Holocaustos Coloniais - Cap 9

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MIIZE DAVIS HOLOCAUSTOS COLONIAIS ProfQ Dr. Francisco Queiroz História Econômica Geral e do Brasil Texto .-::;- / r:2~ Cópias _____ 1~ EDITORA RECORD !tIO DE JANEIHO SÃo PAULO 2002 Nove As origens do Terceiro Mundo Pessoasernaciadas, doença, costelas à mostra, barrigas mur- chas, cadáveres,crianças com olhos rodeados de moscas, com estômagos inchados, crianças morrendo nas ruas, rios cheios de corpos, pessoasvivendo, dormindo, deitando-se, morren- do nas ruas de miséria, mendicância, esqualidez, desgraça, uma massa de humanidade aborlgine ... - Harold Isaacs o que com demasiada freqüência os historiadores rejeitaram como "acidentes cli- máticos" acabou revelando-se bem pouco acidental.' Embora suas síncopes sejam complexas e quase periódicas, a ENSO tem uma lógica espacial e temporal corren- te. E, ao contrário da famosa conclusão (eurocêntrica?) de Emmanuel Le Roy Ladurie em Times ofFeast, limes ofFamine de que a mudança de clima tem uma "leve, talvez desprezível" influência sobre as questões humanas, a ENSO é uma força episodicamente poderosa na história da humanidade tropical.' Se, como certa vez observou Rayrnond WiIliams, a "natureza contém, embora muitas vezes não perce- bida, uma extraordinária quantidade de história humana", agora aprendemos que o inverso é igualmente verdadeiro: há na história moderna, ainda negligenciada, uma extraordinária quantidade de instabilidade ambiental.' A força dos fenômenos da ENSO parece de fato tão esmagadora em alguns casos que é tentador afirmar que as grandes fomes, como as das décadas de 1870 e 1890 (ou, mais recentemente, o de- sastre saheliano da década de 1970), foram "causadas" pelo EI Nino, ou pela ação do EI Nino sobre a tradicional miséria agrária. Esta interpretação, claro, inadverti- damente reflete a posição oficial dos britânicos na índia vitoriana, recapitulada em

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Holocaustos Coloniais - Cap 9

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MIIZE DAVIS

HOLOCAUSTOSCOLONIAIS

ProfQ Dr. Francisco QueirozHistória Econômica Geral e do Brasil

Texto .-::;- / r:2~ Cópias

_____1~EDITORA RECORD

!tIO DE JANEIHO SÃo PAULO

2002

Nove

As origens do Terceiro Mundo

Pessoasernaciadas, doença, costelas à mostra, barrigas mur-chas, cadáveres,criançascom olhos rodeados de moscas, comestômagos inchados, crianças morrendo nas ruas, rios cheiosde corpos, pessoasvivendo, dormindo, deitando-se, morren-do nas ruas de miséria, mendicância, esqualidez, desgraça,uma massa de humanidade aborlgine ...

- Harold Isaacs

o que com demasiada freqüência os historiadores rejeitaram como "acidentes cli-máticos" acabou revelando-se bem pouco acidental.' Embora suas síncopes sejamcomplexas e quase periódicas, a ENSO tem uma lógica espacial e temporal corren-te. E, ao contrário da famosa conclusão (eurocêntrica?) de Emmanuel Le Roy Ladurieem Times ofFeast, limes ofFamine de que a mudança de clima tem uma "leve, talvezdesprezível" influência sobre as questões humanas, a ENSO é uma forçaepisodicamente poderosa na história da humanidade tropical.' Se, como certa vezobservou Rayrnond WiIliams, a "natureza contém, embora muitas vezes não perce-bida, uma extraordinária quantidade de história humana", agora aprendemos que oinverso é igualmente verdadeiro: há na história moderna, ainda negligenciada, umaextraordinária quantidade de instabilidade ambiental.' A força dos fenômenos daENSO parece de fato tão esmagadora em alguns casos que é tentador afirmar que asgrandes fomes, como as das décadas de 1870 e 1890 (ou, mais recentemente, o de-sastre saheliano da década de 1970), foram "causadas" pelo EI Nino, ou pela açãodo EI Nino sobre a tradicional miséria agrária. Esta interpretação, claro, inadverti-damente reflete a posição oficial dos britânicos na índia vitoriana, recapitulada em

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c~da relatório de comissão da fome e discurso vice-real: milhões foram mortos por

climas extremos, não pelo imperialismo.' Foi essa a verdade?

"CLima ruim" versus "Sistema ruim"

A est~ altura, seria imensamente útil ter algumas estratégias para redefinir o que

os chineses apresentam rigorosamente como "clima ruim" versus "sistema ruim".

Y. Kueh, como vimos, tentou definir as respectivas influências da seca e da políti-

ca na produção agrícola durante a fome do Grande Salto Para Frente, de 1958-61. A derivação de seu "índice de tempo", contudo, envolveu quinze anos de árdua

pesquisa e a solução de "uma série de complicados problemas metodológicos e

técnicos", incluindo uma necessária regressão comparativa à década de 1930.Embora seu trabalho seja rico em termos metodológicos, seus índices cruciais

dependem de abrangenres dados meteorológicos e econornétricos que simples-

mente não existem no caso do século XIX. Um ataque direto à estatística na enre-

dada rede causal das fomes de 1876-77 e 1896- 1902 parece, portanto, impossfvel.'

Uma das alternativas é reconstruir uma "experiência natural". Como defen-

deu Jared Diamond, em recente sermão aos historiadores, essa experiência devia

comparar sistemas "que diferem na presença ou ausência (ou no efeito forte ou

fraco) de um suposto fator causa"." Na verdade, precisamos idealmente, em ou-

tras palavras, de um análogo para as fomes de fins da era viroriana, em que os

parâmetros naturais são constantes, mas as variáveis sociais têm significativas di-

ferenças. Um excelente candidato do qual temos documentação em extraordiná-

rios detalhes é o fenômeno do EI Nino de 1743-44 (descrito como "excepcional"

por Whetton e Rutherfurd) e seu impacto sobre a planície do norte da China."

Embora não de tão longo alcance em termos geográficos quanto as grandes secas

da ENSO de 1876-78 ou 1899-1900, esse EI Nino; fora isso, prefigurou a inten-

sidade dos demais. As chuvas de primavera não chegaram em dois anos consecu-

tivos, devastando o trigo de inverno em Hebei (Zhili) e no norte de Shandong.

Ventos fortes fizeram murchar as plantações e agricultores tombaram mortos de

insolação em seus campos. O abastecimenro de grãos provincial foi totalmente

inadequado para o grau de necessidade. Mas, ao contrário de fins do século XIX,

não houve mortalidade em massa por fome nem por doença. Por que não?

Pierre-Etienne Will reconstruiu com todo o cuidado, a partir de registros con-

temporâneos, a fascinante história da campanha de socorro de 1743-44. Sob a adrni-

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nistração confuciana de Fang Guancheng, o perito agrícola e hidráulico que dirigiu as

operações de socorro em Zhili, os célebres silos "sempre normais" em cada município

logo começaram a distribuir rações (sem qualquer teste de trabalho) aos camponeses

nos rnunicípios atingidos reconhecidos oficialmente." (A pequena fidalguia rurallo-

eal já organizara a sopa dos pobres para garantir a sobrevivência dos moradores mais

carentes até começar a distribuição do Estado.) Quando o abastecimento local aca-

bou sendo insuficiente, Guancheng transferiu sorgo e arroz do imenso depósito de

grãos de tributo, em Tongcang, no final do Grande Canal, depois usou o canal para

deslocar enormes quantidades de arroz do Sul. Dois milhões de camponeses foram

mantidos durante oito meses, até que a volta das chuvas tornasse mais uma vez possí-

vel a agricultura. Os 85 por cento dos últimos grãos de socorro haviam sido tomados

de empréstimo aos depósitos de tributo ou de celeiros fora do raio da seca.?

Como enfatiza Will, foi uma defesa contra a fome em profundidade, a "última

palavra em tecnologia na época". Nenhuma sociedade européia contemporânea ga-

rantia a subsistência como um direito humano dos camponeses (ming-shengé o termo

em chinês), nem, como se maravilharam mais tarde os fisiocratas, poderia qualquer

uma emular "a perfeita ponrualidade das operações [de Guancheng]: a ação tomada

procurava sempre acompanhar os acontecimentos e mesmo antecipar-se a eles". 10 De

fato, enquanto os chings honravam seu contrato social com os camponeses, os euro-

peus contemporâneos morriam aos milhões de fome e doenças relacionadas após in-

vernos árticos e secas de verão em 1740-43. "O pico da mortalidade no início da década

de 1740", enfatiza uma autoridade, "é um destacado fato da história demográfica

européia".'! Na Idade da Razão da Europa, em outras palavras, as "massas que mor-

riam de fome" eram francesas, irlandesas e calabresas, não chinesas.

Além disso, "a intervenção realizada em Zhili, em 1743 e 1744, não foi a única,

nem mesmo a mais extensa do seu tipo no século XVIII".12 Na verdade, como

indica a Tabela 9.1, a inundação do Rio Amarelo no ano anterior (1742/43) en-

volveu despesas muito maiores em uma região muito mais extensa. (Além das secas

e inundações correlacionadas à ENSO, mostradas na tabela, WíIl também docu-

mentou sete outras inundações que exigiram ampla mobilização de socorro.)

Embora não haja cifras comparáveis, Pequim também agiu agressivamente para

ajudar as autoridades de Shandong a impedir a fome durante a série de secas do ElNino que afligiu essa província (e grande parte dos trópicos) entre 1778 e 1787.13

O contraste com os caóticos esforços de socorro dos chings em 1877 e 1899 (ou,

aliás, a monstruosa maneira como Mao tratou a seca de 1958-61), não poderia

ser mais acentuado. A capacidade do Estado na China do século XVIII, como

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eníatizarn Will e seus colaboradores, foi impressionante: uma estrutura de quali-ficados administradores e solucionadores de problemas, um inigualável sistema

nacional de estabilização dos preços dos grãos, grandes excedentes agrícolas, silosbem administrados, armazenando mais de um milhão de alqueires de grãos emcada uma das doze províncias, e uma incomparável infra-estrutura hidráulica. 14

Tabela 9.1Desastres ENSO socorridos pelos chings

Intensidade Quinn Províncias Valor do Socorro

1720/211742/43

1743/44

17781779/80

1785

Muito forte(Inundação)

Moderado+Forte

La Nina

Desconhecido

17 milhões de taéis; 2,3 milhões de shi0,87 milhão taéis; I milhão de shi

1,6 milhão de raéis; 3 milhões de shi

idem2,8 milhões de raéis

Shaanxi

Jiangsu /AnhuiHebei

HenanHenanHenan

Fonte; Montada a partir da Tabela VII, Whetlon e Rurherfurd, p. 244; e Tabela 20, Will, Bureaucracy and

Famine, pp. 298-9.

o ponto crucial da segurança alimentar da Era de Ouro era o controle dos pre-

ços dos grãos e a organização do abastecimento pelo próprio imperador. Embora ossilos sempre normais fossem uma antiga tradição, a monitorização dos preços foi

uma importante inovação dos chings. "Grande cuidado era exercido pelos impera-

dores do século XVIII ao examinar, à procura de incoerências, os relatórios e as lis-tas de preços". No quinto dia de cada mês, os magistrados bsien enviavam detalhados

relatórios de preços às prefeituras, que os resumiam para os governadores provin-

ciais, que por sua vez transmitiam seu conteúdo em informes ao governo central. 15

Minuciosamente estudados e a~otados pelos imperadores, esses "documentos" tes-

temunham um extraordinário compromisso com a administração de garantia ali-mentar e o bem-estar rural. "Nas décadas de 1720 e 1730", escreve R. Bin Wong, "o

imperador Yongzheng examinou pessoalmente as operações de armazenamento dossilos, como fez com todas as outras atividades burocráticas; seu intenso interessepelos esforços oficiais e sua prontidão para repreender funcionários pelo que consi-

derava defeitos explicam, em parte, o desenvolvimento das operações de formaçãode estoques, além dos níveis alcançados em fins do período Kangxi"." Yongzhengtambém puniu rigorosamente a especulação pelas "famílias ricas [que] em sua buscade lucro açarnbarcavarn milhares ou milhões de grãos". 17.

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Seu sucessor, Qianlong, deu ordens aos prefeitos para que enviassem os rela-tórios dos preços ao nível municipal diretamente ao Departamento da Receita emPequim, para poder esrudá-los em primeira mão. O intenso envolvimenro pes-soal dos imperadores garantia um alto padrão de exatidão nos relatórios de preçose, como demonstra Endymion Wilkin~on, levava muitas vezes a importantes re-formas.'~ Era mais uma diffirentÍa speciiica do absolutismo Ching. t. difícil ima-ginar U(Tl Luís XVI passando as noites nesse exame escrupuloso, debruçado sobreas minutas dos preços de grãos de Limoges ou Auvergne, embora o esforço talvezhouvesse, em última instância, afastado sua cabeça da guilhotina.

Tampouco é fácil imaginar um monarca europeu intimamente envolvido emobras públicas na mesma medida em que os cliings, como rotina, mergulhavamnos detalhes do sistema de transpone de graos do Grande Canal. "Os própriosimperadores rnanchus", observa Jane Leonard, "estavam envolvidos desde os pri-meiros reinados no gerenciamento do Canal, não apenas em grandes questõespolíticas, mas no controle e supervisão das menores tarefas administrativas".Quando, por exemplo, a inundação de J 824 destruiu panes do Grande Canal nacrítica junção do Rio Amarelo com o Huai, ° imperador Tao-kuang em pessoaassumiu o comando dos trabalhos de reconsrruçâo.!''

Em conrraposição, além disso, aos estereótipos ocidentais posteriores de um pas-sivo estado chinês, o governo durante a preporeme era Ching envolvia-se de formaparticipativa na prevenção da fome através de um amplo programa de investimentoem melhoria agrícola, irrigação e transporte por água. Entre outras coisas, salienta JosephNeedharn, o século XVIII foi uma era de ouro para o trabalho teórico e histórico nocontrole de inundações e construção de canais. Os engenheiros civis eram canoniza-dos e tinham templos erguidos em sua honra." Os arivisras conlucianos, comoGuancheng, pelo profundo compromisso com a intensificação agrícola, "tendiam adar Superior prioridade aos investimentos em intra-estrurura e considerar a organiza-ção do socorro alimentar apenas uma improvisação". Guancheng também escreveuum famoso manual (origem de grande parte do trabalho de Will) que codificava his-toricamente os testados princípios de prevenção de desastres e administração de so-corro: outra coisa pouco comum na retrógrada tradição européia."

Por fim, há abundantes indícios de que os camponeses do norte da China,durante a alta dinastia Ching, eram mais independentes em termos nutricio naise menos vulneráveis à tensão climática que seus descendentes, um século de-pois. No século XVIII, depois que o imperador Kangxi congelou permanente-mente o imposto rerrirorial no nível de J 712, a China teve "a mais branda taxação

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agrária que já conhecera em toda sua história".22 Dwight Perkins estima que oimposto terrirorial formal era de apenas 5 a 6 por cento da colheita, e grandeparte gasta localmente pelo hsien e governos provinciais.P Do mesmo modo, arelação de troca entre cunhagem de prata e cobre, que se voltou tão desastrosa-mente contra os pobres camponeses no século XIX, foi estabilizada pela intensaprodução de cobre das minas de Yunnan (substituindo as importações japone-sas) e o grande influxo de ouro em barras mexicano proporcionado pelo enor-me excedente comercial da China.24 Ao contrário de seus equivalentes francesescontemporâneos, os camponeses da planície do Rio Amarelo (cuja grande maioriapossuía sua terra) não foram esmagados por impostos exorbitantes nem reduzi-dos a pó pelos aluguéis feudais. O norte da China, em particular, era extraordi-nariamente próspero pelos padrões históricos, e Will estima que a percentagemda população rural que normalmente vivia próxima ao limite da fome - de-pendendo, por exemplo, de cascas e legumes silvestres para parcela significativade sua dieta, era inferior a 2 por cenro;" Em conseqüência, as doenças epidêmi-cas, ao contrário do que acontecera na Europa, foram rnanridas sob controledurante a maior parte da "Era de Ouro"."

Contudo, mesmo Fang Guancheng poderia ter lidado com os desastres daseca que engoliu a parte maior do norte da China, na escala de 1876 ou até de1899? É importante pesar esta pergunta cuidadosamente, pois as secas/fomes noséculo XVIII eram mais localizadas, e a seca de 1876, como vimos, talvez tenhasido um fenômeno com ciclo de repetição de 2.00 ou até mesmo 500 anos. Alémdisso, as secas de fins do período viroriano tiveram particular intensidade nosplanaltos de loesse de Shanxi e Shaanxi, onde os custos de transporte eram maisaltos e os gargalos inevitáveis. É razoável, portanto, admitir que, em 1743, umaseca da magnitude de 1876 teria inevitavelmente produzido dezenas, talvez atécentenas de milhares de mortos em aldeias mais remotas.

Seria improvável, porém, que tal seca, como em fins do século XIX, se transfor-masse num verdadeiro holocausto e consumisse a maior parte das populações deprefeituras e municípios inteiros. Em contraste com a situação de 1876-77, quandoos silos eram esvaziados ou saqueados e os preços subiam rapidamente e saíam decontrole, os administradores do século XVIII puderam contar com um grande ex-cedente do orçamento imperial e silos locais bem abastecidos, apoiados por umenorme excedente de arroz no Sul. Os grandes estoques de grãos de tributo, nosestratégicos pontos centrais de transporte em Henan e ao longo dos limites de Shanxi-Shaanxi, foram especialmente designados para o socorro das províncias de loesse, e

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO 295

copiosas nascentes garantiram a navegabilidade durante todo o ano no GrandeCanal.27 Enquanto em 1876 o Estado chinês - enfraquecido e desmoralizado de-pois do malogro das reformas internas da Restauração Tongzhi - ficou reduzidoao inconstante socorro de dinheiro vivo aumentado por doações, e à humilhantecaridade estrangeira, no século XVIII tivera capacidade tecnológica e política paradeslocar grãos maciçamente entre as regiões e, desse modo, aliviar a fome em escala

maior que qualquer sociedade organizada da história mundial."

"Leis de couro" versus "Leis de ferro"

E a fome na índia pré-britânica? Mais uma vez, há poucos indícios de que a Índiarural passara por crises de subsistência na escala da catástrofe de Bengala de 1770, sobo domínio da Companhia da fndia Oriental, ou o longo cerco de doenças e fomeentre 1875 e 1920, que diminuíram o ritmo do crescimento da população quase àparalisação. Os 1I1ollg<'lis,lia verdade, não dispunham de nada semelhante aos recur-

sos do centralizado estado Ching em seu apogeu do século XVIlI, nem sua históriaadministrativa foi bem documentada. Como observou Sanjay Sharma: "Os proble-mas de interferência na complexa rede de mercados locais e gargalos de transportebaseados em castas tornaram bastante difícil uma eficaz intervenção do Estado"."

Por outro lado, beneficiando-se talvez de um ciclo da ENSO mais brando, afndia dos mongóis ficou em geral livre da fome até a década de 1770. Há consi-deráveis indícios, além disso, de que na fndia pré-britânica, antes da criação deum mercado nacional degrãos dotado de ferrovias, as reservas de comida nas al-deias eram maiores, o bem-estar patrimonial mais difundido, e os preços dos grãosem áreas de excedentes mais bem protegidos contra a especulação." (Como vi-mos, a perversa conseqüência do mercado unitário foi exportar a fome, pela infla-ção de preços, para os distritos rurais pobres em excedente de grãos.) Os britânicos,claro, tinham interesses em afirmar que haviam libertado a população da IdadeMédia do despotismo mongol: "Um dos fundamentos do Governo da Coroa eraa crença em que (00') o passado da fndia era cheio de depravação".31 Mas, comoobservam Bose e Jalal, "o retrato de camponeses emagrecidos e oprimidos,impiedosamente explorados pelo imperador e sua nobreza, vem sendo seriamentealterado à luz de novas interpretações dos fatos" Y Pesquisa recente de Ashok Desai

indica que "o padrão médio do consumo de alimentos no império de Akbar eraconsideravelmente mais alto que na índia do início da década de 1960",33

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o estado mongol, além disso, "considerava a proteção do camponês como umaobrigação essencial", e há numerosos exemplos de operações humanitárias, emboraesporádicas, de socorro.ê" Como seus contemporâneos chineses, os governantesmongóis de Akbar, Shahjahan e Aurangzeb contavam com um quarteto de políticasfundamentais - embargos às exportações de alimentos, regulação de preços contraespeculação, taxa de socorro e distribuição de alimentos gratuitas sem exigência detrabalhos forçados - que foram um anátema para os posteriores utilitarisras britâ-nicos." Eles também policiavam com zelo o comércio de grãos no interesse públi-co. Como descobriu um horrorizado escritor britânico, esses "déspotas orientais"castigavam os comerciantes que davam troco de menos aos camponeses durante asfomes, amputando um peso equivalente do corpo do mercador."

Em contraste com a punitiva taxação de irrigação do rajá e sua negligência quantoaos poços e reservatórios, os mongóis usavam subsídios fiscais para promover a con-servação de água. Como explica David Hardiman no caso de Gujarat: "As autorida-des locais tinham considerável discrição sobre a avaliação de impostos, e sua práticaparece ter sido encorajar a boa construção, garantindo concessões fiscais. Na regiãode Ahmedabad, por exemplo, era comum abrir mão do imposto em uma colheitade rabi cultivada pela irrigação de um poço recém-construido. A conc~ssão conti-nuava até as isenções de imposto se equipararem ao custo da construção";"

De vez em quando, os britânicos reconheciam adequadamente as políticas deseus "antecessores despóticos". O primeiro Relatório da Comissão da Fome em1880, por exemplo, citava a extraordinária campanha de socorro de Aurangzebdurante a seca/fome (EI Nifioj') de 1661: "O Imperador abriu sua tesouraria edoou dinheiro sem restrição. Deu todo incentivo à importação de milho e che-gou a vendê-lo a preços reduzidos, ou o distribuiu de graça entre aqueles que erampobres demais para pagar. Também reconheceu de pronto a necessidade de per-doar os aluguéis dos agricultores e aliviou-os naquele momento de outros impos-tos. As crônicas vernáculas do período atribuem a seus vigorosos esforços a salvaçãode milhões de vidas e a preservação de muitas províncias"."

A segurança alimentar na certa também era melhor no Deccan durante o períododo governo rnaratha, Como admitiu Mountsruart Elphinstone em retrospecto depoisda conquista britânica, "o território dos marathas floresceu, e as pessoas parecem tersido poupadas de alguns dos males que existem sob nosso Governo perfeitíssimo"."Seu contemporâneo, Sir John Malcolm, "afirmou que entre 1770 e 1820 houveraapenas três estações muito ruins na terra dos rnarathas e, embora alguns anos houves-sem siqo 'indiferentes', nenhum fora 'ruim o bastante para gerar qualquer angústia

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AS ORIGENS DO TERCEIRO ~iUNDO

particular'.":" D. E. U. Baker cita um relatório adrninisrrativo britânico anterior sobreas Províncias Centrais que comparaVl os inconstantes esforços de socorro da Cornpa-nhía da Índia Oriental durante as secas das décadas de 1820 e 1830 ("alguns milharesde rupias") com a anterior e altamente efirn política dos rnararhas de obrigar as eliteslocais a alimentar os pobres {"caridade forçada de centenas de ricos")." Na verdade, aordem social dos marathas fundamentava-se em uma classe rural livre rnilitarizada, e"havia muito poucos trabalhadores sem terra". Em contraste com o sistema raiyatu/ari

imposto pelos britânicos, os direitos de ocupação no Deccan rnaratha não se vincula-vam a pagamento de rendas, os impostos variavam de acordo com a colheita, as terrase os recursos comuns eram acessíveisaos pobres e os governantes subsidiavam melhoriasda irrigação local com empréstimos baratos taqaui (ou tagar).'2 Além disso, observouElphinstone, os "sóbrios, econômicos e trabalhadores" agricultores marathas viviamnuma coexistência em geral tolerante com os bhils e outros povos rribais, As sinergiasecológicas e econômicas equilibravam os diversos direitos à agricultura, pastoreio edesmaramento de contrafortes nas planícies."

Em contraste com a rigidez e o dogmarisrno dos assentamentos de r era e impos-tos britânicos, tanto os mongóis quanto os rnarathas adaptavam sob medida seu go-verno para levar em consideração ascruciais relaçõesecológicas e imprevisíveis flutuaçõesclimáticas das regiões do subcontinente propensas à seca. Os mongóis tinham "leis decouro", escreveu o jornalista Vaughan Nash durante a fome de 1899, em contrastecom as "leis de ferro" britânicas." Além disso, as tradicionais elites indianas, como osgrandes zamindars de Bengala, raras vezes compartilharam as obsessões utilitárias comassistência social enganadora e disciplina da mão-de-obra. "Exigir dos pobres que tra-balhassern para receber socorro, prática iniciada em 1866 em Bengala SGb a influênciada Lei dos Pobres vitoriana, estava em franca contradição com a premissa bengalesa deque se devia dar a comida de boa vontade, como um pai alimenta os filhos"." Emboraos britânicos insistissem em que haviam salvo a índia da "fome eterna", mais de umaautoridade ficou abalada quando nacionalistas indianos, citados em um estudo de1878 publicado no prestigioso Joumal ofthe Statístical Society, cotejaram trinta e umafomes sériasem 120 anos de governo britânico, contra apenas dezessete fomes registradas

em rodos os dois milênios anteriores."A índia e a China, em outras palavras, não entraram na história moderna como

as impotentes "terras da fome" tão universalmente incutidas na imaginação oci-dental. Sem dúvida, a intensidade do ciclo da ENSO em fins do século XIX, tal-vez só igualada em três ou quarro outras ocasiões no último milênio, deve surgirpoderosa, em qualquer explicação das catástrofes das décadas de 1870 e 1890.

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I ., 298 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

Mas dificilmente é a única variável independente. É necessário atribuir peso

equiparável, ou maior, à crescente vulnerabilidade social à variabilidade climática

que se tornou tão evidente no sul da Ásia, no norte da China, no nordeste do

Brasil e no sul da África em fins da era vitoriana. Como afirmou eloqüentemente

Michael Watts em sua história da "violência silenciosa" da seca/fome na Nigéria

colonial: "O risco do clima (... ) não é dado pela natureza, mas (... ) por 'acordo

negociado', pois cada sociedade tem meios institucionais, sociais e técnicos para

lidar com o risco. (... ) As fomes [portanto] são crises sociais que representam as

falhas de determinados sistemas econômicos e políticos."47

Perspectivas sobre a vulnerabilidade

Ao longo da última geração, estudiosos produziram uma g~ande safra de esclarecedoras

histórias sociais e econômicas das regiões teleconectadas com as perturbações episódicas

da ENSO. A ousadia dessa pesquisa foi demolir ainda mais os estereótipos orienralisras

de pobreza e superpopulação imutáveis como as condições prévias naturais das gran-

des fomes do século XIX. Há convincentes indícios de que os camponeses e trabalha-

dores agrícolas se tornaram drasticamente mais vulneráveis a desastres naturais após

1850, quando suas economias locais foram violentamente incorporadas ao mercado

mundial. O que os administradores e missionários coloniais - às vezes mesmo as

elites locais, como no Brasil - viam como a persistência de antigos ciclos de atraso

eram estruturas tipicamente modernas do imperialismo formal ou informal.

Da perspectiva da ecologia política, a vulnerabilidade dos agricultores tropicais

aos extremos fenômenos climáticos após 1870 foi intensificada por reestruturações

simultâneas de laços de família e de aldeia com os sistemas de produção regional,

mercados de produtos mundiais e o estado colonial (ou dependente). "Claro, é a

constelação dessas relações sociais", escreve Watts, "que une as famílias e projeta-as

na esfera comercial, que determina a forma precisa da vulnerabilidade doméstica.

Também foram essas mesmas relações sociais que não estimularam, ou de fato im-

pediram, o desenvolvimento das forças produtivas que poderiam ter diminuído tal

vulnerabilidade". Na verdade, as novas relações sociais de produção, em conjunto

com o Novo Imperialismo, "não apenas alteraram a extensão da fome no sentido

estatístico, mas mudaram sua própria etiologia"." Três pontos de articulação com

estruturas socioeconômicas maiores foram especialmente decisivos para a subsis-

tência rural do "proroterceiro mundo" de fins do período vitoriano.

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO 299

Primeiramente, a forçosa incorporação da produção de pequenos proprietários

de terra nos circuitos financeiros e de mercadorias controlados do exterior, ten-

deu a enfraquecer a tradicional segurança alimentar. Recentes estudos confirmam

que foi a adversidade de subsistência (impostos altos, dívidas crônicas, inadequada

medição de hectares, perda de oportunidades de emprego subsidiário, proibição

de acesso a recursos comuns, dissolução de obrigações patrimoniais e assim por

diante), e não a oportunidade empresarial que promoveu de modo típico a mu-

dança para o cultivo orientado para o mercado. O capital rural, por sua vez, ten-

deu a ser parasitário, em vez de produtivo, à medida que ricos proprietários de

terras transferiam as fortunas, construídas durante grandes expansões das expor-

• rações, para a usura, excessivos preços de aluguel de terra e corretagem de colhei-

tas. "Os produtores de gêneros de subsistência, marginais" assinala Hans Medick,

" ... não se beneficiaram do mercado nessas circunstâncias; foram devorados por

ele"."? Medick, escrevendo sobre a análoga classe de pequenos proprietários mar-

ginais na Europa "preto-industrial", oferece uma exemplar descrição do dilema

de milhões de camponeses pobres indianos e chineses em fins do século XIX:

Para eles [até mesmo] os preços agrários em ascensão não necessariamente signifi-

caram rendas crescentes. Como sua produtividade marginal era baixa e a produ-

ção flutuava, os preços agrários em ascensão tendiam a ser uma fonte de dívidas,

em vez de oferecer-lhes a oportunidade de acumular excedentes. A "anomalia dos

mercados agrários" impôs aos produtores de subsistência marginal uma relação de

troca desigual por meio do mercado. (... ) Em vez de lucrar com a troca, eles foram

forçados pelo mercado a uma progressiva deterioração de suas condições de pro-

dução, isto é, a perda de seus títulos de propriedade. Sobretudo em anos de co-

lheitas ruins e preços altos, os produtores insignificantes eram obrigados a comprar

grãos adicionais, e, pior, contrair dívidas. Depois, em anos de boas colheitas quando

os preços de cereais eram baixos, enfrentavam a dificuldade de livrar-se das dívi-

das acumuladas antes; devido à baixa produtividade de suas propriedades, nãoconseguiam produzir quantidades suficientes para vender.l''

Em conseqüência, a posição dos pequenos produtores rurais na hierarquia eco-

nômica internacional equiparou-se à mobilidade descendente ou, na melhor das

hipóteses, à estagnação. Há consistentes indícios do norte da China, assim como

da fndia e do nordeste do Brasil. de diminuição da riqueza familiar e aumento da

fragmentação ou alienação agrária. Estivessem os fazendeiros diretamente com-

prometidos com capital estrangeiro, como os khatedars de Berari e os parceiros

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300 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

cearenses que alimentaram os moinhos de Lancashire durante a Fome do Al~o.-dão, ou simplesmente produzindo para os mercados internos, sujeitos à competi-ção internacional, como os camponeses tecelões de algodão dos hsiens boxeres nooeste de Shandong, a comercialização se combinava com o empobrecimento semqualquer esperança de mudança técnica ou capitalismo agrário.

Segundo, a integração de milhões de agricultores tropicais no mercado mun-dial durante fins do século XIX foi acompanhada de uma drástica deterioração emsuas relações de comércio. A falta de poder de mercado dos camponeses em relaçãoaos comerciantes de colheitas e credores era redobrada pelo declínio do valor demercado internacional dos seus artigos. A famosa onda recessiva Kondrarief 1873-1897, fez drásticas discriminações geográficas. Como sugere W. Arthur Lewis, ape-nas a produtividade comparativa ou os custos de transporte não podem explicaruma emergente estrutura de desigual troca global que estimava os produtos da agri-cultura tropical de forma tão diferente dos da agricultura temperada. "Com exceçãodo açúcar, todas as mercadorias cujo preço em 1913 era inferior ao de 1883 eramproduzidas quase inteiramente nos trópicos. Todas as mercadorias cujos preços su-biram durante esse período de trinta anos eram as pelas quais os países temperadoseram responsáveis por parte significativa do abastecimento total. A queda nas taxasde frete marítimo afetou mais os preços tropicais do que os temperados, mas issonão devia fazer uma diferença de mais de cinco pontos percenruais"."

Terceiro, o imperialismo vitoriano, formal e informal, sustentado pelo auto-matismo supranacional do Padrão Ouro, confiscou a autonomia fiscal local e impe-diu as reaçõesde desenvolvimento no nível de Estado - em especial os investimentosem conservação de água e irrigação - que poderiam ter reduzido a vulnerabilidadeaos impactos climáticos. Como a famosa queixa de Curzon à Câmara dos Lordes,as tarifas "eram decididas em Londres, não na fndia; no interesse da Inglaterra, nãoda fndia".52Além disso, como veremos no capítulo seguinte, qualquer benefício debase trazido pela construção britânica de vias férreas e canais foi em grande parteanulado pela negligência oficial com a irrigação local e o brutal bloqueio de recur-sos florestais e pastorais. Os ganhos com as exportações, em outras palavras, não .retornavam para os pequenos proprietários como incrementos da renda familiar,tampouco como capital social utilizável ou investimento estatal.

Na China, a "normalização" dos preços de grãos e a estabilização ecológica daagricultura na planície do Rij3Amarelo foram solapadas por uma interação de crisesendógenas e a perda de soberania do comércio externo após as duas Guerras do Ópio.Embo~a as famintas províncias de loesse talvez parecessem estar desligadas das per-

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO

rurbaçõcs do mercado mundial em 1877, o destino catastrófico de suas populaçõesfoi indiretamente determinado pela intervenção ocidental e o conseqüente declínioda capacidade do Estado de garantir a tradicional assistênciasocial. Do mesmo modo,o esgot:lmento dos silos "sempre normais" talvez tenha resultado de um ciclo vicio-so de múltiplas causas interagindo durante cinqüenta anos, mas o golpe de miseri-córdia f"i sem dúvida a recessão estrutural e a permanente crise fiscal engendradapelas agressões de Palmerston à China na década de 1850. Com a intensificação dapressão estrangeira nas décadas posteriores, os chings, cercados de inimigos, comomostrou Kennerh Pomeranz, foram forçados a abandonar suas duas obrigações tra-dicionais, o controle hidráulico e o arrnazenarnenro de grãos nas províncias do RioAmarelo, a fim de concentrarem-se na defesa do seu ameaçado litoral cornercial.P

Da mesma forma o controle britânico sobre a dívida externa do Brasil, portan-to de sua capacidade fiscal, ajuda a explicar o malogro do império ou de sua repú-blica sucessora em iniciar qualquer esforço de desenvolvimento que amenizasse aseca no sertão. Os conflitos econômicos sem resultado entre :J.~regiões ascendentese decadentes do Brasil ocorreram num contexto estrutura! em que os bancos deLondres, especialmente os Rothschilds, acabaram sendo os donos do dinheiro. Emcomum com a fndia e a China, a incapacidade política de regular a interaçâo como mercado mundial no exato instante em que a subsistência em massa dependiacada vez mais do acesso a alimentos adquiridos no mercado internacional, tornou-se um sinistro silogismo para a fome. Além disso, nos três casos do Deccan, da baciado Rio Amarelo e do Nordeste, antigas regiões, "núcleos" dos sistemas de podersubcontinentais do século XVIII, foram sucessivamente transformadas em perife-rias famintas de uma economia mundial centralizada em Londres.

A elaboração dessas teses, como ocorre sempre na explicação geoistórica, convi-da a uma análise mais profunda em diferentes ampliações. Antes de considerar osestudos ée C;lSO do empobrecimento rural em regiões-chave devastadas pelos fenô-menos EI Nino nas décadas de 1870 e 1890, ou examinar as relações entre impe-rialismo, capacidade de Estado e crise ecológica no nível de aldeia, é necessária umabreve discussão sobre come as posições estruturais indianas e chinesas (os grandesbatalhões do futuro Terceiro Mundo) na economia mundial mudaram no curso doséculo XIX. A compreensão de como a humanidade tropical perdeu tanto terrenoeconômico para os eur9peus ocidentais após 1850 percorre um longo caminho pataexplicar por que a fome conseguiu produzir tamanhas hecatombes nos anos El Niiío.Como uma base para entender as origens da desigualdade global moderna (e esta éa questão fundamental), os hercúleos trabalhos estatísticos de Paul Bairoch e Angus

301

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302 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

Maddison ao longo dos últimos trinta anos foram complementados por recentesestudos de caso comparativos dos padrões de vida europeus e asiáticos.

A derrota da Ásia

A famosa afirmação de Bairoch, corroborada por Maddison, é que as diferençasde renda e riqueza entre as grandes civilizações do século XVIII eram relativa-mente pequenas: "É muito provável que, em meados do século XVIII, o padrãode vida médio na Europa fosse um tanto inferior ao do resto do mundo"." Quan-do os sans culottes atacaram a Bastilha, os maiores distritos manufatureiros domundo ainda eram o Delta do Yangzi e Bengala, com Lingan (Guangdong eGuangxi modernas) e a litorânea Madras não muito atrás. 55Só a fndia produzia

. um quarto dos produtos manufaturados do mundo e, embora a "produtividadeda mão-de-obra agrária pré-capitalista fosse talvez inferior ao nível japonês/chi-nês, seu capital comercial ultrapassava o dos chineses"."

Como mostrou recentemente Prasannan Parthasarathi, o estereótipo do traba-lhador indiano como um miserável sernifarninto de tanga desmorona diante de novosdados sobre padrões comparativos de vida. "Na verdade, há convincentes indíciosde que os trabalhadores no sul indiano tinham ganhos superiores aos seus equiva-lentes britânicos no século XVIII e levavam vidas com maior segurança financeira."Como a produtividade de terra era mais alta no sul da índia, tecelões e outros artesãosgozavam de dietas alimentares melhores que a média dos europeus. Mais importan-te, suas taxas de desemprego tendiam a ser mais baixas porque eles possuíam direi-tos de contrato superiores e exerciam maior poder econômico. Contudo, mesmo ostrabalhadores agrícolas párias em Madras ganhavam mais em termos reais do que ostrabalhadores rurais ingleses." (Em contraposição, Rornesh Chunder Dutt estimouque por volta de 1900, a renda familiar britânica média era 21 vezes mais a1ta.)58

Uma nova pesquisa de historiadores chineses também contesta as tradicio-nais concepções do crescimento econômico comparativo. Referindo-se ao inova-dor trabalho de Li Bozhong, Philip Huang nota que "o destacado representantedessa nova tendência acadêmica chegou a afirmar que o desenvolvimento econô-mico global do Delta do Yangzi na Dinastia Ching excedeu ao dos 'primórdios'da Inglaterra moderna". 59De modo semelhante, Bin Wong enfatizou recentemente

que as "condições específicas associadas à proro-industrialização européia - ex-pansão de ofícios sazonais, redução das dimensões de fazendas e bons sistemas de

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO 303

comercialização - talvez houvessem sido ainda mais difundidas na China [e naíndia] do que na Euro~a".6o "A alfabetização básica funcional", acrescenta F. Mote,

"era mais disseminada que nos países ocidentais naquela época, incluindo a de

mulheres em todos os níveis sociais."?'

Tabela 9.2Parcelas do PMB mundial

(Percentual)

1700 1820 1890 1952

China 23,1 32,4 13,2 5,2

índia 22,6 15,7 11,0 3,8

Europa 23,3 26,6 40,3 29,7

Fonte: Angus Maddison, Chin,,, Economic Performanct in tbe Long Run, Paris 1998, P: 40 .

Além disso, no recente fórum, "Reexarninando a China do século XVIII",

Kenneth Pomeranz comprova que o chinês comum tinha um padrão de consumo

mais alto que os europeus do século XVIII:

A expectativa de vida chinesa (portanto, a nutrição) era aproximadamente a dosníveis ingleses (portanto superior aos continentais) até fins da década de 1700. (Afertilidade chinesa era de fato inferior à da Europa entre 1550 e 1850, enquantosua população crescia mais rápido; desse modo, a mortalidade deve ter sido bai-xa.)Além disso, minhas estimativas de "consumo dispensável" revelam-sesurpreen-dentemente altas. O consumo de açúcar fica entre 4,3 e 5,0 librasper capita, porvolta de 1750 - e muito mais alto em algumas regiões - comparado com ape-nas 2 librasper capita da Europa. A China por volta de 1750 parece ter produzido6-8 libras de tecido de algodão per capita; sua área mais rica, o Delta do Yangzi(população de aproximadamente 31 milhões), na certa produzia entre 12 e 15 li-bras per capita. O Reino Unido, mesmo em 1800, produzia cerca de 13 libras detecido de algodão, linho e lã somados por residente, e a produção continental tal-vez fosse inferior à da China.62

Pomeranz também calculou que "o baixo Yangzi parece ter produzido aproxi-

madamente tanto tecido de algodão per capita em 1750 quanto o Reino Unido de

algodão, lã, linho e seda combinados em 1800 - mais uma enorme quantidadede scdà'.63 Além disso, como demonstra Maddison, o PIB chinês em termos absolu-

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304 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

tos cresceu mais rápido que o da Europa ao longo do século XVIII, aumentandodrasticamente sua parcela da renda mundial em 1820.

O estereótipo habitual da história econômica do século XlX é que a Ásia fi-

cou paralisada enquanto a Revolução Industrial impulsionou a Grã-Bretanha, se-guida dos Estados Unidos e por fim do resto da Europa Ocidental, a todavelocidade, pelo caminho do crescimento do PIB. Superficialmente, claro, isso éverdade, embora os dados reunidos por Bairoch e Maddison mostrem que a Ásia

perdeu sua predominância na economia mundial muito depois do que talvezimagine a maioria de nós. O futuro Terceiro Mundo, dominado pelas economias

comerciais e artesanais bastante desenvolvidas da índia e da China, cedeu terreno

de muita má vontade até 1850 (quando ainda gerava 65 por cento do PIB glo-bal), mas depois caiu com rapidez cada vez maior durante todo o resto do século

XlX (apenas 38 por cento do PIB mundial em 1900 e 22 por cento em 1960).64

Tabela 9.3Parcelas da produção industrial mundial, 1750-1900

(PercentuaJ)

1750 1800 1830 1860 1880 1900

Europa 23.1 28.0 34.1 53.6 62.0 a3.0Reino Unido 1.9 4.3 9.5 19.9 22.9 18.5Trópicos 76.8 71.2 63.3 39.2 23.3 13.4China 32.8 33.3 29.8 19.7 12.5 6.2fndia 24.5 19.7 17.6 8,6 2.8 1,7

Fonte: Derivado de B. R. Tornlinson, "Economics: The Perifery", em Andrew Porter (ed.), Tbe Oxford History

olth. Britisb Empire: Th. Nineteenth Cmtury. Oxford 1990. p. 69 (Tabela 3.8).

A desindustrialização da Ásia, pela substituição de mercadoria têxtil de fabri-cação local por importações do algodão de Lancashire, alcançou o clímax apenasnas décadas após a construção do Palácio de Cristal. "Até 1831", observa AlbertFeuerwerker, a "Grã-Bretanha comprou mais 'nankeens' (tecido fabsicado emNanquim e outros lugares na região do baixo Yangzi) todos os anos em que ven-deu tecido de fabricação britânica para a China".65 A Grã-Bretanha exportou 51milhões de jardas d(~tecido para a Ásia em 1831; 995 milhões em 1871; 1 bilh(o

e 413 milhões em 1879; e 2 bilhões em 1887.66

Mas por que a Ásia ficou estagnada? A resposta mecânica é porque vergava

sob o peso dos grilhões da tradição e da demografia malthusiana, embora isso não

J.

AS ORIGENS 00 TERCEIRO MUNDO 305

Ii

iI

i

l,

impedisse que a China dos Chings, cuja taxa de crescimento pupulacional era (juasea mesma que a da Europa, passasse por extraordinário crescimento econômico aolongo do século XVIII. Como afirmou recentemente Jack Goldstone, a "estase"da China é uma "ilusão anacrônica que vem da leitura da história de trás paradiante",67 A questão relevante não é tanto saber por que a Revolução Industrialocorreu primeiro na Inglaterra, na Escócia e na Bélgica, mas por que outras regiõesavançadas da economia mundial do século XVIII não adaptaram suas manufatu-ras artesanais às novas condições de produção e competição do século XlX.

Tabela 9.4Mantendo a posição: China x Europa

Dólares do PIB per capita (População em milhões)

ChinaEuropa Ocidental--------------~----- ----------------,-------------140018201950

4301.0344.902

(43)(122)(412)

(74)(342)(547)

500500454

Fonte: Lu Aíguo, China and th. Global Economy S;"" 1840. Helsinque 2000. P: 56 (Tabela 4. I derivada de

Maddison).

Como Marx gostava de destacar, a visão de história whig apaga inúmeros fa-tos muito sangrentos. Os teares da fnt:iia e da China foram derrotados não tantopela competição de mercado quanto pelo violento desmantelamento causado porguerra, invasão, ópio e um sistema de tarifas de mão única imposto por Lancashire.Dá em 1850, as impostas importações de ópio indiano haviam escoado pZiCaforado país 11 por cento da provisão de dinheiro da China e 13 por cento do seuestoque de prata).68 Quaisquer que fossem os freios internos ao rápido crescimen-to econômico na Ásia, na América Latina ou na África, é inconteste que, de maisou menos 1780 ou 1800 em diante, toda tentativa séria de uma sociedade não-ocidental para implantar um projeto de desenvolvimento ou criar regras de co-mércio era acompanhada de uma resrosta militar, assim como uma respostaeconômica, de Londres ou de uma capital imperial competitiva. O Japão, incita-do pelos navios negros de Perry, é a exceção que comprova a regra.

O uso de força para configurar uma economia mundial "liberal" -- (comoafirmou Marx e depois Rosa Luxernburgo) é do que tratava a Pax Britannica.P;}merston abriu caminho para Cobden. 0$ virorianos, segundo os cálculos de

Brian Bond, recorreram às canhoneiras em pelo menos setenta e cinco ocasiões

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I-I

II

306 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

diferentes."? Os simultâneos triunfos britânicos no Motim e na Guerra da "Seta"em 1858, junto com a rendição do Japão a Perry no mesmo ano, foram as notá-veis vitórias sobre a autonomia econômica asiática que tornaram possível o mun-do do livre comércio na segunda metade do século XIX. (ATailândia já concederauma tarifa de 3 por cento em 1855.)7° A Revolução de Taiping - "mais revolu-cionária em suas metas do que a Restauração Meiji, insistindo na igualdade degênero e democratizando a alfabetização" - foi uma gigantesca tentativa de revi-sar esse veredicto, e, claro, foi derrotada apenas graças aos recursos e aos mercená-rios que a Grã-Bretanha forneceu aos chings cercados de inimigos."

Isso não é afirmar que a Revolução Industrial necessariamente dependeu daconquista colonial ou da subjugação econômica da Ásia; ao contrário, o comér-cio de escravos e as plantações do Novo Mundo foram fontes muito mais estraté-gicas de capital líquido e recursos naturais que impulsionaram a decolagemindustrial na Grã-Bretanha, na França e nos Estados Unidos. Embora Ralph Davisafirmasse que os despojos de Plessy contribuíram em termos decisivos para a esta-bilidade da ordem gcorgiana em uma era de revolução, o faturamento da Compa-nhia da índia Oriental foi troco miúdo comparado ao grande fluxo transatlânticode bens e capital." Só os Países Baixos, parece, dependeram crucialmente do tri-buto asiático - os lucros de seu brutal culturrstelsel=-: para financiar sua recupe-ração econômica e industrialização incipiente entre 1830 e 1850.

Paradoxalmente, o mais importante "momento" da Ásia das monções na econo-mia mundial viroriana não foi no princípio da época, mas próximo ao seu fim. "Ovalor total do governo britânico, o retorno dos investimentos políticos feitos primei-ramente no século XVIII", escrevem Cain e Hopkins em sua influente história doimperialismo britânico, "só foi percebido na segunda metade do século XIX, quandoa fndia se tornou um mercado vital para os produtos de aigodão de Lancashire e quandooutros interessesespecializados, como os fabricantes de juta em Dundee e os produto-resde aço em Sheffield,também aumentaram em muito sua aposta no subcontinente"."

Asexpropriações da riqueza da índia e da China não foram essenciaispara a hegemoniabritânica, mas foram absolutamente cruciais para adiar seu declínio.

A economia mundial de fins da era vitoriana

Durante o prolongado período de crescimento intermitente de 1873 a 1896 (queos historiadores econômicos enganosamente chamavam de a "Grande Depressão"),

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO 307

a taxa de formação de capital e de aumento da produtividade tanto da mão-de-obra quanto do capital na Grã-Breranha começou a apresentar uma dramáticaredução de velocidade." Permaneceu amarrada a produtos e tecnologias obsole-tas, enquanto por trás de suas barreiras tarifárias a Alemanha e os Estados Unidosforjavam a liderança nas determinantes indústrias do petróleo, química e elétrica.Como as importações britânicas e o investimento estrangeiro continuaram dina-mizando o crescimento local da Austrália à Dinamarca, a potencial "tesoura" en-tre produtividade e consumo do Reino Unido ameaçou toda a estrutura docomércio mundial. Foi nessa conjuntura que os famintos camponeses indianos echineses se tornaram os improváveis salvadores. Durante uma geração eles apoia-ram todo o sistema de assentamentos internacional, permitindo que a continua-da supremacia financeira da Inglaterra coexistisse temporariamente com seu relativodeclínio industrial. Como enfatiza Giovanni Arrighi: "O grande excedente nabalança de pagamentos indiana tornou-se o pivô da reprodução aumentada dosprocessos de acumulação de capital em escala mundial da Grã-Bretanha e do do-mínio das finanças mundiais por Londres."75

. i,-, -r-; As setas iridicam .'fluxos de colonização', .

Figura 9.1 Sistema mundial de colonizações, 1910 (Milhões de f)

Fonte: S. Saul, Studies in British Ouerseas Trade, 1870-1914, Liverpool 1960, P: 58.

A operação desse crucial circuito era simples e engenhosa. A Grã-Bretanhatinha em suas transações com a fndia e a China enormes excedentes anuais quelhe permitiam sustentar déficits igualmente grandes com os Estados Unidos, a

Alemanha e os Domínios brancos. É verdade que a Grã-Bretanha também tinhapequenos lucros com o transporte marítimo, seguros, atividade bancária e inves-

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308 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

rimento estrangeiro, mas sem a Ásia, que gerava 73 por cento do crédito comer-cial britânico em 1910, afirma Anthony Latham, a Grã-Bretanha "possivelmenteteria sido obrigada a abandonar o livre comércio", enquanto seus parceiros co-merciais teriam sido obrigados a diminuir o ritmo de sua própria industrializa-ção. A economia mundial liberal poderia, caso contrário, ter-se fragmentado emblocos comerciais autárquicos, como o fez mais tarde durante a década de 1930:

Os Estados Unidos e a Europa industrial, em particular a Alemanha, só consegui-ram continuar sua política de proteção tarifária por causa do excedente da Grã-Bretanha com aÁsia. Sem aquele excedente asiático a Grã-Bretanha não teria maiscomo subsidiar seu crescimento. Portanto, o que vem à tona é que a Ásia, em ge-ral, mas a índia e a China, em particular, longe de serem periféricas para a evolu-ção da economia internacional nessa época, foram de fato cruciais. Sem osexcedentes que a Inglaterra conseguia ter ali, todo o padrão de desenvolvimentoeconômico internacional teria sido seriamente comprornctido.P

A Índia, claro, foi o maior mercado cativo da história mundial, subindo doterceiro para o primeiro lugar entre os consumidores de produtos britânicos noquarto de século depois de 1870.77"Os governantes britânicos", escreve Marcellode Cecco em seu estudo do sistema de padrão ouro vitoriano, "impediamdeliberadamente os indianos de se tornarem mecânicos qualificados, recusavamcontratos para firmas indianas que produziam materiais que podiam ser obtidosna Inglaterra e em geral dificultavam a formação de uma estrutura industrial au-tônoma na {ndia"J8 Graças a uma "polftica de empórios oficiais que reservavam amaioria das compras do governo a produtos britânicos e o monopólio pelas casasfranqueadas britânicas da organização do comércio de importação/exportação", aÍndia foi obrigada a absorver o excedente de produtos industriais cada vez maisobsoletos e não competitivos da Grã-Bretanha."? Por volta de 1910, isso incluíadois quintos dos produtos de algodão acabados do Reino Unido e três quintos desuas exportações de produtos elétricos, equipamentos para estradas de ferro, li-vros e produtos farmacêuticos. Em conseqüência, observa Cecco, a Grã-Bretanhaevitou "ter de reestruturar sua indústria e conseguiu investir seu capital nos paísesem que obtinha o mais alto retorno". Graças à Índia, "os financistas britânicosnão eram obrigados a 'amarrar' seus empréstimos às exportações britânicas, por-que o mercado imperial sempre estava disponível para os produtos britânicos".8o

O subcontinente foi igualmente importante para os proprietários de terras. Acrise da agricultura inglesa, detonada pelo clima em fins da. década de 1870, e o

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO

posterior declínio da produção agrícola produziram uma abrupta queda nos alu-guéis agrícolas na Inglaterra e no País de Gales, de 53 milhões de libras esterlinas em1876, lnra apenas 37 milhões em 1910.81 O exército e as sinecuras do funcionalis-mo público indianos eram reconhecidamente famosos por salvar as fortunas da aris-tocracia latifundiária da Grã-Bretanha. Mas, como afirmaram Cain e Hopkins emdefesa de um "capitalismo cavalheiresco" hegemônico, pilhagens ainda muito maioresretomavam às classes médias de Londres e dos condados internos, como juros ga-rantidos pelo governo de debêntures e títulos indianos investidos em via férrea."Essa clientela de investidores sulistas e seus representantes instirucionais na ativi-dade bancária e transporte deixou-se levar de pronto pela bandeira do Império edeu completo apoio às políticas do livre comércio e dinheiro vivo. Se o governobritânico na índia foi útil para a indústria britânica, foi vital para o investimentobritânico"." Como assinala Hobsbawrn, "nem sequer os parrid.írios do iivre comér-cio desejavam ver essa mina de ouro escapar do controle britânico"."

Mas como, em um período de fome, poderia o subcor.rinenre permitir-sesubsidiar a repentinamente precária supremacia comercial de seu conquistador?"Simplesmente, não poderia, e a índia foi obrigada a ingressar no mercado mundial,como veremos, por políticas de renda e de irrigação que forçaram os fazendeirosa produzir para o consumo externo ao preço de sua própria garantia alimentar.Esse impulso de exportação foi a marca da estratégia de finanças públicasintroduzida por James Wilson - fundador de Tbe Economist e membro das fi-nanças do Conselho da índia - nos primeiros anos do governo direto. A abertu-ra do Canal de Suez e o crescimento do transporte de cargas a vapor reduziramdrasticamente os custos de transForce do grosso dos produtos de exportação dosubcontinente. Em conseqüência, o comércio externo da índia transportado pormar aumentou mais de oito vezes entre !840 e 1886.85 Além do cultivo de ópioem Bengala, novas rnonoculruras de exportação de índigo, algodão, trigo e arrozocuparam milhões de hectares de culturas de subsistência. Parte dessa produção,claro, destinou-se a assegurar os baixos preços dos grãos na metrópole, após a ruínafinanceira da agricultura inglesa na década de 1870. Entre 1875 e 1900, anos queincluíram as piores fomes da história indiana, as exportações anuais de grãos au-mentaram de 3 milhões para 10 milhões de toneladas: quantidade que, comoobservou Romesh Dutt, equivalia à nutrição anual de 25 milhões de pessoas. Porvolta da virada do século, a fndia fornecia quase um quinto do consumo de trigoda Grã-Bretanha, além de permitir que os comerciantes de grãos de Londres espe-

culassem durante as faltas no Conrinente."

309

I,Iií

IIIIII!

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310 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

.Mas a contribuição ainda mais decisiva da agricultura indiana para o sistemaimperial, com o primeiro envio ilegal de ópio pela Companhia da índia Orientalpara Cantão foi a renda que produziu no resto do Hemisfério oriental. Em espe-cial nas décadas de 1880 e 1890, os permanentes comércio e desequilíbrio na conta-corrente do subcontinente com a Grã-Bretanha foram financiados por seusexcedentes no comércio de ópio, arroz e fios de algodão com o resto da Ásia. Naverdade, a sisrernãtica exploração da Índia pela Inglaterra dependeu em grandeparte da exploração comercial da China pela fndia.

Esse comércio triangular entre a Índia, a China e a Grã-Bretanha teve umaimportância econômica estratégica no sistema mundial vitoria no que transcendeuoutros fluxos de comércio muito maiores. Embora a China gerasse apenas minús-culo 1,3 por cento do volume total do comércio mu ndial em fins do século XIX,isso foi imensamente valioso para o Império Britânico, que monopolizava 80 porcento do comércio externo total da China nas décadas de 1860 e 60 por cento já em1899. (As firmas britânicas, que controlavam dois terços do transporte costeiro,também conseguiram uma importante fatia do comércio interno da China.}"

Desde o início do século XIX, a Companhia da índia Oriental dependera dasexportações de ópio de Bengala para Cantão (que em 1832 gerou um lucro líqui-do de "pelo menos quatorze vezes o capital inicial") para financiar os crescentesdéficits produzidos por suas caras operações militares no subcontinente. Por au-mentarem violentamente a demanda chinesa de narcótico e, desse modo, os im-postos cobrados sobre sua exportação, as duas Guerras do Ópio (1839-42 c1856-58) e o punitivo Tratado de Tianjin (1858) revolucionaram a base de rendada Índia britânica. "O ópio", diz johu Wong, "mantinha o custo da expansãoimperial na fndia".88 Os carregamentos de ópio da fndia alcançaram um pico de87 mil caixas em 1879, a maior transação de drogas da história mundial."

Esse comércio extraordinariamente unilateral- em 1868 a índia fornecia maisde 35 por cento das importações da China, mas comprava menos de 1 por cento desuas exportações - também subsidiou as importações de algodão dos EUA que abas-teceram a revolução industrial em Lancashire.?? ''A venda de ópio de Bengala para aChina", explica Latham, "era um grande elo na corrente de comércio com que a Grã-Bretanha cercara o mundo. A corrente funcionava da seguinte maneira: o Reino Unidopagava aos Estados Unidos pelo algodão com títulos do Banco da Inglaterra. Os ame-ricanos levavam alguns desses títulos para Cantão e trocavam-nos por chá. Os chi-neses permutavam os títulos pelo ópio indiano. Alguns dos títulos eram remetidospara a Inglaterra como lucro; outros levados para a fndia a fim de comprar mercado-

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO 311

rias adicionais, assim como garantir a remessa de dinheiro de investimentos privadosna fndia e os fundos para continuar mantendo o governo indiano em casa"."

Quando, depois de 1880, os chineses recorreram não oficialmente ao cultivodoméstico de ópio (um exemplo antecipado de "substituição de importações")para reduzir seu déficit comercial, a Índia britânica descobriu uma nova e lucra-tiva vantagem na exportação de algodão tecido em fábrica, o que, como veremos,teve um devastador impacto nos têxteis tradicionais chineses.

Além disso, em fins do século XIX, a própria Grã-Bretanha começou a ter umsubstancial superávit no comércio da China. A Segunda Guerra do Ópio - ouGuerra da "Seta" -, que decuplicou as exportações britânicas para a China emuma única década, foi o acontecimento decisivo." O dominante papel da Grã-Bretanha no comércio externo chinês, construído por narcotraficantes virorianoscom canhoneiras, assim influenciou todo o império de livre comércio. "A China",resume Larharn, "diretamente através da Grã-Bretanha e indiretamente através daíndia, possibilitou à Grã-Bretanha sustentar seus déficits com os Estados Unidose a Europa dos quais os países dependiam como estímulo às exportações e, nocaso dos Estados Unidos, algum volume de influxo de capital"."

Além disso, a China foi obrigada, pelas baionetas, a ceder o controle sobre astarifas ao inspetor-geral britânico da Administração da Alfândega Marítima Impe-rial, na verdade um procônsul imperial que "passou a exercer maior influência noMinistério do Exterior do que o ministro britânico em Pequim"." O déficit comer-cial cada vez maior da China tornou-se inadminisnável em 1884. "Sequer um úni-co ano [durante todo o resto do século XIX] apresentou um excedente; o déficitmédio anual subiu para 26,6 milhões de taéis - aproximadamente 10 por cento docomércio total anual, embora mais de 20 por cento das importações anuais ou pou-co menos de 30 por cento das exportações anuais"." Entre seus tradicionais mono-pólios, o chá era vendido a preços mais baixos no mercado mundial por causa daprodução indiana, enquanto a seda japonesa competia com as famosas marcas dosul da China. Ao contrário da índia, a China não conseguiu financiar nada de seu"consistente e crescente déficit global" por meio de excedentes comerciais com umaterceira parte, nem conseguiu obter rendas compensatórias, como a Grã-Bretanha,de suas colônias estrangeiras. Em conseqüência, os chings se tornaram cada vez maisdependentes das remessas de dinheiro dos 5 milhões de emigrantes chineses noSudeste Asiático, Oceania, Peru, Caribe e Estados Unidos." Embora manifestasse

publicamente seu desgosto com o comércio dos cules, o governo não teve outra al-ternativa a não. ser colaborar com sua expansão. O chamado "perigo amarelo", que

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312 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

escritores ingleses ajudariam a popularizar, foi, portanto, uma conseqüência diretado subsídio cada vez maior da Ásia à vacilante hegemonia britânica. Os agricultorese trabalhadores chineses das vias férreas, como os camponeses indianos, equilibra-ram as contas da Inglaterra em suas costas curvadas.

Militarismo e o padrão-ouro

Além de estarem na ponta perdedora do imperialismo de livre comércio, as econo-mias indianas e chinesas também foram estranguladas por despesas militares e opadrão-ouro. Na era viroriana, nenhum dos outros principais países se viu obrigadoa dedicar tão grandes parcelas de sua receita nacional à guerra. A Índia, já atrelad~ àresponsabilidade de uma enorme dívida pública que incluía reembolsar os acionis-tas da Companhia da Índia Oriental e pagar os custos da revolta de 1857, tambémteve de financiar a supremacia militar britânica na Ásia. Além da incessante guerrapor procuração com a Rússia na fronteira afegã, os indianos comuns também paga-ram pelas aventuras do Exército Indiano em terras distantes, como a pilhagem dePequim (1860), a invasão da Eriópia (1868), a ocupação do Egito (1882) e a con-quista do Sudão (1896-98). Em conseqüência, as despesas militares nunca eraminferiores a 25 por cento (ou 34 por cento, incluindo a polícia) do orçamento anualindiano, e os vice-reis viviam procurando caminhos criativos a fim de roubar para oexército dinheiro de outras rubricas do orçamento, até mesmo do Fundo da Fome.A Inglaterra vitoriana, por outro lado, jamais gastava mais de 3 por cento do seuproduto nacional líquido com exército e marinha, uma situação fortuita que dimi-nuiu consideravelmente as tensões internas em relação ao imperialismo.'?

O caso chinês, claro, foi ainda mais extremo. De 1850 a 1873, a China ardiaem chamas com conflitos sociais e étnicos numa escala que excedia totalmente acontemporânea Guerra Civil americana. Como reconheceu a maioria dos historia-dores, grande parte dessa carnificina era fruto da recessâo estrutural e da crescenteinsegurança que se seguiram à Primeira Guerra do Ópio. As conseqüências fiscaisda guerra civil épica, por sua vez, foram enormes." Os revolucionários de Taiping eseus aliados da Tríade durante vários anos cortaram Pequim das receitas de meiadúzia de províncias meridionais. Os rebeldes de Nian ao mesmo tempo perturba-ram a administração em grandes áreas de quatro províncias do norte, enquanto umarevolta muçulmana em Gansu e Shaanxi se intensificou, tornando-se uma guerraassustadora e imensamente cara de extermínio étnico. Nos piores anos, 75 por cen-

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO

[O do orçamento imperial foram gastos com a manutenção de -norrnes exércitos decampo (sem. contudo, levar à verdadeira modernização militar)." Os chocantes custosde sua sobrevivência obrigaram os chings, na frase de Porneranz, a "criar" as despe-sas do Estado entre as regiões. Eles acabaram preferindo favorecer as cidades costei-

.ras, onde, embora as receitas alfandegárias aumentassem com grande rapidez, asoberania estava muito arneaçada, à ampla economia de subsistência no interior donorte da China. Como veremos adi.mte, o fato de os chings abandonarem as obri-gações imperiais do controle de inundação e navegação de canais, essenciais para asegurança ecológica da planície do Rio Amarelo, teve, como era previsível, catastró-ficas conseqüências quando o ciclo de ENSO se intensificou em fins do século XIX.

As duas grandes nações da Ásia também foram vitimadas pelo novo sistemamonetário internacional estabelecido na década de 1870. Embora a Grã-Bretanhaadotasse o padrão-ouro em 1821, o resto do mundo agarrou-se ao padrão prataou a um sistema bimetãlico, A oferta e a demanda dos dois metais eram relativa-mente estáveis, com flutuações apenas secundárias na taxa de câmbio. Contudo,após derrotar a França em 1871 a Alemanha mudou para o OUf0 e logo foi segui-da pelos Estados Unidos, o resto da Europa e por fim o Japão. O imenso volumede prata desmonetizada inundou o mercado mundial, desvalorizando a moedacorrente da fndia e da China, as principais nações fora do bloco hegernônico doouro. (A índia começou a transferir-se para o padrão-ouro depois de 1893.)

Como mostrou John McGuire, o concessionário Banco da índia com agênciasem Londres, Austrália e China, e que financiava grande parte do comércio indiano,exercia sobre a política monetária indiana o mesmo tipo de influência quase estatalque a Câmara de Comércio de Manchesrer sobre a agricultura indiana. Manter arupia vinculada à prata garantiu óbvias vanogens para a Grã-Breranha, pois o valorde suas exportações (cotadas em ouro) para a índia aumentava, enquanto o dasimportações (cotadas em prata) diminuía. "De 1873 a 1895. ,( rupia caiu de umvalor indexado de ouro de 100 para um valor indcxado de 64".'00 Como os "custosinternos" da índia - pagamentos anuais a Londres por pensões, guerras de frontei-ra, dívida pública, o escritório do secretário de Estado e assim por diante - eramfixadas em ouro, a desvalorização da rupia de prata custou aos indianos cerca de105 milhões de libras esterlinas adicionais entre 1874 e 1894.'°'

Estima-se do mesmo modo que o padrão-ouro eliminou um qU<l.rtodo poderde compra dos ornamentos de prata que constituíam a poupança das pessoas co-muns.l'" Enquanto o preço de exportação, cotado ern ouro, dos grãos indianos perma-

necia estável, a favor dos consumidores britânicos, seu custo doméstico em rupias

313

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314 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

era visivelmente inflacionado em detrimento dos indianos pobres. 103Como assina-

lou Sir William Wedderburn: "Os camponeses indianos em geral tinham três salva-guardas contra a fome: (a) provisões domésticas de grãos, (b) ornamentos de famíliae (c) crédito com o agiota da aldeia, que também era o comerciante de grãos. Maspróximo ao fim do século XIX, todas foram perdidas pelos camponeses". 104

Historiadores econômicos celebram a ironia dos indianos empobrecidos forne-cendo um fluxo de crédito barato pua a Grã-Bretanha. Embora "em toda estaçãode colheitas", escreve Cecco, as "taxas de juros indianas disparassem vertiginosa-

mente para níveis insuportáveis", os bancos da Presidência de propriedade britânica"recebiam depósitos do governo e de outros órgãos públicos, sem pagar por eles umúnico aná de juros". Além disso, "as reservas em que se baseava o sistema monetário

indiano proporcionavam uma grande masse de manoeuvre que as autoridades mo-

netárias britânicas podiam usar para suplementar suas próprias reservas e manter

Londres como o centro do sistema monetário internacional'U'" Krishnendu Rayamplia essa afirmação: "Impedindo a fndia de transformar seus excedentes anuaisem reservas de ouro, o Departamento da fndia contribuía para manter baixas astaxas de juros britânicas. Os bancos ingleses obtinham empréstimos do Departa-mento da fndia a 2 por cento e reinvestiarn no mercado de Londres a 3 por cen-to".I06Ainda mais importante, a política monetária era usada, na frase de Dieter

Rothermund, "para esvaziar a produção da fndia". Até as exigências fiscais forçarem

uma desrnonetização parcial da prata em 1893, a inflação muito auxiliou a campa-nha britânica no recrutamento de camponeses para a produção de bens de exporta-ção como trigo, índigo, ópio e juta, que ajudaram a equilibrar as contas do Império.

Em uma época anterior, os holandeses haviam adotado o método deliberado deextorquir de Java safras para o mercado circulando uma grande quantia em moe-das de cobre sem valor. Na Índia, os britânicos não precisaram fazer isso de formadeliberada, porque a simples manutenção das Casas da Moeda abertas ao fluxolivre da prata em desvalorização conseguiu praticamente o mesmo resultado. Aadministração do crédito facilitou a extração de safras de mercado. Pelo adianta-mento de dinheiro aos camponeses que mantinham plantações para exportação,os britânicos e seus agentes adquiriam por antecipação a capacidade produtiva daagricultura da fndia. A área destinada a safras de mercado se expandia mesmo nasocasiões em que os grãos alimentícios para o consumo interno teriam rendido umpreço melhor. O que era cultivado para exportação tinha de ser classificado comosafra de mercado nesse contexto. A depreciação da moeda corrente e a aquisição

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO 315

antecipada da capacidade produtiva de grandes extensões do país combinavam-se~e ~o~~, a alcançar o milagre de que a tndia pudesse exportar produtos a preçosestavers mesmo em uma época em que fomes severas atormentavam o país.

Absorvendo a prata e exportando o trigo pelo menor preço, a lndia funcionoucomo um amortecedor na base da economia mundial de fins do século XIX. !O?

No caso da China, o choque do padrão-ouro em fins da década de 1870 agravouo caos monetário herdado das guerras civis das décadas de 1850 e 1860. Impo-tentes para deter o dreno da prata que os britânicos haviam engendrado com a

imposição do comércio de ópio, os chings também perderam o controle de seufornecimeoro interno de cobre na década de 1860, quando rebeldes muçulmanosocuparam as famosas minas de Yunnan. Em conseqüência, Pequim teve de finan-ciar sua luta pela sobrevivência emitindo papel-moeda de valor insignificante eremetendo sistematicameore dinheiro em cobre sob cotações mais altas. A desva-lorização do dinheiro baseado em prata produziu estragos particularmente nasprovíncias do Rio Amarelo, onde estimados 99 por cento das trocas eram em cobre(con.tra apenas 30 por cento no Delta do Yangzi).108Visto que as rendas geradaspor irnposros terriroriais ainda eram avaliadas em prata, a manutenção do alto

preço do metal- como enfatÍzou Mary Wright - impediu a posterior tentativados restauradores tongzhis em fins da década de 1860 d . I Id d' , e conquistar a ea a edo campesinato por meio de um aperfeiçoamento do fardo fiscal. 109

A conversão do comércio mundial para o universal padrão-ouro agravou as cri-ses de troca externas e internas da China. Em primeiro lugar, o preço internacionalda prata despencou: "No espaço de uma geração, o tael perdera quase dois terços do

al d " 110Al I'seu v or e troca. gumas e ttes mercantis talvez houvessem se beneficiado davantagem que os preços internacionais mais baratos deram às suas exportações, so-bretudo de chá e produtos de algodão de Xangai. Mas "as importações de países do

pad~ão-ouro se tornaram mais caras, o que foi particularmente grave para o desen-volvirnento das ferrovias. O investimento estrangeiro na China também foi desenco-rajada, por medo de pagamento em um padrão desvalorizado". 111

Contudo, justamente porque a crescente dívida comercial da China era finan-ciada pelo fluxo ou "escassez" da prata, o valor interno deste metal de faro subiu emre!a~o à cunhagem de cobre que circulava nas economias de aldeia. Como o paísn,ao tinha ouro no comércio internacional (o que era em parte compensado, como

vlmo.s, p~1a re~utante exportação de mão-de-obra cule) continuou a desvalorizaçãodo dinheiro VIVO, em especial no norte. Ali, as pessoas comuns também ficaram

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316 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

revoltadas, pois para pagar os impostos tiveram de converter seus cobres em prata,segundo taxas de câmbio muito mais altas do que as da privilegiada fidalguia rural.Uma das principais queixas dos taipings em 1851, a instabilidade monetária tam-bém ajudou a fomentar a Rebelião dos Boxers quase meio século depois.112

o mito de 'malthusia'

Os déficits comerciais impostos à força, as campanhas de exportação que diminuí-ram a garantia alimentar, a excessiva taxação e o capital mercantil predatório, o con-trole estrangeiro sobre as rendas e recursos de desenvolvimento nmdament •.is, a guerracrônica imperial e civil, um padrão-ouro que bateu as carteiras dos camponeses asiá-ticos: essas foram as modalidades fundamentais pelas quais o fardo do "ajuste estru-tural" na economia mundial de fins da era vitoriana da Europa e da América doNorte foi transferida para os agricultores nas "periferias" recém-cunhadas. Mas, sema menor dúvida, também devemos admitir que a demografia - sobretudo na fndiae na China, onde os sistemas de divisão de herança eram a regra - desempenhouimportante papel na diminuição da garantia alimentar no século XIX.

Malthus continua sendo uma figura poderosa pelo menos entre a geração maisvelha de historiadores econômicos. W. Arthur Lewis, de Princeton, uma das princi-pais autoridades em economia mundial do século XIX, viu, em um influente estu-do de 1978, como algo natural que a causa por trás da fome na fndia vitoriana nãofoi a "sangria de riquezas" para a Inglaterra, como alegado por críticos contemporâ-neos, mas "uma grande população que continuava vivendo no nível de subsistênciaem terras marginais inadequadamente irrigadas, sem uma lucrativa produção parao mercado. 113 De modo semelhante, a historiografia de fins da China imperial foiperseguida pelo espectro da "involução agrícola" e a chamada "armadilha do equilí-brio de alto nível" - ambos eufemismos para como a suposta explosão populacionaldo século XVIII espremeu a terra arável até o limiar da fome crônica.

Estudos recentes oferecem um retrato mais complexo da relação entre demografiae subsistência na Ásia. (Malthus não está em questão nos casos do Brasil e da África,onde era alta a proporção de terra! população e crônica a falta de mão-de-obra até pelomenos meados do século XX) Como assinala Charlesworth: "É incontestável que,em termos absolutos, a terra dificilmente estava sob grande pressão da população noDeccan de início do período britânico". Até o fim da década de 1840, pelo menos,"apenas cerca da metade das terras cultiváveis na maioria dos distritos do Deccan, se-

AS ORIGENS DO TERCEIRO MUNDO 317

gundo as estimativas britânicas t~rmais, era cultivada" ."4 Embora a população cres-cesse rapidamente nas décadas de 1850 e 1860. em parte como resultado da expansãodo algodão, o impulso demográfico teve uma interrupção abrupta com a carãstrofe de1876., Na rndia como um todo, durante a metade do século, entre 1870 e 1920, hou-ve apenas uma única década (I 880) de significativo crescimento populacional. (A per-cenragem da população mundial do sul da Ásia diminuiu de 23 a 20 por cento, de

1750 a 1900), enquanto a da Europa subiu de 17 a 21 por cenro.""Estudos de casos modernos corroboram a posição de críticos nacionalistas do Raj,

como G. V Josh, que afirmou em 1890 que "o problema da índia não está tanto emuma presumida superpopulação quanto no admttido e patente problema da subpro-dução". Ur1shestimou que a metade das poupanças líquidas da Índia era confiscadacomo rendas.)!" Se os agricultores do Deccan e de outras regiões propensas à secaforam implacavelmente empurrados para terras marginais, onde eram inevitáveis abaixa produtividade e as quebras de safras, o culpado tinha menor chance de ser asuperpopulação do que o "próprio sistema fiscal territorial britânico". Sem dúvida,esta é a constatação de Bagchi, que, depois de uma cuidadosa análise das estatísticasagrkolas coloniais, afirma que as inflexíveis exigências dos cobradores de imposto deuma colheita de "média" a alta "obrigaram os camponeses a cultivar terras marginais etambém os forçaram a 'exaurir' suas terras em uma situação em que a maioria delestinha pequena capacidade de investimento para melhorar a produtividade". I I?

Do mesmo modo, estudiosos contemporâneos estão revendo em termos drásti-cos a tradicional imagem de fins da Chil1:l imperial como uma "esbanjadorademogrãfica": a incorrigível "malrhusia". retratada por gerações de teóricos edernõgrafos econômicos.l" Até há pouco tempo, a maioria dos a~adêmicos aceitouindícios frágeis de uma explosão populacional do século XV1Il que dobrou ou atémesmo rriplicou a população da China de 1700. Reducionistas demogdftccs, con-tudo, sempre tiveram dificuldade de explicar como um crescimento da populaçãotão claramente "boserupiano" no século XVIII (promovendo un.a dinâ mica expan-são das forças produtivas) podia tornar-se tão implacavelmente rnalthusiano no sé-culo XIX (bloqueando todos os avanços da produtividade). (Esrher Boserup, claro,inverteu Malthus num famoso estudo de 1965 para afirmar que o aumento da po-pulação foi na verdade o motor, não o freio, do progresso econômico e social.)!!?

Além disso, há poucos indícios de qudquer aumento de pressão demogrãfica apóso fim da Era de Ouro dos chings. Como observa Maddison, a população da Chinanão era mais alta em 1890 do que em 1820, ao mesmo tempo que a rendapercapita

era significativamente inferior.':"

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318 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

Pomeranz, que examinou essa questão no contexto do norte da China, concordaque as pressões populacionais, isoladamente "não explicam por que os problemas eco-lógicos pioraram muito depois de meados do século XIX". Sua área de estudo, o Huang-Yun (incluindo regiões de Shandong, Zhih e Henan em torno da interseção do GrandeCanal e o Rio Amarelo), "após as guerras, inundações e secas do período de 1850-80(...) só depois de 1949 excedeu significativamente sua população da década de 1840"p21

Além disso, as imensas perdas humanas da revolução de Taiping criaram um vaziodemográfico no médio e no baixo Yangzique foi preenchido depois de 1864 por milhõesde imigrantes originários de províncias congestionadas, entre elas Honan e Kiangsu.!"Daí em diante, fomes e epidemias, seguidas de guerra e revolução, mantiveram o cres-cimento da população do norte da China no mínimo até 1948.

Recentemente, alguns especialistas na China dos chings, liderados por F. WMote e Marrin Heijdra, de Princeron, têm frontalmente desafiado a visão ortodo-xa de uma população dobrando ou mesmo triplicando durante o século XVIII.Eles apresentam convincentes parârnetros para uma população no final do perío-do Ming de 250 a 275 milhões, em vez dos 150 milhões convencionalmente acei-tos para a demografia dos chings por volta de 1700. O que implica numa taxa decrescimento anual de 0,3 por cento (a mesma da. (ndia e inferior à média mundial)em vez dos 0,6 a 0,9 por cento afirmados na maioria dos estudos. 123Mais mode-rado que exponencial, o crescimento populacional durante a Era de Ouro iria porforça das circunstâncias alterar as explicações neomalthusianas das posteriores crisesdo século XIX da China. Como explica cuidadosamente Mote:

A principal implicação no esboço proposto de crescimento populacional sob oschings é que desacredita o que em geral tem sido considerado o mais importantefato demográfico sobre os chings: a idéia de uma "explosão populacional" no sé-culo XVIII. Dá-se a esse suposto fenômeno alto valor explicativo em relação amuitos contextos sociais e polfricos, Se, contudo, a população não aumentou derepeme durante aquele século, mas partiu de um patamar mais alto e cresceu emtermos moderados, muitas questões sociais precisam então ser explicadas de outraforma. Por exemplo, os cálculos que usam as mais antigas cifras da população emconjunção com as igualmente suspeitas relativasà terra cultivada dos mings c chings,mostram uma desastrosa queda na proporção de terra cultivada para a populaçãoconsumidora; a crise implícita nessa proporção de terra produtiva por populaçãodeve ser reexaminada. As visões relacionadas com a "população ótima" da China,talvez em si uma idéia suspeita, também precisam ser reanalisadas... I24

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Rejeitar o determinismo demográfico, claro, não significa que os regimes depopulação não desempenharam um papel na China na crise do século XIX. Aocontrário, é claro que o sucesso da intensificação agrícola na Idade de Ouro enco-rajou excessiva subdivisão de terra em muitas regiões, assim como recuperaçõesecologicamente desrrutivas de planaltos e pântanos antes não cultivados. Alémdisso, o crescimento da população muitas vezes parece ter sido concentrado nasáreas mais pobres e arnbientalmente mais vulneráveis. As relações locais de recur-so x população figurarão desse modo com destaque nas posteriores discussões dascrises de subsistência e da vulnerabilidade a desastres no norte da China. Mas ocrescimento populacional dificilmente foi a alavanca de Arquirnedes da história

imaginada por tantos historiadores econômicos.

o déficit da irrigação

Como assinala Pomeranz, a Europa enfrentou pressões demográficas e ecológicasaté mais graves no início do século XIX, mas pôde solucioná-Ias com a ajuda dosrecursos naturais do Novo Mundo, volumosa emigração colonial e, por fim, indus-trialização urbana.!" A questão relevante, em outras palavras, é menos a pressãopopulacional por si do que por qual motivo a Europa Ocidental conseguiu escaparde sua incipiente "armadilha de equilíbrio de nível alto" e a China dos chings não.

Além dos fatores já destacados, há outra variável muitas vezes ausente nas dis-cussões históricas sobre o "subdesenvolvimento". Se (segundo Pomeranz) o princi-pal "gargalo ecológico" do crescimento econômico na Europa Atlântica no iníciodo século XIX foi o inflexível fornecimento de fibras e madeira de construção, naÍndia e na China foi o de água. Como observa Patrick O'Brien, "mais da metadedas populações da Ásia, África, e América do Sul talvez tenha subsistido da terraonde o abastecimento de água constituía a principal obrigação para aumentar a pro-dução agrícola".126Isso foi, claro, bom senso para os "déspotas orientais", e umaimportante realização da Idade de Ouro da dinastia Ching, assim como do apogeudos mongóis, fora os altos níveis sustentados de investimento de estado e de aldeiano controle de inundação e irrigação. Contudo, como veremos detalhadarnenre, oséculo XIX caracterizou-se pelo quase colapso do aperfeiçoamento hidráulico.

"Os tradicionais sistemas de colheita", enfatiza Oavid Hardiman, "desinte-graram-se e desapareceram em grandes regiões da fndia durante o primeiro perío-do colonial (e] as altas taxas de imposto territorial não deixaram excedente algum

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para a manutenção eficaz dos sistemas de irrigação". 127 Apesar do posterior desen-volvirnento das célebres colônias-canal do Punjab, a irrigação na fndia britânicanão acompanhou a expansão agrícola até a Independência. Na China, enquantoisso, a "irrigação, o abastecimento e o controle da água e as instalações dearmazenamento de grãos não se estenderam nem se aperfeiçoaram além dos seusníveis do século XVIII". 128 Na verdade, a extensão em hectares irrigados dimi-

nuiu do seu ponto alto com os chings, de 29,4 por cento dos cultiváveis em 1820para apenas 18,5 por cento em 1952. No nordeste atingido pela seca do Brasilnão houve nenhum apoio de Estado à irrigação.P?

Esse déficit de irrigação derrubou a ilusão malthusiana de "irremediávelinvoluçâo" na China e em outras regiões. Se como resultado da pressão popu-lacional ou de deslocamento pelas safras de exportação a subsistência em todas astrês terras foi empurrada para solos mais secos, muitas vezes menos produtivos ealtamente vulneráveis aos ciclos da ENSO, sem as paralelas melhorias de irriga-

ção, drenagem ou reflorestamento para garantir a sustentabilidade. As revoluçõesde produtividade agrícola baseadas em irrigação moderna no norte da fndia e daChina (desde 1960), assim como no nordeste (desde 1980), só dramatizam aimportância dos recursos hídricos e da capacidade política de assegurar seu de-senvolvimenro em qualquer discussão sobre "capacidade de sustentação" ou "te-tos demo gráficos" .

Em termos mais amplos, é claro que qualquer tentativa de elucidar as origenssociais das crises de subsistência de fins da era vitoriana deve incorporar integral-mente as relevantes histórias dos recursos de propriedade comum (bacias hi-drográficas, fontes, florestas e pastos) e o capital de despesas gerais sociais (sistemasde controle de irrigação e inundação, silos, canais e estradas). Nos capírulos a se-guir, com estudos de casos, afirmo que a pobreza ecológica - definida como oesgotamento ou a perda de direito à base de recursos naturais da agricultura tradi-cional - forma um triângulo causal com a crescente pobreza familiar e a desca-pacitação do Estado para explicar tanto o surgimento de um "Terceiro Mundo"quanto sua vulnerabilidade a extremos fenômenos clirnãticos.P"

Dez

[ Índia: a modernização da pobreza

Vamos à raiz da questão. Vamos, ou aqueles dos nossos 'lllC

podem fazê-lo, acentuar a condição do agricultor indianoem sua casa, e descobrir quc causas o empobrecem e o tor-nam incapaz de pOUp1.r.O motivo não é falta de frugalida-de ou sobriedade, e tampouco de prudência. O camponês

indiano é o mais sóbrio, frugal c prudente na face da Terra.

Se a história do governo britânico na fndia precisasse ser condensada em um úni-

co fato, este é o seguinte: não houve nenhum aumento de renda per capita na índiade 1757 até 1947" Na verdade, na última metade do século XIX, a renda prova-velmente diminuiu em mais de 50 por ceuro.:' Não houve sequer desenvolvimen-

to econômico em todo o sentido normal ao termo. "As cifras da produção globalestáticas", acrescenta Tomlinson, "não significam que a produção em toda parte

estava estagnada, mas, em vez disso, que as forças progressivas foram sempre anu-ladas pelas regressivas, e que os períodos de dinamismo se intercalaram com perío-

dos de esragnação"." Os célebres surtos de safras para o mercado combinaram-secom diminuição da produtividade agrária e da garantia alimentar. Em grande parte

da região produtora de algodão do sul do Deccan, por exemplo, a produção porhectare de alimentos no final da soberania indiana do Raj caíram para algo entreapenas dois terços e metade do nível médio de 1870.4 Além disso, na era de Kipling,aquela "gloriosa metade do século imperial" de 1872 até 1921, a expectativa de

vida dos indianos comuns caiu chocantes 20 por cento, uma deterioração na saú-

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458 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

"EI Nino Occurrences over the Past Four and a Half Centuries" ,Joul7lal olGeophysica/Researcb 92:C13 (15 de dez. de 1987), P: 14454.

120. Whetton e Rutherfurd, p. 225.121. Ver discussão sobre fontes de dados em Allan, Lindesaye Parker, pp. 59-60.122. Charles Ballard, "Drought and Economic Distress: South Africa in the 1800s",

Journal of Interdisciplinary History 17:2 (outono de 1986), pp. 359-78.

123. Charlesworth, Peasants and Imperial Rufe, p. 76.124. Minhas proporções anuais aproximadas seriam, claro, melhor expressas como pro-

porções sazonais.125. Sobre a modificação do ciclo da ENSO por mudanças na circulação do Oceano Pací-

fico, ver Roberr Dunbar er aI., "PEP-l Contributions to Increased Understanding ofPast Variability in Enso and Irs Teleconneccions", poster session Abstracts, IGBP PAGESOpen Sciences Meeting, "Past Global Changes and Their Significance for the Furure",

Londres, 20-23 de abril de 1998; e para uma discussão da ENSO diminuída e inten-

sificada, ver Tahl Kesrin et ai., "Time Frequency Variability of ENSO and Stochastic

Simulations" ,Journal of Climate 11 (ser. de 1998), pp. 2260-61.126. "Correlação simultânea entre a ENSO e a monção é sólida nos ültimos 140 anos. A

única exceção, a queda nas últimas décadas, é obviamente de grande interesse, e

provavelmente motivo de preocupação": K. Kumar et al., "Epochal Changes in

Indian Monsoon-ENSO Precursors", Geophysical Research Letters 26: 1 (10 de jan.

de 1999), p. 78. "Antes de 1900, a influência da ENSO no equilíbrio de umidadedos EUA foi mais extenso que nos perlodos posteriores": Julia Cole e Edward Cook,

"The Changing Relationship Between ENSO Variability and Moisture Balance inthe Continental United Srates", GeophyJical Researcb Letters 25:24 (15 de dez. de

1998), p. 4530.127. Quinn et aI., "EI Niiío Occurrenccs", p. 14459.128. D. Rind, "Cornplexiry and Climatc", Science 284 (2 de abril de 1999), p. 106.

129. Brcnt Yarnal e George Kiladis, "Tropical Teleconnections Associated with EI Nino/Sourhern Oscillarion (ENSO) Events", Progressin Physical Geography 9 (1985), pp.

541 e544.130. Quinn e Neal, p. 627.131. David Engield e Luis Cid, "Low-Frequency Changes in EI Nirio-Southern Oscil-

lation" Journaf 0IClimate 4 (dez. de 1991), p. 1139.132. Eugene Rasmusson, Xueliang Wang e Chcsrer Ropelewski, "Secular Variability of

rhe ENSO Cycle" , em National Researcb Council, Natural Climate Variability onDecade-to-Century Time Scnles, Washington, D.e. 1995, pp. 458-70.

133. D. Harrison e N. Larkin, "El Nino-Southern Oscillation Sea Surface Temperature

and Wind Anomalies, 1946-1993", Reuieias of Geopbysics 36:.3 (agosto de 1998),

pp. 386-91.

NOTAS 459

134. T. Baumgartner et aI., "The Recording oflnterannual Climatic Change by High-

Resolution Natural Systems: Tree-Rings, Coral Bands, Glacial Ice Layers, and Marine

Varves", GeophysicalMonograph 55 (l989), pp. 1-14.

Capitulo 9

A epígrafe é de Isaacs, Scratches on Our Minds: American [mages olChina and India, Nova

York 1958, p. 273.

1. Para uma rlpica visão cavalheira, ver Roland Lardinois, "Farnine, Epidemics and

Mortality in South India: A Reappraisal of the Demographic Crisis of 1876-1878",

Economic and Political Weekly 20: 111 (16 de março de 1985), p. 454.

2. Emmanuel Le Roy Ladurie, Times 01Feast, Times 01Famine: A History 01 ClimateSince tbe Year 1000, Garden Ciry N.Y. 1971, P: 119.

3. Raymond Williams, Problems in Materialism and Culture, Londres 1980, p. 67.

4. Quando servia a seus interesses, claro, os britânicos podiam trocar epistemologias.

No caso da China de fins do século XIX, por exemplo, os britânicos c seus aliados

atribuíram sobretudo à corrupção dos Chings, não à seca, a culpa pelos milhões de

mortes por fome.

5. Kueh, pp. 4-5.

6. Jared Diamond, Guns, Germs, and Stee]: The Fates 01Human Societies, Nova York

1997, pp. 424-5.

7. Re 1743-44: "outro periodo excepcional no leste do hemisfério, que corresponde a

QN do EI Nifio de 1744, embora as condições fossem mais acentuadamente secas

no leste em 1743" (Whetton e Ruthcrfurd, pp. 243-6).

8. "O primeiro imperador Ching concebeu silos sempre-normais em sedes munici-

pais, silos de caridade nas cidades principais, e silos da comunidade no campo. Os

silos sempre-normais eram para ser administrados por membros da equipe do ma-

gistrado, que eram orientados a vender, emprestar ou doar grãos na primavera e

fazer compras, coletar empréstimos e solicitar contribuições no outono" (Pierre-

Etienne Will e R. Bin Wong [com James Lee, Jean Oi e Peter Perdue], Nourish th~People:The State Civilian Granary System in China, 1650-1850, Ann Arbor, Mich.

1981, p. 19).

9. Will, Bureaucracy and Famine, Capftulos 7 e 8.

10. Ibid, pp. 86 e 189.

11. John Post, Food Shortage, Climatic Variability, and Epidemia Disease in PreindustrialEurope: The Morta/ity Peak in the Early 1740s, Ithaca, N.Y 1985, p. 30.

12. Will, p. 270.

Page 19: Holocaustos Coloniais - Cap 9

460 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

13. Jean Oi e Pierre-Erienne Will, "North China: Shandong During the Qianlong

Period", em Will e Wong, pp. 369-70. Correlações da ENSO baseadas na cronolo-

gia de Quinn.

14. "Introduction", em Will e Wong, p. 21. As estradas da China, por outro lado, per-

maneceram miseráveis, e foram um importante obstáculo à integração do mercado

assim como ao combate à fome.

15. Wilkinson, pp. 122-9.

16. R. Bin Wong, "Decline and Its Opposition, 1781-1850", em Will e Wong, p. 76.

17. Helen Dunstan, Conjlicting Counsels to Confuu the Age: A Documentary Study of

Political Economy in Qing China, 1644-1840, Ann Arbor, Mich. 1996, p. 251.

18. Wilkinson, pp. 122-9. Ver também Will, "The Control Strucrure", em Will e Wong,

pp.220-21.

19. Jane Leonard, "'Controlling fcom Afar': Open Communications and rhe Tao- Kuang

Emperor's Control of Grand Canal-Grain Transport Management, 1824-26",

Modem Asian Studies 22:4 (1988), P: 666.

20. Joseph Needharn, Science and Civilization in China, vol. 4, Cambridge 1971, p. 326.21. Will, p. 257.

22. Jacques Gemer, A History ofChineu Ciuilization, 2:\ ed., Cambridge 1996, p. 468.

23. Dwight Perkins, Agricultural Development in China, 1368-1968, Chicago 1969,

p.176.

24. Endymion Wilkinson, "Studies in Chinese Price History", tese de doutorado,

Princeton University 1970, p. 31.

25. Will, p. 32.

26. J. A. G. Roberts, A Concise History of China, Cambridge, Mass. 1990, p. 173.

27. Sobre os silos especiais de tributo em Luoyang e Shanzhou, organizados durante o

reinado de Kangxi, ver Will e Wong, pp. 32 e 301.

28. A garantia alimentar em meados do século XVIII talvez consumisse 10 por cento

da renda anual dos chings. Como enfatiza Wong, "Um Estado gastar tais somas

regularmente para esse fim durante bem mais de um século é na certa sem igual no

início do mundo moderno" ("Qing Granaries and Late Imperial History", em Will

e Wong, p. 477).

29. Sanjay Sharma, "The 1837-38 Famine in UP: Some Dimensions ofPopular Action",

IESHR 30:3 (1993), p. 359.

30. Bhatia, p. 9.31. Darren Zook, "Developing India: The Hisrory of an Idea in the Southern

Countryside, 1860-1990", tese de doutorado, Universidade da Califórnia, Berkeley

1998, p. 158. O Raj foi construído sobre mitologia e alucinação. Como assinala

Zook, os britânicos atribuíram universalmente as ruínas dispersas pelo campo indiano

NOTAS

à decadência das civilizações nativas, quando, fato, muitos eram claramente monu-mentos à violência da conquista britânica (p. 157).

32. Sugara Bose e Ayesha jalal, Modem South Asia, Déli 199·9, p. 43.

33. Ashok Desai, "Popularion and Srandards of Living in Akbar's Time", IESHR 9:1(1972), p. 61.

34. Chctan Singh, "Forem, Pastoralists and Agrarian Sociery in Mughal Índia", em David

Arnold e Raachandra Guha (eds.), Nature, Cultur«, Imperialism: Essays on theEnuironmentai History ofSouth AJia, Déli 1996, p. 22.

35. Habibul Kondker, "Famine Policies in Pre-Brirish [ndia and the Question ofMoral

Economy", South Asia 9: 1 (junho de 1986), pp. 25-40; e Kuldeep Mahtur e Niraja

Jayal, Drought, Policy and Politics, Nova Déli 1993, p. 27. Infelizmente, a discussão

contemporânea da história da fome antes de 1763 foi contaminada por brigas entre

hindus e muçulmanos. Ver, por exemplo, o patente preconceito antimuçulmanoem Mushtag Kaw, "Farnines in Kashmir, 1586-1819: The Policy of the Mughal andAfghan Rulers", IESHR 33:1 (1996), pp. 59-70.

36. C. Blair, Indian Famines, Londres 1874, pp. 8-10.

37. David Hardiman, "Well Irrigarion in Gujarat: Systems of Use, Hierarchies ofControl", Economic and Política I ltíéekry, 20 de junho de 1998, P: 1537.

38. Comissão citada em W R. Aykroyd, Tbe Conquest ofFamine, Londres 1974, p. 51.Vertambém John Richards, Tbe Mugh'11 Empire (Tbe Neu/ Cambridge History of lndia,1:5), Cambridge 1993, p. 163.

39. Bagchi,pp.II-12e27.

40. J. Malcolm,A Memoir of Central India, vol. 1, Londres 1931. p. 7, citado em D. E.U. Baker, Colonialism in an [ndian Hinterland: Tbe Central Prouinces, 1820-1920,Déli 1993, p. 28.

41. Baker, p. 52.

42. J. Richards e Michelle McAlpir}, "Cotton Culrivacing cmd Land Clearing in the

Bombay Deccan and Karnatak: J 818-1920", em Richard Tucker e J. Richards (eds.),

Global Defomtation and th« Nineteentb-Century Worfd Economy, Durham 1983, pp.71 e 74.

43. Ibid.44. Nash, p. 92.

45. Greenough, Prosperíty and Misery. p. 59.46. C. Walford, "The Famines of the Warld: Past and Prescnc'' ,Joumal ofthe Statistica/

Society 41: 13 (1878), pp. 434-42. Ciro Walford em outros trechos da versão ampli-ada deste artigo 110 livro de 1879.

47. Michael Watts,.Silent Violencr: Food, Famine and Peasantry in Nortbern Nigeria,Berkeley 1983, pp. 462-3. Essa "negociação", claro, é bilateral e precisa incluir o

choque climático como uma variável independente.

,.

461

Page 20: Holocaustos Coloniais - Cap 9

I 462 NOTAS 463HOLOCAUSTOS COLONIAIS

48. Wans, pp. 267 e 464.

49. Hans Medick, "The Preto-Industrial Family Economy and the Strucrures and

Functions of Population Development under the Proto-Industrial Systern", em PKriedte et ai. (eds.), Industrialization Before Industrialization, Cambridge 1981, p. 45.

50. Ibid, pp. 44-5.51. Lewis, Growth and Fluctuations, p. 189.

52 .. Citado em Clive Dewey "The End of the Imperialism of Free Trade", P: 35.53. Kennerh Porneranz, The Makingofa Hinterland: State, Society; andEconomy in lnland

North China, 1853-1937, Berkeley 1993.

54. Paul Bairoch, "The Main Trends in National Economic Disparities Since the In-

dustrial Revolurion", em Paul Bairoch e Maurice Levy-Leboyer (eds.), Disparitiesin Economic D~vt.f(lpment Since the Industrial Reuolution, Londres 1993, p. 334.

55. Paul Bairoch, "Internacional Industrializarion Levels fcom 1750-1980", emJournalof European Economic History 11 (I982), p. 107.

56. FrirjofTichelman, Tb» Social Eoolution of Indonesia, Haia 1980, p. 30.

57. Prasannan Parthasarathi, "Rethinking Wages and Cornpeririveness in Eighteenth-

Cenrury Britain and South India", Past and Present 158 (fev. de 1998), pp. 82-7 e

105-6.58. Dutt, citado em Eddy, p. 21.59. Philip Huang, Tbe Peasant Family and Rural Deuelopment in tbe Ytzngzi Delta, 1350-

1988, Stanford, Calif 1990.60. Wong, p. 38.61. F. W. Mote, Imperial China, 900-1800, Cambridge, Mass. 1999, p. 941.

62. Kennerh Pomeranz, "A High Standard of Living and Its Implications", contribui-ção para "E. H. R. Forum: Re-thinking lSth Cenrury China", Internet, 19 de novo

de 1997.

63. Porneranz, "Two Wôrlds of Trade, Two Worlds ofEmpire: European State-Makingand Industrialization in a Chinese Mirrar", em David Smith et al., States andSovereignty in tb« Global Economy, Londres 1999, p. 78 (ênfase minha).

64. Ver S. Patel, "The Economic Disrance Berween Nations: Its Origin, Measurement

and Outlook, Economic [ournal, março de 1964. (Há certa discrepância entre seus

cálculos para o mundo não-europeu agregado e as estimativas posteriores de Bairoch

e Maddison.)65. Albert Feuerwerker, Tbe ChineseEconomy, 1870-1949, Ann Arbor, Mich. 1995,

pp.32-3.66. Paul Bairoch, "Geographical Srructure and Trade Balance ofEuropean Foreign Trade,

from 1800-1970", Journal of European Economic History 3:3 (inverno de 1978), p.565. Ch'en cita 1866 corno o início da séria penetração de mercadorias têxteis im-

portadas na China (p. 64).

67. Jack Goldsrone, "Review of David Landes, The Wealth and Poverry of Nations",

[ournal ofWor/d History 2:1 (primavera de 2000), p. 109.

68. Carl Trocki, Opium, Empire and tbe Global Political Economy, Londres 1999, p. 98.

69. Brian Bond, Victorian Military Campaigns, Londres 1967, pp. 309-11.

70. Ver O'Rourke e Williamson, pp. 53-4.

71. Os historiadores por tradição comparam as restaurações Meiji eTonzhang, mas como

sugere Goldstone, a comparação mais significativa é entre os taipings e o Japão. "E

se o antigo regime imperial da China, como o do Japão, houvesse desmoronado em

meados do século XIX, e não cinqüenta anos depois, como seria então? E se o equi-

valente do novo exército modelo de Chiang Kai-shek houvesse começado a se for-

mar na década de 1860 e não na de 1920? O Japão teria conseguido colonizar a

Coréia e Taiwan? Qual teria sido a superpotência asiática?" (Goldsrone, ibid.).

72. "A riqueza da índia forneceu os fundos que compraram a dívida nacional de volta dos

holandeses e outros, primeiro temporariamente no intervalo de paz entre 1763 e 1774,

e por fim depois de 1783, deixando a Grã-Bretanha quase livre de dívidas externas

quando passou a enfrentar as grandes guerras francesas de 1793" (Ralph Davis, TheIndustrial Reuolution and British Ouerseas TrIUÚ; Leicester 1979, pp. 55-6).

73. P. Cain e A. Hopkins, British Imperialism: lnnouation and Expansion, 1688-1914,Londres 1981, p. 7.

74. Para uma análise recente, ver Young Goo-Park, "Depression and Capital Forrnation:

The UK and Germany, 1873-96", [ournal of European Economic History 26:3 (in-

verno de 1997), especialmente pp. 511 e 516.

75. Giovanni Arrighi, Tbe Long Tioentieth Century: Money. Poioer and tbe Origins ofOur

Times, Londres 1994, p. 263.76. A. Latharn, Tbe InternationalEconomyandthe UndevelopedWor/d, 1865-1914, Lon-

dres 1978, P: 70. Latharn, deve-se observar, é notoriamente defensor do colonialismo

britânico na fndia, afirmando que "grande parte do crescimento global relativamente

baixo do subcontinente é devido aos fatores climáticos, não a qualquer efeito preju-

dicial da política colonial britânica" (Ver A. Latham, "Asian Stagnation: Real or

Relative?", em Derek Aldcroft e Ross Catterall (orgs.), Rich Nations - Poor Nations:

The Long-Run Perspectioe, Cheltenharn 1996, p. 109).

77. Robin Moore, "Imperial Índia, 1858-1914", em Andrew Porter (org.), Tbe Oxford

History of the Britisb Empire: Tbe Nineteentb Century, Oxford 1999, p. 441.

78. Marcello de Cecco, The International Go/d Standard: Money and Empire, Nova York

1984, p. 30.79. Ravi Palat et aI., "Incorporation of South Asia", p. 185. Segundo esses autores, as

aparentes exceções à desindustrialização indiana de fato comprovaram a regra: a

Page 21: Holocaustos Coloniais - Cap 9

464 HOLOCAUSTOS COLONIAIS

tecelagem de algodão era fundamental para a produção de um excedente de expor-

tação no comércio com a China, enquanto a fabricação de jura era uma "ilha de

capital britânico iniciada, organizada e controlada por funcionários públicos e co-

merciantes britânicos" (pág. 186).

80. Ibid, pp. 37-8.

81. J. Stamp, British Incomes and Property, Londres 1916, p. 36.

82. Cain e Hopkins, pp. 338-9.

83. Eric Hobsbawrn, Industry and Empire: An Economic History of Britain Sina 1750,Londres 1968, p. 123.

84. A mesma pergunta, claro, poderia ser feita sobre a Indonésia, que em fins do século

XIX gerava quase 9 por cento do produto nacional interno holandês. Ver Angus

Maddison, "Durch Income in and fcom Indonesia, 1700-1938", Modern AsianStudies 23:4 (I989), p. 647.

85. Eric Scokes, "The First Century of British Colonial Rule in India: Social Revolurion

or Social Stagnation?", Past and Present 58 (fev. de 1ª73), p. 151.

86. Dietmar Rothermund, An Economic History ofIndia, Nova York 1988, p. 36; Dutt,

Open Letters, p. 48.

87. Lu Aiguo, China and the Global Economy Since 1840, Helsinque 2000, pp. 34, 37e 39 (Tabela 2.4).

88. J. W Wong, Dead!y Dreams: Opium and the Arrow ~,. (1856-1860) in China,Cambridge 1998, pp. 390 e 396. As importações de chá britânico da China, que o

ópio também financiava, eram a fonte dos lucrativos impostos alfandegários que

em meados do século quase cobriam os custos da Marinha Real (pp. 350-55).

89. Lu Aiguo, p. 36.90. Latham, Tbe Intematianal Economy, P: 90. A (ndia (incluindo a Birmânia) também

teve grandes lucros com as exportações de arroz para as índias Orientais Holandesas.

91. Ibid, pp. 409-10. Ver também M. Greenberg, Britisb Trade and th« Opening of Chi-na, Cambridge 1951, p. 15.

92. Latharn, pp. 453-4.

93. Ibid, pp. 81-90. Após a vitória do Japão em 1895, contudo, suas exportações têx-

teis começaram a superar as de índia e Grã-Bretanha no mercado chinês (p. 90).

94. Cain e Hopkins, P: 425.

95. Jerome Ch'en, State Economia Polices ofthe Ch'ing Gouernment, 1840-1895, Nova

York 1980, p. 116.

96. Latham, ibid.

97. John Hobson, "The Military-Extraction Gap and the Wary Titan: The Fiscal

Sociology of British Defense Policy, 1870-1913", [ournal of European EconomicHistory 22:3 (inverno de 1993), p. 480.

NOTAS

98. Os historiadores ainda têm de tratar ~3 queixa de Chi-rning Hou em 1963 de que"não foi feito nenhum estudo sério dos efeitos dessas guerras na economia chinesa"

("Some Reflecrions on lhe Economic History of Modern China, 1840-1949",[ournal ofEconomic History 23:4 [dez. de 1963], P: (03).

9~. Bohr, p. 24.100. Micheíle McAlpin, "Price Movements and Flucruarions in Economic Acriviry", em

Durnar (ed.), Cambridge Economia History ofIndia, P: 890.101. John McGuire, "The World Economy, rhe Colonial Srate, and rhe Establishmenr

of the Indian National Congress", em I. Shepperson e Colin Simons (eds.), Thelndian National Congms and the Political Economy o/l"dia, 1885-1985, Avebury

1988, p. 51.

102. Nash, p. 88.103. McAlpin, "Price Movernenrs", ibid.104. Bandyopadhyay, Indian Famine, P: 130.105. De Cecco, pp. 62 e 74. "Os (indianos] consideravam a pressão fiscal excessivamen-

te alta, em vista do orçamento do governo indiano encontrar-se todo ano com sal-

do positivo e o país ter excedenre comercial ano após ano; além de o governo ter um

substancial saldo credor" (p. 74).106. Krishnendu Ray, "Crises, Crashes and Speculation", Economic and Political Week!y

(30 julho de 1994), pp. 92-3. Em 19: 3, a conta do Governo da índia em Londres

era de 136 milhões de libras esterlinas (ibid.).107. Dieter Rotherrnund, "The Monetary Policy of Brirish Irnperialisrn", IESHR 7

(I970), pp. 98-9.108. Wilkinson, pp. 34, 41-3,52.109. Wright, The Last Stand of(."'hinese Conseruatism, P: 166.

110. Ch'en, p. 120.

111. Aiguo, p. 48.112. Wilkinson, pp. 34, 41-3, 52.

113. Lewis, p. 216.114. Charlesworth, pp. 13 e 22.115. Tomlinson, "Econornics: The Periphery", p. 68 (Tabela 3.7).116. Citado em Bipan Chandra, "Colonial lndia: British versus Indian Views of

Developrnent", Revieu/ 14:1 (inverno de 1991), P: 102.

117. Bagchi, p. 27.118. William Laveiy e R. Bin Wong, "Revising the Mahhusian Narrative: The Com-

parative Study of Populaticn Dynamics in Late Imperial China", [oumal of AsianStudies 57:3 (agosto de í998), pp. 714-48.

119. Esther Boserup, Tbe Conditions of AgricuLtural Growth: The Economics of AgrarianChange Under Population Pressure, Chicago 1967.

465 II·

I

Page 22: Holocaustos Coloniais - Cap 9

.,

HOLOCAUSTOS COLONIAIS

120. Angus Maddison, Cbinese Economic Peformance in the Long Run, Paris 1998, p.

39. Ver também Zhang Kaimin, "The Evolution of Modero Chinese Societyfrom the Perspective of Population Changes, 1840-1949", em Frederic Wakeman

e Wang Xi (eds.), Cbinas Quut for Madernieation: A Historical Perspectioe,

Berkeley 1997.121. Pomeranz, p. 121.i22. Gemet, p. 560.123. Martin Heijdra, "The Socio-Economic Development of Ming Rural China (1368-

1644)", tese de doutorado, Princeton Universiry 1994, pp. 50-56; e Mote, pp. 903-6.124. Mote, p. 906.125. Porneranz, "Two Worlds ofTrade", pp. 81-3.126. Patrick O'Brien, "Intercontinental Trade and Third World Developmenr" ,Journal

ofWorld History (primavera de 1997), p. 91.127. Hardiman, "Well Irrigation in Gujarar", P: 1533. Ele está caracterizando as con-

clusões de Anil Agarwal e Sunita Narain (Dying Wisdom: Riu, Fali and Potential of

lndias Traditional Woter Harvesting Systems, Déli 1997).128. Feuerwerker, p. 21.129. Maddison, Chinese Economic Performance. P: 30.130. Como enfatizou o geógrafo Joshua Muldavin, a pobreza econômica e ecológica não

são equivalentes: Famílias com níveis idênticos de pobreza econômica podem ter

níveis extremamente diferentes de vulnerabilidade à instabilidade ou desastre cli-

máticos ("Village Srrategies for Maintaining Socio-Ecologic Securiry in rhe post-

Mao Era", trabalho inédito, Departamento de Geografia da UCLA, 1998).

Capítulo 10

A citação na epígrafe é de Romesh Chunder Dutt, Open Letters to Lord Curzon, Calcutá

1904, pág. 27.

1. Maddison, Cbinese Economic Pcrformancc, p. 67. As tentativas revisionistas de afir-

mar um aumento da renda per capis« na fndia vitoriana apesar do inegável colapso

na expectativa de vida são tratadas, em termos bastante devastadores, por Irfan Habib

em "Studying a Colonial Economy - Without Perceiving Colonialism", Modern

Asian Studies 19:3 (1985), pp. 368-74.2. H. M. Hyndman, Thc Awakening of Asia, Londres 1919, p. 22.3. B. Tornlinson, The Economy ofModan lndia, 1860-1970, Cambridge 1993, p. 31.4. Sumir Guha, "Inrroduction", in Guha (ed.), Grou/th, Stagnation or Decline?

Agricultural Productioity in Bririsb India, Déli 1992, pp. 45-6.

NOTAS 467

5. Kingsley Davis, Population oflndia and Pakistan, Princeton, NJ. 1951, p. 8. Calcu-

lada a partir da "década boa" de 1880 até 1911-21, Irfan Habib (Tabela 2, P: 373)constata que a expectativa de vida masculina diminuiu em 22 por cento.

6. Laxman Satya, "Cotton and Famine in Berar, 1850-1900", tese de doutorado, TufisUniversity 1994, pp. 50 e 155. Ver também Peter Harnetty, Imperialism and Fre«Trade: Lancasbire and lndia in the Mid-Nineteentb Century, Vancouver 1972.

7. Dewey, "The End of the Imperialism of Free Trade", P: 51.8. Stanley Wolpert, A Nao History of India, Oxford 1989, p. 248.9. Satya, pp. 21-7, 36-7,50-51,72,155,162,188-90 e 333; e "Introduction" à ver-

são em livro (Cotton and Famine in Berar; 1850-1900, Déli 1997), p. 25.10. Sarya, p. 182 (exportação); e Vasant Kaiwar, "Nature, Property and Polity in Colo-

nial Bombay",Journal of Peasant Studies 27:2 (jan. de 2000), p. 7 (área medida emacres).

11. Sarya, p. 182.12. Charlesworth, p. 81.13. Sarya, pp. 68 e 298.14. Ibid, p. 200.15. Ibid, pp. 148, 281-2 e 296.16. Tim Dyson, "The Historical DemographyofBerar, 1881-1980", em Dyson (ed.),

lndias Historical Demography: Studies in Famine, Disease and Society, Londres 1989,pp. 181-2.

17. David Washbrook, "The Commercialization of Agriculture in Colonial India:

Production, Subsistence and Reproduction in rhe 'Dry South', c. 1870-1930",Modern Asian Studies 28:1 (1994), p. 131.

18. Ibid, pp. 137 e 161. Em outro artigo, Washbrook afirma que o agricultor médio

tinha apenas metade da área de terra firme necessária à subsistência ("Economic

Developrnenr and Social Stratification in Rural Madras: The 'Dry Region' 1878-1929" in Dewey and Hopkins [orgs.], pp. 70-72).

19. David Washbrook, Tbe Emergence ofProvincial Politics: The Madras Presidency. 1870-

1920, Cambridge 1976, p. 69.20. Washbrook, "Commercialization of Agriculture", P: 145.21. Ibid, p. 146.22. Richards e McAlpin, p. 8323. Washbrook, "Cornmercialization of Agriculture", p. 153.24. Como em outras regiões na fndia, os acordos britânicos de posse de terra na década

de 1860 transformaram a posse condicional dos fazendeiros mongóis ou (nesse caso)

rnararhas com direito a cobrar impostos em um simulacro de uma classe de proprie-

tários rurais ingleses. A categoria dos malguzars, contudo, foi seriamente diminuída

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