I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES 10 E 11 · PDF fileresponder as leis do mercado e...
Click here to load reader
Transcript of I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES 10 E 11 · PDF fileresponder as leis do mercado e...
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
A INDÚSTRIA DE CAFÉ TORRADO E MOÍDO NO BRASIL E AS NOVAS
ESTRATÉGIAS DE PEQUENAS EMPRESAS DO SETOR
Daniel Mendes COUTINHO
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho ”-UNESP- Rio Claro/SP
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
A competitividade produtiva no espaço geográfico pode ser apreendida a partir da análise de
diversos conceitos teóricos abarcados por diferentes áreas do conhecimento como a geografia,
economia e a administração de empresas. Neste trabalho, a articulação de diferentes conceitos
de diferentes áreas do conhecimento, facilita a compreensão do objeto de estudo, trazendo
diferentes pontos de vista para o estudo proposto.
Porém, esse jogo de ideias demanda um cuidado nas análises, pois os diferentes conceitos
relacionados ao "fenômeno agroindustrial" como diz Silveira (2005, p. 217), expressam
"distintas possibilidades analíticas e oferecem-se a diferentes objetivos de pesquisa". As
categorias de análise “Circuito Espacial Produtivo” e “Cadeia Produtiva” são exemplos que
apresentam diferentes formas de analisar os mesmos fenômenos. (CASTILLO; FREDERICO,
2010).
Santos (1997) e Santos e Silveira (2001), caracterizam os circuitos espaciais produtivos como
circulação material que é caracterizada pelo movimento permanente de estruturas, formas e
equipamentos no encadeamento das instancias geograficamente separadas da produção,
distribuição e consumo. O circuito espacial produtivo de um determinado produto tem como
objetivo provocar um movimento permanente que cria vários sistemas técnicos e normativos
para viabilizar a fluidez de todo processo produtivo (SANTOS; SILVEIRA, 2001).
Já a cadeia produtiva é uma categoria de análise diferente, sendo definida por Prochnik (2002)
como um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e
transferidos os diversos insumos. Estes conceitos são extremamente operacionais, porém
demandam certo cuidado para não se confundirem.
Castillo e Frederico (2010, p.468) ainda observam que a principal diferença entre as duas
categorias de análise é que o circuito espacial produtivo tem o foco no espaço geográfico.
A abordagem proposta pelo circuito espacial produtivo, por sua vez, desloca o foco da
empresa para o espaço geográfico. O objetivo deixa de ser a identificação de gargalos que
dificultem a plena integração funcional e prejudiquem a competitividade final dos produtos e
passa a ser as implicações socioespaciais da adaptação de lugares, regiões e territórios aos
ditames da competitividade, bem como o papel ativo do espaço geográfico na lógica de
localização das atividades econômicas, na atividade produtiva e na dinâmica dos fluxos.
(CASTILLO; FREDERICO, 2010, p.468)
O circuito espacial produtivo do café é caraterizado por uma estrutura
relativamente grande com diversos agentes, como aqueles vinculados à
pesquisa e desenvolvimento de novas culturas agrícolas, produtores e
revendedores de insumos e maquinário agrícola, produtores, corretores,
torrefadoras, associações de produtores, cooperativas, empresas
exportadoras, transportadores e o consumidor final.
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
Os vários agentes que participam do circuito produtivo do café se articulam através de
inúmeros fluxos de mercadorias, informações e capital, estando localizados nas regiões
produtoras dos grãos até os locais de controle e consumo da produção.
O circuito espacial produtivo do café, tem nas empresas de torrefação, que abastecem o
mercado interno brasileiro, um exemplo de agente que é responsável por uma das etapas mais
importantes do processo produtivo do café para consumo.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), em 2013, existiam no
território brasileiro aproximadamente 1.300 empresas de torrefação e moagem, com
aproximadamente 2000 marcas diferentes, sendo Minas Gerais e São Paulo os estados com
maior número de empresas cadastradas. Apesar do grande número de empresas, o setor se
encontra extremamente concentrado, tendo nas empresas transnacionais os agentes mais
poderosos deste mercado.
A política territorial das empresas torrefadoras transnacionais, visam por meio de ações e
normas corporativas chamar parte do território a participar do movimento geral da
globalização numa divisão territorial do trabalho. A dinâmica territorial do lugar se vê
conduzida, então, por políticas empresariais competitivas e o território passa a ser usado de
forma seletiva e corporativa (SANTOS; SILVEIRA, 2001) tornando essencial o entendimento
de aspectos da competitividade das empresas para a análise do território onde elas atuam.
O objetivo geral deste trabalho é analisar como as empresas de café torrado e moído
instaladas no Brasil se comportavam antes e depois das transformações técnicas e normativas
que ocorreram a partir da década de 1990, dando ênfase as pequenas empresas com suas
estratégias de sobrevivência no “livre mercado”.
Os objetivos específicos são: Apresentar o contexto político e econômico do mercado
brasileiro até meados da década de 1990 e a influência das regulamentações governamentais
na produção de café torrado e moído no Brasil neste período; analisar o comportamento das
empresas de café torrado e moído que atuam no Brasil a partir da desregulamentação do
mercado mundial do café com o fim dos acordos internacionais do café (AIC) e por fim
identificar as estratégias utilizadas pelas pequenas empresas para sobreviver no “livre
mercado”, que provocou no Brasil uma alta concentração produtiva por parte das empresas
transnacionais.
Este trabalho faz parte de uma dissertação de mestrado em execução, porém os objetivos
propostos aqui, já estão concluídos.
2. MÉTODOS
Na revisão de literatura priorizou-se a leitura sobre a evolução dos sistemas técnicos e
normativos da produção industrial de café no mercado brasileiro, considerando o contexto
político-econômico mundial e a fase da desregulamentação comercial da cafeicultura, no
início da década de 1990; o espaço geográfico, técnica e trabalho no atual período da
globalização e suas formas de reprodução em diversas escalas, do local ao global.
O levantamento de dados secundários forneceu informações necessárias para a comprovação e
fundamentação do que foi pesquisado nas leituras. De início foram levantados dados sobre a
produção de café no Brasil e no mundo, de maneira a entender a importância do país neste
setor. Também, foram coletados dados sobre a organização das diversas atividades do
processo produtivo do café torrado e moído, desde a produção agrícola, organização dos
produtores em cooperativas e associações, beneficiamento, torrefação e moagem além das
formas de diversificação produtiva criadas para conferir mais competitividade aos agricultores
e pequenos empresários do café.
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Buscando o processo histórico da atividade agroindustrial do café no Brasil, percebe-se que
até meados da década de 1990, o mercado de café torrado e moído era regulamentado pelo
Instituto Brasileiro do Café (IBC), entidade autárquica com personalidade jurídica e
patrimônio próprio que concedia a autorização para a criação de empresas, além de
determinar os preços e a cota de produção das torrefadoras (BACHA, 1998).
O IBC foi criado com o objetivo de definir uma nova política produtiva e econômica para o
setor na década de 1950, coordenando e controlando as estratégias, desde a produção até a
comercialização interna e externa do café (EMBRAPA, 2014). É a partir deste momento que
o governo brasileiro deixa de focar apenas na estrutura produtiva agrícola para então passar a
intervir em todos os segmentos da agroindústria, com ações que ampliaram o esquema de
planejamento do sistema cafeeiro nacional, englobando a produção rural, a indústria, a
distribuição e o consumo (VOTTA; VIAN; PITELLI, 2006).
Os autores ainda apontam que a crise de superprodução da década de 1960, foi determinante
para o início do Estado planejador e coordenador da indústria de café no Brasil, sendo isto
observado a partir da implementação da "Campanha para o aumento do consumo interno de
café", cujo objetivo era diminuir a pressão do excesso de oferta sobre os preços do café no
mercado internacional.
Acreditava-se que o mercado interno brasileiro, seria capaz de absorver boa parte da produção
e com isso, as perdas não seriam tão drásticas como na década de 1930, onde o café chegou a
ser queimado depois de comprado pelo governo.
A partir daí parte do café verde produzido no Brasil passou a ser comprado pelo IBC que
definia os blends, que são mistura combinada das variedades de grãos, a serem produzidos e
então revendia a um preço único e subsidiado para as torrefadoras, que então repassava aos
consumidores mediante tabelamento de preços determinados pelo governo, o que aumentou
de maneira expressiva o consumo de café no mercado interno brasileiro. (BACHA, 1998).
Porém, este sistema regulador se esgotou e no início da década de 1990, com o fim do Acordo
Internacional do Café (AIC), que estipulava o preço internacional do produto e cotas para os
países exportadores, criou-se uma nova “necessidade” mercadológica, fazendo com que todos
os países produtores e consumidores de café passassem a ter um mercado sem
regulamentações, encerrando as atividades do IBC no Brasil e com isso gerando uma nova
realidade competitiva entre as empresas do setor.
A partir deste momento, o preço do café e as atividades das empresas torrefadoras passaram a
responder as leis do mercado e não mais por órgãos governamentais de regulação
(COUTINHO et. al., 1993).
O controle do IBC em relação a produção de café torrado e moído no Brasil, provocou uma
certa estagnação no desenvolvimento das empresas brasileiras, pois era o Estado que
praticamente determinava suas margens de lucro. Além disto, o IBC também definia a
quantidade de café que podia ser adquirida e vendida por cada empresa inibindo a
concorrência entre elas.
Com os preços controlados pelo IBC, a venda do café torrado e moído no Brasil independia
da qualidade do produto e com isso as empresas não eram estimuladas a adquirir matéria
prima de melhor qualidade, ou então, investir em inovações tecnológicas. Com isso, não havia
preocupação, por parte das empresas, em modernizar seu processo produtivo e de
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
distribuição, seja em termos de maquinários e instalações, mão-de-obra ou forma de
comercialização de seu produto (ANDRADE, 1994).
A desregulamentação do mercado cafeeiro faz parte de uma série de ações oriundas da
chamada “crise de governabilidade” que de acordo com Gorz (2004) se trata do esgotamento
do modelo Keynisiano dirigista. O Estado inchado, com muitas atribuições, passou a se
apresentar muito vulnerável, criando a necessidade de um ordenamento “invisível” que viria
do mercado. O autor ainda ressalta que para esse novo modelo funcionar seria necessário que
o Estado passasse a estar a serviço da “Competitividade” das empresas aceitando as leis do
mercado.
Com este novo cenário de livre concorrência e fortalecimento de agentes altamente
capitalizados, a maior parte da produção de café torrado e moído no mundo, acabou se
concentrando em um número cada vez menor de empresas, a partir do processo de
centralização do capital (MARX,1984) tornando-as cada vez mais poderosas e capazes de
utilizar todo o território para suas atividades produtivas e comerciais.
A partir deste momento intensifica-se o movimento em que muitas empresas passam a
extrapolar suas atividades para fora de seus territórios nacionais em busca de mercados
consumidores capazes de proporcionar um maior crescimento de capital, caracterizando-se
assim como empresas transnacionais. A empresa transnacional é a empresa de grande porte
que controla ativos em pelo menos dois países. Ela responde pela quase totalidade dos fluxos
de investimentos externo direto (FID) e também é o principal agente de realização dos
processos de internacionalização da produção (GONÇALVES, 2002).
O Brasil como forte produtor e consumidor de café, acabou atraindo muitas dessas empresas
transnacionais que então passaram a definir como objetivo o controle do mercado interno
brasileiro que até então era dominado por empresas nacionais ainda muito vinculadas ao
campo, com relações comerciais pouco competitivas frente a força do mercado internacional.
O processo de aquisição e fusão de empresas torrefadoras já atuantes no mercado brasileiro,
foi a principal forma de entrada de grandes empresas transnacionais no Brasil. Estas empresas
buscaram negociar a aquisição de grupos empresariais brasileiros que já detinham um
mercado consumidor consolidado e que também tivessem um grande alcance territorial para
seus produtos. A partir daí empresas como a antiga Sara Lee, Strauss Elite e Mellita, passaram
a adquirir as principais marcas brasileiras, concentrando fortemente o mercado nacional.
Apesar da concentração da produção por parte de poucas empresas, o parque industrial de
café torrado e moído no Brasil, ainda se encontra bastante caracterizado pelo elevado número
de pequenas empresas, que apresentam uma atuação no mercado quase sempre regional ou
local.
Estas empresas foram as que mais sofreram com a abertura do mercado a partir da década de
1990, apresentando atualmente pouca representatividade produtiva, por enfrentarem
dificuldades em competir com as maiores por causa de grandes fragilidades relacionadas ao
baixo capital investido em tecnologias para a torrefação e moagem do café. Muitas destas
empresas acabaram não sobrevivendo, sendo fechadas ou então adquiridas por outras maiores.
Penrose (2006) diz que a concorrência entre grandes empresas é mais benéfica para a
economia como um todo e mais eficiente para satisfazer as necessidades dos consumidores do
que a concorrência entre as pequenas empresas. A autora acredita que por apresentarem um
maior montante de capital, as grandes empresas investem mais em quantidade e variedade de
bens e serviços cada vez mais baratos, graças as pressões exercidas pela concorrência
altamente competitiva.
Porém é evidente os danos que a concorrência entre grandes empresas, causa nas pequenas,
que no caso da indústria de café torrado e moído no Brasil são a maioria no mercado. A falta
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
de condições em competir com as grandes empresas, muitas vezes, obriga as pequenas a se
utilizar de estratégias produtivas que depreciam a qualidade de seus produtos, criando formas
de barateamento produtivo, como a mistura de resíduos orgânicos na torrefação.
O acirramento da concorrência nesse contexto, gerou por parte dos agentes mais vulneráveis,
a busca por formas de diversificação da produção, sendo esta uma tendência confirmada tanto
para o produtor agrícola que é o primeiro estágio da produção, quanto para as pequenas
torrefadoras locais ou regionais, criando novas demandas e com isso norteando um certo
ajustamento competitivo.
Nas empresas de café torrado e moído, a diversificação produtiva, se dá a partir da criação dos
blends, permitindo as empresas, criar produtos diferentes para públicos diferentes o que lhe
confere vantagens competitivas frente a seus concorrentes. Já em relação aos produtores, a
cooperativa agroindustrial é a forma de diversificação que lhes conferem mais
competitividade, onde os produtores se reúnem em direção a atividades como
comercialização, industrialização e produção de insumos.
A diferenciação produtiva, também surge como uma estratégia de destaque para as
torrefadoras e pequenos produtores de café, visto que o café especial, principal forma de
diferenciação do café, oferece uma série de atributos a serem explorados. De acordo com
Daviron e Ponte (2005), a cadeia produtiva do café torrado e moído especial, pode apresentar
alguns atributos importantes que agregam valor ao produto a ser comercializado, sendo o
primeiro atributo o material que está intimamente ligada à qualidade do grão, sendo este o
único que tem a participação direta do produtor, o segundo é o simbólico que traz,
principalmente, a ação das certificações que classificam o café como convencional, superior e
gourmet e, por fim, o atributo da prestação de serviços, com a ação das cafeterias que vem se
consolidando dentro das grandes e médias cidades do Brasil.
As cooperativas, se tornaram a forma de organização que mais contribuiu para o
desenvolvimento dos cafés especiais. Neste caso, existem duas formas de organização, tendo
as cooperativas para fins de certificação e exportação, onde os produtores se organizam com
fins de armazenagem, rebeneficiamento e comercialização de seus cafés com certificação,
ainda em estado cereja, para o mercado externo e as cooperativas torrefadoras que tentam se
desvencilhar de intermediários e com isso passam a produzir seus próprios blends com
estrutura própria para a torrefação e moagem do café.
Quadros (2012, p.44) em sua tese sobre o estudo dos cafés gourmet na região da alta
Mogiana, indica a hipótese de que “a coordenação horizontal via cooperativa e a integração
vertical são as estruturas que permitem maior apropriação de quase-rendas aos produtores de
cafés gourmet”.
A diversificação viabilizada pelas cooperativas, ganha total importância na análise do circuito
espacial produtivo do café, por ser a principal forma de obter maior valor agregado na
produção e aumento do poder de barganha dos produtores com os outros setores do circuito.
Porém, Zylberstajn (1994) alerta que quando a cooperativa apresenta algum tipo de integração
vertical, os produtores podem se distanciar do processo de tomada de decisão referente aos
negócios da cooperativa. Isto acontece quando há um grande crescimento das atividades
cooperadas, demandando formas mais profissionais de gestão a fim de manter a
competitividade e o lucro para o negócio.
Esta tendência de cooperativas na função de torrefadoras, por muito tempo foi pouco
explorada, pelo grande número de intermediários que coexistiam dentro do circuito.
(VEGRO,1993)
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
Segundo Coutinho & Ferraz (1994, p.286) "A entrada de cooperativas líderes na torrefação e
moagem, verticalizando atividades, aumenta a competitividade no setor” além de permitir ao
produtor uma maior parcela dos lucros totais que a indústria do café é capaz de gerar.
Doretto (2000), aponta que os seguimentos cooperativos que passam a exercer função de
torrefadoras, tornam possível uma nova forma de organização, onde os produtores conseguem
atuar a montante e a jusante da unidade de produção.
A participação direta do produtor no processo de torrefação e comercialização do café,
possibilita uma maior difusão de tecnologias produtivas para o café torrado e moído, pelo uso
do capital coletivo, sem a necessidade da negociação com corretores e outros intermediários,
tornando possível uma melhora na qualidade do café comercializado no mercado interno.
Talvez o principal exemplo para essa prática, seja a Cooperativa dos Agricultores Familiares
de Poço Fundo e Região (COOPFAM), que em 2009 participou de um projeto do Banco do
Brasil e com isso ganhou todo o maquinário para a torrefação e moagem de café, passando a
partir de então a comercializar o café de seus cooperados no mercado interno.
A produção de cafés especiais e a organização destes produtores em cooperativas e
associações, vem sendo um caminho interessante para a conquista de preços diferenciados em
relação ao café commodity (FREDERICO, 2014).
A prática de torrefação e moagem destes cafés especiais para o mercado interno vem se
tornando um nicho do mercado bastante rentável e de maior valor agregado para esses agentes
(produtores e torrefadores), sendo uma estratégia produtiva bastante interessante para a
sobrevivência no atual mercado do café, tendo as cooperativas como fortes viabilizadoras
desta atividade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No período da globalização, caracterizado pelo exponencial aumento dos fluxos materiais e
informacionais, emerge com muita força e difunde-se rapidamente o conceito de
competitividade que pouco a pouco deixa de ser um emblema somente das empresas, perpassa
toda a sociedade, tornando-se também um atributo dos lugares, das regiões e dos territórios.
(CASTILLO, 2008).
Percebe-se que o mercado altamente competitivo, criado após a desregulamentação da
cafeicultura, criou modificações nas relações entre os agentes do circuito espacial produtivo
do café, aumentando as desigualdades entre as empresas produtoras do café torrado e moído.
Com o que foi apresentado neste trabalho nota-se a dificuldade com que pequenas empresas
do setor, tradicionalmente instaladas no território, têm em sobreviver dentro do mercado
interno brasileiro a partir de sua abertura no início da década de 1990.
Fica evidente que a partir daí, com a entrada de empresas transnacionais e a "livre
concorrência" instaurada no mercado, inicia-se uma nova realidade, em que as pequenas
empresas nacionais precisam inovar em sua organização e no processo produtivo para não
acabarem indo à falência, ou então adquiridas por grandes empresas estrangeiras.
O fechamento de muitas dessas fábricas é um problema maior para as pequenas cidades que
as abriga, causando sérios problemas de ordem econômica e social como o aumento do
desemprego e o êxodo populacional desses trabalhadores para as periferias das grandes e
médias cidades.
Com tudo isso, a vulnerabilidade dessas empresas, frente ao “livre mercado” e a força dos
agentes hegemônicos internacionais, fez surgir estratégias de sobrevivência que então
possibilitasse maiores condições de negociação entre os agentes, dando ás pequenas empresas
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
torrefadoras, maiores parcelas do mercado do café para consumo. A formulação de blends, se
torna uma estratégia valiosa, que mantém a competitividade de muitas dessas empresas.
Já as cooperativas, que nesse contexto, tornam-se instrumento da estratégia de produtores
rurais para a produção de cafés especiais, com a diversificação produtiva, passam a também
competir no mercado de torrado e moído. O intuito dessa prática é criar uma nova forma de
organização entre produtores, na tentativa de diminuir a dependência em relação as grandes
empresas exportadoras e torrefadoras internacionais.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CAFÉ. Indicadores da indústria de
café no Brasil - 2012. Disponível em: http://www.abic.com.br
BACHA, C.J.C. A cafeicultura brasileira nas décadas de 80 e 90 e suas perspectivas.
Preços Agrícolas, v.7, n.142, p.14-22, ago. 1998.
CASTILLO, R.; FREDERICO, S., Espaço geográfico, produção e movimento: uma
reflexão sobre o conceito de circuito espacial produtivo. Sociedade e Natureza, 22, dez. 2010.
COUTINHO, L.G. & FERRAZ, J.C. & SANTOS, A.& VEIGA, P.M. (Coord.). Estudo da
competitividade da indústria brasileira- competitividade da indústria de café. (Nota
Técnica Setorial do Complexo Agroindustrial). Campinas: Unicamp, 1993.
DAVIRON, B.; PONTE, S. Le Paradoxe du Café. Nova Iorque: Zed Books LTD, 2005.
DORETTO, M. Café: competitividade da cadeira produtiva no sistema cooperativo do
Paraná. Londrina: IAPAR, 2000.
FREDERICO, S. Circuito espacial produtivo do café e o jogo de escalas. Mercator,
Fortaleza, v. 13, n. 1, p. 37-48, jan. /abr. 2014
GONÇALVES, R. A empresa transnacional. In HANSENCLEVER, L.; KUPFER, D. (Org.)
Economia Industrial. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p.389-411.
GORZ, A. Misérias do presente, riqueza do possível. São Paulo: Annablume. (Cap. 1 – Do
Estado Social ao Estado do Capital, 9-35).
LEÃO, E. A.; PAULA, N. M. A Produção de Cafés Especiais no Brasil e a Emergência de
Novos Padrões de Competitividade. In: ANPEC SUL, 2010, Porto Alegre. XIII Encontro
Regional de Economia, 2010.
MARX, K. O Capital, São Paulo: abril Cultural, 1984.
OLIVEIRA, C. N. A Produção de Café Orgânico como uma Alternativa à
Vulnerabilidade Territorial do Sul de Minas. In: XVI Encontro Nacional de Geógrafos,
2010, Porto Alegre - RS. XVI Encontro Nacional de Geógrafos, 2010.
PENROSE, E. Firmas Crescentes em uma Economia em Expansão: o processo de
concentração produtiva e os padrões de dominância. In: ______. A Teoria do Crescimento da
I CONGRESSO DE GEOGRAFIA E ATUALIDADES
10 E 11 de Julho de 2015 - UNESP – Rio Claro, SP.
Firma. Tradução técnica: Tomás Szmrecsanji. Campinas – SP: Editora UNICAMP, 2006.
Cap. 11, p. 339-386.
PROCHNIK, V. Cadeias produtivas e complexos industriais, (Seção do capítulo “Firma,
indústria e mercados”, do livro Hasenclever, L. e Kupfer, D. Organização Industrial, ed.
Campus, 2002).
QUADROS, A.V. de C. Estruturas de governança na cadeia produtiva de cafés
gourmets: Caso dos produtores da Alta Mogiana. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade
Estadual de Campinas, 2012.
SILVEIRA, R.L.L. da. Complexo agroindustrial, rede e território. In: DIAS, L. et al.
(Org.), Redes, Sociedades e territórios. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2005. p. 215-254.
SANTOS, M. “Da política dos estados à política das empresas” In: Caderno da Escola do
Legislativo, Belo Horizonte, MG. 1997.
SANTOS, M e SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI.
Rio de Janeiro: Record, 2001. 473 p.
VEGRO, C. R. Competitividade da indústria do café: Informações Econômicas, SP, v.24, n.2,
fev. 1994.VEIGA, S. M; RECH, D. Associações: Como Constituir Sociedades Civis Sem
Fins Lucrativos. 1ª Ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2002.
VOTTA, T.B; VIAN, C.E; PITELLI, M.M. A desregulamentação no mercado de café torrado e
moído e a emergência de campos organizacionais: uma análise prospectiva e uma agenda de
pesquisa. In: 44th Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
(SOBER) Fortaleza, Ceará, Brasil: Universidade Federal do Ceará, 2006. SSD 138.