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I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES

10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.

A INDÚSTRIA DE CAFÉ TORRADO E MOÍDO NO BRASIL E AS NOVAS

ESTRATÉGIAS DE PEQUENAS EMPRESAS DO SETOR

Daniel Mendes COUTINHO

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho ”-UNESP- Rio Claro/SP

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

A competitividade produtiva no espaço geográfico pode ser apreendida a partir da análise de

diversos conceitos teóricos abarcados por diferentes áreas do conhecimento como a geografia,

economia e a administração de empresas. Neste trabalho, a articulação de diferentes conceitos

de diferentes áreas do conhecimento, facilita a compreensão do objeto de estudo, trazendo

diferentes pontos de vista para o estudo proposto.

Porém, esse jogo de ideias demanda um cuidado nas análises, pois os diferentes conceitos

relacionados ao "fenômeno agroindustrial" como diz Silveira (2005, p. 217), expressam

"distintas possibilidades analíticas e oferecem-se a diferentes objetivos de pesquisa". As

categorias de análise “Circuito Espacial Produtivo” e “Cadeia Produtiva” são exemplos que

apresentam diferentes formas de analisar os mesmos fenômenos. (CASTILLO; FREDERICO,

2010).

Santos (1997) e Santos e Silveira (2001), caracterizam os circuitos espaciais produtivos como

circulação material que é caracterizada pelo movimento permanente de estruturas, formas e

equipamentos no encadeamento das instancias geograficamente separadas da produção,

distribuição e consumo. O circuito espacial produtivo de um determinado produto tem como

objetivo provocar um movimento permanente que cria vários sistemas técnicos e normativos

para viabilizar a fluidez de todo processo produtivo (SANTOS; SILVEIRA, 2001).

Já a cadeia produtiva é uma categoria de análise diferente, sendo definida por Prochnik (2002)

como um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e

transferidos os diversos insumos. Estes conceitos são extremamente operacionais, porém

demandam certo cuidado para não se confundirem.

Castillo e Frederico (2010, p.468) ainda observam que a principal diferença entre as duas

categorias de análise é que o circuito espacial produtivo tem o foco no espaço geográfico.

A abordagem proposta pelo circuito espacial produtivo, por sua vez, desloca o foco da

empresa para o espaço geográfico. O objetivo deixa de ser a identificação de gargalos que

dificultem a plena integração funcional e prejudiquem a competitividade final dos produtos e

passa a ser as implicações socioespaciais da adaptação de lugares, regiões e territórios aos

ditames da competitividade, bem como o papel ativo do espaço geográfico na lógica de

localização das atividades econômicas, na atividade produtiva e na dinâmica dos fluxos.

(CASTILLO; FREDERICO, 2010, p.468)

O circuito espacial produtivo do café é caraterizado por uma estrutura

relativamente grande com diversos agentes, como aqueles vinculados à

pesquisa e desenvolvimento de novas culturas agrícolas, produtores e

revendedores de insumos e maquinário agrícola, produtores, corretores,

torrefadoras, associações de produtores, cooperativas, empresas

exportadoras, transportadores e o consumidor final.

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Os vários agentes que participam do circuito produtivo do café se articulam através de

inúmeros fluxos de mercadorias, informações e capital, estando localizados nas regiões

produtoras dos grãos até os locais de controle e consumo da produção.

O circuito espacial produtivo do café, tem nas empresas de torrefação, que abastecem o

mercado interno brasileiro, um exemplo de agente que é responsável por uma das etapas mais

importantes do processo produtivo do café para consumo.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), em 2013, existiam no

território brasileiro aproximadamente 1.300 empresas de torrefação e moagem, com

aproximadamente 2000 marcas diferentes, sendo Minas Gerais e São Paulo os estados com

maior número de empresas cadastradas. Apesar do grande número de empresas, o setor se

encontra extremamente concentrado, tendo nas empresas transnacionais os agentes mais

poderosos deste mercado.

A política territorial das empresas torrefadoras transnacionais, visam por meio de ações e

normas corporativas chamar parte do território a participar do movimento geral da

globalização numa divisão territorial do trabalho. A dinâmica territorial do lugar se vê

conduzida, então, por políticas empresariais competitivas e o território passa a ser usado de

forma seletiva e corporativa (SANTOS; SILVEIRA, 2001) tornando essencial o entendimento

de aspectos da competitividade das empresas para a análise do território onde elas atuam.

O objetivo geral deste trabalho é analisar como as empresas de café torrado e moído

instaladas no Brasil se comportavam antes e depois das transformações técnicas e normativas

que ocorreram a partir da década de 1990, dando ênfase as pequenas empresas com suas

estratégias de sobrevivência no “livre mercado”.

Os objetivos específicos são: Apresentar o contexto político e econômico do mercado

brasileiro até meados da década de 1990 e a influência das regulamentações governamentais

na produção de café torrado e moído no Brasil neste período; analisar o comportamento das

empresas de café torrado e moído que atuam no Brasil a partir da desregulamentação do

mercado mundial do café com o fim dos acordos internacionais do café (AIC) e por fim

identificar as estratégias utilizadas pelas pequenas empresas para sobreviver no “livre

mercado”, que provocou no Brasil uma alta concentração produtiva por parte das empresas

transnacionais.

Este trabalho faz parte de uma dissertação de mestrado em execução, porém os objetivos

propostos aqui, já estão concluídos.

2. MÉTODOS

Na revisão de literatura priorizou-se a leitura sobre a evolução dos sistemas técnicos e

normativos da produção industrial de café no mercado brasileiro, considerando o contexto

político-econômico mundial e a fase da desregulamentação comercial da cafeicultura, no

início da década de 1990; o espaço geográfico, técnica e trabalho no atual período da

globalização e suas formas de reprodução em diversas escalas, do local ao global.

O levantamento de dados secundários forneceu informações necessárias para a comprovação e

fundamentação do que foi pesquisado nas leituras. De início foram levantados dados sobre a

produção de café no Brasil e no mundo, de maneira a entender a importância do país neste

setor. Também, foram coletados dados sobre a organização das diversas atividades do

processo produtivo do café torrado e moído, desde a produção agrícola, organização dos

produtores em cooperativas e associações, beneficiamento, torrefação e moagem além das

formas de diversificação produtiva criadas para conferir mais competitividade aos agricultores

e pequenos empresários do café.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Buscando o processo histórico da atividade agroindustrial do café no Brasil, percebe-se que

até meados da década de 1990, o mercado de café torrado e moído era regulamentado pelo

Instituto Brasileiro do Café (IBC), entidade autárquica com personalidade jurídica e

patrimônio próprio que concedia a autorização para a criação de empresas, além de

determinar os preços e a cota de produção das torrefadoras (BACHA, 1998).

O IBC foi criado com o objetivo de definir uma nova política produtiva e econômica para o

setor na década de 1950, coordenando e controlando as estratégias, desde a produção até a

comercialização interna e externa do café (EMBRAPA, 2014). É a partir deste momento que

o governo brasileiro deixa de focar apenas na estrutura produtiva agrícola para então passar a

intervir em todos os segmentos da agroindústria, com ações que ampliaram o esquema de

planejamento do sistema cafeeiro nacional, englobando a produção rural, a indústria, a

distribuição e o consumo (VOTTA; VIAN; PITELLI, 2006).

Os autores ainda apontam que a crise de superprodução da década de 1960, foi determinante

para o início do Estado planejador e coordenador da indústria de café no Brasil, sendo isto

observado a partir da implementação da "Campanha para o aumento do consumo interno de

café", cujo objetivo era diminuir a pressão do excesso de oferta sobre os preços do café no

mercado internacional.

Acreditava-se que o mercado interno brasileiro, seria capaz de absorver boa parte da produção

e com isso, as perdas não seriam tão drásticas como na década de 1930, onde o café chegou a

ser queimado depois de comprado pelo governo.

A partir daí parte do café verde produzido no Brasil passou a ser comprado pelo IBC que

definia os blends, que são mistura combinada das variedades de grãos, a serem produzidos e

então revendia a um preço único e subsidiado para as torrefadoras, que então repassava aos

consumidores mediante tabelamento de preços determinados pelo governo, o que aumentou

de maneira expressiva o consumo de café no mercado interno brasileiro. (BACHA, 1998).

Porém, este sistema regulador se esgotou e no início da década de 1990, com o fim do Acordo

Internacional do Café (AIC), que estipulava o preço internacional do produto e cotas para os

países exportadores, criou-se uma nova “necessidade” mercadológica, fazendo com que todos

os países produtores e consumidores de café passassem a ter um mercado sem

regulamentações, encerrando as atividades do IBC no Brasil e com isso gerando uma nova

realidade competitiva entre as empresas do setor.

A partir deste momento, o preço do café e as atividades das empresas torrefadoras passaram a

responder as leis do mercado e não mais por órgãos governamentais de regulação

(COUTINHO et. al., 1993).

O controle do IBC em relação a produção de café torrado e moído no Brasil, provocou uma

certa estagnação no desenvolvimento das empresas brasileiras, pois era o Estado que

praticamente determinava suas margens de lucro. Além disto, o IBC também definia a

quantidade de café que podia ser adquirida e vendida por cada empresa inibindo a

concorrência entre elas.

Com os preços controlados pelo IBC, a venda do café torrado e moído no Brasil independia

da qualidade do produto e com isso as empresas não eram estimuladas a adquirir matéria

prima de melhor qualidade, ou então, investir em inovações tecnológicas. Com isso, não havia

preocupação, por parte das empresas, em modernizar seu processo produtivo e de

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distribuição, seja em termos de maquinários e instalações, mão-de-obra ou forma de

comercialização de seu produto (ANDRADE, 1994).

A desregulamentação do mercado cafeeiro faz parte de uma série de ações oriundas da

chamada “crise de governabilidade” que de acordo com Gorz (2004) se trata do esgotamento

do modelo Keynisiano dirigista. O Estado inchado, com muitas atribuições, passou a se

apresentar muito vulnerável, criando a necessidade de um ordenamento “invisível” que viria

do mercado. O autor ainda ressalta que para esse novo modelo funcionar seria necessário que

o Estado passasse a estar a serviço da “Competitividade” das empresas aceitando as leis do

mercado.

Com este novo cenário de livre concorrência e fortalecimento de agentes altamente

capitalizados, a maior parte da produção de café torrado e moído no mundo, acabou se

concentrando em um número cada vez menor de empresas, a partir do processo de

centralização do capital (MARX,1984) tornando-as cada vez mais poderosas e capazes de

utilizar todo o território para suas atividades produtivas e comerciais.

A partir deste momento intensifica-se o movimento em que muitas empresas passam a

extrapolar suas atividades para fora de seus territórios nacionais em busca de mercados

consumidores capazes de proporcionar um maior crescimento de capital, caracterizando-se

assim como empresas transnacionais. A empresa transnacional é a empresa de grande porte

que controla ativos em pelo menos dois países. Ela responde pela quase totalidade dos fluxos

de investimentos externo direto (FID) e também é o principal agente de realização dos

processos de internacionalização da produção (GONÇALVES, 2002).

O Brasil como forte produtor e consumidor de café, acabou atraindo muitas dessas empresas

transnacionais que então passaram a definir como objetivo o controle do mercado interno

brasileiro que até então era dominado por empresas nacionais ainda muito vinculadas ao

campo, com relações comerciais pouco competitivas frente a força do mercado internacional.

O processo de aquisição e fusão de empresas torrefadoras já atuantes no mercado brasileiro,

foi a principal forma de entrada de grandes empresas transnacionais no Brasil. Estas empresas

buscaram negociar a aquisição de grupos empresariais brasileiros que já detinham um

mercado consumidor consolidado e que também tivessem um grande alcance territorial para

seus produtos. A partir daí empresas como a antiga Sara Lee, Strauss Elite e Mellita, passaram

a adquirir as principais marcas brasileiras, concentrando fortemente o mercado nacional.

Apesar da concentração da produção por parte de poucas empresas, o parque industrial de

café torrado e moído no Brasil, ainda se encontra bastante caracterizado pelo elevado número

de pequenas empresas, que apresentam uma atuação no mercado quase sempre regional ou

local.

Estas empresas foram as que mais sofreram com a abertura do mercado a partir da década de

1990, apresentando atualmente pouca representatividade produtiva, por enfrentarem

dificuldades em competir com as maiores por causa de grandes fragilidades relacionadas ao

baixo capital investido em tecnologias para a torrefação e moagem do café. Muitas destas

empresas acabaram não sobrevivendo, sendo fechadas ou então adquiridas por outras maiores.

Penrose (2006) diz que a concorrência entre grandes empresas é mais benéfica para a

economia como um todo e mais eficiente para satisfazer as necessidades dos consumidores do

que a concorrência entre as pequenas empresas. A autora acredita que por apresentarem um

maior montante de capital, as grandes empresas investem mais em quantidade e variedade de

bens e serviços cada vez mais baratos, graças as pressões exercidas pela concorrência

altamente competitiva.

Porém é evidente os danos que a concorrência entre grandes empresas, causa nas pequenas,

que no caso da indústria de café torrado e moído no Brasil são a maioria no mercado. A falta

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de condições em competir com as grandes empresas, muitas vezes, obriga as pequenas a se

utilizar de estratégias produtivas que depreciam a qualidade de seus produtos, criando formas

de barateamento produtivo, como a mistura de resíduos orgânicos na torrefação.

O acirramento da concorrência nesse contexto, gerou por parte dos agentes mais vulneráveis,

a busca por formas de diversificação da produção, sendo esta uma tendência confirmada tanto

para o produtor agrícola que é o primeiro estágio da produção, quanto para as pequenas

torrefadoras locais ou regionais, criando novas demandas e com isso norteando um certo

ajustamento competitivo.

Nas empresas de café torrado e moído, a diversificação produtiva, se dá a partir da criação dos

blends, permitindo as empresas, criar produtos diferentes para públicos diferentes o que lhe

confere vantagens competitivas frente a seus concorrentes. Já em relação aos produtores, a

cooperativa agroindustrial é a forma de diversificação que lhes conferem mais

competitividade, onde os produtores se reúnem em direção a atividades como

comercialização, industrialização e produção de insumos.

A diferenciação produtiva, também surge como uma estratégia de destaque para as

torrefadoras e pequenos produtores de café, visto que o café especial, principal forma de

diferenciação do café, oferece uma série de atributos a serem explorados. De acordo com

Daviron e Ponte (2005), a cadeia produtiva do café torrado e moído especial, pode apresentar

alguns atributos importantes que agregam valor ao produto a ser comercializado, sendo o

primeiro atributo o material que está intimamente ligada à qualidade do grão, sendo este o

único que tem a participação direta do produtor, o segundo é o simbólico que traz,

principalmente, a ação das certificações que classificam o café como convencional, superior e

gourmet e, por fim, o atributo da prestação de serviços, com a ação das cafeterias que vem se

consolidando dentro das grandes e médias cidades do Brasil.

As cooperativas, se tornaram a forma de organização que mais contribuiu para o

desenvolvimento dos cafés especiais. Neste caso, existem duas formas de organização, tendo

as cooperativas para fins de certificação e exportação, onde os produtores se organizam com

fins de armazenagem, rebeneficiamento e comercialização de seus cafés com certificação,

ainda em estado cereja, para o mercado externo e as cooperativas torrefadoras que tentam se

desvencilhar de intermediários e com isso passam a produzir seus próprios blends com

estrutura própria para a torrefação e moagem do café.

Quadros (2012, p.44) em sua tese sobre o estudo dos cafés gourmet na região da alta

Mogiana, indica a hipótese de que “a coordenação horizontal via cooperativa e a integração

vertical são as estruturas que permitem maior apropriação de quase-rendas aos produtores de

cafés gourmet”.

A diversificação viabilizada pelas cooperativas, ganha total importância na análise do circuito

espacial produtivo do café, por ser a principal forma de obter maior valor agregado na

produção e aumento do poder de barganha dos produtores com os outros setores do circuito.

Porém, Zylberstajn (1994) alerta que quando a cooperativa apresenta algum tipo de integração

vertical, os produtores podem se distanciar do processo de tomada de decisão referente aos

negócios da cooperativa. Isto acontece quando há um grande crescimento das atividades

cooperadas, demandando formas mais profissionais de gestão a fim de manter a

competitividade e o lucro para o negócio.

Esta tendência de cooperativas na função de torrefadoras, por muito tempo foi pouco

explorada, pelo grande número de intermediários que coexistiam dentro do circuito.

(VEGRO,1993)

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Segundo Coutinho & Ferraz (1994, p.286) "A entrada de cooperativas líderes na torrefação e

moagem, verticalizando atividades, aumenta a competitividade no setor” além de permitir ao

produtor uma maior parcela dos lucros totais que a indústria do café é capaz de gerar.

Doretto (2000), aponta que os seguimentos cooperativos que passam a exercer função de

torrefadoras, tornam possível uma nova forma de organização, onde os produtores conseguem

atuar a montante e a jusante da unidade de produção.

A participação direta do produtor no processo de torrefação e comercialização do café,

possibilita uma maior difusão de tecnologias produtivas para o café torrado e moído, pelo uso

do capital coletivo, sem a necessidade da negociação com corretores e outros intermediários,

tornando possível uma melhora na qualidade do café comercializado no mercado interno.

Talvez o principal exemplo para essa prática, seja a Cooperativa dos Agricultores Familiares

de Poço Fundo e Região (COOPFAM), que em 2009 participou de um projeto do Banco do

Brasil e com isso ganhou todo o maquinário para a torrefação e moagem de café, passando a

partir de então a comercializar o café de seus cooperados no mercado interno.

A produção de cafés especiais e a organização destes produtores em cooperativas e

associações, vem sendo um caminho interessante para a conquista de preços diferenciados em

relação ao café commodity (FREDERICO, 2014).

A prática de torrefação e moagem destes cafés especiais para o mercado interno vem se

tornando um nicho do mercado bastante rentável e de maior valor agregado para esses agentes

(produtores e torrefadores), sendo uma estratégia produtiva bastante interessante para a

sobrevivência no atual mercado do café, tendo as cooperativas como fortes viabilizadoras

desta atividade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No período da globalização, caracterizado pelo exponencial aumento dos fluxos materiais e

informacionais, emerge com muita força e difunde-se rapidamente o conceito de

competitividade que pouco a pouco deixa de ser um emblema somente das empresas, perpassa

toda a sociedade, tornando-se também um atributo dos lugares, das regiões e dos territórios.

(CASTILLO, 2008).

Percebe-se que o mercado altamente competitivo, criado após a desregulamentação da

cafeicultura, criou modificações nas relações entre os agentes do circuito espacial produtivo

do café, aumentando as desigualdades entre as empresas produtoras do café torrado e moído.

Com o que foi apresentado neste trabalho nota-se a dificuldade com que pequenas empresas

do setor, tradicionalmente instaladas no território, têm em sobreviver dentro do mercado

interno brasileiro a partir de sua abertura no início da década de 1990.

Fica evidente que a partir daí, com a entrada de empresas transnacionais e a "livre

concorrência" instaurada no mercado, inicia-se uma nova realidade, em que as pequenas

empresas nacionais precisam inovar em sua organização e no processo produtivo para não

acabarem indo à falência, ou então adquiridas por grandes empresas estrangeiras.

O fechamento de muitas dessas fábricas é um problema maior para as pequenas cidades que

as abriga, causando sérios problemas de ordem econômica e social como o aumento do

desemprego e o êxodo populacional desses trabalhadores para as periferias das grandes e

médias cidades.

Com tudo isso, a vulnerabilidade dessas empresas, frente ao “livre mercado” e a força dos

agentes hegemônicos internacionais, fez surgir estratégias de sobrevivência que então

possibilitasse maiores condições de negociação entre os agentes, dando ás pequenas empresas

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torrefadoras, maiores parcelas do mercado do café para consumo. A formulação de blends, se

torna uma estratégia valiosa, que mantém a competitividade de muitas dessas empresas.

Já as cooperativas, que nesse contexto, tornam-se instrumento da estratégia de produtores

rurais para a produção de cafés especiais, com a diversificação produtiva, passam a também

competir no mercado de torrado e moído. O intuito dessa prática é criar uma nova forma de

organização entre produtores, na tentativa de diminuir a dependência em relação as grandes

empresas exportadoras e torrefadoras internacionais.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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