II. PÚBLICO-ALVO: III. JUSTIFICATIVA · PÚBLICO-ALVO: Etapas IV e V da Educação de Jovens e...

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I. TEMA: Chá Literário. II. PÚBLICO-ALVO: Etapas IV e V da Educação de Jovens e Adultos, o que corresponde às turmas 701, 901 e 902. III. JUSTIFICATIVA: Sabendo que o aluno tem pouco contato com a leitura em seu ambiente familiar e apresenta, na escola, dificuldades de aprendizagem decorrentes dessa carência, faz-se então necessária a realização de um trabalho que desperte o gosto e o hábito da leitura, condição indispensável ao desenvolvimento social e à realização individual do educando. Acreditamos que a leitura pode contribuir para a emancipação do sujeito, tornando-o um cidadão mais consciente, com uma visão mais ampla do mundo, e ajudando-o na transformação de si e da realidade em que vive. Sendo assim, nós, diretora, equipe pedagógica, dinamizadora da Sala de Leitura, juntamente com o professor de Língua Portuguesa, elaboramos este. Na realização do Projeto, os alunos conhecerão alguns clássicos da literatura brasileira, tais como: O Alienista, O Guarani, O Cortiço, O Triste Fim de Policarpo Quaresma, A Escrava Isaura, e Garibaldi e Manoela. IV. OBJETIVOS GERAIS: Despertar o interesse e o prazer pela leitura nos educandos, bem como as habilidades de compreensão e expressão oral; Elevar o desempenho escolar dos alunos; Iniciar a superar as deficiências de leitura, escrita, convívio social, concentração e memorização apresentadas pelos alunos; Criar o hábito da leitura, considerando-o um instrumento de autorealização, interação social e qualificação para o trabalho e aquisição cultural; Recuperar / elevar a autoestima dos alunos envolvidos. V. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Conhecer alguns poetas e livros consagrados da literatura brasileira; Manusear e despertar a atenção às singularidades de cada livro, como autores, ilustradores, gêneros literários, entre outros; Elaborar pensamento crítico em relação às histórias lidas e contadas para argumentação com os colegas; Articular o texto com a imagem, apreciando as ilustrações; Socializar sentimentos e percepções a partir dos livros lidos; Associar assuntos ligados às histórias em outros contextos; Identificar a idéia principal, enredo, personagens e suas características, bem como contexto histórico em que os livros foram escritos; Perceber detalhes e pormenores antecipando conclusões e fazendo inferências; Valorizar a leitura como instrumento de entretenimento e de aquisição de conhecimentos. VI. CRONOGRAMA:

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I. TEMA: Chá Literário.

II. PÚBLICO-ALVO: Etapas IV e V da Educação de Jovens e Adultos, o que corresponde às turmas 701, 901

e 902. III. JUSTIFICATIVA:

Sabendo que o aluno tem pouco contato com a leitura em seu ambiente familiar e apresenta, na escola, dificuldades de aprendizagem decorrentes dessa carência, faz-se então necessária a realização de um trabalho que desperte o gosto e o hábito da leitura, condição indispensável ao desenvolvimento social e à realização individual do educando. Acreditamos que a leitura pode contribuir para a emancipação do sujeito, tornando-o um cidadão mais consciente, com uma visão mais ampla do mundo, e ajudando-o na transformação de si e da realidade em que vive. Sendo assim, nós, diretora, equipe pedagógica, dinamizadora da Sala de Leitura, juntamente com o professor de Língua Portuguesa, elaboramos este. Na realização do Projeto, os alunos conhecerão alguns clássicos da literatura brasileira, tais como: O Alienista, O Guarani, O Cortiço, O Triste Fim de Policarpo Quaresma, A Escrava Isaura, e Garibaldi e Manoela.

IV. OBJETIVOS GERAIS: • Despertar o interesse e o prazer pela leitura nos educandos, bem como as habilidades

de compreensão e expressão oral; • Elevar o desempenho escolar dos alunos; • Iniciar a superar as deficiências de leitura, escrita, convívio social, concentração e

memorização apresentadas pelos alunos; • Criar o hábito da leitura, considerando-o um instrumento de autorealização, interação

social e qualificação para o trabalho e aquisição cultural; • Recuperar / elevar a autoestima dos alunos envolvidos.

V. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: • Conhecer alguns poetas e livros consagrados da literatura brasileira; • Manusear e despertar a atenção às singularidades de cada livro, como autores,

ilustradores, gêneros literários, entre outros; • Elaborar pensamento crítico em relação às histórias lidas e contadas para argumentação

com os colegas; • Articular o texto com a imagem, apreciando as ilustrações; • Socializar sentimentos e percepções a partir dos livros lidos; • Associar assuntos ligados às histórias em outros contextos; • Identificar a idéia principal, enredo, personagens e suas características, bem como

contexto histórico em que os livros foram escritos; • Perceber detalhes e pormenores antecipando conclusões e fazendo inferências; • Valorizar a leitura como instrumento de entretenimento e de aquisição de conhecimentos.

VI. CRONOGRAMA:

PERÍODO AÇÃO

08/08 Divisão das turmas em duplas/trios 08/08 Apresentação dos livros aos alunos

08 a 10/08 Escolha dos livros pelas duplas/trios 15, 22, 29/08 Familiarização com um livros impresso (análise física deste) 11/08 a 19/09 Leitura dos livros e organização do trabalho

08/09 Elaboração e entrega de convites para a SME e demais professores da U.E.

19/09 Entrega dos trabalhos

22/09 Culminância: apresentação dos trabalhos e conversa informal sobre os livros lidos.

01/10 Avaliação e socialização do trabalho realizado com todos os professores

VII. RECURSOS: Humanos: Professor regente da turma e dinamizadora da sala de leitura que trabalharão

em parceria com a diretora, a equipe pedagógica, a coordenadora de turno e demais professores da unidade escolar para troca de informações e sugestões.

Materiais: livros, papéis diversos, canetas esferográficas e hidrocores, computador, data show, vídeos etc.

VIII. AVALIAÇÃO: Será realizada ao longo de todo o projeto através da observação direta, participação e

interesse dos alunos e alcance dos objetivos propostos.

"LEITURA É A INTERPRETAÇÃO DE IDÉIAS EXPRESSAS GRAFICAMETE DE ACORDO COM A VIVÊNCIA E A AFETIVIDADE DO LEITOR.''

IX. ANEXOS:

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA – Lima Barreto

O funcionário público Policarpo Quaresma, nacionalista e patriota extremado, é conhecido por todos como major Quaresma, no Arsenal de Guerra, onde exerce a função de subsecretário. Sem muitos amigos, vive isolado com sua irmã Dona Adelaide, mantendo os mesmos hábitos há trinta anos. Seu fanatismo patriótico se reflete nos autores nacionais de sua vasta biblioteca e no modo de ver o Brasil. Para ele, tudo do país é superior, chegando até mesmo a "amputar alguns quilômetros ao Nilo" apenas para destacar a grandiosidade do Amazonas. Por isso, em casa ou na repartição, é sempre incompreendido. Esse patriotismo leva-o a valorizar o violão, instrumento marginalizado na época, visto como sinônimo de malandragem. Atribuindo-lhe valores nacionais, decide aprender a tocá-lo com o professor Ricardo Coração dos Outros. Em busca de modinhas do folclore brasileiro, para a festa do general Albernaz, seu vizinho, lê tudo sobre o assunto, descobrindo, com grande decepção, que um bom número de nossas tradições e canções vinha do estrangeiro. Sem desanimar, decide estudar algo tipicamente nacional: os costumes tupinambás. Alguns dias depois, o compadre, Vicente Coleoni, e a afilhada, Dona Olga, são recebidos no melhor estilo Tupinambá: com choros, berros e descabelamentos. Abandonando o violão, o major volta-se para o maracá e a inúbia, instrumentos indígenas tipicamente nacionais. Ainda nessa esteira nacionalista, propõe, em documento enviado ao Congresso Nacional, a substituição do português pelo tupi-guarani, a verdadeira língua do Brasil. Por isso, torna-se objeto de ridicularizarão, escárnio e ironia. Um ofício em tupi, enviado ao Ministro da Guerra, por engano, levá-o à suspensão e como suas manias sugerem um claro desvio comportamental, é aposentado por invalidez, depois de passar alguns meses no hospício. Após recuperar-se da insanidade, Quaresma deixa a casa de saúde e compra o Sossego, um sítio no interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com Adelaide e o preto Anastácio, muda-se para o campo. A idéia de tirar da fértil terra brasileira seu sustento e felicidade anima-o. Adquire vários instrumentos e livros sobre agricultura e logo aprende a manejar a enxada. Orgulhoso da terra brasileira que, de tão boa, dispensa adubos, recebe a visita de Ricardo Coração dos Outros e da afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo padrinho. Nota, sim, muita pobreza e desânimo naquela gente simples. Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por três inimigos terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo não quis compactuar com uma fraude da política local, passa a ser multado indevidamente.O segundo, foi a deficiente estrutura agrária brasileira que lhe impede de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. O terceiro, foi a voracidade dos imbatíveis exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e feijão. Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono de terras improdutivas e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes latifundiários do café. Para ele, era necessária uma nova administração. A Revolta da Armada - insurreição dos marinheiros da esquadra contra o continuísmo florianista - faz com que Quaresma abandone a batalha campestre e, como bom patriota, siga para o Rio de Janeiro. Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, torna-se comandante de um destacamento, onde estuda artilharia, balística, mecânica. Durante a visita de Floriano Peixoto ao quartel, que já o conhecia do arsenal, Policarpo fica sabendo que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a nação. Diante do entusiasmo e observações oníricas do comandante, o Presidente simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário". Após quatro meses de revolta, a Armada ainda resiste bravamente. Diante da indiferença de Floriano para com seu "projeto", Quaresma questiona-se se vale a pena deixar o sossego de

casa e se arriscar, ou até morrer nas trincheiras por esse homem. Mas continua lutando e acaba ferido. Enquanto isso, sozinha, a irmã Adelaide pouco pode fazer pelo sítio do Sossego, que já demonstra sinais de completo abandono. Em uma carta à Adelaide, descreve-lhe as batalhas e fala de seu ferimento. Contudo, Quaresma se restabelece e, ao fim da revolta, que dura sete meses, é designado carcereiro da Ilha das Enxadas, prisão dos marinheiros insurgentes. Uma madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe doze prisioneiros que são levados pela escolta para fuzilamento. Indignado, escreve a Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação, Ricardo busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois temem por seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. A morte será o triste fim de Policarpo Quaresma. Filme:

Policarpo Quaresma, Herói do Brasil

O major Policarpo Quaresma é um sonhador. Um visionário que ama o seu país e deseja vê-lo tão grandioso quanto, acredita, o Brasil pode ser. A sua luta se inicia no Congresso. Policarpo quer que o tupi-guarani seja adotado como idioma nacional. Ele tem o apoio de sua afilhada Olga por quem nutre um afeto especial e Ricardo Coração dos Outros trovador e compositor de modinhas que conta a história do nosso herói do Brasil.

Ficha Técnica

Título Original: Policarpo Quaresma, Herói do Brasil Gênero: Comédia Tempo de Duração: 120 min. Ano de Lançamento (Brasil): 1988 Distribuição: Riofilme e Filmark Direção: Paulo Thiago Roteiro: Alcione Araujo Produção: Vitória Produções Cinematográficas Música: Sérgio Saraceni Fotografia: Antônio Penido Desenho de Produção: Sérgio Silveira Figurino: Kika Lopes Edição: Gilberto Santeiro Elenco Paulo José (Policarpo Quaresma) Giulia Gam (Olga) llya São Paulo (Ricardo)

Antônio Calloni (Genelício) Bete Coelho (Adelaide) Othon Bastos (Floriano Peixoto) Cláudio Mamberti (Coleoni) Fernando Eiras (Armando Borges) Luciana Braga (Ismêmia) Tonico Pereira (Bustamante) Nelson Dantas (Caldas) Jonas Bloch (Dr. Mendonça) Marcélia Cartaxo (Sinhá Chica) José Lewgoy Aracy Balabanian (Maricota) Chico Diaz (Felizardo) José Loureiro (Tenente Antonino) José Dumont (Tenente Coxo) David Pinheiro (Átila) Paulão (Genu) Carlos Gregório (Dr. Campos)

ESCRAVA ISAURA - Bernardo Guimarães

INTRODUÇÃO Escrito em plena campanha abolicionista (1875), o livro conta as desventuras de Isaura, escrava branca e educada, de caráter nobre, vítima de um senhor devasso e cruel. O romance A Escrava Isaura foi um grande sucesso editorial e permitiu que Bernardo Guimarães se tornasse um dos mais populares romancistas de sua época no Brasil. O autor pretende, nesta obra, fazer um libelo anti-escravagista e libertário e, talvez, por isso, o romance exceda em idealização romântica, a fim de conquistar a imaginação popular perante as situações intoleráveis do cativeiro. O estudioso Manuel Cavalcanti Proença observa que: "Numa literatura não muito abundante em manifestação abolicionistas, é obra de muita importância, pelo modo sentimental como focalizou o problema, atingindo principalmente o público feminino, que encontrava na literatura de ficção derivativo e caminho de fuga, numa sociedade em que a mulher só saía à rua acompanhada e em dias pré-estabelecidos; o mais do tempo ficava retida em casa, sem trabalho obrigatório, bordando, cosendo e ouvindo e falando mexericos, isto é, enredos e intrigas, como se dizia no tempo e ainda se diz neste romance."

O NASCIMENTO DO ROMANCE A publicação de romances em folhetins - os capítulos aparecendo a cada dia nos jornais - já era comum no Brasil desde a década de 1830. A maior parte destes folhetins era composta por traduções de romances de origem inglesa, como as histórias medievais de Walter Scott, ou francesa, como as aventuras dos Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Emocionados, os brasileiros acompanhavam as distantes aventuras de um Ivanhoé ou de um D'Artagnan, transportando-se, em espírito, para os campos e reinos da Europa. Embora fizessem sucesso junto ao público, os primeiros romances brasileiros, publicados em folhetim, não deixavam de ser considerados, pelos literatos "sérios", como "uma leitura agradável, diríamos quase um alimento de fácil digestão, proporcionado a estômagos fracos." O romance, esse gênero literário novo e "fácil", que foi introduzido na literatura brasileira por autores como Joaquim Manuel de Macedo e Teixeira e Sousa, ganharia status de literatura "séria" com a obra de José de Alencar. O ENREDO A história se passa nos "primeiros anos do reinado de D. Pedro II", inicialmente em uma fazenda em Campos dos Goitacazes (RJ). Isaura, escrava branca e bem-educada, é assediada pelo seu senhor, Leôncio, recém-casado com Malvina. Isaura se recusa a ceder aos apelos de Leôncio, como já fizera, no passado, sua mãe, que, por ter repelido o pai de Leôncio, fora submetida a um tratamento tão cruel que, em pouco tempo, morrera. Para forçá-la a ceder, Leôncio manda Isaura para a senzala, trabalhar com as outras escravas. Sempre resignada, suporta passivamente o seu destino, porém, não cede a Leôncio, afirmando que ele, como proprietário, era senhor de seu corpo, mas não de seu coração: " - Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono." Leôncio, enfurecido, ameaça colocá-la no tronco.

No entanto, seu pai, ex-feitor da fazendo, consegue tirá-la de lá e foge com ela para Recife (PE). Em Recife, Isaura usa o nome de Elvira e vive reclusa numa pequena casa com seu pai. Então, conhece Álvaro, por quem se apaixona e é correspondida. Vai a um baile com ele, onde é desmascarada e reconhecida. Álvaro, ainda que surpreso, não se importa com o fato de ela ser uma escrava e resolve impedir que Leôncio a leve de volta, inclusive tentando comprá-la. Mas não consegue convencer o vilão, e este leva Isaura de volta ao cativeiro na fazenda. Leôncio está praticamente falido e, com o objetivo de conseguir um empréstimo do pai de Malvina, consegue se reconciliar com a mulher, afirmando que Isaura é quem o assediava. Então, para punir Isaura, Leôncio manda que ela se case com Belchior, jardineiro da fazenda. Entretanto, Álvaro descobre a falência de Leôncio e compra a dívida dos seus credores, tornando-se proprietário de todos os seus bens, inclusive de seus escravos. No dia do casamento de Isaura, antes que se celebrasse a cerimônia, Álvaro aparece e reclama seus direitos a Leôncio. Vendo-se derrotado e na miséria, Leôncio suicida-se. Tudo termina, portanto, com a punição dos culpados e o triunfo dos justos. Como bem o sintetizou Carlos Alberto Vecchi: "A estrutura narrativa de A Escrava Isaura segue o modelo folhetinesco das histórias românticas: para atingir seu ideal e obter o reconhecimento de todos, o herói tem que realizar uma jornada perigosa, onde a própria vida é colocada em risco. O Amor, epicentro onde se debatem o Bem e o Mal, torna-se a força motriz que conduz ao restabelecimento do equilíbrio e da felicidade a todos que, em momento algum, se deixaram intimidar pelos desmandos de Leôncio. O Mal extirpado (o suicídio de Leôncio) cede lugar ao Bem. E aqueles que nortearam suas ações pelas virtudes maiores é que estão aptos a receber o prêmio daí decorrente." OS PERSONAGENS A obra apresenta a tríade comum aos romances populares românticos: vilão, heroína e herói. E, graças à ausência de profundidade com que são construídos, os personagens do romance são planos, estáticos e superficiais. Isaura, a heroína escrava, é branca, pura, virginal, possui um caráter nobre e demonstra "conhecer o seu lugar": do princípio ao fim, suporta conformada a perseguição de Leôncio, as propostas de Henrique, as desconfianças de Malvina, sem jamais se revoltar. Permanece emocionalmente escrava, mesmo tendo sido educada como uma dama da sociedade. Tem escrúpulos de passar por branca livre, acha-se indigna do amor de Álvaro e termina como a própria imagem da "virtude recompensada". Vejamos como Guimarães descreve sua heroína: "A tez é como o marfim do teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada. (.) Na fronte calma e lisa como o mármore polido, a luz do ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-íeis misteriosa lâmpada de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste da inspiração." Leôncio é o vilão leviano, devasso e insensível que, de "criança incorrigível e insubordinada" e adolescente que sangra a carteira do pai com suas aventuras,

acaba por tornar-se um homem cruel e inescrupuloso, casando-se com Malvina, linda, ingênua e rica, por ser "um meio mais suave e natural de adquirir fortuna". Persegue Isaura e se recusa a cumprir a vontade de sua mãe, já falecida, que queria dar a ela a liberdade e alguma renda para viver com dignidade. Álvaro é um rico herdeiro, cavalheiro nobre e de caráter impecável, que "tinha ódio a todos os privilégios e distinções sociais, e é escusado dizer que era liberal, republicano e quase socialista"; um jovem de idéias igualitárias, idealista e corajoso para lutar contra os valores da sociedade a que pertence. Sua conduta moral é assim descrita pelo autor: "Original e excêntrico como um rico lorde inglês, professava em seus costumes a pureza e severidade de um quacker. Todavia, como homem de imaginação viva e coração impressionável, não deixava de amar os prazeres, o luxo, a elegância, e sobretudo as mulheres, mas com certo platonismo delicado, certa pureza ideal, próprios das almas elevadas e dos corações bem formados." Apaixonado por Isaura, o grande obstáculo que Álvaro precisa vencer é o fato de ser Isaura propriedade legítima de Leôncio. Para isso, vai à corte, descobre a falência de Leôncio, adquire seus bens e desmascara o vilão. Liberta Isaura e casa-se com ela, desafiando, assim, os preconceitos da sociedade escravocrata. Nos demais personagens o processo de construção é o mesmo. Miguel, pai de Isaura, foge do conceito tradicional do mau feitor. Quando feitor da fazenda de Leôncio, tratara bem aos escravos e amparara Juliana, mãe de Isaura, nas suas desditas com o pai de Leôncio. Pai extremoso, deseja libertar a filha do jugo da escravidão e não mede esforços para isso. Martinho é o protótipo do ganancioso: cabeça grande, cara larga, feições grosseiras e "no fundo de seus olhos pardos e pequeninos,. reluz constantemente um raio de velhacaria ". Por querer ganhar muito dinheiro entregando Isaura ao seu senhor, acaba por não ganhar nada. Já Belchior é o símbolo da estupidez submissa e também sua descrição física se presta a demonstrar sua conduta: feio, cabeludo, atarracado e corcunda. O crítico Manuel Cavalcanti Proença aponta "o parentesco entre o disforme e grotesco (de gruta) Belchior, e o Quasímodo de O Corcunda de Notre Dame, de Víctor Hugo, romance de extraordinária voga, ainda não de todo perdida, no Brasil." O Dr. Geraldo é um advogado conceituado, que serve como fiel da balança para Álvaro, já que procura equilibrar os arroubos do amigo, mostrando-lhe a realidade dos fatos. Quando Álvaro, revoltado com a condição de Isaura e indignado com os horrores da escravidão, dispõe-se a unir-se a ela, mesmo sabendo que escandalizaria a sociedade, Geraldo retruca lucidamente que a fortuna de Álvaro lhe dá independência para "satisfazer os teus sonhos filantrópicos e os caprichos de tua imaginação romanesca". O que não é, na verdade, característica restrita apenas à sociedade escravocrata do século XIX.

O GUARANI - José de Alencar

PERSONAGENS: Dom Antonio de Mariz: fidalgo da nobreza de Portugal; Álvaro: capataz de Dom Antônio; Cecília: filha de Dom Antônio; Peri: índio que "vigiava" Cecília com bravura e coragem; Diogo: filho de Dom Antônio; Isabel: criada e irmã bastarda de Cecília; Loredano: traidor, que tenta destruir Dom Antônio raptando Cecília; Aimorés: tribo inimiga. GÊNERO: romance histórico indianista. FOCO NARRATIVO: 3ª- pessoa onisciente TEMPO: 1604 — época colonial (domínio espanhol) ESPAÇO: Serra dos Órgãos (RJ) / Rio Paquequer / Rio Paraíba AÇÃO FOLHETINESCA: rapidez, surpresa, suspense e emoção TEMAS: - conquista do sertão, - confronto de raças e de culturas, - imposição da cultura branca, - imposição do cristianismo, - assimilação do selvagem idealizado, - idealização da natureza (cor local). Na primeira metade do século XVII, Portugal ainda dependia politicamente da Espanha, fato que, se por um lado exasperava os sentimentos patrióticos de um frei Antão, como mostrou Gonçalves Dias, por outro lado a ele se acomodavam os conservadoristas e os portugueses de pouco brio. D. Antônio de Mariz, fidalgo dos mais insignes da nobreza de Portugal, leva adiante no Brasil uma colonização dentro mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Representa, com sua casa-forte, elevada na Serra dos Órgãos, um baluarte na Colônia, a desafiar o poderio espanhol. Sua casa-forte, às margens do Paquequer, afluente do Paraíba, é abrigo de ilustres portugueses, afinados no mesmo espírito patriótico e colonizador, mas acolhe inicialmente, com ingênua cordialidade, bandos de mercenários, homens sedentos de ouro e prata, como o aventureiro Loredano, ex-padre que assassinara um homem desarmado, a troco do mapa das famosas minas de prata. Dentro da respeitável casa de D. Antônio de Mariz, Loredano vai pacientemente urdindo seu plano de destruição de toda a família e dos agregados. Em seus planos, contudo, está o rapto da bela Cecília, filha de D. Antônio, mas que é constantemente vigiada por um índio forte e corajoso, Peri, que em recompensa por tê-la salvo certa vez de uma avalancha de pedras, recebeu a mais alta gratidão de D. Antônio e mesmo o afeto espontâneo da moça, que o trata como a um irmão. A narrativa inicia seus momentos épicos logo após o incidente em que Diogo, filho de D. Antônio, inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada. Indignados, os aimorés procuram vingança: surpreendidos por Peri, enquanto espreitavam o banho de Ceci, para logo após assassiná-la,

dois aimorés caem transpassados por certeiras flechas; o fato é relatado à tribo aimoré por uma índia que conseguira ver o ocorrido. A luta que se irá travar não diminui a ambição de Loredano, que continua a tramar a destruição de todos os que não o acompanhem. Pela bravura demonstrada do homem português, têm importância ainda dois personagens: Álvaro, jovem enamorado de Ceci e não retribuído nesse amor, senão numa fraterna simpatia; Aires Gomes, espécie de comandante de armas, leal defensor da casa de D. Antônio. Durante todos os momentos da luta, Peri, vigilante, não descuida dos passos de Loredano, frustrando todas suas tentativas de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a luta passo a passo. Num momento, dos mais heróicos por sinal, Peri, conhecendo que estavam quase perdidos, tenta uma solução tipicamente indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimorés são antropófagos, desce a montanha e vai lutar "in loco" contra os aimorés: sabe que, morrendo, seria sua carne devorada pelos antropófagos e aí estaria a salvação da casa de D. Antônio: eles morreriam, pois seu organismo já estaria de todo envenenado. Depois de encarniçada luta, onde morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e, já sem forças, espera, armado, o sacrifício que lhe irão impingir. Álvaro (a esta altura enamorado de Isabel, irmã adotiva de Cecília) consegue heroicamente salvar Peri. Peri volta e diz a Ceci que havia tomado veneno. Ante o desespero da moça com essa revelação, Peri volta à floresta em busca de um antídoto, espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno. De volta, traz o cadáver de Álvaro morto em combate com os aimorés. Dá-se então o momento trágico da narrativa: Isabel, inconformada com a desgraça ocorrida ao amado, suicida-se sobre seu corpo. Loredano continua agindo. Crendo-se completamente seguro, trama agora a morte de D. Antônio e parte para a ação. Quando menos supõe, é preso e condenado a morrer na fogueira, como traidor. O cerco dos selvagens é cada vez maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz cristão, única maneira possível para que D. Antônio concordasse, na fuga dos dois, os únicos que se poderiam salvar. Descendo por uma corda através do abismo, carregando Cecília entorpecida pelo vinho que o pai lhe dera para que dormisse, Peri consegue afinal chegar ao rio Paquequer. Numa frágil canoa, vai descendo rio abaixo, até que ouve o grande estampido provocado por D. Antônio, que, vendo entrarem os aimorés em sua fortaleza, ateia fogo aos barris de pólvora, destruindo índios e portugueses. Testemunhas únicas do ocorrido, Peri e Ceci caminham agora por uma natureza revolta em águas, enfrentando a fúria dos elementos da tempestade. Cecília acorda e Peri lhe relata o sucedido. Transtornada, a moça se vê sozinha no mundo. Prefere não mais voltar ao Rio de Janeiro, para onde iria. Prefere ficar com Peri, morando nas selvas. A tempestade faz as águas subirem ainda mais. Por segurança, Peri sobe ao alto de uma palmeira, protegendo fielmente a moça. Como as águas fossem subindo perigosamente, Peri, com força descomunal, arranca a palmeira do solo, improvisando uma canoa. O romance termina com a palmeira perdendo-se no horizonte, não sem antes Alencar ter sugerido, nas últimas linhas do romance, uma bela união amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça brasileira.

GARIBALDI & MANOELA: UMA HISTÓRIA DE AMOR – Josué Guimarães

O livro conta a história de amor entre Manoela e Giuseppie Garibaldi, um italiano revolucionário, que no auge da revolução Farroupilha lutava muito mais pelo amor de Manoela do que para se tornar um nome histórico no Brasil, num momento onde o desejo de que o Rio Grande do Sul fosse uma República independente os corações apaixonados dos dois desejava muito mais. E foi nesse clima de guerra que o amor dos dois se fortalece, pois apesar de Garibaldi ser o braço direito do

comandante da revolução e Manoela ser a sobrinha adorada de Bento Gonçalves, ele não aceitava aquela união, pois a qualquer momento a sobrinha poderia ser viuva solitária e infeliz, de um homem que tinha como ideal Revolucionar por onde passasse. E mesmo sendo correspondido é levadoa por Maria Manoela, mãe da moça Manoela, a pedido de Bento a crer que Manoela se casará com Joaquim, filho de Bento Gongalves. Garibaldi teve então atitude de homem que espera Bento, afastou-se de Manoela, mas não abandonou em momento algum os ideais revolucionários, que era fazer do sul uma república idependente do Brasil. Assim seguiu sua vida lutando arduamente contra os adversários. Traçando planos para deter os inimigos junto de Bento, que ficou um pouco incomodado de ver a lealdade de Garibaldi, sabendo que a tristeza tanto do amiog quato da sobrinha fora causado por sua causa, mas o arrependimento foi passageiro e a vida segui em frente. Enquanto Garibaldi travava arduas lutas, Manoela definhava cada vez mais trancada em seu quarto, esperando o dia que Garibaldi iria entrar pela porteira e levá-ala dali. O tempo foi passando e o amor de Manoela continuava a mesma, em momento algum pensou em constituir família. Sem nunca ter se apaixonado nomente. Porém, com Garibaldi foi diferente. De corpo com ele estava Anita, moça que largara do marido para ficar com Garibaldi e que com ele tivera três filhos. Mas de alma sempre esteve com Manoela. Anita fleceu aos 28 anos. A partir dai Garibaldi decidiu que iria conhecer o mundo, pois afinal de contas quem havia sido prometida a outra fora Manoela. Mas em seu coraçãoe e sempre estaria a memória de duas mulheres. Enquanto isso Manoela, sozinha no mundo, pois sua mãe e tias já havia

falecido. Sem marido e sem filhos, restava-lhe somente a memória, não mais do rosto, mas dos cabelos longos de seu amado Garibaldi. Em uma bela noite de invern, sem fogo na lareira, Manoela sente uma dormências no corpo e chama amorosamente por Garibaldi, quando vê uma luz entrando pelas janelas que ela jamais abriu. Sente a presença de Garibaldi e pede para que ele não a abandone nunca mais. É exatamente assim o fim da vida de Manoela. No dia seguinte quando os vizinhos abriram o jornal a manchete era a seguinte: “Morreu a noiva de Garibaldi”. Ao longe ouvia-se uma voz amarga: “Tu que foste infeliz, por ter sido destinada a outro homem”. Citações: 1ª) “ A mãe passava horas atrás da porta, ouvindo o choro da filha. Pedia que ela saisse, mas acabava voltando para junto da irmã Ana, perguntando o que fazer naquela situação. - Isso passa com o tempo- dizia Don’Ana- O amor é como as brasas. Viram cinzas quando tiram delas o ar com que se alimentam...” 2ª) “ - Dizem que Bento Manoel pode nos trair a qualquer momento, como cachorro que como ovelha”...vou lhe escrever uma carta para lembrá-lo dos compromissos que assumiu com a nossa república...” ( pois Bento Manoel troca de lado na Guerra dos Farrapos)

O CORTIÇO - Aluísio de Azevedo

Tendo como cenário uma habitação coletiva, o romance difunde as teses naturalistas, que explicam o comportamento dos personagens com base na

influência do meio, da raça e do momento histórico.

Ao ser lançado, em 1890, O Cortiço teve boa recepção da crítica, chegando a obscurecer escritores do nível de Machado de Assis. Isso se deve ao fato de Aluísio de Azevedo estar mais em sintonia com a doutrina naturalista, que gozava de grande prestígio na Europa. O livro é composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma habitação coletiva de pessoas pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro. O romance tornou-se peça-chave para o melhor entendimento do Brasil do século XIX. Evidentemente, como obra literária, ele não pode ser entendido como um documento histórico da época. Mas não há como ignorar que a ideologia e as relações sociais representadas de modo fictício em O Cortiço estavam muito presentes no país. NARRADOR A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem conhecimento de tudo), como propunha o movimento naturalista. O narrador tem poder total na estrutura do romance: entra no pensamento dos personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um cientista, as influências do meio, da raça e do momento histórico. O foco da narração, a princípio, mantém uma aparência de imparcialidade, como se o narrador se apartasse, à semelhança de um deus, do mundo por ele criado. No entanto, isso é ilusório, porque o procedimento de representar a realidade de forma objetiva já configura uma posição ideologicamente tendenciosa. TEMPO Em O Cortiço, o tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho da narrativa. A história se desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas. Há, no entanto, que ressaltar a relação do tempo com o desenvolvimento do cortiço e com o enriquecimento de João Romão. ESPAÇO São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um

organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão. O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, explorando a exuberante natureza local como meio determinante. Dessa maneira, o sol abrasador do litoral americano funciona como elemento corruptor do homem local. ENREDO O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso. Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de relações entre os dois. Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar uma posição social reconhecida, freqüentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa. No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos. A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival, João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos. O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João Romão. O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por

Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado. Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada, Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão. PERSONAGENS Os personagens da obra são psicologicamente superficiais, ou seja, há a primazia de tipos sociais. Os principais são: JOÃO ROMÃO – taverneiro português, dono da pedreira e do cortiço. Representa o capitalista explorador. BERTOLEZA – quitandeira, escrava cafuza que mora com João Romão, para quem ela trabalha como uma máquina. MIRANDA – comerciante português. Principal opositor de João Romão. Mora num sobrado aburguesado, ao lado do cortiço. JERÔNIMO – português “cavouqueiro”, trabalhador da pedreira de João Romão, representa a disciplina do trabalho. RITA BAIANA – mulata sensual e provocante que promove os pagodes no cortiço. Representa a mulher brasileira. PIEDADE – portuguesa que é casada com Jerônimo. Representa a mulher européia. CAPOEIRA FIRMO – mulato e companheiro que se envolve com Rita Baiana. ARRAIA-MIÚDA – representada por lavadeiras, caixeiros, trabalhadores da pedreira e pelo policial Alexandre.

O ALIENISTA – Machado de Assis

Através da obsessão científica do Dr. Simão Bacamarte e de suas conseqüências para a vida de Itaguaí, Machado de Assis faz neste livro a crítica da importação indiscriminada de teorias deterministas e positivistas em nosso país. NARRADOR Em O Alienista ,escrito em terceira pessoa, Machado de Assis usa, inicialmente, a autoridade das crônicas antigas, como podemos perceber no início do texto: 'As crônicas da Vila de Itaguaí que em

tempos remotos vivera ali um certo médico...' Em ritmo de 'era uma vez' dá-se o começo da narrativa. Três expressões assumem um papel de relevo neste primeiro contato nosso com o narrador: crônicas, tempos remotos e o vivera. As três reforçam a antiguidade da história, dando-lhe a mesma autoridade que o amarelado empresta aos livros. As crônicas trazem a respeitabilidade do que é aceito pela tradição como verdadeiro. Se elas dizem, não há que contestar. Os tempos remotos servem para distanciar esta narrativa do tempo presente, evitando qualquer deturpação por interesses imediatos. Finalmente, o verbo no pretérito mais-que-perfeito - vivera - reforça os já distanciados tempos remotos. Assim, uma expressão intensifica a outra, cabendo-nos perguntar por que o narrador se interessaria tanto em manter a história restrita a um tempo passado, e bastante passado. A resposta já foi colocada no início do parágrafo anterior: a distância no tempo aumenta a respeitabilidade da narração, pretendendo dar-lhe uma autoridade quase que incontestável, além de favorecer um distanciamento crítico do narrador-cronista em relação à história. Entretanto, caso este narrador-cronista queira deturpá-la em proveito próprio, ele não pode fazê-lo, pois notamos no livro a presença de um segundo narrador, que reconta a história, parecendo garantir a isenção da mesma. O foco narrativo deste segundo narrador está em conformidade com os princípios da literatura realista; isto é, trata-se de um narrador-onisciente, preocupado com a objetividade. Embora este narrador tenha a capacidade de nos trazer os aspectos íntimos dos vários personagens, o que não poderia ser feito pelo narrador-cronista, ele centraliza a sua atenção em Simão Bacamarte protagonista do conto. Ao mesmo tempo, procura mostrar aqueles que se revelam mais decadentes e denunciadores dos tipos humanos presentes em O Alienista. Por exemplo quando a esposa do boticário Crispim está presa no hospício e ele não vem libertá-la, o narrador a faz desfilar uma série de acusações ao marido. Estas acusações estão em desacordo com o comportamento da personagem ao longo da história - ela sempre pareceu acatar e respeitar o marido - revelando, assim, que na verdade a personagem até então apenas 'mantinha as aparências', era cúmplice do marido. '- Tratante!...velhaco!...ingrato!...Um patife que tem feito casas à custa de ungüentos falsificados e podres...Ah! tratante!...'

E assim por diante...Através da 'loucura' de vários personagens [pelo menos assim o julgava o Dr. Bacamarte - o alienista], o narrador vai mostrando as misérias humanas, o que demonstra ser intrusa e não imparcial a sua onisciência. Entretanto, a suposta 'confiabilidade' do narrador-cronista e a suposta 'objetividade' do narrador-onisciente relativizam aos olhos do leitor, esta intrusão, fazendo predominar a impressão de isenção do[s] narrador[es] que é característica da literatura realista. ENREDO O Dr. Simão Bacamarte, médico da Corte, volta à terra natal, Itaguaí, para entregar-se de corpo e alma ao estudo da ciência. Com o tempo, resolve dedicar-se ao estudo da loucura, fundando o seu manicômio, a Casa Verde. Com persistência e abnegação, o médico vai trabalhando com os desequilibrados mentais que mandava recolher à Casa Verde, sempre buscando entender o que era loucura. Vem-lhe então à mente uma nova teoria que alarga o conceito de loucura, acabando com a antiga e aceita distinção entre normalidade e alienação mental. Expõe a nova teoria ao padre Lopes, o clérigo de Itaguaí, que a acha perigosa: 'Com a definição atual, que á de todos os tempos', acrescentou, 'a loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. Para que transpor a cerca?' No entanto, é destruída a cerca...O sábio começa a encerrar em seu manicômio uma grande quantidade de pessoas, cujo comportamento era até então considerado 'normal' pela sociedade: os que possuíam 'mania' de oratória, como Martim Brito, os vaidosos, como o albardeiro Mateus, os excessivamente corteses, como Gil Bernardes, os emprestadores de dinheiro, como o Costa, e, dentre todos eles, a própria esposa, Dona Evarista, que passara a noite hesitando entre um colar de granada e outro de safira para ir ao baile...É bom que se diga que o padrão da normalidade era constituído pelos critérios do alienista, obviamente em consonância com os ditames da Igreja e dos poderes constituídos. Tão grande foi o número de internações, várias aparentemente injustas, que ocorre uma rebelião em Itaguaí, liderada pelo barbeiro Porfírio. Este prometera destruir a Casa Verde, mas uma vez no poder entra em acordo com o Dr. Bacamarte. Isso basta para que haja uma nova revolta, liderada por outro barbeiro, o João Pina. Um destacamento militar, vindo da capital, põe fim às desordens em Itaguaí e o médico pôde prosseguir seu trabalho. Com o tempo, as conclusões do alienista sobre a loucura alteram-se drasticamente. Louco não é mais o desequilibrado, mas sim aquele que exibe um perfeito equilíbrio das funções mentais. Por causa disso, Simão Bacamarte liberta os antigos loucos e passa a prender os novos, como o padre Lopes, a esposa do boticário Crispim e o barbeiro Porfírio: primeiramente preso pela inconsistência de sua rebelião; depois, por ter percebido essa mesma inconsistência, e se recusado a liderar outra rebelião... Com alguns meses de tratamento, todos foram soltos após revelarem algum desequilíbrio, provando que estavam curados, mas o nosso alienista não fica contente: ainda não chegara a uma conclusão em suas pesquisas. Começa a

desconfiar que ela não havia curado ninguém, que os pacientes só haviam revelado um desequilíbrio que já possuíam anteriormente. Com isso, desloca seu estudo para si mesmo. Certifica-se de que é a única pessoa realmente equilibrada de toda a vila e se tranca na Casa Verde, declarando-se ao mesmo tempo médico e paciente. Morre depois de alguns meses. O enredo deste conto, além de discutir ironicamente as fronteiras entre a razão e a loucura, também coloca a questão do poder. Todos os que o exercem em Itaguaí, incluindo-se dentre eles o revoltoso barbeiro Porfírio, fizeram uma composição com Simão Bacamarte, o que sugere que tanto a razão quanto a loucura são usadas pelo poder, dependendo de seu interesse. Por isso nada foi feito de efetivo contra a Casa Verde, tendo disso os prisioneiros liberados pelo próprio alienista. Assim, podemos concluir esta primeira leitura possível com um pessimismo machadiano: 'O mal não parece estar no 'racional' ou no 'normal' mas no humano...' PERSONAGENS Dr. Simão Bacamarte - é o protagonista da estória. A ciência era o seu universo – o seu "emprego único", como diz. "Homem de Ciência, e só de Ciência, nada o consternava fora da Ciência" (p. 189). Representa bem a caricatura do depotismo cientificista do século XIX (como está no próprio sobrenome). Acabou se tornando vítima de suas próprias idéias, recolhendo-se à Casa Verde por se considerar o único cérebro bem organizado de Itaguaí. D. Evarista - é a eleita do Dr. Bacamarte para consorte de suas glórias científicas. Embora não fosse "bonita nem simpática", o doutor a escolheu para esposa porque ela "reuni condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem", estando apta para dar-lhes filhos robustos, são e inteligentes". Chegou a ser recolhida à Casa Verde, certa vez, por manifestar algum desequilíbrio mental. Crispim Soares - era o boticário. Muito amigo do Dr. Bacamarte e grande admirador de sua obra humanitária. Também passou pela Casa Verde, pois não soube "ser prudente em tempos de revolução", aderindo, momentaneamente, à causa do barbeiro. Padre Lopes - era o vigário local. Homem de muitas virtudes, foi recolhido também à Casa Verde por isso mesmo. Depois foi posto em liberdade porque sua reverendíssima se saiu muito bem numa tradução de grego e hebraico, embora não soubesse nada dessas línguas. Foi considerado normal apesar da aureola de santo. Porfírio, o barbeiro - sua participação no conto é das mais importantes, posto que representa a caricatura política na satírica machadiana. Representa bem a ambição de poder, quando lidera a rebelião que depôs o governo legal. Foi preso na Casa Verde duas vezes; primeiro, por Ter liderado a rebelião; segundo, porque se negou a participar de uma Segunda revolução: "preso por Ter cão, preso por não Ter cão" (pág 229). Outros figurantes aparecem no conto. Cada um representando anomalias e possíveis virtudes do ser humano. Há loucos de todos os tipos no livro. Daí a presença de tanta gente.