009) encontrou correlao positiva entre exposio solar e nveis de 25OHD. A melhor

    metodologia para avaliao de exposio solar parece ser a utilizao de adesivos de

    Polisulfona, que absorvem a radiao UV na freqncia necessria converso de vitamina

    D3 (Davis et al, 1976). Infelizmente essa metodologia bastante cara tornando sua utilizao

    mais difcil.

    O consumo de vitamina D ficou bem abaixo da EAR (de 400 UI/dia) para os dois

    grupos (IOM, 2010). A dificuldade em se atingir a recomendao de vitamina D vem sendo

    relatada em outros estudos (Holick, 2007; Webb et al, 1990), principalmente por sua pouca

    disponibilidade nos alimentos. No caso do paciente operado, a dificuldade de atingir o

    consumo recomendado maior, pelo valor reduzido das pores. Muitos pases vm

    recorrendo fortificao de alimentos e suplementao individual para incrementar o seu

    consumo (Holick, 2007). No Brasil, a fortificao de vitamina D em alimentos

    industrializados ainda no foi regulamentada.

    No geral, sem considerar a dose, o uso de suplementao no ps-operatrio foi

    satisfatrio, compreendendo 73,5% da amostra. Welch et al (2011) encontraram menor adeso

    suplementao, de 57% aps 3 anos de GRYR. A correlao positiva encontrada entre uso

    de suplementao e nveis de 25OHD refora a importncia de seu uso indiscriminado para

    todos os pacientes (Flores et al, 2010). Um estudo que comparou pacientes submetidos a

  • 56

    GRYR observou maior reduo de PTH e aumento de 25OHD srico no grupo suplementado,

    o que no foi encontrado no grupo sem suplementao (Flores et al, 2010).

    Uma vez que at recentemente no havia consenso quanto suplementao de

    vitamina D, algumas pacientes desta pesquisa, iniciaram a suplementao de forma tardi