Igreja Luterana 1987 nº2

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ANO 46 - No 02 - SETEMBRO187 IGREJA LUTERANA REVISTA SEMESTRAL DE TEOLOGIA Faculdade de Teologia do Seminário Concórdia Av. Getúlio Vargas, 4.388 - Cx. Postal 202 Fone: (0512) 92-4190 93020 - Sáo Leopoldo, RS Editor: Leopoldo Heimann Conselho de Redação: Leopoldo Heimann Arnaldo Schüler Acir Raymann Vitson Scholz Composição, Arte, Diâgramaçáo e Expedifáo: Concórdia Editora A correspondência deve ser enviada ao Editor. ...................... Editorial 2 Teologia é Ciência da Igreja ...... 4 ..... A Doutrina Bíblica do Homem 10 Como Avaliar Comentários Bíb!icos . 15 ............ Estudos Homiléticos 21 .................. Comentários 74 ......... Da Direção da Faculdade 82 ............... Livros e Revistas 86 IMPORTANTE - Aceitamos livros para recensões ou apreciações. - Aceitamos permuta com revistas con- gêneres. - Aceitamos matérias voluntárias, sem compromissos de publicá-las. IGREJA LUTERANA - PAgina 1 - - -

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doutrina bíblica do Homem

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ANO 46 - No 02 - SETEMBRO187

IGREJA LUTERANA REVISTA SEMESTRAL DE TEOLOGIA

Faculdade de

Teologia do Seminário Concórdia

Av. Getúlio Vargas, 4.388 - Cx. Postal 202 Fone: (0512) 92-41 90

93020 - Sáo Leopoldo, RS

Editor: Leopoldo Heimann

Conselho de Redação: Leopoldo Heimann

Arnaldo Schüler

Acir Raymann

Vitson Scholz

Composição, Arte, Diâgramaçáo e Expedifáo: Concórdia Editora

A correspondência deve ser enviada ao

Editor.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Editor ial 2

Teologia é C iênc ia da Igreja . . . . . . 4

. . . . . A Doutr ina Bíblica do Homem 10

Como Avaliar Comentários Bíb!icos . 15

. . . . . . . . . . . . Estudos Homilét icos 21

. . . . . . . . . . . . . . . . . . Comentários 74

. . . . . . . . . Da Direção da Faculdade 82

. . . . . . . . . . . . . . . Livros e Revistas 86

IMPORTANTE

- Aceitamos livros para recensões ou apreciações.

- Aceitamos permuta com revistas con- gêneres.

- Aceitamos matérias voluntárias, sem compromissos de publicá-las.

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EDITORIRL I

No joelho ou de joelhos

Quando à forma, a semelhança A grande.

Quando ao significado, a diferença A grande.

São dois polos, distanciados pelas partículas IinguÍsticas no e de. Não são apenas gestos. São uma maneira de ser, viver e agir.

Quando um trabalho é feito às pressas, sem capricho e sem acabamento ade- quado, diz-se que foi feito no joelho.

Há um mundo de improvisação e negligência atrás do comportamento no joe- lho. É a opção pelo mais simples e mais fácil. Feito na Última hora, não há. pesqui- sa e planejamento. Esta leviandade e superficialidade podem revelar preguiça e ir- responsabilidade.

O ministro de Cristo não pode exercer seu ministério no joelho. É incapacida- de. O pastor não pode fazer seu sermão no joelho, ocupar o púlpito e sacudir a mensagem da manga. É ofensa a Deus e desrespeito ao ouvinte. O teólogo não pode fazer teologia no joelho. É o caminho mais curto para as heresias e o secta- rismo.

No joelho, não. E relaxamento. E sobre este nescio comportamento, o profeta Jeremias (48.1 0) tem uma palavra extremamente severa:

Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!

Quando um trabalho é feito com seriedade, com meditação e com a convicção de estar agindo conforme a vontade de Deus, diz-se que foi feito de joelhos.

A Escritura é rica em exemplos de homens que realizaram sua atividade de joelhos dobrados, declarando sua humildade e dependência do Senhor. Esdras (9.5), após reconstruir os muros de Jerusalém, diz: "E me pus de joelhos, estendi as mãos para o Senhor meu Deus". Joelhos e mãos erguidas aos ceus, normalmente completam o quadro dos homens de Deus que buscam a vontadese a bênção de Deus. Daniel (6.10), o profeta sob a ameaça de ser lançado aos leões, entra em sua casa, sobe o seu quarto, 'onde havia janelas abertas da banda de Jerusalém, três vezes ao dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças diante do seu Deusw. Tan- to a invocação no dia da angústia como a gratidão no dia da alegria, fazem o filho

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de Deus cair de joelhos diante do Senhor. Paulo, ao longo de suas epístolas, muitas vezes declara que "me ponho de joelhos diante do Pai" (Ef 3,14).

No Getsêmani, olhando para o Calvário, Jesus Cristo, "de joelhos, oravan (Lc 22.44). Com a "alma angustiada ate A morte", Jesus Cristo, "de joelhos,. oravaw. Em agonia, "com seu suor se tornando como gotas de sangue caindo sobre a terra", Jesus Cristo, "de joelhos, orava". Sabendo que "havia chegado a hora" de consumar a salvaçáo, Jesus Cristo, "de joelhos, orava". De joelhos, o Filho do Pai está na pre- sença do Pai.

Na praia de Mileto, há gente de joelhos. Paulo e os presbiteros das jovens congregações da Ásia Menor (At 20.17), estão de joelhos na areia. De joelhos, Paulo pronuncia o mais emocionante sermão aos pastores da igreja cristã. De joe- lhos, Paulo e os pastores oram em favor da "igreja de Deus, a qual Cristo comprou com o seu próprio sangue".

O Brasil não quer pessoas que fazem o trabalho no joelho, mas precisa de homens que sabem buscar "a paz da nação" de joelhos junto ao Senhor dos Exérci- tos. A Igreja Evangblica Luterana do Brasil não quer pessoas que fazem seu traba- lho no joelho, mas precisa de líderes, administradores, diáconos, professores e pas- tores que, de joelho, "pregam o evangelho e administrem os santos sacramentos". A Faculdade de Teologia do Seminário Concórdia não quer pessoas que fazem seu trabalho no joelho, mas precisa de funcionários, alunos e professores que, de joe- lhos, ensinam e aprendem a verdade que liberta. Precisamos deixar de fazer nossas orações, nossas devoções, nossas aulas, nossos sermões no joelho. O Senhor da Igreja quer que exerçamos nosso ministerio de joelhos em sua presença.

Não no joelho, mas de joelhos para que

"ao nome de Jesus se dobre todo o joelho,

nos c&, na terra e debaixo da terra, e toda

a língua confesse que Jesus Cristo b o Senhor,

para a glória de Deus Pai".

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Teologia é Ciência da Igreia Leopoldo Heimann

1. A vitalidade espiritual da igreja é proporcional à quantidade e à qualidade de suas pesquisas teológicas. A igreja pode ser depositária de um corpo doutrinário sadio e ortodoxo e, ainda assim, transformar-se num organismo anêmico e fraco. Zelo doutrinário e investigação teol6gica podem gerar uma igreja consciente, equili- brada e dinâmica.

2. Diante da pluralidade de velhos e novos problemas de nosso seculo, a igreja é solicitada a posivionar-se doutrinariamente e pronunciar-se teologicamente. ~sto significa que é impossível a igreja acomodar-se e recorrer a receitas teológicas prontas. A igreja não pode ficar sonhando com soluções mágicas ou fórmulas pré- fabricadas. Tal comportamento da igreja poderia significar emperramento doutriná- rio, espiritual e teológico. Pesquisa teol6gica é vida da e na igreja. A teologia é a ciéncía da igreja. A igreja precisa fazer ciência conforme a necessidade confessio- na1 e moral de hoje. Ignorar a Weltanschaiiung e o i'Jeltschmerz do presente signifi- ca pensar e faiar palavras vazias.

3. As pesquisas teológicas não podem ser confundidas com meras especula- ções filosóficas ou exercícios de loquacidades frívolas. As pesquisas teológicas, em sentido próprio, são atividades que, na realidade, apenas podem ser desenvolvidas por pessoas que crêerri em Cristo, que aceitam as Escrituras como fonte invariável e que buscam caminhos a?ropriados para o correto relacionamento entre o Criador e sua criatura. Pesquisas teol@icas exigem humildade e coragem, objetividade e sa- bedoria, discernimento e conselho do Espírito Santo. A atividade teológica da e na igreja 6 uma necessidade. Sendo necessária, ela se reveste de suma importância na vida e missác da igreja cristã.

4. Em seu prefácio ao Catecismo Maior, Lutero lembra que para se poder 'a- conselhar, ajudar, confortar, julgar e decidir em todas as coisas e casos, tanto no plano espiritual quanto no temporal, e poder ser juiz sobre doutrinas, ordens, espín- tos, direito e o que mais haja no mundo", é preciso "entender a Escritura todan, e por isso pede aos 'cristáos, pastores e pregadores que perseverem em ler, ensinar, aprender, meditar e refleti? (Livro de Concórdia, 390).

5. Fazer teologia é uma sensata aventura científica. E esta aventura científica. dada sua complexidade e responsabilidade, envolve trabalhos e condutas que Luterc

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chama de leitura, ensino, aprendizado, meditação e reflexão. É mediante a reflexão e o auxílio de instrumentos que se obtém um comportamento científico. A ciência não 6 algo estático, pronto, acabado e imutável. Atualmente,"a ciência A entendida como uma busca constante de explicações e soluçóes, de revisão e reavaliaçáo de seus resultados e têm a consciência clara de sua falibilidade e de seus limites" (CervoIBervian. Metodologia Científica, 9). A ciência é um dinânmico processo de construção. A teologia, como ciência da igreja, também.

6. Teologia A um verbete que não apaiece na Bíblia, mas que também não A contrário aos ensinos da Bíblia. Teologia, etimologicamente, 6 a junção de dois ter- mos: Theós e Iógos. O Novo Testameno fala de seus ricos e múltiplos significa- dos, especialmente de Idgos. Diante de sua variedade, o sentido correto de Iógos, em cada um dos textos bíblicos em que aparece, só pode ser conhecido e classifi- cado com o auxílio do contexto da Escritura. Logo, não basta que o tradutor da Es- critura seja um lingüística; ele tambAm precisa ser te61ogo. Ao traduzir a Revelação de Deus das línguas biblicas para as línguas vivas de hoje, o tradutor está, no mes- mo tempo, compromissado com um delicado processo de pesquisa teológica. O tradutor precisa ser teólogo.

7. A teologia, como ciência da igreja, nos faz refletir sobre o significado de seu próprio nome: Theós e Iógos, particularmente sobre a amplitude e riqueza de Iógos. O conceito mais comum e conhecido é o que apresenta Idgcs como instrumento na- tural e universal de comunicação entre os homens. É a palavra. O vocábulo. O verbete. A fala. A língua. É o rr ieh através do qual são expressos pensamentos e sentimentos. É o veículo que as pessoas usam para se comunicar e se compreen- der (Mt 8.8,16; 1 Co 14.9; Hb 12.1 9). Ldgos - palavra como instrumento de ex- pressão e comunicação verbal entre os homens.

Na prática isto significa que o teólogo também precisa ter conhecimento e do- mínio da língua em que pretende fazer teologia. A gramática náo 6 apenas uma fer- ramenta do profissional das letras. Com a troca de uma simples forma verbal, o teólogo pode perder-se entre passado, presente e futuro e, assim, fomentar heresias linguisticas e doutrinárias. É insensatez imaginar que o pastor apenas precisa co- nhecer e preocupar-se com a doutrina e não com a língua. Não existe mensagem dara sem linguagem clara. Apenas com linguagem sadia e doutrina sadia A possí- vel fazer-se ciência teológica sadia.

8. Ldgos tamb6m é empregado para descrever a mensagemque está embutida na palavra. Mas, aqui, ainda com o significado genArico de qualquer conteúdo. Pode

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ser qualquer tipo de afirmação, declaração, exposição ou recado. A palavra não 6 mais mero continente ou embalagem, mas conteúdo ou mensagem. Ela transmite um conceito (Mt 19.1 1; 26.44; Jo 4.37; 10.35; Rm 3.4; 9.6; 1 Tm 4.5). Ldgos - palavra como portadora de uma mensagem qualquer.

Na prática isto significa que o teólogo precisa estar preocupado com a força e o poder de cada uma das palavras que usar em sua investigação teológica. Toda palavra leva algum recado. E nada A tão poderoso como a palavra. Ela é um dina- mite. Da palavra de Deus, a Escritura afirma que "ela não voltará vazia" (1s 55.11), que ela "A fogo, e martelo que esmiuça a penhan (Jr 23.29), que ela "A viva e eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes" (Hb 4.12), que ela é "poder de Deusn (Rm 1 .I 6). E compreensível, porque a palavra de Deus é o veículo através do qual age o Espírito Santo. E as palavras dos homens? Pois também as más palavras dos homens são poderosas e não voltam vazias. Nada ofende e machuca tanto como uma palavra agressiva. Não existem palavras neutras, inocentes ou ino- fensivas. Rousseau afirmou: "Não olho sem tremer a nenhum dos meus livros; em vez de ensinar, eu corrompo; em lugar de nutrir, eu enveneno". A palavra 6 podero- sa. Cada palavra falada ou escrita pode ser uma bênção ou uma maldição para as gerações.

9. Ldgos ainda aparece para expressar uma série de idAias vinculadas entre si, como o discurso público, a preleção, o conselho, o sermão, o estudo, bem como o orador, o pregador, o portador da palavra. São significados restritos e específicos (At 6.4; 14.1 2; 1532; 2 Co 5.1 9; 10.1 0; Lc 1.2; 4.32). Ldgos - palavra como dis- curso público.

Na prática isto significa que o teólogo não faz teologia apenas para si mesmo, como simples exercício de passa-tempo ou auto-recreação. Teologia 4 pro- duzida para o outro, para as multidões, para o grande público. Todas as conferên- cias, as preleções, as aulas, os discursos, os sermões pronunciados pelos ministros de Cristo são manifestações teológicas. O teólogo, pois, como comunicador que fala em público aos mais diversos públicos, precisa evitar "falatórios inúteis e profa- nosn, precisa "manejar bem a palavra da verdaden (2 Tm 2.1 5,16h precisa "falar de acordo com os oráculos de Deus" (1 Pe 4.1 1).

10. Há, ainda, um significado bem especial que ldgos apresenta. E com o sentido de doutrina, ensino, educação, sabedoria, evangelho, palavra de Deus ou re- velação de Deus (Mt 11.1; 13:20; 2 Tm 1.13; 2.15,17; Lc 5.1; At 14.3; Rm 1.16). Ldgos - palavra corno ensino doutrinário.

Na prática isto significa que o teólogo A um ensinador, um instrutor, um professor, um mestre. Ao fazer teologia, o teólogo esta ensinando, instruindo e dou-

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trinando a outros. E como verdadeiro e fiel teólogo, seu ensino não pode ser um "ensino de demônios ou de espíritos enganadores" (1 Tm 4.1 j. Não pode ser ensino que envolve a mentira, o interesse próprio, as 'fábulas profanas e de velhinhas ca- ducas ou de loquacidades frívolas" (1 Tm 1.6; 4.6). Como cientista da Igreja Cristã, o teólogo faz teologia compromissado com a "sã palavra", com a "palavra digna de inteira aceitação", com a palavra que "torna sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus", com a "palavra que liberta" (Tt 2.1; 1 Tm 1.15; 2 Tm 3.15; Jo 5.38). Logo, teologia como ensino de boas novas só pode fazer o homem de Deus que "está alimentado com as palavras da f6 e da boa doutrina" e que "6 apto para ensinar' (1 Tm 3.2; 4.6).

11. João, e apenas João, apresenta Iógos com um significado muito peculiar e particular em seus escritos. Neste uso exclusivo, João emprega Idços para falar dc poder divino, através do qual Deus criou e salvou todas as coisas - Jesus Cristo, c segunda pessoa da Santíssima Trindade. Jesus Cristo A esta força que se tornou carne, gente, pessoa, homem para salvar o mundo. É- Jesus Cristo como a Palavra do Poder. É Jesus Cristo como a Palavra Encarnada. É a humanizaçáo e encarna- @o do Verbo no Salvador Jesus. E esta Palavra Encarnada, atravks da qual acon- tece a comunhão e comunicaçáo entre o Criadoi e criatura, A transmissora da graça, do amor, da verdade e da vida. "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus ... E o Verbo se fez carne, e habitou entre n6s, cheio de graça e de verdade ... a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo" (Jo 1 . I ; 1.1 4; 1 Jo 1 . I ) . Lógos - palavra como humanaqáo do prdprio Cristo.

Na prática isto significa que o teólogo apenas faz teologia quando sua pequisa teológica tiver o carimbo de cristã. E não existe teologia cristá sem "o Ver- bo que se fez came", Jesus Cristo. Cristo, como a Palavra Encarnada é, simulta- neamente, conteúdo e continente, linguagem e mensagem. Fazer teologia é mani- festar e proclamar a vida em Jesus Cristo.

12. Nem todo aquele que se diz versado nas coisas de Deus pode ser consi- derado um teólogo. Nem tudo aquilo que o teólogo pensa, fala e escreve pode ser considerado teologia. Os conceitos de Theds e Iógos. no Novo Testamento, mos- tram que o teólogo s6 pode fazer teologia enquanto ele mesmo estiver compromis- sado com o Salvador Jesus Cristo, e reconhecer a Sagrada Escritura como a fonte infalível e invariável para todas as suas investigações e conclusóes. Daí ser oportu- no lembrar a conhecida premissa que os dogmáticos, com propriedade, sublinham:

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"Quod non est biblicum, non est theologicum".

13. Não há unanimidade absoluta sobre o próprio significado de teologia. Pa- rece importante, ainda, fazer a diferença entre a teologia no sentido subjetivo e obje- tivo. Subjetivamente, teologia pode englobar todo o conhecimento individual que o teólogo tem a respeito de Deus, i.e. o que ele sabe, conhece e crê a respeito de Deus, o seu posicionamento espiritual particular. Objetivamente, porem, teologia tem significado mais amplo, compreedendo o ensino que o teólogo apresenta a res- peito de Deus, i.e. o que ele fala, ensina e confessa sobre Deus, o seu posiciona- mento acadêmico e público - teologia como ciência da igreja cristã.

Hoje, porém, quando se fala em teologia, pensa-se num conceito bem mais amplo. Teologia é considerada uma ciéncia ao lado de outras tantas ciências. As pesquisas teológicas respeitam e seguem a mesma metodologia científica das ciências humanísticas. A teologia A necessária e importante para a saúde espiritu~l da igreja. A teologia A vida na e da igreja cristã. Teologia é a ciência da igreja cris- t ã

14. A rigor, não existem teologias - no plural. Quando se fala em teologia da libertação, teologia da mulher, teologia dos negros, teologia dos pobres, teologia ca- tdlica, teologia luterana, teologia das teologias, na verdade h8 uma distorção do conceito de teologia, bem como uma mescla entre teologia, doutrina e movimentos religiosos. O teólogo pode fazer teologia sobe a libertação e sobre os probres, mas não teologia da libertação e dos pobres. Teologia apenas existe uma. Enfoques ou ênfases das pesquisas teológicas existem milhares. Teologia b ciência da igreja que, em Última análise, se preocupa com o relacionamento entre Deus, o homem e o mundo. O tedlogo, por isso, que faz teologia com a objetividade, a instrumentali- dade e a metodologia da ciência 6 um cientista. Estes cientistas da igreja cristã a Escritura chama de doutores e mestres. O pastor que não tiver estas credenciais de cientista, de doutor, de mestre e de te6logo não pode ser pastor no verdadeiro senti- do da palavra, porque se perderá em vis&s e soluções subjetivas e unilaterais.

A igreja precisa fazer teologia. A teologia B a dinâmica, a vida e a voz da igreja. A igreja que não reflete, investiga e pesquisa teologicamente - por mais ri- m que seja o seu tesouro doutrinário - cone o grande risco de estagnar, envelhe cer, caducar, fossilizar e morrer, tornando-se irresponsável e infiel ao próprio Senhor da Igreja. A IELB tambbm.

15. Como reflexão, mais uma colocação, A pesquisa teol6gica pode ter como ponto de partida e como fonte invariável um artigo de fé confessado pela igreja cris- tã. A partir deste artigo de fb, elabora novas reflexões, conclusões e soluçóes. Mas

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a investigação teológica tambem pode ter corno ponto de partida problemas que afligem a sociedade, e a Escritura como fonte infalível. A 9artir destes problemas, elaborar novos artigos da fé cristã. Nesta segunda possibilidade, encaixam-se as Confissões Luteranas, reunidas no Livro de Concórdia de 1560. Em suma, a teolo- gia como ciência da igreja deixa intocável a Revelação de Deus. A teologia, como ciência da igreja, mostra a mensagem que a Escritura apresenta para todos os pro- blemas de todas as gerações. É o que tambkm afirmam os teólogos luteranos do s k u l o XIV:

Os demais Symbola, todavia, e os outros escritos, não são juízes como o 6 a Escritura Sagrada, porem apenas testemunho e ex?osiçáo da fé, que mostram como em cada tempo a Escritura Sagrada foi entendida e expli- cada na igreja de Deus, no respeitante a artigos controvertidos, pelos que então viviam, e ensinamentos contrários a ela rejeitados e condenados (Li- vro de Concórdia, 501).

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A Doutrina Bíblica do Homem

Martinho sonntag

Há pouco tempo, foi neste ano de 1987, a ONU anunciou que a terra alcançou a marca dos 5 bilhões de habitantes.

Este dado assusta o mais superficial observador. Basta recordar o que aconte- ce no mundo. A explos5o populacional contínua e os graves, enormes e interminá- veis problemas sociais, polliicos e econômicos não permitem uma projeção alenta- dora para as próximas dkadas, se 6 que elas existirSo. Na mente dos humanos pairam dramáticas indac;ayóes. O que será de nós e dos nossos descendentes nos próximos tempos?

Os problemas ma~ifestos sáo apenas sintomas de algo muito mais profundo. E é isto que preocupa. htartirn Burber, desiludido, diz: "Quem poderá mudar esta coisa indomável, a natcreza humana? Há urna tragbdia no coração do universo." 14. G. Wells, em seu ilvro A rnenfe no limite dos seus recursos, interpretando o de- sespero da atualidade, escreve: "Não há nenhum caminho de saída, de passar ao redor, ou de atravessa:." h?. Green, no livro O mundo em fuga, escreve: "E o leitor já notou como a ficçáo cientlfica mudou a sua tonalidade? Ela não se preocupa mais com a possibilidade do progresso técnico do ser humano. Este fator já é aceito como uma reaiidade. M a está mesmo preocupada com o perigo, o tbdio, o verda- deiro inferno da situaçác hiimana que se desenvolve." O homem está confuso. Não sabe quem ele é. Não tev noçSo clara e verdadeira de sua origem e de seu desti- no. Ignora o sentido e o propósito de sua existência. Uma grande maioria da huma- nidade está num simples Dusei,~. Esta crise existencial mergulha o homem numa profunda angústia, M i o e desespero. Os homens, nesta situação, são candidatos em potencial para a brutalidade, incivilizaçáo, alienação e agressão aos valores na- turais e morais.

Quem 6 este ser humano tão perturbado e complicado?

G. Emst Wright, no livro Doutrina Bíblica do homem na sociedade, faz a se guinte colocação: "Que é o homem? Anjo ou demônio? Emerson via nele 'um deus em ruínas', Gilbert 'o único erro da natureza', Operheim 'um filho rebelde do univer-

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so', Pascal 'um juiz de todas as coisas, imbecil verme da terra, depositário da verda- de, cloaca de incerteza e erro, ~ lór ia e escória do universo'. São expressões pessi- mistas da literatura." Se o homem tem esta concepção de si mesmo, não pode es- tar apto para empreender uma vida construtiva e de valorização de si mesmo e dos outros que convivem com ele. A ruína será uma mera consequência deste conceito que o homem tem de si mesmo.

Contrastando com o pessimismo, existem os otimistas. Crêem que o homem é capaz de resolver todos os seus problemas existenciais e conjunturais a partir de si mesmo, sem intervenção capacitadora de fora (Deus, no caso). Green, citando os pensamentos de humanistas científicos, afirma: "Reconhecem que nem tudo es- tá bem com o animal humano, mas com o aperfeiçoamento da estirpe atraves da prática da eugenia e, talvez pela eutanásia, tudo ainda pode acabar sendo o melhor, no melhor de todos os mundos possíveis".

Outros, como Alexandre Comfort, acreditam que a ciência é a chave para tor- nar o homem bom e capaz de superar todas as suas dificuldades. Diz ele, no livro A antologia humanista: "Pela relativamente simples adaptação nas maneiras de viver o homem pode ser reconduzido ao estado desejável".

Os otimistas alimentam uma esperança de um aperfeiçoamento da vida hu- mana e da sociedade através da evolução natural, a partir do próprio homem. Há atk aqueles que defendem a idéia de uma sociedade perfeita, sem lutas, sem clas- ses, um paraíso aqui na terra.

O que acontece? A humanidade alimentada há muito tempo com estas idéias, desde Adáo e Eva, nunca vê chegar este paraíso. Apenas vê mais corrupçáo e des- truição. E isto os leva a uma frustraçáo individual e coletiva.

Os frustrados têm manifestaçóes típicas. Entre eles se encontram, quase que genericamente, a agressividade eíou apatia.

Perguntamos: Toda a violência individual e coletiva n i o tem aí sua explica- ção? O desinteresse, o abandono e a fuga para a vida permissiva, vida de drogas, de alcoolismo e tantas outras manifestações não são frutos de uma frustração? Os que acreditavam nas teorias utópicas e irreais vêem "o chão sumi: de debaixo de seus pés" e sua esperança tomba!

O mundo de todos os tempos elaborou conceitos contradizentes do homem. No entanto, a resposta à pergunta quanto a natureza essencial do homem não se encontra nas especulações filosóficas ou ideológicas, mas na revelação divina. Afi- nal, foi Deus quem criou o homem e sabe que ser vivente Ele criou.

Apesar de Bertrand Russel escrever no livro O culto de um homem livre que "o homem é um produto das causas que não tinham nenhuma previsão do fim que

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iriam atingir, que sua origem, seu crescimento, esperanças e temores, amores e crenças são unicamente o resultado acidental da colocaçáo dos átomos.", e apesar de o Dr. Alan Isaacs escrever em A sobrevivência de Deus numa era científica que "as propriedades que compõem as Últimas partículas ... espontaneamente interagem de certas maneiras para se organizarem (sem nenhuma intervenção externa aparen- te), em unidade de complexidades cada vez mais crescentes. Finalmente, ap6s uma série suficiente de vários estágios de organização, estes atributos incluem também aqueles que se associam com a vida, o pensamento e a consciência. Este processo parece ser auto-atuante, auto-perpetuante e reproduzível. Em nenhum estágio, por- tanto, A necessário postular uma inteligência divina", cremos que o Senhor dos c6us e da terra criou tudo do nada, providencia tudo, governa o universo inteiro com a palavra do seu poder e confere a tudo um sentido!

O que diz a Palavra do Senhor sobre o homem?

A doutrina bíbiica do homem contém três partes distintas. 1. O homem como Deus o criou; 2. O homem como ele se tornou e 3. O homem como Deus o refez.

1. O homem como Deus o criou

- Deus o criou "a sua imagem e semelhança". É a Imago Dei: perfeito conhecimento de Deus, perfeita justiça e santidade, e liberdade.

- Por isso, qualquer concepção do homem como senhor ou como coisa (massificaçáo) é uma afronta ao Criador.

- O homem 4 uma pessoa. Tem nobreza e valor. Está acima de qualquer organização humana que quer transformá-lo em meio a serviço de estruturas, orga- nizaçiies políticas, sociais ou econômicas. Estas organizações e estruturas devem estar a serviço do homem para promover seu bem-estar e o bem-comum. Todas as coisas na terra foram criadas para "estarem sob o homem."

- O homem 6 uma criatura dependente-independente, criado para a c@ munhão com Deus e com o próximo. No estado original do homem, no Jardim do Eden, ele viveu em pefleita harmonia e equilíbrio quanto às suas relações com Deus e gozava de períeita harmonia consigo mesmo e com os seus semelhantes.

- Como criatura, não pode viver livre e à parte de Deus. Toda a vez em que ele tenta ser sozinho, por conta própria, isolado do Criador e das demais criatu- ras, nega a própria essência e humanicade em que foi criado.

- '0 homem foi criado por Deus à sua imagem, por um lado para dominar o mundo, e, por outro, para adorar a Deus, e que um homem falto de uma dessas dimensões não é homem." - Jean Danielou em No princi'pio.

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- "A imagem divina chamava-se estado de integridade, porque o homem era reto e incorrupto de intelecto, vontade, afetos corporais e dotes, e perfeito em tudo". Dogmática Cristá, vol I, p. 21 1 S.

2. O homem como ele se tornou

- O homem desobedeceu a Deus. Pecou. "As vossas iniqüidades fazem separação entre v6s e vosso Deus". O pecado foi e é ainda a força deturpadora e desagregadora que arrancou o homem para longe de Deus e da norma perfeita. O homem perdeu a liberdade, foi dominado e escravizado pelo pecado. Foi corrompi- do.

- Todos os problemas, dificuldades, desequiiibrios, injustiça ... e a própria morte são conseqüência do rompimento com Deus, através da desobediência. O pecado, pois, é o gerador da destruição do homem individual e da vida em socieda- de. O suicídio do homem: a idolatria, que é a pretensão do homem moderno a con- siderar-se auto-suficiente e a não reconhecer dependência alguma.

- Todos pecaram (nm 5.12).

- Por isso, todos se tornaram nulos e estão numa perversao total (t7m 1).

- O pecado não é frustrado e não é sinônimo de içnorincia. É revolta con- tra Deus.

- A partir dai, o homem tenta, arrogantemente, resolver seus problemas,

baseado em si. Aciona mecanismos de defesa quando não conçezue resol~~êlos. Esta foi a tática de Adáo e Eva. E a tática do mundo atual. Nunca reconhece que a culpa primária é o pecado. Sempre são os outros, as estruturas e os cis!emas.

- Nenhum sistema ou estrutura, coisas externas, conseguirão resolver o drama existencial do homem, porque a causa está no seu interior.

- Lutero: "Não 6 assim que somos pecadores porque cometemos este ou aquele pecado, mas cometemos os mesmos, porque, antes de mais nada, somos pecadores". Luther's Works - vol XII, página 348.

3. O homem como Deus o refez

- Deus reconstrói o homem, a partir da graça regeneradora em Jesus Cris-

to. O refaz em conhecimento (C1 3.10) e em justiça (Ef 4.24).

- O pecado não tem mais domínio sobre o homem renascido pela graça

(Rm 6.14). Com isto o homem reconquista uma liberdade relativa.

- O homem regenerado volta a ter equilíbrio e harmonia consigo mesmo e

com seus semelhantes, a partir da reconciliação com Deus.

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- O evangelho A o poder para a salvação (Rm 1). O poder e o amor de Deus estão à disposição do homem.

- O evangelho 6 notícia genuína de uma ação divina na história, uma in- tervenção poderosa e necessária a favor do homem.

- A fé, doação de Deus, A puramente um receber, apenas um relacionar-se com a atividade redentora e recuperadora do homem.

- Graça é o favor incondicional de Deus, seu favor imerecido, revelado e atuante em Cristo para a salvação dos homens.

- Paz, saúde psicológica, equilíbrio e o bem-estar são criação da graça de Deus na vida das pessoas renascidas (Jo 3). (Antes do renascimento há insuperá- veis prejuízos nesta área).

- O evangelho não A produto de sonhos nem um sistema de pensamentos humanos, mas a verdade plena do plano de amor revelado aos homens.

- Deus ingressa na vida dos homens atravAs da obra de Jesus Cristo, dá sentido à vida humana (repõe sentido), acompanha seus filhos nesta vida com sua graça e proteção atA que cheguem, tambAm por graça, aos "novos cAus e nova ter- ra", onde, ainda por graça, herdarão a perfeição. A perfeição, por isso, é impossível nesta vida, mas somente lá na eternidade. O homem não tem recurso algum para alcançar, por si só, a perfeição individual e da sociedade.

- Aqui no mundo acontecem milagres: bêbados, injustos, caluniadores, adúlteros e ate efeminados são curados pela graça de Deus! (1 Co 6.9-1 1).

- "A nossa suficiência vem de Deus."

- 'Se cair, rrão ficará prostrado ... o Senhor o segura pela mão." (SI 37.24).

Esta A a doutrina bíblica do homem. Não relacionamos aqui todos os detalhes, mas aqueles que julgamos oportunos nesta hora.

O mundo precisa conhecer o Gênesis (o início), os Evangelhos (a redenção), o Apocalipse (%ovos cAus ...) e todos os outros livros maravilhosos das Escrituras Sa- gradas que trazem a mensagem de Deus ao homem para que ele volte a ser HO- MEM e VIVA!

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Como avaliar Comentários Bblicos?

Vilson Schok

"Qual é a sua opinião sobre aquele comentário?" "Qual é o melhor comentário de Marcos?" Perguntas deste tipo são frequentes. Como resposta, pretendemos, neste estudo, refletir sobre o gênero "comentário bíblico", apresentar alguns critérios para a avaliação de comentários e esboçar a avaliação de um comentário do Novo Testamento.

O comentário biblico

Surpreende o pouco que se reflete sobre o gênero "comentário bíblico". Edgar Krentz, um dos poucos a se ocupar com o assunto, constata que "comentários são escritos em bom número, consultados com freqüência, mas pouco analisadosn.(l)

Comentários são obras de consulta. Raramente são lidos e estudados do co- meço ao fim. Assim sendo, o autor não pode pressupor que o leitor conheça o que ficou estabelecido nas primeiras páginas. O bom autor, consciente do fato de que o leitor em geral se limita a ler um número reduzido de páginas, remete seu leitor a outras partes do comentário.

Em língua portuguesa não dispomos de tantos comentários assim. O número tem crescido, em anos recentes. Tanto editoras evangélicas (Edições Vida Nova, Mundo Cristão, ABU) como católicas (Edições Paulinas, Editora Vozes) têm publica- do comentários. Trata-se, de modo geral, de obras de cunho popular, ou seja, não se destinam apenas a especialistas.

Existem comentários sobre toda a Bíblia em um volume. Praticamente não existem em Iíngua portuguesa, a não ser na forma de Bíblias anotadas (Bíblia de J e ~sa lém, Bíblia Vida Nova). Têm seu valor, embora nem sempre auxiliem o exegeta que se dispõe a fazer um estudo mais aprofundado, à base do texto original. Se o

(1) - KRENTZ, Edgar. "New Testament Comentaries, their selection and use." Inlerpretation 36 (Oaober 1982), p. 373.

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pr6prio exegeta fizer a andlise do texto, conferir passagens paralelas relacionadas na margem de uma edição crltica do texto original, pesquisar em dicionários biblicos e teol6gicos, bem cedo descobrir4 a limitação e superficialidade de um comentário daquele tipo.

Há também coleções de comentdrios. Muitas delas foram escritas por um s6 teólogo. Exceções h parte, incluem volumes bons e volumes que deixam a desejar. São poucos os te6logos que conseguem escrever bons comentários sobre todos os livros do Novo Testamento. Em geral, o comentarista se sai melhor num ou noutro volume. Cabe ao leitor descobrir os bons volumes da coleçAo e, se possível, adquirir somente estes,

A validade da' consulta a comentários não A ponto pacífico. Algumas pessoas conseguem viver sem os comentários. Outros dependem deles por inteiro. O meie termo talvez seja correto, ou seja: não se deveria ignord-los, mas tambem não d e pender deles. Frederick W. Danker escreve: "Comentários bíblicos são valiosos auxí- lios, se usados corretamente. Agora, não se destinam a isentar o interprete de fazer seu próprio comentário do texto sagrado."(2) Deve-se resistir ao máximo Ci tentação de ler a Escritura a partir do comentário. O objetivo 6 estudar o texto bíòlico, não o comentdrio. Recomenda-se que a ida ao comentário seja o Último passo no estudo de um texto. Se assim for, o intbrprete, ao inv6s de copiar ideias, estará trocando ideias com outro interprete. Se o comentdrio apresenta a história da interpretação de determinada passagem, o leitor poderá dialogar com diferentes interpretes ao mesmo tempo.

Bom comentário 6 aquele que ajuda o leitor a vencer a distância que o separa do mundo bíblico em temos de língua, cultura, estrutura social, ideias e conceitos religiosos, etc. Em outras palavras, seu valor reside no fato de reunir num s6 lugar tudo que interesssa ao intérprete: andlise do texto, indicação de passagens parale Ias, informações histdricas e geográficas, opiniões de outros interpretes. Na verda- de, no caso do Novo Testamento, muito daquilo que faz com que o comentarista pa- reça tãc erudito está concentrado nas margens de uma edição NestleAland!

Para quem se vale de comentários (e poucos podem deles prescindir), um lembrete: os autores de comentários são fallveis (inclusive os luteranos)! Quanto mais cedo algubm se der conta disto, melhor será para ele e para sua congregação. Tal reconhecimento o levará a trabalhar por conta própria, ao menos num primeiro momento.

(2) - DANKER, Frederidc W. Mutipurpose Tcels bi Bible Slvdy. SL Louis, Concordia Publishing House, 1966, p. 272.

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Critérios de avaliação

1. É importante ter alguma informação sobre o autor. Quais são os seus pressupostos? Faz uso do método histórico-crítico? A leitura da introdução muitas vezes basta para que se descubra a linha teológica do autor.

2. Notas de pé de página falam da seriedade (ou não) da pesquisa. Em al- guns casos as notas são tão extensas que o leitor não tem coriio não perguntar: se tudo 'isso é tão importante, por que não foi incluído no corpo do texto?! Tambbm não se pode ignorar que muitos autores, apresentando nomes famosos nas notas de rodapé, talvez queiram (inconscientemente) silenciar o leitor, dizendo: "na0 conteste meu pontode-vista, pois tenho a meu favor Lenski, Cranfield, Dodd, Bruce e Bult- manr~".(~) De modo geral, no entanto, as notas de p6 de página depõem a favor do comentarista.

3. Um bom comentãrio parte do texto original e não foge da análise de ques- tões critico-textuais.

4. O melhor comentário é aquele que discute todos os sentidos possíveis (sempre que houver mais de uma possibilidade) e justifica sua opção.

5. O bom comentário mostra como a palavra se insere na frase, a frase se encaixa no pardgrafo, os parágrafos comp6em o todo. Muitos comentários primam pela abordagem analítica: vão avançando, palavra por palavra, sem indicar o que as mesmas têm a ver com o todo. Diga-se de passagem que a semântica mpderna questiona o valor exagerado dado 3 palavia em detrimento da frase. A exegese nem sempre leva em conta que as palavras, mesmo aquelas que são teologicamente pro- fundas, aparecem em frases e são, em grande parte, determinadas, quanto ao senti- do, pelo contexto.

6. O bom comentarista indica textos paralelos, sem incorrer no que se pode designar de "paralelomania".

7. O bom comentãrio não é resumido demais, mas também não é prolixo.

8. Se o texto comentado inclui passagens controvertiaas, o exame do &men- tário deveria começar por ali. A explicação de passagens difíceis ou controvertidas diz muito a respeito do comentarista.

Um exemplo de avaliação

Como exemplo, queremos' aplicar alguns destes criterios na análise de um co- mentário em língua portuguesa. Trata-se de uma obra em seis volumes, com milha-

(3) - Poderlarnos denominar isto de "intimidaçao académica"

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res de páginas, intitulada O Novo Testamento Interpretado Verslculo por Verslculo. O autor A Russell Norman Champlin. A coleção é editada pela sociedade Religiosa A Voz Bíblica Brasileira, de São Paulo. A data de publicação não 6 indicada.

Pouco se sabe do autor, embora os artigos introdutórios e o comentário como tal revelem sua linha teológica e seu método de trabalho. Champlin afirma, com to- da honestidade, que "a exposiçáo baseia-se, essencialmente, sobre os comentários em série que, em parte, representam a herança de literatura bíblica na língua ingle- ~a . " (~ ) Trata-se, portanto, de uma compilação, feita à base de Calvino, John Peter Lange, o International Critical Commentary (ICC), o Meyer's Commentary e ou- tros. Raramente um só teólogo consegue escrever um bom comentário de cada li- vro da Bíblia. Champlin se baseia em outros intérpretes. Talvez seja este um dos pontos altos da obra.

No texto, nem sempre 4 fácil encontrar determinada passagem, pois a indica- ção de capítulos e versículos é feita em letra miúda, dentro do texto e não no alto da página. O autor transcreve o texto grego, apresenta problemas de critica textual, mas, na exposição do texto, nem sempre recorre ao original. Isto facilita a leitura do não-especialista.

Muitas das informações apresentadas, na medida em que são simpies dados, são excelentes. Agora, a teologia do autor é surpreendente e compromete o valor da obra. Teremos de nos deter aqui.

A primeira surpresa resulta do exame do índice do primeiro volume. Nas pri- meiras oitocentas pAginas aparecem artigos introdutórios e o comenttrrio de Mateus e Marcos. 0 s artigos introdutbrios incluem alguns que são importantes, como: A importância de Paulo, Esboço da História da Bíblia em Português, Introdução ao Comentário Textual do Novo Testamento (escrito por Bruce M. Metzger), O Pano de Fundo Histbrico do Novo Testamento. Outros assuntos, no entanto, causam estra- nheza. Pode-se questionar, por exemplo, a importância dos diferentes argumentos em prol da existência de Deus e dum ensaio sobre a imortalidade da alma - incluí- dos entre os artigos introdutórios - para a interpretação do Novo Testamento. Por mais importantes que sejam estes assuntos, não têm nada a ver diretamente com a tarefa de interpretar o Novo Testamento. O último dos artigos introdutórios é um diálogo, escrito pelo autor, que leva o título: "Reconsiderando o evangelhon. Ocupa setenta e duas páginas. Seria perfeitamente dispensável num comentário sobre o Novo Testamento.

Cinco artigos introdutórios aparecem sob o título "O Novo Testamento: Assun- tos e Problemas". Os quatro primeiros são, de fato, problemas: O Cânon do Novo

(4) - Volume I. p8gina III

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Testamento, A Llngua do Novo Testamento, Historicidade dos Evangelhos, O Pro- blema Sinóptico. O quinto artigo constitui, ele próprio, um problema. Levanta um grave prob1err.a teológico. Mostra o quanto a escatologia de Champlin se perde em especulaçóes fantasiosas. Poupa-nos o trabalho - talvez divertido, talvez irritante .- de examinar sua interpretação do Apocalipse.

O referido artigo perfaz cinco páginas. Agora, para o autor Q muito importante. Diz ele:

O propósito deste breve artigo é fazer soar o alarma que adverte aos homens: "Os Últimos dias estão As portas". A verdade é que na igreja, em muitas Qw cas diversas, os homens têm pensado isso equivocadamente. Contudo, não pode haver dúvida de que os "tempos mudaram", e que há "muitas coisas no- vas debaixo do sol". (sic) As predições biblicas que dificilmente poderiam ser cumpridas em outros séculos, podem concretizar-se facilmente em nossa pr& pria 4poca.(5)

Champlin acrescenta mais um parágrafo, nestes termos:

Talvez a própria brevidade deste artigo charne a atenção dos leitores. Neste comentário não há artigo mais imporiante que este. (grifo nosso) Considere- mos a natureza momentosa do pensamento: "Nossa época 6 o tempo do fim. Veremos o anticristo; veremos a tribulação; veremos a segunda vinda de Cris- to; veremos o surgimento da idade de ouro". E por "n6sn quero dar a entender a geração que atualmente vive. As pessoas que agora vivem contemplarão to- dos esses acontecimentos.(6)

No artigo, o autor começa falando dos sinais dos tempos. Entre eles, o soer- giiimento de Israel. No entender de Charriplin,

nossos filhos, se não n6s, veremos Israel nacionalmente convertida a Cristo. Dentro dos prbximos 35 anos, Israel tornar-se-á poderosa nação cristã "missio- nária", a mais fanática de to ias, substituindo certas nações que agora arcam com a responsabilidade missionária. Isso será um feito do Senhor, e maravi- lhoso aos nosson olhos.(7)

Em segundo lugar, no mesmo artigo, Champlin trata da mcldagern do futuro. Ali aparecem coisas como a terceira guerra mundial, a quarta guerra mundial ...

O pensavento escatológico de Champlin é dominado por estas preocupações, como se pode perceber em diferentes lugares, no comentário. No artigo introdutório

(5) - Volume I. p8gina 180. (6) - Ibid. (i) - O texto dispensaria comentários. Um, no entanto, se faz necessdrio. A afirmaçao "dentro dos próximos

35 anos" talvez explique por que náo hd indicaçao da data em que o comentario foi escrito.

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.Jesus", Champlin trata de "Acontecimentos futuros. O conhecimento especial de Jesus." O leitor fica curioso. Champlin escreve: "A PASSAGEM MAIS FAMOSA (grifo do autor) das profecias de Jesus 6 o vig6simo quarto capltulo do evangelho de Mateus, cujo paralelo 6 o decimo terceiro capltulo de Marcos."(8) Espera-se, na se- qüência, uma análise de Mateus 24. De fato, Champlin enumera a predição da des- truição de Jerusalem, o surgimento de pseudos-cristos, etc. E eis senão quando, como s6t imo acontecimento previsto, o seguinte: "Grande e amarga perseguição contra Israel, nos dias da tribulação, intitulada angústia de Jacó. Essa perseguição será um grande agente na restauração de Israel, porquanto os israelitas entraram nessa perseguição ainda como nação que rejeita a Cristo."(g) Champlin por certo rescreveu o capítulo 24 de Mateus ou conseguiu um Novo Testamento "atualiza- do". . . !

Conclulmos esta análise com um parecer de Gottfried Brakemeier, que exami- nou a interpretação que Champlin dá ao Apocalipse: "Pena que tanto esforço cientí- fico (ao qual não deixamos de tributar nosso respeito) resultasse em conclusões teológicas tão dúbias e pobres."(lO)

( 8 ) - Volume I. phgina 15. ( 9 ) - lbid. (10) - BRAKEMEIER. Gottfried. Reino de Deus e esperança apocallptica. Sáo Leopoldo, Editora Sinodal,

1984. phgina 81, nota 25.

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Estudos Homiléticos: Trienal "B"

Foi pensando nos sermões, nas aulas de ensino religioso e nos estudos bíbli- cos e palestras que os pastores, professores e líderes leigos precisam elaborar e apresentar em suas diversas atividades eclesiásticas, que julgamos oportuno prepa- rar estes Estudos Hoinilébicos. Breve pesquisa revelou que esta é a materia mais desejada e solicitada pelos pastores.

Iniciamos com as perícopes sobre os Evarjgelhos da S6rje Triennl5. A primei- ra parte vai do domingo de Advento ao 7i domingo de Páscoa, i.e. de 29 de no- vembro de 87 ate 15 de maio de 68. A segunda parte de Esti~dos I-lomiléticos será publicada na primeira edição de 88.

Na variedade de autores, pesqiiisas e estilos revela-se uma clara unidade teo- I6gica. Esperarnos que estes Estiidos Honiiléticos possam ser úteis para "manejar bem a palavra da verdade" (L.).

Primeiro Domingo de Advento MC 11.1-10

Parece estranho que para o primeiro Domirigo de Advento o texto do Evangelho de Mar- cos nos transporte para os acontecimentos finais da vida terrena do Filho de Deus. Mas, A as- sim: o tempo de Advento A o ciclo do ano eclesiástico que rios prepara para a encarnaçao e ao mesmo tempo para a parousia.

As leituras do Evangelho nesta Série "6" compõem-se de trinta e sete perlcopes de Mar- cos (com trinta e três de JoBo, oito de Lucas e três de Mateus), enquanto nas Séries "A'e "CC" este Evangelho B completamente excluido.

A seqüência da narrativa de Marcos para este domingo enseja um sermão que pode ter como tema-sugestão:

O MESSIAS VEM A NOS I - De que maneira Ele Vem? I1 - De que Forma Vamos Recepciond-/o?

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1. Em Marcos t! a primeira vez que Jesus vem a Jerusal6m; e vem como Rei messia- nico. A entrada triunfal do Messias na sua cidade determina o cumprimento das profecias do AT (esp. Zc 9.9). AtB o momento Jesus não permitira que seus seguidores o proclamassem como Messias. Agora, sim. O aspecto de humildade, entretanto, não esta no assentar-se so- bre um jumentinho. O jumentinho, embora comum, era considerado montaria nobre. Ao prepa- rar-se para a guerra, o rei montava um cavalo (Zc 9.10); ao voltar em paz, cavalgava um ju- mento. Na Escritura, o jumento est8 relacionado ao monarca que vem em paz, e este A o sig- nificado da entrada triunfal: Jesus não vem como conquistador militar ou libertador polftico. Seu propósito, como Principe da Paz, não B a queda de Roma, mas antes a aniquilação do po- der do pecado (Gn 49.10-1 1).

2. A expressáo "no qual ainda ninguAm montou" B um eco do Antigo Testamento, Nm 19.2; Dt 21.3 e 1 Sm 6.7. Em todas essas passagens, o animal mencionado 15 envolvido num ato de remissão da culpa. O Rei-Messias caracteriza sua vinda a JerusalAm (ao mundo e a n6s!) como redernptiva (veja nesta relação a leitura do AT indicada: Is 63.16b, 17; 64.1-8, esp. 63.17b e 64.5b - 8). O Messias "vem para que sejamos libertados dos perigos ameaça- dores dos nossos pecados" (Coleta do Dia). Isto A humilhação.

3. Ao lado da messianidade, Jesus está anunciando sua divindade ao relacionar a si o termo ho kynos, termo este que a LXX emprega para traduzir Yahweh do AT. E sua divinda- de A reconhecida (v. 6). É significativo que tudo acontecesse como Jesus predisse (profeti- zou!) a seus disclpulos (cf. tamb6m 14.13-14). As contingencias evidenciam Cristo fazendo uso de seu atributo divino da profecia similar (nos detalhes) aos profetas do Antigo Testamento (esp. 1 Sm 10).

4. O processional segue com a colocaçAo das vestes (td ~mAfra) dos discfpulos sobre o jumento, seguidos pelas multidões que as colocarn no caminho. No Antigo Testarriento este gesto esta ligado 3 unção (mshah - doride vem "Messias") do rei (2 Rs 9.13).

5. As palavras que as multidócs clamarn sáo citações dc) Salmo 118.25-26. Os salmos 113-1 18 constituem o grande Hallel ("Louvor"), entoado por ocasião das festas da Páscoa e Tabernáculos celebradas pelo povo com salgiieiros e ramos dc palmeiras (Lv 23.40; cf. tam- bém Mc 14.26). Na festa da Páscoa este c5ntico acomi>antiava a imolação dos cordeiros no templo. O momento climático era o Hosana, forma aramaica do hebreico Hoshiana e que signi- fica "Salva-nos!". Em Marcos (como nos demais evangelistas) a multidão entoa "Bendito o que vem em nome do Senhor (Yahweh)". A expressáo hÓ erchbmenos 6 um tfiulo estritamente messiânico (cf. Mt 11.3). "Em nome" não significa apenas um ato de representação, mas sim o pr6prio Deus se revelando (9.37). Hd erctibrnenos e hd erchornénee Basileia estão intima- mente ligados. Rei e Reino são inseparáveis. Não há razão para se tomar essa atitude da multidão como meramente circunstancial ou decorativa, desprovida de confiança, legitimidade, fA. Veja-se que este epis6dio é precedido pelo milagre da cura da cegueira de Bartimeu em Je- ric6 (10.46-52), onde Jesus recebe uma aclamação rnessiânica - diretamente, a única em Marcos (veja tambAm Is 11.1-3; Jr 23.56; Ez 34.23-24).

6. O Rei continua vindo e tornando presente, vislvel o seu Reino entre n6s. Sua mani- festação pela Palavra e Sacramentos 8 um convite para que o recebemos neste inicio de ano eclesi8stico como o Messias e com ele permaneçamos "ate que ele venha" (1 Co 11.26). Feliz Ano Novo. Acir Raymann

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Segundo Domingo de Advento

MC 1.1-8

Curiosamente, Marcos inicia seu evangelho não com um prólogo ou narrativa a respeito do nascimento de Cristo mas com um relato sobre a pessoa e atividade de João Batista. Ele A o "mensageiro", a "voz". Nesse sentido Joáo B um cumprimento da profecia vetero-testa- mentária (Dar a leitura do AT de 1s 40.1-1 1). No vers. 7 Joáo é um kerics, um precursor, arauto que, com voz alta, anuncia exatamente o que seu superior (aqui evidentemente Cristo) lhe or- denou anunciar. Homileticamente, 6 oportuno lembrar que este aspecto da profecia não se en- cerra com João. Ele tem continuidade com a Igreja de Deus hoje. Por isso, uma sugestão pa- ra o sermão poderia ser:

NÓS - PRECURSORES DAQUELE QUE VEM.

1. O primeiro vers. é uma cláusula nominal. É o título do livro. A expressão "Jesus Cristo, Filho de Deus" A uma combinação que não se encontra em outra parte no NT. e uma expressão que evidencia a plenitude de Jesus nas suas naturezas humana e divina. "Jesus" - nome pessoal, dado por Deus; A comum; equivalente a "Josué", ou seja, "Yahweh é salva- ção" e veio para "salvar o seu povo dos pecados deles" (Mt 1.21). "Cristo" é um título grego equivalente ao hebraico "Messias", significando "O Ungido". "Filho de Deus" expressa a natu- reza divina de Jesus. Ele não é apenas o homem Jesus; não apenas o Cristo, ungido pelo Espirito Santo. Ele é tamb6m um com Deus. 0 s dois tltulos "Cristo" e "Filho de Deus" for- mam a temática do evangelho de Marcos.

2. Marcos apresenta o "evangelho" como cumprimento exato das profecias do AT: "conforme está escrito ... apareceu Joáo". A referência 6 significativa porque, em l Q lugar, Marcos naturalmente coloca em evidência a autoridade das Escrituras do AT. A citaçáo é co- mo um parêntesis. Por outro, Marcos, via de regra, não cita o AT exceto quando o pr6prio Je- sus o faz. Aqui ele une duas profecias: Malaquias 3.1 e Isalas 40.3. Isaias é citado nominal- mente talvez pelo fato de a segunda referência ser mais preponderante e por ter Marcos em mente a descrição que Isaias faz do "Servo do SENHOR", ênfase que este evangelista tam- bém da à pessoa de Cristo. Ambas as citações referem-se a uma visitação divina e h sua pre- paraçáo. Na 13 o SENHOR vem ao seu templo, em julzo; em Isalas, ele vem como o Reden- tor do seu povo em exilio. A menção destas profecias visam demonstrar que o ministkrio de Jesus começa no AT. Ademais, o contexto hist6rico dessas profecias mostram que o bin6mio LeiIEvangelho fazem parte do seu "evangelho".

3. "Preparai ... endireitai" - a linguagem reflete o costume no Antigo Oriente Pr6ximo de o monarca enviar representantes que o precediam no preparo de uma visita que tencionava fazer. Em Isaías trata-se do preparo de uma estrada para o processional de Yahweh ao seu povo. A linguagem é figurada e retrata a situação do coração do povo. Vales, montes, outeiros devem ser nivelados: é uma tarefa sobre-humana. Apenas Yahweh com seu poder e graça pode construir vereda plana através desses obsti5culos. Por isso João prega "Arrependei-vos" (Mt 3.2; veja também a epfstola para hoje de 2 Pe 3.8-14, esp. v. 9b). Impenitência eleva montanhas; arrependimento aplaina o caminho para o SENHOR. Os imperativos pertencem

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ao campo da santificaçao, náo da justificaçao. Nesse sentido B um "dever", não na compulsáo externa da Lei, mas na energia interna do Esplrito Santo. É a preparatio evangelica.

4. Embora a aparbncia de JoBo o distinguisse dos que o mundo considera importantes (Mt 11.8), ela se dava como um protesto contra o esplrito materialista da época (o pregador po- de relacionar esse fato As preocupações similares em geral nessa Bpoca do Natal). Nas pala- vras do anjo Joáo B um nazireu (Lc 1.15); Lutero o chama de "lgneo anjo São Joáo, pregador do verdadeiro arrependimento" (Art. de Esmalcalde 330,30). O pr6prio Jesus o lembra como o maior no reino de Deus (Lc 7.28). Náo obstante, João mesmo tinha consciência de sua peca- minosidade necessitando do perdão como outro qualquer (Mt 3.14). Embora confundido com Cristo (Lc 3.15; Jo 1.20), considerava-se indigno dele (v. 7) porque ele era "mais poderoso" - una referencia à posse do poder por ser divino e por ser o que batiza "com o Esplrito Santo" (v. 8).

5. Marcos apresenta três elementos que caracterizam a pregação do Batista. a) ecso- rnologéomai - confessar, admitir publicamente. É provAvel qiie uma confissão verbal dos pe- cados antecedesse o batismo; b) babtisma metanolas - o genitivo 6 descritivo e caracteriza o batismo de Joao, ou seja, vinculado ao arrependimento. Embora esta seja a única vez que Marcos fale em melánoia, ele B um aspecto muito enfatizado por João em suas pregações; c) afesis - vem de afiem;, "lançar para longe" (SI 103.1 2; 1s 43.25; Mq 7.19), onde até Deus es- quece.

6. É interessante que João (como Jesus mais tarde) procura não mencionar o tftulo "Messias". Certamente devido à conotaçáo polltica que o povo vincula ao tempo. Mas o con- ceito eslA inteiramente impllcito no verbo Brchefai (Mt emprega erchdmenos - vf, perlcope ref. I? Dom. Advento). Esta é uma expressão peculiar referente ao Messias. Esta baseada em expressbes como de Gn 49.10. A enfase esta dada pela colocac;ão do verbo no irilcio da sen- tença. O aoristo sbábtisa descreve o trabalho de Joáo enquanto babtkei aponta para a obra de Jesus por vir (veja At 1.5). Na sua essência e eficacia n30 se pode diferenciar o batismo de Joao (hiidati) do batismo "Daquele que vem" (pneuma haglcon). Ele não 6 rnenor ou inferior ao batismo "com o Esplrito Santo" (os batizados por JoBo nBo foram rebatizados por Jesus). Muito menos significa que naquele o Esplrito Santo estava ausente. Não hA "remissão de pe- cados" sem a atuaçao do Esplrito Santo. O batismo de João A (de novo) ainda um tipo de ba- tismo maior que virá na sua plenitude no Pentecoste onde o "Filho de Deus" derramará o seu Santo Esplrito em abundancia (Mt 3.1 1 acrescenta "e com fogo", para enfatizar este aspecto). Deve-se lembrar que o Esplrito Santo nao B o meio como a Agua. Eis uma oportunidade de o pregador ressaltar o valor e o poder do nosso batismo.

7. Uma ilustraçao - quando pretendemos fazer uma ligação corri discagem indireta A distancia e a ligaçao demora a se efetuar, a telefonista nos tranqüiliza: estou.tentando a liga- çBo. Ao conseguir a conexáo imediatamente a telefonista desaparece e nos deixa em contato direto com a pessoa com quem queremos falar. O prop6sito de Joáo náo era ocupar ele mes- mo o centro do cenario, senao apenas "ligar" as pessoas com aquele que era "mais poderoso" do que ele. Esta 13 a funçáo da Igreja, a nossa funçáo.

Aclr Raymann

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Terceiro Domingo de Advento

JO 1.6-8,19-28

A visão geral da matéria abrange a vida de Joáo Batista (o mensageiro), o conteúdo do texto e seu contexto (a mensagem) e a lição do dia (o significado de Advento para nós).

João Batista. 1) Referências no A.T. - Is 40.3 (Voz do que clama no deserto); MI 3.1 (Eis que envio o meu mensageiro); MI 4.5 (Eu vos enviarei o profeta Elias). 2) Referências no N. T. - Lc 1 (Anunciaçáo, etc.) V. 80 (O menino crescia e se fortalecia no espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que devia manifestar-se a Israel). Seu ministério: um ano e oito meses (Ele era a Ismpada que ardia e alumiava) Jo 5.35; o batismo de Jesus (Mt 3; Mc 1; Lc 3; Jo 1); o testemunho acerca de Jesus (Jo 1 .I 5-36; 3.22-36). O fim de João - preso du- rante 11 meses (Mt 14; Ma 6; Lc 3); Mensageiros a Jesus (Mt 11; Lc 7); morte de João (Mt 14; Mc 6; Lc 9) em começo ou meados 29.

0 contexto - No seu prólogo do evangelho (Jo 1.1-14) Joáo une sua voz a do pre- cursos para abrir-nos o véu de um mistério grandioso, "guardado em silencio nos tempos eter- nos", conforme Paulo se expressa, Rm 16.25. É o mistério em torno do Verbo, que era Deus e se fez carne entre nós. Culmina o prblogo nas verdades (1.16-18): 1) NinguBm jamais viu a Deus; 2) O Deus unigênito no seio do Pai 6 que O revelou; 3) De sua plenitude recebemos graça sobre graça.

O texto - que dizem as palavras:

Vv. 6-8. "Houve um homem" - não urn anjo ou um mediador, no entanto, nasceu por intervençáo milagrosa, cheio do Espírito Santo (Lc 1.15). "Enviado por Deus" - não visava planos pessoais, tinha missão exclusiva, vida engajada, vida-tarefa. Nome promissor (Lc 1.13 "Deus tem sido gracioso"). "Testificar" é incumbência Única e sumamente importante: vida ou morte, luz ou trevas, todos os homens envolvidos; testemunha não 6 juiz, não lhe cabe mane- jar e adaptar seu depoimento ao sabor da época. Fidelidade para com a palavra de Deus. Al- mas em perigo.

Vv. 19,22,24. A delegação do sinédrio de Jerusalém, a suprema corte civil e espiritual dos judeus, composta de sacerdotes e levitas (ministros do santuário e seus auxiliares), na maioria fariseus ("seita mais severa da nossa religião" At 26.5) interroga a João, que jA está pregando há 40150 dias. Eis a pergunta: "Quem és tu?" Não perguntam: "Que ensinas?" mas indagam a respeito de sua pessoa. Pelo que podiam averiguar, nada de censurável constava em seu desabono, pois era austero no viver e vigoroso no falar, não poupando a quem merecesse censura. E João compreendia a linguagem. Sabia com que o confundiam. Daí sua resposta, negativa, em tom decisivo, cortando objeções.

V. 20 - "Ele confessou e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo", cf. 3.28. O historiador Lucas (3.15) relata "que o povo todo estava na expectativa e discorria no seu intimo a respeito de João, se não era ele, porventura, o próprio Cristo". O porquê da expectativa: 1) Idéia errônea do reino de Deus - reino visível, teocrático, poderoso, contrariando Jo 18.36;

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Lc 17,21. 2) Crises pollticas sufocavam o povo (Roma, Herodes, Pilatos). 3) Igreja em rufnas: Culto formalista dos fariseus (Mt 23); racionalismo dos saduceus; indiferenlismo e materialis- mo do povo (Mt 15.8) que busca o páo terreno mas rejeita o pão da vida (Jo 6.15). - Havia só uns poucos que "esperavam a consolaçáo de Israel" (Lc 2.25). Dáo notlcia os rolos do Mar Morto de vsrios grupos de essênios que em vida comunitgria viviam em desertos, distantes dos incrbdulos, h espera do Messias para o juízo final. Samaritanos havia que tambbm espe- ravam pela vinda do Messias. Jo 4.25.

Vv. 21 - "És tu Elias? ... És tu o profeta?" Elias, figura insigne na história do povo de Israel, lutador intrbpido, homem de fb, homem de oração (Tg 5.17,18). O anjo Gabriel explica a Zacarias a profecia MI 4.5: "Ele irA adiante dele no esplrito e poder de Elias" (Lc 1.1 7). Jesus o confirma (Mt 17.13). - És tu o profeta? Façamos distinção entre o profeta e um profeta. Os profetas perfaziam os orAculos divinos em tempos conturbados e guiarem o povo da aliança segundo a vontade de Deus. Quanto ao profeta prometido em Dt 18.15,18, ele se identifica com o Messias, prefigurado por MoisEs (Dt 34.10), que numa pessoa reunia as funções de chefe, libertador. guia, legislador, jiiiz, sacerdote, intercessor e mediador do povo. - Muitos aguardavam a vinda do profeta nos moldes de Moisés. João os decepciona; sua resposta é negativa. Mas a delegação insisle, quer que Joáo se identifique.

V. 23 - "Eu sou voz", nada mais. N5o uso espada, não faço sinais (Jo 10.41). S6 a voz, mas nada menos. A palavra pode derrubar reinos, pode mudar o curso da hist6ria; pode transforrnar a vida de um homern. É v07 no "deserto", eni me10 3 solidáo das massas, onde o homerri está s6, arrastando o fardo do pecado. O deserto vazio, a alma varia. Mas a voz cla- ma alto. Toda a Biblia é um falar, chamar, convidar - a começar pelo A T., onde, no rolo de Isalas (40.3), João se acha, sua voz eni missáo. E a delegaçáo do sinbdrio certamente anotou a passagem (o mesriio que Jo5o fez rio seu evangelho): "Eu sou voz do que clama no deser-. to: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isalas." O Senhor esta a caminho, a caminho da terra que ele criou (o primeiro advento) e está a caniir'iho de cada homem a quem traz luz e vida (leu e nicu advento). É o reino dos céus em marcha. Só que o caminho esta obstruido - por culpa do prbprio hoinern. Apenas a voz do deserto pode remover os obstá- culos. Eis em Mateus a primeira mensagem no descrto: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus." (3.2). Com as mesmlssimas palavras, o Verbo eterno inicia, semanas mais tarde, seu ministério (Mt 4.17), e o continua a16 hoje através da ordem expressa "que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados, a todas as nações" (Lc 24.47). Assim a voz prega lei, que ameaça e pune (Mt 3.7 ss.) e que leva à contrição, e prega o doce evangelho, que traz perdão, luz e vida. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" Jo 1.29. - Mas o precursor também batizava, e era esse mais um destaque na agenda da delegaçáo.

Vv. 24,25 - "Então por que batizas, se não 6s o Cristo nem Elias, nem o profeta?" Se 8s um ser comum, igual a n6s, com que direito iniciais uma nova praxe na igreja, diferente das abluçóes prescritas nos livros de MoisBs? - Eram os fariseus um tipo de fiscais da vida religiosa do povo, fiscais severos, presos as ordenanças, aos mínimos detalhes dos rituais, "negligenciando os preceitos mais importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fB" (Mt 23.23). O que mais os embaraçava era o fato de Joáo fazer de uma "abluçáo" um "batismo

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de arrependimento para remissão de pecados" (Lc 3.3) - algo inconcebfvel para um fariseu como para todo aquele que julga entrar no céu por próprio merecimento, dispensando ajuda alheia.

V. 26 - E nesta direção que vai a resposta de João. Da sua pessoa, a respeito de cre- denciais, etc. Ele aponta para a fiyi~ra central que merecia toda a atenção: o Messias. "Vós não o conheceis." Não examinais as Escrituras (Jo 5.39). Eis por que o mundo não o recebe. E João esclarece. "'Eu batizo com água" - pois será o elemento visível da riova aliança: en- qi.ianto ele, corn sua autoridade divina, "vos batizará com o Esplrito Santo" (Mc 1.8). O que isto significa, FJaulo o dirá: "Náo por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua mi- seric6rdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espirito Santo, que ele derramou sobre ri6ç ricamente, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador." (Tt 3.5,6).

V. 27 - Jo5o Batista dã por encerrada a inquirição e no thrmino reforça o NP,O dado, confessado, repetido dcsde o começo: Não sou.. . "não sou digno de desatai'..lhe as correias das sandhlias". Náo sou digno de ser o precursor de quem "jã existia antes de mim" (Jo 1.30),

e a respeito de quem tenho testificado que ele 6 o Filho de Deus" (Jii 1.34). Por isso "convBm qi.ie ele cresça e quc cu diminua" (Jo 3.30).

Sugcstõcs de disposições:

O GRANDIOSO MISTERIO DO ADVENTO "GUARDAD(3 EM SIL~NCIO NOS TEMPOS ETERNOS" '(Rm 16.25)

1 . Ninguém jamais viu a Deus

2. O Deus unigênito no seio do Pai o revelou (Verbo)

3. De sua plenitude rcccbcmo:; qraça sobre graça

A VOZ DE ADVENTO DOS DOIS TES77iMEIV7 C:!$: ESTA F 'H~XIMO O REINO DE DEUS!

1. Passai, p;ir,sai pelas porias

2. Prepara;, prcparai caminho ao povo (1s 62. "1)

ADVENTO PELA VOZ DO DESERTO NOS CONCiAMA:

1. Arrependei-vos

2. Produzi fruto digno de arrependimento (Mt 3.8)

JESUS ESTÁ NO MEIO DOS HOMENS

i. Um desconhecido para os que o desprezam

2. Glorificado e testemunhado pelos seus seguidores Otto A. Goeii

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Quarto Domingo de Advento LC 1.26-38

João Batista 6 um marco importante na história bíblica, a história da salvação. O profeta Malaquias (4.5) faz referência a ele, chamando-o de "Elias" (Elias foi o profeta doATque fez o p:to de Israel abandonar o falso deus Baal e voltar-se para o Deus verdadeiro, 1 Rs 18). E Jesus, mais tarde, confinaria que João Batista era o "Elias" que estava para vir (Mt 17.9-13).

Por que relembrar João Batista neste texto que prediz o nascimento de Jesus? Porque este evangelho começa com as palavras: "No sexto mês...". Sexto mês desde o que? Desde que o mesmo anjo Gabriel anunciara a Zacarias o nascimento de João Batista e o que João vi- ria a ser.na história sacra: Lc 1.1 3-17.

O anjo Gabriel é enviado a uma virgem de Nazaré, chamada Maria. Isafas (7.14) já pre- dissera o sinal que o Senhor mesmo daria: "Eis que a virgem conceberá, e dará A luz um filho, e lhe chamará Emanuel." O anjo saudou Maria: "O Senhor é contigo" (v. 28); mas Maria per- turbou-se; ficou confusa; a saudação desconcertou-a e ela pôs-se a pensar no significado dessa saudação.

Então o anjo lhe diz o que realmente iria acontecer (v. 31-33). E diante da ainda perplexa pvem, o anjo diz como ela, solteira, viria a ser mãe do Filho do Aitíssimo (v. 35).

Que pregação! Que graça! Mana não s6 receberia Jesus em seu coração, como todos os que nele crêem, mas o abrigaria em seu ventre! Dentro dela o Filho de Deus se tornaria carne!

Correta, bonita e exemplar foi a reação de Mana após a pregação do anjo: "Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra" (v. 38).

JESUS CRISTO SERA GRANDE

I - Como filho de Deus

11 - C o m filho de Mana

A - O texto precisa ser esclarecido com o contexto, porque a expressão "no sexto mês" liga este evangelho aquilo que já antes é dito sobre João, que esta ligado ao AT (MI 4.5). Também pode ser abordada a ligação de Jose cornm o rei Davi (2 Sm 7.12-14). Oferece boa oportunidade para abordar a doutrina das duas naturezas em Cristo (2" Ari. do Credo; CI 2.9).

B - A mol&stia a ser atacada 6 a rejeição de Cristo no Natal materialista de nossos dias, bem como o desprezo que se faz a Cristo em todos os segmentos da vida moderna. A mol6stia é o pecado inato nas pessoas, o qual se manifesta em sintomas diversos e leva A condenação eterna.

C - O meio para salvar as pessoas 6 Jesus, que este evangelho descreve como Rei

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eterno, Filho do Altlssimo, o ente santo, o qual torna todas as promessas de Deus possfveis de serem cumpridas: Jesus, nascido homem, torna possfvel que Deus nos perdoe, fortaleça com o Esplrito Santo e nos salve pela fé nele.

D - O objetivo a ser alcançado A o de que as pessoas, crendo em Cristo, sirvam ao Senhor com prontidão e alegria. Aqui Maria se torna um belo exemplo a ser imitado. O Natal quer colocar Cristo dentro de nossa vida, para dar-nos paz com Deus, alegria permanente e levar-nos a servirmos a Deus com alegria.

Conclusáo: Preparemos, mediante arrependimento sincero, os corações para ver, re- ceber com fé, adorar e servir d Cristo, neste Natal e sempre!

Curt Albrecht

Festa de Natal Lc 2.1-20

Este relat6rio do nascimento de Jesus, por Lucas, A maravilhoso, espetacular, sensacio- nal, sob todos os aspectos, porque: 1) relata um fato único, jamais repetido na História: o nas- cimento do Salvador da humanidade, prometido desde após a queda no Éden. O Filho de Deus se fez homem; 2) é suscinto, todavia completo. Diz tudo o que precisamos saber a respeito deste fato: quando aconteceu (v. 1-3), identifica JosA e Maria ( 4 3 , em que local ocorreu (6,7), que gente estava por perto (8), a presença dum anjo do Senhor (9), a mensagem, o evangelho, Cristo, é anunciado (10-12), a participação duma millcia celestial (13,04), a reação dos pasto- res & mensagem (15-1 7), a reação dos que ouviram o relato dos pastores (Ia), a atitude devo- cional de Maria (19), e o espirito cúltico dos pastores de glorificar e louvar a Deus (20); 3) contém o próprio Jesus tornando-se o Salvador do seu povo dos pecados deles. É o texto da Boa Nova de grande alegria!

TRAGO-VOS BOA NOVA DE GRANDE ALEGRIA

I - Porque nasceu o Salvador 11 - Porque 6 para todo o povo

A - Texto: Vers. 1-7 - O decreto do imperador, o recenseamento, o corre-corre do alistamento: gente em trânsito para todas as direções, o parentesco de José e Maria com Davi (BelAm), a dificuldade de Maria (final de gravidez) e a falta de lugar na hospedaria. Promessas messiânicas sendo cumpridas (1s 7.1 4; 9.2,6; 11.1,2; 12.1 -5).

B - Molkstia: Não havia lugar para o Jesus nascente na hospedaria. Não há lugar para Cristo, o Senhor, no coração e na vida das pessoas. Às vezes, até na própria igreja náo há lu- gar para Jesus. O AT, 1s 60.12, anuncia sentenciando: "Porque a nação e o reino que não te

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(a Jesus) servirem, perecerão; sim, essas nações serão de todo assoladas." TambAm tu, com teus pecados, rejeitas a Jesus como teu Senhor; por isso mereces ser condenado e as- solado no inferno eternamente!

C - Meio: Todavia, o Salvador nasceu! E esta A "a boa nova de grande alegria" que vos trago. O Salvador nasceu no tempo certo: GI 4.4,5, porque: Jo 3.1 6; e assim: Jo 1.14.

Este Jesus Salvador diz: Jo 6.37b e garante: Jo 6.47. Crê nele. Aceita-o em tua vida por teu Salvador. Então terás grande alegria; terás a alegria do perdão dos teus pecados e de seres um filho querido de Deus.

D - Objetivo: Tendo a Cristo por teu Senhor mediante a fA, podes também anunciar a "boa nova de grande alegria" de "Hoje vos nasceu ..." v.11. Podes viver em alegria com Cris- to. Assim teu próprio viver ser5 uma boa nova para as outras pessoas.

A - Texto: Vers. 8-10: Esta 'boa nova de grande alegria" foi trazida aos pastores que estavam naquela região. Era s6 para eles? Não, ela era e B para todo o povo, para todas as pessoas em todos os tempos.

Aqueles simples pastores que, como em outras noites, guardavam suas ovelhas, viram- se, de repente, envoltos em grande luz; a luz era da glória do Senhor e, claro, eles "ficaram tomados de grante temor."

B - Moldstia: Todo pecador tem medo de Deus, porque sua consciência o acusa de ser culpado, devedor diante de Deus. O pecador afasta-se de Deus. O pecado separa o ho- mem natural de Deus e, por fim, leva-o A condenação eterna, banido de Deus para sempre, sofrendo tormentos sem fim.

C - Meio: Mas o anjo disse aos pastores: "Não temais: eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo." Deus, em e por meio de Cristo, aproxima-se do homem pecador para salva-lo da condenação. O Natal verdadeiro traz esta bela e consola- dora mensagem: "Não temais ... hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que A Cristo, o Senhor." Quem aceita esta mensagem, quem crê no Salvador Jesus A perdoado e salvo por Deus.

D - Objetivo: Quem esta em paz com Deus, pela fB em Cristo, perde o temor e recebe coragem do Espírito Santo e assim pode seguir o exemplo dos pastores e de Maria: ir a Deus, meditar sobre e guardar a Boa Nova em fé, divulgar o Salvador aos outros, glorificar e louvar a Deus. Age assim!

Conclusão: E outra vez Natal de Cristo, o Salvador e Senhor. Ele veio trazer a paz de Deus aos homens, porque 2 Co 5.18,19. "Quem nele crê tem a vida eterna." CrB, pois, nele, e estarás em paz com Deus agora e por todo o sempre. É esta a boa nova de grande alegria que hoje vos trago.

Curt Albrecht

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Primeiro Domingo após Natal

LC 2.25-40

Este texto trata dum fato ocorrido cerca de um mês e meio (cfe. Lv 12.1-4) depois do nascimento de Jesus. Jesus foi levado ao templo, "para ser apresentado ao Senhor" (Êx 13.2,12).

I-lavia em Jerusalém duas pessoas bem especiais: um homem velho e uma senhora idosa. Não eram um casal; mas ambos eram piedosos, cristãos: Simeão (v. 25-28) e Ana (V. 36-38).

Simeáo tinha sobre si o Esplrito Santo. Note-se o Espirito Santo ativo e presente, reve- lando e movendo, antes do Pentecostes de At 2, fazendo Sirneão esperar a consolação e confessar a sua fé na salvação que Deus preparou diante de todos os povos, luz para revela- çáo aos gentios (v. 29-32). Simeáo abençoou José e Maria e dirigiu palavras proféticas a Maria sobre Jesus. Seu cantico o repetimos sempre que celebramos a ceia do Senhor (Nunc dimit- tis). É uma bela confissão de quem crê na vida eterna (cfe. Fp 1.23).

Ana era profetisa; 'adorava noite e dia em jejuns e orações" (v. 37b). Agradecia a Deus e "falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém" (v. 38).

José e Maria, por sua vez, cumpriram o que a Lei ordenava e voltaram para a sua cidade de Nazaré.

Do menino Jesus, o evangelho conta tr&s coisas importantes: 1) "se fortalecia (cresceu fisicamente), 2) enchendo-se de sabedoria (cresceu intelectualmente) e 3) a graça de Deus estava sobre ele" (Deus lhe era gracioso e por ele era gracioso aos honiens).

Quem é o centro, o ponto de convergência deste evangelho? Não é Sirneão, nem Ana, nem José e Maria. O cerne, o conteúdo deste evangelho é o menino Jesus, que 6 apresentado como a salvação personificada, como a luz dos gentios e a esperança de redenção.

MEUS OLHOS VIRAM A TUA SALVAÇAO

I - Para louvar a Deus, como Simeáo 11 - Para falar de Jesus, como Ana

- A moldstia a ser atacada com este texto é a contradição, a oposição que se faz ao Salvador Jesus no mundo em geral, a irritação contra ele (1s 45.24b), bem como a contradição a Jesus que n6s fazemos com os pecados que cometemos ao não crermos suficientemente nele e ao não falarmos com ele em oração e quando não falainos dele aos outros, não fazendo missão. SerA que n6s vimos a salvação no Natal? Ou s6 enxergamos as coisas materiais, presentes terrenos, ceias, festas? Será que alegramos ou irritamos a Jesus neste Natal?

- O meio para combater esta moléstia de menosprezar a Jesus A "tomar o Menino nos

braços", isto 6, aceitá-lo em f6 sincera, recebê-lo por Salvador, para obter a salvação, prepara- da diante de todos os povos. ~ e s u s A a luz do mundo. Quem a ele segue não andará nas

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trevas, mas tem cerleza de estar em paz com Deus e esta preparado para partir em paz para a vida eterna. Para isso Deus convida: Is 45.22 e garante que: Is 45.25.

- O objetivo deve ser o de levar os ouvintes crentes a fazer a vontade de Deus como Jos6 e Maria tiveram o cuidado de fazê-la (v. 39); confessar e cantar nossa 16 com júbilo como o velho Simetio, orar e falar a respeito do Salvador como a profetisa Ana o fez.

C~nclusao: Quem tem Jesus em seus braços, isto é, quem aceita a Jesus pela 16, este tem, permanentemente, a alegria do Natal em sua vida terrena, tem o Esplrito Santo sobre si, vê a salvaçklo e tem a certeza de estar preparando para a despedida em paz.

Tenhamos, pois, sempre a Jesus em nosso coração, vivendo com e para ele, sendo uma grande bênçáo para os outros.

Curt Albrecht

Festa de Epifania

Mt 2.1-12

I. Mateus 2.1-12 é o evangelho para a festa da epifania na sdrie histórica e nos tr&s anos da série trienal (A, E, C). Portanto, um texto tradicional e sem paralelos, na epifania.

2. O texto não tem paralelos, na medida em que d exclusividade de Mateus. 0 s tltulos que aparecem em diferentes traduções falam do sentido do texto. Na Almeida aparece ape- nas: "A visita dos magos". Já a Biblia de Jerusalém expressa melhor o significado teológico do texto, com o tltulo: "Jesus B o Rei das naçóes." Epifania d o natal das nações, dos gentios.

3. Belhm, cidade de Davi, recebe destaque especial (Mt 2.1,5,6,8,16). O Filho de Davi (Mt 1.1) nasceu na cidade de Davi.

4. Jesus nasceu quando Herodes era rei. Seu reinado durou de 37 a 4 a.C.

5. Vieram magos ... "Três reis magos do Oriente a s6s ..." ? Talvez sim, talvez não. O texto não define o número. Também não diz que eram reis. (Tudo indica que a idbia de que se tratasse de reis foi derivada de textos como o Salmo 72 e Isafas 60.3). 0 s magos eram gentios? Parece que sim. O que fazia um mago? A Biblia na Linguagem de Hoje responde, dizendo que eram "homens que estudavam as estrelas". Seus nomes tradicionais - Gaspar, Baltasar e Melquior - aparecem pela primeira vez num evangelho apócrifo em língua armhia, que data do sbculo VI d.C. Outra pergunta que fica sem resposta: de que oriente vieram? da Babilônia? da ArAbia?

6 A pergunta dos magos: "onde esta o rei dos judeus, recém-nascido"? (v. 2), toca num tema que 6 caro a Mateus: a realeza de Jesus. Outro tema do evangelho de Mateus, que aparece no texto, 6 este: o povo de Israel (sacerdotes, estribas) rejeita o Messias, enquanto os gentios o adoram.

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7. Muito se tem discutido a natureza da estrela. Teria sido o alinhamento de planetas? o cometa Halley? HA uma nota na Bíblia de Jerusaldm que convém meditar: "Evidentemente, o evangelista pensa num astro miraculoso, para o qual B inútil buscar uma explicação natural."

8. Herodes convocou todos os sumo sacerdotes (archiereis) e escribas do povo (v. 4). O plural "sumo sacerdotes" reflete a situação histórica de então: sendo um cargo de confiança dos romar~os, contra a vontade dos judeus piedosos, o sumo sacerdócio não era vitalício. Logo, havia um sumo sacerdote no poder ao lado de outros que tinham sido depostos (ver o caso de Anás e Caifás).

9. O texto de Miquéias 5.1, que, no versículo seis, aparece fundido com 2 Sm 5.2 e 1 Cr 11.2, era considerado messiânico pelos judeus. O texto do evangelho deixa isto claro. Também o Targum (tradução aramaica do AT, feita na sinagoga, e que pode remontar ao tempo anterior a Cristo) ilustra este fato: "Tu, Belkm Efrata - eras pequena para seres considerada entre os milhares da casa de Judá - de ti me sairá o Messias, para exercer o domínio sobre Israel ..."

10. A tarefa de apascentar o povo (v. 6b) é coisa típica de um rei-pastor

11. No versiculo 10, o evangelista parece não encontrar palavras para expressar a ale- gria dos magos: "alegraram-se grandemente com grande alegria".

12. O verbo adorar (proskyneo), usado no versículo 12, descreve a atitude de um rei vassalo diante do rei dominador. Também o ato de presentear, no Antigo Oriente, era sinal de submissão e aliança. Ouro, incenso e mirra eram presentes comuns no Oriente, como mos- tram Isaias 60.6, Jeremias 6.20 e Ezequiel 27.22. Não hh nenhum sentido simbólico nestes presentes e o texto não deveria ser alegorizado (incenso = oração, etc.). ( 0 s presentes são de três tipos. Disso talvez se derivou a idéia de que se tratasse de três magos.)

13. As demais leituras para epifania (SI 72; 1s 60.1-6; Ef 3.2-12) apresentam um nota- vel paralelismo temhtico com Mateus 2. Qualquer um desses textos poderia ser desenvolvido, na pregação, em lugar de Mateus 2.

14. Epifania é manifestação, publicidade. É a festa missionaria da igreja. Para que não seja esquecida, por ser um dia fixo que geralmente cai no meio da semana, A recomendhvel celebrar o dia no domingo anterior.

15. Sugestão de disposição:

JESUS É O REI DAS NAÇÕES

I - prometido e procurado

I1 - rejeitado e adorado.

Vilson Scholz

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Primeiro Domingo de Epifania MC 1.4-1 1

Joáo aparece no deserto. O deserto não 6 s6 o lugar frequentado pelo Maligno, 6 tam- b6m o lugar em que soa, desde tempos antigos, a voz dos profetas de Deus. Deus faz apare- cer a vida em lugares em que ela ja não parece posslvel, não s6 lugares desertos, mas tarri- bém em vidas descrtas. Joáo aparece como Kerux, como arauto de Deus. Não fala em seu nome. não fala de esperanças particulares benkficas para Israel. Fala de uma mensagem que lhe foi dada para a transmitir, mensagem de outro, mensagem de um soberano, do soberano do universo, de Dcus.

Joáo sabe que o mundo esta no vestibulo de novos tempos, a redenção está próxima. Serão beneficiados pelas dádivas dos novos tempos homens novos, por isso Joáo prega ba- tismo de arrcpcndirncnto (metanola), a completa mudança de mentalidade. Não ingressam no reino dos novos tempos homens cnvaidccidos, por si mesmo justos, mas homens de mcnte renovada, os que sabem náo possuírem nada de natureza, os que sabem depender um tudo da misericórdia de Dcus.

O batismo (. para (os) a remrss3o «'os pecados O batismo de João conduz os homens à rcmissBo qiic .Jcc,iis Ihcs tiá de tra7cr. NB0 h3 difcrnvn de natureza entre o batismo com Aqua c o batisrno corri Espírito Santo A difcrcnçn 6 história e de grau. Somos um povo em rriarchn (o mais potlcro\o vcrr? crkhctnl) entre a Qucdn e o Julro NBo podemos ficar parados no cnrnirilio lc'rrios qiic aridnr com aquclc qiic vcrn ("scgiie-rric") A rriarctia atravessa nos- s,is vid<is Llc (. o cnrninho, e n6s cst~iriios corii clc n caniintio Os habitantes de Jcriisalém L,ricni, pocni-:,c a (,rirriinlio .IA hA sBculos rino cnrninh,ivarn porque não havia para onde ir Aqora a vida dcles adqiiirc urn centro, tCrri pnr~i ond' ir, não andam sem norte no mundo Confc\sani o:, pecados (t~,~rrmrfia - o nc idcritc de errdr o alvo), o fazer sem sentido, a vida de bariidos, crn phtrin, a vid,~ contra os pror)ó~,itos de Dcus

Jo'ío riao tcrri nada, vive pobrc como os homens do dcscrto, no entanto 6 riquíssimo por- que tcrn a mensaqcrri que pode rcdimir o niiirido Joáo anuricia quem é mais forte do que ele, o mais forte do que todos os profetas at6 aqiii. o mais forte de todos os homens, tão forte que não Ihc será difícil abrir as portas da morto para que os que se arrependem possam passar da morte para a vida Náo somos dignos dc fazer-lhcs os trabalhos mais modestos e, no entanto, ele nos torna colaboradores seus. DA-nos a dignidade de sermos colaboradores seus, de ser da famflia dele, de viver como ele para semprc na casa do pai.

Disposiçoes.

VEM O PODEROSO

1 - para nos reconciliar com Deus

2 - para nos guiar na vida diaria

3 - para nos levar ao nosso destino

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NA ENTRADA DE UM NOVO ANO

1 - damos ouvidos A voz de Deus

2 - abandonamos nossas faltas passadas

3 - renovamos o compromisso de continuar no Caminho.

Donaldo Schuler

Segundo Domingo de Epifania

JO 1.43-51

Jesus, o Caminho, está sempre a caminho. Pretende, agora, ir à Galiléia dos gentios, à região onde os filhos de Israel se afastaram de Deus. De Jerusalém A GalillBia E! da Galiléia ao mundo, esta é a marcha da mensagem de Cristo. Enquanto caminha, chaina outros para aco- panhá-lo, para realizar o mesmo trabalho que ele realiza. "Resolveu" (ectheleçen - quis, foi sua voritade, thelema) A vontade de Jesus, ao caminhar, é a redençáo da humanidade. Ne- nhuma outra vontade o conduz. Não toma resoluções que não sejam para a salvação da hu- rnaiiidadc.

Jesus encontrou a Felipe. Não foi como se encontra um ariiigo na rua. O encontro não foi dirigido pelo acaso. Jesus encontrou por qiie prociirou(heuriskei.) 0 s passos de Jesus riunca sáo dirigidos pelo acaso. Como Senhor do universo, ele dirige os seus pr6prios passos corno dirige os passos de todos. Ao encontrar a quem procura, Jesus fala e suas palavras estiio plenas de vida. O falar de Cristo (Icgci -- logos) B a vida do mundo. Ao t-iornen não era riem permitido contemplar a Deus, agora Itic é permitido at6 servi-lo: "Segue-me". Seguir a Cristo significa tomar os atos de Cristo corno modelo dc vida. Mesrno qucr Cristo se ausente, o

nár) se fecha.

Os qiie são de Cristo conlini.iani a carninhar como ele carnintiou, e os caminhos de Cristo se desdobram e coritorriarri o muildo em todas as direçoes. Estes sao os primeiros passoas, B a fonte de urn grande rio, de muitos rios, de todos os rios que deçsederitam em to- dos os lugares os homens. Tambbm não B por acaso que Felipe encontra Nalanael, o verbo (t o mesmo. As relações humanas tem agora outra intenção. O que antes era mera amizade estti enriquecido, agora, pela esperança que vem de Cristo. As promessas lidas no Antigo Testamento enchem-se, agora, de conteúdos. O que era tempo vazio torna-se tempo pleno, chegou a plenitude dos tempos, ligada a pessoas e localidades precisas. E um tempo de acontecimentos inauditos que não se desprendem, entretanto da tradição. O novo 6 também O

antiquissimo, jA registrado nos livros de Moisés e na proclaçáo dos profetas.

Natanael duvida. O lugar do cumprimento das promessas não lhe 6 de confiança. Não 6 numa cidadezinha como Nazaré que almas piedosas esperam o cumprimento das grandes promessas do Antigo Testamento. Deus eleva os lugares humildes. O que t! grande nao o d por natureza, mas por atos misericordiosos de Deus. E Jesus age. Natanael vê Jesus agir,

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fazer o que sd Deus faz. Jesus declara Natanael um israelita sem dolo. Israelita nao tem, ago- ra, sentido político. O sentido primeiro da fundaçáo de Israel foram os planos de Deus para a humanidade. O mais é falsidade, B o ocultamente do verdadeiro sentido de Israel. Mostrando- se fiel Cls promessas, Natanael revela-se israelita conforme a vontade de Deus, isto &, sem dolo. Maiores coisas Natanael verá e os verdadeiros israelitas em todos os tempos e lugares com ele: o céu aberto, as promessas cumpridas, o homem reconciliado com Deus.

Disposiç6es: JESUS É O CAMINHO

1 - Ele nos encontra

2 - Ele reorienta nossas vidas

3 - Ele quer que continuemos o trabalho dele. Donaldo Schuler

Terceiro Domingo de Epifania

O "evangelho de Deus" (Mc 1.14) corresponde A boa nova da vinda de Jesus Cristo e seu primeiro impacto, com que inicia o evangelho de Marcos. Euang6lion é a palavra-chave do Novo Testamento. Cobre, do ponto de vista negativo, toda a carência de que se ressente o ser humano. carência dc bondade e de vida; e do ponto de vista positivo contém o ama90 da men- sagem que Deus quer seja anunciada A humanidade. Inclui a preparação do terreno atrav6s da remoção dos entulhos do pecado e do mal, bem como a noticia feliz de perdão, vida, paz e sal- vação.

"O tempo esta cumprido" (1.15), e não se trata de um crdnos humano, mas do kairós did vino que atinge seu ponto de amadurecimento, levando em conta, é bem verdade, fatores li- gados ao tempo deste século, mas sobrepondo a este a entrada de Deus no tempo humano. Joáo Batista está preso. Silenciaram a voz do grande precursor do Messias. A ocasião 6 oportuna, o vazio tem de ser preenchido. A Galil6ia é o palco. A mensagem de arrependi- mento e o chamado A fé - apresentados pelo Batista - são retomados pelo detentor e per- sonificador das boas novas: o prbprio Cristo. As sombras que o precederam, os sacrificios levíticos, as leis cerimoniais do Antigo Testamento, jA cumpriram sua função preparatória. O corpo, Cristo, ocupa o seu lugar.

"O reino de Deus esta próximo." A basiléia toú theoú é introduzida pelo Penhor da igreja, mais poderoso que João Batista, mais digno que ele, e, no entanto, batizado por ele, como pro- va de sua disposição de "cumprir (preerdosai) toda a justiça". O reino de Deus na terra passa a ser ocupado e liderado visivelmente pelo prbprio Filho de Deus (1 . I ) , a quem anjos serviam, que prega com autoridade, que expele dern6riios e cura enfermos, o "Senhor do sábado" (2.28), que faz tudo "esplendidamente bem" (7.37), que voltara "com grande poder e glória", mas que, contraditoriamente, veio "para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (10.45). O reinado de Cristo neste reino, que A sua igreja, é maravilhoso. A condição Única para que o homem participe deste sacerdõcio real 6: "Arrependei-vos e crede no evangelho" (1.15).

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No momento seguinte Jesus parte para a construção da basilbia na terra, chamando obreiros e incumbindo-os de seu serviço. Ele é o primeiro grande pescador de homens;e os quatro primeiros "peixes" humanos, que embarcam nessa missão, que passam a pescadores de homens, que deixam para trás as redes, os familiares, o conforto, são capacitados pelo Mestre e instrumenlalizados para essa tarefa. Conversão e novidade de vida são os dons ini- ciais que Deus promete e dh a seus crentes e mensageiros.

Temas para disposições:

1. A PREGAÇAO DE BOAS NOVAS

No tempo determinado por Deus, para a construção de sua igreja, se dá por mensa- geiros humanos.

1.1 - Nínive (leitura do AT) reconheceu o tempo da graça, na misão do profeta Jo- nas: arrependeu-se desde "o maior ao menor". Ap6s o naufrhgio do tempo'chrdnos da fuga de Jonas, as redes da palavra divina promoveram grande pesca da almas para a igreja de Deus.

1.2 - Jerusalém não reconheceu o seu kairds quando Jesus veio salva-Ia (Lc 19.44; Jo 1.1 1) e não houve segunda chance.

Aceitação ou desprezo - qual é a sua postura?

2, CHAMADO E ATANDIMENTO

A seriedade e a exclusividade da decisão de atender ao chamado de üe i~s.

2.1 - O cumprimento do tempo de Deus exerce influência séria e decisiva sobre os discipulos chamados.

2.2 - O chamado possui elementos de urgência, diante da iminência do fim.

2.3 - O kairds da vontade divina requer cumpriinenlo atravbs do amor fraternal (Rm 13.1 1)

3. UMA QUESTAO DE TEMPO

O tempo chrdnos humano em confronto com o tempo ou 6poca kairds determinado por Deus.

3.1 - O tempo chrdnos do homem 6 passageiros e imperfeito (SI 90)

3.2 - O tempo kairds de Deus é eterno e completo.

a - Em Cristo o tempo kairds se fez chrdnos. O exagero de muitos entu- siastas está em querer ver em todas as manifestações do chrdnos uma explicação para o kairds da vontade divina, que "o Pai reservou para sua exclusiva autoridade" (At 1.7)

b - Jesus faz a correta distinção entre o chrdnos/urg6ncia e o kairdshmpor- tância (se bem que o urgente As vezes se torna importante).

c - O cristão aceita a passa a possuir, por obra do Espírito Santc, o tem- po kairds de sua salvação e não pode senão cumpri-lo, sob pena de es- tar negando a Cristo e a sua fe nele (Ef 5.1 6; CI 4.1 5).

3.3 - A ordem evangelica 6 administrar, no chrdnos deste mundo o kairds da salva- ção em Jesus Cristo.

Elmer N. Flor

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Quarto Domingo de Epifania

MC 1.21-28

O primeiro sábado no ministério ativo de Jesus, conforme Marcos, foi cheio de aconteci- mentos importantes:

a - "Entraram em Cafarnauni" (v.21), fazendo dessa cidadezinha de pescadores, As margens do mar da GalilBia, sua "base de operações" na Galiléia. Foi a escolha de um palco para um ministério pleno de feitos poderosos.

b - Ensinou "como quem tem autoridade" na sinagoga. Jesus não deixou de cumprir com seu dever de filho de Israel. Interliga assim a antiga lei com a nova, completando-a em to- dos os seus aspectos. Sua autoridade procedia de Deus e servia aos propósitos do kairbs di- vino, ao contrhrio dos escribas, que se perdiam nas ordenanças exteriores da lei e buscavam reconhecimento pessoal.

c - Reprccndcu o esplrito imundo, fê-lo calar-se e o expeliu.

d - Curou, expeliu muitos demônios, orou, pregou. Um ministbrio exaustivo, incansá- vel, profícuo. Se a energia flsica demonstrada por Cristo nas múltiplas atividades num mesmo dia (suposta e tradicionalmente de descanso) causa admiração, quanto mais nos impressiona sua energia pslquica, espiritual e divina (a autoridade do seu ensino, o poder sobre os demo- nios, o vigor dc sua pregação e oração).

O evarigclho de Marcos prcferc destacar as obras dc Jcsus As suas palavras. Não fala muito do scrmho. mas dos resultados do mesmo e dos comenlhrios fcitos por ouvintes: "Com autoridade" (1.27), "Jamais vimos coisas assim" (2.12), "Tu 6s o Filho de Deus!" (3.1 I ) , "To- dos se admiravrim" (5.20), etc.

O ensino dc Jesus se distinguia dos mestres israelitas. Por certo o discurso deles era hvial, vazio e artificial, produzindo apenas uma obdiéncia exterior. Jesus esquadrinhava os corações. Chocava com o rigor da lei. Consolova com o fascfcnio do evangelho. Os doutores da lei apenas expunham a lei, Jesus era o Legislador. Ele não s6 falava a verdade, ele era a Verdade. A diferença estava na didachê de Jesus, tanto em sua atividade docente (ativa), co- mo a doutrina que expunha (passiva).

A dynamis do poder divino se expressa na criação e preservação do mundo, e é exerci- da atravbs da exousía ou autoridade e soberania de Deus num mundo caldo, onde nada acon- tece (nem mesmo o relativo poder do diabo) sem a sua vontade. A fonte do poder de Cristo e a autoridade com que o exerce 15 especialmente notável em relação ao espfrito imundo, a quem se atribuem três noções ou atitudes: o ódio com que enfrehta a Cristo; o terror que demonstra diante da figura do Vencedor do diabo, apesar de declarar-se acompanhado de outros seguido- res (perder-nos); e o reconhecimento da santidade do Filho de Deus. Confrontados com a santidade de Deus, os espfritos imundos se aterrorizam e o odeiam. Não querer ter nada a ver com Jesus 6 uma confissão de que o abandonaram de modo definitivo e são seus inimigos ju- rados. Não obstante, rendem-lhe obediência. Quanto ao homem possesso, é libertado do po- der do diabo e passa a louvar e a seguir a Jesus.

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Marcos descreve o efeito da pregação e da ação poderosa de Jesus em Cafamaum. Conquistou o reino de SatanAs e a fama entre o povo, "em todas as direções" e "atA os confins da terra" O trecho do AT faz a relação com a profecia do grande Profeta, Jesus, o qual, como Moisés, "era poderoso em palavras e obras" (A! 7.22) e "recebeu palavras vivas para no-las transmitir" (A1 7.38).

É TEMPO DE (ATACAR E EXERCER) AUTORIDADE

1. O poder (dynarnis) de Deus ativo no universo por ele criado, ordenado e preservado.

2. A autoridade (exousla) de Deus A exercida através de sua Palavra.

3. Jesus personifica o Verbo de Deus, e, como tal, sua pessoa e obra são poderosas na salvação da humanidade calda.

4. A autoridade que Deus concede a seus crentes, pelo poder do Espírito Santo, deve ser:

4.1 - reconhecida e acatada com arrependimento e fé, com admiração e agradeci- mento;

4.2 - exercida na pregação e no ensino (At 13.12; 18.25; 1 Pe 2.5);

4.3 - canalizada para a ordem na igreja e o crescimento dos santos (A! 16.5; Hb 12.28).

Elmer N. Flor

Quinto Domingo de Epifania

Mc 1.29-39

O texto apresenta um confronto entre a misbria humana e a misericórdia de Deus em Cristo. JA a leitura do AT, a titulo de introdução, num tom que se pode chamar de pessimista, descreve a vida neste vale de lfigrimas como penosa, escrava, plena de desengano e aflição. Com realismo quase sAdico J6 contente com Deus, queixando-se de uma vida em condições sub-humanas, como quem trabalha s6 para pagar a comida, com o corpo em feridas, e com os dias contados. sem esperança de voltar a ver o bem. J6 no entanto. apesar de chegar quase ao desespero, desafoga suas magoas nos ouvidos dos três amigos que o visitam e derrama suas aflições diante de Deus, insta com ele em oração e, ao final, é libertado.

Cristo visita, a pedido dos novos disclpulos, a casa modesta de Pedro. Defronta-se com a fragilidade humana na pessoa da sogra do mesmo, e passa a resolver uma situação de faml- lia, bastante delicada. Do coração amoroso de Jesus jorra a resposta de Deus ao sofrimento humano, aliviando o peso do coração de um seu discipulo. Da ardente expectativa do disci- pulo reckm-chamado se evidencia 1) sua confiança no poder manifestado por Jesus; 2) o paciente aguardo pelo "tempo" de ajuda (apenas lhe "falaram" a respeito da enfermidade da sogra) 3) que os problemas domésticos não o afastam, antes o aproximam de seu Mestre; e 4) que o crente pode e deve abrir seu coração ao divino Ajudador, externando-lhe suas ansie- dades, medos, propósitos, esperanças, pensamentos, desejos e ações.

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O mbtodo da cura 6 individualizado. Jesus a) toma a doente pela mão (v.31); b) incli- na-se sobre ela (Lc 4.39); c) repreende a doença (idem); d) impóe as rnáos sobre cada um (paralela de Lc 4.40). Acima da grandiosidade do seu poder, Cristo mostra, nesta e nas de- maias curas, a profundidade do seu amor.

O efeito da cura é também imediato. A propósito, há uma idbia de urgência expressa no euthys (logo, imediatamente), que se repete por diversas vezes ao longo do capitulo. A mulher curada passa a expressar sua gratidão, servindo a Jesus e aos circunstantes. E sinal de cura e de gratidão incontida. Cristo veio para servir, e o homem lhe responde com seu serviço.

Aspectos polêmicos: O fato de Pedro ter sogra, evidenciando sua condição de casado, não confere com a interpretação da Igreja Católica, que prefere atribuir a Pedro, como suposto primeiro papa a condição de celibatário, como o exige de seus sacerdotes. Pedro fazia acom- panhar-se da esposa (1 Co 9.5), e Clemente de Alexandria afirma que Pedro e Filipe foram pais. O casamento nao desqualifica para o ministério, antes pelo contrário (1 Tm 3.2).

A retirada de Jesus ao deserto (v.35 ss.) teve, neste contexto, duas razões especificas. Pelo que antecede, deve-se h sobrecarga de atividades do dia anterior. A oração funciona co- mo relaxante de tensões e estimulante para riovos desafios. Pois no contexto que segue, há um espkcie de preparação para a grande tarefa de pregar o evangelho do reino na Galiléia. Je- sus orou na condiçso de homem, comunicando-se com Deus Pai. Se dizemos que Jesus, hu- manamente falando, t)iiscou na oraçáo, esta 6 uma força de expressão, porque o verdadeiro poder residia na divindade que estava presente na sua pessoa e em virtude do Espirito Santo, que descia sobre ele. Havendo-se tornado homem, Jesus depende do Pai em todas as coi- sas. Ele e o Pai 350 uni.

Disposições:

1 - SENHOR, TU BUSCAS A TODOS!

1.1 Buscas o indivíduo rcvelas as causas da misbria.

1.1.1 O tomas pela mão (1s 42.6)

1.1.2 Tc inclinas sobre ele com perdão e paz

1.1.3 Lhe irnpóes a mão, abençoando-o

1.2 Buscas os grupos e Ihes anuncias a rniseric6rdia de Deus

1.2.1 Toda a cidade (v.33)

1.2.2 Outros lugares (v.38), at6 os confins da terra

1.2.3 Sem distinção - na sinagoga ou à beira-mar

2 - SENHOR, TODOS TE BUSCAM

2.1 A oração particular e matutina liga h fonte de poder

2.2 O reconhecimento da miséria conduz h busca de misericordia

2.3 A oração matutina como figura da regeneração do crente e da sua perspectiva de eternidade.

Elmer N. Flor

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Último Domingo de Epifania MC 9.2-9

Esta maravilhosa história nos A narrada por três dos quatro evangelista. Isto, sem dúvi- da, nos mostra a importância deste evento, tanto para os disclpulos quanto para n6s, hoje. - Mateus vê a transfiguração como um cumprimento daquilo que "Moisés e os Profetas", o Anti- go Testamento, havia preanunciado do Messias vindoura, (Mt 17.1-8). - Lucas interpreta-a (Lc 9.28-36) como sendo uma preparação para a Paixão que se aproximava ("Jesus disse que era necessfiris que o filho do Homem sofresse muito, que fosse rejeitado pelos anciãos, sumo- sacerdotes e escribas, que fosse morto e ressuscitasse ao terceiro dia", v.22). - Marcos, em nosso texto, relata o evento sobretudo como uma gloriosa manifestação do Messias desco- nhecido. Esta história, mesmo efêmera, revela aquela glória que, na realidade, era do Filho de Deus e que, apesar de ern breve passar pelas humilhaçóes do Servo sofredor, se mariifestara plenamente por sua ressurreição e ascensão.

A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS

I - A situação da história

1 - Onde ela aconteceu: não sabemos; só, sabemos que foi num "alto monte". Para lá Jesus "tomou" seus disclpulos "a sós, A parte", portanto, longe do barulho, de confusão e das pressões deste mundo - num verdadeiro retiro.

2 - Os que foram com ele' Pedro, Tiago e João, são os Ilderes dos discípulos. S6 três Mais não foi necessário, porque de acordo como a lei dos judeus duas ou três testemu- rihas eram suficentes para confirmar um acontecimento. Mesmo os disclpulos tiveram dificul- dades de compreender o que aconteceu.

I/ - O evento de transfiguração

1 - Seu corpo foi transfigurado, isto 6: mudou-se por completo. Mateus diz que "o seu rosto resplandecia como o sol". Marcos acrescenta: "suas vestes se tornaram resplan- decentes e sobremodo brancas". Essa mudança não foi um evento terrestre,pois, "nenhum la- vandeiro na terra as poderia alvejar". Estamos, aqui, diante de uma manifestação divina.

2 - O aparecimento de Eligs e Moist?~. Também elas se manifestaram em corpos gloriosos. Apesar disso "estavam falando com Jesus". Marcos não nos diz qi~al o assunto de seu dialogar. Lucas revela que eles "falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusal6mW.

3 - Porque Elias e Moisés? - Elias foi um dos grandes profetas de Deus numa época em que Israel foi infiel a Deus (havia somente 7.000 fiéis na terra). A situação na Bpoca de Jesus era semelhante: havia bem poucos que aceitaram Jesus como o Messias. - Moi- s6s, o maior representante da Lei de Deus e reconhecido como Ilder do povo de Israel. - Te-

I mos, aqui, por assim dizer, a Lei e os Profetas representados. O Antigo Testamento conduziu a Jesus: a Lei nos mostra os nossos pecados e a necessidade de um Salvador; os profetas revalam o plano de Deus para nossa salvação.

IGREJA LUTERANA - Página 41

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1 - Pedro o porta-voz dos três: quer construir trés tendas para morar; fala pas- mado e aterrado; quer ficar no monte.

2 - A "reação" do céu: Deus falando, diz: "Este A o meu Filho amado." A mesma voz da instruções aos seguidores de Jesus: "A ele ouvi!"

3 - Finalmente, sd Jesus fica.

IV - O resultado da transfiguraçao

1 - Os discipulos viram a gldria de Deus: Pedro: "N6s mesmos fomos testemu- nhas oculares de sua majestade" (2 Pe 1.16) João: Vimos a sua gl6ria como do Unigênito do Pai" (Jo 1.14).

2 - Sua f13 foi fortalecida: Era necessário por causa daquilo que os esperava quando sua fé foi severamente testada - Jesus preso, maltratado, crucificado, morto. Eles mesmos sofreriam perseguiçáo por causa de sua fb.

3 - Porem eles sabiam que sua i& não era em vão: Eles viram a sua glória; ouvi- ram a voz do pr6prio Deus; tiveram o testemunho de Elias e Moisbs; sabiam que este Jesus era o Filho de Deus, o Salvador do mundo.

4 - Desceram do monte: Eles queriam ficar, longe dos problemas do mundo, na presença de Deus e de sua glbia. Porbm algo precisava ser feito: o evangelho deve ser pre- gado; o Reino de Deus, estabelecido na terra. Eles precisam descer do monte para servir: auxiliar os necessitados, consolar os aflitos, fortalecer os fracos na fé.

V - A transfiguraçáo e nds

1 - N6s também estivemos no monte: Pela fA vimos a sua gl6ria; ela foi fortaleci- da sempre de novo pelas múltiplas obras de Deus em nossa vida. Cada cristão pode fazer um catálogo das beneficências recebidas em n6s e por n6s.

2 - Certamente também gostadamos ficar neste monte: Longe do mundo-sem- paz e cheio de violências, esquecendo os problemas que diariamente enfrentamos.

3 - Porém n6s somos chamados a descer do monte: Precisamos trabalhar no seu reino, "enquanto A dia"; precisamos enfrentar as inimizades de Satanás que quer destruir as obras de Deus neste mundo; ele nos chamou para sermos suas testemunhas (2 Pe 1.18,19).

Conclusão: Desçamos do monte - do monte da transfiguraçáo e da gl6ria de Deus, do monte da suprema humilhação, mas onde ele clamou: Esta consumado! - Desçamos para levar a mensagem do perdão e amor, a mensagem de um Salvador para os que vivem ao nos- so redor. Continuemos a participar o que temos visto, ouvido, crido: A gl6ria de Deus em Je- sus rist to!

Johannes H. Roitmann

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Cinzas

Mt 6.1-6; 16-21

Nosso texto faz parte do "Sermão do Monte" (Mt 5-7) no qual Jesus, especialmente diante dos seus disclpulos reunidos ao seu redor, (5.lb e 2) desvela os alicerces da Atica cristã. Ap6s as "bem-aventuranças" (5.3-12), ele declara os seus disclpulos como sal da terra e luz do mundo(5.12-IB), fala, então, de sua posição a respeito da Lei de Deus (5.17-19: "não penseis que vim revogar a Lei e os profetas"), para chegar finalmente a comparar a "nova justjça" com a "antiga": "Ouvistes que foi dito aos antigos ... Eu, porém, vos digo ..." (5.20-48), declarando que a nova justiça 6 a verdadeira e muito superior ?I antiga.

O nosso texto, então, nos ensina como exercer, isto é, "praticar" (literalmente "fazer" - poiéin) esta "nova justiça", em praticar "Boas obras" que sempre se baseiam na fé verda- deira. Na opinião dos judeus, especialmente dos fariseus e escribas, as principais boas obras foram "dar esmolas" (v. 2-4), "a oração" (v. 5 e 6) e o "jejum" (v. 16-18). Esmolas são mencionadas em primeiro lugar porque os judeus atribuirani a elas um mérito especial. Jesus chama-os de hip6critas (hypocritrli). Este termo é especiali-riente atribuido aos farise~is (cl. Mt 15.7; 22.18; 23.13-15) e significa não s6 um homem fingido e exibicionista de piedade, mas de, em modo geral, o homem pervertido e mau, Impio. - "Tocar trornbeta diante de si" naturalmente deve ser tomado figurativo. Hipócritas proclamam, fazem propaganda de suas obras de caridade (v. 2). Estes já receberri'sua recompensa no louvor da parte de homens, porque da parte de Deus não recebem recompensa nenhuma. - Ao contrário: as verdadeiras obras de caridade são aquelas, das quais "a esquerda ignora o que faz a direita" (v. 3). Este aforismo significa que não devemos proclamar as nossas obras a todos ao nosso redor, nem mesmo aos mais próximos do nosso parentesco. Elas devem ser feitas assim como que n6s mesmos as ignorássemos. No dia derradeiro, os assim chamados justos perguntarão, em surpresa real: "Senhor, quando foi que te vimos ... ? ("Mt 25.37s.). Não importa que as pes- soas ao nosso redor as vêem. O importante A que nosso Pai no céu as conhece (v. 4).

Os fariseus fizeram também das suas orações públicas uma espécie de espetáculo. De acordo com suas próprias prescriçóes, fizeram suas orações três vezes ao dia, baseado em SI $5.17 e Dn 6.10, e com todas as pompas e cerimônias (v. 5). Porém a oração não deve ser uma espécie de bandeira levantada diante de todo o mundo, mas sim um falar, um dialogar pessoal e intimo com Deus.

Os fariseus fingiram tristeza nos seus jejuns particulares, mas não se preocuparam com seu estado espiritual pecaminoso: arrogância no vestido de humildade. Eles "desfiguraram"

seus rostos afim de serem notados e louvados pelos homens (v. 16). Jejuar não está proibido, mas deve ser uma prática individual e pessoal e sem fingimento. Jejuar deve ser para a nossa vida espiritual uma especie de refrescar a alma e não para simular tristeza a fim de, por ela, suscitada admiraçáo dos homens (v. 17,18).

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A admoestação central do nosso texto é que o verdadeiro cristão não faz uma exibição de sua piedade. O alvo que o sermão visa é que o verdadeiro cristão b sincero e humilde em sua piedade. O problema B que o cristáo, as vezes, tambbm se torna hip6crita e orgulhoso por suas obras. A mensagem evangblica (em conclusão) B que Deus conhece e recompensa A sua maneira graciosa as boas obras que praticamos.

DEUS CONHECE AS NOSSAS OBRAS

I - Outros não precisam conhecê-las

I1 - Nem n6s mesmos precisamos registrá-las

Johannes H. Ronrnann

Primeiro Domingo de Quaresma

MC 1.12-15

Texto e Contexto

1 - Existt: iirii;i Iiitirii:~ lig;iç%o cntrc o bntisnio de Josus e siia terilaçáo por Satan3s. Na ocrisilio do s(:ii h;iti:;ino, Jo,?o Uatist;~ "viu os cbus rasgarem-:;c e o Espirito descendo corno pornbs sobrc (:I(:" (Mc 1.10). Isnías j,? profctiznv;~: "O Elspírito dc Dcus cstA sobre mim, por- qiic o Scritior rric iirigii~ ..." (I:; 61.1). E t;~nil)l:iii: "Eis aqui o mcu servo, a qucm sustcnho; o rnc:ci c:;colhido, orn cliit:rii ;i rriiiihn ;ilnin sc compra!; pii:; sobre elc o nicii Espírito ..." (1s 42.1). Por ocnsi3o do seu b;itisriio, J(:r,iis recct~cu o poder do Er;l)írito Santo para sua obra. Na oca- !,i20 d;i sii;i tornl;iç;ío, Jcsiis Icz iiso dcstc podcr - c? vcnceii.

2 - Llcoois dr: tcii ri;irrndo o batismo de Jesus, Marcos continua: "E logo O Espírito O

irnpcliu para o dcscrto." (v. 12). A p;il;rvra "logo" irnplica urgcncia. Também o verbo "impeliu" traz urii scnlido dc iircjCricia c açno init:dinta. Jesus 6 inipelido pelo Espirito para dentro do de- serto, onde SatanAs o enfrenta.

Jesus aceita sua consagração. A tcntaçáo faz parte da sua atividade consagrada. Jesus h5 de Iibertiir a humanidade perdida da tirania de Satanás. Ele precisa dominar o diabo. A vitória final e completa sobre o diabo foi a vitbria na cruz: "Esta consumado!" A tentação no deserto é o início da luta de Jesus corn o domínio de Satanás. É necessário que esta primeira batalha seja vcncida pelo Senhor para que ele possa proclamar "libertação aos cativós, e a pôr em liberdade os algernados" (1s 61 . I b). A tentação mostra Jesus em atividade redentora agressiva. Ele esta perseguindo SatanAs e náo simplesmente sujeito as tentações dele.

O Pai o abençoa e tem seu prazer nele e em sua obra messiânica; o Espirito o im- pele para batalhar com o príncipe das trevas; Jesus, o Filho do Pai, voluntariamente, aceita esta sua incumbência. Se Pai, Filho e Espírito Santo náo o tivessem querido, Satanás nem po- deria ter se aproximado de Jesus, inuito menos tê-lo tentado.

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3 - Olha o contraste! No jardim suntuoso, o primeiro Adáo 6 tentado e sucumbe. O deserto, símbolo do estado miserhvel do homem perdido, B o campo de batalha do segundo Adáo - e ele vence a batalha para reconquistar o paraíso à humanidade.

Introdução

Oramos no Pai Nosso: "Venha o teu reino!" Lutero explica esta petiçáo com as pala- vras: "O reino de Deus vem, na verdade, por si mesmo, sem a nossa prece; mas suplicamos nesta petição que venha a nós tambem."

Deus executou isto: "vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Ici, para resgatar os que estavam sob a lei, afim de que recebéssemos a adoção de filhos" (GI 4.4,5). Em nosso texto Jesus afirma que agora este tempo é cumprido. A redenção esta em andarricnto. Sua vitória inicial sobre Satanás B a nossa vit6ria. O colapso total do reino dc Satanás é inevitável, porque "o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo" (v. 15).

O que isto significa para nós? Jesus requer arrependimento e fé (v. 15).

A VITÓRIA DE JESUS SOBRE SATANÁS NOS DÁ PODER

I - para nos nrrcpr:ncicr-

11 para crC1r no r v;irigcltro

I -- Sem a vitória sobre as tentaçócs, sc:rii clc tcr tido força para resistir as tcntaçõcs ps- ra pecar, a nossa libcrtaçno da escravidão dc S;itari:i:; riao estaria garantida, pois "Cativo fui do SntanAç e 3 mortc coritlcnado" (Hinário Lutor;irio 376,2). Poréni "ao Filho eterno disse o Pai: é tcnipo dc piodndc. Siilvar meu povo, agora, vai, rcvcla a caridade!. Ajuda-o para o nial vcnccr, csrnciga n morta c faro-o ser feliz na ctcrnidadc" (H. L. 376). Agora o nosso Scnhor quer que tornemos da cscravidAo e não mais "andarnos segundo a carne, rnas segundo o Es- plrito", porque ele nos livrou (ia Ici do pecado c da morte (Rm 8.1-4).

II - A boa rnensagem é assegurada e absolutamente verdadeira e cumprida. Jesus é vitorioso na sua primeira luta contra SatanAs. A redenção, a Boa Nova, o evangelho é procla- mado. Requer-se de n6s que creiamos nestc evangelho. A vitória de Jesus nos dá o poder de crer no evangelho (v. 15), porque o evangelho e o chamado do evangelho são fatos verdadei- ros na proclamação de Jesus.

Conclusão: O primeiro passo no ministério público de Jesus assegura-nos o passo fi- nal. O plano de Deus nos assegura seu cumprimento. Ele nos prometeu vida eterna em e por Cristo. A vida eterna, já agora, B nossa. Pois diz Jesus "aquilo que meu Pai me deu, B maior do que tudo; e da máo do Pai ningubm pode arrebatar" (Jo 10.29, cf. também Rm 8.35-39).

Johannes H. Rottmann

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Segundo Domingo de Quaresma

MC 8.31-38

I. O anúncio do sofrimento (31 -32a)

1. No contexto geral do Evangelho de Marcos. nosso texto representa um novo inlcio. Os textos anteriores culminam com a confissão de Pedro (8.27-30). Esta confissão faz Je- sus declarar a sua missão verdadeira (8 .31~~) . A legitimação desta missáo acontece no monte da transfiguração (9.1-8).

2. O texto, uma paralela de Mt 16.13-27, contbm tr6s partes principais: o anúncio do so- frimento de Jesus (vs. 31.32a). a rejeição do aconselhamento de Pedro (32b-33) e o ensino sobre a vida daqueles que seguem a Jesus (34-38). O conteúdo central do texto b o prb-anuncio do sofrimento de Jesus.

Nesta introdução da história da paixão b desvendado, de modo gradativo, o mistbrio que envolve a pessoa de Jesus. Aquele que exerceu autoridade e poder agora é apre- sentado como aquele que sofre, em fraqueza, sob a autoridade dos homens.

3. A vida e obra de Jesus aparecem sob a interpretação de sua missão como Messias. Ele. o portador da vontade de Deus. está a caminho da cruz. Contrariando as esperan- ças humanas, nele depositadas, Jesus evidencia que não 6 libertador político e sim um instrumento divino para a redenção da huniariidade.

3.1 - O conceito dei

a) expressa a vontade de Deus, o "dever" divino que transparece na hist6ria do sofrimento de Jesus;

b) abrange a universalidade da missao messiânica de Jesus;

c) revela a necessidade da intervenção de Deus, designando como evento es- catol6gico tudo o que envolve Jesus e sua missão;

d) expressa e fortalece a f6 nos planos de Deus, revelados e realizados por in- termédio de Jesus Cristo;

e) indica claramente que o tempo messianico iniciou com Jesus (cf. Mt 16.21; Lc 17.25s~ 9tc.). O sofrimento, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo de- vem ser interpretados como ação salvívica divina'que i n t e~6m no curso da humanidade nos "Últimos tempos":

3.2 - O conceito apodokimazo (rejeitar, declarar inútil) indica que as lideranças do po- vo de Deus não compreendem nem aceitam o mistbrio da presença de Deus em Jesus Cristo. Ele A escândalo para muitos e por isto ele não A Útil para os planos ou interesses humanos (cf. SI 118.22; Mt 21.42; Mc 12.10; Lc 20.17; 1 Pe 2.4;).

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3.3 - O "sofrer muito", nesta missão como Messias, significa. que Jesus cumprirá a vontade de Deus e ser& obediente ate A morte. Este seu destino, provocado pela perseguição dos homens, se transformará, sob a vontade de Deus, em sal- vação para a humanidade. O "filho do homem" (Mc 2.10,28) assume a tarefa prescrita pelos profetas sobre o "servo de Deus" (cf. Is 53.3,4,11). Mesmo sen- do entregue nas mãos dos homens que o rejeitam e maltratam, a última palavra não ficará com eles.

11. A resposta inadequada (32b-33)

4. Pedro, o representante do grupo, tenta persuadir Jesus e distanciá-lo do sofrimento anunciado. Prefere ele (e com ele muitos outros) um "Cristo vitorioso" em vez de conformar-se com o "servo sofredor". O homem natural jamais compreenderá a ação de Deus "sub contrário".

A correção de Pedro inclue a correção de todos os discípulos de todos os tempos. Ca- da seguidor de Cristo tem que aprender a assumir o seu lugar. Tem que reconhecer a tentação e fugir dela. Seguir a Jesus significa: aprender a pensar "pensamentos di- vinos", concordar com o plano divino que inclui a "paixão de Cristo" e aprender a ser um disclpulo autêntico (cf. Jo 21,18; At 5,41; Rm 8,17) que sabe sofrer com Jesus e por causa de Jesus.

111. O convite (34-38)

5. As palavras de Jesus valem para toda cristandade. Possuem um conteúdo significati- vo para aqueles que querem segul-10. Olhando para o modelo que tem em Cristo, o seguidor B convidado a tornar-se semelhante ao seu Mestre em toda sua vida. Quem quer seguir a Jesus (v. 34), de fato e de verdade, deveria viver sob dois imperativos: renunciar a si mesmo e segui-lo (aparneoniai = decisáo en6rgica de renunciar a si mesmo). Significa igualmente não levar em consideração o "ego" (e com ele todo e qualquer ego(s)-ismo(s) e entregar-se inteiramente vontade de Deus. A palavra de Jesus transmite uma convocação clara e definida. Ele quer que n6s o sigamos com inteira disposição.

A decisão de "seguir a Jesus" torna-se realidade sob duas premissas:

5.1 O termo psique (v. 35) trata do caráter e da integridade do homem. Quem perde a psique, perde esta dádiva divina e com ela o seu destino. Aprendendo a não segurar egoisticamente sua própria vida, o homem poderá viver uma vida aberta para Deus e para o pr6ximo. Deus e o próximo podem "entrar em sua vida" (por assim dizer) e preenchê-la.

Eis o apelo. Jesus convida o homem a segui-lo. Requer dele a decisáo de dedi- car toda sua vida ao Senhor e a causa do seu evangelho (cf. Mc 1.1,14,15; 10.29; 13.10; 14.9s~ - cf. v. 38 "Minhas palavras"). O corresponder com esta convocaçáo A uma questão de fé na vida de cada seguidor de Cristo. O evan- gelho de Cristo R base e orientação segura para aquele que quer segui-lo em espí- rito e verdade.

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5.2 Aquele que quer "ganhar o mundo inteiro "(dinheiro, propriedade, poder) jamais deveria esquecer que suas aspirações e suas riquezas acumuladas não o po- dem salvar da morte. Cada homem deve ser lembrado, mesmo e apesar de to- da: as preocupaçóes. que a vida lhe causa, que sua vida provém das mãos do Criador e que ele depende dele em tudo o que faz.

A vida humana está sob a oferta constante da graça divina. Mas esta vida pode ser perdida quando o homem não corresponde com o plano original de seu Cria- dor (cf. irnago Dei). Sob o aspecto da perda dos valores espirituais, o homem se convencerá, por si mesmo, que os valores materiais não conseguem suprir ou restituir a perda de uma vida espiritual profunda.

O mundo em sua busca intensa de valores próprios não consegue contra-balan- cear a riqueza das dádivas divinas. Pois estas dádivas oferecem ao homem o que ele não possue. o relacionaniento profundo com Deus, a redençso do peca- dor e a nova vida em Cristo .lesus.

6. Perguntas

6.1 A partir do texto.

Por que o evangelista Marcos relata este "anúncio do sofrimento de Jesus"?

O (lu(? sigriifica para o scgiiidor dr: Cristo o "participar do sofrirnento" de Jesus (cf.. F-il 1.29; 2 Tni 1 .H; 3.12; 1 Pe 2.19-21; 4.13)?

Sorrios igiiais nos Iídcrcs do povo?

Lrri q i i ~ sentido n "aiitcnticitlade d,i rni:,sêo de Jcsus" foi amcaqada7 Ouc tipo de cornport,imento Jesus cspcrn de seus seguidores7 O que significa "ricg'ir-sc a si mesmo" e o "perder a siia vida" (cf. Rm 6ss)7

Como podcrrios cornprecndcr a afirrnaçao "tomar a sua cruz"')

6.2 a partir da realidade, hoje.

Como o fator do "sofrimento hurnano" 6 interprerado hoje? Somos corretos quando anunciamos ao homem sofredor de nosso tempo uma mensagem que tem sua base nos sofrimentos de Cristo? Que mensagem deveria ser esta? Qual seria o centro desta mensagem? E Ilcito pregar a cruz de Cristo hoje ain- da? Não necessitamos urn "outro Cristo"? Um Cristo que é mais fácil de identi- ficar com os problemas do mundo moderno?

Quais as tentações do homem, hoje? Vivemos na tentação de distanciar-nos da missão do Mestre? Pensamos e agimos como o Senhor da nossa vida?

Disposições para o sermão:

a) JESUS, O REDENTOR, NOS CONVIDA A SEGUI-LO:

I - aceitando sua obra salvadora

I1 - renunciando a nds mesmos

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111 - anunciando ao mundo a salvação Y

b) ACOMPANHAMOS NOSSO SENHOR NO SEU CAMINHO A CRUZ, POIS:

I - ele assumiu a "nossa causa"

I1 - devemos lembrar-nos dos seus sofrimentos

111 - ele nos convida a segui-lo

C) EM CRISTO, O DEUS ETERNO CUMPRE SEU PLANO DE SALVAÇAO.

E uni plano; I - motivado por sua misericdrdia

I1 - realizado pelo Filho de seu amor

111 - oferecido ao mundo pecador.

Hans Horsch

Terceiro Domingo de Quaresma

JO 2.13-22

1. As paralelas do texto: Mt 21.12-13; Mc 11.1 5-1 7; Lc 19.45-46.

2. A cena descrita em nosso texto contrasta corn a cena anterior (2.1-1 1). Ambas as cenas descrevem o início da atividade de Jesus, mas com sua caratcrística específica. As bodas de Caná descrevem a alegria que abrangc o início de um novo tempo. A gl6ria divina 6 re- velada em Jesus. Mas esta sua gl6ria se evidencia tambérn por intermédio do sofrimento. Jesus entra na cidade de JerusalBrn: centro das atenções de seu povo; o lugar de seus adversarios. Por causa dos interesses e dos negócios em torno da religião oficial, Jesus enfrentar8, pcla primeira vez, um conflito que surge por causa do seu zelo.

3. Conforme a intenção do evangelista, a "purificação do templo" quer ser compreendida no horizonte da paixão e ressurreiçáo de Jesus Cristo. Nosso texto descreve o inicio e o "porquê" de seu caminho A cruz. Seu zelo para com a casa de seu Pai provocou o conflito com os representantes das instituições sagradas dos judeus. Mais tarde, este aconteci- mento é interpretado com o "justo sofredor" (cf. SI 69.9,10; cf. Rm 15.3; Mc 15.36; Mt 27.34; etc.).

4. A divisão do texto: v. 13 descreve a kpoca do acontecimento; v. 14-1 6 relata o acontecimento; v. 17-22 descreve a reaçáo dos discípulos e judeus.

4.1 Descrição permenorizada:

4.1.1 O momento: A purificação aconteceu perto da pAscoa, festa importante no calendario judaico. Sabe-se que, nesta Apoca de concentração

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religiosa, havia sempre um aumento sensivel das esperanças messiânicas no povo. A lembrança da libertação do povo de Is- rael da terra do Egito fazia parte das esperanças vividas dos pe- regrinos.

4.1.2 A situação: Jesus age como profeta. Seu "sinal de profeta" indica que nele se manifesta o rnistbrio do reino de Deus. Jesus faz valer o di- reito de seu Pai sobre todas as cousas. Como propriedade do Pai, o templo e a atitude do povo perderam o sentido original. Sua crítica sobre o esplrito negociador, presente nos participan- tes, mostra que todo o ambiente necessita de purificação. Por isso deve ser afastado tudo o que impede o servir autêntico a Deus.

4.1.3 A indagação: Após o questionamento dos discipulos, aparecem os judeus. Eles exigem a legitimaçáo divina de Jesus.

4.1.4 A resposta: Jesus responde, colocando uma condição. Por causa deste po- sicionamento tanto os discfpulos como os judeus deveriam ter reconhecido que Jesus representa "mais" do que um "sinal pro- fktico" (cf. Mt. ? 12). Mais tarde os discípulos se lembrarão e compreenderão que sua ação provocou os acontecimentos que conduziram à sua glorificação (cruz, morte, ressurreição são in- terpretados como exaltação gloriosa). A purificação do templo faz parte dc um "plano superior"..

4.1.5 A interpretação: Jesus b legitimado por sua morte e ressurreição. Posterior- mente, se comprcendc o sentido de tudo o que aconteceu. "Nin- gubm tem maior arnor ..." (Jo 15,13).

5. Observações:

A estrutura do texto mostra ou sugere duas linhas de argumentação sobrepostas:

a) A ação dc Jesus (14-16a) b acompanhada pela palavra de Jesus (16b) e provoca a "lembrança" dos disclpulos (v. 17).

b) Surge a controvársia (v. 18-19a.20) e a palavra enigmática de Jesus (19b), sendo se- guida pela interpretação do evangelista, sublinhada pela lembrança dos discípulos (21ss).

Observe a mudança no uso dos conceitos (hieros - oikos, - naos). Esta mudança contém uma mensagem.

O "sinal" 6 diferente daquele em 2,l-11. Em nosso texto, todo acontecimento 6 trans- formado em "sinal". O verdadeiro "sinal" reside na pessoa de Jesus. Toda atenção deve ser concentrada nele.

6. Quem é este? Por que ele procede desta maneira?

Observando o comportamento de Jesus, acorda, no povo, a antiga esperança pelo Mes-

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sias. Todos os detalhes, relatados no texto, indicam em uma direção somente. Solicitam a fb naquele que veio para o que era seu (1.1 1). Para compreender este fato são necessá- rios algumas observações importantes.

6.1 Jesus representa a autoridade e o direito do Pai. Por isso sua autoridade 6 incontes- tável. Respeitada por todos. Com esta autoridade interfere nas preparações do cul- to. Ataca formas religiosas (piedosas), que não permitem mais a transparência da vontade original do Pai. Estas formas "institucionalizadas" encobrem a verdade. Servem mais para "outros interesses" e estimulam o simples cumprimento de uma "tradição herdada". Registra-se a ausência de um esplrito de obediência e de querer servir a Deus "em esplrito e verdade".

6.2 Na pessoa de Jesus inicia-se um novo tempo. Nele está presente o Deus vivo e eterno. Surgem "cousas novas" (anunciadas no AT). O centro de adoração não é mais um "local sagrado" e sim "sua pessoa". Jesus é local da revelação divina por excelência. Inicia, com ele, o tempo da salvaçao. Jesus é o templo vivo de Deus. Escolhido para ser destruido em benefício do mundo pecador. Seu sofrimento e morte são necessários no plano divino de salvar a humanidade. Este plano se evidencia somente no "acontecer".

6.3 A luz da pessoa de Jesus e dos acontecimentos relatados, ressaltamos:

6.3.1 Jesus atua no centro das atenções religiosas do povo de Israel. Sua primeira ação é a purificação do templo. Logo, o teniplo. O orgulho de todo povo. Per- guntamos:

a) Qual o significado do questionamento das tradições religiosas por Jesus? (cf. o relacionamento de Jesus com o templo Jb 5.14~s 7.14s 8.10,59; 10.23; 1 1.56; 18.20);

b) Por que esta purificação no inicio de sua atividade ern Jerusalbm?

6.3.2 Jesus interfere em palavra e ação. No local e momento indicados. Ataca um culto alienado e uma piedade superficial. A presença de Deus não é respeita- da. Seu nome não é glorificado.

Em Jesus, a santidade do Pai se faz presente. Exige O "seu direito. Jesus é o santo, o Messias, embora oculto ainda. A casa de seu Pai não pode ser profa- nada nem transformada em casa de negócios. Jesus mostra sua responsabili- dade por esta casa. Zela pela santidade e pureza do templo.

6.3.3 Jesus entra no templo como o Senhor. Não deixa dúvida sobre o seu "direito" de governar em o nome de seu Pai. A partir de sua entrada, este "ambiente sagrado" recebe um novo centro. O importante não A mais o templo feito por pedras e sim o templo vivo. Jesus, em pessoa, é o novo centro do culto. Ele A o representante "em pessoa" da intervenção escatológica de Deus. Jesus, o Deus encarnado, 6 o fim do culto antigo. Por intermédio dele serA efetuada to- da obra redentora, que culminara com a sua exaltaçáo na cruz.

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7. O sinal prof6tico de Jesus 8 um chamado ao arrependimento. O povo deve reconhecer os erros de uma religiosidade superficial e descompromissada. Este sinal tem um significa- do: invoca o juizo de Deus sobre o povo desobediente. O povo resiste e permanece, em grande parte, fechado perante a revelação divina, presente em Jesus. Por isso Jesus ata- ca este tipo de "segurança religiosa" e questiona tamb6m a auto-afirmação religiosa de seu povo. Ao mesmo tempo o seu falar misterioso sobre a destruição do santuário 6 uma oferta da nova vida sob o seu reino. O culto verdadeiro e autêntico consiste em aceitar sua oferta e segui-lo, olhando por este modelo de vida piedosa e praticando a vida cristã em espfrito de renúncia e obediência A sua palavra.

8. Nosso texto possue motivação cristológica. A ação de Jesus, embora em autoridade, o conduz A morte. Jesus, em sua morte, cumpre a lei. Carrega o que homem nenhum con- segue. Para o ouvinte desta mensagem, isto significa: a justificação perante o Pai eterno somente 15 possivel mediante a confiança naquele que suportou tamanho sofrimento por nossa causa. Sua entrega voluntária, a destruiçáo de seu corpo, proporcionaram uma condição sobre a qdal foi possivel erguer um novo santulirio e mostrá-lo h humanidade. Jesus, o crucificado e exaltado, é o lugar histórico de adoraçao verdadeira (cf. 1.51; 4.23;). Sua morte e ressurréição possibilitaram urri novo relacionamento com Deus. O templo de pedras e o culto-sacrifica1 tornaram-se obsoletos.

9. Perguntamos:

9.1 Que espfrito de culto e adoração este mesmo Jesus encontra em nossas par6quias, hoje? (Evidenciamos o perigo de um "espfrito negociador"? Existe o "servir-se da igreja"? Somos envolvidos somente em "assuntos adminislrativos"? At6 onde nos- sa "espiritualidade" é comprometida com o espfrito do s6culo?)

9.2 Quem ou "o que" é o centro de nosso culto?

9.3 Somos capazes de pensar "pensamentos divinos" ou pensamos somente em cate. gorias "imanentes" ou "contemporaneas"?

9.4 Reconhecemos o perigo de transformar a "mensagem do Messias" em uma "politica messianica"?

9.5 Sentimos a necessidade da libertação do pecado? Procuramos um novo relaciona- mento com Deus?

9.6 Conhecemos um "culto abrangente" na vida diaria?

- a legitimaçáo dos filhos de Deus; - uma vida em santificação (cf. Catecismo de Lut. a 1. Petição);

- damos toda glória a Deus ou buscamos auto-glorificação?

9.7 Sorrios preparados para seguir a Jesus no seu "caminho a cruz"? (Sofrer por sua causa, ser perseguido pelo seu nome, zelar pela casa de seu Pai, etc.).

Soms capazes de "dar a nossa vida" em resposta viva à sua palavra?

Existe uma diferença entre nosso "pregar" (testemunhar) e "viver"?

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10. DisposiçBes para o sermáo:

19 - RECONHECEMOS EM JESUS O MESSIAS ANUNCIADO DESDE A ANTIGÜIDADE

a) Ele cumpriu a vontade de Deus;

b) Ele sacrificou sua vida para salvar o mundo;

c) Ele conduz à vida eterna aqueles que confiam nele.

Z0 - CONTEMPLAMOS O IN~CIO DA PAIXAO DE CRISTO

a) Em sua pessoa finda o culto antigo;

b) Aprendemos com ele o "morrer para si mesmo";

c) Ele 6 o centro do culto verdadeiro a Deus

3'- EM JESUS CRISTO DEUS REDIMIU O MUNDO

a) Deus nos conduz ao arrependimento sincero;

b) Somos convidados de confiar na obra redentora de Cristo;

c) Buscamos na fB em Cristo uma nova vida.

Hans Horsch

Quarto Domingo de Quaresma

JO 3.14-21

1. Nosso texto 6 a continuação de uma conversa entre Jesus e Nicodemos, mestre em Israel (cf. Jo 3 . 1 ~ ~ ) . Como mensageiro para a humanidade, Jesus lhe havia falado sobre o mistB- rio do reino de Deus e que lhe era -ecessArio "nascer de novo". A graça divina revela e oferece a vida verdadeira, possibilitando ao homem um novo inlcio em sua existência. Pela ação de Deus manifesta-se a possibilidade de "participar em Deus".

2. A intenção do texto B destacar, de maneira abrangente, a importância da pessoa de Jesus e de sua obra redentora. Este testemunho 6 necessário para os judeus. Registramos, p. ex., a mudança do "eu" para o "n6s" no verslculo 1 lss . O evangelista se inclue na multi- dão de todos os que crêem em Jesus. O testemunho em conjunto com todos os cristãos é o contraste para com todos aqueles que rejeitam o Salvador da humanidade (cf. 1,ll-13;).

3. Em conformidade com uma tradição antiga, o "Cristo exaltado" B apresentado de uma for- ma que faz o povo de Deus se lembrar de um acontecimento no passado (Nm 21.8). Isto significa: em Cristo agiu o mesmo Deus, o Deus de Israel. Os vs. 14-16 testemunham a verdade que salva. A morte de Jesus muda o curso do mundo. O conteúdo de Nm 21.4-9 6 representação antecipada do evento salvlvico no Gólgota. Em Jesus Cristo Deus er- gueu um sinal para o mundo, prometendo salvação para aquele que crê. Procurando li-

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bertação do pecado, basta olhar para a cruz. Olhar e crer no Cristo crucificado significa receber remissão de todos os pecados e perdão de toda culpa. Quem nele crê, jA tem "vi- da eterna".

Em João, o conceito "vida eterna" é conteúdo central da proclamação de Jesus. "Vida eterna" é uma dádiva, já presente, que recebe todo aquele que crê. Na pessoa de Jesus, Deus oferece a salvação tanto no presente como no futuro. Aquele que está num relacio- namento intimo com ele já tem a "vida eterna" como dádiva e promessa para a eternidade.

O termo hypsoo assume papel importante em João. Descreve a volta do Redentor para o lar eterno, recebendo honra e gl6ria (cf. AT, doxazo). Jesus atingiu o objetivo de sua missão. Alvo de sua obediência e morte 6 sua exaltaçáo. Os homens, crucificando Jesus, na verdade o exaltaram. Sua obediência atb à morte o legitima como Messias e revela sua união com o Pai. Sua exaltação na cruz 6 o inlcio de sua exaltação e participação na gl0ria do Pai..

I. O verslculo 16 foi intitulado "o evangelho no evangelho". O motivo da ação divina B o seu insondhvel amor. Deus não quer a rnorte do pecador. Por isso ele demonstrou o seu ainor de "tal" maneira (cf. o inlcio do verslculo) entregando o seu Filho único à cruz. "Assim" 6 G

ainor de Deus. Estc amor não se encontra na natureza, na história ou na próxima esquina, mas somente na auto-entrega do Filho. Olhando para "este amor", aprendemos o que 6 amor ern vcrdadc.

Segundo o vers(culo 16, o mundo 6 obj~to da ação divina. Deus enviou (deu) o seu Filho a este mundo. "Pelo arrior ao iniindo" L. uma cxpressao nrio-grega Arriar "este" mundo 6 algo totalrricntc novo. Por isso 6 dito a "este" mundo que o Salvador não veio para "julgar"', e sim para salvar o rriundo.

5. A vinda do Salvador ao mondo traz decisão e separação (cf. luzltrevas -- vidalmorte - confiança/desconfiança). Pela mariifestaçao do esplrito de Deus haverá o inicio de uma nova criação. Por seu poder seri4 desvendado o interior do homem (cf. 16.8). O hornern sc posicionar3. perante a revelação. A conseqüência de seu posicionamento será a vida ou a morte (cf. v. 19 o caráter do juizo destas afirmações). Quem entra em contato com o espirito do Senhor, mediante a proclamação da verdade, será desmascarado. Haverá aceitação desta verdade revelada ou contestaçao. A decisão contra o Filho é igual ao au- to-julgamento que termina com a condenação.

6. O evangelista quer solicitar a fé no ouvinte. A vontade de Deus quer originar esta fé em todos (cf. o universalismo das afirmações). Naqueles que crêem, esta vontade se realiza, pois a fé no Filho unigénito é a prédisposiçáo para a salvação. O alvo, de salvar o mundo em Cristo, R alcançado naqueles que depositam toda sua confiança na palavra e obra de Jesus. Não existe motivo de condenar aqueles que confiam de todo coração nesta oferta graciosa, que o pr6prio Deus revela ao mundo em seu Filho unigênito.

7. DisposiçOes para o sermáo.

a) NA PESSOA DE CRISTO TRANSPARECE O AMOR DE DEUS AO MUNDO.

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Esta verdade: I - confirma o tesiemuno do passado;

I1 - vale para cada pecador;

111 - se expressa na sua obra salvadora.

b) VIDA E OBRA DE CRISTO SOLICITAM DE CADA UM DE NÓS

I - o arrependimento sincero;

I1 - a fé na oferta divina.

C) A LUZ DA VERDADE DIVINA SERÁ MANIFESTO O INTERIOR DO HOMEM.

I - Negar-se ao convite de Cristo significa permanecer nas trevas;

I1 - Dar crédito ao ebangelho anunciado significa beber da fonte da vi- da.

d) O EVANGELHO DE CRISTO COLOCA CADA HOMEM PERANTE A DECISAO:

I - permanecer no caminho da morte; I1 .- seguir o caminho da vida.

e) SOMEN7-E EM CRISTO HÁ SAL VAÇÁO.

I - Ninguém merece o seu amor; I1 - Ele sofreu a morte em nosso lugar;

111 - Sua cruz nos trouxe 3 v~da verdadeira.

f) CRISTO, O HOLOCAUSTO DIVINO PARA O MUNDO PECADOR.

I - rejeitado pelo incrddulo;

I1 - oferecido mediante n palavra do amor;

111 - vivido de fé em 16.

Hans Horsch

19

Quinto Domingo de Quaresma

Jo 12.2@33

1. O ano eclesiástico nos leva ao ciclo da páscoa. Hoje c5 o quinto e Último domingo de quaresma. Chama-se Judica, que quer dizer: "faze-me justiça, 6 Deus" (SI 43.1). Nos cinco domingos quaresmais o povo de Deus medita, especialmente, sobre o sofrimento e morte de Cristo. Como o período de advento, também o ciclo da páscoa é considerado um tempo de pe- nitência e arrependimento. E tempus clausum.

2. Jesus já está em Jerusalgm. Como as multidões, Cristo também viera para a festa da páscoa dos judeus. Embora, por um instante, ter sido aclamado com o "bendito o que vem em o nome do Senhor", Cristo está cercado por um ambiente de desprezo e incredulidade por parte do povo e por conspiração e ameaças de morte por parte das autoridades eclesiásticas. Cristo estA vivendo num contexto que aponta para o Calvário.

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3. O texto oferece múltiplos enfoques homil8ticos. Parece-nos, porbm, que a idbia-mãe estã expressa nas palavras de Cristo: ''E chegada a hora ..." (v. 23). Tudo gira em torno deste histbrico momento. O evangelista não explicita se Cristo ignorou a presença de "alguns gre- gos" (v. 20) diante de sua preocupação com tudo que envolvia e compreendia o "8 chegada a hora", ou se Cristo assim exclamou exatamente considerando a presença e o pedido destes prosblitos: "Senhor, queremos ver a Jesus" (v. 21). A segunda alternativa B mais apropriada ao estilo de Cristo.

4. "É chegada a hora". É uma afirmativa mais importante do que possa parecer. Não existe improvisação na vida e obra de Cristo. Não existe azar, nem surpresa, nem coincidên- cia no nascimento, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. Todos os fatos que envolvem o programa da salvação foram pensados, previstos, planejados e executados conforme um per- feito cronograma de Deus. Cristo tinha ciência e consciência do ministkrio da reconciliação. Falando do nascimento do Salvador, Paulo diz que foi "na plenitude do tempo que Deus enviou seu Filho" (GI 4.4). Nasceu na hora marcada. Cristo sabia que era "necessário sofrer, morrer e ressuscitar dos mortos" (Mc 8.31). Tudo a seu tempo, na hora marcada. Em muitas oportu- nidades, ao longo de sua atuação, Cristo fala do "está na hora" e do "não está na hord". Em Jo 2.4, Cristo diz que "ainda não é chegada a minha hora". Em Jo 7.30, o evangelista conclui que "ninguém lhe pcs a máo porque ainda não era chegada a sua hora". Em Jo 13.1, lê-se: "sa- bendo Jesus qiic cra chegada a hora de passar deste mundc para o Pai...". Na oração sacer- dotal. Jesus ora: "Pai, é chegada a hora" (Jo 17.1). No Getsêmani, Cristo diz aos discípulos: "Basta! chegou a hora!" (Me 14.41). Aqui, em Jerusaldm, pouco arites de sua prisão e morte, Cristo prega, olhando para a cruz com a certeza: "É chegada a hora".

5 Que hora é chcg~dn7 Era chegada a hora de Cristo "sentir sua alma angustiada" (v 27). de morrer como "niorrc o grão de trigo para produzir muito fruto" (v. 24), de mostrar qual o "amor para a vida etcrnn" (v 25). de como é preciso "seguir e servir para honrar o Pai" (v 26), de ser "glorificado e honrado o Pai" (v 23,26,28). Apesar de todo o desprezo, sofrimento e an- gústia, a morte dc Cristo náo é um momento de vergonha e derrota, mas de honra e glorifica- ção. O Salvador sabe disso, pois "precisamente com este propósito vim para esta hora" (v. 27).

6. Para o tema do sermão existem diversas alternativas. Depende do enfoque que se pretende dar. Eis algumas sugestões: 1F - Senhor, queremos ver a Jesus (v. 21); 2" Como viver para a vida eterna (v. 25); 3" Eu vim com este propósito (v. 27); 40 - E chegada a hora (v. 27). Optamos pelo último:

E CHEGADA A HORA

I - De Cristo sofrer e morrer (v. 24,27,33) 11 - De Cristo honrar e glorificar ao Pai (v. 23,26,28) 111 - De Cristo atrair todos a si e dar a vida eterna (v. 25,32).

Leopoldo Heimann

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Dimingo de RamoslPaixiio

1. Domingo de Ramos. Atb recentemente caracterizado pelo ambiente de festa, de alegria, de júbilo, de cântico. Dia da entrada triunfal de Jesus em Jerusalbm. Dia de estender vestes e ramos pelo caminho de Cristo. Dia de vibração, de aleluia, de "hosanas, de g16rias nas maiores alturas". O tradicional dia de confirmação nas congregações. Hoje, coni a nova série de perlcopes, porém, o destaque maior está expresso no próprio nome: Domingo da Pai- xão! A intenção é olhar mais para o Cristo que vai ao CalvArio do que para o Cristo "montado em jumento". É urna questão de ênfase. O Domingo de Ramos/Paixáo abre a porta da sema- na santa: sofrimento, crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

2. Este enfoque menos festivo do domingo de ramos e da seniana santa levou os elabo- radores da nova sbrie de perlcopes a escolher um texto bem mais extenso: dois capltulos de Marcos. Engloba todos os fatos que envolvem o drama da paixão e morte de Cristo. Os 119 verslculos iniciam com o final do grande sermão escatol6gico de .Jesus e concli~i com o "foi morto e sepultado". Como fica difícil examinar toda a matéria, algumas reflexóes sobre 14.1,2.

3. Lucas apresenta maiores detalhes que Marcos. Afirma que Cristo anunciara aos disclpulos: "e o Filho do hornem será entregue para ser crucificado"; que, albrn dos sacerdo- tes e estribas, também "os anciáos do povo se reuniram"; que a retini20 para decidir sobre a (norte de Cristo aconteceu no "palácio do sumo sacerdote Caifás". São as autoridades ecle- siásticas que conspiram contra Jesus. São os guias espirituais que querern eliminar o Filt-io de Deus. Sáo os integrantes do Sinédrio que planejam um crime-deicldio. Çaccrdotes eram mi- nistros irivestidos de autoridade para uma triplice atividade: ministrar no santuário diante do Senhor; ensinar o povo a guardar a lei de Deus; tomar conhecimento da vontade divina, con- gi.iltando o Urim e Turnirn (ex 28.30; Ed 2.62; Nm 16.40; Jr 18.18; Ez 7.26). Anciáos - tltulo dos sucessors do chefe de família ou do prlncipe da tribo; exerciam autoridade sobre o povo, participavam dos pactos civis ou religiosos entre os povos. Um corpo de setenta anciáos as- sistia Mois6s no governo dos israelitas; cada cidade tinha seu conselho de anciãos (1 Rs 8.1- 3; Dt 27.1; Js 7.6; Dt 19.12; Mt 15.2). Nos primbrdios da igreja cristã, o ofício de ancião re- vestia-se de muita dignidade, ao lado dos "bispos" e ap6stolos (At 15.2-23; 16.4; 1 Tm 3.5). Fariseus - ao lado dos saduceus e essênios, uma das três principais seitas do judais- mo a mais segura e rigorosa. Surgido no At, este partido religioso cria na predestinação, na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo, nas recompensas e castigos na vida além da morte. 0 s "fariseus eram pessoas de grande valor religioso e constitulam a parte melhor da nação judaica". Acreditando ser possível cumprir a lei de Deus, sua religiosidade era concebi- da como a pratica de atos exteriores; este vlcio religioso de "querer aparecer" os transformou em pessoas orgulhosas e foram repreendidas como "hipócritas, túmulos caiados, raças de ví- boras" (Mt 5.20; Mc 3.6; Jo 11.47).

4. O grande paradoxo: estes lideres espirituais do povo de Israel - sacerdotes, an-

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ciãos e fariseus - estão "preocupados como o prenderiam, A traição, e o matariam". As auto- 1 ridades religiosas do povo de Deus querem matar o Filho de Deus. Três palavras com cheiro de crime: traiçao! prisão! morie! Na verdade, os ministros e guias espirituais de Israel prepa- ram um sequestro sem resgate do Messias: trair, prender, matar. Que plano diabólico arqui- tetado por aqueles que deveriam "defender, soltar e salvar" a Cristo. Com "aparência de direi- to", querem eliminar o Senhor, A traição, na surdina, As escondidas, porque eles tinham medo do povo e queriam evitar todo tipo de tumulto, que os poderia comprometer.

5. A incredulidade levou os Ifderes religiosos A corrupçáo, A degeneração, A impenitên- cia, ao formalisrno espiritual, B hipocrisia. O mesmo pecado pode repetir-se.

6. Para o desenvolvimento da mensagem, algumas sugestóes de temas: 1 0 - Jesus será crucificado; 20 - Jesus precisa morrer; 3" Jesus foi traído. Nossa opção é pela tercei- ra:

JESUS FOI TRAIDO

I - Pelos sacerdotes

I1 - Pelos anciáos

111 - Pelos fariseus.

Leopoldo Heimann

Sexta-Feira Santa

JO 19.17-30

1 . Sexta-fcira santa, niorte do Senhor Jcsus Cristo. Dia diverso de todos os demais. Coni vaiiaçõcs, ontorri e tiojc, a igreja crista procurou celebrar os ciiltos com gestos espe- ciais: náo caritlir doxologins, não tocar o sirio e iristriimentos musicais, altar sem flores, para- mcntos pretos, celcbraçBo da sarita ceia. Norriialrncntc, o culto do ano com maior freqüência. Até os relapsos váo A igreja. O rriundo civil pára suas atividades em sinal de respeito. Tudo para expressar dores e luto pela rnortc de Cristo. Um dia "em que houve trevas sobre toda a terra".

2. Até A Reforma, ao que parece, a perícope de 6?-feira santa não era de iim sb texto. Segundo compêndios de litiirgica e hornilética, as mensagens, neste dia, simplesmente conta- vam a "hist6ria da paixão e morte de Jesus Cristo, conforme a harmonia dos quatro Evange- lhos". Ainda existem congregações e igrejas com o mesmo hábito. Hoje, porém, diversas sé- ries de perfcopes indicam um texto de um Evangelho. A Trienal também. E um texto breve! Está entre dois fatos históricos do dia: desde "Pilatos o entregou para ser crucificado" até "rendeu o espírito". O propósito principal de João é apontar para a exclamação "está consu- mado" e para a morte de Cristo.

3. E muito difícil realizar um ofício religioso na 6?-feira santa sem encolver-se com as

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sete últims palavras de Cristo na cruz. Conforme a harmonia dos Evangelhos, são estas as palavras que Cristo pronunciou no alto da cruz: 1" 'Pai. perdoa-lhes ..." (Lc 23.34); 20 - "Em verdade te digo ... paralso" '(Lc 23.43); 3" "Mulher ... teu filho ... tua mãe" (Jo 19.2); 49 - "Deus meu... desamparaste?" (Mc 15.4); 5" 'Tenho sede" (Jo 19.28); 60 - "Esta consuma- do" (Jo 19.30); P - "Pai, nas tuas mãos ..." (Lc 23.46). Das sete palavras, João cita três. Um contexto riqulssimo, e que não pode ser omitido.

4. Haviam escolhido a morte mais cruel - a crucificação. O local mais horroroso - o Lugar da Caveira. Tudo parecia sair conforme planejado pelas autoridades e o povo. Mas al- guns "equivocas" acontecem: Talvez sem imaginar e contrariando a vontade dos judeus, Pi- latos escreve o tltulo correto na cruz de Cristo - Rei; esta inscriçáo 6 feita nas três Ilnguas universais da época: hebraico - a língua do povo de Deus; latim - a língua dos dominado- res do mundo polltico; grego - a língua do mundo cultural; sem saber, os soldados fazem com as vestes de Jesus o que estava previsto - "para se cumprir a Escritura" (v. 24). Tam- bém "para se cumprir a Escritura" (v. 28), vendo "que tudo já estava consumado, Jesus disse: Tenho sede". Na realidade, não havia nenhum equivoco no Calvario. Nada foi surpresa. Nada foi improvisado. Cristo estava ciente e consciente de que "havia chegado a hora". tudo acon- tecia conforme Deus havia pensado, planejado e programado "para se cumprir a Escritura".

5. "Estd consumado!" (tet&lestai!) Está terminado! Esta concluldo! Estâ encerrado! Esta completado! Esta executado! Palavra mais importante, mais significativa, mais decisiva na mensagem do cristianismo. Palavra rica e profunda (teléu) que engloba dois significados difcrcntcs: o tempo chegou ao fim ("die End-Zeit"); a obra foi conclulda ("genau nach dem Befetil ausfutiren, vollbringen - Ziel"). Quando Cristo exclamou: "Esta consumado" as duas colsas aconteceram: o tempo havia checado; a obra da salvação estava concluída.

6. Neste texto, o pregador encontrara muitas opções para formular e desenvolver o seu temia. Depende do enfoque especial que pretende dar. Optamos por este:

JESUS MORREU

I - Para cumprir as promessas da Escritura (v. 24,28)

I1 - Para consumar a obra da redenção (v. 17,28,30)

111 - Para nos entregar nas mãos do Pai (v. 26,27,30)

Leopoldo Heimann

Festa da Páscoa

MC 16.1-8

Preliminar - Época da Páscoa

Náo podemos ingressar na 6poca pascoal e nem examinar os textos das perlcopes, sem, antes, recordar a origem e significado da Phscoa no AT e no NT. Sem este conteúdo, o exame do relato dos.textos não 6 entendido em seu alcance, não causa em n6s a impressão necesshria e não arranca de n6s os aleluias (= louvai ao Senhor) esperados.

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A Páscoa no AT - Foi institulda e comemorada no Egito. Foi o acontecimento final em comemoração 3 libertaçáo (redenção) de Israel da escravidão (Ex 12). Depois passou a ser comemorada anualmente, em lembrança e gratidáo pela libertaçáo, integrando o conjunto das três grandes festas do Al (Dt 16 e Lv 23). IJm cordeiro sem rnancha era sacrificado, e seli sangue derramado rí-?prestintava a expiação. As residbncias (no Egito) foram mílrcadas comi este sangue. Estas casas, assim identificadar,, foram poupadas do extermlriio dos primogêni- tos. Os libertos passaram a caminhar sob a proteçao de Deus em direçcío A terra de Cãriaá. A ação dc Deus Iransfovmou este povo, qiie não tinha recursos próprios para libertar-se, num povo vitorioso e separado para a comunh,io e o serviço de Deus. Este povo foi estabelecido para servir de poderoso charnanierilo para que o mundo voltasse novamente a Dei!:; e viveç- :>e.

A P8scoc~ no NT - a festa da rc.ssurreiç,io de Jesus Cristo É tantbém d comernora- q;io da IiberBçáo (iedençáo) do novo Israel (concrito i~niversal do povo de Deus) do dorninio do pecado e da morte. a garantia da hernn~a da nova Uanaá, dos 'novos c6us f: nova ter- ra". Cristo, o Tilho do Altksirno, toinou-sc o Cordeiro voluntArio, son-i defeito e seili niAculd. Foi sar,rificado, e seu sangue, A serriclhança tld primeira PAscod, (i gardntia de que Ueos POLI-

para da morte eterna todos os idenlificados rorri c+. Ap 1.5 afirma que "pelo seis san(jcie nos libertou dos nossos pecados", e, ainda A semclhan~a do AT, "noc3 coristitui reino, sucerdott.s pdra o seu Dciis e F'ai " A ressurreiçao de Cn:,to foi a vit6ria sobie o pecado o a niorie. Esta vit6ria nos foi Icgada por graqs de Ucii?, poiqiic. riiis t,iri~bkrn nno tiriliaino<, rrcilrsus para vc?ri cer e voltar d viver acllii c cterridrrtcnle

O texto

O texto estA inserido ncstc contc!xto arriplo. ';ontém uma meiisayem cenlral, que 6 O propbsito da pcrlcopí! c alguns detalt-ies sigriificalivos.

/1 ~nens<igerri central: "EIc ressiiscitoti, não cstA rnais aqiii".

Estc porito alto da perlcope B a revelac;áo daquilo que a razáo não entendia e a fé fraca riao conseguia ctceitar: Cr~sto voltou A vida ap6s ter sido literalmerite niorio na 65 feira.

Sornerite pode ressuscitar quem realmeritc esteve morto. A ressurreiçáo significa, de modo geral, a reunião (re-unir) do corpo e da alma. É o retorno vida integral (corpo-talma).

Os Uiscipulos estavam confusos e duvidavam de muitas cousas, mas náo tinha dúvidas de que ele realmente morrera. Viram o Senhor morto. Os sinais de morte eram evidentes na 6 2 feira (Mc 15.44-45).

Por que morrera? a) Porque a ji~stiça divina exigia o derramamento de sangue perfeito como pagamento do resgate dos que foram sequestrados da presença de Deus pelo pecado (Hb 9.22); b) Porque quis morrer. A morte foi um ato absolutamente voluntário, por amor aos pcadores. O texto de Jo 10.17-18 é uma declaração extraordinária. Neste texto Jesus afirma que vai dar a sua vida para reassumí-Ia.

A ressurreiçáo é o momento em que ele reassume a vida. Ele tinha prometido que o fa- ria. O AT traz diversas passagens em que é predita a ressurreiçáo daquele que viria redimir a

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humanidade. O próprio Senhor, ap6s a Páscoa, cita um destes textos em Lc 24.44-46 (refe- rência a Os 6.2). No NT, o pr6prio Senhor predisse este acontecimento. Em Mt 12.28-40, por exemplo, Jesus responde aos judeus, que pediam um sinal dos céus como prova de sua mis- sáo e divindade, apontando a ressurreição dele como prova.

Algumas razões que demonstram a máxima importância da ressurreiçao de Cristo:

- Prova a divindade de Cristo (Mt 12.38-40). Foi demonstrado Filho de Deus (Rrn 1.4).

- Confere confiabilidade as promessas de Cristo para os nossos dias e As promessas

escatológicas. Pois, se ele é o Filho de Deus, segue-se que sua palavra e doutrina são verdadeiras. Se cumpriu com a promessa da ressurreição, cumprirá com as ou- tras promessas.

- Exalta o Senhor como soberano sobre tudo. Reina no unilerso. Venceu e subjugou a morte (1s 25.8 - "Tragará a morte para sempre".).

- Prova que seu sofrimento e morte foram aceitos como expiação das nossas iniquida-

des. A remissão dos pecados e a justificação dos filhos de Deus está garantida. Pois, a ressurreiçáo é demonstração de que Deus aceitou e declarou que a justiça di- vina estava satisfeita (Rm 4.25; Rm 8.33-34).

- Garante a nossa ressurreição (Jo 5.28-29). Jo 11.25 apresenta Cristo como "a res- surreição e a vida". 1 Ts 4.14 afirma que nbs também ressuscitaremos. Em Jo 14.19 Jesus declara: "Eu vivo, v6s tamb6m vivereis."

- Dá um poderoso estlmulo para o nosso alegre caminhar, apesar das dificuldades

desta vida, para os "novos cbus e nova terra" (A! 13.32-33). 0 s "novos céus e nova terra" são a nova Canaã, onde gozaremos a plena libertação e a vida total.

- Dá segurança de que nossa fé não é vã (1 Co 1.5.14).

Detalhes significativos: A misericórdia, demonstrada por Jesus Cristo ao longo de toda a sua vida terrena, b revelada aos personagens do texto:

a) As mulheres. Mostram claramente que não confiavam na promessa que Jesus fizera sobre sua ressurreiçáo no terceiro dia. "Compraram aroma para embalsama-lo" é prova elo- qüente de que procuravam um morto. Para que embalsamar algubm que iria ressuscitar na- quele dia? O Mestre poderia sentir-se ofendido por esta atitude e recrimina-las. Mais ainda: o espanto e o assombro que as levou a fugir, confirmam que a ressurreiçáo não estava nos pla- nos delas e que a idéia a respeito excedia sua compreensão. Não tinham esperança de que Cristo estivesse vivo. Mesmo assim, o enviado de Deus (anjo) ~e~di r ige a elas sem repreen- sões. Conforta-as: "Não vos atemorizeis". Presta informaçáo vital: "Ele ressuscitou: "0- rienta: "Ele vai adiante de v6s ... lá o vereis".

b) Pedro. A menção especial ao nome de Pedro demonstra que Deus está interessado nos que fracassaram e falharam. Este é um dos mistérios do amor de Deus. Ele veio para os fracassados: "Os sãos não precisam de médico". Pedro deveria, agora, ser restaurado pela notlcia evangélica de que Cristo VIVE. Imaginemos esta noticia na vida de Pedro que se sentia co-responshvel pela morte de Cristo (negação dele)! TambBm deveria ser preparado para a

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grande missão que Jesus entregou a ele e aos outros ap6stolos. A distinção dada a Pedro, que tinha negado vergonhosamente o Mestre e a sua conseqüente restauração para obra táo importante, é revelaçáo da misericórdia de Deus e um poderoso estlmulo para o serviço a Deus.

N6s também temos dúvidas. Esquecemos em muitas oportunidades as promessas fei- tas pelo Senhor e atC: nos comportamos como as mulheres descrentes. Vivenios como se o senhor estivesse morto ou ausente. Mesmo assim, a misericórdia de Deus está conosco.

Também negamos o Mestre, como Pedro o fizera. Mesmo assim, a rniscricórdia de Deus rios ampara.

Esta iiotícia da ressurreição e a rriiserichrdia de Deus devem impulsionar os cristãos a divulgar a mensagem da salvação

Disposição para scrnião:

I - Confirma a esperança dos cristãos. I1 -- É uni estímulo para os fracos servos de Deus.

Martinho Sonntag

Segundo Domingo de Phscoa

O tcxto dcscrcvc f~itos hist6ricos acontecidos logo após a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. O ol,jctivo <! r:l~ro: Jesiis rcvcla-:;c aos sciis segiiiclores como vitoiioso para certifi- cti-10:; da var:icidndo do sii;i prorno:;sa de qiic vcriceria n morte. Converice-os, desta forma, dcfiriilivrirric?ritc, da sua (livindade. O rcsult;ido scria a volta à pâz, A alegria e A vida produtiva. A (>a:, :;cria resultado dc unia I<! hcni csprcifica: "Estes forani registradcis para que creais que .J(>sus Cri:;to c! o Fil/io dt? Deus, e para que, crendo, tcnhais vida ern seu nome" (Jo 20.31).

1. Jesus não 6 urn fantasma. Não 6 wrnii imaginação de trauniatizados e medrosos dis- cípulos. Nao 6 produto de uma alucinação coletiva.

Ele conseguiu entrar numa sala fechada porque possui agora o qiie o Paiilo chama de "corpo espiritual" (1 Co 15.44). Urn corpo glorificado, não mais sujeito As: l imitaçks terre- nas do tempo e do espaço físico.

Assim serh também o nosso corpo após a ressurreição no juizo final (veja 1 Co 15).

2. Cristo estava presente com o seu corpo. Lc 24.39 registra o convite especial aos discípulos, antes do encontro com Tomé, para que apalpassem o Senhor Jesus e se certificas- sem da sua presença corporal. Nos versículos 42 e 39 Jesus estA comendo, coisa que um ser

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sem corpo não faz. Há outros textos que falam da presença e atividades flsicas do Senhor. .O Cristo Deus-homem estava ali na sala.

Cristo sabia da dificuldade que eles tinham devido à fraqueza de fé e de confiança nas suas promessas. Precisavam ser firmados. Por isso, insiste com Tomé: "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente." Crer na ressurreição fisica do Senhor era fundamental para restituír-lhes a paz, alegria e vida.

Tomé, fraco e tomado pelas dúvidas, não se convence sem antes sentir pelo tato o sinal dos cravos e da lança no corpo de Cristo. É um autêntico representante de nossos tem- pos do materialismo e da era da ciência e da técnica. Jesus o censura: "Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram, e creram." Jesus elogia a fR que não necessita de evidências tanglveis. Jesus dá a entender que a evidência registrada pelos sentidos R ina- dequada para sustentar a f6: "Bem-aventurados os que não viram e creram."

A fé 15 criada e alimentada basicamente pelas palavras e promessas (realizáveis no futuro) do Senhor Deus. Pedir comprovação demonstra falta de confiança naquele que fez a promessa. Por isso. a censura de Cristo. Como seria possível crer, por exemplo, nos conteú- dos escatológicos, crer na vida eterna e nos "novos c6us e nova terra" se não crêssemos nas promessas do Senhor?

3. "Ao cair da tarde naquele dia ... veio Jesus, pôs-se no meio ..." Este dia era o domin- go da ressurreição. A revelação física de Cristo aos discipulos tinha o prop6sito de favorecé- los no momento da fraqueza da fé. O Senhor sabia que precisavam desta demonstração visl- vel para serem convencidos e fortalecidos. E o que declara o v. 31. E Jesus não perde tempo, náo demora nesta sua ação.

4. "Paz seja convosco". Os discfpulos estavam com medo e aterrorizados porque: 1" Jesiis tinha morrido; 2" O repentino e inesperado aparecimento de Jesus OS

perturbou.

0 fato de que estavam tristes pela morte de Jesus e o fato do aparecimento ter sido inesperado - demonstram que não tinham lembrança e nem f6 nas promessas da ressurrei- ção. A paz somerite voltaria à vida dos discipulos se vissem o Senhor vivo e soubessem que Jesiis venceu (Jo 16.33).

A paz é fruto do Espírito (GI 5.22-23). E resultado da ação de Deus na vida das pes- soas (lembre: Jo 14.27).

5. "Assim como o Pai me enviou, eu tambRm vos envio". Agora eles estão preparados para receberem esta tarefa. Viram o Senhor e estão em paz. Agora há condições de revelar (anunciar) o Cristo vivo ao mundo para que o mundo também encontre a paz.

Um fato significativo: A missão que o Pai entrega ao Filho agora R repassada aos

disclpulos. Fazem parte da missão do Filho. Assim tambRm compartilham do mesmo destino, da mesma glbria.

Assim como Deus deu esta oportunidade aos cristãos, os cristãos devem dar a oportunidade aos pagãos, levando a mensagem ate eles (Mt 28.18-20).

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Tudo isto não pode acontecer sem o Esplrito Santo. Por isso:

6. "Recebei o Espfrito Sanlo" - O Espfrito Santo, Deus como o Pai e o Filho, A o agente capacitador: a) que transforma, atravAs do evangelho, a pessoa descrente em crente; b) que equipa para a obra da evangelização.

E assim o enviado esta apto para:

7. Perdoar ou reter os pecados - Esta A, agora, uma questão fundamental. A fe no Senhor ressuscitado A decisiva. O perdão, concedido aos arrependidos, 6 o único meio para a reconciliaçáo com Deus, para a obtençáo da paz com Deus, consigo mesmo e com os outros. Os enviados de Deus devem dar ênfase ao "perdoar-reter". Esta questão 6 decidida diante do Senhor ressuscitado: fé-falta de f6 determinarn o perdoar-reter.

8. "Senhor meu e Deus meu!" - Esta confissáo de Tomé é uma das maiores confis- sóes neotestamentárias sobre a divindade e o senhorio de Cristo. É o fim dramático de um processo divino. O objetivo foi alcançado. O evangelho foi escrito para alcançar este objetivo. Este deve ser tambbm o depoimento eloqüente e dramhtico do mundo evangelizado por Deus, atrav6s do testemunho dos seus enviados.

Tomé, após este reconhecimento, voltou a ter paz. O mundo também precisa desta paz!

Disposição para sermão:

A PAZ É UMA BENDITA DÁDIVA DE DEUS

I - Aos discipulos -- através da revelação visivel do Cristo ressurreto.

11 - Ao mundo - atrav6s dos discipulos que revelam o Cristo ressurreto.

Martlnho Sonntag

Terceiro Domingo de Pdscoa

At 4.8-12 (Lc 24.36-49)

As mesmas pessoas que lideraram o povo no seu 6dio contra Jesus Cristo entram em cena no episódio deste texto. Odiavam o Senhor pelo que ele dizia e fazia. O orgulho deles, tocado pela mensagem e ação de Cristo, os levou a reação para eliminar este "inct~modo". Crucificaram Jesus. Agora, neste texto, aparecem as mesmas pessoas com o mesmo propd- sito: impedir que sua obra continue atravAs dos discipulos.

Destaques do texto:

1. "Pedro, cheio do Espfrito Santo". O discurso de Pedro (seu conteúdo e maneira de apresentá-lo) somente pode ser entendido a partir desta informação. Pedro, juntamente com

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seus companheiros, era um homem medroso (náo tinha coragem de confessar-se seguidor de Cristo diante de uma empregada) e cheio de dúvidas. Agora está inspirado, sábio, confiante e corajoso. O segredo desta mudança está no "cheio do Espírito Santo". O Espirito Santo transforma a pessoa humana: a) Faz a pessoa nascer(f6) (Jo 3.3,6); b) Unge a pessoa e lhe dá conhecimento (1 Jo 2.20,27); c) Confere poder aos filhos de Deus (At 1.8); d) Derrama amor nos corações (Rm 5.5); e) Assiste na fraqueza (Rm 8.26); 1) Testifica que somos filhos de Deus (Rm 8.16); g) Enriquece na esperança (Rm 15.13); h) Capacita para realizar prodí- gios (UM 15.19); i) Fortalece (Ef 3.16); j) Dá testemunho (Hb 10.15 e 1 Jo 5.6). O Espírito Santo é Deus. E, se Deus estava com e em Pedro, podemos entender a mudança radical ha- vida com ele.

2. "Tomai conhecimento vós todos e todo o povo de Israel ..." Com estas palavras Pe- dro começa a informar, categoricamente, sem rodeios, de que a cura do coxo aconteceu em nome de Jesus, o Nazareno. E não é outro. É aquele que "vós crucificastes" e quem "Deus ressuscitou dentre os mortos". Pedro respondeu muito mais do que estas autoridades queriam ouvir. Como já o fizera no dia de Pentecostes, desfila diante deles o histórico da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Afirma que Jesus Cristo est3 vivo, tão vivo que a cura aconteceu em nome dele. Imaginemos o espanto desta gente. Eles desejavam que Cristo estivesse morto. Agora precisam ouvir que ele está vivo. Entraram em confusão total: "Que fakmos com estes homeris?" é a pergunta que se fazem, "ao verem a intrepidez de Pedro e João".

3. "Este Jesus é... pedra angular"

Pedro recorda o SI 118.22. Voltou a usar a mesma idéia em 1 Pe 2.7. Cristo B a pedra do alicerce que sustenta todo o edifício espiritual. Não sorncrite a salvaçáo da humanidade re- pousa sobre Cristo, mas a própria restauração da glória eterna para a humanidade. Ele, Jesus o Nazareno (Homem-Deus), é o sustentáculo para a reconstrução: "novos céus e nova ter- ra." Impressiona a menção que Pedro faz: "O Nazareno". Nazareno era, na Bpoca, sinônimo de "gente de segunda classe", os "insignificantes" e "incapazes". "De Nazar6 pode sair algu- ma cousa boa?" (Jo 1.46). Parece que Pedro está dizendo: "Este desprezado, que vocês mataram, venceu. Curamos e pregamos com o poder dele. Diante dele voc6s precisam apa- recer". Pois, ele é aquela "pedra que os construtores rejeitaram".

A mensagem da "pedra angular" é o tema essencial da esperança cristã sobre o triunfo final de Jesus Cristo. Faz, também, pensar na firmeza da igreja cristã. Pedro utilizou esta mensagem para encorajar os cristãos na época das perseguições e sofrimentos (1 Pe 2.7). Pedro vira o Senhor triunfar sobre a morte, em sua ressurreição, e sabia que os cristãos nele haveriam de triunfar tamb6m nesta vida e, finalmente, sobre a morte.

4. "E em nenhum outro há salvação". Este "Nazareno" é a única esperança para quem deseja ser salvo do pecado, da condenação e da morte. Salvação - é o objetivo de tudo o que estava acontecendo desde Belém, passando pelo CalvArio e culminando no túmulo aberto.

Todos os homens necessitam de salvação por serem criaturas decaldas, impotentes e sem recursos de espécie alguma. "Vocês também, autoridades do povo e anciãos". É isto mesmo, "vocês, apesar de pensarem que com cumprimento externo de algumas leis alcança- rão favores de Deus, dependem integralmente deste que vocês mataram."

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Cristo b o Salvador do homem todo e de todos os homens. Tambbm dos integrantes do Sinbdrio. Tambbrn de todos n6s.

Cristo 6 o único e exclusivo: Jo 14.6

Disposição para sermão:

OS CRISTÁOS SÁO INSTRUMENTOS D E DEUS

I - Preparados pelo Esplíito Santo.

I1 - Portadores da mensagem vital.

Mariinho Sonntag

Quarto Domingo da Páscoa

JO 10.11-18

1. O texto por certo é conhecido, podendo até ser considerado um texto "batido". A tentaçrío 6 pensar que já se conhece o tcxto suficientemente. Cumpre, no entanto, ier o texto como se fosso novo e, de modo especial, inseri-lo no contexto maior de João.

2. No cvangclho de Joao, tambbm es!e texto foi registrado para que o leitor creia que Jesus b o Cristo, o Filfio de Dous, o para que, crendo, tentia vida em seu nome (Jo 20.31). Portarito, 6 iirri tcxto qiic fala da nios:;ianidndc de Jcsii:;. Quando Jesus diz "eu sou o bom píi:;tor" estA farcndo iinin roiviiidic;içiio rnessifiriica, diliritc da qual o Ieitor/ouvinte precisa to- nnr iirri;i atitiido. E isto dc t fato acontccc (conio, d c rcsto, sucede em todo o evangelho de .Jo;io). Al:jiiiis o rccct)cni c outros o rcjeit;im (cf. Jo 10.19-21).

3. irnportnntc tcr em n-ieiitc: o coritcxto 1iic;tÓrico e m que estas palavras foram proferi- da:;. para ririo introduzir no coriccito "pastor" urna s6rie de idbias prb-concebidas (em geral de riaturcra scritirricntal). "No oriente antigo, jd cni data recuada 'pastor' era um título de honra qiic se aplicava n soberanos c divindades de igual rriodo" (Dicionhrio Internacional de Teologia, vol. III, p. 469). No Antigo Testamento, Javé 6 o único pastor de seu povo, descrito como re- banho (Salmo 23; Is 40.10.1 1; etc.) O Messias é descrito como pastor enviado por Deus (Ez 34.23; 37.22,24; Zc 13.7). Em Joao 10 não hd citação do Antigo Testamento, mas 6 impossi- vel deixar de perceber a alusão.

4. Jesus se apresenta como pastor. Em Joáo, esta palavra aparece seis vezes. To- das as referências estão em Joáo 10. O Jesus pastor aparece tambbm em Hb 13.20 e 1 Pe 2.25.

5. Cristo diz: "Eu sou o bom pastor". Este "eu sou" (ego eimi) 6 bastante significativo em termos de cristologia joanina. Denota a autoridade que 6 própria do Filho de Deus.

6. Em que sentido deve ser entendido o adjetivo "bom" (kalos)? A tendência 6 enten- dé-lo no sentido de bondoso, gracioso, etc. No contexto, todavia, serve para estabelecer um

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contraste com os falsos lideres, o "estranho" (Jo 10.5), os "ladrões e salteadores" (10.8), o 'mercenário" (1 0.1 3). Apresentando-se como bom paslor, Jesus fala de sua singularidade. Somente ele A pastor.

7. Jesus é bom pastor porque dá a sua vida pelas ovelhas. Este é um tema importan- te, pois é mencionado três vezes (v. 11,15 e 17). Este "dar a vida" A vicário (pelas ovelhas) e voluntArio ("eu espontaneamente a dou" - v. 18). Esta espontaneidade de Jesus A enfatizada em João. Jesus não A surpreendido por seus inimigos. Sua prisão e morte não resultaram de um descuido. Ele se entrega voluntária e soberanamente (cf. Jo 18.4-6). (ConvtSm conferir tambAm Fp 2.8,9: a si mesrno se humilhou; Jo 15.1 3; 1 Jo 3.1 6; Mc 10.45).

8. Jesus é bom pastor, porque conhece (ginoskei) suas ovelhas. Este conhecimento A muito mais que ter uma noção intelectualizada. Conhecimento, em Joáo, tem muito a ver com o verbo conhecer em hebraico (yadah). E urn relacionamento interpessoal. É, num certo sen- tido, uma "experiência", uma vivência. Em João, conhecer é praticamente sinônimo de crer.

9. Jesus k o bom pastor, porque se preocupa tambkm com as ovelhas que não são "deste aprisco" (v. 16). Ele quer formar um rebanho (mia poimne). Este tema reaparece em Jo 11.52 e 17.20. Também Efesios 2.1 4-1 8.

10. Quanto a pregação do texto, há, pelo merios, duas possibilidades: a) Expor o tema do bom pastor. No período da páscoa, o tema poderia ter a seguinte formação: O Cristo res- suscitado 6 O bom Pastor,' b) Aproveitar a pista indicada pela prirneira leitura do dia. At 4.23-33 apresenta a igreja em oração unánime (v. 24), uma comunidade da qual "era um o coraçãio e a alma" (v. 32). A luz disso, seria possível aprofundar o tema "um rebanho e um pastor" (v. 16).

Vilson Scholz

Quinto Domingo da Phscoa

JO 15.1-8

1. Um texto de João, para o quinto doniingo de páscoa. Não causa estranheza por- que, na s8rie trienal, a maioria das leituras do evangelho para os dorningos da pascoa 6 extraí- da de Joáo. João 15 é um texlo familiar. É difícil examiná-lo como se fosse um texto novo. Consegue-se isto lendo o texto original, examinando outras traduçócs, atentando para pala- vras, pesquisando conceitos, conferindo passagens paralelas.

2. Palavras e expressóes que se destacam: o categórico ego eimi ('ku sou" - v. 1); a palavra "videira", que, em Joáo, aparece apenas nesta perícope (v. 1,4,5); a construção "pro- duzir frutos" (v. 2,4,5,8); o verbo "permanecer", que aparece bastante, a partir do v. 4, a ex- pressão "sem mim" (v. 5), que precisa ser definida, pois pode significar "sem a minha ajuda" ou "separado de mim"; o verbo doxazo (glorificar), que é destaque no evangelho de João (v. 8); e o substantivo "discípulos" (mathetai - v. 8), que tem uma força toda especial em João, pois neste evangelho não aparece a designação "apóstolo".

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3. Examinando a Blblia na Linguagem de hoje, percebe-se o seguinte: "ramo" aparece como "galho'.'; "produzir fruto" e, por vezes, traduzido como "dar uvas"; "palavra" (ton lo- gon - v. 3) é entendido no sentido de "ensino"; o verbo meno ("permanecer") é traduzido por "ficar unido"; o verslculo oito diz: "a glória do meu Pai é conhecida por meio dos frutos que vocês produzem".

4. Discute-se o gênero literário da perlcope. Seria uma parábola? Por certo que não, especialmente se tivermos em mente as parábolas que aparecem nos sinóticos. E uma alego- na? Existem traços aleg6ricos, na medida em que se identifica a videira, os ramos, o agricul- tor. Mais seguro é dizer que se trata de um mashal, isto é, iinguagem figurada num sentido bastante amplo, bem ao sabor do Antigo Testamento e dos mestres em Israel. O conceito ma- shal engloba parábola, alegoria, ilustraç20, provérbio, etc.

5. No texto joanino, a perícope integra o assim-chamado "discurso de despedida" (João 13 a 17). Isto d importante. Cristo fala na perspectiva da páscoa. Ele estk sendo OIJ vai ser glorificado (Jo 12.23; 13.31,32), pela cruz, que 6 também a glorificação do Pai. Com a despedida ou partida de Cristo, o Pai será glorificado nos muitos frutos dos discípulos (Jo 15.8).

6. No Antigo Testamento, tanto a vinha (1s 5.1-7; 27.2-6; Jr 5.10; 12.10-1 1) como a videira (Jr 6.9; Ez 15.1-6; 17,5-10; 19.10-14; SI 80.8-19) são símbolos do povo de DeiJs, Is- rael. Quando Jesus diz "eu sou (ego eimi) a videira" e acrescenta o adjetivo "verdadeira" (alethine tanib6rn pode ser traduzido por "real"), está deixando claro que a videira agora está concentrada na sua pessoa. A videira, como símbolo de Jesus e seus discípulos, A símbolo do novo Israel.

7. João 15 6, ao lado de Jorío 10, um texto furidamental para a eclesiologia joaniria. Num certo sentido tem uni paralelo em Paulo, na imagem do corpo (Rrn 12.4-8; 1 Co 12.12-31 ).

8. A expressão menern en tini ("permanecer em alguém, ficar unido a alguém") recebe destaque em João. Descrcvc uma comunhão interpessoal bastante estreita e duradoura. É usada para falar da relação entre o Pai e o Filho (14.10) e tamb6m da relação entre Cristo e os discfpulos (6.56; 15.4-7).

9. A conhecida afirmação "sem mim nada podeis fazer" encontra paralelos em 2 Co 3.5; CI 1.12; Fp2.13; Fp4.13.

10. A base do exposto, diferentes temas poderiam ser abordados no quinto domingo de páscoa:

1) JESUS, A VIDEIRA VERDADEIRA. 2) CONTINUAR UNIDOS A JESUS CRISTO, A VIDEIRA. 3) SEM JESUS CRISTO (DESLIGADOS DELE), NADA PODEMOS FAZER. 4) RAMOS FRUT~FEROS OU RAMOS SECOS? 5) A IGREJA E FEITA DE RAMOS: a) ramos ligados a Cristo; b) ramos que

são limpos ("podados") pelo Pai; c) ramos frutlferos, que glorificam o Pai.

Vilson Çchoh

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Sexto Domingo da PBscoa

Jo 15.417

1. João 15.9-17 pode ser visto como uma explicação do "dar muito fruto" (v.8), ficando o texto, desta forma, Ligado à pericope da videira e dos ramos. O verslculo nove é uma espb- cie de tópico frasal ou' resumo do parágrafo: o Pai amou o Filho, o filho amou seus amigos, os amigos de Cristo são conclamados a permanecerem neste amor.

2. A perícope faz parte do "discurso de despedida" de Jesus. E unia espbcie de tes- tamento de Jesus. Isto transparece no uso do tenipo perfeito nos versículos dez (tetereka) - "tehho guardado"; onze (lebleka - "tenho dito") e quinze (eireka - "tenho chamado"). Trata- se de ações concluídas. O ministério público passou. A "hora" (13.1) já chegou.

3. Há uma sbrie de temas, que são combinados. Aliás, os discursos de Jesus neste evangelho se assemelham a uma fuga musical: um tema é introduzido e desenvolvido até certo ponto, quando passa a ser combinado com outro tema e assim o assunto é desenvolvi.- do. Na nossa pericope o tema dominante é o amor.

4. O Pai arna o Filho. É um tema que aparece em Jo 3.35; 5.20; 10.17; 15.9; 17.23.24. A este amor do Pai corresponde uma ação: o confiar de todas as coisas ao Filho (3.35) e o mostrar ao Filho tudo o que Ele fez (5.2).

5. O Filho cumpriu os mandamentos do Pai e permaneceu no amor do Pai (v. 10; cf. Jo 8.29; 14.31). O amor do Filho se demonstra em obediência.

6. Cristo amou os seus amigos/disclpulos. Este amor se mostra nas seguintes açóes: a) na revelação feita a seus amigos ("tenho-vos dito estas cousas" - v. 10; "tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer" - v. 15); b) na entrega de sua vida pelos amigos (v. 13); c) na escolha dos disclpulos para que produzam frutos (v. 16).

7. No verslculo 13, que trata da maior prova de amor, Jesus, antes de mais nada, fala de si mesmo. Este, tema da auto-entrega aparece também em Jo 10.1 1,15,17,18. Nos sinóti- cos aparece em Mc 10.45 e Mt 20.28. Agora, dos disclpulos espera-se o mesmo (cf. 1 Jo 3.16).

8. Jesus escolheu os seus (cf. Jo 6.70; 13.18; 15.19). A iniciativa foi de Jesus. con- forme nos relatam também os sinóticos. Na época o mestre ou rabi era, de modo geral, esco- lhido pelo discípulo. Jesus, no entanto, escolheu seus disclpulos. Aqueles que se voluntaria- ram ao discipulado foram confrontados com as exigências do mesmo (Mt 8.18-23). A pergun- ta: como o conhecido versículo 16 se encaixa no contexto? pode ser respondida assim: a escolha dos discípulos é um exemplo, uma prova do amor de Cristo.

9. O "para que vades" (v. 16) tem tudo para ser um pleonasmo tipicamente semitico. Alguns exegetas vêem ai uma referência à missão apostólica de sair mundo afora.

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10. Na perlcope os discipulos são denominados de "amigos" (v. 13-15). Nos sin6ticos, 1 o termo aparece apenas em Lucas 12.4. Como amigos do Filho de Deus, os cristãos estão em boa companhia: Moisés (Êx 33.1 1) e Abraáo (Tg 2.23).

11. Os disclpulos/amigos são conclamados a permanecerem no amor de Jesus. Este B o grande fruto dos ramos da videira (que formam a igreja): o amor mútuo. (Notar que em João não aparece o mandamento do amor ao inimigo - Mt 5.44). Este amor é mandamento de Cristo (v. 12). Conferir Jo 13.13; 15.17; 1 Jo 2.7,8; 2 Jo 5; GI 6.2; 1 Pe 1.22; 1 Jo 3.1 1,23; 1 Jo 4.7,11; Mc 12.31.

12. Alguns temas da perícope aparecem tambern em 1 João. Um deles (além de man- damento, dar a vida e amor mútuo) 6 alegria. Esta alegria tem relação direta com a obra salva- dora de Jesus, como se vê em Jo 3.29; 4.36; 8.56; 11.15; 14.28. O tema é aprofundado em Jo 16.20-24 e reaparece em 1 Jo 1.4 e 2 Jo 12.

13. Caso o pregador se decidir pelo tema ' I M O R MÚTUO NA IGREJA CRISTA'; terá de mostrar como este amor se manifesta ou torna concreto. Terá de recorrer a exemplos e lançar desafios. Exemplos aparecem na Escritura e na histbria da igreja. A primeira leitura do dia (At 11.19-30) - que nos mostra como os discipulos foram chamados, não de "amigos de Jesus". mas de "cristaos" (1 1.26) - apresenta os discipulos anunciando o evangelhc (1 1.20), exortanto (v. 23), e enviando socorro aos irmãos que moravam na JudBia (v. 29).

Wilson Scholz

Festa de Ascensão

LC 24.44-53 (At 1.1-11)

A Igreja Antiga corisidcrava a PAscoa, a AscensAo e o Pentecostes como as trks miio- rcs festas eclesiAsticas. Agostinho e Crisbstomo, em suas homilias, referem-se aos cultos do dia da asccnsáo como as mais expressivas comemorações festivas da igreja cristã. Sabemos tambCtm que era praxe no dia da ascensão - principalmente na Igreja do Oriente - realizar grandes prociss0es, sempre para fora das cidades. Estas procissões simbolizavarn Jesus le- vando seus discipulos para o monte Olival (local onde se deu O evento da ascensáo). Os fiéis conduziam estandartes, bandeiras e símbolos alusivos A data. E no culto ap6s a leitura dc evangelho, costumava-se apagar a assim chamada "vela pascoal", acesa no dia da pascoa, mas agora no culto da ascensão, solenemente apagada, simbolizando assim o termino da mis- são de Jesus e sua presença visível do mundo.

Recoloquemos o culto de ascensão no pedestal das grandes'comemorações da Igreja Cristã. A ascensão 6 uma das poucas datas cristãs isentas de comercializaçáo secular. Ela favorece a reflexão espiritual. A doutrina da ascensáo de Jesus tem muito a nos ensinar, muito a nos consolar.

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Texto

Se o terceiro Evangelho (Lucas) teve por objetivo relatar ao excelentfssimo Teófilo "todas as cousas que Jesus fez e ensinou" (At 1.1), Atos, por sua vez, tem por prop6sito expor como os ap6stolos, devidamente autorizados pelo Senhor da Seara, levaram o evangelho ate aos confins da terra. Mais precisamente, de Jerusalbm à capital do império, Roma.

Tanto no Evangelho, como em Atos, Jesus B o personagem central. Com a diferença que no Evangelho vemos Jesus pessoalmente pregando, ensinando e curando (Lc 6.17-19), e em Atos vemos os ap6stolos, por mandato divino, pregando, ensinando e curando (At 3).

Os 40 dias que separam a páscoa da ascensão, foram usados por Jesus, para transfor- mar discipulos incrkdulos (Jo 20.24-29), reintegrar apóstolos (Jo 21.15-18), fortalecer a fB dos enfraquecidos (Jo 21.1-14; Lc 24.36-431, explicar as Escrituras aos indoutos (Lc 24.27 e 44) e firmar a todos na certeza da sua ressurreiçáo (Lc 24.36-43; Jo 20.1 1-18; Lc 24.13-35); para

no dia da sua ascensão, assegurar-lhes uma gloriosa promessa, a grande promessa do Pai, o batismo com o Esplrito Santo (At 1.5 e 8) e incuinbl-10s de uma sublime tarefa: "sereis minhas testemunhas" (At 1.8). O mandato do santo ministério. Assim estava conclulda a missão visl- vel do Messias. Agora ele podia ascender novamente ao reino celestial.

A ordem de permanecer em Jerusalém tinha sua razão de ser. Jerusalém seria o centro irradiador da evangelização do mundo (1s 2.1). A tão esperada profecia de João Batista iria fi- nalmente cumprir-se (Mt 3.1 1): a descida do Espirito Santo.

A presença dos anjos foi providencia. Moslra a constante preocupação do Mestre para corn os seus discípulos. Sua ascensão os deixara confusos, abatidos, temerosos. Foram as- sim consolados com a promessa: "ele virá do modo como o vistes subir". Enquanto isto, de- viam agora voltar a Jerusalém e aguardar a promessa do Pai. Em breve nada os iria atemori- zar de levar o evangelho at6 aos confins da terra.

Dispsiçáo para o sermão:

O SENTIDO PRÁTICO DA ASCENSAO DE JESUS PARA A CONGREGAÇAO LOCAL HOJE:

I - Equipar-se com a promessa: sereis batizados com o Espirito Santo.

II - Exercer o mandato: sereis minhas testemunhas.

111 - Preparar-se para o grande evento da "parusia": assim vira do modo como o vistes subir.

Walter O. Steyer

Sbtirno Domingo da Páscoa

JO 17.11b-19

O caprtulo 17 de João b uma extensa oraçáo de Jesus Cristo, conhecida como "a oração sacerdotal de Cristo". Pergunta: Por quem, afinal, esta Jesus, aqui, orando? Resposta: 1) "É

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por eles (que creram que tu me enviaste, 17.8) que eu rogo"; 2) "Não rogo pelo mundo" (1 7.9).

Este evangelho começa com Jesus invocando o "Pai santo" (v. 1 lb). (Quando os discl- pulos, certa vez, pediram a Jesus Ihes ensinasse a orar, Lc 11 .l, ele realmente ensinou e co- meçou a oraçáo dizendo, tambem, por primeiro a palavra "Pai" e acrescentando-lhe o pronome possessivo "nosso". Mt 6.9).

O que pede Jesus na oração deste evangelho?

a) "Guarda-os em teu nome ... para que eles sejam um (hén = uma única coisa; A o Nominativo singular neutro do número um(O1)" (v. 12). Segue, então, uma explicação de Jesus ao Pai de duas coisas que ele, Jesus, fez quando estava com eles no mundo: 1) "Guardava- os.. . e protegi-os" (et&roun autoús e efylaxa). Teréo = aufrecht erhalten, behuten; fylásso = wachen; auf der Wache oder Huter sein, Lc 2.8 - aquilo que os pastores faziam em relação As ovelhas, durante as vigilias da noite, quando Jesus nasceu. Teréo e ?//Asso são verbos quase sin6nimos conforme se pode depreender de Mt 19.20, onde o jovem disse que observou, efylaxa, os mandamentos, e Tg 2.10, onde se alguém guardar, ter6se. toda a lei ... . 2) "Eu Ihes tenho dado a tua palavra" (v. 14). Confira-se em ordem Mc 1.15, Mt 4.23-25 (Mt 4.1,2) e Jo 5.17-47. Estas passagens mostram que Jesus dera, dbdoka, a palavra do Pai ao mundo em geral e, em particular, aos que agora nele criam e pelos quais estava orando.

b) "Não peço que os tires do mundo; e, sim, que os guardes do mal" (v. 15). Seus dis- clpulos podem (e devem cf. vers. 18!) ficar no mundo, desde que guardados do mal pelo Pai. E outra vez segue uma explicação de Jesus ao Pai, no verslculo 18: "Eles não são do mundo como também em nao sou." Ele, Jesus, esteve no mundo e, não obstante, ficou fiel ao Pai, fez o que o Pai quis fosse leito por ele. Se o Pai guardar os que crêem, então estes não precisam ser tirados do mundo. Aqui o verbo usado 8 terbo, o mesmo que Jesus usou de si, no versl- culo 12: Jesus pede ao Pai que faça (hlna tereses autoús) o que ele, Jesus, fazia em nome do Pai (eg6 etbroun auloús en t6 onórnati soú), quando estava com eles.

c) "Santifica-os na verdade "(v. 17). A este terceiro pedido de Jesus neste evangel'lo segue a confissão: "a tua palavra é a verdade". Em outras palavras: Santifica-os na tua pala- vra com a tua palavra. A preposição en significa, primeiramente, "em"; mas a variedade de seu uso permite também traduzi-la como "no poder de; com; por; por causa de". A este pedi- do ao Pai seguem, de novo, duas explicações de Jesus: 1) verslculo 18; 2) verslculo 19. Como o Pai enviou (ap6steilas) Jesus ao mundo, tambem Jesus enviou (apésteila) os crentes nele ao mundo (por isso mesmo ele não pede que o Pai os tire do mundo, mas que os guarde do mal com a sua Palavra). Os disclpulos de Cristo, os crentes nele, precisam ser o sal da ter- ra e a luz do mundo, testemunhas, pregadores, os cidadãos que vivem por modo digno do evangelho de Cristo (Fp 1.27).

Uma Última palavrinha que precisa ser vista 6 o verbo hagiázo no verslculo 19. O que quer dizer hagiAzo? Significa separar de coisas profanas e consagrar (weihen) para a posses- sao e uso divino (Mt 23.17). Jesus está dizendo, aqui, que ele não comete nenhum pecado, nao deixa de ser santo (1 Pe 2.21,22) hypdr aufdn, por causa deles (dos crentes nele), para que os que nele creem (e pelos quais esta fazendo esta oração) sejam (possam ser) santifica- dos com a verdade da Palavra de Deus. (Rm 5.18,19; 1 Co 15.21,22,57; Jo 6.47).

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Que comunháo Intima entre o Pai, o Filho e os crentes! Quanto amor de Jesus pelos cristáos! "Para que sejam uma única coisa, uma comunháo (h& = nom. sing. neutro. No texto de Almeida diz: "para que sejam um'?), assim como nds (= Jesus com o Pai, Jo 10.30) - B o pedido inicial de Jesus, vers. 1 lb .

Objetivo da mensagem: Levar os ouvintes a três coisas: 1" Conhecer ainda melhor a Jesus e, sobretudo, confiar cada vez mais nele; 2") Seguir o exemplo de Jesus e falar fran- camente com o Pai em oração; 37 Viver uma vida de comunhão Intima com Jesus e com o Pai e sendo os enviados ao mundo, como instrumentos do Esplrito Santo, para testemunhar.

Molbstia: - A incredulidade de Judas lhe foi fatal; perdeu-se. Quem rejeita comunhão Intima com o Salvador, não tem Pai.

- O ódio do mundo a Cristo e sua palavra.

- Negação e rejeição que se faz da Palavra de Deus, não a aceitando co-

mo a verdade; faz-se Deus de mentiroso.

- Falta de interesse em falar com Deus Pai; ora-se muito pouco; foge-se

da intimidade com Deus.

Meio: - Jesus intercede por nbs, roga por n6s; é advogado e Mediador.

- Por causa de Jesus o Pai guarda do mal.

- Eni Jesus e com a palavra dele somos santificados pela fé.

- Em nome de Jesus Deus nos ouve as preces.

- Jesus nos @e em comiinhão com o Pai e, por isso, nos faz felizes.

Portanto, agora, como cristãos, podemos:

Ser unidos como irmãos, viver em comunidade, trabalhar, orar, louvar a Deus em conjunto.

Ter, aqui no mundo, alegria (charán) completa de Cristo ser nosso Amigo e Salvador.

o Estar, aqui no mundo, mas não ser do mundo; não viver segundo a carne.

Ser os enviados de Cristo ao mundo, sendo suas testemunhas.

e Ser e estar santificados na verdade, na Palavra de Deus, vivendo por modo digno do evan-

gelho de Cristo como cidadãos brasileiros.

Disposição para sermso:

JESUS ROGA AO PAI PELOS CRENTES

I - Para que os guarde em seu nome na comunhão.

11 - Para que náo os tire do mundo.

111 - Para que os santifique na verdade.

Curt Albrecht

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UM MACACO SAPIENS?

A revista VEJA N Q 7 9 (10 de junho de 1987) apresenta uma entrevista com o antropólogo italiano Brunetto Chiarelli, onde aborda a criação de um ser híbrido, meio homem, meio chimpanzé. Pode parecer filme de ficção científica, mas o pro- fessor Chiarelli afirma que tal ser híbrido é hoje perfeitamente viável devido ao grande desenvolvimento e progresso da engenharia genética. Segundo o professor, a biologia se encontra hoje no mesmo ponto em que estava a física dos anos 40. A humanidade não podia abdicar da energia atómica, mas o uso errado dessa energia resultou em Hidroxima e Nagasaki. Quem vai impedir ou controlar a criação deste "pequeno monstro"?

Segundo o professor italiano, mais do que as leis e as proibições das nações, a Histbria é que nos deve ensinar o caminho. Diz ele textualmerite: "Todas as nos- sas escoltias devem sc basear no conhecirricnto. No caso ~'spccífico de poder ou náo criar cssc scr híbrido no I;iboratório, nfio podorctrnos doixnr dc ciitnr relncioriados e totalrnerite del~eridentes do conticcimcnto que ter~ios do assunto. Por isso, achou importaritc qiic os pcsqiiisadores e atC. as populaç&s em geral ndqi~irnrn urna cons-

. - ciencia ética nova. Ou seja, uma ética que coloyiie o homem ern Lima nova posição na natureza. Duraritc todos estes ano:;, a nossa btica, a nossa biobtica, colocou o homem A imagem e semelhariça de Dcus. Daí a im~mssibilidadc de imaginar qual- quer outro processo que pudesse alterar essa relação. Hoje, com o progresso da ciência, as coisas mudaram. A 6tica biológica deve facilitar e qualificar de um modo diferente a convivência entre a nossa esphcie e as outras, que, de igual modo, pos- suem um mesmo destino, num mesmo planeta. Essas noções neo-bticas, sublinho, adquirem-se principalmente através de um melhor conhecimento da história do ho- mem sobre o planeta Terra, de sua evoluçao e de sua proximidade com as espécies do reino animal."

As palavras de Chiarelli levantam algumas questões e exigem alguns comen- tátios. Em primeiro lugar, se leis e proibições das nações não resolvem o problema (e, de fato, nunca são garantia absoluta), o conhecimento da História tambkm não resulta automaticamente na escolha certa. A humanidade conhece a História, mas comete sempre os mesmos erros. Em segundo lugar, para Chiarelli, o conhecimento em questão é o conhecimento da história do homem sobre o planeta, sua evolução e sua proximidade com as demais espécies do reino animal. Não vejo como este

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conhecimento poderia obstar a criação de um ser híbrido. Poderia até justificar. Em terceiro lugar, é estranho o questionamento da colocação do homem à imagem e se- melhança de Deus. Talvez o antropólogo esteja insinuando que esta doutrina deu ao homem a pretensa autorização de manipular os genes. Agora, a meu ver, esta doutrina (na medida em que inclui a responsabilidade do homem na criação) poderia ser um obstáculo à tentativa de criar monstrengos que poderiam ate abalar o equilí- brio da criação. Al6m do mais, o homem como imagem de Deus 6 um grande obs- táculo à tentativa de criar este híbrido. Tenho para mim que 6 mais fácil impedir a criação desse híbrido afirmando a doutrina do homem criado à imagem de Deus do que negando-a. No momento que vejo o homem como um animal entre outros, na- da me impediria de criar um animal que resulta do cruzamento entre homem e ma- caco.

Vilson Scholz

A FANTASIA DA PAZ MUNDIAL

Dois encontros pela paz deram o que falar recentemente, procurando libertar o mundo da sua história de aniquilação e medo de guerra. Por um lado o plano de Von Wcizsacker para uma realização de um concílio da paz em 1990, e por outro la- do a oração pela paz com cheiro de sincretismo, realizado no dia 27 de outubro de 1986 em Assis na Itália.

Primeiro sobre o último: E de admirar a que consessões estavam dispostos os pastores da chamada fé cristã em Assis. E 6 assustador, quão poucos protestos se ouviu por causa dessa "reunião de oração" que misturou religião e apagou os con- tornos do cristianismo. Não somente foi um golpe contra os valores tradicionais cris- tãos, ter que descobrir uma estátua de Buda no altar de igreja San Pietro, mas essa abertura ostensiva diante de religiões não-cristãs feriu realmente as bases da fé cris- tã. Desistir, entretanto, dessas bases, ameaça toda a nossa existência cristã.

Segundo declarações papais, os representantes das religóes não oravam jun- tos em Assis, mas simplesmente se reuniram para orar. Mesmo assim temos que perguntar com Peter Beyerhaus, professor da Universidade de Tubingen: "A quem foram dirigidas as orações recitadas em Assis, ou seja, em nome de quem foram ali citadas mensagens sagradas? Qual 6 o poder atrás de todas as divindades, que deverá ouvir e realizar as orações? Será que ao Deus da Bíblia resta somente um lugar de honra no panteáo internacional dos deuses?"

Por que Cristo teve que tornar-se homem e sofrer uma morte vicária se em to- das as religiões estaria igualmente presente a salvação? Ser& que após 2000 anos

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de Histdria Eclesiástica, esse desprezo do Primeiro Mandamento por parte de Roma é a conclusão da sabedoria?

Parece que o papa se esforça, para dar novos conteúdos aos valores básico: geralmente aceitos no Ocidente cristão, em favor da nova era de unificação de todas as religões. Deveriamos recordar que há menos de 50 anos isso também cones- pondia ao alvo de Hitler. Sim, no fundo trata-se do objetivo de qualquer ideologia revolucionária, porque antes da imposição do seu poder, ela tem de ganhar a cultura básica de um povo!

Também o concilio da paz postulado por Von Weizsacker, que a pedido do conselheiro Heinrich Ott deverá ser realizado na Suíça, representa uma excrecência do orgulho humano. Temos diante de nds mais de 4.000 anos de história humana documentada, e reconhecemos que nenhuma época e nenhuma cultura conheceu jamais a paz global e duradoura. Estaríamos em condições para isso justamente hoje, quando o mundo dispõe de arsenais nunca vistos, quando constatamos em degeneração mais forte de valores morais e dos costumes do que em outras cultu- ras, quando temos uma medida assustadora de agressão individual? Donde vamos tirar a capacidade de viver em paz com todas as pessoas se não o conseguimos nem ao menos com as pessoas que amamos?

Em toda a questão da paz, não se trata de um problema social, mas de um problema psicológico individual, isto 6, quem procura a paz mundial, deve primeiro viver em paz no seu ambiente, sim, deve ter paz no seu coração. Não alcançamos isso shows iguais ao de Assis nem corn concílios da paz. Não, Jesus foi completa- mente exclusivo em sua afirmação: "Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim." Não faria mal ao Ocidente cristão, levar essa afirmação a sério!

MARIDO - CABEÇA DA MULHER

A jornada matrimonial pode ser comparada a uma viagem de cano. Duas pes- soas vão viajar. Uma senta na direção, e a outra, do lado. E o marido que senta na direção, e a esposa, do seu lado. Segundo o apóstolo Paulo, é ele quem é a "cabe- ça", enquanto ela, segundo Gênesis, é a "auxiliadora". Isso lhe incomoda? Talvez sim. Neste caso, A bem provável que você esteja dando um conceito de valor. Pen- sando ou suspeitando, talvez, que o marido tivesse mais valor do que a esposa; que ele fosse mais importante. Isso não A verdade. Não A assim que pensa a Bíblia. A Bíblia dá a ambos o mesmo valor. Somente as funções são diferentes. Ele é o ca- beça.

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O que significa isso? Significa que recebeu uma incumbência: a de ser Ilder, Isso implica responsabilidade. Já agora e também no futuro, ele terá que responder perante Deus pela direção do seu matrimónio (e familia). E para que nenhum deles se sentisse autorizado a fazer mau uso da liderança, o apóstolo complementa: "Ma- ridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela" (Efbsios 5.25). Quer dizer, o cabeça deve amar sua esposa, com um amor todo especial, com um amor-sacrificio.

Até hoje eu não encontrei nenhuma mulher que se queixasse de um marido- cabeça que usasse desse tipo de amor. Ouvi, sim queixas de mulheres cujos mari- dos, em vez de se entregarem, fizeram uso de sua liderança para dominar e para se impor. Jesus nunca usou seu poder para dominar ou se impor. Pelo contrário, serviu a igreja. Este é o modelo a ser seguido.

Amor é serviço. Amor B secrifício. Amor é doação. O marido que ama a sua esposa com este amor está disposto a se esvaziar de si mesmo e a deixar de lado todo o egoísmo e interesse pessoal. Coloca o bem estar de sua esposa em primeiro lugar e a trata com respeito e dignidade. Em nenhum momento usa liderança como prerrogativa para pedir alguma coisa que a humilhasse, mas cuida dela e a cultiva. Em vez de abafá-la ou de impedir seu crescimento, ele promove seu crescimento, dando a ela seu incentivo e espaço para crescer.

Um marido que ama assim como Jesus amou não exige serviços e tampouco transforma sua esposa em empregada ou objeto de cama e mesa. Pelo contrário, ele corre na frente e serve, recebendo dela o respeito.

Mas, afinal de contas, para quem é mais fácil: para a esposa que deve se submeter ao marido, ou para o marido que deve se entregar por ela? Para nenhum dos dois. Em Cristo, a sujeição é mútua. Tanto ele como ela estão fazendo a mesma viagem. Não há facilidades. Há, sim, júbilo. Júbilo que brota e cresce so- mente duma relação onde duas pessoas estáo dispostas a se amarem com doação e sacrifício. Este júbilo pode ser alcançado por todo casal que, em vez de buscar in- teresses pessoais, vive seu matrimónio conforme a vontade de Deus.

(Orlando Keil, em Jornal Evangblico No 8-1987)

LEGALIZAÇAO DO ABORTO?

Se depender da subcomissáo de Família, do Menor e do Idoso, a legalização de aborto nem será discutida pelo plenário do Congresso Constituinte. Dos dezeno- ve integrantes, dezoito são contra esta proposta, sendo que Caio Pompeu de Toledo é favorável à descriminalizaçáo do aborto. O evangélico Sotero Cunha do Rio de

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Janeiro, atirma que mesmo em casos de estupro, o aborto não deve ser permitido. Já Eunice Micheles, da Igreja Adventista do Amazonas, propõe que a lei contra o aborto abre excessão tambem para os casos de AIDS, quando comprovadamente o feto estiver contaminado pelo vírus da síndrome. (Folha de São Paulo)

PENTECOSTAIS E A AIDS

Em artigo publicado no Mensageiro da Paz, órgão oficial da Igreja Assembléia de Deus, Maria José Resende procura chamar a atenção para atitude que os cris- tãos devem ter com respeito aos aidéticos (doentes contaminados pela AIDS). O ar- tigo critica a falta de condições dos hospitais que tratam os doentes e propõe uma atitude pastoral no sentido de antendê-10s. Resende destaca algumas idéias de como ajudar um aidético, com pequenos objetos de uso pessoal, além de livros, car- tas e visitas. Reitera, entretanto, que "não é momento de sermões enfáticos lem- brando o castigo divino. Mais importante é falar da misericbrdia de Deus e do mara- vilhoso plano de salvaqáo ern Jesus Cristo". E completa com uma pergunta: "Es- tamos exercitando o verdadeiro amor que aprendemos com Jcsus Cristo? Se airida não, o momento pode ser agora." (.'contcxtoT'. N? 3314)

A segilrida notícia sobre a técnica de divulgação de um festival de "Rock" charna aleriçl-io: "O intendente Peter Zadek teve uma nova idéia: em um folheto, ele adverte os visitantes do festival de Rock "Andi": NSo se trata algo para pessoas com nervos sensíveis. A intencidade sonora pode causar danos à saúde."

"O grupo berlinense de Rock 'Edifícios Desmoronantes' toca durante a apre- sentação com uma intensidade de 120 decibbis - uma perfuratriz de ar comprimido produz somente 100 (!). Já estão preparados 20.000 tapa-ouvidos."

Sabemos que através da música rock são, frequentemente, transmitidas men- sagens satânicas, que destróem interior e exteriormente os ouvintes, em sua maioria pvens. Não A de admirar que isso acontece de forma extremamente alta: Satanás 6 obrigado a exceder todas outras vozes; ele tenta desesperadamente abafar aos gritos qualquer falar de Deus àqueles que ouvem a música rock! Isso nos faz lem- brar - em sentido profbtico figurado e com relação a Deus mesmo - a palavra do Senhor em 1 Samuel 3.1 1: "Eis que vou fazer uma cousa em Israel, a qual todo o que a ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos." O barulho aumentar8 cada vez mais, não somente no âmbito da música rock, mas pelo trovejar dos juizos que se abatem so-. bre o mundo com grande estrondo. O profeta Joel fala a respeito, dizendo: "O Se- nhor brama de Sião, e se fará ouvir de Jerusalém, e os céus e a terra tremerão"

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ria do reino de Deus. Não admite preconceitos de raça, credo religioso ou cor. Pri- vilegia as populações carentes dos centros urbanos, que estão relegados A própria sorte. Dispensa atenção especial A educação para o trabalho, para tornar a pessoa humana capaz de sustentar-se e produzir em beneficio da coletividade. Encara a educação não como simples transmissão de conhecimentos, mas corno via de aces- so, mediante a pesquisa, a novos conhecimentos, que resultem na melhoria das condições de vida do mundo.

CONCEPÇAO DA UNIVERSIDA DE

As Faculdades Canoenses, mantidas pela Comunidade Evangelica Luterana São Paulo, CELSP, já apresentam "feitio universitário".

0 s currículos de seus cursos de graduação asseguram a "universalidade de carnpo, pelo cultivo das áreas fundamentais do conhecimento humano", como de- termina o Artigo 11 da Lei n3.540 de 28.1 1.68.

As atividades de ensino, pesquisa e extensão das Faculdades estão organiza- das racionalmente, de forma a garantir eficiência 'e "plena utilização dos recursos materiais e humanos", como requer o mesmo Artigo 11 da Lei 5.540, de 28.1 1.68.

Tendo em vista as tradições da Mantenedora e a própria experiência no ensino superior, as Faculdades Canoenses estão propondo um modelo próprio de universi- dade confessional comunitária.

A Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, está comprometida com a Verda- de que liberta, conforme expressa o seu lema: "V6ritas liberaverit vos" (Evangelho

de São João 8.33). Não cultiva preconceitos. Submete todos os conhecimentos humanos ao livre exame da razão. Não se contenta com verdades isoladas. Procu- ra relacionar todos os conhecimentos humanos com a Verdade.

O conhecimento está fragmentado em especializações estanques e concep- ções de um mundo que se excluem reciprocamente. A Universidade Luterana, par- tindo duma concepção cristã do mundo e sentido da história, procura recuperar aquela perspectiva de unidade e totalidade que é conditio sine qua non para a ver- dadeira universidade. Considera tudo em relação ao principio e fim de todas as coi- sas, o Alfa e Omega, que 6 o Logos encarnado (Evangelho de São Joáo 1.1-17).

Tendo em vista que "não só de pão viverá o homem" (Evangelho de São Ma- teus 4.4), a Universidade Luterana considera, em primeiro lugar, as necessidades espirituais do ser humano. Para satisfazê-las, veicula as promessas do Evangelho, que asseguram vida plena a quem as receber de coração (Evangelho de São Joáo 5.24-29).

Considerando aquelas promessas, a Universidade Luterana percebe a história

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da humanidade como experiência significativa orientada misteriosamente pelos pro- pósitos do Criador. Entende que a existência adquire significado e sentido à medida que o ser humano passa a atuar, espontaneamente, de acordo com sua vocação es- pecífica de participante da obra de Deus no mundo.

A Universidade Luterana, portanto, concebe o ser humano como pessoa res- ponsável perante o Criador e entende que toda existência se desenrola coram &o, na presença de Deus.

A partir desse pressuposto, a Universidade entende a si mesma como comuni- dade eticamente responsável. Alem de cultivar um relacionamento moral entre seus integrantes, procura atuar como consciência crítica da sociedade. Tendo em vista que a fé atua pelo amor, empenha-se por justiça social baseada no direito e promo- ve a cooperação como melhor forma de realizar o bem comum.

Com base nesta visão das coisas, a Universidade Luterana desenvolve a edu- cação não como processo de formação apenas, mas como interação social que con- duz à participação plena, produtiva e crítica das pessoas na sociedade. Aciona a educação como meio para o desenvolvimento social, que habilita as pessoas a con- tribuirem para o bem-estar comum na medida plena de suas capacidades.

Nesta perspectiva a Universidade Luterana valoriza a pesquisa científica não como fim, mas como meio. Atravks dela retraça as origens do conhecimento cienti- fico, testa verdades estabelecidas, amplia fronteiras do saber, descobre novas apli- cações de conhecimentos, aperfeiçoa o processo de ensino-aprendizagem.

(Informativo Cristo Redentor, Ano IX , N'! 32, Agosto 1987)

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DA DIREÇÃO DA FRCULDRDE

A FACULDADE DE TEOLOGIA DO SEMINÁRIO CONC~RDIA E AS CONGREGAÇÓES LOCAIS

Que tipo de compromisso e envolvimento deve haver entre o Seminário Con- córdia e as congregações locais da Igreja Evangblica Luterana do Brasil (IEL-B)? En- tender e praticar estes compromissos e as responsabilidades mútuas é uma questáo de vital importância para ambas as partes.

Analisando o Novo Testamento, concluímos com facilidade que o Senhor da Igreja designou várias funções e tarefas para a sua igreja. Tem um destaqiie espe- cial a função de oferecer ensino bíblico por homens qualificados e enviados por Deus (Ef 4.8-1 1). O propósito deste ensino 4 promover um desenvolvimento sadio de cada cristão em direçáo à maturidade espiritual (Ef 4.12-24; 1 Pe 2.2; At 20.28-32). É de vital importância que homens qualificados e vocacionais liderem es- te trabalho da igreja.

Continuando a pesquisa bíblica, verificamos que a responsabilidade de prepa- rar estes homens qualificados (Pastores e demais obreiros) cabe às congregações locais.

As congregações, isoladamente, não têm a capacidade de desincumbir-se de tão elevada tarefa. Eis a razão da criação do Seminário Concórdia e outras escolas similares. Esta escola é um esforço corporativo e cooperativo para realizar esta tare- fa em nome das congregações que a criaram.

O Seminário Concórdia é, pois, uma escola auxiliar das congregações para as mngregaçóes com uma finalidade específica: Formar obreiros para a IELB.

Que responsabilidade e compromissos decorrem desta verdade histórica?

I. Cabe ao Seminário Concórdia

a) Enterider-se como escola auxiliar das congregações, isto é, que está a serviço delas, e não o inverso. A Escola não tem fim em si mesma. (Os professo- res-pastores da Escola sáo, portanto, pastores auxiliares das congregações, no de- sempenho de funções específicas).

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II

PROGRAMAS DA ESCOLA

1. Curso de Pds-Graduação

O Seminário Concórdia oferece anualmente, no mês de julho, cursos de Pós-Graduação.

Neste ano o curso realizou-se nos dias 7 a 25 de julho. 0 s cursos ofereci- dos foram os seguintes: a) A Teologia da Libertação e as Confissóes Luteranas - Prof. Ari Lange (Escola Superior de Teologia de São Paulo); b) Perícopes da Liber- tação - Prof. Deomar Roos (Escola Superior de Teologia de São Paulo); c) O Evangelho de João - Prof. Vilson Scholz (Seminário Concórdia); d) 1 Coríntios - Prof. Dr. Hans Horsch (Seminário Concórdia).

Participaram 40 pastores: 32 brasileiros, 5 argentinos e 3 paraguaios.

2. Teologia e Cultura

Além do currículo regular, consta no programa da Escola um espaço para promoções especiais, denominado "Teologia e Cultura". AS quartas-feiras, das 10h20min até As 12 horas, os alunos da Faculdade de Teologia não têm aula nor- mal. Neste horário sáo promovidos palestras diversas que abordam os mais varia- dos temas de interesse dos alunos e professores. Sáo assuntos teológicos, cultu- rais, políticos e outros. Amplia-se, desta forma, a cultura geral e aprimora-se a for- mação dos futuros obreiros.

0 s alunos do Seminário Concórdia de São Leopoldo e da Escola Superior de Teologia de São Paulo realizam anualmente, a partir de 1986, um encontro para promover a Reflexão Teológica. Em 1986 os alunos de São Paulo visitaram São Leopoldo. O tema central foi "Ecumenismo". Neste ano de 1987 o encontro aconte- ceu em São Paulo, nos dias 20-23 de agosto. O tema central foi o "Ministério na Igreja".

4. Formaturas

a) Magistério Especial

No dia 21 de agosto a Escola está formando a 1"urma deste curso, criado em 1986. São 58 formandos. O curso é oferecido aos candidatos já forma- dos em 29 Grau e que pretendem a formação de Magistério. Tem a duração de 1 (um) ano em sala de aula, acrescido de meio ano de estágio.

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b) Magistbrio (regular)

No dia 5 de dezembro de 1987 a Escola forma mais 108 professores que estão no curso de Magistbrio. Com esta formatura, a Escola forma um total de 166 professores em 1987.

c) Teologia

No dia 12 de dezembro de 1987 haverá formatura dos novos bacharhis em Teologia. Está prevista a colaçáo de Grau de 22 bacharkis. A Faculdade de Teologia confere um diploma especial de Habilitação ao Ministbrio aos que são re- comendados para o Santo Ministério.

5. 3"emana de Arte e Cultura

Desde 1985, o Seminário promove anualmente uma Semana de Arte e Cultura em comemoração ao aniversário da Escola, que ocorre no dia 27 de outubro.

Palestras, debates, concertos musicais, festival de corais luteranos, teatro e folclore compóem o programa.

Neste ano, a data desta Semana 6 19-24 de outubro.

6. 1 3 Feira Concordiana de Artesanato

No dia 29 de agosto aconteceu esta l a Feira. São objetivos desta Feira:

a) Incentivar e desenvolver a capacidade criativa e produtiva em artesana- to;

b) Arrecadar, com a exposiçáo e venda, recursos financeiros para projetos especiais da Escola.

7. Teste de Seleção

A partir deste ano, os candidatos A Faculdade de Teologia (Humanístico) do Semin&io Concórdia, farão este Teste de Seleção. Todos deverão estar em São Leopoldo nos dias 5 e 6 de dezembrol87.

Maiores informações poderão ser obtidas junto aos Pastores da IELB.

Nosso endereço: Seminário Concbrdia Caixa Postal 202 Av. Getúlio Vargas, nQ.388 CEP 93001 - São Leopoldo, RS. Telefone: (051 2) 92-41 90

Martinho Sonntag

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Leitura

ENTENDES O QUE LES? (Um guia para entender a Bíblia com o auxilio da exegese e da hermenêutica), de Gordon D. Fee e Douglas Stuart. Original inglês: How to read tlie Biblc for a11 its worth: a guide to ~mderstanding tlie Bible. Tradução de Gordon Chown, revisada por Júlio P. T. Zabatiero. São Paulo, Edições Vida No- va, 1984, 330 páginas.

A Bíblia, vista como um todo, apresenta doutrina, histórias, provérbios, profe- cias, cânticos, salmos, lamentaçóes, cartas, sermões, orações, biografias, geriealo- gias, poesias, parábolas, tratados, contratos, leis para organizar o povo, leis para o bom funcioriarnento do culto, etc. São diferentes gêneros literários, que requerem habilidades exegéticas diferentes. Nfio se pode ler tinia p:jr5bola como se Iè uma passagem doutririAria de Romanos. E r ~ t i ~ l l d ~ s o quc 11'57 é um rnanual de herme- nCutica que leva a sério os diferentes gêneros Iiterdrios, cxplicando e exeriiplificando corno os mais irnportarites desses gêneros sao interpretados

O livro foi escrito a quatro rniioç. Gordori Fec, professor do Novo Testamento, escreveu os capítulos que tratam de gêneros próprios do Novo Testamento (evan- gelho, parAbola, ~ p í s t o l ~ ~ , Atos, Apocalipse). Douglns Stuart, seu colega do Antigo Testamento, analisa as narrativas do Antigo Testamento, a Lei, os Profetas, os Sal- mos, a Sabedoria. Ao todo sáo doze capítulos.

Inicialmente aparece urna reflexão sobre hcrmenêutica, na medida em que é distinguida da exegese. 0 s autores indicam que toda tradução bíblica já é uma in- terpretação. Dois capítulos são dedicados às epistolas, que precisam ser interpreta- das contextualmente. Aborda-se tambbm a questão da relatividade cultural, como, poi exemplo, a questão do v4u na igreja em Corinto. O capítulo que trata de Atos traz o subtítulo: o problema do precedente histbico. A pergunta básica é: um pre- cedente bíblico (partilha de bens em Jerusal6m, por exemplo) serve de norma para a igreja em todos os tempos? Para a interpretação dos evangelhos, os autores ressal- tam a importância do conceito "reino de Deus" e do pensar horizontalmente (compa- ração sinótica) e verticalmente. No capitulo que trata das parábolas aparece uma in- teressante comparação entre parAbola e piada, bem como um lembrete sobre a ne- cessidade de atualizar a linguagem das parabolas. O capítulo sobre os Profetas tem

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como subtítulo: fazendo cumprir a aliança em Israel. Mostra a necessidade de "pensar em oráculos" e lembra que os profetas são também poetas.

A parte final do !ivro 6 um longo apkndice (página 237-318), escrito por Enio R. Mueller, avaliando o método histórico-crítico.

O estudo de Entendes o que lés? é uma tarefa gratificante. Tanto pelo con- teúdo como pelo enfoque. A questão da hermenêutica é sempre atual. Interessa a leigos e pastores. O pregador está constantemente envolvido com questões de ordem herrnenêutica. O leigo tem muitas perguntas. Entendes o que lés? é leitura estimulante para ambos.

Vilson Scholz

Aconselhamento Cristão

Collins, Gary R. Aconselhamento Cristão. Sociedade Religiosa Edições Vida No- va. São Paulo. 1984.

Com o título original "Christian Coutiseling", esta obra "foi preparada com um instrumento de trabalho para os pastores e outros conselheiros cristaos, como um maniial de estudos para os obreiros leigos, e como um livro-texto para uso nos se- minários e faculdades." Este é o depoimento do próprio autor no prefácio do livro.

Acentua que o trabalho de um sadio aconselhamento crista0 6 importante e imprescindível. Entende que o aconselhamento tem como meta ajudar no "desen- volvimento da personalidade; ajudar as pessoas a enfrentarem mais eficazmente os problemas da vida, os conflitos íntimos e as emoçóes prejudiciais; prover encoraja- mento e orientação para aqueles que tenham perdido algii6m querido ou estejam sofrendo urna decepção; e para assistir às pessoas cujo padrão de vida Ihes cause frustração e infelicidade." O autor sempre tem o cuidado de mencionar que a ques- tão fundamental de uma pessoa em crise é ser ajudada a manter um relacionamen- to pessoal com o Senhor Jesus Cristo.

O conselheiro necessita conhecer a pessoa, suas necessidades, seus proble- mas e o potencial existente ou não na pessoa. As técnicas de aconselhamento de- vem ser de domínio daquele que pretende assumir esta missão.

O autor diz que "este não é um livro de receitas infalíveis." Lembra que a pes- soa humana é muito complexa. Há, no trabalho de aconselhamento, sucessos e in- sucessos. Mas, há maior probabilidade de sucesso quando o conselheiro iem co- nhecimento dos problemas da pessoa e das técnicas de aconselhamento. O autor procura, atravbs desta obra, prestar um auxílio neste sentido.

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A obra 6 um guia muito Útil. Todas as abordagens são muito práticas. Em to- dos os capltulos há a preocupação de saber o que o Senhor tem a dizer, nas Sagra- das Escrituras, sobre o assunto em questão.

O livro aborda várias áreas:

- Questões pessoais: ansiedade, solidão, depressão, ira, culpa.

- Casamento: celibato, escolha do cônjuge, preparação para o casamento, problemas maritais, div6rcio e novo casamento.

- Famllia: educação de filhos e orientação de pais, adolescência e mocidade, aconselhamento vocacional, meia-idade e velhice.

- Sexo e Relacionamentos Inter-pessoais: sexo no casamento, sexo à parte do casamento, homossexualismo, relaçóes inter-pessoais, inferioridade e auto estima.

- Outros assuntos: drogas e álcool, enfermidade, luto; problemas espirituais e crescimento espiritual.

O autor 6 professor de psicologia da Tiinity Evangelical Divinity School, Lleerfield, Illinois. Tem escrito outros livros na área da psicologia e aconselhamento.

E uma obra que não deveria faltar na biblioteca dos pastores e leigos interes- +ados na tarefa do aconselhamento cristão.

Martinho Sonntag

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