IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA SOCIEDADE EM REDE · RESUMO NOVAES, Thelma. F. de. Identidade:...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP THELMA FERNANDES DE NOVAES IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA SOCIEDADE EM REDE Mestrado em Tecnologias da Inteligência e Design Digital São Paulo 2013

Transcript of IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA SOCIEDADE EM REDE · RESUMO NOVAES, Thelma. F. de. Identidade:...

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    THELMA FERNANDES DE NOVAES

    IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA

    SOCIEDADE EM REDE

    Mestrado em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital

    So Paulo

    2013

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO

    PUC-SP

    THELMA FERNANDES DE NOVAES

    IDENTIDADE: AS DIVERSAS FACES EM UMA

    SOCIEDADE EM REDE

    Mestrado em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital, na rea de concentrao Processos Cognitivos e Ambientes Digitais, seguindo a linha de pesquisa Aprendizagem e Semitica Cognitiva, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Tecnologias da Inteligncia e Design Digital sob a orientao do Prof. Dr. Alexandre Campos Silva.

    So Paulo 2013

  • FOLHA DE APROVAO

    ORIENTADOR:

    ________________________________

    BANCA:

    ________________________________

    ________________________________

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Alexandre Campos Silva, pelas valiosas contribuies que

    possibilitaram uma relao de discusso saudvel e inteligente, trazendo a luz do

    conhecimento a este trabalho.

    Edna Conti, secretria do TIDD, pela eficincia em suas atividades e pela

    ateno especial em todo o perodo do Mestrado.

    minha amiga Marcia Cristina Vieira Pinto, pelo apoio e o maior e inestimvel

    valor: a amizade.

    E minha famlia, pelo incentivo, desde sempre, ao meu crescimento pessoal

    e profissional.

  • A coisa mais indispensvel a um homem

    reconhecer o uso que deve fazer do seu

    prprio conhecimento. (Plato)

  • RESUMO

    NOVAES, Thelma. F. de. Identidade: as diversas faces em uma sociedade em

    rede. So Paulo, 2013. 97f. Dissertao (Mestrado) Pontifcia Universidade

    Catlica, So Paulo, 2013.

    Na rede, vivemos conectados, interligados, independentes e indissociveis. A

    sociedade em rede caracterizada pela globalizao, flexibilidade e interatividade. A

    ps-modernidade acompanhada de diversas caractersticas na qual podemos citar

    entre outras, velocidade de informaes, instantaneidade, transitoriedade e falta de

    profundidade. Por sua vez, o indivduo com o objetivo de se autorrepresentar dentro

    de um contexto social organizado em rede, expressa na internet suas referncias,

    interesses e caractersticas pessoais. O objetivo dessa pesquisa analisar as

    identidades na rede considerando as formas de apropriao dos espaos de

    expresso pelos sujeitos na Web. O estudo considera um levantamento bibliogrfico

    de diversos autores que abordaram o tema como Castells, Hall, Turkle, Bauman,

    Sibilia, Giddens, Santaella, Recuero, entre outros. As redes sociais, subjetividades e

    o novo eu, percepo, imagem, contexto, relacionamentos amorosos na rede,

    perfis falsos e exemplos do impacto de identidades na Web foram analisados nesse

    estudo. Para elaborao deste trabalho foi utilizada a metodologia de rastreamento

    derivada do mtodo de etnografia digital e a metodologia exploratria de pesquisa

    bibliogrfica em livros e documentos publicados na internet, bem como a

    participao da pesquisadora como usuria em diversas redes sociais. A concluso

    substancia a afirmao de diversos autores que consideram as identidades ps-

    modernas fragmentadas e mltiplas.

    Palavras-chave: Identidade; ps-modernidade; rede; redes sociais.

  • ABSTRACT

    NOVAES, Thelma F. de. Identity: the many faces in a networking society. So

    Paulo, 2013. 97f. Dissertation (Master) Pontifcia Universidade Catlica, So Paulo,

    2013.

    On the network we live connected, interconnected, independent and interrelated. The

    network society is characterized by globalization, flexibility and interactivity. In this

    context, post-modernity is accompanied by several characteristics which we mention

    among others, speed information, immediacy, transience and lack of depth. In turn,

    the individual in order to represent himself within a social context organized in

    network, express on the internet his references, interests and personal

    characteristics. The objective of this research is to analyze the identities in the

    network considering the forms of appropriation of spaces of expression by the

    subjects on the Web. The study considers a literature of several authors who have

    addressed the issue as Castells, Hall, Turkle, Bauman, Sibilia, Giddens, Santaella,

    Recuero among others. Social networks, subjectivities and the new I, perception,

    image, context, loving relationships in the network, fake profiles and examples of the

    impact of Web identities were analyzed in this study. For preparation of this paper we

    used the tracking methodology derived from the method of digital ethnography

    methodology and exploratory research on books and documents published on the

    Internet as well as the participation of the researcher as users in different social

    networks. The conclusion substantiates the claim of many authors who consider the

    identities post-modern fragmented and multiple.

    Key-words: Identity; post-modernity; network; social networks.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Pg.

    Figura 1 Identidade ................................................................................ 11

    Figura 2 Mapa mental ............................................................................ 18

    Figura 3 Modernidade ............................................................................ 21

    Figura 4 cones e pastas ........................................................................ 22

    Figura 5 Eu ............................................................................................. 23

    Figura 6 Reflexo da identidade ............................................................... 25

    Figura 7 Construo da identidade ........................................................ 27

    Figura 8 Identidades mltiplas ................................................................ 28

    Figura 9 Sociedade ................................................................................ 29

    Figura 10 Movimentos sociais ................................................................. 31

    Figura 11 Naes .................................................................................... 33

    Figura 12 Mdias ...................................................................................... 35

    Figura 13 Identidades ps-modernas ...................................................... 36

    Figura 14 Espetculo .............................................................................. 37

    Figura 15 Proliferao de imagens .......................................................... 38

    Figura 16 Voc ........................................................................................ 40

    Figura 17 Experincia subjetiva .............................................................. 42

    Figura 18 Olhar alheio ............................................................................. 43

    Figura 19 Click ........................................................................................ 44

    Figura 20 Mscaras ................................................................................. 45

    Figura 21 Incgnitos na rede ................................................................... 46

    Figura 22 Buscador Google ..................................................................... 48

    Figura 23 Imagem na internet ................................................................. 52

    Figura 24 Geolocalizao de fotos no smartphone ................................. 53

    Figura 25 Perfil falso ............................................................................... 55

    Figura 26 Relacionamento na rede ......................................................... 58

    Figura 27 Delete-me ................................................................................ 60

    Figura 28 Identidade na rede .................................................................. 63

    Figura 29 Construo da identidade ....................................................... 64

    Figura 30 Site PagSeguro ....................................................................... 65

    Figura 31 Comunidade Gay no Facebook ............................................... 66

  • Figura 32 Site Greenpeace ..................................................................... 67

    Figura 33 Usurio do Facebook .............................................................. 70

    Figura 34 Usurio do Linkedin ................................................................. 72

    Figura 35 Carto do Linkedin .................................................................. 72

    Figura 36 Carta do Linkedin .................................................................... 73

    Figura 37 Twitter ..................................................................................... 74

    Figura 38 Alcance real Klout ................................................................ 77

    Figura 39 Amplificao Klout ................................................................ 77

    Figura 40 Influncia na rede Klout ........................................................ 78

    Figura 41 Usurio Klout ........................................................................... 78

    Figura 42 Usurio Obama no Twitter ...................................................... 81

    Figura 43 Movimentos sociais no Brasil junho de 2013 ....................... 83

    Figura 44 Movimentos sociais e as redes sociais ................................... 84

    Figura 45 Movimento Passe Livre nas redes sociais ............................ 85

    Figura 46 Grfico das manifestaes em So Paulo junho de 2013 .... 86

  • SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................... 10

    CAPTULO 1 IDENTIDADE ................................................................................... 18

    1.1 Modernidade X Ps-modernidade ................................................................. 20

    1.2 As facetas do Eu (Ser) ................................................................................ 23

    1.3 Identidade Crise? ....................................................................................... 26

    1.4 Sociedade Grupos Movimentos Sociais .................................................. 29

    1.5 Estado-Nao ................................................................................................ 32

    CAPTULO 2 IDENTIDADE NA REDE .................................................................. 36

    2.1 Sociedade, subjetividades e o novo EU ......................................................... 36

    2.1.1 Sociedade contempornea ...................................................................... 36

    2.1.2 Subjetividades e o novo "EU" .................................................................. 40

    2.2 Percepo e os mecanismos de busca na Web ............................................... 47

    2.3 Imagem no contexto ......................................................................................... 51

    2.4 Perfis falsos fakes ......................................................................................... 54

    2.5 Identidade e os relacionamentos amorosos e encontros na Web .................... 56

    CAPTULO 3 IDENTIDADE NA ERA DAS REDES SOCIAIS ............................... 62

    3.1 Poder da identidade ......................................................................................... 62

    3.2 Redes sociais ................................................................................................... 67

    3.2.1 Facebook identidade social ................................................................... 69

    3.2.2 Linkedin identidade profissional ........................................................... 71

    3.2.3 Twitter ...................................................................................................... 74

    3.2.4 Influncia nas mdias sociais -- klout.com ................................................ 76

    3.3 O impacto das identidades na Web .................................................................. 80

    3.3.1 O caso Obama ......................................................................................... 80

    3.3.2 Protestos no Brasil junho de 2013 ........................................................ 82

    CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 89

    REFERNCIAS ......................................................................................................... 92

  • 10

    INTRODUO

    Contextualizao e justificativa

    Com o advento da internet, o sujeito social exerce as atividades de

    comunicar-se e relacionar-se com outros indivduos, utilizando a tecnologia

    existente.

    A rede representa um ideal de democratizao, diminuindo utopicamente as

    diferenas e assim possibilitando um sentimento de liberdade por meio do anonimato

    em diversos nveis: emocional, relacional, cultural e profissional.

    Castells argumenta que a internet, muito mais do que uma simples tecnologia,

    o meio de comunicao organizador das nossas sociedades.

    A internet o corao de um novo paradigma sociotcnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relao, de trabalho e de comunicao. O que a internet faz processar a virtualidade e transform-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que a sociedade em que vivemos. (CASTELLS, 1999a, p. 287)

    Ainda segundo Castells, outros fatores de sociabilidade refletem na sociedade

    atual:

    A sociabilidade est se transformando atravs daquilo que alguns chamam de privatizao da sociabilidade, que a sociabilidade entre pessoas que constroem laos afetivos, que no so os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar, que coincidem fisicamente. [...] Esta formao de redes pessoais o que a internet permite desenvolver mais fortemente. (CASTELLS, 1999a, p. 274)

    Na ps-modernidade, tem-se a globalizao e seu impacto sobre a

    identidade cultural. As identidades nacionais esto se desintegrando como

    resultado do ps-moderno global e novas identidades hbridas esto tomando o seu

    lugar.

  • 11

    Para Giddens,

    [...] nas sociedades pr-modernas, o espao e o lugar eram amplamente coincidentes, uma vez que as dimenses espaciais da vida social eram, para a maioria da populao, dominadas pela presena por uma atividade localizada... A modernidade separa, cada vez mais, o espao do lugar, ao reforar relaes entre outros que esto ausentes, distantes (em termos de local), de qualquer interao face-a-face. Nas condies da modernidade [...], os locais so inteiramente penetrados e moldados por influncias sociais bastante distantes deles. O que estrutura o local no simplesmente aquilo que est presente na cena; a forma visvel do local oculta as relaes distanciadas que determinam sua natureza. (GIDDENS, 1990, p. 18)

    Num mundo de fronteiras dissolvidas e de continuidades rompidas, a vida

    social se torna mediada pelo mercado global de estilos, imagens e pelos sistemas de

    comunicao globalmente interligados. Com isso, as identidades se tornam

    desvinculadas de tempos, lugares, histrias e tradies especficas, parecendo

    flutuarem livremente na rede.

    Figura 1 Identidade Fonte: .

    Acesso em: fev. 2013.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://www.businessreviewbrasil.com.br/business_leaders/identidade-virtual-verdehttp://www.businessreviewbrasil.com.br/business_leaders/identidade-virtual-verde
  • 12

    A decadncia do Estado-Nao, conforme mostrada em estudos de Castells

    (1999b), a dissoluo da comunidade e a volatilidade das relaes pessoais deixam

    poucas sadas para estabilizar a identidade. Mudar e se adaptar j no mais uma

    opo, mas um imperativo. Pode-se ser qualquer coisa, menos o mesmo.

    Todas essas alteraes atingem profundamente o indivduo no final do sculo

    XX, quando se tem instaurada a chamada crise de identidade, inserida num

    contexto mais amplo de mudana que desloca as estruturas e processos centrais

    das sociedades modernas e abala os quadros de referncia que davam aos

    indivduos uma ancoragem estvel no mundo social (HALL, 2000).

    Assim, a realidade passa a ser diferente, e as barreiras espaciais, temporais e

    geogrficas tornam-se pouco significativas. As redes globais de intercmbios

    conectam e desconectam indivduos, grupos, regies e at pases sob os efeitos

    globalizantes provenientes da ps-modernidade e/ou modernidade tardia (HALL,

    2000), ou alta modernidade (GIDDENS, 2002).

    Se a impermanncia inquieta, a rigidez apavora. Estar sempre atualizado,

    acompanhar as tendncias, ser flexvel e fazer escolhas a realidade atual. A nica

    escolha que no se pode fazer rejeitar esse contexto de liberdade compulsria.

    Uma liberdade endividada: se est sempre devendo para os outros e para si mesmo.

    Nenhum esforo o bastante (BAUMAN, 2001).

    Os processos de construo identitria vm ganhando uma nova forma. Ao

    disponibilizar um lugar no ciberespao, a rede possibilita a cada vez mais pessoas a

    oportunidade de se relatar, garantindo maior liberdade de mostrar e de se construir a

    prpria identidade.

    A construo dessas personas cibernticas, identidades internuticas, podem

    produzir efeitos diversos sobre a subjetividade. Como mostram Turkle (1997) e

    Sibilia (2008), as identidades apresentadas na rede apresentam-se frequentemente

    com caractersticas julgadas desejveis. Mesmo assim, apesar de a rede permitir

    um maior espao de criao, a identidade de cada um est amarrada a um conjunto

    prprio de significados.

  • 13

    Sibilia (2008) se baseia em vrias evidncias para afirmar que o centro das

    atenes atualmente cada pessoa, o que ela chama de voc. Seus estudos

    mostram que a passagem do sculo XX para o XXI vem sendo marcada por uma

    grande mudana na experincia de si, implicando diretamente nas formas com que

    cada um se constri como sujeito. As novas formas de expresso, com base na

    Web, demonstram que o que se quer que os outros possam reconhecer e legitimar

    a sua existncia. As ferramentas ajudam a recriar a si mesmo visando a captao

    dos olhares alheios em um mundo saturado de estmulos visuais. Na Web, as

    identidades so construdas para serem visveis e aprovadas pelos demais usurios.

    No universo digital, para que exista conhecimento mtuo e se estabelea uma

    troca, uma vez que no h relao fsica, a construo de uma identidade virtual

    imprescindvel.

    Turkle (1997) apresenta trs processos fundamentais em que ocorre a

    identidade pessoal na Web:

    1. Superficializao Para se mostrar na rede, o usurio dificilmente se

    mostra por completo. Comumente desenvolve identidades alternativas como

    estratgia. Surgem os fakes, ou verses alteradas de si mesmo. Essas personas so

    como mscaras que o usurio escolhe conforme a situao e a oportunidade.

    2. Fragmentao Ao mesmo tempo, diferentes personas podem ser

    ativadas na rede devido sua natureza multitask. Um usurio pode utilizar oSkype e

    ao mesmo tempo ser outra pessoa num chat digitado pelo Facebook, por exemplo.

    As identidades se misturam, sobrepem-se e concorrem entre si.

    3. Dinamismo Os dois processos anteriores esto sempre mudando, e com

    isso, na mesma linha, o usurio constantemente cria novas personas ou as altera,

    reforando assim o aspecto de ansiedade desse ambiente.

    Num cenrio em que o indivduo desprovido de referncias tradicionais e

    procura compartilhar interesses em comum, as redes sociais, comunidades virtuais e

    os sites de relacionamento so frequentemente utilizados como instncias de

    definio de identidades virtuais de pessoas que geralmente existem no mundo

    fsico.

  • 14

    Lvy define a comunidade virtual como

    [...] um grupo de pessoas se correspondendo mutuamente por meio de computadores interconectados que se constri sobre afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mtuos, por meio de cooperao ou de troca, independentemente das proximidades geogrficas e das filiaes institucionais. (LVY, 1999, p. 127)

    As comunidades virtuais, assim como os movimentos sociais, necessitam de

    um sentimento compartilhado, pois se trata de uma criao cultural, social. O

    ciberespao potencializa o agrupamento, e com isso surgem as comunidades, e da

    a sua importncia.

    Por meio das comunidades virtuais, novas relaes pessoais se construram

    no ciberespao e com elas a formao de novos tipos de identidades.

    Redes sociais como, por exemplo, o Facebook, o Linkedin e o Twitter,

    apresentam diferentes faces de identidades e tornam-se ferramentas de uso

    cotidiano para os seus usurios. Tambm os sites de relacionamentos e encontros

    com suas inmeras possibilidades de relacionamentos amorosos tornam-se

    ferramentas cada dia mais utilizadas no Brasil e no mundo.

    Nesse panorama de mltiplas identidades e relaes mediadas pela

    tecnologia, a percepo e a imagem exercem papis fundamentais.

    De acordo com Merleau-Ponty (1994), na ideia de conscincia do corpo

    percebe-se que, no mundo virtual, sua expresso a partir de uma imagem

    intencional, e torna-se vitrine no novo estilo de vida contemporneo. Assim, as

    imagens so cuidadosamente selecionadas para mostrar o melhor de si.

    Nas redes sociais e em sites de relacionamento e encontros, o impacto

    proporcionado pelas imagens (fotos) publicadas fundamental. Sua ausncia

    tambm. As identidades so correlacionadas imagem e os contatos so iniciados

    ou descartados muitas vezes apenas considerando a imagem atrelada a um perfil. A

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
  • 15

    conexo estabelecida a partir da imagem permite fantasiar tanto quanto se quer,

    uma vez que a conexo fsica no existe.

    Para Santaella (1993), percepo aquilo que se apresenta, o que

    percebido e o que est no aqui e agora. Perceber estar diante de algo que se

    apresenta, no somente vendo, mas utilizando outros sentidos e aguando o

    sistema cognitivo.

    A percepo em relao s identidades na rede construda por meio de

    vrios fatores, entre eles imagens, resultados de busca, comunidades virtuais de que

    o usurio participa, entre outros.

    Assim, como afirmam os estudiosos Bauman (2001), Castells (1999b) e Hall

    (2000), a identidade se tornou um dos temas centrais da ps-modernidade,

    principalmente porque as mudanas sociais, polticas e econmicas que a internet

    provocou foram mais do que suficientes para alterar no somente o dia a dia das

    pessoas por meio da tecnologia, mas tambm para alterar a noo de identidade.

    Ao se falar de identidade na rede, aqui ser evidenciada a identidade das

    pessoas (sujeito). No objetivo deste trabalho analisar a identidade das mquinas

    e computadores ou a de empresas e instituies.

    Objetivo

    O objetivo desta pesquisa analisar as identidades na rede, considerando as

    formas de apropriao dos espaos de expresso pelos sujeitos na Web.

    Pontos de anlise

    Para tratar e delimitar o tema, so definidos os seguintes pontos de anlise

    considerados importantes para o desenvolvimento desta dissertao:

  • 16

    viso da identidade na ps-modernidade;

    reflexo sobre as mltiplas identidades apresentadas na rede

    considerando imagem, contexto e percepo relacionados ao tema da

    pesquisa;

    anlise e impacto das identidades na era das redes sociais.

    Metodologia de pesquisa

    Para elaborao deste trabalho, foi utilizada a metodologia de rastreamento

    derivada do mtodo de etnografia digital e a metodologia exploratria de pesquisa

    bibliogrfica em livros e documentos publicados na internet, bem como a

    participao da pesquisadora como usuria em diversas redes sociais.

    A pesquisa um estudo de natureza qualitativa e se prope a compilar

    material necessrio para a criao de uma dissertao dentro do recorte do tema.

    Esquema geral da dissertao

    Alm da introduo, que contextualiza as razes e motivaes para a

    pesquisa, a dissertao est composta por trs captulos:

    Captulo 1 Identidade: so apresentadas as relaes com o tema identidade

    na modernidade e ps-modernidade, relao Estado-Nao e movimentos sociais.

    Captulo 2 Identidade na rede: o indivduo frente s subjetividades e o novo

    Eu analisado, fazendo valer apenas o que visto e aprovado pelos demais.

    Percepo, imagem e contexto so relacionados ao objeto de pesquisa.

    Captulo 3 Identidade na era das redes sociais: so apresentadas reflexes

    sobre o poder da identidade, as redes sociais como Facebook, Linkedin e Twitter, e

    exemplos do impacto das identidades na Web.

  • 17

    Finalmente, nas consideraes finais, so apresentadas as reflexes da

    pesquisadora sobre o processo da pesquisa e suas concluses at o momento final

    deste trabalho e os possveis encaminhamentos para estudos futuros.

  • 18

    CAPTULO 1 IDENTIDADE

    Para a estruturao e a compreenso de um tema, bem como a gesto de

    informaes e de conhecimento a ele relacionada, a criao de um mapa mental

    facilita a visualizao e a diviso dos principais tpicos que pretendem ser

    discutidos.

    Por esse motivo, este captulo ir transcorrer no mapa mental da identidade,

    assunto sobre o qual este trabalho abordar diversas questes.

    Figura 2 Mapa mental

    Fonte: Acesso em: fev. 2013.

    Do latim identtas, a identidade o conjunto das caractersticas e dos traos

    prprios de um indivduo (ser) ou de uma comunidade (grupo). Esses traos

    caracterizam o sujeito ou a coletividade perante os demais. A identidade tambm a

    conscincia que uma pessoa tem dela prpria e que a torna diferente das outras.

    http://cmapspublic2.ihmc.us/rid=1KMNLTXXV-VX1V12-N4/Castells.cmaphttp://www.google.com.br/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&docid=ViDlDFN_rrhP6M&tbnid=-Z8uTKs6PB1B9M:&ved=0CAgQjRwwAA&url=http://cmapspublic2.ihmc.us/rid=1KMNLTXXV-VX1V12-1N4/Castells.cmap&ei=GfU4UeTcKark0QG33YDwBA&psig=AFQjCNHVMyvmCW0RdN0r0YJOPGbYkZGvNg&ust=1362773657791841
  • 19

    Segundo Kruger, identidade a conscincia que todo o indivduo tem de si

    mesmo, da sua origem, filiao, relaes que estabelece, atributos fsicos e

    psicolgicos e fatores capazes de diferenciarem de outros indivduos. (KRUGER,

    1995, p. 20)

    Tal nvel de conscientizao proporciona o surgimento de crenas nesse

    indivduo sobre sua unidade, demonstrada na coerncia e organizao deste quanto

    sua personalidade e conduta. As crenas se caracterizam por constituir a

    identidade e por serem obtidas a partir das inmeras experincias vividas pela

    pessoa ao longo de seu desenvolvimento, cabendo ressaltar aquelas que se do

    durante o processo de socializao.

    Kruger (1995) destaca quatro aspectos da identidade:

    1. pode ser apresentada tendo a sua origem na percepo de caractersticas

    pessoais e permite que este indivduo acredite ser diferente dos outros em

    alguns aspectos;

    2. possibilidade que qualquer sujeito tem de distinguir na sua autoapresentao

    simblica a existncia de diversas dimenses, isto , das variadas formas de

    identidade por ele apresentadas ao se inserir em grupos, coletividades e

    processos sociais;

    3. constitui-se com base em crenas autodescritivas e autoavaliativas, as quais

    lhe conferem um carter dinmico que permite mudanas;

    4. esse sistema de crenas contribui para o desenvolvimento da personalidade e

    da conduta dos indivduos.

    Ainda de acordo com Kruger (1995), a anlise da formao do ser social

    implica na articulao entre os processos de sustentao, construo e possvel

    modificao de identidade e o processo de socializao pois, devido socializao,

    opera-se a progressiva transformao de um recm-nascido, cujas condutas so

    inicialmente determinadas por reflexos e respostas no condicionadas em um ser

    social.

    Assim, pode-se caracterizar o processo de socializao como dinmico,

    universal e contnuo, isto , as pessoas influenciam umas s outras e,

  • 20

    consequentemente, so influenciadas a todo momento. Esse movimento ocorre em

    toda e qualquer sociedade e acompanha o indivduo ao longo de sua vida.

    1.1 Modernidade X Ps-modernidade

    O desalojamento do sistema social a extrao das relaes sociais dos

    contextos locais de interao e sua reestruturao ao longo de escalas indefinidas

    de espao-tempo geraram uma descontinuidade.

    No entendimento de Giddens,

    [...] os modos de vida colocados em ao pela modernidade nos livraram, de uma forma bastante indita, de todos os tipos tradicionais de ordem social. Tanto em extenso, quanto em intensidade, as transformaes envolvidas na modernidade so mais profundas do que a maioria das mudanas caractersticas dos perodos anteriores. No plano da extenso, eles serviram para estabelecer formas de interconexo social que cobrem o globo; em termos de intensidade, elas alteraram algumas das caractersticas mais ntimas e pessoais de nossa existncia cotidiana. (GIDDENS, 1990, p. 21)

    O estudo de como a internet estava alterando a experincia do eu e do

    senso de individualidade de cada usurio na dcada de 90, quando a internet era

    uma novidade, foi realizado por Sherry Turkle, psicloga e professora do MIT.

    Turkle (1997) estudou como as tecnologias digitais alterariam o

    comportamento, a identidade e a experincia subjetiva das pessoas no mundo.

    Na modernidade tivemos a cultura do clculo, transparncia, controle e

    programadores. O computador considerado um carro que pode ser controlado.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
  • 21

    Figura 3 Modernidade Fonte: .

    Acesso em: mai. 2013.

    J na ps-modernidade, a cultura passa a ser a da simulao, da opacidade,

    superfcie e interface. Os usurios comeam a ter depedncia e seduo pelos

    computadores. O computador se transforma em um amigo com quem se pode

    conversar.

    No aspecto transparncia, na modernidade temos o poder de ver as

    engrenagens sob a superfcie e perguntas como o que que faz isso funcionar

    ou o que que est acontecendo ali dentro. Na ps-modernidade, mudamos a

    transparncia para se poder ver em cones atraentes e fceis de interpretar,

    documentos e programas (pastas, arquivos e lixeiras).

    http://ccsourcecode.blogspot.com.br/2011/06/entendendo-os-bits-e-bytes-da-vida.htmlhttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=QfxPM7fUxt9-xM&tbnid=M6FgQc4mJtG6FM:&ved=0CAUQjRw&url=http://ccsourcecode.blogspot.com/2011/06/entendendo-os-bits-e-bytes-da-vida.html&ei=ANyoUYTGGJLs8gTKkIDgDw&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNGV07F-Z4AYQsWIV0eLjtYo5sryzQ&ust=1370107231620873
  • 22

    Figura 4 cones e pastas Fonte: . Acesso em: mai. 2013.

    Segundo Turkle,

    A vida real s mais uma janela e no a que mais me agrada. [...] As janelas tornaram-se uma poderosa metfora para pensar no eu como um sistema mltiplo fragmentado. O eu j no se limita a desempenhar diferentes papis em cenrios e ambientes diferentes [...] A prtica vivida na janela a de um eu descentrado que existe em muitos mundos e desempenha muitos papis ao mesmo tempo (TURKLE, 1997, p.18).

    Assim, para Turkle (1997), a viso modernista da realidade caracterizada

    como linear, lgica, hierrquica e possui profundezas que podem ser sondadas e

    compreendidas. J os mundos virtuais proporcionam experincias das ideias

    abstratas ps-modernas que, utilizando-se dos computadores, serviram de base

    para uma filosofia radicalmente no mecnica do ps-modernismo.

    O conjunto de ideias relacionadas ao ps-modernismo revela instabilidade de

    significados e ausncia de verdades universais e conhecidas em nossa vida

    cotidiana. Entramos na era das certezas provisrias. Turkle (1997) cita Richard

    Lanham, afirmando que o texto no ciberespao inacabado por natureza. Por ser

    assim, ele subverte fantasias tradicionais de narrativas dominantes possibilitando ao

    leitor organiz-lo continuamente. Desses procedimentos, resultam objetos ativos,

    volteis, criados ao sabor das motivaes humanas.

    http://shunkaqkanal.blogspot.com.br/2010/06/icone-gratis_17.htmlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.traffyk.com/blog/wp-content/uploads/2007/08/crystal-clear-icon-pack.jpg&imgrefurl=http://shunkaqkanal.blogspot.com/2010/06/icone-gratis_17.html&h=337&w=361&sz=35&tbnid=x0zFNPNU0GMgTM:&tbnh=86&tbnw=92&zoom=1&usg=__nrAAAOozDlwSml9lc-yUE06keo4=&docid=h6SSWOwyYumaJM&hl=pt-BR&sa=X&ei=pt2oUejJN4_o8wTy5oHgCw&ved=0CDYQ9QEwAQ&dur=1032
  • 23

    Nesse contexto, o computador deixa de ser uma calculadora gigante e

    modernista, para se tornar a realizao do pensamento social ps-modernista.

    1.2 As facetas do Eu (Ser)

    No mundo mediado pelo computador, o eu mltiplo, fluido e constitudo por

    interaes com uma rede de mquinas. Ele formado e transformado pela

    linguagem. Nesse cenrio, ocorrem diversas facetas do eu com aceitao e

    rejeio de analogias com a mquina. Turkle afirma que:

    A cada passo que damos ao longo da vida, tentamos projetar-nos no mundo. O computador oferece-nos oportunidade de realizar isso, ao corporizar nossas ideias e expressar nossa diversidade. Entramos no mundo do ecr da mesma forma que Alice atravessou o espelho. (TURKLE, 1997, p.43)

    E assim surgiram novas formas de organizar a produo e o acesso ao

    conhecimento, bem como o imaginrio cyborg e tecno-corpos.

    Figura 5 - Eu

    Fonte: . Acesso em: abr. 2013.

    Como facetas do eu, tem-se a fragmentao da sociedade, flexibilidade,

    multiplicidade, heterogeneidade e descentralizao.

    http://www.gemagema.tv/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=iKWfGx1LFmgdnM&tbnid=1TDLCsO7I23_7M:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.gemagema.tv/arquivo/festa-eu-2&ei=NsSsUe3JMIjw8QSi2IGwBw&bvm=bv.47244034,d.dmQ&psig=AFQjCNHmOTE_tul-4FDVyteJpdsDL6erCg&ust=1370363232686962
  • 24

    Turkle afirma:

    O advento desse discurso utpico em torno da descentralizao coincidiu com a crescente fragmentao da sociedade em que vivemos. Muitas das instituies que costumavam reunir as pessoas a rua principal de uma localidade, a sede de um sindicato, uma associao de municpios j no cumprem a funo de outrora. Muitas pessoas passam a maior parte do dia sozinhas, diante de uma tela de televiso ou de computador. Ao mesmo tempo, como seres sociais que somos, estamos a tentar (nas palavras de Lanham) retribalizar-nos. E, nesse processo, o computador desempenha um papel central. (TURKLE, 1997, p. 262).

    Com a descoberta do inconsciente, Freud (1900) rejeitou o sujeito racional,

    cuja identidade algo inato. Afirmou que as identidades so formadas com base em

    processos psquicos e simblicos do inconsciente, por meio dos quais ela se

    desenvolve ao longo do tempo e est sempre em processo de formao, como

    resultado de negociaes psquicas com outros indivduos.

    Baseando-se em estudos de Freud, Turkle reafirma que o ego uma iluso:

    Uma das contribuies mais revolucionrias de Freud foi ter proposto uma viso radicalmente descentrada do eu, mas a sua mensagem foi vrias vezes obscurecida por alguns de seus seguidores, que insistiam em atribuir ao ego uma autoridade superior no governo do eu. Todavia, essas tendncias recentralizadoras foram por sua vez questionadas periodicamente por membros do prprio movimento psicanaltico. As ideias jungianas sublinharam que o eu o lugar de encontro de diversos arqutipos. A teoria das relaes objetais referiu o modo como as coisas e as pessoas que povoam o mundo vm viver dentro de ns. Mais recentemente, os pensadores ps-estruturalistas tentaram descentrar o ego duma forma ainda mais radical. Na obra de Jacques Lacan, por exemplo, os complexos encadeamentos de associaes que constituem o significado para cada indivduo no conduzem a qualquer instncia final ou nuclear. Sob a bandeira de um regresso a Freud, Lacan insistia que o ego uma iluso. Com isto, ele estabelece a ponte entre a psicanlise e a tentativa ps-moderna de tratar o eu como um domnio discursivo, e no uma coisa real ou uma estrutura permanente da mente humana. (TURKLE, 1997, p. 263).

    A experincia de se alternar entre diferentes identidades no era facilmente

    acessvel e nem bem vista na era moderna. Apesar dos diferentes papis e

    mscaras sociais, a alternncia ficava sob um controle bastante apertado. Na era

    moderna: vigarista, travesti, bgamo e a personalidade desdobrada.

  • 25

    A ps-modernidade o perodo em que a desmarginalizao das identidades

    mltiplas acontecem. Turkle (1997, p. 265) considera que agora, na era ps-

    moderna, as identidades mltiplas perderam grande parte do seu carter marginal.

    Muitas pessoas aprendem a identidade como um conjunto de papis que podem ser

    misturados e acoplados.

    Figura 6 Reflexo da identidade Fonte: . Acesso em: abr. 2013.

    O anonimato, vidas paralelas, superao de si prprio, desempenho de

    papis, intimidade, projeo e transposio de fronteiras ficam evidentes. A internet

    funciona como um laboratrio social para experimentao de construes e

    reconstrues do eu que caracterizam a vida ps-moderna. Turkle refora:

    Na sua realidade virtual, moldamo-nos e criamo-nos a ns mesmos. [...] Que tipo de identidades alternativas adotamos? Que relaes existiro entre estas e aquilo que tradicionalmente encarvamos como a pessoa inteira? Encaramo-las como uma expanso do eu ou como algo de separado do eu? E as nossas personalidades da vida real tm algo a aprender com as nossas identidades virtuais? Essas identidades virtuais sero fragmentos duma personalidade coerente da vida real? [...] Ser a expresso de uma crise de identidade, do tipo que associamos tradicionalmente a adolescncia? Ou estamos a assistir a lenta emergncia dum novo estilo de pensamento, de natureza mltipla, acerca da mente? (TURKLE, 1997, p. 265-266).

    http://esquenta.com.br/ser-e-saberhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=8qLV_vYvDpbe5M&tbnid=v_i89Dmx5aneFM:&ved=0CAUQjRw&url=http://esquenta.com.br/ser-e-saber&ei=H32uUcK3OYf28wTk4YC4Aw&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNG68ekp8ZTaAM8rAmBbv93jUhFzug&ust=1370476110625736
  • 26

    1.3 Identidade Crise?

    A questo da identidade est sendo extensamente discutida na teoria social.

    De acordo com Hall,

    [...] Em essncia, o argumento o seguinte: as velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social esto em declnio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivduo moderno, at aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada crise de identidade vista como parte de um processo mais amplo de mudana, que est deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referncia que davam aos indivduos uma ancoragem estvel no mundo social. (HALL, 2000, p. 7)

    Hall (2000) estudou a identidade cultural na modernidade tardia e avaliou a

    crise de identidade e em que direo ela estaria indo. O autor partidrio

    afirmao de que as identidades modernas esto sendo descentradas, isto ,

    deslocadas ou fragmentadas.

    A identidade virtual abordada nos estudos de Turkle como elemento

    vocativo para pensar no eu. uma brincadeira com mscaras, e se deve pensar

    em como utiliz-las no dia a dia. A autora d foco natureza mltipla:

    Cada era constri as suas prprias metforas, tendo em vista o bem estar psicolgico do indivduo. H no muito tempo, a estabilidade era socialmente valorizada e culturalmente reforada. Papis rgidos atribudos a cada um dos sexos, trabalho repetitivo, o desejo de ter o mesmo tipo de emprego ou permanecer na mesma cidade ao longo de toda a vida, tudo isso fazia da consistncia um elemento central nas definies de sade. No entanto, estes mundos sociais estveis entraram em colapso. Nos nossos dias, a sade descrita em termos de fluidez, mais do que estabilidade. O que conta a capacidade de mudar e adaptar-se a novos empregos, novas perspectivas de carreira, novos papis atribudos a cada um dos sexos, novas tecnologias. (TURKLE, 1997, p. 381)

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
  • 27

    Figura 7 Construo da identidade Fonte: . Acesso em: abr. 2013.

    O que existe de fato um estado contnuo de construo e reconstruo em

    que tudo relativizado. No existe mais um centro coeso. Tem-se xtases do ser

    mltiplo.

    Embora no incio as pessoas possam se sentir angustiadas ante aquilo que entendem como um colapso da identidade, Gergen acredita que elas podero vir a abraar as novas possibilidades que se lhes oferecem. As noes individuais do eu desaparecem, dando lugar ao primado das relaes. Deixamos de acreditar num eu independente da teia de relaes na qual estamos mergulhados. (TURKLE, 1997, p. 384-385).

    A questo que fica a de como se pode ser mltiplos e coerentes ao mesmo

    tempo.

    As diversas manifestaes de multiplicidade na nossa cultura, incluindo a

    adoo de personalidades online, contribuem para uma reviso generalizada das

    noes de identidade. Turkle destaca que:

    Num extremo, o eu unitrio mantm a sua unidade reprimindo todos os aspectos dissonantes. Assim censuradas, as partes ilegtimas do eu no so acessveis. Como bvio, este modelo funcionaria melhor no mbito duma estrutura social razoavelmente rgida, com regras e papis

    http://blog.msmacom.com.br/os-comecos-da-filosofia-patristica/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=ea938Bwz_7Ds3M&tbnid=E8nKAAp-1dYHYM:&ved=0CAUQjRw&url=http://blogs.mundolivrefm.com.br/margot/2012/04/20/e-se-eu-fosse-voce/&ei=nt6oUf-LBYz88QSE9oCYAQ&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNE7nQ57q_9TJ8w0v1NGXoY_f7unww&ust=1370107908774307
  • 28

    claramente definidos. No outro extremo do continuum vamos encontrar indivduos afetados por PPM (perturbao da personalidade mltipla), cuja multiplicidade existe no contexto duma rigidez igualmente repressiva. [...] Todavia, se o que caracteriza as perturbaes da personalidade mltipla a necessidade de erigir barreiras rgidas entre as diferentes facetas do eu (bloqueando os segredos que essas facetas protegem), ento o estudo das PPM talvez possa abrir caminho a formas de encarar a personalidade saudvel como no unitria, mas com acesso fluido entre as suas mltiplas facetas. Assim, para alm dos extremos do eu unitrio e das PPM, podemos imaginar um eu flexvel. (TURKLE, 1997, p. 390).

    Figura 8 Identidades mltiplas Fonte: .

    Acesso em: mai. 2013.

    Quando se percebe a diversidade interna, as limitaes e o carter

    incompleto se tornam conhecidos.

    Por sua vez, com os computadores e a realidade virtual, possvel se passar

    a maior parte do tempo imersos em sonhos. Turkle cita Gibson:

    [...] Para Gibson, o jogador de videogame j se fundiu com o computador. O jogador de videogame j um cyborg, ideia que Gibson incorporou numa mitologia ps-moderna. Ao longo da ltima dcada, tais mitologias tm vindo a reformular a nossa percepo de identidade coletiva. (TURKLE, 1977, p. 396-397).

    Nesse contexto, a natureza do real versus a cultura de simulao se

    apresenta. A participao dos computadores em rede nas vidas quotidianas faz com

    http://www.ppublico.org/nfse/mage/index.php?option=com_contenthttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=1UpPzKzrh96wsM&tbnid=7yk-YIA64miyGM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.ppublico.org/nfse/mage/index.php?option=com_content&view=article&id=46&Itemid=37&ei=WOCoUf2iCJLo8gSixoGoAg&bvm=bv.47244034,d.eWU&psig=AFQjCNFWlA8CeGi8i8i_epR78JvYFQXwCQ&ust=1370108287993283
  • 29

    que se estabeleam interaes cativantes totalmente ligadas autorrepresentao

    online. Quando essa representao no condiz com a realidade, inevitvel que

    surja a dor pela mortalidade da pessoa fsica. Turkle, assim, afirma:

    A adoo de pontos de vista mltiplos suscita um novo discurso moral. Eu tenho afirmado que a cultura da simulao pode ajudar-nos a alcanar uma viso duma identidade mltipla, mas integrada, cuja flexibilidade, elasticidade e capacidade de alegrar-se advm do fato de ter acesso s muitas personalidades que nos constituem. Todavia, se entretanto nos tivermos divorciado da realidade, ficaremos claramente a perder. (TURKLE, 1997, p. 401)

    1.4 Sociedade Grupos Movimentos Sociais

    Castells concentra-se no ponto de vista sociolgico, afirmando que toda e

    qualquer identidade construda, e essa construo social sempre ocorre em um

    contexto marcado por relaes de poder. Para o autor, cada tipo de processo de

    construo de identidade leva a um resultado distinto no que tange constituio da

    sociedade (CASTELLS, 1999b, p. 24).

    Os objetivos individuais so moldados e enriquecidos face s necessidades

    organizacionais e sociais. Chiavenato (1993, p. 115) afirma: A moderna e

    industrializada sociedade uma sociedade de organizaes nas quais o ser humano

    nasce, vive e morre.

    Figura 9 Sociedade Fonte:< http://coringaalacarte.wordpress.com/2010/01/21/a-sociedade-juvenil>. Acesso em: mai. 2013.

    http://coringaalacarte.wordpress.com/2010/01/21/a-sociedade-juvenil%3e.%20Ahttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=FqQSuszhp9ZuKM&tbnid=p2SHa-BC2i8bYM:&ved=0CAUQjRw&url=http://coringaalacarte.wordpress.com/2010/01/21/a-sociedade-juvenil/&ei=T8KsUY7CHJS89gTZvIHQAQ&bvm=bv.47244034,d.dmQ&psig=AFQjCNG3Og17eDiAJMBYwFl3AjDHoGrFfg&ust=1370362820777607
  • 30

    Os grupos produzem movimentos sociais que se formam no que eles so ou

    acreditam que so vo em busca da fonte e significado de um povo.

    Para Castells (1980), os movimentos sociais constituem-se em forma social

    atuante capaz de empreender transformaes estruturais. O autor atribuiu aos

    movimentos sociais urbanos a possibilidade de construo de um futuro otimista,

    referindo-se a eles como uma alternativa frente opresso capitalista e sociedade

    burocrtica.

    Giddens argumenta que as sociedades modernas so por definio

    sociedades de mudanas constantes, rpidas e permanentes. Segundo o autor,

    [...] nas sociedades tradicionais, o passado venerado e os smbolos so valorizados porque contm e perpetuam a experincia das geraes. A tradio um meio de lidar com o tempo e o espao, inserindo qualquer atividade ou experincia particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, so estruturados por prticas sociais recorrentes (GIDDENS, 1990, p. 37)

    O ritmo e o alcance da mudana e a natureza das instituies modernas so

    destacados por Giddens (1990, p. 6): medida que reas diferentes do globo so

    postas em interconexo umas com as outras, ondas de transformao social

    atingem virtualmente toda a superfcie da terra.

    Touraine nos oferece uma interpretao global da sociedade combinando

    mecanismos de funcionamento do sistema social e condies estruturais. Na

    perspectiva do autor, os movimentos sociais constituem-se:

    [...] na ao, ao mesmo tempo culturalmente orientada e socialmente conflitiva de uma classe social definida por sua posio dominante ou dependente no modo de apropriao da historicidade dos modelos culturais de inverso do conhecimento e moralidade at os quais ele mesmo se orienta. (TOURAINE, 1987, p. 99)

    Ainda sob a perspectiva de Touraine (1987), os movimentos sociais so

    compostos de uma srie de processos a partir dos quais a sociedade produz sua

    organizao no sentido do domnio da ao histrica, que passa tanto pelos conflitos

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)http://pt.wikipedia.org/wiki/Colchete_(s%C3%ADmbolo)
  • 31

    de classe como pela transio poltica. Seus estudos mostram novas prticas de

    participao social em que novas dimenses da socializao e articulao dos

    trabalhadores so descobertas nos espaos coletivos da vida cotidiana.

    Para Gohn (1999), os movimentos sociais so aes coletivas de carter

    scio-poltico, construdas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e

    camadas sociais. Por meio da politizao de suas demandas, esses movimentos

    formam um campo poltico de fora social na sociedade civil.

    Figura 10 Movimentos sociais Fonte:.

    Acesso em: mai. 2013.

    Ainda segundo Gohn (1999), os movimentos sociais que surgem na

    sociedade civil e que so de composio social heterognea tm contedos bsicos

    situados na esfera do consumo, e suas prticas vo se desenvolvendo no mbito

    das reivindicaes ao poder pblico, solicitando melhorias nas condies de vida no

    plano urbano, tpicos do processo de desenvolvimento urbano industrial. Para a

    autora, so movimentos de resistncia popular s condies de vida submetidas,

    marcados pela espontaneidade, pela multiplicidade de reivindicaes abarcadas por

    eles e por contradies. De um modo geral, so as lutas sociais que do aos

    movimentos sociais um carter cclico, um vai e vem de acordo com a dinmica dos

    conflitos sociais. Entretanto, para que tais lutas tenham relevncia, dentro dos

    http://www.educacao.cc/cidada/movimentos-sociais-estudantis-e-urbanos/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=XvE-O1MVCDY66M&tbnid=xyBCBtvvUK4PZM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.educacao.cc/cidada/movimentos-sociais-estudantis-e-urbanos/&ei=ZMOsUa_THJHU9gSwuoGAAQ&bvm=bv.47244034,d.dmQ&psig=AFQjCNHqpOoqVlldXJvZFpW3ga-ZqK5DFA&ust=1370363050597357
  • 32

    movimentos sociais devem expressar-se as demandas sociais, configurando-se

    como reivindicaes de uma ao coletiva.

    1.5 Estado-Nao

    Em seus estudos, Castells afirma que o controle do Estado vem perdendo

    espao para a tecnologia, os fluxos globais de capital, servios, comunicao e

    informao. Segundo o autor, os cidados esto se tornando indiferentes em relao

    ao Estado-Nao. A perda do poder pelo Estado-Nao caracterizada pelo

    crescimento do capitalismo global e das ideologias capitalistas, embora sua

    influncia permanea.

    O controle do Estado sobre o tempo e o espao vem sendo sobrepujado pelos fluxos globais de capital, produtos, servios, tecnologia, comunicao e informao. A apreenso do tempo histrico pelo Estado mediante a apropriao da tradio e a (re)construo da identidade nacional passou a enfrentar o desafio imposto pelas identidades mltiplas definidas por sujeitos autnomos. A tentativa de o Estado reafirmar seu poder na arena global pelo desenvolvimento de instituies supranacionais acaba comprometendo ainda mais sua soberania. (CASTELLS, 1999b, p. 287)

    Castells analisou tabelas de seis pases cujas economias se sobressaem aos

    demais, fornecendo assim uma viso geral sobre alguns indicadores da atividade

    econmico-financeira dos governos relativa ao processo de internacionalizao das

    economias. O autor afirma que o Estado-Nao enfrenta trs grandes desafios

    interrelacionados: a globalizao e no exclusividade da propriedade; flexibilidade e

    capacidade de penetrao da tecnologia e autonomia e diversidade da mdia.

    [...] As novas e poderosas tecnologias da informao podem ser colocadas a servio da vigilncia, controle e represso por parte dos aparatos do Estado [...] Do mesmo modo que podem ser empregadas pelos cidados para que estes aprimorem seus controles sobre o Estado, mediante o exerccio do direito a informaes [...] (CASTELLS, 1999b, p.348-349).

    Nesse contexto, a globalizao acaba marcando de forma evidente a ruptura

    desse processo de identidade entre territrio e comunidade.

  • 33

    Graas s novas tecnologias de informao e comunicao, o mundo se torna

    fludo e as fronteiras porosas. Como consequncia, a natureza do Estado-Nao se

    modifica causando a perda ou o enfraquecimento gradativo de sua identidade

    nacional.

    Figura 11 Naes Fonte:< http://www.proprofs.com/quiz-school/story.php?title=volta-ao-mundo-em-80-segundos>.

    Acesso em: jun. 2013.

    Nesse processo, na viso de Giddens (2005), h uma intensificao das

    relaes sociais em escala mundial da qual povos de diferentes localidades vm se

    aproximando. O resultado visto em acontecimentos ocorridos em lugares distantes

    que influenciam outros a milhares de quilmetros, provocando vrias

    transformaes.

    O resultado dessas influncias, muitas vezes, no possui direo uniforme, e

    pode aparecer em modificaes mutuamente opostas. Como exemplo, temos o

    desenvolvimento e o progresso de uma localidade, que pode provocar

    transformaes opostas em outra, com o seu empobrecimento. A instalao de uma

    empresa em um determinado local pode significar a perda do emprego para muitos

    trabalhadores em outra, demonstrando que o progresso de uma localidade pode

    significar a runa da outra.

    http://www.proprofs.com/quiz-school/story.php?title=volta-ao-mundo-em-80-segundos
  • 34

    Acompanhando a mesma linha de raciocnio, a globalizao acaba

    diminuindo, muitas vezes, o sentimento nacionalista dos povos em relao ao seu

    Estado-Nao, desenvolvendo relaes sociais entre comunidades de diferentes

    pases. Por outro lado, tambm possvel acelerar esse sentimento nacionalista,

    fazendo fortalecer os laos de identidade cultural regional.

    Castells (1999b) ressalta o surgimento de uma onda poderosa de identidade

    coletiva que desafia a globalizao e o cosmopolitismo em funo da singularidade

    cultural e autocontrole individual. O autor fundamenta a discusso nos movimentos

    sociais e na poltica como resultantes da interao entre a globalizao induzida

    pela tecnologia, o poder da identidade e as instituies do Estado. Analisa a

    sociedade conectada pela convergncia de telecomunicaes, computadores e

    redes. E ainda enfatiza nossa pluralidade, sendo o multiculturalismo o fator

    transformador da globalizao tecnoeconmica.

    Assim, o Estado-Nao vem perdendo boa parte de sua soberania, e a

    dissoluo das identidades compartilhadas reflete a situao atual. Surge um mundo

    exclusivamente constitudo de mercados, redes, indivduos e organizaes

    estratgicas. O poder no se concentra mais nas instituies (Estado), organizaes

    (empresas capitalistas) ou mecanismos de controle (mdia corporativa, igrejas). O

    poder encontra-se distribudo nas redes globais de riqueza, poder, informaes e

    imagens.

  • 35

    Figura 12 Mdias Fonte: .

    Acesso em: jun. 2013.

    As identidades fixam as bases no poder, organizam resistncia na luta

    informacional e constroem novos comportamentos e instituies. Os movimentos

    sociais devem fornecer novos cdigos por meio dos quais as sociedades podem ser

    repensadas e/ou restabelecidas e, portanto, so os sujeitos sociais da Era da

    informao.

    Por fim, os estudos de Castells (1999b) apresentam novos embries de uma

    nova sociedade, atrelados ao poder da identidade.

    A identidade na rede apresentada entre amigos, amores, desconhecidos, e

    com isso novas instabilidades para o entendimento de identidade, privacidade, e

    comunidade so apresentadas. um deslocamento emocional com riscos e

    consequncias de viver em uma sociedade em rede.

    Nos prximos captulos, as identidades na rede sero o foco principal. Na

    sociedade conectada da atualidade, a identidade de qualquer indivduo pode

    aparecer no resultado de uma busca feita por seu nome. Mas ser esta a sua

    identidade?

    http://bibliomania4.blogspot.com.br/2010/11/explosao-da-era-da-informacao.htmlhttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=myiB5Sf7rb6RiM&tbnid=AhwnEezHDRbF3M:&ved=0CAUQjRw&url=http://bibliomania4.blogspot.com/2010/11/explosao-da-era-da-informacao.html&ei=HBGuUdL4MLG14AO21oHoDQ&bvm=bv.47244034,d.dmg&psig=AFQjCNHdErdrS-UhKIefKxEAY7p-458qZQ&ust=1370448495099263
  • 36

    CAPTULO 2 IDENTIDADE NA REDE

    Na nova sociedade contempornea, tem-se o virtual, o mundo sem limites de

    tempo e espao, o indivduo reciclando-se, transformando-se e evoluindo.

    Identidades e papis sociais giram em torno do novo sujeito social, individual e

    multifacetado.

    Figura 13 Identidades ps-modernas Fonte: . Acesso em: set. 2012.

    O indivduo ps-moderno precisou rever seus conceitos, sua identidade e sua

    posio no mundo para dar sentido a todas as novidades.

    2.1 Sociedade, Subjetividades e o novo EU

    2.1.1 Sociedade contempornea

    As razes do pensamento contemporneo sobre a questo da sociedade e do

    espetculo tem origem nos trabalhos de Guy Debord (1967). O autor, com sua obra

    contestatria, incita a todos numa luta acirrada contra as percepes da vida

    moderna, em que imagem e representao so preferidas em relao ao realismo

    http://www.moodle.ufba.br/mod/book/print.php?id=64904http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=images&cd=&cad=rja&docid=VVYKMhlgHzZYMM&tbnid=jaNtGjo4wxEYkM:&ved=0CAUQjRw&url=http://www.moodle.ufba.br/mod/book/print.php?id=64904&ei=S9m5UZScFpD69gTd8oCoDw&bvm=bv.47883778,d.eWU&psig=AFQjCNEE0F5GEu7kT4iJNmrHEIL_kaqKzQ&ust=1371220605684179
  • 37

    concreto e natural, a iluso e a realidade, a imobilidade e a atividade de pensar e

    reagir com dinamismo, a aparncia ao ser. Seus estudos se basearam na crtica de

    todo e qualquer tipo de imagem que leve o indivduo aceitao de valores

    preestabelecidos pelo capitalismo.

    Debord analisa pelas mensagens dos meios de comunicao de massa,

    mediao das imagens, entre outros, que os indivduos passaram a viver num

    mundo movido pelas aparncias e consumo permanente de fatos, notcias, produtos

    e mercadorias:

    [...] O espetculo consiste na multiplicao de cones e imagens principalmente atravs dos meios de comunicao de massa, mas tambm dos rituais polticos, religiosos e hbitos de consumo de tudo aquilo que falta vida real do homem comum: celebridades, atores, polticos, personalidades, gurus, mensagens publicitrias tudo transmite uma sensao permanente de aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. (DEBORD, 1967, p. 92)

    Dessa maneira, as relaes entre as pessoas transformam-se em imagens e

    espetculo: O espetculo no um conjunto de imagens, mas uma relao social

    entre pessoas mediadas por imagens. (DEBORD, 1967, p. 95)

    Figura 14 Espetculo

    Fonte: . Acesso em: set. 2012.

    http://3.bp.blogspot.com/_ydvzc92UIaE/TBfmdqEretI/http://3.bp.blogspot.com/_ydvzc92UIaE/TBfmdqEretI/AAAAAAAAABk/JP8NRWU4Ld8/s1600/Sem+t%C3%ADtulo.jpg
  • 38

    O que antes era um dilogo pessoal, agora ocupado por consumo e

    imagem gerados pelos meios de comunicao de massa, ocorrendo uma enorme

    inverso da noo de valores. O espetculo vira realidade e a realidade vira

    espetculo. No existe mais um limite definido. Assim, o homem passa a ser e a

    viver uma vida idealizada e sonhada, em que a fico se mistura com a realidade e

    vice-versa, fazendo parte da realidade vivida pelo indivduo.

    Debord (1967) enfatiza a manipulao existente nos meios de comunicao

    em massa que criam uma realidade prpria, para que a sociedade se solidarize

    gerando critrios de julgamento e justia baseados em emoes como raiva,

    felicidade etc., que so manipulados via imagem e apresentados como espetculo.

    Assim, com as novas tecnologias no campo da informao agindo na

    capacidade de percepo dos indivduos e dificultando a representao do mundo

    pelas atuais categorias mentais, asociedade e as identidades transformam-se em

    espetculoem que a reproduo da cultura se faz pela proliferao de imagens e

    com superexposio, apresentando um novo tipo de experincia humana para o

    qual cada dia se torna mais difcil separar a fico da realidade.

    Figura 15 Proliferao de imagens

    Fonte:

    Acesso em: out. 2012.

    http://2.bp.blogspot.com/_fFCOFoFtySA/TOqRzZ0uqBI/AAAAAAAAAZk/R1kmNvRqVSw/s1600/untitled.bmphttp://2.bp.blogspot.com/_fFCOFoFtySA/TOqRzZ0uqBI/AAAAAAAAAZk/R1kmNvRqVSw/s1600/untitled.bmp
  • 39

    As mdias atuam de forma decisiva na definio dos temas que norteiam todo

    o processo cultural e social relevantes. Como observa Debord (1967),

    O conceito de espetculo unifica e explica uma grande diversidade de fenmenos aparentes. As suas diversidades e contrastes so as aparncias organizadas socialmente, que devem, elas prprias, serem reconhecidas na sua verdade geral. Considerado segundo os seus prprios termos, o espetculo a afirmao da aparncia e a afirmao de toda a vida humana, socialmente falando, como simples aparncia. Mas a crtica que atinge a verdade do espetculo descobre-o como a negao visvel da vida; uma negao da vida que se tornou visvel. (DEBORD, 1967, p. 10)

    Dentro de um mundo de manipulao, o homem acaba sendo governado por

    algo que ele mesmo criou. Como afirma DEBORD:

    Quando o mundo real se transforma em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivaes eficientes de um comportamento hipntico. O espetculo, como tendncia a fazer ver (por diferentes mediaes especializadas) o mundo que j no se pode tocar diretamente, serve-se da viso como sendo o sentido privilegiado da pessoa humana o que em outras pocas fora o tato; o sentido mais abstrato, e mais sujeito mistificao, corresponde abstrao generalizada da sociedade atual. Mas o espetculo no pode ser identificado pelo simples olhar, mesmo que este esteja acoplado escuta. Ele escapa atividade do homem, reconsiderao e correo de sua obra. o contrrio do dilogo. Sempre que haja representao independente, o espetculo se reconstitui. (DEBORD, 1967, p. 112)

    Ainda com base nos estudos de DEBORD (1967), temos o espetculo

    caracterizado em dois tipos: concentrado e difuso.

    O tipo concentrado predominantemente burocrtico e ditatorial. Um exemplo

    clssico vem dos antigos regimes comunistas, em que o Estado impunha a

    identificao popular pelo espetculo escondendo a verdadeira realidade

    scioeconmica. J o tipo difuso est presente em regimes democrticos em que se

    tem uma noo aparente de poder de escolha das mercadorias, com uma falsa

    iluso de liberdade de escolha.

  • 40

    2.1.2 Subjetividades e o novo EU

    A passagem do sculo XX para o sculo XXI est sendo marcada por um

    deslocamento do eixo central que alicera a experincia do indivduo, e como

    consequncia, fortes mutaes nas formas com que este se constri como sujeito.

    Em seus estudos,Sibilia (2008) apresenta vrias evidncias de que o centro

    das atenes atualmente cada indivduo. Aquele sujeitoque utiliza diversas

    ferramentas na internet tentando ser algum. Segundo a autora, as relaes entre

    as novas formas de expresso com base na Web demonstram que o objetivo estar

    l, ser reconhecido e no propagar uma obra. As ferramentas existentes ajudam o

    sujeito a recriar a si mesmo, uma personalidade subjetiva que espera validao de

    sua legitimao por meio dos comentrios de resposta pelos outros usurios. Pois

    sob o imprio das subjetividades alterdirigidas, o que se deve ser visto e cada

    um aquilo que mostra de si. (SIBILIA, 2008, p. 235)

    Figura 16 Voc Fonte: . Acesso em: out. 2012.

    http://en.wikipedia.org/wiki/You_(Time_Person_of_the_Year)
  • 41

    Assim, em vez daquelas subjetividades tipicamente modernas, pacientemente

    elaboradas no silncio e na solido do espao privado, proliferam de maneira

    crescente as personalidades alterdirigidas, voltadas no mais para dentro de si,

    mas para fora, visando captao dos olhares alheios em um mundo saturado de

    estmulos visuais.

    Sibilia assim argumenta:

    Quanto mais a vida cotidiana ficcionalizada e estetizada com recursos miditicos, mais avidamente se procura uma experincia autntica, verdadeira, no encenada. Busca-se o realmente real ou, pelo menos, algo que assim parea. Uma das manifestaes dessa fome de veracidade na cultura contempornea o anseio por consumir lampejos da intimidade alheia. Em meio ao sucesso dos reality-shows, o espetculo da realidade faz sucesso: tudo vende mais se for real, mesmo que trate de verses dramatizadas de uma realidade qualquer. Como duas caras da mesma moeda, o excesso de espetacularizao que impregna nosso ambiente to midiatizado anda de mos dadas com as diferentes formas de realismo sujo hoje em voga. A internet um palco privilegiado deste movimento, com sua proliferao de confisses reveladas por um eu que insiste em se mostrar sempre ambiguamente real, mas o fenmeno bem mais amplo e atinge as mais diversas modalidades de expresso e comunicao. (SIBILIA, 2008, p. 195)

    Por isso, cada vez mais, segundo Sibilia (2008), as subjetividades

    contemporneas parecem se ancorar na exterioridade, naqueles sinais visveis

    emitidos por um corpo, assim como na conquista da to almejada visibilidade.

    Na atualidade, acompanhando as fortes mudanas ocorridas em todos os

    mbitos, como globalizao, digitalizao e virtualizao, as transformaes

    estariam ocorrendo na maneira com que os indivduos configuram e vivem suas

    experincias subjetivas.

  • 42

    Figura 17 Experincia subjetiva Fonte: . Acesso em: out. 2012.

    Nesse novo modo de construir uma subjetividade que possa ser aceita na

    sociedade atual, as pessoas buscam recursos diversos, em que o objetivo final ser

    visto, mas que o que se mostrado aquilo que se quer ser.

    Por isso necessrio ficcionalizar o prprio eu como se estivesse sendo constantemente filmado: para realiz-lo, para lhe conceder realidade. Pois estas subjetividades alterdirigidas s parecem se tornar reais quando so emolduradas pelo halo luminoso de uma tela de cinema ou televiso como se vivessem num reality-show, ou nas pginas multicoloridas de uma revista de celebridades, ou como se a vida transcorresse sob a lente incansvel de uma webcam. assim como se encena, todos os dias o show do eu. Fazendo da prpria personalidade um espetculo; isto , uma criatura orientada aos olhares dos outros como se estes constitussem a audincia de um espetculo. (SIBILIA, 2008, p. 258)

    Sibilia (2008) baseia-se em Riesman para substanciar essa transformao de

    carter com a passagem do que para o que se quer ser que acontece por conta

    dos meios de comunicao de massa e de consumo. Agora o que vale o efeito que

    essa personalidade criada e transmitida capaz de provocar nos outros.

    O contraponto dessa situao, ainda segundo Sibilia (2008), que pelo

    menos em tese h sempre algum olhando ou acompanhando tudo o que se faz ou

    no se faz no ciberespao. Nesse contexto, o medo real da solido desaparece e as

    http://www.tumblr.com/photo/1280/constantefase/2338657505/1/%20tumblr_ldjbvmRVSu1qdkx7fhttp://www.tumblr.com/photo/1280/constantefase/2338657505/1/%20tumblr_ldjbvmRVSu1qdkx7f
  • 43

    novas subjetividades construdas nessas visualizaes do novo eu nas telas

    denotariam um tipo contemporneo de fragilidade, por conta da enorme

    dependncia do olhar alheio.

    Figura 18 Olhar alheio Fonte: . Acesso em: out. 2012.

    Seguindo a anlise de Debord (1967), o espetculo uma relao social

    entre pessoas mediadas por imagens. o resultado do mundo de produo, do

    corao da irrealidade sob a forma de informao e estabelece o modelo de vida

    socialmente dominante. Para descrever o espetculo necessrio distinguir seus

    elementos inseparveis: a linguagem que deve ser grandiosa e monopoliza a

    verdade da aparncia. Enfim, o fundamental do espetculo o fato dos meios serem

    a finalidade.

    Ainda segundo Debord (1967), o espetculo uma forma de sociedade na

    qual a vida real pobre e fragmentada, e os indivduos so conduzidos a contemplar

    e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existncia

    real.

    Por outro lado, Sibilia (2008) mostra que, para participar do show do eu,

    basta um clique e, de fato, todos costumamos dar esse clique.

    http://2.bp.blogspot.com/_fFCOFoFtySA/TOqOlSVsmxI/AAAAAAAAAZc/S0H7IzO-1u0/s200/placa-sinalizacao-filmado.gifhttp://2.bp.blogspot.com/_fFCOFoFtySA/TOqOlSVsmxI/AAAAAAAAAZc/S0H7IzO-1u0/s200/placa-sinalizacao-filmado.gifhttp://2.bp.blogspot.com/_fFCOFoFtySA/TOqOlSVsmxI/AAAAAAAAAZc/S0H7IzO-1u0/s1600/placa-sinalizacao-filmado.gif
  • 44

    Figura 19 Click Fonte:.

    Acesso em: out. 2012.

    Com o novo ambiente em que se encontra o homem ps-moderno, as

    mltiplas identidades que se apresentam nesse contexto no passam de uma

    composio indispensvel para o ajuste do indivduo a um mundo de transformaes

    constantes, referncias variadas, incertezas e inseguranas. Para conseguir

    sobreviver nessa realidade, o sujeito social precisa construir diversas formas de se

    relacionar, conviver e ser inserido no contexto atual, a fim de estabelecer relaes e

    comunicar-se.

    A construo da identidade depende fortemente da situao em que se

    encontra o indivduo e de sua inteno naquele determinado momento. Posies

    menos fixas e unificadas aparecem num contexto de se colocar o sujeito ps-

    moderno em simultaneidade com o novo conceito espao-tempo. Novas identidades

    surgem na rede.

    No mundo virtual, existe uma realidade em que o indivduo se mostra como

    realmente quer ser visto, ou seja, tem-se um sujeito ps-moderno livre para se

    apresentar com a identidade que deseja mostrar.

    Com os espaos socias virtualizados, as relaes interpessoais se modificam,

    fragmentando locais de sociabilidade e possibilitando a criao de novos. No mundo

    offline necessrio um tempo para que o indivduo crie e mantenha um

    http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-image-mouse-click-image4889246http://www.dreamstime.com/register?jump_to=http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-image-mouse-click-image4889246
  • 45

    relacionamento. No mundo online essa possibilidade existe, com muito mais rapidez,

    mesmo que de modo superficial e efmero.

    As redes sociais na era das novas tecnologias confirmam seu espao como

    importante ferramenta de construo de identidades pessoais. Em uma poca em

    que a utilizao desses recursos cresce exponencialmente, as redes ganham corpo

    de intensa influncia e revelam-se como algo que modifica radicalmente as formas

    de relacionamento na sociedade.

    Delarbre (2006, p. 207) refora que as identidades virtuais so mscaras que

    podemos trocar vontade, exceto quando nos envolvemos demais com algumas

    delas. Ainda segundo o autor,

    [...] as identidades sempre esto ou podem estar mascaradas: fantasia e o jogo so elementos indissociveis da relao que podemos estabelecer, a qual est condicionada pela fugacidade como caracterstica constante, mas, tambm, pela prerrogativa de quem entra nesses espaos de reunio. (DELARBRE, 2006, p. 208)

    Figura 20 Mscaras

    Fonte:. Acesso em: nov. 2012.

    http://3.bp.blogspot.com/--x_QW7tg/Tir8CJMrURI/AAAAAAAAE2I/%20XDslXWX7VSc/s1600/Mascaras2.jpghttp://3.bp.blogspot.com/--x_QW7tg/Tir8CJMrURI/AAAAAAAAE2I/%20XDslXWX7VSc/s1600/Mascaras2.jpg
  • 46

    Como paradoxo, o mesmo ambiente que viabiliza identidades incgnitas em

    comunidades virtuais, chats e salas de bate-papo tambm permite uma

    superexposio do indivduo. Assim, com a mesma facilidade que a internet permite

    assumir mais de uma identidade, ocultar e dissimular, tambm potencializa uma

    sociedade do espetculo.

    Ainda ao mesmo tempo que a internet estimula o desenvolvimento de

    capacidades expressivas, relacionais e emocionais, tambm tende a provocar abalo

    nas estruturas. A rede facilita o contato, poupa esforos e rene os interessados,

    porm coloca-os na dependncia do subjetivismo de uma vida social dominada pelo

    fetiche da mercadoria. E uma mercadoria que nem sempre real nem to pouco

    consumvel.

    Podendo navegar incgnito na internet e tambm observar, vigiar e se expor

    conforme se deseja, possvel construir sua identidade da forma como quer que a

    imagem aparea. Na realidade, como resultado, expressa o que gostaria de ser,

    como gostaria de ser visto e tratado.

    Figura 21 Incgnitos na rede

    Fonte: . Acesso em: out. 2012.

    http://portaldailha.com.br/giomarca/wp-content/uploads/2012/12/i89276.jpg
  • 47

    As novas identidades do homem ps-moderno so apresentadas e ampliadas

    na rede prolongando o espetculo, uma vez que cada indivduo responsvel pela

    sua prpria mdia.

    Com um mundo novo de oportunidades e segurana frgeis, as identidades

    ao estilo antigo, rgidas e inegociveis, deixam de funcionar. As estruturas durveis,

    tais quais eram conhecidas num passado recente, no conseguem incluir novos

    contedos que se desejam agregar, ou todas as identidades que poderiam ser

    experimentadas.

    Nesse panorama, a rea de relacionamentos amorosos se revela mais

    dinmica e competitiva, fazendo com que seja sempre mais difcil tirar vantagens de

    situaes de monoplio, ao multiplicar oportunidades e desenvolver novas

    capacidades relacionais.

    2.2 Percepo e os mecanismos de busca na Web

    Percepo consiste na aquisio, interpretao, seleo e organizao das

    informaes obtidas pelos sentidos. Pela percepo, um indivduo organiza e

    interpreta suas impresses sensoriais para atribuir significado ao seu meio. o

    processo por meio do qual as pessoas escolhem, organizam e reagem s

    informaes do mundo que as rodeia.

    Com base na fenomenologia da percepo de Merleau-Ponty, que considera

    o papel da percepo na experincia vivida, tem-se:

    Tudo aquilo que sei do mundo, mesmo por cincia, eu o sei a partir de uma viso minha ou de uma experincia do mundo sem a qual os smbolos da cincia no poderiam dizer nada. Todo o universo da cincia construdo sobre o mundo vivido, e se queremos pensar a prpria cincia com rigor, apreciar exatamente seu sentido e alcance, precisamos primeiramente despertar essa experincia do mundo da qual ela a expresso segunda. (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 3)

    A percepo d uma noo do mundo e o que se percebe de verdade.

    Mesmo que no seja verdadeira, ela ser a real, at que se prove o contrrio.

  • 48

    No mbito pessoal, a identidade, ou o conceito de si mesmo, orienta a ao

    individual. J no mbito social, as identidades das pessoas configuram-se como a

    percepo de si mesmas dentro de um ou vrios grupos e, nesse aspecto,

    direcionam os movimentos, refletindo a ao grupal.

    Quando se fala em identidades na rede, a percepo tem valor fundamental.

    Ao procurar saber sobre um determinado indivduo, mecanismos de busca da Web

    com o seu nome (ex: Google) so utilizados, e os resultados encontrados muitas

    vezes acabam formando uma viso da identidade do sujeito por meio da percepo

    dos resultados.

    Para explicar melhor, foi tomado como exemplo o orientador deste trabalho,

    Professor Doutor Alexandre Campos Silva. O professor Alexandre um profissional

    do mundo corporativo, professor da PUC, casado, pai de dois filhos e surfista nos

    momentos de lazer. Ao consultar seu nome na Web, tem-se diversas vises de sua

    identidade.

    Figura 22 Buscador Google

    Fonte: pesquisando Alexandre Campos Silva em 16/06/13.

    O interessante a ser observado que, de acordo com o contexto, a identidade

    do sujeito se apresenta de forma totalmente diferenciada.

    https://www.google.com.br/
  • 49

    Segundo Silva (2005, p. 76), necessria a compreenso de uma situao

    num determinado contexto. Um contexto comum deve ser compartilhado com a

    audincia e a participao humana nas redes de pessoas contribui muito para dar o

    contexto adequado e facilita a disseminao de um deteminado conhecimento para

    a platia. Assim, para se dar nfase a um discurso, necessrio se criar um

    contexto pessoal, passando experincias, sentimentos e emoes. Criar esse

    contexto no ambiente digital , segundo o autor, o desafio.

    Dependendo de onde se clica, a identidade se apresenta em diferentes

    papis. Segundo Hall, o homem moderno no tem identidade fixa e assume diversas

    identidades em diferentes momentos.

    Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento at a morte, apenas porque construmos uma cmoda estria sobre ns mesmos ou uma confortadora narrativa do eu [...], a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente uma fantasia. Ao invs disso, medida que os sistemas de significao e representao cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possveis, com cada uma das quais poderamos nos identificar ao menos temporariamente. (HALL, 2006, p. 13)

    Os mecanismos de busca tornaram-se to importantes em relao

    visualizao de uma identidade, que mostrar primeiramente perfis positivos e links

    que passem uma boa impresso passou a ser um diferencial. Com isso, percebe-se

    o desenvolvimento de diversas ferramentas como, por exemplo, o BrandYorself,

    cujo objetivo analisar tudo o que se publica na internet. A ferramenta cria um ndice

    de busca que monitora o quanto positivo versus negativo esto os resultados na

    primeira pgina de consulta com algum nome. Fornece ainda os passos para que

    seja possvel posicion-los melhor nos mecanismos de busca e mantm um controle

    sobre isso. A reputao do indivduo online passou a ter grande importncia.

    Continuando no exemplo do professor Alexandre, ao fixar a anlise em seu

    perfil do Facebook, pode-se ver a identidade social em que se compartilham fotos da

    famlia e de seus momentos de lazer. J analisando o seu perfil no Linkedin,

    observa-se o lado profissional, destacando a experincia no mundo corporativo e

    acadmico. No site da PUC, por outro lado, est o seu perfil acadmico. No

  • 50

    Youtube, podem ser encontradas algumas palestras efetuadas em eventos

    acadmicos e corporativos. Para completar essa viso, h tambm apresentaes

    publicadas no slideshare (ferramenta de compartilhamento de contedo) e diversos

    outros sites, blogs, comunidades virtuais nos quais mais e mais perfis do professor

    Alexandre se apresentam.

    Ainda h a varivel temporal, uma vez que as identidades esto organizadas

    na rede em um espao de tempo que representa a continuidade de um eu. A

    concepo de tempo e espao a edificao utilizada para sustentar a existncia do

    indivduo de uma forma geral.

    No Facebook, a linha do tempo d a viso de uma sucesso de momentos

    que representam os indivduos em diversas fases. Compreender a ordenao e a

    sucesso de fatos, bem como a simultaneidade e a relao entre eles, ajuda a

    caracterizar perodos e obter conceitos de tempo fsico e social, permitindo tambm

    uma leitura da realidade em suas dimenses espacial e temporal.

    Tem-se ento a percepo se referindo ao campo da subjetividade e da

    historicidade, ao mundo dos objetos culturais, das relaes virtuais e sociais como

    base das experincias vividas. Para Merleau-Ponty,

    [...] a percepo sinestsica a regra e, se no percebemos isso, porque o saber cientfico desloca a experincia e porque desaprendemos a ver, a ouvir e em geral, a sentir, para deduzir de nossa organizao corporal e do mundo tal como concebe o fsico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir. (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 308)

    O corpo, a afetividade e as relaes sociais so relacionadas ao sujeito e,

    com isso, percebe-se que o ser humano mais do que suas palavras, sua escrita e

    seus contatos virtuais. Ele tambm atitude, tom de voz, expresso, ritmo,

    criatividade e espontaneidade interagindo dinamicamente.

    Assim, a percepo final da identidade do sujeito fica a critrio de cada um.

  • 51

    2.3 Imagem no contexto

    No mundo ps-moderno, falar sobre identidade implica o uso de termos como

    fragmentao, deslocamento, descentramento, conforme apontam os estudos de

    Hall. Para o autor,

    a identidade formada na interao entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um ncleo ou essncia interior que o eu real, mas este formado e modificado num dilogo contnuo com os mundos culturais exteriores e as identidades que esses mundos oferecem. (HALL, 1998, p. 11)

    Hall (1998) complementa que, para os tericos, crentes nas identidades que

    caminham para seu fim, as transformaes que vm ocorrendo causaram um abalo

    na ideia que temos de ns prprios como sujeitos integrados, o que teria levado,

    perda de um sentido de si estvel, provocando o deslocamento ou

    descentralizao do sujeito.

    Para Bauman (2005), a identidade uma construo que demanda esforo e

    nos revelada como algo a ser inventado, e no descoberto.

    Com as novas condies tecnolgicas de acesso e troca de informaes, as

    identidades individuais esto passando por profundas alteraes e as imagens

    exibidas so parte importante desse contexto.

    A percepo e a significao das imagens dependem dos sujeitos e do

    contexto, porm as imagens contm em si elementos capazes de chamar a ateno

    e gerar interesse.

    Nunca se fica passivo diante de uma imagem. Ela incita a imaginao e faz

    pensar sobre o passado ou sobre a ideia para a qual ela remete. Entre quem olha, e

    a imagem, h muito mais do que os olhos podem ver. uma elaborao do vivido e

    uma leitura do real.

  • 52

    Figura 23 Imagem na internet Fonte: . Acesso em: jun. 2013.

    Vdeos e fotos feitos por pessoas comuns tm diversas finalidades na Web.

    Desde a identificao de uma pessoa at testemunhos de eventos cotidianos,

    pessoas falando de suas vidas e tambm registros de catsfrotes, manifestaes

    etc.

    Com a difuso de fotografias e vdeos por celular, pode-se verificar o que

    alguns autores definem como subjetividade ps-moderna, ou seja, desterritorializada

    e aberta. A prpria caracterstica de mobilidade do dispositivo j apresenta essa

    subjetividade: as fotos so tiradas, vistas e descartadas imediatamente; elas

    circulam como forma de fazer contato, enviar para os amigos, apenas indicando

    onde se est, por exemplo. So imagens imediatas como forma de sociabilidade.

    No so produzidas para marcar memria. O consumo se d para circulao na

    rede, o envio rpido e imediato.

    http://jessicavasconcelosuerj.blogspot.com.br/
  • 53

    Figura 24 Geolocalizao de fotos no smartphone Fonte: . Acesso em: jul. 2013.

    Esse mostrar e ver estabelece uma forma de ligao social e flutuante,

    caractersticas da sociabilidade e subjetividade ps-modernas. Para Bauman, viver

    na modernidade lquida implica assumir responsabilidades e viver o momento, o

    instntneo em seu tempo e espao nicos.

    Como tudo o mais, as identidades humanas suas autoimagens se dividiram em colees de instantneos, cada uma tendo que evocar, carregar e expressar seu prprio significado, muitas vezes sem se referir a outros instantneos. Em vez de construir nossa identidade de maneira gradual e paciente, como se constri uma casa, lidamos com formas montadas instantaneamente, apesar de desmanteladas com facilidade, pintadas umas sobre as outras; uma identidade palimpstica. o tipo de identidade que se adapta a um mundo em que a arte de esquecer bem mais importante do que a arte de memorizar; em que esquecer, mais que aprender, a condio de adequao contnua, segundo a qual novas coisas e pessoas entram e saem do campo de viso da cmera estacionria da ateno e onde a prpria imagem como fita de vdeo, sempre pronta para ser apagada para poder gravar novas imagens. (BAUMAN, 2001, p. 115)

    Assim, no entendimento de Bauman, as pessoas so frutos e reflexos de uma

    sociedade em constante mudana, portanto igualmente instantneos, como as

    imagens publicadas na Web.

    http://iplace.maiscommac.com.br/2012/02/criando-albuns-de-fotos-no-iphone-ipad-e-ipod-touch/http://iplace.maiscommac.com.br/2012/02/criando-albuns-de-fotos-no-iphone-ipad-e-ipod-touch/http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=lugares i-phone "fotos"&source=images&cd=&cad=rja&docid=o8_M8hjFqbnfQM&tbnid=34HnJeeUlPtKyM:&ved=0CAUQjRw&url=http://iplace.maiscommac.com.br/2012/02/criando-albuns-de-fotos-no-iphone-ipad-e-ipod-touch/&ei=9GjtUb6aAYnO8QTvv4HwCA&bvm=bv.49478099,d.dmg&psig=AFQjCNH_cRUYyBm6tGNW9_ejf4Hx16SOtA&ust=1374599790001306
  • 54

    2.4 Perfis falsos fakes

    As formas identitrias na Web se apresentam de maneira nmade, uma vez

    que podem estar aqui e ali sem fronteiras impostas pela longa distncia territorial; ou

    mltipla, quando se opta por ter vrios perfis falsos, como so chamados os fakes,

    vrios eus.

    O anonimato fornecido pela internet e a sensao de impunidade que existe

    como consequncia colaboram para a criao desses tipos de perfis, uma vez que

    no h ningum que observa esses autores, dando a possibilidade de, no espao da

    Web, agir como bem entenderem, visto no estarem sob vigilncia.

    Essas relaes no precisam ser providas da revelao de suas identidades

    offline, ou seja, no preciso revelar sua identidade civil para se comunicar com