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Arcada Convento das Mercês – Anna Cristhina Fraklin da Rocha VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil São Luís – Maranhão – Brasil 3 a 8 de novembro de 2008

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    VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil

    São Luís – Maranhão – Brasil 3 a 8 de novembro de 2008

  • VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil

    TERRABRASIL 2008

    3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís – Maranhão

    PROMOÇÃO E ORGANIZAÇÃO

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    COORDENAÇÃO GERAL

    Enga. MSc. Célia Neves CEPED/UNEB/PROTERRA – Brasil Profa. MSc. Marcia Tereza Campos Marques UEMA– Brasil Prof. Dr. Marco Antônio Penido de Rezende UFMG – Brasil Prof. Dr. Obede Borges Faria UNESP – Campus de Bauru – Brasil

    COMISSÃO CIENTÍFICA

    Profa. Dra. Ana Paula da Silva Milani UFMS – Brasil Profa. MSc. Bárbara Irene Wasinski Prado UEMA – Brasil Enga. MSc. Célia Neves CEPED/UNEB/PROTERRA – Brasil Profa. Dra. Cybèle Santiago UFBA – Brasil Profa. Dra. Eugenia María Azevedo Salomão UMSNH – México Hist. Juana Font PROTERRA – Espanha Prof. Dr. Humberto Varum DEC/UA – Portugal Prof. Dr. Luis Fernando Guerrero Baca UAX – México Profa. MSc. Marcia Tereza Campos Marques UEMA– Brasil Arq. MSc. Márcio V. Hoffmann Fato Arquitetura – Brasil Prof. Dr. Marco Antônio Penido de Rezende UFMG – Brasil Arq. MSc. Maria Fernandes CEAUCP – Portugal Profa. Dra. Maria Isabel Correia Kanan IPHAN-SC – Brasil Arq. MSc. Mariana Correia ESG – FCO – Portugal Prof. Dr. Obede Borges Faria UNESP – Campus de Bauru – Brasil Arq. MSc. Rodolfo Rotondaro UBA/CONICET – Argentina

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Dra. Arq. Rosa Amélia Flores Fernandez PROTERRA – Canadá Profª MSc. Sanadja Medeiros UEMA - Brasil Dra. Arq. Silvia Cirvini INCHIUSA/CONICET – Argentina Prof. Dr. Walter Canales Sant’ana UEMA – Brasil Profa. Dra. Wilza Gomes Reis Lopes UFPI – Brasil

    COMISSÃO ORGANIZADORA

    Arq. Anna Cristhina Franklin C. de Morais UEMA – Brasil Prof. MSc. Érico Peixoto Araújo UEMA – Brasil Profa. MSc. Grete Soares Pflueger UEMA – Brasil Profa. MSc. Marcia Tereza Campos Marques UEMA – Brasil Prof. Marcos Fernandes Marques UEMA – Brasil Prof. Dr. Porfírio Candanedo Guerra UEMA – Brasil

    ORGANIZAÇÃO

    UEMA - Universidade Estadual do Maranhão

    PROTERRA - Rede Ibero-Americana de Arquitetura e Construção com Terra

    REDE TERRABRASIL - Rede Brasileira de Arquitetura e Construção com Terra

    UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

    UNESP/PROPe - Universidade Estadual Paulista - Pró-Reitoria de Pesquisa

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    C759

    Seminário Ibero-americano de Arquitetura e Construção com

    Terra (7), Seminário de Arquitetura e Construção com

    Terra no Brasil (2)/ (2008: São Luís, Maranhão,

    Brasil). Memórias TerraBrasil 2008 [recurso

    electrónico] realizado em São Luís, Maranhão, Brasil,

    no ano de 2008; editado por Célia Neves. São Luís:

    UEMA/PROTERRA/ TerraBrasil, 2008

    737 p.

    1. Arquitetura e construção com terra. 2. Técnicas

    construtivas. I. Neves, Célia. II. Título.

    Os critérios e opiniões expressados nos artigos desta publicação são de exclusiva

    responsabilidade de cada um de seus autores Sugestião para fazer referência a estas memórias

    a) Memórias completas:

    Neves, C. (ed.) (2008). Seminário Ibero-americano de Arquitetura e Construção com Terra (7), Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil (2). Memórias TerraBrasil 2008... São Luís, Brasil: UEMA/ PROTERRA/ TerraBrasil.

    b) Articulo específico (um exemplo): Gamboa, E; Guerrero, L. F. (2008). Condicionantes para la puesta en valor de las casas en acantilado de la sierra de Chihuahua, México. Seminário Ibero-americano de Arquitetura e Construção com Terra (7), Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil (2). Memórias TerraBrasil 2008... São Luís, Brasil: UEMA / PROTERRA/ TerraBrasil. p. 288-99

    Diagramação do livro: Célia Neves (PROTERRA)

    Foto de capa:

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    ÍNDICE

    Apresentação 11

    Programa 12

    Homenagem a Roberto Mattone 13

    Bases para o concurso de fotografia digital TerraBrasil 2008 20

    TEMA 1 – Materiais e técnicas de construção

    Projeto cores da terra: resgate, aperfeiçoamento e difusão da técnica do barreado 22 Anôr F. de Carvalho; Fernando Cardoso

    Programa interlaboratorial PROTERRA. Ensaios de adobe 29 Célia Neves; Obede Borges Faria

    Realização do programa interlaboratorial PROTERRA em Bauru-SP (Brasil) 39 Obede Borges Faria; Bruno Matiuzzi de Oliveira; Margareth Tahira; Rosane Ap. Gomes Battistelle

    Conjunto habitacional sustentável de interesse social 51 Encarnita Salas Martin; Fernando Sérgio Okimoto; Marília Malia Ferreira; Alessandra Passalacqua; Fernando Velázquez

    Tecnología con tierra y vivienda. Gestión de materiales y elementos con población pobre del Gran Buenos Aires 59 Rodolfo Rotondaro; Juan Carlos Patrone

    Estudo do material terra usado nas construções em tabique na região de Trás-os-Montes e Alto Douro 68 Joana Carvalho; Jorge Pinto; Humberto Varum; Abílio Jesus; José Lousada; José Morais

    O preconceito na construção com terra: o uso da taipa de mão no Conjunto Parque Wall Ferraz, em Teresina, Piauí, Brasil 76 Wilza Gomes Reis Lopes; Thiago Melo Braga; Jose Hamilton Lopes Leal Júnior; Karenina Cardoso Matos; Sandra Selma Saraiva de Alexandria

    Análise comparativa para escolha de vedação em terra para o sistema estrutural pilar-viga em eucalipto. Estudo de caso: construção de moradias no assentamento rural Sepé-Tiarajú, Serra Azul, SP 87 Rafael Torres Maia; Akemi Ino; Ioshiaqui Shimbo; Ivan Manoel Rezende do Valle

    Estudos para viabilizar o uso do material solo-cimento-cinza de casca de arroz na construção de paredes monolíticas 97 Ana Paula da Silva Milani; Sandra Regina Bertocini

    Calidad de edificaciones en suelo estabilizado y su evaluación mediante modelos constructivos 109 Adriana Beatriz García; Juan Pablo Mazzeo; Pablo Grazzi

    Evaluación de la pasta de papel periódico en morteros para friso en muros de tierra 118 Víctor Piñero; Angélica Reyes; Jean Carlos Viña

    Caracterização de adobe estabilizado com amido de mandioca 130 Luís Felipe de Medeiros Veiga; Sebastiana Luiza Bragança Lana; Nelcy Della Santina Mohallem

    Bóvedas de adobe estabilizadas con cal 141 Ramón Aguirre Morales

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Propuesta de aplicación de suelo estabilizado con tanino en componentes de viviendas 149 Viviana E Fabre, Marcela B. Bizzotto, Jirina C. Tirner

    BTC, elemento base para el diseño modular de viviendas sustentables 161 Víctor Manuel García Izaguirre; Rubén S. Roux Gutiérrez; José Adán Espuna Mújica; Eduardo Arvizu Sánchez

    Potencial do solo de Juazeiro do Norte para fabricação de blocos prensados de terra crua 170 Soenia Marques Timoteo de Sousa; Normando Perazzo Barbosa; Khosrow Ghavami; Cícero Irlando S. Freitas; João Dellonx Sousa Regis

    A influência da “cura com mistura solta” no preparo do kraftterra para a produção de blocos de terra compactada 179 Fernando Luis Campanella; Márcio Albuquerque Buson; Rosa Maria Sposto

    A influência da “mineralização da polpa de celulose” no preparo do kraftterra para a produção de BTCs 185 Bianca Ilha Pereira; Márcio Albuquerque Buson; Rosa Maria Sposto

    Elaboración de bloques de suelo-cemento con barros de excavación para pilotes 190 Mirta Sánchez; Hugo Begliardo; Silvia Casenave; Javier Schuck

    Utilización de savias vegetales para la fabricación de BTC 198 Yolanda Guadalupe Aranda Jiménez

    Influencia del cemento Portland en las características de resistencia de compresión simple y permeabilidad en los BTC 210 Rubén Salvador Roux Gutiérrez; José Adán Espuna Mujica; Víctor Manuel García Izaguirre

    Pavimentos intertravados “paver” de solo-cimento com uso de resíduo de concreto em substituição parcial do solo 220 Sandra Regina Bertocini; Alex Meneses da Silva; Caio Ricardo Bastos Prado

    Vivienda tradicional de tierra de la región Purhépecha. Adecuación al medio ambiente, espacios, materiales y configuración formal 228 Héctor Javier González Licón

    Evaluación térmica de una vivienda de suelo cemento comparada con otras similares de distintos materiales 237 Juan Carlos Patrone; John Martin Evans

    Identificación de las patologías presentes en los revestimientos exteriores de edificaciones tradicionales de tierra 246 Delia Y. Bottaro Steiner

    El adintelado en los muros de la vivienda de tierra en el Noroeste argentino. Patologías y propuestas resolutivas 254 Josefina del Huerto Charla; Rodolfo Rotondaro

    Avaliação pós-ocupação de construções de blocos de terra comprimida tipo Mattone 261 Normando P. Barbosa; Soênia M. Timóteo; Roberto Mattone; Gloria Pasero

    TEMA 2 – História, conservação e patrimônio Os colonos e a arquitectura de adobe em Portugal 272

    Maria Fernandes

    El palacio de Pedro I en Astudillo 281 Juana Font Arellano

    Condicionantes para la puesta en valor de las casas en acantilado de la sierra de Chihuahua, México 288 Eduardo Gamboa Carrera; Luis Fernando Guerrero Baca

    La habitabilidad de la arquitectura de tierra en Michoacán, México. El papel de la memoria colectiva 300 Eugenia María Azevedo Salomão

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Tradición constructiva en tierra en la ciudad de San Luis Potosí, México 309 Guadalupe Salazar González

    A influência pombalina nas edificações dos centros históricos de São Luís e Alcântara: um estudo a partir dos sistemas construtivos 319 Luisa Carvalho Venancio; Margareth Gomes Figueiredo

    Construção em terra como alternativa sustentável: um estudo sócio – cultural e tipológico nas cidades de São Luís e Natal 327 Iara Oyama Homma de Araújo; Maria Raquel Galvão Leite

    A utilização da terra em construções rurais durante a colonização do estado do Piauí 334 Sandra Selma Saraiva de Alexandria; Wilza Gomes Reis Lopes

    Análise e proposições para a recuperação do acervo patrimonial em ‘taipa de pau–a–pique’ na cidade histórica Marechal Deodoro, Alagoas 344 Josemary Omena Passos Ferrare

    Pixaim: desenho de terra sobre grãos de areia. A comunidade das dunas da foz do São Francisco 350 Maria Madalena Zambi; Maria Angélica da Silva

    Arquitetura rural da terra roxa: o caso das fazendas Pau d’Alho e Mato Dentro no município de Campinas no estado de São Paulo 358 Berna Valderrama; Melissa Oliveira; Sandra Martins

    A igreja e a casa-grande: remanescentes da taipa de pilão em Limeira-SP 370 Mateus Rosada

    Os materiais de terra nos sistemas construtivos da arquitetura da imigração na região da Antiga Colônia Blumenau em Santa Catarina 379 Maria Isabel Kanan

    Patrimonio arquitectónico en tierra en Cuyo, Argentina. Evaluación del estado de conservación y del resultado de las intervenciones 388 Silvia A. Cirvini; José A. Gómez Voltan

    Una aproximación a la vulnerabilidad del patrimonio arquitectónico en tierra. el caso del molino Reynaud en Luján de Cuyo, Mendoza 498 Fernando Javier Angeleri

    Experiencias de rehabilitación de muros de bahareque en Venezuela 407 Andrea Mara Henneberg de León

    El templo de San Jerónimo, Purenchécuaro, Michoacán, México. Una estructura de adobe colapsada y recuperada 415 Luis Alberto Torres Garibay

    Reparación de cuatro monumentos históricos de María Elena 425 Patricio Arias

    TEMA 3 – Arquitetura contemporânea Arquitetura da sustentabilidade – novos procedimentos 440

    Marcia Macul; Sergio Prado; Claudia de Andrade Oliveira

    El impacto de la globalización en la arquitectura de tierra 449 Mirta Eufemia Sosa

    Un barrio eco-sostenible – diseño modular de construcción mixta con tierra (sistema bahareque pre-fabricado). proyecto experimental biotécnico 455 Lucia Esperanza Garzón

    As casas de taipa na região de Lumiar: o barro cultural na arquitetura vernácula e como pigmento pictórico nas construções das obras de arte 466 Anita Fiszon

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    A construção caiçara, em taipa, no litoral sul do Rio de Janeiro: mitos e realidade 481 Aloísio J.J.Monteiro; Ana Cristina Villaça; Dalton Freitas do Valle; Ema Barros; Juliana Antônia Ferreira Fernandes; Luan Silva

    Mampostería de adobes en el Siglo XXI 490 Stella Maris Latina

    Análisis de habitabilidad en una edificación sustentable de tierra en una clima subtropical húmedo 497 José Adán Espuna Mújica; Rubén Salvador Roux Gutiérrez; Víctor Manuel García Izaguirre; Eduardo Arvizu Sánchez

    La humedad en las construcciones con tierra en el Trópico. Consideraciones de diseño 508 Angela M. Stassano R

    TEMA 4 – Ensino, formação e capacitação Actualización de Currícula Plan Milenium III, Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo.

    Estrategia de inducción medioambiental desde la Construcción con Tierra 518 Julio Lorenzo Palomera; Rubén Salvador Roux; Yolanda Aranda Jiménez

    Produção recente de mão de obra para atuar em projetos e obras de restauração: um novo estímulo para a conservação do patrimônio edificado em terra 531 Alexandre Ferreira Mascarenhas

    Formação de jovens artesãos taipeiros 541 Wilma Maria Abdalla

    Enseñanza para la ayuda, una ayuda para la producción. Una experiencia de elaboración de prototipos con tierra estabilizada en la enseñanza universitaria de grado 548 Darío Medina; Jorge Lombardi; Gustavo Cremaschi; Karina Cortina

    Fronterra: talleres de capacitación // Uruguay_Argentina 557 Rosario Etchebarne; Alejandro Ferreiro; Helena Gallardo; Ariel González; Mariano Pautasso; Gabriela Piñeiro; Daniela Verzeñassi

    Processo participativo em bioconstrução de uma edificação para o Centro de Formação do Trabalhador no Assentamento Sepé Tiaraju 568 Viviane S. Martins; Iazana Guizzo; Cecília H. Prompt; Fernando C. Costa

    Participação e bioconstrução na implementação do Centro de Formação do Instituto Morro da Cutia de Agroecologia 574 Viviane S. Martins; Iazana Guizzo; Cecília H. Prompt; Fernando C. Costa

    TEMA 5 – Transferência de tecnologia Reflexões sobre a Rede Ibero-americana PROTERRA 581

    Marco Antônio Penido de Rezende

    Tecnología y producción de bloques de solo tierra comprimida: aspectos pedagógicos de la transferencia a sectores populares en Misiones, Argentina 590 Eva Isabel Okulovich, Gilberto Haselstron, Graciela Anger, María Ernestina Morales

    Edificações – protótipos como objetos de transferência de tecnologia 599 Francisco Lima

    Transferência de tecnologias apropriadas: construindo com solo-cimento no assentamento rural de Campo Alegre, no Rio de Janeiro 608 Ariston Rocha; Gerônimo Leitão

    Experiências do projeto Crescer, resultados e primeiras análises 616 Rosana Soares Bertocco Parisi; Glacir Terezinha Fricke; Obede Borges Faria; Ana Cristina Villaça Coelho; Gabriel Nolasco Castañeda

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Crescendo com o CRESCER: o desenvolvimento acadêmico através da participação no projeto crescer 624 Alejandra M. Cruz; Maycon D. Costa; Eduardo M. Schmidt; Cinara C. Silva; Lívia Barbosa; Jonathan Amarante; Daniela Guardabaxo; Eliana M. Tramontina; Tiago A. Fernandes; Bruno L. Nascimento; Vanderson A.Chagas; Yolanda S. Bello; Glacir Fricke; Rosana S.B.Parisi

    TEMA 6 – Salubridade das construções Prototipo de comunidad saludable para áreas rurales del Perú: distrito de Chincha Baja, Ica 631

    María Teresa Méndez, Gladys Vásquez, Isabel Corasao, María Angélica Guevara, Juan Camargo, Eduardo Mendiola

    Palafita é arquitetura: análise tipológica das construções com terra na área de abrangência do projeto rio Anil 645 José Moraes Júnior, Maria Justina da Silva Castro

    Adobe y Chagas. Verdades y mitos de la construcción con tierra 653 Graciela María Viñuales

    El mal de Chagas en el Ecuador 661 Patricio Cevallos Salas

    Vivienda y mal de Chagas en Argentina. Investigaciones y proyectos en áreas rurales de Santiago del Estero 675 Clara E. Margarucci; Sebastián Miguel; Laura Ostrofsky; Marcos Amadeo; Ana Paula Saccone; Mariano González Moreno; Guillermo Rolón; Rodolfo Rotondaro

    ANEXOS

    Oficinas de terra – Apostila

    Cores da terra. Fazendo tinta com terra

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    APRESENTAÇÂO

    No ano de 2006, na cidade histórica de Ouro Preto realizou-se o TerraBrasil 2006 – I Seminário de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil em parceria com o IV Arquitectura de Terra em Portugal. O sucesso do evento, que superou todas as expectativas, reunindo não só pesquisadores e profissionais de todo país, como, dentre outros, de Portugal, Estados Unidos, México, Argentina e Colômbia, confirmou não só a necessidade de sua realização, como também da sua continuidade.

    No seu encerramento, deliberou-se a realização do TERRABRASIL 2008, em São Luís, cidade histórica, Patrimônio da Humanidade, conhecida também por seu significativo patrimônio histórico, sua beleza e hospitalidade.

    A ampla participação de estudantes e profissionais com formação diferenciada e as discussões durante todo o evento caracterizou a alteração do seu status para Congresso, sendo o TerraBrasil 2008, como continuidade do TerraBrasil 2006, denominado como o II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil.

    Junta-se a este, o VII SIACOT – Seminário Ibero-americano de Construção com Terra, evento organizado anualmente pela Rede Ibero-americana PROTERRA, dando-lhe o caráter internacional e permitindo estreitar relações com os países vizinhos e da península ibérica.

    Neste evento, inclui-se um importante tema que tem sido pouco prestigiado em eventos anteriores: Salubridade das Construções. Nele, pretende-se criar o espaço para discutir a questão da higiene e principalmente, do estigma que sofre a Casa de Terra: a terrível doença de Chagas, cuja incidência ultrapassa as fronteiras latino-americanas, pois também ocorre em Canadá, Estados Unidos, Espanha, entre outros países.

    A adesão de distintas instituições na organização e apoio ao evento confirma antecipadamente o seu sucesso. Os artigos a serem apresentados tornam o TERRABRASIL 2008 uma importante fonte de informação, com matérias atuais, desenvolvidas por especialistas e profissionais com amplas pesquisas e diversos projetos, na área da arquitetura e construção com terra.

    O Congresso busca reunir profissionais, pesquisadores, estudantes e interessados no tema da arquitetura e construção em terra, sendo aberto a participação a todos, independente de sua área de conhecimento. São objetos do congresso tanto as antigas e históricas construções em terra, assim como as novas; tanto abordagens mais específicas e disciplinares, ancoradas nas mais diversas áreas do conhecimento, tais como a antropologia, pedagogia, engenharia e arquitetura, como abordagens que busquem tratar o tema de forma multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar.

    Coordenação Geral www.terrabrasil2008.com.br

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    PROGRAMA

    Dias 3 e 4 de novembro – Oficinas e abertura do congresso Durante 2 dias, realizam-se oficinas de sensibilização de técnicas de construção com instrutores de Argentina, Brasil, Colômbia, México e Portugal. As oficinas realizadas e seus instrutores são:

    Caracterização e seleção de solos Obede Faria e Cybelle Santiago Taipa Márcio Hoffmann e Marco Antônio Técnicas Mistas Wilza Lopes, Lucia Garzón Revestimentos Luis Fernando e Raymundo Rodrigues Cores da Terra (pintura com terra) Anôr de Carvalho e Fernando Cardoso BTC Célia Neves, Yolanda Aranda Adobe Maria Fernandes e Rodolfo Rotondaro

    A sessão de abertura acontece também no dia 4 de novembro, após a realização das Oficinas, com a homenagem ao professor Roberto Mattone, falecido recentemente, seguido da palestra de Célia Neves “Arquitetura e construção com terra em Ibero-américa: ontem, hoje e amanhã”. Dias 5, 6 e 7 de novembro Apresentação de 48 trabalhos em 9 sessões Realização de uma sessão especial sobre programa interlaboratorial de ensaios Apresentação do filme didático argentino sobre construção natural, El barro, las manos, la casa dirigido por Gustavo Maragoni, com o capacitador Jorge Belanko Encerramento de TerraBrasil 2008 com avaliação do evento por parte dos assistentes, a divulgação dos vencedores do concurso de fotografias digitais das oficinas e a proclamação do TerraBrasil 2010 em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Dia 8 de novembro Visita à cidade histórica de Alcântara Quantitativo Aprovados e publicados 70 artigos agrupados em 6 temas

    Tema número de artigos

    1 Materiais e técnicas de construção 27

    2 História, conservação e patrimônio 18

    3 Arquitetura contemporânea 8

    4 Ensino, formação e capacitação 6

    5 Transferência de tecnologia 6

    6 Salubridade das construções 5

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    HOMENAGEM A ROBERTO MATTONE

    Em setembro de 2008 faleceu, em Buenos Aires, Argentina, o professor italiano Roberto Mattone. Graduado em arquitetura pelo Instituto Politécnico de Turim, Itália, em 1962, Roberto Mattone era professor associado de Tecnologia da Arquitetura e responsável pelo Laboratório de Materiais e Componentes da Faculdade de Arquitetura de Turim desde 1983. Atuou como consultor do Ministério de Assuntos Exteriores, coordenou as atividades tecnológicas do curso Habitat et ville dans les pays en voie de developpement ministrado para funcionários da administração pública congolesa e bolsistas entre 1993 e1996. Autor de numerosas publicações voltadas à pesquisa e aplicação de materiais compostos para construção de baixo custo, de elementos de ferro-cimento e de construção da alvenaria com blocos de terra estabilizada. Desenvolveu uma prensa para fabricação de BTC que produz bloco intertravados com furos, denominados bloco Mattone.

    Roberto Mattone (1938-2008)

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Roberto com sua esposa e companheira de trabalho

    Gloria Pasero

    Roberto com arquitetos mexicanos

    Roberto e Gloria mostrando o funcionamento da

    máquina de fabricação do bloco Mattone

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Bloco Mattone – vista e ensaio de resistência à compressão

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Nanoro, Burkina Faso, África

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Godofredo Viana, Maranhão, Brasil

    Favela Cuba de Baixo, Sapé, Paraíba, Brasil

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    El Nochero, Santa Fé, Argentina

  • II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra

    Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED), Camaçari, Bahia, Brasil

    Companheiro de trabalho em Santa Fé, Argentina

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    BASES PARA O CONCURSO DE FOTOGRAFIA DIGITAL TERRABRASIL 2008

    Participantes Poderão participar todos os inscritos em TerraBrasil 2008. Temática Serão aceitas imagens vinculadas ao evento realizadas nos dias 3 e 4, durante as oficinas, sendo consideradas especialmente aquelas que transmitam a idéia de que é possível construir de maneira distinta da convencional. Obra Poderão ser apresentadas até 3 fotografias por autor. Apresentação As fotografias devem ser tomadas com câmara digital. Os vencedores deverão apresentar sua câmara fotográfica com a imagem original de modo a certificar sua autenticidade. É permitido o retoque na fotografia, desde que seja para aplicar filtros globais que melhorem sua qualidade (brilho, contraste, etc.). Não é permitido aplicar operadores globais para colocar ou eliminar elementos, misturar fotos ou modificar sua composição original. As fotografias devem apresentar os seguintes requisitos: arquivo JPG tamanho mínimo do arquivo: 2,5 Megabytes (2,5 Mb) tamanho máximo do arquivo: 5 Megabytes (5 Mb) Para participar do concurso basta enviar as fotografias digitais para [email protected] com uma mensagem contento os seguintes dados: nome do autor pseudônimo

    número da identidade ou número do passaporte correio eletrônico modelo da câmara utilizada título da imagem Também poderá ser entregue aos organizadores em pendrive A inscrição de imagens no concurso será feita de forma gratuita. Prazo Aceitam-se imagens até o dia 5 de novembro às 18:00 horas Resultado Os jurados, representantes da UEMA, Rede Ibero-americana PROTERRA e Rede TerraBrasil, elegerão três imagens vencedoras. Prêmios Serão concedidos prêmios surpresas às três melhores fotografias. Direitos Autorais A comissão organizadora se reservará ao direito de publicar ou reproduzir, por si ou por terceiros, qualquer fotografia inscrita, mesmo não premiada, sem limitação de tempo nem de lugar, citando sempre o nome do autor. A fotografia ganhadora será exibida na página web da Rede Ibero-americana PROTERRA (www.redproterra.org) Divulgação e premiação A premiação dos ganhadores será realizada no dia 7 de novembro, no ato de encerramento de TerraBrasil 2008.

    mailto:[email protected]

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    TEMA 1

    MATERIAIS E TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    PROJETO CORES DA TERRA: RESGATE, APERFEIÇOAMENTO E DIFUSÃO DA

    TÉCNICA DO BARREADO1 Anôr Fiorini de Carvalho(1), Fernando de Paula Cardoso(2)

    Universidade Federal de Viçosa Avenida P.H. Rolfs – Departamento de Solos, sala 144, Viçosa, MG, Brasil

    Tel: (55 31) 3899 1049 (1) [email protected] (2) [email protected] Palavras-chave: barreado, tintas de terra, cores da terra RESUMO O projeto Cores da Terra, em interação com comunidades tradicionais, resgata e multiplica os conhecimentos relativos às técnicas de produção e aplicação de tintas que têm como fonte de pigmentos a terra. Tais técnicas passam por um processo gradual de substituição por materiais industrializados, que resulta no desuso de uma prática tradicional: o barreado. Ao buscar as razões para o desuso da prática, constatou-se que havia outros motivos, tais como a demanda freqüente por manutenção e a limitada variedade de cores proporcionada pelas argilas. Concluiu-se que tais motivos, respectivamente, justificavam-se pelo dispendioso tempo gasto nas freqüentes manutenções, pois, o barreado se desprende com facilidade, e pela limitada variedade de cores presentes nas argilas. Propôs-se então, a utilização de adesivos para a efetiva fixação do barreado, o que também possibilitaria a utilização de solos pouco argilosos – pois, sabe-se que as argilas puras se aderem com mais facilidade as superfícies, em função do tamanho e forma de suas partículas – e, conseqüentemente, o acesso a uma maior variedade de cores. Para tanto, o projeto interagiu com pintores profissionais e pessoas das comunidades, que contribuíram substancialmente para o aperfeiçoamento do processo de fabricação das primeiras amostras. E, passou-se a realizar oficinas no município de Viçosa e arredores, escolas, eventos, comunidades e assentamentos rurais, em âmbito nacional, com a missão de potencializar o resgate e a difusão de técnicas vernaculares, além da possibilidade de gerar trabalho, renda e, principalmente, acesso a pintura.

    1. INTRODUÇÃO Das iniciativas de um pintor e um artista plástico viçosenses, surgiu em 1999 a idéia de utilizar a terra como fonte de pigmentos base para a fabricação de tintas. As primeiras tentativas resultaram na pintura de algumas paredes e telas. Dado o contato entre tais profissionais e o docente Anôr Fiorini de Carvalho, do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV), foi vislumbrada a possibilidade de se resgatar os conhecimentos tradicionais relativos ao barreado. Para tanto, foi encaminhada em 2005 a proposta de consolidar um projeto via Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX). Aprovado, o projeto “Cores da Terra: Auto-estima, você é quem pinta” constituiu uma equipe composta por docentes e estudantes dos cursos de Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Economia Doméstica e Geografia para, a partir de então, dar-se início às primeiras pesquisas e à interação com comunidades tradicionais.

    2. O PROJETO O enfoque adotado foi o da interação sócio-acadêmica que propõe o desenvolvimento técnico em íntima relação com a sociedade. O argumento para esse enfoque é o de que, se desde o nascedouro da proposta a comunidade for envolvida, muitos aspectos ligados à realidade sócio-cultural, estarão considerados no processo de construção da solução tecnológica (Carvalho, 2007). A partir do resgate de conhecimentos em comunidades tradicionais, a primeira iniciativa foi aperfeiçoar a técnica, em função dos fatores que passaram a caracterizar o seu desuso. A dificuldade de aderência das argilas às superfícies, por exemplo, foi reduzida com a

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    sugestão de se utilizar o grude ou cola de amido, de produção doméstica. No entanto, o grude apresentou pouca resistência às intempéries e passou a compor tintas para a pintura de paredes internas, protegidas do sol e da chuva. E, à medida que os profissionais pintores e membros das comunidades fizeram uso da técnica aperfeiçoada, surgiram dúvidas e novas propostas relativas à natureza dos materiais utilizados. O PVA, por exemplo, passou a ser utilizado como adesivo – apesar de aumentar os custos econômicos e ambientais do processo – e possibilitou a fabricação de tintas com maior poder de adesão. Para diminuir o consumo do PVA e possibilitar a permeabilização das paredes, a experiência de profissionais ligados à construção civil também levou ao desenvolvimento da possibilidade de incluir a cal de pintura nas misturas. Naturalmente, os adesivos também contribuíram para sanar outro fator que caracterizava o desuso do barreado, a limitada variedade de cores presentes nas argilas, pois, possibilitou a utilização de uma maior variedade de solos. Com tais aperfeiçoamentos – mesmo que insuficientes – a técnica passou a ser difundida com a realização de oficinas em comunidades, assentamentos rurais, escolas e eventos em âmbito nacional. A publicação de reportagens nas mídias escrita, falada e televisada, garantiram um reconhecimento de “existência” da técnica pela população a partir da veiculação de informações e confecção de uma cartilha com linguagem acessível, utilizada nas oficinas e também disponibilizada em meio digital.

    3. O RESGATE As visitas de resgate de conhecimentos aconteceram em Araponga, Minas Gerais, município da Zona da Mata mineira, onde ainda se identifica o uso do barreado (figura 1). A partir de visitas e conversas informais, foi possível obter relatos importantes, referentes à tradição e técnicas vernaculares de construção, geralmente, de terra crua, em pau-a-pique, com casas erigidas por ajuda mútua. Era prática comum o noivo erguer o entramado de madeira e a cobertura, para depois convidar os vizinhos e parentes, na semana anterior ao casamento, para barrear o entramado de madeira. Já o barreado – entendido como pintura – era feito pela família moradora, na maioria dos casos pelas mulheres, que eram responsáveis pelos cuidados e embelezamento da moradia. Segundo relatos, em geral, o barreado interno era aplicado anualmente, o externo a cada semestre e o das paredes da cozinha e do fogão à lenha, quinzenalmente, devido à fuligem impregnada pela fumaça. Uma pequena quantidade de barro para manutenção era armazenada debaixo do assoalho em forma de bolas ou guardada em sacos ou latas.

    Figura 1 – Casa rural barreada, em Araponga, Minas Gerais

    E, diferente de outras regiões, em que o barreado é feito com argila de cores branca ou cinza, em Araponga identificou-se o uso de outras cores de solos, com tonalidades amareladas e avermelhadas, apesar de seu pequeno poder de adesão.

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    A aplicação do barreado (figura 2) é feita com pano embebido pela mistura de barro e água, sendo que, na primeira demão, aplica-se uma massa mais concentrada e, na segunda demão ou acabamento, uma massa mais diluída, em geral no dia seguinte a primeira aplicação, para cobrir frestas e homogeneizar a superfície.

    Figura 2 – A aplicação do barreado em forno

    No caso da pintura de casas, faz-se o barrado, uma faixa do piso até a altura de um metro, com cor mais escura, obtida de solos com maior concentração de matéria orgânica decomposta ou a partir da mistura de argila com cinzas ou carvão. O barrado cumpre a função de mascarar a sujeira provocada pelos respingos de água e pelo contato de animais e calçados com as paredes. O barro também era aplicado nos pisos de terra batida, mas com uma mistura de esterco bovino fresco e argila, o que promovia a estabilidade do piso e a limpeza da moradia. No entanto, as práticas têm caído em desuso, uma vez que os materiais não são aplicados com adesivos e sabendo que as argilas se desprendem facilmente das superfícies, exigindo constante reposição, além de limitar a variedade de cores. Por esses e outros motivos, a utilização do barreado tem se reduzido muito no meio rural e praticamente inexiste no meio urbano.

    4. O APERFEIÇOAMENTO Em função do resgate dos conhecimentos, identificou-se o principal fator responsável pelo desuso do barreado: a dificuldade de aderência às superfícies, que poderia ser sanada pelo uso de adesivos. Comuns na fabricação industrial de tintas, os adesivos cumprem a função de consolidar e fixar as partículas dos pigmentos às superfícies, além de garantir plasticidade ao filme. No entanto, dificultam as trocas térmicas entre as paredes e o meio, o que resulta em acúmulos de umidade, fungos e o surgimento de bolhas, comprometendo a qualidade estética da pintura e a saúde dos moradores. A pintura a base de minerais foi utilizada no passado, em edifícios geralmente de terra crua, e garantia a “respiração” das paredes. Um aspecto particularmente importante está relacionado com a proteção contra a umidade. Com efeito, as paredes dos edifícios atuais são construídas de forma a impedir, tanto quanto possível, a penetração da água do exterior, razão pela qual se executam cortes de capilaridade junto às fundações, revestimentos impermeabilizantes, caixilharia estanque, coberturas e remates. Pelo contrário, o modelo de funcionamento das paredes antigas, mais espessas e porosas, sem cortes de capilaridade, admitia a entrada de água para o interior da alvenaria, mas evitava uma permanência prolongada, procurando promover a sua fácil e rápida saída para o exterior. Assim, a ascensão capilar da água através das fundações (naturalmente, em quantidade moderada), fazia parte do funcionamento normal da parede, que rapidamente promovia a sua expulsão por evaporação (Tavares e Veiga, 2002).

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    Um adesivo tradicionalmente apropriado, conhecido como grude ou cola de amido, foi utilizado para a fabricação das primeiras amostras. Por não formar um filme plástico sobre as superfícies ao ser misturado com pigmentos minerais, seu uso trouxe bons resultados, por permitir a permeabilização das paredes e possuir baixíssimo custo de produção. No entanto, a resistência era insuficiente frente às intempéries, apesar da possibilidade de ser aplicado em paredes internas, a salvo da insolação e da chuva. Outro adesivo utilizado foi o PVA, que solucionaria o problema da adesão e resistência a intempéries, mas, com isso, acarretaria alguma impermeabilização às superfícies, mesmo se aplicado com pigmentos minerais, e aumentaria substancialmente o custo final de produção da tinta. Frente aos dois extremos, o contato com profissionais pintores resultou na possibilidade de utilizar uma mistura de PVA, em menor quantidade, e cal de pintura. A cal, nesse caso, também atuaria como um adesivo ao ser misturada com pigmentos minerais e água, devido à sua carbonatação, que forma um filme rígido e permeável. Constatou-se até então que, sem o uso do PVA a pintura se desprenderia naturalmente, como é comum em paredes caiadas. Além da problemática referente aos adesivos, outras limitações dizem respeito à variedade de superfícies de aplicação, que apresentam resultados diferentes de acordo a existência ou não de pinturas antigas, os materiais de construção e o comportamento ambiental dos mesmos. No entanto as paredes pintadas necessitam naturalmente de manutenção, seja qual for a composição das superfícies e tintas aplicadas, o que não exclui, obviamente, a necessidade de aperfeiçoamentos técnicos. Entretanto, os maiores limites referem-se à redução dos custos ambientais e de produção, além da possibilidade de permitir a auto-produção e o acesso à pintura àqueles que não tem condições de pagar pelas tintas industrializadas.

    5. A DIFUSÃO O compartilhamento do diálogo se dá, para Freire (1985), na comunicação, que implica uma reciprocidade que não pode ser rompida. Em “Extensão ou Comunicação?”, Paulo Freire, critica a ação extensionista focada em “estender” as técnicas dos especialistas, com as quais se pretende substituir os procedimentos empíricos das pessoas. Para o autor, tal “extensão” representa uma invasão cultural, conseqüência da antidialogicidade. O autor explica que os obstáculos com os quais se defrontam os técnicos, em grande parte, são obstáculos de caráter cultural. O que, porém, não apenas se pode, mas se deve discutir, é a forma de compreender e de buscar alternativas, que não podem ser vistas como algo separado do universo cultural em que se dá. Desta forma, a capacitação técnica jamais se reduziria à transferência de receitas tecnicistas e se faria uma atividade realmente criadora. Assim, o caráter de agentes da ação, que têm os que tomam a iniciativa desta, deixa de pertencer-lhes, na síntese, no momento em que as pessoas assumem o papel também de agentes da ação (Freire, 1982). Seguindo os ensinamentos de Paulo Freire, a difusão da técnica se dá em oficinas previamente organizadas, que partem, num primeiro momento, de dinâmicas participativas para o resgate dos conhecimentos. Naturalmente, surgem referências ao barreado e outras técnicas tradicionais de construção e, muitas vezes, exemplos de pigmentos e da extração dos mesmos a partir de solos, plantas e outras fontes regionalmente apropriadas. Assim, a atenção é voltada para as antigas práticas e a razão de seu desuso, para, noutro momento, convidar os participantes para uma percepção ambiental e análise das possibilidades locais referentes à extração de pigmentos e produção de tintas a base de terra. Discutem-se as características dos solos e faz-se a análise empírica de algumas amostras, com testes texturais e suspensão dos pigmentos em meio líquido. Das amostras analisadas, retiram-se aquelas mais apropriadas, geralmente com maior teor de argila e cores mais atraentes, para a confecção de uma pequena paleta de cores (figura 3) que será avaliada coletivamente.

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    Figura 3 – A paleta de cores

    Dessa avaliação, selecionam-se os dois melhores resultados e retorna-se a campo para a coleta de quantidades maiores dos solos selecionados para a produção de duas porções de dezoito litros de tinta (figura 4), sendo uma com o uso do grude como adesivo e outra com o uso de cola branca.

    Figura 4 – A produção da tinta

    Primeiro, executa-se a produção do grude, a partir de uma mistura de água, polvilho azedo e soda cáustica, para depois acrescentar-se a amostra do solo escolhido. Processo parecido ocorre durante a produção da tinta com cola branca e, rapidamente, as duas amostras de tinta ficam prontas e parte-se ao próximo estágio, que é o da aplicação. Antes são explicadas as fases dos processos de preparação das superfícies e pintura, contando sempre que possível com a experiência profissional de pedreiros e pintores da localidade. Tais oficinas se concentraram, inicialmente, em áreas peri-urbanas do município de Viçosa, em parceria com conselhos paroquiais (figura 5) e depois, em assentamentos rurais, em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Também foram realizadas oficinas em escolas municipais, encontros estudantis, comunidades rurais e eventos em âmbito nacional.

    6. RESULTADOS Até então o projeto apresentou, no campo da técnica, a possibilidade de se utilizar a terra como fonte de pigmentos para a produção de tintas, ainda dependendo de estudos mais aprofundados. E, no campo da interação sócio-acadêmica, desenvolveu um processo didático-pedagógico que o diferencia, frente à Extensão Universitária tradicionalmente praticada. Assim, o principal resultado obtido pelo projeto refere-se à tentativa de gerar

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    autonomia, a partir do incentivo a auto-produção, utilizando como meio para tanto, conhecimentos tradicionais resgatados e readaptados às condições atuais. O barreado e a auto-produção de tintas são, enfim, exemplos práticos, sendo que o mais importante é o processo interativo desenvolvido, ferramenta para o resgate de mais conhecimentos.

    Figura 5 – A pintura da igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição

    7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entre os anos de 2005 e 2007 o projeto desenvolveu atividades em parceria com o conselho paroquial do bairro Nova Viçosa, que culminaram na realização de um Curso de Formação de Tintores2. O tintor seria o profissional capacitado para aplicar a técnica de produção e aplicação de tintas à base de terra, após participar do referido curso. Um grupo de quinze pessoas, constituído por profissionais da construção civil e desempregados, participou do processo dividido em módulos temáticos, sendo que a última atividade realizada foi a pintura externa da Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição (figura 6). Durante o processo, houve o envolvimento de moradores e realização de pesquisas com o intuito diagnosticar, mesmo que superficialmente, as condições habitacionais do bairro, com foco na situação das moradias referente à pintura. Dentre 36 pessoas entrevistadas em Nova Viçosa, no início das atividades do projeto, 83% disseram que suas casas necessitavam de pintura; 30% das pessoas nunca haviam pintado suas casas, destas, 14% disseram que o motivo era a falta de reboco das paredes e 39% alegaram o preço da tinta convencional. A leitura quantitativa destes dados nos fez crer, a princípio, que a questão financeira - o custo da tinta convencional e a prioridade dada pelo morador à compra de outros bens essenciais - era a principal causa da falta de pintura das casas. Por conseguinte, subtendeu-se que o uso da tinta à base de solos, pelo seu baixo custo, boa duração e fácil aplicação, seria adotado, de modo rápido pelos moradores do bairro (Honório, 2007). No entanto, ao final do processo, já em 2007, constatou-se que poucas casas haviam sido pintadas no bairro. Honório (2007) observou que, apesar de pouca adotada pelos moradores, a tecnologia teve grande repercussão na cidade, outras localidades e estados, além do significativo o uso da tinta por um grupo de pessoas que dispõem de melhor poder aquisitivo, sendo que, nesses casos, a aplicação foi feita por profissionais contratados. Constatações parecidas foram apresentadas por D’Ávila, Carvalho e Cardoso (2008) ao enfatizar a necessidade de, em parceria com alguns articuladores de Acessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES), problematizar a prática realizada pelo projeto Cores da Terra nos assentamentos de reforma agrária, para além da realização de oficinas.

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    Figura 6 – A igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição

    Além das referidas problematizações, há as questões de ordem técnica, referentes ao estudo das propriedades dos solos e pigmentos, adesivos e superfícies de aplicação, tendo-se em vista a necessidade de facilitar o processo de produção e o acesso em função de especificidades regionais. Atualmente, a equipe do projeto tem buscado respostas, a partir da análise das atividades realizadas e experimentos técnico-didáticos, ainda prematuros.

    BIBLIOGRAFIA CARVALHO, A. F. Influência das características mineralógicas, químicas e físicas de solos, na qualidade de tintas imobiliárias de baixo custo, produzidas à base de solos com tecnologia social. Projeto de Pesquisa. UFV, Viçosa, 2007.

    D’ÁVILA, C. M; CARVALHO, A. F; CARDOSO, F. P. O Programa de Acessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária (ATES) e o resgate do saber local. Trabalho apresentado no 3º Encontro da Rede de Estudos Rurais. Campina Grande, PB, 2008.

    FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1985.

    FREIRE, P. Ação Cultura para a liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1982.

    HONÓRIO, L. M. Por detrás da pintura: Reflexão acerca da atuação do projeto Cores da Terra no bairro Nova Viçosa, Viçosa – MG, no período de 2005 a 2007. UFV, Viçosa, 2007.

    TAVARES, M; VEIGA, M. R. Características das paredes antigas: Requisitos dos revestimentos por pintura. In: Actas do Encontro: A indústria das tintas no início do século XXI. Lisboa. APTETI, 2002.

    NOTAS 1 – Prática comum no meio rural mineiro, que consiste no revestimento ou pintura de paredes com argila pura, geralmente de cor branca, diluída em água e aplicada com pano úmido ou brocha. O mesmo termo também é utilizado em Minas Gerais e outras regiões para significar a prática do barreamento no processo de construção do pau-a-pique ou taipa de mão.

    2 – Assim foi denominado o curso voltado à capacitação de profissionais para a fabricação e aplicação da tinta de solos, ministrado a moradores do bairro no ano de 2006.

    AUTORES Anôr Fiorini de Carvalho, engenheiro agrônomo, Universidade Federal de Viçosa (UFV), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas; Projetos de Extensão: Cores da Terra e Agricultura Urbana.

    Fernando de Paula Cardoso, graduando em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Projetos de Extensão: Cores da Terra e Terra Crua: uma alternativa para a produção de habitação social em assentamentos rurais.

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    PROGRAMA INTERLABORATORIAL PROTERRA. ENSAIOS DE ADOBE Célia Neves1, Obede Borges Faria2

    (1) Rede Ibero-americana PROTERRA Al. Praia de São Vicente, 40. Vilas do Atlântico. 42700-000 Lauro de Freitas, BA, Brasil

    Tel: (55 71) 3379 3506 [email protected]

    (2) Faculdade de Engenharia, UNESP – Universidade Estadual Paulista - campus Bauru; Av. Eng. Luiz E.C. Coube, 14-01 17033-360, Bauru, SP, Brasil

    Tel: (55 14) 3103 6112; [email protected] e [email protected]

    Palavras-Chave: programa interlaboratorial; adobe, caracterização física, caracterização mecânica RESUMO No presente trabalho, é relatado o desenvolvimento, assim como são apresentados os resultados da primeira etapa do Programa Interlaboratorial PROTERRA, cujo objetivo é definir procedimentos de ensaios e parâmetros de controle a partir dos resultados obtidos em ensaios realizados em diversas instituições. Esta etapa consiste no desenvolvimento e aplicação do procedimento para ensaio de determinação da resistência à compressão de adobes. Para isto, foram estabelecidos dois tipos de corpos-de-prova, ambos de formato cúbico (moldado e recortado; e moldado) e três diferentes dimensões – lados de 7,5 cm, 10 cm, e 15 cm. O artigo apresenta o resumo do plano de trabalho, nomeia as instituições e respectivas equipes que participaram desta etapa, apresenta particularidades respectivas ao desenvolvimento do projeto em cada laboratório e faz as primeiras considerações sobre os valores obtidos. As instituições participantes são denominadas como CECOVI, CEPED, Rafaela, Torino e UNESP, porém sem identificar seus resultados. São destacados principalmente os resultados dos ensaios de caracterização dos solos empregados, o desenvolvimento sobre a preparação dos corpos-de-prova e o procedimento de realização dos ensaios de determinação da resistência à compressão. São tomados como referência os resultados do cubo recortado do adobe, com lados de 7,5 cm, e buscando obter relações, é analisado o comportamento dos corpos-de-prova cúbicos com lados de 10 cm e 15 cm. Além de se surpreender com os elevados resultados da resistência à compressão obtidos em dois laboratórios participantes, constata-se que, com a quantidade de ensaios realizado, ainda não é possível determinar o parâmetro de controle. Ao final, é comentado sobre a importância do programa interlaboratorial para o estabelecimento de procedimentos de ensaios e qualificação de produtos, destacando-se aqueles produzidos pela terra, a contribuição com a metodologia de projetos de pesquisa e seu efeito na Rede Ibero-americano PROTERRA.

    1. INTRODUÇÃO PROTERRA é uma rede internacional e multilateral de cooperação técnica que promove a transferência de tecnologia de arquitetura e construção com terra. PROTERRA surgiu em outubro de 2001 como um Projeto de Investigação temporal, de quatro anos, do Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento – CYTED, com o objetivo de incentivar o uso da terra como material de construção, através da realização de projetos demonstrativos, publicações, cursos e outros eventos. Em fevereiro de 2006, quando finalizou o projeto de investigação PROTERRA/CYTED, criou-se a Rede Ibero-americana PROTERRA, com quase todos os membros do extinto projeto, além de outros interessados, com objetivos e linhas de ação semelhantes aos do projeto finalizado. No início, o foco de PROTERRA era a habitação de interesse social e a proposta era dispor de um grupo de especialistas ibero-americanos que pudessem dar suporte técnico aos programas de construção desenvolvidos nos diversos países. Logo se percebeu que o uso da terra em programas de habitação de interesse social não aconteceria somente com a formação de uma equipe internacional de profissionais, pois já existiam, em cada país, profissionais competentes para dar o apoio técnico necessário. Porém, era necessário

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    estimular e difundir o uso da terra através de outras ações, de modo a dar o suporte científico à Arquitetura e Construção com Terra, através da elaboração de um acervo bibliográfico atualizado, adequado às atuais circunstâncias de cada país e região. Uma destas ações corresponde à identificação e recomendação de ensaios e parâmetros para qualificação de produtos, tais como adobe, BTC, e também as alvenarias e paredes executadas nos mais diversos sistemas construtivos. No final de 2007 foi iniciado um programa interlaboratorial, cuja primeira atividade era definir um procedimento de ensaio para determinar a resistência à compressão do adobe e parâmetros para sua qualificação. Nos diversos artigos e documentos publicados que apresentam resultados ou limites de resistências à compressão de adobes, as referências aos procedimentos de ensaio são escassas ou, simplesmente, inexistentes. No âmbito ibero-americano, destacam-se as seguintes referências que citam procedimentos de ensaio e qualificação do produto:

    • a Norma técnica de edificación E.080 Adobe (RNC, 2000) estabelece o ensaio de adobes em corpos-de-prova com forma de cubo recortado, cujo lado é igual à menor dimensão do adobe. Define a resistência última como o valor acima do qual se encontram 80% dos resultados de, no mínimo, 6 corpos-de-prova e indica que esta deve ser de 1,2 MPa, no mínimo. Não especifica velocidade de carregamento nem tempo de ensaio (figura 1a).

    • Faria (2002) adapta as normas brasileiras NBR 6460 (ABNT, 1983) e NBR 8492 (ABNT, 1984) para ensaios de adobe. O corpo-de-prova corresponde às duas metades do adobe cortado ao meio e assentadas uma sobre a outra com argamassa de pasta de cimento e gesso (4 partes de cimento e 1 de gesso). No ensaio, o incremento de carga é da ordem de 10 MPa por minuto (figura 1b).

    • Varum et al (2006) extrai corpos-de-prova cilíndricos com diâmetro compreendido entre 70 mm e 90 mm e altura aproximadamente igual ao dobro do diâmetro. Não cita velocidade de carregamento nem tempo de ensaio.

    Figura 1 – Corpos-de-prova: a) cubo; b) adobe cortado e com as metades unidas

    Uma vez que não é praticado um mesmo procedimento de ensaio, não é possível comparar os resultados citados nas diversas publicações. Com a realização do programa interlaboratorial, a Rede Ibero-americana PROTERRA espera propor um procedimento de ensaio de determinação da resistência à compressão de adobes que, se adotado por todos os pesquisadores e profissionais responsáveis pela qualificação do produto, poderia fornecer dados consistentes para identificar as principais características do adobe e proporcionar requisitos para a qualificação de sua alvenaria.

    a) b)

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    O presente trabalho apresenta os resultados da primeira etapa do Programa Interlaboratorial PROTERRA, que consistiu na realização dos ensaios propostos, em laboratórios de diversos países empregando o mesmo procedimento.

    2. METODOLOGIA A metodologia do programa interlaboratorial corresponde à elaboração do plano de trabalho, o convite aos diversos laboratórios para a adesão ao programa, e, após a análise e discussão dos resultados, a elaboração da proposta para um procedimento ibero-americano de ensaio de determinação da resistência à compressão de adobes. O plano de trabalho compreendeu as seguintes etapas: escolha do solo; produção e preparação dos corpos-de-prova para ensaios; realização dos ensaios; e, registro dos resultados. 2.1 Escolha do solo Foi estabelecido o uso do solo com a seguinte composição: teor de areia superior a 55% e teor de argila de cerca de 30%. Caso o solo disponível não atendesse a esta exigência, seria necessário promover a estabilização granulométrica, misturando dois ou mais solos até obter a composição granulométrica recomendada. Para escolha do solo adequado, indicou-se a caracterização de solos disponíveis mediante os seguintes ensaios: composição granulométrica (peneiramento/sedimentação); limites de Atterberg (LL e LP); massa unitária no estado solto; e, teor de umidade do solo em estado solto. Os ensaios para determinação da composição granulométrica e dos limites de Atterberg (limite de liquidez e limite de plasticidade) deveriam ser realizados de acordo com as normas vigentes em cada país, geralmente utilizados nos laboratórios de mecânica dos solos. Para os ensaios de determinação da massa unitária no estado solto (figura 2) e teor de umidade foram propostos procedimentos específicos, apresentados como anexo em Faria et al (2008).

    Figura 2 – Determinação da massa unitária do solo – Laboratório D

    2.2 Produção e preparo dos corpos-de-prova Para avaliar a influência do processo de moldagem e do corte de adobe na resistência à compressão, adotaram-se dois tipos de corpo-de-prova, todos em formato cúbico: o cubo recortado de adobe e o cubo moldado. Para isso, foram produzidos: a. Pelo menos 20 adobes, moldados em moldes com dimensões internas de 7,5 cm x

    15 cm x 30 cm; b. Pelo menos 20 cubos, moldados em moldes com dimensões internas de 10 cm x 10 cm

    x 10 cm; e, c. Pelo menos 20 cubos, moldados em moldes com dimensões internas de 15 cm x 15 cm

    x 15 cm.

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    Para a amostragem de cada tipo de cubo, foi proposto o seguinte procedimento:

    • Retirada aleatória de 10 unidades do adobe para o preparo de corpos-de-prova recortados. Cada adobe foi recortado ao meio e a sua metade foi novamente recortada de modo a obter o cubo com lado de 7,5 cm (Cubo 7,5) que corresponde à altura do adobe produzido;

    • Retirada aleatória de 10 unidades do cubo de lado de 10 cm (Cubo 10) e 10 unidades do cubo de lado de 15 cm (Cubo 15).

    2.3 Realização dos ensaios Os 10 exemplares de cada amostra – Cubo 7,5 (recortado); Cubo 10 e Cubo 15 (moldados) – foram colocados em estufa a 100ºC por 24 horas com o objetivo de uniformizar a umidade dos corpos-de-prova preparados em diferentes regiões e condições climáticas. Após a secagem, determinou-se a massa específica aparente dos corpos-de-prova obtida através da relação entre a massa seca e o volume. Os corpos-de-prova foram submetidos ao ensaio de compressão com o carregamento a uma taxa de incremento de tensão de 0,29 MPa/min. 2.4 Registro dos resultados Os dados obtidos foram registrados nas planilhas propostas, com o cálculo automático dos resultados. 2.5 Análise dos resultados Inicialmente, os resultados foram analisados para cada laboratório, procurando-se identificar relações entre os valores de resistência à compressão e as dimensões dos corpos-de-prova e a variação dos valores para cada amostra, através do desvio padrão e coeficiente de variação. Em seguida, compararam-se os resultados entre os diversos laboratórios, analisando-se o comportamento dos valores de resistência e dimensão dos corpos-de-prova.

    3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Participaram do programa interlaboratorial as seguintes instituições: CECOVI – Centro de Investigación y Desarrollo para la Construcción y la Vivienda, Universidad Tecnológica Nacional, Facultad Regional Santa Fé, Argentina1

    CEPED – Centro de Pesquisas e Desenvolvimento, Brasil2

    Dipartimento di Scienze e Tecniche per i processi di insediamento, Facoltà di Architettura, Politecnico di Torino, Itália3

    Faculdade de Engenharia, Universidade Estadual Paulista – campus Bauru, Brasil4

    Laboratorio de Ingeniería Civil, Universidad Tecnológica Nacional, Facultad Regional Rafaela, Argentina5. Os resultados apresentados a seguir não são identificados pelas respectivas instituições, mas como Laboratório de A a E. 3.1. Caracterização física do solo Na tabela 1 são apresentados os resultados de composição granulométrica e limites de Atteberg, obtidos pelos 5 laboratórios.

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    Tabela 1 – Composição granulométrica e limites de Atteberg dos solos empregados

    Propriedade Laboratório Granulometria proposta A B C D E Granulometria pedregulho (%) 5 areia (%) 65 52 72 71 15 ≥ 55% silte (%) 9 23 22 29* 56 argila (%) 26 20 6 29 ≅ 30% Limites Atteberg ** ** LL (%) 25 41 42 LP (%) 18 21 20 IP (%) 7 20 22 Composição solo 2 solos 1 solo 2 solos 2 solos 1 solo * corresponde ao teor de silte + argila ** não foram determinados os limites de Atteberg para a mistura de 2 solos O estabelecimento de uma faixa granulométrica para o programa interlaboratorial teve dois propósitos: trabalhar com um tipo de solo granulometricamente semelhante e evitar o uso de adições para o preparo dos corpos-de-prova. De início, constatou-se a dificuldade que os laboratórios tiveram em obter o tipo de solo especificado, mesmo com a possibilidade de mistura de dois ou mais tipos de solos. No entanto, não foi necessário adicionar palha ou qualquer outra adição para o preparo dos corpos-de-prova. 3.2. Produção dos adobes e cubos Os laboratórios confeccionaram os moldes para a produção dos adobes e cubos conforme as dimensões internas estabelecidas no procedimento: 7,5 cm x 15 cm x 30 cm para o adobe e dois cubos com lados 10 cm e 15 cm cada. Os moldes foram confeccionados em madeira, com exceção do laboratório D que confeccionou moldes metálicos (figura 3).

    Figura 3 – Moldes para preparo dos corpos-de-prova a) Laboratório A; b) Laboratório C; c) Laboratório D (metálico)

    c)

    a) b)

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    Cada laboratório relatou como ocorreu a moldagem. Todos os laboratórios confirmaram maior dificuldade de preenchimento dos cubos, devido a “pequena abertura” em relação a altura do molde, se comparado com o molde prismático do adobe. A desmoldagem do cubo de 10 cm de lado também não foi fácil, em que pese o uso de areia, cinzas ou outro tipo de desmoldante. Os laboratórios D e E comentaram a dificuldade de recortar com o serrote o adobe seco para o preparo do corpo-de-prova, conforme indicado por Faria (2002), pois o serrote perdia o fio (gume) muito rápido. Após algumas tentativas sem sucesso, utilizaram uma máquina elétrica com disco de corte. Os laboratórios B e E informaram a quantidade de água adicionada ao solo para o preparo dos adobes e cubos que, coincidentemente, foi da ordem de 35% (relação percentual entre a massa de água adicionada e a massa seca do solo). Na figura 4 são mostrados os corpos-de-prova produzidos por alguns dos laboratórios.

    Figura 4 – Preparo dos corpos-de-prova a) Laboratório E; b) Laboratório C; c) Laboratório D; Laboratório B

    3.3. Caracterização física e mecânica dos adobes Na tabela 2 são apresentados os resultados médios de massa específica aparente dos corpos-de-prova, que corresponde à relação entre a massa seca e o volume calculado pelas medidas dos lados de cada exemplar.

    Para que se pudessem isolar as variáveis decorrentes do tipo de solo empregado em cada laboratório e da forma de preparo dos adobes e corpos-de-prova, foram calculadas as massas específicas relativas aos valores médios dos respectivos Cubos 7,5 (tabela 3).

    c)

    d)

    a) b)

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    Tabela 2 – Massa específica aparente (ρap) dos vários tipos de corpos-de-prova ensaiados

    Tipo de CP Laboratório A B C D E Cubo de 7,5 cm média (kg/m3) 1860 1580 1860 1610 1900 desvio padrão (kg/m3) 270 60 30 120 20 Coeficiente de variação (%) 14,5 3,8 1,6 7,5 1,0 Cubo de 10 cm média (kg/m3) 1740 1760 1950 1680 1940 desvio padrão (kg/m3) 70 50 90 50 20 Coeficiente de variação (%) 4,0 2,8 4,6 3,0 1,0 Cubo de 15 cm média (kg/m3) 1750 1730 1950 1750 1930 desvio padrão (kg/m3) 30 50 20 90 10 Coeficiente de variação (%) 1,7 2,9 1,0 5,1 0,6

    Tabela 3 – Massa específica aparente dos diferentes corpos-de-prova em relação à do Cubo 7,5

    Tipo de CP Laboratório A B C D E Cubo de 7,5 cm 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Cubo de 10 cm 0,93 1,11 1,05 1,04 1,02 Cubo de 15 cm 0,94 1,09 1,05 1,09 1,02

    Analisando-se os resultados apresentados na tabela 3, constata-se que a massa específica aparente da amostra Cubo 7,5 (recortado) é inferior a das amostras Cubo 10 e Cubo 15, com exceção do Laboratório A. Este fato demonstra que a dificuldade de preenchimento dos cubos durante a moldagem dos corpos-de-prova aparentemente não interferiu na compacidade da mistura. Constata-se também que os valores das massas específicas aparentes dos corpos-de-prova moldados são mais próximos entre si. Na tabela 4 são apresentados os resultados médios de resistência à compressão obtidos pelos diversos laboratórios e, na tabela 5, a velocidade de carregamento, para cada tipo de amostra ensaiada

    Tabela 4 – Resistência à compressão (fc).

    Tipo de CP Laboratório A B C D E Cubo de 7,5 cm média (Mpa) 1,24 0,45 1,24 6,41 5,99 desvio padrão (MPa) 0,10 0,04 0,25 0,63 0,35 coeficiente de variação (%) 8,1 8,8 20,2 9,9 5,8 Cubo de 10 cm média (Mpa) 1,21 0,43 1,50 4,67 5,70 desvio padrão (MPa) 0,20 0,03 0,21 0,38 0,36 coeficiente de variação (%) 16,5 7,2 13,9 8,1 6,2 Cubo de 15 cm média (Mpa) 1,13 0,43 1,71 4,86 5,42 desvio padrão (MPa) 0,05 0,02 0,24 0,58 0,24 coeficiente de variação (%) 4,4 5,8 14,2 11,9 4,4 O Laboratório D não ensaiou as 10 unidades de cada amostra conforme estabelecido no procedimento porque o capeamento preparado para regularizar as superfícies de carregamento se soltou durante o manuseio de alguns corpos-de-prova (figura 5).

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    Figura 5 – Desprendimento do capeamento – Laboratório D

    Tabela 5 – Velocidades, propostas e efetivas, de carregamento (kgf/min)

    Tipo de CP Laboratório Velocidade proposta A B C D E Cubo de 7,5 cm 163 500 168 380 160 163 Cubo de 10 cm 289 615 300 490 287 289 Cubo de 15 cm 650 488 660 1160 653 650

    Os Laboratórios B e D não atenderam às velocidades de carregamento propostas, que correspondiam à taxa de incremento de tensão de 0,29 MPa por minuto, pois os equipamentos disponíveis não permitiam sua regulagem. Na tabela 6 e na figura 6 são apresentados os resultados relativos de resistencia à compressão, tomando-se por base os valores médios dos cubos 7,5, dos respectivos laboratórios.

    Tabela 6 – Resistência à compressão dos diferentes corpos-de-prova em relação à do Cubo 7,5

    Tipo de CP Laboratório A B C D E Cubo de 7,5 cm 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 Cubo de 10 cm 0,98 0,96 1,21 0,73 0,95 Cubo de 15 cm 0,91 0,96 1,38 0,76 0,90

    Figura 6 – Relação entre a resistência à compressão e as dimensões do cubo, tomando-se por base

    o cubo de 7,5 cm de lados

    0,70

    0,80

    0,90

    1,00

    1,10

    1,20

    1,30

    1,40

    7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

    lado do cubo (cm)

    rela

    ção

    fc/fc

    7,5

    ABCDE

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    Com exceção dos resultados do Laboratório C, os resultados apontaram uma tendëncia de redução de resistência à compressão, à medida que aumenta a dimensão do CP. A diferença entre as médias, com exceção dos laboratórios C e D, atinge, no máximo, 10% do valor. O Laboratório B também determinou a resistência à compressão do corpo-de-prova correspondente à metade do adobe sendo a área de aplicação da carga as dimensões de 15 cm x 15 cm e a altura de 7,5 cm. A média de valores de resistência à compressão foi de (0,59 ± 0,06) e coeficiente de variação de 11,0%. Se comparar o resultado obtido com o do Cubo 7,5 do mesmo laboratório verifica-se o valor 31% mais elevado, provavelmente devido ao baixo índice de esbeltez do CP não cúbico. Os resultados obtidos também permitem fazer as seguintes considerações:

    • Não houve evidências de existir uma relação entre a composição granulométrica e a resistência à compressão dos corpos-de-prova;

    • Surpreende os elevados valores de resistência à compressão obtidos pelos laboratórios D e E;

    • Não houve variação expressiva da resistência à compressão em relação à dimensão do corpo-de-prova cúbico.

    4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Programas interlaboratoriais são realizados com o objetivo de se obter e comparar resultados de ensaios adotando-se os mesmos procedimentos e, geralmente, com a mesma matéria-prima. No caso do Programa Interlaboratorial PROTERRA, descartou-se o uso da mesma matéria-prima devido à complexidade relativa ao envio de solos entre países. Optou-se por estabelecer requisitos (teores de areia e argila) para seleção da matéria-prima das amostras e definir procedimentos para a sua caracterização, o preparo de corpos-de-prova e de ensaios. O estudo de repetibilidade dos resultados deve ser realizado, posteriormente, em cada laboratório, já que existem muitas outras variáveis de características dos solos, como, por exemplo, a composição mineralógica. O objetivo da primeira etapa do Programa Interlaboratorial Proterra é definir um procedimento de ensaio para determinar a resistência à compressão do adobe. Os resultados obtidos permitiram estabelecer as primeiras conclusões principalmente sobre dimensões do corpo-de-prova. Uma vez que não se verificaram diferenças marcantes nos resultados de resistência à compressão devido ao tipo de preparo do corpo-de-prova, nem a de suas dimensões, sugere-se o uso do corpo-de-prova cúbico, recortado do adobe preparado com as dimensões de cada local, conforme já era indicado na norma peruana (RNO, 2000). Em relação à velocidade de ensaio, não é possível verificar sua influência nos resultados obtidos porque seria necessária a realização de ensaios com os mesmos materiais, adotando velocidades diferentes. A fim de evitar variáveis indesejáveis, e enquanto não se dispõe de dados sobre o assunto, recomenda-se adotar uma velocidade de carregamento para o ensaio de resistência à compressão em adobes, sugerindo-se manter a taxa de incremento de tensão de 0,29 MPa/min indicada no procedimento de ensaio do programa interlaboratorial PROTERRA. Com exceção do laboratório A, que já realizava ensaios em adobe desde 1997, os outros participantes não tinham histórico de preparação de corpos-de-prova nem de ensaio de resistência à compressão de blocos de terra. O Programa Interlaboratorial PROTERRA proporcionou a introdução de um procedimento sistematizado para a caracterização de adobes. Além do Laboratório A, que continua com as pesquisas sobre adobe, empregando, quando possível, os procedimentos de ensaios indicados no Programa Interlaboratorial PROTERRA, o Laboratório D iniciou uma seqüência de ensaios de resistência à

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    compressão com adobes preparados com diversos tipos de solo, adotando os mesmos procedimentos. Em seguida, a Rede Ibero-americana PROTERRA pretende:

    • propor o procedimento de ensaio de resistência à compressão em adobe;

    • propor o programa interlaboratorial para estabelecer o procedimento para ensaio em pequenas paredes de adobe para avaliar o comportamento da alvenaria de adobe, inclusive pelo método dos elementos finitos.

    Espera-se a adoção do procedimento de ensaio de resistência à compressão em adobe por diversos laboratórios de modo a se obter uma coleção de dados de diferentes locais que permitirão aprimorar o conhecimento sobre as características físicas e mecânicas dos adobes, este antigo, mas ainda tecnicamente misterioso material de construção.

    BIBLIOGRAFIA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1983). NBR 6460 – Tijolo maciço cerâmico para alvenaria – verificação da resistência à compressão. Rio de Janeiro: ABNT.

    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1984). NBR 8492 – Tijolo maciço de solo-cimento – determinação da resistência à compressão e da absorção de água. Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT.

    FARIA, O. B. (2002). Utilização de macrófitas aquáticas na produção de adobe: um estudo de caso na represa de Salto Grande (Americana-SP). São Carlos, Brasil. Tese (Doutorado), Programa de Doutorado do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada CRHEA, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

    FARIA, O. B.; OLIVEIRA, B. M. de; TAHIRA, M.; BATTISTELLE, R. A. G. (2008). Realização dos ensaios interlaboratoriais PROTERRA em Bauru-SP (Brasil). In: TerraBrasil 2008. VII Seminário Ibero-americano de Construção com Terra. II Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil. São Luís: UEMA; PROTERRA. 1 CD-ROM.

    REGLAMENTO NACIONAL DE CONSTRUCCIONES (2000). Norma técnica de edificación NTE E.80 Adobe. Lima. 18p.

    VARUM, H.; COSTA, A; PEREIRA, H.; ALMEIDA, J. Comportamento estrutural de elementos resistentes em alvenaria de adobe. In: TerraBrasil 2006. IV Seminário Arquitectura de Terra em Portugal. I Seminário Arquitetura e Construção com Terra no Brasil. Ouro Preto: ESG; UFMG; PROTERRA. 1 CD-ROM

    NOTAS 1 – Equipe CECOVI: Ariel González (coord.), Santiago Seghesso, María Eugenia Germano e Jeronimo Silva. 2 – Equipe CEDED: Célia Neves (ccord.), Ivo Oliveira, Clementino Passos, Adelson Profeta. 3 – Equipe Torino: Roberto Mattoni; Gloria Pasero. 4 – Equipe UNESP: Obede B. Faria (coord.), Bruno M. de Oliveira, Margareth Tahira, Rosane Ap. G. Battistelle. 5 – Equipe Rafaela: Mirta Sánchez, Hugo Begliardo, Susana Keller, Saida Caula, Fiorela Morero, Juan Pretti.

    AUTORES Célia Neves, engenheira civil, mestre em Engenharia Ambiental Urbana, pesquisadora, responsável pelo Laboratório de Engenharia Civil do CEPED e pelo Centro Tecnológico da Argamassa, este em parceria com a Universidade Federal da Bahia; coordenadora do Projeto de Investigação Proterra/CYTED e da Rede Ibero-americana PROTERRA até abril 2008.

    Obede Borges Faria, Engenheiro Civil; Mestre em Arquitetura e Urbanismo (Tecnologia do Ambiente Construído); Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental; Professor e Chefe do Departamento de Engenharia Civil, da Faculdade de Engenharia, da UNESP-Universidade Estadual Paulista, Campus de Bauru; Membro da Rede Ibero-Americana Proterra.

  • TerraBrasil 2008 3 a 8 de Novembro de 2008 – São Luís - Maranhão

    REALIZAÇÃO DO PROGRAMA INTERLABORATORIAL PROTERRA EM BAURU-SP (BRASIL)

    Obede Borges Faria1; Bruno Matiuzzi de Oliveira2; Margareth Tahira2; Rosane Ap. Gomes Battistelle1

    (1) Faculdade de Engenharia, UNESP – Universidade Estadual Paulista - campus Bauru; Av. Eng. Luiz E.C. Coube, 14-01 17033-360, Bauru, SP, Brasil

    Tel +55 14 3103 6112; [email protected] e [email protected]; [email protected]

    (2) [email protected]; [email protected]

    Palavras-Chave: adobe, caracterização física, caracterização mecânica RESUMO O presente trabalho apresenta a contribuição do Departamento de Engenharia Civil, da Faculdade de Engenharia, da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Campus de Bauru), com a proposta da Rede Ibero-Americana PROTERRA para a padronização de ensaios para caracterização física e mecânica de adobes (“Ensaios Interlaboratoriais”). Os adobes foram produzidos com uma mescla de solos de Bauru-SP (20% argila, 4% silte, 76%areia) e de Americana-SP (52% argila, 21% silte, 27%areia). Foram realizados ensaios de caracterização física dos solos (limites de Atterberg, composição granulométrica, massa unitária e teor de umidade em estado solto), para escolha da melhor proporção na mescla dos solos, de acordo com a metodologia proposta, o que resultou num solo com 29,5% de argila, 9,0% de silte e 61,5% de areia.. A mescla de solos teve sua composição granulométrica determinada em laboratório, para verificação da validade da metodologia. Os adobes e corpos-de-prova (CP) foram produzidos, preparados e ensaiados rigorosamente de acordo com a proposta de “Ensaios Interlaboratoriais”, acrescentando-se mais um formato de CP prismático (7,5 cm x 7,5 cm x 15 cm) e a realização do ensaio de determinação do módulo de ruptura na flexão. Os resultados encontrados apontaram dificuldades de execução para algumas etapas da metodologia, assim como sinalizaram algumas conclusões, as quais deverão ser confrontadas com os resultados obtidos por outros laboratórios, participantes dos “Ensaios Interlaboratoriais”.

    1. INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVAS E OBJETIVO As vantagens e desvantagens do uso da terra como material de construção, assim como as dificuldades de produção e aceitação deste material na atualidade, já foram amplamente estudadas, discutidas e apresentadas nos diversos eventos técnico-científicos que precederam o “TerraBrasil2008”. O conhecimento produzido pode ser facilmente acessado, consultando-se os registros destes eventos (atas, anais e memórias), assim como o farto material já publicado pelo projeto PROTERRA/CYTED, ao longo de seus quatro anos de execução. Os autores do presente trabalho têm focado suas pesquisas científicas, ao longo dos últimos anos, sobre o adobe, justificados pelo fato desta técnica de construção com terra ser de aspecto e uso muito parecidos com os dos tijolos cerâmicos convencionais, considerando-se sua região de atuação (interior do Estado de São Paulo, Brasil). Isto facilitaria a aceitação por parte do usuário, além de permitir a autoconstrução, em função do custo praticamente nulo e da facilidade de transferência da tecnologia. Para a terra ser aceita como material de construção pelos órgãos governamentais, principalmente os responsáveis pelo financiamento de habitações de interesse social, é necessário que se tenha amplo conhecimento técnico-científico sobre ela. Embora em algumas universidades a terra esteja sendo pesquisada, sente-se a necessidade de um maior número de ensaios experimentais, para melhor embasar as possíveis normas técnicas sobre o material.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

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    Como não existem normas brasileiras para adobes, alguns pesquisadores brasileiros realizam o ensaio de determinação da resistência à compressão recortando-se o adobe ao meio e unindo-se as duas partes com argamassa. O corpo-de-prova montado desta forma foi proposto por Faria (2002), assim como a metodologia para os ensaios de determinação da resistência à compressão e do módulo de ruptura na flexão, e vem sendo adotado por outros pesquisadores brasileiros. Na verdade, se trata de adaptações das normas brasileiras para tijolos cerâmicos maciços e para tijolos de solo-cimento. No âmbito dos paises ibero-americanos, existe uma norma peruana, Norma técnica de edificación E.080 Adobe (RNC, 2000), que estabelece o ensaio de adobes em corpos-de-prova com forma de cubo, cujo lado é igual à menor dimensão do adobe (o qual deve ser recortado). São encontrados outros trabalhos científicos, nos quais apresentam-se resultados de resistência à compressão de adobes, porém, as referências à metodologia de ensaio adotada são escassas ou, simplesmente, inexistentes. Dessa forma, não é possível a comparação entre os resultados obtidos pelos diversos pesquisadores, já que não é adotada uma metodologia única para sua determinação. Com a realização do presente trabalho, espera-se contribuir com o preenchimento desta lacuna, em conjunto com outros centros de pesquisa. O presente trabalho pretende contribuir com uma proposta ibero-americana de padronização de ensaios para caracterização física e mecânica de adobes. Esta proposta de padronização foi elaborada pela Engª Célia Maria Martins Neves (pesquisadora do CEPED – Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Bahia e coordenadora da Rede Ibero-Americana PROTERRA) juntamente com Obede Borges Faria (FEB/UNESP-Bauru), e apresentada à Rede PROTERRA, em julho de 2007. Tal proposta, denominada “Ensaios Interlaboratoriais”, consiste na realização de ensaios com adobes, utilizando vários tipos de corpos-de-prova, em laboratórios de diversos paises ibero-americanos, para comparação e avaliação dos resultados, na busca de uma metodologia única de caracterização física e mecânica do material, no âmbito destes países.

    2. METODOLOGIA A metodologia de ensaios, tal como foi proposta aos membros da Rede Ibero-Americana Proterra, é apresentada no anexo.

    3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A seguir, são apresentados breve descrição das atividades desenvolvidas, assim como resumo dos resultados obtidos e sua discussão. 3.1. Caracterização física dos solos De acordo com a metodologia adotada, complementada por Faria (2002), a caracterização dos solos é composta pelos seguintes ensaios: a) Massa unitária no estado solto (ρs); b) Teor de umidade do solo no estado solto (Us); c) Ensaio de determinação da distribuição granulométrica; e d) Limites de Atterberg (LL e LP). Estes dois últimos ensaios, realizados no Laboratório de Mecânica dos Solos, do Departamento de Engenharia Civil, da Faculdade de Engenharia, UNESP-Bauru. Foram utilizados solos de suas procedências: Americana-SP (argiloso) e Bauru-SP (arenoso). Todo o solo utilizado na pesquisa passou por processo de destorroamento mecânico, com o auxílio de um destorroador de solos, da marca SAHARA. As amostras de solo utilizadas para os ensaios de caracterização foram extraídas durante o processo de produção dos adobes. Na figura 1 são mostradas algumas imagens da realização destes ensaios, cujos resultados médios são apresentados na tabela 1.

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    Figura 1 – De cima, no sentido horário: solos utilizados (Americana, mais claro e Bauru, mais

    escuro); destorroador de solos; coleta de amostras para determinação do teor de umidade natural; e, etapas do ensaio de determinação da massa unitária no estado solto.

    Tabela 1 – Resultados médios dos ensaios de caracterização física dos solos

    Solo Us (%)

    ρs (g/cm3)

    Limites de Atterberg (%) Granulometria (%) LL LP IP areia silte argila

    Americana (A) 11,59 1,06 42,0 30,4 11,6 27 21 52 Bauru (B) 9,03 1,00 21,5 14,2 7,3 76 4 20

    3.2. Adequação do solo Como nenhum dos solos disponíveis apresentou teores de areia e argila próximos dos recomendados pela metodologia adotada (areia > 55% e argila ≅ 30%), foi necessário promover uma estabilização granulométrica, misturando os dois solos até a obtenção da composição granulométrica desejada. Para tanto, utilizou-se a planilha de cálculos proposta na metodologia e, após algumas tentativas, optou-se por utilizar 2 partes do solo A (Americana) e 5 partes do solo B (Bauru) resultando em uma mistura com a composição apresentada na tabela 2 (“calculado”). Para verificação da validade dos cálculos efetuados pela referida planilha, foi realizado também um ensaio de determinação da distribuição granulométrica, com uma amostra do solo resultante desta mistura, cujos resultados são apresentados na tabela 2 (“medido”). Também foram realizados os ensaios para determinação dos limites de Atterberg, para a mescla.

    Tabela 2 – Características da mescla de solos Granulometria (%) Limites de Atterberg (%) Areia Silte Argila LL LP IP

    Calculado 61,5 9,0 29,5 24,6 18,0 6,6 Medido 65,0 9,0 26,0

    Diferença (%) -5,41 0,39 13,38

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    Analisando-se estes resultados, pode-se concluir pela validade da metodologia proposta, para estimativa da