Identificação, quantificação e controle de defeitos em...
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Identificaccedilatildeo quantificaccedilatildeo e controle de defeitos em monocristais
e nanopartiacuteculas de TiO2
por Frederico Dias Brandatildeo
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Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciecircncias Exatas
Departamento de Fiacutesica Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica
Identificaccedilatildeo quantificaccedilatildeo e controle de defeitos em monocristais e nanopartiacuteculas
de TiO2 Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Fiacutesica
Frederico Dias Brandatildeo
Orientado por Prof Dr Klaus Krambrock
Belo Horizonte
08 de agosto de 2008
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Abstract
Titanium dioxide (TiO2) has attracted enormous interest in the scientific
community in recent years basically for the application as a material on electronic
devices photocatalysis and renewable energy Most part of this interest is associated
to nanostructured TiO2 which has energy gap of 32 eV and 305 eV for anatase and
rutile respectively For example the production of H2 by the hydrolysis of water
molecule catalyzed by TiO2 has been shown Other applications of TiO2 are related to
dye sensitized photovoltaic cells and the recent discovery of fourth passive element in
electronic circuits the memristor For improvement of the material many scientific
groups are working on the modification of the properties of the material
In order to understand the material properties a deep knowledge of the intrinsic
and extrinsic defects is fundamental TiO2 is considered to be a non-stoichiometric
material with high deficiency in oxygen which leads a n type conductivity In this
way the defect chemistry of TiO2 has been described in terms of the intrinsic defects
titanium interstitial Tii and oxygen vacancy VO Surface defects are also easily
produced and are intimately related with photocatalysis Besides much controversy
exists in the literature about proposed models
In this work monocristalline and nanostructured samples produced by the sol-
gel process are studied by Electron Paramagnetic Resonance (EPR) The interstitial
titanium and complexes extrinsic defects Nb5+ Cr3+ and Fe3+ as well as surface
adsorbed radicals at the surface were characterized The incorporation and
concentration of the defects are controlled by thermal treatments in oxidizing and
reducing atmospheres EPR and X ray diffraction data are correlated and discussed in
terms of defect models in bulk and nanoparticles for both structures of TiO2 anatase
and rutile
iv
Resumo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) tem atraiacutedo grande interesse por parte da
comunidade cientiacutefica principalmente pela aplicaccedilatildeo do material na aacuterea de
dispositivos eletrocircnicos fotocataacutelise e geraccedilatildeo de energia solar Boa parte desse
interesse pode ser atribuiacuteda agrave observaccedilatildeo de que o TiO2 na forma nanoestruturada tem
as propriedades necessaacuterias por exemplo energia do gap de 32 eV e 305 eV na fase
anatase e rutilo respectivamente para a produccedilatildeo de H2 atraveacutes da hidroacutelise da
moleacutecula de H2O Aleacutem disso ressaltamos a aplicabilidade do TiO2 como eletrodo em
ceacutelulas fotovoltaicas sensibilizadas por corante e a descoberta do quarto elemento
passivo do circuito eletrocircnico o memristor Na tentativa de aprimorar o material
muitos grupos tecircm trabalhado na modificaccedilatildeo das propriedades semicondutoras do
TiO2
A fim de realizar estas melhorias eacute necessaacuteria a compreensatildeo do papel dos
defeitos intriacutensecos e extriacutensecos envolvidos O TiO2 eacute considerado um material natildeo
estequiomeacutetrico com alta deficiecircncia em oxigecircnio que confere propriedades tipo n ao
material Desta forma a quiacutemica de defeitos do TiO2 tem sido descrita em termos de
defeitos intriacutensecos titacircnio intersticial Tii e vacacircncia de oxigecircnio Vo Defeitos de
superfiacutecie tambeacutem satildeo facilmente gerados e estatildeo intimamente ligados agrave aplicaccedilatildeo em
fotocataacutelise Poreacutem existem muitas controveacutersias na literatura referente aos modelos
propostos
Neste trabalho satildeo estudas amostras monocristalinas e nanoestruturadas
produzidas utilizando o processo sol-gel atraveacutes de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica (RPE) Com esta teacutecnica foram caracterizados o defeito intriacutenseco Ti3+
intersticial e complexos do mesmo os defeitos extriacutensecos Nb5+ Fe3+ e Cr3+ aleacutem de
radicais adsorvidos na superfiacutecie A incorporaccedilatildeo e concentraccedilatildeo desses defeitos satildeo
controladas utilizando tratamentos teacutermicos oxidantes e redutores Atraveacutes da
correlaccedilatildeo dos dados RPE com medidas de difraccedilatildeo de raios X satildeo discutidos
modelos dos defeitos no bulk e em nanopartiacuteculas em ambas as formas estruturais do
TiO2 anatase e rutilo
v
ldquoAo teacutermino de um periacuteodo de
decadecircncia sobreveacutem o ponto de
mutaccedilatildeo A luz poderosa que fora
banida ressurge Haacute movimento mas
este natildeo eacute gerado pela forccedila O
movimento eacute natural surge
espontaneamente Por essa razatildeo a
transformaccedilatildeo do antigo torna-se faacutecil
O velho eacute descartado e o novo eacute
introduzido Ambas as medidas se
harmonizam com o tempo natildeo
resultando daiacute portanto nenhum danordquo
I Ching
vi
Agradecimentos
Primeiramente agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica
coordenado pelos professores Klaus Krambrock e Mauriacutecio Pinheiro Agradeccedilo pelo
empenho e paciecircncia durante todo o periacuteodo da Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e Mestrado onde
aprendi a como ser um pesquisador e ter uma visatildeo aplicada da ciecircncia Agradeccedilo
tambeacutem a todos os colegas atuais e antigos de laboratoacuterio que auxiliaram no
desenvolvimento do trabalho
Agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Nanomateriais pela infra-estrutura
disponibilizada para a produccedilatildeo das amostras utilizadas neste trabalho pelo suporte
teacutecnico na pessoa do Seacutergio e pelas ideacuteias do Prof Luiz Orlando Ladeira
Agradeccedilo ao Dr Gilberto Medeiros pela colaboraccedilatildeo com amostras de suma
importacircncia para este trabalho
Tambeacutem agradeccedilo aos grupos dos Laboratoacuterios de Difraccedilatildeo de Raios X e
Medidas de Transporte Eleacutetrico pelas medidas realizadas que foram de grande valor
para o trabalho Agradeccedilo tambeacutem ao pessoal da Criogenia pelo suporte
Agradeccedilo a CAPES pelo suporte financeiro propiciando estabilidade para que
os estudos fossem concluiacutedos
Agradeccedilo a todos os amigos do Departamento de Fiacutesica que proporcionaram
boas conversas sobre Fiacutesica e sobre a vida
Agradeccedilo aos meus pais Hilton e Dalila pela educaccedilatildeo e esforccedilo e a minha
irmatilde pelo carinho Aos meus familiares que sempre me desejaram e me deram
felicidade
Agradeccedilo aos velhos amigos que sempre estiveram ao meu lado e com quem
aprendi o mundo Tambeacutem agradeccedilo a Beth com quem cresci enormemente
Agradeccedilo a Deus pelo que tenho e o que sou
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Conteuacutedo
1 Introduccedilatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 O dioacutexido de titacircnio (TiO2) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
26 - Processo Sol-gel de TiO2
3 O experimento de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) - - - - -
31 - Introduccedilatildeo
32 - Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e
Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
33 - Hamiltoniano de spin e spin efetivo
34 - Efeito Zeeman fator g e anisotropia
35 - Termo de estrutura fina
36 - RPE de metais de transiccedilatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de RPE
4 Resultados experimentais em monocristais de TiO2 - - - - - - - - - - - - - - -
41 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
42 - Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
422 - Medidas eleacutetricas
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
43 - Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos
extriacutensecos)
5 Resultados experimentais dos poacutes nanoestruturados de TiO2 - - - - - - - -
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
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6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
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Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
ii
Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciecircncias Exatas
Departamento de Fiacutesica Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica
Identificaccedilatildeo quantificaccedilatildeo e controle de defeitos em monocristais e nanopartiacuteculas
de TiO2 Dissertaccedilatildeo apresentada ao Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Fiacutesica
Frederico Dias Brandatildeo
Orientado por Prof Dr Klaus Krambrock
Belo Horizonte
08 de agosto de 2008
iii
Abstract
Titanium dioxide (TiO2) has attracted enormous interest in the scientific
community in recent years basically for the application as a material on electronic
devices photocatalysis and renewable energy Most part of this interest is associated
to nanostructured TiO2 which has energy gap of 32 eV and 305 eV for anatase and
rutile respectively For example the production of H2 by the hydrolysis of water
molecule catalyzed by TiO2 has been shown Other applications of TiO2 are related to
dye sensitized photovoltaic cells and the recent discovery of fourth passive element in
electronic circuits the memristor For improvement of the material many scientific
groups are working on the modification of the properties of the material
In order to understand the material properties a deep knowledge of the intrinsic
and extrinsic defects is fundamental TiO2 is considered to be a non-stoichiometric
material with high deficiency in oxygen which leads a n type conductivity In this
way the defect chemistry of TiO2 has been described in terms of the intrinsic defects
titanium interstitial Tii and oxygen vacancy VO Surface defects are also easily
produced and are intimately related with photocatalysis Besides much controversy
exists in the literature about proposed models
In this work monocristalline and nanostructured samples produced by the sol-
gel process are studied by Electron Paramagnetic Resonance (EPR) The interstitial
titanium and complexes extrinsic defects Nb5+ Cr3+ and Fe3+ as well as surface
adsorbed radicals at the surface were characterized The incorporation and
concentration of the defects are controlled by thermal treatments in oxidizing and
reducing atmospheres EPR and X ray diffraction data are correlated and discussed in
terms of defect models in bulk and nanoparticles for both structures of TiO2 anatase
and rutile
iv
Resumo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) tem atraiacutedo grande interesse por parte da
comunidade cientiacutefica principalmente pela aplicaccedilatildeo do material na aacuterea de
dispositivos eletrocircnicos fotocataacutelise e geraccedilatildeo de energia solar Boa parte desse
interesse pode ser atribuiacuteda agrave observaccedilatildeo de que o TiO2 na forma nanoestruturada tem
as propriedades necessaacuterias por exemplo energia do gap de 32 eV e 305 eV na fase
anatase e rutilo respectivamente para a produccedilatildeo de H2 atraveacutes da hidroacutelise da
moleacutecula de H2O Aleacutem disso ressaltamos a aplicabilidade do TiO2 como eletrodo em
ceacutelulas fotovoltaicas sensibilizadas por corante e a descoberta do quarto elemento
passivo do circuito eletrocircnico o memristor Na tentativa de aprimorar o material
muitos grupos tecircm trabalhado na modificaccedilatildeo das propriedades semicondutoras do
TiO2
A fim de realizar estas melhorias eacute necessaacuteria a compreensatildeo do papel dos
defeitos intriacutensecos e extriacutensecos envolvidos O TiO2 eacute considerado um material natildeo
estequiomeacutetrico com alta deficiecircncia em oxigecircnio que confere propriedades tipo n ao
material Desta forma a quiacutemica de defeitos do TiO2 tem sido descrita em termos de
defeitos intriacutensecos titacircnio intersticial Tii e vacacircncia de oxigecircnio Vo Defeitos de
superfiacutecie tambeacutem satildeo facilmente gerados e estatildeo intimamente ligados agrave aplicaccedilatildeo em
fotocataacutelise Poreacutem existem muitas controveacutersias na literatura referente aos modelos
propostos
Neste trabalho satildeo estudas amostras monocristalinas e nanoestruturadas
produzidas utilizando o processo sol-gel atraveacutes de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica (RPE) Com esta teacutecnica foram caracterizados o defeito intriacutenseco Ti3+
intersticial e complexos do mesmo os defeitos extriacutensecos Nb5+ Fe3+ e Cr3+ aleacutem de
radicais adsorvidos na superfiacutecie A incorporaccedilatildeo e concentraccedilatildeo desses defeitos satildeo
controladas utilizando tratamentos teacutermicos oxidantes e redutores Atraveacutes da
correlaccedilatildeo dos dados RPE com medidas de difraccedilatildeo de raios X satildeo discutidos
modelos dos defeitos no bulk e em nanopartiacuteculas em ambas as formas estruturais do
TiO2 anatase e rutilo
v
ldquoAo teacutermino de um periacuteodo de
decadecircncia sobreveacutem o ponto de
mutaccedilatildeo A luz poderosa que fora
banida ressurge Haacute movimento mas
este natildeo eacute gerado pela forccedila O
movimento eacute natural surge
espontaneamente Por essa razatildeo a
transformaccedilatildeo do antigo torna-se faacutecil
O velho eacute descartado e o novo eacute
introduzido Ambas as medidas se
harmonizam com o tempo natildeo
resultando daiacute portanto nenhum danordquo
I Ching
vi
Agradecimentos
Primeiramente agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica
coordenado pelos professores Klaus Krambrock e Mauriacutecio Pinheiro Agradeccedilo pelo
empenho e paciecircncia durante todo o periacuteodo da Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e Mestrado onde
aprendi a como ser um pesquisador e ter uma visatildeo aplicada da ciecircncia Agradeccedilo
tambeacutem a todos os colegas atuais e antigos de laboratoacuterio que auxiliaram no
desenvolvimento do trabalho
Agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Nanomateriais pela infra-estrutura
disponibilizada para a produccedilatildeo das amostras utilizadas neste trabalho pelo suporte
teacutecnico na pessoa do Seacutergio e pelas ideacuteias do Prof Luiz Orlando Ladeira
Agradeccedilo ao Dr Gilberto Medeiros pela colaboraccedilatildeo com amostras de suma
importacircncia para este trabalho
Tambeacutem agradeccedilo aos grupos dos Laboratoacuterios de Difraccedilatildeo de Raios X e
Medidas de Transporte Eleacutetrico pelas medidas realizadas que foram de grande valor
para o trabalho Agradeccedilo tambeacutem ao pessoal da Criogenia pelo suporte
Agradeccedilo a CAPES pelo suporte financeiro propiciando estabilidade para que
os estudos fossem concluiacutedos
Agradeccedilo a todos os amigos do Departamento de Fiacutesica que proporcionaram
boas conversas sobre Fiacutesica e sobre a vida
Agradeccedilo aos meus pais Hilton e Dalila pela educaccedilatildeo e esforccedilo e a minha
irmatilde pelo carinho Aos meus familiares que sempre me desejaram e me deram
felicidade
Agradeccedilo aos velhos amigos que sempre estiveram ao meu lado e com quem
aprendi o mundo Tambeacutem agradeccedilo a Beth com quem cresci enormemente
Agradeccedilo a Deus pelo que tenho e o que sou
vii
Conteuacutedo
1 Introduccedilatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 O dioacutexido de titacircnio (TiO2) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
26 - Processo Sol-gel de TiO2
3 O experimento de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) - - - - -
31 - Introduccedilatildeo
32 - Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e
Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
33 - Hamiltoniano de spin e spin efetivo
34 - Efeito Zeeman fator g e anisotropia
35 - Termo de estrutura fina
36 - RPE de metais de transiccedilatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de RPE
4 Resultados experimentais em monocristais de TiO2 - - - - - - - - - - - - - - -
41 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
42 - Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
422 - Medidas eleacutetricas
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
43 - Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos
extriacutensecos)
5 Resultados experimentais dos poacutes nanoestruturados de TiO2 - - - - - - - -
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
1
5
5
6
8
11
12
13
16
16
18
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27
29
30
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39
39
40
40
41
46
60
67
67
68
68
74
viii
6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90
90
92
113
116
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
iii
Abstract
Titanium dioxide (TiO2) has attracted enormous interest in the scientific
community in recent years basically for the application as a material on electronic
devices photocatalysis and renewable energy Most part of this interest is associated
to nanostructured TiO2 which has energy gap of 32 eV and 305 eV for anatase and
rutile respectively For example the production of H2 by the hydrolysis of water
molecule catalyzed by TiO2 has been shown Other applications of TiO2 are related to
dye sensitized photovoltaic cells and the recent discovery of fourth passive element in
electronic circuits the memristor For improvement of the material many scientific
groups are working on the modification of the properties of the material
In order to understand the material properties a deep knowledge of the intrinsic
and extrinsic defects is fundamental TiO2 is considered to be a non-stoichiometric
material with high deficiency in oxygen which leads a n type conductivity In this
way the defect chemistry of TiO2 has been described in terms of the intrinsic defects
titanium interstitial Tii and oxygen vacancy VO Surface defects are also easily
produced and are intimately related with photocatalysis Besides much controversy
exists in the literature about proposed models
In this work monocristalline and nanostructured samples produced by the sol-
gel process are studied by Electron Paramagnetic Resonance (EPR) The interstitial
titanium and complexes extrinsic defects Nb5+ Cr3+ and Fe3+ as well as surface
adsorbed radicals at the surface were characterized The incorporation and
concentration of the defects are controlled by thermal treatments in oxidizing and
reducing atmospheres EPR and X ray diffraction data are correlated and discussed in
terms of defect models in bulk and nanoparticles for both structures of TiO2 anatase
and rutile
iv
Resumo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) tem atraiacutedo grande interesse por parte da
comunidade cientiacutefica principalmente pela aplicaccedilatildeo do material na aacuterea de
dispositivos eletrocircnicos fotocataacutelise e geraccedilatildeo de energia solar Boa parte desse
interesse pode ser atribuiacuteda agrave observaccedilatildeo de que o TiO2 na forma nanoestruturada tem
as propriedades necessaacuterias por exemplo energia do gap de 32 eV e 305 eV na fase
anatase e rutilo respectivamente para a produccedilatildeo de H2 atraveacutes da hidroacutelise da
moleacutecula de H2O Aleacutem disso ressaltamos a aplicabilidade do TiO2 como eletrodo em
ceacutelulas fotovoltaicas sensibilizadas por corante e a descoberta do quarto elemento
passivo do circuito eletrocircnico o memristor Na tentativa de aprimorar o material
muitos grupos tecircm trabalhado na modificaccedilatildeo das propriedades semicondutoras do
TiO2
A fim de realizar estas melhorias eacute necessaacuteria a compreensatildeo do papel dos
defeitos intriacutensecos e extriacutensecos envolvidos O TiO2 eacute considerado um material natildeo
estequiomeacutetrico com alta deficiecircncia em oxigecircnio que confere propriedades tipo n ao
material Desta forma a quiacutemica de defeitos do TiO2 tem sido descrita em termos de
defeitos intriacutensecos titacircnio intersticial Tii e vacacircncia de oxigecircnio Vo Defeitos de
superfiacutecie tambeacutem satildeo facilmente gerados e estatildeo intimamente ligados agrave aplicaccedilatildeo em
fotocataacutelise Poreacutem existem muitas controveacutersias na literatura referente aos modelos
propostos
Neste trabalho satildeo estudas amostras monocristalinas e nanoestruturadas
produzidas utilizando o processo sol-gel atraveacutes de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica (RPE) Com esta teacutecnica foram caracterizados o defeito intriacutenseco Ti3+
intersticial e complexos do mesmo os defeitos extriacutensecos Nb5+ Fe3+ e Cr3+ aleacutem de
radicais adsorvidos na superfiacutecie A incorporaccedilatildeo e concentraccedilatildeo desses defeitos satildeo
controladas utilizando tratamentos teacutermicos oxidantes e redutores Atraveacutes da
correlaccedilatildeo dos dados RPE com medidas de difraccedilatildeo de raios X satildeo discutidos
modelos dos defeitos no bulk e em nanopartiacuteculas em ambas as formas estruturais do
TiO2 anatase e rutilo
v
ldquoAo teacutermino de um periacuteodo de
decadecircncia sobreveacutem o ponto de
mutaccedilatildeo A luz poderosa que fora
banida ressurge Haacute movimento mas
este natildeo eacute gerado pela forccedila O
movimento eacute natural surge
espontaneamente Por essa razatildeo a
transformaccedilatildeo do antigo torna-se faacutecil
O velho eacute descartado e o novo eacute
introduzido Ambas as medidas se
harmonizam com o tempo natildeo
resultando daiacute portanto nenhum danordquo
I Ching
vi
Agradecimentos
Primeiramente agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica
coordenado pelos professores Klaus Krambrock e Mauriacutecio Pinheiro Agradeccedilo pelo
empenho e paciecircncia durante todo o periacuteodo da Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e Mestrado onde
aprendi a como ser um pesquisador e ter uma visatildeo aplicada da ciecircncia Agradeccedilo
tambeacutem a todos os colegas atuais e antigos de laboratoacuterio que auxiliaram no
desenvolvimento do trabalho
Agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Nanomateriais pela infra-estrutura
disponibilizada para a produccedilatildeo das amostras utilizadas neste trabalho pelo suporte
teacutecnico na pessoa do Seacutergio e pelas ideacuteias do Prof Luiz Orlando Ladeira
Agradeccedilo ao Dr Gilberto Medeiros pela colaboraccedilatildeo com amostras de suma
importacircncia para este trabalho
Tambeacutem agradeccedilo aos grupos dos Laboratoacuterios de Difraccedilatildeo de Raios X e
Medidas de Transporte Eleacutetrico pelas medidas realizadas que foram de grande valor
para o trabalho Agradeccedilo tambeacutem ao pessoal da Criogenia pelo suporte
Agradeccedilo a CAPES pelo suporte financeiro propiciando estabilidade para que
os estudos fossem concluiacutedos
Agradeccedilo a todos os amigos do Departamento de Fiacutesica que proporcionaram
boas conversas sobre Fiacutesica e sobre a vida
Agradeccedilo aos meus pais Hilton e Dalila pela educaccedilatildeo e esforccedilo e a minha
irmatilde pelo carinho Aos meus familiares que sempre me desejaram e me deram
felicidade
Agradeccedilo aos velhos amigos que sempre estiveram ao meu lado e com quem
aprendi o mundo Tambeacutem agradeccedilo a Beth com quem cresci enormemente
Agradeccedilo a Deus pelo que tenho e o que sou
vii
Conteuacutedo
1 Introduccedilatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 O dioacutexido de titacircnio (TiO2) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
26 - Processo Sol-gel de TiO2
3 O experimento de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) - - - - -
31 - Introduccedilatildeo
32 - Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e
Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
33 - Hamiltoniano de spin e spin efetivo
34 - Efeito Zeeman fator g e anisotropia
35 - Termo de estrutura fina
36 - RPE de metais de transiccedilatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de RPE
4 Resultados experimentais em monocristais de TiO2 - - - - - - - - - - - - - - -
41 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
42 - Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
422 - Medidas eleacutetricas
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
43 - Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos
extriacutensecos)
5 Resultados experimentais dos poacutes nanoestruturados de TiO2 - - - - - - - -
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
1
5
5
6
8
11
12
13
16
16
18
24
27
29
30
32
34
39
39
40
40
41
46
60
67
67
68
68
74
viii
6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90
90
92
113
116
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
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O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
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Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
iv
Resumo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) tem atraiacutedo grande interesse por parte da
comunidade cientiacutefica principalmente pela aplicaccedilatildeo do material na aacuterea de
dispositivos eletrocircnicos fotocataacutelise e geraccedilatildeo de energia solar Boa parte desse
interesse pode ser atribuiacuteda agrave observaccedilatildeo de que o TiO2 na forma nanoestruturada tem
as propriedades necessaacuterias por exemplo energia do gap de 32 eV e 305 eV na fase
anatase e rutilo respectivamente para a produccedilatildeo de H2 atraveacutes da hidroacutelise da
moleacutecula de H2O Aleacutem disso ressaltamos a aplicabilidade do TiO2 como eletrodo em
ceacutelulas fotovoltaicas sensibilizadas por corante e a descoberta do quarto elemento
passivo do circuito eletrocircnico o memristor Na tentativa de aprimorar o material
muitos grupos tecircm trabalhado na modificaccedilatildeo das propriedades semicondutoras do
TiO2
A fim de realizar estas melhorias eacute necessaacuteria a compreensatildeo do papel dos
defeitos intriacutensecos e extriacutensecos envolvidos O TiO2 eacute considerado um material natildeo
estequiomeacutetrico com alta deficiecircncia em oxigecircnio que confere propriedades tipo n ao
material Desta forma a quiacutemica de defeitos do TiO2 tem sido descrita em termos de
defeitos intriacutensecos titacircnio intersticial Tii e vacacircncia de oxigecircnio Vo Defeitos de
superfiacutecie tambeacutem satildeo facilmente gerados e estatildeo intimamente ligados agrave aplicaccedilatildeo em
fotocataacutelise Poreacutem existem muitas controveacutersias na literatura referente aos modelos
propostos
Neste trabalho satildeo estudas amostras monocristalinas e nanoestruturadas
produzidas utilizando o processo sol-gel atraveacutes de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica (RPE) Com esta teacutecnica foram caracterizados o defeito intriacutenseco Ti3+
intersticial e complexos do mesmo os defeitos extriacutensecos Nb5+ Fe3+ e Cr3+ aleacutem de
radicais adsorvidos na superfiacutecie A incorporaccedilatildeo e concentraccedilatildeo desses defeitos satildeo
controladas utilizando tratamentos teacutermicos oxidantes e redutores Atraveacutes da
correlaccedilatildeo dos dados RPE com medidas de difraccedilatildeo de raios X satildeo discutidos
modelos dos defeitos no bulk e em nanopartiacuteculas em ambas as formas estruturais do
TiO2 anatase e rutilo
v
ldquoAo teacutermino de um periacuteodo de
decadecircncia sobreveacutem o ponto de
mutaccedilatildeo A luz poderosa que fora
banida ressurge Haacute movimento mas
este natildeo eacute gerado pela forccedila O
movimento eacute natural surge
espontaneamente Por essa razatildeo a
transformaccedilatildeo do antigo torna-se faacutecil
O velho eacute descartado e o novo eacute
introduzido Ambas as medidas se
harmonizam com o tempo natildeo
resultando daiacute portanto nenhum danordquo
I Ching
vi
Agradecimentos
Primeiramente agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica
coordenado pelos professores Klaus Krambrock e Mauriacutecio Pinheiro Agradeccedilo pelo
empenho e paciecircncia durante todo o periacuteodo da Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e Mestrado onde
aprendi a como ser um pesquisador e ter uma visatildeo aplicada da ciecircncia Agradeccedilo
tambeacutem a todos os colegas atuais e antigos de laboratoacuterio que auxiliaram no
desenvolvimento do trabalho
Agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Nanomateriais pela infra-estrutura
disponibilizada para a produccedilatildeo das amostras utilizadas neste trabalho pelo suporte
teacutecnico na pessoa do Seacutergio e pelas ideacuteias do Prof Luiz Orlando Ladeira
Agradeccedilo ao Dr Gilberto Medeiros pela colaboraccedilatildeo com amostras de suma
importacircncia para este trabalho
Tambeacutem agradeccedilo aos grupos dos Laboratoacuterios de Difraccedilatildeo de Raios X e
Medidas de Transporte Eleacutetrico pelas medidas realizadas que foram de grande valor
para o trabalho Agradeccedilo tambeacutem ao pessoal da Criogenia pelo suporte
Agradeccedilo a CAPES pelo suporte financeiro propiciando estabilidade para que
os estudos fossem concluiacutedos
Agradeccedilo a todos os amigos do Departamento de Fiacutesica que proporcionaram
boas conversas sobre Fiacutesica e sobre a vida
Agradeccedilo aos meus pais Hilton e Dalila pela educaccedilatildeo e esforccedilo e a minha
irmatilde pelo carinho Aos meus familiares que sempre me desejaram e me deram
felicidade
Agradeccedilo aos velhos amigos que sempre estiveram ao meu lado e com quem
aprendi o mundo Tambeacutem agradeccedilo a Beth com quem cresci enormemente
Agradeccedilo a Deus pelo que tenho e o que sou
vii
Conteuacutedo
1 Introduccedilatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 O dioacutexido de titacircnio (TiO2) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
26 - Processo Sol-gel de TiO2
3 O experimento de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) - - - - -
31 - Introduccedilatildeo
32 - Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e
Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
33 - Hamiltoniano de spin e spin efetivo
34 - Efeito Zeeman fator g e anisotropia
35 - Termo de estrutura fina
36 - RPE de metais de transiccedilatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de RPE
4 Resultados experimentais em monocristais de TiO2 - - - - - - - - - - - - - - -
41 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
42 - Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
422 - Medidas eleacutetricas
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
43 - Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos
extriacutensecos)
5 Resultados experimentais dos poacutes nanoestruturados de TiO2 - - - - - - - -
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
1
5
5
6
8
11
12
13
16
16
18
24
27
29
30
32
34
39
39
40
40
41
46
60
67
67
68
68
74
viii
6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90
90
92
113
116
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
v
ldquoAo teacutermino de um periacuteodo de
decadecircncia sobreveacutem o ponto de
mutaccedilatildeo A luz poderosa que fora
banida ressurge Haacute movimento mas
este natildeo eacute gerado pela forccedila O
movimento eacute natural surge
espontaneamente Por essa razatildeo a
transformaccedilatildeo do antigo torna-se faacutecil
O velho eacute descartado e o novo eacute
introduzido Ambas as medidas se
harmonizam com o tempo natildeo
resultando daiacute portanto nenhum danordquo
I Ching
vi
Agradecimentos
Primeiramente agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica
coordenado pelos professores Klaus Krambrock e Mauriacutecio Pinheiro Agradeccedilo pelo
empenho e paciecircncia durante todo o periacuteodo da Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e Mestrado onde
aprendi a como ser um pesquisador e ter uma visatildeo aplicada da ciecircncia Agradeccedilo
tambeacutem a todos os colegas atuais e antigos de laboratoacuterio que auxiliaram no
desenvolvimento do trabalho
Agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Nanomateriais pela infra-estrutura
disponibilizada para a produccedilatildeo das amostras utilizadas neste trabalho pelo suporte
teacutecnico na pessoa do Seacutergio e pelas ideacuteias do Prof Luiz Orlando Ladeira
Agradeccedilo ao Dr Gilberto Medeiros pela colaboraccedilatildeo com amostras de suma
importacircncia para este trabalho
Tambeacutem agradeccedilo aos grupos dos Laboratoacuterios de Difraccedilatildeo de Raios X e
Medidas de Transporte Eleacutetrico pelas medidas realizadas que foram de grande valor
para o trabalho Agradeccedilo tambeacutem ao pessoal da Criogenia pelo suporte
Agradeccedilo a CAPES pelo suporte financeiro propiciando estabilidade para que
os estudos fossem concluiacutedos
Agradeccedilo a todos os amigos do Departamento de Fiacutesica que proporcionaram
boas conversas sobre Fiacutesica e sobre a vida
Agradeccedilo aos meus pais Hilton e Dalila pela educaccedilatildeo e esforccedilo e a minha
irmatilde pelo carinho Aos meus familiares que sempre me desejaram e me deram
felicidade
Agradeccedilo aos velhos amigos que sempre estiveram ao meu lado e com quem
aprendi o mundo Tambeacutem agradeccedilo a Beth com quem cresci enormemente
Agradeccedilo a Deus pelo que tenho e o que sou
vii
Conteuacutedo
1 Introduccedilatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 O dioacutexido de titacircnio (TiO2) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
26 - Processo Sol-gel de TiO2
3 O experimento de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) - - - - -
31 - Introduccedilatildeo
32 - Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e
Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
33 - Hamiltoniano de spin e spin efetivo
34 - Efeito Zeeman fator g e anisotropia
35 - Termo de estrutura fina
36 - RPE de metais de transiccedilatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de RPE
4 Resultados experimentais em monocristais de TiO2 - - - - - - - - - - - - - - -
41 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
42 - Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
422 - Medidas eleacutetricas
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
43 - Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos
extriacutensecos)
5 Resultados experimentais dos poacutes nanoestruturados de TiO2 - - - - - - - -
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
1
5
5
6
8
11
12
13
16
16
18
24
27
29
30
32
34
39
39
40
40
41
46
60
67
67
68
68
74
viii
6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90
90
92
113
116
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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[76] R Arroyo G Coacuterdoba J Padilla VH Lara Mate Lett 54 (2002) 397
119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
vi
Agradecimentos
Primeiramente agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica
coordenado pelos professores Klaus Krambrock e Mauriacutecio Pinheiro Agradeccedilo pelo
empenho e paciecircncia durante todo o periacuteodo da Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e Mestrado onde
aprendi a como ser um pesquisador e ter uma visatildeo aplicada da ciecircncia Agradeccedilo
tambeacutem a todos os colegas atuais e antigos de laboratoacuterio que auxiliaram no
desenvolvimento do trabalho
Agradeccedilo ao grupo do Laboratoacuterio de Nanomateriais pela infra-estrutura
disponibilizada para a produccedilatildeo das amostras utilizadas neste trabalho pelo suporte
teacutecnico na pessoa do Seacutergio e pelas ideacuteias do Prof Luiz Orlando Ladeira
Agradeccedilo ao Dr Gilberto Medeiros pela colaboraccedilatildeo com amostras de suma
importacircncia para este trabalho
Tambeacutem agradeccedilo aos grupos dos Laboratoacuterios de Difraccedilatildeo de Raios X e
Medidas de Transporte Eleacutetrico pelas medidas realizadas que foram de grande valor
para o trabalho Agradeccedilo tambeacutem ao pessoal da Criogenia pelo suporte
Agradeccedilo a CAPES pelo suporte financeiro propiciando estabilidade para que
os estudos fossem concluiacutedos
Agradeccedilo a todos os amigos do Departamento de Fiacutesica que proporcionaram
boas conversas sobre Fiacutesica e sobre a vida
Agradeccedilo aos meus pais Hilton e Dalila pela educaccedilatildeo e esforccedilo e a minha
irmatilde pelo carinho Aos meus familiares que sempre me desejaram e me deram
felicidade
Agradeccedilo aos velhos amigos que sempre estiveram ao meu lado e com quem
aprendi o mundo Tambeacutem agradeccedilo a Beth com quem cresci enormemente
Agradeccedilo a Deus pelo que tenho e o que sou
vii
Conteuacutedo
1 Introduccedilatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 O dioacutexido de titacircnio (TiO2) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
26 - Processo Sol-gel de TiO2
3 O experimento de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) - - - - -
31 - Introduccedilatildeo
32 - Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e
Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
33 - Hamiltoniano de spin e spin efetivo
34 - Efeito Zeeman fator g e anisotropia
35 - Termo de estrutura fina
36 - RPE de metais de transiccedilatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de RPE
4 Resultados experimentais em monocristais de TiO2 - - - - - - - - - - - - - - -
41 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
42 - Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
422 - Medidas eleacutetricas
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
43 - Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos
extriacutensecos)
5 Resultados experimentais dos poacutes nanoestruturados de TiO2 - - - - - - - -
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
1
5
5
6
8
11
12
13
16
16
18
24
27
29
30
32
34
39
39
40
40
41
46
60
67
67
68
68
74
viii
6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90
90
92
113
116
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
vii
Conteuacutedo
1 Introduccedilatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2 O dioacutexido de titacircnio (TiO2) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
26 - Processo Sol-gel de TiO2
3 O experimento de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) - - - - -
31 - Introduccedilatildeo
32 - Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e
Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
33 - Hamiltoniano de spin e spin efetivo
34 - Efeito Zeeman fator g e anisotropia
35 - Termo de estrutura fina
36 - RPE de metais de transiccedilatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de RPE
4 Resultados experimentais em monocristais de TiO2 - - - - - - - - - - - - - - -
41 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
42 - Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
422 - Medidas eleacutetricas
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
43 - Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos
extriacutensecos)
5 Resultados experimentais dos poacutes nanoestruturados de TiO2 - - - - - - - -
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
1
5
5
6
8
11
12
13
16
16
18
24
27
29
30
32
34
39
39
40
40
41
46
60
67
67
68
68
74
viii
6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90
90
92
113
116
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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[76] R Arroyo G Coacuterdoba J Padilla VH Lara Mate Lett 54 (2002) 397
119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
viii
6 Discussatildeo - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Conclusotildees - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Referecircncias - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
90
90
92
113
116
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
1
Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo
O dioacutexido de titacircnio (TiO2) em forma nanoestruturada tem atraiacutedo bastante
interesse em vaacuterias aacutereas de pesquisa na ciecircncia dos materiais por possibilitar vaacuterios
tipos de aplicaccedilotildees sendo empregado em vaacuterios ramos da induacutestria Essas aplicaccedilotildees
satildeo baseadas nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 que eacute um semicondutor com
gap de energia na regiatildeo ultravioleta Aleacutem disto o TiO2 eacute um material transparente e
possui alto iacutendice de refraccedilatildeo Os defeitos intriacutensecos ligados a deficiecircnica em
oxigecircnio nas nanopartiacuteculas fazem um papel importante nas propriedades eletrocircnicas
e oacuteticas do material por isso o TiO2 eacute melhor descrito na forma TiO2-x As fases
cristalinas mais importantes do TiO2 satildeo as fases anatase e rutilo
As propriedades fotoeleacutetricas e fotoquiacutemicas do TiO2 satildeo os grandes destaques
desse material com enfoque na cataacutelise heterogecircnea na fotocataacutelise e em ceacutelulas
solares para a produccedilatildeo de hidrogecircnio Num trabalho pioneiro foram utilizados
eletrodos de TiO2 para promover a hidroacutelise da aacutegua utilizando luz solar [1] O
dioacutexido de titacircnio eacute um excelente fotocatalisador na faixa de luz ultravioleta proacutexima
poreacutem exibe uma baixa eficiecircncia de conversatildeo de energia solar Por este motivo
muitas pesquisas visam o aprimoramento do material no sentido de promover a
absorccedilatildeo da luz na regiatildeo do visiacutevel atraveacutes de dopagens do TiO2 Trabalhos recentes
descobriram que nanopartiacuteculas de Au recobertas com TiO2 satildeo capazes de oxidar
moleacuteculas de CO sob luz visiacutevel e na temperatura ambiente [2] Outra proposta que
tem se mostrado uma medida eficaz para o aumento da eficiecircncia na conversatildeo da luz
solar eacute a adiccedilatildeo de corantes ao material Esta iniciativa gerou uma nova classe de
ceacutelulas solares eletroliacuteticas as ceacutelulas de Graumltzel ou Dye Solar Cells que usam as
caracteriacutesticas eletroquiacutemicas do TiO2 para promover reaccedilotildees de oxi-reduccedilatildeo na
geraccedilatildeo de energia [3] Outro tipo de ceacutelula fotovoltaica de estado soacutelido utiliza
poliacutemeros conjugados como materiais fotoativos em conjunto com o dioacutexido de
titacircnio que eacute um forte aceitador de eleacutetrons usado na separaccedilatildeo de cargas do
dispositivo com tempo na ordem de fentosegundos [4]
A maioria das aplicaccedilotildees do TiO2 envolve reaccedilotildees assistidas por luz solar a
qual eacute capaz de promover a criaccedilatildeo de par eleacutetron-buraco que satildeo separados e
transportados para a superfiacutecie onde participam de reaccedilotildees de transferecircncia de carga
(Figura 11) Este processo eacute limitado pela recombinaccedilatildeo dos portadores de carga em
2
siacutetios na superfiacutecie ou no bulk da nanopartiacutecula Diminuindo os centros de
recombinaccedilatildeo a eficiecircncia do processo aumenta e consequumlentemente a degradaccedilatildeo de
espeacutecies do ambiente - por exemplo espeacutecies A e D na figura 11 Aplicaccedilotildees como
estas vatildeo desde a descontaminaccedilatildeo da aacutegua de poluentes orgacircnicos agrave esterilizaccedilatildeo de
utensiacutelios hospitalares como agente anti-bactericida [5 6] e na terapia fotodinacircmica
na qual pela aplicaccedilatildeo de dioacutexido de titacircnio em tumores sob exposiccedilatildeo de luz
ultravioleta eacute possiacutevel controlar alguns tipos de cacircncer [7] Tambeacutem no acircmbito da
aplicaccedilatildeo bioloacutegica o material eacute utilizado como camada antioxidante e biocompatiacutevel
em implantes oacutesseos de titacircnio metaacutelico [8]
Figura 11 Efeito fotocataliacutetico em TiO2
Entre outras aplicaccedilotildees do TiO2 podemos encontrar aplicaccedilotildees como aditivos
na induacutestria de alimentos [9] em produtos cosmeacuteticos e farmacecircuticos com destaque
para a aplicaccedilatildeo em cremes solares para a absorccedilatildeo dos raios UV [10] e em tintas e
papeacuteis que utiliza o TiO2 como pigmento branco usando o seu alto iacutendice de refraccedilatildeo
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do TiO2 podem mudar dependendo das
condiccedilotildees atmosfeacutericas do ambiente Desta forma este material como tambeacutem outros
metaloacutexidos tais como ZnO CuO dentre outros estatildeo sendo empregados como
sensores de gaacutes O dioacutexido de titacircnio tem sido pesquisado como sensor de oxigecircnio
hidrogecircnio monoacutexido de carbono e metano [11] O gaacutes interage com defeitos na
3
superfiacutecie do material alterando a conduccedilatildeo eleacutetrica do material A fim de controlar a
sensitividade e os regimes de operaccedilatildeo do dispositivo as propriedades eleacutetricas e
oacuteticas podem ser alteradas atraveacutes da dopagem com metais de transiccedilatildeo os quais satildeo
facilmente incorporados na matriz cristalina
O TiO2 pode tambeacutem ser utilizado em forma de filmes finos para aplicaccedilatildeo em
filmes anti-reflexo filmes transparentes e espelhos dieleacutetricos para lasers e filtros
[12] Este tipo de aplicaccedilatildeo se baseia na interferecircncia entre as ondas refletidas pelas
superfiacutecies superior e inferior do filme As intensidades das ondas refletidas
dependem do iacutendice de refraccedilatildeo do meio onde a onda propaga no caso o filme e do
meio que o cerca Fazendo uma combinaccedilatildeo de diferentes camadas com diferentes
iacutendices de refraccedilatildeo a interferecircncia para alguns comprimentos de onda pode ser
reforccedilada ou suprimida Aleacutem disso filmes de TiO2 dopados com Co e Fe estatildeo sendo
estudados como possiacuteveis dispositivos em spintrocircnica Os filmes satildeo transparentes
semicondutores e ferromagneacuteticos a temperatura ambiente A origem das
propriedades ferromagneacuteticas desses filmes satildeo motivo de controveacutersias na literatura
[13 14]
Outro destaque da aplicaccedilatildeo do TiO2 eacute na aacuterea de dispositivos semicondutores
Uma publicaccedilatildeo sobre a descoberta do quarto elemento passivo do circuito eleacutetrico o
memristor chamou bastante atenccedilatildeo entre os pesquisadores recentemente [15]
Figura 12 Imagem de AFM de um circuito de memristores de TiO2
Neste dispositivo existe uma relaccedilatildeo entre o fluxo magneacutetico no elemento e a
carga que o percorre O dispositivo eacute constituiacutedo de dois filmes ultrafinos de dioacutexido
de titacircnio com diferentes estequiometrias entre dois eletrodos (Figura 12) Um dos
filmes eacute estequiomeacutetrico e o outro possui um desvio de sua estequiometria que o
4
confere defeitos intriacutensecos no caso vacacircncias de oxigecircnio eou iacuteons de titacircnio
intersticial As diferentes camadas de filme do dispositivo possuem diferentes
resistecircncias e pela aplicaccedilatildeo de um campo eleacutetrico as vacacircncias de oxigecircnio se
movem mudando a fronteira entre os dois filmes de TiO2 Desta forma a resistecircncia
do filme como um todo eacute dependente da quantidade de carga que cruzou a fronteira e
em qual direccedilatildeo Assim o dispositivo adquire uma resistecircncia dependente da histoacuteria
da corrente usando um mecanismo quiacutemico
Diante disso o dioacutexido de titacircnio eacute um dos oacutexidos binaacuterios mais importantes
para aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas O motivo pelo qual este material pode ser utilizado em
uma vasta gama de aplicaccedilotildees se deve agraves suas propriedades eleacutetricas oacuteticas e
estruturais uacutenicas que podem ser modificadas com relativa facilidade agrave sua alta
estabilidade sobre condiccedilotildees adversas de temperatura umidade e pH aleacutem de ser um
material atoacutexico e simplesmente sintetizado em vaacuterias formas atraveacutes de diferentes
meacutetodos [16] Desta forma para melhor compreender e aprimorar os processos
envolvidos nestas aplicaccedilotildees eacute necessaacuterio aprofundar os conhecimentos das
propriedades do material e suas relaccedilotildees com os defeitos intriacutensecos e impurezas e a
dimensatildeo em que este material eacute utilizado dado que grande parte das aplicaccedilotildees
utiliza-o na forma nanoestruturada Estes fatos geraram a grande motivaccedilatildeo para o
presente trabalho
O propoacutesito do trabalho eacute o estudo dos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos em
TiO2 tanto na forma de anatase como no rutilo atraveacutes de ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica (RPE) que eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para o estudo de defeitos
Investigamos tanto monocristais quanto materiais nanoestruturados de TiO2 preparado
a partir do processo sol-gel sob a influecircncia de tratamentos teacutermicos em atmosferas
controladas O grande objetivo do nosso trabalho eacute a melhor compreensatildeo do papel
dos defeitos em TiO2 nas propriedades eleacutetricas fotocataliacuteticas e oacuteticas No capiacutetulo 2
apresentaremos com mais detalhes as propriedades e o processo sol-gel do TiO2 No
capiacutetulo 3 discorremos sobre a ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica a principal
teacutecnica experimental aplicada nesse trabalho no estudo dos defeitos intriacutensecos e
extriacutensecos Nos capiacutetulos 4 e 5 apresentaremos os resultados experimentais e anaacutelises
obtidas em monocristais e poacutes nanoestruturados de TiO2 em ambas as fases
cristalinas No capiacutetulo 6 discutiremos esses resultados com enfoque na comparaccedilatildeo
entre monocristais e o material nanoestruturado para aplicaccedilotildees diversas
5
Capiacutetulo 2 ndash O dioacutexido de titacircnio (TiO2)
21 - Estruturas Cristalinas de TiO2
O dioacutexido de titacircnio eacute encontrado em vaacuterias formas cristalinas sendo as mais
conhecidas o rutilo anatase e brookita A fase rutilo eacute a mais termodinamicamente
estaacutevel em altas temperaturas Enquanto isso anatase e brookiacuteta satildeo obtidas a mais
baixa temperatura sendo que a forma brookiacuteta eacute estaacutevel em condiccedilotildees especiacuteficas de
pressatildeo A anatase eacute a fase mais estaacutevel na escala nanomeacutetrica sendo a fase mais
estudada em aplicaccedilotildees de nanotecnologia Juntamente com a fase rutilo estas satildeo as
fases mais importantes do ponto de vista tecnoloacutegico e seratildeo o foco neste trabalho A
transformaccedilatildeo de fase irreversiacutevel de anatase para rutilo eacute esperada para temperaturas
acima de 800degC A temperatura de transiccedilatildeo eacute afetada por vaacuterios fatores como
concentraccedilatildeo de defeitos no bulk e na superfiacutecie tamanho de partiacutecula e pressatildeo
Figura 21 Estruturas cristalinas da anatase e rutilo
6
Formalmente o TiO2 eacute constituiacutedo de iacuteons de Ti4+ no centro de um octaedro
formado por seis iacuteons O2- Os iacuteons de oxigecircnio (O2-) e titacircnio (Ti4+) que constituem os
cristais de anatase e rutilo tecircm raios iocircnicos de 0066 e 0146 Aring respectivamente
Cada aacutetomo de oxigecircnio tem trecircs titacircnios vizinhos pertencendo a trecircs octaedros
diferentes As estruturas do rutilo e da anatase diferem pela distorccedilatildeo nos octaedros
formados pelos aacutetomos de oxigecircnio De forma que a simetria local nos siacutetios de titacircnio
eacute D2h para o rutilo e D2d para a anatase Os cristais de rutilo e anatase tecircm simetria
tetragonal e satildeo descritos pelos eixos cristalograacuteficos a e c (Figura 21) A ceacutelula
unitaacuteria da anatase conteacutem quatro moleacuteculas de TiO2 enquanto no rutilo existem duas
moleacuteculas por ceacutelula unitaacuteria Poreacutem a estrutura da anatase eacute mais alongada e possui
maior volume que a ceacutelula do rutilo desta forma a anatase eacute menos densa que o
rutilo Na tabela 21 satildeo resumidas os dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo [17]
Tabela 21 Dados cristalograacuteficos de anatase e rutilo
Estrutura
cristalograacutefica Simetria Grupo de espaccedilo Eixo a b (nm) Eixo c
(nm) Densidade
(gcm3) rutilo tetragonal D4h
14 ndash
P42 mnm 4584 2953 4240
anatase tetragonal D4h19 ndash
I41 amd 3733 957 3830
22 - Propriedades Eleacutetricas e Oacuteticas
A grande maioria do conhecimento das propriedades eleacutetricas do TiO2 foi
obtida a partir dos dados experimentais de medidas eleacutetricas em amostras
monocristalinas de rutilo Este material geralmente exibe propriedades
semicondutoras tipo n e pouco eacute conhecido sobre as propriedades do material tipo p
[18] As propriedades eleacutetricas da fase anatase ainda satildeo pouco conhecidas e existem
muitas controveacutersias na literatura [19] A fase anatase tem atraiacutedo grande interesse dos
pesquisadores pela vasta aplicaccedilatildeo do material na forma nanoestrututrada
Um dos motivos para que amostras de rutilo sejam mais estudadas eacute o fato de
que cristais de anatase de qualidade satildeo mais difiacuteceis de encontrar na natureza e de
sintetizar em laboratoacuterio Aleacutem disso as informaccedilotildees mais conclusivas sobre a
7
conduccedilatildeo eletrocircnica no rutilo foram obtidas em amostras reduzidas por exibirem
maior condutividade eleacutetrica A conduccedilatildeo eletrocircnica neste tipo de amostra eacute bem
explicada para temperaturas abaixo de 3 K em termos do mecanismo de hopping entre
estados criados por defeitos doadores Provavelmente estados localizados formados
por titacircnios intersticiais que introduzem um niacutevel de energia em torno de 5 meV
abaixo da banda de conduccedilatildeo Por outro lado a conduccedilatildeo acima de 4 K tem sido
interpretada atraveacutes de vaacuterios meacutetodos envolvendo small e large polarons e conduccedilatildeo
em bandas de impurezas [20]
Desta forma os dados das propriedades eleacutetricas se limitam agraves informaccedilotildees
sobre os eleacutetrons no material e ainda existem vaacuterios valores para a mobilidade e massa
efetiva dos portadores de carga para as diferentes faixas de temperatura concentraccedilatildeo
de defeitos e fases cristalinas Contudo existe certo consenso de que o TiO2 eacute um
semicondutor onde os eleacutetrons dos orbitais 3d satildeo os responsaacuteveis pela conduccedilatildeo e
apresentam baixa mobilidade (cerca de duas ordens menor) quando comparado com
outros oacutexidos que possuem a mesma estrutura tal como SnO2 Alguns trabalhos
indicam que a mobilidade de eleacutetrons no rutilo eacute menor que na anatase com valores
em torno de 1 e 10 cm2Vs para a o rutilo e anatase respectivamente [21]
Da mesma forma as propriedades oacuteticas do dioacutexido de titacircnio foram
extensamente estudadas em amostras de rutilo [22-24] mas recentemente T Sekiya e
colaboradores conseguiram produzir cristais de anatase relativamente puros via
chemial vapor transport (CVT) e realizaram medidas de absorccedilatildeo em cristais tratados
em diferentes atmosferas [25] Nestes trabalhos medidas de absorccedilatildeo oacutetica mostraram
que o TiO2 eacute um material de gap indireto com energia de 320 eV e 302 eV nas fases
anatase e no rutilo respectivamente O que explica a transparecircncia destes materiais
quando as amostras satildeo puras e estequiomeacutetricas Tambeacutem foi possiacutevel mostrar que a
cor dos cristais eacute alterada pela dopagem com metais de transiccedilatildeo e introduccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos via tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
Os cristais de anatase e rutilo podem apresentar cores e tons diversos desde
vermelho amarelo verde azul e preto (figura 22) A cor amarela e a cor vermelha
estatildeo associadas a impurezas de ferro e cromo contaminantes frequumlentemente
encontrados nos materiais naturais Cristais verdes e azuis satildeo obtidos pelo tratamento
do material em atmosferas com caraacuteter redutor (ultra-alto vaacutecuo argocircnio e
hidrogecircnio) Estes tratamentos geram materiais com alta deficiecircnica em oxigecircnio e
criam defeitos intriacutensecos tais como titacircnio intersticial e vacacircncia de oxigecircnio A
8
formaccedilatildeo destes defeitos eacute associada agrave produccedilatildeo de eleacutetrons livres que introduzem
uma banda de absorccedilatildeo larga na regiatildeo do infravermelho o que confere uma cor
azulada ao material [26] Aumentando o grau de reduccedilatildeo eacute possiacutevel obter cristais
completamente negros (veja figura 22) O interessante eacute que o processo de mudanccedila
de cor eacute reversiacutevel tanto nos cristais de anatase quanto de rutilo e cristais
transparentes podem ser obtidos pela oxidaccedilatildeo das amostras reduzidas [25]
Figura 22 Cristais de rutilo em diferentes estados de oxidaccedilatildeo [17]
Outra propriedade oacutetica do dioacutexido de titacircnio que se destaca eacute o alto iacutendice de
refraccedilatildeo com valores de 253 ( || a) e 249 ( || c) para a anatase e 262 ( || a) e 290 ( ||
c) [27] para efeito de comparaccedilatildeo o MgO oacutexido muito utilizado como filme anti-
refletor em lentes tem iacutendice de refraccedilatildeo de 172 [28] Estes valores satildeo devido agrave alta
constante dieleacutetrica do meio Na literatura satildeo encontrados trabalhos com valores para
a constante dieleacutetrica na anatase variando dentro de uma ampla faixa de 19 a 97 [29]
no rutilo encontra-se o valor de 86 [17]
23 - Defeitos Intriacutensecos e Estequiometria
O oacutexido de titacircnio TiO2 eacute conhecidamente um oacutexido natildeo-estequiomeacutetrico com
alta deficiecircncia de oxigecircnio [5] A foacutermula correta para este material eacute TiO2-x onde x
eacute determinado pela concentraccedilatildeo de defeitos na rede Este material suporta uma
grande concentraccedilatildeo de defeitos dentre os quais podemos citar vacacircncias de oxigecircnio
VO titacircnio intersticial Tii vacacircncias de titacircnio VTi aleacutem de defeitos eletrocircnicos e
9
defeitos extriacutensecos tais como metais de transiccedilatildeo e terras raras Na figura 23 estaacute
representado o digrama de fase do sistema Ti-O Nesta figura podemos observar a
variedade de compostos produzidos variando-se a razatildeo OTi A incorporaccedilatildeo de altas
concentraccedilotildees de defeitos devido a tratamentos redutores forccedila o material a alterar sua
estrutura criando vaacuterias outras estequiometrias chegando a casos extremos satildeo as
chamadas fases de Magneacuteli TinO2n-1 [30]
Figura 23 Diagrama de fase de TiO2 [30]
As propriedades eleacutetricas e oacuteticas do dioacutexido de titacircnio satildeo altamente
dependentes da concentraccedilatildeo destes defeitos Poreacutem a compreensatildeo de como esses
defeitos satildeo produzidos de sua interaccedilatildeo com a rede e entre eles ainda eacute uma questatildeo
em aberto sendo necessaacuterias confirmaccedilotildees experimentais para correlacionaacute-los
corretamente com suas propriedades macroscoacutepicas e aplicaccedilotildees
Como foi dito na seccedilatildeo anterior a maioria dos trabalhos descreve o dioacutexido de
titacircnio utilizando defeitos relacionados a eleacutetrons e desprezando a presenccedila de buracos
como portadores minoritaacuterios pois na grande maioria dos casos o material exibe
conduccedilatildeo eletrocircnica tipo n [18] Esta suposiccedilatildeo de que o transporte de cargas eacute
determinado pelos eleacutetrons eacute vaacutelido para amostras reduzidas TiO2-x com alta
concentraccedilatildeo de defeitos As vacacircncias de oxigecircnio titacircnio intersticial e eleacutetrons satildeo
produzidos durante este tratamento de acordo com as equaccedilotildees de equiliacutebrio
10
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 21)
Oo hArrhArrhArrhArr frac12 O2 + VOuml + 2e- (Eq 22)
onde as formas Oo designa aacutetomos de oxigecircnio em siacutetios regulares do oxigecircnio na
estrutura de referecircncia do dioacutexido de titacircnio da mesma forma TiTi designa aacutetomos de
titacircnio em siacutetios regulares da estrutura de referecircncia e a forma Tii3+ representa iacuteons
que ocupam posiccedilotildees intersticiais na rede O Tii3+ formado se manteacutem em equiliacutebrio
com iacuteons Tii4+ atraveacutes da captura de eleacutetrons (veja figura 24) o que eacute possiacutevel de
observar em experimentos de Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica para
temperaturas abaixo de 100 K
Figura 24 Defeitos intriacutensecos na estrutura de TiO2
A quiacutemica de defeitos e propriedades correlatas em amostras reduzidas de
TiO2-x eacute relativamente bem descrita na literatura para o rutilo em termos de amplos
dados experimentais de medidas eleacutetricas [20] e ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica
[31] Poreacutem natildeo existe confirmaccedilatildeo experimental da existecircncia de vacacircncias de
oxigecircnio e titacircnio no bulk do TiO2 Resultados de estudos da superfiacutecie do dioacutexido de
titacircnio atraveacutes de scanning tunneling microscopy (STM) sugerem que vacacircncias de
oxigecircnio satildeo formadas em tratamentos redutores em temperaturas acima de 1000 K
[32] Estes defeitos satildeo formados na superfiacutecie onde satildeo mais estaacuteveis e acarretam a
formaccedilatildeo de Ti3+ que difunde para o bulk atraveacutes de canais na estrutura ao longo de c
A criaccedilatildeo de VOuml na superfiacutecie introduz um niacutevel dentro do gap com energia em torno
11
de 1 eV abaixo da banda de conduccedilatildeo [33] A vacacircncia de titacircnio eacute uma incoacutegnita
mas caacutelculos indicam que este defeito na valecircncia VTi4+ cria um niacutevel aceitador raso
Defeitos como anti-siacutetios e oxigecircnio intersticial satildeo altamente improvaacuteveis com altas
energias de formaccedilatildeo [34]
Os defeitos em amostras oxidadas de TiO2 satildeo mais complexos Desta forma
as propriedades do material devem ser consideradas em termos de uma transiccedilatildeo de
regime n-p na qual ambas as contribuiccedilotildees de portadores minoritaacuterios e majoritaacuterios
devem ser levadas em conta [18] A descriccedilatildeo correta no regime de transiccedilatildeo n-p
requer conhecimento detalhado dos defeitos intriacutensecos e suas relaccedilotildees de equiliacutebrio
bem como de outras quantidades como energia do gap e densidades de estados para
ambos os tipos de portadores
24 - Defeitos Extriacutensecos ndash Metais de Transiccedilatildeo
As partiacuteculas de TiO2 podem ser facilmente dopadas com caacutetions de metais de
transiccedilatildeo os quais podem aumentar a eficiecircncia do material nas aplicaccedilotildees que
envolvem a conversatildeo de luz solar O efeito dos dopantes nestas aplicaccedilotildees eacute
complexo e envolve a soma de trecircs fatores (i) a mudanccedila na capacidade de absorccedilatildeo
da luz solar no caso do TiO2 a tentativa eacute induzir uma absorccedilatildeo na regiatildeo do visiacutevel
(ii) alterar a interaccedilatildeo da superfiacutecie do material fotocataliacutetico com as moleacuteculas do
meio no caso da fotocataacutelise seria aumentar a adsorccedilatildeo de moleacuteculas poluentes pela
superfiacutecie (iii) alterar a taxa de transferecircncia de carga interfacial Os dopantes podem
ser introduzidos atraveacutes de vaacuterios meacutetodos tais como impreguinaccedilatildeo coprecipitaccedilatildeo
e dopagem no processo sol-gel
Por exemplo Fe3+ e Cr3+ satildeo amplamente estudados como dopantes no TiO2
A incorporaccedilatildeo destes iacuteons tem grande influecircncia no tempo de recombinaccedilatildeo dos
portadores alterando o tempo de vida dos portadores de 30 ns no material natildeo
dopado para minutos e ateacute horas Estes iacuteons satildeo incorporados na matriz cristalina
substituindo iacuteons de Ti4+ e introduzem niacuteveis no gap proacuteximos da banda de valecircncia
(aceitadores) [35] Isto permite que sejam absorvidos foacutetons com energias menores
que o UV na regiatildeo de 400 nm a 650 nm [36]
12
Figura 25 Niacuteveis de energia de metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
Defeitos doadores podem ser introduzidos com a adiccedilatildeo de nioacutebio Este elemento
eacute mais estaacutevel na valecircncia Nb5+ e tambeacutem eacute incorporado substituindo o aacutetomo de
titacircnio A adiccedilatildeo de Nb5+ introduz niacuteveis doadores rasos com 002 eV de diferenccedila da
banda de conduccedilatildeo [37] Desta forma amostras dopadas com nioacutebio exibem melhor
conduccedilatildeo eleacutetrica que amostras puras Aleacutem disso a co-dopagem de metais com
valecircncia M5+ e M3+ tal como a co-dopagem de Sb5+ e Cr3+ estatildeo sendo estudadas
como alternativa para aprimorar as caracteriacutesticas eleacutetricas e oacuteticas simultaneamente
e como alguns trabalhos indicam este tipo de co-dopagem propicia a melhor
incorporaccedilatildeo de dopantes nas valecircncias corretas devido ao balanccedilo de cargas [38 39]
A figura 26 mostra os niacuteveis de energia dos metais de transiccedilatildeo em rutilo [35]
25 ndash Material nanoestruturado x Monocristal
Materiais nanoetruturados estatildeo no cerne do desenvolvimento tecnoloacutegico
atual Com a reduccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas eacute possiacutevel alterar as propriedades
macroscoacutepicas do material de forma a aprimorar e criar novas aplicaccedilotildees Efeitos
relacionados ao tamanho da partiacutecula aparecem quando o tamanho caracteriacutestico das
partiacuteculas eacute reduzido a um ponto que este seja comparaacutevel por exemplo ao
comprimento de coerecircncia e livres caminhos meacutedios dos eleacutetrons e focircnons no
material Para o TiO2 e em outros materiais esses efeitos ocorrem quando o tamanho
13
meacutedio das partiacuteculas eacute menor que 10 nm [40]
No acircmbito dos processos que envolvem a absorccedilatildeo de luz tal como na
fotocataacutelise e em ceacutelulas fotovoltaacuteicas o tamanho de partiacutecula eacute um paracircmetro de
extrema importacircncia Reduzindo o tamanho das partiacuteculas a aacuterea superficial de um
volume fixo de material aumenta enormemente o que acarreta na melhoria dos
processos de transferecircncia de cargas pela superfiacutecie e na minimizaccedilatildeo da
recombinaccedilatildeo dos portadores de carga no bulk Aleacutem disso paracircmetros de suma
importacircncia para as caracteriacutesticas oacuteticas eleacutetricas e magneacuteticas satildeo alterados Por
exemplo a energia do gap cresce quando se reduz o tamanho das partiacuteculas
nanopartiacuteculas de TiO2 na forma anatase com tamanho meacutedio de 5 - 10 nm tecircm a
energia do gap aumentada em 01 - 02 eV [41]
Mesmo em partiacuteculas maiores que 10 nm nos quais natildeo ocorrerem efeitos de
confinamento quacircntico muitas mudanccedilas satildeo observadas em relaccedilatildeo de um cristal
infinito Defeitos com funccedilatildeo de onda estendida (defeitos rasos) que possuem niacuteveis
proacuteximos das bandas de conduccedilatildeo ou valecircncia sentem os efeitos da reduccedilatildeo do
tamanho de partiacutecula e interagem com defeitos de superfiacutecie
26 - Processo Sol-gel de TiO2
Na tentativa de produzir materiais com as propriedades necessaacuterias para
aplicaccedilotildees em diversos ramos e ainda garantir que o produto final seja de baixo custo
muitos grupos de pesquisa e a induacutestria tecircm voltado sua atenccedilatildeo para os meacutetodos
quiacutemicos de preparaccedilatildeo Neste sentido o meacutetodo sol-gel tem sido muito utilizado por
ser um meacutetodo que requer baixo investimento de capital jaacute que natildeo eacute necessaacuterio o uso
de sistemas de vaacutecuo e os produtos quiacutemicos utilizados satildeo baratos e de faacutecil acesso
Como o meacutetodo se trata de um meacutetodo quiacutemico em soluccedilatildeo o produto final pode ser
trabalhado de diferentes formas Sendo possiacutevel preparar diversos materiais tais
como semicondutores metais ou oacutexidos em diferentes formas como fibras poacutes
monoacutelitos filmes vidros e ceracircmicas dependendo da manipulaccedilatildeo do produto final
O meacutetodo sol-gel consiste na preparaccedilatildeo de materiais a partir de estruturas em
niacutevel molecular daiacute o grande interesse na aplicaccedilatildeo deste meacutetodo para a obtenccedilatildeo de
nanoestruturas Para tal satildeo utilizados precursores tais como alcoacutexidos metaacutelicos
sais metaacutelicos materiais organometaacutelicos entre outros Neste trabalho foi utilizado o
meacutetodo sol-gel na preparaccedilatildeo de nanopartiacuteculas de dioacutexido de titacircnio a partir de um
14
alcoacutexido metaacutelico [42]
Figura 26 Estrutura do isopropoacutexido de titacircnio
As nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo produzidas utilizando como precursor o
isopropoacutexido de titacircnio Este composto eacute um alcoacutexido de metal de transiccedilatildeo isto eacute
consiste de uma cadeia orgacircnica ligada a um oxigecircnio negativamente carregado o
qual estaacute ligado covalentemente ao aacutetomo de Ti4+ O isopropoacutexido de titacircnio eacute uma
moleacutecula tetraeacutedrica (figura 26) diamagneacutetica muito reativa com foacutermula quiacutemica
dada por TiOCH(CH3)24 Na temperatura ambiente o material se encontra na forma
de um liacutequido transparente formado por monocircmeros que quando em contato com a
aacutegua da atmosfera reagem facilmente formando um precipitado branco
No meacutetodo sol-gel o isopropoacutexido de titacircnio eacute misturado a um aacutelcool e nesta
soluccedilatildeo ocorrem duas reaccedilotildees simultaneamente a hidroacutelise e a condensaccedilatildeo A
cineacutetica destas reaccedilotildees eacute muito raacutepida tornando-as de difiacutecil compreensatildeo Poreacutem as
reaccedilotildees envolvidas no processo de formaccedilatildeo de dioacutexido de siliacutecio atraveacutes do meacutetodo
sol-gel foram bastante estudadas por possuir cineacutetica mais lenta Essas reaccedilotildees
formam a base do conhecimento sobre o meacutetodo As reaccedilotildees envolvidas no processo
de produccedilatildeo de nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo similares agraves de produccedilatildeo de SiO2 as quais
seratildeo resumidas aqui
A hidroacutelise e condensaccedilatildeo ocorrem atraveacutes de mecanismos de substituiccedilatildeo
nucleofiacutelica envolvendo uma adiccedilatildeo nuacutecleofiacutelica seguida por uma transferecircncia de
proacutetons da moleacutecula de aacutegua para o alcoacutexido (hidroacutelise) e remoccedilatildeo das espeacutecies
protonadas como aacutelcool ou aacutegua (condensaccedilatildeo) Assim as reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo satildeo dadas por
15
(Eq 23)
Em suma a hidroacutelise eacute a principal reaccedilatildeo quiacutemica que conduz agrave transformaccedilatildeo
dos precursores em monocircmeros de oacutexidos a condensaccedilatildeo se encarrega de agrupar
esses monocircmeros para formar uma cadeia A princiacutepio podemos dizer que a cadeia
formada eacute amorfa Essas reaccedilotildees e consequumlentemente as propriedades dos oacutexidos
finais satildeo influenciados por uma variedade de fatores fiacutesicos e quiacutemicos como por
exemplo temperatura atmosfera pressatildeo pH concentraccedilatildeo de reagentes e
catalisadores [42]
Aacutecidos ou bases podem ter influecircncia na cineacutetica das reaccedilotildees de hidroacutelise e
condensaccedilatildeo e na estrutura do produto final Adicionando-se aacutecidos ou bases agrave
soluccedilatildeo eacute possiacutevel protonar grupos alcoacutexidos negativamente carregados aumentando
a polaridade da moleacutecula Desta maneira produzindo grupos mais faacuteceis de serem
retirados e eliminando a necessidade de ocorrer uma transferecircncia de proacutetons da aacutegua
para o alcoacutexido
(Eq 24)
A fim de transformar o produto final amorfo em uma estrutura cristalina o
material eacute tratado termicamente A temperatura e a atmosfera desse tratamento seratildeo
fatores decisivos para determinar a fase cristalina em que o oacutexido iraacute cristalizar e
tambeacutem em qual tamanho a partiacutecula cresce
No proacuteximo capiacutetulo seraacute abordada a teacutecnica principal que para o estudo dos
defeitos No capiacutetulo 4 seratildeo apresentados os resultados experimentais sobre os
defeitos existentes nos monocristais a fim de compreender os mesmos nas estruturas
produzidas via sol-gel as quais satildeo abordadas no capiacutetulo 5
16
Capiacutetulo 3 - O experimento de Ressonacircncia
Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE)
31 Introduccedilatildeo
Geralmente as propriedades oacutepticas mecacircnicas e eleacutetricas dos soacutelidos satildeo
determinadas pelos defeitos intriacutensecos eou extriacutensecos no material mesmo a baixas
concentraccedilotildees Um exemplo claacutessico eacute o caso dos defeitos doadores e aceitadores em
semicondutores tal como siliacutecio dopado com foacutesforo e boro os quais determinam as
caracteriacutesticas eleacutetricas do material Desta forma a determinaccedilatildeo da estrutura dos
defeitos e a correlaccedilatildeo dos mesmos com as propriedades do soacutelido satildeo de grande
interesse do ponto de vista tecnoloacutegico
Existem muitos meacutetodos para a caracterizaccedilatildeo dos defeitos no material mas a
Ressonacircncia Paramagneacutetica Eletrocircnica (RPE) eacute uma das teacutecnicas mais poderosas para
a determinaccedilatildeo da estrutura dos mesmos sendo capaz de identificar baixiacutessimas
concentraccedilotildees da ordem de 1013 a 1015 cm-3 Uma restriccedilatildeo para a teacutecnica eacute que os
defeitos devem ser paramagneacuteticos o que eacute frequumlentemente o caso Por defeito
paramagneacutetico entende-se um defeito que possui momento magneacutetico angular
resultante tanto momento orbital quanto de spin natildeo nulo sob aplicaccedilatildeo de um
campo magneacutetico externo
Por exemplo os defeitos criados por radiaccedilatildeo e os iacuteons de metais de transiccedilatildeo
e terras raras satildeo em geral paramagneacuteticos Aleacutem disso estes defeitos quando
introduzem niacuteveis de energia no gap podem determinar a posiccedilatildeo do niacutevel de Fermi
no material Este niacutevel pode ser alterado por uma co-dopagem ou pela aplicaccedilatildeo de
radiaccedilatildeo ionizante a fim de alterar os estados de carga dos defeitos tornando-os
paramagneacuteticos Outra restriccedilatildeo agrave teacutecnica eacute que o campo magneacutetico estaacutetico e a
microonda ou raacutedio-frequumlecircncia devem penetrar o material de forma a provocar
transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos dos defeitos Portanto a teacutecnica se aplica a
materiais natildeo-metaacutelicos sendo necessaacuteria baixas temperaturas para o estudo de
materiais muito condutivos como por exemplo semicondutores com doadores ou
aceitadores rasos
17
Dadas estas restriccedilotildees a utilizaccedilatildeo da teacutecnica de RPE permite a anaacutelise de
defeitos extriacutensecos e intriacutensecos quanto sua natureza quiacutemica estados de valecircncia
localizaccedilatildeo na rede simetria local e niacuteveis de energia Em suma toda a informaccedilatildeo
sobre o Hamiltoniano do defeito estaacute contida nos espectros de RPE Os defeitos
tratados em RPE satildeo basicamente defeitos pontuais isto eacute defeitos de dimensatildeo zero
(figura 31)
Figura 31 Esquema de um defeito pontual paramagneacutetico [44] No centro eacute
representado um defeito e a distribuiccedilatildeo de sua nuvem eletrocircnica As setas
representam os momentos angulares de spin e orbital Os ciacuterculos ao redor do defeito
representam a rede cristalina formada por dois aacutetomos diferentes O quadrado
representa uma vacacircncia proacutexima
Os primeiros experimentos de RPE foram realizados por Zavoisky em sulfato
de cobre pentahidratado CuSO4sdot5H2O [43] Em seguida vaacuterios cientistas contribuiacuteram
para o aprimoramento da teacutecnica e na interpretaccedilatildeo dos dados de RPE Estes estudos
foram motivados pelo grande desenvolvimento das teacutecnicas radar e de produccedilatildeo de
microondas durante a II Guerra Mundial Em seguida apresentamos a teoria da
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica aplicada aos nossos estudos baseados em vaacuterios
livros textos [44-50] e descrevemos o espectrocircmetro utilizado no Laboratoacuterio de
Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG
18
32 Momentos de dipolo magneacutetico momentos angulares e Ressonacircncia
paramagneacutetica eletrocircnica
Em um sistema que conteacutem defeitos paramagneacuteticos existe momento angular
o qual tem contribuiccedilotildees do momento angular orbital e de spin Na ausecircncia do campo
magneacutetico externo H o momento angular dos defeitos no material estaacute distribuiacutedo
aleatoriamente de forma que o momento angular resultante eacute nulo Pela aplicaccedilatildeo do
campo os dipolos magneacuteticos se acoplam a H produzindo uma magnetizaccedilatildeo
resultante natildeo nula A interaccedilatildeo do campo magneacutetico com o momento de dipolo
magneacutetico micromicromicromicro eacute dada pelo Hamiltoniano
H = -micromicromicromicro sdot H (Eq 31)
A contribuiccedilatildeo do momento angular orbital L criado pelo movimento dos
eleacutetrons ao redor do nuacutecleo eacute associado ao momento de dipolo magneacutetico micromicromicromicroL e dado
em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroL = -microB L (Eq 32)
onde microB eacute o magneacuteton de Bohr dado por microB = eh4πmec = 9274015 x 10-24 Am2 e e eacute
a carga do eleacutetron h eacute a constante de Planck me a massa do eleacutetron e c a velocidade
da luz
As contribuiccedilotildees dos momentos angulares de spin eletrocircnico S e nuclear I
satildeo associadas aos momentos de dipolo magneacutetico permanente micromicromicromicroS e micromicromicromicroN
respectivamente A relaccedilatildeo entre o momento angular de spin e o respectivo momento
de dipolo eacute dada em unidades de (h2π) por
micromicromicromicroS = - gemicroB S (Eq 33)
micromicromicromicroN = gNmicroBNI (Eq 34)
onde ge eacute o fator g do eleacutetron livre e gN eacute o fator g do proacuteton com valores de 2002322
e 5585486 respectivamente microBN eacute o magneacuteton de Bohr do proacuteton onde foi
substituiacuteda a massa do eleacutetron pela massa do proacuteton Como a massa do proacuteton eacute 1840
vezes maior que a massa do eleacutetron micromicromicromicroN eacute aproximadamente trecircs ordens de grandeza
19
menor que micromicromicromicroS Assim o momento de dipolo magneacutetico resultante micromicromicromicroT referente ao
momento angular resultante J + I onde J eacute a soma de L e S eacute a soma dos momentos
de dipolo micromicromicromicroS micromicromicromicroL e micromicromicromicroN
Utilizando o formalismo da Mecacircnica Quacircntica os entes L S I J e H nas
equaccedilotildees 31 a 34 satildeo operadores que representam os observaacuteveis do sistema ie
energia e momento angular Os operadores atuam sobre a funccedilatildeo de onda |ψrang a qual
descreve os estados quacircnticos do sistema caracterizados pelos nuacutemeros quacircnticos
principal n e orbitais j e mj Os operadores quacircnticos e a funccedilatildeo de onda estatildeo
relacionados atraveacutes de equaccedilotildees de auto-vetor e auto-valor da seguinte forma
H |ψrang = E |ψrang (Eq 35)
J2 |ψrang = (h2π)2 j(j+1) |ψrang (Eq 36)
Jz |ψrang = (h2π) mj |ψrang (Eq 37)
onde z eacute uma direccedilatildeo de quantizaccedilatildeo arbitraacuteria E eacute a energia do estado
correspondente j assume valores positivos muacuteltiplos de frac12 e mj pode assumir valores
de -j -j+1 j-1 j Os operadores L2 Lz S2 Sz I
2 e Iz se relacionam com |ψrang atraveacutes
de equaccedilotildees anaacutelogas agraves equaccedilotildees 36 e 37 com os auto-valores dados em termos dos
respectivos nuacutemeros quacircnticos Se o estado |ψrang estiver escrito na base dos auto-
estados de um dado operador os auto-valores seratildeo os valores esperados desse
observaacutevel
Assim se |ψrang estiver escrita na base dos auto-estados de J o valor do
observaacutevel momento angular eacute dado pelas equaccedilotildees 36 e 37 e pelo princiacutepio da
incerteza as componentes Jx e Jy natildeo satildeo definidas Na realidade estas componentes
possuem um valor meacutedio que oscila em torno de zero Desta forma a orientaccedilatildeo do
vetor momento angular sendo ele L S I ou J pode ser imaginado como um vetor de
moacutedulo dado pelo auto-valor da equaccedilatildeo 36 e projeccedilatildeo em z dada pelo auto-valor da
equaccedilatildeo 37 Temos tambeacutem que o nuacutemero quacircntico orbital por exemplo mj pode
assumir valores de -j -j+1 j-1 j Desta forma para um caso com J = 2 temos cinco
estados possiacuteveis onde seus vetores momento angular podem ser representados como
na figura 32
20
Figura 32 Representaccedilatildeo dos vetores momento angular (em unidades de h2π) para
o caso de J =2
Quando um momento de dipolo magneacutetico estaacute sujeito a um campo magneacutetico
a interaccedilatildeo com o campo eacute dada pela equaccedilatildeo 31 mas o momento angular eacute
quantizado como foi dito anteriormente e o momento de dipolo associado natildeo poderaacute
se orientar na direccedilatildeo do campo Em vez disso o momento de dipolo iraacute executar um
movimento de precessatildeo em torno de H mantendo o acircngulo entre esses dois vetores
bem como seus moacutedulos constante (figura 33)
Figura 33 Da esquerda para a direita representaccedilatildeo da precessatildeo de Larmor do
vetor momento magneacutetico J e precessatildeo de J sob accedilatildeo de um campo magneacutetico
21
O movimento de precessatildeo eacute uma consequumlecircncia do fato de que o torque que
age sobre o dipolo eacute sempre perpendicular a seu momento angular Sabendo que o
torque que age no dipolo eacute dado por ττττ = micromicromicromicro times H temos que no caso do momento de
dipolo orbital a frequumlecircncia angular de micromicromicromicroL em torno do campo eacute dada em unidades de
h2π por
ωωωω = microB H (Eq 38)
Este fenocircmeno eacute conhecido como precessatildeo de Larmor e ωωωω eacute a frequumlecircncia de Larmor
Os momentos de dipolo micromicromicromicroS e micromicromicromicroN e consequumlentemente micromicromicromicroJ se acoplam da
mesma forma que o momento de dipolo magneacutetico orbital micromicromicromicroL Assim S I e J tambeacutem
executam o movimento de precessatildeo sob aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico (figura
33) A frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo de J eacute dada pela soma da frequumlecircncia de Larmor com o
valor da frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo para o spin eletrocircnico que eacute obtida multiplicando a
equaccedilatildeo 38 pelo fator g eletrocircnico
Como foi dito o momento de dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado pela equaccedilatildeo
33 Assim juntamente com a equaccedilatildeo 31 temos que o Hamiltoniano de interaccedilatildeo do
campo magneacutetico externo com o dipolo magneacutetico eletrocircnico eacute dado por
H= gemicroB S sdot H (Eq 39)
Esta interaccedilatildeo eacute chamada interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica Aplicando as equaccedilotildees 35 e
37 ao Hamiltoniano Zeeman para um estado |ψrang caracterizado pelos nuacutemeros
quacircnticos n s e ms e para uma orientaccedilatildeo arbitraacuteria do campo magneacutetico obtemos (2s
+ 1) niacuteveis com energias dadas por
E = gemicroBHzmS (Eq 310)
que no caso do eleacutetron livre resulta nos valores plusmn frac12gemicroBHz
22
Figura 34 Efeito Zeeman eletrocircnico e transiccedilatildeo eletrocircnica
Pela aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico externo os niacuteveis de energia do spin
eletrocircnico tecircm sua degenerescecircncia quebrada e pela absorccedilatildeo de energia de ondas
eletromagneacuteticas pelos eleacutetrons podem ocorrer transiccedilotildees entre os niacuteveis do dipolo
magneacutetico (figura 34) As transiccedilotildees de RPE iratildeo ocorrer entre estes niacuteveis de energia
devido a absorccedilatildeo de energia da onda eletromagneacutetica para um valor especiacutefico do
campo magneacutetico H0 Utilizando a Regra de Ouro de Fermi temos que a regra de
seleccedilatildeo para as transiccedilotildees de RPE eacute ∆mS = plusmn1 e ∆mI = 0 Desta forma do ponto de
vista quacircntico temos que a energia envolvida nas transiccedilotildees de RPE eacute dada pela
absorccedilatildeo de foacutetons e pode ser escrita como
hν = gemicroBH0 (Eq 311)
Do ponto de vista claacutessico temos que o fenocircmeno da ressonacircncia paramagneacutetica
eletrocircnica ocorre quando o campo externo provoca um torque de modo que a
frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do momento de dipolo eletrocircnico dada pela frequumlecircncia
angular de Larmor para o eleacutetron seja igual agrave frequumlecircncia de oscilaccedilatildeo do campo
magneacutetico oscilante Deste ponto de vista obtemos a correlaccedilatildeo com o caso quacircntico
sabendo que ω = 2πν
23
Figura 35 (a) Amostra campo magneacutetico estaacutetico e campo oscilante (b) transiccedilotildees
entre os niacuteveis eletrocircnicos Zeeman para S = frac12 e (c) ocupaccedilatildeo dos niacuteveis Zeeman no
equiliacutebrio teacutermico dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann ∆N asymp e-∆E2kT [44]
Em um experimento baacutesico de RPE satildeo induzidas transiccedilotildees entre os niacuteveis de
energia dos spins eletrocircnicos em um campo magneacutetico estaacutetico H atraveacutes da
aplicaccedilatildeo de um campo magneacutetico oscilante Hrsquo com uma frequumlecircncia fixa No caso
de RPE satildeo utilizadas microondas Variando o moacutedulo do campo magneacutetico estaacutetico eacute
possiacutevel provocar a absorccedilatildeo de microondas e consequumlentemente a transiccedilatildeo de
eleacutetrons entre diferentes niacuteveis de energia Assim em geral podemos identificar o
valor do spin do defeito paramagneacutetico a partir do nuacutemero de transiccedilotildees de RPE Este
campo magneacutetico oscilante eacute perpendicular ao campo estaacutetico como mostra a figura
35 (a)
Assim o campo magneacutetico total aplicado na amostra tem componentes nas
direccedilotildees x e z e o Hamiltoniano eacute dado por
H(t) = gmicroB[ SzHz + HrsquoSx cos(ωt) ] (Eq 312)
onde g pode desviar do fator g eletrocircnico quando existe anisotropia local Analisando
as probabilidades de transiccedilotildees eletrocircnicas para o caso do eleacutetron livre obtemos que a
24
configuraccedilatildeo com o campo oscilante perpendicular ao campo estaacutetico maximiza a
probabilidade de transiccedilatildeo e que a probabilidade de transiccedilatildeo do estado |msrang para o
estado |ms+1rang W( - rArr + ) eacute igual a transiccedilatildeo no sentido oposto W(+ rArr - ) (Figura 35
b) Aleacutem disso se o campo for aplicado na direccedilatildeo x ou y o resultado eacute idecircntico
Assim o experimento de RPE eacute invariante mediante rotaccedilotildees de 180deg
Poreacutem para que possa ocorrer transferecircncia de energia para o sistema
mediante absorccedilatildeo de microondas eacute necessaacuterio que haja uma diferenccedila na ocupaccedilatildeo
dos niacuteveis Assumindo uma ocupaccedilatildeo dos niacuteveis dada pela distribuiccedilatildeo de Boltzmann
(Figura 35 c) observaremos a absorccedilatildeo de microondas e transiccedilotildees entre os niacuteveis
quando a condiccedilatildeo da equaccedilatildeo 312 for atingida Pelo aumento na populaccedilatildeo no
estado excitado devido agrave absorccedilatildeo de microondas as transiccedilotildees entre os niacuteveis
cessaratildeo quando eacute atingida a condiccedilatildeo em que os niacuteveis satildeo igualmente ocupados esta
condiccedilatildeo eacute chamada de saturaccedilatildeo
A condiccedilatildeo de saturaccedilatildeo depende da temperatura do sistema devido agrave
distribuiccedilatildeo de Boltzmann da potecircncia da microonda pois as probabilidades de
transiccedilatildeo satildeo proporcionais agrave amplitude da onda eletromagneacutetica e da interaccedilatildeo spin-
rede devido aos mecanismos de dissipaccedilatildeo de energia do momento de dipolo para a
matriz na qual o defeito se encontra
33 Hamiltoniano de spin e spin efetivo
O operador Hamiltoniano descreve quanticamente isto eacute em termos de auto-
estados e niacuteveis de energia o sistema Em um sistema composto de eleacutetrons e proacutetons
este operador possui termos devido agrave interaccedilatildeo coulombiana entre as partiacuteculas do
sistema aleacutem de termos relacionados agrave energia cineacutetica das partiacuteculas Dado este
Hamiltoniano a soluccedilatildeo da equaccedilatildeo de Schroumldinger de um defeito paramagneacutetico na
matriz cristalina eacute muito complicada considerando todas as interaccedilotildees entre o defeito
e a rede e interaccedilotildees internas ao defeito Desta forma simplificaccedilotildees satildeo feitas
utilizando-se os conceitos de spin efetivo e Hamiltoniano de spin
Considerando que as energias envolvidas nas interaccedilotildees de dipolos magneacuteticos
satildeo da ordem de meV e que a diferenccedila energeacutetica entre o estado fundamental do
defeito e seus estados excitados satildeo da ordem de eV que tambeacutem eacute maior que a
energia teacutermica (sim kT) podemos dizer que utilizando a teacutecnica convencional de RPE
25
lidamos apenas com o estado fundamental dos defeitos (Figura 36) pois a energia de
excitaccedilatildeo utilizada eacute da ordem de 100 microeV
Figura 36 Esquema dos niacuteveis de energia de um defeito paramagneacutetico em um
campo magneacutetico [44]
Assim o conceito de spin pode ser simplificado considerando que o grau de
liberdade associado eacute referente apenas ao grau de liberdade do estado fundamental
Isto eacute quando um defeito paramagneacutetico tem seus niacuteveis degenerados levantados pela
interaccedilatildeo com o campo magneacutetico dizemos que o spin efetivo S estaacute relacionado ao
grau de liberdade d do estado fundamental atraveacutes de d = 2S + 1 A descriccedilatildeo
quacircntica de S eacute idecircntica agrave do spin real usando os mesmos operadores Em alguns
casos o spin efetivo pode ser identificado como o spin real em outros ele pode ser
bastante diferente Isto ocorre principalmente em casos onde a interaccedilatildeo do spin com
o momento angular orbital eacute significativa
O Hamiltoniano relativo ao spin efetivo eacute chamado de Hamiltoniano de spin
Este Hamiltoniano deve conter operadores relativos aos momentos angulares L S e I
do defeito e as interaccedilotildees entre estes momentos e campos externos Aleacutem disso como
o defeito estaacute incorporado em uma matriz cristalina o Hamiltoniano de spin e
consequumlentemente os niacuteveis de energia e os niacuteveis eletrocircnicos do estado fundamental
poderatildeo apresentar dependecircncia angular devido agrave diferenccedila angular entre os eixos do
sistema de coordenadas que descreve o defeito paramagneacutetico e os eixos do sistema
de coordenadas que descreve o campo magneacutetico Poreacutem se tratando de defeitos
26
pontuais os termos do Hamiltoniano de spin devem ser invariantes mediante
operaccedilotildees de simetria de ponto do defeito paramagneacutetico
Podemos escrever o Hamiltoniano de spin como
H = Ho + HLS + HZE + HSF + HHF + HSHF + HZN + HQ (Eq 313)
onde Ho eacute o termo que descreve a estrutura eletrocircnica do defeito considerando apenas
interaccedilotildees coulombianas HLS eacute o termo de interaccedilatildeo spin-oacuterbita que descreve a
interaccedilatildeo do spin eletrocircnico com seu momento angular orbital HZE e HZN satildeo os
termos Zeeman eletrocircnico e nuclear respectivamente que descrevem a interaccedilatildeo de
L S e I com o campo magneacutetico externo HSF eacute o termo de estrutura fina (somente
para casos em que S gt frac12) referente agrave interaccedilatildeo dos spins eletrocircnicos do defeito entre
si HHF eacute o termo de estrutura hiperfina que descreve o acoplamento de L e S com I
do defeito paramagneacutetico HSHF eacute o termo de estrutura super-hiperfina e eacute anaacutelogo agrave
HHF poreacutem eacute referente a interaccedilatildeo de L e S do defeito com os spins nucleares dos
aacutetomos da vizinhanccedila finalmente HQ eacute o termo quadrupolar que descreve a interaccedilatildeo
entre os spins nucleares do proacuteprio defeito (somente para I gt frac12)
A interaccedilatildeo de maior energia no Hamiltoniano de spin eacute Ho com energia em
torno de 1 eV as demais interaccedilotildees possuem energias muito menores variando de 01
eV a 01 microeV A menor delas eacute referente ao termo Zeeman nuclear com energia em
torno de 01 microeV e a maior 01 eV referente ao termo Zeeman eletrocircnico Como a
energia de interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica eacute da mesma ordem de grandeza da energia da
microonda o termo HZE eacute em geral o dominante e HZN eacute despreziacutevel O termo Ho pode
ser considerado como um termo de energia de fundo (background) por ser muito
mais energeacutetico que a microonda
Portanto podemos calcular as energias dos niacuteveis eletrocircnicos do defeito
utilizando teoria perturbativa sendo HZE o Hamiltoniano natildeo perturbado e as demais
interaccedilotildees sendo perturbaccedilotildees deste Hamiltoniano Escrevendo a perturbaccedilatildeo em
primeira ordem como H = H - (Ho + HZE) obtemos as funccedilotildees de onda e energias
como
ψn = ϕn - Σ ϕm lt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq 314)
En = εn + lt ϕnH ϕn gt - Σ lt ϕm H ϕn gtlt ϕm H ϕn gt(εm - εn)-1 (Eq315)
27
onde ψn e En satildeo respectivamente as funccedilotildees de onda e energias do Hamiltoniano de
spin H escritas como uma combinaccedilatildeo linear das auto-funccedilotildees de HZE ϕn com os
valores εn das energias de HZE
Nas proacuteximas seccedilotildees seratildeo aprofundadas as interaccedilotildees mais relevantes para o
estudo dos defeitos analisados neste trabalho
34 Efeito Zeeman fator g e anisotropia
Em um caso geral a interaccedilatildeo Zeeman eletrocircnica para um defeito
paramagneacutetico em uma matriz eacute mais complicada do que no caso do eleacutetron livre
Neste as contribuiccedilotildees devido agrave interaccedilatildeo spin-oacuterbita e devido ao campo cristalino
devem ser levadas em conta como uma correccedilatildeo no Hamiltoniano Zeeman Essas
interaccedilotildees modificam o momento angular total do defeito sendo que a primeira
contribui para o momento angular e a segunda interage de forma a anular o mesmo
Devido a essas interaccedilotildees HZE passa a ser dado por
HZE = microB J sdot g sdot H (Eq 316)
onde g eacute um tensor dado por uma matriz 3x3 simeacutetrica chamado de tensor g
Quando a influecircncia do campo cristalino eacute pequena em relaccedilatildeo agrave influecircncia da
interaccedilatildeo spin-oacuterbita podemos desprezaacute-lo e apenas o acoplamento do spin eletrocircnico
com o momento orbital angular deve ser levado em conta Esta interaccedilatildeo teraacute efeito
sobre o fator g e nesta condiccedilatildeo ele eacute dado pelo fator g de Landeacute gL dado por
gL = 1 + [ J(J+1) + S(S+1) - L(L+1) ] 2J(J+1) (Eq 317)
Quando a interaccedilatildeo do defeito com o campo cristalino natildeo pode ser
desprezada a correccedilatildeo eacute feita aplicando-se o Hamiltoniano devido ao campo
cristalino e o Hamiltoniano devido agrave interaccedilatildeo spin-orbita que eacute dado por
HLS = λ L sdot S (Eq 318)
onde λ eacute a constante de acoplamento spin-oacuterbita aos auto-estados do defeito
Considerando a interaccedilatildeo spin-oacuterbita como uma perturbaccedilatildeo e aplicando as
equaccedilotildees 314 e 315 temos que os elementos do tensor g satildeo dados por
28
gij = ge - λΣ[lt 0 msLin ms gtlt n msLj0 ms gt + compl conj](εn - ε0)-1
(Eq319)
onde 0 msgt e n msgt denotam o estado fundamental e os excitados
respectivamente
Por exemplo para um defeito paramagneacutetico com um eleacutetron desemparelhado
no orbital p e em uma simetria ortorrocircmbica o tensor g tem seus elementos na base
dos eixos principais do sistema dados por
gzz = ge - 2λ∆
gyy = ge - λ∆
gxx = ge
(Eqs 320)
onde ∆ eacute o fator do campo cristalino A partir das equaccedilotildees 319 e 320 eacute possiacutevel
observar que para centros com eleacutetrons onde λ gt 0 o desvio de ge seraacute negativo e
para centros com buracos onde λ lt 0 o desvio seraacute positivo
Uma observaccedilatildeo importante eacute o fato do tensor g refletir a simetria local Sendo
que os eixos principais do sistema podem ser ou natildeo os eixos cristalograacuteficos da
matriz Para uma simetria local cuacutebica o tensor g seraacute isotroacutepico para uma simetria
local axial o tensor g teraacute duas componentes uma paralela e outra perpendicular gxx
= gyy = g|| e gzz = gperp respectivamente Assim o Hamiltoniano pode ser escrito no
sistema de coordenadas dos eixos principais como
HZE = microB ( gxxSxHx + gyySyHy + gzzSzHz ) (Eq 321)
As energias Zeeman satildeo dadas pela equaccedilatildeo 310 com o fator g modificado dado por
g = radic ( g2xxl
2 + g2yym
2 + g2zzn
2 ) (Eq 322)
onde l m e n satildeo os cossenos diretores do campo magneacutetico do sistema dos eixos
principais No caso especiacutefico da simetria axial temos
g = radic ( g2||cos2θ + g2
perpcos2θ ) (Eq 323)
onde θ eacute o acircngulo entre os eixos principais do sistema e os eixos do sistema de
coordenadas do laboratoacuterio
29
Desta forma o espectro de RPE formado pelos sinais de absorccedilatildeo
correspondentes agraves transiccedilotildees dadas pela equaccedilatildeo 311 pode possuir uma dependecircncia
angular Isto se reflete no espectro de RPE como uma mudanccedila no valor do campo
magneacutetico no qual a ressonacircncia ocorre (figura 37 a b e c) devido agrave diferenccedila de
orientaccedilatildeo entre o sistema de coordenadas que descreve o campo externo e a
orientaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos principais do Hamiltoniano (Figura
37 c e e)
Figura 37 (a) e (b) espectros de RPE do centro O2- em KCl para diferentes
orientaccedilotildees do campo externo H em relaccedilatildeo aos eixos cristalograacuteficos (c) modelo do
centro O2- em KCl (d) dependecircncia angular das transiccedilotildees de RPE do centro O2
- em
KCl para rotaccedilotildees no plano ab onde as curvas indexadas como A B C D E e F
correspondem agraves vaacuterias orientaccedilotildees do defeito no cristal e (e) geometria utilizada na
dependecircncia angular[44]
35 Termo de estrutura fina
Nos casos onde o spin efetivo eacute maior que frac12 temos um termo adicional no
Hamiltoniano de spin devido agrave interaccedilatildeo entre os dipolos magneacuteticos dos eleacutetrons
desemparelhados Este termo eacute chamado interaccedilatildeo de estrutura fina e a energia
envolvida nesta interaccedilatildeo pode ser da ordem de grandeza da interaccedilatildeo Zeeman
eletrocircnica Sua influecircncia no espectro de RPE pode ser bastante complicada
30
dependendo da simetria local do defeito do spin efetivo e da relaccedilatildeo em escala de
energia desta interaccedilatildeo com o termo Zeeman (figura 38)
Figura 38 Dependecircncia angular de um espectro de RPE para um centro
paramagneacutetico com S = 52 (Fe3+) em uma simetria tetraeacutedrica O acircngulo θ eacute o
acircngulo entre o campo magneacutetico H e os eixos do sistema tetraeacutedrico Nas
dependecircncias (a) - (c) a razatildeo entre a energia Zeeman e a energia devido ao termo de
estrutura fina diminui chegando a um caso extremo (c) onde as energias satildeo
comparaacuteveis [44]
Aleacutem disso sem aplicaccedilatildeo de campo magneacutetico externo o termo de estrutura
fina causa a quebra de degenerescecircncia dos niacuteveis eletrocircnicos Esta quebra inicial eacute
conhecida como desdobramento em campo zero zero-field splitting O
Hamiltoniano referente a este termo HSF eacute dado por
HSF = SsdotDsdotS (Eq 324)
onde D eacute o tensor de estrutura fina D tambeacutem eacute uma matriz 3x3 com traccedilo nulo pois
este termo desloca a energia dos niacuteveis fundamentais como um todo (figura 39) O
sistema de eixos principais do tensor D natildeo eacute necessariamente o mesmo sistema de
eixos que diagonaliza o tensor g podendo ocorrer casos extremos principalmente
para defeitos que estatildeo inseridos em uma matriz cristalina de baixa simetria
31
Figura 39 Dependecircncia dos niacuteveis de energia para um centro com (a) S = 1 e (b)
S= 32 com o campo magneacutetico considerando o desdobramento inicial devido a
estrutura fina [44]
No sistema dos eixos principais do tensor de estrutura fina podemos escrever
HSF como
HSF = DxxS2
x + DyyS2
y + DzzS2
z (Eq 325)
onde Dxx Dyy e Dzz satildeo as componentes da diagonal principal do tensor Como no
caso do tensor g D tambeacutem reflete a simetria local do defeito Desta forma podemos
escrever D como
HSF = D [ S2z - 13 S (S + 1) ] + E [ S2
x - S2
y ] (Eq 326)
onde D eacute o termo da parte com simetria axial e E eacute o termo assimeacutetrico As equaccedilotildees
324 a 326 satildeo na realidade termos devido agraves contribuiccedilotildees de mais baixa ordem em
S resultante da interaccedilatildeo de estrutura fina
Se incorporarmos termos de mais alta ordem devido a estrutura fina eacute
conveniente agrupar os termos da seacuterie em potecircncias dos operadores de momento
angular S e escrevecirc-los como uma combinaccedilatildeo de operadores equivalentes agrave uma
combinaccedilatildeo de harmocircnicos esfeacutericos Isto porque dependendo da simetria local do
defeito e do valor de S eacute necessaacuterio incluir apenas alguns termos da expansatildeo em
harmocircnicos [4550] Assim o termo de estrutura fina pode ser escrito como
32
HSF = Σ BqkO
qk (Eq 327)
onde Oqk satildeo os operadores de Stevens que satildeo escritos como uma combinaccedilatildeo linear
de harmocircnicos esfeacutericos e Bqk satildeo os coeficientes da expansatildeo do termo de estrutura
fina
36 RPE de metais de transiccedilatildeo
Neste trabalho os defeitos analisados satildeo basicamente defeitos relacionados agrave
defeitos intriacutensecos e metais de transiccedilatildeo mais especificamente os dos elementos da
famiacutelia do Ferro (Ti V Cr Mn Fe Co Ni) Desta forma nesta seccedilatildeo seraacute abordada a
teoria da estrutura eletrocircnica dos metais de transiccedilatildeo que eacute relacionada aos
experimentos de RPE
Primeiramente os metais de transiccedilatildeo da famiacutelia do ferro tecircm configuraccedilatildeo
eletrocircnica do tipo 4sm 3dn onde m eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais s podendo
assumir os valores 1 e 2 e n eacute o nuacutemero de eleacutetrons nos orbitais d que no caso satildeo os
eleacutetrons de valecircncia e pode assumir os valores de 1 a 10 Assim os metais de
transiccedilatildeo M satildeo frequumlentemente encontrados nos estados de valecircncia M++ e M+++ o
que torna os orbitais d mais estaacuteveis A configuraccedilatildeo eletrocircnica dos iacuteons dos metais de
metais de transiccedilatildeo eacute mostrada na tabela 31 abaixo
Tabela 31 Iacuteons livres de metais de transiccedilatildeo [50]
Nordm de
eleacutetrons d
Iacuteons
Constante de acoplamento spin-oacuterbita λ
(cm -1)
Distribuiccedilatildeo dos eleacutetrons nos orbitais (spin alto)
Spin total S
3d1 Ti +++ 154 uarr - - - - frac12
3d2 V +++ 209 uarr uarr - - - 1
3d3 V ++ Cr
+++
167 273 uarr uarr uarr - - 32
3d4 Mg +++ Cr
++
230 352 uarr uarr uarr uarr - 2
3d5 Mg ++ Fe
+++
347 - uarr uarr uarr uarr uarr 52
33
3d6 Fe ++ Co
+++
410 - uarr uarr uarr uarr 0 2
3d7 Co ++ 533 uarr uarr uarr 0 0 32
3d8 Ni ++ 649 uarr uarr 0 0 0 1
3d9 Cu ++ 829 uarr 0 0 0 0 frac12
Os orbitais d do iacuteon livre possuem as mesmas energias e satildeo classificados em
termos dos nuacutemeros quacircnticos relativos agrave seus momentos angulares Neste caso L = 2
entatildeo o nuacutemero quacircntico mL pode assumir os valores 2 1 0 -1 e -2 Os orbitais satildeo
preenchidos de acordo com o princiacutepio de exclusatildeo de Pauli e sua parte real pode ser
ilustrada como na figura 310 abaixo
Figura 310 Ilustraccedilatildeo da parte real dos orbitais d [50]
Quando estes iacuteons satildeo incorporados a uma rede cristalina a interaccedilatildeo com o
campo cristalino ou a ligaccedilatildeo covalente que o iacuteon promove faz com que a
degenerescecircncia dos orbitais d seja quebrada Dependendo da simetria na qual o iacuteon
se encontra os niacuteveis de energia satildeo alterados em relaccedilatildeo aos niacuteveis para o iacuteon livre
Da mesma forma os niacuteveis de energia satildeo afetados por distorccedilotildees da simetria local
este efeito eacute conhecido como ligand-field splitting Neste trabalho a matriz cristalina
34
tem coordenaccedilatildeo octaeacutedrica na figura 311 abaixo podemos observar como os orbitais
d se comportam nesta e em outras coordenaccedilotildees
Figura 311 Desdobramento dos niacuteveis de energia devido a interaccedilatildeo com o campo
cristalino em coordenaccedilatildeo (a) tetraeacutedrica (b) octaeacutedrica (c) octaeacutedrica com
distorccedilatildeo tetragonal e (d) quadrada planar [50]
Portanto nos iacuteons de metais de transiccedilatildeo a interaccedilatildeo com o campo cristalino o
efeito da interaccedilatildeo spin-oacuterbita e a interaccedilatildeo de estrutura fina devem ser consideradas
para se interpretar os dados de RPE Estas interaccedilotildees satildeo chamadas de interaccedilotildees
iniciais e estatildeo presentes mesmo antes da aplicaccedilatildeo do campo magneacutetico
As simulaccedilotildees presentes neste trabalho foram realizadas utilizando o programa
EPR-NMR produzido pelo grupo de ressonacircncia do Prof John A Weil da University
of Saskatchewan Canadaacute Este programa eacute capaz de calcular os niacuteveis de energia dos
defeitos dependecircncias angulares das linhas de RPE espectros de RPE em amostras
monocristalinas e policristalinas Os caacutelculos satildeo realizados atraveacutes da diagonalizaccedilatildeo
exata do Hamiltoniano de spin O Hamiltoniano eacute introduzido no programa na forma
de matrizes relativas a cada tipo de interaccedilatildeo pertinente a uma situaccedilatildeo em questatildeo
37 - Experimento e espectrocircmetro de EPR
As medidas de RPE satildeo realizadas variando-se o campo magneacutetico estaacutetico e
35
mantendo a frequumlecircncia de microonda fixa A microonda incide na amostra de forma
que o campo magneacutetico da onda eletromagneacutetica seja perpendicular ao campo
estaacutetico esta configuraccedilatildeo maximiza a probabilidade de transiccedilotildees eletrocircnicas dada
pela Regra de Ouro de Fermi (veja figura 35a)
No espectrocircmetro uma fonte Klystron (VARIAN) com potecircncia de 500 mW eacute
responsaacutevel pela geraccedilatildeo de microondas na faixa de 94 GHz (banda X) Esse sinal eacute
levado ateacute a cavidade ressonante que conteacutem a amostra atraveacutes de guias de onda A
cavidade ressonante eacute uma peccedila metaacutelica oca com formato ciliacutendrico ou retangular e
de dimensotildees comparaacuteveis ao comprimento da microonda Ela eacute construiacuteda de forma
que tenhamos uma onda estacionaacuteria em seu interior com uma frequumlecircncia especiacutefica e
com o maacuteximo do campo magneacutetico da microonda exatamente no ponto onde eacute
colocada a amostra geralmente no centro da cavidade (figura 312) O campo
magneacutetico na cavidade eacute perpendicular ao campo magneacutetico estaacutetico gerado pelo
eletroiacutematilde que eacute alimentado por uma fonte de corrente (HEINZINGER) produzindo
um campo de 0 a 800 mT A cavidade ressonante eacute montada sobre um criostato de
fluxo (OXFORD) de forma que a temperatura no local da amostra pode ser controlada
via um controlador de temperatura utilizando Heacutelio liacutequido para resfriar a amostra A
temperatura na amostra pode ser variada de 4 K a 300 K
Figura 312 Esquema da cavidade ressonante retangular e da onda estacionaacuteria
Para a realizaccedilatildeo das medidas de RPE utilizamos o espectrocircmetro do
Laboratoacuterio de Ressonacircncia Magneacutetica do Departamento de Fiacutesica da UFMG Um
esquema do espectrocircmetro pode ser visto na figura 313 a seguir
36
Figura 313 Esquema da montagem do espectrocircmetro de RPE
Um dos elementos principais do circuito eacute o circulador Este elemento permite
que o fluxo de potecircncia circule em dois sentidos A microonda incidente na cavidade eacute
refletida e retorna pelo mesmo guia de onda ateacute o circulador Neste ponto a onda
refletida segue por um caminho diferente no criculador ateacute o diodo detector
Para se obter uma melhor precisatildeo na medida do sinal a microonda produzida
pelo Klystron eacute modulada com uma frequumlecircncia de 100 kHz e esse sinal eacute utilizado
como referecircncia O sinal detectado eacute enviado para um amplificador lock-in Esse
elemento permite que o sinal da onda refletida seja comparado em fase com o sinal de
referecircncia amplificado e demodulado Devido agrave absorccedilatildeo de microondas pela amostra
em condiccedilatildeo de ressonacircncia ocorre uma mudanccedila no acoplamento da cavidade que
se reflete na mudanccedila do sinal da onda refletida Essa variaccedilatildeo eacute detectada pelo lock-
in que o compara ao sinal de referecircncia da modulaccedilatildeo de 100 kHz Assim o lock-in
gera uma tensatildeo proporcional agrave essa variaccedilatildeo e enviando-a ao computador onde eacute
visualizada a medida O sinal de absorccedilatildeo pode ser expresso como uma gaussiana ou
lorenztiana e a modulaccedilatildeo faz com que o sinal de absorccedilatildeo seja fornecido como sua
derivada primeira (figura 314)
37
Figura 314 Esboccedilo de um sinal de EPR e sua derivada primeira
Para que possamos ter um bom controle da frequumlecircncia de microonda eacute
utilizado um controlador automaacutetico de frequumlecircncia (CAF) O CAF manteacutem a
frequumlecircncia da microonda gerada pelo Klystron igual agrave frequumlecircncia de ressonacircncia da
cavidade Para isto modula-se a microonda com um sinal de 8 kHz cuja fase seraacute
comparada em outro amplificador lock-in com a fase do sinal refletido detectado por
um segundo diodo detector Quando os sinais estatildeo fora de fase o sistema gera uma
tensatildeo erro proporcional agrave diferenccedila de fase corrigindo a frequumlecircncia da microonda
produzida no Klystron Esse controlador deve ser ajustado a cada medida realizada
pois a introduccedilatildeo de diferentes amostras na cavidade resulta em diferentes fases da
onda refletida Vale lembrar aqui que uma amostra condutora ou mesmo um solvente
polar pode destruir o acoplamento da cavidade sendo impossiacutevel estabelecer uma
onda estacionaacuteria na cavidade inviabilizando a medida
Como o sinal de RPE eacute proporcional a diferenccedila de populaccedilatildeo entre os niacuteveis
de spins do estado fundamental de um defeito um dos meios utilizados para alterar a
populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute controlar a potecircncia da microonda que incide na amostra Para
tal eacute utilizado um atenuador que pode ser ajustado de forma que seja possiacutevel aplicar
microondas com uma determinada potecircncia garantindo condiccedilotildees de medida fora da
saturaccedilatildeo Outro meacutetodo para alterar a populaccedilatildeo dos niacuteveis eacute alterando a temperatura
do sistema
Aleacutem disso o sinal de RPE eacute proporcional agrave concentraccedilatildeo de defeitos
paramagneacuteticos na amostra Desta forma eacute possiacutevel estimar a quantidade de centros
paramagneacuteticos na amostra calibrando a aacuterea da integral do sinal de RPE para uma
amostra conhecida Nesse trabalho o material utilizado para a calibraccedilatildeo da
concentraccedilatildeo eacute o CuSO4sdot5H2O o qual possui um eleacutetron desemparelhado relativo ao
aacutetomo de cobre (Cu2+) por moleacutecula Assim dadas as mesmas condiccedilotildees de medida
fora da saturaccedilatildeo fazendo a comparaccedilatildeo da aacuterea sob a curva de absorccedilatildeo de uma
38
amostra desconhecida com a aacuterea do padratildeo a qual corresponde a uma determinada
quantidade de centros determinamos a quantidade de defeitos na amostra em questatildeo
Para a determinaccedilatildeo do fator g com precisatildeo foram feitas medidas de RPE com uma
amostra padratildeo o DPPH (11-diphenyl-2-picylhydrazyl) que tem fator g bem definido
(g = 20037) Junto com um frequumlenciacutemetro (PTS) de alta resoluccedilatildeo o fator g de
amostras desconhecidas pode ser determinado
39
Capiacutetulo 4 ndash Resultados experimentais dos
monocristais de TiO2
4 1 - Monocristais sinteacuteticos de TiO2 ndash Rutilo (Defeitos intriacutensecos)
Um monocristal sinteacutetico de transparente rutilo foi submetido a um tratamento
redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio Esta amostra foi preparada
nos Laboratoacuterios da Hewlett-Packard (HP) nos Estados Unidos Apoacutes o tratamento a
amostra ficou completamente negra e com baixa resistividade Tratamentos oxidantes
posteriores em atmosfera ambiente foram realizados no Laboratoacuterio de Nanomateriais
do Departamento de Fiacutesica da UFMG utilizando um forno tubular em temperaturas de
400 500 600 700 e 800degC por uma hora Na amostra oxidada foi observado a
mudanccedila gradativa de cor do material Primeiramente a amostra adquiriu uma cor
azul escuro que foi diminuindo em intensidade ateacute que no tratamento em 800degC a
amostra ficou incolor A mudanccedila de cor tambeacutem foi acompanhada por um aumento
da resistividade do material
A amostra transparente completamente oxidada foi retratada em um forno
tubular sob fluxo de argocircnio a 950degC por uma hora Observamos que a amostra
readquiriu a coloraccedilatildeo azul apoacutes este tratamento Um segundo tratamento tambeacutem em
950degC por uma hora poreacutem sob fluxo de argocircnio e hidrogecircnio foi realizado em
seguida Neste tratamento a amostra retomou a coloraccedilatildeo escura Apoacutes estes
tratamentos redutores a amostra tambeacutem voltou a possuir baixa resistividade
indicando a reversibilidade do processo
Medidas de absorccedilatildeo oacutetica e de ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
foram realizadas em cada etapa do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo Aleacutem disso
medidas eleacutetricas foram realizadas na amostra original produzida na HP Os
resultados dessas medidas seratildeo apresentados nas proacuteximas seccedilotildees
40
42 Caracterizaccedilatildeo da amostra sinteacutetica de rutilo
421 - Absorccedilatildeo Oacutetica
Espectros de absorccedilatildeo oacutetica de luz na regiatildeo de 400 nm a 900 nm foram
medidos na amostra produzida na HP submetida aos tratamentos de oxidaccedilatildeo e
reduccedilatildeo utilizando um espectrocircmetro JENWAY (modelo 6400) As medidas foram
realizadas a temperatura ambiente e de forma que a direccedilatildeo de propagaccedilatildeo do feixe de
luz fosse paralela ao eixo cristalino c Como referecircncia tambeacutem foi medida uma
amostra do substrato utilizado pelo grupo da HP antes do tratamento redutor A figura
41 abaixo mostra a mudanccedila no espectro de absorccedilatildeo com os tratamentos As setas
indicam a mudanccedila dos espectros em cada etapa do tratamento
500 600 700 800 900
1
2
3
400degCATM 500degCATM 600degCATM 700degCATM 800degCATM 950degCAr 950degCAr+H
2
substrato
absorbacircncia (unid arb)
comprimento de onda (nm)
Figura 41 Espectros de absorccedilatildeo da amostra de rutilo sinteacutetico medidos a 300 K em
diferentes estaacutegios do processo de oxidaccedilatildeo e reduccedilatildeo
Como eacute possiacutevel notar na figura 41 observamos que a amostra inicial era
completamente negra absorvendo toda a luz incidente Com os tratamentos de 400degC
a 800degC a mostra foi perdendo sua coloraccedilatildeo o que pode ser interpretado como uma
diminuiccedilatildeo na banda de absorccedilatildeo larga criada por eleacutetrons livres na regiatildeo do
infravermelho proacuteximo [26] a qual natildeo foi possiacutevel ser medida com o aparelho
41
utilizado Com a diminuiccedilatildeo desta banda de absorccedilatildeo o ramo que penetra a regiatildeo do
visiacutevel diminui por causa do tratamento oxidante que elimina eleacutetrons livres da
amostra Assim a mostra absorve cada vez menos na faixa correspondente ao azul
(455 nm) a cada etapa do tratamento chegando a um estaacutegio no tratamento em 800degC
onde a banda de absorccedilatildeo referente aos eleacutetrons desaparece e a amostra volta a ser
completamente transparente
Nos tratamentos redutores eacute possiacutevel observar que a amostra retoma sua
coloraccedilatildeo azul no primeiro tratamento e no segundo ela retorna agrave sua cor negra
original
422 - Medidas eleacutetricas
A amostra original da HP foi submetida a medidas eleacutetricas no Laboratoacuterio de
Transporte Eleacutetrico do Departamento de Fiacutesica da UFMG Quatro contatos na amostra
foram feitos sobre o plano ab da amostra atraveacutes da deposiccedilatildeo de uma camada de 5
nm de Ti via sputtering e 100 nm de Au via evaporaccedilatildeo Antes de iniciar as medidas
propriamente ditas foi confirmado que o contato era ocirchmico
Para as medidas de resistividade e efeito Hall foi usado o meacutetodo de van der
Pauw [51] e os instrumentos utilizados foram um multiacutemetro digital da KEITHLEY
196 um picoamperiacutemetro digital da KEITHLEY 485 uma fonte de tensatildeo da
KEITHLEY 220 uma placa de efeito Hall da KEITHLEY 7065 e um eletroiacutematilde da
VARIAN As medidas foram realizadas em funccedilatildeo da temperatura de 10 K a 300 K
utilizando um criostato e um controlador de temperatura da OXFORD Na faixa de
temperatura em que a resistividade ultrapassou 102 Ωcm o multiacutemetro digital foi
substituiacutedo por um eletrocircmetro
Figura 42 Esquema dos contatos na amostra de rutilo
42
No meacutetodo de van der Pauw aplicamos corrente entre dois dos quatro contatos
da amostra (figura 42) digamos 1-2 e em seguida obtemos o valor da tensatildeo entre
os contatos restantes 3-4 a cada valor de temperatura Alterando os pontos de
aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo obtidas oito tensotildees necessaacuterias para o
caacutelculo da resistividade Em posse destes valores de voltagem calculamos os valores
QA e QB dados por
QA = (V2134 - V1234) (V3241 - V2341)
QB = (V4312 ndash V3412) (V1423 ndash V4123)
(Eq 41)
onde os dois primeiros iacutendices representam por quais contatos flui a corrente e os
uacuteltimos em quais eacute lida a tensatildeo
Utilizando os valores de QA e QB obtemos os fatores de correccedilatildeo fA e fB
atraveacutes da equaccedilatildeo transcendental
(Q - 1) (Q +1) = f arccosh [(05e ln2f)] ln2 (Eq 42)
com os valores de fA e fB calcula-se PA e PB dados por
PA = (π4ln2)(fA tsI)(V2134 + V3241 - V1234 - V2341)
PB = (π4ln2)(fB tsI)(V4312 + V1423 ndash V3412 ndash V4123)
(Eq 43)
onde ts eacute a espessura da amostra que no caso eacute de (060 plusmn 005) microm e I eacute o valor da
corrente meacutedia lida na amostra
Finalmente podemos calcular a resistividade atraveacutes de
ρ = (PA + PB)2
Aplicando-se um campo magneacutetico externo (05 T) paralelamente ao eixo c eacute
possiacutevel calcular o coeficiente Hall RH A medida da tensatildeo Hall eacute realizada de
maneira semelhante que na medida de resistividade Primeiramente eacute aplicada
corrente em dois contatos (figura 42) 1-3 e em seguida a tensatildeo nos demais
contatos 2-4 e a corrente no contato 1-2 eacute medida sob aplicaccedilatildeo do campo
magneacutetico H Alterando os pontos de aplicaccedilatildeo de corrente e leitura de tensatildeo satildeo
obtidos oito valores para a tensatildeo Hall em cada temperatura quatro para H no sentido
de c (+) e quatro no sentido oposto a c (-) Obtidas as tensotildees corretamente satildeo feitos
43
os seguintes caacutelculos
RHC = 25x107 (tsH I) (V3142+ - V1342+ + V1342- - V3142-)
RHD = 25x107 (tsH I) (V4213+ - V2413+ + V2413- - V4213-) (Eq 44)
os iacutendices + e - na tensatildeo representam o sentido do campo em que foi feita a medida
Os valores de RHC e RHD satildeo utilizados para o caacutelculo do coeficiente Hall utilizando a
seguinte equaccedilatildeo
RH = (RHC + RHD)2 (Eq 45)
Na figura 43 eacute apresentado o graacutefico da resistividade e do coeficiente Hall em
funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca obtido apoacutes o tratamento dos dados atraveacutes das
equaccedilotildees acima
000 002 004 006 008 010 01210-1
100
101
102
103
104
105
106
Coeficiente Hall Resistividade
ρ (Ω
cm) R
Hall (cm
3 C
-1)
T-1(K-1)
Figura 43 Medidas eleacutetricas da resistividade e do coeficiente Hall da amostra HP
reduzida em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca (10 K lt T lt 300 K)
Na figura 43 observamos um miacutenimo da resistividade em torno de 40 K e no
graacutefico para o RH satildeo observados dois regimes um regime entre 8 K a 20 K e outro
entre 110 K e 300 K De acordo com Yagi e colaboradores [20] estes dois regimes
determinam duas energias de ativaccedilatildeo ε2 e ε3 respectivamente Estas energias satildeo
44
obtidas realizando uma regressatildeo linear nestas faixas de temperatura considerando
que no primeiro regime a energia ε2 eacute obtida atraveacutes da inclinaccedilatildeo do graacutefico de log10
(RH T 32) versus 1T (Figura 44 a) e ε3 atraveacutes da inclinaccedilatildeo de log10 (RH) versus 1T
(Figura 44 b) Os valores destas energias satildeo ε2 = 67 meV e ε3 = 0075 eV e estatildeo de
acordo com os valores obtidos no trabalho de Yagi e colaboradores [20]
008 009 010 011 012
13
14
15
16
(a)
Fit LinearParameter Value Error------------------------------------------------------------A 639513 013734B 7825274 137968------------------------------------------------------------R= 099907
ln(R
HallT
32) (cm
3 C-1K
32)
T-1(K-1)
ε2= 67 meV
42x10-3 45x10-3 48x10-3
04
06
08
(b)
Fit Linear
Parameter Value Error------------------------------------------------------------A -326296 024006B 87309883 5440556------------------------------------------------------------
R SD N P------------------------------------------------------------098855
ln R
H (cm
3c)
T-1(K
-1)
ε3= 0075eV
Figura 44 Energias de ativaccedilatildeo para os dois regimes de temperaturas (a) entre 8 e
20 K e (b) entre 110 e 300 K
O coeficiente Hall tambeacutem pode ser escrito como
RH = -1 (nHall e) (Eq 46)
onde e eacute a carga elementar do eleacutetron e n eacute a concentraccedilatildeo de portadores Desta forma
podemos descobrir a concentraccedilatildeo de portadores na amostra em funccedilatildeo da
temperatura utilizando esta equaccedilatildeo e os dados para o coeficiente Hall Estes dados de
concentraccedilatildeo estatildeo apresentados na figura 45 abaixo
45
000 002 004 006 008 010
0
2
4
6
8
10
n HaLL(1018cm
-3)
T-1(K-1)
Figura 45 Concentraccedilatildeo dos portadores livres em funccedilatildeo da temperatura reciacuteproca
O graacutefico da figura 45 mostra que a concentraccedilatildeo de portadores eacute da ordem de
1019 cm-3 na amostra da HP negra A partir dos dados de resistividade e concentraccedilatildeo
de portadores de carga eacute possiacutevel calcular a mobilidade dos portadores micro atraveacutes da
relaccedilatildeo
micro = 1 (ρ nHall e) (Eq 47)
Os dados da mobilidade satildeo apresentados na figura 46 abaixo onde podemos ver que
o maacuteximo da mobilidade se daacute em 30 K
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
micro (cm
2 (Vs)
-1)
T (K)
Figura 46 Mobilidade Hall em funccedilatildeo da temperatura (10 K lt T lt 300 K)
46
423 - Ressonacircncia Paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
A mesma amostra de rutilo submetida agraves medidas de absorccedilatildeo oacutetica e medidas
eleacutetricas foi medida por RPE no Laboratoacuterio de Ressonacircncia Paramagneacutetica
Eletrocircnica do Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na
amostra negra original e nas amostras oxidadas Em geral as medidas foram
realizadas a baixas temperaturas (6 ndash 20 K) pois as amostras eram altamente
condutoras
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(a)
B||b
B||c
B||c
Acircngulo (graus)
Campo magneacutetico (mT)
320 340 360 380
0
30
60
90
120
150
180(b)
B||a
B||b
Acircngulo (graus)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 47 Dependecircncias angulares de espectros de RPE da amostra HP oxidada a
500degC medidas a 6 K com atenuaccedilatildeo de microonda de 10 dB e frequumlecircncia de 939
GHz nos planos (a) cb e (b) ab
47
A figura 47 mostra duas dependecircncias angulares representativas de espectros
de RPE nos planos cb e ab A seguir seratildeo apresentados espectros medidos em cada
etapa consecutiva do tratamento teacutermico Tambeacutem seratildeo apresentadas simulaccedilotildees dos
defeitos existentes na amostra calculadas utilizando o programa EPR-NMR Poreacutem a
interpretaccedilatildeo de cada defeito seraacute abordada no final desta seccedilatildeo onde analisaremos as
dependecircncias angulares e discutiremos os defeitos paramagneacuteticos observados em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos feitos sob atmosferas controladas e determinaremos
as concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos dominantes Vale lembrar que o
substrato original utilizado pela HP sem tratamento em atmosfera redutora natildeo
apresentou nenhum sinal de RPE
320 340 360 380
-2
-1
0
1
B||b
Ti3+i C
B||c
HP tratamento redutora (10000)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
B||b
B||c
Figura 48 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 2 dB para B paralelo ao eixo c e paralelo ao eixo b juntamente
com um caacutelculo de espectro do defeito C
Apoacutes o tratamento redutor a 950degC em atmosfera de argocircnio e hidrogecircnio a
amostra apresenta uma linha extremamente intensa com algumas linhas sateacutelites
menores (figura 48) A linha forte eacute interpretada como um titacircnio intersticial Tii3+
chamado defeito C observado experimentalmente pela primeira vez por Chester e
colaboradores [52] Este eacute o defeito dominante na amostra negra e o espectro de RPE
do defeito C eacute motionally narrowed devido agraves altas concentraccedilotildees de Ti3+i e
relacionado ao mecanismo de hopping [5354] Para baixas concentraccedilotildees de Ti3+i o
espectro consiste de quatro linhas correspondentes aos quatros siacutetios intersticiais
quimicamente equivalentes na estrutura do rutilo [3155] dando origem ao espectro A
48
que seraacute apresentado mais adiante Os espectros de RPE do defeito C para duas
orientaccedilotildees satildeo apresentados na figura 48 Estes espectros puderam ser medidos
somente abaixo de 12 K pois a amostra era altamente condutora
Ainda na figura 48 onde eacute apresentado o espectro da amostra reduzida da HP
satildeo observadas linhas de menor intensidade ao redor da linha principal relativa ao
defeito C Sem entrar em detalhes as linhas ao redor da linha principal podem ser
interpretadas como uma interaccedilatildeo hiperfina ou superhiperfina do titacircnio Existem dois
isoacutetopos de titacircnio com spin nuclear diferente de zero 47Ti e 49Ti com spin nuclear I
de 52 e 72 e abundacircncias naturais de 74 e 54 respectivamente O fator g nuclear
de ambos os isoacutetopos eacute aproximadamente igual -03154
Na figura 49 abaixo eacute apresentado um espectro de RPE calculado levando em
consideraccedilatildeo a estrutura hiperfina desses isoacutetopos com constante de acoplamento
hiperfino de a = 68 MHz e largura de linha de 03 mT O espectro medido ainda natildeo eacute
bem descrito por esta interaccedilatildeo e temos de concluir que existem outros defeitos
paramagneacuteticos contribuindo para esse espectro
330 340 350 360
-2
-1
0
1
I = 52
I = 72
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 49 Espectros de RPE da amostra rutilo sinteacutetico reduzida da HP medido a 6
K com atenuaccedilatildeo de 15 dB para B paralelo ao eixo c juntamente com uma simulaccedilatildeo
do espectro do defeito C considerando interaccedilatildeo hiperfina
Em seguida foi realizado um tratamento em atmosfera oxidante a 400degC
Apoacutes este tratamento a amostra foi medida por RPE O sinal desta amostra ainda
consistia da linha de RPE referente ao defeito C e das linhas sateacutelites Poreacutem a
intensidade do defeito C diminuiu cerca de uma ordem de grandeza e natildeo foram
49
observados novos defeitos paramagneacuteticos Jaacute no tratamento oxidante posterior a
500degC o espectro foi alterado consideravelmente como eacute possiacutevel observar na figura
410 em uma medida de RPE realizada a 6 K
320 340 360 380
-4
-2
0
001
L1
C
X
W
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
L4
Figura 410 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 500degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 50 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos C X W e L1
Neste espectro da amostra tratada a 500degC eacute possiacutevel observar o surgimento de
novos defeitos paramagneacuteticos aleacutem do defeito C Estes defeitos foram observados
por Aono et al [31] e identificados como pares de Ti3+i chamado defeito X e defeitos
complexos tambeacutem envolvendo pares de Ti3+i defeito W Aleacutem disso foi observado
o surgimento de duas linhas extras ainda natildeo reportadas na literatura As condiccedilotildees
de medida nesta amostra ie potecircncia de microondas e temperatura eram criacuteticas e
para que fosse possiacutevel obter uma medida satisfatoacuteria foi necessaacuterio reduzir a potecircncia
de microondas Nesta medida foi utilizada atenuaccedilatildeo de 50 dB Este efeito ocorreu
porque existiam vaacuterios defeitos em grande concentraccedilatildeo e que possuiacuteam tempos de
relaxaccedilatildeo diferentes e muito sensiacuteveis agrave pequenas variaccedilotildees da temperatura Aleacutem
disso a amostra era pouco resistiva dificultando o acoplamento da cavidade de
microondas
Os defeitos X W L1 e L4 presentes na amostra oxidada a 500degC tambeacutem
estavam presentes nas amostras oxidadas a 600 e 700degC Nos espectros destas
50
amostras oxidadas o espectro referente ao defeito C foi resolvido dando lugar ao
espectro do defeito A O espectro medido na amostra tratada a temperatura de 700degC
eacute apresentado na figura 411 As concentraccedilotildees de defeitos nestas amostras satildeo agora
bem menores Desta forma foi possiacutevel medir com atenuaccedilatildeo de 15 dB
320 340 360 380-4
-2
0
2
L4
L1
W
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 411 Espectro de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 700degC por
1 hora medido a 6 K atenuaccedilatildeo 15 dB para B || c junto com espectros calculados
para os defeitos A X W e L1
Na amostra tratada em 800degC o defeito W desapareceu e foram observados
apenas os defeitos A X e uma linha adicional Os sinais satildeo bem fracos indicando
que a estequiometria do material se encontra proacutexima da estequiometria ideal de 12
de aacutetomos de titacircnio para aacutetomos de oxigecircnio Abaixo na figura 412 eacute apresentada
uma medida de RPE a 20 K e 15 dB da amostra tratada a 800degC para a orientaccedilatildeo de
campo magneacutetico paralelo a c
51
320 340 360
-1
0
10
L1
X
A
B||c
RPE (unidade arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 412 Espectros de RPE para amostra de rutilo sinteacutetico oxidado a 800degC por
1 hora medidos a 20K 15 dB para B || c junto com espectros calculados para os
defeitos A X e L1
Apresentada a sequumlecircncia cronoloacutegica em que os defeitos foram observados em
funccedilatildeo dos tratamentos de oxidaccedilatildeo iniciamos a interpretaccedilatildeo dos defeitos
isoladamente
Na figura 413 satildeo apresentadas as dependecircncias angulares do defeito C nos
planos cb (figura 413 a) e bc (figura 413 b) de onde foram retirados os paracircmetros
utilizados nas simulaccedilotildees presentes nas figuras 48 e 49 referentes a este defeito
Estas medidas foram realizadas na amostra original da HP Cada ponto na figura
corresponde a uma posiccedilatildeo da linha de RPE e a linha soacutelida a um ajuste com os
parameacutetros do tensor g apresentados acima A linha soacutelida corresponde ao marcador
DPPH (veja capiacutetulo 3)
52
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i - C
DPPH 9402 GHz
Cam
po Mag
neacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
336
339
342
(b)
Ti3+
i C
DPPH 9395 GHz
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 413 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico apoacutes tratamento em atmosfera redutora Cada ponto corresponde a uma
posiccedilatildeo de linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito C
O defeito C atribuiacutedo ao Ti3+i com configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d1 eacute um
centro com spin eletrocircnico S = 12 e simetria axial O Hamiltoniano que descreve o
defeito eacute dado por
H = microB S sdot g sdot H (Eq48)
Os paracircmetros do Hamiltoniano deste defeito satildeo apresentados na tabela 41
Os detalhes referentes a este defeito seratildeo apresentados mais adiante quando seraacute
53
tratado o defeito A Isto porque a origem destes defeitos eacute a mesma mas os espectros
do defeito A contecircm muito mais informaccedilatildeo sobre o defeito
Tabela 41 Paracircmetros do tensor g do defeito C(S = 12)
tensor g g|| 1941(1) gperp 1976(1)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
335
340
345
350
(a)
Ti3+
i A
L1
DPPH 9402 GHz
Par Ti (X)
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
-30 0 30 60 90 120 150 180 210
334
336
338
340
342
344[010][100] [1-10][110]
(b)
L1
Par Ti (X)
Par Ti (X)
Ti3+
i A
DPPH 9395 GHz
Campo magneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 414 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 800degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE e as linhas soacutelidas a um ajuste para os defeitos A X e L1
54
O espectro do defeito A conteacutem muito mais informaccedilotildees sobre o Ti3+i que o
espectro do defeito C A dependecircncia angular das linhas do defeito A satildeo
apresentradas a na figura 414 para a amostra oxidada a 800degC
Os eixos principais ξ η e ζ do tensor g do defeito A e consequumlentemente do
defeito C satildeo dados por [100] +26deg [010] +26deg e [001] respectivamente A posiccedilatildeo e
os eixos magneacuteticos do Ti3+i satildeo ilustrados na figura 415 abaixo Este defeito possuiacute
multiplicidade quatro assim o Ti3+i ocupa um siacutetio na posiccedilatildeo (12 0 12) Esta
multiplicidade eacute explicada pela multiplicidade de siacutetios intersticiais quimicamente
equivalentes na estrutura do rutilo [31 55] A multiplicidade de siacutetios se reflete na
multiplicidade de linhas de RPE mas a resoluccedilatildeo das medidas na dependecircncia da
figura 414 natildeo permite que sejam observados todos os siacutetios
Figura 415 (a) Vista tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do Ti3+ na
posiccedilatildeo intersticial e seus eixos principais [31] Por conveniecircncia o terceiro eixo
principal natildeo estaacute representado na figura mas ele eacute perpendicular aos demais
O Hamiltoniano que descreve o defeito A tambeacutem eacute dado pela equaccedilatildeo (48)
mas os valores principais do tensor g satildeo levemente modificados em relaccedilatildeo ao tensor
g do defeito C Os paracircmetros deste defeito satildeo apresentados na tabela 42
55
Tabela 42 Paracircmetros do Hamiltoniano do defeito A (S =12)
Valores principais Eixos principais
gx = 1974 [100] +26deg
gy =1977 [010] +26
gz = 1941 [001]
Na dependecircncia da amostra tratada em 800degC tambeacutem satildeo observadas as
linhas de RPE referentes ao defeito X O espectro do defeito X eacute interpretado como
um par de Ti3+i que interagem de forma a provocar a formaccedilatildeo de um centro com spin
efetivo S = 1 pois mesmo para a orientaccedilatildeo de B paralelo a c as quatro linhas estatildeo
desdobradas em conjuntos de dois como eacute apresentado nas dependecircncias na figura
416 abaixo No plano ab eacute evidente que esta configuraccedilatildeo com quatro linhas de RPE
Como o spin do defeito X eacute maior que 12 haveraacute interaccedilatildeo de estrutura fina
resultando no desdobramento dos niacuteveis de energia e consequumlentemente no
desdobramento das linhas de RPE Desta forma o Hamiltoniano deste centro eacute dado
por
H = microB S sdot g sdot H + SsdotDsdotS (Eq 49)
Os elementos do tensor g e da matriz de estrutura fina satildeo dados na tabela 43 em
termos dos eixos principais dados pelas direccedilotildees cristalograacuteficas [001] [110] e [1-10]
Com os valores da tabela 43 foram simuladas as dependecircncias para o centro X na
figura 414
Tabela 43 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin do defeito X (S=1)
Tensor g Tensor D Eixos
principais
19509 569 MHz (z) [001]
19802 269 MHz (y) [110]
19846 299 MHz (x) [1-10]
O modelo de pares de titacircnio eacute consistente com os paracircmetros do
Hamiltoniano e com o arranjo deste centro mostrado na figura 416 abaixo O par de
56
titacircnios Ti(1)-Ti(2) tem uma distacircncia de 325 Aring e estaacute orientado na direccedilatildeo [110]
Figura 416 Ilustraccedilatildeo (a) tri-dimensional e (b) projeccedilatildeo bi-dimensional do par de
Ti3+ intersticiais do defeito X [31]
Na amostra tratada em 700degC a dependecircncia angular do defeito W eacute bem
evidente O espectro deste defeito tambeacutem consiste de quatro linhas de ressonacircncia
sendo que para a orientaccedilatildeo [001] eacute observada apenas uma linha uacutenica indicando que
este espectro eacute devido a um centro de S = 12 A dependecircncia angular das linhas de
RPE do centro W eacute apresentada na figura 417
No trabalho de Aono e colaboradores [31] eacute dito que o defeito W natildeo pode ser
explicado por um defeito pontual ou defeitos complexados e a uacutenica alternativa seria
interpretar W como um defeito planar Isto se deve ao fato de que os valores do tensor
g e seus eixos principais determinados das dependecircncias angulares acima e dados na
tabela abaixo satildeo incompatiacuteveis com as simetrias permitidas por defeitos mais
simples incorporados na estrutura em posiccedilotildees intersticiais ou substitucionais
57
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(a)
par Ti3+
i - X
par Tii - W
DPPH 9402 GHz
Cam
po magn
eacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
[001]
[100]
-30 0 30 60 90 120 150 180 210320
340
360
380
(b)
par Tii - W
DPPH 9395 GHz
par Ti3+
i - X
Cam
po magneacutetico (m
T)
Acircngulo (graus)
[010] [110] [100] [1-10]
Figura 417 Dependecircncias angulares de RPE nos planos (a) cb e (b) ab de rutilo
sinteacutetico oxidado a 700degC por 1 hora Cada ponto corresponde a uma posiccedilatildeo de
linha de RPE (W magenta e X azul) e as linhas soacutelidas a um ajuste para o defeito W
Tabela 44 Eixos principais e valores principais do tensor g do defeito W (S = 12)
Valores principais Eixos principais
1791 [001]
2053 [100] plusmn 45deg
1835 [010] plusmn 45deg
Tambeacutem foi observado em amostras com a mesma concentraccedilatildeo de defeitos
58
submetidas a tratamentos semelhantes aos deste trabalho que imagens de microscopia
eletrocircnica exibiam a formaccedilatildeo de padrotildees desordenados na superfiacutecie devido agrave
interface entre domiacutenios com orientaccedilotildees diferentes [30] tais como os defeitos
planares 275 e 132 como ilustrado na figura 418 abaixo
Figura 418 Ilustraccedilatildeo idealizada de um defeito planar 275 em TiO2 representado
pela linha azul formado pela interface de dois domiacutenios com orientaccedilatildeo (121) e
(011) Na imagem ampliada satildeo mostrados os pares de titacircnio P-Q criados na
fronteira dos domiacutenios [31]
A origem do espectro W eacute atribuiacuteda agrave formaccedilatildeo de pares de iacuteons de titacircnio
formados na fronteira do defeito planar Na ampliaccedilatildeo da figura 418 observa-se que o
par de titacircnios P-Q estaacute arranjado de forma que seu eixo eacute paralelo agrave direccedilatildeo [100] e
perpendicular agrave direccedilatildeo [001] do cristal de TiO2 Desta forma os eixos principais
deste defeito satildeo aproximadamente os eixos cristalinos com uma pequena distorccedilatildeo no
plano ab determinada pelo arranjo dos aacutetomos de oxigecircnio da vizinhanccedila neste plano
Este desvio eacute observado na dependecircncia angular no plano ab da figura 413 onde
foram utilizados os dados da tabela 44 e o Hamiltoniano Zeeman eletrocircnico equaccedilatildeo
48 para a simulaccedilatildeo da dependecircncia
Assim identificados todos os defeitos conhecidos em cada etapa do tratamento
de oxidaccedilatildeo As linhas extras natildeo foram exploradas neste trabalho pois natildeo satildeo
relativas a defeitos dominantes na amostra Estas linhas possuiam uma forte
dependecircncia com a temperatura e potecircncia
A partir das medidas de RPE foi feita uma anaacutelise de concentraccedilotildees dos
59
defeitos observados As medidas foram ajustadas utilizando os Hamiltonianos
descritos aqui e as linhas de RPE foram duplamente integradas para determinar as
aacutereas respeitando a multiplicidade de linhas de cada defeito Na tabela 45 abaixo satildeo
apresentados os resultados dos caacutelculos de concentraccedilotildees em funccedilatildeo do tratamento de
oxidaccedilatildeo os quais foram calibrados utilizando um monocristal de CuSO4sdot5H2O com
massa conhecida A massa da amostra de rutilo eacute de 266 mg
Tabela 45 Dados de concentraccedilatildeo de defeitos em funccedilatildeo do tratamento de oxidaccedilatildeo
Tratamento [C] [A] [W] [X] [LE1] [LE4]
950degC Ar+H2 15x1019 18x1017 16x1017 na na
300degC
ambiente
11x1019 39x1016 na na na
400degC
ambiente
80x1017 na 68x1015 na na
500degC
ambiente
28x1017 41x1017 17x1017 42x1017 27x1018
600degC
ambiente
53x1017 37x1017 37x1017 10x1018 26x1018
700degC
ambiente
48x1016 11x1017 49x1016 28x1017 26x1017
800degC
ambiente
35x1015 0 14x1016 38x1016 0
Observa-se que a amostra negra inicial possuiacutea uma enorme quantidade de
defeitos da ordem de 1019 cm-3 de Ti3+i referente ao defeito C Com os tratamentos
posteriores a concentraccedilatildeo do defeito C diminui e eacute observada a formaccedilatildeo dos defeitos
W e X com concentraccedilatildeo consideraacutevel da ordem de 1017 cm-3 Tambeacutem satildeo
observados novos defeitos relacionados agraves linhas extras (L1 e L4 aleacutem de outras de
menor intensidade) que ainda natildeo foram documentadas na literatura e foram
consideradas como centros com S = 12 Aqui natildeo queremos sugerir modelos
60
microscoacutepicos para estes defeitos pois os espectros natildeo contecircm informaccedilatildeo suficiente
para este fim Apoacutes o tratamento a 800degC a concentraccedilatildeo cai drasticamente chegando
ao limite de sensibilidade do espectrocircmetro com concentraccedilotildees de 1015 cm-3 O
comportamento da concentraccedilatildeo de defeitos eacute apresentado na figura 419 abaixo
0 100 200 300 400 500 600 700 800
000E+000
800E+017
160E+018
240E+018
110E+019
138E+019
165E+019
C W X L1 L4
concentraccedilatildeo(cm
-3)
temperatura de oxidaccedilatildeo
Figura 419 Concentraccedilotildees dos defeitos paramagneacuteticos em funccedilatildeo da temperatura
de oxidaccedilatildeo apoacutes calibraccedilatildeo com amostra de CuSO4 5H2O
43 Monocristais naturais de TiO2 ndash Anatase e Rutilo (Defeitos extriacutensecos)
Cristais naturais de anatase e rutilo ambos de coloraccedilatildeo avermelhada foram
medidos por RPE a temperatura ambiente Os cristais foram cortados em amostras de
dimensotildees de 3x2x2 mm de modo que a maior superfiacutecie das amostras estava
orientada ao longo do eixo c Abaixo satildeo apresentados espectros de anatase e rutilo
para algumas orientaccedilotildees entre o eixo c dos cristais e o campo magneacutetico estaacutetico
externo
61
100 200 300 400 500
Anatase natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
100 200 300 400 500
Rutilo natural
B [001]
B [101]
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 420 Espectros de RPE para amostras naturais de anatase e rutilo medidas a
temperatura ambiente para trecircs diferentes orientaccedilotildees do cristal
0 30 60 90 120
100
200
300
400
500
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo Mag
neacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 421 Dependecircncia angular das linhas de RPE na amostra de anatase no
plano bc Os pontos em vermelho representam posiccedilotildees de linhas de RPE
correspondentes ao Fe3+ substitucional e os pontos em azul ao Fe3+ substitucional
compensado (veja o texto)
A dependecircncia angular completa para ambas as amostras foi feita em
temperatura ambiente com passo de 5deg Na figura 421 eacute apresentada a dependecircncia
angular para amostra de anatase no plano bc
A dependecircncia angular da anatase natural pode ser descrita em termos de dois
62
tipos de defeitos Fe3+ em uma posiccedilatildeo substitucional e Fe3+ substitucional com uma
compensaccedilatildeo de carga com uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho
[55] O Hamiltoniano destes centros pode ser escrito como
H = szlig H g S + Σ B2m O2
m + Σ B4m O4
m (Eq 410)
Estes defeitos satildeo incorporados na posiccedilatildeo do Ti4+ pois a incorporaccedilatildeo em
posiccedilotildees intersticiais iria acarretar em um grande desequiliacutebrio de cargas Aleacutem disso
no rutilo satildeo observados defeitos paramagneacuteticos intersticiais apenas se o raio iocircnico
do defeito for muito maior que o raio iocircnico do Ti4+ contudo os iacuteons de Fe3+ satildeo
menores que os iacuteons Ti4+ reforccedilando o modelo substitucional Assim ambos os
defeitos apresentam simetria local D2d dos siacutetios de Ti4+ A simetria destes centros
paramagneacuteticos permite excluir do Hamiltoniano os operadores de Stevens Onm com
iacutendice m iacutempar [50] e o Hamiltoniano pode ser simplificado aplicando as seguintes
relaccedilotildees
B20 = Dzz 2 B2
2 = (Dxx - Dyy) 2
B20 = D 3 B2
2 = E B40 = (a 120) + (F180) B4
4 = a 24 (Eq 411)
As linhas de RPE relativas ao Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional
compensado podem ser caracterizadas por um spin efetivo de 52 O primeiro possui
estrutura fina pequena e isotroacutepica jaacute para o segundo a estrutura fina eacute muito grande e
com grande anisotropia em uma proporccedilatildeo de DE = 13 o que causa uma grande
variaccedilatildeo nas posiccedilotildees das linhas de RPE Os eixos cristalograacuteficos satildeo os eixos
principais para o primeiro centro para o segundo os eixos principais satildeo obtidos
atraveacutes de uma rotaccedilatildeo do sistema de coordenadas dos eixos cristalograacuteficos em torno
de b de um acircngulo de 96deg Aleacutem disso o Fe3+ substitucional compensado possuiacute
quatro siacutetios equivalentes obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em relaccedilatildeo ao eixo c
Utilizando estes eixos os paracircmetros do Hamiltoniano dos centros satildeo dados
apresentados na tabela 46 abaixo
63
Tabela 46 Paracircmetros do Hamiltoniano de spin para Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado em anatase
Fe3+ S Fe3+ SC
g 2005 2002
D 9254 MHz -149 GHz
E - -37 GHz
a 3082 MHz 839 MHz
F 189 MHz -5032 MHz
Utilizando os paracircmetros do Hamiltoniano de spin dos defeitos encontrados
nas dependecircncias angulares foram simulados espectros (figura 422) para a orientaccedilatildeo
do campo magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100] e a dependecircncia angular completa no
plano bc da figura 421 Nas simulaccedilotildees foram incluiacutedas transiccedilotildees permitidas e para
o defeito compensado tambeacutem as proibidas com ∆ms = plusmn 1 e ∆mI = plusmn 1
0 100 200 300 400 500 600
Campo Magneacutetico (mT)
RPE (unid arb)
B[100]
Figura 422 Espectros de RPE e simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com o Fe3+
substitucional (vermelho) e o Fe3+ substitucional compensado (azul) para o campo
magneacutetico paralelo a direccedilatildeo [100]
A dependecircncia angular das linhas de RPE nas amostras de rutilo medida em
temperatura ambiente com passo de 10deg eacute apresentada na figura 423 abaixo A
dependecircncia angular na amostra de rutilo pode ser interpretada em termos de trecircs
64
defeitos Fe3+ [56 58] e Cr3+ [57 58] substitucionais em siacutetios de Ti4+ e um iacuteon Fe3+
compensado por uma vacacircncia de oxigecircnio VOuml como primeiro vizinho [56]
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
100
200
300
400
500
600
simulaccedilatildeo Fe3+
simulaccedilatildeo Cr3+
simulaccedilatildeo Fe3+ compensado
Campo M
agneacutetico (mT)
Acircngulo (graus)
Figura 423 Dependecircncia angular em amostra natural de rutilo no plano cb As
linhas em vermelho correspondem ao Fe3+ substitucional as linhas azuis ao Fe3+
compensado e as linhas verde ao Cr3+ substitucional
Na estrutura cristalina do rutilo existem dois siacutetios equivalentes onde estatildeo
localizados iacuteons Ti4+ estes siacutetios satildeo idecircnticos exceto por uma rotaccedilatildeo de 90deg em
torno do eixo c A simetria desses siacutetios eacute D2h com uma pequena distorccedilatildeo
ortorrocircmbica Os iacuteons de Fe3+ tecircm configuraccedilatildeo eletrocircnica 3d5 conferindo um spin S =
52 ao defeito o Hamiltoniano para estes defeitos satildeo dados pela equaccedilatildeo (410) Os
eixos principais xI yI e zI do iacuteon de Fe3+ satildeo dados pelas direccedilotildees [-110] [001] e
[110] respectivamente Os eixos do iacuteon de Fe3+ compensado satildeo obtidos a partir da
rotaccedilatildeo de 90deg em torno de yI e de 40deg em torno de zI Os eixos dos segundos siacutetios
inequivalentes desses defeitos satildeo obtidos pela rotaccedilatildeo de 90deg em torno de c Da
mesma forma como o centro de ferro compensado na anatase o Fe3+ substitucional no
rutilo compensado ou natildeo possui estrutura fina grande (veja tabela 46)
O iacuteon substitucional de Cr3+ possui configuraccedilatildeo 3d3 e portanto spin S = 32
O Hamiltoniano que descreve o comportamento dos espectros de RPE tambeacutem eacute dado
pela equaccedilatildeo (410) poreacutem apenas os termos de primeira ordem da estrutura fina
precisam ser considerados Os eixos principais do Hamiltoniano satildeo obtidos pela
rotaccedilatildeo dos eixos cristalinos em torno de c de um acircngulo de 45deg Como o iacuteon eacute
65
incorporado em uma posiccedilatildeo substitucional haveraacute um segundo siacutetio equivalente com
os eixos principais rodados em relaccedilatildeo ao outro siacutetio de 90deg Tambeacutem no caso do
cromo existe uma grande estrutura fina (tabela 47)
Tabela 47 Paracircmetros do Hamiltoniano spin para o Fe3+ substitucional
compensado e natildeo compensado e para o Cr3+ substitucional em rutilo
Fe3+ substitucional Fe3+ compensado Cr3+ substitucional
g 2005 gx = gz = 2001
gy = 1993
197
D 203 GHz 229 GHz 165 GHz
E 22 GHz 27 GHz 8 GHz
A 11 GHz - 01 GHz -
F - 05 GHz - 63 GHz -
0 100 200 300 400 500 600
(a)
B [001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(b)
B [101]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
(c)
B [100]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 423 Espectros de RPE e
simulaccedilatildeo dos defeitos relacionados com
o Fe3+ na amostra natural de rutilo para
trecircs orientaccedilotildees em preto a medida em
vermelho o Fe3+ substitucional e em azul
o Fe3+ substitucional compensado e em
verde o Cr3+
66
Os paracircmetros utilizados no ajuste da dependecircncia angular para ambos os
defeitos satildeo apresentados na tabela 47 Na figura 423 tambeacutem satildeo apresentados
espectros medidos em trecircs orientaccedilotildees com as simulaccedilotildees das linhas relativas a cada
defeito
As anaacutelises apresentadas sobre os iacuteons de Fe e Cr em monocristais de anatase
e rutilo natural ajudaratildeo na interpretaccedilatildeo dos espectros de RPE nas nanopartiacuteculas de
TiO2 que seratildeo apresentados no proacuteximo capiacutetulo 5
67
Capiacutetulo 5 - Resultados experimentais dos poacutes
nanoestruturados de TiO2
51 - Preparaccedilatildeo de amostras
As amostras analisadas neste trabalho foram sintetizadas via meacutetodo sol-gel
Foram preparadas amostras puras e dopadas o precursor utilizado foi o isopropoacutexido
de titacircnio 97 da Sigma-Aldrich e como solvente foi usado aacutelcool isopropiacutelico PA
da Synth Para controle do pH foi utilizado aacutecido cloriacutedrico PA da VETEC
Primeiramente adiciona-se 5 ml de isopropoxido de titacircnio a 50 ml de aacutelcool sob
agitaccedilatildeo em um becker Em seguida eacute adicionado 2 ml de HCl agrave soluccedilatildeo e o becker eacute
tampado a soluccedilatildeo eacute mantida em agitaccedilatildeo por duas horas Passada duas horas a
soluccedilatildeo eacute colocada em placas de Petri que satildeo inseridas na estufa a 80degC por mais
duas horas ateacute que a soluccedilatildeo seque
No caso de amostras dopadas foram utilizados TiCl3 99 NbCl5 99 da
Aldrich acetilacetonato de ferro (III) 99 e acetilacetonato de cromo (III) 99
ambos da ABCR GmbH amp Co para a dopagem com Ti3+ Nb5+ Fe3+ e Cr3+
respectivamente O dopante eacute dissolvido na soluccedilatildeo antes que seja adicionado o
ispropoacutexido na proporccedilatildeo de 1 molar de iacuteon dopante por mol de TiO2 Para a
dopagem com Ti3+ foram feitas duas amostras com concentraccedilotildees de 1 e 5 Nas
amostras co-dopadas os dopantes foram adicionados simultaneamente agrave soluccedilatildeo
foram feitas amostras co-dopadas de 1 Nb5+ 1 Fe3+ e 1 Nb5+ 1 Cr3+
As amostras secas foram submetidas separadamente a tratamentos teacutermicos em
500degC e 950degC em atmosfera ambiente ou sob fluxo de argocircnio de 600 cm3min em
um forno tubular No tratamento a 500degC o forno foi programado para que atingisse
esta temperatura em 20 minutos e ficasse nela durante 2 horas apoacutes isto o forno era
resfriado agrave temperatura ambiente em aproximadamente trecircs horas No tratamento a
950degC o forno foi programado para uma rampa de 30 minutos ateacute a temperatura final
nesta temperatura as amostras permaneciam por 2 horas e o forno era resfriado agrave
temperatura ambiente em 4 horas No caso do tratamento em atmosfera de argocircnio o
fluxo era estabelecido assim que o tratamento foi iniciado e soacute era cortado quando a
temperatura do forno era menor que 150degC No tratamento em atmosfera ambiente as
68
extremidades do tubo de quartzo eram mantidas abertas
52 - Caracterizaccedilatildeo das amostras policristalinas
As amostras puras e dopadas tratadas nas diferentes atmosferas e temperaturas
apresentaram cores diferentes algumas apresentando um caraacuteter metaacutelico Nos
tratamentos em atmosfera com caraacuteter redutor (argocircnio) as amostras ficaram escuras e
no tratamento em atmosfera ambiente as amostras apresentaram a cor branca
caracteriacutestica e tons de vermelho e amarelo como pode ser observado na figura
abaixo
puro Ti 1 Ti 5 Fe 1 Cr 1 Nb 1 NbFe 1 NbCr 1
ATM 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Ar 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950 500 950
Figura 51 Foto das amostras policristalinas de TiO2
Na figura 51 as amostras estatildeo dispostas de modo que as amostras submetidas
aos tratamentos em Ar (argocircnio) estatildeo na fileira de baixo e as submetidas aos
tratamentos em atmosfera ambiente na fileira de cima A cada duas colunas de
amostras corresponde a uma seacuterie de amostras Satildeo oito seacuteries sendo que a primeira
coluna corresponde agraves amostras tratadas a 500degC e a segunda agraves amostras tratadas a
950degC As seacuteries estatildeo dispostas na seguinte ordem TiO2 TiO2Ti 1 TiO2Ti 1
TiO2Fe 1 TiO2Cr 1 TiO2 Nb 1 TiO2 NbFe 1 e TiO2 NbCr 1
As amostras policristalinas foram analisadas via difraccedilatildeo de raios X (DRX) e
ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE) A anaacutelise dos difratogramas de raios X
segue abaixo
521 ndash Difraccedilatildeo de Raios X (DRX)
As medidas de DRX foram feitas no Laboratoacuterio de Cristalografia do
Departamento de Fiacutesica da UFMG As medidas foram realizadas na faixa de 20deg a
69
50deg em 2θ passo de 01deg e utilizando como anodo um alvo de cobre A corrente no
filamento era de 30 mA e a tensatildeo de aceleraccedilatildeo utilizada foi de 40 kV O feixe de
radiaccedilatildeo foi filtrado utilizando-se um cristal de grafite resultando em um feixe com
duas componentes Kα1 e Kα2 com comprimentos de onda 15405 Aring e 15443 Aring
respectivamente
Todas as amostras tratadas a 500degC e 950degC (difratogramas no Apecircndice A)
com apenas uma exceccedilatildeo apresentaram a formaccedilatildeo de TiO2 na fase anatase e rutilo
respectivamente As amostras produzidas atraveacutes do processo sol-gel foram
comparadas com cristais naturais de anatase e rutilo que foram moiacutedos e submetidos
agraves mesmas condiccedilotildees de medidas Os difratogramas das amostras de TiO2 sinteacuteticas
puras tratadas em 500degC e 950degC apresentam os mesmos picos de difraccedilatildeo que as
amostras naturais de anatase e rutilo (figura 52) Na figura 52 tambeacutem satildeo mostrados
os planos de difraccedilatildeo [59 60 61]
25 30 35 40 45 50
0
2000
4000
Intensidade (unid arb)
2 Theta
(101)
(103)
(004)
(112) (200)
(110)
(101)
(200) (111)
(210)
Figura 52 Difratograma de raios X em amostras policristalinas sinteacuteticas de TiO2
tratadas em 500degC (--) e 950degC (--) em atmosfera ambiente e amostras moiacutedas de
cristais naturais de anatase (--) e rutilo (--)
A uacutenica exceccedilatildeo a essa regra foi a amostra dopada com 1 de nioacutebio tratada a
500degC em atmosfera de argocircnio Eacute possiacutevel observar do difratograma abaixo (figura
53) que esta amostra exibe picos de difraccedilatildeo referente agraves duas fases de TiO2
70
25 30 35 40 45 50
0
500
Intensidade (unid arb)
2 Theta
Figura 53 Difratograma de raios X da amostra de TiO2 dopada com 1 de nioacutebio
tratada em 500degC sob fluxo de argocircnio (--) comparada agraves amostras naturais de
anatase (--) e rutilo (--)
As amostras preparadas atraveacutes do processo sol-gel apresentam picos de
difraccedilatildeo alargados e deslocados em relaccedilatildeo agraves amostras naturais Desta forma os
picos de difraccedilatildeo foram ajustados utilizando-se duas funccedilotildees pseudo-voigt relativas agraves
reflexotildees das componentes Kα1 e Kα2 pelos planos cristalinos A funccedilatildeo pseudo-voigt
eacute composta pela soma de uma funccedilatildeo lorentziana e uma funccedilatildeo gaussiana a primeira
eacute associada ao alargamento dos picos de difraccedilatildeo devido ao tamanho de gratildeo e a
segunda eacute associada ao alargamento devido ao instrumento de medida
A fim de calcular a contribuiccedilatildeo do instrumento para o alargamento dos picos
de difraccedilatildeo uma amostra padratildeo de siliacutecio (NIST standard) com tamanho de gratildeo de
14 microm foi medida sob as mesmas condiccedilotildees Com o ajuste da amostra padratildeo
obtemos a largura devido agrave gaussiana e este valor eacute utilizado no ajuste das medidas
nas amostras sinteacuteticas Desta forma atraveacutes do ajuste obtemos a largura da
lorentziana wL e a posiccedilatildeo dos picos de difraccedilatildeo θ referente a reflexatildeo da
componente Kα1 pelos planos cristalinos Com posse desses valores para os picos
referentes aos planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente e utilizando a
equaccedilatildeo de Debye-Scherrer [62] dada por
d = 094 λKα1 wL cos(θ) (Eq 51)
71
podemos calcular o tamanho de partiacutecula Abaixo na figura 54 satildeo apresentados os
dados de tamanho de partiacutecula obtidos utilizando as equaccedilotildees acima para as amostras
puras e dopadas de rutilo tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio As
barras de erro indicam uma incerteza no tamanho de partiacutecula de 10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho de partiacutecula (nm)
Tratamento 950degCAR
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
Figura 54 Tamanho de partiacutecula das amostras de rutilo tratadas em atmosfera
ambiente e sob fluxo de argocircnio
72
Para as amostras tratadas em 500degC nas diferentes atmosferas os tamanhos de
partiacutecula satildeo apresentados na figura 55
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Tam
anho
de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCATM
Puro
1 Ti
5 Ti
1 Cr
1 Fe
1 Nb
1 Nb1 Cr
1 Nb 1 Fe
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1 Nb 1 Fe
1 Nb1 Cr
1 Nb
1 Fe
1 Cr
5 Ti
1 Ti
Puro
Tamanh
o de partiacutecula (nm
)
Tratamento 500degCAR
Figura 55 Tamanho das partiacuteculas para as amostras de anatase puras e dopadas
tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
Na figura 54 observamos que o tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute de ~ 62 nm e
~ 50 nm quando tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
respectivamente Outra observaccedilatildeo eacute que o tratamento a 950degC em argocircnio resulta na
diminuiccedilatildeo do tamanho das partiacuteculas dopadas enquanto na amostra pura o
73
tratamento induz o efeito oposto Sendo que as amostras dopadas satildeo maiores que a
amostra pura no tratamento em atmosfera ambiente e menores que a mesma no
tratamento em argocircnio Tambeacutem notamos que nas amostras dopadas com Fe e FeNb
sob fluxo de argocircnio o tamanho eacute reudzido drasticamente em relaccedilatildeo da meacutedia para ~
19 nm e ~ 32 nm respectivamente
Na figura 55 observamos que o tamanho das partiacuteculas das amostras tratadas
em 500degC (fase anatase) em ambas as atmosferas eacute bastante reduzido comparado com
as amostras tratadas a 950degC (fase rutilo) e com pouca variaccedilatildeo considerando os
vaacuterios dopantes O tamanho meacutedio das partiacuteculas nas amostras tratadas a 500degC em
atmosfera ambiente eacute de ~ 14 nm e nas amostras tratadas sob fluxo de argocircnio de ~ 12
nm Como na fase de rutilo notamos que para as amostras na fase de anatase o
tamanho meacutedio das partiacuteculas eacute cerca de 10 menor quando tratado sob fluxo de
argocircnio comparado com o tratamento em atmosfera ambiente
Retomando a amostra dopada com nioacutebio tratada a 500degC sob fluxo de
argocircnio foram feitos caacutelculos a fim de determinar a quantidade de anatase e rutilo
presente na amostra Esse caacutelculo foi feito sabendo que os picos (101) e (110) na
anatase e no rutilo respectivamente tecircm 100 de intensidade (figura 56) Assim
calculando a aacuterea sobre cada pico e dividindo-as eacute possiacutevel calcular a concentraccedilatildeo
relativa de anatase e rutilo O resultado do caacutelculo eacute que nessa amostra tratada em
500degC temos cerca de 10 de rutilo um resultado interessante sabendo que a
transiccedilatildeo de fase para o rutilo eacute em torno de 800degC
24 26 28
0
1000
2000
3000 (110)
(101)
Intensidade (unid arb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura 56 DRX em amostras dopadas com 1 de Nb5+ tratadas termicamente a
500degC e 950deg para os planos (101) e (110) na anatase e rutilo respectivamente em
atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
74
522 - Ressonacircncia paramagneacutetica eletrocircnica (RPE)
Medidas de RPE foram realizadas nas amostras policristalinas produzidas via
meacutetodo sol-gel em baixas temperaturas Para tal 50 mg de amostra foram colocados
em tubos de vidro de borosilicato Para efeito de calibraccedilatildeo foram utilizadas amostras
policristalinas de DPPH (calibraccedilatildeo fator g) e CuSO4sdot5H2O (calibraccedilatildeo
concentraccedilatildeo) com massa conhecida e medidas sob as mesmas condiccedilotildees de
temperatura e potecircncia de microondas
Abaixo na figura 57 satildeo apresentadas as medidas nas amostras puras e
dopadas com 1 e 5 de Ti3+ tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio
em 500degC e 950degC As medidas foram feitas a 6 K e com 2 dB de atenuaccedilatildeo de
microondas (potecircncia maacutexima ~100mW)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
3
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(a)
320 340 360 380
Campo Magneacutetico (mT)
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
RPE (unid arb)
(b)
320 340 360 380
950degCATM
950degCAr
500degCATM
500degCAr
5
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 57 Espectros de RPE a 6 K 2 dB
939 GHz dos poacutes de nanopartiacuteculas de TiO2
com cristalizaccedilatildeo a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente (a) TiO2
puro (b) TiO2 dopado com 1 molar de
TiCl3 e (c) TiO2 dopado com 5 molar de
TiCl3
75
Basicamente os espectros de RPE destas amostras apresentam sinais apenas
nas amostras tratadas sob fluxo de Ar Nas amostras de anatase satildeo observados dois
sinais um sinal de uma linha de RPE fina com largura pico-pico de 075(1) mT e
fator g = 2001(1) e um segundo sinal de linha de RPE larga simeacutetrica com largura
pico-pico de 1105(1) mT e fator g = 1917(1) O sinal de linha fina pode ser
observado mesmo a
300 K e o sinal de linha larga somente para temperaturas abaixo de 120 K Sob as
condiccedilotildees de medida a 6 K os sinais ainda natildeo satildeo saturados Nas amostras de rutilo
satildeo observadas a mesma linha fina em g = 2001(1) poreacutem com menor intensidade e
um outro sinal assimeacutetrico com fator em torno de g = 1956(1)
Nas anaacutelises dos monocristais no capiacutetulo anterior foi possiacutevel identificar que
os defeitos criados em tratamentos de caraacuteter redutor (Ar H2) satildeo basicamente
centros relacionados ao titacircnio intersticial o qual pode ser incorporado agrave rede
isoladamente defeito C ou em complexos defeitos X e W Desta maneira esses
defeitos bem provavelmente estatildeo presentes nas amostras nanoestruturadas e podem
estar relacionados aos sinais largos observados nas amostras puras e dopadas com
Ti3+ Os sinais finos que ocorrem na posiccedilatildeo de g sim 2 satildeo geralmente atribuiacutedos a
radicais adsorvidos na superfiacutecie [63 64] pois tais defeitos interagem fracamente com
a rede resultando em um fator g muito proacuteximo do fator g do eleacutetron livre e largura
de linha fina independente da temperatura de medida
A partir da calibraccedilatildeo com CuSO4sdot5H2O eacute possiacutevel determinar a concentraccedilatildeo
total de defeitos nas nanopartiacuteculas A priori os sinais de RPE nas nanopartiacuteculas de
anatase e rutilo foram integrados sem a preocupaccedilatildeo de definir a contribuiccedilatildeo dos
defeitos presentes nas amostras separadamente Tambeacutem foi confirmado que o
espectro de CuSO4 sdot5H2O natildeo mostrou efeitos de saturaccedilatildeo A tabela 51 apresentada
os valores obtidos para as concentraccedilotildees totais de defeitos nas amostras
Observamos que tanto para amostras tratadas a 500degC quanto a 950degC a maior
concentraccedilatildeo de Ti3+ eou complexos deste defeito se encontra nas amostras com 1
de dopagem de Ti3+ com valor de ~ 3(1) x 1019 cm-3 Para dopagens maiores de 5 de
Ti3+ a concentraccedilatildeo eacute a mesma no caso de rutilo ou ateacute meia ordem de grandeza
menor no case de anatase Para as amostras natildeo dopadas com titacircnio observamos uma
ordem de grandeza a menos de defeitos relacionadosados ao Ti3+ Os defeitos
associados a superfiacutecie tecircm maior concentraccedilatildeo (cerca de uma ordem de grandeza) em
76
amostras tratadas a 500degC comparado com amostras tratadas a 950degC A maior
concentraccedilatildeo determina eacute de ~ 1017 cm-3 na amostra com 1 de dopagem de Ti3+
Essa concentraccedilatildeo tem de ser considerada bastante alta pois esses defeitos satildeo ligados
a superficie da nanopartiacutecula Mais adiante calcularemos a concentraccedilatildeo por aacuterea
superficial
Tabela 51 Concentraccedilatildeo de defeitos nos poacutes nanoestruturados de TiO2 tratadas sob
fluxo de argocircnio
Amostra 500degCAr 950degCAr
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
Linha fina
(radicais)
Linha larga
(Ti3+ ou
complexos)
TiO2 37x1016 cm-3 39x1018 cm-3 10x1016 cm-3 39x1018 cm-3
TiO2 Ti 1 17x1017 cm-3 43x1019 cm-3 10x1016 cm-3 17x1019 cm-3
TiO2Ti 5 48x1016 cm-3 61x1018 cm-3 29x1015 cm-3 21x1019 cm-3
TiO2Nb 1 21x1015 cm-3 59x1017 cm-3 - 24x1020 cm-3
Obs As concentraccedilotildees marcadas em vermelho natildeo devem ser comparadas agraves demais no tratamento em 500degC A razatildeo disto seraacute discutida mais adiante
A partir dos paracircmetros conhecidos dos defeitos intriacutensecos em monocristais
de rutilo utilizados no capiacutetulo anterior foram gerados espectros em poacutes para anaacutelise
dos espectros das linhas largas Natildeo satildeo bem conhecidos a existecircnica e os paracircmetros
dos mesmos em amostras de anatase Existe um trabalho de Sekyia e colaboradores
[25] no qual amostras azuis de anatase apresentaram sinais semelhantes aos
apresentados neste trabalho Esses autores identificaram um centro de S = 12 com
simetria tetragonal e tensor g axial dado pelos valores g|| = 1963 e gperp = 1992 Tal
centro foi interpretado como um Ti3+ substitucional produzindo um niacutevel doador raso
A Figura 58 mostra os espectros dos defeitos Ti intersticial do par de Ti intersticial
(X) e do par de Ti intersticial (W) no monocristal de rutilo para 3 orientaccedilotildees em
comparaccedilatildeo do espectro calculado para os poacutes de nanopartiacuteculas Para o caacuteluclo uma
largura de linha de 13 G foi usada Os espectros foram calculados somando os
espectros gerados sobre uma esfera com passo de 1deg
77
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 Ti3+
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
[100]
[110]
[001]
powder
TiO2 X (Ti pairs)
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
TiO2 W
[100]
[110]
[001]
powder
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 58 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo Ti intersticial (C) par
de Ti (X) e par de Ti (W) calculados para 3
orientaccedilotildees em monocristal e o respectivo
espectro em poacute
Como podemos notar nos espectros calculados as larguras de linha dos
espectros de poacutes a partir dos paracircmetros em monocristais satildeo bem mais finas e
resolvidas comparadas com espectros medidos Com a ideacuteia de que nas nanopartiacuteculas
poderia existir certa desordem comeccedilamos entatildeo alargar os espectros nos caacutelculos
com larguras de 5 10 e 20 G Estes espectros calculados satildeo mostrados na figura 59
abaixo
Mesmo com o alargamento das linhas os espectros calculados ainda natildeo
representam bem os espectros experimentais mesmo que o fator g ou em outras
palavras a posiccedilatildeo da linha de RPE seja proacutexima da linha observada a forma da linha
natildeo eacute bem reproduzida Para descrever bem os espectros experimentais temos que
introduzir outros fatores como por exemplo uma reduccedilatildeo na simetria dos defeitos
intriacutensecos
78
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(a)
310 320 330 340 350 360 370
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(b)
320 340 360 380
20G
10G
5G
RPE (unid arb)
Magnetic Field (mT)
(c)
Figura 59 Espectros de RPE dos defeitos
intriacutensecos em rutilo calculados para
amostras em poacute alargando as interaccedilotildees
para 5G 10 G e 20 G (a) Ti intersticial (C)
(b) par de Ti (X) e (c) par de Ti (W)
Os poacutes nanoestruturados com dopagem extriacutenseca tambeacutem foram medidos via
RPE a temperatura ambiente e baixas temperaturas Foi utilizada a mesma massa de
material policristalino de 50 mg Abaixo na figura 510 satildeo apresentados os espectros
medidos na amostra dopada com 1 de Nb a 6 K e 300 K respectivamente
Nos espectros da figura 510 observamos que a amostra dopada com nioacutebio
tratada em argocircnio exibe sinais fortes caracteriacutesticos de defeitos axiais com g|| =
1973(1) e gperp = 1944(1) tiacutepicos de Ti3+ intersticial em rutilo e similar dos espectros
obtidos por Aono e colaboradores [31] exceto a amostra tratada em 950degC que exibe
um sinal fraco e largo em g gt 2 Em temperatura ambiente foram observados sinais
significativos apenas nas amostras tratadas em 500degC Na amostra tratada a 500degC em
argocircnio observamos um sinal em g = 2001(1) relacionados com radicais ligadas na
superficie
Monocristais de rutilo dopados com Nb foram medidos por Chester e
79
colaboradores [52] Nesse trabalho foi observado linhas de RPE referentes ao Nb4+ O
nioacutebio eacute um elemento multivalente sendo Nb5+ e Nb3+ os estados mais estaacuteveis O
Nb4+ que eacute o estado paramagneacutetico possui spin eletrocircnico S = 12 e spin nuclear I =
92 Pelo que se sabe da literatura este defeito deve introduzir um niacutevel de um doador
raso com valor para o g em torno de 1973 quando incorporado substitucionalmente
em siacutetios de Ti4+ como no caso do Ti3+ em siacutetios intersticiais do rutilo No trabalho de
Chester e colaboradores foi observada estrutura hiperfina caracteriacutestica deste iacuteon com
10 linhas hiperfinas e fator de estrutura hiperfina anisotroacutepica com valores de Ax = 63
MHz Ay = 51 MHz e Az = 239 MHz
320 340 360 380
x5
200
40
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
TiO2Nb 1 950degCATM
TiO2Nb 1 950degCAr
TiO2Nb 1 500degCATM
TiO2Nb 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 510 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Nb 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
80
Na Figura 511 satildeo apresentados os espectros para algumas orientaccedilotildees e
espectros de poacute de rutilo dopado com Nb4+ calculado a partir dos paracircmetros dos
monocristais Aleacutem disso foram feitos caacutelculos com larguras de linha variadas Na
comparaccedilatildeo com a figura 510 observamos que os espectros experimentais natildeo satildeo
bem descritos com os paracircmetros do Nb4+
325 330 335 340 345 350
powder
[110]
[100]
[001]
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
325 330 335 340 345 350
52G
39G
26G
13G
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
Figura 511 (a) Espectros de RPE de TiO2 Nb4+ em rutilo calculado a partir dos
paracircmetros da referecircncia [52] para 3 orientaccedilotildees do monocristal e para o poacute (b)
Espectros de nioacutebio em rutilo em forma de poacute com larguras de linhas alargadas
81
Comparando a figura 510(a) com a figura 59(a) podemos notar que haacute uma
semelhanccedila bem melhor dos espectros simulados para o Ti3+ intersticial no rutilo com
as medidas na amostra TiO2Nb 1 do que com as simulaccedilotildees de Nb4+ (figura 511)
Assim concluiacutemos que os espectros observados nas amostras dopados com Nb satildeo
na verdade espectros de Ti3+ intersticial no rutilo
A explicaccedilatildeo que apresentamos eacute que o Nb quando substitui o Ti4+ da rede de
rutilo o elemento tende a ser incorporado no estado Nb5+ e assim compensando os
iacuteons Ti3+ intersticiais Desta maneira haveria um aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+
facilitado pela compensaccedilatildeo de cargas como na equaccedilatildeo
Nb5+s + Ti3+
i hArr Ti4+s + Ti4+
i (Eq 52)
Esta compensaccedilatildeo de cargas leva em conta que a formaccedilatildeo defeitos em siacutetios
intersticiais necessita de compensadores Na amostra pura esta compensaccedilatildeo eacute feita
provavelmente por vacacircncias de oxigecircnio
A equaccedilatildeo (52) eacute interpretada da seguinte maneira pensando nos aacutetomos com
a configuraccedilatildeo elementar No lado esquerdo estaacute representado um aacutetomo de Nb na
posiccedilatildeo substitucional que contribui com cinco eleacutetrons sendo quatro nas ligaccedilotildees
com os oxigecircnios e um quinto eleacutetron extra para a rede O aacutetomo de Ti intersticial
contribui com trecircs eleacutetrons para a rede e o quarto localizado proacuteximo ao nuacutecleo na
posiccedilatildeo intersticial No lado direito estaacute representado um aacutetomo de Ti substitucional
que contribuiacute com quatro eleacutetrons para as ligaccedilotildees e um Ti intersticial que contribui
com quatro eleacutetrons para a rede Desta maneira o balanccedilo de cargas eacute estabelecido
com quatro eleacutetrons sendo doados agrave rede em ambos os lados da equaccedilatildeo Aleacutem disso
o Ti3+i se manteacutem em equiliacutebrio com iacuteons Ti4+
i pela captura de eleacutetrons
Como podemos ver na tabela 51 as concentraccedilotildees de Ti3+ na amostra dopada
com nioacutebio eacute uma das mais altas no rutilo Os dados marcados em vermelho na tabela
satildeo relacionados con iacuteons Ti3+i no rutilo e natildeo na anatase com era de se esperar Nas
amostras tratadas em atmosfera redutora observamos de novo a linha fina que foi
atribuida a radicais adsorvidas na superfiacutecie
Os espectros de RPE observados nas amostras de TiO2 dopados com 1 de
Cr3+ satildeo apresentados na figura 512 para amostras de rutilo e anatase tratadas nas
duas atmosferas medidas em 6 K e 300 K Nesta figura observamos que nas amostras
TiO2Cr 1 na forma anatase amostras tratadas em 500degC exibem um sinal intenso
em g sim 2 Na literatura amostras de TiO2 Cr 1 tratadas em atmosfera ambiente
82
mostram sinal em g sim 2 associado ao cromo substitucional [65 66] o mesmo centro
presente no monocristal natural de anatase Como as medidas na figura 512(a) foram
obtidas a baixa temperatura eacute possiacutevel que o sinal em g sim 2 das amostras tratadas em
argocircnio tenha contribuiccedilatildeo dos defeitos relacionados ao titacircnio intersticial
distorcendo a forma caracteriacutestica dada pelo espectro em vermelho na figura 512(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
200
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
10
10500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
-150
-100
-50
0
2
2
TiO2Cr 1 950degCATM
TiO2Cr 1 950degCAr
TiO2Cr 1 500degCATM
TiO2Cr 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
x5
(b)
Figura 512 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Cr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
83
Nas amostras de TiO2Cr 1 tratadas em 950degC nas diferentes atmosferas os
sinais observados satildeo basicamente referentes ao Cr3+ substitucional na estrutura do
rutilo tambeacutem apresentados nos monocristais naturais de rutilo Nos espectros da
figura 512(a) tambeacutem podemos observar uma linha de RPE adicional na amostra de
TiO2Cr 1 tratada sob fluxo de argocircnio A linha adicional eacute provavelmente a linha
fina em g = 2001 presente nas amostras nanocristalinas puras e dopadas com titacircnio
referente agrave radicais adsorvidos na superfiacutecie da nanopartiacutecula
0 100 200 300 400 500 600
0
100
200
x2
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
20
10
x2
500degCAr
500degCATM
950degCAr
950degCATM
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
(b)
500degCATM
4
950degCATM
950degCAr
500degCAr
RPE (un
id a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 513 Espectros de RPE a (a) 6 K (a) e (b) 300K medidos com 2dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
84
Os espectros da amostra co-dopada com 1 de Nb e 1 de Cr satildeo
apresentados na figura 513 Os espectros nesta amostra satildeo muito semelhantes aos
espectros da figura 512 apresentando o sinal em g sim 2 na amostra de anatase e os
sinais distorcidos do Cr3+ no rutilo O sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo
ao espectro do Cr3+ na figura 512 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na
dopagem com nioacutebio existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura
ambiente Comparando os espectros de baixa temperatura entre as amostras TiO2Cr
1 e TiO2 NbCr 1 observamos que os sinais nesta uacuteltima amostra satildeo bem mais
intensos indicando maior concentraccedilatildeo dos defeitos Outro fato muito importante eacute
que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em 500degC natildeo apresentou nenhum sinal quando
medida a 300 K enquanto a amostra TiO2Cr 1 tratada sob mesmas condiccedilotildees
mostra o sinal do Cr3+ Isto eacute natildeo existe Cr3+ na amostra co-dopada ou eacute uma questatildeo
de niacutevel de Fermi
Utilizando os paracircmetros do Cr3+ substitucional nos monocristais de anatase e
rutilo apresentados no capiacutetulo anterior foram realizados caacutelculos dos espectros de poacute
para este defeito nas duas estruturas Na figura 514 satildeo apresentados os espectros
calculados para algumas larguras de linha
Como podemos observar os espectros calculados para o Cr3+ no rutilo descrevem bem
os espectros das amostras tratadas em 950degC nas figuras 512 e 513 fora a linha fina
em torno de g = 2 pertencente a um segundo defeito No caso das simulaccedilotildees do Cr3+
na anatase percebemos que as medidas das amostras tratadas em 500degC (figura 512 e
513) natildeo satildeo compatiacuteveis com as simulaccedilotildees Comportamento semelhante foi
observado nas simulaccedilotildees dos defeitos intriacutensecos
Os espectros de RPE das amostras dopadas com ferro medidos a 6 K e 300 K
satildeo apresentados na figura 515 Os espectros de anatase constituem de duas linhas
uma em g sim 20 e outra em g sim 42 A linha larga em g sim 20 tem sido atribuiacuteda ao
centro Fe3+ substitucional [66 67] enquanto a linha em baixo campo magneacutetico estaacute
associada ao Fe3+ compensado [67] Ambos os defeitos foram observados nos
monocristais naturais no capiacutetulo anterior
85
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 20mT (a)
0 100 200 300 400 500 600
-10
-05
00
05
10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
HWB 3mT HWB 6mT HWB 10mT HWB 15mT (b)
Figura 514 Espectros de RPE calculados com os paracircmetros do Cr3+ na (a) anatase
e (b) no rutilo utilizados paracircmetros dos monocristais (capiacutetulo 4) para diferentes
larguras de linha
Nas amostras de rutilo observamos uma mudanccedila draacutestica com relaccedilatildeo aos
espectros das amostras tratadas em atmosfera ambiente e sob fluxo de argocircnio Nas
amostras tratadas em atmosfera ambiente os sinais satildeo referentes ao Fe3+ na estrutura
do rutilo Nas amostras tratadas em argocircnio a medida em 300 K apresenta uma linha
extremamente larga tipica de sinais de RPE de amostras magneacuteticas Na medida a 6 K
86
a amostra apresenta uma linha assimeacutetrica extremamente bastante intensa em g =
1965(1) Este sinal como no caso da amostra TiO2NbCr 1 natildeo corresponde ao
Fe3+ sendo provavelmente relativa a defeitos intriacutensecos (Ti3+)
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x10
50
x2
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600
0
50
100
150
TiO2Fe 1 950degCATM
TiO2Fe 1 950degCAr
TiO2Fe 1 500degCATM
TiO2Fe 1 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x5
(b)
Figura 515 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) e 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2Fe 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
As amostras co-dopadas com nioacutebio e ferro (figura 516) apresentam
comportamento anaacutelogo agraves amostras TiO2 Fe 1 mostrando sinais relativos ao Fe3+
87
na estrutura do rutilo para as amostras tratadas em atmosfera ambiente e o sinal
assimeacutetrico em g = 1973(1) no rutilo tratado em argocircnio Novamente como no caso
do Cr3+ o sinal em g sim 2 pode estar distorcido em relaccedilatildeo ao espectro do Fe3+ na
figura 515 da amostra tratada em ambiente pois vimos que na dopagem com nioacutebio
existe a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial mesmo em temperatura ambiente
0 100 200 300 400 500 600
0
500
1000
1500
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
(a)
0 100 200 300 400 500 600-5
0
5
10
15
20
TiO21 Nb1 Fe 500degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCATM
TiO21 Nb1 Fe 950degCAr
TiO21 Nb1 Fe 500degCAr
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
10
Figura 516 Espectros de RPE a (a) 6 K e (b) 300 K medidos com 2 dB e 939 GHz
das amostras nanocristalinas de TiO2 NbFe 1 e tratadas a 500degC e 950degC em
atmosferas de argocircnio e ambiente
88
A amostra tratada a 500degC em atmosfera ambiente natildeo apresenta sinal quando
medida a 300 K O sinal de RPE na amostra de anatase tratada sob fluxo de argocircnio
apresenta forma diferente do sinal na amostra TiO2Fe 1 tratada sob mesmas
condiccedilotildees Na medida a 300 K apresenta um sinal fino em g = 2001(1) tiacutepico de
radicais adsorvidos na superficie que persiste na medida em baixa temperatura sendo
sobreposto a outro sinal largo assimeacutetrico
Para efeito de comparaccedilatildeo foram feitas caacutelculos dos espectros de poacute utilizando
os paracircmetros do Fe3+ substitucional e Fe3+ substitucional compensado na anatase e
para o mesmo iacuteon na estrutura do rutilo tratdos no capiacutetulo anterior (figura 517)
0 100 200 300 400 500 600-3
-2
-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(a)
0 100 200 300 400 500 600-1
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(b)
0 100 200 300 400 500 600
0
1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
(c)
Figura 517 Caacutelculos de espectros de RPE em
amostras policristalinas de TiO2 com iacuteons de
(a) Fe3+ substitucionais na anatase (b) Fe3+
substitucionais compensados na anatase e (c)
Fe3+ substitucional no rutilo todos com
larguras de linha de 3mT (--) 6mT (--) e 10 mT
(--)
As simulaccedilotildees dos espectros de RPE no rutilo representam muito bem os
espectros medidos poreacutem na anatase esse natildeo eacute o caso Na anatase a posiccedilatildeo das
linhas simuladas eacute proacutexima agraves das linhas de RPE medidas mas as formas de linha natildeo
satildeo equivalentes agraves formas de linha medidas na anatase
89
No proacuteximo capiacutetulo 6 discutiremos os resultados obtidos tanto em
monocristais quanto em nanopartiacuteculas de TiO2 em relaccedilatildeo de dados de literatura
Apresentaremos modelos para explicar as vaacuterias observaccedilotildees feitas
90
Capiacutetulo 6 - Discussatildeo
61 - Defeitos intriacutensecos em anatase e rutilo
Vimos nos capiacutetulos anteriores que o TiO2 tanto na estrutura da anatase
quanto na de rutilo eacute um material natildeo estequiomeacutetrico e que em geral o deacuteficit em
oxigecircnio confere ao material propriedade semicondutora tipo n Os defeitos
intriacutensecos esperados satildeo a vacacircncia de oxigecircnio VOuml e o titacircnio intersticial Tii
Ambos satildeo considerados doadores o primeiro um doador duplo e o segundo um
doador quaacutedruplo Caacutelculos teoacutericos em anatase mostram que a formaccedilatildeo de Tii eacute
extremamente favoraacutevel em relaccedilatildeo da VOuml [34] Aleacutem disso a formaccedilatildeo desta uacuteltima eacute
mais favoraacutevel que a formaccedilatildeo da vacacircncia de titacircnio VTi jaacute que o ambiente eacute rico
em titacircnio
Rutilo e anatase satildeo cristais com simetria tetragonal e o tensor g de defeitos
nestas estruturas possuiacute basicamente simetria axial A relaccedilatildeo entre os valores das
componentes deste tensor axial g|| e gperp estaacute fundamentalmente relacionada agrave
orientaccedilatildeo e distorccedilotildees dos octaedros formados pelos oxigecircnios que cercam o Ti em
posiccedilotildees substitucionais ou intersticiais em cada estrutura
No rutilo existem dois siacutetios substitucionais quimicamente equivalentes Estes
siacutetios satildeo idecircnticos a menos de uma rotaccedilatildeo de 90deg em torno do eixo tetragonal As
ligaccedilotildees com os vizinhos de oxigecircnio determinam os eixos magneacuteticos do tensor g as
quais satildeo as direccedilotildees [1-10] [110] e [001] A outra posiccedilatildeo onde os iacuteons de Ti4+
podem ser localizados satildeo os siacutetios intersticiais Existem quatro posiccedilotildees na ceacutelula
unitaacuteria as quais podem ser obtidas pela rotaccedilatildeo de 125deg e 90deg plusmn 125deg em torno do
eixo c
Para o siacutetio substitucional no rutilo temos quatro iacuteons de oxigecircnio a uma
distacircncia de 194 Aring e outros dois a 199 Aring formando um octaedro alongado No siacutetio
intersticial temos quatro oxigecircnios a uma distacircncia de 223 Aring e outros dois a 167 Aring
logo formando um octaedro comprimido [58] Em um octaedro comprimido os dois
iacuteons de oxigecircnio na direccedilatildeo do eixo principal satildeo mais proacuteximos do Ti que os quatro
outros oxigecircnios do plano Para este octaedro eacute esperado um g|| lt gperp Este resultado eacute
consistente com nossas medidas em monocristais de rutilo reduzido e com resultados
da literatura [ 31 68] indicando que o Ti realmente ocupa uma posiccedilatildeo intersticial
91
No caso da anatase o siacutetio substitucional eacute cercado por seis oxigecircnios que
formam um octaedro alongado sendo quatro deles a uma distacircncia de 1934 Aring e os
outros dois a uma distacircncia de 1980 Aring [59] Para o siacutetio intersticial essas distacircncias
satildeo de 1937 Aring e 2804 Aring respectivamente e tambeacutem formam um octaedro
extremamente alongado [68] Nos dois casos se espera observar nos espectros de
RPE tanto para o Ti3+ substitucional quanto intersticial um g|| gt gperp
Esta relaccedilatildeo entre os valores g na anatase natildeo eacute observada na literatura o que
se encontra satildeo os valores g|| = 1959 e gperp = 1990 [25 69] Nos trabalhos citados os
autores atribuem os espectros a um Ti substitucional Por outro lado tambeacutem existem
trabalhos [67 68 70] que interpretaram os espectros de RPE como um Ti intersticial
o qual tambeacutem eacute o nosso modelo Esta interpretaccedilatildeo tem como princiacutepio o fato de que
amostras reduzidas de anatase tecircm coloraccedilatildeo azul mostram alta condutividade e
exibem o espectro de RPE relativo a um Ti3+ [25] Em amostras de rutilo com as
mesmas caracteriacutesticas essas propriedades estatildeo associadas a um Ti na posiccedilatildeo
intersticial Logo eacute de se esperar que na anatase este iacuteon tambeacutem ocupe a mesma
posiccedilatildeo Tambeacutem natildeo eacute intuitivo que seja possiacutevel que um Ti substitucional seja
estaacutevel na valecircncia (3+) jaacute que a configuraccedilatildeo correta eacute (4+) Mais ainda natildeo eacute
compreensiacutevel que um titacircnio substitucional gere um doador raso capaz de atribuir
essas propriedades ao material
Toda esta discussatildeo acerca do Ti3+ natildeo teria sentido sem a existecircncia de um
compensador de carga O modelo da VOuml como de compensador eacute o mais aceito na
literatura [33] Poreacutem pouco se sabe sobre este defeito Provavelmente VOuml natildeo se
encontra em um estado paramagneacutetico jaacute que natildeo satildeo observados sinais de RPE A
menos dos sinais relacionados com radicais de superfiacutecie onde a vacacircncia de oxigecircnio
natildeo eacute observada diretamente e sim atraveacutes da interaccedilatildeo com moleacuteculas do meio na
superfiacutecie As vacacircncias de oxigecircnio tambeacutem satildeo propostas em casos onde a simetria
dos dados de RPE do defeito natildeo pode ser simplesmente explicada pela incorporaccedilatildeo
em siacutetios regulares da rede com simetria bem definida Com a evoluccedilatildeo das teacutecnicas
de microscopia eletrocircnica de alta resoluccedilatildeo muita informaccedilatildeo foi obtida nos uacuteltimos
anos Atraveacutes de microscopia de varredura por tunelamento (STM) alguns trabalhos
[33] propotildeem que as vacacircncias de oxigecircnio satildeo predominantemente defeitos de
superfiacutecie
Na amostra de rutilo reduzida produzida pela Hewlett Packard (HP) foram
92
observados uma seacuterie de defeitos intriacutensecos Estes defeitos estatildeo relacionados ao
titacircnio os quais foram incorporados em posiccedilotildees intersticiais na estrutura do rutilo O
defeito principal em amostras altamente reduzidas eacute o do Ti3+ intersticial Os
paracircmetros do tensor g para o Ti3+ intersticial (defeito C) satildeo g|| = 1941 e gperp = 1976
Como natildeo foi possiacutevel obter uma boa amostra monocristalina de anatase para o estudo
dos defeitos intriacutensecos foram usados os valores da literatura e a partir dos valores do
tensor g do iacuteon Ti3+ nas duas estruturas foram simulados os espectros de poacute (figura
61) A uacutenica diferenccedila entre os dois espectros nas duas estruturas eacute um pequeno
deslocamento nas posiccedilotildees das linhas de RPE
330 335 340 345 350
-04
00
04
08
12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
gpara
= 1941gperp
= 1976
gpara
= 1959gperp
= 1990
Figura 61 Caacutelculos dos espectros de RPE (largura de linha 5G) de Ti3+ intersticial
na estrutura do rutilo (--) e da anatase (--)
Observamos atraveacutes das medidas de absorccedilatildeo oacutetica (figura 41) que o processo
de criaccedilatildeo e destruiccedilatildeo dos defeitos estaacute relacionado com a reduccedilatildeo e oxidaccedilatildeo da
amostra e principalmente que este processo eacute reversiacutevel Aleacutem disso observamos
que o processo de oxidaccedilatildeo eacute mais faacutecil que o processo de reduccedilatildeo Sendo que a
oxidaccedilatildeo ocorre em baixas temperaturas da ordem de 300degC e na reduccedilatildeo satildeo
necessaacuterias altas temperaturas da ordem de 800degC e atmosferas altamente redutoras
(H2)
Tambeacutem foram medidos espectros de absorccedilatildeo de duas amostras
monocristalinas com orientaccedilotildees diferentes Na primeira amostra com a face (001)
93
exposta e outra com a face (110) exposta Submetendo as duas amostras ao mesmo
tratamento a 900degC sob fluxo de argocircnio observamos que a face (110) tem maior
predisposiccedilatildeo para a reduccedilatildeo pois foram criados mais eleacutetrons nesta amostra o que
resultou em uma maior absorccedilatildeo no infravermelho proacuteximo (figura 62) A
importacircncia deste resultado se deve ao fato de que os eleacutetrons produzidos pela
reduccedilatildeo da superfiacutecie (110) no rutilo estatildeo associados a estados criados na interface de
sistemas metaloacutexidos aacutegua por wet-electrons os quais representam o caminho de
menor energia para a transferecircncia de eleacutetrons [71] Desta forma esta superfiacutecie
poderia possuir maior potencial fotocataliacutetico que jaacute eacute comprovado na literatura [17]
400 500 600 700 800 900
02
04
06
Absorccedilatildeo (unid arb)
Comprimento de onda (nm)
subtrato sem tratamento (001) subtrato sem tratamento (110) subtrato com tratamento (001) subtrato com tratamento (110)
Figura 62 Medidas de absorccedilatildeo oacutetica em amostras de rutilo sinteacutetico com
orientaccedilotildees (001) e (110)
A partir da comparaccedilatildeo dos dados de concentraccedilatildeo de defeitos obtidos atraveacutes
de RPE na amostra da HP com os dados de concentraccedilatildeo de portadores livres das
medidas eleacutetricas tambeacutem foi possiacutevel observar a similaridade dos valores obtidos da
ordem de 1019 cm-3 e consistente com valores da literatura [20] As medidas eleacutetricas
na amostra oxidada estatildeo em andamento mas medidas preliminares utilizando um
multiacutemetro portaacutetil em ambas as amostras mostram que na amostra original reduzida o
valor da resistecircncia eacute da ordem de poucos Ω jaacute na amostra completamente oxidada
natildeo foi possiacutevel medir a resistecircncia com o aparelho utilizado Durante as medidas de
RPE tambeacutem foi possiacutevel observar a mudanccedila na condutividade da amostra A
amostra durante os primeiros tratamentos era muito condutiva e isto dificultava o
94
acoplamento da cavidade de RPE as medidas soacute foram possiacuteveis a baixas
temperaturas e por que a amostra era fina
Nas amostras produzidas via processo sol-gel nas puras e dopadas com TiCl3
tambeacutem foram observados a formaccedilatildeo de defeitos intriacutensecos Como a escala de
tamanho envolvida nestas amostras eacute completamente diferente da escala dos
monocristais anteriormente discutidos eacute necessaacuterio primeiro observar alguns aspectos
referentes agrave dimensatildeo destas estruturas para daiacute obter informaccedilotildees de como esta
mudanccedila de escala influecircncia a incorporaccedilatildeo dos defeitos e consequumlente alteraccedilatildeo
das propriedades do TiO2
A partir dos dados de difraccedilatildeo de raios X apresentados no capiacutetulo anterior foi
possiacutevel calcular os tamanhos das partiacuteculas nas amostras policristalinas Ao utilizar o
termo partiacutecula estamos nos referindo ao cristalito formado pelo empilhamento de
ceacutelulas unitaacuterias Assumimos que as amostras nanoestruturadas de TiO2 sintetizadas
atraveacutes do processo sol-gel possuem formato esfeacuterico Desta forma o tamanho de
cristalito eacute referente ao diacircmetro desta esfera O diacircmetro dos cristalitos das amostras
de dioacutexido de titacircnio produzidas neste trabalho via meacutetodo sol-gel calculado atraveacutes
da foacutermula de Debye-Scherrer estaacute na escala nanomeacutetrica A imprecisatildeo nos valores
obtidos eacute de 10
Observamos nas figuras 54 e 55 a variaccedilatildeo do tamanho de partiacutecula em
funccedilatildeo dos tratamentos teacutermicos e dopagens Comparando os valores obtidos para
cada amostra dentro de certo tratamento eacute possiacutevel levando em consideraccedilatildeo a barra
de erro encontrar um valor meacutedio em cada tratamento Os valores meacutedios satildeo
apresentados na tabela 61 Com estes valores eacute possiacutevel dizer que o tratamento em
argocircnio reduz o tamanho da partiacutecula algo em torno de 10 tanto no tratamento em
500degC quanto em 950degC
Tabela 61 Tamanho de partiacutecula meacutedio de TiO2 nos tratamentos teacutermicos
Tratamento Tamanho de partiacutecula meacutedio Reduccedilatildeo relativa
950degC ambiente (55plusmn5) nm
950degC argocircnio (49plusmn5) nm 11
500degC ambiente (14plusmn1) nm
500degC argocircnio (12plusmn1) nm 14
95
No caso das amostras puras e dopadas com 1 e 5 de titacircnio nota-se que as
amostras tratadas a 500degC apresentam o mesmo tamanho de partiacutecula dentro do
mesmo tratamento e da barra de erro (figuras 54 e 55) Desta forma o tamanho das
partiacuteculas na anatase natildeo estaacute relacionado a defeitos e eacute provavelmente controlado
por outros fatores provavelmente fatores do processo sol-gel
Jaacute as mesmas amostras tratadas em 950degC apresentam uma dependecircncia com a
concentraccedilatildeo de Ti Nestas amostras o aumento na concentraccedilatildeo do dopante no caso
Ti induz um aumento no tamanho de partiacutecula enquanto no tratamento em atmosfera
ambiente o aumento da dopagem induz o efeito oposto Esta relaccedilatildeo entre o tamanho
de partiacutecula e concentraccedilatildeo de titacircnio para os tratamentos teacutermicos nas duas
atmosferas eacute ilustrada na figura 63
0 1 2 3 4 5
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
950degC ATM 950degC AR
Tam
anho de
partiacutecula (nm)
Concentraccedilatildeo de Ti ( molar)
Figura 63 Relaccedilatildeo entre o tamanho de partiacutecula e concentraccedilatildeo de dopante nas
amostras TiO2 puro TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
Na figura 63 pode ser observado que o tamanho de partiacutecula das amostras
tratadas em atmosfera ambiente atinge um platocirc apoacutes a dopagem com 1 de titacircnio O
aumento do tamanho de partiacutecula nestas amostras tratadas em ambiente estaacute
relacionado com a incorporaccedilatildeo do dopante na estrutura com a formaccedilatildeo de TiO2
Como o tratamento eacute realizado em atmosfera ambiente existe oxigecircnio disponiacutevel
para reagir com os iacuteons Ti3+ presente no material amorfo apoacutes a secagem na estufa
Os iacuteons de titacircnio satildeo incorporados respeitando o sentido inverso da relaccedilatildeo 61
2Oo + TiTi hArrhArrhArrhArr Tii3+ + 3e- + O2 (Eq 61)
96
Os dados de RPE apresentados corroboram com este modelo pois natildeo foram
observados defeitos paramagneacuteticos nas amostras puras e dopadas com Ti tratadas em
atmosfera ambiente a 950degC (figura 57) Isto indica que os iacuteons dopantes Ti3+ satildeo
incorporados na matriz cristalina com a formaccedilatildeo de TiO2 estequiomeacutetrico
Nas medidas de RPE nas amostras TiO2 pura TiO2Ti 1 e TiO2Ti 5
tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio satildeo observados sinais paramagneacuteticos
relacionados com titacircnio intersticial e radicais de superfiacutecie Anteriormente foi dito
que o titacircnio eacute incorporado agrave rede na posiccedilatildeo intersticial utilizando os paracircmetros da
amostra bulk Poreacutem as simulaccedilotildees deste defeito natildeo representam bem as formas de
linhas alargadas encontradas nos espectros de RPE destas amostras O alargamento de
linhas de RPE pode ser explicado pelo acoplamento entre os defeitos paramagneacuteticos
desordem estrutural devido a um material altamente defeituosa ou pela mudanccedila dos
paracircmetros do Hamiltoniano de spin devido a distorccedilotildees na simetria do defeito
Um trabalho recente da Science mostra que os Ti3+ intersticiais se encontram
distribuiacutedos nas trecircs primeiras monocamadas da superfiacutecie Estes titacircnios criam um
niacutevel aceitador mais profundo que o Ti3+ convencional do bulk localizado a 08 eV
abaixo da banda de conduccedilatildeo [32] Este estado foi frequumlentemente atribuiacutedo a estados
da vacacircncia de oxigecircnio na superfiacutecie [17 72] A distribuiccedilatildeo de Ti3+ proacutexima agrave
superfiacutecie pode gerar uma distribuiccedilatildeo de valores g em torno dos valores g para o
mesmo defeito no bulk o qual possui simetria bem definida Assim a mudanccedila de
simetria dos siacutetios de titacircnio intersticiais distribuiacutedos perto da superfiacutecie pode alargar
os espectros das amostras nanocristalinas as quais possuem maior influecircncia da
superfiacutecie
A fim de calcular densidades superficiais de defeitos σ utilizamos os valores
para o diacircmetro das partiacuteculas das amostras TiO2 pura TiO2 Ti 1 e TiO2 Ti 5
tratadas em argocircnio e os valores da tabela 51 do capiacutetulo 5 onde satildeo apresentadas as
concentraccedilotildees respectivas agraves linhas de RPE do radical e do Tii3+ Naquela tabela os
valores foram calculados considerando uma massa de 50 mg de amostra e as
concentraccedilotildees satildeo dadas em relaccedilatildeo a este volume de amostra Primeiramente foram
calculados o volume e a aacuterea superficial de uma partiacutecula Em seguida foi calculada a
quantidade de defeitos existentes em um mesmo volume correspondente ao volume da
partiacutecula Considerando que os defeitos paramagneacuteticos estatildeo na superfiacutecie ou
proacuteximo a ela como jaacute foi discutido anteriormente dividimos o nuacutemero de defeitos
97
encontrado pela aacuterea superficial de uma nanopartiacutecula Observamos que σ nestas
amostras aumenta com o grau de dopagem de Ti como mostra a figura 64 abaixo
0 1 2 3 4 50
1x1010
2x1010
3x1010
50x1012
10x1013
15x1013
20x1013
25x1013
30x1013
σ de radicais
σ de Ti3+
σ (cm
-2)
Dopagem de Ti ( molar)
Figura 64 Densidade superficial de defeitos paramagneacuteticos em TiO2 em funccedilatildeo da
concentraccedilatildeo de dopante (Ti) das amostras tratadas em argocircnio a 950degC
A figura 64 indica que para um mesmo volume de amostra existe maior aacuterea
superficial e maior nuacutemero de defeitos superficiais corroborando com os dados do
artigo da Science de que os estados de Ti3+ estatildeo na superfiacutecie [32] Explicando
tambeacutem a mudanccedila dos paracircmetros do Tii3+ em relaccedilatildeo ao bulk devido agraves distorccedilotildees
causadas pela interaccedilatildeo do defeito com a superfiacutecie da nanopartiacutecula
Aleacutem disso atraveacutes das figuras 63 e 64 eacute possiacutevel dizer que o aumento no
nuacutemero de defeitos superficiais devido agrave dopagem e ao tratamento em argocircnio induz a
diminuiccedilatildeo do tamanho de partiacutecula Os defeitos na superfiacutecie geram um campo
eletrostaacutetico ao redor da partiacutecula o qual inibe a formaccedilatildeo de partiacuteculas maiores pela
junccedilatildeo entre partiacuteculas menores Podemos chamar este processo de uma surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica
Eacute interessante notar que a amostra pura de TiO2 tem um comportamento
oposto ao que foi observado nas demais amostras referente agrave diminuiccedilatildeo de partiacutecula
no tratamento em argocircnio (ver figura 54) Inesperadamente a amostra pura tratada a
950degC em atmosfera eacute menor que a amostra pura tratada na mesma temperatura sob
fluxo de argocircnio Este comportamento indica que possivelmente o Ti3+ eacute incorporado
98
em um primeiro estaacutegio em camadas pouco mais profundas mas ainda proacuteximas agrave
superfiacutecie Isto pode ser observado atraveacutes da diferenccedila na forma de linha de RPE
entre as amostras puras e dopadas com Ti tratadas sob fluxo de argocircnio (figura 65)
315 330 345 360 375
-50
-25
0
25
50
75
TiO2 puro
TiO21 Ti
TiO25 Ti
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x2
950degCAr
Figura 65 Comparaccedilatildeo dos espectros de RPE entre as amostras TiO2 TiO2Ti 1 e
TiO2Ti 5 tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
Assim para concentraccedilotildees menores que 1 de Ti3+ a incorporaccedilatildeo de Ti3+ em
posiccedilotildees intersticiais acarretaria na expansatildeo das primeiras camadas da superfiacutecie O
acreacutescimo de Ti3+ seria incorporado mais proacuteximo agrave superfiacutecie e o efeito da repulsatildeo
eletrostaacutetica teria inicio
62 - Defeitos extriacutensecos em amostras de anatase e rutilo
Tambeacutem foram estudados vaacuterios defeitos extriacutensecos nas amostras naturais
monocristalinas de anatase e rutilo Os defeitos relacionados ao cromo e ferro jaacute
foram analisados nas estruturas de anatase e rutilo monocristalino [55-58 73] Os
paracircmetros satildeo bem estabelecidos e foram reproduzidos neste trabalho A maior
motivaccedilatildeo para este trabalho de caracterizaccedilatildeo destes defeitos nos monocristais era a
confirmaccedilatildeo dos paracircmetros do Hamiltoniano de spin e a partir destes obter a base ao
estudo com as nanopartiacuteculas dopadas
Como comparaccedilatildeo para as medidas das amostras nanoestruturadas as
99
amostras monocristalinas naturais de anatase foram moiacutedas e medidas atraveacutes de RPE
Abaixo na figura 66 satildeo apresentadas as medidas da amostra de anatase moiacuteda e das
simulaccedilotildees do Fe3+ substitucional e Fe3+ compensado substitucional utilizando os
paracircmetros obtidos das dependecircncias angulares (veja capiacutetulo 4) Alguns efeitos de
alargamento foram relevados devido agrave inhomogeneidade na distribuiccedilatildeo dos tamanhos
de gratildeo que no caso devem estar em torno de micrometros Poreacutem observamos que a
forma baacutesica do espectro gerado representa bem a medida de RPE
0 100 200 300 400 500 600
(a)
RPE (unid arb)
Campo magneacutetico (mT)
50 100 150 200 250
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 66 Medidas de RPE (--) da amostra natural de anatase moiacuteda com
simulaccedilotildees (--) dos defeitos (a) Fe3+ e (b) Fe3+ compensado
A motivaccedilatildeo da dopagem com Nb em TiO2 vem do fato que o Nb5+ pode
estabilizar iacuteons cromoacuteforos de valecircncia (3+) como o Cr3+e Fe3+ que estendem a
100
absorccedilatildeo do TiO2 para a regiatildeo do visiacutevel importante para a fotocatalise usando luz
solar [38 39] Na seacuterie de amostras TiO2Nb 1 natildeo foi observado em medidas de
RPE o Nb4+ que tem spin S = frac12 em nenhuma das amostras produzidas via processo
sol-gel Poreacutem a dopagem com nioacutebio inesperadamente induziu a formaccedilatildeo de
defeitos intriacutensecos e induziu a formaccedilatildeo de rutilo no tratamento a 500degC A amostra
dopada com nioacutebio tratada a 950degC em atmosfera ambiente mostra um sinal largo de
RPE em g gt 2 com estrutura pouco resolvida Nesse caso natildeo observamos um sinal
relacionado com Nb4+ ou de Ti3+ Sugerimos que nesta amostra temos uma auto-
compensaccedilatildeo do proacuteprio Nb da forma Nb5+Nb3+ e o sinal de RPE poderia ser
atribuiacuteda ao Nb3+ (estado aceitador do Nb) com spin S = 1 que natildeo eacute conhecido
A amostra dopada com Nb tratada a 950degC em argocircnio tem caracteriacutesticas
muito interessantes no que diz respeito agraves medidas de RPE Esta amostra apresenta
sinal caracteriacutestico do Tii3+ com os mesmos paracircmetros deste defeito no bulk do rutilo
diferentemente das amostras puras e dopadas com titacircnio Com relaccedilatildeo ao tamanho de
partiacutecula esta amostra natildeo difere muito da meacutedia calculada neste tratamento Entatildeo
porque esta amostra exibe o sinal do Ti3+ do bulk
Como vimos nas partiacuteculas puras e dopadas com titacircnio o defeito Ti3+ estaacute
localizado proacuteximo agrave superfiacutecie o que distorce os paracircmetros do Hamiltoniano de
spin do defeito No caso da amostra TiO2Nb 1 tratada a 950degC em argocircnio o Ti3+
possuiacute os paracircmetros do bulk porque o defeito estaacute na posiccedilatildeo correta incorporado
mais profundamente na partiacutecula devido agrave compensaccedilatildeo de carga do Nb (Eq 52) O
Nb estaacute incorporado agrave rede como Nb5+ pois aleacutem de ser diamagneacutetico este iacuteon tem
raio iocircnico de 070 Aring muito semelhante ao valor do raio iocircnico do Ti4+ de 068 Aring
Aleacutem disso se verificarmos o diagrama de fase do sistema TiO2Nb2O5 observamos
que o Nb possui uma grande regiatildeo de miscibilidade total no rutilo para as
concentraccedilotildees e temperaturas dos tratamentos aqui utilizados [74]
Este fato tambeacutem pode estar relacionado agrave falta do sinal do radical de
superfiacutecie nas medidas de RPE destas amostras A linha fina de RPE observada (g =
2001) eacute frequumlentemente atribuiacuteda a radicais presos na superfiacutecie da nanopartiacutecula na
forma anatase como por exemplo o radical superoacutexido O2- [63] Aleacutem disso
tratamentos em mais altas temperaturas (950degC) ou tratamentos em atmosferas
oxidantes reduzem bastante este sinal A formaccedilatildeo dos radicais estaacute relacionada com a
formaccedilatildeo de vacacircncias de oxigecircnio VOuml criadas durante o processo de reduccedilatildeo como
compensadores de carga de iacuteons Ti3+ As vacacircncias de oxigecircnio formam estados que
101
interagem com moleacuteculas do ambiente transferindo cargas para estas e
consequumlentemente formando radicais adsorvidos na superfiacutecie
Como foi visto no capiacutetulo 5 as amostras TiO2Nb 1 tratadas a 500degC tanto
na atmosfera ambiente quanto sob fluxo de argocircnio apresentaram sinais de Tii3+ no
rutilo Na amostra tratada em argocircnio a razatildeo rutiloanatase foi de 10 razatildeo
suficientemente alta para ser detectada por difraccedilatildeo de raios X (figura 52) Na
amostra tratada em atmosfera ambiente esta razatildeo eacute mais baixa mas a amostra exibe
sinal de um Ti3+ no bulk do rutilo capaz de ser detectada atraveacutes de RPE (figura 59)
A amostra TiO2Nb 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio tambeacutem apresenta o
mesmo sinal mas com maior intensidade jaacute que a concentraccedilatildeo de rutilo eacute maior
nesta amostra
Estes fatos indicam que pela introduccedilatildeo de Nb5+ na rede da anatase haacute uma
segregaccedilatildeo de Nb para a superfiacutecie O Nb na superfiacutecie age como um centro de
nucleaccedilatildeo para o crescimento de rutilo [75] Desta forma eacute possiacutevel a formaccedilatildeo de
rutilo a baixas temperaturas deixando um nuacutecleo de anatase pura No trabalho
anteriormente citado os autores chegam a uma conclusatildeo oposta ao modelo aqui
proposto sobre a antecipaccedilatildeo da transiccedilatildeo de fase decorrente da dopagem com nioacutebio
Poreacutem o meacutetodo utilizado na produccedilatildeo das amostras no trabalho de Arbiol e
colaboradores eacute muito diferente do meacutetodo utilizado no presente trabalho Outro caso
onde tambeacutem se observa a diminuiccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase atraveacutes de
siacutetios de iacuteons extriacutensecos na superfiacutecie da anatase eacute o caso de amostras de TiO2
dopadas com manganecircs [76]
Um ponto que deve ser notado eacute a formaccedilatildeo de Ti3+ em atmosfera ambiente
Isto indica que a compensaccedilatildeo de carga pelo Nb eacute um processo tatildeo favoraacutevel que eacute
capaz de estabilizar caacutetions da proacutepria rede em posiccedilotildees intersticiais
A inexistecircncia de radicais e consequumlentemente de VOuml nestas amostras reflete
o fato de que o Nb faz o papel do compensador de carga antes feito pela vacacircncia
Como a vacacircncia eacute mais estaacutevel na superfiacutecie [33] o Ti3+ eacute forccedilado a estar proacuteximo a
ela na superfiacutecie Com a existecircncia do Nb sendo capaz de compensar a carga do Ti3+
no bulk perde a necessidade de serem criadas vacacircncias de oxigecircnio VOuml
A partir da identificaccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo dos defeitos intriacutensecos gerados no
TiO2 atraveacutes do tratamento nas diferentes atmosferas e pela dopagem com titacircnio e
nioacutebio examinamos a influecircncia da incorporaccedilatildeo de cromo e ferro na estrutura
mediante os mesmos tratamentos Antes eacute necessaacuterio discutir a incorporaccedilatildeo destes
102
iacuteons isoladamente na estrutura do dioacutexido de titacircnio Abaixo segue a discussatildeo das
dopagens com cromo e co-dopagens com cromo e nioacutebio O ferro seraacute abordado mais
adiante
Nos espectros de RPE da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente da figura 512 observamos espectros referentes ao Cr3+
substitucional nas estruturas da anatase e rutilo respectivamente Comparando as
simulaccedilotildees dos espectros do Cr3+ na anatase e rutilo com as medidas de RPE das
nanopartiacuteculas observamos no capiacutetulo 5 que as simulaccedilotildees na anatase natildeo
representam bem os espectros medidos Com base nas discussotildees acerca das amostras
puras e dopadas com titacircnio propomos que o Cr3+ tambeacutem estaacute incorporado mais
proacuteximo agrave superfiacutecie nas partiacuteculas de anatase No caso do rutilo as partiacuteculas satildeo
maiores e a influecircncia da superfiacutecie eacute menor De forma que no rutilo os paracircmetros do
Cr3+ do monocristal de rutilo satildeo os paracircmetros do mesmo iacuteon na nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
TiO2 Cr 1 500degCATM (300 K)
g = 1973
TiO2 Cr 1 500degCAr (6K)
-12 - -32
+32 - +12
-12 - +12
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 67 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratadas a 500degC em atmosfera ambiente e 950degC sob fluxo de argocircnio
respectivamente com as simulaccedilotildees dos espectros em anatase policristalina com
defeitos Cr3+ considerando todas as transiccedilotildees mageacuteticas isoladamente
A fim de aprofundar esta questatildeo foram simulados espectros de poacute para o Cr3+
com os mesmos paracircmetros do monocristal para todas as transiccedilotildees isoladamente
(figura 67) Observa-se que a transiccedilatildeo dominante no espectro eacute referente agrave transiccedilatildeo
103
entre os niacuteveis ms = +12rarrms = -12 Esta transiccedilatildeo gera uma linha isotroacutepica em g sim
2 (figura 420) Se aumentarmos a largura de linha na simulaccedilatildeo o espectro gerado
representa muito bem o espectro medido As linhas sateacutelites satildeo geradas pelas
transiccedilotildees ms = +32rarrms = +12 e ms = -12rarrms = -32 Estas transiccedilotildees sentem
fortemente a simetria local do defeito e possuem grande anisotropia (figura 420) Isto
provoca um alargamento mais pronunciado nestas transiccedilotildees do que na transiccedilatildeo ms =
+12rarrms = -12 nos espectros de poacute Assim como a simetria na superfiacutecie eacute bem
diferente a transiccedilatildeo central seraacute a dominante e as demais geram os alargamentos
laterais do sinal medido corroborando com o modelo do Cr3+ tambeacutem ser incorporado
na anatase mais proacuteximo agrave superfiacutecie como no caso do Tii3+
Tendo em vista que o Cr3+ eacute bem descrito por este modelo comparamos os
espectros das amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 500degC e 950degC em
atmosfera ambiente Podemos notar a grande similaridade entre os espectros destas
amostras na figura 68 medidos em 6 K
Dois fatos devem ser notados nestes graacuteficos Primeiro os espectros das
amostras co-dopadas e tratadas em atmosfera ambiente satildeo mais intensos que as
amostras apenas dopadas com cromo Isto indica maior concentraccedilatildeo de Cr3+
incorporado agrave matriz cristalina Este comportamento jaacute foi discutido anteriormente
como resultado da compensaccedilatildeo de carga devido aos iacuteons de Nb5+ Segundo nas
amostras co-dopadas em ambas as temperaturas podemos observar uma linha extra em
g = 197 Esta linha eacute claramente observada no espectro da amostra tratada a 950degC
enquanto na amostra tratada a 500degC ela estaacute superposta ao sinal do Cr3+
Como foi observado nas amostras dopadas apenas com nioacutebio foram
produzidos iacuteons Ti3+ mesmo em tratamentos em atmosfera ambiente Assim no caso
da amostra tratada a 500degC o sinal do Cr3+ estaacute distorcido pela presenccedila do Tii3+ pois
temos que notar que os fatores gs de Ti3+ isolado (defeito C) e Cr3+ satildeo em torno de g
= 197 (paracircmetros do capiacutetulo 4) No caso da amostra co-dopada tratada a 950degC o
sinal adicional em g = 1975(1) seraacute discutido mais adiante
104
0 100 200 300 400 500 600-100
0
100
200
300
(a)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-600
-300
0
300
600 (b) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 68 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Nas amostras dopadas com cromo e co-dopadas com cromo e nioacutebio e tratadas
em argocircnio acontece uma inversatildeo do que foi observado nas amostras tratadas em
atmosfera ambiente (figura 69) O sinal nas amostras co-dopadas eacute menor que nas
amostras dopadas apenas com cromo e consequumlentemente a concentraccedilatildeo de Cr3+ eacute
menor Este fato indica que haacute uma competiccedilatildeo entre a incorporaccedilatildeo de Cr3+ e Ti3+
Ou seja com o aumento na concentraccedilatildeo de Ti3+ produzido tanto na dopagem com
nioacutebio quanto no tratamento em argocircnio haacute uma diminuiccedilatildeo na concentraccedilatildeo de Cr3+
105
0 100 200 300 400 500 600
-10
0
10
20
30 (a) TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-200
-100
0
100
200(b)
TiO2 Cr 1
TiO2 CrNb 1
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 69 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 e
TiO2NbCr 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC sob fluxo de argocircnio
Poreacutem haacute um ponto em comum entre as amostras tratadas nas diferentes
atmosferas a presenccedila do sinal em g = 197 Atribuiacutemos este sinal ao Tii3+ A fim de
demonstrar que os sinais nas amostras tratadas em 500degC estatildeo deformados pela
superposiccedilatildeo deste sinal com o sinal do dopante extriacutenseco no caso o Cr3+
comparamos o sinal de RPE da amostra TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em atmosfera
ambiente e da amostra TiO2Cr 1 tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio Como jaacute foi
mostrado anteriormente o tratamento sob fluxo de argocircnio e a dopagem com Nb
106
induz a formaccedilatildeo de titacircnio intersticial entatildeo nas duas amostras temos Cr3+ e Ti3+ Na
figura 610 observamos que os sinais do Cr3+ estatildeo alargados igualmente em ambas as
amostras Portanto natildeo haacute sinal relativo ao Nb e os sinais satildeo relativos aos iacuteons Ti3+ e
Cr3+ na superfiacutecie da nanopartiacutecula
200 250 300 350 400 450 500 550-600
-300
0
300
600
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
x3
Figura 610 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1
tratada a 500degC sob fluxo de argocircnio (--) e TiO2NbCr 1 tratada a 500degC em
atmosfera ambiente (--)
320 330 340 350 360
-10
0
10
RPE (und a
rb)
Campo Magneacutetico (mT)
Figura 611 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Cr 1 (--) e
TiO2NbCr 1 (--) tratadas a 950degC sob fluxo de argocircnio
107
Nas amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 tratadas a 950degC sob fluxo de
argocircnio bem como na amostra TiO2NbCr 1 tratada a 950degC em atmosfera
ambiente observamos a presenccedila da linha em g = 197 (figuras 68 e 69
respectivamente) Os sinais apresentados pelas amostras tratadas em argocircnio satildeo
apresentados na figura 611
Observa-se na realidade que a amostra TiO2NbCr 1 tratada em argocircnio
exibe dois sinais sendo um deles o mesmo sinal da amostra TiO2Cr 1 tratada em
argocircnio poreacutem com menor intensidade Durante todo o trabalho estamos atribuindo
ao sinal fino um radical de superfiacutecie e ao sinal largo (g sim 197) o Ti3+ de superfiacutecie
mas parece que aqui natildeo eacute o caso O sinal em g = 197 da amostra TiO2NbCr 1
tratada em 950degC em argocircnio foi medido isoladamente em diferentes condiccedilotildees de
potecircncia de microondas temperatura e sob iluminaccedilatildeo como mostra a figura 612
320 340 360 380
-10
0
10
superficie(g = 2002)
LE (g = 197 HWB 7 mT)
RPE (und
arb)
Campo Magneacutetico (mT)
6K 2dB 6K 15dB 20K 15dB 20K 15dB UV
Figura 612 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE da amostra TiO2NbCr 1
tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio em diferentes condiccedilotildees de medida
O sinal de RPE medido a 6 K com 2 dB e 15 dB estaacute saturado e esta condiccedilatildeo
soacute eacute desfeita quando a amostra eacute medida a 20 K e 15 dB por isto o sinal cresce
Iluminando a amostra observamos uma diminuiccedilatildeo de aproximadamente 50 no
sinal Com os dados obtidos neste trabalho natildeo podemos dizer a qual defeito este sinal
largo estaacute atribuiacutedo Poreacutem sabemos que este sinal natildeo eacute referente ao Ti3+ O motivo
de dizermos isto se baseia no fato de que o Ti3+ introduz um niacutevel de doador raso no
gap e atraveacutes da iluminaccedilatildeo com UV natildeo seria esperado que este sinal diminuiacutesse
Pois excitando eleacutetrons da banda de valecircncia esperariacuteamos o aumento na populaccedilatildeo
108
do niacutevel localizado induzido pelo Ti3+ e consequumlentemente o aumento do sinal de
RPE deste defeito Mesma argumentaccedilatildeo vale para o estado de Nb4+ Tambeacutem natildeo
podemos atribuir este sinal ao Cr3+ pois este defeito introduz um niacutevel de aceitador e
se fosses excitados eleacutetrons deste niacutevel para a banda de conduccedilatildeo o defeito assumiria
a valecircncia (4+) O iacuteon Cr4+ possui spin S = 1 e natildeo eacute conhecido na literatura de tal
defeito em TiO2 Ateacute o momento natildeo sabemos a origem desta linha de RPE Desta
maneira neste caso outras teacutecnicas de anaacutelise seratildeo necessaacuterias
Com relaccedilatildeo ao tamanho de partiacutecula observa-se das figuras 54 e 55 que as
amostras TiO2Cr 1 e TiO2NbCr 1 possuem uma relaccedilatildeo entre si que depende
apenas da temperatura Isto eacute nos tratamentos a 500degC o diacircmetro da partiacutecula da
amostra TiO2NbCr 1 eacute menor que o da amostra TiO2Cr 1 independente da
atmosfera de tratamento Nos tratamentos a 950degC esta situaccedilatildeo se inverte Ainda sim
observamos que as amostras tratadas em argocircnio satildeo menores que as tratadas em
atmosfera ambiente o que corrobora com o modelo proposto de surfactaccedilatildeo
eletrostaacutetica Ao comportamento especiacutefico presente nos dados de DRX da seacuterie de
amostras dopadas com Cr e co-dopadas com Cr e Nb podemos apenas relacionar agrave
presenccedila da linha fina de RPE de radicais de superfiacutecie na amostra TiO2Cr 1 tratada
a 950degC sob fluxo de argocircnio O sinal de radical na superfiacutecie nesta amostra eacute o mais
intenso dentre as amostras que apresentaram este sinal pois esta amostra eacute a que
possuiacute maior aacuterea superficial
Ainda sobre os dados de difraccedilatildeo de raios X devemos dirigir a atenccedilatildeo agraves
amostras dopadas com ferro e co-dopadas com ferro e nioacutebio Nesta seacuterie de amostras
encontramos as partiacuteculas que sofreram a maior influecircncia do tratamento em argocircnio
As amostras TiO2NbFe 1 e TiO2Fe 1 possuem as menores partiacuteculas dentre as
amostras que foram tratadas a 950degC sendo esta uacuteltima a menor partiacutecula de rutilo
das amostras utilizadas no presente estudo com o valor de (20 plusmn 2) nm As demais
amostras dessa seacuterie possuem tamanho de partiacutecula meacutedio da tabela 61
109
0 100 200 300 400 500 600
-100
0
100
200
(a)
x 10
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
0 100 200 300 400 500 600
-200
0
200
(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 613 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFeacute 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 500degC em atmosfera ambiente
Com relaccedilatildeo aos defeitos nesta seacuterie de amostras o Nb natildeo eacute observado nos
espectros de RPE e se encontra na valecircncia (5+) como em todas as outras amostras
em que foi acrescido NbCl5 Os espectros de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em atmosfera ambiente (figura 613) eacute observado o mesmo
comportamento das amostras dopadas Cr e co-dopadas com Cr e Nb tratadas sob as
mesmas condiccedilotildees (figura 68) Nas amostras co-dopadas o sinal do Fe3+ eacute mais
intenso que nas amostras tratadas em 500degC e 950degC apenas dopadas com ferro
110
devido ao mesmo motivo da compensaccedilatildeo do Nb Este efeito eacute bem mais acentuado
no rutilo que na anatase
Novamente observamos nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a
500degC o alargamento das linhas de RPE devido a interaccedilatildeo do Fe3+ com a superfiacutecie
Como no caso do Cr3+ este efeito eacute decorrente do alargamento das linhas de RPE
relativas agraves transiccedilotildees entre os niacuteveis eletrocircnicos mais externos (+52rarr+32
+32rarr+12 -12rarr-32 e -32rarr-52) Estas transiccedilotildees satildeo mais sensiacuteveis agrave simetria
local do defeito por possuiacuterem dependecircncia angular mais acentuada que a transiccedilatildeo
central entre os niacuteveis ms = +12 rarr ms = -12 (figura 420)
Nas amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio observamos
mudanccedilas significativas em relaccedilatildeo agraves amostras tratadas em atmosfera (figura 614)
Primeiramente as amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas em 950degC natildeo
exibem sinais compatiacuteveis com o Fe3+ das amostras tratadas em atmosfera ambiente
Neste caso as medida apresentam sinais do Ti3+ intersticiais presentes no bulk do
rutilo (figura 58) Poreacutem o sinal extremamente intenso do Ti3+ na amostra TiO2Fe
1 tratada a 950degC sob fluxo de argocircnio mostra certa mudanccedila em relaccedilatildeo ao sinal
simulado do defeito C no monocristal da HP Na realidade o tensor g do Ti3+ nesta
amostra necessita de trecircs valores principais gx gy e gz com valores proacuteximos aos
valores do defeito C para descrevecirc-lo Desta forma ocorreu uma reduccedilatildeo na simetria
do defeito passando de uma simetria axial para uma simetria ortorrocircmbica ou mais
baixa
Isto pode ser explicado observando-se dois fatos Primeiro o espectro de RPE
na medida a 300 K desta amostra exibe um sinal largo (figura 514) indica algum tipo
de ferromagnetismo ou anti-ferromagnetismo provavelmente advindo da formaccedilatildeo de
oacutexidos de ferro A formaccedilatildeo de oacutexidos de ferro (FeO Fe2O3) acarretaria em um deacuteficit
de oxigecircnio na rede do rutilo e consequumlentemente na formaccedilatildeo de Ti3+ na estrutura
explicando a alta concentraccedilatildeo deste defeito Lembramos ainda que a amostra foi
tratada em argocircnio reforccedilando a produccedilatildeo de Ti3+ Provavelmente a formaccedilatildeo do
oacutexido se daacute na superfiacutecie da nanopartiacutecula de rutilo jaacute que natildeo foi observado sinal de
radicais na superfiacutecie do TiO2
Segundo como foi dito as partiacuteculas desta amostra possuiacute o menor diacircmetro
Assim seria plausiacutevel que mudanccedilas na simetria do rutilo devido agrave dimensatildeo da
estrutura influenciassem a simetria local do Ti3+ explicando a mudanccedila dos
111
paracircmetros do defeito
320 340 360 380
-10000
0
10000
(a)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
x 25
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
0 100 200 300 400 500 600
-50
0
50(b)
RPE (unid arb)
Campo Magneacutetico (mT)
TiO2 Fe 1
TiO2 FeNb 1
Figura 614 Comparaccedilatildeo entre as medidas de RPE das amostras TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em (a) 950degC e (b) 950degC sob fluxo de argocircnio
Na amostra co-dopada tratada a 950degC em argocircnio eacute o sinal da medida em
baixa temperatura eacute do Ti3+ do bulk como no caso do Ti3+ das amostras dopadas com
nioacutebio reforccedilando a compensaccedilatildeo do nioacutebio Outra caracteriacutestica dessa amostra pode
ser obtida na medida em temperatura ambiente onde natildeo foi observado nenhum sinal
de RPE Tambeacutem interpretamos este fato pela formaccedilatildeo de oacutexido de ferro na
superfiacutecie da amostra pois natildeo foi observado sinal de Fe3+ e nem de radicais de
112
superfiacutecie O oacutexido de ferro formado no caso das amostras de rutilo TiO2Fe 1 e
TiO2NbFe 1 tratadas em argocircnio eacute diferente Na amostra TiO2Fe 1 o oacutexido eacute
ferro ou anti-ferromagneacutetico Na amostra TiO2NbFe 1 o oacutexido eacute diamagneacutetico
Nas medidas das amostras TiO2Fe 1 e TiO2NbFe 1 tratadas a 500degC em
argocircnio observamos os dois tipos de Fe3+ apresentados no capiacutetulo 4 e 5 Os sinais satildeo
largos pelo mesmo motivo apresentado anteriormente o Fe3+ estaacute proacuteximo a
superfiacutecie Estas amostras tambeacutem indicam a compensaccedilatildeo de carga do nioacutebio
Observamos que o sinal do Fe3+ compensado por uma VOuml (sinal de baixo campo) na
amostra TiO2Fe 1 eacute bem mais intenso que na amostra co-dopada pois no caso
desta uacuteltima amostra a compensaccedilatildeo de carga eacute feita pelo nioacutebio Corroborando com o
trabalho de Horn e colaboradores [55] que atribuem sinais extras na dependecircncia
angular de amostras monocristalinas de anatase a iacuteons de ferro substitucionais
compensado por vacacircncias de oxigecircnio proacuteximas Aleacutem disso na figura 614 o sinal
do radical de superfiacutecie nas amostras tratadas a 500degC eacute bem menos intenso na
amostra co-dopada que na amostra TiO2Fe 1
Vimos nesse trabalho que os defeitos intriacutensecos e extriacutensecos nos
monocristais e nas nanopartiacuteculas de TiO2 satildeo fortemente influenciados pelo
tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e oxidantes Em geral nas nanopartiacuteculas
de anatase observamos que os defeitos satildeo incorporados proacuteximos da superfiacutecie
enquanto no rutilo difundem mais para o bulk Isso depende do compensador de
cargas associado ie da vacacircncia de oxigecircnio como compensador intriacutenseco ou de
nioacutebio compensador extriacutenseco Tambeacutem concluiacutemos que os defeitos sendo
intriacutensecos e extriacutensecos tecircm um papel importante no tamanho das nanopartiacuteculas
113
Conclusotildees
Neste trabalho investigamos defeitos intriacutensecos e extriacutensecos (Nb Cr Fe) em
monocristais e nanopartiacuteculas de TiO2 tanto na fase de anatase quanto na de rutilo
Estes defeitos tecircm um papel importante nas propriedades eleacutetricas e oacuteticas para
aplicaccedilotildees em dispositivos eletrocircnicos sensores e fotocatalise Os defeitos satildeo
fortemente influenciados pelo tratamento teacutermico em atmosferas redutoras e
oxidantes
Mostramos em concordacircncia com a literatura que o defeito principal em TiO2
(fase rutilo) deficiente em oxigecircnio TiO2-x eacute o Ti3+ intersticial que eacute um doador raso
e eacute responsaacutevel pelas propriedades semicondutoras de tipo n A amostra de rutilo
altamente reduzida tem portadores livres da ordem de 1019 cm-3 em acordo com as
concentraccedilotildees do Ti3+ determinadas atraveacutes das medidas de RPE Este defeito se
complexa sob tratamentos em atmosferas oxidantes formando pares de titacircnio
(defeito X e W) na faixa de temperaturas entre 400degC a 800degC Com este mesmo
tratamento a cor do rutilo inicialmente negra passa por um azul forte azul fraca ateacute a
amostra ficar incolor Com tratamentos teacutermicos em altas temperaturas (900degC) e em
atmosfera redutora (ArH2) a amostra volta a seu estado inicial ie fica negra e
mostra alta condutividade e de novo altas concentraccedilotildees de Ti3+ Este estudo mostra
que o processo eacute reversiacutevel fato importante para diversas aplicaccedilotildees Nossos estudos
revelam que a oxidaccedilatildeo eacute energeticamente favoraacutevel em relaccedilatildeo agrave reduccedilatildeo Aleacutem
disso mostramos que a reduccedilatildeo de rutilo eacute mais eficiente na face (110) do que na face
(001) sendo a primeira conhecidamente ser mais eficiente para o efeito fotocataliacutetico
do TiO2
Produzimos nanopartiacuteculas de TiO2 atraveacutes do processo sol-gel em ambas as
fases anatase e rutilo sob os mesmos tratamentos teacutermicos em atmosferas controladas
usados para os monocristais Os resultados de RPE nas amostras nanoestruturadas
reduzidas mostram que o principal defeito eacute o Ti3+ intersticial e que este iacuteon eacute
incorporado proacuteximo da superfiacutecie As nanopartiacuteculas produzidas em atmosferas
redutoras apresentam uma reduccedilatildeo no tamanho de partiacutecula algo em torno de 10
quando comparado agraves amostras tratadas em atmosferas oxidantes Esse fato eacute
explicado com a criaccedilatildeo de altas concentraccedilotildees de defeitos proacuteximos agrave superfiacutecie
criando um campo eletrostaacutetico que inibe a aglomeraccedilatildeo e sinterizaccedilatildeo Denominamos
114
este processo de ldquosurfactaccedilatildeo eletrostaacuteticardquo
As vacacircncias de oxigecircnio frequentemente propostas e observadas na
superfiacutecie do TiO2 atraveacutes de teacutecnicas de microscopia de alta resoluccedilatildeo aparentemente
natildeo tecircm estados paramagneacuteticos e existem predominantemente na superfiacutecie do
material ou como compensador de carga dentro do bulk Nossos estudos de RPE nas
nanopartiacuteculas associam radicais adsorvidos na superfiacutecie as vacacircncias de oxigecircnio
Em amostras reduzidas a baixas temperaturas a aacuterea superficial eacute maior e
consequentemente a quantidade de radicais adsorvidos eacute bem maior
Nas nanopartiacuteculas de TiO2 com dopagem extriacutenseca descobrimos tambeacutem
efeitos bastante interessantes Por exemplo a dopagem com Nb auxilia na formaccedilatildeo
de Ti3+ intersticiais explicada pela compensaccedilatildeo de carga Nb5+Ti3+ fazendo um
papel semelhante das vacacircncias de oxigecircnio A uacutenica amostra tratada em atmosfera
oxidante que apresentou o Ti3+ intersticial foi a com dopagem de Nb Em todas as
amostras de rutilo com dopagem de Nb os Ti3+ intersticiais se estabilizam mais no
bulk ao contraacuterio que foi observado quando as nanopartiacuteculas foram dopadas com
titacircnio Isto estaacute relacionado com a reduccedilatildeo da temperatura de transiccedilatildeo de fase
anatase rarr rutilo neste caso observada em 500degC
Em nanopartiacuteculas dopadas com Fe tratadas em atmosferas redutoras vimos
que este iacuteon eacute expulso da nanopartiacutecula na fase de rutilo e assim levando agrave reduccedilatildeo
da nanopartiacutecula para um tamanho de 20 nm que pode ser considerado bastante
pequeno para esta fase Aleacutem disso foi observada alta concentraccedilatildeo de Ti3+
decorrente da formaccedilatildeo de oacutexidos na superfiacutecie Na fase anatase dopada com Fe foi
detectado alta concentraccedilatildeo de Fe3+ compensado por vacacircncias de oxigecircnio
Observamos que em geral os defeitos sendo intriacutensecos ou extriacutensecos satildeo
incorporados proacuteximos da superfiacutecie nas nanopartiacuteculas de anatase resultando no
alargamento das linhas de RPE Isto eacute esperado pois o tamanho das partiacuteculas de
anatase eacute na meacutedia bem menor (13 nm) que as partiacuteculas de rutilo (52 nm)
A compensaccedilatildeo de iacuteons trivalentes por Nb5+ tambeacutem foi observado para
amostras co-dopadas com Cr ou Fe quando as nanopartiacuteculas foram tratadas em
atmosferas oxidantes aumentando a incorporaccedilatildeo destes iacuteons na valecircncia (3+) Esses
dois elementos satildeo considerados cromoacuteforos no estado (3+) e satildeo candidatos para
conseguir estender a fotocatalise na regiatildeo da luz visiacutevel
As nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr e CrNb tratadas em atmosfera
115
ambiente mostram que aleacutem da incorporaccedilatildeo do Cr3+ proacuteximo da superfiacutecie da
nanopartiacutecula haacute a criaccedilatildeo do Ti3+ intersticial Como se esperava a concentraccedilatildeo do
Cr3+ eacute maior na amostra co-dopada com Nb Interessante tambeacutem eacute a observaccedilatildeo dos
resultados das nanopartiacuteculas de TiO2 dopadas com Cr tratadas em atmosfera redutora
a 950degC Esta amostra mostrou a maior quantidade de radicais adsorvidos entre todas
as amostras estudas e consequentemente deve ser uma amostra interessante de estudar
o efeito fotocataliacutetico
116
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119
Apecircndice - Difratogramas em nano-TiO2 Segue abaixo os difratogramas das amostras policristalinas estudadas
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 puro
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
Figura A1 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 puras tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500 TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
900
1800
TiO2 Ti 1
Intensidad
e (unid arb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A2 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2 Ti 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
120
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
TiO2 Ti 5
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A3 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Ti 5 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000TiO
2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
700
1400
TiO2 Fe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A4 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
121
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000TiO
2 NbFe 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A5 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Fe 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000 TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Cr 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
Figura A6 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
122
25 30 35 40 45 50
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
500degCAr 500degCATM 950degCAr 950degCATM
TiO2 NbCr 1
Intensida
de (unid arb)
2 Theta
Figura A7 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb Cr 1 tratadas termicamente a 500degC e
950deg em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio
25 30 35 40 45 50
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
23 24 25 26 27 28 29
0
1000
2000
3000
TiO2 Nb 1
Intensidad
e (unid a
rb)
2 Theta
500degC Ar 500degC ATM 950degC Ar 950degC ATM
Figura A8 Difratogramas de raios X completos (esquerda) e detalhe para as
difraccedilotildees referentes aos planos (101) e (110) nas fases anatase e rutilo (direita)
respectivamente em amostras de TiO2Nb 1 tratadas termicamente a 500degC e 950deg
em atmosfera ambiente e fluxo de argocircnio