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Histria De Lagarto

RECONHECIMENTO ___________________

HOMENAGEM AO SR. ADALBERTO FONSECA

Hoje vos falaremos de um nome. De um homem. Que sendo enteado de nascimento Tornou-se o filho que Lagarto adotou, Com simpatia. Um homem de garra, fibra e coragem. Um nome pra ningum esquecer. Um homem que desbravou o desconhecido E documentou a nossa origem histrica Extraindo de arquivos mofados, deteriorados e esquecidos O empenho dos nossos desbravadores E a herana dos nossos colonizadores. Esse homem Esse nome Desenvolvendo uma idia pioneira Imortal para ns E para o filho dos nossos filhos Levantou um marco de iniciao Ao nosso processo de municipalidade.

Adalberto Fonseca

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O monumento est l Ali na Colina do Santo Antnio Para quem quiser contemplar E aplaudir. Com igual empenho Esse nome Esse homem Passou a escrever com esmero Os episdios lricos e documentveis Dos nossos antepassados Que mais parecem figuras vivas Nos cenrios das nossas emoes dirias. Era como uma aula Ler suas colunas no Jornal O Lagarto. E pra quem refutou o processo Um aviso: Discriminao pecado. Nos livros publicados ou em andamento Uma procisso de lembranas Revigoradoras, Expressam um grande amor terra A nossa Lagarto Que ora se curva Para reverenciar tanto empenho E sabedoria. Sabemos O reconhecimento ainda vir Se j no comeou a projetar-se, No hoje ou agora Nem aqui.

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Mas quando num arrojo de idealismo Ressuscitou nossas tradies culturais Levando para Olmpia, So Paulo Por ocasio do 18 Festival do Folclore Nacional Os nossos grupos: Cangaceiros Parafusos A torcer e distorcer Trazendo de volta Na bagagem dos sonhos e do trabalho Diplomas, medalhas. E as honrarias de um primeiro lugar Que por justa causa No nossa dele. Esse homem Esse nome Sem concluir o primrio Passou em curso de admisso E foi ser aprendiz de marinheiro Primeiro no Estado da Bahia Depois no Rio de Janeiro Onde navegou como grumete Chegando a combater comunistas disciplinados. No gostava da profisso Desistiu. Matriculado no Mosteiro de So Bento Aprendeu as suas maiores lies de vida. Retornando ao seio familiar Vioso em idias e esperanas Foi nomeado promotor pblico Em Campo do Brito. Escrivo de Coletoriaso

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Em Divina Pastora, E em 1943 Aconteceu o sonho maior: O Casamento com D. Elza. No seu encalo A histria e a poesia Seguiam de vanguarda E foi Lagarto quem ganhou Seu presente maior. A confeco da nossa Bandeira, das Armas e do Hino. Por causa desse nome Por causa desse homem E dos anseios guardados Dentro do seu querer, O arquivo Nacional da Torre do Tombo Em Lisboa - Portugal Foi rebuscado, revolvido At que em mos Diretamente do Vaticano O Papa Paulo VI Enviou a Bula que permitiu A comemorao de Nossa Senhora da Piedade, Pela passagem dos seus 300 anos. Para alguns pode parecer pouco Gestos to nobres E inesquecveis. Mas para ns O exemplo deste nome Deste homem Calar fundo em nossas formaes juvenis.

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E por essa ddiva A nossa homenagem hoje No tem limite E o sucesso que lhe desejamos No tem alcance E lhe servir como prmio da felicidade Que o Sr. merece. Obrigado Muito obrigado Sr. Adalberto Fonseca Lagarto (SE), 26 de junho de 1983 Homenagem dos alunos e professores do Colgio Slvio Romero.

O autor ao lado do estandarte em sua homenagem oferecido pelos alunos e professores do Colgio Slvio Romero

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APRESENTAO ______________________APRESENTAO Desde 1960 que iniciei as pesquisas da histria de Lagarto. Anos depois me veio a idia de transformar tais pesquisas em livro. Lagartense por amor, visto que no nasci nesta terra. Acontece que me enchi de amor por este recanto e que outro meio no vi seno este de poder manifestar minha gratido e minha amizade por esta gente e suas coisas. No incio, as pesquisas que me pareciam fceis e rpidas, comearam a se revelar difceis e longas. Na proporo em que o tempo recuava, avanava no meu trabalho, e mais elementos justificavam a iniciativa. Lagarto tem histria. importante no apenas para a Histria de Sergipe, mas para a do Brasil. Pesquisei arquivos, bibliotecas, igrejas, li velhos documentos e livros cobertos de poeira e cheios de traas, agentes a servio do tempo e da destruio. No venerado Instituto Histrico e Geogrfico de Sergipe, busquei uma coletnea de leis e regulamentos da Assemblia Provincial que contam a histria dos feitos administrativos da Provncia. Foi na Biblioteca de Tobias Barreto onde encontrei um acervo histrico dos mais ricos, por guardar muitas coisas de Lagarto. Jornais centenrios, escritos inditos e anotaes preciosssimas me foram colocadas s mos para que a histria tambm conhecesse o interesse de pessoas completamente alheias que tomaram tanto cuidado em anotar acontecimentos que somente a dedicao e curiosidade justificam. Entrevistei pessoas velhas, de

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uma longevidade digna de inveja por possuirem memria capaz de guardar e reproduzir fatos e acontecimentos, criando a imagem verdadeira daquilo que ficou to distante. Conheci Dona ster Deolinda de Matos e com ela mantive amizade. No se passava nada em Lagarto que ela no anotasse com fidelidade. Falecida em 1983, com noventa e quatro anos de idade, deixou em minhas mos um caderno mais que precioso. Antes de morrer o Senhor Manoel Emlio de Carvalho, (98 anos), eu o entrevistei, assim como Acrzio DAvila Garcez, (86 anos), o Desembargador Gervsio de Carvalho Prata, que oportunamente me presenteou um livro de sua autoria intitulado O Lagarto Que Eu Vi, prestando-me ainda inmeras informaes a respeito de Lagarto. Jos Marcelino Prata, (88 anos), contoume coisas importantes de Lagarto, fazendo questo de enumerar fatos mais ligados ao Santo Antnio onde morou e teve casa de comrcio. Conheci tambm Srgio Quartel que comprou o stio pertencente aos Carmelitas, e que foi pelo superior da ordem a ele vendido em 1916, com a assinatura do Frei Barantera. Ali, por vrios anos, ficou um Convento com o nome de Convento Santa Cruz da Horta. Tal escritura seus filhos guardam como relquia do passado. Num caderno de anotaes do Cel. Hiplito Emlio dos Santos 1865, tambm constam registros importantes da vida poltica e administrativa de Lagarto. Abelardo Romero colaborou com seu livro intitulado Slvio Romero em Famlia. Professor Sebro Sobrinho me contou muitas coisas de Lagarto e fez inmeras revelaes. No satisfeito com algo que me parecia confuso, procurei o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, de onde vieram histricos verdadeiramente maravilhosos, cujos documentos ilustraro este livro. Pesquisar no tarefa fcil. Somente motivado por amor a uma causa e objetivado a um ideal, que se consegue desvendar os mistrios do passado, juntando fragmentos histricos que animam a vida presente e dando aos homens mais razes para continuarem lutando pelo progresso. No me julgo um heri pelo que apresento neste livro, muito menos tenho pretenses de

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ser escritor... Modesto funcionrio pblico Federal j aposentado, nada mais tenho a fazer na vida. A sabedoria popular diz: Cada doido tem uma mania. Esta, pois, uma mania que poucos possuem. Desde criana procurava conhecer a histria de Sergipe, lendo e guardando com carinho aquele livro que faz parte da minha vida, Meu Sergipe de Elias Montalvo. Tive um mestre maravilhoso nas minhas pesquisas, a quem Lagarto muito deve: o poeta e escritor jornalista Jos Francisco de Menezes que, possuindo uma rica biblioteca, abriu as portas da mesma e disse: Nesta casa mora um pedao de Lagarto. Entre, procure que encontrar tudo aquilo que procura. Na verdade, encontrei muita coisa. Sou grato a Lagarto como se fosse a minha prpria terra e a minha gente. Aqui tenho vivido e amado pelo respeito que me credencia a falar do seu nome. Completando minhas pesquisas, quero ainda falar de um personagem que muita valia teve para com a histria de Lagarto: o ex-escravo Purciano Benedito, aquele a quem dedico a pgina negra da histria. Contou-me muita coisa cujo relato fao hino de louvor Princesa Isabel. Uma outra ex-escrava que andava pelas ruas sendo muito querida e estimada, Sinh Neves, foi da senzala dos Almeidas e me contou muita coisa tambm. Finalmente vem aquela a quem se deve o descobrimento, ou melhor dizendo, o achado dos restos da antiga Tapera de So Tom, o Apstolo: a escrava Quindim cujo nome verdadeiro era Joana, e que tambm pertenceu aos Almeidas. Lagartenses, depois deste rosrio de acontecimentos, eis por fim a histria da sua terra. No quero dizer perfeita, porque ningum a escrever. Porm, somados os pontos negativos partidos de todos aqueles que no desejavam ver este livro circulando de mo em mo, ficam aqum dos que sonhavam por este dia. So mais de trezentos anos de vida, de lutas e de alegrias nas conquistas. As decepes e derrotas no fazem parte desta obra porque elas no existiram. A alma do lagartense indmita e imortal. Lagarto hoje um dia-

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dema ornado com pedras preciosas, uma jia de rico valor que embeleza Sergipe, fruto da bravura de sua gente leal e destemida. Na administrao do Prefeito Jos Ribeiro de Souza, o nico que valorizou minhas pesquisas, no foram medidos esforos para que Lagarto viesse a possuir seu marco de fundao. Os recursos me foram dados e hoje estamos a conhecer o local onde nasceu Lagarto. Foi com Jos Ribeiro de Souza frente da edilidade lagartense que criamos a nossa bandeira, nosso escudo de armas e nosso hino. Homenagem justa e merecida. Quero na oportunidade outorgar a Jos Ribeiro de Souza um Diploma de Honra ao Mrito, arrancado do fundo do meu corao. Para que tudo isto tivesse acontecido, uma luta de carter invejoso tive de enfrentar. Ataques dos mais violentos e agressivos me foram dirigidos. Mas... Tudo isto pertence ao passado. O que desejo a todos estes que pensaram que com minha morte apagariam a histria de Lagarto ?. Que Deus lhes d muitos anos de vida para assistirem minha vitria e baterem no peito: minha culpa, minha culpa, minha mxima culpa. No sou lagartense de nascimento, sou lagartense pelo corao e duvido que dentre todos os naturais haja um amor maior que o meu por esta terra que no a minha terra, e uma gente que no a minha gente. Desculpem o desabafo. Lagartenses, neste meu trabalho procurei ser fiel verdade, sem tentativas de agravos a ningum. Muita coisa que aqui se passou na rea das lutas polticas, tem explicao na falta absoluta de uma cultura jurdica e democrtica. No se faz democracia sem esses embasamentos. Os que faziam polticas transformando em guerra a luta pelo poder, destruindo os adversrios e praticando agresses criminosas na nsia de galgar o poder, ao invs de conquistar o povo, os eleitores com administrao fecunda em benefcio da sociedade, faziam guerra aberta, chocando famlia contra famlia. Numa democracia normal, - no falemos em uma democracia ideal -, as lutas no vo alm das eleies. No caso, cabe ao vencedor a responsabilidade pela execuo do programa anunciado e que o levou vitria. E aos derrotados, a tranqilidade do dever cumprido, procurando ser til com sua ajuda e partici-

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pao. Infelizmente, em Lagarto, esta prtica era desconhecida. Conhecia-se a guerra da destruio onde, na maioria das vezes, presentes estavam aqueles fatos a que acima me referi, numa violentao dos princpios sociais que deveriam nortear as atitudes e comportamentos dos homens pblicos. Graas Nossa Senhora da Piedade isto faz parte do passado. De qualquer forma ningum moeda de ouro para agradar a todos, como pensava meu pai, Graciliano Apolnio da Fonseca. Ao escrever a histria dos papajacas no pensei em agradar a ningum, mesmo porque seria uma utopia. Sem outros propsitos, preocupei-me exclusivamente em buscar a verdade, a fim de transmitir aos que tm sede de conhecimento da histria ptria. Nada mais podia dizer. Resta-me esperar o julgamento daqueles que vo ler a histria e aguardar as crticas, sem deixar de estender a mo palmatria, a fim de receber o merecido castigo e agradecendo a todos aqueles que contriburam para que este sonho se tornasse realidade. Disse algum: Plante uma rvore, tenha filhos e escreva um livro. Se assim o , sou um homem realizado.

O AUTOR

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HOMENAGENS _____________________ memria de minha esposa Elza Santos Fonseca. Ela que se orgulhava de mim e da minha persistncia na cata de elementos que viessem a ampliar o que se diz da Histria de Lagarto. Ela sonhava com este dia de ver publicada em livro a histria de sua terra. A voc, Marinete, Segunda me dos meus filhos. Sem voc jamais teramos chegado aonde pretendamos. Voc que veio trabalhar conosco ainda mocinha, somente nos deixando quando no lhe foi mais possvel ajudar-nos. Aos meus filhos, Kennedy, Marielza, Deodoro, Epitcio, Floriano, Nenn, Hermes e Adherbal, este que to cedo veio enlutar a famlia. A eles, meus agradecimentos por terem seguido os ensinamentos de como viverem com respeito e amor. Para voc, Maria do Amparo, minha atual esposa, meu mais profundo agradecimento pelo cado. Elza Santos Fonseca1923 1986

muito que tem me dado, com seus cuidados e orgulho por ver este livro publi-

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AGRADECIMENTOS Caro Lagartense, At que enfim, chegou a hora de voc conhecer historicamente sua terra e sua gente. A quem se deve to significativo feito? Aos polticos................................................................. Aos fazendeiros........................................................... Aos prefeitos................................................................ Aos governadores........................................................ Finalmente a quem se deve? Como sabido, Lagarto foi celeiro da cultura brasileira de onde saram valores dos mais variados, tendo como exemplo, o imortal Slvio Romero. Este porm !, jamais preocupou-se em dar a Lagarto contada em livros a narrativa de um povo nascente dos mais tradicionais motivos que o fizeram publicar a maior obra at hoje no gnero, Histria da Literatura Brasileira. Por que nenhum dos valores apontados no dicionrio do Dr. Armindo Guaran tiveram a lembrana de fazer isso ? Coube a mim, homem sem cultura, sem diploma, sem anel, essa tarefa realizar. O autor No No No No

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O POETA ____________________

Monumento edificado como marco inicial da colonizao em terras de Lagarto, como consta na placa de inaugurao:

GOVERNO DO MUNICPIO ADMINISTRAO JOS RIBEIRO DE SOUZA Antiga Tapera de So Tom, malocas dos ndios Kiriris, catequizados pelos jesutas Gaspar Loureno e Joo Solnio em 1575, marcando o aparecimento de Lagarto. Pesquisa de Adalberto Fonseca Lagarto 20.04.1972

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TAPERA DA ALDEIA DE SO TOM O APSTOLO Cantar, desejo, a tua grande lida, Cidade altiva, gloriosa e nobre... Mas sinto nalma aquela voz sentida Simo Romero est gemendo em dobre: Ento relembro que, numa cabana Dessa herica regio gaspariana Nasceu a grande cidade sergipana Que entre as suas irms mais se descobre.

Na mansido das matas, vive o ndio, Da caa e pesca e frutas abundantes, Ouvindo o velho chefe um amerndio Que organiza a grei em tais instantes. Da vivncia to calma e to suave Descr, lhe possa vir de pronto o entrave Tornando a sua taba em hora grave Dispersa pelos cerros circundantes!... Ali se vem, por sobre a pedraria As cruzes que relembram a grande luta Dos amerndios, na floresta bruta Quando despontam os clares do dia. Na selva inspita, o tangar maldito Solta o seu pio, tenebroso grito Que mostra as tropas de Luiz de Brito Trazendo taba o fogo e a agonia.

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De pronto acorda a indiana brava E segue a voz do herico Tepit, Que no deseja a sua tribo escrava Quando dardejam os raios da manh... Cobrem de flechas, os arcos retesados, E trancam-se-nos matos circundados, Por cerros e alcantis j dominados, Salvando a sua tribo co-irm... No valem as pregaes do sacerdote, Pois que a lusa gente endiabrada Penetra nessa Aldeia de pinote Trazendo o morticnio indiada E quase toda a grei j perde a f, De que na Aldeia do Grande So Tom Existia ainda, um ndio que de p, Possa ser dessa gente escravizada. Pelas matas sem fim do Conguy Vai penetrando a tribo Kiriri Temendo a fora armada; Para mais aumentar o dissabor Souberam que as ordens do invasor Era deixar a Aldeia incendiada... J bem distante viram o fogaru Com labaredas atingindo o cu... E quase a destronar o Tup?... E elevam pelos cerros, preces, gritos Que reboam nos campos infinitos. S as ordens do Grande Tepit. No mais ali chegaram os gentios

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Que abandonaram as margens desses rios: O Piauy e o Jacar... Ali ficou somente uma Tapera Testemunhando o que outrora era A Aldeia de So Tom... Dezenas de anos decorridos, Vem domar esse solo abenoado Um Antnio Gonalves de Santana, Ali erguendo o primeiro povoado. Temendo ainda as hostes aguerridas Transformadas naquele pandemnio, Levanta uma capela e faz seu orago O grande taumaturgo Santo Antnio. Reconhecendo, nessa zona a uberdade Vai buscar sua gente em Itabaiana E logo mais, crescendo o povoado, Vai erguendo um altar para Santana. A paisagem encanta o visitante E nova gente aos poucos vai chegando; O trabalho que se faz produtivo, E o roado e o gado se alastrando. Sesmarias se fazem a todo o instante Penetrando a regio da grande mata E o pioneiro se mostra alegremente Em vendo que sua ordem o povo acata. Se o acidente que lembra um lacertdeo Ou mesmo a origem de um minguado rio, Ou, mais ainda, um tronco portugus, Foi o topnimo que te deu Lagarto ...

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Creio, no entanto, que o teu povo farto Tenha nas veias o sangue do holands. Nesses pagos das terras sergipanas, Atravs das geraes gasparianas Permaneces bem fiel ao teu passado... Que continua lutando e bem seguro, Para que tenhas, nos dias do futuro O padro dessa glria assegurado. Comea e se eleve terra gloriosa, Tendo sempre a mocidade estudiosa A vibrar na maior dignidade... Que desfraldes a bandeira do progresso E que tenhas Paz e Amor sempre em excesso Sob as bnos da Me da Piedade. Nessa tapera, nos tempos primitivos, Existiu, de So Tom, a velha aldeia, E, pra no ser entre muitos uns cativos Nem morrer, ou ficar numa cadeia Preferiram, em gestos bem altivos, Nas entranhas dos cerros que os enleiam, Penetrar, sempre hericos e bem vivos, Vendo ao longe a Maloca que incendeia... Sculos depois, a pesquisa lagartense Descobre, nos sinais que esto ali A presena da maldade lisboense... E na missa que foi concelebrada Pelas almas da tribo Kiriris A verdade ficou positivada. Muniz Santa F

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LAGARTO Lagarto, povo herico e sempre dado, Ao bradar no nordeste em harmonia, s tu, cidade que cresce noite e dia, Entre todas as outras neste Estado. Teus homens, com razes tm ufania. Aqui produzem farinha, milho e gado. O teu fruto, o teu fumo exportado, No teu trabalho existe garantia. Pra te elevar bem alto, sempre quero, Bero feliz de Freire e de Romero, Glria maior na tua mocidade. Deus te abenoe, cidade de Lagarto, De povo amigo, generoso e farto, Sob as bnos da Me da Piedade. Muniz Santa

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SMBOLOS DO MUNICPIO _____________________HINO DE LAGARTO Despertai com este brado Lagarto Com a f do teu povo altaneiro Desbravando esta terra querida Em Sergipe tu foste um primeiro. Deste a ptria teus filhos queridos No af da cultura e do saber Laudelino com Silvio Romero Que souberam nos engrandecer. Os teus campos so cultivados, Os teus prados tm mais poesia. A beleza da fauna que encanta Quando aponta o raiar de um novo dia. O minrio guardado na terra. As montanhas belas e altaneiras Do encanto a terra lagartense Que pertence ptria brasileira. Lagarto (SE), 20 de abril de 1972 Adalberto Fonseca

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Institudo pela Lei municipal n. 263, de 22.03.1972, durante a do Sr. Jos Ribeiro de Souza.

administrao

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BANDEIRA DE LAGARTO Instituda pela lei municipal n. 263, de 22.03.1972, durante a administrao municipal do Sr. Jos Ribeiro de Souza, foi criada pelo autor desta obra a partir de suas pesquisas, tendo sua diagramao os seguintes

significados: - A cor predominante vermelha, representando o hbito de Santo Antnio, inspirador da primeira povoao em terras lagartenses (vide Antnio Gonalves de Santana e a fundao do Santo Antnio); - O Branco, o espirito pacfico do povo lagartense; - As faixas pretas, o luto pelas vitimas da bexiga do Santo Antnio;

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- O braso, a origem nobre do povo lagartense (vide origem do nome de Lagarto); - As laranjas, os ramos de fumo e os berrantes, as principais atividades econmicas do municpio; - O Lagarto, a origem do nome. O T, smbolo da f antonina;

-

- e, finalmente, a faixa alusiva data da emancipao poltica do municpio.

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TAPERA DE SO TOM ____________________

O DESCOBRIMENTO DO BRASILAlgo maravilhoso aconteceu um dia no pequeno e herico Portugal, nascido ao calor das lutas contra os mouros, temperado ao fogo das batalhas e conquistas na sia e frica. Um prncipe ousado e senhor, convencido de que o mundo ainda estava longe de ter descoberto todas as terras existentes, resolveu retirar-se da corte e fundar uma escola onde se pudesse estudar a arte de navegar. Seu nome: Dom Henrique, o Infante, filho de Dom Joo I. No rido promontrio de Sagres, na regio de Algarve, sul de Portugal, construiu a Escola de Sagres, a qual ficou conhecida e respeitada no mundo inteiro. Reunindo todas as informaes possveis que lhe chegavam s mos, aglomerando navegadores experientes, pilotos do mar, gegrafos, cosmgrafos e estudiosos de todos os gneros, conseguiu o Infante formar navegadores que se atiraram grande aventura do mar, descobrindo novas terras e encurtando caminhos conhecidos, ao mesmo tempo promovendo e aperfeioando novas embarcaes, tornando-as mais leves e velozes, como tambm os instrumentos de navegao recebiam especiais cuidados. Muitos navegadores famosos passaram pela Escola de Sagres. Cristvo Colombo foi um deles. Dormia Dom Henrique seu ltimo sono, quando Vasco da Gama descobria o to sonhado caminho martimo para as ndias. Anos mais tarde, saa

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de Portugal uma esquadra composta de 13 navios sob o comando de Pedro lvares Cabral. Eram 10 caravelas e 3 navios redondos com cerca de 1400 homens, frades franciscanos e farta munio e mantimentos para suprir a longa jornada. Na segunda-feira, nove de maro de 1500, teve incio a viagem e a 21 de abril do mesmo ano comearam a aparecer os primeiros sinais de terra, sargaos sobre as guas e aves marinhas sobrevoando os altos mastros. No dia seguinte, 22, foram vistos os primeiros pontos de terra. Estava descoberto o Brasil. O texto acima descrito de conhecimento de todos os brasileiros, no entanto o descrevi para servir de referncia grande jornada: a Histria de Lagarto.

A PENETRAONo ano de 1574, os ndios do Rio Real foram Bahia pedir ao Providencial da ordem dos jesutas a presena de padres para construrem igrejas nas aldeias. Por volta do ano seguinte, atendendo solicitao dos ndios como tambm dos portugueses interessados na nova terra, e, dentre eles, a figura de Garcia Dvila, que j tinha suas terras demarcadas pela unha de boi, chegava ao Rio Real, em 28 de janeiro de 1575, os padres Gaspar Loureno e Joo Solnio, acompanhados de 20 nefitos, vindos da Aldeia do Santo Incio e, para proteg-los, o Governador Lus de Brito enviou um contigente militar. Os jesutas, acompanhados dos ajudantes, seguiram em busca da Taba de Tomar do Geru, enquanto a Fora Militar ficava de guarda na Barra do Rio Real. Depois de passar pelo Jabibery, seguiram em busca do rio Piauy.

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Delrio potico

A ramagem das trepadeiras silvestres, bem como os frutos amadurecidos davam ao senhor absoluto daquelas terras condies de vida calma e prazerosa, a floresta virgem cheia de encantos parecia indomvel diante daquele pequeno agrupamento humano contrastante com as araras e papagaios que sobrevoavam as altas copas das arvores; o cu azul recheado de flocos de nuvens alvas, as guas mansas corriam sobre o leito arenoso do rio Piauy.

Por certo, foi essa imagem que encantou os bravos conquistadores lusitanos.

1 TENTATIVA DE COLONIZAO DAS TERRAS DE LAGARTO Com Tom de Souza, veio um grupo de jesutas e entre estes aquele que mais tarde haveria de receber o ttulo de Apstolo dos ndios, o Pe. Manuel da Nbrega. Pregador e senhor de extraordinria cultura, sacerdote de virtudes indiscutveis, trazia Nbrega a misso sagrada de evangelizar os silvcolas e manter entre os portugueses as tradies religiosas de origem. A misso apostlica inclua tambm o dever de defender os naturais dos colonizadores, procurando dessa forma manter a paz e a harmonia no trabalho de colonizao.

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GASPAR LOURENO, UM RFO PARA CUIDAR DE UM POVO Manuel da Nbrega edificou um colgio que deveria acatar os meninos rfos entre outros, os quais viriam de Portugal para trabalhar na catequese dos nativos, formando um exrcito cujas armas seriam cruzes e a palavra de Deus. Trazendo em sua alma jovem a doce lembrana da terra natal, dos alcantis circundantes da Vila Real de Trs-os-Montes, chegava ao Brasil o novio Gaspar Loureno. Tinha apenas quatorze anos de idade, acompanhado de outros seis rfos no ano de 1550. paisagem admirvel da Baa de Todos os Santos, o enchia de pensamentos e sonhos de ser um dos primeiros evangelizadores da nova terra. Tranqilamente se torna um estudioso de teologia no desejo de, em breve, se tornar um pregador assim como seu mestre Jos de Anchieta.

Tapera de So Tom o Apstolo. Concepo do pintor lagartense Mateus Santos

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FUNDAO DA TAPERA DE SO TOM, O APSTOLO Em uma das barrancas da confluncia dos rios Piauy e Jacar, situava-se a taba dos ndios Kirirys, forte aglomerado comandado pelo temido Cacique Suruby, onde, graas aos franceses, mantinha-se comrcio clandestino de madeira em troca de bugigangas. Suruby, que no era afeito figura do Governador Luiz de Brito, devido violncia comandada por ele contra jovens ndias, no via com bons olhos a chegada dos portugueses. Foi iniciada a construo de uma igrejinha provisria coberta de palha de pindobeiras, onde foi celebrada a 1 missa a 3 de maro de 1575 recebendo o nome de Tapera de So Tom, o Apstolo, e, em torno dela comeam a edificar as primeiras palhoas formando o primeiro aglomerado em terras que mais tarde viriam a ser Lagarto. Foi erguido um cruzeiro com 80 palmos de madeira de cedro extrada das margens do rio. Os frades fundaram uma escola de catequese com matrcula inicial de 50 curumins, subindo depois para 100. Os jesutas ainda fundaram mais duas igrejas, uma na aldeia de Santo Antnio, e outra, a 29 de junho de 1575, a de So Pedro e So Paulo. A aldeia dos Kirirys foi a que teve maior crescimento na catequese, inclusive sendo elogiada por Frei Incio Toloso que anunciou os feitos de Gaspar Loureno e Joo Solnio, junto s duas mil almas ndias da taba ao Provincial da Ordem.

GUERRA AOS APERIPS A catequese nas aldeias tinha crescido numa maneira grandiosa, chegando aos ouvidos do Governador Luiz de Brito e Almeida. Para surpresa dos padres, chegou Tapera de So Tom, num dia tranqilo, um contigente militar, tendo frente Luiz de Brito, com a inteno de levar para a Bahia um grande nmero de ndios escravizados. O padre Joo Pereira, que se encontrava na aldeia, procurou distribuir os outros padres entre as comunidades indgenas na tentativa de evitar confronto entre o cacique Suruby e o Governador. Gaspar Loureno e o padre Leito de Santo Incio seguiram para a

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aldeia do grande chefe; teriam de empreender todos os esforos para conter o derramamento de sangue. Joo Solnio e Joo Pereira ficariam na Aldeia de So Tom. Apesar dos esforos dos jesutas, no foi possvel conter a fria da guerra. Suruby, que se encontrava na Taba dos Irapirangas, ao receber a notcia dos militares na aldeia, seguiu imediatamente para fazer frente a Luiz de Brito. Os portugueses, bem armados, tiveram de enfrentar uma guerra sangrenta diante do bravo guerreiro. Por fim, a superioridade de armas dos invasores fez cair morto por um tiro de trabuco o pai de uma grande nao indgena, o Cacique Suruby. A fria do Governador no terminou com a morte de Suruby e o aprisionamento de 1200 ndios aproximadamente. Ele queria apagar da histria aquilo que marcaria o golpe covarde de seu governo. O fogo ardeu sobre as palhoas e no final sobrou apenas uma cruz de 80 palmos. A destruio dos casebres no apagaria apenas a face da estupidez do homem. Cessaria tambm o incio de um maravilhoso trabalho de poucos soldados que usavam como armas o poder da cruz de Cristo. Sobre a violncia de Luiz de Brito, escreveu Gabriel Soares: A guerra somente serviu para escravizar ndios e malquistar os jesutas. Os ndios que no foram aprisionados fugiram e se amotinaram na Serra do Canguin (Fazenda Mussurepe) liderados pelo Cacique Boipeba, indo depois formarem um novo aglomerado no lugar que recebeu o nome de Stio dos Caboclos, conhecido at os dias de hoje. Em 1586, uma nova expedio foi organizada pelos colonos da Bahia, para oferecer guerra ao Boipeba. Houve uma revanche com a morte de todos os invasores. Indignado com o resultado da malfadada campanha, o ento Governador Manoel Teles Barreto e Benevides responsabilizou os jesutas pelo desastre acontecido. No local onde outrora floresceu a aldeia de So Tom, ficou como nico marco, em plena selva, o cruzeiro de cedro, ali plantado em homenagem ao artfice da destruio. No foi em vo o sacrifcio dos evangelizadores e ndios, mesmo diante da adversidade criada pela estupidez humana.

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Hoje, no entanto, estamos a contemplar os restos de um passado que tanto dignifica o presente, marcando para os lagartenses o local de uma histria que no deveria ter acontecido. O padre Incio de Toloso, em carta de 7 de setembro de 1575, fez a seguinte narrao para seus superiores, quando da sua passagem pelo local: Passando pela Tapera de So Tom, o Apstolo, deparei-me com a obra maravilhosa levada a efeito pelos jesutas Gaspar Loureno e Joo Solnio. Um cruzeiro de 80 palmos marca o local onde outrora uma casa de orao guardava os segredos da Santa Palavra.

O ACHADO, 4 SCULOS DEPOIS Tudo acabou. Ningum mais falou da Tapera, ficando, no entanto, a regio conhecida por Taperinha, sem contudo seus moradores conhecerem o porqu da palavra. A monumental cruz foi sendo corroda pelo tempo, vindo a desabar. Em seu lugar colocaram trs cruzes menores, simbolizando os mrtires da faina da guerra. O tempo foi passando e quem se aproximava do local trazia das margens do rio Jacar uma pedra para atir-la contra o monte j iniciado. Esse hbito durou por muito tempo sendo depois esquecido, mas ainda hoje se pode ver o amontoado de pedras e sobre elas as trs cruzes. Muitos historiadores sergipanos fizeram citaes da Tapera, porm nenhum deles mencionou com preciso o local exato. Certo dia, quando me arvorei em conhecer melhor a regio do Santo Antnio e buscar o local da Tapera, baseando-me na carta de sesmaria de Gaspar dAlmeida ,consegui chegar ao amontoado de pedras que se encontrava coberto de mato e quase invisvel. A certeza de que o achado era realmente a Tapera de So Tom veio da descoberta anterior que foi a Pedra do Macaco nos arredores da fazenda Mussurepe. Nessa caminhada, conheci uma senhora cuja idade presumia-se mais de 90 anos e que, com sacrifcio, me contou vrias histrias acontecidas na regio. Era ela Joana Maria da Conceio, filha de escravos da senzala dos Almeidas. ( Conhecida por Squindim).

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Algum tempo depois, a prefeitura de Lagarto na administrao de Jos Ribeiro de Souza, edificou um monumento simbolizando o marco inicial da colonizao, desenhado e orientado por mim. O ato inaugural se deu a 20.04.72, com missa campal e discursos de vrias autoridades locais. A histria da Tapera de So Tom, o Apstolo, no findou com sua destruio total. Foram 15 anos de silncio, e, em 1596, o Capito-Mor Diogo de Quadros, em nome de El Rey, dividiu as terras do rio Piauy com colaboradores da luta contra os franceses, e novamente o nome da Tapera foi lembrado nas cartas de sesmarias, para depois voltar ao esquecimento secular.

Cruz das Almas local da Tapera de So Tom o Apstolo Concepo do pintor lagartense Mateus Santos

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A PARTILHA DAS TERRAS ___________________

CAPITANIAS HEREDITRIAS Quarenta e nove (49) anos foram passados sem que Portugal tivesse feito alguma coisa com a finalidade de garantir a posse definitiva das terras descobertas por Pedro Alvares Cabral. Os franceses, na calada da inrcia, sob a proteo dos ndios, iam aos pouco conquistando a simpatia dos nativos, com que trocavam bugigangas trazidas do velho mundo por nossas riquezas. Portugal dormia o sono acalentador embevecido com as riquezas oriundas das ndias, colocando os interesses do Brasil em plano secundrio. A situao em nossas costas martimas chegou a tal ponto, que, advertidos pelos poucos portugueses que aqui residiam, do tamanho da gravidade, resolveram os alcoviteiros da Corte, proclamar em nome de Sua Majestade, a distribuio das terras, em Capitanias Hereditrias, na esperana de poderem consolidar os interesses dos beneficiados com distino de honrarias junto colonizao levantada por aqueles mesmos que, vivendo nos acalentados camarins do Palcio em Lisboa, seriam favorecidos. Pela Carta Foral de 20 de abril de 1549, foram dadas a Francisco Pereira Coutinho terras de Sergipe, cuja demarcao partia da ponta da Baa de Todos os Santos, at a foz do rio So Francisco, medindo pela costa cinqenta lguas. E, como era desconhecido o quanto referente ao poente, tinhamse como presena, as regies hoje conhecidas como Massacar, Rodelas,

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Pambu, Itiba, Salitre, Cansano, chegando at a margem direita do rio So Francisco, cujos limites atingiam at onde hoje floresce a ento cidade de Santo Antnio do Urubu de Baixo (Propri) desaguando no oceano depois de Vila Nova da Rainha. As intenes de Dom Joo III, redundaram num verdadeiro fracasso, a comear pela Capitania de Sergipe, cujo Donatrio foi morto e devorado pelos ndios, num banquete macabro. Em vista dessa desgraa, ficamos merc do tempo at quando foram por Cristvo de Barros expulsos os franceses e holandeses, marcando para a histria a fundao de So Cristvo em 1590, e, em conseqncia, a distribuio das terras onde hoje floresce a nossa Lagarto, em termos de Sesmarias, nascendo assim a colonizao por que tanto bem nos foram tributados graas aos que receberam terras e delas fizeram gerar riquezas e progresso.

INCIO DA CONQUISTA DE SERGIPE DEL-REY A conquista do territrio sergipano, por Cristvo de Barros em fins de 1590, teve as seguintes finalidades: estabelecer a continuidade do territrio entre a Bahia e Pernambuco, dois centros de populao firmada e desenvolvida e eliminar a influncia francesa, que, desde os meados do sculo XVI, tornava-se cada vez mais forte e capaz de ameaar a segurana da Colnia. Os entendimentos entre gauleses e indgenas eram to perfeitos que se podia notar a confiana existente entre eles. Era necessrio tambm conquistar as tribos tupinambs da regio compreendida entre o rio Real e o So Francisco, para que se pudesse garantir a posse definitiva do solo, promovendo, desta forma, a segurana do seu povoamento. As primeiras tentativas, providenciadas por Francisco Pereira Coutinho e mais tarde pelo Governador Luiz de Brito e Almeida, foram de conseqncias calamitosas em virtude dos seus desastrosos e inadequados mtodos de conquista. Nosso territrio foi regado com sangue dos nossos bravos

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irmos ndios, sem qualquer proveito imediato. Havia interesse na conquista de Sergipe. E essa conquista se teria feito sem tanta luta e tantos sofrimentos, se tivesse havido um pouco de habilidade por parte do governador que, levado por influncias nocivas, perdeu a autoridade, o que motivou a indisciplina. Acovardado ou talvez envergonhado dos seus atos e do seu procedimento pouco recomendvel a quem desejava conquistar os que habitavam a terra primitiva, os indgenas, Luiz de Brito e Almeida entregou a Garcia Dvila a tarefa de pacificar os ndios e ocupar a terra de Sergipe Del-Rey. Garcia Dvila, senhor da grande Casa da Torre, nenhum interesse demonstrou, todavia, pela solicitao que lhe fazia o desastrado Governador. Missionrios jesutas, Gaspar Loureno e Joo Solnio j aqui haviam estado, penetrando nas selvas, procurando catequizar os ndios, para facilitar o trabalho dos conquistadores. Todo o seu trabalho, arregimentao dos ndios sob a f e sob sua direo, foi destrudo pela ao malfica de Luiz de Brito. A obra maravilhosa daqueles abnegados e santos sacerdotes foi destruda pela covardia e avidez dos conquistadores. No mais foi possvel, assim, conquistar Sergipe Del-Rey pelos mtodos pacficos. A ao militar desenvolvida por Cristvo de Barros iniciou a derrubada dos invadidos que, conquistados palmo a palmo, procuraram resistir ao avano, formando guerrilhas de emboscadas. Vencidos afinal, Cristvo de Barros funda a Capitania de Sergipe Del-Rey e sua Capital, qual emprestou o seu prprio nome. Como recompensa por servio to nobre, recebeu Cristvo de Barros as terras conquistadas e que figuravam na Carta Foral de doao feita a Francisco Pereira Coutinho. A distribuio das terras teve incio logo aps o restabelecimento da ordem, entre aqueles que participaram das lutas. Cristvo de Barros jamais se interessou pelo povoamento das suas terras, e deu-as de presente a seu filho Antnio Cardoso de Barros, retirando-se para a Bahia a fim de enfrentar novas lutas. O presenteado tambm nada fez por Sergipe, retirando-se do mesmo modo. Em face disso, ento, resolveu o Governador nomear um Ca-

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pito-Mor com o ttulo de Governador da Provncia, cabendo o cargo ao Capito-Mor Tom da Rocha, que foi substitudo por Diogo de Quadros. Tem razo Laudelino Freire quando afirma ter sido a nossa colonizao oriunda de elementos vindos do sul, imigrados da Bahia. Os documentos nos falam de moradores vindos da cidade de Tatuapava, bem como possveis povoadores luso-brasileiros que, da Bahia, penetrando na nossa colnia, vieram receber terras para aqui se estabelecerem. A colonizao de Sergipe recebeu, assim, a interferncia de dois fatores complementares: atuaram um em intercorrncia e outro em simultaneidade com o avano dos povoadores. Alude ao temporrio domnio holands em Sergipe, ao franco desenvolvimento que tornou conhecido e cobiado o nosso solo que to bem se presta criao de gado. Maurcio de Nassau mantinha sua tropa alimentada por nosso rebanho, que requisitava aos nossos criadores. Isso por si s justificava o interesse do prncipe em dominar Sergipe. A ao de portugueses e flamengos, entretanto, em vez de concorrer para o desenvolvimento da colnia, concorreu para, ao contrrio, torn-lo difcil. O conde de Bagnuolo retirou-se de So Cristvo para a Casa da Torre, em Tatuapava, deixando aos invasores a tarefa de destruir o que aqui j havia. O esfacelamento da Capitania se repetiu mais uma vez: os moradores de So Cristvo passaram a viver dias angustiosos e cheios de temores, sem poderem julgar dos inimigos o mais perverso: se os portugueses, se os holandeses. Em 1637, houve incndio pavoroso da capital, ocasionando a fuga do Conde de Bagnuolo para a Bahia, por no mais suportar o cerco feito por Schkoppe e Gysseling. O resumo dos acontecimentos histricos da penetrao batava em Sergipe suficiente para uma demonstrao dos erros praticados pelos invasores. Do ponto de vista militar no procuraram se fortalecer o suficiente para demonstrao de fora, no mximo limite meridional alcanado que foi o Rio Real. Suas fortificaes nesse rio foram vencidas pelos portugueses e brasileiros que obedeciam ao comando de Luiz e Joo Lopes Barbalho. Estes,

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sem muito trabalho, eliminaram as tropas de Lyon sobre Magalhes e Felipe Camaro. Essas lutas tiveram incio em So Cristvo, vindo a atravessar toda a zona j colonizada desde as margens do rio Vaza-Barris, Piau e Jacar onde j era conhecido o aglomerado que florescia, com uma colonizao ordenada, centro demogrfico com populao em franco crescimento, batizado com o nome de Santo Antnio. O Prncipe Maurcio de Nassau mandou suas tropas perseguirem o Conde de Bagnuolo at So Cristvo, Capital da nossa Capitania, que caiu vencida pelos holandeses, passando a viver sob seu domnio at 1640. Depois da vitria de Barbalho no rio Real, em 1640, os portugueses continuaram avanado, retomando So Cristvo. Foi a que o prncipe Maurcio de Nassau disse: Ainda que venha o sol a clarear as portas das tuas choupanas, somente tu, Sergipe, queres ser Del-Rey?.... Retomada a Capital e expulsos os invasores, cabia estender a colonizao da Capitania que estava se processando muito tardiamente. Os fatos revelam a pujana de gente mameluca que tambm aqui desempenhou tarefas das mais rduas, quando se embrenhava pelas matas a dentro, vencendo obstculos sem olhar os perigos a que estava exposta. Belchior Dias Moreya andou por Massacar, Rodelas, Serra do Itiba, Pabul e Morro do Chapu, pesquisando sempre minas, sem deixar rios, serras, campos e florestas, na esperana de encontrar metais preciosos. Serra de Itabaiana, Serra das Minas em Campo do Brito, Serra da Prata em Tobias Barreto, Serra do Boieiro em Lagarto, e tudo quanto fosse possvel pesquisar, foi pelo bandeirante Belchior visitado. O Santo Antnio, aglomerado primeiro em terras de Lagarto, foi clula inicial que provocou o nascimento do municpio. Belchior Dias Moreya deixou em Lagarto, atravs de sua rvore genealgica, uma ramagem muito densa que at hoje floresce, com nfase. O nome do Bandeirante representado pelos Dias Dvila e outros. Quem for Dias em Lagarto, tome conhecimento de que seu nome vem de Belchior de quem partiu a conservao do nome: Seu pai, Diogo lvares

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Correia, o Caramuru casou-se com a ndia Paraguau, filha do Cacique Itapagipe, segundo Capistrano de Abreu. Belchior Dias de Afonseca Saraiva Moreya, filho de Belchior Dias Moreya, tambm conhecido por capito Muribeca, foi o primeiro comandante da milcia armada de Lagarto. Morreu aos 80 anos, deixando um filho natural de nome Rubrio Dias, filho da ndia Laurena, natural da tribo de Tomar do Geru e que se casou vindo a morar em Lagarto. Os Dvilas tambm vm de Garcia Dvila que era pai de Belchior com a negra Catarina Robaa. Garcia Dvila fez gerar sua rvore em terras do Lagarto, sendo sua maior representao a famlia do Cel. Sebastio Dvila Garcez.

AS SESMARIAS

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Felisberto Freire registrou todas as cartas de Sesmarias doadas em Sergipe. Estudando seus escritos, selecionei as que esto ligadas colonizao de Lagarto:

CARTA DE GASPAR DALMEIDA

20 de Abril de 1596.-Rio Piauy. Saibam, etc. Diz Gaspar dAlmeida provedor da fazenda de sua majestade desta cidade de San Christovam e morador de cinquo annos a esta parte e no tem terras em que possa fazer seus mantimentos e criases pede a vossa majestade lhe faa merc de hua legoa de terra comesara amedisan de la adonde vossa m acabar da banda do sul do dito rio piauy a quoal legoa de terra correra para aldea de San Tomnorte e sul e leste ao este em coadro com todas as agoas ilhas matos e lagoas que dentro ouver, despacho dou ao sopricante que pede no sendo dada duas mil brasas de terra de largo e mil e quinhentos de comprimento e sendo dada correra adiante en Serygipe vinte de abril de noventa e seis anos.Diogo de Quadros.Gaspar DAlmeida foi o tronco de uma das famlias tradicionais de Lagarto, tendo sido alto funcionrio da corte portuguesa. Seu sesmo teve grande impulso econmico, introduzindo-se a cultura da cana-de-acar e a

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criao do gado na regio, cuja prtica vem sendo seguida at os dias atuais por seus descendentes. A localizao desse sesmo no me foi difcil: trs cruzes, um monto de pedras e a denominao Cruz das Almas dos Jesutas identificaram a Tapera de So Tom. Em sua gesto, o Prefeito Jos Ribeiro de Souza, reconhecendo e valorizando meu trabalho em prol da histria de sua terra, mandou edificar um marco (desenhado por mim) no local, para servir de ponto de partida para os pesquisadores do futuro. O monumento foi erigido frente do monto de pedras, sem portanto, molestar a naturalidade do ambiente.

Local da Antiga Tapera de So Tom, o apstolo. Descoberto sob a orientao da ex-escrava Squindim, prximo ao Povoado Santo Antnio.

CARTA DE GASPAR DE MENEZES

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27 de Maio de 1596.-Rio Piauy Saibam, etc, diz Gaspar de Menezes morador nos lemytes da baia de que ele veio a Serygipe ajudar a conquistar em companhia de Cristovan de Barros e asin no hai rebate nenhum en que ele se no ache com sua pessoa e escravos como he notrio e ora no tem terras em que possa lavrar pela coal resan ele quer vir morar a esta capitania com sua mulher e filhos pelo que pede a VM respeitando ao que acima diz em nome de sua magestade digo-lhe de pelo rio piauy que corre para banda do norte no fim dada de Diogo Fernandes Nobre hua legoa e mea de terra em coadro por coanto tem muitas abrigasois para nela agasalhar e Rm. despachou ao sopricante em nome de sua majestade na parte que pede mil brasas de terra em coadro com todas as agoas e lenhas que nelas ouver em Serygipe a vinte sete de mayo de noventa e seis anos. - Diogo de Quadros.

Gaspar de Menezes tambm representou muito na formao das famlias-tronco da sociedade lagartense. Procurando descobrir as ligaes deste colonizador com os Menezes de Lagarto, tive a grata surpresa de conseguir, embora no muito, algo que satisfez plenamente s minhas pesquisas: Gaspar de Menezes, segundo escreveu o saudoso Sebro Sobrinho em

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sua obra Tobias Barreto, o Desconhecido, foi um bandeirante que recebeu terras em sesmarias em 27.05.1596 e posteriormente em 07.05.1601, sendo estas localizadas no lugar denominado Maxixe, tendo passado sua posse ao longo dos anos s mos dos herdeiros, at que se perderam os vnculos de sua originalidade. Atualmente, esta fazenda pertence ao Sr. Luiz Barbosa e irmos. Gaspar de Menezes teve poucos filhos. Um deles casou-se com uma filha de Gaspar DAlmeida, da a unio dos Almeidas e Menezes na sociedade lagartense. Essa unio j foi representada pelo Sr. Martinho Almeida de Menezes, criador de gado de linhagem pura, um dos primeiros introdutores da raa miscigenada indu-brasil, que tornou o parque pecurio lagartense conhecido em todo o pas. Da ramificao dessa famlia, destacam-se Tobias Barreto de Menezes, grande vulto da histria do Brasil, que estudou no Lyceu Lagartense, tendo sido discpulo do Pe. Alves Pitangueira, indo depois lecionar no Lyceu de Santo Antnio e Almas de Itabaiana; o Pe. Francisco Freire de Menezes, homem de um grau de cultura elevado e um dos conquistadores da emancipao poltica da cidade de Campo do Brito (ptria deste historiador), era filho de Jos Freire e Dona Ana, uma das filhas de Domingo Loureno. Da unio nasceram nove filhos: Francisco Freire de Menezes ( o padre ), nascido a 16.07.1863; Mucinha Freire de Menezes, nascida a 19.03.1869; Alpio Freire de Menezes, a 06.10.1873; Julita Freire de Menezes, a 16.06.1875; Maria Freire de Menezes, a 16.05.1878; Joo Freire de Menezes, a 21.01.1883 e Flora Freire de Menezes, a 24.11.1884. Todos nascidos na Fazenda Maxixe e batizados em Lagarto. Os Menezes, sem dvida, fazem parte de uma das principais rvores genealgicas do povo lagartense.

2 CARTA DE GASPAR DE MENEZES

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7 de Maio de 1601. Saibam etc. diz Gaspar de Menezes morador nesta capitania que elle est povoando com sua mulher e famlia e lhe no so dado terras onde targua suas criasois e ora junto ao rio de Serygipe esto huns sobeios de terras que podem ser mea lgoa de terra em coadro pouco mais ou menos os quais sobeios esto entre a dada de Antnio Vas de Jaboato e a dada de Tom da Rocha e Gaspar de Figeredo........................... do dito rio de Serygipe para o rio ipochi pede a vossa merce lhe de os ditos sobeios de terra ermdou ao sopricante em nome de sua majestade de sesmaria os sobeios que pede no estando dados Serygipe sete de maio de 1601 o Capito Locotenente m.m.b.

ANTNIO GONALVES DE SANTANA Em 1596, o Capito-Mor e ento Governador Providencial, Diogo de Quadros, doou em nome de El Rey, terras em termos de sesmarias, iniciando-se assim a colonizao em Sergipe. Couberam a Gaspar de Almeida, Gaspar de Menezes e Antnio Gonalves de Santana, as que ficavam prximas aos rios Piauyassu e Taymitiaia (nome que os ndios Kirirys davam ao rio Jacar). Essas terras foram disputadas por serem boas para a agricultura, possurem florestas com muita madeira, e, como a falta da mo-de-obra prejudicava o desenvolvimento, l estariam os ndios Kirirys j afeitos ao traba-

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lho. Assim foi que Antnio Gonalves de Santana, colaborador de Cristvo de Barros, iniciou a construo da povoao do Santo Antnio, aps receber carta de sesmaria a 26 de maio de 1596, descrita a seguir:

26 de Maio de 1596 - Rio Piauy Saiban etc diz Antnio Gonalves de Santana, morador nos limites da baia que ele vejo a Serigipe ajudar a conquistar esta terra en companhia do governador Cristovan de Barros e asim mais a rebate nenhum en que se ele no ache com sua pesoa e escravos como notrio e ora no tem terras en que posa lavrar pelo que ele se quer vir morar a esta capitania con sua casa e obrigasois de filhos e filhas e irmos pelo que pede a Vm. respeitando que asima diz lhe de en nome de sua magestade pelo rio saibetiaia asima braso rio piauy que corre para a banda do norte no fim da dada de gaspar de meneis huma legoa e meia de terra en coadro por coanto ten as sobreditas obrigasois para nela agazalhar. em - despacho - dou ao sopricante en nome de sua magestade na parte que pode no sendo dada e sendo dada correra por diante quihentas brasas de terra en coadro com todas as agoas e matos que nela ouver con condisan que dentro de quatro meses as venha povoar e no vindo sero dadas por devoluto en serigipe a vinte

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e seis de maio de noventa e seis anos. - Diogo de Quadros.CARTA DE DOMINGOS FERNANDES NOBRE

5 de Maio de 1596. - Rio Jacar. Saibam etc. Diz Domingos Fernandes Nobre morador nesta capitania que ele no tem terras neste limite donde mora e ora quer pouvoar na banda do rio reale pelo que pede a vosa merce que em nome de sua magestade lhe de no Rio de Taymitiaia braso do rio Piauy que corre para a banda do norte pera ele e sua filha Joana Nobre huma legoa de terra ha quoal dada se comesara na bocca do dito rio taymitiaia quando se aparta do rio Piauguohy ao longo do rio da banda do poente a quoal tera seia en coadras com todas as agoas que na dita dada ouver no que recebera merc-despacho dou ao sopricante na parte que pede duas mil brasas de teras em nome de sua magestade em coadro com todas as agoas matos que nelas ouver e dada corera por diante at onde lhe couber em Serygipe a vinte e cinquo de maio de noventa e seis anos. - Diogo de Quadros

Domingos Fernandes Nobre teve sesmo fundado em terras que se encontram nas imediaes de Lagarto, mais precisamente na Bica e at pou-

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co tempo ainda se falava na casa dos Nobres naquelas imediaes. Remanescentes dessa linhagem temos: Jos Viana Filho (Cai), que por parte de sua genitora trazia o sobrenome do sesmeiro.

CARTA DE MUNIZ ALVARES

27 de Maio de 1604 (Escrivo Martins de Souza) Saibam etc. Diz Muniz Alvares que praso de dous anos que esta nesta capitania de morada com sua mulher e filhos e famlia fabrica de escravos e gado vacun e todas as mais criasois ordinarias e no tem terras em que fazer seus mantimentos de gado e criasois e hora pelo rio asima de Vasa Barriz da banda do sul estam terras que no foram cultivadas de brancos em rio que chamaro hunisestringa (Urubutinga) que se mete no dito Rio Vaza Barriz pede a v. merse lhe fasa merse dar-lhe em nome de sua magestade no dito rio huputinga correndo pelo dito rio Vasa Barriz asima coatro legoa de tera en quoadro com todos os matos ribeiras pastos que nele ouver junto do rio Vasa Barriz e que lhe fiquem pera ele sopricante reservado isento dada a dita tera cora adiante e resebera merse erm. Dou ao sopricante pelo dito rio asima de Vasa Barriz na parte

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que pede uma legoa e meia de tera de comprido e de largo pela tera dentro dua legoas e no entraro as pontas enseadas e grotas de que faz menso e para ele ficara tudo resalvado e asin lhe dou a dita tera com todas as ribeiras e matos que dentro dela ouver da maneira que tem e dela lhe pasem carta na forma ordinaria Serygipe vinte e sete de maio de seiscentos e quatro anos o Capito Mor Tom da Rocha. As teras e agoas e ribeiras que estiverem dentro no termo lemite desta capitania de Serygipe sidade de San Cristvo que san vinte e cinco legoas que no forem povoadas a pesoas que as aproveitem estiverem vagas e devolutas para mim por via e modo que seia poder ce dar a pesoas que nol as pedirem as quais teras asim dareis livremente sem outro algu tributo somente o dizimo de Deus que se o deve a ordem de vaso Senhor Jesus Cristo com as condies e obrigaes do foral dando as ditas teras de minha ordem so do quatro livero titulo das sesmarias com condiso que a tal pesoa ou pesoas sirvo na povoao da capitania ou das teras que asim lhe forem dadas ao menos tres anos e que as no posam vender nen alhear e tereis lembransa de que mandareis a cada pesoa mais tera que aquela que segundo sua posibelidade verdes que a podem aproveitar de algumas pesoaAdalberto Fonseca

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a que forem dadas teras que as no poderem aproveitar no dito termo que estiverem pedidas e volas tornarem a pedir vos lhe dareis de novo as aproveitarem com as condeies. Deo o dito senhor capito mor ao sopricante Luiz Alvares as ditas teras a ele e seus herdeiros sucessores decendentes fazerem nela como causa propria que he de sesmarias e daro pela dita tera caminhos e servantias direitos ordenandos e necesarios para o conselho para pontes e fontes pedreras vieiras e para o que mais necesario for e pera sua guarda lhe mandou pasar a presente carta de sesmarias e sero registrada nos livros dos registros da fazenda de sua magestade desta capitania de Serygipe e sidade de San Cristvo dentro de hu ano como em seu regimento manda ao dito Luiz Alvres tudo prometeo ter cumprir e guardar pela sobre dita maneira e por verdade eu Martin de Souza das dadas sesmarias desta sidade de San Cristvo capitania de Serygipe e sen termo que esta carta pasei em meu livro de dadas e sesmarias bem e fielmente sem couza que divide onde asinou Capito Mor Tom da Rocha. Eu Martin de Souza escrivo das dadas sesmarias que esta carta tirei de meu livro dadas bem fielmente etc.

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Muniz lvares ou Luiz Alves Freire, como diz a carta, no mais encontrando terras prximas aos rios Piauy e Jacar, solicitou as que ficavam s margens do rio Vaza-Barris, tendo ali construdo um dos mais importantes sesmos da regio. Suas terras chegavam at o rio Urubutinga (Urubu da Cabea Vermelha) prximo a Lagarto. Homem de recursos fez edificar um dos primeiros engenhos de acar no lugar onde hoje floresce o povoado Carabas (Homem Branco). Essas terras foram dadas em herana ao seu filho Luiz Freire ou Muniz Freire. Depois da concesso das sesmarias s margens dos rios Piauy e Jacar, era evidente que a cobia ganhasse corpo e outros viessem a requerer terras das adjacncias com a mesma finalidade. Couberam a Gaspar de Maciel, cuja carta vai aqui transcrita, e a Baltazar de Barbudas as que deram origem Vila dos Palmares:

CARTA DE GASPAR DE MACIEL

7 de janeiro de 1607. Saibam etc. Dis Gaspar de Maciel que ele vem a povoar esta capitania e no tem terras onde traga suas criaes e faa suas roarias e no rio Sergipe acima nas cabiceiras de Pero Lopes da banda do norte esto terras devoluto e nunca foram cultivadas de branquos pede a Vm lhe faa merse em nome de sua magestade de lhe dar parte que pede de sesmarias de trs lguas de terra em coadro com todas as pertensas que nela houver e sendo dadas dalgumas das bandas correr adiante

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e E r m - Dou ao souplicante na parte que pede duas lguas de terra em coadro com todas as madeiras e guas e sendo caso que sejam dadas a outrem corer adiante em Sergipe ao 7 de janeiro de 1607 - o Capitomor Antnio Pinheiro de Carvalho.O sesmo teve como sede a Fazenda Bananeiras que distava 3 km do povoado em formao. Sua localizao ficava dentro dos limites territoriais dos atuais municpios de Tobias Barreto, Riacho do Dantas e Lagarto, mas, na poca da sua colonizao, situava-se nos limites da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Pedra do Lagarto, que ia at a serra pedregosa da Macota. No encontrando condies de levar frente a colonizao, resolveram os sesmeiros vender as terras a Ordem Terceira do Carmo, que j se encontrava h anos naquele local, passando o sesmo a chamar-se Vila dos Palmares. Assim como em muitos lugares, a lenda do Santo Fujo, tambm foi contada em Palmares: segundo narram, foi encontrada uma imagem de So Gonalo e no local construram uma igreja memria do Santo (ainda hoje h vestgios da igreja), depois construram outra existente ainda em nossos dias, mas o Santo Fujo no aceitando a nova moradia voltava tantas vezes fosse levado antiga residncia; muitos afirmavam ter visto as pegadas do Santo pelo caminho, ficando uma delas cravada numa pedra, em terrenos do Sr. Galdino e que ainda pode ser vista. Para por fim ao impasse, os frades enviaram a imagem a Roma. Em 15 de dezembro de 1916, os frades Carmelitas, por determinao do Provincial da Ordem, Frei Manoel Barantera Serra, venderam as terras do Convento dos Palmares, como tambm o Convento da Santa Cruz da Horta em Lagarto ao Senhor Srgio Martins Fontes (Srgio Quartel). Os compradores dos Palmares foram: Justiniano Monteiro da Silva, Severino Monteiro da Silva, Olmpio Jos de Santana, Teodomiro Firmo da Silva, Stiro Jos de Santana e Canuto Chaves Santana, pela quantia de 8.200$000 (oito contos e duzentos mil reis). O Cel. Jos de Lemos, chefe poltico de Tobias Barreto,

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tambm queria se apoderar de terras dos Palmares, por consider-las de heru e que poderiam ser requisitadas em ao de usucapio. Com esta deciso do Coronel veio a unio dos compradores; as terras dos Palmares, por fim, foram distribudas com aqueles que de direito, pois eram remanescentes daquele que foi o precursor da sua colonizao, Frei Jos Marcelino.

LIMITES PRIMITIVOS DE LAGARTOAs referidas sesmarias eram dadas a quem as requeria, e onde desejassem, em nome de El-Rey. Ento, para que cada lagartense fique sabendo, o nome de todos os que foram contemplados, aqui vo os nomes marcados, com seus respectivos sesmos de cujo princpio veio o Santo Antnio, as Forras, os Palmares e depois Lagarto. Entretanto quero fazer uma observao: nem todos os contemplados participaram desta relao. Alguns, por falta de identidade positiva, deixo de enumerar, fazendo questo de apontar aqueles cuja Carta de Sesmaria cita o local, ou, como j descritos anteriormente, que tiveram importncia nas origens da formao do municpio de Lagarto. Nome Francisco Rodrigues Gaspar de Almeida Gaspar Gomes Manoel de Barros Sebastio de Brito e Francisco de Barros Local Rio Piauy Rio Piauy Rio Piauy Rio Piauy Rio Piauy Sesmo 300 braas 1500 braas 800 braas 500 braas 2 lguas Ano 06.04.1596 20.04.1596 02.12.1595 26.04.1596 05.05.1596

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Tom Fernandes Gaspar do Amorim Pedro Alves Aranha Domingos F. Nobre Antnio G. de Santana Gaspar de Menezes Domingos de Loureno Muniz Alvares Gaspar de Maciel

Rio Vasa Barris Rio Piauy Rio Piauy Rio Jacar Rio Piauy Rio Piauy Rio Piauy Rio Vasa Barris Banda do Norte

600 braas 1000 braas Meia lgua 2000 braas 1 lgua 1 lgua 600 braas 4 lguas 3 lguas

15.05.1596 16.05.1596 16.05.1596 05.05.1596 26.05.1596 27.05.1596 03.12.1596 27.05.1604 07.01.1607

Adalberto Fonseca

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INCIO DA COLONIZAO _____________________

CONVENTO DOS PALMARES E FORRAS A presena dos frades Carmelitas na fazenda Bananeira, terras adquiridas pela ordem, alm da catequese aos ndios ali existentes, tinha ainda a misso de dar guarida e proteo a todos os negros e escravos que fugiam dos engenhos e fazendas. No foram poucos os atentados provocados pelos integrantes dos caa-fujes, em momentos que, enfrentando a bravura dos frades que lutavam para manter sob sua guarda todos aqueles fugitivos, tinham por detrs o interesse de mant-los no trabalho escravo na referida fazenda Bananeira. A 22 de janeiro de 1500 como faz contar a histria, o Sargento Mor Manoel Lopes Galvo, chefiando e comandando uma companhia de ordenana, tentou invadir o Convento dos Palmares onde estavam, sob guarda, escravos fugitivos.Os combates tiveram incio com tanta selvageria que obrigaram os frades a se condicionarem em pontos estratgicos fazendo valer a coragem dos que ocupavam o Convento. Felizmente os anais da histria no fazem meno se houve mortes. Mas sabe-se inclusive atravs de trabalhos levantados por Raimundo Monteiro, escrivo do cartrio de Palmares - que tudo depois do ataque voltou ao regime normal, no mais sendo os frades molestados por tropas que buscavam negros desertores.

A Tarde da Bahia de 22.01.1969, menciona o fato.

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Quando as Bandeiras iniciavam suas caminhadas, presentes estavam os sacerdotes, levando a Cruz de Cristo, no anseio de preparar os silvcolas para o Reino de Deus. O novio Loureno estava preparado e logo cantaria missa nova. O Pe. Antnio Pires, em carta de 22 de outubro de 1560, escrita da Aldeia de Santiago, onde se encontrava como provincial o Pe. Lus Gr, visitando as igrejas, d este testemunho: Estamos de caminho para Sanctis Spiritus, onde h de dizer missa nova um padre que h de ficar ali por capelo e por ser lngua. Este um moo dos primeiros rfos que c mandaram muito boa causa. um sacerdote da cultura de Antnio Pires quem afirma ser Padre Gaspar Loureno um lngua, isto , um sbio, um admirvel conhecedor do evangelho, inspirado orador, abalizado pregador. Suas palavras fluam cativantes, trazendo paz aos amedrontados indgenas. A presena dos portugueses era indesejvel. Agressivos contra os ndios que temiam, foi trabalho de Loureno refrear os mpetos dos lusitanos, enquanto preparava os nativos para a civilizao. Sua presena passou a ser, portanto, simptica e tranqilizante, assegurando a paz entre selvagens e civilizados.

FREI JOS MARCELINO Frei Jos Marcelino foi o primeiro frade a cuidar do povoamento de Palmares e sua ramificao chegou at Lagarto. A histria conta que ele teve 3 mulheres: Marta, Rita e outra no conhecida. As duas primeiras eram irms e desta convivncia vieram os filhos. Com Marta: Jos Vitor, Rufina, Felismina, Lcia e Maria. Com Rita, apenas uma filha: Josefa. Dos filhos conhecidos contamos 60 netos: filhos de Jos Vitor, 9, Rufina, 8, Felismina, 14, Lcia, 11, Maria, 11 e de Josefa, filha nica de Rita, 7. O porqu do Frei Marcelino ter tido muitos casos com mulheres, veio do seu fsico atltico, estatura alta, cabelos loiros e uma boa conversa que encantava as jovens. A vida mundana veio causar-lhe morte criminosa.

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Encontrava-se ele distante do convento cerca de 250 metros, no momento em que foi morto, quando atendia suas necessidades fisiolgicas, isto s 18 horas e 30 minutos do dia. Seu homicida foi registrado por Jos Jlio. O local do crime tido como o do porto da Escola Rural e identificado por uma velha mangueira. Outro frade que teve influncia na colonizao foi o Frei Geraldino Loiola, cuja famlia ainda hoje guarda o nome de um grande feitor de Lagarto. A contribuio dos Carmelitas na construo e na formao de Lagarto incontestvel, ficando como marco de suas obras a Igreja de Nossa Senhora do Rosrio dos Pretos, plantada no corao da cidade.

FORRAS Com a fundao dos Palmares, muitos negros que fugiam das fazendas foram se juntando nas posses do convento, em busca da proteo dos frades. Sentindo-se livres, os fugitivos passaram a chamar-se forros, que vem a significar libertos. O Frade Fortunato Borges, trocando a batina pelo gibo-de-couro, passou a dar garantias aos escravos em troca da mo-deobra. Em 1635, o Sargento-mor Joo Vicente da Cruz, na cata aos mocambos e quilombos no conseguiu invadir as Forras, devido a resistncia encontrada. Vingou-se ateando fogo na Vila dos Palmares, promovendo a matana dos inocentes moradores, interrompendo o desenvolvimento de uma das povoaes mais importantes da poca, na Provncia de Sergipe.

FUNDAO DO POVOADO SANTO ANTNIO

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Sob a sombra de uma pindobeira, as imagens de Santo Antnio, de Senhora Santana (ainda existente em nossos dias) e de Nossa Senhora da Conceio, trazidas pelo colonizador, assistiram construo da igrejinha em louvor a Santo Antnio e ao nascimento da povoao. A igreja existente no a mesma, porm construda no local da primeira e, segundo dizem, o altar est no lugar onde a rvore deu sombra s imagens. Oito anos depois da construo, mais precisamente a 13 de junho de 1604, foi inaugurada a igreja estando o arraial j bem desenvolvido, funcionando ali um engenho de acar, e onde o cultivo de algodo crioulo era industrializado em teares rsticos.

No local onde a foto mostra uma igrejinha, existia primitiva construo feita pelo sesmeiro Antnio Gonalves de Santana, cuja cobertura era de palmas de pindobeiras. O local sempre foi respeitado pelos habitantes que o reconstruam sempre que necessrio. Porm o Padre Mrio Rino Sivieri bem como o Prefeito Jos Vieira Filho, acharam por bem apagar da histria um monumento que falava da nossa colonizao.

A BEXIGA DO SANTO ANTNIO

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Em 1645, uma infecciosa peste varilica dizimou quase toda a populao. Os sobreviventes, ajudados pelos frades Carmelitas, vindos do convento dos Palmares, fugiram para um lugar mais alto (onde hoje floresce a Praa da Piedade) sendo os doentes levados em bangs de palha. Os que no tinham mais condies de sobrevivncia, foram deixados no povoado a esperar a morte. Frei Marcelino e outros frades colocaram os enfermos em casebres improvisados, distando 3 km do riacho do Lagarto. O arraial ficou deserto. A maldio caiu sobre ele, ningum mais queria passar por perto. A igreja ficou esquecida no matagal e a povoao que estava fadada a ser uma feitoria, passou para o esquecimento, deixando apenas a lembrana da peste que se tornou conhecida por Bexiga do Santo Antnio, e um velho tamarindeiro que guarda no silncio dos seus galhos e troncos, o marco da colonizao lagartense. Muito tempo depois, as imagens foram retiradas por Manoel das Pratas, que as levou para sua residncia, ganhando assim o local o batismo de Pratas, como at hoje conhecido. A lenda diz que o Santo Antnio fugia das Pratas e voltava aos escombros de sua antiga morada, havendo inclusive algum afirmado ter visto as pegadas do Santo, por dentro das malhadas, isto porque no queria passar pela estrada.

CLERA-MORBO Por alguma razo Lagarto constantemente estava sendo vitimada pelo clera-morbo. No havia recursos profilticos que pudessem ser aplicados em defesa dos poucos moradores da vila. Mas dessa vez, a epidemia veio com carter arrasador. Estvamos em pleno vero de 1869. Essa doena mais freqente nos meses quentes. E desta feita levou consigo 131 homens, 157 mulheres e 127 crianas. Diante desse quadro assombroso, o Dr. Evaristo Ferreira da Veiga Brando, Presidente da Provncia, partiu em socorro aos habitantes de Lagarto, mandando todos os recursos mdicos e farmacuticos, abrindo um crdito de trezentos mil ris, para que nada viesse a faltar

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aos lagartenses. Todos temiam a avalanche de sepultamentos que eram feitos de hora em hora, e que fosse uma repetio do acontecido no povoado Santo Antnio. Foram criados vrios lazaretos onde eram colocados os doentes, enquanto os remdios eram aplicados, e j se podia notar melhora considervel.

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O DISTRITO E O PODER DA IGREJA ____________________COLONIZAO DE LAGARTO Pelo que ficou constatado anteriormente, na malograda tentativa de fazer de uma s vez as duas coisas, ou seja, penetrao e colonizao, teve o governador de usar a fora para conter a desordenada invaso francesa que se vinha processando em todo litoral. Uma vez as providncias tomadas, em conseqncia da luta travada por Cristvo de Barros, - cuja misso foi coroada de xito, - como recompensa nasceu a cidade de So Cristvo como sede da administrao, e que por merc lhe foi dada, sem que o contemplado a tenha aceito. Mas, por deferncia, tentou El-Rey fazer a doao ao filho do fundador, Antnio Cardoso de Barros, que tambm no aceitando a ddiva, deixou a cidade a que seu pai havia emprestado o nome como capital. Acontece que no somente valia a conquista. Mais ainda estava a exigir a manuteno da ordem e a organizao da administrao, para que os feitos da luta viessem a produzir efeitos positivos, afastando as dvidas e o medo de nova guerra. Resolveu o ento Capito-Mor que fora nomeado com estas finalidades, desejando manter a estabilidade da administrao com a segurana de todos aqueles que haviam contribudo como participantes diretos em prol da expulso dos franceses, ofertar uma ddiva de sesmaria onde pudesse cada

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um exercer livremente suas atividades e constituir entre eles uma corrente de entendimentos, formando um elo de segurana em prol do desenvolvimento das terras conquistadas por Cristvo de Barros. Foram diversos os que receberam terras no Vaza-Barris, como o caso de Muniz lvares, um dos maiores sesmeiros graas a sua posio junto ao Capito-Mor, que, na qualidade de Provedor-Mor, dispunha de meios para reivindicar o que de melhor havia nas terras a serem distribudas. Sua sesmaria data de 1604, no havendo mais terras devolutas nas margens dos rios Piauy e Jacar. Requereu e obteve na margem direita do rio Vaza-Barris numa ddiva de quatro lguas que chegava at o Urubutinga. (urubu da cabea vermelha muito abundante no tabuleiro do Contador). Muniz lvares era homem de recursos, razo por que seu sesmo foi um dos mais progressistas. Ali foi montado um dos primeiros engenhos de acar em terras de Lagarto. No lugar onde hoje floresce o povoado Carabas cuja herana coube a seu filho Luiz Freire, ali se conheceu a casa, escola, igreja e restos do engenho. Carabas, expresso indgena que quer dizer homem branco. Existem escritos que falam de ter sido no Urubutinga onde foi iniciada a colonizao de Lagarto, pelo fato que acima historiei. Se olharmos bem e procurarmos coordenar os fatos com as datas, vamos ver o seguinte: Antnio Gonalves de Santana, Antnio Fernandes Nobre, Gaspar de Almeida, Gaspar de Menezes e outros tiveram suas sesmarias concedidas entre abril e maio de 1596. Com o advento do Santo Antnio cuja data est apontada como 13 de junho de 1604, da o porqu de ter Muniz lvares se interessado em obter uma sesmaria. Tudo girava em torno de um acontecimento onde a inveja como podemos classificar, chegava ao auge. Uma sesmaria de quatro lguas ! Vamos e venhamos. Sentimos que os tempos eram e sempre foram os mesmos. Para que tanta terra sem dela haver proveito ?

FREGUESIA DE N. S. DA PIEDADE O PODER DA IGREJA CATLICA

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Apreciando as medidas administrativas, quer do poder poltico, quer do poder da Igreja junto ao regime monrquico, verificamos que, para se gozar o direito de Distrito, antes tivemos que passar pelo crivo da Igreja, que demarcou o territrio eclesistico como fora operacionria junto comunidade plantada na sua jurisdio.

ELEVAO DE LAGARTO CATEGORIA DE FREGUESIA

Decreto de 11 de dezembro de 1669.Os governadores do Arcebispado da Bahia de Todos os Santos, na ausncia do Arcebispo Dom. Gaspar Barata de Mendona, no uso de suas atribuies, resolvem elevar o Distrito de Lagarto da Capitania de Sergipe categoria de freguesia, sob a invocao de Nossa Senhora da Piedade, com as seguintes limitaes territoriais.

Dista da Vila de Santa Luzia do Itanhi 12 lguas buscando a parte centro da Comarca, e estendendo-se 11 lguas desde as matas da serra pedregosa da Macota at o Rio Vaza-Barris que lhe fica ao poente, medindo 12 lguas.Com a marcao acima fica criada a freguesia e seu territrio eclesistico. A Vila que fica numa plancie oferece paisagem maravilhosa da serra da Miaba que lhe fica ao norte, e ao sul a serra de Canguim.

A matriz declarada de Nossa Senhora da Piedade cuja imagem devota atrai fiis de outras regies.Com a criao da freguesia, assegurava-se a presena de um sacerdote com poderes doutrinrios na formao religiosa e moral dos habitantes.

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Na Chancelaria da Ordem de Cristo, conforme livro n. 67, fls. 230, de 18 de abril de 1703 da Torre do Tombo em Portugal, consta a nomeao do Padre Constantino Marilo que teve seu apostolado at 1723, depois de 20 anos de presena marcada com muito trabalho e amor. Faleceu com idade de 80 anos de vida dedicada Igreja.A importncia dos padres e da igreja na trajetria da formao religiosa de Lagarto tem marcas registradas com tempo e espao ocupados na relao que segue.

PROCOS E COADJUTORES Constantino Mariulo Manoel de Moraes Manoel de Campos Caldas Christvo dos Santos Bartholomeu Muniz Lima Affonso da Frana Corte Real Pedro Cirqueira de Araujo Amaro Gonalves Palhares Leandro Soares de Azevedo Nicolau Soares Nogueira Joo da Cruz Canedo Manoel da Fonseca Araujo Manoel Ignacio Theotonio Simio Lopes Antonio Correia Dantas Jos Saraiva Salomo Francisco Agostinho da Rocha Jos Saraiva Salomo - 2 vez Jose Pacheco da Silveira Netto Jos Antnio Vasconcellos Jos Antonio Vasconcellos Joo Baptista de Carvalho Daltro Felismino da Costa Fontes Manoel Luiz da Fonseca Salustiano Prata Possidnio Pinheiro da Rocha Philadelpho Macdo Elpidio Teixeira Lobo Vicente Francisco de Jesus Vicente Francisco de Jesus Jos Geminiano Freitas Philadelpho Macdo Jos Geminiano de Freitas 2 vez Jugurtha Franco Joo de Souza Marinho Artur Moura Pereira

PERODO 1703-1723 1712-1723 1712-1723 1723-1725 1724-1751 1751-1753 1753-1756 1753-1756 1756-1787 1787-1789 1789-1814 1814-1842 1842-1845 1845-1864 1864-1873 1873-1874 1874-1908

1910-1912 1912-1918 1918-1919 1919-1928 1928-1933 1933-1953 1953-1954

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Jos Alves de Castro Jason Barbosa Coelho Danilo Gazzetto Mario Rino Sivieri Mario Rino Sivieri

1954-1960 1960-1976 1976-

Diante deste quadro que relaciona os padres que passaram pela parquia, pode-se avaliar o quanto de gloriosa a f e o amor por nossa padroeira Nossa Senhora da Piedade que aqui reina por mais de trs sculos. No fecundo paroquiato de Monsenhor Mrio Rino Sivieri alm das muitas igrejas e capelas construdas, duas medidas importantes foram por ele tomadas: Elevao da matriz condio de Santurio de Nossa Senhora da Piedade e a criao da assistncia social a drogados e viciados.

CHANCELARIA DA ORDEM DE CRISTODentre os documentos por mim recebidos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa, Portugal, esto os que dizem respeito ao desenvolvimento da vida religiosa do municpio, inclusive a data da chegada da imagem de Nossa Senhora da Piedade que teve o seu tri-centenrio comemorado com a realizao do Congresso Eucarstico Municipal em 1979.

Lagarto: Alvar de reconhecimento da Igreja de N. S. da Piedade da Vila do Serto de Sergipe D El - Rey de 21 de outubro de 1669. Livro 1116 fls.281- A.N.T.T.

Lagarto: Apresentao da imagem de N.S. da Piedade ao Curato de Lagarto no bispado de D. Gaspar Barata de Mendona. De 5 de setembro de 1679. Livro 91, fls. 173 - A.N.T.T. Lagarto; Alvar de licena para que o curato de N.S. da Piedade da dita Vila no Arcebispo da Bahia seja creado Vigaria etc. De 18 de abril de 1703.

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Livro 67, fls. 230 - V. A.N.T.T. Lagarto: Carta de apresentao da Igreja de N.S. da Piedade desta ao Padre Afonso da Frana. De 16 de novembro de 1724. Livro 157 fls. 87 - V. A.N.T.T. Lagarto: Carta de apresentao da Vigaria de Nossa Senhora da Piedade desta Vila no Arcebispo da Bahia ao Padre Constantino Mariulo. De 18 de abril de 1703.Livro 67,fls. 230. A.N.T.T.

Lagarto: Carta de apresentao da sobre dita Igreja ao Padre Manuel de Campos Caldas. DE 4 de novembro de 1712. Livro 96,fls. 49 - A.N.T.T. o que consta. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Lisboa - Portugal . 02-11-1973.LAGARTO ELEVADO A CATEGORIA DE DISTRITO Povoado Santo Antnio, marco primeiro. J sabemos que foi no povoado Santo Antnio que surgiu o primeiro aglomerado em termos de povoao. Sua fundao data de 1604. Teve conseqncias arrasadoras um surto de bexiga que dizimou mais de 90% da sua populao. Os que sobraram foram retirados para o local onde hoje se situa a praa da Piedade, fazendo assim, surgir uma nova povoao. O Reconhecimento de Lagarto se deu por Alvar de 19 de maro de 1694 assinado por D. Joo de Lancastro, como faz constar o registro no livro 129, fls. 83, manuscrito do A. N. T. T. , onde tambm se pode saber que somente existiam So Cristvo e Itabaiana.

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O nmero de mocambos e quilombos que surgiam no territrio lagartense fez com que fosse criada no mesmo ato, uma fora que foi batizada como Fora do Corpo de Infantaria de Ordenana, tendo sido nomeado para comand-la, o Capito-Mor Belchior Fonseca Saraiva Dias Moreia, popularmente conhecido como Capito Muribeca. Aquela tropa cumpriu a misso para a qual fora criada, combatendo fortemente os mocambos e quilombos existentes. As constantes ameaas praticadas por escravos fugitivos, fizeram surgir mais uma fora que ficou conhecida como Companhia de Homens Pardos. O comando dessa nova fora foi dado ao Capito-Mor Valrio de Arajo, cuja nomeao est registrada no livro 93, fls. 318, do A.N.T.T. em Lisboa, Portugal. Essa tropa obedecia a ordens transmitidas ao Sargento-Mor Francisco de Barros, nomeado a nove de janeiro de 1715, registrado no livro anterior. Houve tambm outra nomeao do Sargento-Mor do Regimento de Infantaria e Ordenana, Domingo Ramos da Cunha que ficou no distrito ocupando o cargo de Delegado com finalidade de manter a segurana. Com essas providncias, a populao sentia-se segura tocando o desenvolvimento do Distrito em busca de outras alternativas. Foi ento que as primeiras feiras livres foram organizadas onde hoje se encontra a praa do Rosrio. GENEALOGIAS MANUSCRITAS Lagarto - 21-F.15-fol.342-V Livro manuscrito n. 1652-fol.187-VEsto transcritos na 1-folha.

Lagarto: Carta Patente de Sargento Mor de Infantaria da Ordenana da dita Vila a Manuel de Souza Menezes. 12 de outubro de 1744. Chancelaria D. Joo V, Livro 110 flos. 36 - Manuscrito.

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Lagarto: Carta de posto de Capito Mor da Freguezia de N. S. da Piedade da dita Vila no Serto da Capitania de Sergipe El-Rey a Loureno Esteves Campos. De 7 de fevereiro de 1728. Chancelaria D. Joo V, Livro 72 flo-181-V ANTT. Lagarto: Patente de confirmao de Capito duma Companhia de Infantaria de Auxiliares da dita Vila a Valerio de Araujo. De 17 de maro de 1709. Chancelaria de D. Joo V, Livro 31 flo.189 ANTT. Lagarto: Carta de patente a Manuel Carvalho de Mendona do Posto de Sargento Mor daquela freguesia. De 3 de janeiro de 1738. Chancelaria de D. Joo V, Livro 93 flo.318 ANTT. Lagarto: Patente de confirmao de Sargento Mor do Regimento de Infantaria da Ordenana a Domingos Ramos da Cunha de 9 de janeiro de 1715. Chancelaria D. Joo V, Livro 48 fls.263 ANTT. Lagarto: Patente de confirmao de Capito Mor da dita freguezia a Mateus Pereira de Araujo. De 27 de janeiro de 1718. Chancelaria de D. Joo V, Lv. 51 - fls. 240 - V ANTT. Lagarto: Na Capitania de Sergipe DEl-Rey-Carta, de confirmao da patente de Capito Mor das Ordenanas de distrito desta Vila a Francisco Felix Barreto de Menezes. De 7 de setembro de 1779.Chancelaria de D. Maria I, livro 15 fls.129 ANTT.

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DESENVOLVIMENTO DA VILA ____________________ELEVAO CATEGORIA DE VILA A elevao de Lagarto categoria de Vila se deu pela lei de 17 de maio de 1727. A descrio de sua rea jurisdicional territorial consta nos seguintes termos:

A Vila de Nossa Senhora da Piedade est situada em uma plancie a que os naturais chamam de tabuleiros e que fica distante da cidade da Bahia 60 lguas. Tem o termo da vila duas Freguesias: uma, a sobredita de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, e a outra de Nossa Senhora Imperatriz dos Campos do Rio Real da Caatinga de Baixo. Duma parte demarcado o termo desta Vila com a cidade de Sergipe (So Cristvo) Del Rey, cabea da comarca, que fazem os habitantes de distncia 12 lguas desta Vila dita cidade. Fazem a demarcao sobre uma grota que tem o nome de Quebrada Grande e que fica distante desta Vila 5 lguas. Pela parte do nascente, parte demarcada com a Vila de Santo Antnio e Almas de Itabaiana, que fica distante desta Vila 9 lguas, fazendo a demarcao pelo rio Vaza-Barris distante desta Vila 3 lguas.

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Pela parte do norte, parte demarcada com a Freguesia de So Joo do Geremoabo, que fica distante desta Vila 30 lguas, fazendo a demarcao por uma mata que se chama de Simo Dias, que fica distante desta Vila 5 lguas. Pela parte do poente, parte demarcada com a Vila de Itapicuru de Cima, distante desta Vila 14 lguas fazendo sua demarcao pelo rio chamado Rio Real distante desta Vila 10 lguas.Pela parte do sul, parte demarcada com a Vila Real de Santa Luzia do Itanhin que fica distante desta Vila 12 lguas fazendo a demarcao do rio Piauy Grande, chamada passagem dos trs irmos, distante desta Vila 7 lguas. H nesta Vila vrios riachos que somente no inverno so abundantes de gua por correrem por eles as vertentes das serras, mas de vero so todos secos e nenhum navegvel.

Os principais rios so: Rio Real, Piauy Grande, Vaza-Barris, todos desaguando no mar, mas nesta altura so secos de vero. O porto de mar que tem esta Vila o mesmo da cidade de So Cristvo (Sergipe) onde faz barra o dito rio Vaza-Barris, no mar, e para onde conduz os moradores deste distrito e seus efeitos, que fica distante desta Vila, 10 lguas. Feita em Cmara de 13 de maro 1757. Eu, Joo Crisstomo de Tvora, escrivo da Cmara a subscrev. O juiz ordinrio, Jos de Matos Freire, Antnio Flix da Cruz, Francisco Simes de Acelar e Custdio Coelho Barbosa.Foi mais uma conquista dos lagartenses, agora, j poderiam deliberar sobre seus prprios destinos. Lagarto continuava sem interrupo, sua marcha na conquista de seus direitos, fazendo valer seu prestgio e impondo-se como uma das Vilas de maior progresso da provncia. Seu territrio que ocupava toda zona centro-sul da provncia, como era natural, foi-se desmembrando, pois outras reas atingindo igual desen-

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volvimento, pleiteavam junto corte seu reconhecimento. Porm o desenvolvimento da Vila de Lagarto no retardou.

O DESENVOLVIMENTO DA VILA APS SUA ELEVAO Com a instalao da Cmara dos Representantes na sede da Freguesia, iniciou-se propriamente uma atividade poltica. Nesse perodo, grande parte dos homens de negcios da regio se deslocaram com suas famlias para c, vindo a construir novas casas residenciais como tambm estabelecimentos comerciais, que davam s ruas um aspecto diferente. Lagarto crescia, a pecuria assumia e liderava a economia da Vila e passou a ser a vigamestre da regio; a agricultura, paralelamente ao comrcio do gado, crescia e novas colheitas se sucediam aumentando os lucros e propiciando novos investimentos. O algodo crioulo foi substitudo por espcies mais produtivas vindas de outros centros produtores do reino. A Vila crescia e prosperava, aumentando a riqueza dos seus habitantes e marchando para um futuro prenunciador das maiores esperanas.

PODERES MUNICIPAIS DA VILA Com a elevao categoria de Vila, foi realizada a primeira eleio para a escolha dos lderes que deveriam organizar a Cmara dos Conselheiros da Vila. A estrutura administrativa da poca era bem diferente da atual. O povo elegia a Cmara a qual recebia o nome de Cmara de Conscincia dos Conselheiros de Lagarto, sendo que o mais votado exercia a funo de presidente, funo a que hoje seria correspondente de prefeito. Houve assim, o pleito a 4 de outubro de 1728, tendo sido eleitos cinco conselheiros, votados por 123 eleitores. Os nomes dos eleitos constam do livro manuscrito n. 176 fls. 188 da Chancelaria de D. Joo V e so os seguintes: Francisco Vieira da Natividade, Manoel do Nascimento, Henrique Melchiades de Almeida, Fran-

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cisco Guedes dos Santos e Jos de Afonseca Santana. Foi o primeiro presidente do conselho Francisco Vieira da Natividade, por ter sido o mais votado. ASPECTOS FSICOS E SOCIAIS DA VILA A administrao da Vila pouco tinha a fazer. Com ruas que no obedeciam a qualquer princpio de esttica, a limpeza pblica era realizada pelos moradores, que varriam as frentes das casas jogando o lixo no meio das ruas onde era queimado. A iluminao pblica constava apenas algumas velas de sebo de boi, dentro de uma vasilha de barro chamada de alguidar. As fontes de gua eram poucas e delas cuidavam os prprios donos. Estradas no existiam alm das picadas abertas pelos viajantes, as quais se tornavam trilhas dentro da selva e iam se alargando devido o uso. As casa eram construdas de madeira e taipa. No existiam calamentos.O presidente do Conselho recebia do Governo Provincial uma pequena verba para o Legislativo, enquanto a cobrana do direito, como ento eram chamados os impostos, era exigida apenas dos adversrios polticos.

LEIS DA VILA DE LAGARTO A Vila de Lagarto, foi se tornando um centro de grande importncia para a provncia. O desenvolvimento pedia das autoridades locais, providencias no sentido de sanar os distrbios causadores do atraso econmico. A cmara Municipal elaborou um conjunto de artigos os quais foram aprovados pela Assemblia Provincial, no sentido de regularizar a situao existente, a lei aprovada era rigorosa e ampla e tratava de vrios aspectos, no entanto, para a leitura de nossos dias mais parece um conjunto de brincadeiras sendo que, na poca de sua aprovao, a populao sofreu duras penas por ela imposta. LEI N0. 641, DE 26 ABRIL DE 1852

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Aprova Postura da Cmara Municipal de Lagarto. Joaquim Jacinto de Mendona, Bacharel formado em Cincias Jurdicas e Sociais pela Academia de So Paulo e Presidente da Provncia de Sergipe; fao saber a todos os seus habitantes que a Assemblia Legislativa Provincial sob proposta da Cmara Municipal da Vila de Lagarto, decretou a lei seguinte: CAPITULO 1 Da Higiene. Art. 1 . Os habitantes desta Vila so obrigados a trazer limpas as frentes e fundos de suas casas. O infrator sofrer a multa de 2$000 ris. Alm de ser obrigado a fazer a limpeza sua custa. Art. 2 . Ficam proibidos os enterramentos que no forem feitos nos cemitrios destinados para este misteres. O infrator sofrer a multa de 30$000 ris ou 8 dias de priso. Art. 30. Fica igualmente proibido amontoar-se ou queimar-se lixo nas ruas e becos desta Vila. O infrator sofrer multa de 2$000 ris, ou 2 dias de priso, e o duplo nas reincidncias. Art. 4 . tambm proibido lanarem-se nas ruas, becos e estradas pblicas, animais mortos e imundices, ou outros quaisquer objetos que possam prejudicar a salubridade publica. O infrator sofrer a multa de 1$000 ris, ou 2 dias de priso, e o duplo nas reincidncias. Art. 5 . Fica proibida a criao de porcos de qualquer modo nesta Vila e seus povoados; os que forem encontrados nos referidos lugares sero mortos pelos fiscais da Cmara, pagando o dono, quando aparea a reclam-los a quantia de 1$000 ris, com direito de aproveita-los, ou entregues aos presos das cadeias. Art. 60. Os encontrados nos lugares reservados para plantao em aberto sero mortos, e avisados os seus respectivos donos.0 0 0 0 0

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Art. 7 . Os pais de famlia, tutores ou senhores, faro vacinar seus filhos, tutelados ou escravos de seis meses de idade at um ano, nos lugares que a Cmara designar, tendo em vista as distncias e comodidades dos habitantes. Os infratores sofrero a multa de 2$000 ris, o