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2kolunaaberta

\

As Irombetas da ARENAe as pernas do MDB

A Editoria

Florinda Bulcão

Agenda

Falaram as urnas. De suas bocas saiu

(ou deve ter saído) a voz do povo. Passa-

dos 15 dias do pleito em que se

empenharam o governo e a oposição —

'\RENA e MDB - é chegado o momento

ie se analisar a vontade popular. Saber

como se exprimiu a vontade popular.

Friamente, sem as paixões dos primeiros

instantes de euforia ou tristeza. Sem o

trombeteamento de vitória cantada pelos

dirigentes arenistas. O esmagamento da

oposição de que vem falando a chamada

grande imprensa.

Dois fatos incontestáveis desmentem

tanta euforia nos arraiais governistas. Pri-

meiro que a oposição não foi esmagada,

pelo contrário cresceu. Ganhou o voto

de qualidade. Ganhou nas grandes cida-

des. Segundo, que não perdeu tanto as-

sim porque só disputou as eleições em

cerca de 25 por cento dos municípios

brasileiros. Nesta desproporção, o gover-

no, ou melhor a ARENA, saia, antes

mesmo do povo se pronunciar, com uma

vantagem de 75 por cento - três quartos- sobre a oposição o MDB.

Se quisermos fazer uma análise isenta

das eleições, sem paixão, estudando ape-

nas as cidades onde houve disputa, onde

se ofereceu uma opção ao povo, veremos

que o grande vencedor foi o MDB, ou

seja a oposição. Na maioria das 900 cida-

des onde houve disputa, ganhou o MDB,

e o mais importante, ganhou em quase

todas as grandes cidades, nas grandesconcentrações urbanas, e ganhou bem.

Querem um exemplo? Campinas, São

Paulo, os três candidatos da ARENA so-

maram 30 mil votos, os três do MDB 104

mil, sendo que o prefeito eleito, sozinho,

teve 54 mil votos.

Coagido, perseguido, lutando deses-

peradamente contra a máquina governa-mental em todos os Estados e principal-mente no Rio Grande do Sul e na Bahia,

além da traição em suas próprias hostes,

como na Paraíba, o MDB conseguiu uma

grande vitória. Ganhou bem. Ganhou nas

grandes concentrações Surpreendeu, em

alguns casos, seus próprios dirigentes,

como em Manaus, onde tinha 3 dos_11

vereadores e agora inverteu as posições,

surpreendendo governo e a si próprio.Fez um vereador com 8.500 votos, fato

nunca ocorrido na capital do Amazonas,

onde não houve eleição para prefeito.

Na Bahia, foi aquele banho. Derro-

tando a máquina em seis das sete princi-

pais cidades do Estado. Ganhou em Ita-

buna. Feira de Santana, Alagoinhas,

Jequié, Vitória da Conquista e Salvador,

perdeu apenas em Ilhéus. Onde a vitória

do governo, da ARENA? O governador

baiano atribuiu a derrota "a

minha boa

administração, não permitindo sujeitos

incapazes nos cargos importantes, trouxe

para mim uma pequena desvantagem po-

lítica, e por isso o MDB conseguiu algu-

mas poucas vitórias em meu Estado". Se

sofisma ganhasse eleição, o Sr. Antônio

Carlos Magalhães não perdia uma sequer.

No Paraná, a oposição ganhou nas

grandes cidades. Em Minas Gerais foi a

mesma coisa, para não falar de Alagoas,

Sergipe, Pernambuco, Goiás, Maranhão,

Amazonas, Pará. O MDB perdeu no Rio

Grande do Sul, mas foi uma derrota hon-

rosa. Naquele Estado travou uma luta

desleal. Sim este é o termo exato. Des-

leal, porque desigual foi em todos os

Estados. No Rio Grande teve que enfren-

tar toda a estrutura nacional: os governos

estadual e federal. O empenho do presi-

dente Mediei, de quatro ministros de es-

tado e dos chefes das Casas Civil e Mili-

tar. Mesmo assim não perdeu feio. Ga-

nhou em Porto Alegre, a capital do Esta-

do e em algumas cidades do interior.

O que não se entende é o choro dos

dirigentes nacionais do MDB. Desde o

primeiro instante sabiam que a luta era

desigual, que disputavam a vontade po-

pular em apenas 25 por cento das comu-

nidades nacionais. Mesmo assim nem to-

dos se empenharam para dar um apoio

eficaz aos poucos e aguerridos compa-

nheiros que lutavam para manter de pé a

bandeira da oposição. Afastadas as pou-

cas e honrosas exceções, como os depu-

tados Francisco Pinto e Nei Ferreira, na

Bahia; Alencar Furtado, no Paraná; João

Menezes, no Pará Tancredo Neves, em

Minas Gerais; Marcos Freire, em Pernam-

buco; Paes de Andrade, no Ceará e uns

poucos outros, a grande maioria dos diri-

gentes da oposição preferiu ficar em Bra-

sília lamentando e chorando, como ve-

lhas carpideiras, a exemplo do senador

Danton Jobim.

Quando não se acomodaram com a

desvantagem, traíram o eleitorado oposi-

cionista, a exemplo da Paraíba, onde as

velhas raposas Rui Carneiro e Argemiro

Figueiredo preferiram fazer um acordo

com a ARENA para garantir suas elei-

ções em 1974. Não apresentaram candi-

dato à prefeitura de Campina Grande,

tradicional reduto oposicionista. Deixa-

ram que o governador Ernani Sátiro e o

ex-governador João Agripino entrassem

em um acordo para entregar à cidade à

ARENA. Com gente deste tipo, realmen-

te, a oposição não tem futuro.

Que soem as trombetas dos arautos

do governo enquanto seus líderes têm

fôlego e enquanto a oposição não tem

pernas para chegar a todos os recantos

do Brasil, porque onde ela chega e tem

condições de luta, ganha. O exemplo

veio da Bahia. Que sirva de lição.

* Um fato vem despertando

a atenção dos observadores po-

Iíticos: a ascensão das mulheres

na vida política nacional. Nas

últimas eleições diversas prefei-

tas foram eleitas, destacando-se

o Ceará, onde nada menos de

nove mulheres são as dirigentes

máximas municipais, inclusive

em Uruburetana, cidade natal

de Florinda Bulcão, onde a dis-

puta foi entre duas mulheres.

Além disso várias mulheres es-

tão hoje nas Câmaras de Verea-

dores, algumas puxando vota-

ção. É a desilução dos homens

ou a ascensão das mulheres?

Que respondam os sociólogos.

* Não é nada boa a situação

do governador Chagas Freitas,

da Guanabara. Os últimos es-

cândalos políticos estão dete-

riorando sua imagem, mais ra-

pidamente do que se imagina-

va, e isto está criando uma

grande preocupação para o go-

verno federal, responsável dire-

to por todos os governadores

de Estado, apesar de no caso

carioca não ser tão grande a

participação do presidente Me-

dici na escolha de Chagas, um

homem do MDB. Semana pas-

sada, Chagas foi chamado ao

Palácio Laranjeiras, e por mais

de uma hora deu explicações

ao chefe da Casa Civil, Leitão

de Abreu, e da Casa Militar,

general João Batista de Figuei-

redo, antes de ser recebido pelo

presidente da República. A

Arena não tem dispensado

qualquer deslize do governa-

dor, e pretende levar sua oposi-

ção às últimas conseqüências,

inclusive pedindo a intervenção

federal. O presidente Mediei

tem agido com moderação,

procurando conciliar as coisas

para evitar uma medida drásti-

ca, que seria usada pelo MDB

como arma política. Sabe o

chefe do governo que o próprio

partido da oposição não man-

têm simpatias para com o Sr.

Chagas Freitas, mas que não

pensara duas vezes ate tomar

sua defesa, caso seja tentado o

seu afastamento.

* Na área legislativa carioca

também é grande a preocupa-

ção do Sr. Pascoal Citadino,

um inexperiente deputado alça-

do à presidência da Assembléia

Legislativa, e que tem servido

de massa de manobra tanto

pelo.governador como pela li-

derança do MDB. Honesto, o

Sr. Pascoal Citadino, com o seu

ar de pastor.protestante, procu-

rou imprimir um regime de aus-

teridade à Assembléia, mas sua

luta de dois anos parece queestá em franca deteriorizacão

nestes últimos meses, em de-

corrência da atuação do líder

do MDB, Levy Neves, uma ve

lha raposa oriunda do PSP e

PSD, com 25 anos de mandato,

e do próprio governador, que o

obriga a adotar as medidas mais

absurdas, contrariando, inclusi-

ve, sua formação moral. Em

decorrência disso, o Sr. Citadi-

no tem cometido até atos de

deselegância para com uma ve-

lha, experimentada e decente

deputada, Lígia Lessa Bastos,

que não resistindo às provoca-

ções do presidente lançou o

microfone de apartes contra

ele, num ato irrefletido.

Não demora muito e as

coisas vão mudar no mercado

segurador nacional. Pelo menos

assim pensa o Sr. Rafael de

Almeida Magalhães, presidente

da Federação Nacional das Em-

presas de Seguros Privados e

Capitalização, que acredita ser

esta a década do segurador bra-

sileiro. Paralelamente ao incre-

mento das atividades, medidas

governamentais darão ao segu-

ro no Brasil a mesma conststên-

cia e valor que ele desfruta nos

principais países do mundo

Ocidental.

Um Grupo Financeiro Es

tadual, composto por uma cm-

presa de turismo, uma distri-

buidora de valores, uma corre-

tora de seguros, uma adminis-

tradora de bens e, em planeja-

mento, uma empresa de comer-

cialização externa, foi a solu-

ção encontrada pelo governa-

dor Colombo Sales, de Santa

Catarina, para dotar o Estado

de uma infra-estrutura capaz de

absorver o desenvolvimento

tecnológico. Este Grupo Finan-

eeiro, controlado pelo Banco

do Estado, tem como princi-

pio, segundo seu presidente,

Lauro Linhares, conseguir a

permanente atualização admi-

nistrativa, simplificar os meto-

dos e rotinas, mecanizar os ser-

viços e aprimorar as técnicas Je

seu pessoal, de forma a concor-

rer com as grandes empresas

internacionais.

Um grupo novo de Teatro

apresentará dia 1o., às 21 ho-

ras, nt) auditório do Colégio

Sion, a peça A Morte Espreita

Ana Brasil. A peça foi escrita

pelo próprio grupo, num perío

do de busca pela liberdade <'

, morte por engano. Ou talvez

vida por engano.

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Paulo

Francis

Antes de conhecer os números

finais que deram a Nixon uma

das mais cômodas vitórias em

eleições presidenciais, Paulo

Francis já o dizia um demagogo.

0 GRANDE

f oI konjuntural

*

[DEMAGOGOI K^^WI

^Bh ^k ^B ¦ ** ^«^fl W Jll¦¦ ¦- mm'\^Ê «^ yâV I

lltf ^rm I^^^^A^l ^^r ^1

II Al I3 ¦**¦ II i4iR3 [** I

-Vim «fHBB 'JM ^L *¦ ¦

- re/7/70 cfe t//Ver ni//r?

mundo que não fiz, queabomino pela sua absoluta¦ ««.yubui/ «bíU ifkti, o^' I*H«V1 -

os valores humanos funda-

mentais e contra o qual só

posso contrapor palavras.Eu não sou nada, forçasimensas e incontroláveis

podem fazer de mim o que

quiserem. Essa a situaçãoem que me encontro como

indivíduo. Só me resta

protestar com minha pró-pria voz.

Se uma frase pode retra-

tai* um intelectual. Paulo

Francis está de corpo intei*

ro nessas seis linhas. Ele é

exatamente isso: uma po-

derosa força mental feita

de talento e independen-

cia. Dele se pode dizer,

sem exagero, que represen-

ta o melhor de sua geração

de escritores e jornalistas

engajados nas lutas ideolo-

qicas de seu tempo. Come-

çou crítico de teatro

(Revista da Semana, Diano

Carioca e Última Hora).

Aàuòou a fundar a revista

Sr. U* *****£Wainer «¦•?«**""•J*

agressivo critico de teatro,

Colunista político que kj-

go se revelou excelente nu*

ma coluna que fez época

na Ultima Hora.

Hoje, nos Estados Uni-

dos, Paulo Francis conse-

-jue o milagre de mandar

uma coluna diária (longa e

magnífica) para a Tribuna

da Imprensa, e artigos se-

manais para 0 Pasquim, e

Visão. E, como bolsista da

Fundação Ford, faz pes-

quisas para um livro sobre

os problemas do intelec-

tual depois de 1945. Tem

dois livros d» ***£*?*.

bUcados: Opinião Pessoal

(Civilização Brasileira) e

Certezas da Dúvida (Paz e

Terra).

Esta semana, a livraria

Francisco Alves Editora

SA., agora sob a direção

do almirante José Celso de

Macedo Soares Guimarães

está inaugurando no Brasil

uma linha de lançamento

que caracteriza as grandes

editoras do mundo: o livro

em cima do fato, o livro

análise de acontecimentos

ainda quentes. As eleições

norte-americanas foram

nas. Eia estará amanhã nas

bancas o livro de Paulo

Francis — Nixon x McGo-

vem - destinado a ser o

maior sucesso editorial do

Brasil este ano.

POLITIKA, cumprindo

seu programa de divulgar

grandes estudos da política

nacionai e internacional,

em primeira mão, apresen-

ta, hoje, o primeiro e o

último capítulos do livro

de Paulo Francis, pois eles

sintetizam todo o pensa-

mento da obra. Conheci-

dos os dois, os leitores sen-

tirão que é fundamental

lar o livro por inteiro. I é

sò ir is livrarias, porque ja

amanhã estará em todas.

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POLITIKA

konjuntura

»

O Vietnã foi a tônica da luta

eleitoral norte-americana, com

Nixon sofismando sempre, ante

a irritante apatia liberal de

McGovern, que perdeu sozinho.

O grande

demagogo

^________E___> ***«. ______________

¦ ¦" w Êk\ I EiGtorgt McGovern

Os EUAsão umacontradição

.,*¦• *¦* _„ •*.'..«?.• •*¦¦ ¦*

Este livro é uma polêmica anti-Nixon,

que ninguém tenha dúvidas. Nunca fui

repórter e nao acredito em objetividade

jornal ística. Ainda assim, acho que respei-

tei os fatos, se bem que os interpretando

a minha maneira.

Como o livro contém fortes críticas ao

estatritshment americano, convém que eu

explique minha posição exata em face dos

EUA. Gosto de viver e trabalhar nos

EUA. De formação, fui fortemente in:

fluenciado pela cultura americana. 0 paísé o mais livre do mundo. Os impedimen-

^. tos à liberdade e as recuetas em direitos

BB» civis são mínimos em comparação às queconheço em outras terras. No todo, o

caráter liberal da Revolução de 1776

permanece preservado internamente, de

maneira admirável, apesar de os EUA

serem o líder da contra-revolução mun-

dial. Quem nega a existência dessa contra-

diçSo — o que é comum em meios esquer-

distas - jamais entenderá o que se passanos EUA.

E é uma contradição atuante. A guerrano Vietnã me serve de exemplo. Esse

conflito provocou divisões no povo ameri-

cano superiores em intensidade e grávida-de à crise da Guerra da Secessão, no

Século XIX. É fácil dizer que o esta-

blishment decidiu encerrar a luta porqueo custo do intervencionismo excedeu de

muito os eventuais proventos. Afinal, o

imperialismo americano, no próprio Su-

deste da Ásia, vem sendo econômica-

mente contestado pelo Japão, que só

dispara transistores. 200 bilhões de dóia-

res postos na Indochina, a morte de 55

mil americanos, 300 mil feridos, a aliena-

ção rancorosa da juventude universitária e

da intelligent, o isolamento de Washing-

ton em meio aos aliados, a odiosidade

conquistada pelo país numa escala mun-

dial sem precedentes - chega um momen-

to em que até os banqueiros reconhecem

que a defesa da liberdade, nesses termos,

é um mau negócio.

Tudo isso é verdade, mas não é toda a

verdade. É quase certo que o movimento

antiguerra nos EUA impediu que Lyndon

Johnson e Nixon fossem às últimas conse-

qüências da intervenção, ou seja, desistin-

do de invadir o Norte e convertê-lo numa

poça de lama (na expressão de Barry

Goldwater) e de empregar armas táticas

nucleares. Certo, havia a possibilidade de

que a URSS e a China, apesar de subor-

nadas por viagens de Nixon portando

tentadoras bugigangas, reagissem mal se o

Vietnã do Norte fosse conquistado. Isso

pesou, por certo, nas considerações de

Johnson e Nixon. E é provável que nos 4

volumes de documentos do Pentágono,

que Daniel Ellsberg não deu à imprensa,

existam provas de que Washington^ e

Moscou se auto-limitaram de comum-acordo no que poderiam fazer na Indo-

china. Ainda assim, a opinião pública

americana foi, a meu ver, o fator decisivo

na contenção de Nixon e Johnson, que

resistiram à pressão do Pentágono para

que fossem à guerra de extermínio.• ...

O movimento antiguerra queria sim-

plesmente que os EUA deixassem deintervir na Indochina, no que é uma

guerra civil, permitindo que os comunis-tas chegassem ao poder. ISEo convenceu àmaioria do povo, mas fez com que este seopusesse à continuação da luta, ainda queaceitando as mistificações de Nixon sobrea necessidade de uma retirada com honra.Um meio termo de opinião, obtido emliberdade.

A barbárie americana no Vietnã é

indiscutível. Não tem paralelo na Histó-

ria, em Átila ou Hitler. A banda podre do

imperialismo em exposição pública. Ao

mesmo tempo, porém, a vitalidade das

instituições continuou inalterada, com a

melhor imprensa e a gente mais esclare-

cida do país se opondo à guerra. 0 caso

Ellsberg é típico: a Corte Suprema reco-

nheceu o direito do New York Times de

não ceder à censura, que a Primeira

Emenda da Constituição prqíbe, permi-tindo ao jornal divulgar documentos quedesmoralizavam o governo. Ellsberg, au-

tor, entre outras coisas, de um furto de

propriedade federal, vai a julgamento.Mas está livre, recebe tratamento jornalís-tico predominantemente favorável, e tem

o direito pleno à defesa. Não há outro

país no mundo onde esse tipo de dissidên-

cia e de desafio ao poder fosse tolerado.

É nos EUA, também que existe umaverdadeira revolução cultural. Tudo écontestado livremente no país. O medo da

gente convencional a esse tipo de ataque

Nixon é o

porta-vozdo passado

ao establishment e ao estabelecido redun-

dou em benefício eleitoral de Nixon, não

há dúvida. Mas isso não altera o fato de

que se pode tentar politicamente qual-

quer caminho nos EUA, desde que não

terrorista.

A liberdade de informação é tida como

uma das quimeras burguesas pelo esquer-

dista stalinóide típico. É verdade que uma

imprensa livre é, em boa parte, a li ber-

dade dos donos da imprensa que perten-

cem, direta ou indiretamente, aos núcleos

do poder econômico.

Mas há uma outra boa parte em queessa liberdade é exercida contra os que

gostariam de administrá-la exclusivamente

em benefício próprio. A rigidez das gene-ralizações se dissolve diante da realidade.

Inexiste crítica aos EUA, na imprensa

mundial, que não seja melhor feita pelaimprensa americana, inclusive com maior

conhecimento de causa.

Claro, Herbert Marcuse desenvolveu a

tese da tolerância repressiva em que a

liberdade burguesa é revelada em todas as

limitações. Concordo com quase tudo queMarcuse diz, mas qual a alternativa? A

burocracia ditatorial e decrépita da

URSS? Marcuse não propõe isso, natural-

mente, sendo um agudo crítico da URSS,

porém, a meu ver, ele não dá suficiente

ênfase à vitalidade do modelo políticoamericano.

Falha como é a liberdade burguesa,

ainda é melhor que nenhuma liberdade. A

ascensão de George McGovern — não

importa o resultado eleitoral — é prova de

que a democracia americana está longe da

caduquice. McGovern não representa e

não tem ligações com nenhum dos gruposeconômicos dominantes nos EUA. E

chegou a candidato do maior partido do

país.

Francamente, tenho dúvidas de quequalquer tipo de governo funcione, seja

qual for a pretensão em moda. Talvez a

própria idéia de governo precise ser revis-ta. O gigantismo da sociedade modernacria problemas de tal ordem que desço-nheço solução, na prática, que satisfaça à

Vários críticos notam que se a riqueza

dos EUA decaísse, os poderosos abando-nariam a pose democrática. É possível

que sim, mas como no momento não háindício disso, é melhor nos confinarmos auma análise do presente.

Os EUA entraram na década de 1970

num intenso processo de autocrítica

Nixon, apesar de porta-estandarte do

passado, teve, pelo menos, de pretenderinteresse pelas questões que agitam a

opinião inquieta e inconformista. Tema

não abordado neste livro, mas de vital

importância para uma análise dos EUA, e

a da dilapidação dos recursos naturais.

Começa a se debater a sério no país se

uma sociedade industrial e tecnológica é

um ideal desejável ou se levará, pela dinâ-

mica que lhe é característica, a uma

devastação irrecuperável da natureza. Nas

nações atrasadas, que sonham em erguer

se da miséria pela industrialização, essa

conversa soa monstruosa, sugerindo mais

uma diabólica manobra do imperialismo

para mantê-las na rabeira. Sem dúvida, o

governo americano propõe controles da

poluição etc, na ONU, que confirmam a

impressão dos críticos de que se trata de

uma jogada de Washington. Da mesma

forma, Nixon criou uma agência de defesa

do ambiente que ninguém leva a sério,

pois são as grandes indústrias, que finan-

ciam Nixon, que deveriam ser reguladas -

e obviamente não serão. Mas isso é apenas

um aspecto do problema. Quando um Paul

Erlich ou Robert L. Heilbroner sugerem

crescimento zero nos EUA, não estão a

serviço dos poluidores & Nixon. Prevêem,

com estatísticas persuasivas, o fim da

civilização no atual ritmo de morte dos

recursos naturais do mundo, superpopula-

ção etc.

Seja qual for o resultado desse debate,

a mim me parece claro que os EUA são

um país aberto a qualquer tipo de experi-

mento social, econômico e político.

Não devemos, evidentemente, confun-

dir a visão da intelligenttia com ado povo.

Em vários capítulos deste livro procuradodemonstrar que o próprio George

McGovern, supostamente um radical, ain-

da tem ilusões sobre o papel dos EUA no

mundo que os intelectuais que respeito há

muito abandonaram. E nisso McGovern

tipifica a maioria do povo. Um verdadeiro

movimento reformista nos EUA deveria

começar pela aceitação do fato de que o

país é a potência mais predatória que a

História já produziu.

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POLITIKA

O grande

demagogo

Nixon é um oportunista. E um

aventureiro. Não é nada. Não

lidera. Explora os liderados.

Mas McGovern não passou

de uma

patética figura de candidato.

Nixon não lidera

o povo

americano. Usa-o

e mantém o poder

Ao mesmo tempo, me pergunto se

outro povo, dispondo do poder ameri-

cano, seria tão sensível à crítica e à

autocrítica, tímida como a última ainda

é E Nixon, nesse particular, destoa bru-

talmente de presidentes anteriores, de

Franklin Roosevelt em diante. Roosevelt,

Truman, Eisenhower, Kennedy e

Johnson, todos gerentes do imperialismo,

tinham um senso de medida que Nixon

não exibiu até hoje. Nixon é um dos

maiores demagogos do Século XX. Assu-

me posições reacionárias ou meramente

oportunistas, sempre pretendendo que

está do lado da razão e do progresso. E é

um inimigo decidido das liberdades públi-

cas.

Nixon talvez represente a contradição

do que afirmei acima, da capacidade de

auto-regeneração do império americano.

Espero que não, mas seria absurdo pre-

tender certeza de que o país se recuperará

do baixo nível de consciência política em

que Nixon conseguiu anestesiá-lo.

De qualquer forma, a campanha de

1972 foi um exercício em liberdade, sem

paralelo no mundo. Tudo veio à tona,

inclusive o tipo de crítica ao imperialismo

que a maioria do povo ainda recusa.

Quando se contempla o mundo em volta,

ditaduras espoucando em toda parte (e

apoiadas pelo imperialismo), a mediocri-

dade apática da Europa Ocidental, ocon-

servadorismo esclerótico do stalinismo e

as trevas que se adensam na América

Latina, é possível que o modelo político

americano, com a capacidade que tem de

irradiar-se pelo mundo (no que tem de

bom e ruim), ainda seja um motivo de

esperança.

E Richard Nixon, fingindo que os pro-

blemas americanos não existem, confor-

tando os confortáveis e ignorando os des-

tituídos, poderá vir a ser um dos impul-

sionadores da reforma que os EUA ne-

cessitam, pois agravou de tal forma a crise

social no país que explosões de violência

me parecem certas, num futuro próximo,

obrigando o povo a repensar as premissas

falsas em que o presidente se baseia para

governar. Detalho o assunto neste livro.

Nixon não é, por outro lado, o que

também tentei provar, o ogre da mitolo-

gia esquerdista. Minha tese é que ele não é

nada. É um aventureiro, é um oportu-

nista. Não lidera. Explora os liderados.

Um homem perigoso.

George McGovern emerge da minha

narrativa uma figura algo patética, sempre

salva do ridículo por uma decência

pessoal inegável. Elizabeth Hardwick, es-

crevendo no New York Review, comen-

tou a vulnerabilidade de McGovern, acres-

centando que os verdadeiros líderes não

sofrem disso (que pode ser uma qualidade

pessoal).

0 aspecto cultural das eleições, que

menciono bastante no livro, merece uma

análise em maior profundidade, que espe-

ro um dia cometer. Aqui não caberia, pois

é um assunto tão complexo que deixaria

pouco espaço para outras questões funda-

mentais à compreensão da realidade ame-

ricana.

A reação cultural foi, porém, um fator

de fortalecimento de Nixon. As gerações

além dos 40 anos apoiaram o presidente

porque este é um inimigo declarado da

chamada contra-cultura, têrmo que abran-

ge os çostumes libertários da intelligentzia

do Leste dos EUA e os hábitos de parte

da juventude, que o público ingênuo cha-

ma de hippie. McGovern, apesar de tão

careta quanto Nixon (e mais em verdade,

porque McGovern é o representante da

classe média liberal, enquanto Nixon, a

despeito da fachada, foi o candidato da

alta burguesia plutocrática), ficou indis-

soluvelmente ligado aos exóticos.

A classe média tem uma poderosa ima-

ginação, ainda que nitidamente paranói-

de. Associa drogas a comunismo (o que

causaria pasmo em Moscou), a nudismo

(idem), ao simples dever da imprensa, de

apresentar os fatos, por mais desagradá-

veis que sejam aos defensores do bom

gosto.

A chave de Nixon é goebbeliana. Men-

tir em escala gigante. Apesar da evidência

oficial dos documentos do Pentágono

(sem falar dos estudos dos experts in-

dependentes), Nixon insistiu o tempo

todo em que a presença dos EUA na

Indochina se devia a motivos altruístas.

Para um povo que sente culpado por um

massacre, esse é o tipo de conversa que

acalma pavores noturnos. A posição anti-

busing (explicada em diversos capítulos) e

também um tônico para a maioria racista

que, desde Franklin Roosevelt, e repreen-

dida por todos os presidentes.

E por aí vai. Nixon afirmou sem parar

aos americanos que eles são ótimos, que

não fazem nada de errado, que o pais esta

sempre do lado do bem. O americano,

habituado ao mundo dos comerciais de

televisão, onde tudo se resolve, do amor a

velhice, se o produto certo for comprado,

não teve dificuldade de se identificar com

a linguagem do presidente, extremamente

lisongeira.

Henry Trumtn

^

konjunturaj

1RWP

'TyiB

Li-*.*

¦jk . 'IhB I

? A J.-

Já as tímidas crfticas de McGovern

pareciam sempre ecoar o protesto agressi-

vo dos dissidentes que, ainda por cima,

são, na maioria intelectuais, a camada

mais temida e detestada pela população.

McGovern ofendeu o senso de confor-

mismo do americano. Quis levá-lo a en-

xergar-se a si próprio, um pouco, ao

menos, esquecido de que essa é a mais

dolorosa das experiências humanas, como

bem sabiam os dramaturgos gregos.

Este livro não pretende ser uma análise

definitiva, ainda que polêmica, da eleição

de 1972. Procurei me subordinar aos

temas como eram levantados pelos candi-

datos, exceto no capítulo sobre a Guerra

Fria assunto que Nixon e McGovern evita-

ram por completo, perdendo uma ótima

oportunidade de educarem o povo.

Baseei-me exclusivamente nas minhas

opiniões, algumas preconcebidas, no que

observei, li e ouvi. Sei que isso não é

praxe, hoje, que a maioria dos analistas só

se sente segura se atrelar o texto a notas

ao pé de página, com chações etc. Prefiro

errar por conta própria.

Algumas repetições são inevitáveis,

porque os temas iam e vinham durante a

campanha. Procurei limitá-las ao máximo.

O melhor trabalho da gente é sempre

aquele que faremos um dia, mas eu menti-

ria se dissesse que não estou satisfeito de

I ter produzido este livro, escrevendo em

I cima da campanha, numa média de 8 mil

palavras semanais, arrancadas entre outros

pesados compromissos jornalísticos.

Por fim, espero que o leitor se divirta.

A política democrática tem sempre uma

componente de circo. Mas é melhor que j

nada.

Foi uma

vitória

insofismável

Foi uma vitória insofismável, mas o

que significa é outra conversa. Richard

Nixon celebrará o 200o. aniversário da in-

dependência americana na Casa Branca.

De George Washington a Richard Nixon.

As ironias se formam automaticamente na

nossa cabeça.

Algumas explicações: a vantagem em

votos populares seria bem menor se Geor-

ge Wallace houvesse concorrido. Wallace

teve 13,8% do voto, em 1968. Certamen-

te os manteria, talvez até os expandisse,

em 1972, dado o aumento do racismo os-

tensivo nos EUA. Subtraindo, digamos,

14% (uma estimativa conservadora) dos

60,8% de Nixon, teríamos 47% contra os

38% de George McGovern. Uma diferença

respeitável, sem dúvida, porém, não uma

avalancha.

Já a vitória política, em termos de Es-

tados e, portanto do Colégio Eleitoral, foi

devastadora. Nixon carregou 48 dos 50

Estados. Em outras palavras, o appeal do

presidente atingiu todos os grupos sociais

americanos, sem distinção de classe (so-

mente os negros compareceram em massa

pró-McGovern). Nixon é o dono dos

EUA.

Do ponto de vista partidário, o quadro

se complica. Os Democratas aumentaram

a maioria de que dispunham no Senado,

sustentaram (com a perda de 12 cadeiras)

a da Camara e dominam 31 governanças

estaduais.

Não toi dado, portanto, um cheque em

branco a Richard Nixon, pois o presidente

depende do congresso em legislação inter-

na (ao menos). Ou seria melhor dizer, o

povo continua desconfiante do Partido

Republicano. Nixon também? Ele não

mencionou praticamente o Partido duran-

te a campanha. Só nos últimos dias fez

alguns discursos em favor de alguns candi-

datos, coisa de última hora e sem convic-

ção aparente. Uma avalancha presidencial

pode produzir uma maioria parlamentar

(Lyndon Johnson, em 1964). Nixon não

pareceu interessado.

OI

Page 6: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

konjuntural

Na América Latina, para total

desespero de Nixon, todas as

revoluções serão contrárias

à permanência norte-americana

e seus interesses econômicos.

O grande

demagogo

terão mais

quatro anos

de guerrasConcentrou-se na formação de uma

nova maioria, como disse. Os anúncios

mais escandalosos do presidente eram

oficialmente pagos por uma organização

chamada Democratas pró-Nixon espúria,

por certo, mas dando o tom apartidário

da campanha de Nixon. Em parte, essa

tática é compreensível. Contra a imagem

de radicalismo indeciso de George Mc-

Govern, Nixon se propôs a si próprio, o

homem do centro, capaz de conversar

com Mao e Brezhnev sem vender a honra

dos EUA, o estadista da responsabilidade

e da paz, o grande unificador. Apesar

disso, Nixon precisa do Congresso «tpara

governar. Cínicos acham que ele prefere

uma maioria Democrata no Senado e

Câmara, pois assim poderá renegar pro-

messas domésticas, que nunca pretendeu

cumprir, pondo a culpa nos adversários.

Outros sugerem que Nixon quis dar uma

lição à Direita Republicana, demonstran-

do que ele, e não o Partido, é quem pesa

eleitoralmente. Toda conjectura vale, até

prova em contrário. O fato é que o povo

americano confinou a nova maioria à

presidência. É um obstáculo sério a uma

ditadura (ainda que eleita) Republicana.

Na outra grande democracia ocidental, o

premier domina executivo e parlamento.

Falo da Inglaterra. Nos EUA foi mantida

popularmente a separação entre os pode-

res.

Convém não exagerar. Nixon demons-

trou, nos primeiros quatro anos, que é

capaz de dobrar o congresso, quando

realmente se empenha (Vietnã, orçamen-

to do Pentágono). Sofreu algumas derro-

tas na legislação doméstica, mas, nesta,

ninguém pode predizer o que o Presidente

quer, tais os recuos, vacilações e a mistifi-

cação do estilo de Nixon. E é importante

notar que, em última análise, o que conta

no Congresso são as coalizões ideoló-

gicas. Democratas Sulistas e Republicanos

reacionários, por exemplo, sustentam fi-

nanceiramenle o militarismo do Penta

gono contra Democratas e Republicanos

liberais. E se opõem às iniciativas em

direitos civis de reforma fiscal e do

Welfare. Nixon jogará com esses fatores,

apostando quando e no que desejar. Uma

maioria Republicana formal, nesse senti-

do, talvez o obrigasse a tentar resolver os

verdadeiros problemas dos EUA. o que

não está, que se saiba, nos planos do

Presidente.

Mais quatro anos, gritava o eleitorado de

Nixon, e agora os tem. Poderá curti-los na

plenitude, pois o presidente, não podendo

reeleger-se em 1976, está livre e desem-

baraçado. A cara de Nixon, no dia da

vitória ao contrário do que muitos espera-

vam, era sóbria, traía mesmo vagas angus-

tias e dúvidas. Acabou a deliciosa empu-

lhação política, em que ele é mestre

inconteste. A realidade chegou.

No Vietnã, o presidente continuará à

procura de uma paz honrosa. 0 termo

pode ser entendido de duas maneiras, que

nada tem a ver com honra, sendo ambas

filhas da realpolitik. A primeira é conse-

guir manter no Sul um governo com-

preensivo, a exemplo do existente na

Coréia (Seul) em que o imperialismo

conserve uma cunha firme no país.

Não há indício de que Hanói e VC

aceitem essa solução. Acredita-se, inclusi-

ve, que Nixon comprou o silêncio da

URSS e da China sobre o assunto, com-

prometendo-se a permitir que o Vietnã

seja reunificado, ainda que no prazo

determinado por Washington, que assim

salvaria a face, internamente e em outras

províncias externas, onde existem vietna

em potencial,

Entramos aqui na estratégia do interva-

lo decente, de autoria de Henry Kissinger

e, presumivelmente, endossada por Ni-

xon. Há tempos, Kissinger disse a colegas

de Harvard que preferia um mao ismo

duro no Vietnã, dentro de dois anos, do

que um titoísmo mole, no momento. Em

outras palavras, Washington, dois anos

depois de ter saído do país, emitiria notas

furiosas de protesto contra um golpe ou

revolução comunista lá, aceitando, po-

rém, a situação, confiante em que o povo

americano já teria esquecido os 200 bi-

Ihões de dólares despendidos, a morte de

55 mil jovens, os 300 mil feridos e os

crimes de guerra contra os vietnamitas.

Um titoísmo mole (um regime brando),

no presente, criaria uma tal crise interna

nos EUA que Nixon não poderia conti-

nuar a execução do rapprochemente com

a China e URSS, pois os americanos se

entregariam, na frustração, a um neoma-

cartismo Esse argumento pesou muito

junto a Chu (Mao) e Brezhnev, ou pelo

menos, é o que Kissinger e assessores

informam aos jornalistas em entrevistas

off the record.

T..rJ<-> r>'>r<_^t- miiito lr»nii-r> am tortriai UUU (-•"« <->_c lliuiiu .^y.v-w, _... .c_iia,

e há a evidência de que os norte-vietnami-

tas e vietcongs aceitaram esse raciocínio

(baseados relutantemente, em virtude de

traições passadasr no endosso soviético e

chinês, sem falar de uma promessa de

créditos americanos, no montante de 7,5

bilhões de dólares, para reconstrução do

país).

É o que se sabe, de concreto, no

momento em que este capítulo foi escri-

to. O povo americano (52% acreditou queNixon estivesse terminando a guerra, des-

prezando as críticas de McGovern. O

eleitorado, porém, desconhece as sutilezas

que descrevi acima. Aceita a tese da paz

Nixon nâo

vive sem

Kissingerhonrosa, que soa bem. Mas não quer que

a guerra continue mais quatro anos. Se

Nixon persistir em manter o conflito é

quase certo que nas próximas eleições

parlamentares, em 1974, o espírito de

McGovern (baixado em outros cândida-

tos) venha a se manifestar nas urnas.

Idem, na eleição presidencial de 1976.

É difícil saber o que Nixon pretende.

Depois de aceitar um acordo, escandalosa-

mente anunciado por Kissinger 13 dias

antes da eleição, Nixon recusou-se a

assiná-lo em Paris, o que provocou reação

violenta de Hanói & VC e até de Chu

Eri-lai que, desde a visita, jamais criticara

o presidente nominalmente.

Já expliquei, em capítulos anteriores,

que a guerra do Vietnã tornou-se excessi-

vãmente onerosa para a classe dirigente

dos EUA em termos de investimento, do

desperdício que só facilitou a expansão

econômica japonesa e da Comunidade

Econômica Européia e, last but not least,

de dissidência social interna.

Nixon sabe muito bem disso, mas insis-

te na honra por motivos que vale recap-

tular. Um titoísmo mole seria o estopim

de revoltas em outras nações do III Mun-

do. Hoje sob tutela dos EUA, que sesentiriam encorajadas pelo sucesso deHanói & VC.

É um dilema. O intervalo decente do

Dr. Kissinger oferece uma solução (tem-

porária). Mas Thieu, o ditador do Sul, não

está disposto a dobrar-se por completo a

Washington, principalmente se isso impli-

ca na queda dele. Prudentemente, matou

ou pôs na cadeia todos os membros de

peso da oposição anticomunista no Sul.Ou seja, é impossível substituí-lo a exem-nln rjp n|pm( riijp OS 2rT.SrÍC3n0_ demiti

ram, em 1963, quando se tornou incon-veniente. Thieu sabe que se embarcar no

primeiro avião para a Suíça, o governo deSaigon desmoronaria - é apenas um exér-cito e uma política particulares de Thieu- levando ao poder o titoísmo mole queNixon e Kissinger tanto temem;

Daí a resistência audaciosa e debocha-da do ditador do Sul. Ele sabe queWashington não pode afirmar de públicoque o governo de Saigon é somente um

títere militar americano, pois isso désmo-ralizaria o esforço americano de 10 anos,

a fim de manterá democracia no paísconfirmando os críticos da guerra e o

derrotado George McGovern.

Nixon, até o momento, tem engolido a

chantagem do cliente. Procurará arrancar

novas concessões dos norte-vietnamitas e

VC. Mas quais poderiam ser? Os comu-

nistas jamais aceitarão qualquer esquema

que impeça uma solução nacionalista e

unificadora no Sul, o que significa a saída

dos EUA e o fim do reinado policial de

Thieu (ainda que este permanecesse diri-

gindo uma facção. Thieu recusa isso, na-

turalmente, porque sabe que duraria

pouco, se lhe tirassem o controle da

polícia, do exército e o apoio aeronaval

dos EUA).

Errarei se disser que Nixon está tonto?

O futuro responderá. Mas de uma coisa

estou certo: internamente, o plano Kissin-

ger funcionaria. A memória do público é

curta e, em dois, até por mecanismo de

defesa, os americanos não se lembrariam

do que cometeram no Vietnã.

Resta saber, porém, se não continuarão

aparecendo vietnãs em outras partes do

mundo. Kissinger, o mentor de Nixon,

pensa contê-los de duas formas: manten-

do soviéticos e chineses a distância dos

movimentos insurretos, subornando

Moscou e Pequim com comércio e esferas

de influência; e dando o máximo apoio a

ditaduras como a grega, a filipina, etc.

Tudo isso me sugere esparadrapo sobre

uma hemorragia interna. Os soviéticos e

chineses devem rir de Kissinger, pois

sabem muito bem que tem interferência

mínima (se alguma) nas revoluções em

outras partes do mundo. Só um diplo-

mata arcaico, à Ia Metternich, como

Kissinger acredita nessas coisas. As revolu-

ções continuam a ser ditadas pela miséria

dos povos. E sempre surpreendem. Quem

imaginaria um Fidel Castro, em 1956, ou

a resistência sobre-humana dos vietna-

mitas na década seguinte? Ou caindo à

direita, a tenacidade expansionista de

Israel? As médias e pequenas nações

começam, enfim a ter personalidade pró-

pria. É um processo irreversível, o que

demonstra o exemplo do Chile e Peru na

América Latina, o quintal dos EUA. E as

revoluções, nà maior parte, serão sempre

contra interesses americanos. Nixon e

Kissinger não conseguirão deter a Histó-

ria, ainda que criem intervalos consola-

dores, uma geração de paz como dizem.

Durará pouco.

Page 7: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

POLITIKA

0 gr and

o

demagogo

Embora o povo

americano seja

racista, não o é totalmente.

Necessita ser educado, porém

isto não interessa a Nixon, já

que ele é sua arma eleitoral.

^conjwtura^

Grande parte

do voto popular

fíxon deveu-se ao racismo

e policialism*

armas que

ele usa como ninguém

Grande parte do voto popular

de Ni-

xon se deve a racismo e policialismo. O

presidente fala, sem parar, que a América

dá oportunidade a todos. 0 exemplo do

busing, analisado em outros capítulos,

prova o oposto. Os negros e outras mino-

riais raciais continuam marginalizados.

Não param de reproduzir-se e de produzir

criminosos (uma saída dos miseráveis sem

esperança). Os brancos de classe média fo-

qem das cidades. Já expliquei, racismo a

parte, por que a sociedade tecnologica

dos EUA tende a provocar um desempre-

ao crescente da mão-de-obra não especia-

lizada, cuja maioria - em virtude do racis-

mo, que, inclusive, impede que recebam

uma educação aaceitável - é composta de

minoriais raciais.

0 busing é só um sintoma. Somente a

dessegregação racial pode propiciar a inte-

gração econômica de negros e similares.

Nixon, baseando-se nos temores da pe-

quena classe média branca, vetou o

busing. Obteve votos. Agravou o proble-

ma. E fez o que nenhum presidente ousou

desde (exclusive) Franklin Delano Roose-

velt, em 1932: escondeu o racismo enn ex-

pressões como qualidade de educação e

defesa da escola do bairro.

A revolta dos negros e de outras mino-

rias não desaparecerá, exceto se lhe or

imposta uma solução final. A dessegrega

ção exige reformas sociais profundas, que

se estendem além do busing, indo, demo

gogia à parte, à verdadeira igualdade e

oportunidade que começa, porém,^ pe a

educação. As escolas dos guetos são iguais

aos guetos. 0 busing visava, ao menos, a

tirar as crianças de cor do gueto, dando

lhes um futuro. Até isso Nixon impediu.

Claro, ninguém discute o direito do cida-

dão comum de exigir defesa contra o cri-

me nas ruas. Mas inexiste defesa eficiente

se as causas do crime não forem atacadas.

E aí voltamos ao tema da miséria, da fo-

'me da falta de empregos, que atinge a

cerca de 30 milhões de americanos.

O crime sério, sob Nixon, continuou

crescendo, apesar das fanfarronadas poli-

cialescas do presidente. Teve um aumento

de 411 mil unidades só em 1971. As esta-

tísticas gerais desceram porque

Nixon

mandou retirar delas as contravenções.

Mais mistificação.

É fácil culpar a pequena classe média

branca, que sofre nas costas paliativos co-

mo o busing. O que fazer? O povo^ameri-

cano é inapelavelmente racista? Não, ne-

nhum povo é, acredito. Mas precisa ser

educado. Nixon contenta-se em explorá-

Io eleitoralmente. A longo prazo, a expio-

são ou, na frase de James Baldwy, da pró-

xima vez, o fogo. Desta vez diria eu.

Idem, o crime. Nixon mistifica que bai-

xou o número de crimes no país. Propoe

liberdade para a polícia perseguir

os cri

minosos, sem friolagens jurídicas. E outro

apelo ao medo e ao ódio da pequena cias

se média branca, que surtiu efeito eleito-

ral. Jimmy Breslin, um liberal realista, co

mentou no dia da eleição: Os liberais pre

cisam desistir de dizer ao povo que uma

paulada na cabeça é uma questão social.

Uma paulada na cabeça dói, e é só. Nao e.

Não é fácil, por certo, convencer àdo-

na de casa, trêmula de medo nas ruas, que

o crime é uma questão social. Ela quer ver

o criminoso preso, e pronto.

Mas isso nao

acontecerá sem reformas, que resolvam os

problemas dos já citados 30 milhões de

americanos. Nixon, porém, queria votos

pelos atalhos fantasiosos da imagmaçao

popular, saturada de heróis de TV. Conse-

guiu os votos. O crime, porém,

continuará

no poder também.

E é impossível não perceber no policia-

lismo do presidente o objetivo de cercear

as liberdades públicas no pais,

a

j^

de

impedir que os dissidentes levem ao povo

uma versão diferente da realidade que a

Tseriado de TV. O principal pengopara

a democracia americana no«gundomar.

dato de Richard Nixon e que e e_podenS

nomear dois novos juízos da Corte_SuP

ma pois os liberais Douglas e Burke Mar-

shall dificilmente resistirão a mais quatro

anos doentes que estão. Surgiria, c0

seqüência disso, uma Corte dominada pe-

Ia reação fechando essa tradicional valvu-

la de escape das aspirações dos destitui-

dos. Se Nixon tiver a chance, é o que ta .

mo. Não exagero. Hitler usava os judeus

como bodes expiatórios da insatisfação

social e econômica da classe média alemã,

impedindo, assim, que ela visse o verda-

deiro inimigo, a estrutura de poder capita-

lista.

É um alvo fácil de visualizar. A dona de

casa da pequena classe média branca, fa-

zendo economias desesperadas no super-

mercado, não tem dificuldade de odiar o

negro bêbado que vê nas ruas e que ela

sustenta, pagando impostos convertidos

em Welfare. Não sabe, por certo, que dá

um cent. de cada dólar em imposto ao

negro, enquanto entrega 61% ao Pentágo-

no para que este tenha a capacidade de

destruir a terra 20 vezes, de produzir

aviões a 1 bilhão a unidade e que nunca

saem das provas, etc.

Essas foram as bases da vitória de

Richard Nixon, em 1972, contra o radical

George McGovern, que propunha algumas

modestas reformas das desumanidades da

estrutura de poder nos EUA. Não vejo

nada que dure no programa do presidente

sem um aprofundamento das tensões in-

ternas da sociedade que ele dirige pela

demagogia e desconversa.

Talvez o mais cínico e bem sucedido

dos aambitos eleitorais

de B^hard

^xon

mmm

quanto isso, o Esttdo, pe^

^

obrigado a SUP ng

esmagadora maio-

de americanos, o| níveis de

ria, não conseguemtrat>a no. Q

a

VJelfare5Su0maa'vida Suportável.

mas a Oi-

ninguém uma vioa sup entan.

Me pergunto, inclusive, se os espetacu-

lares de Nixon em Pequim e Moscou, a

parte os objetivos já analisados em outros

capítulos, não visavam também a distrair

a atenção do povo americano da crise

interna. Afinal, um mundo de paz, além

de ser uma coisa desejável, é um excelente

consolador para um povo que durante 2b

anos foi assustado com fantasias de holo-

causto nuclear. Esse é um dos recursos

mais antigos em política, transferir para

fora de casa o que não se pode (ou nao se

quer) resolver em casa. Henry V e Bis-

marck, estadistas bem superiores a Ri-

chard Nixon, certamente o utilizaram

com raro brilho.

Nixon, porém, é imprevisível e moldá-

vel por circustâncias. Desejo, sinceramen-

te, que as minhas previsões neste capítulo

se provem erradas. O sistema político

americano tem muito a recomendá-lo no

mundo de ditaduras em que vivemos. Eu

gostaria de vê-lo preservado.

Mas pauso e penso

na droga. Nixon,

eleito, lançou outro ataque aos trafican-

tes. Certo, são abomináveis, tão abominá-

veis como os fornecedores, entre os quais

o general Thieu do Vietnã do Sul, que

Nixon apoia. E, no entanto, pelo que vejo

aqui na classe média que decidiu a elei-

cão, os traficantes têm trânsito livre.

Oferecem a essa gente infeliz uma fuga da

realidade americana, que Nixon afirma ser

maravilhosa. Há uma profunda contradi-

ção aqui que paliativo algum resolve

-

químico ou político.

Uma palavra final sobre Georges

McGovern: ele perdeu fragorosamente a

eleição e inexiste desculpa para uma

derrota nessas proporções. Mas represen-

ta apesar das deficiências que apontei, a

outra América do título deste livro, que

tem ideais bem melhores que os das

velhotas árvore de Natal do Texas, que

reelegeram o presidente. E essa enorme

minoria jamais aceitará o Nix que

descrevi.

O que acontecerá a essa gente? h uma

elite, indiscutivelmente. E já se desti-,¦

'a

do processo democrático nos EUA Je

que os caciques Democratas vetaram as

candidaturas de Bobby Kennedy e fcuge-

ne McCarthy, em 1968 McGovern esten-

deu-lhes um pouco de esperança Agora,

voltara à orfandade política.

Eu não me surpreenderia se a e da

se voltasse para o terrorismo, o já

começou a fazer, pós-1968, até o surgi-

mento da candidatura McGovern. Mais

quatro anos do que vimos nes1 livro

certamente acionarão a esquerda desespe-

rada.

Restam, sem dúvida, as reformas que

McGovern (e James 0'Hara) fez no Parti-

do Democrata, que permitem a seleção de

candidatos do povo e não dos caciques, os

quais, naturalmente, sabotar; i ao máxi-

mo a campanha de McGovern.

E há, a figura de EdwarJ Kennedy

que, em 1976, poderá empunhar com

mais vigor a bandeira que McGovern

levantou, em 1972. Kennedy tem trânsito

junto aostncgovemistas e aos regulares do

Partido. Se não o matarem até lá, talvez

ainda haja um desfecho pacifico para o

drama americano dc que, gostemos nu

não, somos todos figurantes

Una vitória dri McGov i reabriria

possibilidades libe ais em todos os países

na órbita dos EUA, o que inclui, evidente-

mente, a América Latina e o Brasil.

Donde se deduz que não só McGovern foi

derrotado por Richard Nixon. Há uma

grande maioria silenciosa que não chegou

a votar e que um dia talvez se canse do

papel de bagai histórico a que foi

reduzida. Amém.

¦¦

Page 8: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

POLITIKA

vl "^^1

¦h^H^^^kei^H. PMpgfPPP*"?vW?Wm * fPfs'S^^^HHHral

Dizer que

o Legislativo está

vazio não é tudo.O principal

x

é procurar

as razões.E ir a

fonte de seu descrédito e não

permitir que ele desapareça.

Antonieta

Santos

LEGISLATIVO

análise

Embora não se possa

assegurar que o Congres-

so brasileiro tenha se tor

nado, a partir da procla-

mação da República, o

ponto de reunião de re-

presentantes de todas as

camadas sociais, também

não se pode negar sua

importância como ponto

de encontro das correntes

de opinião que se forma-

vam no país. Porr lá tran-

sitaram alguns dos maio-

res políticos, dos mais

brilhantes oradores, dos

piores politiqueiros, além

dos muitos que simples-

mente passaram, sem

qualquer brilho. Mas, se o

Congresso discutiu bana-

lidades, impediu algumas

decisões importantes para

o desenvolvimento, votou

matérias eleitoreiras, reu-

niu-se extraordinariamen-

te quando não foi preci-

so, participou, também, e

de maneira brilhante, de

importantes e históricas

decisões.

E, se arriscarmos uma

análise sociológica de seu

papel, veremos que o

Congresso brasileiro, sem-

pre que lhe foi permitido,

cumpriu seu papel, mos-

trando ser necessário ao

equilíbrio do nosso siste-

ma político.

A pesquisa Poder Le-

gislativo: uma análise fun-

cionalista? , que o cientis-

ta político Reinaldo de

Barros, da Escola Intera-

mericana de Administra-

ção Pública, está con-

cluindo para a Fundação

Getúlio Vargas, parece in-

dicar o caráter gesticulan-

te do nosso Congresso —

gesticulação da qual não

escapariam nenhum dos

partidos políticos, nem

mesmo aqueles que pre-

tendem imprimir um ca-

ráter ideológico à sua

ação.

O mundo moderno vê o enfraquecimento, em todos os quadrantes,

do poderio dos Legisladores. Nunca os Executivos tiveram tanta força e

tanto poder. Muitas são as explicações: incapacidade, falta de maturidade e

situações políticas excepcionais. Em países reconhecidamente democráticos como

os EUA, o presidente da República detem em suas mãos um poder de decisão já

extra-constitucional. Embora na teoria esta força pertença ao Legislativo, a prática

mostra que o .Executivo é quem manda. Claro que isto é apenas um exemplo.

O deputado que apresente 99 projetos para dotar municípios de implementos

agrícolas também está esvaziando o Poder Legislativo. Assim como os

regimes de exceção são os causadores, quase sempre, de sua morte.

Antonieta Santos é a

mais nova aquisição de

POLITIKA. Repórter

experiente, com passagens

nas redações dos priríciqais

jornais e revistas do

Rio e São Paulo, ela veio

para ficar e este é o seu

primeiro trabalho

aqui na casa. De agora em

diante nossos leitores

terão um encontro

marcado periodicamente

com a experiência de

Antonieta, que tem algo a

transmitir de seus

conhecimentos adquiridos

no Curso de Ciências

Sociais da antiga

Faculdade Nacional de

Filosofia e no Curso de

Pesquisa Sociológica

da UFRJ e na Última Hora

de São Paulo, Diário

Carioca, Folha de São Paulo,

Editora Abril, Diário de

São Paulo e Jornal da Tarde.

(A Editoria)

?

?

?

Antonieta

Santos

Page 9: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

?•••••¦§••«••••»••*

Legislativo,

um poder

mmm força

Na análise da debilitação do

Poder Legislativo no Brasil,

deve-se partir da dicotomia:

a crise atual é do Poder ou

_ dos homens que o representam?

I análise I

^^L v^^k ^JB mmmY "'" a^^ammm*

Wv v ^i - r 3

¦¦B Afonso

Essa pesquisa é a abordagem da

atuação política do Congresso, no

período de 1959 a 1965-um ano

depois do movimento político que

determinou significativa reforma na

super-estrutura brasileira, que atm-

giu principalmente, a forma de par-

ticipacão do Poder «Legislativo, com

a instituição de um novo Estado

brasileiro.

Diante dessa reforma, qual seria

o papel do legislativo na ordem

institucional do novo Estado?

Nossa situação seria igual à do

México, onde o cientista Pablo Ca-

sanòva observou que em resumo,

nota-se que o sistema de equilíbrio

de poderes não funciona. Há um

desequilíbrio marcado, favorecendo

o Executivo. É então que se perguo-

ta qual seria a função do Legisla-

tivo?

Decidir não

écomo

CongressoAs funções do Estado e seu papel

institucional tem mudado substan-

'Ciàlmente nas últimas décadas, em

'Wão da necessidade de comandar

•racionalmente o processo de mu-''dança

social. A evolução induzida,

Faz cotn que o Estado brasileiro

'passe de produtor de serviços a

produtor d.reto de bens de COnSU-

•mo Dessa forma, deixa de lado o

;08pel de ator secundário para assu-

•m,r diretamente, o de protagonista

'principal na esfera do desenvolvi-

j mento econômico.

lf Diante desse contexto, qual seria

o comportamento do Poder Legisla-

'tivo? 0 cientista político Remaldo

de Barros explica:

ção do Legislativo. Mas, em vez

disso observa Remaldo, o que se

constata, é que, o Poder Legislativo,

talvez por incapacidade e, quem

sabe, pela velocidade exigida nas

decisões, tem permanecido indife-

rente ou não tem sido consultado

ou chamado a participar das deci-

soes mais importantes.

Talvez a resposta esteja com Van

der Meersch, no trabalho Reflexões

sobre o tegime parlamentar Belga

quando diz existe, cada vez mais

evidente, a impressão de que o Par-

lamento não é mais o lugar adequa-

do para se tomar decisões. Nao so a

impressão: há certeza. Mas, talvez, o

papel do Parlamento, seja daqui por

diante, o de caixa de ressonância,

nada mais.

Na análise da debilitação do Po-

der Legislativo no Brasil, o pro tes-

sor Reinaldo de Barros pretende

testar esta dicotomia: a crise atual e

do Poder Legislativo ou dos homens

que o representam?

Evidentemente este novo papel

I exige do Estado, principalmente do

| ?&, Executivo urncornporta-

mento e exercício dc axnri™tas

daquelas exercidas quando o

seu papel era de mero Poder ae

Polícia Como afirma Afonso An-

no de Melo Franco, em A evolução

^ Crise Brasileira, anteriormente

"a estabilidade social se traduz.a em

estabilidade legislativa: as leis eam

poucas e raras, a evolução dodirei

io se processava vagarosamente e de

orma sistemática, por me,o da ela-

toracão amadurecida dos código*.

Esse novo papel, que exLge do

Estado presença e participação

nos

^s vanados setores, requer como

conseqüência, uma constante cria

- Alguns exemplos poderiam es-

clarecer melhor nossa colocação: a

necessidade de adequar o aparelho

burocrático às novas exigências da

sociedade, inclusive aquelas criadas

pelo processo de desenvolvimento,

há muito vinham se fazendo sentir

pelos administradores. A Reforma

Administrativa, foi o que poderia-

mos chamar de uma exigência na

cional Daí por que o presidente

Vargas, logo após a sua posse, no

seu último governo, cuidou de pre-

parar um documento que fosse a

Reforma Administrativa do Gover-

no Federal Preocupado, porém, em

incorporar todas as correntes do

pensamento brasileiro, enviou-o,

para mero estudo, ao Congresso,

onde foi estabelecido que, cada um

dos partidos políticos, ali represen-

tados, elaborasse «im parecer distin-

to. O próprio Congresso, dada a

importância da proposição, decidiu

criar uma Comissão Interpartidana

de Reforma da Administração Fe-

deral, da qual foi relator, Gustavo

Capanema.

- Foi esta comissão que elabo-

rou o relatório e sugestões sobre o

caráter que deveria ter a reforma. O

presidente da República incorporou

algumas sugestões e, a 31 de agosto

de 1953, enviava, agora, em proje-

to, a mensagem presidencial de Re-

forma Administrativa.

Deve-se

fazer mais

política- Presumia-se, então, que o Con-

gresso estivesse devidamente habili-

tado a questioná-la, modificá-la e

aprová-la. Razões por todos desço-

nhecidas, fazem com que, em 19b4

a mensagem deixe de ser discutida

para finalmente, em 1956, ser ar-

quivada por falta de oradores, con

forme determinava o Regimento In-

terno da casa.- Outro exemplo da ação, ou

melhor, da inação do Poder Legisla-

tivo, para assuntos tão relevantes

para o desenvolvimento fizeram com

que o projeto de criação do Banco

Central, enviado pelo presidente

Eurico Gaspar Dutra, permar.ecesse,

em tramitação, até ser promulgado

pelo presidente Castelo Branco.

- Enquanto isso, o Congresso,

autofagicamente se dedicava a

assuntos de pouca relevância para o

desenvolvimento nacional, que pro-

vavelmente só teriam relevância

transcendental no nível da política

eleitoreira.Esses fatos, que indicam a possi-

vel necessidade de se reformular o

Congresso brasileiro, a fim de que

ele possa melhor adaptar-se as novas

exigências do desenvolvimento, sao

analisados por Afonso Annos de

Melo Franco, no trabalho citado em

seu capítulo A Crise do Poder Le-

gislativo.

- É mais do que sabido que os

parlamentos e Congressos democra-

ticos, em todo o Mundo se tornam

cada vez menos órgãos legislativos e

cada vez mais órgãos políticos, con-

correm para a diminuição da facul-

dade legislativa do Poder Legisla-

tivo, de um lado, a hipertrofia e a

complexidade de dados que só o

Executivo dispõe, de outro, o en-

quadramento partidário, que faz a

ação do legislador, presa a uma série

de condições que prescindam os

partidos, desde fora dos Parlamen-

tos.

No terreno político, a fragilidade

do Legislativo brasileiro provém,

principalmente, do sistema de re-

presentação proporcional.

Outra razão que contribui bas-

tante para a deficiência do trabalho

Legislativo, é a de assessoria técnica

parlamentar. ^

t

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POLITIKA

IO. análise *

Em apenas seis anos,algumas

. alterações políticas foram a

razão fundamental da perda de

força do Legislativo.Não há

Congresso que resista a isso.

Legislai ivo.

um poder

«em força

O fato é que existe nova

sociedade política brasileira. O legislativo

foi afastado de sua criaçãoA pesquisa do cientista político

Reynaldo Barros observou que o

comportamento do Legislativo indi-

ca um caráter visivelmente alienado

do processo de desenvolvimento da

sociedade brasileira. Esse dado leva

a pensar na necessidade de uma

reformulação que o adapte à nova

Ordem Institucional Brasileira.- Durante esse período

(1959-1965), extremamente rico a

nível político brasileiro, conhece-

ram-se presidentes da República das

mais variadas tendências e origens

mais diversas. O Congresso, não

fora a avaliação numérica na apre-

sentação dos projetos, mantém um

comportamento constante, revelan-

do uma extrema preocupação nas

soluções de clientelismo e na inca-

pacidade de participação nos gran-des debates. À incapacidade de se

impor à gesticulação não escaparam

nenhum dos nossos partidos pol iti-

cos, nem mesmo aqueles que pre-tendem revelar um caráter ideoló-

gico em sua ação.

Os estudos do professor Reynal-

do Barros mostram que, no perío-do, foi o ano de 1963 que apresen-

tou o maior número de projetos.Mas, contraditoriamente, foi tam-

bém quando se aprovou o menor

número deles. E ainda neste ano

que o deputado Zacarias Seleme, da

UDN do Paraná, apresentou 99

projetos autorizando a abertura de

créditos especiais para a aquisição

de um trator de esteira e umamotoniveladora para 49 municípios

paranaenses. Esse fato, embora pi-toresco, ajuda a evidenciar o caráterautofágico do nosso Legislativo.Ou, conforme observa O autor He

pesquisa, trata-se de um caso típicode geografia eleitoral, por certoextremamente esclarecedor, desa-fiando um estudioso capaz de exa-miná-lo.

0 crédito especial, que represen-ta um aumento de despesa, na

medida em que se pretende canal i-

zar recursos para setores não con-

templados no Orçamento, deveria

ser usado apenas em momentos de

urgência, no caso de calamidade

pública, quando não houvesse

meios de recorrer aos créditos exis-»tentes. Num orçamento tradicional-

mente deficitário, só deveria ser

usado, portanto, em casos extre-

mos. No Parlamento inglês por

exemplo, somente é utilizado quan-

do se definem as fontes de onde

buscar os recursos para a despesa.

No entanto é o crédito especial a

grande preocupação do legislador, e

representou o maior número dos

projetos apresentados no períodode 1959 a 1965. Dos 1955, apresen-

tados no ano de 1960, 381 se

referiam a crédito especial. No ano

de 1963, de 1663, 462 a eles se

referiam. Ou em 1964, embora járestringido em seus poderes, o Le-

gislativo ainda apresentou 868 pro-

jetos, dos quais 105 ainda se refe-

riam a créditos especiais. Não have-

ria contradição entre um orçamento

equilibrado e uma enxurrada de

créditos especiais?

A reclamação de alguns políticossaudosistas, de que o prazo paraaprovação de projetos enviados peloExecutivo representa um cercea-

mento de sua liberdade e uma

debilitação de seus poderes, é vista

como irrelevante pelo professorReynaldo Barros, que interroga: Po-

der ia o Executivo, face a suas novastarefas, ficar aguardando o lento

processo do legislativo?

— A pesquisa, ao comparar proje-tos apresentados e aprovados, revê-lou a extrema debilidade em que seencontraria o Executivo se não ti-vesse condições de determinar pra-zos para ver aprovadas suas solicita-

ções. Um exemplo disso é um pro-cesso de 1962, em que o Executivosolicitou a abertura de crédito espe-ciai de 2 bilhões de cruzeiros, parafazer face ao aumento salarial naRede Ferroviária Federal. Esse pro-jeto só conseguiu ser aprovado em1967. Como o foi em seu valororiginal, deduz-se que ou os f uncio-nários da Rede não receberam oaumento ou o Poder Executivo,dentro de uma estratégia escapista,encontrou as condições para cum-

prir as exigências salarias.

O ato de aprovação do projetonâo foi senão um ato gesticulante,consagrador de um fato já realiza-

do. Os funcionários da Rede, com

ou sem a aprovação legislativa, jáhaviam recebido sua revisão salarial.

A tarefa de fiscalizar e Executi-

vo, um dos papéis mais importantes

reservados ao legislador, parece que

também não foi seguida convenien-

temente. O Requerimento de Infor-

mação, um instrumento extrema-

mente hábil, ficou tão desgastado

nesse período que chegou mesmo a

preocupar as lideranças políticas da

época, com o que denominaram de

demagogia do requerimento.

- Estaremos, pois, a um passo do

que Cassamatis denomina de cre-

púsculo de Parlamento? Seria ine-

xorável, também, que este crepús-

culo nos envolvesse num afastamen-

to e não na aproximação do que se

denominaria de "padrões

da demo-

cracia?" Todavia, a crise do Parla-

mento estaria menos ligada ao fenô-

meno do novo papel institucionaldo Estado do que à crise da Repre-

sentação, juntamente com o co-

lapso do populismo no Brasil?

0 comportamento dos congres-

sistas abrindo créditos especiais,

prestando homenagens, — como o

dia do padeiro, da avó, costureira,

nordestino, da telefonista - dandonovas denominações a ruas e aero-

portos, instituindo prêmios, enfra-

quece o seu poder e representa umamanifestação política que caracteri-

zou este período.

— Com o início da industriali-zação, desaparece, a nível político,o apelo à consangüinidade, ao pa-rentesco, em suas várias formas, àobediência residual à lealdade. Ape-Ia-se para uma vaga solidariedadesocial. O chefe político passa a serum delegado de interesses e, umavez no Poder, seus adeptos esperamvantagens para suas categorias so-ciais, seja sob a forma de empregosseja sob a de facilidades asseguradasmediante a manipulação de órgãosdo Estado, é o apogeu do popu lis-mo.

A crise da representação se tornamais aguda, quando lembramos deuma das regras básicas da modernaadministração de recursos humanos

é a exata noção do nível, atividade

que cada um poderá exercer.

— A atividade legislativa, em to-dos os níveis de Governo, é umexemplo mais que evidente da nossaafirmação: nas últimas eleições mu-nicipais, em Petrópolis, o jornalPetropolitano publicava a seguintenota:

"Pedro Rivete - O sr. Pedro Ri

vete é o responsável pela cozinha do

petropolitano, hoje uma das princi

pais da cidade. Vale a pena pegar a

família no domingo e ii ao PFC

para almoçar. O sucesso é tanto,

que muitos amigos estão pensandoem lançar o sr. Pedro Rivete para a

vereança".

Ser bom cozinheiro seria boa

condição para ser um legislador?

Ou ser bom jogador de futebol ou

médico de clientela variada? Não

defendemos a exigência de.que o

pol ítico se forme em escola especia-

lizada ou em atuação específica.

Mas acreditamos que a complexi-

dade do caráter da ação legislativa

exigirá, por certo, do representante

do povo ou as condições para exer-

eer ou o seu alheamento, que se

transforma no débilitamento do Po-

der Legislativo. A crise, portanto,

principal, está em termos de repre-

sentação. Solucioná-la é o grande

desafio para os politicólogos. Acres-

cente-se, ainda, como elemento nes-

ta constelação de problemas a crise

de populismo, tão bem esjudada

pelos cientistas sociais de São Pau-

lo.

Esses fatores concorrem, por per-

to, para que o Congresso Brasileiro,

pelo menos no período estudado,

tivesse um comportamento que po-

deríamos intitular, um pouco jorna-listicamente, de gesticulante e auto

fágico. Porém, como acreditamos

que os grandes debates da nação

brasileira deverão ser feitos numa

entidade como o Congresso, estu-

dá-lo e, inclusive, revelar suas debili-

dades só poderá contribuir para que

encontremos as soluções que corres-

pondam à sua adequação ao novo

papel institucional do Estado"

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POUTIKA

legislativo,

um poder

sem força

Fundamental ao Congresso é a

garantia de sua existência.O

fato de decidir ou não é uma

questão de função. Ele deve,

sempre que puder,protestar.

A debilidade

não é só

brasileira

an&lise

-• 1 -*• T

O Congresso tem

Iue

existir para,

a

menos, protestar

No documento Legislativo e De-

senvolvimento Político, o cientista

político Robert Packenham estu-

dou as funções do Congresso Brasi-

leiro e comparou-as com as de ou-

tros países como o Japão, Egito e

alguns novos Estados africanos.

Seu estudo concluiu que a prin-

cipal função dos Parlamentos desses

países não é a de decisão. No caso

específico do Brasil, encontrou qua-

tro grupos básicos de funções. No

primeiro, está a função de legitima-

ção, distribuída em legitimação la-

tente e legitimação manifesta. Por

legitimação latente compreende-se

que a população ou pelo menos sua

elite, pelo fato do Parlamento se

reunir, pela possibilidade

da Oposi-

ção de manifestar e até mesmo por

sua simples presença, acredita estar,

de uma maneira ou de outra, parti-

cipando do Poder. Dessa forma, o

Parlamento legitima o Poder. Por

legitimação manifesta, entende-se

aquela atividade clara, consciente e

compreendida de legitimação. Pode

ser o ato de carimbar aprovando as

solicitações do Executivo, que em si

já expressaria uma função legitima-

dora.

No segundo grupo, Packenham

encontrou o que denominou função

válvula de segurança. 0 fato do Par-

lamento estar funcionando já é sufi-

ciente para liberar tensões entre le-

gisladores que debatem, reúnem,

questionam, discursam e garantir à

população um clima de segurança.

A terceira função, segundo o

cientista, seria a de recrutamento,

socialização e treinamento. No Par-

lamento se aprende as normas das

elitese as habilidades políticas.

No quarto grupo, Packenham

encontrou a função de decisão e

influência. Esta função foi subdivi-

d ida em: fazer leis, encontrar

saídas, articular interesses, harmoni-

zar conflito-e-resolução e, finalmen

te, exercer a fiscalização adminis-

trátiva ou proteção.

A função de fazer leis, segundo

Packenham, está cada vez mais

minimizada A de encontrar saídas

é exercida quando surgem impasses

políticos

- por

exemplo: a votado

do Parlamentarismo, em lybi,

quando o impasse criado pela

re-

núncia do presidente Jânio Quadros

e pelo veto de alguns setores minta-

res à posse do vice-presidente

João

Goulart, levaram o Legislativo a de-

cidir pela implantação do regime

Parlamentar no Brasil.

Articulação de interesses é a

função que hoje está limitada, ape-

ar de sua importância, e, se ocorre

com freqüência, já nao se realiza no

nível desejado. A de <»nf,rt0;fr®*°:

a pvercida renularmente, pois

se^credita sèr o Parlamento

o lugar

ideal para se apresentar,

negociar e

resolver conflitos. No entanto 0b-

serva Packenham, essa função se

exerce muito menos do que sena_de

desejar. Ainda no grupo das funções

de decisão e influência mereceu des-

taque especial, como recurso e afir-

mação do Parlamento, ai unçade

fiscalização e proteção.

Ela se rea '

za através da convocaçao de minis

tros ao plenário, para prestar infor-

mações; pelo envio e re^|"J0"'°s

de informações e aprovaçao

de con

tas do Exocutivo.> >

0 débilitamento do Poder^Legis-

lativo não parece ser um fenômeno

brasileiro. 0 número de janeiro de

1969 da Revista Brasileira de Estu-

dos Políticos publicou Organização

dos Parlamentos Modernos, de au-

toria do então senador Milton Cam-

pos e do deputado Nélson Carneiro,

onde eles reuniram observações so-

bre os parlamentos da Inglaterra,

França, República Federal Alemã,

Itália, EUA, México e Peru.

No estudo comparado que fize-

ram, foi dado destaque ao problema

da inciativa das leis e a influência

do Poder Executivo sobre o Poder

Legislativo.

A iniciativa das Leis, antes apaná-

gio do Poder Legislativo, transferiu-

se, em boa parte, para o Poder

Executivo, especialmente da refe-

rência àquelas proposições que vi-

sem a aumentar as despesas ou a

diminuir a receita do Estado.

Como exemplo, citam os Estados

Unidos, onde só formalmente esta

assegurada a privatividade do con-

qressista em dar o primeiro

impulso

à elaboração legislativa. Se a norma

continua escrita, na prática, tem

sido o presidente da Republica

quem encaminha ao Congresso o

texto integral.

vam. Os membros da Assembléia

Nacional da França não têm a possi-

bilidade de sugerir proposições que

aumentem as despesas, e emendas a

projetos governamentais, com aque-

le objetivo ou conseqüência, são

recusados, automaticamente pela

mesa.

A influência do Poder Executivo

na ação do Poder Legislativo projeta-

se ainda através da elaboração da

Ordem-do-Dia, que acaba por

asse-

gurar preferência ao exame das pro-

posições oriundas do Governo. Des-

de 1958, o Governo praticamente

seleciona a Ordem-do-Dia, na

Assembléia Nacional da França.

Na República Federal Alemã, o

Governo está à frente do Parlamen-

to na iniciativa das Leis. Desde a

instituição da República Federal

Alemã, foram aprovados cerca de

2000 projetos, sendo que

deles nao

mais de 60 sugeridos por membros

daquele órgão.

O exame da ação parlamentar

levou Samuel Huntingthon (The

Congress and America's Future) a

apresentar, como principal razao do

debilitamento do Legislativo, sua

tendência em apoiar as solicitações

presidenciais (do Executivo), crian-

do, dessa forma, um dilema bastan-

te difícil para sua sobrevivência. Se

o Congresso legisla, quase automati-

camente se subordina ao Presidente.

Se recusa a legislar, corre o risco de

alienar-se da opinião pública. O

congresso pode afirmar seu poder

ou aprovar leis. Dificilmente poderá

fazer as duas coisas.

Na Inglaterra, origem do Poder

Parlamentar, na Câmara dos Co-

mr cnmontP rtptprminado número

de" deputados, sorteados no princf-

pio de cada sessão legislativa tem

oportunidade de oferecer e de ver

discutidos e votados os seus proje-

tos. É certo que, além disso, a

qualquer momento, os parlamenta-

res podem apresentar projetos que

figurem na Ordem-do-Dia, pratica-

mente para simples divulgação, eis

que, colocados no fim da lista, rara-

mente chegam a ser votados.

O direito de Emendas também

sofre - resV'QÕes» cooío^me jObser-^

A comprovação do evidente debi-

litamento do Poder legislativo, le-

vou Campos e Carneiro a recorrer a

Gregoire Cassamatis que, tentando

deter o que denomina o crepúsculo

do Parlamento, sugere:

— A revalorização da função do

Parlamento, a revalorização da Pala-

vra, com a limitação ua duração dos

discursos e o direito de réplica, o

reconhecimento do manuscrito co-

mo forma de discurso mais adequa-

da; a interdição tota! e rigorosa de

toda interrupção; a revalorização da

pessoa do parlamentar

e sua quali-

dade dentro do Estado; a organiza-

ção do poder de controle que

cons

titui a função principal do parla-

mento nos nossos dias.

> i v

.i

1^*

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bacia

das almas

Gaininliii de volla

Há uma semana que o ex-ministro Gama e Silva,

embaixador do Brasil em Portugal, não dorme. Um

grande amigo seu chegou a Lisboa com a notícia

quentíssima de que o acadêmico, grande romancista

e maior ainda figura humana de Viana Moog será

nosso homem em Lisboa.

Bom para Portugual, ótimo para o Brasil e péssi-

mo para São Paulo.

Editorial -

I

"Não há dúvida de que

os custos excessivos da

mão-de-obra contribuem

para a inflação. Mas se qui-

sermos situar as coisas fun-

damentais em primeiro lu-

gar, temos de examinar o

papel dos lucros". (James

Tobin, economista da Uni-

versidade de Yale).

Editorial - 2

"Por certo não se pode

alegar que o que está acon-

tecendo com a renda sala-

rial seja responsável pela

inflação. As forças fiscais e

monetárias provocaram a

inflação ..." fGeorge

Schults, secretário do Tra-

balho dos Estados Uni-

dosj.

Editorial - «I

"A inflação lenta é a malária da

moderna economia mista. Como a

malária, é descofortável viver-se

com ela e esta simplesmente não se

vai. Mas ao contrário do caso da

malária, simplesmente não parece

haver nenhuma cura conhecida para

a inflação lenta que seja melhor do

Samuelson, do Newsweek, mostran-

do que sabe o que representa uma

que a doença". (Professor Paul A.

política econômica mal dirigida.)

I TJENWO ASSISTlDO AO SElH #

tMSfEXCELCNClA (0

Hntiofl

âihpa m'ibope..

/ANTIGAMENTE, ELES ADOMVAM

4MIM.A60RA,AJ>0MM o IBOPÇ...

AINDA BEM Qoe ONIXON FOI

neeiÂiTo!,,

RÁPIDO!

NOSSOS COMEU-

014IS NAQOVMÇ,,

POR- FAVOR-!

^—X\ I NO^Oi COM5 (L-m!

014IS NA(A0»M<,, a >JW J)

'

PS! 1wu FEE- FAVOfc? JwHM j

C

Decoro e

decoração

Dona Lígia Lessa Bas-

tos, deputada da Arena, e

senhora muito bem com-

portada, deu uma micro fo-

nada no monte facial de

Paschoal Citadino, pre-

dente da Assembléia Legis-

Iativa da Guanabara e ra-

paz muito bem comporta-

do.

0 Jornal do Brasil disse

que foi um fato inédito

naquela casa. 0 que prova

que não é só o povo que

tem má memória. A aristo-

cracia também.

No mais, não vejo por

que falar-se em quebra de

decoro. Microfone não é

decoro. Ê decoração.

A mentira

de Menahim

Em carta a POLITIKA, no

no. 56, o vice-governador da

Bahia, Menandro Minahim, ten-

tava contestar uma história pu-

bliçada no Folklore Político

por Sebastião Nery, atribuindo

a informação ao prefeito de

Jaguaquara, René Dubois:

— "Só me apresso em fazer a

total retificação do que foi pu-

bl içado porquê estou convenci-

do de que V.Sa. foi iludido na

sua boa fé pelo prefeito René

Dubois, meu adversário no mu-

nicípio de Jaguaquara. Devo sa-

lientar que o desespero da der-

rota é que tem levado o atual

prefeito de Jaguaquara a esse

tipo de intriga, mentindo, in-

clusive, para o semanário POLI-

TIKA".

Agora, chegaram os resulta-

dos da eleição. 0 vice-governa-

dor da Bahia, Menandro

Minahim (ARENA) foi fragoro-

samente derrotado pelo prefei-

to de Jayudquara, René Dubois

(MDB), cujo candidrto se ele-

geu. Dai, nós de POLITIKA

ficamos com o direito de tirar

duas conclusões:

a) 0 desespero da derrota

não era do prefeito, mas do

vice-governador.

b) Logo, esse tipo de intriga,

mentindo, não era do prefeito,

mas do vice-governador.

Como POLITIKA sabia, e

publicou, a histórra do folklore

era absolutamente verdadeira.

Não lhe parece, doutor Menan-

dro Minahim?

Viana Moog

Editorial - I

"A explicação para as mortes

prematuras está justamente no am-

biente desfavorável, tanto físico

quanto sócio-cultural e econômico,

que prevalece nos países pobres!como Bolívia e Paquistão, em con-

traste com o ambiente favorável,

resultante do elevado grau de rique-

za que caracteriza os países desen-

volvidos, como Estados Unidos,

Suécia e Holanda, nos quais a gran-de maioria das pessoas morre com

50 anos de idade ou mais.

"No Paquistão e na Bolívia, por

exemplo, de cada 100 pessoas que

morrem, apenas 30 têm 50 anos ou

mais; isto quer dizer que 70 em

cada 100 morrem antes de 50 anos,

constituindo o que se poderia cha-

mar de mortes prematuras. Nos Es-

tados Unidos, Suécia e Inglaterra,

de cada 100 pessoas que morrem 80

têm 50 anos ou mais.

"Há uma evidente associação en-

tre o indicador de mortalidade pro-

porcional (fixado em 50 anos portécnicos da Organização Mundial de

Saúde) e o Produto Nacional Bruto

per capita.

"Partindo-se da premissa, com-

provada, de que quanto menor é o

índice de PNB maior é o índice de

mortalidade prematura, pode-se

mesmo formular a hipótese de que

dificilmente haverá redução apreciá-

vel das mortes prematuras no Brasil

antes do país atingir uma renda de

US$ 600 a US$ 700 per capita.

"A mesma situação precária de

saúde no Brasil pode ser observada

pela comparação entre os índices de

mortalidade infantil de vários países

dos mais aos menos desenvolvidos,

a começar pela Suécia, onde mor-

rem antes de um ano de vida apenas

12,9 crianças em cada grupo de mil

nascidas vivas, passando pela Holan-

da (13,4 em mil), Japão (15,0 em

mil), Dinamarca (15,8 em mil),

Suíça (17,5 em mil) e terminando,

depois de passar por outros países,

na Argentina (58,3 em mil), Portu-

gal (59,2 em mil) e Brasil (105 em

mil)."Na

taxa brasileira de mortali-

dade infantil mostra-se, assim, oito

vezes maior que a da Suécia, por

exemplo, o que era de se esperar,

tendo em vista que as condições do

ambiente físico, biológico, sócio-

cultural e econômico no nosso país

são muito desfavoráveis à criança de

baixa idade, em grande parte do

território nacional."Dentro

do próprio território na-

cional, de dimensões continentais,

as diferenças regionais são muito

expressivas. Assim, no Nordeste,

onde a renda per capita é a mais

baixa do país (Cr$ 420,00), mor-

rem 180 crianças com menos de um

ano em mil nascidas vivas, enquanto

na região Sudeste, onde a renda per

capita é a mais elevada (CrS

1.300,00), morrem apenas 76 em

mil. O mesmo ocorre nas capitais

situadas em diferentes regiões: en-

quanto em Porto Alegre morrem

apenas 46,7 em mil, e no Rio de

Janeiro 47,3, em São Luís e Ma

ceió, respectivamente, 182,9 e

213,6."

(Professor Nélson Morais, conselhei-

ro da Funabem).

*

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BjH^I 'M

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1 jff_ |»^W

U^ía^Ao ilos juros

Numa época em que as novidades são, de modo geral, escassas, nada como se satisfazer com o

recozinhamento de notícias. Vejam um exemplo clássico:o presidente do Banco do Brasil, Nestor Jost,

esteve em São Paulo fazendo declarações. E afirmou que a taxa de juros vai baixar. Foi o bastante para

que surgisse uma onda de aplausos e abraços mil.

Mas o pessoal esqueceu de uma coisa importante: o próprio Nestor Jost, em fevereiro deste ano,

conversando com alguns jornalistas disse a mesma coisa, que foi alvo de manchetes em todas as páginas

econômicas de todos os jornais do Brasil.

Agora, quando nada de novo há nos domínios do doutor Delfim Neto, vem o doutor Nestor Jost e

recozinha uma notícia que tem apenas nove meses. Período completo de gestação.

I bacia

[das almas

Nestor Jost

O pislAo

<l«' Milton

A Secretaria de Turismo é o

pão-de-ló do governo da Guanabara:

gostosa e não dá trabalho para

engolir. Vai daí que todo mundo

vive cfe olho nela. Ainda bem o

novo (e terceiro) secretário, Fernan-

do Barata, não esquentou lugar e já

há gente, outra vez, cercando o

governador para comer o pão-de-ló.

Esta semana, num jantar com

amigos, o doutor Chagas Freitas

pegou um pelo braço, levou à janela

e cochichou:

Você conhece esse tal de Mil-

ton Carvalho?

0 presidente do Sindicato de

Hotéis da Guanabara? Conheço,

mas de longe.

Desde que assumi, este moço

quer ser, a qualquer preço, o secre-

tário de Turismo. Chegou até a ser

candidato à presidência da entidade

nacional dos hoteleiros para usar o

trunfo aqui no Estado. Levou, coi-

tado, uma surra terrível. E desistiu.

Agora, lá vem ele de novo, trazido

pela mão de amigos meus.

E não seria a solução?

Como é que eu posso saber?

Mandei investigar e apurei que a

única coisa que ele fazia bem era

tocar pistão numa tal de Orquestra

do Delê, em Belo Horizonte. Se a

Embratur já se queixa de que há

pouco turismo na Guanabara, ima-

gine só os turistas recebidos na base

do pistão.

E Chagas debruçou na janela,

numa gargalhadazinha maldosa.

0 ISTADO DK *. MULO

Chagas, o

"beatnlk"

Cansado de não fazer

nada e disposto a mostrar

que sua inércia, tão longa-

mente apregoada, é uma

questão de fluídos, Chagas

Freitas resolveu tomar

uma decisão transcedental:

no próximo dia 5 receberá,

em audiência especial,

Mahrishi Mahesh Yogi, o

famoso guru dos Beatles,

que deixará o Himalaia pa-

ra este encontro exclusivo.

Esperemos que o guru, que

tanto sucesso proporcio-

nou ao conjunto inglês, se-

ja capaz de mais um mila-

gre: fazer Chagas Freitas

trabalhar.

Ora, viva

Jaguaquara

Como o Piauí, Jaguaquara existe.

É uma pequena e alta (800 metros)

cidade do interior da Bahia, onde

nasceu o Sebastião Nery. Entre

outras razões de amor, múltiplas e

profundíssimas, Jaguaquara dá ao

Nery a alegria da vitória da oposi-

ção em todas as eleições depois de

1964- XX.M

E a coisa lá não e fácil para o

MDB. O líder municipal da Arena é

o vice-governador da Bahia, Menan-

dro Minahim, que sempre foi

deputado muito bem votado da ci-

dade. Pois o vice quebrou, masi

uma vez, a fronte. Nery anda bran-

dindo, com orgulho de filho amado,

esse telegrama:

- SEBASTIÃO NERY - Rio -

Comunico mestre amigo MDB ven-

ceu eleições municipais 70 votos

frente, elegendo Paulo Ovidio, ape-

sar intensa pressão sofrida governo

estadual pt Denunciei Presidente

República perseguições, coação po-

licial e econômica e atos corrupção,

como atuação COELBA (Compa-

nhia Energia Elétrica da Bahia) e

DER BA (Departamento de Estradas

de Rodagem da Bahia) pt Grande

abraço, René Dubois, prefeito".

O astral

do Oliveira

Oliveira Bastos, dia desses,

telefona para o presidente de

uma grande empresa na Guana-

bara. A telefonista, sempre so-

lícita, quer saber quem vai fa-

lar. É dito. Outra pergunta:

De onde?

Do astral - responde o

Oliveira mal humorado.

Da astral? Um momento.

0 doutor vai falar.

E o Oliveira falou. Do astral.

5o Mo s

T0J>0S

Amigos

do Rêi

Os filhos

do salário

mínimo

Os mesmos menores abandona-

dos, que o Jornal do Brasil e O

Globo chamam de pivetes, em Cuia

bá são tratados como criminosos. O

próprio jornal do doutor Nasci-

mento Brito foi o responsável por

sabermos disto, ao publicar uma

longa matéria de seu correspon-

dente em Mato Grosso. Lá, além

dos menores abandonados serem

presos em celas infectas, cheias de

marginais e onde fazem vestibular

para o crime, as meninas de quator-

ze e quinze anos são prostituídas

livremente, sem que nenhuma medi-

da seja tomada.

Depois de ler o telegrama, lem-

bramos da matéria que o Sebastião

Nery escreveu na Tribuna da Im-

prensa, quando mostrav? que estes

pivetes, filhos sem pais ou descen-

dentes de salários-mínimos, são

crianças idênticas aos nossos filhos,

alunos de uma escola dura, suja e

cheia de perversão. Não são respon-

sáveis por coisa alguma, são as

vítimas de um regime, de uma

situação que permite que uma me-

nina seja prostituída aos quatorze

anos, "porque

não existe nenhum

instrumento legal para se combater

tal procedimento".

Não são pivetes, doutores Nasci-

mento Brito e Roberto Marinho.

Eles são em verdade, a triste

imagem da pobreza e da miséria em

nosso grande e desenvolvido país.

Phu Uih'.

o Kissinger

de Vau Thi«>u

O doutor Henry Kissin*

ger, de tanto aparecer cer-

cado pelas coelhinhas do

Play-boy e badalar em to-

dos os salões do society in-

ternacional, acabou por fa-

zer escola. Se bem que no

Vietnã do Sul, o que não

chega a ser mérito para

ninguém. Caminhando no

rasto de seu patrão,

Nguyen Van Thieu, dita-

dor e títere norte-

americano em Saigon, fez

com Uquyen Phu Duc o

mesmo que Nixon com

Kissinger: assessor especial.

E o detalhe é que Phu

Duc chegou a Paris, sema-

na passada, para assistir às

negociações de paz, acom-

panhado de uma comitiva

de quinze pessoas, das

quais cinco mulheres, que

segundo os jornais são

"be-

Ias e muito bem vestidas,

contrastando com as repre-

sen tantes norte-vietnami-

tas."

¦

§0-

^

A surra

no censor

Este artigo, publicado no número de

primeiro aniversário do jornal

"Politika",

relembra a atuação de nosso companheiro

Roberto Marinho num episódio pouco co-

nhecido de anos amargos vividos pela im-

prensa brasileira. Seu autor, Edmar Morei,

trabalhou em O GLOBO e vários outros jor-

nais brasileiros, em décadas de atividade

voltada para o jornalismo.

Em seu artigo,

da série "Reportagem

Proibida", ele conta

um pouco da história real do nascimento de

O GLOBO, detêm-se na figura de seu íun-

dador, Irineu Marinho, e fixa com exatidão

instantes da luta heróica qiíe o iria trans-

formar no grande jornal de hoje.

Nélson Wemeck Sodré, em

A História da Imprensa no

Brasil, aponta Irineu Mari-

nho como esguio e afanoso

repórter de A Noticia, sem-

pre apressado, mal se deten-

do à beira de uma roda pa-

ra sorver, de corrida, um ca-

fé, entre duas observações

de. Não usava bigode, como

seu chefe nacional, o não

menos engraçado Plínio Sal-

gado. Tinha, sim, um gro-

tesco cavanhaque.

O GLOBO concorria com A

Noite, A Vanguarda, Diário

da Noite, A Noticia, A Tarde,

Correio da Noite e outros

¦

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POLITIKA

REPORTAGEM ft <' ¦

'" ' -J^k

I proibida / :

l^

Edmar

Morei

/Va Argentina o repórter,

sentado à máquina,

anota as declarações

de Antônio Jesús Brandi,

sentado ao lado do então

jornalista Elói Dutra.

»

sobrevive

com um cadaver

Nosso objetivo — meu e de Elói Dutra — não

I» era fazer reportagens sobre a queda de Perón. A

derrubada de ditadores na América Latina ê um

acontecimento corriqueiro. Menos um, mais um,

o fato já não . merece, manchetes dos jornais,

sobretudo na Argentina, Boi ívia, Paraguai, etc. e

tal.

Chegamos ao aeroporto de Buenos Aires pela

madrugada e só atingimos o Hotel Richmond

pouco depois das 8 horas. 0 espetáculo, ao

longo do trajeto de 30 quilômetros, dava a

impressão de que a Argentina estava em guerra.

Todo aquele aparato militar era para que o

general Juan Perón, que caíra, na véspera, como

geríipapo maduro, não fugisse para o exterior.

O golpe contra Perón entrou em nossa missão

jornalística como um acidente. O intuito era

entrevistar o deputado Antonio Jesus Brandi, em

Corrientes, apontado como o autor da famosa

• carta que enviara a João Goulart, comunicando

negópios excusos, inclusive a compra de armas

num estabelecimento militar de Cordoba. O

documento, apresentado por Carlos Lacerda, na

Guanabra, numa cadeia de televisão, a 18 de

setembro de 1955, com Getúlio já morto e

estando na Presidência da República o fantoche

da UDN,Café Filho. A carta era de 5 de agosto

de 1d53, na época em que Jango era ministro do

Trabalho.

Chegamos à sede da representação diplomá-

tica brasileira antes do almoço. O embaixador

Orlando Leite Ribeiro estava a nossa espera,

através de um telegrama enviado por Última

Hora. Recebemos uma carta de apresentação

para o Comando do Primeiro Exército, dizendo

da nossa função de repórteres.

A única linha aérea Buenos Aires-Corrientes

fora suspensa, já que alguns aeroportos não

ofereciam segurança de vôos, com grupos espar-

sos trocando tiros com a polícia. A solução foi

fazer a viagem em automóyel. , , , ,

Passamos o dia em Buenos Aires e o homem

forte era o general Lunarde. Os jornais, em

edições extras, anunciavam que o então Todo-

Poderoso Juan Perón, antes do término do

ultimato enviado pelas Forças Armadas, procura-

ra assilo na Embaixada do Paraguai e o próprio

embaixador Juan Chavez conduziu-o para a

obsoleta canhoneira Paraguai, fundeada no meio

das águas barrentas do estuário do Prata. Antes

redigira um documento dizendo que tomava o

caminho do exílio para evitar o massacre do seu

povo.

Não vimos a mais remota manifestação pero-

nista. A Crítica divulgou que Perón levara apenas

uma pequena maleta com 2 milhões de pesos e

70.000 dólares, provenientes de aluguéis de

imóveis de sua propriedade, dinheiro guardado

pelo mordomo.

eu wl

O repórter foi à Argentina

para entrevistar o suposto

autor da Carta Brandi e foi

surpreendido pela

revolução

que derrubou o regime de Perón

?

m

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POLITIKA

Perón sobrevive

com um cadáver

wt

|

eu vi

J

Brandi pediu

200 pesos pelas

declarações que

faria e mais

50 para posar para

fotografias.

Negou que

conhecesse Jango e

escrevesse com tantos erros.

Perón refugiou-se na

canhoneira

"Paraguai",

enquanto se

providenciava

Juan Peron

Deixamos Buenos Aires em cal-

ma e partimos para Corrientes, dis-

tante 1.600 quilômetros. Fácil é

avaliar uma viagem através de uma

região com piquetes armados e, ain-

da mais, levando um velho grava-

dor, do tamanho de um bonde, tro-

ço inútil e que só serviu para criar

embaraços.

Alguns focos de resistência foram

facilmente dominados em Rosário,

o que não aconteceu em Santa Fé e

Goya, onde fomos detidos por algu-

mas horas, já que a carta de apre-

sentação do embaixador Orlando

Leite Ribeiro perdeu sua validade.

As duas localidades já eram circuns-

crição de outro Exército. Mas tudo

acabou no cassino dos oficiais, com

bom churrasco, regado com exce-

lente vinho.

Souberam do levante? Foi su-

focado pèla Guarda Noturna.

Referiam-se a um princípio de

motim peronista, em Santa Fé, sem

maiores conseqüências.

Depois de 48 horas atingimos

Corrientes, cidade eminentemente

turística e tida como o excelente

quartel-general dos contrabandistas

argentinos e brasileiros, unidos nu-

ma aliança quase secular.

Só num ano

— disse-nos o còn-

sul Demétrio Ribeiro — fui chama-

do para intervir em 152 processos

de contrabandos.

Nesta cidade, próxima à frontei-

ra, Antônio Jesus Brandi foi eleito

deputado estadual pelo peronismo.

Estávamos, enfim, no covil dos pos-

síveis falsificadores da já chamada

Carta Brandi.

Manhã cedo deixamos o hotel em

busca do famoso personagem. Não

foi difícil encontrá-lo. Ei-lo, em

nossa frente: velhote, careca, cala-

dão, a despeito de ter sido presiden-

te da Câmara de Corrientes.

Alugamos um gravador e quando

iniciamos a entrevista, Brandi mur-

murou no ouvido do Elói Dutra:

0 jornal de vocês vai vender

muito. É justo que eu ganhe algum

dinheiro.

Quanto você quer?

200 pesos.

Toma lá!

Brandi falou mais de uma hora e

rar como autor da carta não poderia

ser melhor que Antônio Brandi, au-

têntico peronista e despido de

maiores escrúpulos.

O peronismo, por sua vez, como

acentuavam os observadores políti-

cos, estava em decomposição. Na

fronteira do Brasil com Uruguai

Argentina, Paraguai e Bolívia, o ne

gócio honesto é ilegal. OJegal é

Brandi falou mais de uma hora e gócio honesto é ilegal OJegal é o

fez questão de frisar que jamais fa-- contrabando. A competição poh.i

Tez qucbidu ut; ii ^ J

... A rocnk/iHa na hasfi da comDensa-

ria uma carta tão primária, cheia de

erros, inclusive faltando a acentua-

ção na letra i, coisa que ele sempre

caprichou na sua assinatura. Mos-

trou, ainda, que na máquina argen

tina não existe a tecla do tiI.

Enquanto isto, no Brasil, aproxi

mava-se a eleição presidencial de 3

de outubro, com quatro candidatos:

Juscelino, Adhemar, Juarez e Plínio

Salgado. Saímos a passear pelas ruas

e solicitamos a presença de um fo-

tógrafo. Brandi voltou a pedir 50

pesos para posar. 0 Elói deu 100 e

não quis o troco.

A impressão deixada por Brandi,

que sequer conhecia Jango, é que

ele não escreveria uma carta rnep

cionando armas, negócio que não

era sua especialidade. Brandi sem-

pre fez pequenos

contrabandos de

café e pneu. Um homem de peque-

nos vôos.

Até que ponto influiu o peronis

mo na famosa Carta Brandi para im-

pedir a eleição de Jango como vice

de Juscelino?

O peronismo, desde que

estourou

movimento de 18 de junho

de

1955 e que custou mais de 1.50U

vidas, bestialmente sacrificadas na

Praça de Mayo, metralhadas pela

aviação rebelde, entrou paradoxal

como pareça, em decomposivdu.

Embora tenha esmagado a revolta, a

onda de descontentamento nas For-

ças Armadas crescia dia a dia e Me-

rón, percebendo o fim, começou a

fazer concessões, inclusive na área

do petróleo.

Existe, no peronismo, como em

todos os movimentos P°Püla/e1s.'r^l,r[1

submundo de mercenários. A UUN,

useira e vezeira em golpes, achou

que o momento era oportuno para

tirar partido contra Juscelino, atra-

vés de Jango, com o objetivo de ta-

vorecer a candidatura de Juarez I a-

vora. O homem escolhido para figu-

ca é resolvida na base da compensa

ção. Um partido fica com o contra

bando do pneu e o outro encarre

ga-se do gado ou café.

Brandi jamais vira Jango. Só um

imbecil poderia acreditar que um

ministro de Estado, como Jango, fi-

gura das mais conhecidas no Brasil,

iria comprar armas a um estranho,

podendo fazê-lo, se fosse o caso,

por intermédio de um membro de

destaque do governo de Perón, to-

talmente corrompido. 0 peronismo

em agonia, influiu na Carta Brandi,

é certo, pelo seu processo de dete-

rioração, aproveitado de maneira

torpe pela UDN.

Regressamos a Buenos Aires, por

via aérea, e Perón continuava na ca-

nhoneira, agora com asdemarches

encaminhadas pelo chanceler para-

guaio Sanchez Quell, nome muito

ligado às nossas atividades jornalís-

ticas, no tempo dos Diários Associa-

dos. Era sócio da Livraria América,

em Assunção, paja a qual consegui

a representação da revista C

Cruzeiro. Isto da nossa viagem ao

Paraguai, em 1945, em busca dos

campos de concentração de Morini-

go.

O hidroavião, com dois andares,

trazendo 130 passageiros, sobre-

voou o canhoneira, uma triste e des-

figurada belonave. Do alto, até pa-

recia o Mocanguê. Estava sob as vis-

tas de dois destroyers argentinos.

Difícil foi chegar ao hotel. O cais

apinhado de gente e um engarrafa-

mento total imobilizava as ruas ad-

jacentes. A multidão aguardava o

desembarque de 300 exilados e 173

jovens do Liceu Naval Almirante

Brown, levados para Montevidéu

por medida de segurança. Soube-

mos, então, da presença de Carlos

Lacerda e outros repórteres, como

Doutel de Andrade e Batista de

Paula.

Elói Dutra foi visitar amigos e eu

fiquei no centro, ouvindo o povo e

acompanhando as edições extras.

Parei diante de um arcabouço de

ed:f ício, na esquina de San Martin e

Corrientes. Fora a sede da Aliai >3

Nacional Libertadora, destruída a

tiros de canhão.

Que barbaridade! — disse um

cavalheiro bem trajado Logo o La

Helvetica, freqüentado por Saenz

Pena, Júlio Roca, Irigoyen.

A morte de 40 peronistas não era

lamentada. Chorava-se, sim, o café

que funcionava no térreo do prédio.

Anotei no diário, algumas noti-

cias dos jornais:

Perón, na fuga, deixou 20 mi-

Ihões de dólares e 36 bilhões de pe-

sos, uma caixa com barras de °ufO<

tudo escondido na mansão de Oli-

vios. ,

O ditador tinha 15 automó-

veis, 400 ternos e 200 pares de sa-

patos!

Perón foi despojado do titulo

de general, concedido pelo

Congres-

so Nacional, quando era coronel e

presidente da República.

Foi mostrado aos jornalistas

um apartamento de luxo, num sub-

terrâneo, onde Perón fazia bacanáis

com alunas da União das Estudan-

tes Secundárias, destacando-se a ga-

rota Neley Rivas, de 15 anos, filha

de um guarda-noturno. Todas, na

farra, vestiam as roupas de Evita, fa-

lecida em 1952.

Exibidas cartas amorosas de

Peron para Neley.

Perón vendeu 10 mil passapor-

tes e 10.000 carteiras de identida-

des, para o III Reich, tudo sem fo-

tografias e impressões digitais.

Recebeu, em troca. 50 caixotes

de dólares, libras, francos e 100 qui-

los de platina, 2.000 quilos de ouro

e 4.000 pedras preciosas.

Quebrados dezenas de bustos

de Perón e Evita.

Desapareceu o corpo de Evita,

guardado, como relíquia, na sede da

Confederação Geral dos Trabalha-

dores.

A C.G.T., com o rabo entre as

pernas, não dava um pio.

*

ei

as

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SeI eu vi

Perónse

confessava

um pobreRetornamos ao Rio, com a grava-

ção de Brandi. Nenhuma estação

ligada ao governo teve interesse

pelo material. Todavia, num inter-

valo do comício de encerramento

da campanha pró-Juscelino-Jango,

na Praça do Congresso, no noite de

2£ de setembro, a fita foi irradiada

pela Continental. A opinião publi-

ca, entretanto, já tinha ciência de

que a Carta Brandi era falsa e fora

fabricada nos porões da UDN, em

Uruguaiana, no Rio Grande do Sul,

não muito longe de Corrientes.

Chegou o dia das eleições. Infrin-

gindo a Lei Eleitoral, o Repórter

Esso das 12,55 horas de 3 de outu-

bro de 1955, quando a votação

estava no auge, irradiou esta nota,

precedida do clássico: Atenção!

O Gabinete do Exmo. Sr. Maré-

chal Henrique Teixeira Lott, minis-

tro da Guerra, acaba de receber

comunicação do sr. general Emílio

Maurell Filho que está na Argen-

tina, como presidente da Comissão

de Inquérito Militar para. apurar o

chamado caso da Carta Brandi que

parte da imprensa de Buenos Aires

acredita na autenticidade da carta

enviada ao sr. João Goulart.

Dias depois, o mesmo general

Maurell Filho prendia.-o escroque

Fernando Malfussi, em Uruguaiana,

trozendo-o algemado para o Rio.

Era o falsário. Seus cúmplices fo-

ram Mutti Benitez e Alberto Mestre

Cordero, dois refinados esteüo-

natários. Desbaratada a quadrilha

a serviço da U.D.N., o partido da

eterna vigilância, o general Emílio

Maurell, no dia l£ de outubro de

19^5, reuniu a imprensa e revelou

toda a chantagem, que teve o ps!ro-

cínio da União Democrática Nacio-

ne!. Us escroques foram condena-

dos e cumpriram pena na Guanaba-

ra. Um morreu na prisão.

Perón já estava no Paraguai, de-

clarando à Associeted Press:— Ficarei no Paraguai por dois

motivos: não tenho um centavo e

não tenho espírito de turista.

Ditador, com capa de protetor

dos humildes, os descamisados, dei-

xou o palácio de outro ditador, gal.

Alfredo Stroessner, e procurou re-

fúgio na Nicarágua, passando pêlo

Rio, sendo hóspede de outro

ditador, Anastácio Somoza. Seouiu

para oi Estados Unidos, de onde foi

expulso pelo governo norte-anen-

Cansado das Américas.Perón

rumou para a Espanha,indo

residir numa luxuosa mansão

de Puerto de Hierro.a zona

mais aristocrática de Madri

_________¥& ' *^_____l ______________H

______r ^^___^_____f^__l__l__________________lr^/

Hoje é um

homemmuito ricocano. Na sua curta permanência na

América do Norte fez vida noturna

luxuosa, conhecendo, numa boate,

a bailarina Isabelita, que participava

de um conjunto de danças argenti-

nas. É a sua terceira esposa. D.

Isabel Martinez Perón, substituiu

Evita, também artista de segunda

classe, por sua vez sucessora da

professora Maria Tizon, sua primei-

ra mulher, falecida em 1925. Só em

1962 Perón contraiu matrimônio

secretamente, com Isabelita. Prote-

gido pelos ditadores das republique-

tas da América Central, Perón, an-

tes de viver como um nababo na

República Dominicana, feudo do

não menos celebérrimo general Ra-

fael Trujillo, foi hóspede oficial do

sanguinário ditador venezuelano Pe-

rez Jimenes.

Cansado das Américas, rumou

para a Espanha, indo residir numa

luxuosa mansão, de Puerto de

Hierro, na zona mais arisluctáuca

de Madri, com 18 quartos, salas de

conferências e música, piscinas, etc,

comprada por 170 mil dólares. Seus

vizinhos, mais tarde, seriam o pró-

prio Perez Jimenes e Fulgêncio Ba-

tista, que não conseguiu roubar

todo tesouro de Cuba unicamente

porque as jóias e o dinheiro não

couberam nas 32 malas que condu-

ziu para Espanha, de Franco, um

ditador que dispensa apresentação.

O septuagenário, beirandcos 80

anos, com catarata, cabelos pinta-

dos, com o rosto cheio de rugas,

esperava que dois milhões de argen-

.inos estivessem nas ruas para acla-

João Goulart

má-lo. Viajou com passaporte para-

auaio e trouxe uma comitiva de 130

pessoas, inclusive jogadores de fute-

boi, cantoras de tango, etc.

O supremo chefe dos descamisa-

dos cancelou a entrevista à impren-

sa, declarando que o fazia em revide

porque foi impedido de entrar em

contato com seu povo.

Que povo?

Em 1955, quando foi deposto,

não houve nenhum movimento po-

pular de vulto contra o golpe que o

alijou da Casa Rosada. Recordemos

seu último ato:

- Se meu espírito de lutador me

impulsiona ao combate, meu pátrio-tismo e amor ao povo me condu-

zem à renúncia pessoal. Ante a

ameaça aos bens da Nação e à sua

população inocente, creio que nin-

guém pode se deixar levar por ou-

tros interesses e paixões. Creio fir-

memente que esta deve ser minha

conduta e não hesito em seguir este

caminho. A história dirá se tive ou

não razão em proceder assim. Bue-

nos Aires, 19 de setembro de 1955.

Juan Perón.

Percorremos todo o norte argen-

Lino e nau vimos nada de irriportan-

te do povo em favor de Perón.

Apenas escaramuças, prontamente

dominadas pela Guarda Noturna.

Agora, quando os líderes Justicialis-

tas pediram para o povo compare-

cer armado às ruas, mais de um

milhão de pessoas deixou Buenos

Aires para aproveitar o fim-de-

semana, no campo e nas praias. O

dia da chegada de Perón foi declara-

do feriado. Houve, sim, um motim

de 42 fuzileiros, entre 30 mil milita-

res de prontidão. Como o levante

de Santa Fé, em 1955, foi domina-

do, desta vez, por um só homem.

Um segundo-tenente.

Perón sobrevive

com um cadáver

Com uma riqueza acumulada na

Europa, Perón já foi apontado

como dono da quarta maior fortuna

do mundo perdendo, apenas, para o

Xeque do Kuwait, Niarcos e Onas-

sis.

Participa de transações imobiliá-

rias, petróleo e turismo na Espanha,

onde é o maior acionista do túnel

*de Guadarrama, cuja obra custou

mais de 40 milhões de dólares. Man-

tém, à custa de bilhões de pesos, a

imagem popular do peronismo para

servir de fachada aos seus grandes

negócios. Tudo isto, todavia, não

impede de ser um virtual prisioneiro

da Junta Militar que governa a Ar-

gentina. Alojado numa mansão de

luxo deslumbrante, no bairro de

Vicente Lopes, o velho inimigo da

democracia descansa e saúda um

grupo de jovens, de robe-chambre e

boné de jóquei. Está encerrado o

primeiro capítulo de uma movimen-

tada novela.

O antigo proprietário da casa dei-

xou o brasão na porta de frente.

Dois cisnes brancos, com a inseri-

ção:

Nae Temere. Nec Timide. -

(Nem temível. Nem temeroso h

Para quem fez de uma Nação sua

própria fazenda, governando-a a fer-

ro e a fogo, a legenda eqüivale:- Aqui mora o leão da Metro

Goldwyn Meyer.

Resta, agora, a cena patética. A

volta dos despojos de Evita à Pátria.

Os defuntos sempre estiveram pre-

sentes na ilusória retomada do po-

der pelos serviçais de governos des-

tronados. Os fascistas ainda hoje

exploram, em vão, o corpo mutila-

do de Benito Mussolini. Os quere-

mistas nada conseguiram com o sa-

crifício de Getúlio, cujo busto, na

Cinelandia, outrora romaria perma-

nente de fiéis amigos do ditador,

hoje vive no mais triste abandono.

Nem uma tlor murcha.

Chegou a hora do cadáver embai-

samado de Maria Eva Duarte, guar-

dado num convento qualquer de

Madri, para voltar à Argentina,

como trunfo do peronismo, leve

enterro de rainha e depois, como

manda a boa técnica da novela, o

corpo foi seqüestrado elevado para

o outro lado do Atlântico, sendo

entregue a Perón, a 3 de setembro

de 1971. . „Há um cadáver na rota dos desça-

misados.

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Sebastiao

Nery

POLITIKA

ffolklore

poli ti k o

Juscelino

JK E OS MINEIROS

Juscelino Kubitschek tinha acabado de tomar posse

na presidência da República, foi convidado para

presidir a aula inaugural da Universidade do Brasil.

Chamou Álvaro Lins, chefe da Casa Civil:

Professor, como é o protocolo? Vou ter que

falar?

Não, presidente. O senhor apenas abrirá a sessão,

dará a palavra a quem for proferir a aula e, no fim,

encerra. '

Na reitoria, foi recebido com a maior frieza pelos

professores. Todos de pé, solenes, mas nenhuma

palma. Juscelino não entendeu. Mas o reitor Pedro

Calmon, que não perde chance, entendeu bem que

aquela era a sua hora. Quando o professor terminou a

aula inaugural, Calmon levantou-se, quebrou o proto-

colo e fez um discurso excitadíssimo de saudação ao

presidente da República. Juscelino tinha que respon-

der. Pegou a tese da aula inaugural, fez uns floreios,

enfeitou a noiva e acabou debaixo de palmas cal oro-

sas, os professores todos de pé aplaudindo o compe-

tente orador mineiro.

Na saída, entrando no carro, Pedro Calmon pegou

o presidente pelo braçu, d^olhe os parabéns pelo

magnífico improviso" e disse-lhe ao ouvido, sussur-

rando mavioso:

Precisamos vê-lo na Academia de Letras, presi-

dente.

Quando o carro arrancou, Juscelino olhou para

Álvaro Lins:

Este Calmon é um puxador incorrigível. Imagine

que disparate! Eu, um médico, nunca escrevi coisa

alguma, só porque sou o presidente da República ele

já quer me levar para a Academia. Jamais mesubme-

teria a um ridículo desse.

Seis meses depois, Juscelino foi a uma solenidade.

Pedro Calmon estava lá. Na saída, o mesmo sussurro

mavioso:

Presidente, precisamos

vê-lo na Academia. Esta-

mos esperando o senhor lá.

Álvaro Lins ficou sorrindo:

O senhor tem razão, presidente.

Esse Pedro

Calmon é mesmo um puxador incorrigível. Vem de

novo com essa conversa de Academia.

Juscelino ficou parado, calado, pensando longe. E

suspirou, picado pela mosca-azul:

E por que não, professor?

Afinal de contas, nao

seria a primeira vez que alguém entraria na Acaderma

por ser presidente da República. O Getúlio não

entrou?

2

Jantar no Palácio Laranjeiras, Juscelino

Kubitschek, presidente, recebe um grupo

de amigos.

Tancredo Neves, Rol and Corbisier, Vinícius Vaiada-

res, João Luís Soares, Fausto Fonseca e coronel

Afonso. Chega um oficial de gabinete:

- Presidente, fíadional chamando de Washington,

urgente.

Juscelino saiu apressado. Os convivas ficaram mas

tigando suspense. Quinze minutos depois, volta ¦ usce

hno. Cabeça baixa, mãos crispadas, visivelmente cmo

cionado:

"Era o Walter, de Washington. (Walter Moreira

Sales, então embaixador do Brasil nos Estados Unidos

- SN). Eles estão querendo demais. Querern o petró-

leo e a reforma cambial. Mas a nossa paciência tem

limites. Haja o que houver, não entregaremos o

petróleo nem faremos a reforma cambial".

Não entregou nem fêz.

3

Juscelino rompeu com o FMI (Fundo Monetário

Internacional). Exatamente por não querer fazer a

reforma cambial. Choviam telegramas no Palácio do

Catete. A "Voz

do Brasil" transmitia pronuncia-

mentos de solidariedade.

Os estudantes anunciaram uma manifestação de

apoio a JK, em frente ao Catete. Ele não queria, a

UNE insistiu. Ele concordou, "contanto

que fosse

apenas uma manifestação de estudantes, sem qualquer

marca política, pois que o problema do FMI era um

problema nacional".

À tarde, a praça em frente ao Catete estava superlo-

tada: estudantes, trabalhadores, o povo na rua para

ajudar o presidente a sustentar a briga contra o FMI.

Juscelino apareceu, falou, foi embora. No jantar, um

assessor foi contar, preocupado:

O CONHAQUE DE BRANDT

VENCE A BÍLIS DE BARZEL

O

Q

G qO

o

oQ±c o Ç) ®

Sabe quem estava lá na praça, presidente? Luiz

Carlos Prestes. No meio da multidão.

Juscelino deu uma gargalhada. O assessor não

entendeu:

Isto vai lhe causar problemas, presidente. A UDN

vai explorar. Por que o senhor está rindo?

Só quero ver o editorial de

"O Globo", amanhã.

E viu.

4

História de pessedista mineiro: — No alto do morro

estavam dois touros. O touro velho e o touro novo.

Viram lá embaixo o pasto cheio de vacas. O touro

novo ficou aflito:

Vamos descer depressa e pegar umas 10.

O touro velho balançou a cabeça:

Nada disso. Vamos descer devagar e pegar todas.

5

Desconfiado, chegou ao guichê do Instituto Félix

Pacheco. Era mineiro.

Queria tirar uma folha-corrida.

Já tem o formulário?

Que formulário?

0 formulário apropriado. Tem que trazer preen-

chido. É só comprar um em qualquer livraria.

Meia hora depois, voltou. O funcionário foi olhan-

do, recusou:

Falta o número do título de eleitor. Qual é?

Perdi o título. O senhor sabe como é, não tem

mais eleição, a gente acaba relaxando. Tirar outro vai

ser fogo, tenho que ir lá em Minas.

Bem, o problema não é meu. Sem o título, nada

feito. E agora preciso ver o título. Não basta só

colocar o número.

E para que eu ia guardar o título, se o próprio

governo não o considera mais como documento?

0 funcionário se queimou:

Olha, rapaz, papo encerrado. Não quero mais

conversa. Se quiser a folha-corrida, tem que trazer o

título. Você tem até jeito de comunista. Vai ver que

anda falsificando documentos.

O mineiro ficou assustado, calou a boca. Ia saindo,

voltou de voz mansa:

O senhor me interpretou mal. Não me entendeu.

Acho até que esse governo ai nao e tao ruim. Masé

que outro dia, no aeroporto, um policial recusou o

título de eleitor de um passageiro que ia embarcar,

alegando que título não vale mais como documento.

Daí a minha confusão. O senhor percebeu?

Percebi, sim. Ainda bem. Já vi que você é um

bom rapaz. Olhe todos nós, velhos e jovens, precisa-

mos dar um voto de confiança à Revolução

O mineiro olhou bem a cara do funcionário e

encerrou a conversa:

Uai, esse voto até que eu dou sempre. Só que

para voto de confiança não é preciso título de eleitor.

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ekonomia

A utilização cada vez maior

de máquinas em vez do pleno

emprego de mão-de-obra não é

a solução para

o problema

do

Brasil,que é criar empregos

Hélio

Duque

I mi imm. A v

O descompasso existen-

te entre o processo de de-

senvolvimento industrial

brasileiro e o nível de em-

pregos gerados pelo setor é

bastante alarmante. De

modo geral, poderíamos

afirmar que ao longo da

história econômica moder-

na, os sucessivos planeja-

dores governamentais bra-

sileiros preocuparam-se

mais com o fator capital

do que na realidade com

esse outro importante fa-

tor: o trabalho.

Isto quer dizer que as

sucessivas políticas de de-

senvolvimento não tem se

preocupado fundamental-

mente com o aspecto so-

ciai da questão. Nossa po-

lítica de desenvolvimento

econômico sempre foi vol-

tada deliberadamente me-

nos para o trabalho e mui-

to mais para o capital. E a

razão desse fato está nas

importações de tecnolo-

gias, cujos modelos são sa-

tisfatórios para as socieda-

des onde se verifica o fato

det|ue o capital existe em

grande abundância, en-

quanto a mão-de-obra de

uma maneira geral é escas-

sa. É o caso dos EUA e da

Europa Ocidental.

Incorporamos no pro-

cesso desenvolvimentista

nacional procedimento

típicos dessas áreas, des-

conhecendo as pleculiarida-

des da economia brasileira,

onde se verific exatamente

o contrário: mão-de-obra

em excesso e carência de

capital.

Praticamos um modelo

de desenvolvimento inade-

quado às necessidades na-

cionais no setor de mão-

de-obra. O que se verifi-

cou, nessas últimas déca-

das, foi a utilização cada

vez maior de máquinas em

vez do pleno emprego à

mão-de-obra. E não ve-

nham dizer queé impossí-

vel fugir desse quase dile-

ma. O Japão soube muito

bem adaptar uma socieda-

de altamente sofisticada

em termos de desenvolvi-

mento econômico com

pleno emprego para a

mão-de-obra. E registra,

hoje, mesmo entre as na-

ções importantes do mun-

do capitalista, o mais bai-

xo índice de desemprego.

Com efeito, esse proble-

ma começa a inquietar to-

dos os brasileiros que se in-

teressam pelos destinos de

seu país. Os estudos sobre

o problema começam a

aparecer. Agora mesmo a

Revista Brasileira de Eco-

nomia, da Fundação Getú-

lio Vargas, vem de publicar

um trabalho do economis-

ta Edmar L. Bacha, de seu

Instituto de Planejamento

Econômico e Social, onde

é analisado o problema do

subemprego, o custo social

da mão-de-obra e o que se-

ria a estratégia brasileira

para o desenvolvimento.

Nesse trabalho há afir-

mativas como essa: A cres-

cente marginalização da

mão-de-obra do processo

de desenvolvimento pode

ser considerada como a

mais grave distorsão da tra-

jetória de crescimento da

economia brasileira no

após-guerra. A consciência,

ao nível da política, deste

fato nos dias atuais tem le-

vado, entretanto, a posi-

ções que arriscam agravar

antes que a solucionar o

problema básico. O fato de

uma parcela substancial da

população estar hoje mar-

ginalizada do processo de

modernização significa que

há um imenso potencial

produtivo inexplorado na

economia, o qual, mobili-

zado, poderia contribuir

significativamente para o

desenvolvimento econômi-

co da próxima década.

Num momento em que

tanto se acentua as vanta-

gens do desenvolvimento

com a concentração de

rendas para (dizem os

adeptos dessa teoria) numa

etapa posterior tentar a re-

distribuição dessa riqueza

gerada, cumpre ressaltar a

importância da pesquisa. E

o economista Edmar L.

Bacha, ao longo do seu tra-

balho, demonstra que vive-

mos numa fase de cresci-

mento econômico, sim-

plesmente. E não de desen-

volvimento econômico.

À alternativa que se ofe-

rece de desenvolvimento

com concentração de capi-

tal, dele descrê o pesquisa-

dor.

Sobre o desemprego, diz

o estudo da FGV: E hoje

um fenômeno generalizado

na economia brasileira, da-

da a incapacidade demons-

trada pela industrialização

substitutiva de importa-

ções, executada em grande

parte por filiais de empre-

sas multinacionais, de

absorver direta ou indireta-

mente a mão-de-obra não e

semiqualifiçada, que hoje

sobra nos campos e nas ci-

da des, particularmente na

região nordestina e no no-

vo-nordeste mineiro e capi-

xaba. Em síntese, trata-se

de, mais uma vez, chamar

a atenção para o fato de

que o pauperismo salarial

brasileiro, atrofiador de

nosso mercado de consu-

mo, aliado ao subemprego

ou desemprego, não serve

aos propósitos de um pro-

cesso de desenvolvimento

que se deseja estável.

*

I

e

Helio

Duque

Page 19: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

A indústria

que fabrira

subrmpregos

A média de empregos gerados

pela indústria nos

países

desenvolvidos é de 0,82 por

cento,enquanto que para o

Brasil é de 0,28 por

cento.

POLITIKA

ekonomia

quadro do subemprego e do

rego rural é dos mais aterradores.

r% nrhano não é nada a/enfador

Quanto ao desemprego, efetivamente

existente, ou ao desemprego, disfarçado

dentro da realidade brasileira, é um fato

de certa maneira inquietante para todos.

Governados e governantes. Aliando-se a

isso uma baixa faixa salarial responsável

pela inelasticidade de um pujante merca-

do consumidor interno. Dados do IBGE,

examinando o chamado Grande Nordeste,

inclui além dos estados conhecidos da

região, partes dos estados de Minas Gerais

e Espírito Santo, revelam que 53 por

cento dos trabalhadores agrícolas do

Grande Nordeste têm uma renda monetá-

ria inferior a Cr$ 60 por mês (valores no

terceiro trimestre de 1969). Somente 5

por cento dos lavradores nordestinos, re-

cebem remuneração monetária superior

à média dos salários mínimos da região.

Seguindo esse levantamento do IBGE, o

quadro é esse: até Cr$ 40, 26 por cento

dos trabalhadores agrícolas do Nordeste;

de Cr$ 40 a Cr$ 60,27 por cento; de CrS

60 a Cr$ 120, 42 por cento. Mais de Cr$

120 (salário mínimo da região na época)

somente 5 por cento dos trabalhadores

agrícolas nordestinos.

Para o restante do Brasil, o IBGE, no

mesmo período, constatou: que naquilo

que dizia respeito ao problema salarial, o

quadro era o seguinte: 3 por cento dos

trabalhadores rurais fora do Nordeste,

percebem menos de Cr$ 40 por mês; 11

por cento recebem de Cr$ 40 a 60; 59

por cento recebem de Cr$ 60 a 120 e

finalmente 27 por cento recebem mais de

Cr$ 120.

No seu estudo, o economista Edmar L.

Bacha diz: Ainda se adicione a esses nú-

meros uma generosa imputação pela re-

muneração em espécie, o quadro queforma é óbvio: substancial parcela da

mão-de-obra rural no Grande Nordeste

tem hoje níveis de remuneração significa-

tivamente inferiores aos padrões mínimos

definidos como aceitáveis pela sociedade

e pelo Governo brasileiro. Note-se ainda

que os dados referem-se somente a

homens; se forem incluídos dados refe-

rentes aos valores femininos os resultados

seriam ainda mais dramáticos.

Se essa é a visão do desemprego e do

subemprego rural, como se comportam os

índices de subemprego urbanos?

No fundamental, a diferença é muito

pouca. Na categoria funcional Emprega-

dores e empregados por conta própria

?m

atividades privadas e agrícolas, observa-se

que no Grande Nordeste existe cerca de

35 por cento desses trabalhadores, con*

centrados nas atividades artesanais, co-

mércio varejista e prestação de serviços,

com remuneração inferior a Cr$ 50 por

mês. Os trabalhadores autônomos é a

classe que vem a seguir constituída por 28

por cento do total, com um limite de

renda superior a CrS 150. Cerca de 14 por

cento dos trabalhadores autônomos ti-

nham uma renda entre Cr$ 50 e CrS 100.

Traduzindo mais claramente, isso quer

dizer que no Nordeste, 50 por cento dos

pequenos proprietários e trabalhadores

por conta própria não agrícolas têm ren-

dimentos inferiores aos salários mínimos

regionais.

com abundância de capital e certa defi-

ciência de mão-de-obra. O que no caso

brasileiro é exatamente ao contrário. For-

çaram a que o Brasil ao longo de suas

poucas décadas de desenvolvimento in-

dustrial adotasse um esquema desenvolvi-

mentista inadequado às necessidades na-

cionais no campo da oferta e de criação

de empregos. O estímulo sempre foi para

o capital, ficando o trabalho relegado a

uma condição secundária. E para gravar o

quadro, grande parte das empresas estran-

geiras que têm apenas filiais no nosso

país, incorporaram à economia nacional

técnica e procedimentos típicos dos EUA

1 ou mesmo da velha Europa. Daí o estu-

dioso da economia brasileira ser responsá-

vel por uma única constatação: o terrível

fracasso da industrialização brasileira no

que se refere à proporção de empregos

gerados pela indústria.

Visto o problema resta a pergunta: qual

o caminho que se descortina como possi-

bilidade duradoura para reequilibrar nossa

sociedade econômica no que se refere à

criação de novos empregos?

Quem responde é o economista e pes-

quisador Bacha: O empresário privado

não tem estímulo no Brasil, para empre-

gar mão-de-obra a taxas correspondentes

a seu baixo custo social, porque para ele,

empresário, a mão-de-obra é relativa-

mente cara. Ao contrário do que seria de

se imaginar a alternativa para o empresá-

rio é fazer um investimento intensivo em

capital. E, ao contrário da mão-de-obra

cuja utilização é punida pelos encargos

trabalhistas, o capital tem seu custo bara-

teado em inúmeras formas pelo governo:

taxas de juros baixos e mesmo negativas

em termos reais, deduções fiscais de fun-

dos 34/18 para inversões no Nordeste,

isenção de impostos para importação de

equipamentos, etc. A indução a baixa

geração de emprego proporcionada por

esses incentivos ao uso do capital e por

essas punições intersetoriais da política

de

substituição de importações. Essa politi-

ca, ao congelar a taxa de câmbio, afugen-

toú os investimentos em mão-de-obra; e,

ao erigir barreiras aduaneiras intranspo-

níveis, atraiu investimentos a setores de

indústrias substituidoras que geralmente

são intensivas em capital.

Essa política econômica é que foi res-

ponsável deliberadamente pela adoção no

nosso país de uma prática voltada para a

simples cópia do desenvolvimento indus-

trial dos países com modelos tecnológicos

já consagrados e inclusive que contam

Indústria

não cria

empregos

Para se ter uma idéia mais clara do

assunto, basta que se diga que a média da

relação empregos gerados pela indústria

nos países desenvolvidos é de 0,82 por

cento, enquanto que para o Brasil a pro-

porção é de 0,28 por cento. Ou traduzin-

do mais objetivamente; países como

EUA, Dinamarca, Noruega, México, Ho-

landa, Canadá e Itália, a média simples,

excluído o Brasil, é de 0,82 por cento, e

para o nosso País a média é de 0,28 por

cento. Significando que para 10 por cento

de industrialização temos 8,2 por cento

dc empregos industriais nos países relacio-

nados, em média. E no Brasil para os

mesmos 10 por cento, temos efeti-

vãmente criados apenas 2,8 por cento. E

um quadro terrível. Especialmente quan-

do constatamos que nas nações desenvol-

vidas para cada 10 por cento de industria-

lização são gerados 8 por cento de empre-

gos.

Nossa performance em matéria de cria-

ção de empregos industriais é das mais

desajustadas do mundo, refletindo esse

quadro de maneira imperativa sobre o

nosso povo. A utilização de indústrias

com técnicas altamente poupadoras de

mão-de-obra é uma das distorções mais

graves. Por exemplo, no Centro Industrial

de Aratú, na Bahia, existe programa-

damente em execução a implantação de

indústrias com a utilização de um mínimo

de mão-de-obra. Para não falarmos no

Centro-Sul onde o problema ainda é mais

grave.

Sofre portanto nosso processo indus-

trializativo de uma atrofia congênita: é

incapaz de criar empregos no volume que

necessita o país para a consolidação de

seu progresso.

O desemprego, dessa maneira, tende a

se consolidar na medida em que não se

altere na raiz essa gritante distorção no

nosso processo industrializativo, mais ca-

racterizadamente presente nas últimas

duas décadas.

Precisamos de uma política econômica

de desenvolvimento que incorpore faixas

maiores e sempre crescentes, inclusive pe-

los problemas demográficos gerados,

na

sociedade brasileira. Não podemos assistir

a um processo de enriquecimento nacio-

nal com a marginalização de camadas

sempre maiores do seu povo. A verdadeira

e duradoura estabilidade econômico-

social só será possível no dia em que

banirmos da nossa sociedade distorções

como as causadas pelo desemprego e pelo

subemprego.

Tem muita razão o economista João

Pinheiro Neto quando afirma: É de se

notar que desemprego em país subdesen-

volvido não tem as conotações inerentes

aos países mais adiantados em que o

seguro social supre as necessidades funda-

mentais do indivíduo. Subemprego ou

desemprego em país como o Brasil é

,marginalização no duro, sem alternativa

outra senão a da miséria e da frustração

crescente.

E tudo isso reflete negativamente nas

próprias aspirações de crescimento de um

mercado interno, objetivo de todo empre-

sário de visão. Obviamente não existindo

condições econômicas que proporcionem

uma circulação de riqueza de modo mais

democrático, passa a haver uma concen-

tração de recursos nas mãos de poucos,

atrofiando a possibilidade de apareci-

mento de um futuro mercado interno. E

ficamos então reduzidos ao subconsumo

que tende a se agravar de ano para ano. E

sem um mercado interno sólido, fluente e

consolidado será impossível construirmos

¦ o Brasil-Grande, aspiração de todos nós.

¦¦

ei

Bi

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W-tl** *X*TÍÍr* «¦B ¦*-**-*'^^t\^^^^^^99su—^——^^t Barão de Itararé

MeM

Ninguém

mofo o

Arco Ins

Caetano Veloso, Chico

Buarque de Holanda, Tom

Jobim, Bibi Ferreira, Del-

fim Neto, Barão de Itararé,

Djanira e o jogador de fu-

tebol Brito são alguns dos

personagens de Ninguém

mata o Arco íris, de José

Cândido de Carvalho, cujas

entrevistas romanceadas

serão apresentadas, ainda

este mês, pelo o genial au-

tor de OCoronel e o Lobi-> somem.

Lá o diabo,

aqui Deus

Se fosse na União Sovié-

tica, em Cuba, na China,

no Chile e até mesmo no

Peru, O Globo e o Jornal

do Brasil dariam manche-

te. Como é no Rio Grande

do Sul e a responsabilidadeé da geada, mandada porDeus, ninguém deu uma

notícia sequer. A safra

gaúcha de trigo para este

ano, prevista pelo governo

para dois milhões e meio

de toneladas, não chega a

um milhão de toneladas.**v Resultado: mais de um bi-

Ihão de cruzeiros novos de

prejuízo. 0 Banco do Bra-

sil vai refinanciar as dívi-

das em quatro anos.

Caminho e

descaminhoBagé, um dos redutos

do MDB, caiu nas mãos daArena. Ao tomar conheci-mento disso, ontem, o Pre-

sidente enviou a seguinte

mensagem aos dirigentes

arenistas locais: "Tomando

conhecimento da vitória

da Arena em Bagé, queromandar meu abraço calo-roso a meus correi igioná-

rios. muito especial ao Pre-

feito Antônio Pires. Bagé,finalmente, entrou no ca-

minho certo, .apoiando o

Governo da Revolução.

Conclusão: O MDB é o

caminho errado. E quemestá no caminho errado se

prepare para um puxão de

orelha. Agora, quando to-

do mundo estiver no cami-

nho certo, o pafs estará no

caminho errado, porqueestaremos no caminho do

partido único.

O grande

consumido

O dólar, pela sétima vez

nestes onze meses, foi va-

lorizado em relação a 1 cru-

zeiro. Desta vez, 1,16%, o

que perfaz um total de

9,46% a partir de 1o. de

janeiro. Agora, ficou mais

fácil aos exportadores fa-bricarem divisas, na mesma

proporção em que ficoumais difícil para o consu-midor interno. Este, no jo-

go da política cambial, é o

grande consumido.

A Bolsa

vazia

Nem mesmo os analistas da

Associação Brasileira de Analis-

ta de Mercado de Capitais

acham-se capazes para explicar

o fenômeno que é a Bolsa de

Valores no Brasil. Muitos em-

postam a voz e começam a ga-

guejar explicações acadêmicas,

que nada mais fazem que criar

mais confusão. Outros, já cons-

cientes de que a situação é

drástica, dizem que este com-

portamento não deve durar

muito tempo. No entanto, to-

dos são concordes em admitir

que é de causar estranheza o

pequeno volume de negócios

registrados nos últimos perío-

dos. Segundo eles, as providên-

cias governamentais, todas elas

altamente estimuladoras, não

foram capazes de reverter o

comportamento, de forma que

papéis da importância do Ban

co do Brasil continuam com

suas cotações aviltadas e com

um volume de negócios tão re-

duzido que preocupa até aos

mais otimistas.

A ponte

financeira

da Ponte

0 secretário da Fazenda

de São Paulo, Antônio

Carlos Rocca, dizia esta se-

mana a um amigo do go-verno da Guanabara:

0 grande beneficiado

com o Progres — Programa

de Vias Expressas — foi a

Guanabara.

Por que?Porque o governo es-

tava sem verba para con-

cluir a Ponte Rio-Niterói.

ê bem verdade que todos

nós nos beneficiamos tam-

bém, por via indireta.

Frevo

de uma

nota só

Era Ido Gueiros, gover-nador de Pernambuco, eBarreto Guimarães, vice-

governador de Pernambu-co, entraram no famoso

restaurante Leite, do Recife. O garçon gritou:

Serviço para dois.Sairam correndo.

Os meninos

de Nixon

O republicano ouviu Ni-xon dizer que ia substituiros titulares de dois mil

postos-chaves do governo.Correu à Casa Branca:

— Quero um lugar pa-ra mim.

0 que é que você sabe

fazer?Nada.

Ótimo. Não é precisotreinar.

(Esta era a última piadana Casa Branca, esta sema-

na).

fogo

Kruzado

"Os aumentos salariais

são o resultado da infla-

ção, e não a sua causa".

{Milton Friedman, econo-

mista da Universidade de

Chicago, que sabe que não

são os trabalhadores os res-

ponsáveis pela inflação,

porque eles não passam de

sua maior e mais sofrida

vítima}.

IPECEA, UMA

VELHA AMIGA DO MAR

Considerada de interesse para o desenvolvimento do

Nõtdeste, conforme resolução 5.013 d3 Sudene, funciona

em Fortaleza a Indústria de Pesca do Ceará S/A (Ipecea),

conhecida internacionalmente e de quem se diz ser uma

velha amiga do mar.

Fundada em 1961, valeu-lhe o pioneirismo, acrescido a

decisão e coragem de investir numa área considerada pro-

blemática, o fato de ser hoje dona de um notável

know-how, utilizando o que há de mais moderno em ma-

teria de equipamento para pesca. Possuindo uma das

maiores frotas do Brasil (36 de vários tipos e tamanhos e

que será aumentada até completar 53 unidades, no fim do

ano), oferece excelente oportunidade de ganho de dinhei-

ro, através da aplicação do Imposto de Renda.

Seu presidente é Luís de Campeio Gentil que tem como

companheiros de diretoria os senhores Paul Mathieu Mat-

tei (Superintendente), José Gentil (Diretor Industrial) e

Dante Costa Lima Vieira (Diretor Comercial), homens de

largo conceito nas esferas econômicas do Estado, a empre-

sa recebe assessoria administrativa da Planasa (Planejamen-

to Assessoria e Serviços Administrativos S.C. Ltda.) e au-

ditoria da Price Waterhouse Pat Go. Sua captação de in-

centivos fiscais está a cargo da Recrutec - Recrutamento

Técnico de Capitais Ltda.

O BOI DO FUTURO

Seus diretores, técnicos e funcionários tratam com o

peixe. E aceitam quando o simples popular diz que setrata do boi do futuro. Concordam quando os cientistas

afirmam: é a carne do futuro. A famosa lagosta nordestina

que o mundo avidamente disputa e paga muito bem (em

dólar e à vista) concorre para aumentar nossas divisas e, na

batalha que os homens do governo travam para aumentar

nossa cota de exportação, a Ipecea pode dizer que aten-

deu ao chamamento, exportando, só nos últimos cinco

anos (e aqui são computados os dados em termos apenas

dos Estados Unidos) a significativa cifra de onze milhões

de dólares, constituindo-se, isoladamente, na maior expor-

tadora de lagosta do mundo. Para explicar esse fenômeno,

não há dificuldade: em pesca, uma das razões é que a

procura é muito maior que a oferta. E o Exterior reclama

mais lagosta e peixes. O Brasil, para suprir a demanda, tem

uma verdadeira mina: 7.367 quilômetros de costa, por

200 milhas de largura, o nosso mar territorial. Uma mina,

já se vé inesgotável, pois as riquezas do mar se renovam

naturalmente.

E a Ipecea sabe disso. Pois ela e ornar são velhos e bons

amigos.

¦¦K"... '*''** ***1U____WIÊ_______W^

A Ipecea - Indústria de Pesca do Ceará SA. - possui umaJrea construída

de 5.570 metros quadrados e está procedendo sua ampliação em mais

metros quadrados. Suas câmaras frigoríficas têm capacidade de estocar

toneladas e estão sendo ampliadas para 970 toneladas. Sua fabricação diaru?

gelo é de 90 toneladas. Contribuindo para minorar o problema social do

deste oferece 350 empregos diretos e 5000 indiretos E esses números sera^

consideravelmente aumentados com a conclusão dos entrepostos de

Branca (Rio Grande do Norte), Amarração (Piaui) e com o aumento des

frota pesqueira. Até o final do ano, 53 dos seus barcos estarão pescana^^

longo de nossa costa. ******

Page 21: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

Danúbio

Rodrigues

V"feafln

I nP^^_ÉBfi_l_£ fe>raLlJUEnfr -« H^^ l dolivro J

TWMk> 'J_W_1 —— JJean-Claude Duvalier

PRÊMIO

NOBEL PARA O

BABY DOC

0 presidente Vitalício do Haiti, Jean-

Claude Duvalier, o popular Baby Doe

(leio no JB de 18/11/72), destituiu o ge-

neral Luckner Cambronne das funções

de ministro ao mesmo tempo do Interior

e da Defesa Nacional. Era de manhã cedi-

nho, quando tomei conhecimento do fa-

to, ainda havia sol brando, as empregadas

passavam lá embaixo com um pão grande

e um litro plástico de leite. Ninguém

quebrava a rotina, o povo saía apressado

como que temendo mais um dia de^preo-

cupações e responsabilidades. Então, me

lembrei de Jacques Stéphen Alexis, de

repente. Nunca o vi, sequer de retrato;

lembro apenas da notícia da sua morte,

espalhada ao mundo aí pelo início da dé-

cada de sessenta. Ele voltava do exílio

(nos Estados Unidos) quando foi preso

por ordem direta de Cambronne, o cria-

dor dos tonton-macoutes. Falam horro-

res de como o rapaz se acabou. Reza

uma versão que trouxeram a sua família

para presenciar tudo e, a punhal, arranca-

ram-lhe os olhos, devagarinho, em meio a

gargalhadas de alguns. Depois picaram-lhe o corpo, enquanto a mulher, aos ber-

ros, pedia clemência; e as crianças, sem

entenderem coisíssima alguma, choravam

histéricas. Não afianço nada, apenas pas-

so o que se ouviu nesse sentido, à época.

Luckner Cambronne - ex-caixa de

banco particular, filho de agricultores -

é ainda novo, há pouco fez quarenta e

dois anos. Tão Jovem, mas dono já de

uma fortuna estimada em dez milhões de

dólares.

-Tenho riqueza para quatro gera-

ções!

Dizem que ele gosta de repetir essa

frase. A dinheirama desse cidadão do

mundo subdesenvolvido deve-se aos ne-

gócios em que se meteu, junto com o seu

grupo de vinte e cinco altas personalida-des do país. Unidos pela pátria, empilha-

ram duzentos milhões de dólares nos ul-

timos quinze anos, exportando sangue é

cadáveres para pesquisas em hospitais

norte-americanos, por intermédio da He-

mo Caribean S/A, açulando o tráfico de

passaportes, além de transações ainda

por serem dadas a público. Até mesmo o

embaixador dos Estados Unidos no pais,

Clinton Knox (de cor negra), amigo inti-

mo de Cambronne, passou a negar-lhe

cumprimento, comenta a notícia. Depois

da gente ver tudo isso, o jeito é dar razão

mesmo ao Papa Paulo VI-o diabo real-

mente existe e circula solto por ai, encar-

nando-se nesses tais cambronnes.

- Cada bom duva/ierista deve estar

pronto para matar seus pais ou os pais

matarem seus filhos.

Eis uma lapidar conclusão! Paradigma

do equilíbrio, acentuado humanismo,

preclaras intenções de formar uma fami-

lia sadia e unida no Haiti! Que excelente

teórico da conciliação! Por que essas

idéias ainda não foram aproveitadas pe-

los organismos internacionais? Onde es-

tá a ONU que não conduz esse pacifista a

sua presidência em caráter perpetuo?

Aqui do meu canto, sugiro à Editora

Abril incorporar à sua recém-lançada co-

TJção Os Pensadores (aliás, de uma beleza

gráfica extraordinária) aobra completa

de Luckner Cambronne. E os ******

suecos, por que não dotam oHaWda um

Nobelde Literatura, imediatamente?

Ora, mas isso já são divagações de um

jornalista desempregado. O P"*idente

Jean-Claude - jovem de vinte e um anos

- tomou as providências cabíveis, des-

bancando-o com um sopro. Esse pelo

menos até agora, parece ter sido o me-

Thor trabalho de Baby Doe. O de Jacques

Stéphen Alexis foi um romance, traduzi-

do para o espanhol com o nome de En

un Abrir y Cerrar de Ojos, lançado por

Ediciones Era, do México. Nele vagam

não apenas o sangue, o suor e o lacrima-

rio haitiano, mas o próprio vwm»*

um povo de tão belas e bravas tradições.

Balcão

• Até o dia 31 de de-

zembro sairá o nome do

ganhador do Prêmio Na-

eional de Romance José

Maria Arguedas, instituído

no Peru pela Goodyear de

lá. A dotação é alta: cerca

de dez mil cruzeiros. 0

que causou grandes co-

mentários foi o fato do

homenageado ter sido sem-

pre um homem ligado às

esquerdas, conhecido por

sua defesa intransigente

dos índios e por seu sólido

antiamericanismo. Os te-

mas também não sofreram

qualquer restrição, levan-

do-se em conta apenas queos originais fossem inédi-

tos e que por seu conteú-

do, técnica e estilo signifi-

quem um aporte à renova-

ção do gênero de acordo

com as exigências literárias

do nosso tempo.

Na Biblioteca de

Ciências Sociais, a Zahar -

editora das mais importan-

tes do país - tem novida-

des. A primeira delas é Da

Substituição de Importa-

ções ao Capitalismo Finan-

eeiro, da professora Maria

da Conceição Tavares;

Uma Reavalização da Eco-

nom ia Marxista, do pro fes-

sor Murray Wolfson, da

Universidade de Oregon,

traduzido por Rui

Jungmann; e também o

Frentes de Expansão e Es-

trutura Agrária, estudo so-

bre o processo de penetra-

ção na Transamazônica, do

professor Otávio Guilher-

me Velho.

A revista tri mensal

Sin Nombre, de Porto

Rico, publica no seu nú-

mero de janeiro-março um

estudo comparativo entre

o negro na poesia de Luis

Pales Matos e na de Jorge

de Lima, do crítico Victor

J. Rojas. A assinatura da

publicação custa dez dóia-

res anuais. Endereço -

Apartado 4391, San Juan,

P.R. 00905.

Está para sair uma

nova edição da tradução

brasileira de A Peste de

Albert Camus, pela Livra-

/ia José Olympio Editora.

O seu autor chama-se Gra-

ciliano Ramos, que assi-

nou-a somente GR, e redi-

giu-a totalmente quando se

achava preso. Aliás, além

desta, o velho Graça só fez

mais uma tradução: Memó-

rias de um Negro, do ame-

ricano Washington Booker.

0 escritor Alceu

Amoroso Lima mandou te-

legrama para o editor Ênio

Silveira, solidarizando-se

com o drama que represen-

ta o pedido de concordata

de uma Casa de Livros tão

importante, num país em

desenvolvimento. A noti-

cia, aliás, causou forteum-

pacto também nos círculos

mais conservadores do

País, dando margem a in-

terpretações as mais desen-

contradas possíveis, todas

de lástima.

• Comenta-se que mais

duas editoras brasileiras -

amhas de São Paulo — es-

tariam sendo negociadas

por grupos estrangeiros -

um americano e outro ale-

mão, no maior segredo. In-

felizmente, ainda não es-

tou autorizado a revelar os

nomes; sei só que uma de-

Ias serviria para formar ex-

celentes tradutores do in-

glês, principalmente de

assuntos técnicos.

Page 22: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

POLITIKA

[l^rtteiaJ

global

"5

De como o orgulho nacional pelo coco me faz mostrar

o mapa, com a nossa idolatrada Bahia de Todos os Santos e do

pai de santo Jubiabá - A salsicha em Moscou é maior emais bonit?'™5

é preciso saber russo para pedí-la. Por outro lado, as mulheres de

Hong Kong bebem rápido para pedir outro drinque: e os forasteiros e

aue pagam. Câmbio negro de dólar também nas barbas do Kremhm.

0 cambista era uma cara conhecida de outras andanças.

Augusto

Pereira

MEMÓRIAS

DE UM

DIPLOMATA

y^PIPLOMATAy

Esse coco maravilhoso

e seus nomes estranhos

Madama que me hospedava em uma suite reservada

não tinha aquilo que minha avó chamava de mãos a

medir para agradar o hóspede. E em cada almoço

havia sempre um pratinho ocidental ou uma sobre-

mesa diferente. Eu mesmo avisara que não comia

comida folclórica paquistanesa.

Em certo almoço, madama me apresentou a sobre-

mesa. Num prato desenhado de flores azuis, louça

from London, estavam uns pedacinhos de coco de

polpa curta, esmirrada. Ela mesma se serviu, comendo

o coco com a mão, em bruto, e me ofereceu:

Gosta? É coconut.

Olhei os míseros pedaços de coco de polpa esmirra-

da naquele prato de louça londrina e disse:

Gosto, mais ou menos...

Ela sorriu como se estivesse me mostrando algo

muito especial.

Depois, perguntou:

Conhece? É coconut!

Olhei os pedacinhos de coco esmirrados. Respondi:

Conheço com o outro nome. Sem o nut.

No Brasil tem coconut?

Me senti ofendido. Ora, meu Deus, se no Brasil tem

coco? Imediatamente saí da mesa, fui à minha suite,

apanhei um mapa do Brasil. Voltei à sala de jantar e

espalhei o mapa frente à madama. Aí apontei para a

nossa costa:

Olha, madama, coconut tem por aqui tudo. ..

Tudo isto é praia com coconut.. .

Ela arregalou os olhos, espantada. E aí eu apontei a

Bahia:

... aqui, então, maçiama, é o que mais tem...

E levantei da mesa, muito orgulhoso do meu Brasil!

COISAS »E

HONG KONG

Éramos uns cinco, vagando pelas ruas de Hong

Kong, aí pelas 11 horas da noite. Depois de um

repasto em restaurante chinês, alguém teve idéia de

percorrermos as buatinhas e inferninho®

Um chinês foi quem nos convidou a entrar. Oh! o

ambiente típico da Lapa e adjacências. No Rio, como

Ml Paris, conto em Ltatoaa a Mfln® Kong. Elas, as

a fazendo sala. Madama comfci*

| noitada.

Apontaram pra gente té em cima. Um segundo

Mais aconchegante. Uma pra cada. Madama

veio a disse:

Meninas querer drinque.

Oh, yes?

E madama cobrou de cada um, doze dólares de

Hong Kong (seis dólares de Hong Kong por um

americano). Vieram os drinques. Rápido. Amarelo,

com cara de chá. As meninas viraram o drinque.

Madama:

Outro, outro... Meninas querem mais.

Não se tinha tempo de nada. Vieram os drinques.

Paga-se adiantado. Mais doze dólares de Hong Kong.

Madama:

Meninas querem mais. . .

Em cinco minutos, as meninas viraram seis drin-

ques cada uma. Não se teve tempo nem de dançar. . .

Um do grupo levantou e gritou:

Vamos embora, pessoal! Assim a gente volta a pé

pro Brasil.

A menina que me coube tinha tomado dez drin-

ques em cinco minutos.

CAMBIO NEGRO

Em Moscou, há uma grande decepção ao forasteiro.

O dólar não vale nada. No câmbio oficial, um dólar

compra apenas 90 copégues de rublo. Não se chega a

trocar um por um. O Kremlim acha que o dinheiro

dele é mais forte. Mas em Moscou existem pequenas

lojas em hotéis onde se compra a dólar.

O motorista do táxi que me serviu de cicerone para

trocar dólar por rublo ficou extaziado com um vodca

para turista especial. E me propôs, por gestos. Depois

entendi mais ou menos isto:

O senhor compra o vodca em dólar.

Entendi, entendi...

Depois, o senhor cambia o dólar pra rublo,

desconta na corrida do táxi...

Não foi má proposta.

Mas, uma noite, subi ao sexto andar do Hotel

Continental da Aeroflot para comprar qualquer coisa

na cantina que ficava aberta a noite inteira.

Ah, sim, eu ia comprar chocolate. E no balcão, fiz

sinal a senhora, mostrando o que eu queria. Nisso me

bateram nas costas e uma voz disse em inglês:

Quer trocar dois rublos por um dólar?

Nlo virei. Falei baixo:

Isso nlo é câmbio negro?

A pessoa falou:

Não tem importância. Dou dois rublos por um

dólar.

Virei de frente. E tomei um bruto susto. Era um

rapaz de óculos fortes, cabelos meio grisalhos. E

parecidíssimo, sim, disso eu tenho certeza, pare-

cidíssimo com o Paulo Francis!

Desconfiei daquele Paulo Francisco de Moscou e

me recusei a trocar o dólar pelos dois rublos.

A SALSICHA

Dez horas de jato e diferença de horário me

fizeram dormir, a primeira noite, em Moscou, aí pelas

8 da noite. Pois às 4 da manhã estava desperto. E com

uma bruta fome. Não tinha jantado. Desci ao restau-

rante. Fechado. Perguntei a uma servente. Resposta:

No sexto andar tem uma cantina a noite inteira.

Na cantina, empregados chegando para o serviço

diário. Um balcão de vidro como os daqui. Dentro do

vidro, os pratinhos prontos: queijo, presunto, morta-

dela etc. Pequenas mesas. A pessoa pede no balcão e

senta-se à mesa, sem garção. Na cantina é assim. Pelo

vidro olhei uma linda salsicha. Gorda, rosada. Tremi

por ela. Perguntei à moça se falava inglês. Não.

Francês. Não. Espanhol. Qual. Apontei uma garrafa

de leite:

Milk, milk...

Me deu o leite. Aí apontei no vidro pro prato de

salsicha. A moça me deu presunto, queijo, mortadela,

mas a linda salsicha rosada não veio. Aceitei tudo e

comi com uma fome desesperada. Mas recalquei a

salsicha. Voltei a dormir. As 9 horas desci para o

breakfast e lembrei da salsicha. Agora, no restaurante.

Não sabia como se chamava em russo. Desenhei no

guardanapo. A garçonete me trouxe pão, ovos, o

diabo, menos a salsicha rosada de meus complexos

No dia seguinte, travei conhecimento com a chefe

do meu andar. Marinha. Passara dez anos em Paris e

falava francês. Eu arranho.

A noite lembrei da salsicha. Depois de muito

conversar com Marinha, perguntei:

Marinha, hoje quis comer uma coisa que nao

sabia o nome em russo. Fiquei com uma vontade

louca.

O que?

E eu:

Como é salsicha em russo?

Desci pro restaurante e pedi duas

t

_

Page 23: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

politika!

A Editoria

JO SINO DE SALES (Rio de Janeiro — Guanabara) —

"Venho felicitá-los

vivamente excelente no. 55 dedicação especial aniversário que bem vem

demonstrar como se pode fazer bom sério jornalismo não apenas de informa-

çao como também precisa crítica construtiva pt aproveito ainda manifestar

meu reconhecimento este grande órgão nossa imprensa pela espontânea di-

vulgação que fez número anterior de comentários ilustríssimo Carlos Lacerda

propósito personalidade meu saudoso querido pai Ephigenio de Sales vg

antigo jornalista et político vg que foi vg faz cerca cinqüenta anos vg deputa-

do vg senador federal vg presidente Amazonas vg aquela distante época terri-

tório brasileiro tão perdido abandonado Poder Central pt Cordiais visitas pt

Abraços agradecidos

korreio

Antes de tudo, os aplausos

FRANCISCO DE OLI-

VEIRA (Curitiba — Para-

nâ) _

"Antes de mais na-

da, meus efusivos parabéns

peía extraordinária publi-

cação semanal de POLI-

TIKA, que em Curitiba,

como em outras cidades,

todas as semanas é pro-

curado avidamente em to-

das as bancas do Estado,

por ser talvez o único pe-

riódico do Brasil atual que

o povo pode ler sem sentir

pejo pela subserviência, pe-

Ia mentira encomendada e

pela hipocrisia oficial e ofi-

cializada. Nunca, em tem-

po algum, se mentiu tanto

neste Brasil. Nunca o cinis-

mo oficial chegou a tal

ponto de envergonhar as

gerações jovens e puras de

nossos filhos. Nota-se o

patriotismo, a beleza da

orientação popular e na-

cionalista de seu jornal,

desde a primeira ate a últi-

ma página, principalmente

nas análises sócio-econômi-

cas da situação, como na

apresentação correta e in-

discutível dos fatos políti-

cos e históricos, próximos

ou remotos, que se rela-

cionem com os interesses

da nossa Pátria. Deus guar-

de vocês e todos os que aí

trabalham, neste espírito

de independência e, acima

de tudo, de coragem inte-

lectual e jornalística, por-

que só assim os nossos jo-

vens filhos podem ainda

ter fé e esperança no ama-

nhã mais digno e menos

hipócrita para a nossa

terra. Meus parabéns pelos

maravilhosos comentários

e informações sobre a re-

portagem com relação à

verdade sobre a indepen-

dência, publicado no nú-

mero 47, que se esgotou

rapidamente nas bancas de

Curitiba, e que gerou uma

série de discussões, sendo

analisado por grupos uni-

versitários, com aplausos

gerais e admiração pela co-

ragem de sua divulgação".

AZEVEDO ROLIM

(Rio Bonito — Rio de Ja-

neiro) —

"Não lhes telegra-

fo cumprimentando pelo

ANOII e respectivo núme-

ro 54 de POLITIKA por-

que telegrama, hoje, no

Brasil, é privilégio dos que

podem. Escrevo-lhes como

ledor e colecionador deste

jornal sem paralelo,

cujos

números de 1 a 54 ali^se

me defrontam. Condições

me assistiram e possibi-

Iidades houveram e eu es-

taria levando POLITIKA a

cada cidadão que lê e se in-

teressa pela verdade dos fa-

tos. Não preciso ler a crô-

nica do ano passado para

dizer-lhes se foram ou não

fiéis ao compromisso ini-

ciai. Trago-lhes meu abra-

ço fraternal de velho con-

frade interiorano, sem vez

e sem voz na imprensa me-

tropolitana, e com esse

abraço, sincero como a

verdade pela qual sempre

lutei, a confirmação que

pedem e meus aplausos

pelo jornal que vocês

deram e continuam ofere-

cendo ao Brasil e aos brasi-

leiros que se orgulham des-

te pátrio adjetivo. Oxalá

forças e vida me assistam

para repetir este abraço

através dos tempos que

virão. É minha convicção

de que a Pátria brasileira,

mais e sempre mais no seu

caminhar para seu grande

destino, precisará de POLI-

TI KA no programa que se

traçou, vez que a cada ins-

tante mais se aguça o ape-

ti te desse moloch insaciá-

vel que vê no Brasil a for-

ma de um presunto, como

no-Io dissera^ o grande

Eduardo Prado".

EDMILSON SILVA

COSTA (São Luís -

Mara-

nhão) -

"Devido à hones-

tidade com que esse se-

manário sempre apresenta

os fatos, dentro da legal i-

dade vigente, me dispus a

escrever-lhe esta, na certe-

za de que será publicada.

Assim como a Espanha foi

o laboratório do nazi-fas-

cismo, o Vietnã está sendo

o laboratório do imperia-

lismo de novo tipo - arra-

sa cidades, devasta planta-

ções, mata civis com as

armas mais diabólicas pos-

síveis e, através da propa-

ganda, do poderio

econô-

mico e de giros políticos

oportunistas, tenta posar

para o mundo como cons-

trutor da paz —

que não

perdoa povo algum por ter

se libertado ou tentar li-

bertar-se. Ainda mais: bre-

ve nós veremos países dâ

América Latiná serem in-

vadidos sob o pretexto de

se estar lutando contra o

comunismo ateu. E as ar-

mas que serão usadas nessa

invasão, juntamente com a

experiência colhida na

agressão aos vietnamitas,

serão ainda mais diabóli-

cas, uma vez que já f9ram

testadas com a eficiência

que todos são conhece-

dores. Aqui cabe um velho

trecho da sabedoria popu-

lar: quando vires a barba

do teu amigo sendo quei-

mada, põe a tua de molho.

Mas o que mais me entris-

tece é saber que um presi-

dente da marca de Nixon

ainda é capaz de ganhar as

eleições num país que se

intitula porta-voz do mun-

do livre. Segue um poema

ao povo do Vietnã: quem

não sente/ uma dor amar-

ga/ quando as lâminas da

prepotência/ retalham

homens e nações/ para es-

cravizá-los? / Quem não

maldiz/ os massacres do

Vietnã?/ E quem não

exalta/ a bravura do

vietcong? / Vai pompc1

mensageira intrépida/ fen-

dendo os ares do infinito/

pousa nos rincões longín-

quos do oriente/ o Viet-

nã:/ pátria sofrida do viet-

cong!/ Põe um ramo de

oliveira/ na cova daquele

bravo/ que morreu pra li-

bertar seu povo!"

RAUL FALCÃO (Pelo-

* tas

- Rio Grande do Sul)

— "Solicito

enviar-me os

números 28, 29, 31, 33 de

POLITIKA, pois o distri-

buidor local não os rece-

beu e nem se interessou

em mandar buscá-los".

GUIMEL FONSECA PI-

NO (Niterói —

Rio de Ja-

neiro) —

"Solicito o envio

dos números 1, 2, 3, 4, 5,

e 52 de POLITIKA, assim

como a maneira pela qual

devo efetuar o pagamen-

to".

GRUPO

ê conhecida a vocação do cearense para os grandes empreendi-

mentos. E de poucos anos para cá, mais se comprova essa a irma-

tiva, mormente porque uma ânsia de crescimento a todos domi-

na. 0 esforço nacional para que afinal se obtenha o desenvo vi-

mento, para que sejam minorados os problemas de natureza so

ciai, representados especialmente pelo desemprego, tem mereci-

do daquele Estado nordestino a esperada receptividade e tan o

prova que hoje já assinala o Ceará uma taxa significativa com a

instalação de novas indústrias, sabendo desfrutar dos inúmeros

instrumentos que o governo colocou à dispôs1??»0 <"l° emores rio.

A essa política governamental (crédito mais fácil^ assistência

técnica e outras facilidades o empresário deu as mãos e soud

enfrentar o desafio. Um desses, é o industrial Moysés Santiago

Pimentel que dirige o grupo que tem o seu nome e com uma

larga tradição no Ceará e no Extremo-Norte do Pais. O

é integrado pela Moysés Pimentel S/A Comércio e Inaus ria.

Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial, a Siqueira ug

S/A Comércio Indústria e o Banco da Parnaíba S.A.

AS EMPRESAS

Moysés Pimentel S/A Comércio e Indústria, cuja principal ati-

vidade é o comércio de açúcar é sucessora de .

Filhos, fundada em 1932 e que trabalhou inicialmenÇ

cool e depois com açúcar. Mantém filiais em Belém e

tem como seus diretores Tarquílio e Tarcísio Pimente

A Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial, un .

1964 e que sucede a Imobiliária Moysés Santiago ^,menQfi^

_

Por objeto inicial o beneficiamento de algodao. fcrn * .

seu projeto aprovado pela SUDENE e agora, além a

PIMENTEL EM TEMPO DE BRASIL-NOVO

Alonc wpnptfli$ rn me St I-que assinalou seus primeiros dias, produz óleos vegetais, comest í-

veis gordura hidrogenada e margarina. São os produtos do marca

"Pimentel" lançados há pouco mais de um ano, e exportados

para a Alemanha, Holanda, Japão, Antuérpia e Argentina. Sua

diretoria está integrada por Tarquílio, Tarcilio e Tácito Pimentel

e pelos senhores Luiz de Melo Filho e Francisco de Sales Pimen-

tel.

A Siaueira Gurgel S/A Comércio e Indústria, uma das mais

tradicionais empresas cearenses (fundada em 1919) foi mc°rP°*

rada recentemente ao yiupo c produz jjma ,n a

Jn^rnmo o

hastante difundidos e de grande ace.taçao no mercado, como o

Óleo Pajeú Óleo Cariri, Sabão Pavão e Mulatinho, Gordura

ciriri gíicerina, torta magra de algodão, babaçu e tucum.

O CAPITAL DAS EMPRESAS

Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial Capital Autoriza-

do Cr$ 22.000.000,00; Capital Integral.zado

-

CrSique?r8a99G'u0r0gel S/A. Comércio e Indústria Capital:

Cr

Essa^úhima^empresa que tem como diretor executivo o indus-

trial Moysés Pimentel, fundador do grupo elum verdadeiro <:apj-

tão de indústria, conta, ainda, em seus quadros, na qualidade de

Sente com a dra Geracy Melo uma jovem que ha pouco saiu

£ Universidade e a quem se destina um futuro brilhante na vida

empresarial mormente pelo discermimento e competencia que

vem demonstrando, aliando-se o fato de ser a pnm«r.

mulher a

dssumir tão importantes funções na área gerencial.

Aspecto da sede da Companhia Moysés Pimentel Agro-lndustrial

que integra o complexo industrial do grupo Moysés Pimentel. Lo-

caliza-se na Avenida Perimetral e produz com grande aceitação no

mercado, óleo e margarina.

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Page 24: I LJ II I II 1^ L 1^1 I Numero 59 CrS 2,00 ANQII Imemoria.bn.br/pdf/126535/per126535_1972_00059.pdf · Carlos Magalhães não perdia uma sequer. ... Danton Jobim. Quando não se acomodaram

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